Dicionário de Alquimia - A Chave da Vida

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Dicionário de Alquimia A Chave da Vida

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Yedda Pereira dos Santos

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“Porque a impressão era que todos ao meu redor já haviam desistido de entender, com suas afirmações dogmáticas, seus atos de fé.”

Mario Vargas Llosa

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INTRODUÇÃO

Não tenho uma ideia precisa de quando se originou em mim este interesse fora do comum pela Alquimia. Só posso garantir que, desde bem pequena, termos como Pedra Filosofal e transmuta-

ção em ouro me envolveram sob um grande fascínio. Por essa época, sequer sabia o que era ouro, o seu valor ou o seu poder, mas já me per-dia em devaneios, encantada com a transmutação em si, apenas pelo seu aspecto mágico: Uma coisa feia e suja tornando-se brilhante e bonita era magnetismo mais do que suficiente para atrair a fantasia de uma criança. Há ainda a possibilidade de que seja um gene, perdido em meus cromos-somos, descendente que sou de espanhóis. Um possível gene de algum ancestral, que tenha existido na Idade Média, presenciado, estudado ou até mesmo praticado com os mouros invasores, a fascinante magia dos cadinhos, das retortas, dos fornos e dos minérios, e que esses conheci-mentos tenham sido associados aos códigos genéticos que herdei.

Para completar, nasceu comigo uma alma contestadora, des-confiando dos conceitos preestabelecidos; buscando incoerências nos dogmas poeirentos, sempre impostos às novas gerações, em um continuísmo massacrante e pouco prático, em matéria de soluções racionais, o que me possibilitava olhar com interesse especial tudo que contrariava a Tradição. Procurando pistas, além das definições categóricas, estabelecidas durante a ocorrência de situações insólitas, inexplicáveis ante a ignorância natural da época, mas habilmente ma-nipuladas pelo poder absoluto dos mais astutos. Analisando a ausência de conhecimentos específicos de química ou física que pudessem, nes-sas ocasiões, nortear, sem misticismo, conclusões mais lógicas sobre algum fato incompreensível presenciado. Considerando também a falta de informação sobre certas doenças, hoje catalogadas pela neurologia e psiquiatria como patologias, passíveis de provocar visões alucinantes ou audições personalizadas.

Ao duvidar de tantas revelações inquestionáveis, transmitidas por pessoas questionáveis, via-me impedida de ser receptiva às crenças pas-sadas, a ponto de julgá-las merecedoras de minha fé incondicional. E terminava não crendo em nada dito pelos homens.

Como a grande maioria dos seres, habitantes do mundo moderno, sempre soube que não seria preciso ficar de joelhos ou orar, para acio-nar uma chave ligando uma corrente elétrica, pressionar um interruptor

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acendendo uma lâmpada ou ligar uma tomada para aquecer um ferro automático. Mas sempre soube também que se, por alguma razão, eu pudesse ter feito qualquer dessas coisas, aparentemente tão corriqueiras ao nosso conhecimento atual, há cerca de uns dois séculos, teria sido considerada uma bruxa e até queimada na fogueira, acusada de ter parte com o demônio. A eletricidade sempre existiu permeando tudo, mas qualquer evidência dela que fosse apresentada por alguém mais astuto faria com que fosse considerada uma representação do mal, pelo desco-nhecimento absoluto de suas propriedades.

Esse pequeno exemplo, entre muitos outros que podem ser citados, nos leva a crer que uma religiosidade embasada na falta de informação domina o mundo, refreando a evolução natural da humanidade e pro-vando que a superstição, em regra geral, é produto de nossa ignorância diante de fatos que desconhecemos.

Um dia li, mas não tenho registro de onde, que, se nossa atual civilização fosse varrida do planeta, por algum cataclismo, e seus ves-tígios descobertos alguns milênios mais tarde, correríamos o risco de sermos conceituados de forma bastante engraçada: Bastaria para isso que mentalidades como a nossa, acostumadas a catalogar qualquer res-gate do passado humano sob o rótulo de culto religioso, encontrassem uma figurinha do Pato Donald, para decidir que tínhamos tido um culto totêmico, adorador de patos.

Com tantas considerações instigantes a nortear meus pensamen-tos, buscando incansavelmente a Verdade, ao mesmo tempo em que rejeitava soluções insuficientes aos olhos da modernidade, por serem facilmente identificadas como produto de ignorância ou de esperteza, foi natural que passasse a estudar tudo o que fosse original, pouco or-todoxo, relegado, oculto ou proibido. Era fácil acreditar que coisas que contrariassem o status quo tivessem sido propositalmente combatidas e relegadas, ficando à margem, no caminho da evolução.

A conclusão a que fui chegando, na satisfação desse meu interesse pelo conhecimento marginalizado, foi a quase certeza da existência de um grande mistério, oculto pelas sombras do passado, cuja revelação vem sendo sistematicamente adiada, talvez, até para que, satisfazendo a secretos e poderosos interesses, a consciência humana seja manipu-lada em uma determinada direção. É possível mesmo que sequer haja má intenção na manutenção desse mistério; que desse grande segredo reste apenas uma pálida caricatura, sendo manejada por pessoas que julgam ainda conhecê-lo de maneira integral, sem atentar para o fato de estarem adotando interpretações inteiramente descabidas, estéreis ao fim a que se propõem, ou mesmo insuficientes, diante do resultado

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que vêm obtendo nesse caminhar inexorável da humanidade, visto que, pelos tempos, os homens têm demonstrado a aquisição de muito pouco aprimoramento, em sua performance.

