Diagnostico Por Imagem

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 1960 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EM MEDICINA VETERINÁRIA Carmen Lice Buchmann de Godoy Luiz Carlos de Pellegrini Ingrith Mazuhy Santarosa Gionani Krolikowski Santa Maria, 2010

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Diagnostico Por Imagem

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Page 1: Diagnostico Por Imagem

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

1960

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EM MEDICINA VETERINÁRIA

Carmen Lice Buchmann de Godoy

Luiz Carlos de Pellegrini

Ingrith Mazuhy Santarosa

Gionani Krolikowski

Santa Maria, 2010

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DIAGNÓSTICO POR IMAGEM EM

MEDICINA VETERINÁRIA

CARMEN L.B.DE GODOY, M.V. Dra. Professora Associada do Departamento de Clínica de Grandes Animais

Curso de Medicina Veterinária

Universidade Federal de Santa Maria

Santa Maria, RS

LUIZ CARLOS DE PELLEGRINI, M.V. Professor Adjunto do Departamento de Clínica de Grandes Animais

Curso de Medicina Veterinária

Universidade Federal de Santa Maria

INGRITH MAZUHY SANTAROSA, M.V. M.Sc. Mestre em Clínica Veterinária – Diagnóstico por Imagem

GIOVANI KROLIKOWSKI, M.V. M.Sc. Mestre em Clínica Veterinária - Diagnóstico por Imagem

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D536

Diagnóstico por imagem em medicina veterinária / por

Carmen Lice Buchmann de Godoy ... [et al.] – Santa Maria :

Ed. da Universidade Federal de Santa Maria, 2008. Revisado

em 2010.

131 p. : il. (Caderno didático)

1. Medicina veterinária 2. Radiologia 3. Ultrassonografia

4. Grandes animais 5. Pequenos animais I. Godoy, Carmen

Lice Buchmann de II. Pellegrini, Luiz Carlos de III. Santarosa,

Ingrith Mazuhy IV. Krolikowski, Giovani V. Série

CDU: 619:615.849

Ficha catalográfica elaborada por Luiz Marchiotti Fernandes CRB-10/1160 Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Rurais/UFSM

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APRESENTAÇÃO

Este caderno didático tem por objetivo proporcionar um guia para o acompanhamento das

aulas de Diagnóstico por Imagem, ministradas aos estudantes do Curso de Medicina

Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria. Não deve ser usado como única fonte

de estudo, uma vez que a literatura existente é rica e ampliará os horizontes do aluno em

busca de conhecimento.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I: Introdução à Radiologia ............................................................ 6

CAPÍTULO II: Sistema Digestório .................................................................... 12

CAPÍTULO III: Sistema Urinário ..................................................................... 27

CAPÍTULO IV: Sistema Reprodutor ................................................................ 33

CAPÍTULO V: Sistema Respiratório ................................................................ 37

CAPÍTULO VI: Coração e Grandes Vasos ....................................................... 45

CAPÍTULO VII: Introdução à Ultrassonografia

..............................................

49

CAPÍTULO VIII: Ultrassonografia do abdome de pequenos animais ........... 52

CAPÍTULO IX: Introdução à Radiologia Óssea e Articular

...........................

70

CAPÍTULO X: Radiologia do Crânio ................................................................ 72

CAPÍTULO XI: Radiologia da Coluna Vertebral ............................................ 78

CAPÍTULO XII: Radiologia do Aparelho Locomotor ..................................... 87

CAPÍTULO XIII: Introdução ao Estudo Radiográfico do Aparelho

Locomotor de Equinos .........................................................................................

100

CAPÍTULO XIV: Posicionamentos Radiográficos ........................................... 100

CAPÍTULO XV: Anatomia Radiológica

............................................................

106

CAPÍTULO XVI: Alterações Radiológicas ........................................................ 113

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA

HISTÓRICO

Wilhelm Conrad Röentgen nasceu em 1845 na Alemanha. Formou-se engenheiro

mecânico em Zurich, Suíça, onde também obteve grau de doutor em 1869.

Em 1895, Röentgen, professor do Instituto de Física da Universidade de Würzburg,

fazia experiências com uma ampola de Crookes (fig.1.1), quando descobriu os raios-X.

Figura 1.1- Ampola de Crookes.

(Fonte: www.fisica.ufc.br/raiosx,15/09/04)

A ampola de Crookes era de vidro, contendo gás no interior, composta por um

cátodo (pólo negativo), que alimentado por corrente elétrica produzia elétrons e um ânodo

(pólo positivo), para o qual estes eram atraídos e ao se chocarem contra o ânodo e contra as

paredes do tubo produziam raios-X.

Röentgen percebeu que, mesmo envolvendo a ampola em papel grosso preto

(cartolina), esta continuava determinando luminosidade num cartão pintado com substância

fluorescente (platino cianeto de bário), usado para verificar radiações catódicas.

Em 28 de setembro de 1895, o pesquisador apresentou sua descoberta à Sociedade

de Física e Ciências Médicas na Universidade de Würzburg e exibiu a primeira radiografia

da história, a da mão de sua esposa.

IMPORTÂNCIA DOS RAIOS-X EM MEDICINA VETERINÁRIA

- No radiodiagnóstico, pela possibilidade de avaliar estruturas do corpo do indivíduo

sem uso de técnicas invasivas como cirurgias exploratórias.

- Na radioterapia, no tratamento de tumores, por exemplo.

Esta disciplina se restringirá ao radiodiagnóstico.

PRODUÇÃO DOS RAIOS-X

Como visto anteriormente, os raios-X eram produzidos em ampola de Crookes.

Existia, porém, a impossibilidade de controlar a quantidade e a intensidade da radiação

emitida.

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Foi, então, desenvolvida por Coolidge uma ampola (fig. 1.2), que levou o seu nome,

a qual é acoplada a comandos que permitem imprimir corrente elétrica adequada aos fatores

de exposição a serem empregados em cada caso. A ampola, em cujo interior é produzido

vácuo, é de vidro com invólucro de metal, o qual apresenta uma janela de berílio por onde

passa o feixe útil da radiação. Numa das extremidades encontra-se o cátodo (potencial

negativo) com filamento de tungstênio em espiral que alimentado por corrente de baixa

voltagem, medida em miliamperes (mA), é aquecido, fornecendo determinado número de

elétrons que darão origem a proporcional quantidade de raios-X. A quantidade de raios-X é

diretamente proporcional ao tempo, sendo esta relação denominada miliamperes/segundo

(mAs).

Na outra extremidade da ampola encontra-se o ânodo (potencial positivo)

apresentando uma pequena placa de tungstênio. Através do circuito de alta voltagem,

medida em quilovolts (kV), produz-se entre os pólos positivo e negativo da ampola uma

diferença de potencial, fazendo com que os elétrons sejam atraídos pelo ânodo, colidindo

contra o mesmo, produzindo raios-X e calor.

Pelo descrito acima pode-se concluir que a miliamperagem é responsável pela

quantidade de radiação produzida, enquanto a quilovoltagem determina a energia e,

consequentemente, a penetração dos raios.

Figura 1.2- Ampola de ânodo giratório (Fonte: Fundamentos de radiografia –

Kodak).

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Para absorver o calor nas ampolas de ânodo fixo, evitando deterioração do foco, as

mesmas apresentam um sistema de refrigeração, em geral, óleo. Já as ampolas de ânodo

giratório têm o foco preservado, por ser este bombardeado pelos elétrons em pontos

sucessivos, dissipando mais facilmente o calor (fig. 1.2).

DEFINIÇÃO DE RAIOS-X

São ondas eletromagnéticas, semelhantes à luz, diferindo no comprimento de

onda (λ). O comprimento de onda dos raios-X varia entre 100 e 0,01Å (angstrom).

Em radiodiagnóstico, os raios-X mais empregados estão entre 0,5 e 0,4Å, na

dependência da quilovoltagem empregada.

40 a 60 kV.....................................λ = 0,5Å – raios moles

60 a 80 kV.....................................λ = 0,45Å – raios médios

80 a 100 kV...................................λ = 0,4Å – raios duros

Acima de 100 kV obtêm-se raios chamados ultraduros.

Quanto menor o comprimento de onda dos raios-X, ou seja, quanto maior a

quilovoltagem empregada, maior será seu poder de penetração.

PROPRIEDADES DOS RAIOS-X

Os raios-X se propagam em linha reta e na mesma velocidade da luz, no meio.

Por não possuírem massa atravessam os corpos.

Produzem ionização por onde passam por isso impressionam filmes fotográficos (e

radiográficos).

Estimulam substâncias fluorescentes como o platino cianeto de bário e o sulfato de

zinco.

Podem afetar células vivas, produzindo alterações somáticas e / ou genéticas.

INTERAÇÃO DOS RAIOS-X COM A MATÉRIA

Ao interagir com a matéria os raios-X podem sofrer fenômenos:

Radiações Secundárias: parte da energia da radiação é cedida a átomos do corpo

radiografado, os quais podem emitir radiação de comprimento de onda maior que o dos

raios incidentes.

Efeito Compton: parte da energia da radiação é transferida aos átomos e os raios

incidentes continuarão sua trajetória, com comprimento de onda maior.

Raios Dispersos: a radiação é apenas desviada da sua trajetória sem alterar o

comprimento de onda.

Efeito foto-elétrico: os raios-X perdem toda sua energia arrancando elétrons.

RELAÇÃO ENTRE A FONTE DE RADIAÇÃO, O OBJETO RADIOGRAFADO

E O FILME NA IMAGEM RADIOGRÁFICA

A densidade da radiação é inversamente proporcional ao quadrado da distância. À

medida que se afasta o objeto, menor é a quantidade de raios provenientes do foco que o

atinge e, consequentemente, o filme, produzindo imagem menos nítida. A distância ideal

entre o foco e o filme está em torno de 70cm. O objeto a ser radiografado deve estar o mais

próximo possível do filme para que a imagem tenha o tamanho próximo do real. O

posicionamento da estrutura a ser radiografada em relação ao filme e à fonte de radiação é

de suma importância para evitar-se a distorção da imagem.

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DENSIDADES RADIOLÓGICAS

A imagem radiográfica é determinada por sombras do objeto, variando do preto ao

branco, passando por vários tons de cinza, na dependência do peso atômico, da espessura e

da densidade da substância que compõe o objeto radiografado.

Quanto maior o peso atômico, maior dificuldade terão os raios para ultrapassar o

material.

Ex: Radiografando-se uma rolha de cortiça e um cilindro de chumbo com o mesmo

diâmetro, a primeira será atravessada pela radiação produzindo imagem

radiolucente (cinza escuro). Já, o segundo, absorverá a radiação, impedindo a

chegada da mesma ao filme, proporcionando imagem radiopaca (branca).

A espessura também impedirá a passagem da radiação de forma diretamente

proporcional.

Ex: Um cão de porte grande requererá maior poder de penetração dos raios para

imprimir imagem no filme, do que um cão de pequeno porte.

Maior densidade da matéria requer maior força de penetração dos raios.

Ex: Determinado volume de água absorverá mais a radiação do que o mesmo

volume de gelo.

Num mesmo animal verificam-se várias densidades radiológicas, determinando a

imagem radiográfica de seus órgãos na dependência da densidade, espessura e peso

atômico dos mesmos. Os ossos, por exemplo, constituem-se basicamente de cálcio.

Considerando-se que esta substância absorve os raios-X, entende-se porque aquelas

estruturas imprimem imagem radiopaca na radiografia; o brometo de prata que compõe a

emulsão que envolve a película radiográfica, não sendo atingida pela radiação, não se reduz

a prata metálica ao ser mergulhada no revelador. Por outro lado, o ar que enche os pulmões,

oferece menor resistência à passagem das radiações, determinando imagem radiolucente,

pois a radiação impressiona os sais de prata da emulsão, fazendo com que se reduzam a

prata metálica quando o filme é imerso no revelador.

Entre a densidade osso (radiopaca) e a densidade ar (radiolucente), existe a

densidade água que corresponde aos músculos, tendões e sangue (menos radiopaca que o

osso) e a densidade gordura (menos radiopaca que a densidade água).

CONTRASTES

Quando a imagem radiográfica não é diagnóstica, pode-se recorrer ao uso de

contrastes, que são substâncias administradas ao paciente no intuito de melhor definir ou

delimitar estruturas.

Contrastes positivos: são radiopacos.

Ex: Composto à base de sulfato de bário utilizado para estudo do sistema digestório,

à base de iohexol utilizado para mielografia, à base de amidotrizoato de sódio e

amidotrizoato de meglumina utilizado para estudo do sistema urinário e angiografia, entre

outros.

Contrastes negativos: são radiolucentes.

Usualmente utiliza-se ar, podendo-se usar óxido nitroso ou dióxido de carbono.

Ex: Pneumocistografia.

Quando estruturas de mesma densidade se sobrepõem produzem efeito de adição de

imagem. Ex: Dois ossos sobrepostos determinam imagem mais radiopaca que a

determinada por um único osso.

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Quando estruturas de densidades diferentes se sobrepõem determinam efeito de

subtração de imagem. Ex: Porção do duodeno com gases (radiolucente) sobreposto à

imagem do fígado (radiopaco), determina, no ponto de sobreposição, densidade menos

radiopaca que a característica deste órgão.

NOMENCLATURA PARA POSICIONAMENTOS

Ao posicionar o paciente com o propósito de efetuar uma radiografia, deve-se dar

nome a este posicionamento, levando em conta a face do corpo do animal onde incide e a

face onde emerge a radiação.

Assim:

DV Dorso-ventral – o feixe de raios incide no dorso (cabeça, tórax ou abdome) e

emerge na face ventral do animal, atingindo o filme.

VD Ventro-dorsal – o feixe incide na face ventral e emerge dorsalmente.

L ou LL Lateral ou Látero-lateral – o feixe incide em um lado e emerge no outro

(não especifica o lado).

LD Lateral direito – o feixe incide no lado esquerdo e emerge no direito.

LE Lateral esquerdo

Crânio-caudal e caudo-cranial – usado para membros de proximal até a extremidade

distal de rádio e ulna/tíbia e fíbula.

DP Dorso-palmar/plantar ou PD Palmo/planto (ou pálmaro)-dorsal – usado para

membros a partir de carpo/tarso inclusive, para a extremidade.

Lateral flexionada – efetuada com flexão da estrutura avaliada (membros, coluna

cervical).

Obliquadas – são incidências complementares. Usadas com maior freqüência em

extremidades de eqüinos:

DMPLO – Dorsomedial-palmarolateral obliquada/ Dorsomedial-plantarolateral

obliquada – o feixe de raios incide no ângulo formado pelas superfícies dorsal e medial e

emerge no ângulo formado pelas superfícies palmar e lateral/ plantar e lateral do membro.

DLPMO – Dorsolateral-palmaromedial obliquada/ Dorsolateral-plantaromedial

obliquada.

PMDLO – Palmaromedial-dorsolateral obliquada/ Plantaromedial-dorsolateral

obliquada.

PLDMO – Palmarolateral-dorsomedial obliquada/ Plantarolateral-dorsomedial

obliquada.

Skyline – O feixe de radiação incide tangencialmente à estrutura em estudo.

Rostro-caudal – A radiação incide cranialmente à face do paciente, emergindo na

superfície caudal do crânio.

IDENTIFICAÇÃO DE RADIOGRAFIAS

A identificação do paciente (nº da ficha e / ou nome), data do exame, membro E ou

D (quando necessário), são impressos no filme, com tipos de chumbo afixados no chassi no

momento da radiografia ou com identificador eletrônico na câmara escura, após a

radiografia. Quando a incidência for frontal, ou seja, DV, VD, DP, PD a marca deve ser

colocada no lado direito do paciente. No momento da interpretação radiológica, o filme

deve ser colocado no negatoscópio com a identificação para o lado esquerdo do

radiologista.

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Em incidências laterais, a marca deve ficar em local que não atrapalhe a imagem.

Ao negatoscópio, coloca-se a região cranial do corpo do animal para a esquerda do

radiologista.

Quando radiografados os dois membros, a marca deve ser colocada no direito. Nada

impede que se coloque as letras D e E respectivamente.

PROTEÇÃO RADIOLÓGICA

Considerando-se que a radiação é nociva à saúde, procura-se proteger ao máximo as

pessoas envolvidas no exame.

Radiologistas, técnicos e auxiliares devem, sempre, usar avental, luvas, óculos e protetor

de tireóide plumbíferos e dosímetro para medir a radiação recebida durante determinado

período de tempo (normalmente mensal). Quando possível, proteger-se atrás de biombo

de chumbo ou paredes espessas e fazer controle hematológico periodicamente (6 em 6

meses).

Solicita-se ao cliente (proprietário) que auxilie na contenção do paciente.

Colima-se o feixe de radiação através de cones ou diafragmas, dirigindo-o, sempre que

possível, para o chão, utilizando-se a maior quilovoltagem e a menor miliamperagem.

REQUISIÇÃO

Na solicitação do exame radiológico é importante que conste:

A identificação do paciente: Nome, idade,...

Descrição sucinta da história clínica.

Especificação das estruturas a serem radiografadas.

CUIDADOS ANTES E DURANTE O EXAME PARA ADEQUADO ESTUDO

RADIOGRÁFICO

Para exame de abdome fazer a limpeza do trato digestório, sempre que as condições do

paciente o permitirem.

Verificar se pele e pelos estão limpos e livres de pomadas.

Os cascos dos equinos devem ser escovados e, se possível, livres de ferraduras para

exame de 3ª falange. Preencher os sulcos do casco (pode ser com massa de modelar).

Efetuar, sempre, radiografias perpendiculares entre si, já que a radiografia não

proporciona imagem tridimensional (não dá noção de profundidade) (fig. 1.3).

Quando solicitado exame contrastado, efetuar exame simples antes.

INTERPRETAÇÃO RADIOLÓGICA

Observa-se, inicialmente, a radiografia toda, avaliando-se o padrão radiográfico e o

posicionamento. Detém-se, então, à região central do filme, onde deve estar a estrutura a

ser estudada, indicada, em geral, pelo clínico.

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Figura 1.3 – Radiografias em projeção lateral e crânio-caudal de rádio e ulna de

um cão. A primeira sugere que o projétil se encontre entre os

dois ossos. A outra demonstra que está sob a pele, na face lateral

do membro.

Atenta-se para:

Mudança de posição de um órgão ou parte dele. Ex: alças intestinais desviadas para um

lado, por tumor na cavidade abdominal.

Variação no tamanho. Ex: aumento de volume cardíaco.

Variação no contorno ou forma. Ex: bexiga com divertículo.

Alteração na densidade. Ex: rarefação óssea.

Alteração na função. Ex: Rim afuncional (evidenciado na urografia excretora).

Mudança na arquitetura. Ex: neoplasias ósseas.

LAUDO RADIOLÓGICO

Na elaboração do laudo se descreve as alterações observadas, emite-se o

diagnóstico, se possível, ou declara-se não haver alteração detectável ao exame radiológico,

nas estruturas avaliadas.

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CAPÍTULO II

SISTEMA DIGESTÓRIO

CAVIDADE ORAL

Esta estrutura, primeira do sistema digestório, em geral, é avaliada através de exame

direto, dispensando raios-X. Recomenda-se que o clínico abra a boca do paciente, fazendo a

inspeção, em busca de lesões na língua, gengiva, palato, corpos estranhos entre os dentes,

cáries ou dentes quebrados ou frouxos. As estruturas ósseas que limitam a cavidade oral,

dentes e periodonto, fazem parte do capítulo de sistema ósseo.

FARINGE

Nesta região, deve-se analisar a anatomia da mesma (fig. 2.1), palato mole, epiglote

e hióides, levando em conta alteração de volume, continuidade ou densidade. É importante

o conhecimento das estruturas normais, facilitando a identificação de alterações, quando

presentes. Corpos estranhos, linfonodo aumentado e neoplasias são alterações passíveis de

serem detectadas ao exame radiográfico.

Figura 2.1 – Faringe de um cão evidenciando palato mole (seta fina

preta), epiglote (seta grossa preta) e hióides (setas

brancas). Seta descontínua aponta as cartilagens da

laringe.

ESÔFAGO

Esta estrutura estende-se da altura da 2ª vértebra cervical à 10ª torácica. Começa

dorsal à traquéia, passando para o lado esquerdo da mesma na porção cervical caudal, até a

entrada do tórax, onde volta a ser dorsal, chegando ao abdome, onde se une ao cárdia.

O esôfago não é distinguido ao exame radiográfico simples, pois encontra-se,

normalmente, colapsado, não apresentando ar ou conteúdo em sua luz, determinando a

mesma densidade dos tecidos moles da região do pescoço e do mediastino. Discreta porção

de ar (radiolucente) poderá, eventualmente, ser observada na porção inicial do esôfago.

Imagem que não deve se repetir em radiografias sucessivas.

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ESOFAGOGRAMA

É o exame contrastado do esôfago para o qual se usa contraste positivo, em geral,

sulfato de bário. Recomenda-se composto orgânico em caso de suspeita de solução de

continuidade de parede do órgão.

As radiografias são efetuadas em posicionamento lateral, mais esclarecedor e dorso-

ventral ou ventro-dorsal, sendo estes últimos de pouca ajuda pela sobreposição das

vértebras.

TÉCNICA RADIOGRÁFICA

Com auxílio de seringa administra-se, via oral, 5 a 10ml de sulfato de bário.

Imediatamente, coloca-se o paciente em decúbito lateral sobre o filme e efetua-se a

radiografia. Nota: Sempre realizar o exame simples antes do contrastado, para avaliar o

padrão da radiografia e descartar a presença de alteração detectável sem contraste.

IMAGEM

Na ausência de alterações, o contraste passará imediatamente para o estômago,

deixando resíduos entre as pregas do esôfago, determinando imagem de linhas longitudinais

que se estendem até a entrada do abdome ou próximo a este ponto. A não detecção da

coluna de contraste, ou a visualização da mesma até o terço médio do tórax, sem dilatação

do esôfago, não caracteriza alteração. Isto se deve à passagem livre e rápida do contraste

para o estômago (fig. 2.2 A).

No gato, no terço caudal do esôfago, existem pregas transversais além das

longitudinais, determinando uma imagem semelhante a espinha de peixe, quando

preenchidas por contraste (fig. 2.2 B).

Figura 2.2 – Esofagograma. Imagem normal de esôfago de cão (A), de gato (B).

ALTERAÇÕES

As alterações de esôfago classificam-se em intraluminais (ex: corpo estranho, fig.

2.3), intramurais (ex: nódulos de Spirocerca lupi, fig. 2. 6) ou periesofágicas (ex: neoplasia

adjacente ao esôfago, fig. 2.5).

Sinais clínicos: dificuldade de deglutição, regurgitação e, eventualmente, tosse.

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OBSTRUÇÃO ESOFÁGICA POR CORPO ESTRANHO

Os corpos estranhos podem ser radiopacos (Fig. 2.3), ou radiolucentes (Fig. 2.4). Os

primeiros são visualizados ao exame radiográfico simples, já os últimos necessitam de

esofagograma para sua identificação, quando haverá interrupção parcial ou total da coluna

de contraste na trajetória do esôfago, dilatando a luz do mesmo cranialmente ao corpo

estranho.

Os pontos onde mais frequentemente se instalam os corpos estranhos são: porção

terminal de esôfago cervical (pela resistência à distensão na entrada do tórax), anterior à

base do coração (pelas estruturas da região) e na porção terminal do esôfago (pela limitação

proporcionada pelos pilares do diafragma).

Figura 2.3 – Imagens radiográficas de corpos estranhos radiopacos em esôfago de cão.

Figura 2.4 – Imagens de corpo estranho radiolucente (setas) em esôfago de um cão. Exame simples (A) e

esofagograma (B).

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COMPRESSÃO ESOFÁGICA

Pode ocorrer por aumento de volume de linfonodos mediastinais, hipertrofia ou

neoplasia de timo, ou massas adjacentes ao esôfago (fig. 2.5).

Figura 2.5 – Massa comprimindo o esôfago cervical (setas pretas). Exame simples (A) e esofagograma (B).

Contraste impedido de progredir livremente (seta branca).

RUPTURA DE ESÔFAGO

Quando ao exame radiográfico simples for evidenciado ar nos tecidos adjacentes ao

esôfago, deve-se suspeitar de ruptura ou perfuração do mesmo. Utiliza-se, então, composto

orgânico para confirmar o diagnóstico, o que será demonstrado por extravasamento do

contraste para fora da luz esofágica.

DIVERTÍCULO ESOFÁGICO

Não produz sinal clínico, a menos que seja muito grande. Pode ser congênito ou

adquirido. Aparece, ao esofagograma, como uma saculação na parede do órgão.

ESOFAGITE

Diagnóstico pouco comum pelo estudo radiográfico. Pode levar a espessamento da

parede em casos crônicos ou demonstrar irregularidade nas pregas do esôfago.

ESTENOSE ESOFÁGICA

Redução da luz por espessamento da parede, consequente a fibrose após lesão,

tumor ou nódulos de Spirocerca lupi (fig. 2.6).

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Figura 2.6 – Nódulo de Spirocerca lupi em esôfago de cão

(setas), produzindo estenose (não identificada

nesta imagem).

NEOPLASIAS

Não são comuns em cães, sendo diagnosticadas, embora raramente, em gatos. A

imagem radiográfica demonstra irregularidade da parede do esôfago, evidenciada ao

esofagograma.

HÉRNIA DE HIATO

Esta alteração ocorre quando uma porção do estômago passa pelo hiato esofágico e

penetra no tórax. A hérnia pode ser axial ou paraesofágica. A primeira ocorre quando parte

do estômago escorrega intermitentemente para o tórax através do hiato. A segunda, quando

parte do estômago penetra no tórax pelo hiato, lateralmente ao esôfago.

INVAGINAÇÃO GASTRO-ESOFÁGICA

O estômago invagina para o interior do esôfago e, eventualmente, leva junto porção

do duodeno, baço e pâncreas, produzindo uma dilatação esofágica, que apresentará

densidade alterada na porção terminal. Ao esofagograma é possível visualizar o padrão

pregueado da mucosa do estômago na luz do esôfago. Observa-se, também, a ausência de

qualquer imagem correspondente ao estômago na cavidade abdominal (fig. 2.7).

Figura 2.7 – Esofagograma demonstrando intussuscepção gastro-esofágica em cão.

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DILATAÇÃO PARCIAL DE ESÔFAGO

Devido à constrição ou obstrução do esôfago, em determinado ponto, ocorrerá

dilatação do órgão cranialmente a este ponto. Uma das causas mais comuns é o arco aórtico

direito persistente (fig. 2.8).

Figura 2.8 – Esofagograma demonstrando dilatação parcial

de esôfago (setas).

MEGAESÔFAGO

Observa-se aumento da luz do esôfago em toda a sua extensão, até a entrada do

abdome. Às vezes dispensa o exame contrastado (fig. 2.9 A). Para preenchimento do órgão

dilatado, é necessária uma quantidade de contraste bem maior que a recomendada para o

esofagograma (fig. 2.9 B). Megaesôfago pode ser causado por acalasia ou tumor de cárdia,

por exemplo.

Figura 2.9 – Megaesôfago em cão. A- Exame simples demonstrando as paredes do esôfago (setas) e

ar no interior. B- Esofagograma demonstrando quantidade insuficiente de contraste

devido à grande distensão.

ABDOME

Ao avaliar-se o abdome como um todo, deve-se considerar tamanho, densidade e

localização de cada órgão, bem como o conteúdo e o grau de repleção das vísceras ocas.

Para detectar-se alteração, é indispensável ter conhecimento da imagem normal do

organismo animal (fig. 2.10 e 2.11).

Page 19: Diagnostico Por Imagem

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ESTÔMAGO

Este órgão localiza-se na porção cranial do abdome, aparecendo parcialmente

sobreposto ao fígado nas radiografias. Ao exame simples, pode ser facilmente identificado

por conter, usualmente, gás no seu lúmen. Em posição VD, no cão, cárdia e região fúndica

do estômago estão localizados à esquerda da linha média, ficando a região pilórica à direita.

