Diário Da Guerra Aos Porcos

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Dirio da guerra aos porcosAdolfo Bioy CasaresDigitalizado e corrigido por Marco Amarante, em Setembro de 2006soft!are utilizado, fine reader "#Dirio da guerra aos porcos$radu%&o do Castel'anoSofia Castro (odrigues e )irg*lio $enreiro )iseuca+alo de ,erroDirio da guerra a-S .-(C-S / Diario de la guerra del cerdoAutor0 Adolfo Bioy Casares$radu%&o0 Sofia Castro (odrigues e )irg*lio $enreiro )iseu (e+is&o0 Sofia 1ra%a MouraCapa0 1abinete 1rfico Ca+alo de ,erro .agina%&o0 1abinete 1rfico Ca+alo de ,erro23 edi%&o, Setembro de 20064mpress&o e Acabamento0 Manuel Barbosa 5 ,il'os 6da7Dep8sito 6egal0 29" 2:2/064SB;0 :=02?=0 / :" 2200=20 Massa frita coberta com mel7 R;7 dos $7SComo a noite do dia 2? assumir, na mem8ria, aspectos de son'o e atA de pesadelo, con+Am assinalar pormenores concretos7 - primeiro Cue me +em H cabe%a A Cue )idal perdeu todas as partidas7 A circunstGncia n&o de+e espantar, J Cue, do lado contrrio, Joga+am Eimi, Cue ignora+a o Cue s&o os escrFpulos e era a astFcia personificada Rpor +ezes, )idal pergunta+a=l'e, em tom de brincadeira, se n&o tin'a +endido a alma, como ,austoS, e 6Fcio ArA+alo, Cue J gan'ara mais do Cue um campeonato de truco no 6a .aloma da rua Santa :,e, e 6eandro (ey, cuJo apodo era o .onderoso7 @ntre os rapazes, ' Cue distinguir este Fltimo, um padeiro, por n&o ser reformado e por ser espan'ol7 @mbora as suas trLs fil'as = a ambi%&o perdia=as = o mortificassem, pedindo=l'e Cue se reformasse e, H tarde, fosse apan'ar sol com os amigos para a pra%a 6as Ieras, o +el'o mantin'a=se ao pA da caiDa registadora7 Iomem frio, ego*sta, apegado ao seu din'eiro, perigoso nos neg8cios e H mesa de truco, (ey irrita+a os outros por causa de um defeito +enial0 Cuando comia, ainda Cue fosse o CueiJo e os amendoins Cue acompan'a+am o fernet, entrega+a=se sem dissimula%&o H impaciLncia da gula7 )idal dizia0 ;essa altura, a a+ers&o ofusca=me e deseJo=l'e a morte7# ArA+alo, um eD=Jornalista Cue, durante algum tempo, redigira cr*ticas de teatro para uma agLncia Cue trabal'a+a com Jornais dirios do interior, era o lido7 Se n&o se destaca+a por ser falador ou bril'ante, manipula+a por +ezes uma espAcie de ironia crioula, modesta e oportuna, Cue fazia esCuecer a sua fealdade7 @sta fealdade era agra+ada por uma inArcia Cue os anos piora+am7 Barba mal escan'oada, 8culos embaciados, beata colada ao lbio inferior, sali+a nicot*nica nas comissuras, caspa no ponc'o, completa+am a catadura deste suJeito asmtico e sofrido7 Compan'eiros de )idal naCuela partida foram ;Astor, cuJas tra+essuras tendiam para a inocLncia, e Dante, um anci&o Cue nunca se distinguira pela rapidez e Cue agora, com a surdez e a miopia, +i+ia retirado na sua grande carapa%a de carne e osso7.ara Cue a sua imagem re+i+a na mem8ria, assinalo outro aspecto dessa noite0 o frio7 @sta+a tanto frio Cue a todos os presentes no cafA ocorria a mesma ideia de soprar para as palmas das m&os7 Como )idal n&o se con+encia de Cue por ali n&o esti+esse alguma coisa aberta, de +ez em Cuando ol'a+a H sua +olta7 Dante, Cue se irrita+a Cuando perdia Ra sua de+o%&o pela eCuipa de futebol do @Dcursionistas, n&o l'e ser+ira, ineDplica+elmente, para encarar as derrotas com filosofiaS, repreendeu=o por estar desatento ao Jogo7 