Diferentes Abordagens Em Terapia de Casal - Uma Articulação Possível

11
DIFERENTES ABORDAGENS EM TERAPIA DE CASAL: UMA ARTICULAÇÃO POSSíVEL? TEREZINIIA FERES-CARNEIRO (I) Pontiffcia Universidade Católica do Rio deJaneiro DEMANDA E INDICAÇÃO EM TERAPIA DE CA.s:li o compromisso da terapia é com a promoção da saúde emocional dos do casalenãocom a manutenção ou a ruptura do casamento. A rigidez @aesterllOtipia quase sempre caracterizam a patologia, enquanto a flexibilidade e a possibilidade de mudança apontam paraa saúde. Em algum! casos, a mudança de um. dos membros do casal em terapia, ou da interação conjugal, leva i1 ruptura do casamento. Em outros, é a rigidez e a impossibilidade de mudar que levam a tal ruptura. A terapia de casal pode serconsiderada comourn caso particular de tera- pia familiar. As indicações de terapia de casal, para LeJnaire (1982), estãosobretu- do relacionadas a certos tipos de funcionamento conjugal onde as codificações tomaram-se mais complexas entre os cônjuges que, ou funcionam de um modo simbi6ticoou fusional, ou, ao contrário, defendem-se intensamente de rudoque poderia ser uma ameaça de funcionamento simbiótico ou fusional. J:: o que leva om:as pessoas a brigarem e a ficarem agressivas a partir do momento em que expe- rimentam ternura ou desejo de felicidade fusional ou regressiva. Para estas pes50- as aparentemente tão trata-se de formações reativas muito marcadas Neuburger (1988), ao discurtir a questão da especificidade da abordagem terapêutica - individual, familiar ou de casal ressalta que não se pode falar de tal especificidade, sem se falar de especificidade da demanda. Para ele, a demanda é coostituida de elementos entre os quaiol figuram o sofrimento, o sintoma e a queixa. Na clfnica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente ao casal, sintomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casaL Lemalre(l987} mostraoomoa escolha entre terapia individual e terapia de casal não é sempre evidente. os que demandam terapia de casal para escapar a Doptode PUooIogioo Rua Cal. G6. Monlmo, 8 _ bloro D _ opto. 24m 22290-()!Kl-Riodo JoNliro·RJ

description

Texto a respeito da articulação de abordagens para a Terapia de Casal. Autor: Terezinha Feres-Carneiro

Transcript of Diferentes Abordagens Em Terapia de Casal - Uma Articulação Possível

  • DIFERENTES ABORDAGENS EM TERAPIA DE CASAL: UMA ARTICULAO POSSVEL?

    TEREZINIIA FERES-CARNEIRO (I) Pontiffcia Universidade Catlica do Rio deJaneiro

    DEMANDA E INDICAO EM TERAPIA DE CA.s:li

    o compromisso da terapia com a promoo da sade emocional dos ~mbros do casalenocom a manuteno ou a ruptura do casamento. A rigidez @aesterllOtipia quase sempre caracterizam a patologia, enquanto a flexibilidade e a possibilidade de mudana apontam paraa sade. Em algum! casos, a mudana de um. dos membros do casal em terapia, ou da interao conjugal, leva i1 ruptura do casamento. Em outros, a rigidez e a impossibilidade de mudar que levam a tal ruptura.

    A terapia de casal pode serconsiderada comourn caso particular de tera-pia familiar. As indicaes de terapia de casal, para LeJnaire (1982), estosobretu-do relacionadas a certos tipos de funcionamento conjugal onde as codificaes tomaram-se mais complexas entre os cnjuges que, ou funcionam de um modo simbi6ticoou fusional, ou, ao contrrio, defendem-se intensamente de rudoque poderia ser uma ameaa de funcionamento simbitico ou fusional. J:: o que leva om:as pessoas a brigarem e a ficarem agressivas a partir do momento em que expe-rimentam ternura ou desejo de felicidade fusional ou regressiva. Para estas pes50-as aparentemente to ~individualizadas", trata-se de formaes reativas muito marcadas

    Neuburger (1988), ao discurtir a questo da especificidade da abordagem teraputica - individual, familiar ou de casal ressalta que no se pode falar de tal especificidade, sem se falar de especificidade da demanda. Para ele, a demanda coostituida de elementos entre os quaiol figuram o sofrimento, o sintoma e a queixa. Na clfnica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente ao casal, sintomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casaL