No gato, o estômago está localizado em sua totalidade no lado esquerdo, tendo o piloro na

linha média. Na projeção lateral, dependendo do decúbito, a coleção de gás que tende a

subir, se localizará na região fúndica (decúbito direito) ou na pilórica (decúbito esquerdo).

Figura 2.10 – Abdome normal de cão. Incidência lateral (A) e ventro-dorsal (B). Fígado (seta

longa preta), alça do intestino delgado (seta pequena branca), estômago (seta

grossa branca) e cólon descendente com gases e fezes (seta grossa preta).

Figura 2.11 – Abdome normal de felino. Cólon descendente (seta fina preta), fígado (seta

branca), rins sobrepostos na incidência lateral e rim esquerdo na ventro-

dorsal (seta grossa preta).

GASTROGRAFIA OU GASTROGRAMA

Page 20: Diagnostico Por Imagem

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É o exame contrastado do estômago, sendo o sulfato de bário o meio de contraste

indicado rotineiramente. Diante de suspeita de perfuração de parede, este deve ser

substituído por composto orgânico.

TÉCNICA:

Visando avaliação do estômago, indica-se jejum de 8 horas previamente ao exame,

se as condições do paciente o permitir. Presença de conteúdo no estômago após jejum,

sugere obstrução ou espasmo de piloro.

Com auxílio de seringa, via oral, ou através de sonda diretamente no estômago,

administra-se o meio de contraste na dose de 5 a 12ml.kg-1

de peso do animal.

Imediatamente, efetua-se a primeira radiografia, para avaliar a passagem do contraste para

o duodeno (fig. 2.12), repetindo-se aos 5, 15, 20 e 60 minutos após, avaliando-se as

imagens obtidas, até chegar ao diagnóstico. Indica-se incidências VD, lateral esquerda,

lateral direita e, se necessário, DV e obliquadas.

Nota: É importante que o paciente seja mantido em local tranquilo,

preferencialmente, junto ao proprietário, para que o estresse não interfira na progressão do

contraste.

ALTERAÇÕES

São sinais de desordem gástrica: dor abdominal, vômito, anorexia, podendo chegar

a temperatura elevada, perda de peso, desidratação e fadiga.

CORPO ESTRANHO

Pode ser radiopaco, que será visualizado ao exame simples, ou radiolucente,

evidenciado por pequena quantidade de contraste administrada que o envolverá. Plástico e

vidro são exemplos de corpos estranhos radiolucentes.

Figura 2.12 – Imagem do estômago de cão ao exame contrastado.

TORÇÃO GÁSTRICA

O estômago apresenta-se distendido por gases e / ou conteúdo alimentar e líquidos,

com o piloro deslocado de sua posição normal. Este quadro caracteriza emergência, não

sendo indicado o uso de contraste.

Page 21: Diagnostico Por Imagem

21

DILATAÇÃO GÁSTRICA

O estômago apresenta-se distendido, permanecendo o piloro em sua posição normal

(fig. 2.13).

Figura 2.13 – Dilatação gástrica por obstrução de piloro

em um cão.

TUMORES E ÚLCERAS

Os tumores gástricos são raros em pequenos animais, já as úlceras ocorrem,

especialmente, causadas pelo uso indiscriminado de antiinflamatórios. O diagnóstico

radiológico destas últimas é feito pela constatação de contraste preenchendo-as. Não é de

fácil visualização devido às pregas gástricas que podem levar a erros. O mais indicado, para

o diagnóstico definitivo, é a endoscopia.

INTESTINO DELGADO

EXAME SIMPLES

As alças intestinais serão mais facilmente distinguidas ao exame radiológico quando

apresentarem gás em sua luz ou conteúdo de densidade diferente dos tecidos adjacentes.

Gordura na cavidade peritonial, por ter densidade radiológica diferente das vísceras,

proporciona distinção entre as mesmas. Animais muito magros ou jovens, têm imagem do

abdome bastante homogênea pela ausência de gordura. Ainda, na presença de líquido livre

na cavidade, como em caso de ascite, peritonite, hemoperitônio, ou qualquer efusão

peritonial, haverá uma opacificação homogênea da imagem, dificultando ou impedindo

totalmente a distinção de qualquer estrutura.

TRÂNSITO INTESTINAL

É o exame contrastado das alças intestinais. Deve ser precedido, sempre, por exame

simples.

TÉCNICA

Após preparo com jejum de 24 horas (água sem restrição), efeito de laxante suave e

enema efetuado 6 horas antes do exame, administra-se via oral ou por sonda gástrica, o

sulfato de bário na dose de 8 a 12ml.kg-1

de peso do animal. Dependendo do quadro clínico,

como em casos de anorexia, em que o paciente já vem há dias sem se alimentar, o preparo

será dispensado.

Page 22: Diagnostico Por Imagem

22

Da mesma forma vista na gastrografia, ao fim da administração do contraste, efetua-

se a primeira radiografia, para observar a passagem do mesmo do estômago para o

duodeno. Repete-se a avaliação 15 minutos após e uma hora, novamente, quando em

condições normais, todo o intestino delgado estará delineado pelo contraste. O trânsito

poderá estar acelerado em caso de enterite, ou retardado pelo estresse do animal devido à

manipulação. Três horas após a administração do contraste, pode-se verificar a passagem

do mesmo ao cólon e avaliar o esvaziamento do estômago.

Num paciente adequadamente preparado para o exame, o intestino apresentará

diâmetro uniforme, superfície mucosa relativamente lisa e parede fina, quando em

condições normais de saúde (fig. 2.14 A e B).

Figura 2.14 - Trânsito intestinal normal em cão. A - Intestino delgado em projeção ventro-dorsal

e B - Projeção lateral. Estômago apresenta resíduo do contraste.

ALTERAÇÕES

Os sinais clínicos incluem vômito, diarréia, anorexia, perda de peso, desidratação,

dor abdominal e /ou melena.

OBSTRUÇÃO

A obstrução pode ser completa ou parcial. No primeiro caso, a imagem radiográfica

demonstrará dilatação por gases ou conteúdo alimentar das alças intestinais, anteriores ao

ponto de obstrução (fig. 2.15). No segundo, não haverá retenção significativa de gases,

podendo necessitar contraste para o diagnóstico. Quando a causa for corpo estranho linear,

o contraste proporcionará imagem de franzimento do segmento da alça que o contém (fig.

2.16).

ENTERITE

Radiologicamente diagnosticada pela velocidade aumentada do trânsito intestinal (o

contraste passa muito rapidamente) e/ou por significativa quantidade de gases na luz

A B

Page 23: Diagnostico Por Imagem

23

intestinal, demonstrada por radiolucência. Irregularidade na superfície da mucosa ou

estreitamento do lúmen só será observado em casos crônicos.

DIVERTÍCULO

Pode ser adquirido ou congênito, sendo mais comum o consequente a corpo

estranho. Apresenta-se como uma saculação na parede da alça intestinal.

INTUSSUSCEPÇÃO

Poderá produzir obstrução completa ou incompleta. A invaginação de uma porção

da alça em outra determina, eventualmente, uma imagem de uma estrutura tubular com

densidade água, comparada por alguns autores a uma salsicha. Evita-se a administração de

contraste, dando-se preferência ao exame ecográfico em lugar do contrastado. Quando

causar obstrução completa a imagem será semelhante à vista na figura 2.15.

Figura 2.15 – Radiografia simples: obstrução intestinal em projeção lateral e ventro-dorsal.

Figura 2.16 – Trânsito intestinal em projeção ventro-dorsal e lateral, evidenciando

corpo estranho linear no intestino delgado de um felino.

Page 24: Diagnostico Por Imagem

24

HÉRNIAS

As alças intestinais, com seu conteúdo gasoso ou com contraste, ou outros órgãos,

como fígado, útero, estômago, serão visualizados fora da cavidade abdominal. Ex: Hérnia

diafragmática (vísceras insinuadas no tórax) (fig. 2.17 A), hérnia inguinal (na região

inguinal) (fig. 2.17 B).

Figura 2.17 – Hérnia diafragmática. A - Perda da linha do diafragma, presença de alças intestinais com

gases e estruturas radiopacas insinuadas no tórax. B - Hérnia inguinal em uma cadela

prenhe. Corno uterino com fetos compõe o conteúdo herniário.

INTESTINO GROSSO

O intestino grosso inclui ceco, cólon e reto. Este segmento do intestino é facilmente

identificável ao exame radiológico por sua localização, tamanho e conteúdo. O ceco no cão,

com forma de “C”, cheio de gás, é identificado no lado direito do abdome em projeção

VD. Nesta projeção, observa-se o cólon ascendente no lado direito do abdome, cólon

transverso, da direita para esquerda e descendente no lado esquerdo, descendo até o reto.

Este último é a estrutura intrapélvica, localizada entre a superfície ventral do sacro e o

assoalho da pelve em projeção lateral.

COLONOGRAFIA OU ENEMA BARITADO

É o exame contrastado do intestino grosso.

TÉCNICA

As incidências e o preparo são os mesmos do trânsito intestinal. É aconselhável a

sedação para evitar o desconforto do paciente. Seringa com bico ou sonda é utilizada para

administrar o contraste no reto. A dose indicada é de 5 a 12ml.kg-1

de peso. Imediatamente

efetuam-se as radiografias.

Para exame de duplo contraste, proporciona-se a eliminação do contraste positivo e

administra-se ar na mesma dose do primeiro. As paredes do cólon delineadas pelo contraste

positivo são avaliadas para alterações na mucosa e lesões intramurais.

ALTERAÇÕES

A B

Page 25: Diagnostico Por Imagem

25

São as mesmas que acometem o intestino delgado, mais megacólon e fecaloma (fig.

2.18 A), hérnia perineal (fig. 2.18 B), atresia anal (fig. 2.19) e intussuscepção íleo-cólica

(fig. 2.20).

Figura 2.18 – A- Megacólon com conteúdo fecal, em projeção lateral. B-Hérnia

perineal.

Figura 2.19 – Atresia anal em felino de 4 dias de vida. Alças intestinais

distendidas por gases.

A B

Page 26: Diagnostico Por Imagem

26

Figura 2.20 – Intussuscepção íleocólica em cão. Alças do intestino delgado

apresentam-se distendidas por gases, na projeção lateral. Contraste

usado na colonografia progrediu até o ponto da invaginação, na

junção íleocólica.

MASSAS TUMORAIS

Pode ocorrer o desenvolvimento de massas no abdome, as quais se originam em

qualquer órgão ou mesmo no mesentério, o que é difícil de especificar ao exame

radiográfico. É importante, diante de massas que ocupam grande parte do abdome (fig.

2.21), não se fazer confusão com efusão pleural, observando o limite que aquelas

demonstram, diferentemente das efusões que se distribuem por toda a cavidade. Incidência

VD auxilia a localização das massas, bem como incidência lateral em estação, permite a

observação do líquido colecionado ventralmente nesta posição.

Figura 2.21 – Massa no abdome (tumor no baço) e tórax do mesmo paciente com metástases

pulmonares.

PNEUMOPERITÔNIO

Pode ocorrer como consequência de perfuração em alças intestinais (fig. 2.22).

Radiolucência distribuída em toda a cavidade será observada.

Figura 2.22 – Pneumoperitônio causado por perfuração de alça intestinal em felino.

Imagens cedidas pelas colegas Médicas Veterinárias Cristiane Elise

Teichmann e Anelise Réquia.

Page 27: Diagnostico Por Imagem

27

PNEUMOPERITONIOGRAFIA

É o exame radiográfico no qual se injeta ar ou óxido nitroso na cavidade abdominal,

com a finalidade de melhor avaliar a superfície serosa das vísceras. Exame pouco usado

atualmente, graças à ultrassonografia que proporciona imagem sem invasividade.

ÓRGÃOS ANEXOS

PÂNCREAS

Este órgão não é distinguido ao exame radiológico. Quando aumentado de tamanho,

em geral por pancreatite ou tumor, poderá aparecer como uma massa deslocando as

vísceras adjacentes. A ultrassonografia aqui, bem como no baço, proporcionará

esclarecimento.

FÍGADO

Em projeção VD o fígado se apresenta na radiografia como uma estrutura de

densidade água, homogênea, na região mais cranial do abdome, com forma convexa

limitada pelo diafragma e, irregularmente côncava em sua borda caudal, em contato com o

estômago, duodeno mais à direita e rim direito. Em projeção lateral, este órgão apresenta

forma triangular, limitado pelo diafragma e parede abdominal ventral, tendo sua borda

caudal formando um ângulo bem definido, ultrapassando ligeiramente o último arco costal

(fig. 2.10 e 2.11).

O fígado poderá apresentar-se aumentado de tamanho (fig. 2.23), ultrapassando

significativamente o limite normal, perdendo o aspecto afilado de suas bordas, as quais

aparecem arredondadas. Exemplos de causas de hepatomegalia são neoplasias hepáticas,

carcinoma de ducto biliar, cirrose em sua fase aguda,, intoxicação e congestão por

insuficiência cardíaca direita. Deslocamento caudal das estruturas adjacentes auxiliam no

diagnóstico. Já, o fígado diminuído de tamanho, é característico de cirrose hepática. Com o

exame ultrassonográfico será possível avaliar-se o parênquima e os limites hepáticos,

fazendo diagnóstico o diferencial.

Figura 2.23 – Imagem radiográfica de

hepatomegalia em cão.

Page 28: Diagnostico Por Imagem

28

BAÇO

Apresenta-se na radiografia como estrutura triangular, com a mesma densidade do

fígado, situado no lado esquerdo do abdome, caudal ao estômago em projeção VD e

ventralmente em projeção lateral (fig. 2.24), sendo o decúbito lateral direito preferencial,

pela posição tomada pelo órgão, determinando boa imagem. Poderá estar aumentado de

tamanho quando o paciente estiver sob efeito de anestésico, período pós-vacinal ou em

casos patológicos como linfossarcoma (fig. 2.21).

Figura 2.24 – Radiografia de abdome normal de cão, com evidência do baço (seta).

Page 29: Diagnostico Por Imagem

29

CAPÍTULO III

SISTEMA URINÁRIO

Este sistema compreende rins, ureteres, bexiga e uretra. Ao exame radiológico

simples apenas rins e bexiga são visualizados, sendo que os primeiros são melhor

distinguidos das demais estruturas da cavidade abdominal, quando há gordura no

retroperitônio. A bexiga depende de seu conteúdo para ser identificada.

Para adequada avaliação do sistema urinário é necessário o preparo do animal, que

consiste na limpeza do trato digestório, sempre que as condições do paciente o permitir.

Os rins são móveis, usualmente identificáveis na porção dorsal do abdome, em

projeção lateral, apresentando-se parcialmente sobrepostos (fig. 3.1). No posicionamento

VD observa-se que o rim direito se localiza mais cranialmente que o esquerdo. No cão, os

rins têm, em média, 2,5 a 3,5 vezes o comprimento da 2ª vértebra lombar. No gato, 2 a 3

vezes o tamanho da 4ª vértebra lombar.

Os ureteres se estendem da pelve renal ao trígono da bexiga, na região dorso caudal

desta, necessitando de meio de contraste para serem identificados radiologicamente.

A bexiga é visualizada sobre o assoalho da cavidade abdominal caudal. À medida

que se torna cheia, mais cranialmente se estende (fig.3.1).

A uretra não é visualizada radiologicamente em condições normais, mas no canino

macho o osso peniano indica a posição terminal desta estrutura.

EXAMES CONTRASTADOS

UROGRAFIA EXCRETORA

É a técnica utilizada para melhor avaliação radiológica das estruturas do sistema

urinário. É indicado preparo do paciente com dieta hídrica por 24 horas, laxante suave e, se

necessário, enema morno 6 horas antes do exame, para limpeza completa do trato

digestório. Para maior conforto do animal, o mesmo poderá ser sedado, o que não é

imprescindível.

Após avaliação do preparo e fatores de exposição através do exame simples, inicia-

se o procedimento da urografia excretora: via endovenosa, administra-se composto

orgânico específico para vias urinárias, em geral à base de diatrizoato sódico e diatrizoato

de meglumina, na dose de 3ml.kg-1

. Ao término da administração do contraste efetua-se a

primeira radiografia, nas incidências lateral e VD, seguindo-se de outras aos 2, 5 e 10

minutos. Neste exame observa-se primeiramente os rins opacificados, a seguir os ureteres

que aparecem como duas linhas radiopacas estendendo-se da pelve renal até o trígono da

bexiga, onde se inserem e, finalmente, esta última preenchida por contraste diluído na urina

(fig. 3.2).

Page 30: Diagnostico Por Imagem

30

Figura 3.1 – Radiografia simples do abdome de um felino: rim direito mais cranial e esquerdo caudalmente,

parcialmente sobrepostos (setas pequenas) e bexiga (seta grande).

Figura 3.2 – Urografia excretora em uma cadela, projeção lateral e VD evidenciando rins, ureteres e

bexiga, esta última com defeito de preenchimento causado por neoplasia.

PNEUMOCISTOGRAFIA

Ar ou óxido nitroso na dose de 6 a 12ml.kg–1

é injetado para o interior da bexiga via

cateter adaptado a uma seringa, até que o órgão esteja moderadamente distendido. Pode-se

recorrer a sedação em caso de manifestação de dor, visando conforto do paciente. É

importante a remoção de toda a urina presente na bexiga antes da administração do

contraste negativo (fig. 3.3).

Page 31: Diagnostico Por Imagem

31

Figura 3.3 – Pneumocistografia evidenciando urólitos

radiolucentes e sonda. A imagem foi

delineada por linha pontilhada por ser

de difícil visibilização.

CISTOGRAFIA

Contraste orgânico é diluído a 5% em solução fisiológica e introduzido na bexiga

por meio de uma sonda uretral até que o órgão esteja moderadamente distendido, o que

requer em torno de 6 a 12ml.kg –1

(fig. 3.4 A e B).

Figura 3.4 – Cistografia, em projeção L e VD demonstrando massa tumoral no interior da

bexiga de uma cadela. Diagnóstico comprovado em cirurgia.

CISTOGRAFIA COM DUPLO CONTRASTE

O contraste positivo é introduzido na bexiga em quantidade suficiente para envolver

a mucosa vesical. O excesso é removido, administrando-se, então, ar ou óxido nitroso até

obter moderada distensão do órgão. Este exame proporciona boa avaliação da mucosa.

ALTERAÇÕES

A B

Page 32: Diagnostico Por Imagem

32

RINS

DEFEITOS CONGÊNITOS

Entre os defeitos congênitos, cita-se a aplasia, a ectopia e a hipoplasia renal,

podendo ser este último afuncional. Neste caso, o outro rim pode ser hipertrofiado para

compensar. Estas alterações são melhor demonstradas pela urografia excretora.

HIDRONEFROSE

Usualmente, esta alteração ocorre por obstrução de ureter (fig. 3.5), que pode ser

consequente a massas abdominais, cálculos ou ligadura acidental em cirurgia. Ao exame

radiológico o rim aparecerá como uma grande massa radiopaca de contornos lisos.

CÁLCULO RENAL

Também chamado de urólito, é visto como densidade radiopaca no interior da pelve

renal, algumas vezes preenchendo a mesma. Se os cálculos forem radiolucentes, haverá

necessidade de exame contrastado (urografia excretora) ou ultrassonográfico para

confirmação.

Nota: cálculos radiopacos são compostos de fosfato triplo ou oxalato de cálcio,

enquanto os radiolucentes são formados por urato de amônia ou de cistina.

RUPTURA RENAL

Diagnóstico feito pela urografia excretora, onde haverá extravasamento do

contraste.

NEOPLASIA

Poderá ser observado aumento de tamanho do rim ou irregularidade no contorno.

CISTO RENAL

Usualmente causa distorção no contorno do rim. Por conter líquido no interior, o

cisto não se destaca do parênquima. Ultrassom é o meio ideal para este diagnóstico.

NEFRITE

Diagnosticada por outros meios que não o radiológico. Rim pequeno e nodular

poderá sugerir nefrite crônica ou rim terminal.

INFARTO RENAL

Áreas de infarto poderão ser demonstradas como não funcionais à urografia

excretora, isto é, não opacificadas.

URETERES

Cálculo, ruptura de ureter e hidroureter (fig. 3.5) são alterações passíveis de ocorrer,

sendo que estas últimas são detectadas ao exame contrastado.

Page 33: Diagnostico Por Imagem

33

Figura 3.5 – Hidroureteres demonstrados por

urografia excretora em cão.

BEXIGA

CISTITE

O meio de imagem indicado para este diagnóstico é o ultrassom, uma vez que a

mucosa vesical não é distinguível ao exame radiográfico simples e, mesmo à cistografia ou

pneumocistografia, discreta alteração da mucosa poderá ser imperceptível.

CÁLCULOS

São comuns em cães. Se radiolucentes, poderão depender de contraste negativo para

serem evidenciados. Neste caso, se apresentarão um pouco menos radiolucentes que o ar

(fig. 3.3). Quando radiopacos, são facilmente observáveis (fig. 3.6). Nas fêmeas é comum a

presença de poucos cálculos e grandes, já que os pequenos são facilmente eliminados

através da uretra curta. Nos machos observam-se cálculos de todos os tamanhos e em

grande número pela dificuldade de serem eliminados, muitas vezes sendo evidenciados na

uretra, especialmente na base do osso peniano (fig. 3.6 B).

Em gatos, o meio de imagem mais indicado é o ultra-som, uma vez que a maior

ocorrência é de cristais, difícil, se não impossível, de serem observados na radiografia.

Eventualmente, se poderá observar a trajetória da uretra do macho com acúmulo de cristais.

NEOPLASIA

Não é visualizada ao exame simples. À pneumocistografia aparecerá como uma

massa radiopaca em contraste com a radiolucência do ar administrado. À cistografia a

imagem será de uma massa menos radiopaca que o contraste positivo administrado (fig.

3.4), imagem semelhante à obtida na urografia excretora (fig. 3.2).

Page 34: Diagnostico Por Imagem

34

Figura 3.6 – A- Cálculos radiopacos na bexiga de um cão ao exame radiográfico simples. B- Muitos e

pequenos cálculos preenchendo a bexiga e a uretra de um cão.

DIVERTÍCULO

Pode ser de origem traumática ou ocorrer no ponto onde se fixava o úraco no feto

(estrutura que proporciona comunicação entre a bexiga e o saco alantóide). Poderá não ter

nenhum significado clínico, a não ser em casos de cistite, onde o divertículo colecionará

sedimento, proporcionando recidivas.

RUPTURA

Perceptível apenas ao exame contrastado, quando será visibilizado ar ou contraste

positivo livre na cavidade abdominal. Contraste positivo é o mais indicado por ser mais

facilmente observado ao extravasar (fig. 3.7).

Figura 3.7 – Ruptura de bexiga diagnosticada por

cistografia, onde o contraste extravasou

para a cavidade abdominal.

URETRA

CÁLCULOS

Poderão ser observados na trajetória da uretra de cães e gatos machos, como já

comentado (fig. 3.6 B).

ESTENOSE

A B

Page 35: Diagnostico Por Imagem

35

Fratura de osso peniano no cão é a causa mais comum desta alteração (fig. 3.8),

podendo, também, ser determinada por cálculo ou sondagem.

Figura 3.8 – Fratura de osso peniano em cão (seta).

]

Page 36: Diagnostico Por Imagem

36

CAPÍTULO IV

SISTEMA REPRODUTOR

MACHO

PRÓSTATA

Na maioria das raças de cães e nos gatos, a próstata normal não será identificada na

radiografia, ou o será parcialmente. Localizada caudalmente à bexiga, ao redor da uretra,

tem sua visualização, nos cães, dependente do conteúdo urinário, uma vez que é deslocada

cranialmente quando há repleção vesical (fig. 4.1). Estará aumentada em casos de

neoplasia, prostatite ou hiperplasia prostática benigna. Só a ultrassonografia ou outro meio

de auxílio ao diagnóstico poderá fornecer esclarecimento quanto ao diagnóstico.

Figura 4.1 – Próstata aumentada de volume em cão (seta).

URETRA

Vista no sistema urinário.

TESTÍCULOS

Devem ser investigados por outro meio que não o radiológico.

FÊMEA

O útero consiste em colo, corpo e cornos, estes últimos totalmente dentro do

abdome, enquanto o corpo se encontra no abdome caudal e pelve. Os ovários estão

localizados caudalmente aos rins. Estas estruturas, componentes do sistema reprodutor das

fêmeas, não são identificáveis ao exame radiográfico quando em condições normais de

saúde. Ultrassonografia é o meio de diagnóstico por imagem indicado para avaliá-las,

embora, a radiografia possa ser utilizada na falta deste recurso.

PRENHEZ

Esta condição está entre os casos passíveis de serem diagnosticados

radiograficamente. É importante ter-se conhecimento da história clínica da paciente, uma

vez que até em torno do 42° dia de gestação na cadela e 39° dia na gata, não haverá

Page 37: Diagnostico Por Imagem

37

deposição de cálcio no esqueleto dos fetos, podendo levar à confusão com piometra que

será discutida adiante. Após a calcificação dos esqueletos, se poderá visibilizar cabeça,

coluna e membros, sendo que, em condições normais, a coluna estará distendida ou

suavemente curvada (fig. 4.2) e o crânio apresentará continuidade em seu contorno, exceto

na região da fontanela. A radiografia é um meio confiável para a contagem do número de

fetos, sendo que para este fim, conta-se os crânios.

Figura 4.2 – Gestação em cadela. Presença de feto com

características normais.

ALTERAÇÕES

OVÁRIOS

Quando os ovários estiverem aumentados de tamanho, por exemplo, em caso de

tumoração, poderão ser visualizados como massa densidade água deslocando estruturas

adjacentes, embora o diagnóstico não possa ser afirmado.

ÚTERO

PIOMETRA

Esta alteração, bem como hemometra, mucometra ou hidrometra se caracterizam

por aumento do volume uterino, o qual apresenta-se como uma estrutura de densidade água,

homogênea, partindo da porção caudal do abdome em sentido cranial, variando de

tamanho, conforme o conteúdo do mesmo (fig. 4.3). Durante a involução uterina pós-parto,

também se poderá detectar aumento desta estrutura, podendo haver confusão se não for

conhecida a história da paciente.

Page 38: Diagnostico Por Imagem

38

Figura 4.3 – Radiografia de abdome de cadela com

piometra. Setas apontam os cornos uterinos

distendidos.

FETO MUMIFICADO

Após a morte do feto, não havendo infecção, ocorrerá reabsorção dos tecidos moles,

fazendo com que a estrutura óssea torne-se muito evidente. A coluna se apresentará

dobrada ou enrolada e é possível perceber sobreposição dos ossos do crânio (fig. 4.4 A).

Figura 4.4 – Radiografias de abdome: A- Fetos mumificados. Seta aponta crânio com ossos

sobrepostos. B- Feto enfisematoso, caracterizado pela radiolucência, gás, no

interior e em torno do mesmo.

FETO ENFISEMATOSO

Em caso de infecção, os fetos mortos apresentarão áreas de radiolucência em seu

interior e ao redor, correspondente ao gás produzido (fig. 4.4 B). Havendo morte do

embrião e contaminação, poderá ocorrer evidência só de gás no interior do útero,

caracterizando fisometra (fig. 4.5)

A B

Page 39: Diagnostico Por Imagem

39

Figura 4. 5 – Radiografia de abdome demonstrando fisometra em cadela

PRENHEZ ECTÓPICA

Caracterizada pela localização dos fetos fora dos cornos uterinos. A densidade dos

esqueletos se apresentará semelhante a dos mumificados.

DISTOCIA

Situação na qual o parto normal fica impedido. O exame radiológico é de grande

auxílio, demonstrando apresentação ou tamanho dos fetos, incompatível com parto normal.

Page 40: Diagnostico Por Imagem

40

CAPÍTULO V

SISTEMA RESPIRATÓRIO

FOSSAS NASAIS

O sistema respiratório inicia nas fossas nasais que, em condições normais,

apresentam ar em seu interior determinando radiolucência e evidenciando os cornetos como

linhas radiopacas irregulares (fig. 5.1 A e 5.1 B). A estrutura óssea da região está descrita

no capítulo X.

