DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ
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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA
VICTOR FALCÃO DA VERA-CRUZ
GIANFRANCO GATINHO SANTOS
DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ
Data de Defesa: ___/ ___/ ___
Conceito: ________________
Banca Examinadora
___________________________________Prof. orientador:
_____________________________________Prof.: Co-orientador
_____________________________________Prof.
_____________________________________Prof.
Dedicamos este trabalho aos professores e demais
funcionários da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Suely Falcão, que sempre contribuíram para a realização
deste trabalho, nunca se negando a qualquer de meus
pedidos.
Aos demais professores que dedicaram um pouco de seu
tempo para me auxiliar na produção deste trabalho.
E principalmente aos meus alunos que mais uma vez me
ensinaram mais do que vos ensinei. Sem o aluno não
existiria professor, muito menos este trabalho.
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora Profª. Ermelinda Nóbrega de Magalhães
que sempre esteve ao meu lado, me ajudando nos momentos
mais difíceis, que me fez acreditar que esse trabalho era
possível e que apesar de todos os problemas sempre
“arranjou um tempinho” para se dedicar a mim que nem
sempre mereci tal atenção. A minha co-orientadora Profª. Drª.
Maria de Fátima Vilhena da Silva que mesmo sem me
conhecer confiou no meu trabalho e foi de fundamental
importância nesta produção. Aos meus pais Raimundo Antônio
Falcão da Vera Cruz e Maria de Lourdes Falcão da Vera Cruz
que me iniciaram, mantiveram e até hoje fornecem a boa
educação que tenho, pois sem o aprendizado e a educação
que obtive com os meus pais, provavelmente eu seria apenas
mais um na multidão. A minha noiva e futura esposa Camila
Carrera de Rezende, que por mais difícil que seja admitir, devo
concordar que o homem é a cabeça, mas a mulher é o
pescoço, ela por muitas vezes me guiou para o caminho certo.
Agradeço a todos os meus professores, pois sem eles sei que
não chegaria até aqui. Não poderia esquecer de agradecer a
Deus por tudo que me proporcionou e por tudo que permitiu
que eu alcançasse.
Victor Falcão da Vera Cruz
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que colaboraram e acreditaram na realização
deste trabalho, especialmente as professoras Ermelinda
Nóbrega de Magalhães e Maria de Fátima Vilhena da Silva e
as Instituições que contribuíram para tornar realidade a nossa
pesquisa.
Gianfranco Gatinho Santos
Escola é......O lugar onde se faz amigos,
Programas, horários, conceitos...Escola é, sobretudo gente...
Gente que trabalha, que estuda,Que alegra, se conhece, se estima.
O Mantenedor é gente,O Diretor é gente,
O Professor é gente,O Aluno é gente,
Cada Funcionário é gente.E a Escola será cada vez melhor,
Na medida em que cada um se comporteComo colega, amigo, irmão.
Nada de ilha cercada de gente por todos os lados,Nada de conviver com pessoas e depois descobrir que
Não tem amizade a ninguém,Nada de ser como tijolo que forma parede
Indiferente, frio, só.Importante na Escola não é só estudar, trabalhar,
É também criar laços de amizade,É criar ambiente de camaradagem,
É conviver e se “amarrar nela”.Ora, é lógico...
Numa Escola assim vai ser fácilEstudar, trabalhar, crescer,
Fazer amigos, educar-se, ser feliz!É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo!
Paulo Freire
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido em uma turma de 4º etapa da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Suely Falcão, localizada no município de
Marituba/PA proporcionada pela disciplina Vivência na Prática Educativa que nos
encaminhou ao estágio supervisionado obrigatório e nos despertou o interesse em
conhecer como se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem de Ciências
em classes de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), de Ensino Fundamental.
Oportunizou também refletir sobre a ação de ensinar com vistas à melhoria da
qualidade da ação docente, redimensionando concepções na busca de novos
enfoques sobre a compreensão da prática docente e dos conteúdos dos
professores. Tais buscas nos levam a (re) pensar uma formação de professores que
possa diminuir o “abismo” entre teoria e prática e que oportunize esse profissional a
desenvolver suas atividades, não somente em nível profissional como também
pessoal dentro das instituições escolares cuja tendência reflexiva pode ser encarada
como um novo paradigma na formação de professores. O objetivo deste trabalho
está consubstanciado a essa idéia e relatam resultados obtidos de práticas teórico-
metodológicas desenvolvidas na escola na disciplina Ciências. Também analisamos
os resultados à luz de um referencial teórico que subsidiou nossa pesquisa, nos
incentivando a contribuir com propostas metodológicas que incentivem docentes que
trabalhem com esta modalidade de ensino favorecendo aos discentes uma
aprendizagem mais significativa, com um olhar diferenciado para este público,
acolhendo de fato seus conhecimentos, interesses e necessidades de
aprendizagem, contemplando temas como cultura, relações sociais, necessidades
dos alunos, meio ambiente, cidadania, trabalho e exercício da autonomia.
PALAVRAS-CHAVE: EJA, Aprendizagem Significativa, Formação docente,
Ciências.
ABSTRACT
This work was developed in 4th level class of Municipal Elementary School
Suely Falcão, located in Marituba/Pa, proportioned by discipline Life in the Education
Practice, which guides to the obligated supervised probation and make up our
interest to discover how happen the teaching process and learning of chemistry in
classes of teen and adults in the elementary school. It gave us the chance of thinking
about the action of teaching, trying to increase the quality of the education, to create
a new structure, looking for new focuses about the understanding of the practice and
the teacher’s subject. That search makes us think about one teacher’s graduation
which can reduce the abyss between the theory and the practice and permit that
workers developed their activities, not only in a work level, but in a personal to, in
side of the school which reflexives tendencies can be faced like on new paradigm in
the teacher education. The objectives of this work are based on this idea and relate
results obtained from practices theory–methodology, developed in the school, in the
chemistry class. The results were analyzed in the light of one theory reference which
subsidies our research, encouraging us to make a methodology proposal which
stimulate the teacher that works with this kind of education, favoring to the students
with a more significant education, with one different look to their public, using their
knowledge, concern and education request, contemplating themes as culture, social
relationship, requests, environment, citizenship, work and autonomy’s exercise.
KEYWORD: EJA, significant education, education of educator and
chemistry.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10
1.1. JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 13
1.2. SITUAÇÃO PROBLEMA ......................................................................... 14
1.3. OBJETIVOS ............................................................................................ 15
2. METODOLOGIA......................................................................................... 16
2.1 O CENÁRIO ........................................................................................... 16
2.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA............................................................... 23
2.3 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS ...................... 30
3. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL ....................... 33
3.1 PRINCIPAIS ELEMENTOS HISTÓRICOS ............................................. 33
3.2 A SITUAÇÃO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS ............................................. 34
4. O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE
CIÊNCIAS....................................................................................................... 38
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 44
5.1 NA VISÃO DO EDUCADOR .................................................................. 44
5.2 NA VISÃO DO ALUNO .......................................................................... 47
6 SUGESTÕES METODOLÓGICAS ....................................................... 49
6.1 BIOLOGIA .............................................................................................. 51
6.1.1 CITOLOGIA ...................................................................................... 51
6.1.2 CORPO HUMANO ............................................................................ 53
6.2 QUÍMICA ................................................................................................ 54
6.3 FÍSICA .................................................................................................... 56
6.4 A LEITURA ............................................................................................. 57
6.5 AVALIAÇÃO ........................................................................................... 57
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 59
REFERÊNCIAS
ANEXOS
APÊNDICES
10
1. INTRODUÇÃO
A priori objetivamos analisar a educação de jovens e adultos em nosso país,
assunto continuamente posto em segundo plano. Há necessidade de se estabelecer
uma nova prática para educação de jovens e adultos que, antes de tudo, crie um
vínculo de parceria entre estados, municípios, universidade e educadores que atuam
nessa área.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) surgiu devido a um déficit na
educação de pessoas que já passaram da idade para participar do sistema de
educação regular, deve-se fornecer agora as oportunidades do foi negado no
passado.
Inicialmente, consideramos importante contextualizar a situação do índice de
analfabetismo no Brasil. Com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostragem
por Domicílios feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
1996, verifica-se a seguinte realidade: o índice geral é de 14,7% analfabetos, o que
corresponde a 16 milhões de brasileiros e brasileiras desprovidos da capacidade de
ler e escrever. Em outra pesquisa por amostragem, feita em 2004, esse índice foi de
11,4%, sendo, regionalmente assim constituído: Norte, 11,6%; Nordeste 28,7%;
Sudeste, 8,7%; Sul 8,9% e Centro-Oeste, 11,6%. Esses dados permitem que se
enxergue com clareza onde está a maior concentração de analfabetismo no nosso
país, que é na região Nordeste, 28,7%. Quase 1/3 do universo nacional de
analfabetos que; na verdade concentram-se nos bolsões de pobreza e de miséria. E
os números aumentam em relação àqueles que não conseguem compreender a
palavra escrita – os analfabetos funcionais, os que chegam a aproximadamente 65
milhões de pessoas, cerca de 24,4% de brasileiros e brasileiras.
11
Para minimizar essa situação é necessário mais investimentos na Educação
Básica a fim de que possa melhorar a qualidade de ensino. Os dados atuais indicam
96% das crianças e jovens na escola na idade própria, no entanto continua havendo
reprovação, evasão e até problemas mais graves, como crianças da 4ª e 5ª séries
que não sabem ler e escrever. Isso requer investimentos na qualificação do
professor logo, o trabalho das Universidades é muito importante no que diz respeito
a formação continuada, a formação em serviço, a capacitação, como também a
preparação adequada no momento da formação inicial do professor.
Quando se pensa na educação de jovens e adultos, a situação é muito mais
grave, porque o professor sequer tem formação para atuar com esses alunos
adultos sem escolaridade ou com pouca escolaridade, mas possuem uma bagagem
cultural, um saber que já construiu, com o qual alguns professores não sabem como
lidar. É um engano supor que o professor devidamente preparado para atuar com
crianças tem condições de receber uma turma de adultos e sair-se bem a não ser
que ele próprio busque novos saberes docentes para enfrentar o desafio posto.
Embora as realidades regionais, de geração e de gênero sejam diferentes
em termos de analfabetismo, é possível identificar alguns pontos em comum. Mas
cada localidade e cada comunidade necessitam encontrar a sua forma de lidar com
o problema. É nesse contexto que propomos a seguinte pesquisa.
A presente pesquisa surgiu do interesse em conhecer como se desenvolve o
processo de ensino e aprendizagem de Ciências em classes de Ensino de Jovens e
Adultos (EJA), de Ensino Fundamental, bem como, identificar de que maneira o
conteúdo de Ciências vem sendo trabalhado em classes tão heterogêneas ao
comparada com uma classe do ensino regular na escola publicam, na pesquisa
apontada por GADOTTI & ROMÃO (2001:32):
12
No mínimo, esses educadores precisam respeitar as condições culturais do jovem e do adulto analfabeto. Eles precisam fazer o diagnóstico histórico econômico do grupo ou comunidade onde irão trabalhar e estabelecer um canal de comunicação entre o saber técnico (erudito) e o saber popular.