Essa desconfiança da ingenuidade da maioria, ou mesmo, de sus-peitíssimos projetos de uma minoria, tornou-se mais forte, quando tomei conhecimento do Culto do Cargo: Uma ilha do Pacífico, na Nova Guiné, serviu de base a soldados ingleses, durante a Segunda Guerra Mundial, período em que os nativos presenciaram maravilhados os aviões, até en-tão desconhecidos por eles em razão da região estar fora de qualquer rota aérea, aterrissando ou atirando víveres para a manutenção da tropa baseada no local. Terminado o conflito, a ilha foi esquecida e, quando alguns anos mais tarde foi novamente visitada, apresentava uma carac-terística surpreendente — os nativos tinham instituído um novo culto. Haviam construído um avião de palha, para representar a nova divinda-de; balizavam uma fictícia pista de pouso com tochas acesas, durante os seus rituais; e edificaram, como altar, um arremedo de mesa de rádio, onde buscavam comunicação com o bondoso Deus recém-descoberto, formulando seus pedidos e preces por meio de velhas latas de conser-vas, abandonadas na ilha pelos soldados.

Esse fato tornou quase impossível minha aceitação de antigos e inexplicáveis rituais, iniciações e mesmo religiões, sem alguma ponta de desconfiança. Não consigo deixar de ver a maioria de nossas crendi-ces com os mesmos olhos com que considero a tão descabida realização desse Culto do Cargo. Cada um de nós, com o seu selvagem interior, uns mais, outros menos, interpretam de forma mística fatos concretos, científicos ou até mesmo para-científicos, que ocorreram ou ainda ocor-rem à nossa volta e, para os quais não temos, ainda, o conhecimento técnico, o discernimento adequado ou a resposta lógica. Parece que a condição humana conserva uma tendência primitiva de classificar como divino ou diabólico o que não tem condições para entender ou autori-dade para explicar.

Dentro desse raciocínio, passei a dar uma atenção ainda maior a tudo que lia ou estudava, tentando descobrir pistas concretas nas entreli-nhas. Atentei para a identidade dos mitos. A analogia entre as lendas. A repetição dos mesmos fatos, nas mais variadas culturas, mudando-se ape-nas os nomes dos personagens ou deuses, figurados nos mesmos atos. Para minha surpresa, comecei a notar a incidência de temas alquímicos, desde a mais remota Antiguidade: servindo de origem às mitologias, como cerne dos difundidíssimos Mistérios, como base da história de muitos povos. Resolvi então olhar mais atentamente a Alquimia, na certeza de que en-contraria nela o princípio comum da universalidade das tradições.

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O primeiro livro que li sobre o assunto O Livro das Figuras Hiero-glíficas de Nicolas Flamel, foi uma tremenda decepção. Conseguiu ser, em termos de leitura, a coisa mais incompreensível com a qual já me havia defrontado; e, talvez, por isso mesmo, por ter se constituído em um desafio, resolvi decifrá-lo.

Já disse Louis Pauwel, em O Despertar dos Mágicos, que a vo-cação se apossa do alquimista quando ele ainda se ignora como tal, no momento em que abre, pela primeira vez, um velho tratado. Foi mais ou menos assim. Reli o livro uma segunda vez, e outras mais... E, a cada nova leitura, um entendimento novo comprovava minha ignorân-cia inicial. O sentido das coisas estava impresso ali, desde o começo, apenas eu não tinha tido a capacidade de percebê-lo. Passei então a grifar minhas descobertas. Em leituras subsequentes, informações mais importantes foram se sobrepondo às primeiras, obrigando-me a usar novas cores de tinta para os grifos e, mais tarde, sinais especiais que destacassem o que realmente merecia ser destacado em meio àquele emaranhado de referências.

Complementando, posteriormente, as revelações de Flamel com outras leituras que o meu interesse sempre crescente exigiu; estudando, até onde me foi possível, lendas, religiões, livros históricos e textos, fui descobrindo vestígios dessa fantástica ciência, diluídos em meio a su-perstições e crendices estranhas, nas mais diversas tradições e, o que é mais importante, nos documentos mais antigos, onde estão registrados os primeiros relatos da história humana.

O que deduzi de todas essas informações coletadas, durante lon-gos anos de pesquisa e que, coincidentemente, pode ser associada à opinião de alguns autores bastante conhecidos, é que houve uma civi-lização adiantadíssima, em algum tempo da história de nosso planeta. Uma civilização capaz de um conhecimento tão fantástico sobre Maté-ria e Energia, que lhe possibilitou detectar meridianos, por onde correm as forças vitais, no corpo humano e capaz de perceber que os minerais também têm um tipo próprio de vida, que lhes possibilita o desenvolvi-mento, em seu meio original — o interior da Terra —, de forma idêntica ao das plantas, em sua superfície. Que por sua estrutura, aparentemente estática, correm as mesmas energias que circulam pelas raízes dos vege-tais e que seu desenvolvimento e aperfeiçoamento ocorre dependendo dos componentes do terreno em que brotam. Concluí assim que, para os antigos, tudo provinha de sementes: animais, vegetais e minerais, e, como fantásticos agricultores, isolaram a semente do ouro, identificada em determinado mineral, passando a auxiliar a Natureza com época, local próprio e calor adequado, na execução da Grande Obra.

