Dialogos uff

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AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO NORMAL: PROJETO PARA ENSINAR/APRENDER A PENSAR MATEMÁTICA E SEUS DESDOBRAMENTOS. Cristiane Marcelino – SEE-RJ e UERJ/PROPED 1 Resumo Frente ao cenário de turmas sem aulas de matemática por quase dois anos, a baixa auto-estima dos alunos devido ao despreparo diante das políticas de avaliação da secretaria de Estadual de Educação (SEE-RJ), Enem e vestibular surge o projeto Pensar/Aprender Matemática. O objetivo era a elaboração colaborativa de etnométodos (Macedo,2011) que dessem conta, naquele momento, do que era importante aprender/ensinar em matemática. Busca-se nesse texto relatar a experiência do projeto de uso de um ambiente virtual de aprendizagem como um dos possíveis recursos para potencializar a aprendizagem em matemática em turmas de Ensino Médio Normal. Tendo como embasamento teórico Bairral (2007), Silva (2010), Santos (2007,2010), Lévy (1997 ), Borba (2011), Alves (2010, 2011) o relato busca localizar o leitor, quanto a todos os fatores que constituíram o projeto: as atividades, os sujeitos praticantes (Certeau, 1994), o ambiente escolhido, um breve mapeamento de suas narrativas e possíveis desdobramentos. Palavras-chave: ambiente virtual de aprendizagem, formação de professores, cibercultura, matemática 1 Tutora presencial da disciplina Informática na Educação do Consórcio CEDERJ/UERJ. Orientadora tecnológica e docente de matemática do Instituto de Educação de Belford Roxo (IEBR). Membro do GPDOC – Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura. Mestranda no Proped-UERJ. Email: [email protected] . Blog: http://otcrismarcelino.blogspot.com

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AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA NO

ENSINO MÉDIO NORMAL: PROJETO PARA ENSINAR/APRENDER A

PENSAR MATEMÁTICA E SEUS DESDOBRAMENTOS.

Cristiane Marcelino – SEE-RJ e UERJ/PROPED1

Resumo

Frente ao cenário de turmas sem aulas de matemática por quase dois anos, a

baixa auto-estima dos alunos devido ao despreparo diante das políticas de avaliação da

secretaria de Estadual de Educação (SEE-RJ), Enem e vestibular surge o projeto

Pensar/Aprender Matemática. O objetivo era a elaboração colaborativa de etnométodos

(Macedo,2011) que dessem conta, naquele momento, do que era importante

aprender/ensinar em matemática. Busca-se nesse texto relatar a experiência do projeto

de uso de um ambiente virtual de aprendizagem como um dos possíveis recursos para

potencializar a aprendizagem em matemática em turmas de Ensino Médio Normal.

Tendo como embasamento teórico Bairral (2007), Silva (2010), Santos (2007,2010),

Lévy (1997 ), Borba (2011), Alves (2010, 2011) o relato busca localizar o leitor, quanto

a todos os fatores que constituíram o projeto: as atividades, os sujeitos praticantes

(Certeau, 1994), o ambiente escolhido, um breve mapeamento de suas narrativas e

possíveis desdobramentos.

Palavras-chave: ambiente virtual de aprendizagem, formação de professores,

cibercultura, matemática

1 Tutora presencial da disciplina Informática na Educação do Consórcio CEDERJ/UERJ. Orientadora

tecnológica e docente de matemática do Instituto de Educação de Belford Roxo (IEBR). Membro do GPDOC – Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura. Mestranda no Proped-UERJ. Email: [email protected]. Blog: http://otcrismarcelino.blogspot.com

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A trajetória de um professor é repleta de dilemas e desafios que vão desde as

questões relativas a aprendizagem do aluno a até um sentimento dicotômico entre ser

exercer a profissão ou uma espécie de sacerdócio.Enquanto docente e pesquisadora de

matemática e dos usos das tecnologias de comunicação na educação, mais

especificamente em cursos de formação de professores, não podia ser diferente: são

inúmeros os desafios.

Um deles, marco em minha trajetória profissional sem dúvida alguma, foi o de

pensar atos de currículo (MACEDO, 2011, pág 17) para turmas do ensino médio normal

(Instituto de Educação de Belford Roxo) levando-se em conta: os quase dois anos sem

aula de matemática, a avaliação por desempenho em português e matemática no qual

estavam sendo submetidos bimestralmente (Sistema de Avaliação da Educação do

Estado do Rio de Janeiro -SAERJ) e o fato de serem nativos digitais que utilizam

(mesmo escondido dos professores) seus dispositivos móveis para acessarem suas redes

sociais.