A instituição escolar escolhida foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental
Suely Falcão, localizada no Bairro Residencial Almir Gabriel, município de
Marituba/Pa. A escola encontra-se em uma área de risco, com alto nível de
marginalização e os alunos apresentam como agravante o fato de possuírem mais
de 15 anos e estarem ausentes dos bancos escolares há longo tempo.
Durante o processo de observação podemos constatar que não existe um
tratamento diferenciado para tais alunos que se apresentam em uma situação tão
debilitada. Baseando-se nos discursos de Paulo Freire (1921 a 1997) e Piaget (1896
a 1980), os quais afirmam que a educação deve ser retirada do cotidiano do aluno
nos sentimos estimulados a estudar o quadro sócio-econômico desses alunos para
tentar suprir tais necessidades.
Este trabalho visa auxiliar aos professores de ciências e a todo e qualquer
profissional que venha a trabalhar com essa clientela. Visto que:
Conhecendo as condições de vida do analfabeto, sejam elas as condições objetivas, como o salário, o emprego, a moradia, sejam condições subjetivas, como a história de cada grupo, suas lutas, organização, conhecimento, habilidades, enfim, sua cultura. Mas, conhecendo-as na convivência com ele e não apenas “teoricamente”. Não pode ser um conhecimento apenas intelectual, formal. O sucesso de um programa de educação de jovens e adultos é facilitado quando o educador é do próprio meio. (GADOTTI & ROMÃO, 2001, p.32).
13
1.1 JUSTIFICATIVA
Ao nos depararmos em uma sala de aula temos consciência da diversidade
de pessoas e as necessidades diferenciadas de cada aluno. Neste momento que
todo o nosso conhecimento é colocado à prova, e nos damos conta que temos muito
a aprender, pois a cada turma, novas problemáticas são descobertas e nem sempre
o professor está preparado para enfrentá-las de imediato. Muitas dessas
dificuldades nunca ou pouco foram discutidas em um banco de Universidade,
principalmente quanto à prática pedagógica na EJA.
Durante o estágio obrigatório da disciplina de Vivência na Prática Educativa,
de acordo com o Projeto Vivência na Prática Educativa observarmos os alunos da
quarta etapa da E.M.E.F. Suely Falcão, Localizada no Bairro Almir Gabriel, na
cidade de Marituba-PA e pudemos perceber que eles se encontram em uma
realidade completamente diferente das apresentadas durante nossa formação em
sala de aula. Vimos que os alunos da EJA não apresentam os pré-requisitos
exigidos pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases) ou pelos PCNs (Parâmetros
Curriculares Nacional) e apresentam problemas, os professores por sua vez têm
dificuldades em avaliar um aluno que afirma não ter tempo para estudar, nem fazer
trabalhos ou qualquer outra atividade extra-classe, nunca antes estudados em sala
de aula. As dificuldades e dúvidas só aparecem no exercício da profissão pois, é
difícil responder a uma pergunta que ainda não foi feita. Pergunta e respostas só
surgirão durante o cotidiano pedagógico do professor, em sala de aula.
Segundo Paulo Freire (1921 a 1997), a matriz curricular de um aluno deve
ser tirada de seu próprio cotidiano, desta forma, nos encorajando a estudarmos o
quadro sócio-econômico desses alunos para investigar se existe relação entre eles e
14
possíveis dificuldades no processo ensino aprendizagem e a partir dessa
investigação propor métodos e técnicas alternativas para redução dessas possíveis
dificuldades.
1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA:
Constatamos durante nossa pesquisa de campo, que os alunos da quarta
etapa da E.M.E.F. Suely Falcão apresentam visíveis dificuldades no aprendizado,
podendo estar relacionadas a vários fatores determinantes os quais nos
incentivaram a investigar e desvelar as possíveis situações que possam estar
contribuindo para o desinteresse e dificuldades encontradas por esses alunos. Estes
problemas motivam a busca de respostas para as seguintes questões:
1- Até que ponto o trabalho prejudica o aprendizado do aluno?
2- Os alunos têm consciência de que seu aprendizado depende também de
seu compromisso e força de vontade?
3- De que maneira o professor poderá auxiliar o aluno a melhorar o
aprendizado?
15
1.3 OBJETIVOS
GERAL: Investigar dificuldades e avanços na Educação de Jovens e
Adultos de uma Escola Pública em Marituba-Pará e sugerir estratégias motivacionais
que contribuam para uma prática reflexiva que favoreçam uma aprendizagem
significativa.
.ESPECÍFICOS:
a) Identificar quais as principais dificuldades que contribuem para que o
aluno de EJA deixe a escola em segundo plano
b) Sensibilizar os discentes da importância do compromisso deles com
aprendizagem escolar;
c) Sugerir metodologias de ensino de Ciências (a partir dos PCN’s) que
favoreça uma aprendizagem mais contextualizada e significativa.
16
2. METODOLOGIA
Para realização deste trabalho optamos por uma pesquisa de natureza
qualitativa (parte onde será feita a interpretação dos dados obtidos) e quantitativa
(parte da pesquisa que tratará dos números puros), incluindo um levantamento mais
detalhado das condições educacionais dos alunos de EJA.
2.1 O CENÁRIO
A ESCOLA
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Suely Falcão, esta em seu
terceiro ano de funcionamento, com quatro turnos, manhã, intermediário, tarde e
noite, Nos três primeiros turnos conta com apenas turmas de 1º a 4º série e no turno
da noite as turmas da EJA que vai da primeira até a quarta etapa. Desde sua
fundação é dirigido pelo Professor Álvaro Augusto Maia da Silva.
A escola dispõe de dez salas de aula, uma diretoria, uma secretaria, sala de
professores, uma copa, sala de leitura, sala de informática e uma quadra de areia.
Possui setenta e cinco funcionários.
As salas de aula apresentam uma boa estrutura, com quadro magnético e
ventiladores, no entanto, em algumas salas existem ventiladores com defeito.
A escola tinha a sua própria máquina de xerocópia; dois televisores; um
DVD player; dois vídeos; um retro projetor e oito computadores, sendo um da
secretaria, outro da direção e seis na sala de informática; um ar-condicionado na
sala de informática e uma caixa amplificadora. No entanto, no dia 11 de abril de
17
2006 a escola fora vítima de um assalto onde todos os equipamentos citados acima
foram roubados, com exceção da caixa amplificadora e do ar-condicionado.
Após a festa junina de 2006, utilizando em parte o dinheiro arrecadado na
mesma e o dinheiro arrecadado com a copiadora (alugada) da escola, o diretor já
conseguiu comprar dois novos DVD, duas televisões, 21 instrumentos musicais para
a formação da banda marcial, um computador, um CD player e um retro-projetor.
No turno da noite existe uma turma de 1º etapa, duas turmas de 2º etapa,
três turmas de 3º etapa e quatro turmas de 4º etapa. Contamos com a presença
constante da Vice-Diretora Silvia Patrícia Clarindo Ferreira e do auxiliar
administrativo Raimundo Flávio Vicente da Silva. A escola possui uma orientadora
pedagógica chamada Luzanira de Fátima Cruz Padilha e um secretário chamado
Vitor Sergio Dagort, porém esses só podem ser encontrados na escola nos três
primeiros turnos.
A escola conta com três professores de educação geral, sendo um para a
primeira etapa e uma para cada uma das segundas etapas, uma professora de
história, uma professora de geografia e um professor de ciências, esses são
responsáveis por ministrar suas disciplinas em todas as terceiras e quartas etapas,
uma professora e um professor de matemática, que respectivamente são
responsáveis pela terceira e quarta etapa e duas professoras de português que se
dividem entre as terceiras e quartas etapas totalizando dez professores.
No ano de 2006 a escola criou uma “creche” para os filhos dos alunos, ela
funciona no turno da noite. Durante as aulas as mães deixam as crianças sobre os
cuidados de uma professora que fica com as crianças na sala de leitura, contando
18
histórias, fazendo brincadeira e jogos. Essa foi uma iniciativa do Diretor ao constatar
que muitas alunas estavam pensando em abandonar a escola por não ter ninguém
para cuidar de suas crianças enquanto elas estivessem estudando.
No ano de 2005 a escola iniciou o seu ano letivo com noventa e três alunos
matriculados nas quartas etapas e no final do ano apenas 41% conseguiram concluir
o seu ensino fundamental. Tendo 47% de abandono e 12% de reprovação.
No início do ano de 2006 a escola matriculou cento e cinqüenta alunos nas
quarta etapa e durante um levantamento feito no mês de agosto deste ano
percebeu-se que trinta e três alunos haviam abandonado a escola (22,25%),
sessenta e quatro alunos possuíam média inferior a cinco, ou seja, se continuassem
assim ao final do ano estariam reprovados (43,75%) e com isso apenas cinqüenta
alunos estariam com notas superiores a cinco (34%).
O local escolhido para estudo foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental
Suely Falcão (E.M.E.F. Suely Falcão), localizada na Rua Antônio Armando, no bairro
Residencial Almir Gabriel em Marituba/PA. A escola apresenta aproximadamente mil
e setecentos alunos e setenta e cinco funcionários, distribuídos em quatro turnos
(manhã, intermediário, tarde e noite). Os professores da escola em sua maioria
apresentam apenas o curso de Magistério, alguns poucos estão cursando um curso
superior ou já o concluíram. A pesquisa tem como foco a Educação para Jovens e
Adultos, turno da noite.
HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO
No dia 29 de julho de 1997 um grupo de duas mil e quinhentas pessoas,
distribuídos em 184 famílias, ocuparam o Ginásio de Esporte Municipal de
19
Marituba*, localizado na praça matriz ao longo do km 12 da BR 316. Esse grupo
reivindicava a posse de uma área, localizada as margens do km 16 da Br 316, que
na época era chamada de Fazenda Santo Amaro. Esse território pertencia a Manoel
Pinto.
No dia 15 de agosto de 1997 as pessoas deixaram o Ginásio em uma
caminhada até a Fazenda Santo Amaro e nesta data iniciou-se a ocupação. No dia
27 de agosto de 1997 foi feito uma assembléia, onde fora escolhido o nome do
assentamento, tendo como opções para serem votados Santo Amaro e Che-
guevara que venceu com uma diferença de apenas 5 votos.
Nesse período a comunidade contratou um topógrafo para fazer a
organização do assentamento, isso garantiu ao bairro uma característica exótica ao
de uma invasão, pois ela apresenta uma malha urbana organizada. Neste momento
ficou acordado que os terrenos em sua maioria teriam 300 m² de extensão, com
exceção de alguns poucos terrenos que ficaram maiores para acompanhar a
curvatura da BR.
