Dimensão Ideo Politica Do Seso

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1 DIMENSÃO ÍDEO-POLÍTICA DA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: o debate teórico sobre sua conformação.

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Ideopolítca serviço social

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1 DIMENSO DEO-POLTICA DA INTERVENO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: o debate terico sobre sua conformao. 2UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE SERVIO SOCIAL MESTRADO EM SERVIO SOCIAL DIMENSO DEO-POLTICA DA INTERVENO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: o debate terico sobre sua conformao. Por: Luciana Gonalves Pereira de Paula Juiz de Fora Maro/2009 3UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE SERVIO SOCIAL MESTRADO EM SERVIO SOCIAL DIMENSO DEO-POLTICA DA INTERVENO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: o debate terico sobre sua conformao. Por: Luciana Gonalves Pereira de Paula DissertaodeMestradoapresentadaaoProgramade Ps-GraduaodaFaculdadedeServioSocialda UniversidadeFederalde J uizdeFora,comoum dos requisitos para a obteno do grau de Mestre. Linha de Pesquisa: Servio Social e Sujeitos Sociais Orientadora: Prof. Dr. Maria Lcia Duriguetto Juiz de Fora Maro/2009 4FICHA CATALOGRFICA Paula, Luciana Gonalves Pereira de. Dimenso deo-poltica da interveno profissional do assistente social: o debate terico sobre sua conformao / Luciana Gonalves Pereira de Paula; orientadora: Maria Lcia Duriguetto Juiz de Fora: UFJ F, Faculdade de Servio Social, 2009. Dissertao de Mestrado Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Servio Social. 1.ServioSocial.2.Dimensodeo-poltica.3.Intervenoprofissional.I. Maria Lcia Duriguetto. II. Universidade Federal de Juiz de Fora. III. Ttulo. 5BANCA EXAMINADORA Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-Graduao em Servio Social, da UniversidadeFederaldeJuizdeFora-UFJ F,comopartedosrequisitosnecessrios obteno do ttulo de Mestre em Servio Social. _______________________________________________ Prof. Dr. Maria Lcia Duriguetto _______________________________________________ Prof. Dr. Yolanda Guerra _______________________________________________ Prof. Dr. Maria Rosngela Batistoni 6AGRADECIMENTOS Como gratificante e prazeroso poder repartir mais uma conquista com amigos que acompanharam minhas vitrias ao longo destes dois anos de mestrado. Todo o meu carinho e os meus agradecimentos: nossa turma do Mestrado em Servio Social que iniciou sua trajetria em maro de2007aolongodopercursoosdebateseastrocasforamfundamentaisparaa construo de idias que consolidaram este sonho. AosprofessoresdaPs-Graduao,pelocarinhoededicaonahorade compartilhar seus conhecimentos conosco. Agradeo de maneira especial s professoras Rosngela Batistoni e Cludia Mnica pelo incentivo sincero e incansvel.Aquatropessoas quesetornaramverdadeirascompanheirasno decorrerdesta trajetria: Beth, Stela, Raquel e Alessandra a torcida de vocs um estmulo especial. Marina, pela amizade, pelo companheirismo e pela certeza de que muito mais prazeroso crescer junto com outras pessoas, ao lado delas e no sua frente. professora Yolanda Guerra pelas significativas contribuies ao meu processo reflexivoepelasmuitascontribuiesquecertamenteviroaolongodomeu doutoramento. minhaqueridaorientadoraMariaLciaDuriguetto,quetiveoprivilgiode encontrar pela terceira vez. No existem palavras que possam expressar meu carinho, meu respeitoeminhaadmiraoporvoc.Obrigada,novamente,poracreditaremminhas possibilidades. Voc ser sempre o meu exemplo! Sempre!!! minha famlia Luiz Carlos, Helena, Anapaulae Mateus pelo amor, pelo carinho, pelo apoio e pelo incentivo. Obrigada por estarem sempre postos, por meio de uma dedicao inesgotvel. Vocs so minha maior fonte de amor!Obrigada ao meu amor e sua famlia Aparecida e Maurcio pela torcida e pelo afeto. Deimersom: voc parte de minha vida! Obrigada por me incentivar, por me apoiar eporseorgulharde mim.Mas,principalmente,obrigadaporcrescerjuntocomigo!O nosso amor me faz uma pessoa melhor. Te amo! Deus, por realizar em minha vida todas as coisas e sempre nas horas exatas! 