Diante da falta de motivação dos alunos por conta dos quase dois anos sem aula, pelo

senso comum de que “matemática é para poucos” e pelas questões já expostas, o uso da internet

foi sendo agregado aos planejamentos. Concordamos com Borba (2011) quando diz

Talvez seja à hora de pensarmos em admitir de modo mais

constante a internet na sala de aula como forma de lidar com o

desinteresse de parte dos estudantes pela matemática. (Borba,

2011, pg17).

Pensar na inserção do uso da internet, mais especificamente em um ambiente virtual

preparado para ensino-aprendizagem, vai além da postagem de textos, vídeos ou imagens. ou da

simples abertura de fóruns de discussão.

Lévy (1997) tomando como exemplo a inserção da informática nas escolas da França,

já dizia que

Apesar de diversas experiências positivas sustentadas pelo

entusiasmo de alguns professores, o resultado global é deveras

decepcionante. Por quê?É certo que a escola é uma instituição

que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na

escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, em um uso

moderado da impressão. Uma verdadeira integração da

informática (como do audiovisual) supõe, portanto o abandono

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de um hábito antropológico mais que milenar o que não pode

ser feito em alguns anos (Lévy, 1997, pg 8).

Frente a esse cenário as inquietações: que temas seriam, naquele momento,

relevantes para formação desses alunos? Que usos das tecnologias disponíveis poderiam

tornar a aprendizagem mais significativa tendo em vista as suas potencialidades?

Matemática é uma disciplina que muitos alunos temem. Borba (2011) afirma

que não passar nessa disciplina ou obter fracasso tem sido considerado normal, é senso

comum. Além disso, grande parte dos exames de avaliação da qualidade do ensino dá

ênfase e um peso maior a português e matemática, aferindo tais disciplinas e

estabelecendo seus parâmetros. Podemos citar a Prova Brasil, SAEB (Sistema de

Avaliação da Educação Básica) e aqui em nosso estado o SAERJ.

Surge o projeto Pensar/Aprender matemática e o ambiente Virtual de

Aprendizagem em matemática (AVA). A ideia inicial era ampliar o tempo hora/aula

fazendo uso da potencialidade da internet, mais especificamente dos fóruns do AVA2

muito similar ao facebook e que alguns alunos acessavam com facilidade pelo celular.

Pensou-se nesses recursos como facilitadores de uma avaliação diagnóstica da situação,

um dos meus dilemas.

Imagem 1 - Ambiente Virtual de Aprendizagem em Matemática - IEBR3

2 Projeto está disponível em http://avaemmatematica-iebr.ning.com/. 3 http://avaemmatematica-iebr.ning.com/

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Depois de um período buscando aprimorar a prática docente através de cursos de

formação continuada percebi que o uso de recursos tecnológicos possui grande

potencial pedagógico. Inicialmente, como usuária, saqueava dos repositórios

disponíveis como RIVED e portal do professor, objetos de aprendizagem que

reutilizava em minhas aulas. Posteriormente me autorizei utilizando um blog, ainda

vivendo a web 1.04, como repositório de meus trabalhos que geraram um convite para

postagem em um site governamental.5

O entrelaçamento entre a realidade posta e as experiências vivenciadas

apontaram que a autoria, potencializada pela internet em recursos da web 2.06, como um

caminho para responder as inquietações existentes.

A autoria é característica predominante da cibercultura, que é a cultura mediada

pelo digital no ciberespaço e na cidade. Com a liberação do pólo de emissão, fortalecida

pela emergência da web 2.0, todos tem a possibilidade de produzir conteúdos e

socializá-los, abrindo espaço para novas autorias e quem sabe coautorias.

Criar um projeto que utilize a internet, mais especificamente em um ambiente

virtual preparado para ensino-aprendizagem, vai além da postagem de textos, vídeos ou

imagens ou da simples abertura de fóruns de discussão.

