DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL DO ENTORNO DO CEMITÉRIO MUNICIPAL DE OURINHOS-SP

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A localização de necrópoles em meios urbanos e em áreas de mananciais, representa um risco de contaminação da água e do solo pelo necrochorume, o que pode comprometer a saúde das pessoas que venham a utilizar desses recursos. O cemitério municipal de Ourinhos-SP está localizado em área de intensa urbanização, numa vertente com grande declividade. No sopé dessa vertente existe um corpo hídrico, córrego Christoni, que deveria ser área de preservação permanente mas encontra-se ocupado indevidamente. Inserido nesse contexto, o trabalho apresentado objetiva fazer um diagnóstico sócioambiental da área do cemitério de Ourinhos-SP. Para tanto, foram feitas análises físicas, químicas e bacteriológicas da água do referido córrego e do solo, além do questionário que foi aplicado na população do entorno. As análises de água mostraram que o cemitério não é a principal fonte de contaminação do córrego; as análises físicas do solo indicaram o predomínio de textura argilosa: alta capacidade de retenção de umidade, contribuindo para sobrevivência de microorganismos; as análises microbiológicas do solo indicaram a presença da bactéria E.coli, oriunda do necrochorume; o questionário socioeconômico identificou que a população residente no entorno do cemitério é de baixa renda e baixo nível de escolaridade; existe problema com insetos, predominantemente baratas.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS EXPERIMENTAL DE OURINHOS

VITOR MORAES RIBEIRO

DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL DO ENTORNO DO CEMITRIO MUNICIPAL DE OURINHOS-SP

Trabalho de Concluso de Curso apresentado Comisso de Avaliao de TCC do Curso de Graduao em Geografia Bacharelado, do Campus Experimental de Ourinhos UNESP, como parte das exigncias para o cumprimento da disciplina Estgio Supervisionado e Trabalho de Graduao no 1 semestre letivo de 2009.

ORIENTADORA: MARIA CRISTINA PERUSI

Ourinhos (SP) / 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS EXPERIMENTAL DE OURINHOS

VITOR MORAES RIBEIRO

DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL DO ENTORNO DO CEMITRIO MUNICIPAL DE OURINHOS-SP

Trabalho de Concluso de Curso apresentado Comisso de Avaliao de TCC do Curso de Graduao em Geografia Bacharelado, do Campus Experimental de Ourinhos UNESP, como parte das exigncias para o cumprimento da disciplina Estgio Supervisionado e Trabalho de Graduao no 1 semestre letivo de 2009, sob orientao do Prof. Dr. Maria Cristina Perusi

ORIENTADORA: MARIA CRISTINA PERUSI

Ourinhos (SP) / 2009

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A minha famlia, meu pai, minha me, meu irmo e minha namorada.

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Agradecimentos Profa. Maria Cristina Perusi, responsvel por orientar este rduo trabalho. Sou-lhe imensamente grato por toda pacincia e otimismo que teve desde o inicio dos trabalhos e toda confiana que depositou em mim, sem ela talvez no fosse nem possvel a concluso do curso; Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), que financiou este projeto e que deu origem ao trabalho de concluso de curso; Aos tcnicos do laboratrio de Geomorfologia, Geologia, Pedologia Eliete e Jakson pelo trabalho na separao dos equipamentos e anlises das amostras. diretoria da UNESP/Ourinhos que confiou no trabalho e disponibilizou recursos para anlises das amostras; Aos meus colegas de repblica, Gustavo, Rafael e Wellinginton pelas idias e as valiosas sugestes nos trabalhos; Ao meu amigo Ernesto por todo o trabalho nas coletas das amostras e sugestes nos procedimentos dos trabalhos e o companheirismo em todo o decorrer do trabalho garantindo a sua finalizao; Ao meu amigo Joelson (Feijo), pela fora no manuseio do trado e no tempo disponibilizado para ajuda nas coletas das amostras; Aos amigos Weslei, Antonio Guilherme (Bixo Mineiro) e Andr (Shrek) pela ajuda na aplicao do questionrio e coleta nas amostras, disponibilizando seus valiosos tempos; Aos meus pais, Ronaldo e Terezinha, irmo Rafael e namorada Mariana, que tanto amo e que me ajudaram nos momentos difceis e toleraram a minha ausncia.

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Banca examinadora

Maria Cristina Perusi _____________________________________________________ Assinatura

Luciene Cristina Risso

_____________________________________________________ Assinatura

Rodrigo Lilla Manzione

_____________________________________________________ Assinatura

Ourinhos,

de

de 2009.

5SUMRIO RESUMO............................................................................................................................... ABSTRACT........................................................................................................................... 1 2 INTRODUO..................................................................................................................... Pg 8 8 9

OBJETIVOS........................................................................................................................... 12 2.1 Objetivos Especficos................................................................................................... 12

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JUSTIFICATIVAS................................................................................................................. 13 3.1 Os cemitrios e o meio ambiente.................................................................................. 13 3.2 3.3 3.1.2 Cemitrios e as legislaes................................................................................ 14 Poluio das guas por nitrato, bactrias heterotrficas e coliformes: caso de sade pblica........................................................................................................................... 16 Solos.............................................................................................................................. 17 3.3.1 Relao das caractersticas do solo com o tempo de sobrevivncia dos microrganismos e o transporte de nitrato e microrganismos para as guas 19 subterrneas....................................................................................................... 26 26 26 31 33 38 40 41

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MATERIAL E MTODOS................................................................................................... 4.1 Material......................................................................................................................... 4.1.1 Localizao e aspectos gerais do municpio de Ourinhos................................. 4.1.2 Localizao e caracterizao do cemitrio do municpio de Ourinhos-SP....... 4.1.3 Urbanizao e o cemitrio de Ourinhos-SP....................................................... 4.1.4 O Plano Diretor de Ourinhos e o cemitrio municipal...................................... 4.1.5 Solos do municpio de Ourinhos-SP.................................................................. Mtodos........................................................................................................................ 4.2.1 Procedimentos metodolgicos para coleta e anlise qumica e bacteriolgica da gua do crrego Christoni.............................................................................

4.2

41 4.2.2 Mtodo de coleta de solo para anlise qumica e microbiolgica..................... 43 4.2.3 Mtodos para coleta e anlise fsica do solo..................................................... 45 4.2.4 Mtodos para aplicao do questionrio........................................................... 45 47 47 48 50 53 54 56

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RESULTADOS E DISCUO............................................................................................. 5.1 Anlises qumicas e bacteriolgicas da gua do crrego Christoni............................. 5.2 Anlises fsicas do solo do cemitrio........................................................................... 5.3 Anlises microbiolgicas do solo................................................................................. 5.4 Anlise qumica NO-3 no solo..................................................................................... 5.5 Anlise socioeconmica dos moradores do entorno imediato do cemitrio................ 5.5.1 Convivncia e situao sanitria dos moradores do entorno do cemitrio........

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CONCLUSES...................................................................................................................... 60 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................................... 61 ANEXOS

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ndice de FigurasFigura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Localizao do Municpio de Ourinhos e rea de Estudo...................................... Localizao da bacia do Mdio Paranapanema e subdiviso do Mdio Paranapanema no Estado de So Paulo................................................................... Mortalidade no municpio de Ourinhos-SP no ano de 2004................................... Ocupao irregular na margem esquerda do crrego Christoni. Destaque para tubulao de concreto dentro do crrego Christoni................................................ Foto da rea urbana da cidade de Ourinhos-SP de 1939......................................... Foto area da rea urbana da cidade de Ourinhos-SP de 1972............................... Foto area em 1984 da rea urbana de Ourinhos.................................................... Foto area da rea urbana da cidade de Ourinhos-SP de 2004............................... Localizao do cemitrio municipal de Ourinhos e pontos de amostragem do crrego Christoni..................................................................................................... Frascos plsticos contendo amostras de gua do crrego Christoni....................... Pontos coletados para amostragem do solo para analises qumicas e microbiolgicas....................................................................................................... Coleta de amostra de solo a 50 cm de profundidade...............................................

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28 31 Localizao do Cemitrio Municipal de Ourinhos e bairros adjacentes................. 31 32 35 36 37 38 42 42 43 44

Do lado esquerdo, equipamentos utilizados para a coleta. direita, amostras prontas para serem encaminhadas para o laboratrio.............................................. 44 Pontos de coleta de solo para analise fsica............................................................. 45 Piso retirado para coleta de solo.............................................................................. 52 rea do cemitrio com as quadras das residncias entrevistadas........................... 54 Faixa etria em porcentagem da populao residente no entorno do cemitrio municipal de Ourinhos............................................................................................ Escolaridade da populao do entorno do cemitrio entre 25 a 40 anos de idade..

55 55

Renda econmica por famlia.................................................................................. 56 Pessoas que utilizam ou no o cemitrio como atalho............................................ 57 Respostas dos moradores sobre os problemas sanitrios - se so devido a proximidade com o cemitrio.................................................................................. 59

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ndice de TabelasTabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Tabela 4 Tabela 5 Tabela 6 Tabela 7 Tabela 8 Tabela 9 Tabela 10 Tabela 11 Tabela 12 Tabela 13 Tabela 14 Tabela 15 Tabela 16 Composio do necrochorume............................................................................ Parmetros microbiolgicos de avaliao da qualidade da gua potvel............ Agentes causadores de doenas de veiculao hdrica........................................ Principais grupos de organismos do solo e suas caractersticas.......................... O perodo de sobrevivncia de bactrias no solo................................................. Nmero de bactrias por distncia do tmulo..................................................... Subdiviso da bacia do mdio Paranapanema, rea e porcentagem que ocupa na bacia (UGRHI 17)........................................................................................... 13 16 17 22 23 24 28 46

Vantagens e desvantagem entre questionrios abertos e fechados...................... Resultados das anlises qumicas e bacteriolgicas de gua do crrego Christoni............................................................................................................... 47 Resultado da anlise textural............................................................................... 49 Resultado do pH e umidade................................................................................. Resultado da determinao da densidade do solo, da partcula e da porosidade. Resultado das anlises microbiolgicas do solo.................................................. Resultado de nitrato no solo................................................................................. Freqncia dos moradores no cemitrio.............................................................. Problemas com insetos e odores.......................................................................... 49 50 51 53 56 58

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RESUMO: A localizao de necrpoles em meios urbanos e em reas de mananciais, representa um risco de contaminao da gua e do solo pelo necrochorume, o que pode comprometer a sade das pessoas que venham a utilizar desses recursos. O cemitrio municipal de Ourinhos-SP est localizado em rea de intensa urbanizao, numa vertente com grande declividade. No sop dessa vertente existe um corpo hdrico, crrego Christoni, que deveria ser rea de preservao permanente mas encontra-se ocupado indevidamente. Inserido nesse contexto, o trabalho apresentado objetiva fazer um diagnstico scioambiental da rea do cemitrio de Ourinhos-SP. Para tanto, foram feitas anlises fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua do referido crrego e do solo, alm do questionrio que foi aplicado na populao do entorno. As anlises de gua mostraram que o cemitrio no a principal fonte de contaminao do crrego; as anlises fsicas do solo indicaram o predomnio de textura argilosa: alta capacidade de reteno de umidade, contribuindo para sobrevivncia de microorganismos; as anlises microbiolgicas do solo indicaram a presena da bactria E.coli, oriunda do necrochorume; o questionrio socioeconmico identificou que a populao residente no entorno do cemitrio de baixa renda e baixo nvel de escolaridade; existe problema com insetos, predominantemente baratas. Palavras-chave: cemitrio, solo, gua, anlise socioambiental ABSTRACT: The localization of necropolis in urban surroundings and near water springs represents a contamination risk to the water and soil by the leachate from the corpses decomposition, that can compromise the health of people that use these resources. The city cemetery of Ourinhos is located in an area of intense urbanization, in a hillside of high declivity. At the bottom of this slope exists a water course called Christoni stream that is supposed to be an area of permanent preservation, but is irregularly occupied. In the context, the presented work objects a socio-environmental diagnostic of the Ourinhos cemetery. For so, there were physical, chemical and bacteriological analyses of the water in this stream and soil and a interview with the surrounding population. The water analysis showed that the graveyard is not the main source of contamination in the stream; the physical analysis of the soil indicated the predominance of argillaceous particles; high capacity of humidity retention contributing to the survival of microorganisms; the microbiological analysis of the soil indicated the presence of the E.coli bacteria, originated by the leachate from the corpses decomposition; the interviews showed that the population living in the surroundings has a low income and poor instruction; there was also verified a problem with insects, predominantly cockroaches. Keywords: cemetery, soil, water, analysis, socio-environmental

