Diálogo com as Sombras. Hermínio C. Miranda. 1976

download Diálogo com as Sombras. Hermínio C. Miranda. 1976

of 197

Transcript of Diálogo com as Sombras. Hermínio C. Miranda. 1976

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    1/197

    DILOGO COM

    AS SOMBRAS Teoria e Prtica da Doutr inao

    Hermnio C. Miranda

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    2/197

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    3/197

    3 DILOGO COM AS SOMBRAS

    DILOGO COMAS SOMBRAS

    Teoria e Prtica da Doutr inao

    Hermnio C. Miranda

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    4/197

    4 Hermnio C. Miranda

    CONVITE:

    Convidamos voc, que teve a opor tunidade de lerlivremente esta obra, a par ticipar da nossa campanha deSEMEADURA DE LETRAS, que consiste em cada qual

    comprar um livro esprita, ler e depois presente-lo aoutrem, colaborando assim na divulgao do Espiritismo

    e incentivando as pessoas boa leitura.

    Essa ao, certamente, render timos frutos.

    Abrao fraterno e muita LUZ par a todos!

    www.luzespirita.org.br

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    5/197

    5 DILOGO COM AS SOMBRAS

    ndice

    Doutrinao e desobsesso pg 7

    Introduo pg 10

    Primeira Parte A instrumentao pg 14 1 O grupo

    Segunda Parte As pessoas pg 29

    2 Os encarnados3 Os mdiuns4 O doutrinador 5 Outros participantes6 Os assistentes7 Renovao do grupo8 Os desencarnados - os orientadores9 Os manifestantes10 O obsessor 11 O perseguido12 Deformaes13 O dirigente das trevas14 O planejador 15 Os juristas16 O executor 17 O religioso18 O materialista19 O intelectual20 O vingador 21 Magos e feiticeiros22 Magnetizadores e hipnotizadores23 Mulheres

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    6/197

    6 Hermnio C. Miranda

    Terceira Parte O campo de trabalho pg 121 24 o problema25 o poder

    26 vaidade e orgulho27 processos de fuga28 as organizaes: estrutura, tica, mtodos, hierarquia e discipli

    Quarta Parte Tcnicas e recursos pg 137 29 Tcnicas e recursos30 O desenvolvimento do dilogo. Fixaes. Cacoetes. Dores

    fsicas. Deformaes. Mutilaes31 Linguagem enrgica32 A prece33 O passe34 Recordaes do passado35 A crise36 Perspectivas37 O intervalo38 Sonhos e desdobramentos39 Resumo e concluses

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    7/197

    7 DILOGO COM AS SOMBRAS

    Doutrinao e desobsesso

    Qua l o teu n ome? indaga Jesus. Responde-lhe: O meu nome Legio, porque somos muitos. E lhe

    imploravam com insistncia que no os mandasse para fora dessa regio (Gerasa).

    (Marcos, 5:9-10)

    Temos sob as vistas um novo livro de Hermnio C. Miranda: DILOGO COM ASSOMBRAS Teoria e Prtica da Doutrinao.Estamos familiarizados com os escritos do autor, pois acompanhamo-lo em seus es

    ano aps ano, pelas pginas de Reformador. Conhecemos-lhe as anlises criteriosas de de obras de bastante repercusso, nas esferas da Religio, da Filosofia e das Pesquisas, nodo Espiritualismo e, mais especificamente, do Espiritismo e do Evangelho de Jesus. Raros livros marcantes de escritores contemporneos e antigos, nessas especialidades, que lhe nmerecido a crtica serena e construtiva. Os sistemas doutrinrios erguidos pelo penshumano, na sua longa e exaustiva elaborao, no curso de milnios, so-lhe objeto de eselucubraes, geralmente traduzidos em artigos e livros que a Federao Esprita Brasileimprimindo e difundindo, aqui e fora dos prprios limites territoriais das Terras de Santa Cr

    Nos ltimos anos, os trabalhos de Hermnio C. Miranda tm esflorado temas de importncia, como sempre, mas de abordagem difcil, alguns deles pouco estudados anMdium do Anticristo, por exemplo. Os artigos referentes a A Morte Provisria (5 e IIGeller, O Cinquentenrio de Lady Nona, A Maldio dos Faras, etc., fazem-nos pensdetidamente nas profundidades do Desconhecido. Ao lado de livros e artigos, os preintrodues e snteses de obras, como em Procs des Spirites e Processo dos EspritMme. Marina Leymarie; Imitation de lvangile selon le Spiritlsme, de Allan Kardec. Eque se acha por enquanto indito.

    Experincias que se acumularam ao longo de decnios desta e de vidas pretconsolidadas graas a esforos incessantes e renovadas perquiries, conferem-lhe espontae simplicidade no trato dos enigmas mais srios e das questes complexas, de toda uma gassuntos no mbito do inabitual, permitindo-lhe escrever para os simples e os doutlinguagem desataviada que todos entendem.

    A cincia de servir uma arte rara, exigindo dedicao e persistncia. Nela, o Amigo exercita-se h muito tempo, desinibido e despreconceituoso, como quem se movcom a naturalidade prpria dos que sabem da sua vocao e no hesitam em seguir os rumdevem trilhar.

    Escrever sobre teoria e prtica da doutrinao, apresentando o patrimnio provisdurante pelo menos dez anos Ininterruptos de servio ativo, no demorado dilogo c

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    8/197

    8 Hermnio C. Miranda

    Sombras, no tarefa fcil. A contribuio de Hermnio, no entanto, foge ao comum dos ldivulgao doutrinria e evanglica, no campo esprita. mais um extraordinrio documencartilha de orientao, descendo aos pormenores daquilo que se pode chamar de elaborametdica, gradativamente desenvolvida, elucidativa de todo o contexto das intercomunicinterligaes entre vrios planos vibratrios, no atendimento responsvel e cristo da assiespiritual em desobsesso. So horas vividas no apenas no circulo das tarefas med

    propriamente ditas, mas num mapa por assim dizer comportamental durante as demais hviglia e no sono, porquanto, na verdade, como reconhece o autor, o segredo da doutrinaamor.

    Acreditamos que Hermnio C. Miranda alcanou com o maior xito o fim a que se p porque no fez literatura: seu livro vida! compreenso, ternura, doao!

    *

    O livro, a rigor, no necessita de explicaes ou apresentaes, nem de Interprettudo nele de meridiana clareza, O prprio autor justifica cada detalhe, cada ensino ou expe suas implicaes, medida que adentra na exposio simples de coisas difceis. Ele revelaes especiais nem ensina princpios no sabidos, em Espiritismo. No entanto, coaglutinar, segura argumentao que faz, as pequeninas verdades que as desatenestudiosos nem sempre permitem captar e estereotipar nas mentes e coraes, numa leiestudo ligeiro da vasta literatura esprita, medinica ou no.

    claro que, na tessitura de um livro desta natureza, o autor nele coloca as prpriasnem sempre concordantes com as de outros autores igualmente editorados pela Federao Brasileira. Trata-se do exerccio natural do sagrado direito que cada qual tem de pensarmesmo e de abraar os pontos de vista que lhe parecem os melhores. No compete Fecensurar opinies, ainda quando no as encampe ou oficialize, exceto quando entrem em com os princpios fundamentais da Doutrina Esprita. Ora, Hermnio C. Miranda do

    seguros estudiosos, defensores e propagandistas daqueles princpios, com os quais todos pensamentos se afinam.Assim, deixamos aos nossos leitores o encargo de analisar tudo quanto o autor ex

    sugere, especialmente no que tanga a locais para sesses prticas de desobsesso e a mttrabalho, pois o mesmo direito que tem o expositor de argumentar e aconselhar, tm os demaceitar, ou no, os seus argumentos e conselhos. O que Importa, acima de tudo, que Dcom as Sombras livro doutrinariamente correto e constitui valiosa contribuio para o es prtica dos servios de desobsesso esprita.

    *

    Questo sria, para a qual gostaramos de pedir ateno, a da zoantropia,comumente citada como licantropia, O autor trata detalhadamente desse assunto, com profiA propsito, recordamos o livroLIBERTAO, de Andr Luiz: quando os originais foram-nenviados, o Diretor incumbido da anlise Inicial dessas pginas medinicas considerou uexageradas umas afirmativas e detalhes pertinentes a um caso de licantropia. Pediu confao Esprito e recebeu, como resposta, uma carta do mdium F. C. Xavier, em que transsolicitao do autor espiritual, no sentido de retirar dos originais aquelas palavras que lhe suscitado dvidas, com a explicao seguinte: Se o nosso amigo no pde admitir isso,

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    9/197

    9 DILOGO COM AS SOMBRAS

    que precisamos aguardar outra oportunidade, pois os leitores, com maior razo, tambadmitiro. As palavras da carta do mdium eram aproximadamente essas, mas o exatamente esse. Mas o comentrio particular de Chico Xavier, a pessoa que nos merece credibilidade, foi este: E na verdade, mesmo com a parte que Andr Luiz sugeriu fosse eldo texto, as coisas ainda ficavam bem longe da realidade, que bem pior do que pensamos

    *O problema da obsesso grande flagelo da Humanidade to grave,

    respectiva cura chegou a ser objeto de mensagens de Allan Kardec, em 1888 e 1889, noJaneiro (RJ), pelo mdium Frederico Jnior, dada a preocupao da Espiritualidade Supesentido de o assunto ser encarado com a seriedade e o preparo precisos, especialmente nodo amor e da exemplificao das virtudes crists. Os referidos ditados esto incorporaopsculo A Prece segundo o Evangelho, de Allan Kardec, editado pela FEB (33 edimilheiro, 1979).

    *Terminadas estas pginas iniciais, convidamos o leitor a conhecer o livro de Her

    Estamos certos de que, ao l-lo, os exemplos que encerra causar-lhe-o a ntida convicque as palavras articuladas, de que o Espiritismo , na verdade, o Consolador Prometido po

    Francisco Thiesen

    Rio de Janeiro (RJ), 22 de junho de 1979

    Presidente da Federao Esprita Brasileira

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    10/197

    10 Hermnio C. Miranda

    Introduo

    Creio necessrio declarar, no prtico deste livro, que, a meu ver, nenhuma obra dos aspectos experimentais do Espiritismo ter valor por si mesma, Isolada do contexto dodocumentos bsicos da Doutrina, Isto :

    O LIVRO DOS ESPRITOS; O LIVRO DOS MDIUNS; O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO; O CU E O INFERNO; e A GNESE.

    claro que a lista no termina a. H, na literatura esprita, um acervo considerlivros que constituem leitura obrigatria para todo aquele que se prope a um trabalho sraos companheiros desencarnados, pois no nos devemos esquecer de que o Espiritismodoutrina essencialmente evolutiva, no termina com Kardec; comea com ele.