7RESUMO ApresentedissertaodemestradoDimensodeo-polticadainterveno profissional do assistente social: o debate terico sobre sua conformao possui como objetivoaanlisedadimensodeo-polticadaintervenoprofissionaldoassistente social, bem como o debate terico desenvolvido, no mbito da profisso, acerca de sua conformao,identificandoseuselementosconstitutivos.Paraalcanartalobjetivofoi realizado um estudo bibliogrfico das principais publicaes, na rea do Servio Social, a partirdadcadade1960atosdiasatuais.Asistematizaoeaanliseapresentadas condensam as principais contribuies tericas de autores de renome no Servio Social, no que diz respeito a elaboraes em torno do elemento deo-poltico inerente ao processo interventivo do assistente social. PALAVRAS-CHAVE: Servio Social; dimenso deo-poltica; interveno profissional.8ABSTRACT This dissertation Masters - deo-political dimension of the intervention of social work: the theoretical debate on its conformation - has as objective the analysis of the size deo-interventionpolicyof the professionalsocialworker,aswellastheoreticaldebate developedintheframeworktheprofession,aboutitsconformation,identifyingits components.Toachievethisgoalwasmadeabibliographicalstudyofthemajor publicationsinthefieldofSocialService,fromthe1960suntilthepresentday.The systematization and analysis presented condense the main theoretical contributions of the renownedauthorofSocialService,withregardtoelaborationsonthedeo-political element inherent in the process say the social worker. KEY WORDS: Social Work; deo-political dimension; professional intervention. 9SUMRIO Introduo...........................................................................................................................10 Captulo I Determinaes scio-histricas no desenvolvimento do Servio Social...25 1.1. Condies scio-histricas da gnese do Servio Social...........................................25 1.2. Trajetria scio-histrica do Servio Social no Brasil.............................................34 1.3. Desafios scio-histricos do capitalismo contemporneo........................................58 Captulo II Reflexes sobre a dimenso deo-poltica do Servio Social....................75 2.1. Processo de problematizao da dimenso deo-poltica do Servio Social...........75 2.2. Elementos constitutivos da dimenso deo-poltica da interveno profissional...88 2.3. O debate terico sobre a conformao da dimenso deo-poltica da profisso..102 2.4. Consideraes acerca da dimenso deo-poltica do Servio Social......................158 Concluso..........................................................................................................................175 Bibliografia........................................................................................................................180 10Introduo O capitalismo contemporneo tem apresentado um quadro de efeitos desastrosos edevastadoresqueincididiretamentesobreamplossetoresdasociedade.Estamos assistindoaumfenmenoquetransformaa barbarizaodavidasocialembanalidade cotidiana.Estestemposperversosrefletemoaugedamaturidadedaordemvigentee incidem sobre todas as instituies e organizaes que estruturam a sociedade capitalista. PropiciamimplicaesdiretasnoServioSocial,poisconstituemsuasbasesscio-histricas.Destaforma,operodocontemporneoapresentaumanovasituaoaser enfrentada, e pode-se afirmar que uma das mais duras que a categoria profissionalj passou (ABRAMIDES, 2007, p. 37).Frenteaestequadro,fazem-senecessriasreflexestericasquepossam contribuirparaqueoassistentesocial,mesmoatuandosobagidedocapitalcujas inerentescontradiesexpressam-senocotidianoprofissional,possamelhor compreender a natureza e o significado de sua prtica no contexto das relaes sociais. A produo terica e a pesquisa cientfica constituem, neste sentido, elementos importantes, capazes de subsidiar a interveno profissional, oferecendo aos assistentes sociais aportes tericos e metodolgicos afinados aos reais interesses dos sujeitos com os quais trabalha.Segundo Iamamoto (2007), a categoria profissional dos assistentes sociais muito temavanadoaopensaroServioSocialinscritonadinmicasocietria,emmeios relaes e aos processos sociais. A produo acadmica dos programas de ps-graduao na rea de Servio Social que em 2007 totalizavam vinte e quatro registrava, no ano de 2004 segundo a Avaliao Trienal dos Programas de Ps-graduao da CAPES1 , uma produo terica, englobando projetos em andamento ou concludos, onde 533 dentre 580,