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1 INTRODUO

Na Europa, o sepultamento sistemtico dos corpos parece remontar 100 mil anos atrs, na pr-histria. Como o homem tinha uma vida nmade, errante, utilizando acampamentos, esconderijos e cavernas, os sepultamentos dos cadveres eram isolados, feitos no solo, no interior das grutas e, muitas vezes, lanados nos rios. A partir de 10 mil anos a.C. apareceram os primeiros cemitrios, quando as sepulturas so agrupadas. Com o cristianismo e a partir do sculo VII da nossa era, os corpos passaram a ser enterrados em igrejas, parquias e hospitais. A palavra cemitrio, com a conotao atual aparece a partir do sculo XVIII, quando os corpos passaram a ser enterrados em reas abertas, afastadas das cidades, os chamados campos-santos (SILVA et al., 2006). Rezende (2006) faz um panorama do que aconteceu na cidade de So Paulo para a transio dos enterramentos das igrejas para os cemitrios. O referido autor ressalva que as pessoas j estavam insatisfeitas com os altos preos cobrados pelas igrejas para o sepultamento. Alm disso, os donos dos escravocratas eram obrigados a pagar o sepultamento dos escravos, se deparando com altas taxas. A justificativa para retirar o direito das igrejas aos sepultamentos, foi o perigo da peste que rondava So Paulo no sculo XIX. Higienistas da poca falavam do perigo de transmisso de doenas como a cefalalgia, que dor de cabea ao entrar em contato com o mal cheiro dos cadveres, e tambm para conter o surto de varola da poca. Segundo Avelino at al. (2008) o Brasil, seguindo uma recomendao em 1801, atravs de uma Carta Rgia, recomendava o sepultamento fora das igrejas. Em 1828, esta recomendao tornou-se lei no Imprio, com uma diferenciao: que os cemitrios estivessem longe da cidade. Os primeiros cemitrios surgiram de doaes de terras que Rezende (2006) caracteriza como uma estratgia para a valorizao da rea que era mascarada como a salvao a alma e que na verdade a inteno seria valorizao do entorno do terreno, trazendo infra-estrutura. A valorizao ocorre atravs de um uso pouco atraente; o cemitrio. Porm, o incremento da regio se realizar com as benfeitorias de que o novo uso necessita (REZENDE, 2006 p. 17). O proprietrio de terras depende do desenvolvimento econmico e social da regio, para agregar valor ao seu bem, j que no possui nenhuma atividade de transformao de matriaprima. Desta forma, os lugares doados ou desapropriados para a construo do cemitrio geralmente esto nas periferias urbanas, comumente em lugares de baixo valor econmico e condies ambientais inadequadas.

10 Atualmente, para controlar a implantao dos cemitrios, existem legislaes como o CONAMA n 368 e normas tcnicas L1.040/99 da CETESB, que fazem referncia apenas aos cuidados com o solo e as guas subterrneas. No se identifica qualquer aluso distncia mnima para loteamentos no seu entorno, deixando de lado os apontamentos feitos pelos higienistas sobre o perigo da populao em proximidade com a decomposio dos corpos e que outrora levara retirada do cemitrio das igrejas. Campolina (2006) fez um georreferenciamento da ocorrncia de acidentes com escorpies em Belo Horizonte, e constatou que a proximidade do cemitrio pode intensificar estes acidentes. Os escorpies costumam habitar o cemitrio devido fartura de baratas que este local atrai, e fazem parte de sua cadeia alimentar. As baratas se alimentam de matria orgnica tendo o cemitrio como fonte rica deste material. Alm disso, os corpos necessitam de uma destinao correta, ou seja, importante que a implantao de cemitrios atenda a condies geolgicas, hidrogeolgicas e geotcnicas do meio, uma vez que o necrochorume, resduo altamente poluente resultante da decomposio dos cadveres, pode contaminar o solo e a gua caso medidas adequadas para implantao dessas necrpoles no sejam atendidas. Pacheco (1986), alertou quanto necessidade de implantao cuidadosa de cemitrios e a fixao de faixas de proteo sanitrias como forma de garantir a preservao das guas subterrneas e o uso potvel das mesmas. Migliorini (1994) encontrou a presena de ons e de produtos nitrogenados nas guas subterrneas do cemitrio de Vila Formosa de So Paulo. Matos (2001) identificou a presena de bactrias e um acrscimo de sais minerais nas guas subterrneas em estudo do cemitrio de Vila Nova Cachoeirinha-SP. Espindula (2004), estudou o cemitrio de Vrzea no municpio de Recife-PE, onde constatou que este pode ser responsvel pela elevada densidade de microrganismos nas guas subterrneas. Dentre os microrganismos presentes nessas guas, sobressaem s bactrias heterotrficas, as bactrias proteolticas e os clostrdios sulfitos-redutores. O autor constatou que a condutividade eltrica da gua prxima a sepultamentos de no mximo um ano, foi mais elevada, o que confirma a presena das referidas bactrias. Desta forma, torna-se necessrio planejar o uso da terra, de compatibilizar esse uso com a proteo de ambientes ameaados e melhorar a qualidade de vida das populaes. necessrio um planejamento que garanta que no futuro, os recursos naturais possam ser usados de maneira a corresponder s necessidades da sociedade, sem que haja grandes impactos negativos na dinmica ambiental. A propsito, de acordo com Peloggia (1998) na prtica, muito pouco das obras previstas sai do papel e 70 % da cidade de So Paulo, por exemplo, no est com as normas e

11 padres vigentes na legislao de uso e ocupao do solo, o que questiona de modo irrefutvel a eficcia do planejamento e seus instrumentos. Sendo assim, as questes levantadas pelos higienistas sobre a proximidade da populao com os sepultamentos, o crescimento da populao e a urbanizao que exigem um mtodo adequado para os sepultamentos e os impactos ambientais que estas construes podem causar, torna-se pertinente estudar em que condies sanitrias e sociais se encontram as pessoas prximas ao cemitrio e se este pode estar contaminando as guas subterrneas do local.

12 2 OBJETIVOS Inserido nesse contexto, no presente trabalho pretendo fazer um diagnstico scioambiental na rea e do entorno do cemitrio municipal da cidade de Ourinhos SP, localizado numa vertente a montante de um curso hdrico, o Crrego Christoni. Para realizar o estudo, os seguintes objetivos especficos so necessrios:

2.1 Objetivos Especficos - Analisar a gua do Crrego Christoni; - Caracterizar fsica, qumica e microbiologicamente os solos do cemitrio e do entorno; - Identificar a relao da populao circunvizinha com o cemitrio.

13 3 JUSTIFICATIVAS

3.1 Os cemitrios e o meio ambiente

Os cemitrios so laboratrios de decomposio de matria orgnica. Por isso, este tipo de construo um risco potencial para o ambiente. Se este risco no for controlado atravs de projetos de implantao adequados, o mesmo evoluir para um risco efetivo, ocorrendo os impactos ambientais negativos, com destaque para a contaminao das guas subterrneas pelo necrochorume proveniente da decomposio dos corpos. O termo necrochorume, conhecido na medicina legal por liquame funerrio ou putrilagem, designa o lquido liberado intermitentemente pelo corpo em decomposio. Foi criado por analogia com o termo chorume, lquido proveniente da decomposio da matria orgnica domstica. A Tabela 1 mostra a composio aproximada do necrochorume do corpo do homem adulto de 70 kg. A da mulher situa-se entre um quarto e dois teros da do homem.

Tabela 1: Composio do necrochorume. Substncia Quantidade Carbono 1.600 g Nitrognio 1.800 g Clcio 1.100 g Fsforo 500 g Enxofre 140 g Potssio 140 g Sdio 100 g Cloreto 95 g Magnsio 19 g Ferro 4,2 g gua 70-74 % Fonte: Dent e Knigth citado por Matos (2001) Um cadver que pese aproximadamente 70 kg produz cerca de 30 kg de necrochorume. Alm disso, esse mesmo cadver produz aproximadamente 2 kg de nitrognio que, em contato com as substncias do solo, transforma-se em nitrato, material altamente poluente (MATOS, 2001). Segundo Santos (1997) citado por Espindula (2004) os compostos derivados do nitrognio so preocupantes, pois a presena do nitrito nas guas subterrneas indicativo de poluio recente, o que, provavelmente, pode ser referido tambm para a amnia, uma vez que esses compostos, em meios oxidantes, so instveis e tendem a se oxidar, convertendo-se em nitratos.

14 No necrochorume devem ser encontradas bactrias excretadas por humanos, como a Escherichia coli, Enterobacter, Klebsiell, Citrobacter e outras. provvel que estejam presentes microorganismos patognicos, como bactrias e vrus. O necrochorume tambm constitudo por substncias orgnicas, cuja decomposio pode produzir aminas, como a cadaverina e a putrescina, consideradas como txicas. Segundo Derobert (s.d.) citado por Ottmann (1987), o perigo do necrochorume devido, principalmente, aos germes e riscos infecciosos dos mesmos, do que toxicidade das diaminas. Conseqentemente, o necrochorume um lquido contaminante, que pode infiltrar se no solo a partir das sepulturas e contaminar as guas subterrneas. BARBOSA e COELHO (2003), que analisaram o impacto ambiental dos cemitrios em reas urbanas, lembram que o ambiente favorvel para que ocorra a proliferao de bactrias dos cemitrios no aqfero fretico pode ser produzido pela contaminao difusa do esgoto no entorno do cemitrio, pois as maiores incidncias de microorganismos foram encontradas em cemitrios pblicos localizados em centros urbanos e vizinhos a favelas e a corpos dgua contaminados por esgoto. importante considerar que alm do necrochorume h o risco de metais pesados (ferro, cromo, mangans, alumnio, cdmio, chumbo, zinco), presentes no verniz das urnas, alas e outros ornamentos, que podem tambm contaminar o solo e as guas.