Apontando com um dedo para )idal, Eimi eDclamou020 =- +el'ote trabal'a para n8s7)idal considera+a o 'Fmido focin'o pontiagudo, o bigode Cue, tal+ez em +irtude da temperatura in+ernal, l'e parecia congelado, e n&o podia deiDar de admirar o descaramento do seu amigo7= @u c dou=me bem com o frio = declarou ;Astor7 = De modo Cue, meus sen'ores, preparem=se para a tormenta7.Ts triunfalmente uma carta sobre a mesa7 ArA+alo recitou0@ se o din'eiro se acaba.or essa n&o me caducoi Se esta noite perco ao trucoAman'& gan'o H taba7 P9Q;ota 90 Eogo de cartas7 R;7 dos $7S= Buero = respondeu ;Astor7t= UCuele Cue Cuer, d=se = disse ArA+alo, e deiDou cair uma carta mais alta7Don Manuel, o +endedor de Jornais, entrou, bebeu o seu copo de +in'o tinto ao balc&o, foi=se e, como sempre, deiDou a porta entreaberta7 Vgil a e+itar correntes de ar, )idal le+antou=se e fec'ou=a7 De regresso, ao atra+essar o sal&o, por pouco n&o trope%ou numa mul'er +el'a, magra, espampanante, uma pro+a +i+a daCuilo Cue Eimi afirma0 A imagina%&o da +el'ice para in+entar fealdadesW# )idal +irou a cara e murmurou0= Maldita +el'a7;uma primeira aprecia%&o dos factos, para Justificar o eD abrupto, )idal atribuiu H sen'ora o +ento frio Cue, por pouco, n&o l'e afecta+a os brTnCuios e, para os seus botMes, comentou Cue as mul'eres n&o se 'abituam a fec'ar as portas porCue se Julgam, todas elas, rain'as7 Mais tarde, reconsiderou Cue era inJusto nessa imputa%&o porCue a responsabilidade da abertura reca*a sobre o pobre +endedor de Jornais722U cara da +el'a s8 podia atirar a sua +el'ice7 Ia+ia, porAm, outra alternati+a0 lan%ar=l'e, com um furor mal dissimulado, a pergunta0 o Cue A Cue procura+a, a essa 'ora, no cafAO $eria obtido a resposta cedo de mais, porCue a mul'er se enfiou pela porta rotulada Sen'oras, de onde ninguAm a +iu sair7Ainda ali permaneceram mais +inte minutos7 .ara conJurar a sorte, )idal esgotou os recursos mais acreditados0 esperou com fidelidade, aguentou com resigna%&o7 $ambAm n&o era caso para se mostrar obstinado7 - Jogador inteligente assegura Cue a sorte prefere Cue a acompan'em, n&o apoia Cuem se l'e opMe7 Se n&o 'a+ia cartas, com semel'antes compan'eiros, como gan'arO Ap8s a Cuinta derrota, )idal anunciou0= Meus sen'ores, soou a 'ora de le+antar o acampamento7 Somaram e di+idiram, Dante pagou d*+idas e conta, oscompan'eiros reembolsaram=no da respecti+a parte, sob protesto7 Ainda Dante n&o tin'a acabado de fazer deslizar a gorJeta e J todos faziam a algazarra de sempre7=@u +ou dizer Cue n&o con'e%o este tipo = informou ArA+alo7=;&o podes deiDar isso = protestou Eimi7Censura+am=l'e, em tom de brincadeira, a a+areza7 Con+ersando animadamente, entraram na intempArie7 .or instantes, o frio emudeceu=os7 Nma nA+oa +aporosa difundia=se numa c'u+a miudin'a e en+ol+ia os candeeiros num 'alo branco7 AlguAm arriscou0=@sta 'umidade +ai apodrecer os ossos7 (ey obser+ou, com firmeza0= Desde J, promo+e carraspanas7Com efeitos, +rios deles tin'am tossido7 @ncamin'aram==se para Cabello, rumo ao cruzamento de .aunero e Bulnes7 ;Astor comentou0=Bue noiteW;o seu apagado tom ir8nico, ArA+alo obser+ou0= $al+ez c'o+a7 Dante fL=los rir022 = - Cue A Cue +ocLs me dizem se depois refrescarOEimi, o Mestre da Banda, resumiu0 = Brrr7A +ida social A o mel'or bculo para a+an%ar ao longo da idade e dos ac'aCues7 