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Diagnóstico ambiental da paisagem do entorno do reservatório do rio
Atibainha, Nazaré Paulista, SP: mapeamento espacial e social da
região
Luciana Rocha Antunes
a*; Marcelo Nivert Schlindwein
b
aPrograma de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural, Centro de
Ciências Agrárias, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Rodovia
Anhanguera, km 174 – SP 330, Araras/SP. [email protected]; bPrograma de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural, Centro de
Ciências Agrárias, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Rodovia
Anhanguera, km 174 – SP 330, Araras/SP. [email protected].
*Autor para correspondência: +55 19 32571617. [email protected].
Palavras Chave: mata atlântica; ordenação da paisagem; agroecologia.
Título Abreviado: Diagnóstico ambiental
ABSTRACT
The Atibainha Reservoir in Nazaré Paulista (SP) is one of the Cantareira System which
provides water to the metropolitan region of São Paulo. Though it is essencial to
provide water, the landscape around the reservoir has been modified over the years and
the natural vegetation has been destroyed to take place to anothers uses that are more
economically viable to the region. The landscape history and changes are essencials to
build new espacials configurations that improve the landscape dinamic. In this way, this
paper presents a land uses diagnosis around the Atibainha reservoir to identify the
landscape elements throught the spatial and social mapping to analyse the historic
development of the region and to give the basis to select sustainable activities and also
to recognize unsustainable practices which causes environmental problems to the
region.
RESUMO
No enfoque deste trabalho apresenta-se a região de um dos reservatórios do Sistema
Cantareira, o reservatório do rio Atibainha, no municipio de Nazaré Paulista (SP).
Embora seja de fundamental importância no abastecimento das regiões metropolitanas
de São Paulo, a paisagem do seu entorno vem se transformando ao longo dos anos e
eliminando o que resta de vegetação natural para dar lugar aos usos e cultivos mais
viáveis economicamente. A identificação histórica da paisagem e suas conseqüentes
alterações são fundamentais para a construção de configurações espaciais que melhorem
a dinâmica de uma paisagem. Neste sentido, o presente estudo se fundamenta para
apresentar um diagnóstico dos usos do solo da região de contribuição do reservatório do
rio Atibainha através da identificação dos principais elementos da paisagem existentes
no local por meio do mapeamento espacial e social da região a fim de determinar a base
para selecionar práticas mais sustentáveis adaptadas àquela região, além de poder
averiguar as causas de problemas que resultaram de práticas insustentáveis.
INTRODUÇÃO
A história humana atual provoca tem provocado alterações cada vez mais
rápidas, intensas e em maior extensão do que qualquer outro momento da história
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humana. Estas transformações resultam das mudanças demográficas, econômicas e
sociais que se sobrepujam aos processos naturais, produzindo paisagens moldadas por
forças econômicas, pela tecnologia e pelo elevado consumo de recursos e energia.
O processo de colonização brasileira foi desenvolvido neste contexto, sendo
decisivo para transformação da paisagem de um dos mais importantes biomas
brasileiros, a Mata Atlântica. Os diferentes períodos de exploração resultaram em mais
de 93% desta floresta devastada. Atualmente os remanescentes de mata atlântica
ocupam menos de 100 mil quilômetros quadrados e ainda permanecem vulneráveis à
degradação por conta de uma população estimada em mais de 100 milhões de habitantes
(DITT, 2008).
O século XVIII foi marcado por forte presença da mineração, através da
exploração do ouro, que juntamente com a lavoura e a engorda de gado podem ter
eliminado cerca de 30 mil km2 de floresta neste período (DEAN, 1996). Já no século
XIX a exploração de uma planta exótica, o café, significaria uma ameaça ainda mais
intensa às florestas que qualquer outro evento dos trezentos anos de colonização
anteriores. E a partir do século XX o crescimento populacional intensificado
principalmente na região sudeste do país torna-se um fator determinante ao aumento da
devastação da Mata Atlântica, pois a alimentação dos moradores desta região favoreceu
o desenvolvimento de uma técnica agrícola voraz que converteu-se em fardo pesado
para a mata nela ainda presente (DEAN, 1996).
Neste sentido, a identificação histórica da paisagem e suas conseqüentes alterações
são fundamentais para a construção de configurações espaciais que melhorem a
compreensão da dinâmica de transformação ocorrida nesta paisagem. O mapeamento do
uso das terras se apresenta como uma importante ferramenta ao permitir reconhecer os
fatores responsáveis pela alteração da paisagem.