LARINGE

É a estrutura que se segue à faringe (já estudada no sistema digestório), sendo

identificada radiologicamente pela imagem da epiglote e, muito discretamente, das

cartilagens tiroide, aritnoide e cricoide, contrastando com o ar contido na luz do órgão (fig.

2.1).

Calcificação da laringe ou deslocamento e compressão por massas adjacentes, são

alterações passíveis de serem diagnosticadas.

TRAQUEIA

Estrutura tubular preenchida por ar, radiolucente, que se estende da laringe à carina,

ponto onde se bifurca, originando os grandes brônquios. Ao penetrar no tórax a traqueia

inclina-se ventralmente em direção à base do coração (fig. 5.4 A).

Figura 5.1 – Imagem de fossas nasais de cão. A- Projeção dorso-ventral (DV) e B- lateral. C- Tumor de

Sticker em fossa nasal de cão. Observar a densidade aumentada (seta) e destruição do vômer.

Projeção ventro-dorsal (VD).

ALTERAÇÕES

DESLOCAMENTO TRAQUEAL

B A C

Page 41: Diagnostico Por Imagem

41

Pode ocorrer por compressão por massas mediastinais (fig. 5.2) ou cervicais, ou por

aumento de tamanho do coração, podendo, às vezes, se tornar paralela à coluna torácica

(fig. 6.1).

Figura 5.2 – Imagem de desvio traqueal por massa

mediastinal radiopaca (setas), dorsal à

traqueia em cão. A- Coração.

COLAPSO TRAQUEAL

O colapso traqueal usual ocorre no sentido ventro-dorsal, podendo se restringir à

região cervical ou à torácica, sendo melhor visibilizado em projeção lateral. Para evidenciar

o colapso traqueal cervical, a radiografia deve ser efetuada durante a inspiração. Já, para

identificação do colapso da traqueia torácica, a tomada radiográfica deve ocorrer na fase

expiratória. Cuidado deve ser tomado ao posicionar o paciente, porque, se ocorrer excessiva

extensão do pescoço, haverá diminuição da luz da traqueia, levando a falso diagnóstico de

colapso.

PULMÕES

Os pulmões, normalmente cheios de ar, proporcionam bom contraste para a

visibilização das estruturas intratorácicas.

Para uma boa imagem radiográfica, deve-se cuidar o posicionamento do paciente.

Para a incidência lateral, ele é colocado em decúbito lateral sobre a mesa (filme), com os

membros anteriores tracionados cranialmente. O esterno deve ficar no mesmo plano das

vértebras torácicas, evitando a rotação. O feixe de raios x é centrado na altura da 5ª costela

(fig. 5.3 A e 5.4 A).

Para o posicionamento DV (fig. 5.3 B e 5.4 B), o paciente é colocado em decúbito

esternal, com os membros anteriores puxados para a frente e os cotovelos abduzidos. Os

membros posteriores são flexionados apoiando os joelhos sobre a mesa. As vértebras

devem se sobrepor ao esterno. A cabeça é mantida baixa entre os membros anteriores e o

feixe de radiação centrado na altura da 6ª costela.

Na imagem radiográfica dos pulmões normais não estão evidentes os espaços

aéreos, como brônquios, bronquíolos ou alvéolos, mas uma imagem radiolucente

homogênea, distinguindo-se apenas os vasos pulmonares que se apresentam radiopacos.

Estes vasos são vistos como linhas convergentes em pares e de menor calibre na periferia

do tórax ou como pontos radiopacos que vão diminuindo de tamanho da região do hilo à

periferia.

A

Page 42: Diagnostico Por Imagem

42

Figura 5.3 – Tórax de felino demonstrando pulmões e coração normais, em projeção

L (A) e DV (B).

A radiografia do tórax deve ser feita no final da inspiração, proporcionando melhor

evidência das estruturas radiopacas diante da radiolucência do ar, como a imagem

radiopaca dos vasos pulmonares e do mediastino com coração e grandes vasos. Qualquer

alteração pulmonar, que produza perda de ar, fará com que os vasos tornem-se menos

evidentes. É importante efetuar a radiografia no menor tempo possível, para evitar imagem

tremida pelo movimento respiratório. Quando feita a radiografia durante a inspiração, o

diafragma alcançará 7ª ou 8ª costela, quando na expiração, 5ª ou 6ª costela.

Nota: Atentar para imagens radiográficas estranhas à cavidade torácica, como

pregas cutâneas e mamilos, evitando falso diagnóstico.

Figura 5.4 – Tórax de cão, projeção L (A) e DV (B) demonstrando pulmões e coração

normais. Aorta (seta branca), traqueia (seta preta).

PADRÕES RADIOLÓGICOS PULMONARES

Dependendo da afecção pulmonar, se observará padrão pulmonar correspondente.

A

A B

B

Page 43: Diagnostico Por Imagem

43

PADRÃO ALVEOLAR

É produzido por fluídos ou secreções que preenchem os espaços aéreos,

determinando imagem de manchas radiopacas nos pulmões ou radiopacidade

homogeneamente distribuída em todo o campo pulmonar. Pneumonia bacteriana (fig. 5.5),

hemorragia (fig. 5.6 A), edema pulmonar (fig. 5.9 A) e afogamento são exemplos de

afecções que proporcionam padrão alveolar.

Como dito acima, em condições normais, os espaços aéreos apresentam-se

preenchidos por ar, determinando a imagem radiolucente dos pulmões, sem distinção de

brônquios ou bronquíolos. Em caso de doenças que determinam padrão alveolar, os espaços

aéreos preenchidos por secreção, proporcionam densidade radiopaca, enquanto os livres de

secreção continuam com ar em seu interior, ficando sua imagem evidente, o que caracteriza

o broncograma aéreo ou aerobroncograma (fig. 5.6 B).

PADRÃO INTERSTICIAL

O parênquima pulmonar é muito fino, predominando na radiografia a imagem

radiolucente do ar contido nos espaços aéreos. Quando alguma afecção faz com que o

parênquima se torne espesso ou edemaciado ou, ainda, com formações nodulares, este

passa a ser evidente. Pneumonia viral, pneumonia micótica, edema intersticial (fase inicial

do edema pulmonar) e neoplasia ou metástases pulmonares, determinam o padrão

intersticial, que poderá receber uma classificação mais específica, como intersticial linear

ou reticulado (fig. 5.7 A) e nodular (fig. 5.7 B), pela imagem que apresenta na radiografia.

Diante destas imagens que aparecem radiopacas sobre o campo pulmonar, os vasos, que

normalmente são evidentes, podem se tornar pouco distimtos

.

Figura 5.5 – Imagem radiográfica de tórax de cão evidenciando padrão alveolar.

Diagnóstico de pneumonia bacteriana.

Page 44: Diagnostico Por Imagem

44

Figura 5.6 – Imagem radiográfica de tórax evidenciando padrão alveolar em paciente

com hemorragia pulmonar (A) e pneumonia (B). Setas apontam

broncograma aéreo.

Figura 5.7 – Imagens radiográficas de tórax de cães demonstrando (A) padrão intersticial reticulado e

(B) padrão nodular.

PADRÃO VASCULAR

Os vasos pulmonares têm uma superfície uniforme e um diâmetro compatível com o

tamanho do animal. Em alterações que determinam congestão dos mesmos, como

cardiomiopatia e insuficiência da válvula mitral, os vasos tornam-se ingurgitados e

tortuosos, determinando o chamado padrão vascular aumentado (fig. 5.8 B). Quando, ao

contrário, os vasos tornam-se menos calibrosos, como em caso de hipovolemia, tetralogia

de Fallot e desidratação, determinam o padrão vascular diminuído.

PADRÃO BRONQUIAL

Os brônquios, assim como o parênquima pulmonar, não se distinguem na imagem

radiográfica. Quando ocorrer espessamento da parede bronquial (fig. 5.8 A), como em

casos de bronquite crônica ou em animais muito velhos, esta se tornará evidente, como

estrutura radiopaca circular ou linear, conforme o corte, transversal ou longitudinal.

A B

A B

Page 45: Diagnostico Por Imagem

45

Figura 5.8 – A- Imagem radiográfica ampliada da região do hilo pulmonar evidenciando o padrão

bronquial (setas). B - Radiografia de tórax demonstrando o padrão vascular aumentado

(setas).

AFECÇÕES PULMONARES

PNEUMONIA BACTERIANA

É uma infecção que ocorre pelas vias respiratórias, instalando-se o agente na luz

destas vias, determinando produção de secreção. Neste caso o padrão pulmonar será o

alveolar (fig. 5.5 e 5.6 B), que se distribuirá em todos os lobos ou, o que é mais comum, em

maior concentração a partir do hilo, podendo afetar um lobo mais que outros.

PNEUMONIA VIRAL

Este tipo de infecção determina um padrão intersticial linear ou reticulado (fig. 5.7

A). Na fase inicial da doença ou quando tratada precocemente, é possível que não se

observe alteração pulmonar na radiografia. Outras vezes, bactérias oportunistas podem se

instalar nas vias aéreas de um pulmão já debilitado pela pneumonia viral, determinando um

padrão misto na imagem radiográfica, isto é, intersticial e alveolar.

BRONQUITE

Esta alteração, quando crônica, determinará padrão bronquial e/ou intersticial.

PNEUMONIA FÚNGICA

Neste caso, os pulmões apresentarão um padrão intersticial nodular, que poderá

levar à confusão com metástases pulmonares de pequeno diâmetro e em grande número.

Cultura de lavado traqueal e a história do paciente (presença ou não de tumorações em

outros órgãos), auxiliarão no diagnóstico.

EDEMA PULMONAR

Usualmente associado a insuficiência cardíaca esquerda, determina o padrão

pulmonar alveolar (fig. 5.9 A), com evidência de broncograma aéreo (fig. 5.6 B).

NEOPLASIA PULMONAR

Neoplasia pulmonar primária é relativamente rara em cães. Pode ocorrer como um

nódulo único ou multifocal, como o carcinoma bronquíolo-alveolar multifocal. Outras

A B

Page 46: Diagnostico Por Imagem

46

condições podem causar densidades nodulares solitárias, como abscesso, infarto, cisto ou

granuloma.

Metástases pulmonares se caracterizam por múltiplos nódulos, com tamanhos

variados distribuídas pelo pulmão (fig. 5.7 e 5.9 B). São identificáveis radiologicamente a

partir de 3 a 5mm de diâmetro.

Figura 5.9 – A- Imagem radiográfica de tórax de cão evidenciando edema pulmonar conseqüente a

insuficiência cardíaca esquerda. B- Imagem radiográfica de tórax de cão demonstrando

vários nódulos radiopacos, compatíveis com metástases pulmonares (setas).

PNEUMOTÓRAX

Alteração, em geral, determinada por trauma, se caracteriza por ar no interior da

cavidade torácica, ao redor dos pulmões. É possível visualizar as bordas dos lobos

pulmonares devido à retração dos mesmos em relação à parede costal e diafragma. Na

projeção lateral há um afastamento do coração em relação ao esterno. Isto se deve ao

espaço proporcionado pelo colabamento pulmonar, fazendo com que o coração se desloque

(fig.5.10).

Figura 5.10 – Imagem radiográfica de tórax de cão (A) e gato (B e C) demonstrando pneumotórax.

O pneumotórax pode ser aberto ou fechado:

Aberto, quando há solução de continuidade da parede, entrando o ar exterior para o

tórax.

Fechado, o ar contido no tórax é proveniente dos pulmões.

Obs: A observação da continuidade ou não da parede é feita clinicamente.

A B

A B C

Page 47: Diagnostico Por Imagem

47

ENFISEMA PULMONAR

Em caso de enfisema pulmonar a radiolucência estará exacerbada devido ao excesso

de ar contido nos pulmões. O tórax torna-se distendido, o espaço intercostal aumentado,

determinando imagem semelhante a um barril na radiografia DV e o diafragma deslocado

caudalmente, melhor evidenciado na incidência lateral.

DERRAME PLEURAL

Caracteriza-se pela presença de líquido na cavidade torácica determinando

radiopacidade homogênea ao redor dos lobos pulmonares radiolucentes (fig.5.11). Em caso

de dúvidas, deve-se fazer a radiografia lateral com o paciente em estação, proporcionando

que o líquido desça e incidindo o raio no sentido horizontal. O tipo de líquido não é

identificado radiologicamente, podendo tratar-se de exsudato, transudato, sangue... Como

causa de derrame pleural, pode-se citar a insuficiência cardíaca congestiva, piotórax,

mediastinite, quilotórax, entre outras.

Figura 5.11 – Radiografia de tórax de cão evidenciando derrame pleural.

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA

O músculo diafragma não é visualizado, mas constata-se a sua integridade pelo

limite bem definido entre cavidade torácica e abdominal, graças à diferença de densidade

entre pulmões radiolucentes e fígado radiopaco.

Quando houver ruptura do diafragma, se desfará a pressão negativa presente no

tórax, fazendo com que as vísceras do abdome, como fígado, estômago ou alças intestinais,

sejam sugadas para o interior daquele, caracterizando a hérnia diafragmática (fig. 5.12). Na

maioria das vezes ocorre um hemitórax, melhor identificado em projeção VD ou DV.

Características do hemitórax:

Lado afetado: desaparecimento da linha do diafragma e áreas de radiodensidade

variável, dependendo das estruturas herniadas.

Lado indene: padrão pulmonar normal, com desvio do mediastino para este lado.

Page 48: Diagnostico Por Imagem

48

Fig.5.12 – Imagem radiográfica evidenciando

hérnia diafragmática, onde vísceras

abdominais se insinuaram no tórax.

Page 49: Diagnostico Por Imagem

49

CAPÍTULO VI

CORAÇÃO E GRANDES VASOS

Para avaliar coração, as projeções recomendadas são lateral direita e dorso-ventral,

com distância foco-filme de 1m a 1,2m, para obter-se imagem proporcional do órgão em

relação ao tórax. Esta distância, aparentemente grande, se faz necessária por ser o coração

volumoso e, ainda, no centro do tórax, levando a um aumento da imagem daquele. Em

pacientes de pequeno porte, a distância foco-filme pode ser mantida em 90cm.

A imagem cardíaca normal (fig. 5.4) em projeção DV apresenta a borda direita mais

arredondada e a esquerda mais aplainada. O eixo do coração é dirigido para o lado

esquerdo, ficando a base do mesmo sobre a linha média e o ápice à esquerda desta. Em

projeção lateral, o ápice cardíaco toca ligeiramente ou nem alcança o esterno. Neste

posicionamento a traqueia, componente do sistema respiratório, que aparece como uma

estrutura radiolucente proveniente da região cervical direcionando-se à base do coração,

forma um ângulo agudo com a coluna torácica. O formato cardíaco varia nas diferentes

raças, sendo mais estreito e posicionado mais verticalmente nas raças de tórax profundo e

mais arredondado e em contato com o esterno nas raças de tórax cilíndrico. É importante

lembrar que o chamado lado direito no coração dos animais, corresponde à porção mais

cranial e ventral, enquanto o lado esquerdo, corresponde à porção mais caudal e dorsal do

mesmo. Cães jovens, até em torno dos 6 meses, têm o tamanho cardíaco maior em relação

ao tórax, quando comparado aos adultos. O coração de gato (fig. 5.3) é relativamente menor

que o de cão e está posicionado mais obliquamente, dentro da caixa torácica.

Para avaliação cardíaca pelo exame radiológico, adota-se meios subjetivos como a

experiência do radiologista, considerando-se o tamanho do coração em relação ao tórax, ou

meios objetivos como o método de Buchanan e Bücheler no qual, com a imagem

radiográfica obtida em projeção lateral, em decúbito direito, mede-se o comprimento do

coração, da base, na borda ventral da carina, até o ápice. Mede-se também a distância

crânio-caudal, usando-se para isso uma linha perpendicular à primeira, no ponto mais largo

do coração, ventralmente à cava caudal. Marca-se a borda cranial da 4ª vértebra torácica e,

a partir daí, ao longo da coluna torácica, toma-se a distância obtida nas mensurações.

Conta-se o número de vértebras abrangidas. Se somarem até 10,5 corpos vertebrais,

considera-se normal o tamanho cardíaco. Ultrapassando este número, o coração será

considerado aumentado de tamanho. Nas raças yorkshireterrier e maltês, tem se percebido

que esta fórmula não confere resultado fidedigno, já que 46,67% dos animais destas raças,

sem sinais clínicos de alteração cardíaca, radiografados em experimento realizado em nossa

instituição, apresentaram imagem cardíaca que seria considerada aumentada.

Na imagem radiográfica, em projeção lateral, a artéria aorta aparece como uma

estrutura linear emergindo da parte superior da borda anterior cardíaca, correndo paralela à

coluna vertebral. A veia cava caudal ou posterior é visualizada com o mesmo padrão da

aorta, porém com menor diâmetro, estendendo-se da imagem do átrio esquerdo ao abdome.

Em projeção DV, estes vasos são pouco visualizados, podendo-se perceber o cajado aórtico

proeminente, cranialmente ao coração e, eventualmente, a sombra deste vaso sobre a

imagem cardíaca.

ALTERAÇÕES

Page 50: Diagnostico Por Imagem

50

DILATAÇÃO CARDÍACA GENERALIZADA

Quando o coração apresentar aumento generalizado, isto é, lado esquerdo e direito

afetados, o coração tomará maior área da cavidade torácica (fig. 6.1). São características

desta alteração:

Em projeção lateral: deslocamento dorsal da traqueia, que em lugar de se apresentar

formando um ângulo agudo com a coluna torácica, estará paralela a esta. Maior contato

do lado direito do coração com o esterno. Lado esquerdo cardíaco perpendicular ao

esterno em vez de arredondado.

Em projeção DV: a silhueta cardíaca aproxima-se da parede costal bilateralmente.

O aumento cardíaco generalizado pode ser resultado de várias condições, incluindo

velhas lesões valvulares e doença do miocárdio, entre outras.

DILATAÇÃO CARDÍACA DIREITA

Em caso de dilatação ventricular direita, na projeção DV, a borda direita estará mais

arredondada e próxima à parede torácica, apresentando, às vezes, a característica imagem

de D invertido (fig. 6.2 A). Na projeção lateral, a borda cranial do coração se apresentará

arredondada e a maior parte do ventrículo direito estará em contato com o esterno (fig. 6.2

B). Dilatação do átrio direito desloca a traqueia dorsalmente e geralmente está associada à

dilatação do ventrículo.

Figura 6.1 – Imagem radiográfica de tórax de cão evidenciando dilatação

cardíaca generalizada e padrão vascular aumentado. Traqueia

deslocada dorsalmente (seta).

Figura 6.2 – Radiografia de tórax de cão evidenciando dilatação cardíaca

direita, em projeção D-V (A) e L (B).

A B

Page 51: Diagnostico Por Imagem

51

DILATAÇÃO CARDÍACA ESQUERDA

Em projeção lateral a borda caudal do coração apresenta-se perpendicular ao esterno

(dilatação ventricular) (fig. 6.3 A). Em caso de aumento do átrio as bordas posterior e

dorsal do coração formam um ângulo reto e não uma curva, como seria normal. O aumento

do átrio esquerdo (fig. 6.3 C) faz com que os grandes brônquios não apareçam sobrepostos

na radiografia, uma vez que desloca o esquerdo dorsalmente.

Em projeção DV observa-se aumento da região caudal esquerda do coração,

correspondente ao ventrículo, com diminuição do espaço entre este e a parede costal (fig.

6.3 B). Nesta incidência o átrio esquerdo dilatado não aparece ou, muito aumentado, pode

produzir dupla sombra onde se sobrepõe ao ventrículo direito.

DILATAÇÃO DA AORTA

Em projeção lateral aparece como uma proeminência na região cranial da silhueta

cardíaca. Na DV causa um aparente aumento no comprimento do coração.

Figura 6.3 – Radiografia de tórax de cão evidenciando dilatação cardíaca esquerda (A e B). Dilatação de

átrio esquerdo (C).

DILATAÇÃO DA ARTÉRIA PULMONAR

Diagnosticada na projeção DV, onde se observa uma proeminência na porção

cranial esquerda do coração (fig. 6.4 A).

HÉRNIA PERITÔNIO-PERICÁRDICA

Alteração congênita na qual há comunicação entre a cavidade peritonial e o saco

pericárdico, proporcionando que estruturas do abdome se insiram entre o coração e o

pericárdio (fig. 6.4 B e C).

A B C

Page 52: Diagnostico Por Imagem

52

Figura 6.4 – Radiografia de tórax de cão evidenciando dilatação de artéria pulmonar (A), hérnia

peritônio pericárdica (B e C).

EFUSÃO PERICÁRDICA

O coração apresenta-se globoso pela presença de líquido no interior do saco

pericárdico, consequente a tumor, por exemplo (6.5).

Figura 6.5 – Efusão pericárdica em cão consequente a tumor no coração.

A B C

Page 53: Diagnostico Por Imagem

53

CAPÍTULO VII

INTRODUÇÃO À ULTRASSONOGRAFIA

BASES FÍSICAS DO ULTRASSOM

O equipamento de ultrassonografia (ecografia) é composto por um transdutor,

também conhecido por sonda ou probe, um monitor e um software. O transdutor contém

um cristal (ou cristais) piezoelétrico que vibra ou pulsa ao receber impulso elétrico,

emitindo ondas de ultrassom. Em íntimo contato com a pele do paciente, o som atravessa as

diferentes interfaces biológicas do mesmo as quais emitem eco que é captado pelo próprio

transdutor. A onda sonora (eco) captada é transformada em pulso elétrico, determinando

imagem em pontos sucessivos na tela do aparelho. A profundidade que o som alcança

depende da frequência do transdutor.

FREQUÊNCIA

É definida como o número de vezes que uma onda é repetida (ciclos) por segundo.

Frequência de milhões de ciclos/s tem um curto comprimento de onda (essencial para uma

boa resolução da imagem).

• 20 000 ciclos/s - 20 kHz (audível pelo ouvido humano)

• 1 ciclo /s - 1 Hz

• 1 000 ciclos/s - 1 kHz

• 1.000.000 ciclos/s - 1 MHz

• Ultrassom: 2 a 15.000.000 ciclos/s ↔ 2 a 15 MHz

COMPRIMENTO DE ONDA

É a distância que a onda percorre durante 1 ciclo.

A frequência e o comprimento de onda são inversamente relacionados. Quanto

menor o comprimento de onda, maior a frequência e melhor a resolução.

A profundidade que o som penetra no tecido é inversamente proporcional à

frequência empregada. Sons de alta frequência são mais atenuados que sons de baixa

frequência, atingindo menor profundidade.

Ex: Transdutores de alta frequência (8 - 10 MHz) são mais indicados para exame

abdominal de estruturas superficiais, felinos e cães de pequeno porte, enquanto os de menor

frequência (3,5 - 7,5 MHz) são mais utilizados para cães de porte grande e médio.

ORIENTAÇÃO DA IMAGEM

Conforme a posição do transdutor na superfície corporal do animal, será

determinada a orientação da imagem. Esta poderá ser longitudinal (sagital) (fig. 7.1 A e B),

ou transversal (fig. 7.2 A e B).

TERMINOLOGIA

• Anecoico-Anecogênico-Transônico: ausência de ecos (preto)

• Ecoico-Ecogênico: presença de ecos (do branco ao cinza)

• Hiperecoico-Hiperecogênico: ecos brilhantes, estruturas altamente reflexivas (branco).

• Hipoecoico-Hipoecogênico: ecos esparsos, reflexão intermediária (cinza).

• Isoecoico-Isoecogênico: estruturas com a mesma ecotextura ou ecogenicidade.

Page 54: Diagnostico Por Imagem

54

Ecogenicidade dos tecidos e fluidos corporais em ordem crescente: Bile/ Urina →

Medula renal → Córtex renal → Fígado → Baço → Próstata

Figura 7.1 A e B – Orientação do transdutor correspondente à imagem do plano sagital do

paciente.

Figura 7.2 A e B – Orientação do transdutor correspondente à imagem do plano

transversal do paciente.

ARTEFATOS

REVERBERAÇÃO: Imagem de linhas ecogênicas sucessivas, paralelas à superfície

da pele, determinadas pela repetição do eco devido a ar ou gás na trajetória do ultrassom

(fig. 7.3 A e B).

- Reverberação externa: quando o contato entre o transdutor e a pele não é total,

determinando a imagem de reverberação desde o topo da imagem ecográfica.

- Reverberação interna: determinada por gases no interior do corpo do paciente.

Figura 7.3 – Linhas hipo e hiperecoicas alternadas demonstrando a

reverberação (setas) externa (A) e interna (B).

LADO DIREITO DORSAL

VENTRAL

A

CRANIAL CAUDAL

DORSAL

VENTRAL

B

CAUDAL CRANIAL

B

LADO DIREITO

A

B A

Page 55: Diagnostico Por Imagem

55

SOMBRA ACÚSTICA: zona anecoica determinada por estrutura hiperecoica que

impede a progressão do ultrassom nos tecidos, refletindo-o completamente (fig. 7.4 A e B).

Ex: Cálculo urinário – hiperecoico (determina sombra limpa), cólon com gases (determina

sombra suja).

Figura 7.4 - Sombra acústica suja causada por gases em cólon (A) e limpa,

causada por cálculo vesical (B) - setas brancas.

REFORÇO POSTERIOR: uma estrutura anecoica (conteúdo líquido) conduz muito

bem o som, fazendo com que este chegue com muita intensidade nos tecidos posteriores à

mesma, determinando imagem hiperecoica (fig. 7.5 A e B). Ex: bexiga com urina.

Figura 7.5 A e B – Reforço acústico posterior (setas).

SOMBRA DE BORDA: sombra acústica distal à estrutura arredondada, causada

pela refração das ondas sonoras (fig. 7.6).

Figura 7.6 – Sombra de borda (setas).

IMAGEM DE ESPELHO: Imagem dupla de uma estrutura, causada por interface

arredondada, altamente reflexiva, como por exemplo, o diafragma em relação aos pulmões,

o que poderá determinar imagem do fígado posterior ao diafragma, além da imagem

normal, anterior ao mesmo.

cólon

B

A B

Page 56: Diagnostico Por Imagem

56

CAPÍTULO VIII

ULTRASSONOGRAFIA DO ABDOME EM PEQUENOS ANIMAIS

BAÇO O baço tem localização intraperitoneal no hipocôndrio esquerdo e geralmente

acompanha a curvatura maior do estômago. O corpo e a cauda são bastante móveis

podendo ser visibilizados em diferentes locais do abdome. Quando está aumentado, pode

cruzar a linha média ventral ou estender-se caudalmente para a região da bexiga.

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DO BAÇO

Anatomicamente se relaciona com o estômago, intestino delgado, lobo esquerdo do

pâncreas e rim esquerdo. É triangular em seção transversal e situa-se quase paralelo à

curvatura maior do estômago.

O baço é envolto por uma cápsula ecogênica. Possui parênquima homogêneo e é

considerado hiperecogênico em relação à cortical renal e parênquima hepático. A região do

hilo (vasos) é facilmente visibilizada (fig. 8.1 A).

A ultrassonografia detecta a presença de lesões difusas ou focais, sólidas ou

cavitárias.

ALTERAÇÕES DIFUSAS DO PARÊNQUIMA ESPLÊNICO

Por fazer parte do sistema reticuloendotelial, o baço é envolvido em todas as

inflamações sistêmicas, distúrbios hematopoiéticos generalizados e alguns distúrbios

metabólicos. Raramente é o local de doença primária.

ESPLENOMEGALIA

É a alteração mais frequente do baço. O parênquima pode apresentar ecogenicidade

normal ou diminuída. Nos processos crônicos a ecogenicidade pode estar aumentada. A

esplenomegalia difusa pode ser:

Infiltrativa: causada por células neoplásicas (fig. 8.1 B) e por células não neoplásicas

(amiloidose).

Congestiva: associada a condições toxêmicas, torção esplênica, administração de

anestésicos e tranquilizantes, trombos vasculares, insuficiência cardíaca congestiva

direita e hipertensão portal. O aumento do calibre dos vasos é característico de

congestão.