Di=lo=ei com uma frase Cue eles pr8prios utilizaram0 apesar das rigorosas condi%Mes atmosfAricas, o grupo manifesta+a=se em sintonia7 @ntre piadas e dic'otes, mantin'am um festi+o dilogo de surdos7 -s +encedores fala+am do truco e os outros respondiam rapidamente com obser+a%Mes relati+as ao tempo7 ArA+alo, Cue tin'a o dom de +er de fora CualCuer situa%&o, incluindo aCuelas em Cue participa+a, anotou como se falasse sozin'o0=Nm entretenimento de rapazes7 ;unca deiDamos de o ser7 .or Cue A Cue os Jo+ens de agora n&o percebem istoO4am t&o absortos nesse entretenimento Cue, ao princ*pio, n&o deram pelo clamor Cue +in'a da passagem de @l 6azo7 A gritaria depressa os alarmou e notaram ent&o Cue um grupo de pessoas ol'a+a, eDpectante, para a passagem7= @st&o a matar um c&o = afirmou Dante7= Cuidado = pre+eniu )idal7 = ;&o estar rai+osoO= De+em ser ratazanas = opinou (ey7C&es, ratazanas e uma enormidade de gatos passea+am pelo local, porCue os feirantes do peCueno mercado Cue faz esCuina despeJa+am ali os restos7 Como a curiosidade A mais forte Cue o medo, os amigos a+an%aram alguns metros7 -u+iram, primeiro em conJunto, depois distintamente, inJFrias, golpes, ais, barul'os de ferros e c'apas, o ofegar de uma respira%&o7 Da penumbra, emergiam na claridade esbranCui%ada, rapagMes ululantes e saltitMes, armados de paus e de ferros, Cue descarrega+am um castigo frenAtico sobre um +ulto Cue Jazia no meio dos tac'os e dos amontoados de liDo7 )idal entre+iu caras furiosas, assinala+elmente Jo+ens, Cue pareciam alienadas pelo lcool da arrogGncia7 ArA+alo disse em +oz baiDa0= ACuele +ulto A don Manuel, o +endedor de Jornais7 )idal conseguiu +er Cue o pobre +el'o esta+a de Joel'os, o tronco inclinado para a frente, a cabe%a desfeita, Cue ainda2>tenta+a introduzir num tac'o de restos, protegida pelas m&osensanguentadas7 =$emos de fazer alguma coisa = eDclamou )idal, num grito sem +oz = antes Cue o matem7=Cala=te = ordenou Eimi7 = ;&o c'ames a aten%&o7 @ncoraJado pelo facto de os seus amigos o reterem, )idalinsistiu0=4nter+en'amos7 )&o mat=lo7 ArA+alo obser+ou fleumaticamente0=@st morto7 =.orCuLO = perguntou )idal, um pouco al'eado7Ao seu ou+ido, Eimi murmurou fraternalmente0 =Caladin'o7Eimi de+ia ter=se afastado do lugar7 @nCuanto o procura+a, )idal descobriu um casal Cue ol'a+a com repro+a%&o para aCuela matan%a7 - rapaz, de 8culos, trazia li+ros debaiDo do bra%oK ela parecia uma rapariga decente7 U procura do apoio moral Cue tantas +ezes encontrara nos descon'ecidos da rua, )idal comentou0=Bue san'aW@la abriu a carteira, tirou uns 8culos redondos e, sem pressa, pT=los7 Ambos +oltaram para )idal as suas caras com 8culos e ol'aram=no, imp+idos7 Com uma dic%&o demasiado clara, a rapariga afirmou0=@u sou contra toda a +iolLncia7Sem se deter para considerar a frieza de tais pala+ras, )idal tentou conCuist=los para a sua causa0=;8s n&o podemos fazer nada, mas a pol*cia, para Cue A Cue ser+eO= A+T, n&o s&o 'oras de andar a apan'ar ar = ad+ertiu=o o rapaz, num tom Cuase cordial7 = .or Cue A Cue n&o se +ai embora antes Cue l'e aconte%a alguma coisaO@sse ep*teto inJustificado = 4sidorito n&o tin'a fil'os e ele esta+a t&o certo de parecer, apesar da incipiente cal+*cie, mais no+o do Cue os seus contemporGneos = tal+ez o ten'a cegado, porCue interpretou a frase como uma recusa7 $entou Juntar=se29 ao grupo, mas n&o o encontrou7 .or fim, afastou=se7 @sta+a um pouco desorientado, sem os rapazes para con+ersar, para partil'ar o desgosto7C'egou a sua casa, Cue fica em frente H oficina de autom8+eis, na rua .aunero7 - Cuarto pareceu=l'e pouco 'ospitaleiro7 Sentia, ultimamente, uma in+enc*+el propens&o para a tristeza, Cue modifica+a o aspecto das coisas mais 'abituais7 U noite, +ia os obJectos do seu Cuarto como testemun'as impass*+eis e 'ostis7 $entou n&o fazer barul'o0 no Cuarto do lado, dormia o seu fil'o, Cue se deita+a tarde porCue trabal'a+a na escola nocturna7 Ainda mal se tin'a tapado com o cobertor, Cuando se perguntou, alarmado, se n&o iria passar a noite em branco7 ;en'uma posi%&o l'e con+in'a7 .orCue pensa+a, meDia=se0 +en'am depois dizer Cue o pensamento n&o afecta a matAria7 -s factos Cue os seus ol'os tin'am +isto apresenta+am=se=l'e agora com uma intoler+el +i+idez e ele meDia=se na esperan%a de Cue a +is&o e a mem8ria cessassem7 .assado algum tempo, ocorreu=l'e, tal+ez para mudar de assunto, ir H casa de ban'oK apenas para estar seguro e dormir descansado7 A tra+essia dos dois ptios, em noites de geada, retra*a=oK mas n&o iria permitir Cue uma dF+ida sobre a utilidade dessa +iagem o deiDasse sem dormir7A meio da noite, Cuando se encontra+a na in8spita dependLncia do ptio das traseiras = fria, escura, malc'eirosa =, costuma+a deprimir=se7 Moti+os para isso nunca faltam, mas, por Cue A Cue incidiam precisamente HCuela 'ora e nesse lugarO .ara esCuecer o +endedor de Jornais e os seus assassinos, recordou uma Apoca, 'oJe incr*+el, em Cue a a+entura propriamente dita n&o se descarta+a777 A culmina%&o c'egou na tarde em Cue, sem saber como, se ac'ou nos bra%os de uma rapariga c'amada ;Alida, fil'a de uma cozin'eira, a sen'ora Crmen, Cue trabal'a+a em +rias casas de fam*lia no bairro ;orte7 ;Alida +i+ia com a m&e na segunda sala da frente, onde agora funciona+a a oficina de costura7 .or uma simples coincidLncia, a recorda%&o do fim desse namorico coincidia com outra, para )idal pungente Rn&o sabia bem porCuLS e repugnante, de um anci&o eDcitado2?e bLbedo Cue perseguia a sen'ora Carmen com uma longa faca desembain'ada7 De ;Alida guarda+a, num baF, onde tin'a coisas +el'as e rel*Cuias dos seus pais, uma fotografia Cue l'es tin'am tirado no (osedal e uma faiDa de seda, J sem cor7 -s tempos tin'am mudado7 Se antes se encontra+a na sala do ptio das traseiras com uma mul'er, ambos riamK agora, pedia desculpas e afasta+a=se rapidamente, para Cue n&o pensassem Cue era um degenerado ou coisa pior7 $al+ez essa deteriora%&o da sua posi%&o na sociedade o tornasse nostlgico7 - facto era Cue, de ' meses, tal+ez anos, a essa parte, se entregara ao +*cio das recorda%MesK como outros +*cios, primeiro entretin'a e, ao fim de algum tempo, lesa+a e preJudica+a7 Disse a si pr8prio Cue, no dia seguinte, estaria muito cansado e apressou o regresso ao Cuarto7 E na cama, formulou com relati+a lucidez RpAssimo sintoma para o acordadoS0 C'eguei a uma altura da +ida em Cue o cansa%o n&o ser+e para dormir e o sono n&o ser+e para descansar7# Us +oltas no colc'&o, recordou no+amente o crime Cue tin'a presenciado e tal+ez para ultrapassar o desagrado Cue l'e infundia o cad+er, Cue primeiro tin'a +isto e agora imagina+a, perguntou a si pr8prio se o morto