Dicionário Prático de Astrologia

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1 Dicionário Prático de Astrologia (Catherine Aubier) Áries Áries é um instintivo, transbordando ímpeto e energia. Corajoso e espontâneo, sua necessidade de independência incita-o com freqüência a comportamentos indisciplinados. Basta que lhe proíbam algo, para que se revolte, com vontade de tomar providências, menos para se adaptar do que para destruir o obstáculo. Não contorna nunca as situações: as nuanças e diplomacia não são seu forte. Rachará seu crânio contra o muro de cimento antes de procurar a passagem secreta. Toda a psicologia é polarizada no imediato e no curto prazo, numa série de impulsos breves e violentos. Sua vida é uma sucessão de instantes ardentes, uma espécie de corrida contra os segundos, uma apaixonada fuga para diante. Sua constituição forte permite se recarregar facilmente, mas, após arrebatamentos e descargas emocionais intensas, pode ter ataques nervosos e soçobrar numa depressão mórbida. Esse grande entusiasta juvenil raramente é lúcido e objetivo. A cólera e a generosidade dividem um coração sempre exaltado, caloroso e ingênuo. Essa mistura de temeridade, fervor e candura é direcionada para objetivos geralmente próximos, realçando antes a impressão do que o projeto. Poderia ter como lema: “Tudo sem demora e ao máximo”. É um inflamado nato, adora todas as formas de risco e aventura. Bom vivant, alegre e despreocupado, pouco à vontade em ambientes protocolares, Áries varre os conformismos. Sua necessidade de ação a todo custo o mantém numa efervescência crescente: sua alma é esquentada. É antes de tudo um guerreiro, capaz de uma completa mobilização de suas faculdades quando se trata de combater. Está sempre na vanguarda, no lugar mais à vista, arrebatado por uma agilidade e uma capacidade brutais, com uma preferência marcante por situações improvisadas de comando. É muito mais um audacioso, um aventureiro do que um estrategista. Áries confunde frequentemente sua generosidade com compreensão, enquanto tem fundamentalmente tendência a impor seus gostos e suas opiniões, tolerando bastante mal as pessoas mais meditativas e sutis. essa falta de reserva o leva a sentir-se pessoalmente envolvido pelas pessoas e pelos acontecimentos. intuitivo apaixonado, sacudido por emoções fulgurantes, inimigo das rotinas, tem no melhor dos casos um papel estimulante, inovador, generoso. Em seu aspecto negativo, Áries aparece como um indivíduo instável, violento, caprichoso, sem tolerância nem discernimento. Touro Depois do fogo original de Áries, impulso inicial da primavera, os brotos se abrem, as forças vitais se encarnam e se enraízam, a fim de assegurar a subida das seivas, a realização das formas e da natureza humana. O recém-nascido torna-se criança, avidamente suspensa no seio da sua mãe; daí as tendências lunares, venusianas, femininas de Touro, assim como suas correspondências com a boca, a garganta, os órgãos de sucção, de absorção, de apropriação. É um signo de Terra fixo: matéria espessa, abundante, lenta, cheia de sucos nutritivos – pastagens férteis e campos verdejantes. Touro liga-se igualmente à casa II, que simboliza a posse e os bens materiais. Entramos em uma área de instintos calmos e bulímicos, de lerdeza fértil, de placidez, estabilidade, perseverança, prazer carnal, exaltação sensorial. Touro constitui o apogeu dos poderes terrenos e primaveris, em oposição a Escorpião, em que as formas apodrecem e se desagregam. Da mesma forma que Escorpião significa os valores genitais e anais, de excreção, transformação e desnutrição, Touro exprime as pulsões orais: deglutição, captação, aquisição. Touro absorve, Escorpião elimina. Instintivo, monopolizador e voraz, Touro quer deglutir tudo o que armazenar: sensações, emoções, idéias. Vive na paixão de ter; que se transforma facilmente em idéia fixa e em ciúme obsessivo. Sua motivação fundamental é a necessidade de tomar e conservar; daí uma natureza prodigiosamente receptiva a tudo o que cobiça. O universo é para ele um maravilhoso festim a ser saboreado por todos os poros. Esse apego sensual e essa embriaguez carnal fazem dele um temperamento dionisíaco. Aparentemente simples, complacente e bondoso, Touro é capaz de repentinos furores, tanto mais violentos e inesperados quanto demorados para amadurecer. Para ele, o mais duro é sempre lançar- se, dar a partida. Mas quando o impulso motriz é desencadeado, nada mais pode detê-lo. Seu poder de realização é inesgotável, infatigável. Esse signo é sinônimo de solidez, estabilidade, segurança. Essencialmente apegado a suas raízes terrenas, é um construtor nato, cuja perseverança e obstinação lhe permitem executar muitos trabalhos de fôlego. Preso a seus hábitos e a suas presunções, acontece de fechar-se em uma teimosia estéril e uma luta sem fim, autodestrutiva. Empenha-se de boa vontade em contendas afetivas indiscriminadas, prolongando situações opressivas por uma certa inaptidão em romper. Fortemente dependente do passado, fica muito tempo sob a influência de uma impressão e permanece constante tanto em suas simpatias como em seus rancores. Fiel, conservador, não se adapta de modo algum às repentinas reviravoltas e não suporta que se falte à palavra dada. É no esforço seguido e contínuo que mostra sua plena medida. Em caso de fracasso, pode se atolar em uma repetição morosa, uma incurável e melancólica passividade.

