diálogo da água e do fogo

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Diálogo da água e do fogo A água: Eu sou a água das fontes, Fresquinha, que faz gelar. Venho do seio dos montes, Vou ter ao seio do mar. O fogo: Eu sou o fogo que nasce Para aquecer toda a Terra, É de luz a minha face, Toda a vida em paz ou guerra. A água: São meus todos os caminhos, Ninguém mais do que eu tem freimas. Mato a sede aos pobrezinhos Rego os campos que tu queimas. O fogo: Nunca vi vaidade assim. Cala-te lá, não te afoites! Vê tu: na treva sem fim, Eu sou a graça das noites. A água: Eu sou do mundo a alegria Do orvalho às ondas cérulas, Dentro em mim quis Deus um dia Que se criassem as pérolas. O fogo: Tem sempre medo quem passa Por ti, ó água do mar; És a tragédia da Raça, Das caravelas sem par. A água: E tu não poupas ninguém: Destróis palácios enormes. Quantas desgraças não vêm De sob a cinza em que dormes! O fogo e a água: Ninguém deve dizer mal, Agora reparo eu, Somos ambos, afinal, Cada qual p’ro que nasceu. “Leal Conselheiro Infantil”

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O fogo: Tem sempre medo quem passa Por ti, ó água do mar; Ésa tragédia da Raça, Das caravelas sem par. O fogo: Eu sou o fogo que nasce Para aquecer toda a Terra, É de luz a minha face, Toda a vida em paz ou guerra. A água: Eu sou do mundo a alegria Do orvalho às ondas cérulas, Dentro em mim quis Deus um dia Que se criassem as pérolas. A água: E tu não poupas ninguém: Destróis palácios enormes. Quantas desgraças não vêm De sob a cinza em que dormes!

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Diálogo da água e do fogoA água:

Eu sou a água das fontes,Fresquinha, que faz gelar.Venho do seio dos montes,

Vou ter ao seio do mar.

O fogo:Eu sou o fogo que nasce

Para aquecer toda a Terra,É de luz a minha face,

Toda a vida em paz ou guerra.

A água:São meus todos os caminhos,

Ninguém mais do que eu tem freimas.Mato a sede aos pobrezinhos

Rego os campos que tu queimas.

O fogo:Nunca vi vaidade assim.Cala-te lá, não te afoites!Vê tu: na treva sem fim,

Eu sou a graça das noites.

A água:Eu sou do mundo a alegria

Do orvalho às ondas cérulas,Dentro em mim quis Deus um dia

Que se criassem as pérolas.

O fogo:Tem sempre medo quem passa

Por ti, ó água do mar;És a tragédia da Raça,Das caravelas sem par.

A água:E tu não poupas ninguém:Destróis palácios enormes.

Quantas desgraças não vêmDe sob a cinza em que dormes!

O fogo e a água:Ninguém deve dizer mal,

Agora reparo eu,Somos ambos, afinal,

Cada qual p’ro que nasceu.“Leal Conselheiro Infantil”