Lévy (1997) tomando como exemplo a inserção da informática nas escolas da

França, já dizia que

Apesar de diversas experiências positivas sustentadas pelo

entusiasmo de alguns professores, o resultado global é

deveras decepcionante. Por quê?É certo que a escola é

uma instituição que há cinco mil anos se baseia no

falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há

quatro séculos, em um uso moderado da impressão. Uma

verdadeira integração da informática (como do

audiovisual) supõe, portanto o abandono de um hábito

antropológico mais que milenar o que não pode ser feito

em alguns anos (Lévy, 1997, pg 8)

4 A definição de web 1.0 depende completamente da definição de web 2.0. Ver nota de página nº 5 5 http://www.educacaopublica.rj.gov.br/oficinas/matematica/origami/01.html 6 O termo foi criado por Tim O´Relly a partir de seu artigo O que é Web 2.0 onde define a mesma como A mudança para uma internet como plataforma. Para ler o referido artigo de Tim O´Reilly, acesse o link: http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html

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Portanto é preciso rever paradigmas, novos planejamentos, novas propostas

(Bairral, 2007, pg. 9). Além disso, uma mediação que leva o outro a ser autor, a

interagir com o outro, a cooperar e a também mediar é um dos fatos determinantes para

que a aprendizagem seja significativa. É o que Silva (2010) chama de “fazer educação

on line”7: algo cujo dinamismo propicia a colaboração e autoria fazendo- se valer dos

diferentes recursos existentes em um ambiente virtual como chat, fóruns de discussão,

vídeos,áudio, emails.

Era preciso pensar em metodologias que possibilitassem tecer conhecimentos

com e não para os praticantes (Cearteau, 1994) utilizando espaçostempos (Alves, 2001)

para além da sala de aula, ampliando as práticasteorias de uso para as práticasteorias

de produção de mídias (Alves, 2010).

Assim, a partir dos fóruns de discussão foram mapeados alguns conceitos

recorrentes que apontassem o que precisávamos aprender.

Fóruns de discussão são recursos propícios para que, após a proposição de

algum tema, os participantes tenham um tempo para (re)pensar sobre o mesmo,

estabelecer relações com o que sabem ou apontar o que desconhecem por meio de um

texto aberto a interatividade, mediação e colaboração de outros. Portanto, fóruns são

recursos que oportunizam um caminhar colaborativo hipertextual (Bairral, 2007, pg 89)

Depois de inscritos no ambiente, a dinâmica a ser seguida era de postar

respondendo as provocações e comentar a postagem de pelo menos um colega de forma

relevante.

7 A educação on line é o conjunto de ações de ensino e aprendizagem ou atos de currículo mediados por

interfaces digitais que potencializam práticas comunicacionais interativas e hipertextuais (Santos, 2010,

pg 37).

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Imagem 2 - Fórum de Discussão

Utilizando para análise dos discursos dos fóruns de discussão o modelo

apresentado por Bairral (2007). Foram feitos recortes em que expressões recorrentes

apontaram algumas lacunas na formação dos alunos(tabela 1).

Conteúdo

Exemplo

Etnomatemática

“Professora esse vídeo e muito legal, diz como surgiram os números,

mas de um jeito descontraído e fala da importância dos números nas

nossas vidas, ate as pessoas que dizem que não precisa de numero

acabam utilizando o numero de alguma forma, ate aquele senhor da

tribo utilizo os números para dizer quantas mulheres já teve e quantos

netos etc.”

“Muito bem lembrado, do homem da tribo que não conhecia os

números , mas quando perguntado sobre a quantidade de seus filhos

,só sabia dizer pelos nomes.”

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Ábaco e outros

recursos

“Achei bem interessante o que foi colocado pela Andréa sobre os

algarismos romanos, concordo com ela sobre ela não ter entendido

como se usa o ábaco, pois também não entendi”

Sistemas de

Numeração

“O que ficou um pouco claro foi o surgimento dos números com cada

povo daquela época, como eles faziam para criar a sua própria escrita,

seus números para diferenciar dos outros povos e o que não ficou

muito claro para mim foi a utilização do ábaco na matemática e os

números binários.”

“Concordo com você cara amiga, sendo que esquecemos de ditar a

importância que ele teve para os números binários. Que pelo o que

entendi,era representado pelo o um e o zero, para se saber o cálculo

de alguma coisa, se sabia o resultado pela coluna que cada número

representava.”

História

da Matemática

como recurso

“Dessa forma, descobri coisas que são históricas e que eu ainda não

havia pensado, como o surgimento dos números e da matemática.”

“E o mais interessante e que não foi o zero que surgiu primeiro e sim

o um em forma de traço e esse traço e utilizado ate hoje, quando não

utilizamos os dedos para conta.”

Com os temas que emergiram nas discussões, para além dos conteúdos

previstos, fiz uma proposta para eles inovadora, já que como Silva (2002, não paginado)

percebo o quanto ainda é desafiante, tanto para professores quanto para alunos, utilizar a

internet frente ao modelo tradicional que estamos acostumados e que se torna mais

confortável no momento de estar a frente de uma turma.