3.1.2 Cemitrios e as legislaes O CONAMA, atravs da Resoluo no Dirio Oficial, passou a exigir a licena ambiental para os cemitrios horizontais e verticais a serem construdos e deu um prazo de 180 dias para que os cemitrios existentes e licenciados se adqem s exigncias junto aos rgos ambientais competentes. Em 29 de maro de 2006, foi publicada a Resoluo CONAMA no368, com o objetivo de completar e alterar a resoluo anterior. Entre as mudanas promovidas, o prazo de adequao que era de 180 dias, passou a ser de dois anos. A Norma Tcnica L1.040 da CETESB revista em 1999, citada por Matos (2001) estabelece os requisitos e as condies tcnicas para implantao de cemitrios destinados ao sepultamento no subsolo, no que tange a proteo do ambiente, em particular os solos e as guas subterrneas. A Norma exige que o empreendedor apresente uma caracterizao da rea, com informaes geogrficas, geolgicas e hidrogeolgicas e em casos de ocorrncia ou risco de escorregamento e eroses do terreno a elaborao de uma carta geotcnica; distncia

15 mnima de 1,5 m acima do mais alto do nvel do lenol fretico, medido no fim das estaes das cheias. O Cdigo Sanitrio do Estado de So Paulo (1991) citado por Matos (2001), regulamenta a promoo, preservao e recuperao da sade. Exige que os cemitrios sejam construdos em reas elevadas, na contra vertente das guas que possam alimentar poos e outras fontes de abastecimento. O cdigo ainda estabelece permetros mnimos de proteo, ordena que a rea do cemitrio no esteja sujeita a inundaes e afirma que o nvel do lenol fretico deve ficar a pelo menos 2,00 m de profundidade, entre outros. No caso do cemitrio municipal de Ourinhos, o mesmo est construdo em rea sujeita a eroso e escorregamentos atribudos forte declividade (15 %). No est na contra vertente das guas, uma vez que no sop est a nascente do crrego Christoni. Alm disso, as condies de higiene do cemitrio apresenta problemas principalmente em relao ao ossurio, potencial proliferador de insetos.

3.2 Poluio das guas por nitrato, bactrias heterotrficas e coliformes: caso de sade pblica

O necrochorume pode atingir o lenol fretico alterando a composio qumica das guas superficiais e subterrneas alm da possibilidade de contaminao por agentes patognicos como bactrias e vrus. Em reas de cemitrios, guas do fretico podero ter alguns dos seus parmetros qumicos alterados em decorrncia da contaminao oriunda da decomposio dos corpos, com alterao nas concentraes de compostos nitrogenados (NH ,3 + 4 2 3 -

NH , NO e NO ) (MIGLIORINI et al., 1994; MARINHO, 1998 citado por ESPINDULA, 2004). O nitrato (NO3-) quando ingerido em altas concentraes, pode trazer conseqncias danosas sade de crianas recm-nascidas e adultos mais vulnerveis, alm de ser apontado como um dos responsveis pelas taxas de incidncia de cncer gstrico (CHAPELLE,1992). No Ministrio da Sade n. 518, de 25 de maro de 2004, o nitrato includo com um teor mximo permissvel de 10 mg NO3/L, em guas potveis para o consumo humano, sendo que este valor segundo Alaburda et al. (1998) foi adotado especificamente a partir de estudos sobre a ocorrncia de metemoglobinemia em crianas que consumiam guas de poos. Alm da metemoglobinemia a presena de nitratos em gua para consumo pode ocorrer formao potencial de nitrosaminas e nitrosamidas carcinognicas. Segundo Ferncola (1989) citado por

16 Alaburda et al. (1998) no Brasil essas doenas no so de grande conhecimento da populao. A pouca informao da ocorrncia da metemoglobinemia nas Amricas poderia ser devido baixa incidncia ou a falta de notificao. As bactrias heterotrficas so normalmente utilizadas para avaliar as condies higinicas e sanitrias das guas, embora no sejam consideradas patognicas, quando presentes em nmeros elevados, podem constituir risco para a sade (ESPINDULA, 2006). De acordo com o referido autor, as mesmas ocorrem naturalmente no solo e na gua, mas as altas concentraes relacionam-se com a presena de matria orgnica. As bactrias mais empregadas para a verificao da contaminao das guas so as do grupo coliformes fecais e totais que so de origem da flora fecal humana ou animal. A presena elevada destes organismos pode ocasionar doenas infecciosas e parasitrias. Os parmetros microbiolgicos adotados no Brasil na avaliao da qualidade da gua para consumo humano, considerando que pessoas utilizem essa gua diretamente para beber estabelecidos na Portaria n 518/ 2004 do Ministrio da Sade, esto na Tabela 2.

Tabela 2: Parmetros microbiolgicos de avaliao da qualidade da gua potvelPARMETROS E. coli, coliformes (fecais) termotolerantes Coliformes Totais Bactrias heterotrficas1

INSTRUMENTO REGULADOR Portaria n 518/ 2004 Ausncia em 100 ml Ausncia em 100 ml 500 UFC1/ml

Unidades Formadoras de Colnia Fonte: Ministrio da Sade (2004).

Segundo Matos (2001) as guas contaminadas por microorganismos existentes nos corpos em decomposio, se consumida sem um tratamento adequado, pode causar doenas como a febre tifide, paratifide, clera e outras. Essas doenas podem causar vmitos diarrias e clicas. As doenas mais comuns no Brasil so a hepatite, leptospirose, febre tifide e clera. Na Tabela 3 esto algumas doenas e agentes causadores de veiculao hdrica.

17 Tabela 3: Agentes causadores de doenas de veiculao hdrica.DOENAS Febre tifide Gastrenterite, diarria Pode provocar pneumonia Leptospirose Clera Infeces de ouvido, olhos e hospitalares Gastrenterites Pode provocar diarria, dores abdominais Poliomielite, meningite, infeces assintomticas Gastrenterites Hepatite infecciosa Infeces respiratrias, conjutivites Amebase (diarria amebiana) Giardase (diarria e clica) Criptosporidiose (gastrenterite) Vrus Bactrias AGENTES CAUSADORES Grupo Espcies Salmonella typhi Shigella dysenteriae, S. flexneri, S. sonei Legionella pneumophila Leptospira interrogans Vibrio cholerae Pseudomonas aeruginosa Clostridium perfringens Escherichia coli Enterovrus Rotavrus grupo B Hepatite A Adenovrus Entamoeba histolytica Protozotios Giardia lamblia Cryptosporidium Caractersticas Bacilo Gram-negativo, anaerbio facultativo Bacilo Gram-negativo, anaerbio facultativo, imveis Bacilo Gram-negativo, aerbio Em forma de hlice flexvel, Gram-negativo, aerbio Bacilo reto ou curvo, Gram-negativo, anaerbio facultativo Bacilo Gram-negativo, aerbios Bacilo Gram-positivo, esporulados, anaerbio Bacilo reto, Gram-negativo, anaerbio facultativo Isocadrico, relativamente resistente em guas poludas Icosadrico, estvel at Ph 3,0 e relativamente resistente ao calor Isocadrico, muito estvel, resistente em meio cido e em temperatura elevada Isocadrico, resistente no ambiente. Locomove-se e alimenta-se por pseudopdes. As formas infectantes so csticas. Flagelado com simetria bilateral Resistente a clorao

Fonte: Pelczar Jr. Et al. (1996); CETESB (1996); Soares e Maia (1999); Matos (2001) citados por Espindula (2004)

A possvel contaminao das guas superficiais ou subterrneas pelo necrochorume se torna um agravante tanto ambiental quanto sanitrio, pois no Brasil, no que se refere ao tratamento de esgotos, as tecnologias de tratamento empregadas so eficientes somente no que se refere remoo de Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO), Demanda Qumica de Oxignio (DQO) e Slidos em Suspenso (SS). Entretanto, no produzem um efluente compatvel com os padres de qualidade exigidos pela legislao, em termos de amnia, nitrognio, coliformes fecais e, principalmente, fsforo (VON SPERLING e

CHERNICHARO, 2000 citados por SOARES et al., 2002). 3.3 Solos Solo um recurso natural fundamental para vida do homem: principal fonte de matrias-primas, agropecuria, produo do espao urbano, dentre outros. Para explorao adequada deste recuso, h necessidade de uma detalhada investigao que ir verificar se o solo adequado ou no atividade que se deseja realizar. Tal procedimento fundamental na medida em que, de acordo com a EMBRAPA (2006), treze so as classes de solos identificadas pelo Sistema Brasileiro de Classificao de Solos (SBCS). A diversidade de classes pressupe graus de aptides e vulnerabilidades diferenciadas. Ignorar essa afirmao

18 pode resultar em quadros de degradao do referido recurso natural. Por degradao ambiental entende-se como o esgotamento ou destruio de um recurso potencialmente renovvel, como solo, pastagem, floresta ou vida selvagem por sua utilizao num ritmo mais rpido do que seu reabastecimento natural (DICIONRIO DE ECOLOGIA E CINCIAS AMBIENTAIS, 2001, p. 147). Alm disso, a degradao dos solos est intrinsecamente relacionada com a degradao dos cursos hdricos, que se manifesta na forma de assoreamento, eutrofisao, contaminao, dentre outros. No meio rural, a atividade agropecuria, quando no conduzida adequadamente, pode contribuir de forma bastante significativa para a degradao do solo e do meio ambiente (PERUSI, 2005, p. 5), manifestada na forma de compactao, eroso, assoreamento de rios e a contaminao do lenol fretico por fertilizantes. Nos centros urbanos, o mau uso do solo pode acarretar em deslizamentos de terra, contaminao de rios e do lenol fretico, prejuzos vida e a economia da sociedade, que podem se tornar irreparveis. Fica ento inquestionvel que necessrio o conhecimento das diferentes aptides do solo no qual se pretende realizar uma atividade. De acordo com a EMBRAPA (1999, p.5),...solo uma coleo de corpos naturais, constitudos por partes slidas, lquidas e gasosas, tridimensionais, dinmicos, formados por materiais minerais e orgnicos, que ocupa maior parte do manto superficial das extenses continentais do nosso planeta, contm matria viva e podem ser vegetados na natureza, onde ocorrem. Ocasionalmente podem ter sido modificados por atividades humanas.

Sendo assim, os solos so constitudos de componentes orgnicos e inorgnicos: partculas minerais, matria orgnica, gua e ar. A fase slida do solo formada pelas partculas minerais e a matria orgnica. A primeira formada por diferentes tamanhos e tem origem da rocha aps intemperizao, a segunda constituda por resduos vegetais e animais e variam em diferentes estgios de decomposio, pois esto em constante ataque por microrganismos. A quantidade dos materiais orgnicos pode variar tanto entre um tipo de solo e outro, como entre os horizontes de um mesmo perfil. Normalmente, maiores teores desses materiais so encontrados nos horizontes mais superficiais, horizontes O e A (LEPSCH, 2002, p.36). A gua e o ar ocupam os chamados espaos porosos do solo. Estes variam em suas quantidades em curto espao de tempo, pois a gua do solo pode ser facilmente reposta pelas chuvas e atravs da absoro das plantas, evaporao e infiltrao vai sendo substituda pelo ar. Sendo assim, a quantidade de ar no solo , pois, inversamente proporcional de gua (KIEHL, 1979, p.28).