O bairro de início possuía oitenta e quatro lotes agrícolas que apresentavam
1000 m², no entanto, esses lotes nunca chegaram a cumprir com o seu objetivo
encontrando-se hoje abandonado, três desses estão favelizados, foram divididos em
terrenos de 200 m² e vendidos ou distribuídos entre os familiares, deixando de ser
agrícolas passando a fazer parte do setor urbano.
20
Após essa divisão territorial a coordenação, em reunião, deu um prazo para
a completa fixação dos proprietários da terra, aqueles que ultrapassassem esse
prazo perderiam o direito a terra que seria repassada para uma outra família, que
chegara ao assentamento após a ocupação, e que se encontrava em uma lista de
espera.
Durante esse processo o atual deputado Babá foi contatado e em uma
demonstração de apoio no sentido de ajudar a organização passou vinte e quatro
dias hospedado na comunidade.
No mandato do Prefeito Fernando Correia (1996 a 2000) fora criado um
projeto de lei que mudaria o nome do bairro para Residencial Almir Gabriel. O
vereador Alberto Campos, o qual não havia conseguido a re-eleição, fez um acordo
com o atual Prefeito Antônio Armando, que na época (novembro e dezembro de
2000) já se encontrava eleito. Nesse acordo o vereador deveria apoiar a mudança
do nome, de maneira que ela acontecesse antes do término do ano e com isso
Antônio Armando ao tomar posse daria a Alberto Campos à secretaria de Cultura,
Lazer e Esporte e assim foi feito. Ainda em dezembro de 1999 Che-guevara passou
a se chamar Residencial Almir Gabriel.
Após a homologação da lei que mudava o nome do bairro o problema foi
com a comunidade e com a CTEBEL, pois após alguns dias da homologação a
empresa de ônibus que circulava pelo bairro fez a mudança em sua placa, no
entanto, no dia seguinte teve que voltar a utilizar o nome de Che-guevara, pois os
moradores apedrejaram vários ônibus em forma de protesto e a CETEBEL, que na
época estava sobre o domínio do prefeito Edmilson Rodrigues, não autorizou a
21
mudança na linha de ônibus. Somente no primeiro mês de 2004, com a posse do
Prefeito Duciomar Costa é que a empresa de ônibus recebeu a autorização para
circular utilizando o novo nome do bairro.
Atualmente o bairro apresenta o seu índice de infra-estrutura próximas do
zero, pois não apresenta pavimentação, saneamento básico, água encanada, possui
apenas um posto de saúde e uma escola de nível médio.
As poucas ruas que se encontram em boas condições de circulação de
automóveis, só estão assim graças a duas empresas de ônibus Nossa Senhora do
Carmo e Izabelense, que devido às suas próprias necessidades fizeram à drenagem
e deram à base necessária para que depois a prefeitura pudesse fazer o
asfaltamento das duas principais avenidas do bairro, o restante continua na piçarra.
Devido a ausência de água encanada dentro da comunidade, desenvolveu-
se um sistema onde uma pessoa, com boas condições financeiras, cava um poço e
compra uma bomba e começa a comercializar a água para seus vizinhos, por
valores que variam de R$ 20,00 a R$ 50,00 reais mensais. Esse é um sistema muito
lucrativo, pois devido muitas denúncias de cobrança indevida contra a Rede Celpa,
que nada fez hoje mais de 90% da comunidade não paga energia elétrica, utilizando
o chamado “gato de energia”.
Hoje o bairro do Che-Guevara, como continua sendo chamado pelos
moradores, ainda é um “bairro dormitório”, onde a grande parte de sua comunidade
economicamente ativa trabalha como doméstica secretária do lar, funcionalismo
público, autônomos e construção civil (pedreiro), os principais pólos de trabalho são
Belém e em segundo lugar Ananindeua. Esses trabalhadores normalmente não
22
apresentam nem um vínculo empregatício e recebem em média R$ 500,00 reais
mensais.
Uma característica histórica muito marcante que nos dá o embasamento
para classificar o bairro como sendo um bairro dormitório é que antes da entrada de
uma linha de transporte urbano, a efetiva fixação só ocorrera às margens da BR,
pois esses moradores caminhariam até a BR para pegar ônibus que faziam a
circulação em Benevides, Benfica e outras localidades. Após a entrada de uma
empresa de ônibus, no bairro, a fixação foi se interiorizando, hoje atingindo
aproximadamente 5 km.
Em uma pesquisa antropologia, feita pela Professora Maria Cristina Brito
Pinto, o nível de desemprego no bairro fica a baixo dos 35%, a primeira gravidez
ocorre entre os quatorze e os quinze anos e o nível de instrução do bairro em sua
maioria é Fundamental Incompleto, onde os pais apresentam o que antigamente era
chamado de primário completo (1ª a 4ª série do ensino fundamental) e os filhos vão
um pouco além alcançando até em média a 6ª série.
De acordo com os resultados da nossa pesquisa obtidos através do
questionário, passado aos alunos, 65% dos pais apresentam o ensino fundamental
incompleto, 13% são analfabetos, 13% tem ensino médio completo e apenas 6%
têm nível superior, 3% não respondeu a pergunta.
23
2.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA
OS ALUNOS
A pesquisa fora realizada com os alunos da quarta etapa da EJA, quarta
etapa (correspondente a sétima e oitava série do ensino regular), que somam um
total de aproximadamente cento e vinte alunos na faixa etária entre 12 a 54 anos,
distribuídos em quatro turmas.
No universo de aproximadamente 250 alunos, que responderam o
questionário, 55% são do sexo feminino e 45% do sexo masculino. A maioria se
insere na faixa etária de 16 a 20 anos. Apenas 35% são solteiros (viúvos,
divorciados ou abandonados) e 42,5% ainda são casados e 22,5% não responderam
a pergunta, 57% dos alunos apresentam um ou dois filhos.
Quanto à disciplina que consideram mais fácil de aprender é História e a
mais difícil é Ciências como nos mostra a tabela 2:
TABELA 2 O GRAU DE DIFICULDADE NA OPINIÃO DOS ALUNOS
Matéria Mais fácil (%) Mais difícil (%)
Língua Portuguesa 13 13
Matemática 7 30
Ciências 2 45
História 46 3
Geografia 32 9
24
De acordo com a tabela 2, a disciplina que os alunos encontram maior
dificuldade é Ciências, seguida da matemática. Isto pode ser explicado porque nas
aulas de ciências é comum o uso de matemática. Em diversos momentos, os
professores afirmaram que os alunos compreendem o conteúdo de Ciências, porém
erram a resolução por não saberem efetuar uma multiplicação ou uma divisão.
Quanto ao desempenho nas atividades que exige leitura de textos, a maioria
dos alunos não gostam e poucos conseguem alcançar o objetivo almejado. Os que
responderam negativamente justificam de diferentes maneiras, tais como: “isso é
muito chato”, ou “já não basta a professora de Português”, no entanto podemos
perceber que eles apenas tentam fugir de uma das principais dificuldades
apresentadas a da leitura e da escrita. Os alunos da 4º etapa da E.M.E.F. Suely
Falcão, apresentam dificuldades no aprendizado, possuem grandes limitações na
leitura e na escrita, alguns não chegam ao menos a produzir um texto compreensivo.
O número de alunos empregados supera o de desempregados. A maioria
(80%) são funcionários assalariados, sem vínculo empregatício, eles desempenham
atividades como: domésticas, construção civil (pedreiro e ajudante de pedreiro),
serviços gerais em empresas e poucos são autônomos.
A partir dos questionários verificamos que os alunos da EJA dedicam certo
tempo ao trabalho que varia de 6 a 10 horas diárias, evidenciando uma das
dificuldades que os alunos enfrentam para se dedicar aos estudos, e mesmo
freqüentar às aulas. A média de idade que esses alunos começaram a trabalhar foi
entre 15 a 17 anos em que deveria estar cursando entre o 1º ou o 3º ano do ensino
médio. 76,5% afirmam que não tem muito a reclamar do trabalho, afinal eles não
apresentam muitas opções; afirmam também que voltaram a estudar na tentativa de
25
conseguir melhoraria de vida, conseguir um emprego melhor. Outros declararam ter
voltado a estudar, porque os seus filhos estavam estudando e quando eles faziam
alguma pergunta sobre o dever da escola, os pais se sentiam envergonhados em
não saber responder. 92% responderam que costumam utilizar o seu tempo livre
assistindo televisão, principalmente as novelas. Inclusive é comum ouvir dos alunos
que estão saindo mais cedo da aula: “bora logo que ainda dá pra pegar a novela!”.
Dentre os alunos, 98% são moradores do bairro, 62% afirmaram que
passaram de um a cinco anos fora da escola, onde 25% abandonaram devido ao
trabalho; 25% aos filhos, 10% à falta de interesse, 10% por viajar muito, 2,5% o
casamento e o restante não responderam à pergunta.
Os gráficos de 1 a 5 demonstram mais resultados obtidos a partir dos
questionários.
26
MÉDIA DE IDADE
1; 2%
21; 49%
6; 14%
5; 12%
4; 9%
2; 5%
4; 9% 10 a 15
16 a 20
21 a 25
26 a 30
31 a 36
36 a 40
não respondeu
Gráfico 2: Média de Idade dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005
TEMPO DE TRABALHO DIÁRIO EM HORAS
9; 23%
2; 5%
9; 23%8; 20%
2; 5%
10; 24%4 a 6
6 a 8
8 a 10
10 a 12
12 a 14
não trabalha
Gráfico 1: Tempo de Trabalho Diário em Horas dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005
27
RENDA FAMILIAR MENSAL EM REAIS
26; 64%7; 17%
1; 3%
1; 3%
3; 8%
2; 5%
0 a 900
901 a 1500
1501 a 2100
2101 a 2700
mais de 2700
não respondeu
Gráfico 4: Renda Familiar Mensal em Reais dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005
Gráfico 4
NÚMERO DE PESSOAS RESIDENTES NA CASA
3; 8%
14; 34%
6; 14%3; 8%
7; 17%
1; 3%
1; 3%
2; 5%
3; 8%
23456789não respondeu
Gráfico 3: Número de Pessoas Residentes na Casa dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005
28
NÚMERO DE CRIANÇAS SOBRE OS CUIDADOS DO ALUNO
13; 32%
12; 29%
11; 28%
2; 5%
1; 3%
1; 3%
nenhuma
1
2
3
4
mais de 6
Gráfico 5: Número de Crianças Sobre os Cuidados dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005
29
OS PROFESSORES
Contamos também com os professores que atuam diretamente com essas
quatro turmas e consultamos professores de outras instituições.
O perfil dos professores de EJA foi construído a partir de entrevistas pré-
estruturadas, onde constatamos que nem um dos professores leciona em mais de
uma disciplina, porém 40% dos professores desenvolvem o seu trabalha em outra
modalidade de ensino (ensino regular de nível médio). O universo pesquisado de
professores é constituído de 20% do sexo masculino e 80% do sexo feminino.