seria realmente o +endedor de Jornais7 Nma +i+*ssima esperan%a acometeu=o, como se a sorte do pobre +endedor de Jornais fosse essencial para eleK sentiu=se tentado a imagin=lo pelas ruas, a correr e a apregoar, mas resistia a tais imagina%Mes pelo temor da desilus&o7 (ecordou a frase da rapariga de 8culos0 @u sou contra toda a +iolLncia7# Buantas +ezes ou+ira essa frase, como se n&o significasse coisa algumaW Agora, no preciso momento em Cue dizia para consigo Bue rapariga pretensiosa#, entendeu=a pela primeira +ez7 )islumbrou ent&o uma teoria sobre a +iolLncia bastante atinada Cue, lamenta+elmente, esCueceu logo a seguir7 (econsiderou Cue, em noites como aCuela, em Cue daria o Cue Cuer Cue fosse para dormir, pensa+a in+oluntariamente com o bril'o de um destac+el de um Jornal7 Buando os pssaros cantaram e nas fendas apareceu a luz da man'&, ficou de+eras entristecido, porCue tin'a perdido a noite7 ;esse momento, adormeceu744Buinta=feira, 26 de Eun'oA impaciLncia para ir ao +el8rio acordou=o7 Nltimamente, impacienta+a=se com facilidade7;o aCuecedor a Cuerosene, preparou uns mates, Cue despac'ou a toda a +elocidade, com duas ou trLs dentadas de p&o da +Aspera7 - seu peCueno=almo%o esta+a perfeitamente calculadoK n&o se permitia CualCuer eDcesso nos mates ou no p&o sem Cue aCuele ardor, Cue o assusta+a um bocadin'o, come%asse7 6a+ou os pAs, as m&os, a cara, o pesco%o7 .enteou==se com gua de +ioletas e bril'antina7 Mal se +estiu, apresentou=se na oficina das raparigas e perguntou se podia usar o telefone7 A dentadura tin'a=se con+ertido numa mania7 $eria Jurado Cue as raparigas ol'a+am para ele e faziam comentrios, como se fosse um monstro ou tal+ez o primeiro 'omem com dentes no+os7 @stran'ou uma circunstGncia0 embora esti+esse preca+ido, n&o surpreendeu um Fnico sorriso nem nada Cue sugerisse tro%a7 )iu caras gra+es, preocupadas, espantadas, tal+ez temerosas e atA colAricas7 $udo isto l'e pareceu ineDplic+el7$elefonou para casa de Eimi, mas n&o obte+e resposta7 @m casa de (ey, uma das fil'as informou=o de Cue o pai tin'a22 =.orCuLO = protestou o sobrin'o7 = - sen'or )idal A um esp*rito Jo+em7=Aberto = acrescentou ;Alida7 )idal admitiu0=Assim o espero777.ensou Cue l'e tin'a tocado +i+er numa Apoca de transi%&o7 ;a sua Ju+entude, as mul'eres n&o fala+am com a liberdade de agora7=;&o apenas Jo+em de esp*rito = disse ;Alida, com algum Lnfase7 = - sen'or est na flor da idade7= Y uma pena Cue me c'ame sen'or# = obser+ou )idal7=@m Cue ano nasceuO = perguntou Antonia7)idal lembrou=se ent&o da +isita de duas sen'oritas Cue tin'am feito uma sondagem no inCuilinato para um instituto psicol8gico ou sociol8gico7 .ensou0 S8 falta Cue esta agora saCue de um lpis e de um caderno7# $ambAm0 Bue bem Cue me sinto com os Jo+ens7# (espondeu em tom de brincadeira0=4sso n&o se pergunta7= Dou=l'e raz&o = con+eio o sobrin'o de Bogliolo7 = ;&o fa%a caso da .etizaW )ou dar=l'e uma informa%&o0 ,aber n&o l'e respondeu7=;&o +ais comparar o sen'or com esse +el'o = protestou ;Alida, com inesperado calor7 = @ra capaz de apostar Cue esse +el'o J c'egou aos cinCuenta7)idal pensou0 @u coloc=lo=ia entre os sessenta e os setenta7 .ara estes miFdos, aos cinCuenta somos +el'os7# Como Cuem desfere um golpe, ;Alida prosseguiu0= Us tantas, o sen'or A mais no+o do Cue o teu tio7A conJectura n&o