Dialética Das Juventudes Modernas

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8/19/2019 Dialética Das Juventudes Modernas http://slidepdf.com/reader/full/dialetica-das-juventudes-modernas 1/14 9 Revista de Educação do Cogeime Ano 13 - n 0 25 - dezembro / 2004 Juventude e educação Synopsis Resumen R e s u m o O texto procura esboçar uma concepção sociológica dialética das juventudes, a partir de uma análise crítica de outras concepções e visões sobre a juventude: a “adolescência” segundo a Psicologia, a “puberdade” segundo a medicina e, enfim, a concepção funcionalista da juventude, presente na maior parte das pesquisas e reflexões sociológicas sobre as juventudes. A concepção dialética recupera o caráter social e histórico das juventudes modernas e contemporâneas, enquanto grupos etários homogêneos, institucionalizados ou informais. Unitermos: juventude, sociologia da juventude, grupos juvenis, história da juventude, autonomia. Dialética das  juventudes modernas e contemporâneas Dialectics of modern and contemporary youths Luís Antonio Groppo Professor do Programa de Mestrado em Educação Sócio-comunitária do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), Unidade Americana. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É autor do livro  Juventude. Ensaios sobre Sociologia e História das juventudes modernas (Rio de Janeiro: Difel, 2000). E-mail: [email protected] The paper tries to delineate a sociological and dialectic conception of youths, from a critical analysis of other conceptions and views about youth: “adolescence” according to Psychology, “puberty” according to Medicine and, finally, the functional conception of youth, occurring in the most part of researches and sociological reflexions about youths. The dialectic conception recuperates the social and historical character of modern and contemporary youths, as homogenous, institutionalized or informal age groups. Terms: youth, sociology of youth, youthful groups, history of youth, autonomy. El texto procura esbozar una concepción sociológica dialéctica de las juventudes, a partir de un análisis crítico de otras concepciones y visiones sobre la juventud: la “adolescencia” según la Psicología, la “pubertad” según la medicina y, finalmente, la concepción funcionalista de la juventud, presente en la mayor parte de las investigaciones y reflexiones sociológicas sobre las juventudes. La concepción dialéctica recupera el carácter social e histórico de las juventudes modernas y contemporáneas, en cuanto grupos por edad homogéneos, institucionalizados o informales. Términos: juventud, sociología de la juventud, grupos juveniles, historia de la juventud, autonomía.

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Juventude

eeducação

S y n o p s i s

R e s u m e n

R e s u m oO texto procura esboçar uma concepção sociológica dialética das juventudes, a partir de uma análise crítica de outras

concepções e visões sobre a juventude: a “adolescência” segundo a Psicologia, a “puberdade” segundo a medicina e,enfim, a concepção funcionalista da juventude, presente na maior parte das pesquisas e reflexões sociológicas sobre

as juventudes. A concepção dialética recupera o caráter social e histórico das juventudes modernas e contemporâneas,

enquanto grupos etários homogêneos, institucionalizados ou informais.

Unitermos: juventude, sociologia da juventude, grupos juvenis, história da juventude, autonomia.

Dialética das juventudes modernas

e contemporâneasDialectics of modern and

contemporary youthsLuís Antonio GroppoProfessor do Programa de Mestrado em Educação Sócio-comunitária do CentroUniversitário Salesiano de São Paulo (Unisal), Unidade Americana. Doutor em CiênciasSociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).É autor do livro Juventude. Ensaios sobre Sociologia e História das juventudes modernas(Rio de Janeiro: Difel, 2000).E-mail: [email protected]

The paper tries to delineate a sociological and dialectic conception of youths, from a critical analysis of other

conceptions and views about youth: “adolescence” according to Psychology, “puberty” according to Medicine and,

finally, the functional conception of youth, occurring in the most part of researches and sociological reflexions about

youths. The dialectic conception recuperates the social and historical character of modern and contemporary youths,

as homogenous, institutionalized or informal age groups.

Terms: youth, sociology of youth, youthful groups, history of youth, autonomy.

El texto procura esbozar una concepción sociológica dialéctica de las juventudes, a partir de un análisis crítico deotras concepciones y visiones sobre la juventud: la “adolescencia” según la Psicología, la “pubertad” según lamedicina y, finalmente, la concepción funcionalista de la juventud, presente en la mayor parte de las investigacionesy reflexiones sociológicas sobre las juventudes. La concepción dialéctica recupera el carácter social e histórico de lasjuventudes modernas y contemporáneas, en cuanto grupos por edad homogéneos, institucionalizados o informales.

Términos: juventud, sociología de la juventud, grupos juveniles, historia de la juventud, autonomía.

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A  juventude é uma constante

preocupação das sociedadesmodernas e contemporâneas, umapermanente “questão pública”. Na ver-dade, existem ciclos, fases em que apreocupação com a juventude é enfa-tizada. Por exemplo, a partir do final doséculo XVIII e em todo o século XIX,diversos ciclos de preocupação com a“delinqüência” e/ou promiscuidade ju ve ni l da s cl as se s tr ab al ha do ra s sederam, conforme a industrialização ea urbanização iam se aprofundando e

se estendendo pelos países da Europae, logo, para todo o mundo. Conformeos efeitos sociais negativos do capi-talismo industrial iam avançando, logose impunha a questão da “juventude”desregrada, viciada, promíscua, indis-ciplinada, delinqüente, formadora debandos criminosos etc., sem queficasse claro para o discurso social eaté para as ciências qual era a relaçãoentre o avanço do capitalismo indus-trial, os problemas sociais daí decor-

rentes e a “questão da juventude” (Flin-ter, 1968; Pinchbeck & Hewitt, s.d.;Humphries, 1984). Algo semelhanteparece dar-se hoje, novamente, confor-me avança o capitalismo em uma novamodulação, “global”, baseado numa“acumulação flexível” geradora de de-semprego estrutural, decomposiçãosocial e destruição ecológica (ver, porexemplo, Forrester, 1997). Novas ondasde preocupação pública para com a juventude surgem, quando novamente

se fala tanto em caridade quanto re-pressão, paternalismo e criminali-zação da delinqüência juvenil, políticaspúblicas para a juventude e rebaixa-mento da idade penal.