    Lemalre(l987} mostraoomoa escolha entre terapia individual e terapia de casal no sempre evidente. H os que demandam terapia de casal para escapar a

    Doptode PUooIogioo

    Rua Cal. G6. Monlmo, 8 _ bloro D _ opto. 24m 22290-()!Kl-Riod o JoNliroRJ

  • um questionamento pe8wal individual e, neste caso, o terapeuta deve encaminh-los a terapias individuais. Mas, inver5amente, muitos terapeutas desconhecem ainda o aminho dlnko que a terapia de casal pode abrir para o tratamento de pessoasma1 individualizadas. Diantedasdisfunes individuais, que esto rela-donadas a um dima simbi6tko entre os 6njuges, os terapeutas, muitas vezes, indkam terapias individuais oomosoluopuaeste problema. Isto signifkarom-preend.er mal o sentido da ooluso inonsdente que presidiu fundao do asaI. PoriSID, muitas das terapias individuais so interrompidas prematuramente.

    Muitas vezes, apenas no casal que alguns sujeilo podem metabolisar um erto nmero de suas tendndas arcaias e regressivas, que ficariam sem vir tona, podendo se exprimir apenas de maneira patol6gka ou associaI. Diante do asal, o dnio tem um ac:esso privilegiado a uma mobilizao psfquica individu-aI, que fkaria inaessfvel.

    Para Eiguer (1984), a terapia de casal representa. muitas vezes, uma de-manda de um segundo e ltimo ritual de casamento. Assim,o terapeuta de casal estaria oJoado, pebl dinjuges, mais perto da lei do que do dese;o. Para este autor, as problemas ccujugais esto situados em re1aoaos dois universos pessoais dos parceiros, parte que no quer admitir a especificidade da outra. Seria um combate entre dois narci.!;ismos individuais.

    \Villi (1978) ressalta queoresultado mais importante da terapia de casal o oonhedmento da temtica fundamental do conflito ooIusivo vivido pelos o::nju-ges. Os paro::eitos. antes, emsuas pos;ies polarizadas, acreditam que no tinham nada emcomum. A terapia vai mostrar que, comsell5 problemas, estionomesmo barco. O que antes oonsideravam que os separava agora oque os une. O objelivo no tornar os temas fundamentais colusivos ineficazes, mas levar o casal a um equilfbrio livre e flexvel. So as posturas extreIrul5 rgidas, nas quais os cljuges se fixam, que tomam a relao menos saudvel. Se vividos com flexibilidade, os temas da coluso se OOlwertem em enriquecimento redprooo.

    Em Fres-Cameiro (1980), ressaltamos a relao entre sintomas apl"l!Senta-dos por crianas e dificuldades existentes nas relaes estabelecidas pelos seus pais, sobretudo enquanto asais. Para propiciar um dima familiar adequado ao desenvolvimento sadio das crianas preciso que os pais funcionem como o mode-Iode uma relaohomem-mu\her gratificante.

    Neste estudo, relatamos nossa experincia dnia no tratamento de oito casais de classe mdia, durante um perfododedois an.ao!.O tempomdiodeaten-dimento foi de oito meses, variando entre trs meses no mnimo e 1 ano e 8 meses no mximo. Cada casal foi atendido em sesses de urna horade durao. Seis casais tiveram duas sesses semanais e dois asais apenas urna sesso por semana. A anlise d08 dados clnicos obtidos atravs do tratamento dos oito casais mostra que embora cinco deles tenham vindo ao consultrio busc:ar ajuda para seus filhos,

  • que estavam com problemas de comportamento, tais problemas eram uma coose-q~ das perturbaes e dU'l conflitos existentes na relao do casal. Em apenas dois dos casos, os filhos precisaram ser vistos em sesses de avaliao familiar; e, em apenas um caso, um filho precisou ser posteriormente encaminhado para psicoterapia. O trabalho realizado ~ deixa concluir que na maioria das vezes os distrbios de comportamento apresentados pelas crianas encontram suas ra[zes na relao dos pais e que, quase sempre, suficiente uma interveno ao ruvel do casal para que haja uma remisso de grande parte dos sintomas apresentados pelos filhos.