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O prêmio dessa conquista, entretanto, não foi apenas a transmuta-ção dos metais. Segundo muitos autores, foi algo muito mais importan-te: A fixação de poderosas energias cósmicas, no material elaborado, mostrou-se capaz de eliminar as impurezas de qualquer matéria à qual fossem associadas. Haviam criado a Árvore da Vida com inumerá-veis referências na história e mitologia de tantos povos. Essa energia recém-descoberta fez com que, enquanto as transformações se opera-vam no crisol, a transfiguração ocorresse também com o cientista ma-nipulador, proporcionando-lhe o aperfeiçoamento total de sua própria matéria, concedendo-lhe, inclusive, a chave do conhecimento universal.

Afirmam os que entendem, que a Alquimia não é o embrião da Química. Por causa dela a Química pode ter tido seu início e seu de-senvolvimento, nos resultados obtidos pelos curiosos, ao tentarem des-cobrir o processo do Magistério. Os métodos e finalidades da Alquimia são únicos, o que não quer dizer que não seja uma ciência, já que tem se repetido inúmeras vezes nos laboratórios por pessoas que conseguiram traduzir suas alegorias e símbolos, tão confusamente explicados nos antigos textos, e tiveram paciência suficiente para concluir suas etapas.

A técnica do trabalho alquímico, apesar de exigir toda abnegação, dedicação e cuidado, não dá uma garantia de sucesso, seu êxito depende de fatores, não levados em conta pela ciência moderna. Há uma lei, con-siderada dispensável por nossos atuais pesquisadores, e fundamental para os alquimistas: a Influência Cósmica. Há que se respeitar a época precisa, própria para sua manipulação, sendo que, sem esse cuidado, nada se consegue.

Referi-me há pouco a uma grande civilização capaz de ter tido acesso a fantásticos conhecimentos e, embora não se podendo precisar onde existiu ou por que desapareceu, há marcas de sua passagem por toda a história humana e, principalmente, vestígios de sua maior con-quista: a Alquimia. Sim, porque não podemos acreditar que o homem de Neanderthal tenha tido esses rasgos de sabedoria, capaz de legar aos povos futuros esparsos pedaços desse quebra-cabeça promissor, com o qual a humanidade vem se defrontando há séculos...

De forma deturpada, os mitos nos falam dela na Índia, no Egito, na China, ou na Grécia, e alguns desses registros têm mais de dez sécu-los, antes de nossa era.

A trindade, essa coisa inexplicável de três pessoas em uma, passou a ser usada como referência e, ao mesmo tempo, dissimulação à compo-sição tríplice encontrada em um único mineral: o mercúrio, o enxofre e o sal. Assim: Istar, Tamuz e Merodaque; Ísis, Osíris e Hórus; Brahma,

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Shiva e Vishnu; Júpiter, Latona e Apolo; Marte, Vênus e Vulcano; Pai, Filho e Espírito Santo, e uma infinidade de outras trindades representam partes desse enigma disseminado pelo mundo, mas, facilmente identifi-cáveis como oriundas de um mesmo princípio.

Nos Vedas, dos indianos, como no Gênesis, do Primeiro Testa-mento hebreu, há referência ao caos inicial, à criação da luz, ou à por-ção de terra emersa dos mares, alegorias que nos falam da Arte.

As torres dos templos caldeus, ou zigurates, compunham-se de sete andares, cada um de cor diferente, simbolizando um astro: o pri-meiro branco, cor de Vênus; o segundo negro, cor de Saturno; o terceiro de um vermelho brilhante, cor de Marte; o quarto azul, para Mercúrio; o quinto laranja, para Júpiter; o sexto prata, para a Lua e o sétimo ouro, referente ao Sol. Sempre os sete metais e os sete planetas ou astros como personagens principais de uma cena a ser perpetuada.

Também encontramos o seu vestígio na América Pré-Colombiana: Maias, Olmecas, Toltecas, Incas, Astecas e índios norte-americanos fa-laram de caos, dragões, serpentes aladas, ovo cósmico, virgens mães, casamento entre o Sol e a Lua, plantas da imortalidade, águias e nas associações das cores negra, branca e vermelha, além do ouro.

Os Mistérios de Ísis, no Egito; de Eleusis, Orfeu, de Cibele (A Grande-Mãe), Átis, Dioniso; de Mitra, na Pérsia; os dos caldeus e dos essênios, marcam toda a Antiguidade, como prova da tentativa de difu-são controlada de imemoriais conhecimentos.

“O Segredo da Flor de Ouro” e o “I Ching” ou “Livro das Muta-ções”, chineses, assim como “A Tábua de Esmeralda” atribuída pelos egípcios a Hermes Trismegisto, são tratados alquímicos que compro-vam a existência de um conhecimento relativo à transmutação dos me-tais, nos mais antigos registros de nossa história.

A partir do século X, a Alquimia começou a entrar na Europa, por meio dos textos árabes trazidos pelos cruzados. Por essa época, as universidades haviam começado a se multiplicar e as catedrais, a ser construídas. No século XIII, esse tipo de conhecimento já era um verdadeiro delírio no continente europeu. Nessa época também se in-tensificou a Peregrinação a Santiago de Compostela, na Galícia. Alguns autores se surpreendem com a falta de lógica dessa peregrinação. Quan-do todo o interesse dos cristãos estava voltado para a Terra Santa, qual a razão desse roteiro? E cabe outra pergunta: Não seria uma maneira de burlar a perseguição movida pelo papa João XXII aos alquimistas o fato de pessoas interessadas na Arte Alquímica irem à Galícia com capa de romeiro para buscar os minérios necessários nas muitas minas

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de lá? Santiago dos Campos da Estrela é, para o estudioso de Alquimia, uma clara referência a uma viagem puramente explorativa, longe dessa aura de caminho dos magos que as ameaças de uma época obrigaram a disfarçar e que lhe emprestou.