Desde seu início, o “problema da ju ve nt ud e” mo bi li zo u qu ad ro s in te -lectuais (cientistas, juristas, políticos,pedagogos, psicólogos, médicos etc.)

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para a definição de quando a juven-

tude, afinal, começa e termina, paraassim orientar a ação do Estado e dasinstituições socializadoras. A idadecontada em anos, dado objetivamentedeterminado, parecia ser o melhorcritério para o julgamento das açõesindividuais e a atribuição de deveres edireitos, dada sua universalidade ecaráter quantitativo. Também, per-mitia às ciências, principalmente noponto de vista positivista, elucidar aspretensas determinações “naturais”, de

caráter bio-psicológico, do desenvol-vimento humano.

Ainda hoje este impulso essencial dasociabilidade moderna em prol da de-terminação objetiva – via delimitação defaixas etárias – das “idades da vida” vê-sepresente, principalmente no Direito. Nadécada de 1980, implantou-se, no Brasil,o Estatuto da Criança e do Adolescente.No início da atual década, o Estatuto doIdoso. Promete-se, para breve, o Estatutoda Juventude. Legalmente, segundo

estes Estatutos, a adolescência começaaos 12 e acaba aos 16 anos. A juventude,certamente, começa aos 16, mas aindanão se definiu exatamente quando aca-bará, do ponto de vista legal – muitosfalam em 25 anos, alguns até em 29 anos.Certamente, o Direito interpreta assimparte das práticas sociais e do ima-ginário coletivo, dividindo a transição dainfância à maturidade em adolescência

e  juventude . No entanto, apesar de reco-nhecer a adolescência e a juventude

como “direitos”, colaborando poten-cialmente para aumentar o grau decivilidade e bem-estar de indivíduos ecoletividades, o ponto de vista legalainda deixa de lado muito da comple-xidade e diversidade assumidas pelacondição juvenil.

Para a compreensão dos signifi-cados sociais das juventudes mo-

A juventude começa

aos 16, mas ainda

não se definiu

quando acabará

Novas ondas de

preocupação pública

com a juventude

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dernas e contemporâneas, o essencial

não é delimitar de antemão a faixaetária da sua vigência. Esta faixa etá-ria não tem caráter absoluto e uni-versal. É um produto da interpretaçãodas instituições das sociedades sobre asua própria dinâmica. A juventudetrata-se de uma categoria social usadapara classificar indivíduos, normatizarcomportamentos, definir direitos e de-veres. É uma categoria que operatanto no âmbito do imaginário social,quanto é um dos elementos “estru-

turante” das redes de sociabilidade. Demodo análogo à estruturação da socie-dade em classes, a modernização tam-bém criou  grupos etários homogêneos ,categorias etárias que orientam ocomportamento social, entre elas, a ju ve nt ud e.

Para uma concepçãosociológica de juventude

Murdock & McCron (1982) pra-

ticamente negam à juventude ocaráter de realidade social. Para eles,trata-se apenas de uma construçãoimaginária, um rótulo gerado com o in-tuito de manipulação ideológica. Umproduto da Inglaterra vitoriana, tãobem expresso nos ideais do criador doescotismo, o general Baden Powell,que dizia que o sentimento nacionaldeveria estar acima das diferenças declasse social, que as instituições para os jo ve ns , co mo o es co ti sm o, de vi am

misturar indivíduos de diversas classessociais e uni-los em um sentimentopatriótico comum.

Para Ortega y Gasset (1987), a juventude é um rebento do curso na-tural da vida, um dos suportes naturaise universais da vida em sociedade.Gênero e curso natural da vida são,para ele, invariantes geradores da vida

social. Mannheim (1982), por sua vez,

contextualiza melhor a realidade socialda juventude. Considera-a como umadas fontes primordiais da identidadesocial no mundo moderno, ao lado daexperiência da classe social. Contudo,acabará também por naturalizar a juv entude , consid erando a “unidade degeração” como realidade social possívelde emergir pelo compartilhar coletivode uma experiência “natural”, a juventude – enquanto a consciência declasse é um possível produto social de

uma experiência igualmente social, aposição na estrutura de classes.

Discordando de Murdock &McCron, buscarei demonstrar que a juventude é uma real idade social , nãoapenas mera mistificação ideológica.Mas, discordando de Ortega y Gassete, até certo ponto, de Mannheim, de-fendo que a realidade da juventudenão é tão somente da ordem da “natu-reza”, mas principalmente da ordem do“social” e, portanto, uma criação his-

tórica, não um invariante universal.Trata-se de desvencilhar o olharsociológico sobre as juventudes doolhar das ciências que procuram “na-turalizar” a juventude, como a Biologia– que informa a medicina – e a Psicologia.Ambas tendem a considerar a juven-tude, denominada por elas respecti-vamente como puberdade e adoles-cência, como uma transformaçãofísico-mental universal e compulsóriaa todo indivíduo (Rezende, 1989).