19 Lepsch (2002) reconhece trs estados de umidades do solo: a) molhado, b) mido e c) seco. No solo molhado, todos os poros (macroporos e microporos) so preenchidos com gua, e o ar est praticamente ausente. Quando no h mais o fornecimento de gua, os macroporos (poros maiores que 0,05 mm de dimetro) devido ao da gravidade drenam a gua para baixo ou lateralmente indo para as partes mais profundas do solo ou at atingir o lenol fretico dando lugar ao ar. Solos midos so aqueles que possuem os macroporos ocupados por ar e os microporos (poros menores que 0,05 mm) com gua. O solo seco pode conter gua, mais sobre a forma de pelculas extremamente finas, ao redor das partculas coloidais (LEPSCH, 2002 p.47). O ar do solo tem suas caractersticas diferentes do ar atmosfrico devido respirao das razes das plantas e dos microrganismos, consumindo oxignio e eliminando dixido de carbono. Segundo Kiehl (1979) enquanto a concentrao de gs carbnico em volume na atmosfera de 0,03 % no solo pode chegar at vinte vezes a mais esse valor. Todas essas propriedades podem sofrer alteraes caso ocorra processos de degradao do solo como compactao, que reduz a porosidade e aumenta a densidade do solo, resultando na menor percolao da gua e comprometimento da circulao do ar.

3.3.1 Relao das caractersticas do solo com o tempo de sobrevivncia dos microrganismos e o transporte de nitrato e microrganismos para as guas subterrneas.

Para a construo dos cemitrios necessrio um conhecimento das condies fsicas e do comportamento do solo em questo, Pacheco et al. (1986) argumenta que o tipo de solo um fator importante em projeto de construo de cemitrios, visto que os processos transformativos esto relacionados com o meio onde o corpo se encontra: terra, gua e ar. Para Lepsch (2002, p. 10) o solo a coleo de corpos naturais dinmicos, que contem matria viva, e resultante da ao do clima e da biosfera sobre a rocha, cuja transformao em solo se realiza durante certo tempo e influenciada pelo tipo de relevo. A matria orgnica provm da acumulao de plantas parcialmente destrudas e de animais decompostos esta pode atingir dimenses coloidais (menores que 0,002 mm) que, juntamente com a argila, constitui a parte ativa do solo. Segundo PINILLA (1998) favorece a formao e estabilizao de agregados, aumentando a porosidade, ela tambm exerce grande influencia sobre microrganismo do solo como tempo de permanecia, pois ela quem fonte de nutrientes. A fase lquida constituda pela soluo que preenche total ou parcialmente a porosidade do solo e que permanece mais ou menos fortemente ligada s partculas slidas.

20 A porosidade do solo facilita a infiltrao da gua e a circulao do ar na zona radicular, promove a adsoro eletrosttica de nutrientes catinicos. A porosidade pode ser definida como sendo o volume de vazios ou ainda o espao do solo no ocupado pela matrix (componentes orgnicos e inorgnicos). A porosidade depende principalmente da textura e da estrutura dos solos. A microporosidade a principal responsvel pela reteno da gua (possuem dimetro menor que 0,05 mm), enquanto que a macroporosidade (possuem dimetro maior que 0,05) deixa a gua escorrer com certa rapidez, passando os vazios a serem ocupados pelo ar. Solos arenosos tende a ter menor porosidade que os argilosos, com a textura fina as partculas no se arranjam de maneira to compactada e a argila coloidal contribu para formar agregados que aumentam a porosidade (KIEHL, 1979 p. 105) Solos arenoso apresentam valores que oscilam entre 35 a 50 %, enquanto que, solos de textura mais fina apresentam valores que variam de 40 a 60 %. Solos bem estruturados tambm apresentam valores mais altos do que os que esto compactados (FREIRE, 2006 p.32). A Textura definida pelo tamanho das partculas: areia, silte e argila, onde a areia a mais grosseira e a argila e o silte mais fina, estes compem a massa do solo. Essa combinao tende a ser similar ao material parental, ou seja, rocha de origem, mas que devidos a atividade antrpica, como extrao, deposio pode estar alterada. Esta propriedade est intimamente relacionada estrutura, consistncia, permeabilidade, capacidade de troca de ctions, reteno de gua, fixao de fosfatos (OLIVEIRA et al., 1992, p. 35). Segundo Sousa (2005 p. 29) o movimento da gua mais lento e a reteno de gua e adsoro de soluto so maiores em solos de textura fina, ou seja, os argilosos e estes por sua vez tem a capacidade de armazenar uma porcentagem maior de gua que os arenosos favorecendo a sobrevivncia e microrganismos. Com maior contedo de argila este diminui a permeabilidade do solo que a facilidade da gua e o ar passar. Assim baixa permeabilidade e umidade alta ocorre a reduo da infiltrao que pode fazer com que o necrochorume sofra um processo de digesto anaerbia podendo haver problemas com odor e aumento na proliferao de insetos. Resende et al. (2007) classifica a textura dos solos como: textura arenosa com areia superior a 70 %, textura mdia com argila menor que 35 % e areia maior ou igual a 15 %, textura argilosa com a porcentagem de argila entre 35 % a 60 % e finalmente muito argilosa com argila superior a 60 % A umidade Segundo Pinilla (1998), o parmetro que mais influencia a eliminao de microrganismo em qualquer tipo de solo. Assim o comportamento dos microrganismos

21 podem variar em regime de solo saturado e no saturado. Segundo Sousa (2005) o teor de umidade do solo responsvel pelas modificaes das trocas gasosas e pelo transporte de nutrientes utilizados pelos microrganismo para seu crescimento, assim condies de baixa temperatura e umidade elevada favorecem a sobrevivncia de bactrias. Pinilla (1998) citado por Santos (2005) fez um trabalho que mostrou que a concentrao mais elevada de coliformes fecais foi onde a porcentagem de umidade corresponde a 18 %. A densidade nada mais que a relao existente entre a massa de uma amostra de solo e o seu volume ocupado por partculas solida. A presena de matria orgnica faz baixar sensivelmente a densidade (KIEHL, 1979, p. 95). Segundo Kiehl (1979), o valor esperado para a densidade de um solo argiloso fica em torno de 1,00 a 1,25 kg.dm-3. .Quanto densidade da partcula, para Kiehl (1979), o valor varia em mdia de 2,3 e 2,9 Kg. dm-3. Quanto menos estruturado e compactado for o solo, maior ser o valor da densidade e conseqentemente uma menor ser a macroporosidade e a percolao. Possui valores que variam de 1,2 a 1,9 g cm-3 para solos arenosos e 0,9 a 1,7 g cm-3 para solos argilosos (REINERT; REICHERT, 2006). O Ph para a sobrevivncia dos microrganismos os valores no podem ser extremos, nem muito acido nem muito bsico, pois Segundo Sousa (2005) este influencia indiretamente na disponibilidade de nutrientes. Kiehl (1979) faz a seguinte colocao solo com Ph 4,0 contm cidos livres como o acido sulfrico. Abaixo de 5,5 contm alumnio trocvel. A faixa de Ph 7,8 a 8,2 indica a presena de carbonato de clcio e, acima disso predomnio de Na+. Nitrognio: a matria orgnica uma importante fonte de nitrognio no solo seu ciclo encontra se ligado a resduos de origem animal e vegetal que decompostos liberam nions de nitrognio. Segundo Luchese et al. (2002) sofre alteraes que dependem de microrganismos que alteram os resduos culminando com a formao de nitratos com a presena do microrganismo Nitrobacter P. Esta forma a que predomina, este tem carga negativa e no se encontra protegido pela fase solida do solo e, conseqentemente, pode ser perdido facilmente por lixiviao, podendo penetrar profundamente nos solos e contaminar o lenol fretico, pois em soluo o nitrato no absorvido pelas plantas e nem pelos colides que apresentam predominantemente carga negativa. Segundo Primavesi (2006, p.685) em reas agrcolas que necessitam correo, geralmente os mximos aplicado de nitrato so 500 kg h-1 na forma de uria e nitrato de amnio. Os nitratos preocupantes na agricultura so aqueles que esto abaixo de 80 cm de

22 profundidade, pois geralmente as plantas absorvem o da superfcie. No cemitrio este processo j no ocorre devido rea ser impermeabilizada e possuir algumas arvores apenas, quanto lixiviao est rea tambm est menos sujeita a esse processo, devido a impermeabilizao. Andrade et al. (2009) em estudo da lixiviao do nitrato no lenol fretico em cultivo irrigado, constatou que a textura um fator determinante na lixiviao, pois os solos arenosos so mais vulnerveis ao processo. Hoeft (1990) citado por Resende et al. (2007) constatou que a agricultura no a nica fonte de aumento dos nveis de nitratos em cursos de gua, pois a urbanizao pode ser o fator principal em algumas reas como jardins e gramados que so aplicados altas doses de nitrato e esgoto sem tratamento quando lanado em curso d gua. Em condies naturais os solos contm um grande nmero de microrganismos como bactrias, actinomicetos, fungos filamentosos, leveduras, algas, protozorios, nematdeos e vrus, em grande quantidade e diversidade de espcies (Tabela 4). Direta ou indiretamente estes microrganismos convertem dejetos e corpos de animais mortos, tecidos de plantas em substncias que enriquecem o solo (PELCZAR, 1996 citado por BURBARELLI, 2004, p.10). Segundo Burbarelli (2004) os microrganismos ocupam menos de 5 % do espao poroso do solo de forma ativa ou dormente, sendo este ltimo permitindo um maior tempo de sobrevivncia no solo. Tabela 4: Principais grupos de organismos do solo e suas caractersticasGrupo de OrganismosMacro e Mesofauna Microfauna

Tamanho/Morfologia Fisiologia/Nutrio> 0,2 mm Variada < 0,16 0,5-2,0 m Saprfita Herbivora Dentritivora Saprfita Predadores Heterotrfica Autotrfica Simbitica

Importncia no soloDecomposio Predao Parasita Decomposio Equilbrio Biolgico Mineralizao Transformao Patgenos Biocontrole Simbionte Transformao Patgenos Biocontrole Decomposio Patgenos Biocontrole Fotossintese Fixao de N2 Fotossntese

Representantes principaisMinhocas Artrpodes Moluscos Nematides Protozorios Rotiferos Pseudomonas Rhizobium Bacilus Anthrobacter Actinomyces

Bacterias

Actinomice

0,5-1,2 m 5-10 m Filamentoso < 10 m Filamentoso Variada

Heterotrofica

Fungos

Heterotrfica Simbitico Autotrofica Simbiotica Autitrfica

Algas verdeazuladas Algas verdes

Penicillum Aspergillus Pythium Anabaena Nostoc Chirella Chlorococcum

Fonte: Siqueira et al. (1994) citado por Burbarelli (2004, p.11)

23

Segundo Souza (2005) diversos fatores podem afetar a sobrevivncia dos microrganismos no solo, do qual a temperatura, a umidade e a baixa quantidade de luz solar so as mais significantes. Conseqentemente, solos argilosos tm a capacidade de armazenar mais gua em seus poros do que os arenosos, aumentando assim a capacidade de sobrevivncia de microrganismos patognicos. Como o objetivo do trabalho analisar a possvel contaminao do lenol fretico por microrganismos do grupo das bactrias, em especfico os coliformes fecais, totais e bactrias heterotrficas, deteve-se especificamente a este grupo, bactrias. Segundo Paganini (2003) citado por Souza (2005) a sobrevivncia das bactrias varia de solo para solo (Tabela 5), tendo perodos mais longos em solos mantidos sob condies de baixa temperatura e alta umidade do ar do solo, sendo encontradas maiores concentraes quanto maior a profundidades do solo, pois os efeitos da evaporao e da radiao solar na superfcie tornam desfavorvel a sua sobrevivncia. Matos (2001) destaca que as bactrias sobrevivem mais em ambiente alcalino, com menor atividade microbiana e maior quantidade de matria orgnica. Tabela 5: O perodo de sobrevivncia de bactrias no soloAgente Patognico Coliformes Fecais Salmonella spp. Salmonella Typhi Shigela spp. Vibrio cholera E. coli Streptococci fecal Perodo de sobrevivncia no solo 38 dias 1 120 dias 1 120 dias 26 77 dias 4 77 dias 4 77 dias 26 77 dias