Todos os professores têm contrato temporário, 30% dos professores
apresentam apenas o antigo Magistério, (dentre esses um ingressou na Faculdade
este ano) 30% são formandos e 40% já concluíram a graduação. O município
oferece duas semanas de cursos por ano, sendo a primeira semana no início do ano
(Semana Pedagógica) tendo como público alvo todos os professores da rede
municipal e a outra semana ocorre no segundo semestre, voltada apenas para os
professores da EJA. A grande maioria dos professores apresenta uma carga de
trabalho excessiva e por isso acabam confessando que não conseguem estudar,
nem desenvolver o plano de aula.
As aulas costumam ser tradicionalista. O professor coloca o conteúdo no
quadro e depois explica, abrindo espaço para possíveis perguntas, que quase nunca
acontecem, devido a vergonha que os alunos têm em perguntar. Costuma ser
utilizado material apostilado, para ganhar tempo em sala de aula e porque os
professores perceberam que os alunos têm dificuldade de copiar o conteúdo do
quadro de maneira organizada.
30
2.3 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS
Os dados da pesquisa foram obtidos através de questionários passados
para os alunos da quarta etapa e professores de outras instituições. Utilizamos
também entrevista semi-estruturadas feitas com oito alunos, cinco professores e o
diretor da escola. Outro Instrumento são as fotografia que servem para melhor
caracterizar a escola quanto a sua estrutura física.
O questionário consta de dezessete perguntas (Apêndice A), destinadas
a estabelecer o perfil sócio-econômico dos alunos.
As entrevistas realizadas com os professores da instituição (Apêndice B)
tiveram como principal objetivo estudar acerca da opinião dos professores em
relação aos alunos e saber de que maneira os demais professores enxergavam
os alunos.
Houve também entrevistas com três professores que lecionam na Escola
Municipal de Ensino Fundamental e Médio Nilson Pinto (E.M.E.F.M. Nilson
Pinto), localizada ao lado da E.M.E.F. Suely Falcão, a única escola pública de
ensino médio que o bairro apresenta e que recebe grande parte dos alunos que
concluem o ensino fundamental na E.M.E.F. Suely Falcão. Os professores
entrevistados lecionam Biologia, Química e Física. A pretensão de entrevistá-los
foi ter uma comparação entre os alunos provenientes do Suely Falcão e os
demais alunos, além de responder a algumas perguntas:
Como o aluno que sai do Suely falcão chega ao Nilson Pinto, ou seja, qual
o nível de conhecimento e de aprendizado que este aluno apresenta?
31
O aluno demonstra ter os pré-requisitos básicos exigidos para cursar o 1º
ano do ensino médio?
De que maneira o professor da 4º etapa poderia melhorar o rendimento
dos alunos?
Qual parte do conteúdo o professor da 4º etapa deveria dar mais ênfase?
A entrevista com o diretor teve o objetivo de compreendermos qual avaliação
ele faz da educação fornecida na escola, a opinião sobre as condições dos alunos e
saber quais as medidas tomadas pela direção para a manutenção/melhoramento da
qualidade da educação.
Entrevistamos também a Professora Maria Cristina Brito Pinto, que durante
três anos a diretora da Escola Nossa Senhora da Vitória (atualmente fechada)
localizada no bairro e presidente da Associação de Moradores do Che-Guevara
(AMOCHE), A professora coordena a educação da Associação de Desenvolvimento
Solidário e Sustentável de Marituba (ADSSMAR) e Secretária da Associação
Comunitária Santo Antônio e Conselheira da Criança e do Adolescente. Nesta
entrevista foi traçado um histórico de ocupação do bairro e o perfil sócio-econômico
e estrutural do mesmo.
Alguns professores do 1º ano, incluindo os da Escola Nilson Pinto, foram
entrevistados com o intuito de responder as seguintes interrogações:
Quais as principais dificuldades que os professores encontram no
processo pedagógico na EJA?
De que maneira o professor da EJA, do ensino fundamental, poderia
melhorar o rendimento dos alunos?
32
Qual ou quais parte(s) do conteúdo de Ciências os professores do ensino
fundamental deveriam dar mais ênfase?
33
3. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
3.1 PRINCIPAIS ELEMENTOS HISTÓRICOS
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, data de sua colonização
pelos portugueses, pois uma das primeiras medidas tomadas pelos Jesuítas foi
catequizar os índios que aqui viviam com o intuito de domesticá-los e escravizá-los.
Em um segundo momento a EJA se destacou através da ação de sindicatos
que tentavam capacitar a mão-de-obra que anteriormente era basicamente agro
exportador e que naquele momento (1930 a 1960) estavam passando pelo processo
de industrialização. Vale a pena ressaltar que neste período o analfabetismo
alcançava 60,1% e que o novo mercado de trabalho exigia mais instrução de seus
trabalhadores.
Desta forma na constituição de 1934 iniciam-se as primeiras medidas para a
implantação oficial de um modelo para a educação de jovens e adultos, sofrendo
também a pressão da UNESCO em 1947 com a portaria nº. 57 e 61 de 30 de
Janeiro era criado o SEA (Serviço de Educação de Adultos)
Após dez anos de existência, muitas críticas começaram a surgir sobre a
metodologia, principalmente porque não fora observado melhoras significantes no
número de analfabetos no Brasil que em 1950 continuava em 50%.
No período de 1964 a 1985 o Brasil passou pelo regime militar onde a
educação, televisão, rádio, o congresso, ou seja, tudo que ia de contra aos
interesses dos militares era considerado em subversivo e proibido. Com isso, em
34
1967 o governo criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), com o
objetivo de instruir os trabalhadores brasileiros.
Em 1988 a educação passa a ser um direito constitucional a todos os
brasileiros, no entanto, de 1989 a 1994 o Brasil passa por difíceis momentos onde
ocorre o confisco das cadernetas de poupança, fazendo com que os juros sofram
reduções, mas não o suficiente, pois as taxas de juros permaneciam acima dos
100%. Com isso, o então ministro da Educação José Goldenberg deixou de lado a
educação de jovens e adultos, dizendo que todos os idosos analfabetos deveriam
ocupar os cargos de faxineiros, pedreiros e demais profissões que não exigiam
alfabetização.
Em 1996 ocorre a promulgação da Lei nº. 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), toda a responsabilidade da educação de nível
fundamental fica de responsabilidade do município.
Após várias transformações em sua sistematização e em seus objetivos em
1996 surgi a EJA que até hoje vigora nas escolas.
3.2 A SITUAÇÃO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS
A Educação Para Jovens e Adultos (EJA), surgiu devido a um grande déficit
na educação de pessoas que já passaram da idade para participar do sistema de
educação regular, deve-se fornecer agora as oportunidades que o foi negado no
passado.
Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Ensino, no ano de 1996, 16
milhões de brasileiros acima de 15 anos eram analfabetos, desta forma tornando-se
35
também um dos objetivos da EJA reduzir o nível de analfabetismo no Brasil. A tabela
abaixo irá mostrar com maior clareza a situação do analfabetismo no Brasil.
TABELA 1 COMPARAÇÃO ENTRE O QUADRO DE ANALFABETISMO
ENTRE OS ANOS DE 1996 E 2004
% de
Analfabetismo
% de
Analfabetismo
funcional
% de pessoas que
apresentam entre 15 à 19
anos e que já concluíram o
ensino fundamental
1996
2004
14,70
11,40
36,90
24,40
32,42
33,20
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio, 1996 e 2004.
Em uma pesquisa do IBGE de 1997 a porcentagem de analfabetismo
aumentava de acordo com a idade e era maior no sexo masculino e nas zonas
rurais.
De acordo com a carta Magna (art. 208, 1), a modalidade de ensino EJA no
nível fundamental deve ser ofertada gratuitamente pelo Estado a todos que a ele
não tiveram acesso na idade própria.
No Plano Nacional de Ensino (1996), podemos encontrar 26 objetivos
traçados para esta modalidade de ensino, as quais iremos resumi-las adiante:
Alfabetizar 10 milhões de brasileiros em 5 anos e erradicar o
analfabetismo até o final da década;
36
Estabelecer programas nacionais, para assegurar que localidades
caracterizadas pelo auto índice de analfabetismo possam oferecer para a
comunidade cursos alfabetizadores e exames para jovens e adultos;
Estabelecer programas de fornecimento, pelo Ministério da Educação de
materiais didáticos específicos para essa modalidade;
Realizar anualmente um levantamento para avaliar os rendimentos dos
projetos para erradicar o analfabetismo;
Tentar trazer a comunidade através de trabalhos comunitários e o
aproveitamento de espaços ociosos.
Estimular a concessão de créditos curriculares aos estudantes de
educação superior e cursos de formação de professores em nível médio que
participem de programas de EJA;
Ofertar cursos básicos de formação profissional para estudantes do
Ensino Fundamental. ;
Implantar em todos os sistemas carcerários e instituições que lidam com
menores infratores programas da EJA;
Articular as políticas da EJA com as de proteção contra o desemprego e
de geração de empregos;
Articular a EJA com programas de cultura.
A resolução CNE/CEB N° 1 DE 5 DE JULHO DE 2000 em seu art. 50
parágrafo único menciona que:
“Como modalidade destas etapas de educação básica, a identidade própria da EJA considera as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes
37
curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar:1 - quanto à eqüidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;II - quanto á diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores;III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica”.
No ano de 2004, as pesquisas do IBGE, conforme vimos anteriormente
demonstram que o principal objetivo da EJA não está sendo alcançado, pois depois
de oito anos o analfabetismo reduziu em apenas 3,3%, vale lembrar que o objetivo
era de em cinco anos reduzir o analfabetismo pela metade.
38
4. O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE
CIÊNCIAS
Ao fazer uma pesquisa nas principais Universidades do Estado do Pará,
constatou-se que em apenas uma delas, os cursos de formação de professores,
com habilitação para o ensino de Ciências, apresenta em sua matriz curricular uma
disciplina voltada para o ensino de EJA. No Centro Federal de Educação
Tecnológica do Pará (CEFET-PA), existe uma disciplina em sua matriz denominada
EJA, no entanto, essa disciplina é optativa. O aluno acadêmico do sexto semestre
deve escolher dentre seis disciplinas optativas, no mínimo duas conforme grade
curricular que mostramos no quadro abaixo. Infelizmente muitos acadêmicos
costumam escolher as disciplinas que têm mais ligação com a área da pesquisa,
como exemplo no curso de Física, a grande maioria dos formandos decidiram fazer
Mecânica Quântica e Mecânica Clássica II.
QUADRO DEMONSTRATIVO DAS DISCIPLINASCURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA
Disciplinas Referentes ao 6º Semestre e Disciplinas Optativas
VI
SEMESTRE
DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS CR CH
Optativa I 03 60
Optativa II 03 60
História da Física 02 40
Cultura e Ética Profissional 02 40
Física Moderna II 03 60
Metodologia da Pesquisa II 02 40
Vivência da Prática Educativa 02 40
TOTAL 17 340
39
OPTATIVAS
DISCIPLINAS OPTATIVAS CR CH
Educação para Jovens e Adultos03 60
Políticas Públicas Educacionais no Brasil03 60
Mecânica Clássica II03 60
Mecânica Quântica I03 60
Língua Estrangeira (Inglês/Espanhol)03 60
Fonte: Coordenação de Licenciatura em Física do CEFET/PA (2006)
O reflexo deste currículo é a formação de profissionais que ao se depararem
com uma turma de EJA apresentam um completo despreparo para lidar com as
dificuldades dos alunos. Porém, ressaltamos que já está previsto a inclusão da
disciplina EJA na grade curricular das licenciaturas do CEFET/PA como disciplina
obrigatória em 2007, o que consideramos um grande avanço no sentido de melhorar
a qualidade de ensino nesta modalidade.