É claro que a puberdade, realmen-te, é algo mais ou menos universal naespécie humana. Mas a juventude é,sobretudo, uma categoria social e nãouma característica natural do indi-víduo. Na modernidade, a juventudetende a ser uma categoria social deri-vada da interpretação sócio-culturaldos significados da puberdade, este

A juventude é uma

categoria social

A modernização

criou categorias

etárias que orientam

o comportamento

social

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sim, um fenômeno natural e universal

que, no entanto, pode adquirir poucaimportância conforme a sociedade emque ocorre.

A moderna estrutura das faixasetárias, incluindo aí a juventude, foi,como muitos outros produtos da mo-dernidade, pensada como uma cate-goria universal, abstrata, generalizan-te e mesmo ideal. É mais um dos frutosdo pensamento ideológico liberal,pensamento este que unia a inter-pretação das “leis naturais” com a de-

finição abstrata e genérica dos pa-drões ideais de civilização ehumanidade, padrões que estariamsendo atendidos conforme se respei-tavam estas “leis naturais” (Mannheim,1986). Contudo, como praticamente sedeu na aplicação de todos os demaisconstrutos da modernização “bur-guesa”, como a industrialização, aurbanização, a criação dos EstadosNacionais e dos mercados capitalistas,o impacto desta “naturalização” das

categorias etárias, em destaque, a ju vent ud e, nã o pr od uz iu ho mo ge ne i-dade no tecido social. Na verdade, opróprio impacto destes inúmerosconstrutos da modernização “burguesa”foi gerador de ainda mais desigual-dade e diversidade, sem que, noentanto, seja possível dizer que alguémtenha escapado ileso das ondas demodernização.

Isto significa que, na análise social ehistórica, é preciso correlacionar a

 ju ventude com outras ca tego rias so-ciais, como classe social, nacionalidade,região, etnia, gênero, religião, condiçãourbana ou rural, momento histórico,grau de “desenvolvimento” econômicoetc. Assim, ao analisar as juventudesconcretas, é preciso fazer o cruzamentoda juventude – como categoria social –com outras categorias sociais e

condicionantes históricos. O que a

história e a análise sociológicademonstram é que, o que existeefetivamente, são grupos juvenis múl-tiplos e diversos, não uma única juven-tude concreta (Rezende, 1989). Aindaassim, procurarei demonstrar queexiste uma “condição juvenil” mais oumenos geral, que, dialeticamente, in-forma e resulta da criação destes gru-pos juvenis, destas juventudes. Trata-sede algo análogo ao que acontece comas classes operárias que, mesmo sendo

muito diferenciadas entre si, pela pre-sença de fatores como nacionalidade,religião, costumes, tradições, organi-zação política, gênero e até mesmo ascategorias etárias, têm em comum uma“condição operária”, a saber, a de seremvendedoras da sua força de trabalho.

Esta concepção sociológica da ju-ventude, que venho defendendo, re-vela a importância da juventudedentro da sociedade moderna como“elemento estrutural”, como algo im-

portante, hoje, no mínimo, comoherança, caso realmente vivamos após-modernidade.

Esta concepção principia pelaconsideração de que toda sociedade ecultura diferenciam seus membrospelo gênero (masculino e feminino),pelo parentesco (mais e menos pa-rentes) e em “fases da vida” (infância,maturidade e velhice, geralmente comrituais de passagem entre as fases).

Não são todas as sociedades, po-

rém, que criam grupos sociais a partirdestas “fases da vida”, ou de categoriasetárias. Na maior parte das sociedadespré-modernas, a tendência é a misturade idades dentro de grupos hetero-gêneos (em geral, de parentesco, ouassemelhados), como a sociedademedieval analisada por Phillippe Ariés(1981). A criação de grupos etários

O que existe

efetivamente são

grupos juvenis

múltiplos e diversos

A moderna estrutura

das faixas etárias foi

pensada como uma

categoria universal

Na maior parte da

sociedade a

tendência é a mistura

de idades

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homogêneos corresponde a socie-

dades que criam uma esfera social“pública” mais elaborada, uma parte davida social mais ou menos separada dafamília e das relações de parentesco.Nestas sociedades, exige-se uma“segunda socialização”, a socializaçãosecundária, para ensinar o indivíduo aviver também em esferas sociais nãoorganizadas a partir da família e doparentesco (Berger & Luckmann,1974, parte III), sociedades em que háuma relativa ou absoluta autonomi-

zação de esferas sociais como econo-mia, cultura, religião e política. Estassão as sociedades que S. N. Eisenstadt(1976) chama de “sociedades univer-salistas”. O seu exemplo mais extremosão as sociedades modernas.

Segundo Eisenstadt são três ostipos de grupos juvenis no mundo mo-derno: primeiro, a escola; segundo, osgrupos juvenis controlados por adul-tos; terceiro, os grupos juvenis infor-mais. Os grupos informais, em sua

maioria, têm importantes funçõessocializadoras, em sua minoria são“desviantes”. Na verdade, a especifici-dade das sociedades modernas emrelação a outras sociedades univer-salistas, que desenvolveram em algumgrau grupos juvenis, é a multiplicaçãoe diversificação deste terceiro tipo degrupos juvenis, os informais.

Assim, Eisenstadt demonstra que a juventude existe soc ialmente na formade grupos juvenis, ou de grupos etários

homogêneos, que reúnem indivíduoscom idades semelhantes – em oposiçãoaos grupos etários heterogêneos, dosquais a família é o principal exemplo. A ju ventude se or ig ina destes grup ossociais de caráter etariamente ho-mogêneo, reunindo indivíduos quepassam a ser chamados e considerados jovens, que passam a desenvolver

comportamentos esperados, permi-

tidos ou impostos aos  jovens .Mas Eisenstadt, apesar de toda sua

qualidade na demonstração de que a ju ventude é uma construção históricae social, ainda está preso ao que con-sidero como uma visão funcionalistada juventude. Nesta visão, que informaou atravessa, no meu entender, grandeparte da produção sociológica sobre a ju ventud e na pr im ei ra me ta de do sé -culo XX – baseada em teorias sociaisbehavioristas, no interacionismo sim-

bólico e no funcionalismo propria-mente dito –, os grupos juvenis (escola,grupos controlados por adultos e gru-pos informais) existem em função  dasocialização secundária. Da juventudeespera-se um trabalho de integração àsociedade “adulta”.