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Dicionário Prático de Astrologia (Catherine Aubier) Áries Áries é um instintivo, transbordando ímpeto e energia. Corajoso e espontâneo, sua necessidade de independência incita-o com freqüência a comportamentos indisciplinados. Basta que lhe proíbam algo, para que se revolte, com vontade de tomar providências, menos para se adaptar do que para destruir o obstáculo. Não contorna nunca as situações: as nuanças e diplomacia não são seu forte. Rachará seu crânio contra o muro de cimento antes de procurar a passagem secreta. Toda a psicologia é polarizada no imediato e no curto prazo, numa série de impulsos breves e violentos. Sua vida é uma sucessão de instantes ardentes, uma espécie de corrida contra os segundos, uma apaixonada fuga para diante. Sua constituição forte permite se recarregar facilmente, mas, após arrebatamentos e descargas emocionais intensas, pode ter ataques nervosos e soçobrar numa depressão mórbida. Esse grande entusiasta juvenil raramente é lúcido e objetivo. A cólera e a generosidade dividem um coração sempre exaltado, caloroso e ingênuo. Essa mistura de temeridade, fervor e candura é direcionada para objetivos geralmente próximos, realçando antes a impressão do que o projeto. Poderia ter como lema: “Tudo sem demora e ao máximo”. É um inflamado nato, adora todas as formas de risco e aventura. Bom vivant, alegre e despreocupado, pouco à vontade em ambientes protocolares, Áries varre os conformismos. Sua necessidade de ação a todo custo o mantém numa efervescência crescente: sua alma é esquentada. É antes de tudo um guerreiro, capaz de uma completa mobilização de suas faculdades quando se trata de combater. Está sempre na vanguarda, no lugar mais à vista, arrebatado por uma agilidade e uma capacidade brutais, com uma preferência marcante por situações improvisadas de comando. É muito mais um audacioso, um aventureiro do que um estrategista. Áries confunde frequentemente sua generosidade com compreensão, enquanto tem fundamentalmente tendência a impor seus gostos e suas opiniões, tolerando bastante mal as pessoas mais meditativas e sutis. essa falta de reserva o leva a sentir-se pessoalmente envolvido pelas pessoas e pelos acontecimentos. intuitivo apaixonado, sacudido por emoções fulgurantes, inimigo das rotinas, tem no melhor dos casos um papel estimulante, inovador, generoso. Em seu aspecto negativo, Áries aparece como um indivíduo instável, violento, caprichoso, sem tolerância nem discernimento. Touro Depois do fogo original de Áries, impulso inicial da primavera, os brotos se abrem, as forças vitais se encarnam e se enraízam, a fim de assegurar a subida das seivas, a realização das formas e da natureza humana. O recém-nascido torna-se criança, avidamente suspensa no seio da sua mãe; daí as tendências lunares, venusianas, femininas de Touro, assim como suas correspondências com a boca, a garganta, os órgãos de sucção, de absorção, de apropriação. É um signo de Terra fixo: matéria espessa, abundante, lenta, cheia de sucos nutritivos – pastagens férteis e campos verdejantes. Touro liga-se igualmente à casa II, que simboliza a posse e os bens materiais. Entramos em uma área de instintos calmos e bulímicos, de lerdeza fértil, de placidez, estabilidade, perseverança, prazer carnal, exaltação sensorial. Touro constitui o apogeu dos poderes terrenos e primaveris, em oposição a Escorpião, em que as formas apodrecem e se desagregam. Da mesma forma que Escorpião significa os valores genitais e anais, de excreção, transformação e desnutrição, Touro exprime as pulsões orais: deglutição, captação, aquisição. Touro absorve, Escorpião elimina. Instintivo, monopolizador e voraz, Touro quer deglutir tudo o que armazenar: sensações, emoções, idéias. Vive na paixão de ter; que se transforma facilmente em idéia fixa e em ciúme obsessivo. Sua motivação fundamental é a necessidade de tomar e conservar; daí uma natureza prodigiosamente receptiva a tudo o que cobiça. O universo é para ele um maravilhoso festim a ser saboreado por todos os poros. Esse apego sensual e essa embriaguez carnal fazem dele um temperamento dionisíaco. Aparentemente simples, complacente e bondoso, Touro é capaz de repentinos furores, tanto mais violentos e inesperados quanto demorados para amadurecer. Para ele, o mais duro é sempre lançar-se, dar a partida. Mas quando o impulso motriz é desencadeado, nada mais pode detê-lo. Seu poder de realização é inesgotável, infatigável. Esse signo é sinônimo de solidez, estabilidade, segurança. Essencialmente apegado a suas raízes terrenas, é um construtor nato, cuja perseverança e obstinação lhe permitem executar muitos trabalhos de fôlego. Preso a seus hábitos e a suas presunções, acontece de fechar-se em uma teimosia estéril e uma luta sem fim, autodestrutiva. Empenha-se de boa vontade em contendas afetivas indiscriminadas, prolongando situações opressivas por uma certa inaptidão em romper. Fortemente dependente do passado, fica muito tempo sob a influência de uma impressão e permanece constante tanto em suas simpatias como em seus rancores. Fiel, conservador, não se adapta de modo algum às repentinas reviravoltas e não suporta que se falte à palavra dada. É no esforço seguido e contínuo que mostra sua plena medida. Em caso de fracasso, pode se atolar em uma repetição morosa, uma incurável e melancólica passividade.