O ensino de Ciências nas turmas de EJA necessita ser tratado de maneira
diferenciada, devido às peculiaridades de sua clientela, no entanto, percebe-se que
os professores assim não o fazem, o professor não foi preparado para atender as
necessidades daquele alunado. Costuma-se ensinar utilizando a metodologia
tradicional, onde o professor põe o conteúdo no quadro, os alunos copiam e depois
o professor explica o conteúdo o que leva os alunos se sentirem inibidos para fazer
perguntas e guardam as dúvidas. Por um lado os alunos se sentem obrigados a
decorar um conjunto de nomes estranhos, principalmente em Ciências e um
amontoado de fórmulas que não fazem o mínimo sentido para eles. Por outro lado o
professor não se importa em mostrar a aplicabilidade do conteúdo dentro do
cotidiano do aluno, quando tem a oportunidade de faze-lo ou de contextualizar,
40
tornando a aprendizagem mais significativa e prazerosa, como aponta a seguinte
afirmação:
“Os professores aprendem sua profissão por vários caminhos, com a contribuição das teorias conhecidas de ensino e aprendizagem e inclusive com a própria experiência. O aprender a ser professor, na formação inicial ou continuada, se pauta por objetivos de aprendizagem que incluam as capacidades e competências esperada no exercício profissional de professor” (LIBÂNEO, 2005, p. 73).
A despeito deste aparente consenso a grande parte das realidades de
nossas escolas continua dominada por uma concepção pedagógica tradicional no
qual se ensina uma grande quantidade de informações - geralmente tendo como
base única e exclusivamente o programa do livro didático. A pesar dos avanços das
pesquisas em educação, da ciência e da tecnologia, as aulas mais se assemelham a
modelos do início do século, dando maior ênfase à metodologia que é predominante
na exposição, exercitação e comprovação, em detrimento da aprendizagem.
A escola, organizada sob tal enfoque, carece de significados aos aprendizes,
gera abandono, desmotivação, entre outras coisas. A resposta que a escola dá a
isso é por vezes acentuar os incontáveis problemas de aprendizagem.
Na essência, ainda temos uma escola meritocrática classificatória, que se
não exclui por meio de reprovações, exclui por uma aprendizagem que não ocorre,
especialmente na EJA. Não estamos ainda preparados para as diferenças
individuais. Sonhamos com a homogeneidade e, como conseqüência mais direta,
criamos a categoria dos atrasados, dos excluídos, dos carentes de pré-requisitos
para estarem em nossas salas de aula. Tal cenário certamente passa distante do
discurso sobre formação para cidadania e, mais especificamente da aprendizagem
significativa
quando o aprendiz tem pela frente um novo corpo de informações e consegue fazer conexões entre esse material que lhe é apresentado e o seu conhecimento prévio em assuntos correlatos, ele estará
41
construindo significados pessoais para essa informação, transformando-a em conhecimentos, em significados sobre o conteúdo apresentado. Essa construção de significados não é uma apreensão literal da informação, mas é uma percepção substantiva do material apresentado, e desse modo se configura como uma aprendizagem significativa (TAVARES, 2004, p. 2).
A aprendizagem deve desenvolver-se num processo de negociação de
significados. Não queremos dizer com isso que todas as noções e conceitos que os
aprendizes aprendem devem estar ligados à sua realidade imediata, o que seria
olhar para os conteúdos escolares de maneira muito simplista, porém pressupõe um
olhar diferenciado para seu público, acolhendo de fato seus conhecimentos,
interesses e necessidades de aprendizagem. Pressupõe também a formulação de
propostas flexíveis e adaptáveis às diferentes realidades, contemplando temas como
cultura e sua diversidade, relações sociais, necessidades dos alunos e da
comunidade, meio ambiente, cidadania, trabalho e exercício da autonomia.
O professor precisa ter clareza que os alunos jovens e adultos possuem
características específicas, pois suas experiências pessoais, bem como sua
participação social, não é igual às de uma criança, portanto não devem ser tratados
como tais.
Ao educador deve-se fazer com ele tudo o que se deseja que ele faça com
os seus alunos, mostrando para ele a prática das diversas teorias que o fazem
lerem; vendo os resultados positivos dessa teoria é mais fácil convencê-lo de que é
a melhor.
A prática não deve ser separada da teoria. É difícil uma pessoa realizar um
procedimento, corretamente, sem um conhecimento teórico do mesmo. A prática e a
teoria devem andar juntas, pois toda teoria ao ser aplicada deve sofrer ajustes de
acordo com o meio. Quando uma pessoa tenta executar uma prática sem o
conhecimento da teoria, na verdade ele está seguindo uma receita e que nem
42
sempre dá certo, existem diversos fatores que devem ser considerados, como por
exemplo, o tipo e a marca do trigo (alunado) e do fermento (recursos didáticos).
A prática pedagógica é compreendida como trabalho por ter potencial de ensinar, de gerar conhecimento, não necessariamente inédito, o que lhe confere valor social. Ela constitui um espaço social que articula a ação com o pensamento, a teoria com a prática e viabiliza a relação do profissional em educação com o mundo físico, social e político, apresentando-se, portanto, como ponto de partida e de chegada de um estudo educacional crítico e reflexivo e como um dos possíveis caminhos de aproximação do processo educativo real (ARNONI, 2001. P. 26).
A formação desejada, hoje, mundialmente, é a da formação do professor
reflexivo-pesquisador. Para Alarcão (1996) dentre outros autores, o exercício da
prática profissional com a reflexão sobre ela constitui-se importante estratégia para a
construção de saberes profissionais, uma vez que “possibilita a integração entre a
teoria e a prática e desafia a reconsideração dos saberes científicos com vista à
apresentação pedagógica” (ALARCÃO, 1996, p.154).
Normalmente a formação Técnico-pedagógico antecede a ação, na sala de
aula, o que é um problema, pois neste caso tenta-se adivinhar quais as dificuldades
que o professor irá enfrentar em sala de aula. É claro que neste momento existe
uma troca de experiências, no entanto cada experiência é um caso a parte e as
decisões e medidas tomadas no momento talvez não sejam aplicáveis em outra
ocasião. A intenção não é desmerecer a formação antecipada a prática, mas sim
lembrar que ela não é o suficiente, a formação deve ser contínua, pois sempre
surgirão novas dificuldades onde o professor necessitará do auxílio de uma
profissional mais experiente.
É verdade que o alfabetizador tem uma grande série de perguntas antes de iniciar seu trabalho. Nada impede, portanto, que exista uma ação formadora inicial para responder a estas perguntas. Todavia, estas perguntas nem de leve afloram o que irá surgir na prática da alfabetização. No enfrentamento das dificuldades é que irá surgir a maioria das novas indagações. Portanto, é necessário garantir um
43
espaço para que estas questões sejam resolvidas. Assim, o processo não se esgota na formação inicial, mas continua durante todo o processo. Portanto, é necessário um processo de formação permanente. (GADOTTI & ROMÃO, 2001, p. 81)
Temos que compreender que o aprendizado não depende somente do
educador, pois sendo assim seria impossível que em uma mesma sala de alunos
possam ter resultados diferentes, pois o professor é o mesmo, logo o aprendizado
deveria ser igual. O sucesso ou o fracasso vai depender também do aluno e
fazendo-o entender isso provavelmente os resultados serão melhores.
Um educador deverá fazer uma reflexão permanente de suas ações e suas
práticas metodológicas, devem ter caráter incentivador capaz de gerar
aprendizagem. Tal afirmação pode ser colaborada com a afirmação de ALARCÃO
(2002) acerca do que seja um professor reflexivo:
Aquele que pensa no que faz que seja comprometido com a profissão e se sente autônomo, capaz de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobretudo, uma pessoa que atende aos contextos em que trabalha, os interpreta e adapta a própria atuação a eles. Os contextos educacionais são extremamente complexos e não há um igual a outro. Eu posso ser obrigado a, numa mesma escola e até numa mesma turma, utilizar práticas diferentes de acordo com o grupo. Portanto, se eu não tiver capacidade de analisar, vou me tornar um tecnocrata.
O educador deve ser um observador, ele tem que perceber quais os
equívocos que o formando apresenta, quais os erros em suas teorias e práticas e
tentar concertá-las. No entanto, essa nem sempre é uma tarefa fácil, pois
normalmente o professor não consegue enxergar os seus próprios erros. Neste
caso, deve-se convencê-lo de que sua teoria apresenta equívocos, somente após o
professor perceber os problemas é que o formador poderá tentar introduzir uma
nova teoria.
44
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 NA VISÃO DO EDUCADOR:
Segundo os professores pode-se perceber que, de modo geral, os alunos
recebem o incentivo da família e de seus patrões, no trabalho. Muitos alunos
afirmaram que:
“O meu patrão disse que se eu concluir o meu ensino fundamental eu vou ser promovido”.
Os professores também afirmaram que em algumas turmas percebem uma
grande imaturidade por parte dos alunos, devido à baixa idade dos alunos,
contraindo, inclusive, o que determina no CNE como se pode ler:
Parágrafo Único. Fica vedada, em cursos de Educação de Jovens e Adultos, a matrícula e a assistência de crianças e de adolescentes da faixa etária compreendida na escolaridade universal obrigatória, ou seja, de sete a quatorze anos completos. (CNE/CEB N٥ 1 de 5 de julho de 2000)
No entanto nesta pesquisa havia uma aluna de apenas doze anos
freqüentando a 4º etapa. Além disso, os dados obtidos nos questionários apontam
que cerca 50% dos alunos apresentam entre 15 a 20 anos, esses se encaixam na
idade mínima estipulada pela lei. No entanto, poderiam muito bem continuar os seus
estudos no sistema regular de ensino.
Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. (LDB, Art. 37, § 1º, 1996).
Os alunos apresentam graves deficiências na leitura e na escrita, o que
compromete a educação, os professores afirmam tentar ajudá-los, no entanto, essa
não é uma tarefa fácil para educadores que não apresentam experiência na
alfabetização de Jovens e Adultos. Quando se fala em alfabetização, não é um
45
exagero, pois ocorre caso de alunos que chegam na 4º etapa, sem ao menos
escrever o seu nome corretamente.