1 Fundao Comisso de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da Educao. 11ouseja,91,7%produziramreflexestericasquelanamolharessobreasmudanas histricas ocorridas em nosso pas, especialmente entre os sculos XX e XXI2. Constatou-se um avano na anlise da profisso ante as transformaes recentes operadas no Estado e nasociedadeesuas derivaesnaculturaenasociabilidade(IAMAMOTO, 2007,p. 463). Noentanto, dentro deste universode 580 projetos, apenas47, ouseja,8% da produo terica da ps-graduao na rea de Servio Social, encontra-se dentro do eixo FormaoProfissionalemServioSocial:fundamentoseexercciodaprofisso.Estes dados indicam a importncia da construo de elaboraes tericas que reflitam sobre as incidnciasdacomplexidadedosfenmenossociaisnoexerccioprofissionaldos assistentessociais.Pois,faltafazeraviagemdevoltaparaapreenderotrabalho profissional nas suas mltiplas determinaes e relaes no cenrio atual (IAMAMOTO, 2007, p. 463). Nesse entendimento, julgamos que seria uma contribuio pertinente desenvolver nesteProgramadePs-GraduaodaFaculdadedeServioSocialdaUniversidade Federal de Juiz de Fora uma reflexo que trouxesse como seu foco central o prprio ServioSocial.Destaforma,procurandocompreenderoprocessoscio-histricode surgimentoedesenvolvimentodaprofissoeasdeterminaesconjunturaisquea perpassaram, buscamos analisar a dimenso deo-poltica da interveno profissional do assistente social, bem como o debate terico desenvolvido, no mbito da profisso, acerca de sua conformao, identificando seus elementos constitutivos. O Servio Social se constitui em uma profisso eminentemente interventiva, ou

2Distribuindo-seentreosseguinteseixostemticos:Polticassociais:EstadoeSociedadecivil238 projetos (41%); Relaes e processos de trabalho, polticas pblicas e Servio Social 103 projetos (17,7%); Culturaeidentidades:processoseprticassociais83projetos(14,3%);Famlia,relaesdegneroe gerao:sociabilidade,violnciaecidadania75projetos(12,9%);MovimentosSociais,processos organizativos e mobilizao popular 34 projetos (5,8%) (IAMAMOTO, 2007, p. 458 e 459).12seja, na prtica que a profisso se encerra e informa sua finalidade. A prtica profissional a condio essencial para que o Servio Social seja reconhecido enquanto profisso e paraqueocupeumlugarnadivisosocialetcnicadotrabalho.Mas,esteprocesso interventivono podesercompreendidoemsimesmoenoserevelaasiprprio.O processo de interveno do assistente social possui um significado social que no se revela de imediato, no se mostra no ato em si do fazer profissional. A prtica profissional no tem o poder miraculoso de se revelar a si prpria (IAMAMOTO, 1991, p. 59). Para que o assistente social possa realmente compreender o significado social da sua interveno preciso lanar olhares sobre o movimento das classes sociais e das suas relaesentresi,comasociedadeecomoEstado.Somenteatravsdaapreensoda dinmicasocietriatorna-sepossvelperceberosfiosquearticulamaprofissos estratgias polticas das classes sociais. Apreender, pois o sentido poltico-social do Servio Social supe ir almda mscara social atravs da qual essa prtica se apresenta nasuperfciedavidasocial;comoummeroconjuntodeaes intermitentes, burocratizadas, dispersas, descontnuas, dotadasde umpseudocarterfilantrpico,marcadaspelofornecimentodos chamados benefcios sociais, podendo ser realizadas por qualquer pessoa,independentedesuaqualificaotcnicaeintelectual (IAMAMOTO, 1991, p. 59). por meio do desvelamento das relaes sociais que se pode desvendar o Servio Socialenquantoatividadesocialmentenecessriaquepossuiefeitosnavidasocial,ao mesmo tempo em que sofre suas influncias. Assim, a prtica profissional mediatizada pela correlao de foras entre as classessociais, estabelecendo limites e possibilidades onde pode se mover o assistente social. Seu desenvolvimento se d a partir da realidade social, tendo como eixo central a luta de classes conflito