Quanto aos meios empregados na transmissão dos conhecimentos alquímicos, é natural que, fugindo às perseguições que tal segredo pro-vocava entre reis, religiosos e poderosos, os alquimistas se protegessem usando disfarces. Isso torna claro o porquê da estranha linguagem adotada pelos filósofos. Nada mais compreensível que uma história que tivesse de ser passada adiante e, ao mesmo tempo, preservada, empre-gasse códigos em sua divulgação. Assim, os símbolos, alegorias, lendas, histórias infantis, foram sendo usados e abusados, em cada épo-ca, para definir coisas simples, trazendo enorme confusão aos que se aventuravam e se aventuram nesse universo.

Os quatro elementos habitualmente são representados por triân-gulos: fogo e ar, com vértices para cima e água e terra, com os vértices para baixo. Superpostos, formam o Símbolo de Salomão, ou Estrela de David, que traduz a unidade dos quatro elementos.

O Mercúrio e o Enxofre, que já deve estar claro para os estudiosos do assunto, não são os vulgares, visto que os Adeptos só se referem a eles precedidos do pronome possessivo “nosso”, ressaltando que são substâncias especiais, conquistadas após várias circulações. São nos apresentados, em determinada fase, como Dragões: Fixo, sem asas, macho — o Enxofre; Volátil, alado e fêmea — o Mercúrio. São também os Cães de Corasceno e a Cadela da Armênia, descritos por Avicena, além da Salamandra e da Serpente, às quais se referem alquimistas em muitos textos. Tudo isso para nos descrever as duas naturezas ou duas energias, em suas primeiras demonstrações, que têm de ser equilibra-das, tais como estão representadas no caduceu do deus Mercúrio e no símbolo Yin e Yang dos chineses. Nos textos dos antigos Filósofos, a Terra se refere à matéria contida no crisol e o Céu, aos três quartos do espaço nesse mesmo crisol. É desse céu interior que, em determinada fase da obra, cai o Orvalho ou Rocio, descrito tantas vezes, que tem de ser recolhido, cuidadosamente, para uma série de finalidades. É bom que se esclareça que nada entra nessa composição que não provenha dela própria, como recomendam constantemente os antigos Adeptos, o que deixa bem claro que o orvalho a que se referem não é alheio ao material que está sendo manipulado.

A Virgem Negra e a Virgem Branca nos falam da matéria em fases distintas. As Aves, em alegoria perfeita, representam a circulação. O Peixe é o Enxofre que, em dado momento, sobrenada nas águas, tendo

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que ser recolhido pela Rede. A Galinha chocando ovos simboliza a temperatura a ser observada. O etíope caracteriza o Nigredo, a fase em que a matéria se apresenta em sua forma totalmente escura. A Estrela, ao que consta, um sinal que surge várias vezes no crisol confirmando ao alquimista a correção do caminho. A Árvore da Vida, uma formação que cresce na matéria, logo após a brancura. Cauda de Pavão ou Arco-Íris, definindo a infinidade de cores que aparecem na Obra, quando a secura começa se impor à umidade. A Sereia, como união do feminino Mercúrio, em sua parte mulher, com o masculino Enxofre, em sua parte peixe. O Espelho, descrito na maioria dos textos, faz sua aparição quase ao fim do Magistério, mostrando ao alquimista a Natureza a descoberto, ou o tão decantado Aleph.

O Leão é um símbolo solar usado para definir a força. Leão Verde, quando ainda em sua forma germinativa. Leão Vermelho, simbolizado muitas vezes engolindo o Sol, é a Pedra, já pronta, submetendo o pró-prio ouro que lhe é inferior. Há também o Leão da Floresta de Nemeia, já traduzido por muitos como O Sol da Matéria da Lua, em razão da palavra grega que define floresta ser a mesma que define matéria.

A Rosa é também outra das representações da Pedra. Em muitas alegorias, no centro da cruz, nos fala da quintessência, nascida dos qua-tro elementos, representados pelos quatro braços do ícone.

Além disso, uma infinidade de deuses e deusas das mitologias an-tigas também foi usada para significar a Terra, o Fogo, o Ar e a Água, bem como diversos processos de elaboração da Arte.

Existem vários ditados populares nos advertindo da deturpação que sofrem os relatos, com o tempo. Realmente, se “quem conta um conto aumenta um ponto”, pode-se imaginar a pouca fidelidade com que esses relatos chegaram até nós. Mas parece-nos que, por trás desse aparente embaralhado existente na transmissão dos Arcanos, há guardiões que zelam pela preservação da Verdade, dispostos a manter inalteráveis, senão todas, pelo menos as regras básicas desse enigma.

Se nos aprofundarmos nas pesquisas e prestarmos atenção, vere-mos que o dia 25 de dezembro — Solstício de Inverno no Hemisfério Norte — tem sido comemorado, através dos tempos, sob várias formas: saudação ao nascimento do Sol, ou Sol Invictus; em honra a Osíris; festejando o nascimento de Mitra e, mais recentemente, o de Jesus, no Natal da cristandade.