Hiperplásica, Infecciosa e/ou Inflamatória: acompanhando afecções sistêmicas.

ALTERAÇÕES FOCAIS DO PARÊNQUIMA ESPLÊNICO

Podem acompanhar ou não esplenomegalia. As lesões são classificadas como

neoplásicas e não neoplásicas e possuem aparência sonográfica variável, podendo ser

mistas.

Page 57: Diagnostico Por Imagem

57

Figura 8.1 – Imagem ultrassonográfica: A- Baço normal (seta). VL: veia lienal. B- Neoplasia esplênica em

cão. Aspecto rendado.

FÍGADO

O fígado é o maior órgão do abdome, tornando seu completo exame mais difícil.

Imagem normal ao ultrassom, não exclui doença hepática.

ANATOMIA SONOGRÁFICA NORMAL DO FÍGADO

Em cães, o fígado é formado por quatro lobos: lobo esquerdo (subdivide-se em

sublobo medial e lateral), lobo quadrado, lobo direito (subdivide-se em sublobo medial e

lateral) e lobo caudato. A vesícula biliar se localiza, quando repleta, entre o lobo medial

direito e o quadrado, no 7o espaço intercostal na região ventrolateral direita.

A dimensão ecográfica do fígado normal é variável. Em cães e gatos de pequeno

porte o fígado pode ser visibilizado mais facilmente pela localização subcostal. Em cães de

tórax profundo o exame deve ser realizado entre os últimos 3 a 4 espaços intercostais.

A superfície cranial do fígado está delimitada por uma linha ecogênica que

representa o diafragma (fig. 8.2). O padrão sonográfico normal é de ecotextura homogênea

mais grosseira que do baço, contornos lisos e margens de ângulos agudos. A ecogenicidade

hepática é avaliada através da comparação com os órgãos de referência (rins e baço).

Normalmente é levemente hiperecogênica em relação ao córtex renal e hipoecogênica em

relação ao baço.

A avaliação do tamanho hepático é subjetiva. O aumento da distância entre o

estômago e o diafragma, a presença dos lobos hepáticos ultrapassando os limites do gradil

costal ou o deslocamento caudal do rim direito, indicam hepatomegalia.

A ultrassonografia hepática está indicada diante de icterícia e quando há suspeita de

ruptura de diafragma, hepatomegalia, ascite, pesquisa de metástase e para monitorar a

evolução de doenças hepáticas crônicas.

A vesícula biliar possui parede hiperecogênica que pode medir de 1 a 5mm de

espessura. Normalmente o conteúdo é anecogênico (fig. 8.2 A). A lama biliar é um achado

comum nos animais obesos, idosos, sedentários ou endocrinopatas (fig. 8.2 B).

VL

B A

Page 58: Diagnostico Por Imagem

58

Figura 8.2 – Imagem ultrassonográfica: A- Fígado canino normal. VB: vesícula biliar.

Linha do diafragma (seta). B- Vesícula biliar com lama (seta).

ALTERAÇÕES DA VESÍCULA BILIAR

Litíase biliar: geralmente apresenta sombra acústica.

Obstrução de vias biliares: nos processos mais avançados pode-se observar uma

dilatação da vesícula biliar e região de colo alargada e tortuosa (fig. 8.3 A). Achados

sonográficos normais não descartam a presença de obstrução.

Espessamento de parede: pode acompanhar colecistite, hepatite aguda ou crônica e

colangiohepatite, hipoalbuminemia ou congestão passiva (fig. 8.3 B). O espessamento

focal pode estar associado a neoplasias.

Figura 8.3 – Imagem ultrassonográfica: A- Obstrução biliar, duto dilatado (seta ). B- Edema da parede da

vesícula biliar (seta).

ALTERAÇÕES DIFUSAS DO PARÊNQUIMA HEPÁTICO

As alterações difusas são de difícil detecção sonográfica por não provocarem grande

modificação da arquitetura hepática.

Alterações difusas hiperecogênicas (aumentam a ecogenicidade do fígado) incluem:

infiltração gordurosa, hepatopatia por esteroide, diabetes mellitus, linfoma, cirrose e

colangiohepatite crônica (fig. 8.4 A e B). Geralmente a colagiohepatite crônica e a cirrose

apresentam fígado de tamanho reduzido e contornos irregulares. Nas demais patologias o

fígado pode se apresentar com dimensão normal ou aumentada.

VB

A B

A B

Page 59: Diagnostico Por Imagem

59

Figura 8.4 – Imagem ecográfica de região hepática. A- Cirrose hepática e presença de líquido livre no

abdome. B- Colangiohepatite. Seta aponta vesícula biliar com parede irregular e espessada.

Alterações difusas hipoecogênicas (diminuem a ecogenicidade hepática) podem

caracterizar hepatite aguda, linfoma, leucemia e congestão passiva crônica. Nesses casos o

fígado pode apresentar-se com dimensão normal ou aumentada.

ALTERAÇÕES FOCAIS DO PARÊNQUIMA HEPÁTICO

As alterações hepáticas focais podem ser anecogênicas, hipoecogênicas,

hiperecogênicas ou de ecogenicidade mista e são produzidas por hemorragias, hematomas,

cistos, abscessos, hiperplasia nodular, granulomas e neoplasias (fig. 8.5) de origem primária

ou metastática.

Calcificações hepáticas aparecem como pontos hiperecogênicos que produzem

sombra acústica. Granulomas (tuberculose), neoplasias e hematomas podem calcificar.

Figura 8.5 - Imagem ecográfica de neoplasia no

fígado. Parênquima heterogêneo

com áreas hipoecogênicas.

TRATO GASTRINTESTINAL (TGI)

Doenças de origem obstrutiva, inflamatória, neoplásica e que alteram a motilidade

gastrointestinal, podem ser evidenciadas ultrassonograficamente.

A reverberação causada pelo gás pode impossibilitar um exame de planos mais

A B

Page 60: Diagnostico Por Imagem

60

profundos. O preparo prévio do paciente (jejum alimentar) para diminuir o acúmulo de gás

pode ser necessário, exceto em gatos que pode ocasionar evidente contração estomacal

(forma de roseta), limitando a mensuração de sua parede.

O exame ultrassonográfico deve ser realizado anteriormente a exames contrastados

à base de sulfato de bário, para que não haja atenuação da onda sonora. Já os contrastes

iodados, não comprometem o exame.

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DO TRATO

GASTRINTESTINAL

O estômago (fig. 8.6A) localiza-se no abdome cranial relacionando-se ao

parênquima hepático, baço e rim esquerdo. No peristaltismo normal ocorrem em média de

5 contrações por minuto. Nos cães, o piloro situa-se no lado direito do abdome enquanto

nos gatos está na linha média ou próximo a ela. A espessura normal da parede estomacal

varia de 3-5mm nos cães. Nos gatos a média é de 2mm (entre as pregas) e 4,4mm (na

região das pregas).

A porção proximal do duodeno localiza-se na região cranioventral do abdome e

relaciona-se com o rim direito e lobos hepáticos direitos. A espessura da parede é maior

quando comparada ao restante das alças intestinais e varia de acordo com a raça (3-5mm).

Nos gatos varia de 2-2,4mm. O baço e a bexiga servem de janela acústica para a

visibilização dos demais segmentos intestinais que se localizam na região média do abdome

(fig. 8.6B). A espessura das demais porções do intestino delgado nos cães é de 2-3mm e

nos gatos de 2mm. A avaliação sonográfica da parede do intestino grosso é dificultada pela

quantidade de gás.

Figura 8.6 – Sonograma evidenciando a parede de estômago (A) e alças intestinais(B) com líquido intraluminal.

IDENTIFICAÇÃO DAS CAMADAS DA PAREDE (do lúmen para fora) (fig. 8.7

A e B):

A presença de líquido intraluminal pode favorecer a avaliação da parede gástrica.

A. Superfície mucosa: linha hiperecogênica

B. Mucosa: hipoecogênica

C. Submucosa: hiperecogênica

D. Muscular própria: hipoecogênica

E. Subserosa/serosa: hiperecogênica

A B

Page 61: Diagnostico Por Imagem

61

Figura 8.7– A- Parede do estômago normal de cão. Pregas gástricas (setas).

B- Plano longitudinal do duodeno identificando as camadas (FONTE: CARVALHO, 2004).

ALTERAÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL

Neoplasias: São formações hipoecogênicas de tamanho variável em que se tornam

indiferenciáveis as camadas da parede gástrica e/ou intestinal.

Obstrução do TGI: sonograficamente pode haver distensão de alças com aumento

do peristaltismo anterior ao ponto de obstrução. Podem ocorrer por causas:

Mecânicas - aderências, hérnias, tumores, corpos estranhos, etc.

Funcionais (denominada íleo funcional) – gastroenterite de origem viral.

Intussuscepção: A imagem sonográfica se caracteriza por camadas de anéis

concêntricos no corte longitudinal e imagem de alvo (conhecido como olho de boi) no corte

transversal que representam as camadas intestinais. O peristaltismo pode estar ausente.

Ocorre comumente em cães jovens com gastroenterite (fig. 8.8 A e B).

Figura 8.8 - Imagem do corte transversal de intussuscepção (alvo), em um gato (A)

e em um cão (B).

Corpos estranhos: sua identificação é dependente do formato, características físicas

e acúmulo de líquido ou gás intestinal. Os corpos estranhos lineares são representados por

uma linha hiperecogênica intraluminal e pelo pregueamento intestinal no segmento

envolvido. Radiografias auxiliam no diagnóstico.

Inflamações gastrointestinais: presença de espessamento da parede do intestino com

preservação de suas camadas e com visibilização da camada submucosa.

Gastrites: espessamento difuso da parede do estômago (maior que 7mm) com

preservação das camadas. O espessamento localizado, que ocorre frequentemente em

úlceras, não pode ser diferenciado de neoplasias através do exame ecográfico.

A B

A B

Page 62: Diagnostico Por Imagem

62

Duodenites: em cães, geralmente, estão associadas a processos inflamatórios no

pâncreas (pancreatite). Há espessamento da porção duodenal com preservação das

camadas.

SISTEMA REPRODUTOR

SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

A ultrassonografia do aparelho reprodutor feminino está indicada para pesquisa de

alterações ovarianas e uterinas, evolução gestacional ou distúrbios na gestação como

retenção, morte ou maceração fetal.

OVÁRIOS

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DOS OVÁRIOS

Os ovários estão localizados caudalmente aos polos caudais dos rins

correspondentes, apresentam forma oval ou arredondada e medem aproximadamente 1,5cm

de comprimento. Demonstram aspecto homogêneo durante o anestro e ecogenicidade

semelhante à córtex renal. Nas demais fases estrais, com a presença de folículos, a

ecogenicidade dos ovários se torna diferenciada em relação aos tecidos adjacentes,

facilitando sua identificação.

ALTERAÇÕES OVARIANAS

As alterações usualmente detectadas nos ovários são: neoplasias, cistos ovarianos e

granulomas por fios de sutura.

Os cistos ovarianos possuem aspecto cavitário. Apresentam-se como estruturas

arredondadas, anecogênicas com reforço acústico posterior. Podem ser únicos ou múltiplos

e estar presentes em um ou ambos os ovários. Ovários policísticos (fig. 8.9) se caracterizam

por estruturas císticas anecogênicas que podem aparecer separadamente ou como um único

cisto, por não se perceber os limites de cada um e aumentar o tamanho ovariano.

As neoplasias são classificadas de acordo com sua origem embriológica.

Sonograficamente possuem aparência variável, mas na rotina tem-se visto tumores com

aspecto de muitos cistos com septação fina entre eles. Pode tomar grandes proporções,

ocupando considerável porção do abdome.

ALTERAÇÕES PÓS-OVARIECTOMIA:

Granulomas por fio de sutura: decorrem da reação ao fio. Normalmente são

heterogêneos, com contornos irregulares ou pouco definidos.

Hidronefrose ou pionefrose: alterações renais consequentes a falhas no

procedimento cirúrgico, como inclusão acidental do ureter no momento de ligar o pedículo

ovariano durante a operação.

Page 63: Diagnostico Por Imagem

63

Figura 8.9 - Ovário normal, hipoecogênico em relação aos tecidos adjacentes (A) e com aspecto

multicavitário (B).

ÚTERO

A ultrassonografia tem importante papel na avaliação uterina principalmente em

doenças de grande ocorrência como a piometra. Na gestação contribui para o diagnóstico

precoce, constatação da viabilidade fetal e estimativa aproximada da idade gestacional.

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DO ÚTERO

O corpo uterino mede de 2-3 cm e está localizado parcialmente no interior da pelve.

Os cornos variam de 12-15cm de comprimento, localizados no abdome, estendendo-se na

direção de cada rim, com diâmetro menor que 1cm. A bexiga distendida serve de janela

acústica para localizar e avaliar o corpo uterino.

Muitas vezes a visibilização do útero normal, não gravídico, não é possível em

fêmeas jovens em anestro ou pré-púberes, porque os cornos uterinos não possuem conteúdo

em seu lúmen e podem ficar encobertos por gás das alças intestinais. Quando visibilizado

se apresenta como estrutura homogênea hipoecogênica. A ausência de peristaltismo pode

diferenciar os cornos uterinos das alças intestinais.

ALTERAÇÕES UTERINAS

As alterações mais frequentes são piometra, hiperplasia endometrial cística (HEC) e

endometrite. Outras afecções como neoplasia, granuloma e piometra de coto secundários a

ovário-histerectomia também ocorrem.

Piometra: o útero é identificado como estrutura tubular, no plano sagital, ou circular

quando a imagem é obtida com cortes transversais. O conteúdo luminal, em geral, é

anecogênico, podendo apresentar quantidade variável de pontos ecogênicos. Nesta

condição a parede uterina possuirá espessura variável. O exame ecográfico não permite

diferenciar piometra (fig. 8.10) de hemometra, mucometra e hidrometra. Na piometra

de colo aberto, o útero poderá não apresentar conteúdo significativo.

Endometrite: é caracterizada pelo aumento da parede uterina e mucosa irregular. A

quantidade de conteúdo luminal geralmente é pequena.

HEC: ultrassonograficamente se apresenta com múltiplos cistos irregulares na parede

uterina aumentando seu diâmetro.

A B

Page 64: Diagnostico Por Imagem

64

Figura 8.10 – Imagem de ultrassom de útero com

conteúdo anecogênico. Piometra.

GESTAÇÃO

Diagnóstico precoce de gestação, monitoração da fêmea prenhe, idade gestacional

aproximada e viabilidade fetal são informações que o exame ultrassonográfico fornece.

A gestação das cadelas dura em média 64 dias ± 1, enquanto a gestação de gatas

varia de 64-68 dias. Em gatas, devido à ovulação ser induzida pela cobertura, a data do

início da gestação é mais precisa.

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA GESTACIONAL

As vesículas gestacionais correspondem a formações arredondadas anecogênicas.

Em cães podem ser detectadas após 17 dias do pico de LH. Nas gatas as vesículas

gestacionais podem ser detectadas 11-14 dias após a cobertura.

O embrião só é visibilizado a partir do 22-25o dia (período indicado para a

realização do exame) e se apresenta como uma estrutura ecogênica homogênea projetada

para o interior da vesícula.

IDENTIFICAÇÃO DE ESTRUTURAS FETAIS APÓS PICO DE LH:

21-29 dias - batimentos cardíacos (15-17 dias em gatas)

28-30 dias – movimentos fetais

30-35 dias – início da mineralização óssea

38-42 dias – diferenciação entre pulmões hiperecogênicos e fígado hipoecogênico.

44-45 dias – Rins deixam de ser anecóicos e apresentam córtex e medular distintas.

58-63 dias – Movimento intestinal.

Na espécie canina, a frequência cardíaca média inicial do feto é de 214 bat/min. Aos

40 dias, 238 bat/min., reduzindo próximo ao parto. Na espécie felina a frequência cardíaca

dos fetos se mantém quase constante durante toda a gestação (aproximadamente 228

bat/min.).

O sofrimento fetal é caracterizado pela frequência cardíaca diminuída em relação às

medidas citadas ou quando comparada aos outros fetos.

A morte fetal é caracterizada pela ausência de batimentos cardíacos e perda da

movimentação fetal, podendo ocorrer acúmulo de gás no feto e ao redor do mesmo em caso

de contaminação.

Page 65: Diagnostico Por Imagem

65

CÁLCULOS PARA ESTIMAR A IDADE GESTACIONAL

Cadelas com menos de 40 dias de gestação: (Fig. 8.11 A e B)

IG = (6 x DSG) + 20

Onde: IG = Idade Gestacional

DSG = Diâmetro do saco gestacional

Figura 8.11 – A- Vesícula gestacional. Aproximadamente 24 dias de gestação. B- Medida do

diâmetro do saco gestacional (DSG).

Cadelas com mais de 40 dias de gestação (variação de 3 dias): (Fig. 8.12 A e B)

IG = (15 x DBP) + 20

IG = (7 x DTA) + 29

IG = (6 x DBP) + (3 x DTA) + 30

Gatas com mais de 40 dias de gestação (variação de 2 dias)

IG = (25 x DBP) + 3

IG = (11 x DTA) + 21

Onde: IG = Idade Gestacional

DBP = Diâmetro Biparietal

DTA = Diâmetro Tóraco-abdominal

Figura 8.12 – A- Diâmetro biparietal (DBP). B- Diâmetro tóraco-abdominal (DTA).

A B

A B

Page 66: Diagnostico Por Imagem

66

SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

Alterações como testículo ectópico, orquites, prostatites, epididimites, neoplasias

prostáticas e cistos paraprostáticos podem ser identificados.

TESTÍCULOS

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DOS TESTÍCULOS E

EPIDÍDIMO

Os testículos estão localizados no interior da bolsa escrotal, têm contorno ovalado e

medem aproximadamente 3,6cm. Os epidídimos se situam sobre os testículos, sendo que a

cabeça do epidídimo fica na porção cranial do mesmo. As túnicas: vaginal visceral e

albugínea recobrem os testículos formando uma cápsula fibrosa.

Ultrassonograficamente possuem textura homogênea hipo ou isoecogênica em

relação à próstata. A linha do mediastino formada pela invaginação da túnica albugínea é

hiperecogênica (fig. 8.13).

Figura 8.13 – Imagem do testículo com o mediastino

evidente (seta) e o epidídimo (+).

ALTERAÇÕES DOS TESTÍCULOS E EPIDÍDIMOS

Hidrocele: os achados sonográficos incluem uma imagem hipoecogênica ao redor do

testículo, determinada pelo líquido que se acumula na bolsa escrotal (fig. 8.14).

Testículos ectópicos: os testículos podem ficar retidos no tecido subcutâneo pré-

escrotal, na área inguinal ou no abdome. Sonograficamente podem ter aparência

normal, atrofiada ou alterada. Testículos atrofiados se caracterizam pela diminuição de

tamanho, ecogenicidade normal a diminuída e preservação das características da

arquitetura interna. A neoplasia se apresenta com aumento testicular e formação de

massa abdominal complexa.

Orquite e epididimite: é a inflamação do testículo e epidídimo, respectivamente. O

testículo inflamado apresenta-se hipoecogênico, em geral em focos e com contorno

irregular. O epidídimo se apresenta hipoecogênico ou hiperecogênico, com ou sem

mineralizações, podendo a alteração ser focal ou difusa em toda a extensão da

estrutura, o que é mais comum.

Page 67: Diagnostico Por Imagem

67

Neoplasias testiculares representam o segundo tipo mais comum de tumor em cães

idosos. A aparência sonográfica é variável, observando-se heterogeneidade do

parênquima, nódulos ecogênicos ou hipoecogênicos, solitários ou múltiplos.

Figura 8.14 – Hidrocele. Área hipoecogênica ao redor

do testículo (setas).

PRÓSTATA

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DA PRÓSTATA

A próstata se localiza na porção retroperitoneal circundando a uretra ou o colo da

bexiga. Em cães é bilobulada e seu tamanho é variado, medindo de 1,3 a 3cm nos três

planos (largura/ comprimento e espessura). Nos cães castrados, o tamanho da próstata está

diminuído e os lobos prostáticos não são distinguíveis.

No gato a próstata recobre a uretra dorsolateralmente. Seu comprimento é de

aproximadamente 1cm e possui pouco significado clínico.

Sonograficamente se apresenta com parênquima de ecogenicidade homogênea e

hipoecogênica em relação aos tecidos adjacentes, há simetria dos lobos e bordas lisas (fig.

8.15 A).

ALTERAÇÕES PROSTÁTICAS

Hiperplasia prostática benigna (HPB): é a alteração de próstata mais comum em cães,

principalmente com mais de 6 anos de idade. Ultrassonograficamente há aumento de

volume prostático, parênquima homogêneo, podendo ser visibilizadas estruturas císticas

múltiplas e difusas.

Cistos prostáticos: são áreas cavitárias focais ou multifocais, com conteúdo hipo ou

anecogênico, correspondente a fluido.

Prostatite bacteriana: Na infecção aguda o exame ecográfico mostra áreas cavitárias

preenchidas por líquido com imagem hipoecogênica, resultante de abscesso.

Neoplasias: os achados sonográficos incluem parênquima heterogêneo (fig. 8.15 B),

áreas hipoecogênicas ou hiperecogênicas focais ou difusas sugestivas de mineralização.

Page 68: Diagnostico Por Imagem

68

Figura 8.15 – A- Imagem de próstata normal com limites nítidos (setas) e uretra

prostática evidente (estrutura anecogênica). B- Próstata com parênquima

heterogêneo e contorno irregular. Neoplasia prostática.

SISTEMA URINÁRIO

A ultrassonografia do trato urinário permite a avaliação da forma, do contorno, da

dimensão e da arquitetura interna dos órgãos que o compõem.

RINS

Os rins são órgãos retroperitoneais circundados por tecido adiposo.

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DOS RINS

O rim direito localiza-se na fossa renal do lobo caudato do fígado e mantém

proximidade com a adrenal direita, lobo direito do pâncreas e duodeno descendente,

enquanto o rim esquerdo relaciona-se à grande curvatura do estômago, baço, lobo esquerdo

do pâncreas e adrenal esquerda. Externamente são revestidos por uma cápsula fibrosa que

produz eco brilhante quando o feixe sonoro incide perpendicularmente. Possui a cortical

ecogênica, a medular (porção mais interna) hipoecogênica em relação àquela e uma região

mais central correspondente à pelve renal que é hiperecogênica (fig. 8.16 A). Na região do

hilo são observáveis a veia e a artéria renais. A dimensão renal em cães está relacionada ao

peso, tamanho e condição corpórea. Porém, dimensões entre 6,0-9,0cm são consideradas

normais no eixo longitudinal. A simetria dos rins é um dado mais útil. Felinos têm o

comprimento renal variando entre 3,8-4,4cm em plano longitudinal.

A avaliação da relação córtico-medular, bem como a ecogenicidade cortical que é

comparada com fígado e baço, servem para indicar alterações renais.

A ultrassonografia do trato urinário é indicada quando há dor na região renal,

hematúria, suspeita de massa abdominal ou doença policística, infecção urinária recidivante

ou quando a função do rim está ausente na urografia excretora ou alterada em dados

laboratoriais. A função renal não está correlacionada com o tamanho ou ecogenicidade dos

rins.

ALTERAÇÕES DIFUSAS DO PARÊNQUIMA RENAL

A ecogenicidade cortical pode encontrar-se aumentada em patologias como nefrite,

necrose, amiloidose, nefrocalcinose (fig. 8.16 B) e doenças renais terminais. Em felinos o

aumento da ecogenicidade cortical também está relacionado a linfossarcoma difuso,

peritonite infecciosa felina (PIF) ou pode ser considerado normal em gatos castrados. O

diagnóstico diferencial é feito através de biopsia renal.

A B

Page 69: Diagnostico Por Imagem

69

Dioctofimose: causada pelo verme Dioctophyma renale, afeta principalmente o rim

direito. Distorção anatômica do rim e presença de várias estruturas circunscritas ou lineares

hiperecogênicas com conteúdo anecogênico podem sugerir a presença do verme (fig. 8.17

A).

Figura 8.16 – A- Imagem de rim de cão sem alteração em corte longitudinal. B- Hiperecogenicidade da

cortical renal indicando nefropatia.

ALTERAÇÕES FOCAIS DO PARÊNQUIMA RENAL

RINS POLICÍSTICOS

Os rins policísticos, como o nome sugere, apresentam múltiplos cistos, que são

estruturas anecogênicas de forma e tamanho variados, podendo ser uni ou bilaterais. A

doença policística renal é mais comum em gatos da raça Persa sendo identificada como

doença autossômica dominante (fig. 8.17 B).

Figura 8.17 – A- Imagem ecográfica de Dioctophyma renale no rim direito de um cão. B- Rins policísticos

em felino.

CALCIFICAÇÃO E CÁLCULO RENAL

As calcificações podem aparecer em diferentes porções do parênquima renal ou

formar linha hiperecogênica na medular ou na junção córtico-medular. Já os cálculos,

independente da composição, são visibilizados ao exame ultrassonográfico na pelve renal e

determinam sombra acústica bem definida (fig. 8.18).

A B

A B

Page 70: Diagnostico Por Imagem

70

Figura 8.18 – Imagem ecográfica de cálculos no rim

esquerdo formando sombra acústica (setas

pequenas).

NEOPLASIAS

Em cães e gatos a metástase renal é mais frequente que o tumor primário. Áreas

heterogêneas são observadas, podendo determinar irregularidade no contorno do rim. A

ecogenicidade é variável, sendo a biopsia renal indicada para o diagnóstico definitivo.

ALTERAÇÕES DE PELVE RENAL

HIDRONEFROSE

É a causa mais comum de aumento renal. Caracteriza-se pela dilatação do sistema

coletor, secundariamente à obstrução. Sonograficamente a arquitetura interna do órgão é

afetada em maior ou menor grau, dependendo da duração da obstrução. Em estágios

avançados da doença, os rins podem apresentar-se como um saco de conteúdo

hipoecogênico ou anecogênico. (fig. 8.19 A e B).

Figura 8.19 – A- Imagem ecográfica de hidronefrose. Pelve renal (P). Em B ocorreu grande

destruição do parênquima.

P

A B

Page 71: Diagnostico Por Imagem

71

BEXIGA

A avaliação ecográfica da bexiga requer conteúdo no interior da mesma.

Recomenda-se manter o paciente sem urinar por um período mínimo de 3 horas.

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DA BEXIGA

Com o animal em decúbito dorsal, a bexiga é visibilizada cranialmente à pelve. É

utilizada como janela acústica para avaliação de estruturas adjacentes como cólon, útero,

próstata e linfonodos ilíacos.

A bexiga normal apresenta-se como uma estrutura de forma piriforme, com

conteúdo anecogênico (urina) (fig. 8.20 A), podendo tornar-se deformada por estruturas

vizinhas (fig. 8.20 B). A parede é observada como uma camada dupla hiperecogênica,

separada por uma linha hipoecogênica. A camada interna (mucosa) deve ser lisa e contínua.

A espessura normal da parede vesical varia de 0,1 a 0,5cm nos cães e de 0,13 a 0,17cm nos

gatos e deve ser considerada com uma distensão moderada.

Figura 8.20 – A- Imagem ecográfica de bexiga normal. B-Distorção no formato da bexiga causada pelo útero

aumentado de volume (seta).

ALTERAÇÕES DA BEXIGA

CISTITE

Características como irregularidade da mucosa vesical e espessamento da parede

com presença de sedimento podem ser observadas (fig. 8.21 A). O ato de sacudir o

conteúdo vesical com o transdutor (balotamento), promove movimento do conteúdo com

formação de redemoinhos compostos de pontos hiperecogênicos flutuantes (fig. 8.21 B). A

cistite aguda pode não causar alterações sonográficas na parede vesical.

A B

Page 72: Diagnostico Por Imagem

72

Figura 8.21 – A- Imagem ecográfica demonstrando parede vesical espessada, sugerindo

cistite. B- Sedimento vesical após balotamento.