Os professores em geral afirmaram acreditar que o principal culpado por
essa deficiência é o sistema, que permite às pessoas mal capacitadas lecionam no
ensino básico, por acreditar que por ser básico não deve ser valorizado. Por
exemplo professores que apresentam apenas o antigo magistério podem lecionar
apenas para turmas de 1º a 4º série. Deve-se compreender que a palavra “básico”
não que dizer simples, ou desprezível, mas sim base, sustentação, ou seja, sem
uma boa base, não se pode construir um grande conhecimento. Não existe nem
uma lei sobre isso, no entanto, professores afirmaram que são obrigados a aprovar
os alunos, eles estando ou não preparados para isso, alguns inclusive se sentiram
ameaçados ao tentar argumentar com a direção de sua escola.
“Hoje a maioria dos professores de 1º a 4º tem apenas o magistério, eu aqui não quero desmerecer o papel do magistério no passado, mas tenho a impressão de que agora às necessidades são outras, os nossos alunos deveriam ser atendidos não apenas por pessoas com o segundo grau, mas por especialista. Na minha opinião graduado seria o mínimo que poderia trabalhar, a educação hoje é um reflexo do sistema educacional do Brasil, o aluno não tem culpa, o aluno é a vítima do professor sem capacidade, da escola que não sabe gerenciar os problemas dela, do governo e da família que não o ajuda.” (Diretor Álvaro Augusto Maia da Silva, entrevista).
Os docentes de outras instituições educacionais, que lecionam no ensino
médio afirmaram que os alunos ingressantes no 1º ano necessitam ter maior
aprendizado em trabalhar com fórmulas e pedem para que os professores, do
ensino fundamental, levem o ensino para o cotidiano dos alunos, pois muitos não
sabem o significado e a importância da disciplina.
Ao serem perguntados sobre as possíveis causas das dificuldades dos
alunos na leitura e escrita, os professores em geral, foram unânimes em responder
46
que uma das principais causas era o fato de seus ex-professores sempre terem
“passado à mão na cabeça de seus alunos”.
“Os alunos estão muito maus acostumados, eles não fazem mais os trabalhos, não estudam para a prova, alguns nem ao menos comparecem na aula, tudo porque ele sabe que no final do ano, o professor vai ajudá-lo a passar, foi assim nos anos passados, por que não será assim agora? desta forma eles conseguem chegar a 4º etapa sem saber ler nem escrever, um dia isso vai ter que acabar, só não vai ser agora, nem comigo, eu não posso, não tenho autonomia. As vezes me envergonho de ser professor neste pais.” (Professor Diego, entrevista).
Na Escola Nilson Pinto, os professores, concordam com as afirmações
anteriores, no entanto afirmaram que os alunos provenientes da Escola Suely Falcão
apresentam melhor desempenho, principalmente nas aulas de Biologia.
Ao entrevistar o professor de Ciências da Escola Suely Falcão ele afirmou
que de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), a disciplina de
Biologia, apresenta um conteúdo consideravelmente maior do que o de Física e
Química e que seguindo a lógica de que a 4º etapa corresponde a 7º e 8º série do
ensino regular, onde na 7º série, durante todo o ano letivo, deve-se estudar o corpo
humano e que apenas na 8º série é que será estudada a Física e a Química Ele
costuma ensinar a Biologia durante todo o primeiro semestre, a Química durante o
3º bimestre e a Física somente no último bimestre, logo concorda que esses dois
últimos serão prejudicados.
Os professores apresentam grandes dificuldades em adaptar um sistema
avaliativo adequado a seus alunos, pois se a avaliação ocorre de maneira
cumulativa, somente com a prova tradicional, o conteúdo fica muito extenso e os
alunos que apresentam o hábito de só estudarem na véspera da prova acabam
apresentando um rendimento muito baixo (notas abaixo de cinco), se os professores
valorizam os trabalhos extraclasse, os muitos alunos o deixam de fazer afirmando
47
falta de tempo, logo uma parte considerável dos alunos apresentará notas baixas,
Se a preferência for para trabalhos em classe, esbarra-se no problema do tempo,
pois a disciplina de Ciências possui apenas 3 horas/aula semanal por turma.
No entanto, vale lembrar que devido a escola se encontrar em uma área de
risco as aulas acontecem das sete às dez da noite, ao invés de terminar às vinte e
três horas, com isso a hora/aula que normalmente é de cinqüenta minutos passou a
ser de apenas trinta minutos.
“Estamos preparando esses alunos para ingressarem no ensino médio, não podemos mais avaliá-lo e agregar pontos, simplesmente, porque ele copiou corretamente o conteúdo do quadro, ou porque ele teve freqüência em sala de aula. Se continuarmos a acostumá-los desse jeito não se pode esperar muita coisa desses alunos.” (Professor José, entrevista-2005)
5.2 NA VISÃO DO ALUNO
Os alunos afirmaram que não tinham quase nem um conhecimento
científico, a única Ciência a qual eles tinham acesso era o conhecimento popular,
sem comprovação científica, que é passada de geração em geração. Apesar de
seus méritos, às vezes, ela pode piorar um quadro, como por exemplo, de acordo
com o conhecimento popular, para sanar uma queimadura, deve-se passar pasta ou
óleo de cozinha, porém ambos serão prejudiciais, e de acordo com os médicos a
melhor coisa a se fazer é lavar com água corrente.
Atualmente o aluno já tem mais condições de avaliar o conhecimento
popular, assim como já conhece melhor o seu próprio corpo. Alguns afirmam que
após as aulas eles mudaram a sua dieta alimentar, já se sentem mais seguros para
conversar com os filhos sobre a questão da sexualidade.
48
Outros já aplicam os conhecimentos da Química e da Física, obtidos na
escola, para o seu trabalho, favorecendo o seu desempenho profissional, como se
ler a seguir:
“Eu trabalho em uma empresa de exportação madeireira e hoje eu compreendo melhor os avisos de cuidado que tem nas cargas que temos que manuseá-las, dentre esses avisos tem um de corrosivo, devido produtos ácidos, também estou sentindo facilidade para trabalhar com a metragem.” (aluno Luiz, entrevista).
Outros alunos afirmaram que se sentiam envergonhados por não poderem
ajudar, quando os seus filhos traziam dever de casa e pediam para que os
ajudassem. Hoje o resultado da escolarização tem trazido novos argumentos como
fala Alemcar:
“Hoje eu estou muito feliz, pois sempre que o meu filho me procura eu estou lá pronto para ajudar. Inclusive os meus filhos me respeitam mais do que antes, e eu os compreendo”.
A grande maioria afirma que sempre recebeu o apoio de sua família para
estudar, no entanto, já aconteceram casos recentes em que uma aluna deixara a
escola porque o marido não queria que ela continuasse seus estudos.
Os alunos, no geral, voltam a estudar com o intuito de concluir o ensino
fundamental para conseguir um emprego melhor, ou melhorar mais seu
desempenho no atual, no entanto, grande parcela desses alunos reconhecem outros
benefícios na educação e decidem prosseguir nos estudos na tentativa de
conquistar o ensino médio.
49
6. SUGESTÕES METODOLÓGICAS
Tratar de metodologia de alfabetização de jovens e adultos implica
necessariamente apresentar o pensamento de Paulo Freire, dada a importância de
sua contribuição no trato da questão.
Não é nossa intenção propor metodologias como se fossem receitas prontas
e acabadas, pois pensamos que não existe a “melhor metodologia”, mas temos um
compromisso docente no sentido de (re) pensar estratégias metodológicas que
favoreçam uma aprendizagem mais consistente, prazerosa, significativa. É o
momento da ação-reflexão-ação. O que fazer para transformar a sala de aula num
lugar em que o aluno vai por vontade, não por obrigação? Como despertar nos
alunos o desejo de aprender, a sede do conhecimento?
Querendo ou não, cabe ao professor a responsabilidade de criar estratégias
para reconstruir essa imagem desgastada que a história tem registrado do processo
de ensinar. Cabe-lhe a missão de fortalecer a paixão de aprender que nasce com o
ser humano e muitas vezes morre por falta de estímulo, de uma palavra amiga, um
gesto de compreensão.
Pensamos que os professores que trabalham com os alunos da EJA devem
extrair do seu meio cultural e da vivência deles, os caminhos metodológicos que
possam facilitar a apreensão dos conteúdos. Seguindo esta linha de raciocínio
vamos sugerir uma metodologia de ensino que possa contribuir no sentido de
minimizar o as dificuldades no ensino-aprendizagem nas aulas de Ciências para as
4ª etapas em turmas de EJA.
A metodologia deverá ser “conscientizadora”, não se restringindo as
definições a serem comprovadas, mas fazendo análise da realidade onde estão
imersos os sujeitos. É necessário dar ênfase a assuntos que despertem a
50
consciência crítica, acolher de fato seus conhecimentos, interesses e necessidades
de aprendizagem, contemplando temas como cultura, relações sociais,
necessidades dos alunos, meio ambiente, cidadania, trabalho e exercício da
autonomia.
A priori, propomos para amenizar o cansaço em sala de aula o uso de
músicas. Por exemplo, enquanto eles estão copiando a matéria do quadro ou
resolvendo algum exercício o professor coloca uma música romântica, ou clássica,
para que os alunos possam relaxar. Já que eles têm uma vida bem estressante e
cansativa no trabalho, por que não transformar a sala de aula em um lugar mais
confortável?
Deve-se tomar cuidado com músicas que possam tirar a concentração dos
alunos. Sempre que possível trazer músicas que tenham um cunho social, como
violência e drogas e fazer uma reflexão sobre o tema, educando para a formação de
cidadãos críticos e que compreendam cada vez mais o meio social em que vivem.
Ser ou não um professor reflexivo não é uma questão de metodologia. O
profissional da educação deve preocupar-se com o seu próprio desempenho, e viver
em constante avaliação de si próprio, afim de minimizar seus erros pedagógicos e
consequentemente favorecer os alunos na aprendizagem.
Como a 4º etapa é uma série transitória que prepara os alunos para o
ingresso no ensino médio, desta forma, o professor de Ciências lida com a base de
três disciplinas do ensino médio (Biologia, Química e Física). No entanto,
observamos que o conteúdo da disciplina de apresenta um vasto conteúdo e não se
aprofunda em nenhum deles, o que torna ainda mais difícil uma apredizagem
significativa.
51
Para uma melhor organização desse trabalho ele irá seguir a ordem de
conteúdo presente no PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais).
6.1 BIOLOGIA:
6.1.1 Citologia
Nessa parte do conteúdo o professor poderá ensinar ao aluno, a
composição, as características e as propriedades das células, que são as unidades
formadoras de todos os seres vivos, exceto os vírus.
É importante fazer o aluno compreender que para iniciar qualquer estudo se
deve antes de tudo conhecer as bases teóricas
que sustentam tal estudo. Dentro da Biologia
essa base é vista pela Citologia; como
compreender o corpo humano e os demais
seres vivos se o aluno não sabe de que ele é
formado, nem sabe que todo movimento que se
realiza, como o andar, inicia e acaba em uma
célula, ou como explicar a um aluno o que é um
espermatozóide, sem antes explicar o que é
uma célula, já que o espermatozóide nada mais
é do que uma célula especializada na
reprodução.