    O relacionamento com o mundo espiritual se reveste de enganosa simplicRealmente, em princpio, qualquer pessoa dotada de faculdades medinicas, mesmo inci pode estabelecer contacto com os desencarnados, consciente ou inconscientemente, setumultuadamente. Alguns o fazem compulsoriamente ou com relutncia: outros espontaneidade; uns com respeito e amor, outros com leviandade e indiferena: e muitmesmo perceberem o que se passa e o que deve ser feito para ordenar um fenmeno quetantos outros, natural, nada tendo de mstico, fantstico ou sobrenatural, O importante Iniciarmos o trato com os Espritos desencarnados, voluntria ou involuntariamente, estcom um mnimo de preparao, apoiada num mnimo de informao. Aquele que se fenomenologia medinica sem estes petrechos indispensveis, ou aquele que arrastado a mediunidade indisciplinada ou desgovernada, estar se expondo a riscos imprevisveis parequilbrio emocional e orgnico. A prtica medinica no deve ser improvisada, pois no despreparo e ignorncia. O mundo espiritual povoado de seres que foram homens e mcomo ns mesmos, encontrando-se em variados estgios de desenvolvimento moral. Pelomundo de encarnados podemos inferir o outro, do lado de l. Ali, como aqui, enconespritos nobres e dotados de atributos morais avanados, mas, igualmente, a massa daqueles que se acham da mdia para baixo, at os extremos mais dolorosos do aviltamentoda ignorncia, da revolta, da angstia, do rancor, da vingana. Como a base do fenmedinico a sintonia espiritual, e como ainda nos encontramos todos em estgios inferievoluo, nos afinamos com maior facilidade com aqueles que tambm se acham perturbadesequilbrios de maior ou menor gravidade.

    Isto no quer dizer, obviamente, que estejamos inteira merc dos espritos perturb perturbadores; velam por ns companheiros de elevada categoria, sempre dispostos a nos

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    11/197

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    12/197

    12 Hermnio C. Miranda

    De fato, h alguns problemas ligados frequncia de trabalhos medinicos. O prdeles e dos mais srios o da prpria mediunidade, essa estranha faculdade humanaqual ainda h muito o que estudar. Outra dificuldade pondervel a organizao de um bomque se incumba, com regularidade e seriedade, das tarefas a que se prope.

    H outros problemas e dificuldades de menor importncia, mas creio que considerarmos aqui apenas esses dois o que no pouco.

    A anlise das questes mais complexas quase sempre comea pelas definies acacde vez em quando bom a gente recorrer a velhos conceitos para iluminar obstculos novosO Espiritismo doutrinrio nasceu das prticas medinicas, delas se nutre e delas de

    em grande parte, o seu desenvolvimento futuro. O intercmbio, entre o mundo espiritual somente assumiu expresso e sentido filosfico depois que Kardec ordenou e metodiconhecimentos adquiridos no contacto com os nossos irmos desencarnados. Parecetambm, que o equacionamento e a soluo das grandes inquietaes humanas vo dependvez mais, da exata compreenso do mecanismo das relaes entre esses dois mundos que, de contas, no so mais que um nico, em planos diferentes. Logo, a prtica medinicaapenas aconselhvel, como indispensvel ao futuro da Humanidade.

    Convm pensar tambm que a prpria dinmica da Doutrina Esprita exigeintercmbio espiritual, em primeiro lugar para que se observe e estude o fenmemediunidade, suas grandezas, os riscos que oferece, as oportunidades de aprendizado e prque contm, no apenas para o mdium, mas para aquele que assiste aos trabalhos e participa.

    claro que a mediunidade tem um mecanismo muito complexo e at agora poucosos cientistas dignos desse nome que se dedicaram, realmente, a fundo e com a mente desar preconceitos, ao estudo dela. Mas se no a observarmos em ao, como poderemos compreend-la um dia? S aprendemos a nadar pulando dentro dgua sob a orientao de tenha, a respeito, noes satisfatrias. Se incompleto o conhecimento sem a prtica medtambm o o exerccio desta sem o estudo daquilo que j se sabe sobre o fenmeno.

    Evidentemente, precisamos estar atentos ao puro mediunismo sem objetivos elevados, como tambm ao animismo de certos mdiuns mais interessados nas suas prpriaque na transmisso daquilo que recebem dos companheiros desencarnados.

    H riscos, sim. De mistificaes por parte de pobres irmos carecentes de entendiDe aceitao de inverdades sutilmente apresentadas sob fascinantes roupagens. De afliembora passageiras causadas pelo desfile das angstias de irmos sofredores.

    Ser, porm, que isso constitui motivo para nos privarmos das recompensaaprendizado, das alegrias que experimentamos ao encaminhar s trilhas da paz um Espcrise?

    H um universo a explorar. H uma Humanidade inteira clamando por aesclarecimento, compreenso e caridade no chamado mundo espiritual. Seus dramas angstias no so puramente individuais. O Esprito que erra, invariavelmente prejudica a mais. Os erros que cometemos, prendem-nos a uma cadeia de fatos e de seres que se estentempo a fora. Nunca o drama de um Esprito apenas seu. H sempre, nesta vida ou em das anteriores, elos que nos ligam a outros seres e outras dores. Aquele que odeia, muitas est maduro para o perdo basta uma palavra serena de esclarecimento, um gesto de trcompreenso para libertar, no apenas o seu esprito da tormenta do dio, mas tambm oque lhe sofre as agressivas vibraes, provocadas por antigas mgoas. Aos que ainda dvingar-se de antiqussimas ofensas, mostramos a inutilidade do seu intento e os novos pro

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    13/197

    13 DILOGO COM AS SOMBRAS

    com que viro agravar o seu futuro. Ao que ainda se prende a superadas teologias, ajudcompreender a nova realidade que tem diante de si. A todos os que erraram, consolamosnossa prpria imperfeio e com a certeza da recuperao. Os que j atingiram elevados pade conhecimento e amor, ouvimo-los com admirao e proveito. Muitos nos buscam apentrazer notcias das suas prprias concluses, da nova compreenso diante desse mistrio renovado da vida.

    Multides de seres que aqui viveram inmeras vezes, como criaturas encarnadas, l espera de ajuda e, no entanto, so to poucos os grupos que se dispem a esse trabalho altos dividendos paga em conhecimento e progresso espiritual.

    No exerccio constante dessa atividade, vemos, cada vez melhor, a solidez inabaldoutrina que nos legaram os Espritos, atravs da lcida inteligncia de Kardec. Crendescrentes, catlicos ou protestantes, todos nos vm confirmar as verdades mestras do Espias de que o Esprito sobrevive morte fsica, de que reencarna, de que progride e aprende, carne como no Espao; de que as leis universais so perfeitas, iniludveis, mas flexveexigem reparao, ao mesmo tempo que fornecem os recursos para o reencontro do Espritseu prprio destino. Nos dramas a que assistimos nas sesses medinicas, aprende

    contemplar a transitoriedade do mal, a amarga decepo do suicida, a crueza do arrependdaquele que desperdiou o seu tempo na busca ansiosa das iluses mundanas, a inutilid posies humanas, o nus terrvel da vaidade, a tensa expectativa de um novo mergulho nredentora, na qual o Esprito fica, pelo menos, anestesiado nas suas angstias.

    Lies terrveis ministradas com lgrimas e gritos de desespero por aqueleassumiram dbitos enormes diante da Lei; lies de doce tranquilidade e de serena humildque j superaram as suas fraquezas e vm, sem ostentao, apenas para mostrar como o daquele que j venceu a si mesmo, na milenar batalha contra as suas prprias deficinciase variadas lies, aprendizado extenso e profundo para todos os que desejarem realmente aos passos e encurtar a caminhada que leva a Deus. Por que, ento, desprezar esse tmagnfico que tanta recompensa nos traz e tambm aos nossos irmos do outro lado da vid

    Quanto organizao dos grupos, no ser to difcil assim. H estudos srios e seguros de orientao doutrinria a respeito. bom que o grupo seja pequeno, de preffamiliar, composto de pessoas que se harmonizem perfeitamente e que estejam interessadtrabalho srio e contnuo. Que no se deixe desencorajar por dificuldades ou pela apinsignificncia dos primeiros resultados, nem se deixe fanatizar ou fascinar por pseudo-gui poucos, demonstrada a seriedade de propsitos, os trabalhos iro surgindo, sob a orientEspritos esclarecidos. A cada bom grupo de seres encarnados dispostos tarefa, correspondgrupo equivalente de Espritos, num intercmbio salutar de profundas repercussesEspiritismo doutrina, mas tambm prtica medinica, e todos ns, ainda que nem suspeitemos disso, temos compromissos a executar, ajustes a realizar com irmos qu

    aguardam mergulhados em dios e incompreenses, que se envenenam a si mesmos e prprios.Lamentar a desgraa dizia Horace Mann apenas humano; minor-la divi

    *E assim, creio que estamos prontos para entrar na matria propriamente dita.

    H ermnio C. Miranda Rio de Janeiro (RJ), 1976

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    14/197

    14 Hermnio C. Miranda

    PRIMEIRA PARTE

    A INSTRUMENTAO

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    15/197

    15 DILOGO COM AS SOMBRAS

    1O grupo

    Voltemos s perguntas formuladas na introduo.Em primeiro lugar, o preparo, que consiste na educao e na instruo dos compo

    do grupo que se planeja, nos leva a outro quesito preliminar: quem devem ser os componA tarefa comea, pois, com a seleo das pessoas que devero participar dos trab

    Como todo grupamento humano, este tambm deve ter algum que assuma a posi

    coordenador, de condutor. preciso, no obstante, muita ateno e vigilncia desde esta phora. Esse motivador, ou iniciador, no poder fugir de certa posio de liderana, necessrio no esquecer nunca de que tal condio no confere a ningum poderes ditatarbitrrios sobre o grupo. Por outro lado, o lder, ou dirigente, ter que dispor de certa dautoridade, exercida por consenso geral, para disciplinao e harmonizao do grupo. Licoordenar esforos, no impor condies. O lder natural e espontneo aceito tambmnaturalidade e espontaneidade, sem declarar-se tal. at possvel que, nos trabalhos prelimde organizao do grupo, surja a sutil faculdade da liderana em pessoas nas quais mais ineela parecia. Nestas condies, aquele que iniciou a ideia deve ter grandeza suficientreconhecer que o outro, que revelou melhores disposies, est mais indicado para a funoele prprio. Num grupo esprita, todos so de igual importncia.

    O problema das rivalidades to antigo como a prpria mediunidade. O apstolotratou dele, na sua notvel Primeira Epstola aos Corntios, captulos 12, 13 e especificamente, nos versculos 4 a 30 do captulo 12.