capital/trabalho. Dito de outro modo,oServioSocialconstitudo,constituinteeconstitutivodasrelaessociais 13capitalistas,quesorelaesportadorasdeinteressesantagnicos,incompatveise inconciliveis (GUERRA, 2000, p. 17). Desta forma, as reflexes que sero aqui apresentadas pautam-se na compreenso da interveno profissional do assistente social inserida no jogo das relaes sociais que se estabelecementreasclassesemnossasociedade.Apenasestecaminhoanalticonos permitecompreender oServioSocialnobojo dacontradioentrecapitaletrabalho, comoumaprofissoinseridanoprocessodereproduodasrelaessociaisemuma sociedade regida pelo capital.A interveno profissional do assistente social, enquanto uma prtica socialmente tilquecontribuinoprocessodereproduosocial,seconstituiapartirdetrs componentesfundamentais: terico-metodolgico a justificativa que responde ao por que fazer ; tico-poltico a finalidade que se refere ao para que fazer; tcnico-operativooperacionalidadequeremete-seaocomofazer.Estescomponentesse articulameconstituemumaunidadequeseexpressanomomentodainterveno profissional. Emoutras palavras: o Servio Social possui modos particulares de plasmar suas racionalidades que conforma ummodo de operar, oqualnose realizaseminstrumentostcnicos,polticose tericos,tampoucosemumadireofinalsticaepressupostos ticos, que incorporamo projeto profissional (GUERRA, 2007a, p. 203). Quandooassistentesocialdesempenhaqualqueraoprofissional,esto presentes, neste ato, as suas referncias tericas e metodolgicas; os seus valores ticos e a sua concepo poltica; e o instrumental tcnico-operativo escolhido. No h como separar estes trs componentes porque eles encontram-se absolutamente interligados. No processo de utilizao de qualquer instrumental tcnico-operativo esto automaticamente embutidas 14as referncias, os valores e os objetivos do profissional. Este processo interventivo desenvolvido pelo assistente social possui um efeito queincide,diretamente,nascondiesmateriaisesociaisdossujeitoscomosquais trabalha. (...) o Servio Social interfere na reproduo da fora de trabalho por meio dos servios sociais previstos em programas, a partir dos quais se trabalha nas reas de sade, educao, condies habitacionais e outras (IAMAMOTO, 2001b, p. 67).Oassistentesocialpodeatuardiretamentevinculadoassistnciasocial3 atravsdeservios,programasoubenefciosassistenciaisounosmaisdiferentes campos4ondeapopulaoapresentealgumanecessidadesocialsade,educao, habitao, trabalho etc. O profissional pode vincular-se a organismos estatais, paraestatais, no-estatais ou privados, dedicando-se ao planejamento, operacionalizao e viabilizao dosserviossociaisprestadospelainstituiopopulao.Mas,essencialmente, chamado para constituir-se em agente de linha de frente nas relaes entre a populao e a instituio (IAMAMOTO, 2000).Nestesentido,aaoprofissionalpossuiumaatuaoesclarecedorajunto populao em relao aos seus direitos e aos mecanismos necessrios para obt-los. Estes serviosprestadospeloassistentesocialcontribuempara queasnecessidadesbsicas e urgentesdesobrevivnciadostrabalhadoressejamatendidas,contribuindoparaasua reproduo.Mas, o assistente social no solicitado pelas organizaes e instituies apenas pelocartertcnico-especializadodasuaatuaoprofissional.Eleconvocado, essencialmente,pelasfuneseducativas,moralizadorasedisciplinadorasque,

3 Nesta rea o Servio Social tende a ser o carro-chefe da instituio, dando o tome a direo do trabalho realizado, pois o assistente social tende a ocupar postos principais na hierarquia institucional. Salvo os cargos de confiana que tendema ser preenchidos por polticos de carreira (IAMAMOTO, 2000).4Emoutras reas o assistente social tende a ocupar cargos na condio de umtcnico inferior diante das principaisatividadesdaquelessetores,geralmenteexercidasporprofissionaiscomespecializaotcnica especfica, como mdico, pedagogo, engenheiro, psiclogo etc. (IAMAMOTO, 2000).15mediante um suporte administrativo-burocrtico, pode exercer junto a segmentos da classe trabalhadora5quecompemopblico-alvodetaisinstituies(IAMAMOTO,2000). Assim, o assistente social chamado a colocar-se como anteparo entre a instituio e a revolta ou o inconformismo da populao. Ele deve levar