    ABORDAGENS SlsrJ:MlCAS OU COMUNICACIONAlS EM TERAPIA DE CASAL

    Diferentemente da teoria psicanaltica,que teve suas ra{7.esnoirciodeste sulo, as teorias que influenciaram as fonnula6es te6ricas dos autares das esco-las sistmicas em terapia de famllia e de casal desenvolveram-se na segunda meta-dedo sculo. Em 1948, Wiener publicou o livro Cybamtics e, nadcada seguinte vrias cincias comeam a enfatizar os sistemas homeostticos com processos de retroalimentao (mecanismos de faodmck) que tomam os sistemrul auto-

  • lias com pacientes esquizofr!ni.cos. o, estudos de Batl!$On (1935) deram origem l caracterizao d .. comunicao por Wab;lawicl< ri aI. (1973) como simtrica ou complementar, a partir de nllaes baseadas na igualdade ou na diferenciao. Tanto os comportamentos complementares romoos simtriC05 podem ser apropri-ados, dependendo do ccntexto em que se colocam. O problema surge quando uma relao. se cristaliza numa destas classes, tomando-se rigidamente simtrica ou complementar.

    A famlia eo casal so visl:oll comosislemasequilibrados eoque mantm este equilbrio so as regras do funcionamento familiar e conjugal. Quando, por algum motivo, estas regras so quebradas, entram em ao meta-regras para nlsta-beJeceroequihbrio perdido.

    A terapia desenvolvida a partirdesteenfoqueenfatiza a mudana nosiste-ma familiar ecaljugal pela reorganizaodacomunicaoentreOl5 membrOl5. No se trata de trazer contedos reprimidos conscincia. O passado abandonado como questo central pois o foco de ateno o modo de comunicao das pessoas nomomentoatual.

    Os terapeutas comunicaciona.is seabstmde fazer interpretaes na medi-da em que assumem que novas experincias no sentido de um novo comporta-mentoque provoque modificao no sistema familiar ou caljugal- que geram mudanas. Neste sentido, so usadas prescries nas sesses teraputicas para mudar 015 padres de comunicao e prescries fora das sesses com o objetivo de encora}ar uma gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no sistema familiar e conjugal. H uma concentrao no problema presente e o comportamen-to sintomtico visto como uma resposta adequada ao comportamento comunica-tivoqueoprovocou.

    Nas abordagens sislmicas desta.caremOl5 a escola estratgica deJay Haley eaesccilaestruhlraldeSalvadorMinuchin.

    ESCOLA ESTRATGICA

    Para iialey (1979), o que caracteriza o sistema familiar e o sistema caljugal a lula pelo poder. O termo "estratgico" utilizado porele para descnlver qual-quer terapia em queo terapeuta realiza ativamente intervenes para resolver o problema. Para que uma terapia seja bem sucedida preciso que come

  • jetivas diferentes. Em segundo lugar, as diretivas so w;adas para intensificar o reIacionamerJtocomo terapeuta. E, finalmente, trno oo;envo deobterinfonnaes

    sobre~ paciente; e sobreoomo respondero 5 mudanas desejadas. A escola estratgica tambm identificada com o traballmde WeaklllJld,

    Fish, Watzlawicke Bodin que, em 1974, publicar .. m o artigo Brieflherapy:focusd problm. r.solutio", onde apresentam as idias fundamentais de seu trabalho, isto , focalium interacs comportamentais observveis no presente e intervem deliberadamente para alterar o sistema em andamento. Para estes autores, a brevi-dade no uma meta em si. embora traga vantagens prticas e E.'COl1micas; mas o que postulam que estabelecer limites de tempo no tratamento tem influncia posi-tiva tanto no terapeuta comono paciente

    Os tericos da escola estratgica apresentam alguns principias fundamen-tais doseu traballm teraputico: 1) a orientao franca para o sintoma; 2) a viso dos prublemas cumu dificuld~des de interao; 3) a visu dos problemas como uma super-nfase ou uma sub-nfase nas dificuldades do viver cotidiano; 4) a busca de resoluo dos problemas atravs da substituio dos padres de compor-Iarneflto;5) a utilizaude meios que podem parecer ilgicos para promovermu-danas; 6) o "pensar pequeno" focaliumdo o sintoma; 7) a adao de uma aborda-gem pmgmticana terapia: abordam-se as interaes e os porqus so evitadas.

    o principal terico da e:'ioCola estrutural Salvador Minuchin para quema famlIiawnsislemae ocasal umsub-sistemaquese definememEunodos limites deuma organizao hlerrquica. O sistema familiar diferencia-se e executa suas funes atravs de seus sub-sistemas.