Analisando atentamente a história, podemos constatar que os Fes-tivais, que se realizavam no Egito, na Pérsia ou na Grécia, em honra a Osíris, Mitra, Cibele, Dioniso ou Orfeu, entre fim de março e começo

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de abril, por conseguinte entre os signos de Áries e Touro, são mantidos até hoje, só que sob um novo enfoque religioso, é claro. São festas mó-veis, marcadas pela Lua desse período, que deve estar em seu plenilúnio durante as comemorações do que, atualmente, se denomina Domingo de Ramos. Convém frisar que a preocupação com a determinação do Domingo de Páscoa, durante a Idade Média, chegou a um tal ponto de interesse em sua precisão, que o Vaticano exigiu o concurso de renoma-dos matemáticos e astrônomos, em cálculos extremamente complexos, para que a data fosse determinada com a mais absoluta exatidão. Diante disso, é lógico que determinadas pessoas se perguntem sobre os moti-vos que levaram à necessidade de um tal rigor para definir apenas mais uma data no calendário?...

As Fogueiras de São João, acesas ainda hoje, na noite de 23 de junho — Solstício de Verão no Hemisfério Norte —, são reminiscên-cias das fogueiras de Beltane, acesas na mesma época pelos celtas, que honravam os seus deuses da fertilidade e, embora de forma incompre-ensível, legaram aos tempos futuros a lenda do fogo que não queima ou do fogo secreto, também símbolos significativos para a Alquimia.

A difícil Cabala dos hebreus, ou Árvore da Vida, com suas sephi-ras representando planetas e metais, norteia também os que se dedicam ao seu estudo, em um mesmo e único sentido.

Essa preservação velada das mesmas datas representa o conheci-mento sendo levado adiante. Assim a Arte continua reservada aos es-tudiosos, aos pacientes, aos perseverantes, que conseguem ir desobs-truindo o caminho do entulho, acumulado durante séculos, pelos que pretenderam e pretendem preservar sem vulgarizar.

Porém, o que poderia representar essa coincidência de datas?… No-tadamente, a Influência Celeste, um dos mais repetidos jargões dos Adep-tos. “Nada se consegue sem o auxílio do céu”, atitude sempre figurada nas alegorias por alquimistas ajoelhados, rezando, fato que provocou até mesmo a denominação de Laboratório ao recinto onde realizavam suas experiências: “Lab” de Labor, somado a “Oratório” — pela tradição de orações realizadas no local —, também é uma referência simbólica. Esse concurso do céu não é conseguido por um milagre, por intermédio de ora-ções, outrossim, pelo respeito aos signos, às fases da Lua, às conjunções astrais, cujas forças se intensificam sobre a Terra, em determinadas épo-cas do ano. Os meses específicos, estes sim, trazem na realidade o auxílio do céu, pelo fluxo de determinadas emanações cósmicas.

Atualmente, a ciência já está em condições de levar em conta a atuação das partículas subatômicas. Isso fez com que se tornasse

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incontestável para alguns cientistas a diversidade de resultados de determinadas experiências, mesmo quando são respeitadas as subs-tâncias, a quantidade e o processo utilizado. Esse elemento modifi-cador, capaz de provocar surpresas em determinado resultado, é a força cósmica que os alquimistas antigos levavam em grande conta, fazendo inclusive com que rotulassem sua Obra sob a denominação de Agricultura Celeste.

A antroposofista L. Kolisko relatou em um folheto, “Spirit in Matter”, uma experiência, na qual comprova essa influência. Fotografou diaria-mente, durante um ano, um papel filtro imerso em uma solução metálica, a 1% de nitrato de prata. A irradiação cósmica foi se registrando no papel com maior e menor intensidade. Na primavera, apresentou-se no máximo de sua força, mas os registros do Dia da Páscoa, Dia de São João (24 de junho) e Dia do Arcanjo São Miguel (29 de setembro) tam-bém foram bastante expressivos. O que parece confirmar que os Mistérios continuam a ser preservados por meio de condicionamentos religiosos.

Toda essa linguagem e esse emaranhado de apresentações diversas tornam a Alquimia um estudo bastante dificultoso, mas ao mesmo tempo empolgante, na medida em que se vai descobrindo a correlação entre toda essa simbologia universal e um segredo ancestral. Isso talvez justifique muitos dos verbetes contidos neste dicionário, que compilei criteriosamente. Figuras e fatos mitológicos adquirem mais lógica e racionalidade, quando analisados à luz da Alquimia. Iniciações, mistérios, histórias infantis, dogmas, crenças, cultos, festivais, revelam-se veículos na transmissão de um conhecimento que se pretendeu imorredouro.

A identificação de muitas das partes desse quebra-cabeça, em um esforço detetivesco, lendo, relendo, comparando, juntando informações e depoimentos que considero importantes por seu conteúdo elucidativo, não me conduziu à prática de laboratório, apesar de minha firme con-vicção de que a Pedra Filosofal é uma realidade, uma meta plenamente possível de ser alcançada. Levou-me apenas a decidir publicar este li-vro, esperando que possa ser de alguma ajuda aos que se interessam por tão fascinante assunto.

Yedda Pereira dos Santos

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AA

ABIFF, HIRAMLendário arquiteto do templo de Salomão. É cultuado na Maçona-

ria como seu fundador e lembrado, em algumas cerimônias rituais, em seu assassinato, perpetrado por três aprendizes desejosos de conseguir a revelação da palavra mestra. Para esse fim, usaram a régua, o esqua-dro e o martelo e marcaram seu túmulo com um galho de acácia, para identificá-lo mais tarde. Esses elementos são considerados símbolos tradicionais da Ordem.