CÁLCULO VESICAL (UROLITÍASE)

Os cálculos urinários possuem forma e tamanho variados (2mm a 10cm) e podem

causar obstrução urinária ou lesão traumática na mucosa. Os machos retém os cálculos na

bexiga devido à uretra mais longa e estreita. Sonograficamente os cálculos são visíveis

independentemente do tamanho e da composição. São observados como estruturas

hiperecogênicas que produzem sombra acústica (fig. 8.22).

NEOPLASIA

Os tumores se apresentam como espessamentos focais de parede que se estendem

para o lúmen vesical ou de forma difusa que causam espessamento uniforme e generalizado

da parede, similar à cistite crônica. O papiloma é a neoplasia benigna mais comum. Ultras-

sonograficamente apresenta-se como formação ecogênica homogênea.

Figura 8.22 - Cálculo vesical (C) formando sombra

acústica (Imagem cedida pela M.V.

Adriane Ilha).

COÁGULOS

Geralmente ocorrem após traumas, neoplasias, infecções ou alterações sanguíneas.

Sonograficamente são irregulares, não formam sombra acústica e têm ecogenicidade mista.

Podem ser móveis ou aderidos à parede vesical.

URETERES

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DOS URETERES

Os ureteres normalmente não são visibilizados ecograficamente devido ao seu

pequeno diâmetro. Sua porção abdominal é adjacente ao músculo psoas.

A

B

Page 73: Diagnostico Por Imagem

73

ALTERAÇÕES URETERAIS

HIDROURETER OU DILATAÇÃO URETERAL

Obstrução por ligaduras acidentais durante a ovário-histerectomia ou por cálculos e

compressões tumorais são as causas mais comuns de dilatação. Ecograficamente o ureter

dilatado apresenta-se com paredes bem definidas e tortuosas que podem ter luz de 2-3cm de

diâmetro. A sobreposição de alças intestinais com gás pode impossibilitar a visibilização do

trajeto total dos mesmos.

URETER ECTÓPICO E RUPTURA DE URETER

São mais facilmente identificados pelo exame de urografia excretora.

PÂNCREAS

ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA NORMAL DO PÂNCREAS

O pâncreas situa-se adjacente à curvatura maior do estômago, duodeno, cólon

ascendente e transverso. Sua característica isoecóica à gordura circundante dificulta sua

visibilização, sendo pesquisado em sua topografia habitual (fig. 8.23). A administração via

oral de líquido, pode contribuir por deslocar o gás do piloro, porém, é contra-indicada em

animais com suspeita de pancreatite, podendo induzir ao vômito.

ALTERAÇÕES PANCREÁTICAS

PANCREATITE E NEOPLASIA

As mudanças sonográficas causadas pela pancreatite permitem sua identificação.

Em geral observa-se aumento do órgão e hipoecogenicidade. Tumorações podem ser focais

ou difusas e determinam imagem heterogênea.

Figura 8.23 – Imagem de pâncreas sem alteração.

Page 74: Diagnostico Por Imagem

74

CAPÍTULO IX

INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA ÓSSEA E ARTICULAR

A radiografia é um exame complementar essencial para o estudo das afecções que

acometem tanto o sistema ósseo quanto articular. Além de fornecer informações

diagnósticas permite acompanhar a evolução do caso clínico. Algumas afecções necessitam

de um razoável tempo para se manifestarem radiologicamente, até que as reações ósseas

alterem a densidade do tecido, mesmo o paciente apresentando sinais clínicos precoces.

ESTRUTURA ÓSSEA

Os ossos longos são constituidos de diáfise (corpo do osso que contém a medula

óssea), duas epífises (extremidade proximal e distal) e entre elas as metáfises (fig. 9.1).

Em animais jovens, as cartilagens ou placas epifisiárias (linha radiolucente), são

nítidas entre as epífises e as metáfises. Quando as cartilagens estiverem totalmente

substituídas por tecido ósseo, o crescimento cessa. Nos cães, o crescimento se completa em

torno do 10° ao 14°mês de idade (fig. 9.2) (Quadro 1) e nos gatos, mais tardiamente,

principalmente nos castrados. A cortical é a região periférica e mais radiopaca dos ossos e a

medular é a região central. O periósteo recobre a cortical externamente (exceto nas

superfícies articulares) enquanto o endósteo a envolve internamente, ambos promovem o

reparo e a consolidação óssea.

Figura 9.1 – Membro de animal jovem (5 meses de idade) apresentando as fises

abertas (setas) - linhas radiolucentes. D – diáfise. M – metáfise.

E – epífise.

M

E

D

Page 75: Diagnostico Por Imagem

75

Figura 9.2 – Desenvolvimento em dias do membro anterior de cão em projeção dorsopalmar. (FONTE:

SCHEBITZ & WILKENS, 2000).

Quadro 1 - Idade de fechamento epifisário em cães.

Estrutura Idade de Fusão

Tuberosidade Escapular 4-7 meses

Úmero Proximal 10-13 meses

Úmero Distal 6-8 meses

Rádio Proximal 6-11 meses

Rádio Distal 8-12 meses

Ulna Proximal (olécrano) 6-10 meses

Ulna Distal 8-12 meses

Metacarpianos e Metatarsianos 5-7 meses

1a e 2

a Falanges 4-5 meses

Pelve: - Acetábulo 5-6 meses

- Crista Ilíaca 1-2 anos

- Tuberosidade Isquiática 8-10 meses

Fêmur Proximal (cabeça) 7-11 meses

Fêmur Distal 8-11 meses

Tíbia Proximal 6-11 meses

Tíbia Distal 8-11 meses

Tuberosidade Tibial 6-12 meses

Fíbula Proximal 8-12 meses

Fíbula Distal 7-11 meses

Tuberosidade Calcânea 3-8 meses

TIPOS DE RESPOSTAS ÓSSEAS

DIMINUIÇÃO DA DENSIDADE (OSTEOPENIA): a reabsorção ou destruição

óssea podem resultar de traumas, desuso, doença metabólica, infecção e neoplasia.

Alterações radiograficamente identificáveis ocorrem a partir de 50% de perda de conteúdo

mineral dos ossos.

Page 76: Diagnostico Por Imagem

76

AUMENTO DA DENSIDADE: está associado a neoformações ósseas ou aumento

na mineralização, o que pode ser referido como esclerose óssea na imagem radiográfica.

OSTEÓFITOS: são proliferações ósseas em forma de espículas.

OSTEÍTE: é uma reação inflamatória do osso sem o envolvimento da medular.

PERIOSTITE: é uma reação inflamatória do periósteo determinando irregularidade

em sua superfície.

EXOSTOSE: é uma proliferação óssea mais acentuada que a periostite podendo ser

lisa (estacionária) ou irregular (proliferativa).

OSTEOMIELITE: é um processo inflamatório e ou infeccioso com envolvimento

da cortical e medular, decorrente de ferimentos de origem traumática, cirúrgica ou via

hematógena. Radiograficamente observa-se lise e esclerose óssea, com perda do padrão

trabecular normal e reação periosteal.

LUXAÇÃO: é o deslocamento completo entre as superfícies articulares.

SUB-LUXAÇÃO: é o deslocamento parcial entre as superfícies articulares.

FRATURA: é a solução de continuidade de uma estrutura óssea.

ANQUILOSE: é a fusão de duas ou mais estruturas ósseas, podendo ser provocada

por reação inflamatória e / ou infecciosa, ou induzida cirurgicamente por artrodese.

TRIÂNGULO DE CODMAN: ocorre em processos neoplásicos e inflamatórios,

quando há lesão com destruição de cortical, elevação do periósteo e neoformação

subperiosteal, determinando um ângulo.

PROJEÇÕES

Para a análise radiológica precisa, são requeridas no mínimo duas projeções

perpendiculares entre si, sendo que projeções com articulações flexionadas, incidências

obliquadas e skyline contribuem eventualmente.

O uso de sedativos, tranquilizantes ou anestesia geral pode tornar-se necessário para

um posicionamento correto, desde que o estado físico do paciente permita. Para a obtenção

de boa imagem de uma lesão, é recomendável que a mesma esteja o mais próximo possível

do filme.

CAPÍTULO X

RADIOLOGIA DO CRÂNIO

O crânio, dentro do sistema ósseo e articular, constitui uma das partes que oferece

maior dificuldade na interpretação radiográfica, tanto em pequenos quanto em grandes

animais, devido, principalmente, à grande variação entre espécies e, dentro destas, as

características raciais. Por exemplo, a dificuldade dentro de uma mesma espécie é a

diferença entre cães dolicocéfalos, mesocéfalos e braquicéfalos.

Dolicocéfalos: nestes animais o diâmetro antero-posterior da cabeça é longo,

deixando a impressão que a cabeça é estreita em relação ao comprimento. Ex.: Dobermann.

Braquicéfalos: animais com esta característica possuem a cabeça achatada no

sentido antero-posterior, deixando a impressão de que a cabeça é larga em relação ao

comprimento. Ex.: Boxer e Bulldog.

Mesocéfalos: são cães com a medida proporcional de largura e comprimento da

cabeça, sendo intermediária em relação aos anteriores. Correspondem a aproximadamente

75% das raças caninas. Ex.: Rottweiler e Labrador.

O crânio dos felinos tem características uniformes em sua maioria, mas algumas

Page 77: Diagnostico Por Imagem

77

raças apresentam características braquicéfalicas, como os Persas, por exemplo.

A cavidade nasal e os seios frontais são facilmente identificados pela sua

radiolucência. Os ossos turbinados das conchas nasais conferem uma imagem trabeculada

de linhas finas radiopacas no meio radiolucente normal, enquanto o septo nasal divide a

cavidade em duas porções simétricas (esquerda e direita). Afecções relacionadas a esta

região incluem um aumento de radiopacidade, alteração no padrão trabeculado e destruição

ou proliferação óssea. As alterações mais comuns são os processos inflamatórios,

infecciosos, hemorrágicos e tumorais, os quais diminuem a radiolucência da cavidade nasal,

porém, não são diferenciáveis entre si radiograficamente. Radiografias nasais de boa

qualidade ajudam a definir a localização e extensão das lesões. A projeção dorso-ventral

com o filme intra-oral permite visualizar a região trabeculada da cavidade nasal sem

interferência de sobreposição com a mandíbula.

POSICIONAMENTOS

Para as incidências de maxila ou mandíbula com boca aberta e trans-orais, é

necessário que os animais estejam anestesiados.

Os posicionamentos principais são:

Dorso-ventral.

Ventro-dorsal.

Lateral: com a boca aberta ou fechada.

Obliquados.

Trans-oral com boca aberta para avaliar bulas timpânicas.

Skyline, para avaliar seios frontais.

PREPARO

Sempre que possível limpar a região a ser radiografada, para evitar artefatos

como sujidades ou pomadas iodadas.

Quando necessário se faz uso de sedação ou até anestesia geral.

ANATOMIA RADIOGRÁFICA NORMAL (fig. 10.1 e fig. 10.2)

Figura 10.1 – A- Imagem radiográfica normal em projeção lateral de crânio de cão. B- Projeção dorso-

ventral de crânio de cão. C- Projeção dorso-ventral de crânio de gato.

A C B

Page 78: Diagnostico Por Imagem

78

Figura 10.2 – A- Imagem radiográfica em projeção ventro-dorsal com boca aberta evidenciando a

cavidade nasal. B- Projeção Skyline demonstrando os seios frontais radiolucentes.

ALTERAÇÕES RADIOGRAFICAMENTE VISÍVEIS

AFECÇÕES CONGÊNITAS

HIDROCEFALIA

Enfermidade congênita, podendo ser adquirida, a hidrocefalia (fig. 10.3) refere-se

ao acúmulo de líquido na região do neurocrânio, por excesso de produção de líquido

cérebro espinhal ou decréscimo na absorção do mesmo. Afeta principalmente raças toy,

braquicéfalos e Beagles. Os principais sinais clínicos estão relacionados a estado mental

alterado, com convulsões, deficiências visuais, disfunção motora e desenvolvimento

retardado.

Radiograficamente será observado aumento de radiopacidade e homogeneidade na

região do neurocrânio, aumento do vértice craniano, adelgaçamento do osso e retardamento

no fechamento das suturas ósseas.

Figura 10.3 – Imagem radiográfica de hidrocefalia. Aumento da radiopacidade da região

craniana de um cão. A- Projeção lateral. B- Projeção dorso-ventral.

A B

A B

Page 79: Diagnostico Por Imagem

79

AFECÇÕES TRAUMÁTICAS

FRATURA

As fraturas (fig. 10.4), quando grandes, são facilmente evidenciadas, porém, as

pequenas, são de difícil observação, sobretudo na cabeça, pela sobreposição das estruturas.

Em geral decorrem de traumas e quando se estendem à cavidade nasal ou seios frontais,

podem provocar enfisema subcutâneo e / ou processos hemorrágicos. Várias incidências

radiográficas podem ser necessárias para obtenção do diagnóstico.

Figura 10.4 – A- Fratura craniana em felino caracterizada por linha radiolucente (cabeça de seta). B-Projeção

lateral com boca aberta em canino com fratura de ramo mandibular (seta).

LUXAÇÃO

A luxação, geralmente, resulta de traumatismo e caracteriza-se por uma

instabilidade palpável da articulação, determinada por deslocamento entre as estruturas que

se articilam. Na região do crânio e face observam-se luxações na articulação têmporo-

mandibular e na sínfise mandibular, podendo estar associadas a fraturas na mandíbula.

A luxação da articulação têmporo-mandibular, caracteriza-se radiograficamente pelo

afastamento do processo condilóide da mandíbula do seu local anatômico que é a fossa

mandibular do osso temporal, podendo ser uni ou bilateral e ter deslocamento cranial,

caudal ou lateral.

CORPO ESTRANHO

Corpos estranhos podem ser radiopacos ou radiolucentes. Os radiopacos são

facilmente observados, como projéteis que apresentam densidade de metal.

Os radiolucentes nem sempre são visíveis, mas, dependendo da localização, nas

fossas nasais, por exemplo, podem ocasionar reação inflamatória e, neste caso, mostrar

determinada área com aumento de radiopacidade, que poderá ser confundida com outras

afecções.

AFECÇÕES DE ORIGEM METABÓLICA E / OU NUTRICIONAL

HIPERPARATIROIDISMO SECUNDÁRIO RENAL

Também conhecido como Osteíte fibrosa renal, Raquitismo renal, Osteodistrofia

renal ou Mandíbula de Borracha. Em animais velhos a causa principal é a doença renal

A B

Page 80: Diagnostico Por Imagem

80

crônica, enquanto em cães jovens se deve às nefropatias congênitas, resultando em

desmineralização óssea, primeiramente no crânio, afetando maxila e mandíbula que têm a

radiopacidade diminuída. A desmineralização no restante do esqueleto, pode ocorrer, mas é

mais lenta.

Com o desenvolvimento da enfermidade, a mandíbula torna-se maleável, o que

justifica a expressão “mandíbula de borracha”. Os dentes parecem soltos na radiografia

devido à absorção da lâmina dura e a respiração pode estar dificultada devido ao colapso

dos ossos da região das fossas nasais.

ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS E / OU INFECCIOSAS

SINUSITE

As projeções ventro-dorsal, lateral ou rostro-caudal permitem a avaliação dos seios

frontais. Radiograficamente observa-se aumento de radiopacidade de um ou ambos os seios

frontais. O diagnóstico diferencial de neoplasia deve ser considerado.

ABSCESSO APICAL OU PERIAPICAL

É uma afecção associada à raiz dentária que pode resultar de fraturas, cáries ou

doença periodontal. Radiograficamente evidencia-se uma área de radiolucência

circunscrita, típica também de processos infecciosos. Geralmente é progressiva, há

reabsorção radicular, lise ou esclerose adjacente ao ápice do dente e aumento do espaço

periodontal ao redor da raiz (halo radiolucente). Osteomielite (rarefação óssea) pode

ocorrer nos ossos adjacentes.

OSTEOMIELITE

É uma lesão inflamatória e / ou infecciosa que pode ter origem traumática, cirúrgica

ou hematógena. Radiograficamente evidencia-se áreas características de rarefação (lise) e

esclerose óssea.

OTITE

O conduto auditivo e a bula timpânica são radiolucentes, mas nos casos de otite

crônica, principalmente, as radiografias demonstrarão densidade radiológica aumentada

nestas estruturas. A parede da bula poderá estar espessada.

AFECÇÕES DE ORIGEM DESCONHECIDA

OSTEOARTROPATIA TÊMPORO-MANDIBULAR

Também chamada de Osteopatia Têmporo-mandibular, Osteopatia

Crâniomandibular ou Periostite da Mandíbula, esta afecção é uma osteopatia proliferativa

de cães jovens, que radiograficamente apresenta neoformação óssea envolvendo o osso

occipital, as bulas timpânicas e os ramos da mandíbula, sendo geralmente, bilateral.

Page 81: Diagnostico Por Imagem

81

AFECÇÕES PARASITÁRIAS

OESTROSE

Afecção comum em ovinos, em que as larvas de Oestrus ovis podem localizar-se

nas fossas nasais, seios frontais ou ambos, demonstrando na película de raios-X, um

aumento de radiopacidade, compatível com imagem de sinusite. Neste e em outros casos

sempre é indispensável exame e história clínicos.

CENUROSE

Enfermidade que atinge a região do cérebro em ovinos principalmente, ocasionada

pelo Coenuros cerebralis, com formação de cistos intracranianos. Ao exame radiográfico

simples, é difícil a observação, a não ser em casos crônicos, quando pode-se encontrar

rarefação óssea da calota craniana.

O diagnóstico poderá ser radiológico através de exame contrastado, como a

arteriografia cerebral, ou através da tomografia computadorizada ou da ressonância

magnética.

AFECÇÕES DEGENERATIVAS

CALCIFICAÇÃO DE BULA TIMPÂNICA

A calcificação da bula timpânica (fig. 10.5) decorre de otite crônica média e interna,

e é evidenciada pelo aumento da radiopacidade da região, que normalmente é radiolucente.

Figura 10.5 – Imagem radiográfica demonstrando radiopacidade da bula timpânica (setas).

Projeção ventro-dorsal e trans-oral .

AFECÇÕES NEOPLÁSICAS

As neoplasias de crânio surgem mais comumente a partir de tecidos moles, se

propagando e destruindo os ossos adjacentes. A maxila e a mandíbula são os locais mais

acometidos, sendo o osteossarcoma (maligno) e osteoma, mieloma e tumor venéreo

transmissível (benignos), os mais comuns. Radiograficamente pode ocorrer elevação

periosteal e rarefação óssea em casos de tumores malignos (fig. 10.6) e aumento da

radiopacidade e circunscrição nos tumores benignos. Geralmente os tumores cerebrais não

A B

Page 82: Diagnostico Por Imagem

82

são visualizados pela radiografia simples. A angiografia cerebral (exame contrastado) pode

auxiliar no diagnóstico.

Figura 10.6 – Radiografia craniana de felino em projeção lateral com tumor nasal.

Observar a destruição óssea (seta).

CPÍTULO XI

RADIOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL

As alterações de coluna vertebral tanto em pequenos quanto em grandes animais,

são relativamente frequentes. Algumas poderão ser congênitas outras adquiridas. A

radiologia é fundamental como apoio diagnóstico ao clínico.

A coluna vertebral é dividida em 5 porções, que devem ser radiografadas

separadamente, são elas: cervical (7 vértebras), torácica (13 vértebras), lombar (7

vértebras), sacral (3 vértebras) e coccígea ou caudal (6 a 20 vértebras). O uso de anestesia

geral permite um posicionamento simétrico do paciente para uma interpretação radiográfica

apropriada. Alterações na forma, no tamanho, na densidade e no alinhamento das vértebras,

são os sinais radiográficos fornecidos pelo exame. A definição da medula espinhal não é

obtida pela radiografia simples, sendo necessária a mielografia.

PREPARO PRÉVIO

Limpeza da região a ser radiografada

Coluna lombo-sacra: limpeza do trato digestório.

POSICIONAMENTOS

Ventro-dorsal

Laterais

Obliquadas

Page 83: Diagnostico Por Imagem

83

ANATOMIA RADIOGRÁFICA NORMAL DA COLUNA

Projeção lateral (fig. 11.1)

Figura 11.1 – Coluna lombar de filhote de cão em projeção lateral.

Observar as linhas epifisiárias abertas (setas).

TIPOS DE EXAMES PARA COLUNA VERTEBRAL

Exame Simples

Exames contrastados

- Osteovenografia (pouco utilizada)

Consiste na injeção de contraste especifico no corpo vertebral.

- Mielografia

A mielografia (fig. 11.2) é um exame contrastado da coluna e está indicada quando

a radiografia simples não for conclusiva. A interpretação envolve a avaliação do espaço

subaracnóide preenchido com meio de contraste positivo (colunas de contraste) que pode

demonstrar alterações situadas extra ou subduralmente no canal vertebral (como tumores,

prolapso de disco intervertebral ou do núcleo pulposo ou ainda hematomas). As lesões de

medula espinhal (fig. 11.3) classificam-se em: extradural (coágulos, fraturas consolidadas,

prolapso de disco intervertebral, neoplasias), intradural-extramedular (neoplasias) e

intramedular (neoplasias, edemas, hemorragias).

Figura 11.2 – Projeção lateral evidenciando as colunas paralelas de meio de

contraste e o posicionamento adequado da agulha para

mielografia lombar.

Page 84: Diagnostico Por Imagem

84

Figura 11.3 - Representação esquemáticas das lesões

medulares. (Fonte: WHEELER &

SHARP, 1999)

O preparo prévio dos pacientes é feito com jejum líquido e sólido de 12 horas,

sendo posteriormente, submetidos à anestesia geral. O meio de contraste utilizado para o

procedimento é à base de iohexol, ioversol, iopamidol ou metrizamide na dose de 0,25-

0,5ml.Kg-1

de peso vivo, sua aplicação é feita na cisterna magna ou no espaço subaracnóide

entre L4-L5 ou L5-L6.

ALTERAÇÕES RADIOGRÁFICAS

ALTERAÇÕES CONGÊNITAS

HEMI-VÉRTEBRA

As hemivértebras (fig. 11.4-A) resultam de uma falha na formação de parte do

corpo vertebral, que se apresentam radiograficamente menores, incompletas e geralmente

em forma de cunha, podendo causar desvios da coluna vertebral, dependendo da orientação

da mesma.

Cães das raças Pug, Bulldog e Boston Terrier são as mais comumente afetadas por

esta alteração, sendo que as vértebras torácicas e coccígeas estão mais frequentemente

envolvidas.

ESPINHA BÍFIDA

Afecção com etiologia desconhecida com maior incidência em cães da raça Bulldog

e rara nas demais. Ocorre devido a um defeito no desenvolvimento embrionário o qual

resulta na não fusão do arco vertebral dorsal em uma ou mais vértebras, geralmente em

porção caudal da coluna lombar, sacral ou coccígea, podendo ocorrer também ausência ou

hipoplasia do processo espinhoso dorsal. Os sinais clínicos são compatíveis com alterações

da coluna em segmento L4-S3.

Radiografias simples em projeção ventro-dorsal evidenciam melhor a alteração

Page 85: Diagnostico Por Imagem

85

através da comparação das vértebras normais craniais e caudais às alteradas. Com a

realização da mielografia pode-se evidenciar o extravasamento de contraste para fora do

espaço subaracnóide ou para o exterior, meningocele (coleção de líquido cefalorraquidiano

em uma saculação em forma de bolsa na pele), meningomielocele (protusão de partes da

meninge e medula espinhal através da falha na coluna vertebral) ou ainda mielocele

(protusão de porções de medula para fora do canal medular em função de um defeito na

formação das meninges, além do defeito nos corpos vertebrais) (fig. 11.4-B).

Figura 11.4 – A- Imagem radiográfica de hemivértebra. Vértebra em formato de cunha na regão cervical.

B- Mielografia demonstrando comunicação do canal medular com o meio esterno (espinha bífida).

VÉRTEBRA EM TRANSIÇÃO

É a denominação dada àquela vértebra que assume características anatômicas de sua

adjacente. Um processo transverso poderá assumir a aparência de costela ou vice versa.

Exemplos: radiograficamente evidencia-se ausência de uma ou ambas as costelas de T13

(chamado de lombarização de T13); ausência de processo transverso (uni ou bilateral) de L7,

onde a vértebra une-se com a pelve (chamado de sacralização de L7). Geralmente essa

afecção não possui significado clínico.

SUB-LUXAÇÃO ATLANTOAXIAL

Além de congênita poderá ser também adquirida. A forma congênita está associada

à malformação da articulação com agenesia total ou parcial do processo odontóide.

Acomete principalmente Poodle miniatura, Yorkshire Terrier e Chihuahua. A forma

adquirida decorre de traumas que provocam fratura ou separação do processo odontóide,

podendo também ser causada pela ausência ou ruptura dos ligamentos atlantoaxial e

transverso.

Caracteriza-se por instabilidade e sub-luxação vertebral, a qual permite excessiva

flexão da região, podendo resultar em compressão da medula espinhal. Os sinais clínicos

são variáveis e incluem incoordenação, falta de equilíbrio, dor e quadriplegia.

Radiograficamente observa-se, em projeção lateral, um aumento da distância entre o

arco do atlas e a espinha dorsal do axis além da ausência total ou parcial do processo

odontóide do axis (fig. 11.5-A).

ALTERAÇÕES LIGADAS AO DESENVOLVIMENTO

ESPONDILOMIELOPATIA CERVICAL

Também chamada de Espondilopatia Cervical, Instabilidade Vertebral Cervical,

B A

Page 86: Diagnostico Por Imagem

86

Síndrome de Wobbler e Mal-articulação Vertebral Cervical. O termo síndrome de Wobbler

é usado para nomear uma afecção específica, onde a medula espinhal é lesionada por uma

combinação de anomalias da coluna vertebral cervical. Pode-se dizer que é uma questão

multifatorial, podendo ser congênita ou adquirida.

Alguns fatores importantes que contribuem para o aparecimento desta síndrome,

como causa primária, são estenose do canal vertebral e instabilidade vertebral e, como

causa secundária, hérnia de disco, hipertrofia ligamentosa, proliferação da cápsula articular

e produção de osteófitos. As vértebras C5, C6 e C7 (fig. 11.5-B) são as mais comumente

afetadas e poderá haver protrusão de disco intervertebral associada.

As radiografias simples nem sempre mostram a estrutura do canal vertebral,

necessitando de mielografia, mas, com frequência mostram sub-luxação vertebral da região

cervical. Este quadro é comum aos pequenos animais e especialmente em equinos, quando

se trata de grandes animais.

BLOCO DE VÉRTEBRAS

Poderá ser congênito ou adquirido, observando-se uma imagem de fusão de dois ou

mais corpos vertebrais, formando um bloco. Essa afecção é observada mais frequentemente

na coluna cervical e lombar.

Radiograficamente há uma parcial ou total ausência do espaço intervertebral entre

as vértebras envolvidas (fig. 11.6).

Figura 11.5 – A- Imagem radiográfica demonstrando subluxação atlantoaxial, com aumento da distância

entre o processo espinhoso do axis e arco dorsal do atlas. B- Mielografia cervical com

interrupção da coluna de contraste. Subluxação de C7 com elevação da porção cranial do corpo

vertebral para dentro do canal medular.

Figura 11.6 – Imagem radiográfica demonstrando

fusão de 4ª e 5ª vértebras.

lombares.

A

B A

Page 87: Diagnostico Por Imagem

87

ALTERAÇÕES TRAUMÁTICAS

FRATURA, LUXAÇÃO E SUB-LUXAÇÃO

As fraturas (fig. 11.7-B), luxações (fig. 11.7-A) e subluxações ocorrem comumente

em pequenos animais devido a acidentes (atropelamentos por carro) e podem causar

compressões do cordão espinhal e raízes nervosas subsequentes. A manipulação dos

pacientes mesmo anestesiados deve ser cuidadosa para não causar novos danos durante o

estudo radiográfico.

Os sinais radiográficos incluem descontinuidade de estruturas ósseas, pequeno

desalinhamento entre vértebras e / ou facetas articulares (sub-luxação), desarticulação

completa das superfícies articulares (luxação), descontinuidade do canal vertebral e linhas

de fratura dos corpos vertebrais, processos articulares e apófises.