Logo se impõe justamente a ques-tão: qual seria então o significado dosconflitos de geração, dos movimentos juv en is , do s mo vi me nto s es tu da nti s,da delinqüência juvenil etc.? Na visão

funcionalista, certamente, são “infun-cionalidades”, ou sintomas destas in-funcionalidades. São “desvios” quedevem ser curados, ou que indicamdisfunções sociais.

Neste sentido, a visão funcionalistaabsorve parte da concepção natu-ralista de juventude que permeia apsicologia e a medicina, justamente noque se refere à noção de que existemestados “normais”, saudáveis, estabe-lecidos a partir de “leis sociais” positi-

vamente inteligíveis. Se há normalidade,pode haver anormalidade, doença, ano-mia – aquilo que foge do padrão, do espe-rado, que destoa e não faz “funcionar”corretamente o sistema social.

No meu entender, deste modo, gran-de parte da história das juventudesmodernas e contemporâneas, bemcomo das formas de sociabilidade dos

Qual seria o

significado dosconflitos de

geração?

A visão funcionalista

absorve parte da

concepção

naturalista de

juventude

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grupos juvenis, é jogada para o estado

caótico da anormalidade, da disfunção.Na ânsia de sanar males sociais con-cebidos, ou pré-concebidos, grandeparte da prática social e dos casoshistóricos de juvenilidade são relegadosà esfera do problemático, do doentio.Novamente, as juventudes acabamincompreendidas e impedidas de secompreenderem um pouco melhor.

Dialética da juventude

Meu objetivo, aqui, é indicar pistaspara superar estes limites da con-cepção funcionalista de juventude.Mesmo sendo capaz de levar em contao caráter social e histórico das juven-tudes, a concepção funcionalista aca-ba decaindo nos defeitos do cientifi-cismo e do “naturalismo”, que em tudobuscam padronização e equilíbriosistêmico – concebendo a sociedadecomo um “organismo” e as relaçõessociais como fenômenos naturais.

Tentarei esboçar o que considerocomo a concepção “dialética” da ju-ventude. Uma concepção, que espero,ajudará a compreender as trajetóriasdas juventudes na modernidade e con-temporaneidade.

A dialética, no marxismo, buscadeterminar quais são os elementosconstitutivos contraditórios da vidasocial e quais são os movimentosdesencadeados por tais elementos(Mandel, 1978, cap. XVI). Se Marx pensava principalmente em explicar,assim, as lutas de classe e a con-tradição entre forças produtivas erelações de produção, penso que tal ló-gica colabore também na com-preensão de um elemento funda-mental constitutivo das sociedadesmodernas, as categorias etárias, emdestaque a juventude.

Concebo a dialética das juventudes

e da condição juvenil, primeiro, comoa presença de elementos contra-ditórios no interior dos diversos grupos juveni s, elem entos que colocam cons-tantemente aquilo que é definido ins-titucional e oficialmente em estado desuperação, pela própria dinâmica inter-na das coletividades juvenis e de suasrelações com a sociedade mais geral.

As sociedades, em processo de“modernização”, engendram, desde oinício deste processo, e em ondas su-

cessivas que abarcaram cada vez maisparcelas das sociedades ocidentais enão-ocidentais, inúmeros grupos ju-venis. A primeira modalidade de grupo ju ve ni l é ju st am en te aq ue la or ga ni -zada pelas instituições do “mundoadulto”, a saber, escolas, orfanatos, in-ternatos, casas de correção, escotismoe juventudes de igrejas, partidos eEstados. Na segunda metade do séculoXX, num processo que teve os EstadosUnidos como precursor, as sociedades

modernas criaram, como novas ins-tâncias desta modalidade, as univer-sidades massificadas e o mercado deconsumo juvenil.

Tais grupos juvenis e instâncias desocialização criam a “realidade” social emque indivíduos com idades semelhantesvivem próximos, convivem juntos, ou,no caso do mercado de consumo, pen-sam e se comportam de modo seme-lhante mesmo distantes no espaço. Masé justamente desta convivência forçada

que nasce a possibilidade destes indiví-duos criarem identidades, comporta-mentos e grupos próprios e alternativosàs versões oficiais.

O que se tem, portanto, na históriadas juventudes modernas, é um per-curso dialético, entre a institucionali-zação das juventudes e a possibilidadede sua autonomia. A autonomia juvenil

As juventudes

acabam

incompreendidas e

impedidas de se

compreenderem um

pouco melhor

Dessa convivência

forçada nasce a

possibilidade de se

criarem

identidades,comportamentos e

grupos próprios

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(que não deve ser confundida com es-

querdismo, nem com revolta prio-ritariamente política) pode ser re-primida pela sociedade, contida ou terseus valores e elementos sociais absor-vidos pela estrutura social. Entre oscaso de reabsorção da revolta da ju-ventude, posso citar os grupos juvenisorientados por adultos republicanosou socialistas no século XIX, a apro-priação do modelo do Movimento Ju-venil Alemão por partidos de direita eesquerda na Alemanha dos anos 1920,

os grupos juvenis usados para atomada do poder pelos fascistas, aacomodação dos jovens rebelados emmovimentos antioligárquicos daAmérica Latina na estrutura de podere, mais recentemente, inclusive nocaso da contracultura, o uso dascriações culturais juvenis pelaindústria cultural.