    As fronteiras de um sub-sistema so lI5 regras que defmem quem participa eoomo participa de cada sub-sistema, epara que o funcionamento da famflia seja 4dequado, elas devem ser ntidas. Em algumas famllias tais fronteiras so muito rlgidas e em outras muito difusas. Estes dois extremos de funcionamento das fron-teiras so classificados respectivamente como "desligado" e como "aglutinado" e indicam reas de possveis patologias (Fres-

  • desempenhando o papel de lder; deve descobrir e avaliar a estrutura familiar ou CCIljUgal; e deve criar cirCUl'\!ltncias que permitam a trandormao desta estrutu-ra. Neste processo de reestruturao, o terapeuta ento age tanto como "diretor" quanto como "aror" no drama familiar. Como "diretor", ele cria Cen.ri05, coreogra

    fi~, d realce a temas e leva os membros da !amma ou do casal a improvisarem; como "aror", ele atua promovendo alianas ecoalizes, criando, fortalecendo ou enfraquecendo fronteiras, sempre tentando colocar desafios aos quais os memhr05 da fanl.ia ou do casal devem se "acomodar" para, com isto, "descristalizar" pa-dres transacionais desadaptativ05.

    As mudanas teraputicali na escola estrutural so provocadas pelas cha-madas operaes reestruturadoras. Minuchin (1982) descreve as seguintes opera-es de reestruturao: 1) efetivaiiode padres transacionais; 2) delintaiio de fronteiras;3) esaionamentodeestresse;4) distribuiodeta~;5) utilizao d05 sintomas; 6) manipulao dohumor;7) apoio ou orientao.

    ABORDAGENS PSlCANALfTlCAS OU PSICODINMICAS EM TERAPIA DE CASAL

    Nas abordagens psicanalfticas ou psicodinmicas das terapias de famflia e de casal h; uma nfa!e no passado, na histria, tanto como causa de um sintoma quanto como meio de modific-h. Para os te6rico!; destas abordagens, 05 sintomas apresentados peJos membros da famflia ou do casal so decorrl!ncias de experii!n-cias passadas que foram reprimidas fora da cooscillcia. Na maior parte das vezes, portanto, o mtodo teraputico utilizado o interpretativo e os tratamentos so de mais longa durao.

    Diferentes autores podem ser agrupados nas escolas psicanalticas ou psicodinmicas em terapia familiar e de casal. Destacaremos as propostas de Lily Pincus e Ouistopher Olre e de Alberto Eiguer e Andr Ruffiot.

    OCONTRATO SECRETO 00 CASAMEN7V:PINCUSEDARE

    Pincus e Dare (1981) baseiamseu estudo sobre o casamento em princpios gerais que so maneiras deencarar qualquer rclaci

  • casamento ofert'Ce, portanto, um campo particularmente feml aos mecanismos prc;etiVOli. Na escolha original do parceiro, a projeio josa um papel muito impor-tante na medida em que um se encontra apto e desejoso de a~itar e Muar, pelo menos em parte, algo daquilo que o outro necessita projetar nele.

    Tais esoolha.s podem ter aspectos profundamente teraputicos se cada um dos parceiros conseguir constatarnooutroaqueles aspectos desi mesmo que no conseguiu desenvolver. O usada projeono casamento niioapenas uma tenta-tiva de livrar-se de sentimentos indesejados ou de alguns aspectos dOM/f. Porque agora so vividos pela pessoa amada, tais sentimentos podem perder um pouco da ansiedade que (l)!;tumavam produzir e, com o tempo, podem at parecer aceitveis para retomar ao Il!lf. As vezes, $eJ\timenta'l ou aspectos do Sllf podem ser aceitos no parceiro mas no podem ser expressados diretamente pelo sujeito.

    Por outro lado, a mes.m.adinimicaque levou escolha originaL na tentati-va de resolver ansiedades, pode conduzir o cual a um crculo vicioso: o parceiro

    quep~ aspectos temerosos desi mesmonooutro podedis!lOciar-se, cada vez mais, f~ando assim o outro a express-los de maneira exacerbada e o resultado wnawnentode ansiedade para ambos_

    O segundoprinctpio que norteia a abordagem de Pincus e Dare, tanto no casamento como na.s relaes humanas em geral, que nos relacicnamentos dura-douros, considerados importantes pelos participantes, hli geralmente uma complementariedade das necessidades, anseios e medos que fazem parte da vida a dois. Este prindpio baseado no primeiro na medida em que deixa daro que o acordo que mantm a complementariedadeinconsciente e, geralmente, implica tambm o uso da pr~eio.