ALTERAÇÕES DE ORIGEM NUTRICIONAL E / OU METABÓLICA

HIPERVITAMINOSE A DOS FELINOS

Também chamada de Osteodistrofia felina, acomete gatos que recebem dieta com

excesso de vitamina A, encontrada principalmente na alimentação caseira constituída

predominantemente por fígado. O excesso de vitamina A provoca a formação de exostoses

na porção ventral das vértebras cervicais e torácicas. Os sinais clínicos mais evidentes são:

dor, movimentação restrita do pescoço e compressão de medula e raízes nervosas.

A imagem radiográfica caracteriza-se por extensa exostose anquilosante

principalmente na coluna cervical e torácica. Poderá ocorrer a fusão das vértebras,

ocasionando eventualmente compressão das raízes dos nervos espinhais.

Figura 11.7 – Radiografias em projeção lateral. A- Luxação em coluna torácica determinando um degrau

(seta). B- Fratura de corpo vertebral em L3.

HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO NUTRICIONAL

Também chamada de Osteodistrofia Nutricional, Osteodistrofia Juvenil ou

Osteoporose Nutricional, esta enfermidade se caracteriza por uma rarefação óssea em todo

o esqueleto, que apresenta cortical delgada, fazendo com que os ossos tenham uma

densidade semelhante à musculatura. Fraturas patológicas (fratura em talo verde) ocorrem,

sendo que ao afetar os corpos vertebrais, podem causar compressão de medula espinhal.

B A

Page 88: Diagnostico Por Imagem

88

ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS E / OU INFECCIOSAS

ESPONDILITE

Processo inflamatório e ou infeccioso que atinge os corpos vertebrais, causado pela

infecção bacteriana e / ou fúngica.

Radiograficamente assemelha-se à osteomielite, com destruição dos corpos

vertebrais, lise óssea, perda do padrão trabecular, reação periosteal e esclerose do osso

circunjacente. Mais comumente envolve a porção ventral e lateral do corpo vertebral.

Quando atinge o canal vertebral pode causar mielite e meningite.

DISCOESPONDILITE

Também chamada de Osteomielite intradiscal, Discite, Infecção discal intervertebral

e Espondilite intervertebral. A origem é hematógena e resulta numa infecção do disco

intervertebral de origem não vertebral. As regiões cervicotorácica, tóracolombar e

lombossacra são os locais mais acometidos. Pode ocorrer associada a Brucela canis,

Staphylococcus aureus e alguns tipos de leveduras.

As características radiográficas incluem lise de uma ou ambas as faces articulares

dos corpos vertebrais (placas das extremidades vertebrais), seguidos de diminuição do

espaço intervertebral (fig. 11.8). Com a progressão do processo pode surgir uma margem

esclerótica com proliferação óssea ventral de grau variável. A mielografia permite

estabelecer se há ou não compressão de medula.

Figura 11.8 – Radiografia lateral de um cão com discoespondilite em

L4-L5 evidenciando irregularidade e esclerose das

extremidades dos corpos vertebrais.

ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS

ESPONDILOSE

Também chamada de Espondilo-artrose (fig. 11.9) é um achado radiográfico

comum em cães idosos atingindo mais frequentemente as vértebras torácicas e lombares,

raramente associada a sinais clínicos.

Caracteriza-se por crescimentos ósseos em forma de espículas (osteófitos) que se

desenvolvem nas extremidades dos corpos vertebrais, podendo se fusionar, formando uma

anquilose, sendo chamada espondilose deformante / anquilosante.

PAQUIMENINGITE

A Ossificação da dura-máter, Metaplasia óssea da dura-máter ou Ossificação dural

como também é denominada, caracteriza-se pela formação de placas ósseas na dura-máter e

Page 89: Diagnostico Por Imagem

89

acomete cães de grande porte. Os sinais clínicos dependem do grau de comprometimento

da medula espinhal e raízes nervosas.

Radiograficamente aparece como uma linha radiopaca imediatamente acima e

paralelamente à base do canal medular, sendo melhor visualizada nos espaços

intervertebrais. Não deve-se confundir com calcificação do ligamento longitudinal dorsal

(fig. 11.10).

Figura 11.9 – Espondilose anquilosante (pontes ósseas) na coluna torácica e lombar (setas). A- Projeção

lateral. B- Projeção ventrodorsal.

Figura 11.10 – Detalhe evidenciando calcificação do

ligamento longitudinal dorsal entre os

corpos vertebrais (seta).

SÍNDROME DA CAUDA EQUINA

Também chamada de Estenose lombossacra, Compressão de cauda equina,

Instabilidade ou Espondilose lombossacra. A cauda equina corresponde à porção caudal do

cordão espinhal e suas raízes adjacentes estão localizadas nos corpos vertebrais de L5-L7,

S1-S3 e Cc1-5. Animais de grande porte são acometidos com maior frequência e demonstram

como sinais clínicos a incontinência urinária e fecal, dor à palpação, claudicação, relutância

ao exercício, variando de acordo com o tipo de alteração anatômica.

De origem congênita ou adquirida, é um complexo de sinais neurológicos causados

pela compressão das raízes nervosas da espinha lombossacra. A localização da extremidade

caudal do cordão espinhal varia de acordo com o tamanho dos cães e gatos.

Os sinais radiográficos estão associados com a causa de compressão da cauda

A B

Page 90: Diagnostico Por Imagem

90

equina que podem ser: fraturas, luxações, neoplasias ou infecções, além de protrusão de

disco intervertebral Hansen Tipo II, instabilidade articular entre L7 e sacro, crescimentos

ósseos no interior do canal medular, espondilose anquilosante entre L7 e sacro, proliferação

de tecidos moles (ligamentos e cápsula articular), osteocondrose de sacro e

comprometimento vascular.

HÉRNIA DE DISCO INTERVERTEBRAL

Os discos intervertebrais ocupam os espaços entre uma vértebra e outra desde C2-C3

até S1. Cada disco é composto de um anel externo fibroso e laminado e um núcleo central

chamado de núcleo pulposo. Ao exame radiográfico simples e sem alterações, esses

espaços intervertebrais são radiotransparentes e seu tamanho é aproximadamente igual em

toda a extensão da coluna vertebral. Para se evitar distorções da aparência dos espaços

intervertebrais, segmentos curtos da coluna devem ser radiografados separadamente.

A afecção ocorre pela extrusão (Hansen tipo I) ou protrusão (Hansen tipo II) de

disco intervertebral independente de estar ou não fibrosado ou calcificado. Na extrusão

(mais comum em raças condrodistróficas como Basset e Bulldog): radiograficamente

observa-se calcificações precoces, seguidas de degeneração tanto do núcleo pulposo quanto

do anel fibroso. Caso o anel fibroso se rompa, o material do núcleo se deslocará com muita

força podendo causar compressão medular. Na protrusão (nas demais raças): as alterações

fibróides progridem lentamente à medida que o animal envelhece. Nesse caso, o anel

fibroso origina uma saliência (prolapso) sem romper-se, podendo também causar

compressão medular.

De modo geral, os sinais radiográficos da doença de disco intervertebral incluem

calcificação de um ou mais discos, estreitamento (fig. 11.11-A) ou aparência de cunha do

espaço do disco intervertebral, presença de material mineralizado no forame intervertebral e

compressão medular demonstrada pela mielografia.

CALCIFICAÇÃO DE DISCO INTERVERTEBRAL

A imagem é melhor avaliada em radiografias laterais de coluna. Observa-se

aumento de radiopacidade entre os corpos vertebrais, mas deve-se ter o cuidado de não

confundir com sobreposição de apófises transversas ou costelas.

Os discos poderão estar fibrosados ou calcificados (fig. 11.11-B). Quando

fibrosados não serão observados nas radiografias. Pode ocorrer também somente

calcificação do núcleo pulposo do disco intervertebral.

ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS

As neoplasias de coluna afetam mais comumente cães idosos, porém, tumores como

linfoma podem ocorrer em gatos jovens. Os tumores poderão ser primários ou secundários

e é difícil serem distinguidos de espondilite ou discoespondilite.

Suas principais características radiológicas são: lise óssea, destruição das placas

terminais vertebrais, fraturas patológicas (por compressão), crescimentos ósseos

desordenados e alteração na radiopacidade óssea.

A mielografia fornece dados como localização do tumor e sua posição no canal

vertebral, porém o diagnóstico é definido somente através da biopsia.

Page 91: Diagnostico Por Imagem

91

Figura 11.11 – A- Radiografia demonstrando diminuição do espaço intervertebral entre T12-13.

B- Calcificação de disco intervertebral L6-7 (seta).

CAPÍTULO XII

RADIOLOGIA DO APARELHO LOCOMOTOR

Para a avaliação apropriada da condição óssea e articular, pelo menos duas

projeções, realizadas em ângulo reto uma em relação à outra em incidências padronizadas

(crânio-caudal, dorsopalmar/ dorso-plantar e médiolateral) são necessárias. Incidências

obliquadas e flexionadas podem contribuir. É importante o conhecimento da posição dos

centros de ossificação e o período em que as linhas epifisárias se fecham.

Ao se avaliar articulações, pode-se efetuar exames contrastados quando os simples

não forem esclarecedores. Estes exames poderão ser realizados com contraste positivo

denominando-se artrografia, com contraste negativo denominando-se pneumoartrografia

ou, ainda, associando os dois meios de contraste que se chama artrografia de duplo-

contraste. Estas técnicas poderão ser utilizadas para observação de cápsula articular,

superfícies articulares, meniscos, etc... Para realização desses exames deverão ser seguidas

as normas de preparo prévio: limpeza da região, tricotomia, anti-sepsia e sedação ou

anestesia, sendo esta última a mais aconselhada.

Ultrassonografia é meio de imagem indicado para avaliação articular.

ALTERAÇÕES RADIOGRAFICAMENTE VISÍVEIS

ALTERAÇÕES DE ORIGEM TRAUMÁTICA

LUXAÇÃO E SUB-LUXAÇÃO

Alterações já descritas.

RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO

Ocorre por traumatismo, excesso de esforço físico ou ainda por excesso de força na

tração.

Radiograficamente observa-se sub-luxação da articulação fêmoro-tibial, com

deslocamento dos côndilos femorais caudalmente. Poderá ocorrer edema intra-articular, em

casos iniciais e artrose em casos mais avançados.

A B

Page 92: Diagnostico Por Imagem

92

FRATURAS

Poderão ser traumáticas ou patológicas (espontâneas). Caracterizam-se pela

presença de solução de continuidade óssea (fig. 12.1).

A radiografia desempenha importante papel na avaliação das fraturas nas seguintes

etapas: pré, trans e pós-procedimento terapêutico. A primeira etapa comprova a fratura e

avalia os diversos aspectos relacionados à mesma, como sua extensão, alinhamento, etc...

Durante o procedimento terapêutico, permite avaliar a eficácia do método realizado e a

terceira etapa faz o acompanhamento do processo de cicatrização ou reparo ósseo. Com

relação ao reparo ósseo, animais jovens apresentam consolidação mais rapidamente que os

velhos. O método de imobilização da fratura (talas e pinos) e a presença de doença local ou

metabólica afetam a velocidade de consolidação óssea.

Figura 12.1 – A- Fratura de colo femoral direito. B- Fratura distal de metáfise do fêmur.

ALTERAÇÕES LIGADAS AO DESENVOLVIMENTO E / OU DE ORIGEM

DESCONHECIDA

FECHAMENTO EPIFISÁRIO PRECOCE

Principal causa são os traumas. Esta alteração poderá ocorrer em qualquer placa

epifisária, mas o local mais comum é a linha de crescimento distal da ulna. A lesão óssea

poderá não ser percebida na radiografia, observando-se o encurvamento da ulna causando a

deformidade do membro com desvio lateral ou valgus, devido à posição medial do rádio no

carpo que força o membro lateralmente enquanto continua crescendo. No rádio ocorre

arqueamento cranial podendo tornar-se severo durante a evolução do quadro, podendo levar

à sub-luxação da articulação do úmero com a ulna. Aparecimento de doença articular

degenerativa é uma possível consequência dessa enfermidade. Poderá ocorrer o desvio

medial ou varus, se ocorrer lesão na linha epifisária do rádio.

EXOSTOSE CARTILAGINOSA MÚLTIPLA

Também denominada Osteocondromatose e Exostose Hereditária Múltipla, esta

afecção de etiologia desconhecida, poderá ocorrer em todo o esqueleto, principalmente em

ossos longos e menos frequente na coluna. Quando ocorre uma exostose cartilaginosa

isolada, esta é denominada osteocondroma. É uma doença que afeta também outras

A B

Page 93: Diagnostico Por Imagem

93

espécies, principalmente equinos.

As lesões são frequentemente múltiplas, podendo ser císticas ou proliferativas, com

aumento de radiopacidade. Às vezes poderão ser confundidas com neoplasias, como por

exemplo, os osteomas. Por isso torna-se necessária biopsia para diagnóstico diferencial,

embora os osteomas, em geral, não sejam múltiplos.

Radiograficamente caracteriza-se pela imagem de exostoses circulares e regulares,

com bordas escleróticas.

LUXAÇÃO PATELAR

A luxação de patela pode ser medial ou lateral (fig. 12.2-A). As projeções

radiográficas indicadas são a crânio-caudal, médiolateral e skyline da articulação fêmoro-

tíbio-patelar. Radiograficamente a patela se encontrará deslocada lateral ou medialmente.

Na incidência médio-lateral, a patela não se encontra no sulco troclear e está sobreposta aos

côndilos femorais. Outras anormalidades ósseas poderão estar presentes como sulco

troclear raso, rotação e curvatura da porção proximal da tíbia e angulação anormal da

articulação fêmoro-tibial.

Caso a luxação seja intermitente, a patela poderá estar posicionada em seu local

anatômico no sulco troclear, no momento do posicionamento para o exame.

NECROSE ASSÉPTICA DE CABEÇA DO FÊMUR

Também conhecida como Doença de Legg-Perthes, Doença de Legg-Calvé-Perthes

ou Necrose Avascular da Cabeça Femoral, esta enfermidade ocorre geralmente em raças de

pequeno porte, em crescimento, geralmente unilateral. A etiologia, ainda não bem

esclarecida, inclui fatores hereditários, hormonais, conformação anatômica, pressão

intracapsular e infarto da cabeça do fêmur.

Ao exame radiográfico evidencia-se densidade óssea da cabeça do fêmur diminuída

(rarefação óssea), podendo haver fragmentação da mesma e encurtamento do colo femoral

(fig. 12.2-B). Pode-se observar, dependendo do estágio da enfermidade, alterações

degenerativas secundárias, ou seja, osteoartrose.

Figura 12.2 – A- Luxação lateral de patela observada em projeção skyline. B- Necrose asséptica da cabeça

do fêmur, lado esquerdo.

CALCINOSE CIRCUNSCRITA

Também chamada de Calcinose Tumoral e Gota Cálcica. Nesta alteração ocorre

A B

Page 94: Diagnostico Por Imagem

94

deposição de sais de cálcio de aspecto amorfo no tecido mole, tecido subcutâneo, pele e

proeminências ósseas. Radiograficamente se caracteriza como áreas circunscritas com

radiopacidade de tecido ósseo.

OSTEOARTROSE OU MOLÉSTIA ARTICULAR DEGENERATIVA

Observa-se formação de osteófitos em superfícies periarticulares, causando dor e

dificuldade de movimentação, pela diminuição da amplitude do movimento articular.

OSTEOCONDROSE

Caracteriza-se por um distúrbio na ossificação endocondral que leva à formação de

um cisto subcartilaginoso. Frequentemente é bilateral e afeta as articulações escápulo-

umeral, úmero-rádio-ulnar, fêmoro-tíbio-patelar e tarso de cães jovens com crescimento

rápido. A etiologia é multifatorial incluindo o manejo, a genética, sexo, fatores hormonais e

nutrição.

Radiograficamente observa-se área de rarefação óssea circunscrita na região

subcartilaginosa (cisto ósseo) (fig. 12.3-A), podendo às vezes ocorrer erosão de cartilagem

articular e formação de osteófitos periarticulares. Quando há avulsão de um flap de

cartilagem no local do cisto, o qual pode sofrer mineralização, passa a denominar-se

osteocondrite dissecante. A confirmação do diagnóstico pode ser feita através da artrografia

(fig. 12.3-B).

Figura 12.3 – A- Articulação escápulo-umeral de cão jovem com osteocondrose. Área radiolucente na

cabeça do úmero. Fechamento epifisiário precoce (seta). B- Artrografia sem alteração.

PANOSTEÍTE EOSINOFÍLICA

Também conhecida como Panosteíte Canina ou simplesmente Panosteíte, ocorre em

cães jovens e tem etiologia desconhecida. Clinicamente os animais apresentam claudicação

sem história de lesão, podendo ocorrer em um membro e após em outro.

Na imagem radiográfica observa-se aumento de radiopacidade na medula dos ossos

longos, geralmente, mais evidente próximo ao forame nutrício. Poderá ocorrer perda do

padrão trabecular normal do osso. Há casos em que as lesões são tão intensas que chegam a

tomar por completo a cavidade medular. Espessamento endosteal e reação periosteal

regular poderão aparecer independentemente da opacidade da medula (fig. 12.4).

A B

Page 95: Diagnostico Por Imagem

95

Figura 12.4 – Panosteíte. Aumento de radiopacidade

do canal medular da tíbia (seta).

OSTEOARTROPATIA HIPERTRÓFICA PULMONAR

Também chamada Acropaquia ou Osteopatia Hipertrófica Pulmonar, esta doença

está, geralmente, associada a enfermidades pulmonares (fig. 12.5-A) como neoplasias e

tuberculose, doença pulmonar crônica, neoplasias na bexiga ou prostáticas e alterações

metabólicas. Clinicamente os animais afetados apresentam edema na região distal dos

membros, demonstrando dor à palpação e claudicação. Quando a lesão pulmonar é tratada

com sucesso, as alterações ósseas regridem rapidamente.

Características radiográficas incluem grande proliferação periosteal perpendicular à

cortical, a qual permanece íntegra. A reação óssea do tipo osteofitose ou espículas,

geralmente simétrica e generalizada, afeta ossos longos (fig. 12.5-B) e pode estender-se até

as cápsulas articulares, não chegando, porém, a atingir as superfícies articulares.

Figura 12.5 – A- Imagem radiográfica de nódulos pulmonares. B- Membros torácicos de cão. Observar o

novo tecido periosteal formado.

DISPLASIA DA ARTICULAÇÃO DO COTOVELO

É determinada por uma das seguintes alterações:

a) Processo coronóide medial fragmentado

Radiograficamente observa-se alteração articular degenerativa secundária

A B

Page 96: Diagnostico Por Imagem

96

progressiva e, raramente, fratura do processo medial. Na projeção lateral, forma elíptica

anormal e curvatura diminuída da chanfradura troclear ficam evidenciadas pelo aumento do

espaço articular úmero-radial.

b) Osteocondrose

Enfermidade já descrita.

c) Não União do processo ancôneo

Radiograficamente observa-se uma linha radiolucente evidenciando a separação do

processo ancôneo da porção proximal da ulna (fig. 12.6).

Alteração vista somente na projeção lateral flexionada do cotovelo. Frequentemente

com o tempo desenvolve-se doença articular degenerativa (osteoartrose).

d) Não União do epicôndilo medial do úmero

Esta situação é a menos frequente dentre as demais relacionadas.

A alterações radiológica perceptível é a separação de fragmento ósseo na região

caudal do epicôndilo.

Figura 12.6 – Radiografia demonstrando não-união do processo ancôneo.

DISPLASIA COXOFEMORAL

Não existe uma única etiologia definida, sabe-se que está ligada a fator hereditário,

distúrbios hormonais, crescimento rápido, excesso de exercícios físicos, sendo assim

descrita como de etiologia multifatorial, afetando cães de raças grandes, na maioria das

vezes.

O diagnóstico definitivo para a raça pastor alemão e labrador é feito com 1 ano de

idade enquanto que para rottweiler, fila brasileiro, mastif, dogue alemão e demais raças

gigantes, este é feito com 1 ano e seis meses. Para posicionamento ideal para a avaliação da

articulação coxofemoral representado na figura-12.7, é necessário que estejam incluídas na

radiografia as asas do ílio e a extremidade distal dos fêmures. Deve haver perfeita simetria

entre as asas do ílio e forames obturadores, os fêmures devem estar paralelos e as patelas

posicionadas nos sulcos trocleares.

A displasia caracteriza-se por uma instabilidade articular ou sub-luxação da

articulação, podendo estar envolvidos nesta enfermidade: acetábulo, cabeça de fêmur e colo

femoral.

a) Os animais normais apresentam:

Acetábulo profundo, cabeça de fêmur redonda ou esférica, colo femoral delgado,

Page 97: Diagnostico Por Imagem

97

articulação com perfeita congruência e “Ângulo de Norberg” igual ou superior a 105o.

b) Animais em fase de transição:

São animais que apresentam boa articulação e o ângulo levemente inferior a 105o

ou

animais em que a articulação é ligeiramente incongruente e tem o ângulo maior ou igual a

105o.

c) Displasia de grau leve (fig. 12.8-A):

As características são: “Ângulo de Norberg” maior que 100o e menor que 105

o. Sem

sinais de artrose.

d) Displasia de grau médio (fig. 12.8-B):

acetábulo pouco profundo;

cabeça de fêmur poderá estar facetada, achatada, etc.;

colo de fêmur poderá estar levemente engrossado;

aparecem os primeiros sinais de artrose;

perda da congruência ou seja imagem de sub-luxação acentuada;

“Ângulo de Norberg” maior que 90o e menor que 100

o.

e) Displasia de grau grave (fig. 12.8-C):

acetábulo pouco profundo, até plano;

cabeça de fêmur poderá estar afilada, achatada, em forma de cogumelo, etc.;

colo de fêmur geralmente curto e engrossado;

poderá apresentar sub-luxação ou até luxação completa;

artrose geralmente evidente.

“Ângulo de Norberg” inferior a 90o

(só medido em ausência de artrose).

Figura 12.7 – Posicionamento adequado

para avaliação de

displasia coxofemoral.

Page 98: Diagnostico Por Imagem

98

Figura 12.8 – Diferentes graus de displasia coxofemoral. A- Displasia em grau leve. B- Displasia em grau

médio com deformidade de cabeça femoral (facetada) e leve engrossamento de colo femoral.

C- Displasia em grau grave demonstrando subluxação e grande deformidade da cabeça femoral,

arrasamento de acetábulo, engrossamento de colo femoral e artrose – osteófito (seta).

RETENÇÃO DE NÚCLEOS CARTILAGINOSOS ENCONDRAIS

Ocorre na metáfise distal da ulna de cães jovens de raças grandes e gigantes. Sem

etiologia definida, podendo estar associada a problemas vasculares da região metafisária da

ulna.

Radiograficamente é observada como um cone invertido, radiolucente na metáfise

distal da ulna. Sua persistência causa encurtamento da mesma em relação ao rádio,

resultando em uma deformidade do membro, como rotação externa ou arqueamento cranial.

OSTEOCONDRODISPLASIAS

São anormalidades do crescimento e / ou desenvolvimento cartilaginoso ou ósseo.

Aqui se enquadram: nanismo, alterações de número de dedos, etc...

OSTEOPENIA POR DESUSO

Ocorre principalmente devido à inatividade do membro.

Radiograficamente observa-se diminuição da densidade óssea localizada (fig. 12.9)

devido à desmineralização por reabsorção óssea.

Figura 12.9 – Osteopenia por desuso.

A B C

Page 99: Diagnostico Por Imagem

99

ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS E/ OU INFECCIOSAS

ARTRITE INFECCIOSA

Esta infecção ocorre via hematógena ou por feridas punctórias. Clinicamente se

observa aumento de volume articular, dor, calor, claudicação e diminuição da amplitude

dos movimentos articulares.

Nos estágios iniciais da enfermidade há um espessamento da membrana sinovial,

distensão da cápsula articular, pequeno alargamento do espaço articular, devido ao aumento

de volume e pressão no interior da articulação. Com o desenvolvimento do processo

observa-se reação periosteal nos ossos envolvidos e destruição das cartilagens articulares.

ARTRITE REUMATÓIDE

É uma enfermidade não infecciosa, sendo aparentemente de ordem imunológica. As

articulações do carpo e tarso são as mais frequentemente atingidas.

A lesão mais evidente é a progressiva destruição do osso subcondral na inserção da

membrana sinovial. Poderá ocorrer estreitamento ou alargamento do espaço articular que é

decorrente da erosão da cartilagem articular e destruição do osso subcondral, situação que

leva à rarefação óssea na articulação.

OSTEOMIELITE SUPURATIVA

Segundo a definição, osteomielite é o processo inflamatório da medular e cortical

óssea. Ocorre devido à invasão bacteriana da estrutura óssea, a qual pode ocorrer por

feridas cirúrgicas ou traumáticas, ou via hematógena.

Observam-se alterações no padrão ósseo com áreas de rarefação e perda dos padrões

trabeculares, lise óssea, esclerose, periostite, áreas de neoformação óssea periosteal,

presença do “Triângulo de Codman” e poderá ocorrer presença de sequestro ósseo. Pode

haver osteopenia por desuso do membro afetado.

OSTEOMIELITE NÃO SUPURATIVA

É uma reação inflamatória não infecciosa ocasionada, em geral, por reação do

organismo a implantes metálicos, sendo comum a metalose.

A característica radiológica da metalose é lise óssea em torno do implante, e reação

periosteal intensa, situação observada, nas reduções de fraturas com pinos transfixados,

dependendo do material utilizado.

ALTERAÇÕES DE ORIGEM METABÓLICA E NUTRICIONAL

Anormalidades metabólicas podem ser refletidas nos ossos e provocar graves

alterações. E para que essas alterações tornem-se radiograficamente evidentes,

aproximadamente 50% do cálcio do osso deve estar reduzido. Deve-se suspeitar de causa

metabólica quando ocorrerem alterações em todo o esqueleto e não lesões isoladas.

HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO NUTRICIONAL

Esta enfermidade também chamada de Osteodistrofia Fibrosa, Osteodistrofia

Nutricional, Osteoporose Nutricional, Osteodistrofia Juvenil (no homem e pequenos

animais) e, no equino de Osteomalácea ou “Cavalo da Cara Inchada”.

Page 100: Diagnostico Por Imagem

100

Esta afecção ocorre em animais em crescimento como cães e gatos jovens e

equinos, pelo desequilíbrio na relação cálcio-fósforo, sendo um mecanismo compensatório

para manter a calcemia. Clinicamente os animais parecem bem nutridos apesar de

apresentarem dificuldade de locomoção, defecação e dor à palpação. É comum que cadelas

e gatas recuperadas apresentem distocia na idade adulta em função do estreitamento da

cintura pélvica ocorrida durante o curso da doença quando jovens. No caso dos equinos,

quando estes são desmamados, passam a receber uma quantidade de grãos maior que a

adequada, em contrapartida pouca quantidade de alimento volumoso, iniciando o

desequilíbrio.

Radiograficamente manifesta-se por rarefação óssea generalizada, cortical delgada

e, possivelmente, fratura patológica chamada de fratura em “talo verde”, onde a cortical

óssea dobra, contudo, não há fratura completa (fig. 12.10).

OSTEODISTROFIA IDIOPÁTICA

Ocorre em animais de raças de grande porte na fase de crescimento, associada a

fatores nutricionais.

Nas radiografias das regiões metafisárias de rádio e ulna, observa-se discreto

aumento de opacidade na metáfise (esclerose) e irregularidade de periósteo. A epífise e a

cartilagem epifisária aparecem normais.

Figura 12.10 – Radiografias de um cão jovem demonstrando diminuição generalizada da densidade óssea e

adelgaçamento de cortical presente na osteodistrofia fibrosa. A- Ingestão de corpos estranhos

para suprir carência alimentar. B- Fratura em talo verde (seta).

RAQUITISMO

Afecção não muito frequente na clínica veterinária.

Sua etiologia é discutida, podendo estar associada ao desequilíbrio dos níveis de

vitamina D e Cálcio. A falta de exposição ao sol também pode ser fator determinante no

processo.