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Entre as regiões paulistas que apresentam mudanças significativas na paisagem
dentro do bioma atlântico, a região bragantina, no nordeste do estado de São Paulo,
onde se encontra o municipio de Nazaré Paulista vem transformando sua paisagem
natural para dar lugar aos usos e cultivos considerados mais viáveis economicamente,
enquanto a maioria da população se distancia dos processos decisórios (FADINI, 2005).
Ao mesmo tempo a maioria dos municípios da região pouco conhece sobre a
realidade de seu território, tais como a caracterização de suas microbacias hidrográficas,
com informações sobre áreas, rede de drenagem, áreas de preservação florestal, tipo e
uso das terras, aptidão agrícola, bem como tamanho e distribuição dos imóveis rurais
(REIS, et al., 2008). Desta forma, as técnicas de sensoriamento remoto e o uso dos
sistemas de informações geográficas (SIGs) facilitam a execução de trabalhos voltados
à elaboração de mapas temáticos a fim de realizar um diagnóstico da paisagem de uma
região.
Neste contexto o presente estudo se fundamenta para apresentar um diagnóstico
dos usos do solo da região de contribuição do reservatório do Rio Atibainha, no
município de Nazaré Paulista (SP), através da identificação dos principais elementos da
paisagem existentes no local para avaliação do potencial de integração da matriz
agrícola predominante, dos fragmentos florestais existentes e dos recursos hídricos da
região.
METODOLOGIA
A análise histórica do processo de transformação da paisagem é fundamental
quando se deseja desenvolver atividades de planejamento ambiental em uma região. Isto
se deve às modificações ocorridas no passado que representam perturbações em longo
prazo, tanto em duração como em conseqüência. Daí, a necessidade de uma perspectiva
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histórica abrangente para avaliar a importância relativa das transformações ocorridas e
suas conseqüências para o futuro (MOSCHINI, 2005).
O reservatório do rio Atibainha é um dos quatro reservatórios de abastecimento do
Sistema Cantareira com uma área total de 9.647 hectares que incluem 2.006 hectares de
reservatório de água. Este Reservatório encontra-se entre as Serras da Mantiqueira e da
Cantareira a uma altitude que ultrapassa 1.150 metros nos pontos mais elevados.
Segundo a classificação de Koppen, o clima da região é intermediário entre Cwa e Cwb,
sendo a temperatura média anual de 20° C. A média anual do índice pluviométrico é de
1381,6 mm (EMBRAPA, 2002).
A área de “contribuição” do reservatório considerada neste estudo compreende,
assim como Martins et al (2007) e Ditt et al (2008), em um conjunto de 188
microbacias no seu entorno (Figura1). Dentro dessas microbacias, existem diversas
nascentes, pequenos córregos e fragmentos remanescentes de Mata Atlântica. A
vegetação é constituída basicamente de fragmentos de vegetação secundária classificada
como estacional semidecidual (DITT, 2002).
Figura 1. Microbacias no entorno do Reservatório do rio Atibainha, Nazaré Paulista, SP. Fonte:
Martins et al, 2007.
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Para tanto este trabalho realizou um mapeamento e um diagnóstico dos usos do
solo dentro da área de contribuição considerada neste trabalho. No mapeamento
utilizaram-se ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para captura,
armazenamento, verificação, integração, manipulação e apresentação de dados, onde o
software utilizado foi o ESRI ArcMap (ESRI, 2002).
As fontes de dados espacializados utilizadas foram Cartas Planialtimétricas em
escala 1:10.000 editadas pelo IGC (Instituto de Geografia e Cartografia) em 1979,
escaneadas em alta resolução e georreferenciadas com a superfície da terra com base no
sistema de coordenada UTM (Universal Transversal Mercator), referência horizontal
(Datum) Córrego Alegre, MG, referência vertical Marégrafo de Imbituba, SC,
meridiano central 45 graus, fuso 23 e fotografias aéreas coloridas ortogeorreferenciadas
no mesmo sistema de coordenadas, em escala aproximada de 1:20.000, datadas de
agosto de 2004.
Para tornar o diagnóstico ambiental da região mais consistente, realizou-se além
do mapeamento espacial, um mapeamento social por meio de visitas a produtores rurais
da região. Nestas visitas de campo foram realizadas 22 entrevistas em diferentes
propriedades rurais a fim de identificar as características familiares, agrícolas e a
percepção ambiental destes produtores em relação ao reservatório de água existente na
região. A identificação de características predominantes na organização rural da região
pode favorecer o entendimento da ordenação da paisagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Nazaré Paulista possui uma população de mais de 16 mil
habitantes (SEADE, 2008), sendo que a grande maioria reside na área rural da cidade.
