Dimensao Arquetipica Dos Orixas

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Os orixás afro brasileiros e os arquétipos junguianos

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    A DIMENSO ARQUETPICA DOS ORIXS. UM ESTUDO DOS

    COMPONENTES SIMBLICOS DA PSIQUE BRASILEIRA

    Autor: Prof. Dr. Jos Jorge de Morais Zacharias, PUCMG, Associao Junguiana

    do Brasil, Instituto de Psicologia Analtica de Campinas - Brasil.

    O culto dos Orixs atravessou o oceano, vindo no corao dos povos negros

    escravizados, e fincou fortes razes em solo brasileiro. Aqui estes deuses encontraram-se

    com outros que vieram de Portugal, atravs da religiosidade popular do colonizador, e

    no pela teologia oficial da Igreja: bem como enlaaram-se das prticas indgenas da

    pajelana. Neste contexto histrico, a religiosidade brasileira desenvolveu formas, cores,

    ritos e smbolos, dos quais podemos citar a Umbanda como o mais representativo culto de

    desenvolvimento sincrtico. Neste sentido, podemos afirmar que as divindades do

    Candombl e Umbanda povoam a psique simblica da maioria dos brasileiros,

    aproximadamente como os deuses helnicos povoavam a dinmica simblica da antiga

    Grcia. O conhecimento do contedo simblico contido nos cultos de Orix fornecem

    chaves de entendimento para processos psiquicos, sejam estes individuais ou coletivos.

    Isto s possvel graas s analogias mticas, que podemos traar entre os deuses de

    vrias culturas. Por exemplo, deuses que tm por elemento o raio e o trovo: Zeus, Tup e

    Xang.

    Em um contexto de populao fortemente influenciada pelos cultos afro-

    brasileiros, de vital importncia que o contedo mtico-simblico destes cultos sejam

    conhecidos e compreendidos em seu sentido psicolgico. Os smbolos e deuses cultuados

    nos cultos afro-brasileiros so mitologias vivas, pois que a religio est viva,

    diferentemente dos deuses e mitos helnicos, que na atualidade s podem ser

    compreendidos atravs de um exerccio de interpretao cognitiva, visto estar o

    helenismo, como religio do povo, morto. Uma das possibilidades de utilizao desta

    mitologia viva a compreenso de vivncias pessoais, de smbolos e de sonhos atravs da

    amplificao. Buscar o sentido psicolgico do smbolo e entender qual a sua mensagem

    uma das metas do psiclogo que atua em clnica, sem perder de vista o contexto scio-

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    cultural de quem o procura, e isto inclui a vivncia religiosa do sujeito em questo. O

    universo religioso de quem busca ajuda psicoteraputica deve ser respeitado e

    compreendido como um meio de expresso da psique individual, seja esta uma expresso

    patolgica ou criativa. Um estudo de caso, em que o sujeito no conseguia aproximar-se

    fsica e afetivamente do sexo oposto, pode ser elucidativo para o que foi exposto acima.

    A paciente era uma jovem de 27 anos que havia sofrido graves queimaduras nas pernas,

    barriga e genitais, quando estava com 9 anos de idade. No consegui criar um

    relacionamento duradouro ou ntimo com ningum. Durante o processo teraputico,

    apresentou um sonho no qual ela se cobria de palhas. Esta uma figura bem conhecida do

    panteo africano, a figura mtica de Obalua, o mdico ferido, anlogo Quiron, o

    centauro. Esta imagem serviu de elemento simblico sintetizador de seu conflito, e

    atravs de sua amplificao e integrao, pode a paciente abandonar os medos de rejeio

    e vivenciar uma relao ntima criativa e realizadora. O estudo dos smbolos religiosos

    de nossa populao oferecero, como j tm oferecido, um inestimvel auxlio para a

    compreenso da psique brasileira.

    Bibliografia.

    VERGER, P. Os Orixs, Brasilia, Corrupio, 1986;

    NEGRO, L.N. Entre a Cruz e a Encruzilhada, So Paulo, Edusp. 1996;

    CACCIATORE,G. Dicionrio dos Cultos Afro-Brasileiros, Rio de Janeiro,

    Forense, 1977; SEGATO, R.L. Santos e Daimones, Brasilia, Universidade de Brasilia,

    1995.

    ZACHARIAS, J.J.M. Ori Ax, A Dimenso Arquetpica dos Orixs, So Paulo,

    Vetor, 1998.