Com sua morte, a palavra mestra que era Jehová — o fogo nuclear —, foi substituída por Mackbenach que, segundo alguns intérpretes, pode ter di-ferentes traduções, entre elas, “Ele vive no filho”, “Filho da decomposição”.

Assim como Osíris, Dioniso e tantos outros seres existentes, no tênue limite entre os relatos das tradições e a realidade, que ecoam nas vozes vindas do passado, Hiram Abif foi sacrificado para retornar em um patamar mais avançado da evolução humana. Sua ressurreição é comemorada, na formação de cada novo mestre maçônico, que passa a se constituir em mais um elo de uma cadeia interminável.

Se atentarmos para alguns detalhes dessa narrativa, veremos o en-volvimento de um simbolismo essencialmente alquímico: Um assas-sinato na tentativa de obter a palavra mestra ou o Fogo nuclear, cuja denominação foi mudada, depois, para “Filho da decomposição”.

ABRACADABRA

A B R A C A D A B R AA B R A C A D A B RA B R A C A D A BA B R A C A D AA B R A C A DA B R A C AA B R A CA B R AA B RA BA

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AÉ um antigo encantamento cabalístico da mitologia judaica que,

supostamente, traria cura, eliminaria doenças. Porém, esta palavra é considerada mais como um termo usado pelos alquimistas. A palavra usada pelos Semitas era “Abracal”, não tendo nenhuma relação com abracadabra. Abracal era usada sem qualquer relação numerológica, o que, além da grafia, a tornava-a diferente do termo usado pelos aramaicos, gnósticos, gregos, cópticos, etc.

A Tradição nos fala ser ela um mantra da transmutação; encan-tamento cabalístico, tido como da mitologia judaica, que supostamente eliminaria todos os males, trazendo auxílio aos que o proferissem com a linguagem dos anjos. Há uma estreita relação entre os praticantes de suas invocações e os antigos alquimistas. Sua grafia, feita de modo es-pecial, serve para formar várias formas geométricas, sendo a principal delas um misterioso triângulo invertido, que faz com que as energias do alto sejam captadas e dirigidas para baixo, formando uma linha de força; a ele se atribuíam virtudes curativas e rejuvenecedoras. Segundo algumas pesquisas, este amuleto teria sido, primeiramente, invocado pelos Adeptos do culto de Abraxas.

ABRAHAM O JUDEUAutor de um estranho livro adquirido por Nicolas Flamel, em

1358, em Paris. Segundo uma lendária história, Abraham o Judeu, te-ria sido um sábio que fixou residência em Paris, para ficar próximo a seus irmãos de raça, refugiados na França. Em sua estada nessa cidade, fez amizade com um rabino que tentava conseguir alcançar a Grande Obra. Abraham, baseado em seus conhecimentos, forneceu-lhe os es-clarecimentos necessários e perdeu a vida por essa demonstração de saber. Quando quis partir, o rabino matou-o para preservar o segredo e apropriou-se de todos os manuscritos.

O assassino foi levado à fogueira e os documentos ficaram perdi-dos, até o dia em que um importante livro dourado, bastante grande e muito velho, foi vendido a Flamel por dois florins.

Segundo narrativa do próprio Flamel em seu O Livro das Figuras Hieroglíficas:

“Ele não era de papel ou pergaminho, como são os outros, mas era feito de sutis películas (assim mo pareceu) de tenros arbustos. Sua capa era de couro bem delicado, toda gravada de letras ou figuras estranhas; e quanto a mim, creio que elas podiam bem ser caracteres gregos, ou de outra semelhante língua antiga. Tanto que eu não as sabia ler, e sei bem que não eram letras latinas ou gaulesas, pois delas eu entendo

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Aum pouco. Quanto ao interior, suas folhas de cortiça apresentavam-se gravadas, e com grande indústria, escritas com um buril de ferro, em belas e muito nítidas letras latinas coloridas. Ele continha três vezes sete folhas, a sétima das quais estava sempre sem escrita. No lugar desta, estava pintada na primeira sétima um virgem e serpentes se entredevorando; na segunda sétima, uma cruz, onde uma serpente estava crucificada; na última sétima, estavam pintados desertos, no meio dos quais corriam muitas belas fontes, de onde surgiam várias serpentes que corriam por aqui e por ali. Na primeira das folhas, estava escrito em letras grandes capitais douradas Abraham o Judeu, príncipe, sacerdote, levita, astrólogo, filósofo, à nação dos judeus, pela ira de Deus dispersa nas Gálias Salut. D.I. Depois disso, o livro estava repleto de grande execrações e maldições, com essa palavra, Maranatha (que era amiúde repetida), contra toda pessoa que lhe lançasse o olhar, não sendo sacrificador ou escriba. Aquele que me vendeu esse livro não sabia o que valia, tanto quanto eu, quando o comprei. Creio que ele havia sido furtado aos miseráveis judeus, ou encontrado em algum lugar escondido no antigo lugar de sua residência.

Nesse livro, na segunda folha, ele consolava sua nação, aconselhan-do-a a afastar os vícios e, sobretudo, a idolatria, aguardando o Messias chegar com doce paciência, o qual verá todos os reis da Terra e reinará com seu povo eternamente na glória. Sem dúvida, tratava-se de um ho-mem mui sábio.

Na terceira folha, e em todas as outras seguintes, escrevia, para ajudar sua cativa nação a pagar os tributos aos imperadores romanos. E, para fazer outra coisa, que não direi, ensinava-lhe a transmutação metálica em palavras comuns...”