    O primeiro passo, portanto, que deve dar algum que pretenda organizar um medinico selecionar as pessoas que iro comp-lo. bom que isto se faa mesmo antdecidir que tipo de trabalho ser executado do que falaremos mais adiante e queincumbido da direo das tarefas. Os motivos so de fcil entendimento. Em primeiro l problema da liderana a que acima aludimos: possvel que a pessoa mais indicada para dtrabalhos no seja aquela que se prope, de incio, a organizar o grupo, cumprindo-lhe prodecorrer das gestes preparatrias, a fora tranquila e segura da sua personalidade. Em s

    lugar, o grupo ser a soma dos seus componentes, dispor das foras de cada um e ter pontos fracos as fraquezas dos seus participantes. Em terceiro lugar, a natureza dos trabserem programados depender dos diferentes tipos de mediunidade que for possvel reunir, de sensibilidade, tato, inteligncia, conhecimento e evangelizao de cada um e de todoqualidade do relacionamento pessoal entre os que se propem trabalhar juntos nesse campo

    1 Seria oportuna, sob este aspecto, a leitura do artigo O Livro dos Mdiuns de Paulo, o Apstolo, em REFORMAfevereiro de 1974.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    16/197

    16 Hermnio C. Miranda

    Assim, no basta juntar alguns amigos e familiares, apagar a luz e aguardmanifestaes. Que amigos e familiares vamos selecionar? Essa tarefa extremamente decrtica, pois dela vai depender, em grande parte, o xito ou fracasso do grupo. Ser recomque a pessoa que pretenda fundar um grupo, mesmo de mbito domstico, de propores me sem grandes ambies, guarde consigo mesma, por longo tempo, as suas intenes; entregue prece constante, meditao e ao estudo silencioso e demorado de cada pess

    examine, sem paixes e sem preferncias, com toda a imparcialidade possvel, as potencide cada um, bem como os seus defeitos, virtudes, inclinaes, tendncias e temperamento. Ndevem guiar aqui as preferncias pessoais: Vou incluir Fulano ou Sicrana porque gosto dela. essencial que todos se estimem no grupo, mas s isto no basta. Podemos profundamente uma criatura que no oferea condies mnimas para um trabalho to sresse. claro, por outro lado, que no aconselhvel incluir aqueles que, embora ofereamcondies favorveis, se coloquem na posio de adversrios e crticos demolidores de qoutro componente do grupo. At a discordncia ideolgica acentuada, mesmo em outros se pensamento, pode criar dificuldades ao trabalho. Isto no quer dizer que todos tenham quigualzinho, ou se transformarem em criaturas invertebradas, sem ideias prprias personalidade e opinio. A franqueza tambm um dos ingredientes necessrios ao bom tdesde que no alcance os estgios da rudeza que fere, mas a homogeneizao dos ideaiaspiraes condio importante para o bom entendimento que precisa prevalecer durantetempo. Um s membro que desafine dessa atmosfera de harmonia, poder transformar brecha por onde espritos desajustados introduziro sutilmente fatores de perturbao e edesintegrao do grupo.

    preciso entender, logo de incio, que os componentes encarnados de um grupapenas a sua parte visvel, O papel que lhes cabe importante, por certo, mas nada se ccom as complexidades do trabalho que se desenrola do outro lado da vida, entre os desencaL que se realiza a parte mais crtica e delicada das responsabilidades atribudas a qgrupo medinico, desde o cuidadoso planejamento das tarefas at a sua realizao no plano

    no tempo certo. Os componentes encarnados j fazem bastante quando no atrapalham perturbam, no interferem negativamente. bvio que ajudam de maneira decisiva, qu portam com dignidade, em perfeita harmonia com o grupo; mas se no puderem ajudar, qmenos no dificultem as coisas. melhor, por isso, recusar, logo de princpio, um particip perspectiva, sobre o qual tenhamos algumas dvidas mais srias, do que sermos constradepois, a dizer-lhe que, infelizmente, tem que deixar o grupo, por no se estar adaptacondies exigidas pelo trabalho.

    por isso que se recomenda uma longa meditao antes de decidir quanto comphumana do grupo, para no fazermos o convite seno queles dos quais podemos contar cmnimo de compreenso, entendimento e entrosamento com os demais.

    Isto nos leva a uma outra questo, que deve ser logo decidida:Quantos componentes encarnados deve ter um grupo? A experincia recomenda

    grupos no devem ser muito grandes, pois, quanto maiores, mais difcil mant-los em cldisciplina e harmonia. Lon Denis, em seu livro NO INVISVEL, sugere de quatro a oito pessoas. Ogrupo pode funcionar bem at com duas pessoas, pois, segundo a palavra do Cristo, bastdois ou mais se renam em seu nome, para que Ele a esteja.

    claro, porm, que um grupo muito pequeno tem suas possibilidades tambm lim No caso de apenas dois, por exemplo, um teria que ser o mdium e o outro o doutrinamdium no teria condies de prolongar o trabalho sem grande desgaste psquico, mas

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    17/197

    17 DILOGO COM AS SOMBRAS

    que, mesmo assim, alguma coisa sria poderia ser realizada. Acima dos oito composugeridos por Denis, vai-se tornando mais difcil a tarefa, no apenas do dirigente encarngrupo, como de seus orientadores invisveis, porque a equipe se torna mais heterog pensamento divaga, quebra-se com frequncia o esforo de concentrao, e o prejuzo cea tarefa. possvel, no entanto, se alcanada impecvel homogeneizao, fazer funrazoavelmente bem um grupo com mais de oito pessoas, mas acima de doze vai-se to bastante problemtica a sua eficcia. bom comear sem grandes ambies ou planos grandiosos. O mais certo que planejar a instalao de um grupo, ainda no saibamos quanto inteno dos Espritos quefamiliares, nem quanto natureza dos trabalhos que pretendem realizar conosco. certo, que, sempre que um grupo se dispe a reunir-se, com a finalidade de entrar em contacto desencarnados, estes se apresentaro no momento oportuno. Isto vlido, tanto para osdedicam, com seriedade e boas intenes, quanto para aqueles outros que se renem divertirem ou, pior ainda, para prticas condenveis. Se a inteno apenas fazer passar oviro os Espritos levianos, galhofeiros, fteis e inconsequentes, quando no claramentintencionados, do que podero resultar obsesses penosas e tenazes.

    E, assim, chegamos a outro aspecto da questo: Para que desejamos um gruposimples estudo da Doutrina? Para conversar sobre Espiritismo? Para oferecer condimanifestao de Espritos familiares, que venham trazer pequenas mensagens, mais ou ntimas? Para experimentao e observao de natureza cientifica? Para tarefas mais scarter doutrinrio? Para os chamados trabalhos de desobsesso?

    Esse ponto somente pode ser decidido, em definitivo, depois que tivermos selecioncompanheiros encarnados que vo compor a equipe. Por isso, logo que tenhamos resolvsilncio da meditao e da prece, de que nomes deveremos cogitar para a composio doconvm convocar uma reunio, para exame e debate das inmeras questes que comecolocar-se. Essa reunio, obviamente no medinica, para a qual devero ser convidados cujos nomes foram lembrados para uma consulta, ser aberta com a leitura de um texto evae uma prece. Em seguida, aquele que tomou a iniciativa de convoc-la far uma breve exde seus objetivos e intenes. A reunio ser conduzida com descontrao e espontaneimedida que cada um apresentar sua contribuio ao debate. Sero arrolados os mdiuns pr j atuantes, e os que tenham potencial medinico suscetvel de desenvolvimento.

    No est previsto no escopo deste livro um estudo sobre o desenvolvimenmediunidade, pois o assunto, bastante complexo, tem sido tratado em vrias obras de conespecialmente emO LIVRO DOS MDIUNS, de Allan Kardec.

    Lon Denis tambm oferece contribuio valiosa, no s em NO INVISVEL, mas,tambm, em outras de suas obras. Recomenda-se, ainda, Andr Luiz, emMECANISMOS DAMEDIUNIDADE, NOS DOMNIOS DA MEDIUNIDADEe LIBERTAO, bem como o livro

    interpretativo de Martins PeralvaESTUDANDO A MEDIUNIDADE, todos editados pela FederaoEsprita Brasileira.Creio oportuno acrescentar que esses livros no se dedicam especificamente a e

    como desenvolver a mediunidade, e, sim, a apresentar um panorama, to abrangente possvel, dos diversos aspectos dessa notvel faculdade humana, muito mais comum do qgente estaria disposta a admitir.

    No h frmulas mgicas, nem ritos especiais para fazer eclodir a mediunidade pessoa que a tenha em potencial. O desenvolvimento medinico trabalho delicado, difcil importante, que exige conhecimento doutrinrio, capacidade de observao, vigilncia

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    18/197

    18 Hermnio C. Miranda

    firmeza e muita sensibilidade para identificar desvios e desajustes que precisam ser prontcorrigidos, para no levarem o futuro mdium a vcios funcionais e at mesmo a pertuemocionais de problemtica recuperao.

    No passado remoto, esse encargo era de carter inicitico. O instrutor ia dosandensinamentos segundo as foras e a receptividade do discpulo, e este somente chegava aosmais avanados de desenvolvimento de suas faculdades se ao longo do processo

    demonstrando, sistematicamente, as condies mnimas exigidas para a tarefa a que se propEvidentemente no h, hoje, necessidade de um guru que leve o discpulo, por esucessivos, at o ponto ideal. O Espiritismo desmistificou o antigo ocultismo, tornaconhecimento bsico acessvel ao homem comum. No nos esqueamos, no entanto, detcnica do desenvolvimento medinico ainda exige ateno, acompanhamento e orientao de algum que tenha condies morais e doutrinrias para faz-lo. A mediunidade, salvespeciais, no deve ser desenvolvida isoladamente e sem apoio dos livros essencientendimento dos seus componentes bsicos.

    Colocado num grupo harmonioso e bem assistido, em que funcionem mdiunsdisciplinados e j em plena atividade, possvel ao mdium incipiente desenvolver, p pouco, suas faculdades. O dirigente do grupo deve manter-se atento a essa possibilidade. Dalguma, porm, o treinamento medinico deve ser intentado com base em obras suspeorganizaes que prometam resultados prontos e maravilhosos em algumas lies. tambimprudncia forar o desenvolvimento sem nenhuma preocupao de estudar a questo noque compem a Codificao de Kardec e a obra complementar de seus continuadores.

    *

    Aps esta digresso acerca do desenvolvimento medinico, voltemos ao assunto emAo cabo de algumas reunies de debate e ajustamento, o perfil do grupo que se pr

    implantar j deve estar suficientemente definido. Qualquer que seja a natureza do seu trab

    estudo, pesquisa, experimentao, desobsesso no deve iniciar suas tarefas especificaao cabo de um aprendizado mais ou menos longo das questes doutrinrias. Mesmo componentes da futura equipe se julguem suficientemente informados e conhece dores da Ddos Espritos, vale a pena uma reviso geral.

    Embora no gostemos de admitir, nosso conhecimento menor do que pensAdemais, difcil reunir um grupo de pessoas seis ou oito que conheam igualment profundidade, todas as obras essenciais tarefa a que se propem. O mais provvel que se componha de gente em diferentes estgios de conhecimento, desde aquele que tem apenanoes, at o que j possui conhecimentos mais profundos. Ser til para todos um peratualizao de conhecimentos, a comear, naturalmente, peloO LIVRO DOS ESPRITOS, seguidode O LIVRO DOS MDIUNS.

    Para no prolongar demasiadamente este perodo de reviso, deve ser dada prioriParte Segunda deO LIVRO DOS ESPRITOS, que cuida Do mundo esprita ou mundo dEspritos, e Segunda Parte deO LIVRO DOS MDIUNS, a partir do captulo 14 DoMdiuns.

    A durao e frequncia das reunies de estudo sero objeto de debate e ajuste ecomponentes. No preciso fazer a leitura de cada captulo no decorrer das reunies, detodos o tenham estudado, segundo a programao acordada, durante o perodo que vai reunio seguinte.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    19/197

    19 DILOGO COM AS SOMBRAS

    A reunio se destina verificao do progresso que cada um realiza na revisodebate e esclarecimento das dvidas surgidas. Seu objetivo final ser sempre o de homogendiversos graus de conhecimento doutrinrio, para obter a integrao do grupo.

