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    Hospitais do SNS têm três meses para receber pais

    nas cesarianas25 DE ABRIL DE 2016 ÀS 00:17Joana Capucho

    Presença dos pais não era permitida na maioria dos hospitais

    públicos. Os mais antigos podem ter di!culdade em adaptar

    blocos operatórios no prazo de 90 dias como dia lei

    A esperança de ter um parto normal acabou sempre por cair por

    terra. Mónica Barbosa, 37 anos, passou por três cesarianas no

    Serviço Nacional de Saúde sem o pai dos !lhos presente. Durante asegunda gravidez, em 2013, soube que o obstetra que a seguia no

    Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, permitia a presença dos

    pais numa clínica privada. "As lágrimas vieram-me aos olhos... Era

    injusto." Na terceira, Isabel Faia, uma amiga que estava a passar pelo

    mesmo, desa!ou-a a lançar uma petição. Assim foi.

    Em pouco tempo, Mónica tinha as assinaturas necessárias para levar a petição à Assembleia da República.

    Estávamos em maio. Dois meses e meio depois, nasceu o Martim, sem que o pai pudesse estar no bloco. "Ir

    para uma cesariana já não é fácil e sem o marido presente, pela terceira vez, é duro e injusto. Foi violento

    não partilhar aquele momento com ele." Apesar de não ter tido essa alegria, a formadora de

    desenvolvimento pessoal pode ter mudado a vida de muitos pais.

    Um despacho publicado em Diário da República na terça-feira veio estabelecer que os pais - ou outra

    "pessoa signi!cativa" - vão poder assistir ao nascimento dos bebés por cesariana, desde que não haja uma

    situação clínica grave. Os hospitais têm agora três meses para adaptar os blocos às novas regras, um

    período que alguns pro!ssionais reclamam ser demasiado curto. Este despacho veio no seguimento de

    uma recomendação do Parlamento para a clari!cação do direito de as grávidas poderem ser

    acompanhadas em todas as fases do trabalho de parto. Em causa está um direito !xado em 1985, mas que

    permitia diferentes interpretações.

    Há décadas que o pediatra Mário Cordeiro defende a presença dos pais quando existe cesariana com

    epidural. "Na Faculdade de Ciências Médicas !zemos estudos e veri!cámos disparidades sem qualquerrazão clínica e apenas conforme a vontade episódica das equipas", a!rma. Esta medida vem "pôr cobro a

    uma situação errada, abusiva e que fazia muitos homens não poderem estar num momento transcendente

    da sua vida".

    Segundo o pediatra, "o lado em que o pai está não tem nada que ver com "o outro lado", ou seja, o dos

    médicos. Um pano verde os separa. E a mãe, numa cesariana, tendo um papel mais passivo, até precisa

    mais da presença do pai".

    No Centro Hospitalar de São João, no Porto, há oito anos que os pais já podem assistir às cesarianas. "Foi

    uma medida vista pelos casais como bené!ca porque reduz a ansiedade das grávidas", conta Diogo Ayres

    de Campos, responsável pela implementação da norma. Acabado de sair de uma cesariana, o também

    professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto diz que "estava lá o pai e ajudou bastante. Éimportante, sobretudo antes, no momento da epidural, porque há alguma ansiedade."

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    Desta forma, diz o obstetra do São João, "torna-se o ambiente do bloco operatório menos agreste". Num

    hospital onde se realizam cerca de 450 cesarianas por ano, Diogo Ayres de Campos diz que não tem

    conhecimento de qualquer problema, pelo que não vê desvantagens na medida.

    Destacando que a norma já está em vigor na maioria dos países do Norte da Europa, o obstetra considera

    que "não será di"ícil de implementar". Contudo, Maria do Céu Almeida, diretora do serviço de obstetrícia da

    maternidade Bissaya Barreto (Coimbra), alerta que "as instituições hospitalares mais antigas [como a que

    dirige] e que nunca tiveram alterações estruturais ao longo dos anos terão di!culdades em conseguir

    cumprir o despacho em três meses". Isto porque implica "a existência de local próprio onde o/a

    acompanhante possa trocar de roupa e depositar os seus pertences de forma adequada" e "a de!nição de

    um circuito em que o/a acompanhante possa movimentar-se, sem colocar em causa a privacidade de

    outras utentes nem o funcionamento do serviço".

    Além das condicionantes "ísicas, Maria do Céu Almeida refere, ainda, as humanas. "Com equipas de

    enfermagem e de médicos sempre abaixo do desejável para uma assistência clínica ótima", destaca, não

    estará em causa a segurança clínica, mas "a disponibilidade para o diálogo e o acompanhamento com a

    parturiente/casal que se pretende ser contínuo, mas muito di"ícil pelo #uxo enorme de utentes". A

    responsável diz que "há todo um trabalho de ensino que tem de ser desenvolvido, que pode ser feito nas

    aulas de preparação para o nascimento (mas que apenas uma minoria de pais pode fazer por razõesdiversas). Não me parece que uns ensinos "apressados" imediatamente antes da intervenção possam

    tornar apto qualquer pai a entrar e a "estar" num bloco operatório."

    À Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto (APDMGP) chegavam várias

    queixas de mulheres que só sabiam que os maridos não iam poder assistir à cesariana muito perto do

    parto, quando iam visitar o hospital. "Era um choque. Agora temos igualdade entre quem opta pelo serviço

    público e privado. A sociedade acordou", a!rma Sara do Vale, presidente e cofundadora.

    Para mais detalhes consulte:

    http://www.dn.pt/sociedade/interior/hospitais-do-sns-tem-tres-meses-para-receber-pais-nas-cesarianas-

    5142115.html

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