    O terceiro prindpioque norteia a abordagem destes autores sobre a relao

  • conta, ao longo de todo o processo teraputico, o resgate da histrica de cada cnjuge e da histria da relao conjugal norteada pela considerao dos quatro princfpiosacimadescritos.

    TERAPIA PSICANALlTlCA DE CAMIS: RUFFlOTE E/GUER.

    Andr Ruffiot e Alberto Eiguer so os principais representantes da aborda-gem psicanalfticlI de fam1li& e de casal tambm chamada de abordagem grupalista. Os desenvolvimentos tericos propostos por Bim (1965). Anzieu (1975) e Kaiis (1976) para os grupos teraputicos so aplicados pelos grupalistas clfnica do grupo fami-liar e do grupo COlljugal, emsiderando que o funcionamento psquico inconsciente destes grupos apresenta peculiaridades que os distingue do funcionamento do indi

    Vd~ Para os grupalistas, o casal ooncebido como uma estrutura com caracteris

    ticas prprias e intcracs peculiares Soem desconsiderar as particularidades dos indivfduos que o compem. Se, por um lado, o cnjuge funciona como um suporte real para oob;eto interno e nele so depositados os aspectos nardsicos do sujeito, por outro, ele no um objeto passivo e seu funcionamento tem conseqncias na rela-o.

    Ruffiot (1981) postula o calCeito de aparelho psquico familiar que Soe edifica na zona psfquica oI:&ura, indiferenciada, d06 diferentes mt!ffihros do grupo familiar e ressalta que a terapia familiarpsicanalftica trata tal aparelho e noos psiquismos individuais.

    Eiguer (1984) identifica trs organizadores da vida arojugal inoonsciente: a escolha de objeto roo momento da instalaio da relao amorosa, o eu conjugal e os fantasmas partilhados pelos membros do casal.

    O primeiro organizador, a escolha do parceiro, articulado ao complexo de &J.ipo de cada ~uge e tem um valor Soemelhante aodas formaes deoompromisso flsaIlscente, comoo sintoma ou o lapso. P

  • infcio do processo teraputico, da importncia de relatar seus scrthos nas sesses com o objetivo de tomar conscientes os vnculos que os unem e de retomar a interfantasmatizao psquica. Desde a primeira entrevista tamblS,menunciadaa regra da associao livre que aciona mecanismos regressivos pennitindo perceber o funcionamento do aparelho psquico do grupo familiar ou OOI1.juga1.

    A terapia psicanalftica de casal tem. portanto, como objeto de trabalho o inconsciente conjugal, mundo fantasrntioo compartilhado, assim como afetes, ten-ses e defesas comuns, Um de sew principais objetivos a percepo das foras iru:x:nscientes que originaram a relao, provocaram a escolha amoll)6a e contribu-ram para os atuais conflitos do casal. O trabalho clfnico pretende, a partir daf, resta-belecer a circulao fantasmtica e instaurar um novo equilibrio entre os vincuJos l'\IIl'Sooseoqetais.k:tambo'!rn.propostadaterapiare:l.u2irasidentifialespn::;etivas, transformando no dites em palavras, e restituindo a cada. cnjuge o que fora depo-sitadono outro, para que a relao deixe de ser, assim.. um sintoma das patologias individuais.

    A ARTICULAO DE DIFERENTES ABORDAGENS

    EmF~(1991),l"I!5saltamosqueadicotmniaquedivideocampo das terapias de farnllia e de casal- o modo de pensar sistmico e o modo de pensar psicanalrtico - , s vezes, tomada rigidamente por alguns autores considerados puristas de cada uma destas abordagens e que tal rigidez, ao invs de avanar a produo terica na rea e os desenvolvimentos tcnicos decorrentes desta produ-o, acaba por criar impasses te6rioo-tOlicos a partir de uma polmica que pode ser,muitasvezes,ccnsideradafalsa.

    Aps 23anO!! de trabalho clnico e de pesquisa com fanlias e casais, mar-cados, em alguns momentos, por influncias predominantemente sistmicas e, ef!! outros, por influncias predominantemente psicanalfticas, temos buscado, nos ltimos anos, refletir sobre a possibilidade de articulao, tanto ao Tvel terico quanto ao nivel prtico, das contribuies destes enfoques.

    Como vimO!! anteriormente, podemos distinguir na terapia familiar e de casal dois grandes enfoques: o interacional sistfunicoe o grupalista analftico. Al-guns terapeutas propem um trabalho numa abordagem sistmica pura, como Haley (1979),enquantooutros pretendem trabalhar numa abordagem psicanalti-ca sem nenhum suporte sistmico, como Ruffiot (1981) e Eiguer (1984). H,. entre-tanto, autores que tentam fazer uma sntese destas duas abordagens, no trabalho com farnflias e casais, como 1.emaire (1982.. 1984) e NicoIl(2j.