    No deve subsistir nenhuma preocupao com o tempo despendido nesse tr preparatrio, que poder ser mais longo ou mais curto, segundo o grau de conhecimento dcomponentes, a boa-vontade e a dedicao de cada um.

    Por algum tempo, at que se consiga alcanar uma fase de melhor preparo doutrtorna-se aconselhvel serem evitadas as manifestaes medinicas, mesmo que haja nomdiuns j desenvolvidos. De certo ponto em diante e isto fica a critrio daquele responsabiliza por esta fase dos trabalhos as tarefas medinicas podero ser iniciad paralelo com as de estudo. Nesse caso, o estudo preceder as manifestaes e dever, aialgum tempo, que poder ser longo, ocupar boa parte do horrio.

    Nunca demais enfatizar a importncia e utilidade desta fase preparatria, poapenas os encarnados se beneficiam dela, como tambm os desencarnados que, certacomearo a ser trazidos pelos benfeitores espirituais, para aproveitarem os ensinamministrados. Esse perodo , ainda, muito til para afinar o grupo, ajustar seus vrios comp

    revelar as tendncias e potencialidades de cada um e, at mesmo, por um processo natseleo, excluir, sem atritos ou desgosto, aqueles que no se sentirem em condies de se ao trabalho, que exige, certamente, renncia, dedicao, assiduidade, tolerncia, estudo e amimpacientes deixaro o grupo espontaneamente, em processo de excluso natural. No quimpuros (por favor!), mas por ser melhor que abandonem a tarefa pela metade, do que inem ficar, em prejuzo dos resultados. No primeiro caso, estariam prejudicando apenas a si mno segundo, sacrificariam todo o conjunto. Talvez em outra oportunidade, mais adiante, rededicar-se com maior entusiasmo e firmeza. Tarefas como essas no podem ser impostaforadas; tm que se apoiar num impulso interior, no desejo de servir, de apagar-se, se necdentro da equipe, de modo que os resultados obtidos sejam impessoais, coletivos, no creexclusivamente ao trabalho individual deste ou daquele componente do grupo. Quem nodisposto a aceitar essas condies no est preparado para o trabalho.

    A essa altura, portanto, o grupo j dever estar com o seu perfil suficientemente ntse sabe quais os que o compem, quais so os mdiuns, quem se revelou com melhores code liderana e tato na conduo da equipe, e qual a natureza do trabalho a que esta deve de bem como a durao e frequncia das reunies (sobre o que falaremos, ainda, em outro ponlivro).

    , ento, chegado o momento de especificar a finalidade e os objetivos do grupo.A primeira grande diviso consiste em saber se o grupo vai dedicar-se apenas a e

    ou a trabalhos experimentais. No que uma coisa exclua a outra, mas a definio imp porque, como diziam os antigos, quem navega sem destino no sabe aonde vai.

    A natureza do trabalho pode variar bastante, segundo os interesses e inclinaes dcomponentes, especialmente daqueles que se dedicam organizao da equipe. possvdesejem apenas a experimentao de carter puramente cientfico, com nfase na fenomenoque seria uma tarefa quase de laboratrio. No h muito a dizer aqui sobre este aspecto, dadassunto escapa minha rea de competncia e experincia.

    Alguns grupos, desinteressados do aspecto prtico, podem ser constitudos apenas estudo terico da doutrina. Tambm so vlidos, claro. Outros podem combinar o estudocom a experimentao cientfica ou medinica. Este livro est mais voltado para esta ltimae sobre ela que nos fixaremos.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    20/197

    20 Hermnio C. Miranda

    Suponhamos, pois, que o grupo se resolva pelo trabalho de desobsesso.Voltemos imagem do filho. J decidimos que desejamos o trabalho, j

    convencemos, aps algum tempo de estudo terico, de que estamos preparados para ele. Eigualmente dispostos aos sacrifcios e s renncias que o trabalho impe. A tarefa precdesenvolvida com muita assiduidade e continuidade ininterrupta. Nem sempre estafisicamente dispostos a ela, em virtude do cansao, das lutas naturais da vida diria, do de

    das tenses provocados pela atividade profissional, dos inconvenientes oriundos de peindisposies orgnicas.O dia destinado reunio exige renncias diversas, pequenas, mas s quais nem s

    estamos acostumados: moderao e vigilncia, por exemplo. Como os trabalhos so usurealizados noite, no podemos destin-la ao convvio da famlia, aos passeios, s visrelaxamento, leitura de livro recreativo ou novela de televiso. um dia de recolhntimo, ao qual temos que nos habituar, aos poucos. Estamos cientes disso.

    Da mesma forma, encontramo-nos perfeitamente conscientizados das responsabilque assumimos. Vamos nos defrontar com Espritos desajustados que, no desespero em precipitaram, voltam-se contra ns, muitas vezes sem razo alguma, seno a de que tentando despert-los para realidade extremamente dolorosa, da qual se escondem aflitivam

    A responsabilidade grande, pois, e sabemos disso. Encontraremos percalos empenharemos em lutas remidas pelo bem. Mesmo assim, desejamos o grupo. Um pohumildade nos far, aqui, um bem enorme.

    No planejamos um grupo para reformar o mundo, nem para conquistar todos os gEspritos que se debatem nas sombras. Haveremos de nos preparar apenas para a nossa poferenda. Os orientadores espirituais sabero o que fazer dela, porque, muito melhor do qesto em condies de avaliar as nossas foras, recursos, possibilidades e intenes, bem cnossas fraquezas. O planejamento realizado no mundo espiritual. A ns, encarnados, execut-lo, dentro das nossas limitaes.

    De tudo isto estamos conscientes. Tudo isto aceitamos. Resta o compromisso do

    fraterno, que no pode ser parcial, condicionado, a meio corao, reservado; tem de seComea com o relacionamento entre os componentes do grupo, que precisa apoiar-se no entrosamento emocional de todos, para o que, obviamente, indispensvel que todos se estse respeitem. Sem isso, impraticvel seria doar o amor de que necessitam os irmos desencque nos procurarem, movidos pela esperana secreta de que os conquistemos para as alegamor fraterno. nessa oportunidade, que se renovar em todos os encontros, que colocare prtica aquele sbio ensino de Jesus, que nos recomenda amar os nossos inimigos. espritos, em doloroso estado de desajuste emocional, se apresentaro, diante de ns,verdadeiros inimigos, irritados, agressivos, a deblaterarem em altas vozes, indignados com interferncia em seus afazeres. Sem aquele amor incondicional que nos recomendava o como iremos oferecer-lhes a segurana da compreenso e da tolerncia de que tanto necessi

    *

    Esto resolvidas, portanto, as preliminares. Temos o grupo montado e j definimseus objetivos. A prxima questo que se coloca : onde e quando reuni-lo?

    Consideremos primeiro a segunda parte. A frequncia as reunies usualmente dvez por semana, noite. Dificilmente um grupo ter condies de reunir-se regularmente, vrios anos, mais de uma vez por semana. Todos ou quase todos os seus component

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    21/197

    21 DILOGO COM AS SOMBRAS

    compromissos sociais, familiares e at profissionais, que tornam impraticvel reuniefrequentes. A noite escolhida justamente porque, a partir de certa hora, esto todos com ado dia concludas. Uma boa sugesto seria reservar, para os trabalhos medinicos, a segunda partir de 20 horas ou 20:30hs, com durao mxima de duas horas. Justifiquemos a escsegunda-feira. que ela sucede ao repouso mais longo do fim de semana, quando j tivoportunidade de nos refazer das canseiras dos dias de atividade, tanto profissional qua prprio grupo. Isto especialmente vlido para os mdiuns, nos quais o desgaste pssempre grande nos dias em que atuam.

    O outro aspecto da questo diz respeito ao local. As sesses podem ser realizadas eou convm buscar outro local, de preferncia um centro, com acomodaes especiais? confrades temem a realizao de trabalhos de desobsesso em casa, com receio da infnegativa dos Espritos desarmonizados que so atrados. A questo delicada e no porespondida sumariamente, sim ou no. H uma poro de condicionantes. Se for possvel uapropriado, num centro esprita bem orientado, o trabalho deve ser feito a. Por outro lado, tumultuado por disputas, rivalidades, cimes, paixes subalternas e desajustes de toda srealizao de trabalhos de desobsesso poder agravar as condies, pois ser difc

    companheiros desencarnados, que orientam o grupo, assegurar um clima de equilbrio e prtanto para os espritos trazidos para serem atendidos, como para as pessoas que vivem n Num lar normal, porm, o trabalho medinico equilibrado e bem dirigido, sob a protorientadores espirituais competentes e esclarecidos, pode funcionar sem problemas e a benefcios para a vida domstica. Isto no exclui a necessidade de vigilncia e atenta obse pois evidente que Espritos infelicitados pela desarmonia interior tendero sempre a trsua perturbao queles aos quais tiverem acesso, ou seja, queles que deixarem cair suas criando brechas por onde penetrem emisses negativas e inquietantes. Mas isto acontece, no haja grupo medinico reunido em casa. O que nos defende da investida de compainfelizes das sombras no a realizao de sesses bem distantes do local onde vivemos, so as boas intenes, o desejo de purificar-se, de aperfeioar-se, de servir. Para cobrarcompromissos, os Espritos desajustados nos buscam em qualquer lugar, at nas profundesconderijos mais abjetos na carne, ou nas furnas do mundo espiritual inferior.

    Por outro lado e isto vai dito com bastante pesar nem todos os centros ofecondies ideais para o difcil trabalho da desobsesso. Pode haver casos em que o am psquico de uma instituio esteja sob a influncia de rivalidades, disputas internas, quesordem material ou financeira, desorientaes ou prticas que a Doutrina Esprita no endosmesmo condena formalmente. Em tais condies, torna-se muito difcil um trabalho mesrio e responsvel. Os espritos perturbadores podero encontrar meios para neutralizar que se anunciam, de incio, promissoras. No quer isso dizer que no haja proteo e amp parte dos espritos bem-intencionados que nos assistem, mas, em todo relacionamento

    mundo espiritual, h sempre a parte que compete a ns realizar. Essa, os Espritos no a fans. Seria o mesmo que mandar os filhos escola e fazer por eles todos os deveres.O que garante a estabilidade de um bom grupo medinico no a sua localizao

    geogrfica; o equilbrio psquico, emocional, daqueles que o compem. Em ambiente pertno lar ou no centro, qualquer grupo torna-se vulnervel ao assdio constante das vibnegativas que cercam os seus componentes. Se na vida diria, sob condies perfeitnormais, j somos to assediados pelos cobradores invisveis, claro que podemos contar cesforo muito maior deles, quando nos dedicamos delicada tarefa de interferir com paixes, dios e rancores.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    22/197

    22 Hermnio C. Miranda

    Por outro lado, antigos comparsas de erros passados procuram sempre impedcaminhemos pela senda spera da recuperao, pois sabem que com esses processos qredimimos e nos colocamos ao abrigo de suas investidas.

    Nada de iluses, pois. O trabalho de desobsesso no fcil, qualquer que ambiente em que se realize, e, por isso, no pode ser recomendado para um meio que, do pvista humano, j se encontre tumultuado e desequilibrado.