Fonte: Sousa (2005), adaptado Os coliformes totais formam um grupo abrangente do qual se enquadram a Escherichia, Citrobacter, Klebsiela, Enterobacter, Serratia e Hafnia e fermentam lactose em 24 horas a uma temperatura de 35 a 37 C (WHO, 2004 citado por SOUZA, 2005 p. 70). Os coliformes fecais so um subgrupo dos totais e sua principal diferena que fermentam lactose a 44,5 C. O principal componente deste grupo a Escherichia Coli. Segundo os referidos autores, a maioria das bactrias deste subgrupo pode ser encontrada na ausncia de poluio fecal com exceo da Escherichia Coli, que considerada o indicador de contaminao fecal mais adequado por ser uma espcie encontrada em nmero elevado nas fezes de animais de sangue quente e na flora intestinal humana. Segundo Bitton (1987) citado

24 Burbarelli (2004) bactrias como E. coli e Salmonella typhosa tem mostrado maior sobrevivncia durante as estaes chuvosas, em solo com alta capacidade de reteno de gua como os argilosos, onde esses organismos podem sobreviver mais que 42 dias. De acordo com a Cetesb (1996) citado por Matos (2001) as bactrias do grupo coliformes, apesar de serem bons indicadores de contaminao fecal humana ou animal, no so to resistentes ao meio ambiente e podem ser inibidas na presena de outras bactrias.Bactrias heterotrficas so aquelas que utilizam a matria orgnica ou compostos orgnicos como fonte de carbono para seu crescimento e para a sntese de material celular. Na maioria dos casos, as bactrias heterotrficas so classificadas como quimiorganotrficas, ou seja, utilizam o carbono orgnico tanto como fonte de carbono como fonte de energia (LEDERBERG, 1992; TORTORA et al., 2002 citados por BURBARELLI, 2004, p.19).

Estas so encontradas naturalmente no solo, mais o seu excesso pode representar um risco potencial na contaminao das guas subterrneas. O solo um dos melhores agentes naturais filtrantes que se conhece. O destino do transporte dos microrganismos depende da capacidade do solo ret-lo. A maior remoo de microrganismos se d na superfcie nos primeiros milmetros de solo, principalmente as bactrias, que so microrganismos maiores em comparao aos vrus. Essa acumulao de microrganismos na superfcie aumenta o poder de filtragem do meio (MATOS, 2001, p. 11). Para Migliorini (1994) a reteno de organismos no solo ocorre em distncias curtas, menos de trs metros na zona no saturada, mais ao atingirem a zona saturada, estes encontram condies mais adequadas de mobilizao e tambm de sobrevivncia. Schrops (1972) e Bower (1978) citados por Migliorini (1994) em estudos realizados em amostras de guas em diferentes distncias dos tmulos num cemitrio na Alemanha Ocidental, constataram uma reduo no nmero de bactrias conforme aumentava a distncia dos tmulos, devido capacidade do solo reter microrganismos (Tabela 6).

Tabela 6: Nmero de bactrias por distncia do tmulo N. de bactrias6.000 8.000 3.600 1.200 180

Distncia do tmulo0, 50 m 2,50 m 3,50 m 4,50 m 5,50 m

Fonte: Migliorini (1994, p. 15) De acordo com Souza (2005), o transporte dos microrganismos pode ocorrer mediante aos fenmenos de filtrao mecnica, adveco, disperso e adsoro. A filtrao mecnica um processo de reteno fsica dos microrganismos pelos poros do solo. Quanto menor a

25 dimenso mdia dos poros maior sua eficcia. Este mecanismo mais relevante para as bactrias do que para os vrus. Na adveco o microrganismo transportado juntamente com a gua subterrnea, se movendo na mesma velocidade. Na disperso, os microrganismos se separam da gua devido a diferentes gradientes de concentrao ou como resultado da movimentao da gua pelos poros do solo (PINILLA, 1998 citado por SOUZA, 2005, p. 59). A disperso depende do tamanho dos poros do solo, sua tortuosidade (comprimento varivel da rota de fluxo) e frico. A adsoro a unio qumica do microrganismo superfcie de um meio slido. Esse processo pode ser reversvel ou irreversvel dependendo das propriedades do microrganismo e do solo. A adsoro elimina os contaminantes da fase lquida, ainda que seja somente temporariamente e atua diminuindo a velocidade de movimentao do microrganismo (PINILLA, 1998 citado por SOUZA, 2005).

26 4 MATERIAL E MTODOS

4.1 Material O material de interesse a rea e o entorno do cemitrio municipal de Ourinhos-SP.

4.1.1 Localizao e aspectos gerais do municpio de Ourinhos-SP

O municpio de OurinhosSP (Figura 1) possui uma rea de 296,203 km. Localiza-se no Sudoeste do Estado de So Paulo, divisa com o Norte do Estado do Paran. O ponto central da cidade apresenta as seguintes coordenadas geogrficas: 225828 de Latitude Sul e 495219 de Longitude Oeste de Grw. O cemitrio municipal, objeto de estudo deste trabalho, situa-se na zona norte da cidade.

27

Figura 1: Localizao do Municpio de Ourinhos e rea de Estudo.

28 Fazendo parte da 11 Regio Administrativa de Marlia, o referido municpio um dos 42 municpios integrantes do Comit da Bacia Hidrogrfica do Mdio Paranapanema Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos - UGRHI 17 - (Figura 2) que dividida em 6 unidades de sub-bacias (Tabela 7).

Figura 2: Localizao da bacia do Mdio Paranapanema e subdiviso do Mdio Paranapanema no Estado de So Paulo. Fonte: RELATORIO ZERO (1991) Tabela 7: Subdiviso da bacia do mdio Paranapanema, rea e porcentagem que ocupa na bacia (UGRHI 17)Sub-Bacias Capivara Pari Novo Turvo Pardo TP* Total Km 3.486,64 1.029,07 1.098,85 4.236,18 4.668,26 2.244,64 16.763 % 20,8 6,1 6,6 25,3 27,8 13,4 100

*TP = Tributrios de 3 onde do Paranapanema (RELATRIO ZERO, 1991)

Para Santos (2004, p.85),Bacia hidrogrfica um sistema natural bem delimitado no espao, composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d gua e seus afluentes, onde as interaes, entre os elementos biticos e abiticos ocorrem de modo integrado, colocando-se enquanto uma unidade espacial de fcil reconhecimento, caracterizao e de grande aceitao enquanto rea para ordenamento territorial ou planejamento. Desta forma, toda ocorrncia de eventos em uma bacia hidrogrfica, de origem antrpica ou natural, interfere diretamente na dinmica desse sistema.

Todo o municpio de Ourinhos-SP est dentro da sub-bacia do Pardo, que ocupa 27,8 % da rea total da UGRHI 17. Abrange tambm os municpios de guas de Santa Brbara, Avar, Cerqueira Csar, Chavantes, Iaras, Itatinga, leo, Pardinhos, Pratnia e Santa Cruz do

29 Rio Pardo (RELATRIO ZERO, 1991). Cumpre esclarecer que o curso hdrico localizado no sop da vertente onde est inserido o Cemitrio municipal de Ourinhos, Crrego Christoni, afluente do rio Pardo. Ourinhos est inserido na Bacia Sedimentar do Paran. Esta unidade geotectnica, formada a partir do Devoniano Inferior, possui uma rea de aproximadamente 1.100.000 km dentro do territrio brasileiro e formada predominantemente por materiais de origem sedimentar, ocorrendo tambm lavas baslticas e sills de diabsio (IPT, 1981). Est localizado predominantemente em domnios do Grupo So Bento, Formao Serra Geral. Esta formao caracteriza-se por apresentar rochas vulcnicas toleticas em derrames baslticos de colorao cinza a negra, textura afantica, com intercalaes de arenitos intertrapeanos finos a mdios, de estratificao cruzada tangencial (IPT, 1981). Baseado no Mapa Geomorfolgico do Estado de So Paulo (ROSS; MOROZ, 1997), constata-se que Ourinhos est inserido na morfoescultura do Planalto Ocidental Paulista, que abrange uma rea de aproximadamente 50 % do Estado de So Paulo, mais especificamente na unidade morfoescultural denominada Planalto Centro Ocidental. Nesta unidade predominam formas de relevo denudacionais cujo modelado constitui-se basicamente em colinas amplas e baixas com topos convexos e topos aplanados ou tabulares. De acordo com a classificao climtica de Strahler, citado por SIGRH (2000), a Bacia do rio Paranapanema est enquadrada no grupo dos climas controlados pelas massas de ar tropical e polar em permanente alterao e no sub-grupo do clima subtropical mido das costas ocidentais e subtropicais dominadas largamente pela massa tropical martima (Tm). Sendo o solo produto da interao do relevo, organismos e o tempo necessrio para os agentes intempricos, basicamente climticos, atuarem sob o material de origem, constata-se que, baseado no Mapa Pedolgico do Estado de So Paulo (OLIVEIRA et al., 1999), a combinao de todos esses fatores resultaram na formao predominantemente de Latossolos na regio em questo. Os Latossolos so constitudos por material mineral, apresentando horizonte B Latosslico, imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A, dentro de 200 cm da superfcie do solo ou dentro de 300 cm, se o horizonte A apresenta mais de 150 cm de espessura (OLIVEIRA, 1999). Os perfis destes solos so espessos, com mais de 3 metros de profundidade e de colorao avermelhada. A textura varia de argilosa a mdia. So, em geral, solos com boas propriedades fsicas, de excepcional porosidade total, sendo comuns valores de 50-60 % e, conseqentemente, de boa drenagem interna, mesmo nos de textura argilosa (LEPSCH, 2002). A pequena variao de caractersticas morfolgicas entre os horizontes faz com que a transio entre os mesmos seja gradual ou difusa. Comumente localizam-se em relevos suavemente ondulados a ondulados. Nos suavemente ondulados, os topos so

30 achatados com vertentes convexas pouco declivosas, variando entre 2 a 5 %. J nos relevos ondulados, os topos so arredondados com vertentes convexas, cujas declividades variam entre 5 a 15 % (NUNES, 2003). Segundo Oliveira (1999), devido sua elevada permeabilidade interna e a baixa capacidade adsortiva, esses solos se qualificam como pouco filtrantes. Tal atributo permite esperar que, apesar de sua espessura, sejam grandes as possibilidades de contaminao dos aqferos por material txico nele depositado. A cidade de Ourinhos foi considerada municpio pela Lei Estadual 1.618, de 13 de dezembro de 1918. Sua formao se deu atravs da expanso do caf conseguindo assim uma rpida ocupao das terras. A linha frrea Sorocabana que corta a cidade de Ourinhos foi de fundamental importncia para o desenvolvimento do municpio. O mesmo localiza-se numa posio estratgica do ponto de vista econmico por sua ligao com o norte do Paran e por estar localizada na regio da Mdia Sorocabana, prxima a Assis e Avar, cidades importantes do vale do Paranapanema. Sua economia voltada para a agroindstria sobressaindo os setores de acar e lcool, leo de soja, ovos, leite, destilado de cana e caf. Possui um comrcio forte que alimenta as pequenas cidades da regio. Na ltima estimativa, Ourinhos possua uma populao estimada de 99,008 (IBGE, 2007), sendo que 23,31 % da populao tem idade entre 0 e 14 anos; 18,90 % entre 15 e 24 anos; 47,23 % est na faixa de 25 a 59 anos e 10,56 % na faixa de 60 ou mais anos de idade. Na rea urbana de Ourinhos se encontra 96,30 % da sua populao. O crescimento dessa populao no perodo 2000/2005 foi de 2,03 % a.a. O da Regio Administrativa de Marlia foi de 1,51 % e o do Estado de So Paulo de 1,56 %. Isto significa que Ourinhos teve um aumento populacional de mais 25,62 % do que a Regio Administrativa, onde est inserido (PREFEITURA MUNICIPAL DE OURINHOS PLANO DIRETOR, 2006). A taxa de natalidade (por mil habitantes) do municpio em 2005 era de 14,96 (SEADE, 2005). A mortalidade, segundo o DATASUS (2004), foi contabilizado em 337 bitos hospitalares (Figura 3).