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Gêmeos Terceiro e último signo da primavera (no hemisfério norte, e do outono no hemisfério sul), Gêmeos liga-se ao período em que os brotos se abrem, em que as folhagens se ramificam, se diversificam e se dispersam. È o Ar mutável (ou duplo), ágil, rápido e crepitante. A criança torna-se adolescente: é a puberdade confusa, ambivalente, esperta, curiosa. Daí o equívoco, a flexibilidade e a velocidade do signo. A imagem dos raminhos e nervuras de uma vegetação vibrante e impetuosa, Gêmeos corresponde ao sistema respiratório, brônquios, pulmões, bem com aos braços, às mãos e às terminações nervosas. As energias lentamente amadurecidas e comprimidas em Touro se emancipam e voam com piruetas de fogos-fátuos. Todo móvel e flexível, Gêmeos tem acima de tudo uma prodigiosa capacidade de adaptação. Todas as formas de troca, de contato e de improvisação o maravilham. É regido por Mercúrio, deus dos mercadores, dos ladrões e da comunicação. Fremente Arlequim, apaixonado por jogos e vadiagens, é um gênio da comédia, sempre ligeiramente na retaguarda das coisas e às vezes incapaz de um engajamento real. Virtuose da palhaçada e da gozação, desdobra-se, espalha-se e finge muito nem com uma necessidade de surpreender e até mesmo de chocar para sentir que existe. Sua paixão pela mudança transforma-se facilmente em instabilidade. Mas sua destreza, sua precisão, sua sensibilidade à flor da pele permitem que se dobre, sem jamais romper nem ceder. Depois do carvalho-touro arrancado pelo furacão, o caniço-Gêmeos ri da tempestade. Sua verve, seu charme, sua fantasia são tais que não se resiste a essa mutante superfície móvel. Essencialmente contraditório, Gêmeos procura viver plenamente a intensidade do instante presente, ao mesmo tempo que cultiva um recuo e um distanciamento cerebral que evitam que se deixe levar completamente pela emoção. Tal atitude acentua o narcisismo: é a pessoa que se olha, e se olha, e se olha ocupada em se olhar. Verdadeiros andróginos psicológicos, os Gêmeos dividem-se em dois tipos de temperamentos. No primeiro caso, é um polivalente emocional, caprichoso, extravagante, com um gosto acentuado pelo insólito e o fictício. Sua sinceridade é total, mas ele muda de objeto a cada instante. Esse Gêmeos sente-se freqüentemente incompreendido: sob suas afetações impertinentes, Arlequim dissimula caretas de angústia. O segundo tipo de Gêmeos é mais frio e cerebral. Hábil, cético, oportunista, é um mestre na arte do jogo duplo, capaz de uma notável duplicidade. De uma maneira geral, os nativos de Gêmeos se interessam por tudo, mas não se apegam a nada. Quanto mais seu campo de interesse é vasto, mais sua capacidade de concentração permanece superficial. O milagre dessa natureza fragmentada é encontrar sua unidade na sua própria dispersão. Câncer É o primeiro signo do verão no hemisfério norte e do inverno no hemisfério sul. Após a puberdade de Gêmeos, aparece a juventude propriamente dita, isto é, o estado de fecundidade. O mundo está maduro para a grande obra da maternidade. A água cardinal de Câncer liga-se aos líquidos nutritivos, às seivas nutrientes: as águas-mães. Este segundo ciclo marca igualmente as fases da tarde, depois da alegria matinal. Câncer abre uma era digestiva: profunda gestação; fértil sonolência, daí a estreita relação com a Lua. A vida ainda é frágil: deve abrigar-se no oco das membranas e conchas protetoras. O próprio símbolo do signo, o caranguejo, é revelador. A forma fechada e arredondada sugere a idéia de bolsa maternal que engloba, nutre e protege. É conhecido o papel essencial do elemento aquático na formação da vida: bolhas de células e plasmas originais imersos nas profundezas oceânicas da grande matriz universal. A partir do solstício de verão, no hemisfério norte, o Sol inicia seu ciclo descendente: a duração do dia baixa progressivamente. É o primeiro lembrete da noite e dos valores especificamente lunares: indolência, fantasia sonhadora, instinto vegetativo, passividade, receptividade, exaltação do subconsciente, vaguear da alma e quimera. O centro de gravidade de Câncer é a ternura e a segurança do seio materno. É igualmente por extensão o calor do lar familiar, daí a estreita entre o signo e a casa IV (ou Fundo do Céu). De uma maneira geral, Câncer é fundamentalmente ligado a suas origens, a seu passado, a ponto de afundar em sua memória, de grudar em suas lembranças – no negativo – e de apoiar-se nisso, de tirar algum ensinamento – no positivo. Super-sensível, impressionável, Câncer é dotado de uma emotividade sempre tensa, vibrante, vulnerável, facilmente desarmada. Tem necessidade de uma intimidade segura e macia, sendo seu ideal uma espécie de reclusão suave, longe das confrontações e das brutalidades do mundo exterior. O grande problema canceriano é a adaptação ao real. Se este é sentido muito duramente, o canceriano está arriscado a refugiar-se numa submissão e numa pusilanimidade que o confinam no infantilismo, com uma mistura de pavor irracional e de vertigem narcisóide. Quando está completamente cansado da vida, tendo fechado sobre si mesmo a tampa de seus sonhos, desinteressa-se pelo mundo exterior. Quando, ao contrário, bem adaptado, encontra seu equilíbrio na noção de preservação de tudo aquilo que, a seus olhos, corresponde ao equilíbrio e ao bem-estar humano. Certos cancerianos têm uma reação completamente oposta, rejeitando violentamente o mundo materno e os valores secundários – fugindo, de fato, daquilo que não podem obter.