Radiograficamente além do “Rosário Raquítico”, observa-se certo grau de

desmineralização óssea e, na extremidade distal do rádio, linha epifisária e metáfises

aumentadas de largura, proporcionando aspecto de cálice invertido.

A B

Page 101: Diagnostico Por Imagem

101

OSTEODISTROFIA HIPERTRÓFICA

Também chamada de Escorbuto Canino, Escorbuto Esquelético, Osteopatia

Metafisária, Displasia Metafisária e Doença de Moeller-Barlow, esta afecção, cuja etiologia

permanece incerta, causa destruição das trabéculas metafisárias de ossos longos de cães de

grande porte com crescimento rápido. Clinicamente os animais afetados apresentam

aumento de volume nas metáfises, principalmente, de rádio, ulna e tíbia, demonstrando dor

à palpação. As lesões são simétricas e bilaterais.

Radiograficamente, aparenta linha fisária dupla, determinada por uma zona

radiolucente irregular paralela à fise (fig. 12.11). Há edema de tecidos moles junto à

metáfise e calcificação justacortical ao redor da metáfise.

Figura 12.11 – A- Osteodistrofia hipertrófica. Linha radiolucente paralela a fise (seta).

B- Fechamento prematuro da epífise da ulna causado por trauma ocasionando

o encurvamento do rádio.

ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS

TUMORES MALIGNOS

OSTEOSSARCOMA

Este é o mais frequente, representando 50% dos tumores ósseos dos caninos e

felinos, atingindo principalmente ossos longos, podendo ocorrer também em ossos do

crânio, vértebras, escápula e costelas. A idade média de aparecimento dos osteossarcomas é

de 7,7 anos. As raças caninas mais atingidas são as de grande porte como pastor alemão,

dinamarquês, são bernardo, boxer, labrador, doberman e collie. Em felinos, os locais de

maior aparecimento da doença são ossos longos, crânio, vértebras e ossos da pelve. Não

tem etiologia definida, embora acredite-se que agentes químicos (salicato de zinco e

berílio), vírus (vírus do sarcoma de Moloney), radiação e implantes metálicos (placas e

pinos intramedulares) possam estimular. Sua evolução é extremamente rápida.

A B

Page 102: Diagnostico Por Imagem

102

As alterações radiográficas mais importantes do osteossarcoma dos ossos longos

são: destruição da cortical óssea, neoformação óssea e possível progressão para os tecidos

moles adjacentes, os quais poderão apresentar calcificação.

As características mais evidentes destes tumores são o “triângulo de Codman” (fig.

12.12) e o efeito “Sunburst”. O triângulo de Codman é uma elevação do periósteo sobre a

neoformação óssea. O efeito “sunburst” é causado pela proliferação óssea com aspecto que

lembra raios de sol ou explosão.

Deve-se levar em consideração que outras lesões como osteomielite, por exemplo,

poderão ser confundidas com tumor, por isto, se faz necessário uma biopsia para

diagnóstico definitivo. Frequentemente se encontra fratura patológica no osso atingido e

metástases nos pulmões que são achados em quase a totalidade dos casos.

CONDROSSARCOMA

É o segundo tumor ósseo mais encontrado nos cães e gatos, ocorrendo em animais

de meia idade, ou seja, 7 - 8 anos. As raças caninas mais afetadas são o pastor alemão e o

boxer, tendo como locais mais comuns a região nasal, costelas, maxilar e ossos da pelve. Já

nos felinos os locais de maior aparecimento são escápula, tíbia e mandíbula.

O exame radiológico revela um tecido tumoral infiltrativo com destruição cortical

irregular e extensão parcialmente mineralizada com os tecidos moles adjacentes.

As metástases ocorrem em aproximadamente 18% dos casos e se localizam nos

pulmões, coração, rins e linfonodos regionais.

Figura 12.12 – A- Neoplasia afetando carpo e rádio. Triângulo de Codman elevando o periósteo (seta) e

efeito Sunburst (explosão óssea). B- Distal de fêmur. C- Proximal de tíbia.

FIBROSSARCOMA

Ocorre geralmente em animais velhos. Aproximadamente 60% destes tumores estão

associados a ossos do crânio (maxila, mandíbula e osso nasal) e 30% ocorrem em ossos

longos.

Ao exame radiográfico, há tumefação dos tecidos moles e provoca reação osteolítica

dos ossos subjacentes. Na maioria dos cães e gatos, a destruição óssea já é intensa na

ocasião do diagnóstico. Metástases são raras. Possui crescimento lento e tem a

A B C

Page 103: Diagnostico Por Imagem

103

característica de invadir os espaços articulares adjacentes.

TUMORES BENIGNOS

OSTEOMA

São achados radiográficos que, geralmente, aparecem no crânio de cães e gatos. A

neoplasia apresenta características de um processo benigno crônico, usualmente

assintomático.

Radiograficamente os osteomas aparecem em forma de uma massa radiopaca

arredondada, esclerótica e de consistência dura de contorno regular, na superfície dos ossos.

Não há reação periosteal nos ossos adjacentes.

ENCONDROMA

O Encondroma é encontrado nas extremidades dos membros dos cães, geralmente,

nos metacarpos e metatarsos. Estes tumores têm a característica de causar expansão da

córtex óssea, tornando esta mais delgada com a evolução do processo. Podem ocorrer

fraturas patológicas.

OSTEOCONDROMA

É um tumor benigno composto de cartilagem e tecido ósseo. Pode ser único ou

múltiplo, quando múltiplo é denominado Osteocondromatose, Exostose Cartilaginosa

Múltipla ou Exostose Hereditária Múltipla. Geralmente aparecem nas extremidades dos

ossos longos e costelas. Sua patofisiologia é incerta e quanto à etiologia, acredita-se estar

ligada a fatores genéticos com transmissão hereditária.

Pode estar ligeiramente associado à intumescência do tecido mole, contudo esta não

é uma característica marcante. Ainda que a lesão seja insignificante, ela pode interferir com

o osso e tecidos moles adjacentes causando claudicação.

Radiograficamente apresenta-se como uma exostose situada na metáfise óssea

perpendicular à córtex. O osteocondroma tem córtex e cavidade medular comunicada com a

cavidade medular do osso no qual se originou.

Page 104: Diagnostico Por Imagem

104

CAPÍTULO XIII

INTRODUÇÃO AO ESTUDO RADIOGRÁFICO DO APARELHO LOCOMOTOR

EQUINO

O estudo radiográfico é um importante instrumento, juntamente com a anamnese e

exame físico, que o médico veterinário dispõe para diagnosticar alterações no aparelho

locomotor de equinos. Este capítulo tem por objetivo descrever o preparo da região a ser

radiografada, os posicionamentos de rotina, anatomia básica e as principais alterações

detectáveis radiograficamente.

As radiografias em projeção lateral da terceira falange e navicular devem ser obtidas

usando um suporte ou bloco de madeira para apoiar o casco, elevando o mesmo do solo. No

caso de projeções dorso-palmar e palmaroproximal-palmarodistal obliquada, um túnel

(caixa de madeira ou acrílico) é utilizado para proteger o chassi.

As radiografias da falange distal e navicular requerem que todo e qualquer

fragmento ou excesso de casco seja aparado. A ferradura deve ser removida, sempre que

possível, sendo o sulco da ranilha limpo e preenchido com material de densidade de tecidos

moles (sabão ou massa de modelar) a fim de evitar imagem radiolucente do ar, sobreposta à

terceira falange. Nas demais regiões do aparelho locomotor, geralmente, a limpeza eficaz

da região é suficiente, sendo necessário, eventualmente, bloqueio anestésico ou sedação.

CAPÍTULO XIV

POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS

Nomenclatura para posicionamentos (fig. 14.1-A e 14.1-B).

Figura 14.1 - Nomenclatura para posicionamentos.

A

Page 105: Diagnostico Por Imagem

105

FALANGE DISTAL

Dorso-palmar

Existem três variações recomendadas da projeção dorso-palmar. Na primeira,

denominada dorsoproximal-palmarodistal obliquada, o casco fica posicionado na vertical,

com a pinça colocada num bloco de madeira com o sulco da ranilha encostado no filme

(fig. 14.2-A). O raio é centrado na coroa do casco perpendicularmente ao filme. Este

posicionamento proporciona boa visualização do corpo, margem da sola e processo palmar

da falange distal. Na segunda, efetua-se a radiografia em projeção dorsopalmar com uma

visualização de cima em relação à coroa, sendo que o animal deverá permanecer em

estação, com a sola sobre o chassi protegido. O raio incidirá com um ângulo

dorsoproximal-palmarodistal de aproximadamente 65º em relação à linha horizontal,

centrado na coroa do casco (fig. 14.2-C). Outra posição é a dorsopalmar que consiste na

colocação da pata sobre um bloco de madeira sendo que o raio é centrado horizontalmente

entre a coroa do casco e superfície da sola, seguindo uma linha traçada entre os bulbos,

garantindo uma posição dorsopalmar correta (fig. 14.2-B).

Figura 14.2 - Variações da projeção dorso-palmar (plantar). A- Dorso-palmar com o casco em pinça.

B- Dorso-palmar com feixe de raios-x na horizontal. C- Dorso-palmar 65ºobliquada.

Palmaroproximal-palmarodistal obliquada

Está indicada para a visualização do processo palmar da terceira falange e osso

navicular, particularmente em suspeita de fratura ou separação da lâmina da parte posterior

do casco. O casco a ser radiografado deverá ficar mais caudal que o contralateral, sobre o

chassi protegido e a ampola é posicionada caudalmente ao membro com o raio centrado

entre os bulbos. O ângulo de incidência do feixe de radiação em relação ao chassi é de 45°

a 70° dependendo da inclinação da quartela e do posicionamento do casco, cuidando para

que o boleto não se sobreponha ao processo palmar da terceira falange (fig. 14.3-B).

Lateromedial

Na projeção lateromedial com a pata sobre um bloco de madeira o feixe principal de

radiação é direcionado na horizontal e centrado na falange distal, próximo à inserção do

tendão flexor profundo perpendicular ao filme (fig. 14.3-A).

As variações do processo extensor ou apófise piramidal, pequenas opacidades

A C B

Page 106: Diagnostico Por Imagem

106

ósseas na porção proximal da terceira falange e, principalmente, rotação de falange distal,

podem ser avaliadas nesta projeção.

Outras projeções

Osteófitos e irregularidades da face dorso-medial e dorso-lateral da falange distal

são melhor vistas em projeções obliquadas flexionadas onde há abertura da articulação

inter-falangeana distal. A extremidade do casco é colocada em bloco com o osso navicular

a fim de que a sola se aproxime da posição vertical, e incide-se o feixe de radiação com

uma projeção 45º dorsolátero-palmaromedial 65º obliquada (fig. 14.3-C) e 45º

mediopálmaro-dorsolateral 65º obliquada.

NAVICULAR

Lateromedial (idem à falange distal)

Dorsopalmar com o casco em pinça (idem à falange distal)

Dorsoproximal 65º-palmarodistal Obliquada (DPr65º-PaDiO) (idem à falange distal)

Palmaroproximal-palmarodistal Obliquada (PaPr-PaDiO) (idem à falange distal)

FALANGE PROXIMAL E MÉDIA

Lateral (idem à falange distal)

Dorsopalmar

Dorsolátero-palmaromedial Obliquada

Dorsomédio-palmarolateral Obliquada

BOLETO (fig. 14.4 e fig. 14.5)

Lateromedial - estendida e flexionada

Dorsopalmar

Dorsolátero-palmaromedial obliquada (DLPMO)

Dorsomédio-palmarolateral obliquada (DMPLO)

Lateroproximal-mediodistal obliquada (LPMDO) ou (MPLDO)

Dorsopalmar 125º obliquada ou skyline (estendida e flexionada)

Figura 14.3 – A- Projeção lateral. B- Palmaroproximal-palmarodistal obliquada (PaPrPaDiO). C- Projeção

45ºdorsolátero-palmaromedial 65º obliquada.

A

Page 107: Diagnostico Por Imagem

107

Figura 14.4 – A- Projeção dorsopalmar. B- Dorsolátero-palmaromedial obliquada (DLPMO).

C- Dorsomédio-palmarolateral obliquada (DMPLO). D- Lateral flexionada.

Figura 14.5 – A- Projeção lateral estendida. B- Dorsopalmar 125º obliquada estendida. C- Flexionada.

D- Lateroproximal-mediodistal obliquada (LPrMDiO).

CARPO (fig. 14.6 e fig. 14.7)

Lateromedial - estendida e flexionada

Dorsopalmar (DP)

Dorsolátero-palmaromedial obliquada (DLPMO)

Dorsomédio-palmarolateral obliquada (DMPLO)

Dorsoproximal-dorsodistal ou skyline (rádio, camada proximal e camada distal)

Figura 14.6 – A- Projeção dorsopalmar. B- Lateral estendida. C- Dorsomédio-palmarolateral obliquada

(DMPLO). D- Dorsolátero-palmaromedial obliquada (DLPMO).

A B C D

A B C D

A B C D

Page 108: Diagnostico Por Imagem

108

Figura 14.7 – A- Projeção lateral flexionada. B- Skyline ou dorsoproximal-dorsodistal obliquada

(DPrDDiO) da extremidade distal do rádio. C- Camada proximal dos ossos do carpo.

D- Camada distal dos ossos do carpo.

TARSO (fig. 14.8)

Lateromedial (lateral)

Dorsoplantar (DP)

Dorsolátero-plantaromedial obliquada (DLPMO)

Dorsomédio-plantarolateral obliquada (DMPLO)

ARTICULAÇÃO ÚMERO-RÁDIO-ULNAR E ESCÁPULO-UMERAL (fig. 14.9)

Médio-lateral

Crânio-caudal (cotovelo)

Craniomedial-caudolateral obliquada (escápulo-umeral)

ARTICULAÇÃO FÊMORO-TÍBIO-PATELAR (FTP) (fig. 14.10 e fig. 14.11)

Projeção lateromedial

Projeção cranioproximal-craniodistal obliquada ou skyline

Projeção caudal 30º lateral-craniomedial obliquada

Projeção caudo-cranial

Figura 14.8 – A- Projeção lateromedial. B- Dorsoplantar. C- Dorsolátero-plantaromédio obliquada

(DLPMO). D- Dorsomédio-plantarolateral obliquada (DMPLO).

A D C B

A B C D

Page 109: Diagnostico Por Imagem

109

Figura 14.9 - Projeção médio-lateral (A), crânio-caudal (B) da articulação úmero-rádio-ulnar e

médio-lateral da articulação escápulo-umeral (C).

Figura 14.10 - Projeção lateromedial (A), caudal 30º lateral-craniomedial obliquada (B) e caudo-cranial

(C). FONTE (B): SCHEBITZ & WILKENS, 2000.

Figura 14.11 - Projeção tangencial (skyline) da articulação FTP em estação (A) e (B) e em

decúbito (C). FONTE (A e C): BUTLER et. al., 2000.

B

B

Page 110: Diagnostico Por Imagem

110

CAPÍTULO XV

ANATOMIA RADIOLÓGICA

FALANGE DISTAL (fig. 15.1)

Figura 15.1 – Anatomia radiológica da falange distal, nas projeções: (A) lateral, (B) dorso-palmar

65ºobliquada, (C) dorso-palmar com o casco em pinça, (D) dorso-palmar com feixe de

raios-x na horizontal. Legenda: falange proximal (a), falange média (b), falange distal (c),

navicular (d), processo palmar da falange distal (e), processo extensor da falange distal

(f), superfície dorsal da falange distal (g), sulco solar (h), margem solar (i) e canais

vasculares (j). FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html

OSSO NAVICULAR (fig. 15.2)

O sesamóide distal também chamado osso navicular, por sua forma ser semelhante a

um navio, localiza-se na face palmar da articulação interfalangeana distal, estando em

contato com as falanges média e distal.

É comum se encontrar uma série de forames nutrícios na borda inferior do osso

navicular, os quais aumentam de tamanho com a idade e aparecem na radiografia como

uma borda bastante irregular.

Page 111: Diagnostico Por Imagem

111

Figura 15.2 – Anatomia radiológica do osso navicular em projeção lateral (A) e dorso-palmar com o

casco em pinça (B). Legenda: cortical flexora (a), medular óssea (b), processo palmar da

falange distal (c), falange média (d), falange distal (e) e processo extensor da falange distal

(f). FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html

FALANGES MÉDIA, PROXIMAL E ARTICULAÇÃO METACARPO-

FALANGIANA OU METATARSO-FALANGIANA (BOLETO) (fig. 15.3)

Os sesamóides proximais têm a face crânio-proximal articulada com os

metacarpianos ou metatarsianos e a face crânio-distal com a falange proximal. Na imagem

radiográfica o sesamóide lateral tem forma triangular, enquanto que o sesamóide medial

possui uma forma mais arredondada.

METACARPO E METATARSO (fig. 15.3)

Didaticamente não se difere metacarpo de metatarso, embora existam diferenças

anatômicas entre estas estruturas.

CARPO (fig. 15.4)

A articulação do carpo é constituída de sete ossos, divididos em duas linhas. A

primeira é proximal e constitui-se dos ossos: carpo radial, localizado medialmente, carpo

intermédio, carpo ulnar, localizado lateralmente, em forma de bico de flauta e carpo

acessório, localizado na face palmar do carpo ulnar e intermédio. A segunda linha é distal e

constitui-se dos ossos: segundo carpiano localizado medialmente, terceiro carpiano e quarto

carpiano localizado caudolateralmente. Em projeção lateral flexionada, o carpo intermédio

localiza-se levemente proximal em relação ao carpo radial.

Page 112: Diagnostico Por Imagem

112

Figura 15.3 – Anatomia radiológica da articulação do boleto em projeção dorsopalmar

(A), lateral estendida (B), lateral flexionada (C) e dorsolátero-

palmaromedial obliquada (DLPMO) (D). Legenda: 3ºmetacarpiano (a),

sesamóide medial (b), sesamóide lateral (c) e falange proximal (d)

FONTE (E e F): http://www.upei.ca/equinelimbs/html .

Page 113: Diagnostico Por Imagem

113

Figura 15.4 – Projeção dorsopalmar (A), lateral (B) e (C) dorsomédio-palmarolateral obliquada. Legenda:

3ºmetacarpiano (a), sesamóide proximal lateral (b), sesamóide proximal medial (c) e

4ºmetacarpiano (d), 2ºmetacarpiano (e), 4ºcarpiano (f), 2ºcarpiano (g) e 3ºcarpiano (h).

FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html

Page 114: Diagnostico Por Imagem

114

Figura 15.4 – Anatomia radiológica do carpo em projeção dorsopalmar (A), (B) Dorsolátero-palmaromedial

obliquada (DLPMO), (C) dorsomédio-palmarolateral obliquada (DMPLO), lateral (D) e lateral

flexionada (E) dorsomédio-palmarolateral obliquada (DMPLO). Legenda: rádio (a), carpo

radial (b), intermédio do carpo (c), carpo ulnar (d), acessório do carpo (e), 2º carpiano (f),

3ºcarpiano (g), 4º carpiano (h), 3º metacarpiano (i), 2º metacarpiano (j) e 4º metacarpiano (k). FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html

Page 115: Diagnostico Por Imagem

115

TARSO (fig. 15.5)

Figura 15.5 – Anatomia radiológica do tarso em projeção dorsoplantar (A), lateral

(B), (C) dorsolátero-plantaromedial obliquada (DLPMO) e (D)

dorsomédio-plantarolateral obliquada (DMPLO). Legenda: tíbia (a),

(b) talus (tarso tibial), (c) calcâneo (tarso fibular), 4ºtarsiano (d),

central do tarso (e), 3ºtarsiano (f), 3ºmetatarsiano (g), 2ºmetatarsiano

(h), 4º metatarsiano (i), maléolo medial (j) e maléolo lateral (k), 1º e

2ºtarsianos (m) e tróclea lateral (n). FONTE:

http://www.upei.ca/equinelimbs/html

Page 116: Diagnostico Por Imagem

116

ARTICULAÇÃO ÚMERO-RÁDIO-ULNAR E ESCÁPULO-UMERAL (fig. 15.6)

Figura 15.6 – Anatomia radiológica, em projeção médio lateral, da articulação úmero-

rádio-ulnar (A) e escápulo-umeral (B). Legenda da articulação úmero-

rádio-ulnar: úmero (a), epicôndilo medial do úmero (b), epicôndilo lateral

do úmero (c), côndilo do úmero (d), olécrano (e), ulna (f), rádio (g).

Legenda da articulação escápulo-umeral: escápula (a), traquéia (b), cabeça

do úmero (c), úmero (d) e tubérculo maior (e). FONTE:

http://www.upei.ca/equinelimbs/html

ARTICULAÇÃO FÊMORO-TÍBIO-PATELAR (fig. 15.7)

Figura 15.7 – Anatomia radiológica em projeção caudo-cranial (A) e lateral (B) da articulação

fêmoro-tíbio-patelar. Legenda: fêmur (a), epicôndilo medial do fêmur (b),

côndilo medial do fêmur (c), côndilo lateral do fêmur (d), eminência

intercondilar medial da tíbia (e), eminência intercondilar lateral da tíbia (f), fossa

intercondilar (g), fíbula (h), tíbia (i), tuberosidade da tíbia (j), patela (k), ápice da

patela (l), base da patela (m) tróclea lateral (n) e tróclea medial (o). FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html

Page 117: Diagnostico Por Imagem

117

CAPÍTULO XVI

ALTERAÇÕES RADIOGRAFICAMENTE VISÍVEIS

CRESCIMENTO ÓSSEO PERIOSTEAL DA MARGEM DORSAL DA

TERCEIRA FALANGE

Esta lesão é vista em projeção lateral e indica tensão crônica no periósteo e resulta

em pequena proliferação periosteal (fig. 16.1-A). As causas podem ser determinadas pela

avaliação da extensão e localização específica da lesão. Reação periosteal focal pode ser

provocada por lesões de tendão, ligamento ou cápsula articular. Lesões antigas que levam a

torções de ligamentos ou tendões e estiramento de cápsula articular resultam em

hemorragias ou efusão estimulando crescimento ósseo.

A uniformidade da margem e a extensão da lesão periosteal podem ser usadas para

determinar a agressividade e cronicidade da lesão.

OSTEÍTE PODAL

Radiograficamente, a osteíte podal (fig. 16.1-B) se caracteriza por presença de

espículas ósseas na borda da falange distal em projeção dorso-palmar, irregularidade difusa

criando um aspecto inacabado com aparência rendada quando vista em projeção lateral ou

65° dorsopróximo-palmarodistal obliquado podendo ser indicativo de lesão crônica ou

breve resposta inflamatória. Outra alteração comum refere-se ao remodelamento da

margem solar da falange distal, podendo ter largura aumentada dos canais vasculares e

desmineralização óssea.

Algumas vezes a osteíte podal apresenta-se inativa, onde há, frequentemente,

pequena alteração na irregularidade fisiológica do contorno da margem da sola. Assim, os

sinais clínicos devem ser usados para determinar se uma margem radiograficamente

irregular é um indicador de doença antiga ou recente.

Figura 16.1- Crescimento ósseo periosteal na parede dorsal da falange distal (A). Osteíte Podal, observar a

irregularidade da superfície solar da falange distal (B).

FONTE (A): http://www.upei.ca/equinelimbs/html .

A B

Page 118: Diagnostico Por Imagem

118

DIMINUIÇÃO DA RADIOPACIDADE DA FALANGE DISTAL

Em uma radiografia os fatores de exposição sempre têm que ser avaliados a fim de

descartá-los como os responsáveis pela densidade diminuída. Uma diminuição difusa da

radiopacidade da terceira falange pode ocorrer por desuso. Raramente o desequilíbrio

cálcio-fósforo causa desmineralização do esqueleto apendicular identificável na radiografia.

AUMENTO DE RADIOPACIDADE SUBCONDRAL

Este achado é indicativo de esclerose, possivelmente causada por início de doença

degenerativa articular (DDA) por instabilidade crônica, trauma prévio, ou conformação

pobre, onde um espaço articular diminuído, osteófitos peri-articulares, e intra-articulares

podem ser vistos em DDA avançada.

DOENÇA DEGENERATIVA ARTICULAR (DDA)

A origem desta afecção pode ser, artrite infecciosa, ferimento punctório, infecção

adjacente (abscesso de tecido mole) via hematógena ou iatrogênica (nos casos de

artrocentese ou terapia intra-articular com corticoides). As alterações ósseas representam

osteomielite, necrose do osso subcondral e estreitamento do espaço articular devido à

destruição da cartilagem. Dentre as características radiológicas de DDA crônica (fig. 16.2-

A) e severa pode-se citar, múltiplos pontos radiolucentes subcondrais, osteófitos,

estreitamento irregular do espaço articular e esclerose óssea.

OSTEÍTE INFECCIOSA

A falange distal não tem cavidade medular e, portanto, a infecção deste osso é

chamada osteíte infecciosa e não osteomielite. A infecção do casco é comum e com pouca

frequência atinge a terceira falange. Quando presente, geralmente, envolve a superfície

solar ou dorsal da falange, podendo causar desmineralização, a qual pode ser evidenciada

por radiolucência e irregularidade na margem, havendo raramente esclerose circundante,

embora neoformação usualmente esteja presente (fig. 16.2B).

Figura 16.2 – Doença degenerativa articular (A), observar crescimentos ósseos (setas).

Osteíte infecciosa (B) da falange distal, observar área de radiolucência na

borda da falange distal (setas).

FONTE (A): http://www.upei.ca/equinelimbs/html.

A B

Page 119: Diagnostico Por Imagem

119

Ferimentos penetrantes através da sola podem resultar em osteíte infecciosa, a qual

inicialmente é vista como uma área radiolucente no osso em projeção dorso-palmar com o

casco em pinça. Às vezes, tratamentos com antibióticos resultam em abscessos com pus

espesso originando-se da terceira falange, causando uma radiolucência bem definida,

parecendo uma lesão cística. A osteíte infecciosa pode ser crônica quando estes ferimentos

penetrantes são profundos na sola, especialmente na junção da linha branca e casco, com

drenagem recorrente localizada na coroa do casco ou superfície solar e está associada a

vários graus de claudicação. Com a progressão da infecção ocorre comprometimento do

suprimento sanguíneo da área podendo ou não apresentar sequestro. As anormalidades

radiográficas podem aparecer quatro semanas após o início da lesão.

CALCIFICAÇÃO DAS CARTILAGENS ALARES (COLATERAIS) DA

FALANGE DISTAL

Ocorre mais comumente em raças pesadas, sendo um achado comum em

radiografias da falange distal de animais adultos. Considera-se presente quando a

ossificação estende-se além da margem proximal do navicular.

Um extenso grau de ossificação pode não ter significado clínico se o animal não

demonstra dor à palpação. Ocorre especialmente em cavalos velhos, de tração e com pata

ampla. A calcificação assimétrica pode indicar aumento de estresse na porção mais

ossificada (fig. 16.3). A aparência do navicular também deve ser avaliada, pois a

ossificação da cartilagem alar pode estar acompanhada de uma lesão degenerativa

significante nesta estrutura.

As projeções lateral (lateromedial) e dorso-palmar devem ser feitas para

diagnosticar com exatidão a extensão da alteração, a qual aparece como protusões ósseas

estendendo-se em direção caudal ao processo palmar da terceira falange. Uma linha

radiolucente dividindo a imagem da cartilagem ossificada, geralmente, indica a junção

entre a periferia do centro de ossificação separado e a porção da cartilagem alar que está

calcificada.

Figura 16.3 – Calcificação das cartilagens complementares da falange distal em

projeção dorso-palmar com o feixe da radiação horizontal

(esquerda) e dorso-palmar com o casco em pinça (direita).

A ossificação completa é raramente vista podendo estender-se proximalmente até a

Page 120: Diagnostico Por Imagem

120

articulação inter-falangeana. Fraturas da cartilagem calcificada ocorrem e causam

claudicação aguda e autocura é passível de ocorrer. Uma resposta dolorosa a uma pressão

digital aplicada na coroa do casco justamente na área onde se suspeita de fratura ajuda a

diferenciar esta de uma calcificação incompleta.