A importante obra de John R. Gillis(1981) parece indicar que o períodoque observou os principais processos

de institucionalização das juventudes –que chama de “Era da Adolescência”,entre 1900 e 1950 –, está intercaladoentre os dois momentos históricos demaior agitação das juventudes: operíodo de 1770 a 1870 e os anos 1950 e60. Na sua obra, a dialética da ju ve nt ud e op er a pr in cipa lm en te emciclos históricos, na alternância entreperíodos de maior integração das ju ve nt ud es e pe rí od os em qu e pr e-valece a mobilização contestadora. Às

transformações revolucionárias dassociedades ocidentais, a partir dasegunda metade do século XVIII,seguem-se manifestações – em forma derevolta ou esboços de organizaçãoautônoma –– de grupos compostos por jovens, ainda que, em geral, tais gruposfossem organizados por adultos:grupos juvenis formados pela Franco-

Maçonaria, ou sob sua inspiração, in-

clusive vários deles com apelo místicoe esotérico, como os Rosacruzianistas;grupos evangélicos anti-institucionais(pietistas, quakers e metodistas); so-ciedades secretas insurrecionais con-tra a Restauração (como os carbo-nários); juventudes nacionalistas deMazzini; grupos juvenis formados porseguidores dos socialistas “utópicos”(como as “Crianças de Saint-Simon”);sociedades ginastas e fraternidadesuniversitárias na Alemanha; a Boêmia

parisiense etc. Atente-se ao fato de quenão são apenas movimentos políticos,muito menos apenas “progressistas”,mas também religiosos, místicos eculturais, com tendências ideológicasdiversas como republicanismo, nacio-nalismo, socialismo “utópico” e até con-servadorismo – mas, invariavelmente,em tom inconformista, muitas vezescom caráter insurrecional e inter-pretando as ideologias naquilo queeram favoráveis ao voluntarismo,

valorizando menos a experiência emais a “experimentação”.Os anos 1950 e 60 refletem, nos seus

movimentos juvenis, tanto os pro-cessos de institucionalização da “Era daAdolescência”, quanto os novos pro-cessos, como a massificação das uni-versidades e o crescimento da in-dústria cultural. São movimentos emanifestações mais conhecidos, comoos “rebeldes sem-causa”, a mobilizaçãoem torno do rock and roll, os hippies e

as contraculturas, os movimentosestudantis, maio de 68 etc. Avançandoem relação ao período em que Gillispára, poderia se aventar a hipótese deque, a partir dos anos 1970, inicia-se umnovo ciclo de integração das juven-tudes, através principalmente da açãodas indústrias culturais, do marketinge mercados de consumo juvenil.

A dialética da

juventude opera

entre períodos de

integração e de

mobilização

contestada

Os anos 1970

marcam o novo

ciclo de integração

das juventudes

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Mas, voltando à “Era da Adoles-

cência” (1900-1950), mesmo este perío-do contém amostras importantes dadialética social e histórica das juven-tudes. O próprio Gillis (1981) indica isto,quando afirma que a Era da Adoles-cência também foi a “Era da Delin-qüência”, quando continuou muito pre-sente nas análises de diversas ciênciase nos discursos e práticas sócio-po-líticas a questão da delinqüência juve-nil. Delinqüência que era ao mesmotempo real e imaginária, contraponto

necessário para justificar a institucio-nalização disciplinarizadora da “ado-lescência”. Gillis indica também a rea-lidade das resistências dos indivíduose coletividades juvenis das classestrabalhadoras a esta instituicionali-zação forçada – via legislação e esco-larização. Muito do que foi a delin-qüência nestes tempos, expressavatambém esta resistência (ver tambémHumphries, 1984). Enfim, é precisolembrar que a mobilização política da

 ju ve nt ud e ne st es te mp os fo i, so br e-tudo, conservadora e “patriótica” – en-saiada desde as jovens companhias decadetes, na Inglaterra da década de1850, passando pelos batalhões esco-lares na França da década de 1880,pelas Brigadas Juvenis inglesas e oescotismo –, em geral, ligada a práticasesportivas valorizadas em seu caráterdisciplinador e militarista.

Logo chegaria a hora dos movi-mentos fascistas usarem estas táticas

de mobilização dos jovens para refor-çar suas organizações e até tomar opoder, em destaque o fascismo italianoe o nazismo alemão. O nazi-fascismonão deixou de ser também uma es-pécie de movimento juvenil, incon-formista, voluntarista, idealista eativista – ainda que sua coloração ideo-lógica tenha sido muito diversa

daquela que observará nos movimen-

tos juvenis dos anos 1960. Revelandoque o lado “inconformista” da dialéticada juventude pode assumir tons nãonecessariamente “progressistas”, estasmobilizações foram bem sucedidas nacanalização do desejo de autonomiadas juventudes e da sua relação de tipo“experimental” com a realidade e osvalores presentes.

Na verdade, outros registros ideo-lógicos da mobilização das juventudes já se de ra m na pr im ei ra me ta de do

século XX, como os kibutz israelense eas organizações de juventude na UniãoSoviética. Esta mobilização irá abun-dar, principalmente, na segunda meta-de do século XX, nos movimentos pelalibertação nacional, na RevoluçãoCubana e na Revolução Cultural Chi-nesa. Estes movimentos políticos fo-ram também, ou contiveram, bemsucedidas mobilizações das juven-tudes em torno do inconformismo, dovoluntarismo e do impulso à auto-

nomia das vontades.Outra maneira de perceber a dia-lética das juventudes é analisar o queparece haver de geral na “condição ju ve ni l” na mo de rn id ad e. Ka rlMannheim (1982) e Marialice Foracchi(1972) indicam que se trata de umacondição em que indivíduos e gruposvivenciam uma relação experimentalcom valores e estruturas sociais. Ela éexperimental no sentido de significarum primeiro contato do indivíduo

como protagonista destes valores –papel que pode ser rejeitado ou sabo-tado durante tal fase “experimental”.