Os principais usos da terra no entorno do reservatório são florestas nativas, plantações
de eucalipto e pasto, além do crescente desenvolvimento urbano de residências de lazer
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ao redor da represa (DITT et al, 2008). Estas categorias são determinadas por cinco
tipos de usuários da terra: a Sabesp, produtores de gado, produtores de eucalipto, donos
de hotéis e casas de finais de semana de moradores dos grandes centros urbanos
próximos à região (DITT, 2008).
Nos dias atuais a região demonstra uma diversificação econômica que se baseia
no fornecimento de produtos agrícolas e numa industrialização de baixa a média
tecnologia. A paisagem local tem influência do relevo de Mares de Morros e da Serra da
Mantiqueira e por sua riqueza hídrica, com um dos reservatórios do sistema Cantareira,
ainda possui alguns remanescentes de Mata Atlântica que preservam um pouco da fauna
local. Outra particularidade desta região é a predominância de uma população rural que
ainda mantém algumas tradições culturais, o que vem em conjunto configurar um
quadro propício ao segmento turístico (FADINI, 2005).
Em entrevistas realizadas com produtores rurais do entorno do reservatório
verificaram-se algumas características regionais que favorecem o entendimento da
ordenação da paisagem local. Mais de 80% dos proprietários rurais e seus familiares
encontram-se na região há mais de 30 anos, o que demonstra a tradição de pai para filho
da posse e permanência na terra. Estas propriedades também se apresentam na maioria
como grandes núcleos familiares, já que é comum encontrar pais e filhos com suas
respectivas famílias dentro de uma mesma propriedade. Fortalece-se assim a situação
de que a maior parte da população do município encontra-se no meio rural e de que há
uma intensa relação histórica e cultural dessas pessoas com o local em que vivem.
Outra característica identificada nas entrevistas foi quanto à existência de
fragmentos florestais nativos nas propriedades e o que os mantém ou não dentro destas
propriedades presentes no entorno do Reservatório. Em grande parte quando a
propriedade rural apresenta porções de fragmentos florestais, estes se encontram apenas
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em áreas de preservação permanente, desconsiderando a área de reserva legal
obrigatória a qualquer estabelecimento rural em 20% de sua área total (MEDAUAR,
2005) para o estado de São Paulo, segundo o código florestal.
A figura 3 mostra a situação florestal quanto à existência ou não de fragmentos
florestais dentro das propriedades rurais analisadas. Existe uma porção de propriedades
rurais que possuem sua parcela de floresta, normalmente correspondente à sua área de
reserva legal e/ou APP. Por outro lado, há também uma quantidade significativa de
propriedades rurais (33%) que não possuem nenhuma faixa de floresta em seus
domínios, tanto em áreas de preservação permanente como em áreas de reserva legal.
Situação Florestal nas propriedades rurais do entorno do
Reservatório do Atibainha: Tamanho médio dos fragmentos florestais
24%
33%10%
33%Menos de 1 alqueire
1 a 5 alqueires
Mais de 10 alqueires
Sem mata
Figura 3. Situação florestal das propriedades rurais presentes no entorno do Reservatório do
Atibainha, Nazaré Paulista, SP.
Assim como Hoeffel et al (2004), identificou-se neste trabalho que uma parcela
significativa da população rural do município de Nazaré Paulista inclui a percepção da
natureza como algo separado, distante, mas que mesmo assim precisa ser conservada
dentro da legislação. Este autor ainda coloca que para a população da área rural a
conservação ambiental está mais ligada à experiências do seu cotidiano e às
transformações da paisagem a sua volta.
Análises de percepção local do proprietário rural são importantes para
complementar a elaboração de mapas temáticos, e favorecer uma melhor compreensão
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da ordenação territorial da paisagem local e conseqüentemente, um diagnóstico
ambiental que considera os impactos do homem sobre o ambiente e vice-versa na
caracterização de toda uma região.
Os mapas temáticos deste trabalho foram realizados através do conceito básico
de SIG que possibilita trabalhar com camadas de informações georreferenciadas com a
superfície da terra. Esta ferramenta permitiu extrair as sobreposições de categorias de
uso das terras distintas e estimar o valor das categorias individualmente e do total
(Tabela 1).
Tabela 1. Classificação e proporção das classes de usos do solo na área de estudo. CLASSES DESCRIÇÃO ÁREA (ha) %
Eucalipto Reflorestamento de eucalipto propriamente dito. 701,33 9,85
Floresta –
estágio
médio de
regeneração
Mata Atlântica secundária em estágio médio de regeneração e
conservação. 3049,22 42,84
Floresta –
estágio
inicial de
regeneração
Mata Atlântica secundária em estágio inicial de regeneração e
conservação; mais antropizada. 718,74 10,10
Solo
exposto
Solo desprovido de qualquer tipo de vegetação protetora, nativa
ou plantada. Normalmente áreas em preparo para cultivo de
eucalipto ou após corte do mesmo.