    O cmodo destinado s sesses deve ser escolhido com critrio e extremo cuPrecisa ser suficientemente amplo e arejado, para acomodar bem todos os participantes. Disolado, tanto quanto possvel, das demais dependncias do prdio, sendo inadmissvexemplo, para essa finalidade, uma passagem obrigatria para aqueles que no participetrabalhos, como uma sala de entrada que d para a rua. A qualquer momento, uma pessoaou um visitante inesperado estaria tocando a campainha ou batendo porta, interrompendodas atividades. O cmodo no deve ter telefones que possam tocar subitamente, causando ce perturbaes queles que se acham concentrados. Deve estar igualmente abrigado de rutrfego ou gritos vindos da rua, sons de televiso ou rdio ligados nas redondezas. Q possvel, deve ser provido de um condicionador de ar, para as noites de vero intenso, dadmal-estar fsico dos participantes dificulta sobremaneira o bom andamento dos trabalhos.

    Mesmo nos demais dias da semana, a sala onde se realizam os trabalhos medidever ser preservada. preciso evitar ali reunies sociais, conversas descuidadas, inconvenientes, atos reprovveis. O ambiente costuma ser mantido em elevado teor vib pelos trabalhadores espirituais, o que se nota, especialmente nos dias de reunio, ao se pencmodo. O ideal, portanto, ter um compartimento destinado somente tarefa medinica. isso for impraticvel, que pelo menos se tenha o cuidado de us-lo apenas para atividades como a boa leitura, a msica erudita, o preparo de artigos e livros doutrinrios, o estudo srrecomendao to vlida para a hiptese de se desenvolver o trabalho em casa, como noesprita. A proteo magntica da sala medinica deve ser preservada com todo o cuidadno viciar os dispositivos de segurana do trabalho, no perturbar a harmonia do ambien

    interferir com os meticulosos preparativos realizados pelos companheiros desencarnaddirigem e orientam as tarefas. Ademais, com frequncia, alguns Espritos em tratamento fiem repouso, por algumas horas, de um dia para o outro, por exemplo, enquanto no so rem para instituies apropriadas. Quem no puder manter essas condies mnimas, em sua cascentro, no deve tentar trabalho medinico de responsabilidade.

    O ingresso na sala deve ser feito apenas minutos antes do incio da sesso. A recepcomponentes e a conversao inicial sero realizadas em outro cmodo, de vez que, por mseja o cuidado, pode escapar um pensamento imprprio ou uma expresso infeliz, numa cdescontrada, especialmente porque, aps o espao de uma semana, que usualmente vai reunio outra, quase todos gostam de relatar experincias e acontecimentos. Torna-semaneira, mais difcil manter um clima de absoluta vigilncia. Com frequncia, os Espridemonstram, depois, no decorrer dos trabalhos, que se achavam presentes conversao Sempre que a conversa descamba para assuntos menos nobres, eles fazem uma advertncia pedindo que fiquemos nos temas de carter doutrinrio ou, pelo menos, em conversa neutristo dizer que so proscritos dessas conversaes prvias, por motivos mais que bvcomentrios sobre o crime da semana, sobre o ltimo casamento do astro da novela, a piadaou a derrota do nosso time de futebol.

    Em lugar desses assuntos, que deixaremos para as frvolas reunies sociais, a te pode perfeitamente girar em torno de questes doutrinrias.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    23/197

    23 DILOGO COM AS SOMBRAS

    Uma boa sugesto a de recapitular a semana, naquilo que pode contribuir para ajdesenvolvimento do trabalho. Frequentemente, os mdiuns e outros participantes tm srecebem intuies ou pequenos avisos e conselhos de Espritos amigos, ou tm a relatar comantidos, em desdobramento, com mentores do grupo ou com os companheiros que estotratados ou que ainda viro a manifestar-se. Essa tcnica se desenvolve com o tempo. Deptodos os componentes do grupo forem alertados para as suas possibilidades e vantagens, pobservar com maior ateno os acontecimentos e anotar sonhos, intuies e recados do espiritual. evidente que esse material deve ser examinado e criticado com extremo cuidaque o grupo no se embrenhe pela fantasia.

    A experincia do pequeno grupo do qual fao parte tem sido bastante positiva particular. De modo geral, os sonhos, que so verdadeiros desdobramentos, trazem inforvaliosas, que os Espritos em tratamento posteriormente confirmam, no decorrer do dmantido com o doutrinador.

    Geralmente, esses contactos so preliminares ao trabalho, iniciado no mundo espantes que a manifestao se torne ostensiva no grupo medinico. O tema tratadoamplamente em outro ponto deste livro.

    *

    Minutos antes de iniciar a sesso, todos se dirigiro, em silncio, ao cmodo desaos trabalhos, e se sentaro em torno da mesa. Cessaram, a essa altura, todas as conAquietam-se as mentes, tranquilizam-se os coraes, desligam-se das preocupaes drelaxam os msculos, e todos se predispem ao trabalho.

    A essa altura, a sala j est preparada pelos responsveis espirituais. No grupo dfao parte, um dos mdiuns viu, mais tarde, depois de recolhido ao leito, em retrospectosesso, desde o preparo da sala. Neste caso, o cmodo destinado s reunies fica compleisolado do corpo da casa, tendo acesso apenas por uma passagem externa. Cerca de duaantes, a sala est preparada fisicamente para a reunio: mesa e cadeiras em posio, destinada fluidificao, os livros que contm os textos destinados leitura, materiaeventual psicografia, papel, lpis, canetas esferogrficas, o caderno de preces, o gravadorfita j tambm em posio para captar a mensagem final dos mentores do grupo, uma pequindireta, preferentemente de cor, pois a luz branca prejudicial a certos fenmenos mediSugere-se a cor vermelha.

    Depois de todos esses preparativos, os trabalhadores do mundo espiritual, segundonosso mdium, em retrospecto, inspecionam o cmodo, dando voltas em torno da m providenciando para que fossem estabelecidas certas ligaes com o plano superior, atraparelhos e fios luminosos que se prendiam s cadeiras de cada membro. Esta a raz

    qual cada um deve ter seu lugar fixo em torno da mesa, uma vez que os dispositivos ligcadeiras se destinam a facilitar o trabalho, atendendo a caractersticas especficas dmediunidades, bem como s condies do esprito que ser trazido para tratamento.

    Outra recomendao, que parece til, a esta altura, ainda com relao distribui pessoal em torno da mesa: sempre que possvel, o dirigente deve sentar-se de forma a ficardos mdiuns e no face a face. Este conselho ditado pela boa tcnica de reunies profanrecomenda que duas ou mais pessoas, que vo debater um assunto, no devem defrontar-no exacerbar o antagonismo. A razo puramente subjetiva e psicolgica. mais fqualquer um de ns, alcanar um entendimento com uma pessoa ao nosso lado, do que

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    24/197

    24 Hermnio C. Miranda

    estiver exatamente diante de ns. A posio frente a frente parece levantar em ns os resddepsitos acumulados pelos milnios em que enfrentvamos nossos adversrios em lutsobrevivncia. No caso das sesses medinicas, o objetivo no disputar uma peleja de morte, mas dialogar amistosamente com um Esprito em estado de confuso e desespedesejamos despertar para uma realidade que ele se recusa tenazmente a aceitar. Se opomoagressividade, a nossa, nada conseguiremos. Tudo deve ser feito, pois, para eliminar qu

    empecilho que possa existir entre o comunicante e o doutrinador.Antes de prosseguir, faamos uma reviso geral na sala.Os mveis esto na posio certa e os lugares predeterminados. Todos devem ocu

    assentos em silncio, sem fazer alarido e arrastamento ruidoso de cadeiras. Se h traba psicografia, o material correspondente deve achar-se sobre a mesa: papel em folhas soltaslpis apontados e esferogrficas, num copo ou outro recipiente apropriado. Se os trabalhomistos, ou seja, de psicografia e incorporao, convm que o material no fique ao alcamdiuns de incorporao, pois um Esprito mais turbulento pode, num gesto brusco, atobjetos ao cho. Se h psicografia, quem ficar ao lado do mdium deve estar preparadremover as folhas, medida que so escritas.

    O caderno de preces destina-se a receber o nome dos encarnados e desencarnados quais desejamos solicitar ajuda espiritual. Os nomes devem ser escritos antes de comear asempre em silncio, sem comentrios. Pode ser adotado o processo de indicar com um psinal, em forma de cruz, os nomes das pessoas desencarnadas. Na hora da prece,mentalizados pelos interessados.

    L est, igualmente, sobre a mesa, o livro que contm o material de leitura prepargeralmente uma obra medinica assinada por Emmanuel Vinha de Luz, Po Nosso,Viva , ou por outro autor da preferncia do grupo.

    A gua destinada a ser fluidificada deve estar num jarro de vidro, juntamente pequenos copos, de preferncia ao lado da mesa, para que, num movimento mais violensejam atirados ao cho. No convm que a gua esteja gelada: um amigo espiritual nos diss

    vez, que a gua temperatura normal do ambiente se prestava mais facilmente fluidificmagnetizao.Quanto ao gravador de som, deve estar pronto para entrar em ao com o mni

    operaes e rudos: a fita em posio, microfone j anteriormente testado, de preferncisobre um mvel ao lado da mesa principal. Se emitir luz intensa de algum visor, este dcoberto com um objeto opaco.

    No momento oportuno, bastar dar a partida. conveniente, ao test-lo, gravar a sesso. No grupo que frequentamos, o gravador reservado para a mensagem final, usutransmitida depois do atendimento dos companheiros necessitados. Essas mensagens, acumao longo do tempo, constituiro precioso repositrio de ensinamentos e de experincia ncom os problemas do mundo espiritual, e devem ser preservadas para referncia futura.

    Todos se encontram, assim, a postos.As sugestes oferecidas a seguir no so, obviamente, mandamentais, pois cada

    acaba por encontrar a sua dinmica prpria, dentro do roteiro mais ou menos comum a essetrabalho. Proporemos, aqui, um roteiro tpico, que pode, evidentemente, sofrer variaes, ade cada grupo.

    Depois de todos acomodados e em silncio, feita a leitura do texto do dia, geralem sequncia, ou seja, um para cada sesso. (A data da sesso dever ser anotada ao p da

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    25/197

    25 DILOGO COM AS SOMBRAS

    Alguns grupos costumam comentar o texto lido; tais comentrios no devem ser muito nem elaborados, nem guardar tom oratrio: sero singelos e sem retrica bombstica.

    Em seguida, a luz mais intensa apagada, restando apenas a lmpada mais fracfornea iluminao discreta, de preferncia em cor suave, indireta, apenas suficiente pdistinguir o ambiente, as pessoas e os objetos.

    Convm retirar, neste momento, os objetos que se encontrem sobre a mesa, pelas j apresentadas. feita a prece, que tambm no deve ser longa, nem decorada, ou em tom de disuma rogativa simples, na qual se solicite a proteo para os trabalhos, a colaborao dos espirituais, a inspirao e a predisposio para receber os companheiros aflitos com tolerncia e compreenso.

    Finda a prece, todos ficam recolhidos, em silncio, concentrados, atentos, mas em de tranquilidade e relaxamento muscular.