Os jovens ainda não têm os valorese comportamentos esperados comoalgo introjetado em sua personalidadee no modo de ser. A possibilidade deque muitos indivíduos nesta mesmacondição – de relação experimental

O nazi-facismo não

deixou de ser uma

espécie de

movimento juvenil

A “Era da

Adolescência”

também foi a “Era

da Delinqüência”

Os jovens não têm

os valores de

comportamento

introjetados em seu

modo de ser

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com a realidade social – se encontrem

 ju nt os é dada pe la mo dern id ad e, qu ecria ela mesma as condições da revoltadas juventudes, quando Estado, agên-cias oficiais de socialização, direito,ciências, saberes disciplinares, parti-dos, igrejas, indústria cultural, movi-mentos sociais etc. procuram institu-cionalizar as juventudes que têm ao sedispor, ou que buscam abarcar.

A condição juvenil, como relaçãoexperimental com o presente, tende afazer com que as juventudes valo-

rizem mais as vivências do imediatoe a espontaneidade, que tendam aconsiderar mais ou menos secundá-rio, às vezes até inútil, a experiênciaacumulada, já que esta é um atributoda maturidade, daqueles que já ex-perimentaram os valores e as rea-lidades e os introjetaram em sua per-sonalidade básica. Atente-se quevalorizar a experimentação não signi-fica dizer que a juventude é neces-sariamente “irresponsável”, no sentido

negativo do termo. Significa dizer,sim, que a condição juvenil tende afazer com que indivíduos e grupos jo ve ns de sv al or iz em ou de ssa cr a-lizem a “sabedoria” acumulada, signi-fica que esta condição tende a fazercom que os jovens valorizem ideo-logias que enfatizam a “vivência”, aespontaneidade, a ação imediata.

Deste modo, é possível dizer que aforça e a fraqueza das juventudesmodernas advém desta condição de

relação experimental com a realidadepresente. Esta condição contém o pe-rigo da desvalorização de experiên-cias acumuladas e comprovadasracionalmente. Mas, por outro lado,contém a possibilidade de que se con-teste aquilo que parecia imutável ou de(falso) valor absoluto.

Uma juventude “pós-

moderna”? 1 

Como indiquei, as sociedades emprocesso de modernização procuram,pelo menos desde o século XIX, criaruma rígida cronologização do cursoda vida individual. Os processos queconstruíram as estruturas sociais domundo moderno não foram apenasaqueles que deram origem aocapitalismo e suas classes sociais, aurbanização em grande escala, a in-

dustrialização, a mercantilização davida e a autonomização das esferas deação social. Também deve se consi-derar – às vezes, para dar conta dasnecessidades oriundas dos processosde modernização citados; outrasvezes, para tornar possíveis estesprocessos, como parte de um movi-mento mais geral de “racionalizaçãoda vida social” –, a cronologização docurso da vida e os eventos conco-mitantes de institucionalização do

curso da vida e formação de gruposetários homogêneos.2

O curso da vida tem na medida em“anos” o critério mais objetivo, neutro enatural possível. Através desta medidae critério, se busca determinar – para aciência, educação, direito etc. – osestágios da vida do ser humano. A idadecontada sob o rígido critério do tempoabsoluto torna-se a melhor forma dereduzir todas as diferenças sociais eindividuais reais a um denominador

comum e universal (Fortes, 1992).1. As idéias deste item se devem, sobretudo, àsleituras indicadas pela Profa Dra. Guida Grin Debert,bem como suas aulas na disciplina “Antropologia eVelhice” (Tópicos Avançados em Cultura e PolíticaII), no Programa de Doutorado em Ciências Sociaisda Unicamp, Campinas, 2o semestre de 1997.2. Até mesmo Ariés (1981, p. 194) afirma que asclasses de idade e as classes sociais são categoriasque emergem em conjunto na história moderna esão mutuamente necessárias.

Valorizar a

experimentação não

significa que a

juventude é

“irresponsável”

A força e a fraqueza

da juventude advém

da relação com a

realidade

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Ao mesmo tempo em que se dá esta

cronologização, ocorre a institucio-nalização do curso da vida. As açõesmais visíveis desta institucionalizaçãosão, nos séculos XIX e XX, as nor-matizações levadas a cabo pelo Estadoe a escolarização. O processo é aindamais claro nas crianças levadas à es-cola, quando passam a ser ignoradasdiferenças e competências individuaisna seriação e determinação dos con-teúdos ministrados. No direito, as leisde proteção ao trabalho, leis eleitorais,

penalidades criminais, instauração doconceito de maioridade criminal e jurídica , si stema de pensões para ido-sos etc. (Kohli & Meyer, 1986).

Contudo, diversas análises indicamque vem acontecendo contempora-neamente a “desinstitucionalização docurso da vida”, um processo que estariaengendrando, a partir dos anos 1970,uma sociedade na qual as faixas etá-rias não seriam mais essenciais para adeterminação do curso da vida no

aspecto privado (Kohli & Meyer, 1986;Debert, 1999). Esse processo faz comque as intervenções institucionaisbaseadas na cronologização do cursoda vida, como aquelas feitas pelo Es-tado, tenham seu peso cada vez menor,obrigando indivíduos e grupos sociaisa procurar soluções particulares paraas dificuldades inerentes ao ritmobiológico da vida (como o envelhe-cimento). Trata-se da “reprivatizaçãodo curso da vida”.