Vi na perspectiva de atividades autorais uma abertura para que criássemos

juntos atos de currículo a partir das discussões. E mais ainda: que os alunos por meio de

suas produções se autorizassem a elaborar objetos de aprendizagem que pudessem ser

reutilizados por eles mesmos e a princípio por toda comunidade escolar.

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Na proposta8 feita as turmas, ao invés de seminários, vídeos. Ao invés de

pesquisas individuais, buscas colaborativas. Trabalhos em grupo em que todos

colaboram com todos com total liberdade para usar a criatividade em um vídeo de até 5

minutos.

Um blog colaborativo foi criado para que o material fosse disponibilizado e

estivesse aberto as mediações e colaboração de todos.

Cada aluno tinha um papel definido:

Líder – responsável em mobilizar o grupo e responsável em administrar o

espaço no blog.

Pesquisador – responsável em coletar os dados e informações para elaboração

do texto de no máximo 2 laudas

Mídia – responsável em gravar e editar o vídeo de apresentação do grupo.

Criativos – responsáveis em elaborar a partir da pesquisa uma apresentação de

no máximo 5 minutos (peça, clipe, animação, seminário etc) que será

posteriormente gravado.

Todos os componentes – postagem no espaço destinado aos comentários do

grupo apadrinhado com uma pesquisa colaborativa.

A dinâmica de divisão de tarefas buscou evitar problemas comuns de grupos que

centralizam as funções em um componente e no final todos ganham sem nada fazer.

Outra novidade está na pesquisa colaborativa: buscar informações sobre o

trabalho de outro grupo, colaborando com sugestões no blog possibilita que todos

estejam informados e ampliem seus conhecimentos sobre todos os assuntos a serem

debatidos.

8 Conheça o primeiro desdobramento do projeto no blog colaborativo http://temasemmatematica3.blogspot.com.

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Imagem 3 - Vídeos produzidos pelos alunos

Além das interfaces Youtube e blogger, conversas no facebook, emails enfim, o

ciberespaço como um ambiente virtual de aprendizagem (SANTOS, 2003, pág 3).

Imagem 4 – Mediação no facebook

Imagem 4 – Mediações no facebook

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Os alunos fizeram suas produções e de forma muito criativa falaram sobre temas

como ábaco, tangram, etnomatemática e outros9. Haviam telejornais, raps do teorema de

Pitágoras, teatro de bonecos , dramatizações. Alguns grupos de forma curiosa não

conseguiram fugir do padrão conhecido dos seminários: alunos nervosos dispostos

diante de uma platéia imaginária lendo um texto em papel amassado.

O projeto desenvolvido em apenas dois meses, no final do ano letivo, apontou

para existência de algumas lacunas em relação as práticasteorias no processo formativo

dos alunos. Além de um currículo mínimo hoje instituído e selecionado por professores

da rede estadual de educação no Rio de Janeiro, o professor tem ainda os parâmetros

curriculares nacionais (PCNs) que servem como referência para o trabalho em sala de

aula. Mais especificamente em matemática os PCNs indicam o uso de jogos,

tecnologias disponíveis e a história da matemática em paralelo com o ensino dos

conteúdos.

As narrativas dos alunos mostraram o desconhecimento de pontos da história dos

números, que ajudam a contextualizar já nas séries iniciais de onde surgiram, sua

utilidade, a diferença entre número e numeral. Mostraram que é urgente repensar o

currículo mínimo para cursos de formação de professores (ensino normal) e repensar as

práticas que vem sendo feitas, muitas pautadas nas avaliações institucionais e pouco na

discussão teórica e prática do ensino da matemática nas séries iniciais.

O projeto, iniciado em 2011, passou a fazer parte dos projetos da escola onde,

nesse ano (2012), temos como objetivo iniciar um banco de objetos de aprendizagem no

formato de Curtas Metragens produzidos pelos alunos.

Já no primeiro bimestre os professores das áreas ciências da natureza e exatas

ficaram responsáveis em agregar ao ensino de algum conteúdo específico e de escolha

livre a linguagem do cinema. Mais especificamente a dos curtas metragens, como mais

um recurso que potencialize a aprendizagem. Percebendo que isso demandaria tempo, o

projeto foi dividido em duas etapas.

Na primeira etapa o objetivo era introduzir a ideia do projeto com discussões,

em sala, sobre os temas propostos, sempre com foco na produção dos curtas. Na

segunda etapa a elaboração do roteiro e produção. As turmas que possuíam alguma

9 Ver as pesquisas e imagens sobre os temas em http://temasemmatematica3.blogspot.com

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produção do ano anterior usariam esse tempo para debaterem sobre a experiência e

repensarem e até refazerem alguns dos vídeos, por conta de problemas conceituais.