o usurio a aceitar as normas da instituio, atravs de uma ao persuasiva que tenda a mobilizar o mnimo de coero explcita para o mximo de adeso. A estratgia de individualizao dos atendimentos, por exemplo,possibilitaaliviartenseseinsatisfaes,submentendo-asaocontrole institucional. Desta forma A funcionalidade do Servio Social ordem burguesa, como uma dasdireesdainterveno,estemeliminarosconflitos, modificarcomportamentos,controlarcontradies,abrandaras desigualdades,administrarrecursose/oubenefciossociais, incentivar a participao do usurio nos projetos governamentais ou no alcancedas metas empresariais. Neste caso, a profisso tem nosinteressesdaburguesiaumadassuasbasesdelegitimidade(GUERRA, 1999: 56). Osassistentessociais,desdeagnesedaprofisso,foramhistoricamente requisitados pela classe dominante para exercer funes de persuaso e coero sobre as formas de organizao dos trabalhadores impulsionando-os a um processo de adeso frente s configuraes do capital. Tais funes (...) vinculama interveno profissional ao conjunto demediaes que concretizam a articulao orgnica entre a produo material e areproduofsicaesubjetivadaforadetrabalho;conectam, portanto,aprticaprofissionalcom estratgiasemecanismos

5Utilizo nesta dissertao a categoria classetrabalhadora tendo por referncia a noo ampliada de classe trabalhadora defendidapor Antunes (2002, p. 101 a 104). Quando tantasformulaesvmafirmandoa perda da validade analtica da noo de classe, nossa designao pretende enfatizar o sentido atual da classe trabalhadora, sua forma de ser(ANTUNES, 2002, p. 101).Uma noo ampliada de classe trabalhadora inclui, ento, todos aqueles e aquelas que vendemsua fora de trabalho emtroca de salrio (...), almdos trabalhadores desempregados, expulsos do processo produtivo e do mercado de trabalho pela reestruturao do capital (ANTUNES, 2002, p. 103). 16sociopolticos,culturaiseinstitucionais,necessriosparao enquadramentodareproduosocialaospadresmoraisde sociabilidade e docontrolepolticosobreossubalternizados (ABREU, 2002, p. 42). Portanto,emboraosserviossejamaprpriamaterialidadedainterveno profissional, o principal recurso do assistente social a linguagem (IAMAMOTO, 2000). Atravsdalinguagemqueoprofissionalrealizaaesvoltadasparamudanasna maneira de pensar, de ser e de agir dos sujeitos com os quais trabalha. O direcionamento dessaatuaoprofissionalpodeatingirasubjetividadedaclassetrabalhadora, transformando a sua maneira de viver, de se comportar e de se reconhecer na sociedade. Assim,pormeiodaprestaodeserviossociais,osprofissionaisrealizamuma intervenoque possuiuma determinaoterica,uma finalidadeequeincidenavida social dos trabalhadores seja para enfraquecer ou reforar os seus reais interesses. Ento, o Servio Social umtrabalho especializado, expresso sob aformadeservios,quetemprodutos:interferenareproduo materialdaforadetrabalhoenoprocessodereproduo sociopoltica ou deo-poltica dos indivduos sociais. O assistente social,nestesentido,umintelectualquecontribui,juntocom inmerosoutrosprotagonistas,nacriaodeconsensosna sociedade. Falar em consenso diz respeito no apenas adeso ao institudo:consensoemtornodeinteressesdeclasses fundamentais, sejamdominantesou subalternas,contribuindono reforodahegemoniavigenteoucriaodeumacontra-hegemonianocenriodavidasocial(IAMAMOTO,2001b,p. 69). Destemodo,percebemosqueoassistentesocialpossui,nasuainterveno profissional, uma dimenso material-assistencial que se configura atravs da prestao de servios,dosbenefcios,programas,projetos,etc.Inerenteaestadimensomaterial-assistencial existe uma dimenso que deo-poltica, que influencia a forma de viver e de pensar dos sujeitos por ele atendidos. Esta dimenso constitui o que h de subjetivo na intervenoprofissionaldoassistentesocial.Oassistentesocialprestaserviose/ou 17administra servios sociais que so a base material a partir de qual desenvolve uma ao ideolgica, poltica e educativa (CELATS, 1985, p. 59). Porexemplo, quandoo assistente social viabiliza o acesso a um culos,umaprtese,estfornecendoalgoquematerialetem uma utilidade. Mas o assistente social no trabalha s com coisas materiais. Tem tambmefeitos na sociedade como um profissional