300,6 4,22
Pastagem Pastagem aonde predomina cobertura de gramíneas/braquiárias. 2040,4 28,67
Área
abandonada
Pastagem com árvores esparsas em início de regeneração
natural. 306,62 4,31
TOTAL 7116,91 100
A classificação dos usos do solo considerou as categorias agrícolas (Figura 4) e
florestais (Figura 5) da paisagem do entorno do reservatório. Os sistemas agrícolas
predominantes foram o cultivo de eucalipto e pastagens em seus diferentes níveis de
uso, enquanto a categoria florestal se apresentou em dois níveis diferentes, conforme a
influência antrópica sobre ela (Tabela 1).
Na figura 4 é possível verificar que uma parcela considerável das margens do
reservatório, portanto áreas de preservação permanente (APP) se apresentam por
pastagens, cultivo de eucalipto e mesmo áreas abandonadas, sem a cobertura florestal
obrigatória na legislação em áreas de APP como estas.
9
Mais de 2000 hectares da área de contribuição do reservatório do Atibainha
encontram-se ocupadas por pastagens que é a principal atividade econômica rural da
região. Esta atividade impede a regeneração natural da vegetação porque está
constantemente sendo manejada para assegurar a manutenção do pasto, que
normalmente se estende até áreas de preservação permanente (DITT, 2008). A segunda
atividade mais presente na região é o cultivo de eucalipto que tende cada vez mais a
crescer devido às condições ambientais de Nazaré Paulista que favorecem este cultivo e
a crescente demanda por madeira e carvão devido à proximidade de grandes centros
consumidores como São Paulo e Campinas.
Figura 4. Categorias de uso agrícola no entorno do Reservatório Atibainha, no município de
Nazaré Paulista, SP.
Ainda sem um cumprimento efetivo da legislação florestal a forma de ocupação
mais representativa na paisagem como um todo ainda é a floresta (52,94%), que se
apresenta neste estudo em dois estágios (Figura 5). Estes estágios se devem as variações
encontradas nas fotos aéreas utilizadas para avaliação da paisagem em que se verificam
diferenças na textura das imagens através do conceito de estereoscopia (DITT et al,
10
2008). As florestas em estágio médio de regeneração (42,84%) se apresentam em
estágio mais avançado de regeneração, com a mata mais conservada e com menos
influência antrópica, onde a textura na imagem analisada encontra-se menos
homogênea, o que determina a maior variação na cobertura do dossel desta mata. Por
outro lado, o estágio inicial (10,10%) que representa uma mata em regeneração inicial
com influência antrópica ainda constante mostra-se nas imagens analisadas com uma
textura mais homogênea.
Figura 5. Categoria florestal de ocupação do solo no entorno do Reservatório Atibainha, Nazaré
Paulista, SP.
Embora a floresta seja a categoria predominante na cobertura da paisagem, outros
trabalhos na região também demonstraram que a legislação ambiental (BRASIL, 1965;
BRASIL, 2002; MEDAUAR, 2005) vem sendo descumprida em sua totalidade. Ditt et
al (2008) e Martins et al (2007) colocam que todas as categorias de APPs mostram-se
desprovidas de cerca de 50% da cobertura natural, o que pode ser um indício de
comprometimento da produção hídrica tão importante nesta região.
11
O que coloca a região com uma proporção alta de florestas em comparação à
média de remanescentes florestais de mata atlântica no Brasil são as limitações
geográficas para uma significativa expansão agrícola na região e as restrições legais de
uso da terra, devido à presença do reservatório de água. Apesar destas restrições,
diversas mudanças têm ocorrido na ocupação do solo local, inclusive no que concerne a
conservação dos fragmentos florestais ainda presentes.
Desta forma, os principais fatores de ameaça de conservação das florestas e
principalmente das APPs, que na maioria das vezes se encontram dentro de
propriedades rurais, está no uso indevido destas áreas para as principais atividades
econômicas da população rural do município. Isto é, pastagem e eucalipto, e da
incipiente fiscalização do cumprimento da legislação ambiental. Com isso, o isolamento
dos fragmentos de floresta também avança rapidamente como se vê na região do
entorno deste reservatório.
Porém, mosaicos com múltiplos usos da terra em uma paisagem manejada podem
permitir o movimento de populações por meio de “ligações” entre florestas próximas.