agradou ao sobrin'o de Bogliolo0 o seu rosto ensombrou=se e, por instantes, perdeu a tri+ialidade, mostrando=se inCuestiona+elmente contrariado7 )idal reflectiu Cue aCuele afecto um pouco pueril por este parente um pouco ma%ador era merit8rio7 $ambAm se perguntou se teria coragem para entrar na casa de ban'o diante daCueles Jo+ens7 A +ergon'a era idiota, porCue ao>>fim e ao cabo777 Bualificou=a0 Nma +ergon'a de rapazin'o7 Secretamente, o 'omem A um rapazin'o disfar%ado de pessoa crescida7 -s outros seriam assimO Seria o pr8prio 6eandro (ey um rapazin'oO 6eandro engana+a=o, sem dF+ida, tal como ele engana+a os outros7)A +ida do t*mido A dif*cil7 Assim Cue se encamin'ou para a di+is&o, compreendeu Cue, mais rid*cula do Cue a imagem de um 'omem Cue entra na casa de ban'o, era a imagem daCuele Cue se retira porCue l'e faltou a coragem para entrar7 Ia+eria maior +ergon'a do Cue mostrar Cue se te+e +ergon'aO .ara piorar tudo, tal+ez o epis8dio n&o esti+esse encerrado7 De uma coisa, n&o 'a+ia dF+idas0 n&o demoraria muito a regressar ao ptio das traseiras7 S8 l'e resta+a esperar Cue as raparigas e o sobrin'o de Bogliolo se fossem embora dali depressa7 @sta+a com a m&o no puDador da porta Cuando Bogliolo em pessoa o surpreendeu, com a pergunta0=Como +ai, don 4sidroOCom aCuele indi+*duo, uma pessoa nunca sabia o Cue esperar7 )idal esta+a t&o confuso Cue respondeu0=Como +ai, don BotafogoO$in'a a esperan%a de Cue o +alent&o n&o ti+esse ou+ido a alcun'a, pronunciada RporCue J esta+a na bocaS num murmFrio inacabado76 de cima, Bogliolo ol'ou=o fiDamente7 Com eDtrema seriedade, disse=l'e0= $omo a liberdade de l'e dar um consel'o7 ,alo=l'e como se fosse seu pai7 - galego est a acumular a press&o7 .ague a>6 renda, sen'or, antes Cue o 'omem fa%a uma barbaridadeW As pessoas s&o maldosas e andam a dizer Cue +ocL faz uma +ida luDuosa em restaurantes e n&o paga o tecto Cue o abriga7 = @sta+a a afastar=seK +oltou para acrescentar0 = ;&o me pergunte como, mas atA sabem Cuanto gastou na dentadura7;o Cuarto, encontrou o fil'o ocupado a guardar alguns obJectos no roupeiro7= A fazer arruma%MesO = perguntou7Sempre de costas, o rapaz emitiu um som Cue )idal traduziu pela pala+ra sim7 Distraidamente, +iu como 4sidorito guarda+a o +el'o c'apAu, o cac'ecol, a na+al'a, o afiador, a caiDin'a de madeira clara com a inscri%&o (ecorda%&o de ;ecoc'ea, onde, H noite, pun'a o rel8gio de bolso7 De repente, ad+ertiu0= ., tudo isso A meu7 Buero tL=lo H m&o7= @st H m&o = respondeu 4sidorito, fec'ando o roupeiro7= @sts loucoO = perguntou o pai7 = - c'apAu e o cac'ecol, n&o digo Cue n&o7 Aman'& de man'&, para +er as 'oras, '=de ser muito c8modo ter o rel8gio ali dentro7=@sta noite, n8s, do 1rupo Eu+enil da )eintiuno, +amos reunir=nos aCui7)idal Julgou notar no tom em Cue as pala+ras foram pronunciadas um toCue de tAdio ou de impaciLncia7= Bue bomW = eDclamou com sinceridade7 = ,ico t&o contente por trazeres c os teus amigos7 AlAm disso, n&o sei, ac'o muito mel'or Cue te Juntes com a Ju+entude da tua idade777.arou a tempo, porCue n&o Cueria mortificar o seu fil'o com reprimendas7 Assim Cue se descuidasse, atira+a=l'e H cara aCuela doutora Cue o tornara t&o pedante e agressi+o7 Como se ti+esse intu*do um ataCue H doutora, 4sidorito respondeu com aspereza0=.or mim, bem podiam n&o +ir7= De+erias +er o meu