    Em alguns grupos, o dirigente encarnado dos trabalhos, ou o mentor espiritual, codesignar previamente os mdiuns que iro atuar, fixando-lhes at o nmero de Espritdevero atender, bem como os mdiuns que no devero dar passividade a ne

    manifestante. Embora se trate de uma posio respeitvel e bem-intencionada, com o praparente de disciplinar as atividades do grupo, no recomendvel o procedimento. Proapresentar as razes. A designao prvia do mdium pode criar neste uma expectativa, e aansiedade, que o leve a forar uma comunicao, e at mesmo lev-lo ao fenmeanimismo, se no estiver bem preparado para a sua tarefa e habituado ao exerccio da medivigilante. No convm correr esse risco, pois nem todos os grupos estariam preparadoidentificar a dificuldade e corrigi-la. Por outro lado, no conhecemos, com precis planejamento realizado no mundo espiritual. bem possvel que convenha encaminhar pdeterminado Esprito, por determinado mdium; e se, por desconhecimento, designamomdium, altera-se a sequncia do trabalho programado, o que acarretar adaptaes dehora, que vo sobrecarregar os companheiros desencarnados. que os Espritos a serem tencontram-se ali, no ambiente, e muitas vezes, depois de presenciarem um atendi particularmente dramtico ou tocante, o prximo companheiro j vem predisposto e mais re doutrinao. Os mentores do grupo conhecem bem esse mecanismo e sabem melhor comas manifestaes.

    Acresce ainda uma observao: Acreditam alguns que esse processo de designamdium, de uma vez, evita que todos sejam tomados ao mesmo tempo e se crie ba prejudicial ao trabalho. Na minha experincia pessoal, nunca encontrei essa dificuldfrequente verificarmos que outros mdiuns j se acham ligados aos prximos manifestantenum grupo bem ajustado, os mentores tero recursos suficientes para cont-los, at que chvez de falarem.

    Em suma: a sequncia da apresentao dos desencarnados e a escolha dos mdiuniro atuar ou no, devem ficar a critrio dos dirigentes espirituais do grupo, que nnecessidade de anunciar-nos previamente o plano de trabalho da noite, para que ele se deharmoniosamente. Pelo contrrio, quanto menos interferirmos, melhor.

    excusado dizer que a sesso deve ter hora prefixada para comear e para termincompanheiros necessitados devem ser atendidos rigorosamente dentro do horrio a eles deEm hiptese alguma deve permitir-se que, por iniciativa dos manifestantes, ou noultrapassada a hora. Certa vez, tivemos a esse respeito uma lio preciosa. Percebendo que

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    26/197

    26 Hermnio C. Miranda

    se esgotava, o Esprito manifestante, muito ardilosamente, comeou a manobrar para tempo. Quando o dirigente lhe disse que precisava partir, ele apelou para a boa educao:

    Voc est me mandando embora?E com essas e outras, o dilogo ainda se alongou por alguns minutos.Terminado o atendimento, um dos orientadores recomendou-nos, em termos inequ

    que evitssemos a repetio do ocorrido. Explicou que o trabalho medinico prote

    assistido por uma equipe de segurana, composta de obreiros do lado de l. Esgotado o pratm que se retirar, de vez que outras tarefas inadiveis os aguardam alhures, e o mecanisegurana fica substancialmente enfraquecido. Os Espritos turbulentos, sabendo disso, prdemorar-se, para provocar distrbios e levar o pnico ao grupo, o que seria desastroso. Aimportante.

    Terminado o atendimento, enquanto se aguarda a palavra final dos mentores, h pausa, que deve ser usada para uma pequena prece, que ajuda a repor o ambiente em termcalmos, depois das vrias manifestaes de companheiros aflitos, s vezes barulheindignadas.

    Concluda a mensagem final, que, como vimos, convm gravar, para futura referestudo, os trabalhos so encerrados com uma prece.

    hora dos comentrios finais.

    *

    H sempre o que comentar, aps uma sesso medinica. preciso, no entanto, qcomentrios obedeam a uma disciplina, para que possam ser teis a todos. que, usualmEspritos atendidos ainda permanecem, por algum tempo, no recinto. Seria desastroso qcomentrio descaridoso fosse feito, em total dissonncia com as palavras de amor fraterno pouco foram ditas, pelo dirigente, durante a doutrinao.

    Os manifestantes, no estado de confuso mental em que se encontram, tudo fazem

    permanecer como esto. Embora inconscientemente desejem ser convencidos da verdadedesesperadamente para continuar a crer ou a descrer naquilo que lhes parece indica percebem que toda aquela atitude de respeito, recolhimento e carinho insincera, dific podero ser ajudados de outra vez. Por isso, dizia que os comentrios devem ser disciplindirigente deve perguntar pela experincia de cada um. Os mdiuns videntes sempre tmdizer, pois percebem a presena desta ou daquela entidade, ou tm acesso a fenmenusualmente interessam ao bom andamento dos trabalhos ou trazem indicaes a serem utna sesso seguinte. Se o dirigente no dispe do recurso da vidncia, os mdiuns videntes ddevem ajud-lo discretamente, com o mnimo de interferncia, durante os trabalhos. O meaplica aos mdiuns clariaudientes. Os comentrios finais no devem prolongar-se por tempo. Geralmente, ao terminar a sesso, tarde da noite, e os componentes do especialmente os que moram longe, precisam retirar-se, pois o trabalho os espera pela madia seguinte, com as suas lutas e canseiras.

    Mesmo que a sesso tenha terminado, o comportamento de todos, ainda no recintoser discreto, sem elevar demasiadamente a voz, sem gargalhadas estrepitosas, embora todos, usualmente, felizes e bem-humorados, por mais uma noite de trabalho redentor.

    Antes de se retirarem, em ordem e discretamente, distribuda a gua. preciso, porm, observar que o trabalho dos componentes de um grupo medini

    termina com o encerramento da sesso. Mesmo durante o espao de tempo que vai de uma

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    27/197

    27 DILOGO COM AS SOMBRAS

    prxima, de certa forma todos esto envolvidos nas tarefas. Inmeras vezes, os Espritratamento nos dizem claramente que nos seguiram em nossa atividade normal. Desejam boa-vontade, avaliar a sinceridade, ajuizar-se do comportamento de cada membro doespecialmente do mdium pelo qual se manifestaram e do dirigente que se incumbiu de dlos, preciso que se tenha o cuidado para no pregar uma coisa e fazer outra inteiramente Por outro lado, aqueles companheiros particularmente enfurecidos tentaro, no desinconsciente em que se acham, envolver-nos com seus artifcios. Se, no decorrer da soferecemos brechas causadas por impulsos de clera, de maledicncia, de intolerncinvigilncia, enfim, estaremos admitindo, na intimidade do ser, emanaes negativas companheiros infelizes esto sempre prontos a emitir contra ns, na esperana de nos neu para que possam continuar no livre exerccio de suas paixes e desvarios. Todo cuidado Nos momentos em que sentirmos que vamos fraquejar, recomenda-se uma parada para puma pequena prece, qualquer que seja o local onde nos encontremos. Os irmos desespcertamente nos cobraro, no prximo encontro, as fraquezas que conseguiram identificar e claro que no nos podemos colocar como seres purssimos e redimidos, incapazes dEstejamos, assim, preparados para uma interpelao, pois eles o faro, certamente.

    Certo Esprito, em grande estado de agitao desencarnao recente, em circunstrgicas me pediu que falasse com sua me, que eu conhecia. Embora eu no o prometido, pois no tinha ainda o que dizer pobre senhora, o Esprito me cobrou, logo nseguinte:

    Voc no falou com a minha me!Respondi-lhe que no tinha ainda uma palavra tranquilizadora para dizer a ela,

    podia, evidentemente, falar do verdadeiro estado de aflio em que se encontrava ele.Outro me disse, ao cabo de uma semana particularmente angustiosa para mim, em v

    de terrvel presso de problemas humanos, que nada tinham a ver com o trabalho medinico Esta semana eu quase te peguei. Ainda te pego!

    *

    oportuno colocar, aqui, um argumento muito vlido, em favor da continuidadtrabalhos e da assiduidade dos mdiuns. Como no ignoram, aqueles que cuidam problemas, os mentores espirituais escolhem, para cada manifestante, o mdium que lhe seindicado pelas caractersticas da mediunidade ou pela natureza do trabalho a ser realizado.ligao, o Esprito, ao voltar, nas vezes subsequentes, vir usualmente pelo mesmo mdium

    Se o mdium falta, o trabalho junto ao sofredor fica como que em expectativa, susaguardando a prxima oportunidade. Assim, a no ser por motivos muito fortes e justificassiduidade dos mdiuns e a continuidade do trabalho so vitais ao seu bom rendimento.

    *

    Ainda uma sugesto. sempre til que algum se incumba de anotar, num cadernresumo do trabalho realizado em cada reunio. Isto no , porm, uma ata, a no ser que seja de pesquisa. Quando se trata de tarefa de desobsesso, no preciso ir a esses rig prtica de reproduzir sumariamente os principais aspectos de cada manifestao se reveloude grande alcance, no apenas na conduo dos trabalhos, mas tambm, para o aprenconstante que representam as tarefas medinicas.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    28/197

    28 Hermnio C. Miranda

    Anote-se a data e, querendo, o nmero de ordem da sesso, para referncia. Descrcada manifestao e faa-se um resumo do dilogo mantido com o Esprito. Se a comufinal for gravada, basta uma referncia identificadora. Essa tarefa deve caber, de preferndirigente ou a alguma pessoa que se mantenha lcida sem transe medinico durantesesso.

    Sugere-se, como modelo, a srie de livros publicados pela Federao Esprita Bra

    sob o ttulo Trabalhos do Grupo Ismael, preparados com extremo cuidado e competncDr. Guillon Ribeiro.Lamentavelmente, esses livros se acham, hoje, esgotados, mas bibliotecas especial

    dispem de exemplares, para consulta.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    29/197

    29 DILOGO COM AS SOMBRAS

    SEGUNDA PARTE

    AS PESSOAS

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    30/197

    30 Hermnio C. Miranda

    2Os encarnados

    O trabalho do grupo medinico se desdobra simultaneamente nos dois planos danum intercmbio tanto mais proveitoso quanto melhor for a afinizao entre os dicomponentes encarnados e desencarnados.

    Estaria completamente equivocado aquele que julgasse que o trabalho se realiza durante a sesso propriamente dita; ocupao que toma vinte e quatro horas por dia. Mque conseguimos obter, em hora e meia ou duas horas de sesso, depende de inmeras preparatrias, desenvolvidas em desdobramento, durante a noite, e complem posteriormente. Alm do mais, no podemos esquecer-nos de que os Espritos dispem dliberdade de ir e vir, do que ns. Eles nos vigiam, nos observam, nos seguem por toda pintimidade do lar, no escritrio, na rua, nos restaurantes, nos cinemas. Nosso procedimminuciosamente analisado, com esprito crtico, e, quase sempre, impiedosamente, companheiros invisveis que, ainda desarmonizados, procuram, por todos os meios, desconossos pontos fracos, para nos mostrarem que somos to imperfeitos e pecadores quanmesmos, e que, no entanto, nos arvoramos em santarres de fachada, durante as duas hsesso.