IRREGULARIDADE DO PROCESSO EXTENSOR

Um defeito na base do processo extensor ou fragmentação proximal ao processo

pode indicar fratura, ou ossificação incompleta desta estrutura. Fraturas podem ocorrer

devido a anormalidades de tensão do tendão extensor digital comum ou hiper-extensão da

articulação inter-falangeana distal. Por esta condição poder ser bilateral, são consideradas

causas possíveis, um incompleto desenvolvimento e / ou separação do centro de

ossificação.

A linha formada pela ossificação geralmente é irregular e pode ter alteração de

radiopacidade e estrutura trabecular do osso subjacente. Seu significado deve ser avaliado

como sinal clínico de pouca importância, uma vez que as alterações radiográficas persistem

após a resolução da claudicação. Quando a superfície articular está envolvida, a alteração

passa a ser mais importante, podendo levar a osteoartrite secundária da articulação inter-

falangeana distal.

ROTAÇÃO DA TERCEIRA FALANGE

O desvio da terceira falange é comum na ocorrência de laminite crônica, sendo que

os sinais radiográficos de laminite têm sido descritos quando um aumento na espessura do

tecido mole dorsal à falange distal é visto em projeção lateromedial.

A rotação da terceira falange resulta na perda do paralelismo entre a falange distal e

a parede do casco, a ponto de aproximar o osso à sola do casco ocorrendo, à vezes,

perfuração da mesma (fig. 16.4).

Um variável número de causas tem sido proposto, como vasoconstrição das veias

digitais, microtrombose, edema perivascular e shunt arteriovenoso da coroa do casco. A

origem mecânica pode variar conforme a causa inicial e tempo de duração dos estágios

agudos. O resultado da isquemia e necrose da lâmina do casco leva à perda do suporte da

superfície dorsal da terceira falange, que com a perda da junção laminar, o peso do animal

age como alavanca forçando o deslocamento do osso que também é puxado pelo tendão

flexor digital profundo combinado à força mecânica proveniente da parede do casco,

causando rotação.

Figura 16.4 – Linha da superfície dorsal da muralha do casco (1) paralela com

linha da superfície dorsal da terceira falange (2) sem rotação em A

e com rotação, sem paralelismo das linhas em B.

FONTE : http://www.upei.ca/equinelimbs/html .

Page 121: Diagnostico Por Imagem

121

A laminite caracteriza-se pelas seguintes alterações radiográficas na terceira

falange: desvio palmar/plantar, superfície solar irregular, aumento do número de canais

vasculares direcionados à superfície dorsal, fratura patológica, remodelamento da falange

distal e aparência alongada e elevada da falange distal. O grau de rotação tem sido usado

para fornecer um prognóstico para animais com laminite.

Com o progresso da lesão pode aparecer uma leve linha radiolucente entre a falange

e a parede do casco, inicialmente representando uma secreção serosa colecionada entre a

derme e lâmina epidérmica, a qual é vista em radiografias de alta qualidade. Com o passar

do tempo esta área torna-se mais radiolucente dando uma aparência de gás na região. O

aumento do tamanho desta linha indica a progressão da rotação ou necrose laminar. Com a

extensão desta para a sola pode se estabelecer um ponto de contaminação causando osteíte

infecciosa.

Quando há suspeita de rotação progressiva, deve-se realizar radiografias com

intervalos regulares para monitorar este progresso, pois quanto mais marcante for a rotação,

mais rápido for o progresso, pior será o prognóstico e dificilmente o animal retornará à sua

função atlética.

NEOPLASIA

O queratoma é o tipo mais comum de neoplasia benigna encontrado na terceira

falange, visto em projeção dorso-palmar com o casco em pinça ou projeção dorso-palmar

obliquada. É geralmente encontrada na margem solar do osso, aparecendo como uma

chanfradura semicircular, com contorno uniforme e dificilmente há neoformações ósseas

associadas. A crena não deve ser confundida com este tipo de lesão.

Este tipo de neoplasia pode ocorrer em qualquer porção do casco, causando

deformação da parede, sola e linha branca. Pode provocar claudicação quando for ampla e

às vezes está associada a infecções secundárias. Outras neoplasias (fig. 16.5-A e 16.5-B)

podem aparecer, mas são raras, como os neurofibromas, fibrossarcomas. As lesões por

queratomas podem reaparecer após vários anos.

Figura 16.5 – Lesão neoplásica benigna (setas) (A) e maligna (B).

FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html .

SÍNDROME NAVICULAR

Também chamada de “Doença do Navicular”, esta alteração possui patofisiologia

multifatorial, causando claudicação e dor. Se inicia, geralmente, com claudicação

A B

Page 122: Diagnostico Por Imagem

122

intermitente bilateral nos membros anteriores, podendo ocorrer ocasionalmente em

membros posteriores. Possui desenvolvimento progressivo e crônico, causando alterações

na superfície flexora fibrocartilaginosa, no tendão flexor digital profundo, na bursa do

navicular, bem como inserção de ligamentos e cápsula articular.

Não há sinal clínico patognomônico ou teste específico para o diagnóstico, sendo

este realizado através das características do passo do animal, localização da dor e sinais

radiográficos de alterações do osso navicular, bem como eliminação de outras causas de

claudicação.

Dentre os principais sinais radiográficos encontrados na síndrome navicular estão:

osteófitos nas bordas lateral e medial do osso navicular (fig. 16.6-a), alteração nas

invaginações da borda distal (fig. 16.6-b1), irregularidades na borda proximal (fig. 16.6-

b2), formações císticas (fig. 16.6-c1) e esclerose na medular do osso navicular (fig. 16.6-

c2). Podem ainda aparecer pequenos fragmentos ósseos na borda distal, erosões no córtex

flexor e mineralização do tendão flexor digital profundo.

Figura 16.6 – Representação esquemática das principais alterações encontradas na síndrome navicular.

FONTE: DOUGLAS & WILLIAMSON, 1975.

O exame contrastado da bursa do navicular, denominado bursografia, pode ser

utilizado para confirmação das lesões evidenciadas no exame simples, bem como,

demonstrar outras lesões antes não percebidas.

LUXAÇÃO DE PATELA

Anormalidades congênitas são raras na articulação femoro-tíbio-patelar, porém a

mais comum é a luxação, a qual também é chamada de patela ectópica. As patelas podem

ser palpadas em um posicionamento lateral anormal, caudal à borda anterior da tróclea

lateral. A confirmação do diagnóstico é através de radiografias caudocraniais e

craniopróximo-craniodistal obliquada (skyline), as quais permitem visualizar a patela em

posição anormal, ou seja, caudolateral à borda anterior da tróclea lateral e não no local

normal que é o sulco troclear.

A luxação lateral de patela em potros é considerada uma herança genética causada

por um gene recessivo. Em adultos a luxação é provavelmente de origem traumática. Em

função de a tróclea medial ser maior, apenas um trauma severo poderá induzir o

deslocamento medial. Também é causa de luxação a hipoplasia da tróclea lateral, em potros

com conformação aparentemente normal. Esta afecção é mais comumente vista em raças

miniatura, mas tem sido relatado em raças puro sangue e árabes.

Classificação da luxação patelar:

Grau 1: a patela pode ser manualmente luxada e facilmente reduzida;

Grau 2: a patela geralmente está no sulco troclear, mas é luxada intermitentemente;

Grau 3: a patela geralmente está luxada, mas poderá ser reduzida manualmente;

Page 123: Diagnostico Por Imagem

123

Grau 4: a patela estará luxada e não poderá ser manualmente reduzida.

Radiografias pré-operatórias devem ser feitas para avaliar o grau de DDA.

FRAGMENTAÇÃO DA PATELA

Esta alteração é geralmente associada à fixação muito proximal da patela,

manifestada por fragmentação da cartilagem e ápice ósseo da patela. Não pode ser

confundido com condromalácea da patela. Graus variáveis de claudicação são evidenciados

sendo que movimentos de flexão pioram os sinais. Radiograficamente estão presentes

pequenos fragmentos ósseos no ápice da patela, muitas vezes combinado com lise do osso

subcondral e tornando-se irregular ou com osteófitos na superfície cranial do ápice da

patela.

Uma causa potencial destas alterações é a instabilidade e estresse na porção distal da

patela causada por desmotomia medial.

OSTEOCONDROSE (CISTOS ÓSSEOS)

A osteocondrose (fig. 16.7) é uma desordem relativamente comum no animal

jovem. Há falência na maturação da cartilagem, onde a substituição de tecido cartilaginoso

por tecido ósseo não é completa. Por ser frequentemente bilateral, deve ser feito exame

radiográfico do membro contralateral. É um achado acidental em cavalos velhos.

Cistos ósseos podem ocorrer em vários locais, do aparelho locomotor equino, não

sendo detectados radiograficamente quando houver pequeno grau de alteração subcondral.

Projeções obliquadas são importantes para a avaliação destas lesões. Um ligeiro

achatamento da face anterior da tróclea lateral não precisa ser acompanhado de indício

clínico, e é ocasionalmente visto com esclerose do osso subcortical. Quando se apresenta

mais afastado da superfície articular radiolucente se caracteriza como uma área circular ou

ovalada de densidade radiolucente e contorno regular que muitas vezes é cercada por uma

borda radiopaca ou esclerótica.

Figura 16.7 – Osteocondrose na face dorso-medial da falange proximal

A osteocondrose por ter sua borda espessa e arquitetura cística, deve ser distinguida

de outras lesões que causam radiolucência circunscrita no corpo da falange, como a necrose

da cortical óssea, sequestro e defeito congênito.

Page 124: Diagnostico Por Imagem

124

RUPTURA DE LIGAMENTO CRUZADO

As lesões no ligamento cruzado cranial ocorrem quando há hiperextensão ou

rotação súbita com o membro flexionado. O trauma direto na articulação ou alteração

degenerativa no ligamento são alterações que podem ocorrer nos equinos. As lesões do

ligamento cruzado cranial são mais comuns que do ligamento cruzado caudal. Dentre as

alterações radiográficas estão as fraturas da eminência intercondilar da tíbia, neoformação

óssea cranial à eminência intercondilar, reabsorção ou fragmentação óssea na inserção dos

ligamentos cruzados no fêmur, deslocamento cranial da tíbia com a ruptura do ligamento

cruzado cranial e osteoartrite ou mineralização do ligamento associada a lesões crônicas.

Uma discreta radiopacidade cranial e proximal ao local de inserção pode indicar

lesão do ligamento, o qual é visto em projeção lateromedial, mas o melhor posicionamento

é o lateromedial flexionado.

CALCINOSE CIRCUNSCRITA

A calcinose circunscrita ou calcinose tumoral pode aparecer como um nódulo duro,

localizado aleatoriamente. Sem etiologia definida os animais afetados geralmente não

claudicam.

Radiografias evidenciam a lesão como uma massa de contorno distinto no tecido

mole, de opacidade irregular com pequenos grânulos amorfos de radiopacos. A claudicação

pode estar presente ou não.

OSTEÍTE

A osteíte é uma reação inflamatória do córtex ósseo, com envolvimento do

periósteo, sem alterar a medular. Periostite e exostose são características de osteíte.

Didaticamente denomina-se de osteíte quando um processo inflamatório determina grande

reação óssea.

PERIOSTITE E EXOSTOSE

A periostite é uma reação do periósteo, de origem inflamatória, geralmente

ocasionada por trauma direto, porém, pode ocorrer em outras situações, como

osteomielites, lesões em ligamentos adjacentes, neoplasias e consolidação de fraturas. As

reações periosteais podem ser classificadas como periostite laminar (fig. 16.8-a) e

periostite irregular (fig. 16.8-b e 16.9-A). Na maioria das vezes apresenta forma discreta

com tamanho pequeno, sendo demonstrada na radiografia como uma pequena área

irregular, laminar ou lisa de densidade radiopaca. A exostose pode ser lisa (fig. 16.8-c e

16.9-B) ou irregular do tipo Sunburst (fig. 16.9-d). Quando lisa dificilmente tem ruptura de

periósteo, frequentemente encontrada em metacarpianos e / ou metatarsianos, associada a

traumas ou defeitos de aprumos, é também denominada de sobreosso. Na periostite

irregular há ruptura de periósteo, existindo a possibilidade de ser proliferativa e tomar

proporções que pode atingir estruturas adjacentes como ligamentos e tendões. A reação tipo

Sunburst geralmente é exuberante e sua aparência radiográfica se assemelha à imagem de

uma explosão.

A exostose é uma reação periosteal exuberante, também tem origem inflamatória e

difere da periostite apenas pelo seu grau de desenvolvimento.

Page 125: Diagnostico Por Imagem

125

Figura 16.8 – Representação esquemáticas dos tipos de reação periosteal. FONTE: OWENS, 1982.

Figura 16.9 – Imagem radiográfica de periostite em metacarpiano acessório (A), porção distal de terceiro

metacarpiano (B) e exostose em face palmar de falange proximal (C).

ARTRITE

A causa mais comum em potros é pela via umbilical, nas onfaloflebites. Já em

animais adultos pode ocorrer por traumas perfurantes ou infiltrações articulares sem os

devidos cuidados de assepsia.

A imagem radiográfica de artrite consiste em irregularidade de superfícies

articulares, acompanhada, em geral, de edema e calor (fig. 16.10-A).

OSTEOMIELITE

Este termo se aplica aos processos inflamatórios e ou infecciosos, que envolvem a

cortical e a medular, podendo ser causados por traumas, fraturas expostas, feridas

punctórias, cirúrgicas, ou via hematógena. A osteomielite pode ser supurativa ou não,

dependendo da via de infecção e do agente. Os locais mais comuns são os ossos longos,

tarso, carpo, cabeça e mandíbula.

Radiograficamente caracteriza-se por perda da trabeculação e padrão ósseo, áreas de

lise e destruição óssea, diminuição da densidade, neoformações ósseas, sequestro e

esclerose nas bordas.

A B C

Page 126: Diagnostico Por Imagem

126

EPIFISITE OU FISITE

Também denominada Displasia Fisária, refere-se a alterações na linha epifisária ou

placa de crescimento e pode ter origem inflamatória, metabólica, traumática ou, ainda,

infecciosa. Geralmente ocorre em animais jovens em preparo para competição, sendo o

local mais comum a epífise distal do rádio. Apresenta-se na radiografia como uma fise

ampla, irregular com bordas escleróticas. Em alguns casos podem ser evidenciados

osteófitos, nas extremidades da linha epifisária (fig. 16.10-B).

Figura 16.10 – Imagem radiográfica de artrite na articulação matecarpofalangeana (A) e

epifisite distal de rádio (B).

SESAMOIDITE

Esta afecção é evidenciada, com maior clareza de detalhes, em projeções

obliquadas, DLPMO ou DMPLO. Geralmente está associada a alterações degenerativas no

ligamento suspensório e remodelamento de fraturas distais do 2º metacarpiano e 4º

metatarsiano, podendo haver lesão em um ou ambos os sesamóides de uma ou mais

articulações.

Os sinais clínicos e radiológicos não são proporcionais, ou seja, a gravidade do sinal

clínico não corresponde ao grau de severidade do radiográfico. Sinais de doença

degenerativa articular podem estar presentes na forma de osteófitos.

Radiograficamente é demonstrada por alteração da densidade óssea na superfície

não articular proximal dos sesamóides. Estas alterações com densidade radiolucente podem

ser lineares ou císticas, sendo classificadas em três tipos (fig. 16.11) de acordo com a forma

na imagem: na sesamoidite do tipo I as lesões são lineares em número de 1-2 e com largura

menor ou igual a 1mm; na do tipo II as lesões são em número de três ou mais também com

amplitude menor ou igual a 1mm; na sesamoidite do tipo III as lesões têm largura maior do

que 1mm ou apresentam forma cística e irregular.

A B

Page 127: Diagnostico Por Imagem

127

Figura 16.11 – Sesamoidite tipo I (A), tipo II (B) e tipo III (C).

FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html.

HIGROMA DO CARPO

O higroma é uma formação sinovial, também chamada de bursite, localizada na face

dorsal do carpo, resultante de pequenos traumas os quais levam ao desenvolvimento de uma

bolsa com líquido sinovial em seu interior. O aumento de volume e calor local são os

principais sinais clínicos, podendo ocorrer dor e claudicação.

O diagnóstico é feito com radiografias em projeção lateral estendida e flexionada,

onde se evidencia um aumento de volume com densidade água, sem envolvimento ósseo. A

injeção de meio de contraste positivo, à base de iodo, confirma o diagnóstico e descarta

outras alterações articulares, como a formação de massas, por exemplo.

CARPITE

Também chamada de Artrite Traumática do Carpo, esta afecção é uma resposta

inflamatória, aguda ou crônica, na articulação do carpo. Geralmente, compromete a cápsula

articular, ligamentos colaterais e ossos que compõem a articulação. A etiologia mais

comum é o trauma direto na região da articulação, sendo que os animais de salto e corrida

são os mais atingidos. Dentre os sinais clínicos geralmente encontrados estão a dor,

claudicação, aumento de volume e calor na região.

O diagnóstico radiológico pode ser confirmado através de radiografias em projeção

lateral estendida e flexionada, dorsopalmar, DLPMO e DMPLO.

Radiograficamente, nos estágios iniciais, a carpite se apresenta como uma artrite

serosa, com pequena reação periosteal e aumento de densidade radiológica articular. Com

a evolução do quadro desenvolve-se uma osteoartrite severa com maior aumento de volume

e aumento de densidade radiológica, osteófitos, exostoses, além de neoformações ósseas

fora das superfícies articulares como locais de inserção de ligamentos e cápsula articular,

sinais estes característicos de doença degenerativa articular. É comum encontrar fratura

dos ossos carpo radial e terceiro carpiano.

SINOVITE VILONODULAR

A sinovite vilonodular (fig. 16.12-B e 16.12-C) é um processo proliferativo crônico

da cápsula sinovial, que geralmente ocorre nos membros anteriores, onde os principais

sinais clínicos são dor à palpação, claudicação e aumento do volume da articulação,

aumento este caracterizado por ser firme e não flutuante. A demonstração radiográfica se dá

em projeção lateral e a confirmação é feita através de artrografia com meio de contraste

A B C

Page 128: Diagnostico Por Imagem

128

positivo, pela injeção de composto orgânico.

Na radiografia evidencia-se grau médio a severo de erosão da porção dorsal distal

do 3ºmetacarpiano ou metatarsiano, imediatamente após local de inserção da porção

proximal da cápsula articular, o qual se forma devido à necrose que ocorre em função da

pressão exercida pela massa vilonodular (seta). Em alguns casos pode se observar

mineralização da inserção na porção proximal da cápsula articular.

Com a artrografia se visualiza uma área radiolucente na porção interna dorsal do

espaço articular que corresponde à massa vilonodular que ocupa espaço e é quase

totalmente circundada pelo meio de contraste (setas). Estas massas podem aparecer em

outros locais do espaço articular, dependendo do grau de desenvolvimento da afecção.

Figura 16.12 – Equino: Imagem radiográfica da articulação sem alteração (A), sinovite vilonodular em exame

simples (B) e com artrografia (C). FONTE:http://www.upei.ca/equinelimbs/html.

FRATURAS

As fraturas no aparelho locomotor dos equinos advêm de acidentes em competições,

trabalho no campo e traumas nas mais diversas situações. Podem ocorrer em qualquer

estrutura óssea e ter as mais diferentes conformações (fig. 16.13-A a 16.13-G). Quanto

mais grave for a fratura e / ou quanto mais importante for a região fraturada, menos

favorável será o prognóstico.

Radiograficamente as fraturas se apresentam como linhas radiolucentes na estrutura

óssea radiografada.

FRATURA DE PATELA

A patela é o maior sesamóide do corpo, sendo uma porção vital para o grupo

muscular quadríceps, pois sua inserção é feita na face proximal da patela além de agir como

alavanca para extensão da articulação, já que sua porção distal está conectada à

tuberosidade da tíbia.

As fraturas de patela são incomuns e geralmente são resultados do trauma direto do

membro flexionado, no chute ou coice ou ainda no momento do salto. Quando o trauma

direto ocorre, o mais comum é que a fratura seja sagital no aspecto medial da patela, em

função de que a tróclea medial é mais proeminente que a lateral. Fraturas cominutivas e

transversas também podem ocorrer. Os sinais clínicos mais comuns são edema de tecidos

A B C

Page 129: Diagnostico Por Imagem

129

moles, efusão articular e graus variados de claudicação. Os animais podem caminhar

apenas com o outro membro, mantendo a articulação flexionada.

Radiograficamente a avaliação deve incluir projeções caudo-cranial, lateromedial,

lateral flexionada, e skyline. Estas projeções são importantes na avaliação das fraturas

cominutivas, transversas e sagitais.

FRATURA DA EMINÊNCIA INTERCONDILAR DA TÍBIA

A eminência intercondilar medial da tíbia é mais larga e pontiaguda que a lateral.

Estas fraturas são descritas como fraturas por avulsão da inserção do ligamento

cruzado cranial. Por mais que a inserção do ligamento cruzado cranial seja cranial à

eminência, não existe probabilidade de avulsão. Estas fraturas podem ocorrer em função de

trauma no côndilo medial do fêmur e eminência intercondilar.

O diagnóstico é confirmado pelas radiografias em projeções caudo-cranial e lateral

flexionada, onde se evidenciam fragmentos ósseos de vários tamanhos no interior do

espaço articular.

FRATURA E FRAGMENTAÇÃO DA FACE ANTERIOR DAS TRÓCLEAS E

CÔNDILOS FEMORAIS

Esta lesão geralmente é resultado de traumas externos diretos, como saltos que

acertam as cercas, feridas punctórias ou coices. Há claudicação súbita moderada a severa,

com história de trauma agudo, efusão articular, crepitação e dor na flexão. Fragmentos da

articulação fêmoro-patelar são mais comumente vistos na porção distal da tróclea lateral em

projeção lateral ou lateral flexionada. A projeção caudo-cranial é importante para

identificar o posicionamento dos fragmentos, e a skyline é necessária para avaliar a

presença de fraturas de patela.

Fraturas da face caudal dos côndilos do fêmur podem ser demonstradas em projeção

lateromedial obliquada e, geralmente, ocorrem com outras lesões da articulação, tendo seu

prognóstico reservado. Deve-se ter cuidado para não confundir a fabela com fraturas, já que

esta estrutura, quando presente, localiza-se nesta região.

FRATURA DA TUBEROSIDADE DA TÍBIA

A tuberosidade da tíbia é uma estrutura relativamente exposta e suscetível à fratura

por trauma direto, por coice ou colisão com cercas. Estas fraturas não parecem estar

associadas com a placa de crescimento da tuberosidade da tíbia ou com avulsões da

inserção de ligamentos patelares, embora os ligamentos patelares quase sempre estejam

envolvidos. Ocorre uma variedade de configurações desta fratura, com pequenos

fragmentos na face cranial proximal a grandes fraturas estendendo-se distal à crista da tíbia

a proximalmente na articulação fêmoro-tibial.

As fraturas por avulsão da tuberosidade da tíbia são melhor vistas em projeção

caudolateral-craniomedial obliquada. Deve-se ter cuidado, em cavalos com menos de três

anos de idade, para não confundir fraturas com a linha de crescimento.

FRATURA DE FÍBULA

As fraturas da fíbula podem causar claudicação de elevação. Deve-se cuidar para

não interpretar as linhas radiolucentes normais da fíbula como fraturas. Linhas de fratura

tendem a correr obliquamente de um lado a outro na fíbula.

Page 130: Diagnostico Por Imagem

130

Estas fraturas são causadas por trauma direto, o animal apresenta claudicação

moderada a severa e o diagnóstico é feito radiograficamente com projeção caudo-cranial,

que é a mais usada.

Figura 16.13 – Fratura de terceira falange (A e B), primeira falange (C), sesamóides proximais (D), terceiro

metacarpiano (E), tíbia (F) e úmero(G). FONTE: http://www.upei.ca/equinelimbs/html.

FRATURA DE TERCEIRA FALANGE

As fraturas do corpo e processo palmar podem ser de difícil visualização nas

radiografias, mas sete a dez dias após, em função da rarefação que ocorre na linha de

fratura, sua identificação é possível. São melhor visualizadas em projeção dorso-palmar

com o casco em pinça, embora as fraturas do processo palmar possam primeiro ser

identificadas em projeção lateral. Quando se suspeita de uma fratura, pode ser necessário

um número maior de projeções obliquas, a fim de que se possa visualizar claramente uma

ou mais linhas. Uma fratura de processo palmar, por exemplo, pode requerer uma projeção

médio-lateral, látero-medial e palmaroproximal-palmarodistal obliquada para ser

demonstrada. A linha de fratura é melhor vista quando o feixe de radiação é direcionado em

linha com o plano da mesma. Pela comparação cuidadosa das projeções oblíquas

ligeiramente diferentes é possível estabelecer se a fratura é simples ou cominutiva.

Clinicamente este tipo de lesão na falange distal causa claudicação aguda com dor, pressão

e choque do casco.

Uma fratura no processo extensor é melhor evidenciada na projeção lateral, onde

um pequeno fragmento radiopaco próximo ao processo extensor pode representar uma

Page 131: Diagnostico Por Imagem

131

lesão recente, uma fratura antiga, uma separação do centro de ossificação ou uma

mineralização distrófica dentro do tendão extensor, podendo não ter significado clínico.

As fraturas são classificadas em sete tipos (fig. 16.14) em função da configuração

que apresentam, não articulares do processo palmar (tipo I), oblíquas articulares

estendendo-se da linha média à lateral na margem solar medial (tipo II), médio-sagitais

envolvendo ou não a articulação (tipo III), do processo extensor (tipo IV), cominutivas

(tipo V) e da margem da sola (tipo VI). Existe ainda um outro tipo de fratura (tipo VII), que

consistem, em ser não articulares, do processo palmar diferindo do tipo I, pois elas se

originam e terminam na margem da sola, enquanto as do tipo I são transversas e completas

no processo palmar. As fraturas tipo IV podem ser articulares e as do tipo V podem ser

secundárias à osteíte infecciosa e sequestro, podendo ter apresentação e prognóstico

variável.

Figura 16.14 – Esquemas representando os tipos de fraturas da falange distal. FONTE:

BUTLER et. al. 2003.

Fraturas cominutivas da terceira falange não são comuns, mas aparecem

ocasionalmente. Muitas projeções radiográficas podem ser requeridas para se estabelecer,

com precisão, a configuração da fratura e determinar a possibilidade de envolvimento

articular, o que resulta em prognóstico muito reservado. Uma lesão penetrante no casco

pode resultar em fratura de qualquer tipo.

ESPARAVÃO ÓSSEO

Denomina-se esparavão ósseo (fig. 16.15) a afecção que causa uma osteoartrite

progressiva, com periostite e exostose, nas articulações intertarsiana distal e

tarsometatarsiana, comumente resultando em anquilose. Os sinais clínicos mais comuns

são dor e claudicação, podendo também ser evidenciado aumento de volume local.

As causas mais comuns são traumatismos, distúrbios nutricionais, animais com

problemas de desenvolvimento e ainda estresse articular devido ao treinamento precoce ou

muito rigoroso. As alterações de conformação e animais com “jarrete de vaca”, indicam

etiologia hereditária, contudo, não há consenso a respeito da etiologia.

A confirmação do diagnóstico é realizada através de radiografias em projeções:

lateral, dorsopalmar, dorsolátero-palmaromedial obliquada (DLPMO) e dorsomédio-

palmarolateral obliquada (DMPLO). São demonstrados osteófitos e ou exostose,

Page 132: Diagnostico Por Imagem

132

localizadas geralmente na face medial da extremidade proximal do terceiro metatarsiano e a

face medial do terceiro tarsiano e central do tarso. Em casos mais graves poderá ser

evidenciada anquilose destas articulações.

Figura 16.15 – Imagem radiográfica de osteoartrite de tarso em três diferentes graus de lesão. FONTE:

http://www.upei.ca/equinelimbs/html.

Page 133: Diagnostico Por Imagem

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