pai, como recebia os amigos7 Dentro da modAstia dos seus meios, n&o sei se me percebes7 AtA obriga+a a mam&, com as empadas J fritas, a +estir a sua mel'or roupa7>"=Bue mania de falar de matusalAns7=;&o te esCue%as de Cue s&o teus a+8s7=E sei Cue n&o somos gente de ber%o7 @sts sempre a recordar=mo7)idal ol'ou=o com uma curiosidade afectuosa7 Disse para consigo Cue, nas pessoas mais *ntimas e pr8Dimas, ' pensamentos de Cue n&o suspeitamos777 @sta circunstGncia, Cue ele descre+ia com as pala+ras ;&o somos transparentes#, parecera=l'e, noutros tempos, uma protec%&o, a garantia da liberdade de cada umK 'oJe, entristecia=o como uma pro+a de solid&o7 .ara c'egar ao seu fil'o e o tirar do isolamento em Cue o +ia, comentou0= @u c fico feliz por eles +irem7 I bocado esta+a a pensar Cue me sinto sempre bem entre os Jo+ens7= ;inguAm sabe porCue A Cue te sentes t&o bem7 = $u n&o te sentes bem com elesO = .orCue n&o 'a+eria de sentirO @u n&o sou como tu7= A', A uma Cuest&o de gera%Mes7 ;&o nos entendemosO A doutora eDplicou=te issoO= -l'a, pode ser, mas o mel'or A os rapazes n&o te encontrarem aCui7 .ara piorar ainda mais as coisas, +em um Cue A um energFmeno7 Nm indi+*duo muito admirado Cue se dedica ao transporte de 'ortali%as7 Nm tipo pitoresco, um 'er8i popular7 AtA l'e fizeram um +ersin'o0Sai da esCuina Camionista louco777= @ ten'o de andar Hs +oltas pela rua enCuanto recebes os teus amigosO=Como A Cue isso te passou pela cabe%aO .ela ruaO ;&o Cuero Cue te aconte%a nada7= ;&o posso acreditar naCuilo Cue estou a ou+ir7 .retendes Cue me esconda debaiDo da camaO= Como A Cue isso te passou pela cabe%aO $en'o uma ideia mel'or7>< .egou=l'e num bra%o e le+ou=o l para fora7 = ;&o percamos tempo7 C'egam a CualCuer momento7= ;&o me empurres7 -nde +amosO4sidorito piscou=l'e um ol'o e, pondo um dedo nos lbios, pediu=l'e Cue guardasse silLncio7= .ara as guas=furtadas = sussurrou7)idal poderia interpretar aCuelas pala+ras como uma eDplica%&o ou como uma ordem7 ;o primeiro ptio, cruzaram=se com ,aber, Cue ia ao ptio das traseiras7 ;Alida tambAm apareceu, com uma trouDa de roupa7 @mpurrado pelo fil'o, )idal trepou apressadamente pelas escadin'as, na esperan%a de Cue a rapariga n&o o +isse7 Nma +ez l em cima, entrou de gatas, porCue o tecto era muito baiDo7= ACui, ficas perfeitamente = assegurou o rapaz7 = Se te encostares num dos caiDotes, podes fazer uma soneca7 Apaga essa luz e n&o des%as antes de eu te a+isar74sidorito escapuliu=se antes Cue ele protestasse7 - s*tio n&o l'e parecia bem escol'ido7 Como don Soldano, o grossista de a+es e o+os, o usa+a como dep8sito, esta+a a abarrotar de caiDotes suJos e malc'eirosos7 Com a luz apagada, a escurid&o era intoler+el7 4sidorito apressara=o tanto Cue n&o se tin'a lembrado de trazer o ponc'o nem o sobretudo, pelo Cue se felicita+a, porCue teriam ficado prontos para irem para a la+andaria, embora, na +erdade, esti+esse a tremer de frio, para alAm do facto de as tbuas sob o seu corpo serem demasiado duras7 Se, ao menos, ti+esse passado pelo ptio das traseiras antes de subir777 .erdia a cabe%a Cuando o fil'o se impacienta+a tanto7$ambAm )ioleta, a m&e de 4sidorito, o tin'a desorientado, +inte anos antes, uma mul'er +eemente Cue, sem precisar de pro+as, concebia as opiniMes mais enfticas7 Diante dessa con+ic%&o, ele sentira sempre Cue