Os alunos de EJA respondem muito
bem a visualização de imagens e outra maneira
bastante eficaz de fixar o conteúdo e facilitar o
aprendizado e a criação de metáforas, utilizando
Célula Bacteriana, procarionte.
Figura 2
Figura 3
Célula Vegetal
Figura 1
Célula animal, eucarionte.
52
recursos mais palpáveis. É difícil um aluno imaginar, visualizar a imagem de uma
célula, que apresenta uma ou duas membranas, uma região cheia de líquido, onde
nesse líquido estão mergulhados o núcleo e as organelas citoplasmática. Se
mostrarmos a imagem de uma célula em um cartaz ou projetada no quadro irá
ajuda-lo bastante, mas não o suficiente, ainda está faltando à metáfora, que poderia
ser, por exemplo, a de um balão (membrana plasmática) cheio de água com açúcar
(citoplasma), com uma uva (núcleo e a casquinha a carioteca em caso de células
eucariontes, ver fig. 1) ou um pouco de macarrão (núcleo sem carioteca, no caso de
célula procarionte, ver fig. 2), pedrinhas (ribossomos) e outros matérias que se
assemelham com as organelas citoplasmáticas, enquanto que, em uma célula
vegetal (ver fig. 3), esse balão pode ser colocado dentro de uma caixa de papelão
que fará a proteção da célula, assim como a parede celular. Mesmo com a utilização
de imagens é importante estabelecer esta comparação para que o aluno
compreenda que a célula não é plana, ou somente como um círculo, mas apresenta
diferentes formas geométricas.
Pode-se pedir para que os alunos façam uma maquete de uma célula,
representando os principais elementos e na tentativa de contextualizar o conteúdo,
não se pode esquecer de tecer comentários sobre a clonagem e outros temas
atuais.
53
6.1.2 Corpo Humano
De acordo com os Professores em geral esse é um dos conteúdos mais
fáceis de mostrar ao aluno a sua importância, no entanto, o que exige o maior
número de recursos visuais.
Pergunte para a turma: qual é o seu bem mais precioso? Após muitas
respostas talvez um aluno responda que seja a vida. Você dá os parabéns e depois
complementa dizendo que já que a vida é o bem mais precioso ela merece de
cuidados. Como você vai cuidar de algo que você não conhece, por isso que é tão
importante conhecer o corpo humano, pois só conhecendo-o é que você poderá
cuidar da maneira correta.
Este é um conteúdo bastante extenso e por isso não se conseguirá cumpri-lo
sem o auxílio dos alunos. Desta forma, sugerimos que se faça um seminário
avaliativo relacionando a esse conteúdo, que deve ser iniciado ainda no primeiro
bimestre, onde deverá ser feita a divisão das equipes e do conteúdo, para que os
alunos possam começar a fazer a pesquisa. Ao final do primeiro bimestre deve-se
dar por encerrada a pesquisa bibliográfica e o início da produção escrita e ao final do
segundo bimestre deve ocorrer a apresentação dos seminários (ver apêndice J), a
qual já servirá como revisão para a avaliação qualitativa.
Cada equipe deverá ter um coordenador e um relator, o coordenador irá
cuidar da organização e o relator será responsável por relatar todos os passos no
desenvolvimento do trabalho. Exigir um relatório a cada quinze dias, para que possa
ser feito um acompanhamento das tarefas. A avaliação do seminário poderá ser feita
em três momentos: o primeiro na entrega dos relatórios, onde o professor perceberia
a participação dos integrantes das equipes e se o trabalho está sendo feito de
54
acordo com o desejado, o segundo na produção textual, que seria a culminância
final dos meses de pesquisa e por fim a avaliação referente à apresentação.
A apresentação deve conter, como requisito obrigatório, uma imagem de
bom tamanho, que possibilite a visualização de todos em sala. Essa imagem deverá
ser feita preferencialmente pintada à mão, para que ocorra a valorização do trabalho
artístico manual. Na tentativa de fazer com que os alunos estudem todo o trabalho e
não somente uma parte dele, faça um sorteio no momento da apresentação
estipulando o que cada integrante deverá explicar e em que ordem.
Uma parte muito importante dentro deste conteúdo que costuma atrair a
atenção dos alunos é a parte onde se devem comentar as doenças relacionadas
com cada sistema estudado, dando ênfase nas DST’s (Doenças Sexualmente
Transmissíveis). Neste momento faça uma breve explanação sobre duas ou três
doenças e deixe os alunos à vontade para perguntar, se tudo der certo você vai
ouvir muitas perguntas como essa:
“Professor, um amigo meu tá morrendo de medo porque apareceu uma verruga no pênis dele, isso pode ser uma DST?”. (pergunta feita pelo aluno Juca em sala de aula).
Dependendo do seu relacionamento com os alunos, talvez no final da aula
um ou mais alunos irão lhe procurar para tirar mais dúvidas pessoais sobre o tema.
6.2 QUÍMICA
Propomos iniciar o estudo da matéria, sua formação através dos átomos,
suas características e suas propriedades. De que maneira ocorre à ligação entre
dois átomos para que possamos vislumbrar os objetos que nos rodeiam e por fim a
caracterização e nomenclatura das funções inorgânicas (Ácido, Base, Sal, Óxido e
Hidreto).
55
Esta parte do conteúdo também é bastante extensa. Este é um momento
muito delicado, pois como convencer ao aluno, que é importante estudar algo que
ele nem ao menos sabia que existia e que ele não pode enxergar, como mostrar a
aplicação do estudo do átomo, se quando ele está desenvolvendo as suas
atividades diárias, saber o número atômico, ou no número de massa em nada vai
alterar o seu cotidiano.
É preciso sensibilizar esses alunos sobre a importância de se estudar a base
da Química e que apesar deles não perceberem, o seu conteúdo está em todo lugar,
principalmente dentro de sua casa.
Indicamos muito o estudo da tabela periódica (ver fig. 04), que classifica os
átomos de acordo com o seu número atômico (número de prótons). No entanto,
dificilmente a escola disponibiliza de uma tabela periódica grande, suficiente para a
visualização de toda a classe. A tabela periódica é dividida em dezoito famílias,
dividem-se essas famílias entre equipes e cada equipe deverá fazer uma parte da
tabela, de acordo com a formatação padrão solicitada pelo professor. No dia
agendado para a entrega deste trabalho os alunos poderão fazer a união dos
pedaços (ver apêndice I) de maneira que forme uma tabela de proporções que
possibilite a visualização de todos na sala.
Para estudar as funções inorgânicas, pode-se pedir para aos alunos que
tragam rótulos de produtos químicos encontrados em suas casas; incentivar os
alunos que identifiquem a que função pertencem os nomes químicos encontrados
nos rótulos.
56
6.3 FÍSICA
Neste momento vai ser ministrado para os alunos o estudo da Mecânica,
que tem por objetivo estudar os corpos em movimento, assim como os corpos que
se encontram em equilíbrio. A Mecânica se divide em três partes: a Cinemática que
estuda os corpos em movimento, sem se preocupar com as causas, levando em
consideração apenas às características. a Dinâmica, a qual estuda as causas do
movimento e a Estática, que estuda as condições e características de um corpo em
equilíbrio.
Mostrar para o aluno alguns conceitos da Física e sua aplicação no
cotidiano, interligando os fenômenos físicos frequentemente observados no dia-a-dia
de qualquer pessoa, como por exemplo, o estourar de uma garrafa dentro do
congelador, ou o funcionamento de uma televisão, de um rádio, ou até mesmo uma
leve explanação sobre a diferença entre raio, relâmpago de trovão. Outro exemplo
pode ser a exploração do porquê o alimento cozinha mais rápido em uma panela de
pressão do que em uma panela comum. Levantar uma discussão acerca de como
seria mais fácil empurrar um carro, se aplicando uma força na traseira ou na lateral,
próximo a porta? Por quê?
Esse conteúdo poderá ser iniciado com as relações de unidades métricas,
que apresenta uma grande aplicabilidade no cotidiano, pois é aí que o aluno deve
aprender a fazer as transformações entre unidades, como por exemplo de metro (m)
para centímetro (cm), ou de Kilograma (kg) para grama (g).
Geralmente, o segundo semestre é um período meio “apertado”, por isso,
fica difícil de propormos uma atividade prática em sala de aula para a física, porque
vai depender de até que ponto o conteúdo vai avançar. Por exemplo, no ano letivo
de 2005 o professor com quem estagiamos só conseguiu ensinar os conceitos
57
básicos da cinemática e o conceito de velocidade. Com apenas esse conteúdo fica
praticamente impossível de se fazer experimentos que demonstrem na prática a sua
teoria, por isso fora desenvolvido um jogo de trilha, que tinha por objetivo fixar os
conceitos de variação de espaço e velocidade. No entanto, se o conteúdo avançar
um pouco além, talvez seja possível introduzir uma experiência simples e de baixo
custo.
6.4 A LEITURA
A leitura é transversal a qualquer disciplina, pode ser trabalhada de diversas
formas, mas principalmente através da interpretação de músicas, textos jornalísticos,
revistas, filmes e os próprios textos dos livros didáticos. Propomos que seja utilizada
a leitura constantemente em sala de aula como exercício e com objetivo de cultivar a
competência leitora.
Como os textos científicos dentro da área de Ciências costumam ter um alto
nível de dificuldade, recomendamos também que se utilizem textos que tenham a
ver com o cotidiano dos alunos. O mais importante é que a atividade não seja feita
por fazer, mas sim que ela tenha um planejamento traçado e um objetivo a ser
alcançado. A avaliação dessa atividade normalmente é feita através da resolução de
um questionário sobre a atividade desenvolvida.
6.5 AVALIAÇÃO
Como já foi dito anteriormente, a avaliação na EJA é um assunto delicado
que deve ser (re)pensado e questionado. Pensamos que devemos estabelecer
maneiras de avaliar esses alunos sem exigir muito tempo dos mesmos.
58
Propomos que em cada bimestre passemos no mínimo um e no máximo
dois trabalhos extra-classe; trabalhos preferencialmente simples, porém
contextualizado e significativo, que o aluno possa fazer sem grandes dificuldades. A
avaliação deve ser processual e contínua, estimulando para que os alunos
mantenham um estudo periódico e não somente nas vésperas da prova. Os alunos
têm o hábito de só estudarem na semana das provas, por isso se o conteúdo a
estudar for muito extenso, provavelmente o aluno não conseguirá absorvê-lo de
maneira satisfatória, fragmentando o conteúdo fica mais fácil para o aluno estudar e
o força a estudar regularmente.
A prova tradicional deve ter o menor peso possível, porque o aluno tem
dentro de si o “mito da prova”, e em geral temem a prova, mesmo aqueles que se
empenham mais nos estudos, costumam esquecer até mesmo o que sabem.