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Nesta retaguarda psicológica podem desenvolver-se dois tipos muito diferentes. O primeiro é o canceriano sedentário, apegado ao conforto, de um conformismo doméstico e caseiro, cheio de a priori e de ideais nostálgicos. O outro canceriano é vagabundo, um errante psicológico à deriva. Vive num turbilhão interior de sonhos e miragens, arrastando no fundo de seu ser a nostalgia da infância, como se ela fosse uma pátria perdida. Este ser fantasioso e nebuloso liga-se à figura do Pierrô lunar; somente a criatividade pode servir como meio de expressão; flutuando sempre entre o sonho e a realidade, o canceriano pode se mostrar indolente e lasso. É de fato um caráter tenaz, capaz de uma surpreendente força de inércia: ninguém pode obriga-lo a fazer o que não quer fazer. Leão O Leão marca a fase culminante do verão no hemisfério norte e a fase culminante do inverno no hemisfério sul. É o momento mais tórrido e mais desenvolvido da estação quente. Após a gestação de Câncer, é em Leão que a pessoa atinge todo o seu potencial de afirmação ativa, de dinamismo soberano e conquistador. Aqui, a força vital identifica-se ao poder do eu em seu imperialismo mais completo. No lado oposto do quadrante zodiacal, Aquário traduz, ao contrário, o esquecimento do eu, sua liberação no universal. Com Leão, explodem as ofuscantes fanfarras do fogo solar – apoteose de luz. È por isso que o fogo fixo de Leão é diretamente regido pelo astro do dia que encarna os poderes mais viris, voluntariosos, dominadores. É o senhor da vida, a grande central das energias primordiais, o coração ativo de nosso universo. Psicologicamente, Leão está associado ao órgão cardíaco. Como indica orgulhosamente seu símbolo, Leão apresenta um caráter heróico e real, uma ardente necessidade de continuar a transcendência. Em caso de fracasso, a frustração é a mais cruel, pois toca o indivíduo em sua própria razão de viver. Essa hipertrofia do eu carrega uma exigência absoluta, tanto para com os outros como para consigo mesmo. A existência de Leão é uma sucessão de iniciativas autoritárias, de aspirações e de competições, com o gosto pelos esforços sobre-humanos, a paixão de subjugar, de organizar, de criar. Esse orgulho prometéico nunca é invejoso nem dissimulado. O ataque do leão é tão leal quanto impetuoso, tão lúcido quanto indomável. Noblesse oblige! Poderia ser seu lema. Esse grande empreendedor subordina geralmente todos os seus desejos a um só objetivo, ao qual consagra a totalidade de seus recursos, e que pode perseguir incansavelmente durante anos. Se seu apetite por prestígio o leva a atitudes excessivas, teatrais, são perdoáveis essa exibição de magnificência e esse gosto imoderado pelo superlativo, pois é fundamentalmente magnânimo e generoso. Detesta acima de tudo a mesquinharia, a hipocrisia e os conchavos. Tudo, nesse caráter espetacular, visa às proezas e à epopéia. Mas se sua ambição é insaciável, raramente é quimérica: é um realista, um pragmático respeitador das leis e dos hábitos. Não há quem se iguale a ele quando se trata de governar a si mesmo. Tem dificuldade em admitir os obstáculos do acaso ou os acidentes naturais: sua vocação profunda leva-o a forçar o destino, mobilizando as energias, galvanizando os mais céticos e os mais tímidos. Nos casos mais negativos, essa valorização do eu pode degenerar em culto à personalidade. O heroísmo devotado sucumbe então à auto-satisfação. A chave do comportamento leonino é a necessidade de estar à altura: se busca obter a admiração de alguém, é para tornar-se digno de sua própria admiração. Essa conquista do eu ideal é um meio de compensar a falta de confiança em si, que dissimula como se ela fosse uma tara inaceitável. Tradicionalmente, a astrologia distingue duas categorias de Leão: o hercúleo combativo, realista, homem de ação, acima de tudo; e o apolíneo, cujas aspirações são mais estéticas e espirituais. Virgem Último signo do verão, no hemisfério norte, Virgem marca a última etapa do ciclo noturno e da primeira metade do círculo zodiacal. Após a culminação solar de Leão, o ego atrai a fase do declínio. O período é o da espiga madura e das colheitas cortadas que é preciso armazenar e selecionar. O papel do signo consiste em escolher, medir, eliminar, organizar todas as substâncias acumuladas ao longo das fases precedentes. Virgem faz, realmente, a limpeza da primeira metade do zodíaco. Daí sua relação com os intestinos, órgãos de assimilação e de triagem que evacuam as matérias inúteis e nocivas. Daí igualmente a correspondência do signo com a casa VI, que é a das obrigações domésticas, do trabalho cotidiano e dos problemas de saúde. A Terra mutável de Virgem é um solo dessecado, esterilizado, purificado. No lado oposto da grande dissolução oceânica de Peixes, é o grão de areia seco, limpo e preciso. O signo é regido por Mercúrio. Mas este Mercúrio é bem diferente do extravagante e esperto de Gêmeos; o astro é aqui muito cerebral, é o do discernimento e da classificação. Atribui-se geralmente a Virgem um conjunto de traços distintivos que implicam retenção, sobriedade, minúcia, confinamento, inibição, até mesmo complexo de inferioridade. O signo é, de fato, mais sutil e mais ambivalente. Toda a postura de Virgem constrói-se em torno de um eixo