CualCuer dF+ida seria ofensi+a e, durante algum tempo, deiDou=se dominar7 Bue imagens +in'am primeiro H sua mem8ria Cuando pensa+a na Apoca de )ioletaO Antes de tudo, monumentais redondezas rosadas e a cor do cabelo = louro a+ermel'ado = e um c'eiro>:Cue tendia para a acidez feroz7 Depois, sucessi+os momentos de um per*odo Cue agora l'e parecia bre+e0 o dia em Cue l'e anunciou, no .alais Blanc, Cue espera+a um fil'o e Cue tin'am de se casar7 - dia em Cue o rapaz nasceu7 - dia em Cue, por fim, soube Cue ela o engana+a7 $in'a entrado nesse mesmo .alais Blanc porCue esta+am a passar um filme da 6ouise BrooZs e adi+in'ou, de repente, um aroma Cue l'e trouDe nostalgias, e na escurid&o da sala, na fila da frente, ou+iu uma +oz inconfund*+el, Cue dizia0 ;&o te preocupes7 ;unca +em sem mim o bi8grafo7# - dia em Cue encontrou, em cima da almofada, a carrin'a de )ioletaK confia+a=l'e o fil'o = Ys um bom pai, etc7 = e partia, guas acima, com um paraguaio7 $in'a=l'e tocado = perguntou=se se n&o teria algum defeito = uma situa%&o muito cantada nos tangos, a Cual, segundo +erifica+a H sua +olta, n&o era 'abitual7 @nCuanto )ioleta o deiDa+a, os amigos n&o fala+am sen&o do Jugo e das ganas de o arrancar, como se trouDessem as respecti+as mul'eres Hs costasK a infidelidade contrariou=o, sem a dor e o despeito Cue as pessoas supun'am ine+it+eis e, porCue cuida+a do seu fil'o, gozou de um eDtraordinrio prest*gio entre as +izin'as, embora n&o ten'a faltado uma Cue o interpelasse com a asse+era%&o de Cue ela nunca respeitaria um 'omem Cue se ocupasse de tais mesteres7 $udo isto pro+ou Cue os outros n&o sentiam o mesmo Cue ele7 .or essa altura, resol+eu mudar=se para um apartamento, porCue tin'a recebido uns pesos Cue um parente l'e deiDara Ro desgosto Cue a pobre )ioleta teria sentido se ti+esse sabidoWSK mas como as +izin'as toma+am conta de 4sidorito enCuanto ele esta+a a trabal'ar, desistiu do proJecto7 - din'eiro foi desaparecendo gradualmente, na +ida de todos os dias, e n&o +oltou a pensar em mudan%as7 Depois, recordou aCuela tarde em Cue, ao c'egar a casa, ou+iu no Cuarto cont*guo, no meio do clamor de mul'eres enle+adas, a aprecia%&o de uma sen'ora0 -l'em para o coisito dele7# @sta mem8ria a+i+ou=l'e90 a +ontade de ir ao ptio das traseiras7 ;a +erdade, esta+a desesperado, mas n&o se atre+ia a descer porCue l'e tin'am dito Cue n&o o fizesse7 Ao obedecer t&o cegamente ao seu fil'o, agia como um pobre +el'oK depois, reconsiderou Cue esta era uma argumenta%&o de um rapaz malcriadoK por alguma raz&o l'e teriam dito para n&o descer7 Sobre um ponto, n&o 'a+ia lugar a discuss&o0 ele n&o aguenta+a mais7 Arrastou=se como pTde por aCuelas guas=furtadas infectas, escondeu=se atrs das Fltimas gaiolas e, aJoel'ado, numa posi%&o inst+el, urinou intermina+elmente7 Buase no fim, +iu luz entre as tbuas do c'&oK alarmado, calculou Cue l em baiDo ficaria o Cuarto do sen'or Bogliolo7 A simples ideia de uma disputa naCuele lugar coberto de suJidade de galin'eiro amedronta+a=o7 ;o maior silLncio, tentou esconder=se nos caiDotes empil'ados no eDtremo oposto7 .assado um bocado, esta+a a son'ar com um sen'or Cue passou Cuase toda a tirania de (osas P"Q escondido numas guas=furtadas, atA Cue foi delatado pelo mais +el'o dos fil'os Cue, H noite, tin'a feito H mul'er e degolado pela ma%aroca P