    Por isso, o procedimento dirio precisa ser correto, mas no apenas por isso.

    atmosfera psquica que carregamos conosco resulta do nosso pensamento.Somos aquilo quepensamos , como dizia to bem o sensitivo americano Edgar Cayce. E isto, que era apenaafirmativa de carter terico, est hoje perfeitamente documentada atravs da cmara de que capta na chapa fotogrfica o espetculo colorido e movimentado que se desdobra na aseres vivos. Ainda no estamos, ao escrever esta pgina, em condies de conferir cientifice documentadamente as observaes dos videntes do passado, quanto interpretafenmenos luminosos produzidos na aura, ou na regio perispiritual do ser. L chegaremobstante, e haveremos de nos certificar de que a aura do ser pacificado difere muito, em fore movimento, da que circunda a pessoa desequilibrada, colrica, ciumenta, sensual, agCada atitude mental imprime aura suas caractersticas, da mesma forma que a gradao e facilmente identificvel pela aparncia visual do Esprito desencarnado.

    Um amigo meu, e confrade muito inteligente, certa vez escandalizou seus ouvintes palestra pblica, declarando que tinha medo de morrer. Ao terminar sua exposio, a palfranqueada, para perguntas e comentrios, e um senhor idoso, no auditrio, declarou seu eao verificar que um esprita esclarecido, como ele, tivesse medo de desencarnar.

    O amigo confirmou e justificou: Meu caro confrade: a gente, aqui, na carne, vai levando a vida escondido, disfa

    como se estivesse atrs de uma espessa mscara. Do lado de l, isto impossvel: mostraem toda a nudez da nossa imperfeio.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    31/197

    31 DILOGO COM AS SOMBRAS

    claro, pois, que aquele que resolver dedicar-se ao trabalho medinico, especialmeque se convencionou chamar de desobsesso, precisa convencer-se de que deve est permanente vigilncia consigo mesmo, com seus pensamentos, com o que diz Principalmente com os pensamentos. preciso desenvolver um mecanismo automtico ique acenda uma luzinha vermelha a qualquer fuga ou distrao maior. No quer isto ditemos de nos transformar em santos da noite para o dia, mas significa que devemos policconstantemente. No vamos deixar de ter as nossas falhas, mas estaremos sempre proadvertir-nos interiormente e a reajustar a mente que, com a maior facilidade, pode levaescorreges de imprevisveis consequncias.

    Exemplos? H muitos: o envolvimento numa conversa maledicente; o distrado olcobia para uma mulher atraente, na rua; uma piada grosseira e pesada; um pensamento deou de revolta, em relao ao chefe ou companheiro de trabalho, ou de inveja, com realgum que se destacou por qualquer motivo; a leitura de livro pornogrfico; a assistncifilme pernicioso. H milhes de motivos, diante de ns, a cada momento, pois vivemomundo transviado, exatamente porque reflete o transviamento da massa de seres desajustavivem na sua psicosfera.

    Toda ateno pouca. A vigilncia dispara o sinal de alarme: a prece, a defescorreo. Ningum precisa chegar, porm, aos extremos do misticismo, a ponto de viver pelos cantos, de olhos baixos pela rua, temendo o contgio com os pecadores. Tambm pecadores, no sentido de que todos trazemos feridas no cicatrizadas, de falhas clamoro passado mais distante e no passado recente. Por outro lado, a Providncia Divina precisamente dos imperfeitos para ajudar os mais imperfeitos. Quem poderia alcanar esteaqueles que ainda esto a caminho com eles? A distncia entre ns e os que j se redimiragrande, em termos vibratrios para usar uma palavra mais ou menos aceita que dificconseguem eles alcanar-nos, para um trabalho direto, junto ao nosso esprito. O mesmo popera, alis, nos fenmenos de efeito fsico. A doutrina explica-nos que tais fenmenusualmente realizados por espritos de condio vibratria compatvel com a nossa. Os eelevados no participam diretamente de tarefas desta natureza, embora a superviscuidadosamente, como se v em Andr Luiz.

    Como seres imperfeitos, temos, pois, de viver com o semelhante, tambm imperfeith como fugir de ningum e isolar-se em torres de marfim, mosteiros inacessveis, grutas pna solido. Nosso trabalho aqui mesmo, com o homem, a mulher, o velho, a crianahumanos como ns mesmos, com as mesmas angstias, inquietaes, mazelas e imperfeique enxerga um pouco mais, ajuda o cego, mas, talvez, este disponha de pernas para cam pode, assim, amparar o coxo. E quem sabe se o aleijado dispe de conhecimento construt possa transmitir ao mudo? Este, um dia, no futuro, voltar a falar, para ensinar e construir. pois, uma tremenda multido de estropiados espirituais, e a diferena evolutiva entre ns,

    Terra, no l grande coisa. Vivemos num universo inteiramente solidrio, no qual uns suportar e amparar os outros, ou, na linguagem evanglica: amar-nos uns aos outros. No E necessrio. E como!...

    Da a recomendao da vigilncia. No que tenhamos que nos isolar, numa redonuma couraa, para nos defender dos prias, que nos cercam por toda parte. Ser que aindescobrimos que somos prias tambm? A vigilncia para que fiquemos apenas com oque nos afligem intimamente, e faamos um esforo muito grande para nos livrarmos delens, porm, se, s deficincias que carregamos, somarmos as que recebermos por cespiritual. Isto se dar, certamente, se, em vez de cuidarmos, por exemplo, de aniquilar

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    32/197

    32 Hermnio C. Miranda

    arrogncia, passarmos a imitar a avareza do irmo que segue ao nosso lado, irresponsabilidade de outro, ou o egosmo de um terceiro. nesse sentido que deve funcmecanismo de advertncia. J bastam as nossas mazelas. Para que captar outras que infeliccompanheiros de jornada?

    *

    Estas recomendaes e sugestes nada tm de puramente terico ou acadmicessenciais, especialmente se o grupo medinico se envolver em tarefas de desobsessEspritos trazidos s reunies, para tratamento, apresentam-se hostis, agressivos, irnicos. Qse cometa, a respeito deles, a ingenuidade de pensar que so ignorantes. Com frequncia so inteligentes, e mais bem informados do que ns, encarnados. Geralmente so trazidosforam incomodados na sua atividade lamentvel. Chegam impetuosos e dispostos a fazer qcoisa, para continuar a proceder como acham de seu direito e at de seu dever. No desespque vivem mergulhados, no hesitaro em promover qualquer medida defensiva, e essa geralmente, consiste em atacar aqueles que interferem com seus planos. Cuidado, pois. lugar de vigilncia e prece, lhes oferecemos o flanco desguarnecido, sintonizamo-nos comvibraes agressivas e acabaremos por ser envolvidos.Da a advertncia de que o trabalho medinico, nesse campo especializado, tareftodas as horas do dia e da noite. As recomendaes de comportamento adequad particularmente rgidas para o dia em que as sesses se realizam.

    No dia marcado para as tarefas de desobsesso escreve Andr Luiz integrantes da equipe precisam, a rigor, cultivar atitude mental digna, desde cedo. 2

    Resguardarem-se todos na prece, na vigilncia. Fugiremos ao envolvimentodiscusses e desajustes de variada natureza. Alimentao sbria, leve.

    No custa muito, pelo menos nesse dia, abster-se de carne; e necessrio prescinlcool e do fumo. Sempre que possvel, durante o dia ou nas horas que precedem a reun pouco de repouso fsico e mental, com relaxamento muscular e pacificao interior.

    Enfrentemos com disposio e coragem os empecilhos naturais que possam obcomparecimento reunio: um mal-estar de ltima hora, por exemplo. (Muitas principalmente no caso dos mdiuns, j se trata de aproximao de Espritos angustiacolricos, que transmitem suas vibraes depressivas.) possvel que, hora da sada reunio, chegue uma visita inesperada, ou uma criana se ponha a chorar, inexplicaveagitada ou inquieta. De outras vezes, chove ou faz muito frio, ou calor excessivo, pensamento de comodismo e preguia nos segreda a palavra de desnimo. Muitos promissores tm sido afastados de tarefas redentoras por pequeninos incidentes como estesvo somando, at neutraliz-los de todo. Nem percebem que os companheiros das sosouberam tirar bom partido dos acontecimentos, ou at mesmo os provocaram, como no sbito mal-estar prprio ou de um membro da famlia. No dia seguinte, ou horas depois,estar ter passado, como por encanto, mas o trabalho das trevas j est feito: um obreiro ana seara, pelo menos naquele dia. A grande vitria comea com as pequenas escaramuas.

    Cuidado, ateno, serenidade, firmeza.

    *

    2 DESOBSESSO, Francisco Cndido Xavier e Waldo Vieira, capitulo 1, 3 ed. FEB.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    33/197

    33 DILOGO COM AS SOMBRAS

    Quanto aos componentes encarnados do grupo, mais uma vez lembramos: vital unam laos da mais sincera e descontrada afeio. O bom entendimento entre todos cindispensvel, insubstituvel, se o grupo almeja tarefas mais nobres. No pode desconfianas, reservas, restries mtuas. Qualquer dissonncia entre os componentes enc pode servir de instrumento de desagregao. Os Espritos desarmonizados sabem tirar patais situaes, pois esta a sua especialidade. Muitos deles no tm feito outra coisa, infel para eles prprios, ao longo dos sculos, seno isto: atirar as criaturas umas contra asdividindo para conquistar. Nem sempre o fazem por maldade intrnseca. preciso entenEles vivem num contexto que lhes parece to natural, justificvel e lgico, como o de qoutro ser humano. Julgam-se com direito de fazerem o que fazem, e, por isso, no se detmde nenhum escrpulo ou temor.

    Se os componentes do grupo oferecerem condies de desentendimento, provocdesagregao impiedosamente, porque para eles isto questo de vital importncia, a continuarem a agir na impunidade temporria em que se entrincheiraram.

    Assim sendo, melhor que um grupo com dimenses internas encerre suas ativi pelo menos por algum tempo, at que se afastem os elementos dissonantes. No se adm

    grupo responsvel e empenhado em trabalho srio, qualquer desarmonia interna, como pelos diversos postos: dirigente, mdium principal e outras infantilidades. O dirigente dono o que se senta cabeceira da mesa e d instrues ele apenas um companhecoordenador, um auxiliar, em suma, dos verdadeiros responsveis pela tarefa global, que seno mundo espiritual. Qualquer sintoma de rivalidade entre mdiuns deve ser prontaidentificado e combatido. Ainda falaremos disso, mais adiante. Por ora, basta dizer, e ndiremos com nfase bastante, que deve predominar entre os encarnados um clima de libconsciente, franqueza sem agressividade, lealdade sem submisso, autoridade sem prepoafeio sem preferncias, e perfeita unidade de propsitos.

    No momento em que o desentendimento e a desafeio comeam a medrar enencarnados, o grupo est em processo de desagregao. Isto implica dizer que os ele perturbadores dessa harmonia interna devem ser prontamente identificados. O responsvgrupo, ou quem for para isso designado, deve procurar os desajustados para entend particular, reservado. Se no for possvel reconduzi-los a uma atitude construtiva, nalternativa seno o afastamento, pois o trabalho das equipes encarnada e desencarnada dcolocado acima das nossas posies pessoais.