31

12%

4,90%

doenas infecciosas Neoplasias 16,40% Ap. ciruclatrio Ap. respiratrio Perinatal causas externas Outras

2,80%

9,60%

31,90%

Figura 3: Mortalidade no municpio de Ourinhos-SP no ano de 2004Fonte: Ministrio da Sade, Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade - DATASUS (2004).

4.1.2 Localizao e caracterizao do cemitrio do municpio de Ourinhos-SP

Localizado no Parque Valeriano Marcante, com acesso pela Rua Gaspar Ricardo, o entorno do cemitrio composto pelo conjunto habitacional Itajubi, Centro Social Urbano, pequenas casas de comrcio e residncias dos bairros Vila Nova e Jardim Flrida (Figura 4). Devido a sua localizao, freqente a movimentao das pessoas dos bairros por dentro do cemitrio que o usam como atalho.

Figura 4: Localizao do Cemitrio Municipal de Ourinhos e bairros adjacentesFonte: Google Earth (2007)

32 Com sua capacidade praticamente esgotada, o prefeito atual anunciou em veculos de comunicao que no vai fazer outro cemitrio e que depende de investimentos da iniciativa privada para construo de um novo. O nico local para a expanso do cemitrio em direo ao crrego Christoni que est a 106,50 m de distancia, e como pode se observar na Figura 4, h ausncia de mata ciliar. O referido crrego apresenta quadros de degradao como ocupao indevida no seu entorno (Figura 5) que resulta em eroso nas suas margens, assoreamento, lixo, e uma forte possibilidade de receber esgoto clandestino.

Figura 5: Ocupao irregular na margem esquerda do crrego Christoni. Destaque para tubulao de concreto dentro do crrego Christoni O cemitrio Municipal de OurinhosSP est sob administrao da Secretaria de Servios Urbanos do municpio. Possui uma rea de 112.464.79 m e no seu interior necrotrio, ossurios, velrio, capela, depsitos de materiais, escritrio administrativo e sanitrio para empregados e o pblico. Est dividido em 50 quadras e o sepultamento feito em jazigos de concreto armado acima do solo. At o dia 20 de junho de 2009 contava-se com 8.694 tmulos e 38.710 pessoas enterradas (LIMA, 2009). Como de comum nas grandes e mdias cidades, onde j esto praticamente esgotados os espaos para sepultamento, ocorre a prtica de reutilizao dos jazigos, aps um perodo de 5 anos para adulto e 3 para criana. Os restos mortais exumados so destinados para o ossurio que fica no centro do cemitrio, que por sua vez no possui nenhuma segurana para evitar que pessoas mexam e que insetos proliferem.

33 Os restos do caixo e objetos pessoais so encaminhados para o Aterro Controlado do municpio, recebendo o mesmo tratamento que o lixo comum. Cumpre esclarecer, que o tratamento adequado para esses materiais deveria ser o mesmo dado ao lixo hospitalar, confinado em valas especiais ou incinerado, o que no acontece no municpio de OurinhosSP. Quando ocorre a conservao do corpo, o jazigo fechado novamente e aquele deixado por mais algum tempo.

4.1.3 Urbanizao e o cemitrio de Ourinhos-SP

Atualmente os cemitrios so instalados em reas isoladas das cidades. Com o processo de expanso urbana, acabam ficando integrados a ela. A questo a ser discutida se esse processo poderia causar problemas sanitrios populao prxima das necrpoles. Alm disso, outras questes surgem como a repulsa da populao de morarem prximas a essas reas; valorizao/desvalorizao das moradias; problemas pertinentes ampliao dos cemitrios, etc. Sobre esses assuntos, Pegaya (1967, p. 104) categrico:O que no padece dvidas a tendncia, quer no passado quer no presente de localizar os cemitrios em reas perifricas da cidade, ou melhor, em pontos recuados das reas ocupadas. Diversos fatores podem explicar essa tendncia: o desejo de valorizao de uma rea, oferecendo ao proprietrio parte dela como doao, para a instalao de uma necrpole.

Rezende (2006) afirma que a teoria da repulsa marcada pelos riscos das pestes que o cemitrio exerceu, est deixando de existir e que hoje as propriedades no entorno do cemitrio esto sendo utilizadas como estratgia de valorizao, pois com o poder dos liberais e da burguesia consolidado, esta prtica ideolgica foi deslocada e suprimida. O referido autor enfatiza que a teoria do isolamento dos cemitrios, de maneira geral, reportam-se s questes sanitrias e higinicas, deixando de lado as questes econmicas, que envolvem a produo do espao e a localizaes deles. Para a produo do espao habitado, a existncia de solo disponvel essencial e o cemitrio, sendo um local de difcil mudana no uso, pode ser um espao de valorizao, principalmente nas grandes cidades. Corra (1995) explica que o processo de inrcia na organizao espacial e intra-urbana pode traduzir-se na preservao simultnea da forma e do contedo. As razes seriam:(a) Uma re-localizao poderia implicar custos elevados; (b) criao de novos fatores de permanncia atravs do aparecimento de economias de aglomerao, pela criao de unidades de produo e servios situados montante ou jusante da unidade em questo, garantindo vantagens outras que no aquelas existentes quando da implantao original:

34h pela existncia de conflitos de outros possveis usurios do solo urbanos em torno, ou pelo fato de que os outros usurios no detm poder para forar a remoo daquela unidade; (d) pela fora de sentimentos e smbolos que se atribui s formas espaciais e ao seu contedo (CORRA, 1995, p. 77).

Firey citado por Corra (1995) relata sobre um estudo sobre a rea central de Boston, fazendo referncia aos cemitrios no centro da referida cidade, que datam o perodo colonial e que impedem a continuidade de lojas comerciais. Ali esto enterrados entes de classes burguesas que impe a preservao em funo de sentimentos e smbolos. A estratgia de instalar os cemitrios nas periferias das cidades tem o objetivo de valorizar a rea, geralmente estes so alocados em reas marginalizadas, logo, no possuem infra-estrutura bsica como gua, energia e via de acesso. A princpio, a chegada do empreendimento realmente promove valorizao da rea, pois deixam de ser grandes lotes rurais passando a atrair loteamentos urbanos. Nesse sentido, Rezende (2006) observa uma tendncia valorizao desses locais urbanos devido ao sossego, reas verdes e segurana que numa metrpole so raros. Citam ainda os bairros de So Paulo como Higienpolis e Recoleta, que abrigam cemitrios e so exemplos dessas caractersticas. O referido autor no faz referncia s pequenas cidades, podendo ser encontradas situaes diferentes, pois nessas talvez seja mais fcil que se encontrem outros locais com reas verdes, sossego e segurana. Um dos nicos trabalhos sobre a expanso urbana de Ourinhos foi feito por Boscariol et al. (2006) que relata que Jacintho de S, o maior proprietrio de terras da cidade, quando prefeito do municpio, fez grandes investimentos em infra-estrutura urbana nos anos de 1923 a 1925, construindo ruas largas e contguas.Foram encaminhadas, em 1913, peties de moradores da Vila de Ourinho, reclamando do lanamento de impostos abusivos nesta rea. Neste caso, Jacintho de S encarna o papel de proprietrio fundirio, a medida em que ele dono de terras rurais que foram convertidas em terras urbanas, valorizando-as, e faz uso do Estado, cujo papel a produo do espao fornecendo toda a infra-estrutura e equipamentos coletivos necessrios (BOSCARIOL et al., 2006, p.5).

Baseado nessa informao possvel perceber o papel que Jacinto de S teve na formao do espao urbano de Ourinhos, e sua estratgia para obteno de lucros com a venda de terras. Em 1918, cerca de 75 % da populao encontrava-se na zona rural. J em 1940, a proporo da populao que se encontrava na zona rural cai para um pouco menos de 50 %, sendo a populao total do municpio superior a 12 mil habitantes (BOSCARIOL et al., 2006, p.6). na dcada de 1940 que comea a intensificao urbana do municpio de Ourinhos. Nessa poca, a rodovia Raposo Tavares j cruzava o municpio. Boscariol et al.

35 (2006) citam vrios empreendimentos urbanos como: calamento, asfaltamento, rede de esgoto e reformas de praas. Na Figura 6, uma foto do municpio, datada em 1939, possvel observar o primeiro cemitrio municipal de Ourinhos, localizado relativamente afastado do aglomerado urbano.

Figura 6: Foto da rea urbana da cidade de Ourinhos-SP de 1939Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano de Ourinhos.

Como se pode observar na referida Figura, no ano de 1939, o cemitrio possua uma rea para ampliao. Com a expanso urbana, essas reas foram sendo ocupadas, e o cemitrio no mais se encontra na periferia. No banco de dados da prefeitura de Ourinhos, no se obteve informaes da origem do cemitrio. S se sabe que a rea era de Candido Barbosa Filho. Em 1954, a Cmara Municipal lana a Lei n. 227, que dispe para a ampliao do cemitrio com a desapropriao de uma rea de 15 mil m. Est rea tambm pertencia a Candido Barbosa Filho. Em 1963, a Cmara Municipal novamente desapropria uma rea de 12.798,10 m, pertencentes a herdeiros de ngelo Christoni, e uma rea de 187,50 m de Candido Barbosa Filho. Esta desapropriao declarada no Artigo 2 de carter urgente, sendo liberado uma quantia de crdito especial no valor de 2.000.000 (dois milhes de cruzeiros). Tanta urgncia foi atribuda ao aumento da populao, de prximo a 12.000 na dcada de 1940 para 34.000 em 1960 (BOSCARIOL, 2006). O local do novo cemitrio est ao norte da cidade, direo preferencial da expanso urbana no perodo de 1950-1959. Observa-se ainda que as famlias e proprietrios de terras so os principais responsveis pelos loteamentos (BOSCARIOL et al., 2006).

36 Na Figura 7, numa foto do Municpio datada em 1972, pode-se observar a nova rea do cemitrio, ainda livre de loteamentos e com grande possibilidade de expanso. A populao desta dcada prxima de 41.059 (BOSCARIOL et al., 2006, p. 8). As vias de acesso nesta poca conduzem ao cemitrio, mas as construes de casas, lojas ou indstrias neste local ainda so inexistentes.