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de seleção: cercar, isolar, controlar, medir, fazer triagem. Pode-se perguntar se essa preocupação com a lógica, com o bom senso, com o rigor não é de fato uma forma de autoproteção, a resposta a uma secreta angústia de divisão e de anarquia interior – com o pudor e a timidez dessas naturezas que se confinam na reserva por medo de paixões muito caóticas. Essa configuração orienta habitualmente o signo para um comportamento escrupuloso, pontual, previdente, econômico até a parcimônia, com uma necessidade de ordem e de medida em todas as coisas. Essa exatidão, esse gosto pelo detalhe, esse respeito pelos regulamentos e pelos princípios associam-se ao senso de esforço, ao minucioso cumprimento das tarefas. Com esse senso de seriedade e esse perfeccionismo, Virgem parece observar o mundo de “binóculos”. A seus olhos, a existência é sinônimo de dever, ordem e virtude. Mas esse comportamento às vezes se inverte completamente, suscitando a revolta e a agressividade, com impulsos destrutivos bastante comparáveis aos de Escorpião. Virgem bem-comportado torna-se, então, Virgem louco, experimentando um anticonformismo provocador, cultivando espontaneamente a independência e a revolta. De fato, a angústia do abismo leva geralmente Virgem a se conter, controlar, censurar. Mas essa reação às vezes é sentida como tão opressiva que determina uma brutal reviravolta. A maior parte do tempo, o signo oscila entre essas duas tendências: armazena-se de um lado e gasta-se do outro; a pessoa mais pudica, mais virtuosa, é dada de repente à volúpia mais desenfreada. Virgem tem, felizmente, uma preciosa capacidade de distanciamento: é ao mesmo tempo o signo mais sério e o que se leva menos a sério. Libra É o primeiro signo do outono e da fase diurna do zodíaco. Nesse mundo crepuscular, as forças vitais amenizam-se, os instintos primordiais declinam e extenuam-se. Em oposição ao ímpeto intempestivo de Áries, à sua impulsividade juvenil e selvagem, Libra é todo em semitons, meias medidas, hesitação e compromisso. O Ar cardinal do signo é o do equilíbrio e da justa medida, muito afastada dos grandes sopros de Aquário ou dos pequenos ventos irônicos de Gêmeos. É o ar lânguido dos fins da tarde, o céu murcho, descolorido do dia agonizante (no hemisfério norte). O meio-termo é a religião de Libra. A condição indispensável de seu bem-estar é a harmonia com os outros; daí a estreita relação do signo com a casa VII (ou Descendente), que diz respeito ao domínio das relações com os outros. Sentir-se aceito, aprovado, estar em sintonia com seu meio, tal é o objetivo fundamental de Libra. Vênus, que governa o signo, mostra a importância da afetividade, da contínua busca da união, da alma gêmea e do equilíbrio. Esse Vênus é muito mais cerebral, esteta e refinado que o Vênus sensual, guloso e epicurista de Touro. Todos os nativos de Libra têm uma vocação para a diplomacia: estão prontos para compreender e desculpar os piores reveses de seus contemporâneos. Para eles, a tolerância é uma segunda natureza, tanto por abertura de espírito como pela obsessão de serem eles próprios rejeitados. Pouco rancorosos, têm horror aos excessos, nunca abusam de uma situação, e dão prova, em todas as circunstâncias, de tato e ponderação. O ideal de Libra é nunca ferir ninguém, encontrar em todo lugar um terreno de diálogo e de entendimento, de evitar a todo preço as confrontações e as rupturas. Estando o inferno, como todos sabem, cheio de boas intenções, essa complacência excessiva provoca, por vezes, alguns choques, cujos efeitos deixam feias cicatrizes. Essencialmente eqüitativo, Libra não tem nada de um acusador: a vingança e o castigo são sistematicamente afastados em proveito das tentativas conciliatórias. Indecisão, incerteza, progressão, recuo, um passo adiante, outro atrás, o signo entra em pânico naturalmente diante da urgência de uma escolha e da necessidade de decidir. Elegante, afável, nada mundano, preocupado com melodiosas nuanças, com equilíbrios sutis, combinações frágeis e sofisticadas, esse indivíduo não tem nada de voluntarista obstinado. Ao selvagem combate vital de Áries, opõe o extravasamento amigável e apaziguadora concessão. Sendo assim, o signo combina melhor com os valores tradicionalmente femininos do que com as virtudes viris e marciais. Desanima facilmente quando lhe é exigido algum esforço, pois faltam-lhe pulsões agressivas e audácias conquistadoras. Às voltas com uma situação dramática, seu temperamento incita-o geralmente a abdicar. Seu objetivo íntimo na existência é o de agradar, em todos os planos. É por isso que lhe faz tanto mal dizer não; a angústia de decepcionar está sempre por trás de seu comportamento. Apóstolo da não-violência, tem aptidão para as trocas e a comunicação. Mas esse sentimental é definitivamente nervoso e introvertido; está sempre escondendo sob as aparências de calma e equilíbrio a obsessiva inquietação de se ver contestado ou rejeitado. As únicas situações em que está arriscado a reagir violentamente são aquelas que ferem seu íntimo e exigem senso de justiça. Escorpião Com Escorpião, os semitons e as hesitações de Libra são varridos. As cores do outono tendem ao marrom e ao preto, as folhas caem e os frutos, muito maduros, se desprendem. Entramos em um domínio de desagregação e dissolução fecunda. É a era das grandes metamorfoses – morte e renascimento. É uma