    A deciso de afastar algum no fcil, e nem deve ser tomada precipitadamenteouvir dizer, pois uma ao de natureza grave. No apenas o grupo se privar do seu coqualquer que seja a sua posio, como ele prprio, sentindo-se como que expulso, quexcomungado, poder cair numa faixa de desnimo, quando no de revolta, que o desespiritualmente e o precipita em imprevisveis aflies. No se trata de criar uma atm

    inquisitorial de espionagem mtua, de desconfianas e rivalidades, ou rancores surdos, potambm se aproveitariam os irmos desencarnados que precisam do nosso afeto e comprmas os objetivos e finalidades do grupo devem ficar a salvo de nossas paixes. Se, para inecessrio afastar um ou outro companheiro, teremos que faz-lo. Cumprir o desagrmandato com amor, equilbrio e serenidade, mas tambm com firmeza. Talvez o compa perturbador possa retornar tarefa mais adiante, j regenerado, mas entre sacr pessoalmente e sacrificar todo o programa, no h como hesitar.

    Este aspecto aqui abordado com franqueza e sem temores, porque, embormencionado usualmente nas anotaes sobre trabalho medinico, uma das grandes e fre

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    34/197

    34 Hermnio C. Miranda

    dificuldades ocorridas em inmeros grupos. Precisamos estar preparados para ela porqucedo ou mais tarde, haveremos de encontr-la. Ateno, porm: nada de processos inquisrepetimos. O bom senso e a prece sero sempre os melhores conselheiros, em situaes com

    Por outro lado, essas e outras decises, isto , todas aquelas que dizem respeito, podizer, gesto terrena do grupo, cabem aos encarnados. Os benfeitores espirituais, ligados dificilmente nos daro ordens para admitir este componente ou desligar aquele. Eles desej

    ns sejamos capazes de discernir e assumir a responsabilidade pelos nossos atos. O que ede ns um clima de harmonizao, para que possam, em cada reunio, colocar diante dtarefa que desejam que realizemos. preciso que ofereamos a eles aquele mnimo de cindispensvel.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    35/197

    35 DILOGO COM AS SOMBRAS

    3Os mdiuns

    O captulo 32, deO LIVRO DOS MDIUNS, intitula-se Vocabulrio Esprita, e sugereseguinte definio: Mdium (Do latimmedium , meio, intermedirio). Pessoa que pode servde intermedirio entre os Espritos e os homens.

    Revelando o cuidado e o extraordinrio poder de sntese que Kardec sempre demessa definio um primor de clareza. Vemos, por ela, que o mdium uma pessoa, isto ,

    encarnado, sujeito, por conseguinte, s imperfeies e mazelas que nos afligem a todos e, pto propenso queda quanto qualquer um de ns, ou talvez mais ainda, porque sua capacisintonizar-se com os desencarnados o expe a um grau mais elevado de influenciao.

    Sabemos, por outro lado, do aprendizado esprita, que a mediunidade, longe demarca da nossa grandeza espiritual, , ao contrrio, o indcio de renitentes imperfRepresenta, por certo, uma faculdade, uma capacidade concedida pelos poderes que nos amas no no sentido humano, como se o mdium fosse colocado parte e acima dos vis mcomo seres de eleio. , antes, um nus, um risco, um instrumento com o qual o mdiutrabalhar, semear e plantar, para colher mais tarde, ou ferir-se mais uma vez, com a m utdos talentos sobre os quais nos falam os Evangelhos, O mdium foi realmente distinguidorecurso da mediunidade, para produzir mais, para apressar ou abreviar o resgate de sua passadas. No se trata de um ser aureolado pelo dom divino, mas depositrio desse dom, qconcedido em confiana, para uso adequado.

    Enfim: o mdium utiliza-se de uma aptido que no faz dele um privilegiado, no sde coloc-lo, na escala dos valores, acima dos seus companheiros desprovidos dessas facuQuanto mais amplas e variadas as faculdades, mais exposto ficar ao assdio dos compainvisveis que se opem ao seu esforo evolutivo.

    De certa forma, isso vlido para todos ns, mas aqueles que dispem de facumedinicas esto como se tivessem devassado o seu mundo interior a seres desconheinvisveis, que podem ser bons e amigos, como tambm podem ser antigos e ferrenhos deou comparsas de crimes hediondos.

    Isso me faz lembrar um filme que vi h algum tempo. O jovem heri, pelo esforotrabalhador social compreensivo, que acreditava na capacidade evolutiva do ser humano, liberdade condicional. Estivera alguns anos na priso, em virtude da prtica de assaltos aud bem planejados e, naturalmente, muito rendosos financeiramente. Fora o lder de seu gcrebro da organizao, o planejador eficiente e hbil que facilmente submeteu todos os dsua vontade. Ao sair da priso, deseja esquecer o passado tenebroso, encontra o amor na peuma jovem, e dedica-se a trabalho humilde, de baixa remunerao, mas honesto. nessa reconstruo ntima e esforo regenerativo, que os antigos comparsas o encontram. Comcerco, o assdio, com propostas, ameaas, e a doce cantilena do xito material.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    36/197

    36 Hermnio C. Miranda

    Tudo tentado para afast-lo do caminho da recuperao. Qualquer ardil serve, qu presso, envolvimento ou oferta. Vale tudo. Seus ex-companheiros de crime desejam-no dao grupo, aos prazeres, s loucuras, irresponsabilidade.

    A semelhana com a situao do mdium impressionante. Seus comparsas nconformam, e, das trevas onde se escondem, buscam-no incessantemente. Isso particulaagudo quando a mediunidade comea a desabrochar. Os primeiros manifestantes so,

    sempre, atormentados seres do mundo das dores, obsessores impiedosos, verdugos qdesejam deixar escapar a presa pelos portes do trabalho regenerador. Ou, ento, so associoutros tempos, que por muitos sculos planejaram e executaram juntos crimes inominveis.

    O mdium, mais do que aqueles que no dispem da faculdade, um ser em libcondicional. Cabe a ele provar que j capaz de fazer bom uso dela. A tarefa no fcil, como todos ns, traz em si o apelo do passado, as tomadas para o erro, as cicatrizcuradas, de falhas dolorosas, o peso especfico que o arrasta para baixo, tentando impedir se escape, como um pequeno balo, para o azul infinito da libertao espiritual.

    Mais do que qualquer um de ns, ele precisa estar vigilante, atento, ligado a umgrupo de trabalho, compulsando livros doutrinrios de confiana, observando suas pfaculdades, corrigindo, melhorando, modificando, eliminando, acrescentando.

    Nada de pnico, porm. O fato de ser ele uma pessoa dotada de antenas psquicas pem em relao com o mundo espiritual, quer ele deseje ou no, no quer dizer que ele merc dos companheiros desvairados das sombras, a no ser que ele prprio deixe caguardas. Ele contar sempre com a proteo carinhosa e atenta de seus guias, daqueles quinteressados no seu progresso espiritual. Procure manter um bom clima mental. Estude, lecom simplicidade, vigie seus sentimentos, como qualquer um de ns. Participe da lutaenfrente os problemas da existncia: profissionais, familiares, sociais, humanos, enfim. Nfaltaro recursos, assistncia, informaes e, acima de tudo, trabalho medinico, que da emesma do seu compromisso.

    No tema, mas no seja temerrio. No deixe de estudar suas faculdades, mas

    envaidea do que aprendeu nem dos recursos que conseguiu desenvolver. Na hora da tarefsimples trabalhador, como qualquer outro: nem melhor, nem pior, nem inferior, nem superioOs dirigentes de grupos devem combater sem trguas o vedetismo de alguns md

    bom combate, claro, de que nos falava Paulo, sem rancores, sem humilhaes, sem prep comum, nos grupos medinicos, dar-se destaque indevido ao mdium que recebe, por exo orientador desencarnado, para as palavras de esclarecimento e as diretrizes gerais. O ideque os orientadores se revezassem, utilizando-se dos demais mdiuns, mas eles nointeressados em preservar as nossas ridculas suscetibilidades e vaidades. Se o mdium recebe sente-se envaidecido, trate de se corrigir; se os mdiuns que no o recebemenciumados, o problema de cada um. A experincia com os espritos ensina-nos que ecompassivos, amorosos, pacientes, tolerantes e serenos, mas so tambm firmes e rigquando necessrio. Isso est amplamente documentado na Codificao, pois nem mesmo adeixaram eles de dizer o que era necessrio dizer, s vezes at com inesperada severidade.

    Por que h Deus permitido que os Espritos possam tomar o caminho do m pergunta Kardec, segundoO LIVRO DOS ESPRITOS, questo 123.

    E eles respondem: Como ousais pedir a Deus contas de seus atos? Supondes poder penetrar-

    desgnios? Podeis, todavia, dizer o seguinte: A sabedoria de Deus est na liberdade de escoEle deixa a cada um, porquanto, assim, cada um tem o mrito de suas obras.

  • 8/8/2019 Dilogo com as Sombras. Hermnio C. Miranda. 1976

    37/197

    37 DILOGO COM AS SOMBRAS

    E o interlocutor era Allan Kardec! Por que razo ficaro com panos quentes comeros aprendizes primrios de uma verdade que transcende, em muitos aspectos, acompreenso?

    Assim, no se espere que os benfeitores espirituais tomem precaues especiais pa preservar o orgulho e a vaidade.

    No cuidaremos, neste livro, da formao ou do desenvolvimento do mdium. O demasiado complexo para um tratamento sumrio e foge aos objetivos das nossas especaqui. H obras que cuidam do problema, mas preciso no se esquecer que o ponto de paqualquer trabalho, nesse sentido, O LIVRO DOS MDIUNS, de Allan Kardec.

    possvel, no entanto, que as tarefas do grupo medinico venham, no decorrer do revelar a existncia de outros mdiuns em potencial. No necessrio, neste caso, colocar aem quarentena, nem deslig-la do grupo. Que ela se mantenha junto aos companheiros, na que sempre ocupou e aguarde a sua vez. Os benfeitores espirituais sabero como conduzirnecessrio, fornecendo ocasionais indicaes e instrues, at que a mediunidade nascente a desabrochar e possa ser utilizada.

    O dirigente humano acompanhar atentamente o trabalho, ajudando o companhei

    companheira, nas lides iniciais da sua empreitada. Os fenmenos comearo espaaindecisos: rpidas vidncias, clariaudincia, talvez intuies, impulsos de dizer ou escreveQuando estes pequenos fenmenos ocorrerem, o componente da equipe deve comunicarlogo lhe seja possvel, com o dirigente, sem interromper os trabalhos em curso, a no motivos imperiosos; de preferncia, contudo, depois de encerrada a sesso. Nada de aodade excitaes, de fantasias, de euforia, nem de temores. Num grupo bem orientado, to potencialidades sero devidamente estudadas e aproveitadas, quando possvel e necessrio.

    A mediunidade que melhor se presta aos trabalhos de desobsesso a psicofonia,incorporao. O dilogo com o desencarnado da prpria essncia da tarefa, e dificilm palavra falada, direta e viva, poderia ser substituda, sem perda considervel da efic processo. Em casos extremos, poder ser utilizada a psicografia: o doutrinador falaria e o responderia por escrito, mas a experincia revela que nada substitui a palavra falada, nessetrabalho. Com ela, sentimos com maior facilidade as reaes que se processam no manifsua personalidade, seus cacoetes, seu estado de irritao ou de serenidade, suas ironiavacilaes, sua sinceridade, suas emoes.

    No quer isso dizer que o grupo deva reunir apenas mdiuns de incorpora benfeitores espirituais tero melhores oportunidades de desenvolver suas tarefas porintermdio, quando dispuserem de mais ampla variedad