Um recurso que também pode ser utilizado é a prova com questões
optativas. Por exemplo, imagine uma prova que apresenta dez questões, cada
questão valendo um ponto, e considere também um aluno que conseguirá acumular
cinco pontos em trabalhos feitos durante o bimestre, esse aluno escolheria cinco
questões para responder e deixaria as demais em branco, caso o aluno tenha
acumulado apenas quatro pontos, ele teria que resolver seis questões e assim
sucessivamente. Desta maneira mesmo alunos que não fizeram nenhum trabalho
teriam a chance de alcançar boas notas.
59
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensamos que por se tratar de um público especial, Educação de Jovens e
Adultos, com diferentes faixas etárias e histórias de vida diferente dos alunos da
escola regular, o método educacional utilizado não é o mais adequado, pois não
considera as particularidades desse grupo e, principalmente, o conhecimento
adquirido fora da escola, bem como o saber construído fora da sala de aula.
Enfatizamos a importância de se insistir na realização de conexões entre o
conteúdo trabalhado e o conhecimento prévio dos alunos, uma vez que,
constatamos a dificuldade dos alunos realizarem uma relação prática entre o que
está sendo ensinado e suas vidas.
Os alunos da EJA trabalharem durante todo o dia em diversos tipos de
serviços, como já fora citado anteriormente, e neste sentido, é previsível que os
alunos não sintam disposição física e mental para os estudos, logo, torna-se
necessária uma reflexão sobre formas alternativas de ensino, não só de Ciências,
mas também para as demais disciplinas.
Evidenciamos o desejo dos alunos adquirirem conhecimentos, a que foram
privados na idade escolar regular, uma vez que, apesar de todas as dificuldades,
decidem por optar freqüentar as aulas a ficar em casa com seus familiares, numa
época em que a escola não exerce grande poder de atração entre as pessoas, em
especial os alunos da Educação de Jovens e Adultos que já chegam cansados na
escola, depois de uma jornada de trabalho exaustivo.
É evidente que alguns alunos não retornam aos estudos por vontade própria,
mas por exigência do mercado de trabalho e pela busca de melhores condições de
vida. Contudo, o enfrentamento de vários obstáculos como os já citados, além da
60
ausência do convívio escolar por vários anos, os valorizam como pessoas, e merece
reconhecimento por parte dos educadores.
Trata-se de uma parcela da população brasileira que, perante a falta de
oportunidades no passado, busca reescrever sua história. Almeja conquistar a
cidadania para se tornar ciente de seus direitos e deveres, prepara-se para
compreender o mundo, o país, sua cidade, seu bairro, como resultado da produção
que o homem realiza sobre o espaço, como um cidadão crítico e consciente de seu
papel na sociedade. Finalmente, destacamos a necessidade de metodologias
alternativas de ensino para este público, assim como pensamos que deveriam criar
livros didáticos formulados especificamente para estes alunos de acordo com sua
realidade regional.
Enfim, neste trabalho deixamos registradas algumas propostas
metodológicas que possam contribuir na construção do conhecimento dos alunos da
EJA, a participação, e o respeito ao ritmo próprio de aprender. É urgente rever os
aspectos formativos na educação de Jovens e Adultos. O ensino voltado para a
construção do saber exige a presença do docente mediador e orientador mas
situações problemáticas que estimulem a curiosidade e a inquietação para adquirir
novos saberes. Pensamos que se contarmos com docentes bem qualificados,
haverá o feedback desejado como também haverá mais estímulo aos alunos nas
escolas, evitando ou reduzindo a evasão escolar. A EJA deve ser na escola um
espaço que nunca é tarde para “recomeçar”, para “aprender a aprender”.
61
REFERÊNCIAS
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Porto: Porto Editora 1996.
ALARCÃO, Isabel; Revista Nova Escola. ed.154.ago. 2002. Disponível em
www.novaescola.abril.com.br /fala mestre/entrevista. Acesso em 10 nov 2006
ARNONI, M. E. A prática do estagiando no magistério na perspectiva da práxis
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faculdade de Campinas, 2001.Disponível em www.unicamp.com.br. Acesso em 08
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FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 25º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1979.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 40º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
GADOTTI, Moacir; ROMÃO, E. José (orgs). Educação de Jovens e Adultos: teoria,
prática e proposta. 4º ed. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire,2001,(Guia da Escola
Cidadã; V. 5).
LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; Lei de Diretrizes e Bases da
Educação.
LIBÂNEO. J.C. Reflexibilidade e formação de professores: outra oscilação do
pensamento pedagógico brasileiro? In: PIMENTA, S. G. GHEDIN. E (org.).
Professor reflexivo no Brasil: gênese e critica de um conceito. 3ª ed.,São Paulo:
Cortez, 2005.
MATOS, Deusamar Sales. Educação de Jovens e Adultos: Um Estudo Sobre a
Formação dos Educadores; (Trabalho de Conclusão de Curso Licenciatura Plena
62
em Pedagogia) – UFPA. Belém,2005.
MOURA, Tânia Maria de Melo. A Prática Pedagógica dos Alfabetizadores de
Jovens e Adultos: Contribuições de Freire, Ferreiro e Vygotsky. Maceió:
EDUFAL, 1999.
PLANO NACIONAL DE ENSINO, 2000; p. 40-44.
PELIZZARI, Adriana; KRIEGL, Maria de Lurdes; BARON, Márcia Pirib; FINCK, Nelcy
Teresinha Lubi; DORACINSKI, Solange Inês. Teoria da Aprendizagem
Significativa Segundo Ausubel. Ver PEC: Curitiba, V.2, nº1, p. 37-42, jul. 2001 –
jul. 2002.
Resolução CNE/CEB Nº 1, de 05 de Julho de 2000.
TAVARES, Romero. Aprendizagem Significativa e o Ensino de Ciências; 2004;
Disponível em www.rived.proinfo.mec.gov.br. Acesso em 05 out 2006.
63
ANEXOS A
64
ANEXO B
Figura 4
65
APÊNDICE A
Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará
Diretoria dos Cursos Superiores
Coordenação de Licenciatura Em Física
QUESTIONARIO AOS ALUNOS
Caro Aluno, este questionário é um instrumento de coleta de informações
que, após analisados servirão como ferramenta importante para a construção de
nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a todos os que
responderem, pois estarão contribuindo para efetivação desta investigação.
1. Você mora próximo à escola?
2. Como você vai à escola?( ) carro ( ) ônibus ( ) bicicleta ( ) a pé
3. Você trabalha?
4 Quanto tempo você trabalha por dia?( )4h a 6h ( )6h a 8h ( )8h a 10h ( )10h a l5h ( )l2h a l4h ( ) mais que 14h
5 Qual a sua idade?( )10 a l5 ( )16 a 20 ( )21 a 25 ( )26 a 30 ( )31 a 35 ( )36 a 40 ( )41 a 45 ( )46 a 50 ( )51 a 55 ( )55 a 60 ( ) 60 a 65 ( ) mais de 65
6 Quanto tempo você ficou sem estudar9( )0 a 5 anos ( )6 a l0anos ( )11 a 5anos ( ) 16 a 20 anos ( )21 a 25anos ( )26 a 30anos ( )3l a 35anos ( )36 a 40 anos
7. Por que você parou de estudar?( ) casamento ( )filhos ( ) trabalho ( ) falta de interesse ( ) outros ..................
66
8. Quantas pessoas residem em sua casa?( )l ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( )7 ( )8 ( ) mais de 9 anos
9. Qual a renda total em sua casa?( )0 a 900 ( )901 a 1500 ( ) l500 a 2100 ( )2101 a 2700 ( )mais de 2700
10 Sua rua é asfaltada?
11 Você é pai ou mãe solteira?
12 Quantas crianças pequenas você cuida em sua família( ) 1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( ) mais de 6
13 Quanto tempo livre você tem por dia?( )0 a 2h ( )2 a 4h ( )4 a 6h ( )6 a 8h ( )mais de 8
14. Quanto tempo você estuda por dia?.( )0 a 2h ( )2 a 4h ( )4 a 6h ( )6 a 8h ( )mais de 8
15 Qual a sua profissão?
16 Qual o nível de instrução do seu pai?( ) Analfabeto ( )Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior
17 Qual o nível de instrução da sua mãe?( ) Analfabeto ( )Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior
67
APÊNDICE B
Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará
Diretoria dos Cursos Superiores
Coordenação de Licenciatura Em Física
QUESTIONARIO AOS PROFESSORES DE OUTRAS INSTITUIÇÕES
Caro Professor, este questionário é um instrumento de coleta de
informações que, após analisados servirão como instrumento importante para a
construção de nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a
todos os docentes que responderem, pois estarão contribuindo para efetivação
desta investigação.
1º) Qual a principal dificuldade que o(a) senhor(a) observa em seus alunos do 1º ano
do Ensino Médio, dentro das disciplinas de Biologia/Química/Física?
2º) Dê uma sugestão para reduzir essa dificuldade?
3º) Qual parte do conteúdo o(a) senhor(a) acha pré-requisito obrigatório para o aluno
que deseja ingressar no Ensino Médio?
4º) De modo geral, tirando o enfoque do conteúdo, o que o(a) senhor(a) deseja que
o professor do Ensino Fundamental desse maior ênfase?
68
APÊNDICE C
Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará
Diretoria dos Cursos Superiores
Coordenação de Licenciatura Em Física
ENTREVISTA AOS PROFESSORES DA INSTITUIÇÃO
Caro Professor, este entrevista é um instrumento de coleta de informações
que, após analisados servirão como instrumento importante para a construção de
nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a todos os docentes
que responderem, pois estarão contribuindo para efetivação desta investigação.
1º) Quais as principais dificuldades que o(a) senhor(a) pode observar para lecionar
nas turmas de 4º etapa da EJA?
2º) Quais ações você já utilizou para suprir tais dificuldades?
3º) Quais delas deram certo e como funcionaram? Por quê?
69
APÊNDICE D
Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará
Diretoria dos Cursos Superiores
Coordenação de Licenciatura Em Física
ENTREVISTA AOS ALUNOS
Caro Aluno, esta entrevista é um instrumento de coleta de informações que,
após analisados servirão como ferramenta importante para a construção de nosso
Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a todos os que
responderem, pois estarão contribuindo para efetivação desta investigação.
1º) Qual o seu nível de conhecimento, levando em consideração a disciplina de
Ciências, antes de você iniciar a sua vida escolar?
2º) Qual o seu conhecimento agora, após as aulas de Ciências?
3º) De que forma você tem utilizado esse conhecimento no seu dia-a-dia? De que
forma ele tem lhe ajudado?
70
APÊNDICE E
FOTO 01
SALA DE LEITURA
71
APÊNDICE F
FOTO 02
SALA DE INFORMÁTICA ANTES DO ASSALTO
72
APÊNDICE G
FOTO 03
PARTE DOS PROFESSORES ATUANTE NO TURNO DA NOITE
73
APÊNDICE H
FOTO 04
TURMA 4º ETAPA A
74
APÊNDICE I
FOTO 05
MONTANDO A TABELA PERIÓDICA
75
APÊNDICE J
FOTO 06
APRESENTAÇÃO DE SEMINÁRIO SOBRE O CORPO HUMANO