ABRAXASAs primeiras notícias que se têm desse velho culto, foram assinala-

das pela descoberta de antigas moedas, cunhadas pelo gnóstico egípcio Basilides, e que se definiram como símbolo de uma vetusta sociedade secreta. Segundo um estudioso, Sampson A. Mackey, o nome Abraxas deriva de Abir, que quer dizer touro, e Eixo, que significa o centro.

Em sua alegoria é representado pela figura de um homem com ca-beça de galo e pés de serpente, mantendo um escudo na mão esquerda e um chicote na direita. Ele está de pé sobre um carro voador, açoitando os quatro cavalos brancos, que dizem representar os quatro éteres, por meio dos quais é circulado o poder solar. Do seu lado direito tem o Sol e no esquerdo, uma Lua nova se encaminhando para o crescente.

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AAbraxas é um nome de sete letras, tido como palavra símbolo dos

sete raios do poder. Costumava ser gravado em talismãs, confecciona-dos em pedras redondas, tendo sido bastante divulgado esse hábito por toda a Antiguidade. As inscrições nas pedras de Abraxas eram consi-deradas mágicas e muitas vezes envolvidas pela serpente que devora a própria cauda, o símbolo alquímico denominado uroboro — o Uno. A totalidade do tempo e do espaço.

Por uma série de detalhes, nota-se, ter sido esta alegoria um dos primeiros símbolos alquímicos empregados pelo homem, na velada di-fusão dos seus conhecimentos secretos. As presenças do Sol, da Lua nova, do galo e da serpente; o touro e o eixo, ocultos nos antigos signi-ficados do próprio nome; a referência ao número sete, que na Alquimia é indicativo dos sete metais e dos sete astros; os quatro cavalos, em alusão aos quatro elementos; e, por último, o uroboro, figura mais do que característica do universo alquímico, confirmam a teoria de que se tentou passar, mediante uma conformação mística, os mesmos princí-pios, constantes nas mais variadas tradições da humanidade.

Por toda essa simbologia, o que se comprova é que, mais do que um talismã empregado em magias ou bruxarias, o Abraxas teria sido usado por membros de antigas sociedades secretas, na divulgação de pretéritos conhecimentos.

ABRIRAbrir, em linguagem alquímica, significa dissolver a matéria para

multiplicá-la. Em razão disso, esse procedimento é sempre representa-do pela alegoria de uma chave.

“Para tornar mais explícito ainda que ela solicita a multiplicação, fiz desenhar o homem, ao qual ela faz o pedido, na forma de um São Pedro, segurando uma chave, tendo o poder de abrir e fechar, de ligar e desligar. Tanto que os filósofos invejosos jamais falaram da multipli-cação sem os termos comuns da arte. Abre, fecha, liga, desliga. Cha-maram abrir e desligar fazer o corpo (que é sempre duro e fixo) mole, fluido e líquido como água, e fechar ou ligar, coagulá-lo por e segundo decocção mais forte, remetendo ainda uma vez à forma de corpo” (36).

É interessante registrar que o nome que designa o quarto mês do ano é “abril”, palavra originária do latim aprire, cujo significado é abrir. Considerando que o referido mês é regido pelos signos de carnei-ro e touro, é provável que contenha, em sua própria denominação, uma precisa informação no tocante à matéria que está sendo manipulada.

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AACÁCIA

A acácia é considerada um símbolo solar; suas flores leitosas e cor de sangue, associadas a um simbolismo ancestral, geraram o conceito que goza, em várias tradições, de ser a árvore do renascimento e da imortalidade.

Usada como símbolo nas iniciações, perpetuou-se na mitologia de alguns povos que a consideram uma árvore mágica. É citada em muitos textos alquímicos para definir a cor do leite virginal do Sol.

AÇAFRÃOPlanta herbácea da qual se extrai uma substância corante, de cor

amarela. Em razão dessa propriedade, vários alquimistas fazem alusão a ela em seus relatos, quando querem se referir simbolicamente à tintu-ra que imprime na matéria branca a cor amarelo-dourada, costumeira-mente denominada Açafrão de Ouro ou Ouro Potável.

“Se teu açafrão se torna escasso, podes então multiplicá-lo, fa-cilmente, a uma maior quantidade, e depois podes fazê-lo de novo, e isso podes fazer continuando com teu primeiro curso, até que chegues ao momento de por teus raios de sol, e então, em vez deles, infunde a mesma quantidade de teu açafrão soberano reservado, e isso acelerará a perfeição em tua obra, e assim poderás usá-lo para a glória de Deus que te deu, para tua própria honra, e para o extremo grande consolo dos aflitos membros de Cristo, teus próprios irmãos” (65).

De um manuscrito escrito em Londres, em 1670, Johan Isaac Holandus nos aconselha como atingir à tão sonhada açafrão:

“Portanto dá fogo tão gentil a isto, que não perde nenhum fluxo; a substância derrete e fica limpa, contudo a maioria é fixada; portanto mantenha assim seis semanas, então tire um pouco disto, põe isto em um Prato quente ardendo, se derreter imediatamente e soltar fumos, ainda não esta fixado, mas se o trabalho permanece inalterado, o En-xofre foi então fixado que é o fim desejado; então fortaleça o Fogo notavelmente. Preste atenção ao seu trabalho que, através do Vidro, começa a parecer amarelo, e continuamente mais amarelo, semelhante a Açafrão pulverizado. Então aumente o Fogo mais forte, cultive assim o trabalho até começar a ficar vermelho, então processe seu Fogo de um grau para outro, sujeite assim seu Fogo até mesmo quando o Pó ficar mais vermelho e mais vermelho através de graus, cultive o traba-lho para que seja vermelho como um Rubi. Então, contudo, aumente o Fogo mais, que quando o trabalho estiver quente, ardendo, então é fixo, e pronto para verter a curiosa Água do Paraíso nisto”.