    (2) Nicoll6. A. M. (1'188). ~j r1ntir1rwr IkrA~In!, Nowll.lTu o,-mlqwt "''''' rJ~~ eI U Fo .. iU Roma: Mimoo.

  • ~ nesta possibilidade de sSntese, de articulao dos dois enfaque~, que estamos sobretudo interessados. s vezes, falta a algumas abordagalS psicanalti-cas conceber a famlia como uma unidade sistmica. indivisvel.A terapia familiar e de casal no ~ a terapia dos individuos que compem a fam11ia ou o casal, nem tampouco a terapia do indivduo em presena da farrlia ou docasa\. ~ essencial estudar a articulao entre o indivduo e seu grupo familiar e cOI1jugallevando em conta as descobertas mais significativas das abordagenssistmicas sem se tomar prisioneiro das teorias.

    Na ~rspectiva sistmica, h uma preocupao como comportamento e a busca de modific-lo, oque leva a wnadesatenoem relao aos processos psf-quicos subjacentes, enquanto na perspectiva psicanalftica h uma preocupao em expressar os desejos inconscientes que esto na origem d8 disfuno familiar e CUljUgal.

    Mas estas duas concepes tericas - e as prticas delas decorrentes - so obrigadas, uma e outra, a partir da comItalaode que o grupo familiar ou o seu subgrupo fundador - o casal- so grupos organizados, auto-regulados, com uma linguagem prpria, regras prprias de funciooamentoe mitos prprioo.

    Nicoll6fala de um "rigorelsticoH , quer dizer, de uma atitude que requer nas disciplinas psicolgicas, a intuio, a subjetividade do observador que so insubstihveis para oconhecirnento, quanclodiscutea possibilidade de articula-o dos dois enfaques em terapia familiar e de casal.

    Lemaire (1984) ressalta a necessidade de uma trlplice chavede leitura, no trabalho com famSlia e casal, que passa pelo intra-psquico, pelo sistmico-interacional e pelo social. Para ele, o mio, por exemplo, de o terapeuta conjugal compreender psicanaliticamente os fenmenos inconscientes das identificaes projetivas, que esto na base da coluso nardsica do casal, no deve impossibilit-lo de lanar mo de desenvolvimento te6rico-tcnicos das teorias sistmicas. Ele pode, ao mesmo, tempo trabalhar sobre a comunicao, as expresses paradoxais, o:s duplo-vnculos etc, sem estar impedido de levar em conta procesSU5 arcaiCO/! inconscientes que esto em jogo desde o estabelecimento da relao amorosa.

    Dependendo do tipo de demanda familiar e conjugal, pode-se escolher um referencial de compreenso mais sistmico ou mais psicanaltico. ~ importante esoolher um quadro de pensamento mas este no deve ser rgido. A viso sistmica ea viso psicanaltica no se excluem mutuamente.

    No se trata de 8firmar que um modelo ~ melhor que o outro ou que um grupo de!m a !Klluo, mas de poder atender a esta ou aquela famlia, a este ou aquele casal, na abordagem teraputica que melhor se adapte ao seu estilo e sua estruturapsioo16gica.

  • Referincias Bibliogrficu

    Anziortu,O.(I97.5).LtG,.,..,.tfrr_~I.p.rio:D.tnod Bat....,n, C. (193.5). Cultur. ~onttlct and och.iomog."""I. MIm. 35, 178-183. BoI .. on, C.; j.~bon, O.; H.I.y, I . Wukl.nd, I. (1956). Toward Iheory of ochi~oph",nio.

    Bt/rJ>l1ioTlll~,1,2.51-264. &rtalanffy, L. V. (1973). To ..... Gmrl"" 5"1 ....... Rio do janeiro: Vozeo

    Bion.W.R.(I965).R/wrcIIa".,.leoPtfill~t1.~t"".rtId",.P."-'PUf. Eiguu,A.(1984).u.ThIl"pioPsyd\.ollllitfl'luCourl . P.ri.:Dunod

    f~.rn.;ro,T.(1980).P.icot~ropi.doca .. I:.noI.'oconjugol uur.p""lIl\t.l'>oono comporl""",nlod .. filhoo .... "I"I>o. lI ... ilt"'"