Estes mosaicos, conhecidos como corredores de biodiversidade são unidades de
planejamento regional, muito mais que um mecanismo de zoneamento. Sob uma
perspectiva biológica, o objetivo principal do planejamento de um corredor é manter ou
restaurar a conectividade da paisagem (Conservation International, 2000).
Uma região, como a do entorno do reservatório do rio Atibainha que sofreu um
processo de desmatamento e apresenta uma paisagem fragmentada, possui alguns
componentes básicos que podem ter importância para a conservação da biota e, que por
isso precisam ter sua diversidade biológica conservada em níveis dos mosaicos das
paisagens regionais conectadas (HARRIS & SILVA-LOPEZ, 1992). O manejo atual
encontrado nas propriedades rurais não favorece a permanência destes fragmentos ainda
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existentes na região e a sustentabilidade das próprias atividades agrícolas que ainda são
manejadas através das formas mais tradicionais.
E é neste sentido que o diagnóstico ambiental da paisagem se apresenta como uma
importante ferramenta a fim de que uma paisagem possa ser manejada da melhor forma
possível, e que leve à preservação ambiental de uma região e seus potenciais
econômicos para a população que está em constante interação com o ambiente.
Neste sentido, há que se pensar em alternativas de produção agrícola que
contribuam para a conservação dos recursos bióticos e à proteção da qualidade
ambiental, compartilhando o interesse na preservação da biodiversidade e a limitação de
práticas ambientalmente destrutivas. Isto se deve ao fato de que não é mais possível
atualmente preservar a biodiversidade natural somente protegendo ecossistemas
naturais. Gliessman (2000) afirma que a preservação da biodiversidade natural também
é uma questão de manejo, assim como a produção agrícola.
A relação entre a floresta, os agroecossistemas com maior cunho ecológico,
como os sistemas agroflorestais, e a biodiversidade selvagem presentes em uma
paisagem podem fornecer maior produtividade agrícola através do manejo sustentável
onde se incorporem conhecimentos e práticas locais.
CONCLUSÕES
A agricultura na região é realizada sem um planejamento adequado às
características naturais existentes, ou seja, a utilização do relevo, do clima, da
proximidade com grandes centros urbanos e da potencialidade hídrica em beneficio do
estabelecimento rural. O que se encontra são propriedades rurais pouco assistidas por
atores já presentes na região, como órgãos de extensão rural que poderiam auxiliar para
que se impulsione a diversificação de atividades nas propriedades, e mesmo um manejo
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mais adequado das atividades já existentes para um melhor aproveitamento dos
benefícios naturais que a região proporciona.
Ademais há que se levar em consideração a importância hídrica da região com a
presença do Reservatório do rio Atibainha e sua utilidade na produção e manutenção de
água, e por conseqüência na preservação dos recursos florestais da região. Este último
recurso apenas presente devido às limitações geográficas que a região impõe para uma
significativa expansão agrícola e às restrições legais de uso da terra impostas a região
com a presença do reservatório de água. Mesmo assim, a análise de uso e ocupação do
solo do entorno do reservatório demonstra que diversas mudanças vêm ocorrendo neste
sentido e que estas mudanças podem levar ao comprometimento da conservação e
qualidade dos recursos florestais ainda presentes.
A redução dos problemas ambientais da região exige transformações em vários
níveis. Além de modificações na organização coletiva e na aplicação efetiva da
legislação ambiental para região, é preciso que o proprietário rural inserido nesta
paisagem entenda que sua propriedade está em um conjunto mais amplo que é a
paisagem, o espaço, o ambiente da região e a sociedade (ALMEIDA JR. et al., 2008). A
região deve fazer parte de um processo efetivo de gerenciamento de recursos naturais,
pois somente por meio do aperfeiçoamento de políticas de desenvolvimento local ou
regional que levem estas informações em consideração, é possível se apresentar uma
saída à sustentabilidade rural do entorno do reservatório do Atibainha.
A análise histórica do processo de transformação da paisagem é fundamental para
estas atividades de planejamento ambiental. O conhecimento da dinâmica da paisagem,
como a caracterização ambiental e a extensão das transformações espaciais e de suas
relações com fatores físicos, biológicos, socioeconômicos e políticos torna-se uma
condição essencial na definição de estratégias viáveis desse planejamento.
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AGRADECIMENTOS
Ao IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, em especial aos seus pesquisadores Rafael
Ruas Martins e Eduardo Ditt pela orientação nas análises dos dados. E também a todos
os produtores rurais entrevistados para a realização deste estudo.