Alguns parecem indicar que este éum processo libertador. Outros con-seguem perceber sua incidência emconjunto com a flexibilização das rela-ções de trabalho e dos mercados deconsumo, que há um caráter perversoneste relativo abandono das políticassociais e do Estado em relação aocuidado com o curso da vida indi-

vidual, que passa a ser “reprivatizado”

(Debert, 1999).Nesta pretensa sociedade “pós-mo-

derna”, a própria juventude teria per-dido sua razão de ser no seu sentido,hegemônico durante a modernidade,de transitoriedade, construção daindividualidade e aquisição de expe-riências sociais básicas. Parece seimpor algo que várias vezes anteshavia se anunciado e esboçado: a ju-ventude seria, sobretudo, um “estilo devida”, um “modo de ser” – a juventude

“bastaria em si mesma”.A juventude desaparece para dar

lugar à “juvenilização”, deixa de ser umavivência transitória para ser um estilode vida identificado ao bem viverconsumista. O juvenil é “juvenilizado”,desvinculando-se da idade adoles-cente e tendo retirado de si conteúdosmais rebeldes, revolucionários ou me-ramente disfuncionais. Enfim, a “juve-nilização” da vida contemporânea tor-nou-se a mais desejada aparência dos

clientes da cultura de mercado(Santos, 1992).Desta análise, que indica a desins-

titucionalização e a reprivatização docurso da vida, emerge uma concepçãorelativista da juventude. Concepçãoesta que já existia outrora em algumasanálises das ciências sociais, que seesboçava na visão de mundo de di-versos movimentos juvenis (do Mo-vimento Juvenil Alemão à contra-cultura) e que se tornou o padrão do

“bom viver” segundo a indústria cultu-ral. Considera-se aqui a juventude um“estilo de vida”, como uma “forma de ser”,como “estado de espírito”, que todos,independente da sua idade, podem – edevem – assumir.

Na visão da juventude como “estadode espírito” temos uma concepção pós-moderna dos comportamentos sociais,

Diversas análises

indicam a

“desinstitucionalização

do curso de vida”

A juventude

desaparece para

dar lugar à

“juvenilização”

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ou seja, de que o indivíduo tem relativa

margem de manobra para compor suaidentidade, comportamentos e valores– e transformá-los. É esta mesma con-cepção que irá influenciar muito doque tem sido pensado e praticadocomo a “Terceira Idade” (alguns já di-zem, a “Melhor Idade”). A velhice estariase transformando nesta terceira ou“melhor” idade, na qual os indivíduos sãoresponsáveis por manter ou alcançaruma vida saudável, ativa e “juvenil”.Contudo, muitas vezes se esquece que

a concepção de uma Terceira Idadeque deve ser “jovem” a qualquer custo,pode levar a uma marginalização da-queles em que o envelhecimento físicoe mental consumiu as possibilidades deum estilo de vida mais ativo.

No meu entender, na verdade, a“reprivatização” do curso da vida indicauma regressão dos direitos sociaisrelativos à infância, juventude e velhice.No caso da juventude propriamentedita, paira, agora sim, uma real ameaça

de “anomia social”, dada a ausência deum período transitório no qual osagentes sociais seriam “treinados” para aaquisição de requisitos mínimos decivilidade, cidadania, consciência sociale criatividade cultural, período outrorachamado “juventude”.

São reais os processos que envol-vem a “reprivatização” do curso da vida.Em parte, respondem a anseios li-bertários de uma geração que fez arevolução cultural dos anos 1960, que

ajudou a organizar movimentos sociaisde aposentados e em prol dos direitosdos idosos. Em parte, porém, areprivatização é determinada também,talvez principalmente, pela regressãodos direitos sociais observada com aintensificação do capitalismo, atravésdo fenômeno da globalização,legitimada pelas ideologias “neoliberais”.

Mas o próprio processo de “repri-

vatização” tem que ser relativizado. Elenão é tão geral e absoluto quanto po-deria se imaginar. Num primeiro mo-mento, tinha levado a sério a hipótese deque a dialética moderna da condição juveni l tinha desaparecido, tanto pelaação “reprivatizadora” e relativizadora daconcepção pós-moderna das categoriasetárias, quanto pela desestabilizaçãosócio-econômica generalizada desde osanos 1970 – que fizeram recuar a juven-tude como “direito”.

É claro que esta superação da dia-lética da juventude, pela corrosão docaráter iniciatório e experienciador dafase juvenil, é uma possibilidade, sim.Alguns consideram isto uma positivi-dade, uma libertação, em sua con-cepção “pós-moderna” da juventude,defendendo a desinstitucionalizaçãodo curso da vida. A juventude é aí umestilo de vida associado a compor-tamentos escolhidos pelo indivíduo,mas nem sempre a defesa desta ju-

ventude “pós-moderna” indica o quantotal estilo está ligado a certos padrõesde consumo. Mais que uma libertaçãopara a autoprogramação do curso davida, para a maior parte das pessoas ofenômeno é antes negativo que posi-tivo. Trata-se da negação da juventudeno seu sentido moderno, como mo-mento de socialização secundária queantecipa o ingresso na maturidade e omundo público, inclusive como pro-teção. Negação que se estende cada

vez mais para grupos sociais. Isto signi-fica a regressão de certas conquistassociais, de certos direitos sociais easpectos positivos da universalizaçãorelativa das juventudes modernas. Umforte exemplo deste segundo ponto éa generalização do desemprego, daprecarização do trabalho e a piora nascondições de vida, gerando insegu-

O “direito à

juventude” vem se

tornando cada vez

mais uma

promessa não

cumprida

A mesma

concepção irá

influenciar o que

tem sido praticado

como a “melhor

idade”

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rança aos jovens tanto do “mundo

desenvolvido” quanto das partes mais“desenvolvidas” dos países pobres.Quanto ao resto do mundo o “direito à juventude” vem se tornan do cada vezmais uma promessa não cumprida.