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AAÇAFRÃO DE MARTE

Denominação dada ao óxido de ferro. Segundo definição de Berzelius, em seu livro Química, Tomo XIII:

“Obter o sulfurero de antimônio por caminhos ignorados e por meios diferentes, os quais são contrários às leis da química que conhe-cemos, e combiná-lo com dois pós, um dos quais é o cinábrio, que se faz ferver três vezes no álcool, até a volatização desse líquido, e outro é o óxido férrico ou Açafrão de Marte, obtido pela combinação do nitro com limalha de ferro”.

ACEROSal contido no interior da matéria, cujo surgimento é assinalado

pela tão comentada aparição da estrela. A palavra acero, constantemen-te referida pelos filósofos como caos, fogo secreto, arsênico e outras denominações, pode ser entendida melhor com as seguintes explicações:

“Os Sábios Magos deixaram ditas muitas coisas aos que viriam em busca do Acero, ao qual, muitas coisas foram atribuídas, provocando ques-tão entre os alquimistas, que coisa se entenderia pelo nome de Acero; (...)

Nosso Acero é a verdadeira chave de nossa obra, sem a qual, de nenhum modo, se pode chegar ao fogo da lâmpada. É de uma mina de Ouro, e de um espírito mais puro que todos os demais, é fogo in-fernal oculto, sumamente volátil, em seu gênero milagre do mundo, o fundamento e sistema das virtudes superiores nas inferiores; pelo qual Deus Onipotente o assinalou com um sinal notável e cujo nascimento se anuncia pelo Oriente Filosófico no Horizonte de sua meia Esfera. Os Sábios Filósofos viram nele a Aurora, e se admiraram, e, no instante souberam que havia nascido no mundo um Rei sereníssimo. (...)

“Do mesmo modo que o acero é atraído pela Pedra Ímã, e que esta, por sua natureza, se volta até o acero, da mesma maneira a Pedra Ímã dos Filósofos atrai até si seu acero; pois, assim como ensinei que o acero era a mina de ouro, igualmente também nossa Pedra Ímã é a verdadeira mina de nosso Acero; pelo que o faço saber que nossa Pedra Ímã tem um centro escondido, abundante de sal, o qual é mênstruo na esfera da Lua que pode calcinar o ouro” (1).

ÁCIDOPodemos comprovar que antigos alquimistas conheciam as trans-

formações que se operavam no misto, por influência das partículas ácidas existentes na matéria sulfurosa. Em “Clavis”, por exemplo, o célebre Isaac Newton, deixa isso bem claro:

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A“Porém o ácido escondido em corpos sulfúreos, ao atrair partícu-

las de outros corpos mais fortemente que as suas próprias, causa uma fermentação suave e natural, e a promove inclusive, até a etapa de pu-trefação no composto. Esta putrefação surge disto: que as partículas ácidas que mantiveram por algum tempo a fermentação, insinuam-se finalmente nos interstícios mais diminutos, inclusive nos que se acham entre as partes da primeira composição, e assim, unindo-se estreitamen-te com essas partículas, dão nascimento a uma nova mescla, que não pode ser destruída ou retornar de novo à sua forma anterior”.

AÇOLiga de ferro com carbono, na qual o regime do fogo é imprescin-

dível para que se consiga a perfeição da têmpera.Na Alquimia, o termo é usado presumivelmente para informar que

a matéria-prima é um mineral que contém ferro.“Nosso aço é a verdadeira chave de nossa Obra, sem a qual o

fogo da lâmpada não poderá ser aceso por nenhum artifício: É a mina de ouro, o espírito puro entre todos, por excelência, um fogo infernal, secreto em seu gênero, extremamente volátil, o milagre do mundo, a reunião harmônica dos seres superiores e dos seres inferiores. (...)

“Assim como o aço é atraído pelo ímã, e o ímã se volta espon-taneamente para o aço, do mesmo modo o Ímã dos Sábios atrai o seu aço.”(...) E, mais adiante: “Tome quatro partes de nosso dragão ígneo, que esconde em seu ventre o Aço Mágico, e nove partes de nosso ímã; misture-os com ajuda do tórrido Vulcano, de modo a formar uma água mineral, sobre a qual boiará uma espuma que é preciso rejeitar. Deixe a casca e apanhe o núcleo, purgue-o três vezes pelo fogo e pelo sal, o que se fará facilmente se Saturno olhou a própria beleza no espelho de Marte” (1).

ACRÓSTICOTipo de composição poética na qual as letras iniciais, do meio ou

do fim dos versos, formam uma palavra ou uma frase.Na Alquimia, ficou famoso o acróstico criado por Basílio Valen-

tim, na frase em que, de forma pouco velada, transmitiu o nome da matéria empregada por ele no Magistério da Grande Obra: “Visita-bilis Interiora Terrae, Retificando Invienies, Occultum Lapidem, Ve-ram Medicinam” (Visitarás o interior da terra e, retificando, acharás a Pedra oculta, e a verdadeira medicina). O nome do mineral expresso no acróstico é Vitriolum, bastante repetido por renomados alquimistas.