Figura 7: Foto area da rea urbana da cidade de Ourinhos-SP de 1972Fonte: Laboratrio de Geoprocessamento Unesp/Ourinhos-SP

A Figura 8 uma foto datada em 1984 e j mostra a evoluo do cemitrio. Comparado com a foto de 1972, so ntidos os jazigos. A malha urbana de Ourinhos se encontra densa, no mais apresentando lotes vazios e j apontando para o sufocamento no entorno do cemitrio. Cabe aqui esclarecer que a rea do cemitrio uma regio de declive acentuado 15 % (ZACHARIAS, 2006), onde o loteamento implicaria custos elevados para a terraplanagem e adequao do solo para instalaes urbanas.

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Figura 8: Foto area em 1984 da rea urbana de OurinhosFonte: Laboratrio de Geoprocessamento Unesp/Ourinhos

A foto atual de 2004 da rea urbana de Ourinhos representada pela Figura 9, mostra evoluo da malha urbana no entorno do cemitrio, este sem espaos para expandir. Segundo Boscariol et. Al. (2006) foi na dcada de 1980 que as empresas de loteamentos comearam a participar ativamente. Cerca de 9 loteamentos foram realizados nesta poca e de 1990 at 1998, dos 36 loteamentos, 24 foram realizadas por 9 empresas. Na Figura 9, observa-se que Ourinhos passa novamente pelo mesmo problema da dcada de 1940, quando a malha urbana impediu a expanso do cemitrio.

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Figura 9: Foto area da rea urbana da cidade de Ourinhos-SP de 2004Fonte: Laboratrio de Geoprocessamento Unesp/Ourinhos

Em uma anlise do planejamento urbano e segregao scioespacial na cidade de Ourinhos (JULIO, 2008, p. 3) afirma que em seus 89 anos, houve a construo e/ou idealizao de vrios planos urbansticos para o municpio. Todos eles elaborados na esfera pblica municipal e com pouca ou nenhuma participao popular. O referido autor esclarece que os nveis mximos de segregao social se encontram na zona norte (regio do cemitrio) e leste. As figuras e as discusses mostram que o cemitrio do municpio sempre esteve na periferia da cidade, mas nunca muito afastado da infra-estrutura urbana. Sua realocao foi junto rea de expanso (norte) j iniciada da cidade, isto mostra que no houve preocupao do poder pblico em evitar o sufocamento do cemitrio pela urbanizao. Os loteamentos que se fizeram ao redor do cemitrio foram destinados a uma populao de baixo poder aquisitivo, no somente devido presena do cemitrio, mas tambm a qualidade do terreno que muito ngreme.

4.1.4 O Plano Diretor de Ourinhos e o cemitrio municipal

Seguindo o Estatuto da Cidade, o municpio de Ourinhos-SP aprovou, em 25 de setembro de 2006, o Projeto de Lei Complementar que rege as diretrizes de atuao dos

39 agentes pblicos e privados na elaborao e consolidao do planejamento municipal, visando o desenvolvimento sustentvel, com a compatibilizao do desenvolvimento econmico e social e a preservao ambiental. Cabe aqui destacar e discutir alguns aspectos de maior relevncia do Projeto de Lei recentemente aprovado, uma vez que trata sobre o destino do cemitrio municipal e dos bairros circunvizinhos. No texto do Projeto no TITULO I (2006) que dispe sobre as relaes e s funes sociais, fica estabelecido:Art.4 As funes sociais da cidade no Municpio de Ourinhos correspondem ao uso socialmente justo e ecologicamente equilibrado do territrio do Municpio e a garantia dos direitos do cidado moradia, saneamento ambiental, infra-estrutura e servios pblicos, sade, educao, mobilidade urbana e acessibilidade, trabalho, cultura, lazer, preservao do patrimnio ambiental e cultural e ao desenvolvimento do comrcio e da produo, visando incluso scio-econmica.

Dos objetivos propostos pelo Plano Diretor do Municpio para planejamento e gesto urbana, de forma simplificada, seria promover a democracia urbana revertendo o processo de segregao scioespacial, desenvolvimento urbano com proteo do meio ambiente e fomentar a sade, educao, cultura, turismo, esporte, lazer e assistncia social. De relevncia para o presente trabalho, seria citar alguns objetivos propostos no Art. 7 descritos nos incisos IV, V e XII:(...) IV. reverter o processo de segregao scioespacial na cidade por intermdio da oferta de reas para produo habitacional dirigida aos segmentos sociais de menor renda, inclusive em reas centrais, e da urbanizao e regularizao fundiria de reas ocupadas por populao de baixa renda, visando incluso social de seus habitantes; V. promover as polticas setoriais, compatibilizando o desenvolvimento urbano com a proteo do meio ambiente, atravs de sua utilizao racional, voltada conservao e recuperao do patrimnio natural, em benefcio das atuais e futuras geraes; (...) XII. fortalecer a gesto ambiental local, visando o efetivo monitoramento e controle ambiental; (...)

No feita nenhuma referncia ao esgotamento da rea do cemitrio nem alternativas para melhorar suas condies de higiene e fiscalizao de possveis contaminaes do aqfero fretico. A populao vizinha do cemitrio caracterizada como sendo de baixo poder aquisitivo e est na REA ESPECIAL DE RE-QUALIFICAO E INTERESSE SOCIAL AERIS, que destinada regularizao fundiria, construes de espaos pblicos sociais e culturais numa tentativa de reverter o processo de segregao social e tornar um ambiente

40 social e ecologicamente equilibrado eis a proposta da prefeitura Municipal no Plano Diretor (2006). importante ressaltar que o Projeto de Lei apenas estabelece metas a serem compridas, mas no diz como realiz-las. 4.1.5 Solos do municpio de Ourinhos-SP

Sendo o solo produto da interao do relevo, organismos e o tempo necessrio para os agentes intempricos, basicamente climticos, atuarem sob o material de origem, constata-se que, baseado no Mapa Pedolgico do Estado de So Paulo (OLIVEIRA et al., 1999), a combinao de todos esses fatores resultaram na formao predominantemente de Latossolos Vermelhos (LV 45) na regio em questo. Os Latossolos so constitudos por material mineral, apresentando horizonte B Latosslico, imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A, dentro de 200 cm da superfcie do solo ou dentro de 300 cm, se o horizonte A apresenta mais de 150 cm de espessura (OLIVEIRA, 1999). Os perfis destes solos so espessos, com mais de 3 metros de profundidade e de colorao avermelhada. A textura varia de argilosa a mdia. So, em geral, solos com boas propriedades fsicas, de excepcional porosidade total, sendo comuns valores de 50-60 % e, conseqentemente, de boa drenagem interna, mesmo nos de textura argilosa (LEPSCH, 2002). A pequena variao de caractersticas morfolgicas entre os horizontes faz com que a transio entre os mesmos seja gradual ou difusa. Comumente localizam-se em relevos suavemente ondulados a ondulados. Nos suavemente ondulados, os topos so achatados com vertentes convexas pouco declivosas, variando entre 2 a 5 %. J nos relevos ondulados, os topos so arredondados com vertentes convexas, cujas declividades variam entre 5 a 15 % (NUNES, 2003). Segundo Oliveira (1999), devido sua elevada permeabilidade interna e a baixa capacidade adsortiva, esses solos se qualificam como pouco filtrantes. Tal atributo permite esperar que, apesar de sua espessura, sejam grandes as possibilidades de contaminao dos aqferos por material txico nele depositado. Para o referido autor, por serem fceis de serem escavados e ainda bastante profundos e porosos so bastante apropriados para cemitrios e aterros sanitrios (OLIVEIRA, 1999, p. 52). De acordo com Zacharias (2006) os Latossolos Vermelhos (LV 45) do municpio de Ourinhos apresenta textura de argilosa a mdia por serem resultado dos processos de intemperizao do basalto. Em consulta ao Glossrio Geolgico Ilustrado (2008) o basalto possui textura afantica, ou seja, os componentes minerais so to pequenos que no podem ser reconhecidos macroscopicamente.

41 Para Pacheco e Matos (2000) citados por Matos (2001), existem determinados tipos de solo que propiciam a mumificao, como os arenosos das regies desrticas. Em solos calcrios, os corpos inumados podem sofrer uma fossilizao insipiente, graas substituio catinica de sdio e potssio pelo clcio. A saponificao a hidrolise da gordura com liberao de cidos graxos, os quais, pela acidez, inibem as bactrias putrefativas, atrasando a decomposio do cadver (MATOS, 2001, p. 7). Segundo Punder (1995) citado por Matos (2001) um ambiente quente mido e anaerbio com a presena de bactrias endgenas favorecem a saponificao. O solo argiloso, como apresentado no municpio de Ourinhos, pouco permevel, quando saturado, facilita esse tipo de fenmeno. Solos com elevada porcentagem de argila no so recomendveis para instalao de cemitrios.

4.2 Mtodos

Para atingir o objetivo proposto; diagnstico socioambiental do cemitrio municipal de Ourinhos-SP, o trabalho foi dividido em 3 etapas. A primeira foi fazer um diagnstico do Crrego Christoni e verificar suas condies de degradao. Para tanto, formam coletadas e analisadas amostras de gua ao longo do referido crrego. A segunda foi fazer anlises microbiolgicas e qumicas e fsicas do solo do cemitrio para entender suas condies e comportamento com relao aos microrganismos e os componentes qumicos. Na terceira etapa, foi feito um diagnstico da populao residente no entorno do cemitrio para verificar as condies sanitrias e sociais. Por fim, entender a dinmica urbana que levou o cemitrio a ser instalado naquela regio.

4.2.1 Procedimentos metodolgicos para coleta e anlise qumica e bacteriolgica da gua do crrego Christoni

A coleta da gua do crrego Christoni para as anlises qumicas e bacteriolgicas seguiram a metodologia preconizada pela CETESB (1988). Para cada ponto (Figura 10), total de trs, foram coletados dois frascos plsticos, devidamente identificados, com capacidade para 500 ml de gua (um para anlise qumica e outro para anlise bacteriolgica). O transporte at o laboratrio foi feito em caixa de isopor com gelo para manter a temperatura adequada (Figura 11).

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Figura 10: Localizao do cemitrio municipal de Ourinhos e pontos de amostragem do crrego Christoni. Fonte: Google Earth (2007)

Figura 11: Frascos plsticos contendo amostras de gua do crrego Christoni

As coletas das amostras foram feitas no dia 27 de novembro de 2007 s 8h00min. As condies meteorolgicas eram satisfatrias: dia ensolarado e ausncia de chuva por 24 horas. As anlises qumicas e biolgicas foram feitas na Fundao Educacional do Municpio de Assis - FEMA. Os procedimentos metodolgicos so preconizados pela Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 20 edio (1998) e a Norma Tcnica CETESB 1993 (NT. L5.202). A determinao dos coliformes totais e fecais seguiu a tcnica de tubos mltiplos. As anlises das bactrias heterotrficas foi realizada pela Contagem Padro em Placas PCA e o nitrato foi determinado com o mtodo da Difenilamina. Os resultados seguem no Anexo 1.

43 4.2.2 Mtodo de coleta de solo para anlise qumica e microbiolgica

A metodologia para obteno das amostras de solo seguiu os procedimentos de coleta para fins de fertilidade com algumas adaptaes. Para a amostragem de solo Figura 12, foram escolhidos 30 (trinta) pontos em locais julgados convenientes gerando 3 (trs) amostras com um total de 10 pontos para cada amostra. Das 3 (trs) amostras, 2 (duas) foram coletadas dentro do cemitrio e 1 (uma) fora do cemitrio como parmetro de controle e comparao. Para a escolha dos pontos de coleta de solo, o cemitrio foi dividido em duas reas: uma mais antiga, que ainda recebe sepultamentos e uma rea de recente ocupao. A rea mais antiga gerou a Amostra 1 (A1), e a mais recente a Amostra 2 (A2). Para a amostra de controle, fora dos limites do cemitrio, foi escolhida uma rea na mesma vertente aproximadamente 10 m de distncia do muro do cemitrio, Amostra 3 (A3).