Um dos destaques foi um grupo que ficou com o tema Tangram. Fizeram um

vídeo em que as peças do quebra-cabeça flutuavam e iam formando novas figura. A

primeira versão foi feita no escuro, com a iluminação do celular. Podendo repensar o

que produziram e com a orientação do professor Edmilson a filmagem foi refeita com o

uso de uma luz negra, fazendo com que as peças ficassem iluminadas e mais claras para

quem estava assistindo. A maturidade entre as produções fica clara quando comparadas.

A grande preocupação era quanto a questão técnica: como rodar o filme e quem

orientaria os alunos quanto a isso. Pensando nisso foi organizada uma palestra sobre a

linguagem do curta na escola, como o projeto foi iniciado e os desdobramentos.

A comunidade escolar, representada por alunos de todas as turmas, professores e

direção, pode ouvir a pedagoga Beatriz Lorena10 falar sobre os tipos de filmes e todo o

processo de construção: desde o storyboard até a filmagem.

Imagem 5 - Blog do projeto

A ênfase em todas as falas de que a vivência anterior havia demonstrado o

potencial criativo e autoral dos alunos daquela unidade criou um movimento de

produções para todas as disciplinas. Em outro projeto chamado concurso literário uma

turma decidiu criar um videoclipe sobre Mário Lago que foi exibido como parte das

atividades. A procura pelo laboratório de informática tem sido grande para edição de

vídeos e informações sobre softwares gratuitos de edição. Logo após o evento sobre os

10

O conteúdo da palestra está disponível no blog do projeto http://curtanoiebr.blogspot.com.br/

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curtas a palestrante foi procurada em seu facebook por alunos que demonstraram

interesse no tema.

Santos (2007) em seu artigo sobre a informática na educação destaca que no

momento em que emerge a Web 2.0, professores passam a trabalhar projetos que

articulam mídias, softwares e interfaces em Web 2.0 objetivando a aprendizagem como

resultado do exercício da autoria do aluno.

O repensar as práticas e o currículo do curso normal como um todo é o que emerge de

toda essa trajetória que está só começando. No projeto piloto a internet, na segunda

etapa a criação de vídeo, nas próximas etapas o repensar, o divulgar, o refazer

colaborativamente, o aprender para ensinar. São vivências formativas para professores e

alunos. Enfim, o uso das tecnologias como recursos para promoção da autoria, avaliação

diagnóstica da realidade e elaboração de atos de currículo formativos são os possíveis

contribuições desse projeto. Desdobramentos que poderão possibilitar a cogitação de

um currículo que possibilite a reflexão do que o aluno precisa aprender para poder

ensinar.

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Referências:

BAIRRAL, M.A, Discurso, interação e aprendizagem matemática em ambientes

virtuais a distancia. Seropédica, RJ: Ed. Universidade Rural, 2007.

BORBA, M.C. O ensino da matemática e as mídias digitais. Revista Pátio. Ano XvV, nº

57, fev/abr 2011.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros curriculares nacionais :

matemática /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília :MEC/SEF, 1997..

Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf. Acessado em 06

dezembro 2011.

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da

informática. Rio de Janeiro: Ed, 34, 1993.

SANTOS, E. A informática na educação antes e depois da Web 2.0: relatos de uma

docente-pesquisadora. In: Docência na cibercultura: laboratórios de informática,

computadores móveis e educação online. Projeto de Pesquisa. Rio de Janeiro: UERJ,

2007.

SANTOS, E. Educação on line para além da EAD: um fenômeno da cibercultura.

In: Educação on line: cenário, formação e questões didático-metodológicos. Rio de

Janeiro: Wak Ed., 2010.

SILVA, M. PESCE, L e ZUIN, A. (orgs)Educação on line: cenário, formação e

questões didático-metodológicos. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010.

MACEDO, R.S. Atos de currículo formação em ato?: para compreender, entender e problematizar currículo e formação. Ilhéus: Editus, 2011.

SANTOS. E, O. Ambientes virtuais de aprendizagem: por autorias livre, plurais e

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http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/hipertexto/home/ava.pdf>> Acessado em 05

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SILVA, M. O professor online e a pedagogia da transmissão. Disponível em <

http://www.saladeaulainterativa.pro.br/texto_0002.htm> Acessado em 04 abril 2012.