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porta para as profundezas do ser e os mistérios de além túmulo. Escorpião mata para não morrer e morre para poder ressuscitar. Essa morte, de que está investido, nada tem de aniquilamento. É um conhecimento intuitivo dos segredos extremos. Toda intensidade criadora se mede em termos de transformação, ou mesmo em termos de transmutação: morte do velho homem e nascimento do homem novo. Escorpião está associado à casa VIII, setor das crises e das destruições. Esse signo é antes de tudo voluntarioso e apaixonado. Tal eixo de instinto transbordante exprime-se através de uma irresistível tensão da sexualidade, cujo rompimento pode tornar-se doação de si e abnegação. Escorpião é essencialmente um produtor e um transformador de energias. Seu poder erótico é uma ardente necessidade de penetrar no âmago das coisas, no centro mais tenebroso e mais escondido da realidade. Toda pressão social, todo freio, toda intervenção de uma vontade exterior lhe são insuportáveis; ele os sente como se fossem um atentado contra seu ser mais íntimo. Admitindo somente sua própria lei, não tolera nenhuma autoridade, exceto quando alimenta por seus superiores uma estima real. Em permanente rebelião, Escorpião é um individualista visceral. Ansioso, hipersensível, atravessa frequentemente períodos de angústia, e sua necessidade aguda de “modificar as coisas” leva-o a comportamentos destrutivos. Tendo geralmente necessidade de se opor para se definir, julga, analisa, decide, com atrações brutais, repulsas imediatas, guiado pela intuição e uma perspicácia inata mais que por um senso de análise. Escorpião se sente e se afirma na diferença, e esse instinto de diferenciação transforma-se facilmente em agressividade ou em marginalidade. Essa certeza ansiosa de ser diferente leva-o a experimentar frequentemente um doloroso sentimento de exclusão. Fascinante, hermético, o olhar de Escorpião penetra o defeito das couraças e arranca os segredos mais bem guardados. Ele só reconhece os grande combates da existência; acontece que, em certos casos, vacila, em seguida a um bloqueio: o signo então o confina na inibição e na autocensura, levando-o a adotar um comportamento bastante próprio daquele de Virgem. Muito sensível às situações de bloqueio, tem facilmente a impressão de girar em círculos e se fecha em comportamentos marcados pela culpa, a repressão e a autopunição. Sagitário Nessa nona etapa do zodíaco, Sagitário marca a última fase do ciclo outonal no hemisfério norte. A noite instalou-se agora definitivamente, mas no horizonte flutua ainda um estranho clarão, uma claridade difusa, um reflexo de outro lugar, de outro mundo, os últimos traços do Sol morto. É o Fogo mutável (ou duplo) de Sagitário, luz completamente interior e espiritualizada. Depois da festa amorosa e fúnebre de Escorpião, a pessoa é purificada, pacificada, engrandecida. Sagitário é um convite à aventura, a viagens para horizontes desconhecidos e espaços ilimitados. É ao mesmo tempo um progresso e uma expansão radiante. Sagitário sente a si mesmo somente num impulso que o leva ao exterior; para fora de si. Só percebe o mundo quando o ultrapassa. Dispersa-se para abraçar as coisas em sua globalidade, para alargar as fronteiras e ampliar indefinidamente os limites. O signo está associado à casa IX, setor das viagens, da filosofia e da religião. Nesse pano de fundo, aparecem dois tipos psicológicos, à primeira vista contraditórios, mas paradoxalmente inspirados pelas mesmas motivações profundas: o rebelde e o conformista. No primeiro caso, a necessidade de expansão implica na supressão de todo entrave e de toda a contrariedade. É o poder subversivo dos Titãs, lançados ao ataque do Olimpo e dos deuses. Esse apaixonado por independência e por escapadas selvagens é um pouco parecido com o Centauro, inebriado pelo espaço e por circuitos vertiginosos. Sua fome de liberdade não pode admitir que a realidade lhe imponha limites ou restrições. Vivendo em um estado de revolta constante contra os hábitos e os princípios, esse ser é de uma generosidade fogosa, com arroubos sucessivos que o levam a grandes a audaciosas empreitadas. Mobilizando todas suas energias para afastar sem parar os limites do possível, aspira a explorar as distâncias mais inacessíveis. Esta natureza insaciável é geralmente dotada de um enorme poder sensual e dionisíaco. Essa mesma tendência à expansão move o Sagitário do tipo conformista, que se dilata e expande, em uma paixão pelo exagero e pelo superlativo. Voltado para as formas mais solenes da hierarquia e das honrarias, apaixonado pelo conforto e pela consideração, é risonho, jocoso e expansivo, apegado aos valores burgueses da ostentação e da exibição. Essas duas espécies de Sagitário coabitam frequentemente no mesmo indivíduo: homem público, notável, dignatário, ao mesmo tempo preocupado com o protocolo e ferozmente ciumento de sua independência; ou, ao contrário, anarquista insubmisso, refratário a toda ordem, mas fascinado pelas autoridades no poder. Paralelamente, podem-se distinguir duas linhas de comportamento, conforme o signo interiorize ou exteriorize sua ações. É a grande aventura poética e filosófica, a busca exaltada de conhecimento ou de empreendimentos perigosos, de riscos espetaculares. Nômade, explorador, corsário, esse Sagitário se lança de corpo e alma em aventuras gigantescas e cruzadas extravagantes – inebriado pelo exotismo e pela imensidão. No fundo, esse signo somente se estabiliza descentralizando-se e só se centra novamente desestabilizando-se, sonhando sempre em ir mais longe para abraçar o cosmo e sua totalidade.