Figura 12: Pontos coletados para amostragem do solo para analises qumicas e microbiolgicas.

44 As coletas foram feitas a 0,50 cm de profundidade com auxlio de um trado caneca (Figura 13). As amostras de solo coletadas, aproximadamente 100 g por ponto, num total de 10 (dez) pontos para cada amostragem, foram homogeneizadas em um balde limpo com auxilio de uma p-de-mo. As mesmas foram dispostas em um saco plstico esterilizado, devidamente identificado, fornecido pelo Laboratrio de Anlises Qumicas e

Microbiolgicas da FEMA, municpio de Assis-SP. As amostras foram armazenadas em uma caixa trmica com gelo (Figura 14).

Figura 13: Coleta de amostra de solo a 50 cm de profundidade

Figura 14: Do lado esquerdo, equipamentos utilizados para a coleta. direita, amostras prontas para serem encaminhadas para o laboratrio A coleta das amostras se sucedeu no dia 18/04/2008 s 8h00min. As condies meteorolgicas eram satisfatrias: dia ensolarado e ausncia de chuva por mais de 24 horas, de acordo com as recomendaes do laboratrio onde foram feitas as anlises. As anlises qumicas e microbiolgicas foram feitas no Laboratrio de Anlises Qumicas e Microbiolgicas da FEMA, municpio de Assis-SP. Cumpre esclarecer que nos dias 15 e 16

45 de abril de 2008 ocorreram fortes chuvas no municpio, dificultando as coletas devido umidade e compactao do solo. Os resultados seguem no Anexo 2.

4.2.3 Mtodos para coleta e anlise fsica do solo

A coleta do solo foi feita no dia 26/03/2009. Foram coletadas 5 amostras de solo em pontos estratgicos: uma no ponto central da rea do cemitrio e uma em cada extremidade, resultando em quatro amostras (Figura 15). Nesses pontos foram coletadas amostras deformadas, aproximadamente 200 g de solo, a 50 cm de profundidade para as seguintes determinaes: textura com fracionamento da areia (mtodo da pipeta), resultado dado emg/kg-1; densidade da partcula (mtodo do balo volumtrico), resultado em kg.dm-3;

porosidade: mtodo indireto = 100 X (DP DS) / DP. Onde: DP= Densidade da partcula; DS = Densidade do solo. Resultado dado em porcentagem; umidade (100 g de solo submetido estufa, 110o, resultado em porcentagem e pH. Foram coletados anis volumtricos (amostras indeformada) para fins de determinao da densidade do solo, resultado em kg.dm-3. As anlises fsicas e qumicas do solo, seguindo a metodologia do EMBRAPA (1997), foram realizadas no Laboratrio de Geologia, Geomorfologia e Pedologia da UNESP/Campus Experimental de Ourinhos.

Figura 15: Pontos de coleta de solo para analise fsica.

4.2.4 Mtodos para aplicao do questionrio Optou-se pelo mtodo do questionrio para a obteno dos dados pertinentes as questes scioambientais dos moradores do entorno do cemitrio, por ser til, eficaz e demandar um curto perodo de tempo. Um questionrio um instrumento que visa obter informaes da populao de maneira sistemtica e ordenada (GARCA, 2003 citado por

46 AMARO, 2006). Segundo Amaro (2006) deve-se tomar muito cuidado ao elaborar um questionrio, contendo uma lgica para quem responde e questes adequadas pesquisa em causa, contendo trs princpios bsicos: clareza, coerncia e neutralidade. Existem dois tipos de questes: as de respostas abertas e as de respostas fechadas. O primeiro permite ao inquirido responder com suas prprias palavras, tendo assim uma maior liberdade para responder. No segundo, o inquirido tem que optar por uma resposta que se aproxima ou se adqe sua opinio. Para tais questes, tm-se vantagens e desvantagens como se pode observar na Tabela 8. Tabela 8: Vantagens e desvantagem entre questionrios abertos e fechadosTipos de questes Vantagens Favorece o pensamento livre e a originalidade; Aparecem respostas mais variadas; Respostas mais representativas e fiis da opinio do inquirido; O inquirido concentra-se mais sobre a questo; Vantajoso para o investigador, pois permite-lhe recolher variada informao sobre o tema em questo. Rapidez e facilidade de resposta; Maior uniformidade, rapidez e simplificao na anlise das respostas; Facilita a categorizao das respostas para posterior anlise; Permite contextualizar melhor a questo. Desvantagens Dificuldade em organizar e categorizar as respostas; Requer mais tempo para responder s questes; Muitas vezes a caligrafia ilegvel; Em caso de baixo nvel de instruo dos inquiridos, as respostas podem no representar a opinio real do prprio.

Resposta Aberta

Resposta fechada

Dificuldade em elaborar as respostas possveis a uma determinada questo; No estimula a originalidade e a variedade de resposta; No preza uma elevada concentrao do inquirido sobre o assunto em questo; O inquirido pode optar por uma resposta que se aproxima mais da sua opinio no sendo esta uma representao fiel da realidade.

Fonte: Amaro (2006)

Para esta pesquisa optou-se pelo questionrio fechado, por entender que esse estilo viria ao encontro com os objetivos propostos. Foram entrevistadas 40 pessoas que residem nas quadras urbanas no entorno imediato do cemitrio, o numero de 40 pessoas foi adotado, pois esse foi o numero de residncias com maior contato com o cemitrio. O questionrio aplicado contava com 27 questes objetivas de carter social, econmico e sanitrio (ANEXO 3).

47 5 RESULTADOS E DISCUSSO

5.1 Anlises qumicas e bacteriolgicas da gua do crrego Christoni Das anlises qumicas propostas, o nitrato NO3- (Tabela 9) foi analisado para verificao da hiptese de contaminao do crrego pelo cemitrio. Foram coletadas trs amostras de gua em trs pontos diferentes. A gua do Ponto 1 (P1) foi coletado a jusante do cemitrio. De acordo com os resultados laboratoriais, a amostra desse ponto apresentou um valor de 0,07 mg/l de NO3-. O Ponto 2 (P2), coletado no sop da vertente do cemitrio, entre os P1 e P3, apresentou uma concentrao de 0,04 mg/l de NO3-. No Ponto 3 (P3), constata-se uma concentrao de 0,10 mg/l de NO3-. Cumpre esclarecer que este ponto est fora da rea de influncia do cemitrio. Este procedimento foi adotado para que se possa ter um parmetro de comparao das amostras que se encontram em reas de influncia do cemitrio e, conseqentemente, passveis de contaminao e assim conhecer a situao de degradao que o Crrego se encontra.

Tabela 9: Resultados das anlises qumicas e bacteriolgicas de gua do crrego ChristoniDeterminao 1 > 1.600/100 ml Pontos 2 > 16.000/100 ml Padro 3 > 16.000/100 ml

*Coliformes Fecais 2.500/100 ml (NPM) *Coliformes Totais > 1.600/100 ml > 16.000/100 ml > 16.000/100 ml 2.500/100 ml (NPM) **Bactrias 1.9 x 104 UFC/ml 2.7 x 104 UFC/ml 9.3 x 104 UFC/ml 500 UFC/ml Heterotrficas (PCA) **Nitrato 0.07 mg/L 0.04 mg/L 0.10 mg/L 1 mg/L *Padro conforme Resoluo no 357 CONAMA de 17/03/05 para guas de classe 3 destinada para abastecimento para consumo humano aps tratamento convencional ou avanado; a irrigao de culturas arbreas, cerealferas, forrageiras; a pesca amadora; recreao de contato secundrio; e a dessendantao de animais. **Valores mximos permissveis conforme Portaria Ministrio da Sade no 518 de 25/03/04

O P3 foi o que apresentou uma maior concentrao de nitrato. Esse fato pode ser justificado pela possibilidade de o curso receber efluentes domsticos, esgoto clandestino. Como est a montante, o material pode ter sido diludo durante o percurso. De qualquer forma, as amostras de gua no apresentaram altas concentraes de nitrato, mantendo-se dentro das normas segundo a Portaria do Ministrio da Sade (2004) n. 518, de 25 de maro de 2004 que estabelece para gua potvel um Valor Mximo Permitido (V.M.P) de 10 mg/l de nitrato NO3-. Quanto aos coliformes fecais e totais (Tabela 9), de acordo com a metodologia utilizada, observa-se que a amostra do P 1 apresentou alta contagem de coliformes totais e fecais, > 1.600/100 ml. medida que se dirige a montante do curso, observa-se um aumento

48 de dez vezes em relao ao P 1, > 16.000/100 ml nos P 2 e 3. Uma vez que o P 3 encontra-se fora dos domnios do cemitrio, pode-se inferir que essa contaminao pode ser proveniente de outras fontes, como esgoto clandestino, por exemplo. Uma vez que no objetivo da pesquisa buscar fontes contaminantes do crrego, limitemo-nos somente ao cemitrio. As bactrias heterotrficas so decompositoras de matria orgnica. Sendo assim, comumente encontradas em ambientes onde haja decomposio de cadveres. Como pode-se observar na Tabela 9, em todos os pontos amostrados identificou-se alto nvel dessa bactria. Destaca-se o P 3 que apresentou valores de 9.3 x 104 UFC/ml. O Ministrio da Sade (2004) estabelece limite mximo de 500 UFC/ml para gua tratada e destinada ao consumo humano, sendo assim, essa gua no pode ser usada para consumo humano e nem irrigao de hortalias. Embora os P 1 e P 2 apresentem valores abaixo do que o registrado no P 3, 1.9 x 104 UFC/ml e 2.7 x 104 UFC/ml, respectivamente, ainda assim esto muito acima do que o Ministrio da Sade. A elevada quantidade de bactrias heterotrficas pode estar favorecendo a desnitrificao do nitrato, que levado a nitrognio, baixando, portanto, sua concentrao (MARTNS et al., 1991). Desta forma, pode-se justificar a baixa concentrao de nitrato pela alta concentrao de bactrias heterotrficas.

5.2 Anlises fsicas do solo do cemitrio

Segundo Freire (2006), so considerados solos arenosos os que possuem mais de 70 % de areia, e argilosos quando contm mais de 35 % de argila. Dos resultados encontrados para analises textural (Tabela 10) as amostras 1, 2, 3, 4 pertencem classe textural argilosa. As amostras 1 e 2 deram valores de argila superiores a 600 g/kg-1. Segundo Resende et al. (2007) so solos muito argilosos. Esse resultado era esperado uma vez que o material de origem do municpio de Ourinhos, basalto, produz solos com textura argilosa. A amostra 5 fugiu desse padro com 280 g/kg-1 de argila e 710 g/kg-1 de areia, sendo considerado solo de textura mdia. O comportamento atpico da amostra 5 justifica-se por ter sido amostrado na rea de ampliao o cemitrio. Neste local est sendo feita terraplanagem e utilizao de terra cuja rea de emprstimo localiza-se nas proximidades do lixo da cidade. Sendo assim, material muito descaracterizado do original.

49 Tabela 10: Resultado da anlise texturalAmostra 1 2