Um outro aspecto relativiza a re-privatização do curso da vida, ao mes-mo tempo em que denuncia seucaráter regressivo. Ele se revelou, paramim, nas grandes manifestações emSeattle, em 1999, contra a Rodada doMilênio da Organização Mundial de

Comércio (OMC). A maior parte dosmanifestantes era composta de jovens.Repetia-se um fenômeno semelhanteaos movimentos estudantis de 1968,em que, se o caráter juvenil das mo-bilizações não era consciente ou erarelegado ao segundo plano, apesardisto, se tratava fundamentalmente deum movimento juvenil, fazendo operarnovamente a dialética da juventude.Mas os movimentos de crítica à globa-lização não são idênticos aos de 1968.

Lá, se tratava, sobretudo, da demandapor “libertação” – em relação aospadrões comportamentais, em relaçãoà dominação neo-imperialista ou emrelação ao poder das burocracias,portanto, uma revolta pela libertaçãona era dos “três mundos”. Hoje, se tratafundamentalmente do repúdio àregressão dos direitos sociais e aprivatização e mercantilização debens outrora considerados como“públicos”, regressão levada a efeito pelo

capitalismo global e neoliberal(Denning, 2002). Entre estes direitosameaçados, deve estar presente o“direito à juventude”. Entre estes bensmercantilizados, está o próprio cursoda vida, que está sendo “reprivatizado”.

As novas mobilizações de indi-víduos e grupos juvenis, quase semprenão conscientemente em torno desta

identidade juvenil, vêm alimentando

os movimentos sociais e políticos emtodo mundo, que fazem crítica à glo-balização. Também, eram jovens osrostos e as vozes mais fortes duranteprotestos sociais no Irã em 1999, emdiversas manifestações recentes naAmérica Latina, durante a crise nospaíses asiáticos (Coréia do Sul, Indo-nésia) em 1998 etc.

No meu entender, estes fenômenosindicam que é preciso ainda consi-derar a capacidade de autonomia das

 ju ve nt ud es , part in do da su a re la çã oexperimental com valores, idéias einstituições durante sua socializaçãosecundária. Daí ainda podem emergirvisões de mundo alternativas e radi-calmente críticas (mas não neces-sariamente, como prova a história, “deesquerda”).

Conclusão

Ainda que a dialética de Marx afir-me que, segundo as “leis” do movimentohistórico, tudo está fadado a ser supe-rado, talvez possa se dizer que aindanão chegou o momento da juventudeser superada como elemento estru-tural da sociabilidade contemporânea.Deste elemento, fundado numa rela-ção certamente dialética e contra-ditória entre a busca de padronizaçãoe os desejos de autonomia, ainda serealiza parte importante do processode socialização dos indivíduos.

Em primeiro lugar, os grupos ju-venis, institucionalizados ou não, aindaexercem importantes tarefas, “funções”,de preparação dos indivíduos para omundo social. Simplesmente, eliminara juventude como socialização secun-dária, poderia significar uma vacuidadenas estruturas sociais (talvez atépudesse ser dito, um estado de anomia).

A maior parte dos

manifestantes era

composta de jovens

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Mas, isto ainda não é tudo, pois,

como procurei demonstrar, se a juven-tude – enquanto coletividade reunidaem grupos etários homogêneos – é umacategoria social com sua própria dia-lética, permeada de contradições,então ainda devem estar emergindodaí o que a visão funcionalista chamade “disfunções”, e que uma visão dia-lética da juventude tenta considerar oseu significado mais profundo – evitan-do, porém, idealizar este significado.Trata-se da possibilidade dos indiví-

duos e grupos jovens desenvolverem,de modo autônomo, identidades evalores próprios, relativamente oumuito destoantes dos padrões sociaisde seu tempo. Trata-se da possibilidadede surgirem revoltas, rebeldias, insa-tisfações e negações, a partir do que sódeveria ser, a princípio, acomodação,socialização tranqüila, integraçãosocial. As recentes e poderosas mani-festações políticas das juventudes, emtodo mundo, estão aí para provar que

este caráter das juventudes modernasainda continua presente, e muito pre-sente. Talvez, não menos que outrasmanifestações que indicam tambémoutras contradições das sociedades

conteporâneas sob a égide do capi-

talismo, como os crescentes níveis deviolência que vitimam os mais jovens.

Seja para procurar compreendera violência muitas vezes ensandecidade gangues juvenis, seja paraencontrar esperança nos novosmovimentos de crítica aos efeitosnegativos da globalização, parece-meque a dialética da juventude – presentedesde o início da modernização – éainda um importante instrumento deanálise sociológica. Este artigo não

inventou nem a concepção socio-lógica de juventude, nem mesmo foi oprimeiro a reconhecer seu caráterdialético. Diversos são os autores,análises e pesquisas que realizaramtais intentos, mesmo quando não ver-balizaram com estas mesmas pala-vras sua concepção de juventude. Oque busquei, aqui, foi explicitar taldialética das juventudes modernas econtemporâneas, em prol de estudossociológicos que investiguem melhor

as juventudes do mundo atual. Afinal,a sociologia sempre teve nas juven-tudes um importante portal para com-preender a própria sociedade em seutodo.

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