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Capricórnio Com o solstício de inverno no hemisfério norte, este décimo signo do zodíaco marca o momento do ano em que os dias são mais curtos e as noites mais longas. É o ponto culminante da escuridão, do frio, do despojamento, com um encolhimento maior do campo vital. Às fecundas farândolas de São João de Câncer, signo complementar e oposto, responde o fervor grave do Natal. A natureza enterra-se nas fendas e nas rachaduras de um solo rígido e gelado. O mundo está escurecido, emaciado, petrificado. A vida parece definitivamente ancorada na velhice das coisas. Tal é a grandeza áspera e melancólica de Capricórnio. Essa terra cardinal é um império moroso de formas extenuadas, atrofiadas: os instintos se introvertem e se amenizam no gelo das pulsões, no extremo rigor e na severa concentração de um real desencantado. Mas sob essa vitrificação das aparências repousa o fabuloso tesouro da semente, que atrai desde então sua perseverante subida em direção à luz. Obtenção a longo prazo de seus objetivos, tarefa ingrata, conquista laboriosa, perseverança inquebrantável, tal é o sentido fundamental do processo. Sob a carapaça do inverno, no espaço de um ponto exíguo, minúsculo, esta graça e invencível partícula de vida representa um formidável potencial de energia. É o grau zero do ser que encerra todas as promessas do ciclo futuro. É por isso que Capricórnio está associado à casa X (Meio do Céu), que rege a carreira, o sucesso social e profissional, o coroamento das ambições e dos esforços. Esta polaridade Capricórnio-Câncer liga-se ao eixo fundamental Meio Céu (eu no mundo)/Fundo do Céu (eu na intimidade). Se os imperativos de dificuldade e de concetração levam o indivíduo a dissecar o real até o fim, então seus impulsos criativos se endurecem e se contraem na avareza e misantropia. Se estas mesma aspirações em compensação o levam a suprimir o inútil, a podar o supérfluo, realizam imemorável transmutação do carvão em diamante. A era de Capricórnio implica o abandono dos valores estreitamente subjetivos e a ultrapassagem dos limites individuais em direção a exigências mais altas, desembocando na renúncia e na abnegação. O signo é naturalmente regido por Saturno, planeta dos sacrifícios e das provações necessárias para o verdadeiro conhecimento e a plenitude interior. Capricórnio afirma-se acima de tudo numa psicologia do longo prazo. Fleuma, sangue-frio, perseverança. É o mais paciente de todos os ocupantes do zodíaco. Seus projetos são maduramente refletidos, calculados, verificados, guiados imperturbavelmente até sua conclusão. Este pensamento inflexível fica surdo às solicitações imediatas, às sirenes do instante, que não o podem atrapalhar, nem fazê-lo desviar-se de seu itinerário. Essencialmente conservador, encarna a estabilidade, a fidelidade, a permanência, até a teimosia. Suas concepções e seus princípios são geralmente rígidos. Percebe os fenômenos exteriores e superficiais com um extremo distanciamento, uma lucidez gelada. Pouco adaptável, cerca-se de esquemas e de estruturas irremovíveis. Sóbrio, pontual, tímido, suas virtudes de rigor e de integridade não o fazem espontaneamente simpático. Uma tal exatidão encerra-o às vezes num isolamento altivo e amargo. Esta vontade fria e refletida assegura um controle impressionante para enfrentar os obstáculos. Por trás desse comportamento estóico e abrupto pode esconder-se a sensibilidade aguda e dolorosa daquele que não consegue exprimir emoções e sentimentos. Assumindo sem temer as mais pesadas responsabilidades, Capricórnio sente-se mais à vontade na solidão e no recolhimento do que em evidência no meio da multidão. Tem, aliás, frequentemente medo de ser aborrecido ou mal acolhido. Com sua determinação e tenacidade, o signo demonstra uma colossal necessidade de poder e um imenso orgulho. De fato, não podendo jamais aderir verdadeiramente ao universo, é preciso para ele domina-lo a todo custo ou dirigi-lo. Aquário Com o décimo primeiro signo do zodíaco, os do hemisfério norte penetram no coração do inverno. Primeiro, face a Leão, complementar e oposto, que se pode situar Aquário. Trata-se de um eixo fundamental. De um lado, Leão afirma os valores solares de um ego dominante, triunfante, que impõe ao mundo sua vontade pessoal, os projetos grandiosos de seu ego todo-poderoso. Na outra extremidade, Aquário apresenta uma paisagem em que o indivíduo é admitido na medida em que exalta o conjunto da condição humana, nas suas aspirações mais universais. Aquário proclama, em suma, a abolição dos privilégios exclusivos do ego, o fim dos cultos e feudos narcisóides, o surgimento de uma era de libertação coletiva, num humanismo revolucionário, uma generosidade idealista, anticonformista e prometéica. No contexto dos quatro elementos, Aquário é signo de Ar fixo. O Ar marca sempre uma emancipação, a libertação dos pesos e servidões de toda ordem. O Ar fixo de Aquário libera o mundo rígido e asfixiado de Capricórnio, ao qual devolve um sopro e uma esperança. Este ar é um tipo de respiração boca a boca cósmico, como é também a grande respiração dos ventos e furacões de fevereiro, no hemisfério norte. A generosidade de Aquário e seu angelismo militante exprimem a ardente necessidade de libertar-se de suas prisões interiores. Não admitindo nenhuma forma de escravidão, suporta menos ainda a primeira de todas:

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a escravidão de si mesmo. Neste sentido, identifica-se com os grandes princípios democráticos, com um fervor que esbarra quase sempre na ingenuidade. Tem uma alma muito grande para um caráter muito frágil. Alheia-se espontaneamente das preocupações cotidianas e das realidades prosaicas, paira longe, acima das discussões mesquinhas e dos interesses particulares. O aspecto prático e pessoal das coisas lhe é indiferente e o banal lhe pesa. Sua derradeira ambição é trabalhar para as gerações futuras, ou mostrar aos que o cercam as portas de saída, que ele é o único a ver. Essa busca manifesta-se por uma necessidade visceral de independência: seu anticonformismo, sua originalidade, sua excentricidade transformam-se facilmente em inadaptação. Tripudiando as normas, jogando as convenções e as rotinas nas lixeiras da história e dos caminhos do conformismo, este cosmonauta do nunca-visto pode ser um príncipe da desenvoltura. Seu anseio de inovação incita-o a refutar os limites do concebível, num contínuo turbilhão de concepções revolucionárias e fantasias futuristas. Quando a vida não permite que realize seus ideais, refugia-se num tipo de resignação, de aceitação dolorosa – matizada, nos melhores casos, por um senso de humor muito vivo. Peixes O décimo segundo signo do zodíaco marca ao mesmo tempo o fim do inverno e a última etapa do ciclo anual do hemisfério norte. É o derreter das neves e dos gelos, um brumoso dilúvio universal que dissolve os volumes e desagrega os contornos. Nesse mundo nebuloso e vagamente imaterial, o espírito não distingue mais nitidamente o que se conclui e o que recomeça. A Água mutável de Peixes é uma imensidade oceânica turva e glauca, em que as formas se dissipam e se fundem, à semelhança de uma boneca de sal no mar. No eixo Virgem-Peixes se exprimem as grandes polaridades que ligam o indivíduo ao coletivo, o racional ao irracional, o real ao virtual, o detalhe ao grande todo. É o microscópico (Virgem) e o telescópico (Peixes – aliás, numerosos astrônomos nasceram sob esse signo: Arago, Copérnico, Flamarion, Galileu...). O décimo segundo signo é governado pelo planeta netuno, que simboliza a intuição das profundezas, os dons de identificação, de inspiração, de receptividade, de mediunidade, mas também a confusão e a indiferenciação: estado de hipnose ou de sonambulismo, mística comunitária e utopias coletivistas. O signo desenvolve-se numa paisagem difusa e comatosa, em que as linhas se esfumaçam e as particularidades se desagregam. Eis porque Peixes sente-se sempre um pouco cidadão de lugar nenhum, ao mesmo tempo em que assume as cores e as máscaras do momento. Sua prodigiosa maleabilidade torna-o influenciável, impressionável, sensível a todas as correntes que passam, com uma dificuldade de escolher e uma repugnância em envolver-se que não lhe facilitam de modo algum a existência. Sua necessidade de fusão e de efusões pode leva-lo ao sacrifício ou à negação de sua própria personalidade. Essa constante falta de resolução e essa liquefação das estruturas o mantêm num comportamento evasivo, titubeante. Parece procurar dissolver a si mesmo para sentir realmente ser. Seu problema essencial é salvaguardar ou realizar uma certa unidade interior. Nadando sem parar entre duas águas, sem referência concreta, vive em osmose, sucumbindo facilmente à sugestão, incorporando os modismos, esquivando-se diante dos problemas e fugindo aos obstáculos. Em caso de perigo imediato, refugia-se geralmente num mundo de ilusões e de visões interiores. Um caráter tão equívoco o predispõe à fabulação, às quimeras. De fato, seu ideal é tanto o de se deixar invadir, anexar a um estado de graça receptivo, resultando numa fusão com o invisível, como o de justificar sua passagem por esta terra tornando-se útil; tem, aliás, um vivo desejo de ser indispensável e possui uma faculdade excepcional de mergulhar nas profundezas de seu próprio ser, de onde pode trazer tesouros de intuição e imaginação. Sua própria fraqueza torna-se então uma força criadora inestimável, desde que não se entregue ao auto-sacrifício e à expiação masoquista. No tema de certos Peixes, o medo das tendências irracionais provoca um comportamento diametralmente oposto, uma mania de precisão lógica e uma violenta recusa de todo impulso romântico. Daí um sentimento de solidão e de exclusão. Realcemos que a flexibilidade característica de Peixes gera um excepcional oportunismo e os transforma, às vezes, em temíveis tubarões.