queincidenocampodoconhecimento,dosvalores,dos comportamentos,dacultura,queporsuavez,tmefeitosreais interferindonavidadossujeitos.Osresultadosdesuasaes existemesoobjetivos,emboranemsempresecorporifiquem comocoisasmateriaisautnomas,aindaquetenhamuma objetividade social (e no material) (...) (IAMAMOTO, 2001b, p. 68). Estas dimenses da interveno profissional so indissociveis. A dimenso deo-poltica inerente dimenso material-assistencial porque, ao desenvolver qualquer ao, oassistentesocialrepassaparaossujeitosjuntoaosquaistrabalhavalores,formasde pensar e concepes de mundo.Assim,aodefinircomoobjetodestadissertaoadimensodeo-polticada intervenoprofissionaldoassistentesocial,estamosconsiderandoapolticacomoum espaodelutaondeencontram-seemdisputaprojetossocietriosdiferenciados.A ideologia, por sua vez, uma concepo de mundo que se manifesta em todos os aspectos davidacoletiva.maisdoqueumconjuntodeidias,poisestrelacionadacoma capacidadedeinspiraratitudesconcretaseproporcionarorientaoparaaao., portanto,naideologiaepelaideologiaqueumaclassepodeexercerhegemoniasobre outras,isto,podeasseguraraadesoeoconsentimentodasgrandesmassas (BOTTOMORE, 2001, p. 186).Desta forma, a dimenso deo-poltica que perpassa a interveno profissional do assistentesocial,necessariamente,polarizadapelosinteressesantagnicosdasclasses sociais. desta forma que o Servio Social, enquanto parte da organizao da sociedade, 18encontra-sesituado no processo de reproduo das relaes sociais. Durante o processo interventivo do assistente social, seja qual for a ao desenvolvida pelo profissional, sua atuao reproduz tanto interesses do capital, como do trabalho. Responde tanto a demandas do capital como do trabalho e s pode fortalecer um ou outro plo pela mediao de seu oposto. Participa tantodosmecanismosdedominaoeexploraocomo,ao mesmo tempo e pela mesma atividade, d resposta s necessidades desobrevivnciadaclassetrabalhadoraedareproduodo antagonismo nesses interesses sociais, reforando as contradies queconstituemomvelbsicodahistria(IAMAMOTOe CARVALHO, 2003, p. 75). Esta a origem, a raiz da dimenso deo-poltica da interveno profissional do assistente social. Assim sendo, esta dimenso no deriva da vontade ou da inteno, nem topoucodaatuaooudocompromissodoassistentesocialcomosinteressesdos trabalhadoresoucomasdemandasdocapital.Elaconfigura-senamedidaemquea intervenoprofissionalpolarizadapelasestratgiasdesenvolvidaspelasdiferentes classes sociais. E, somente atravs da compreenso desta dimenso, o profissional pode ser capaz de elaborar estratgias de atuao que venham a fortalecer os interesses do capital ou do trabalho. Assim, mesmo colocando-se a servio do poder dominante, o assistente social, atravsdasuainterveno profissional,incidenacriaodecondies favorecedoras reproduo da fora de trabalho, mediante os servios sociais prestados. Ao contribuir com oprocessodereproduodaforadetrabalho,oassistentesocialcolaboracoma reproduo das contradies bsicas que conformam a sociedade capitalista. A existncia deste movimento contraditrio que abre para o profissional a possibilidade de colocar-se a servio de um projeto de classe pautado nos interesses dos trabalhadores. 19Simultaneamente,eatravsdamesmaatividade,aprtica profissionalatendeaosinteressesdossetoresdominantese dominados, demandando, por esta razo, uma estratgia poltico-profissional que fortalea umdos plos presentes nas condies de trabalho.Eisoqueviabilizahistoricamenteaconstruodeum projetoprofissionalvoltadoparaosinteressessociaisdos trabalhadores (CELATS, 1985, p. 58). Entretanto,odebateemtornodadimensodeo-polticadoServioSocial,e consequentemente, sobre a insero da profisso no processo de reproduo das relaes sociais, s se tornou efetivamente expressivo, em meio categoria profissional, a partir do Movimento de Reconceituao6 desenvolvido na Amrica Latina em meados da dcada de 1960.Foiestemovimentoquetrouxe paraa arenado debate uma dimenso da prtica profissionalqueotradicionalismomanteveintocadapormuitosanos,atravsdeuma pretensaassepsiaideolgica.Otradicionalismoprofissionalfoi, sempre,visceralmente poltico, to visceral quanto inconfessado (NETTO, 2005, p. 12). Aolongodasdcadas de 1970a 1990, o debateemtorno dadimensodeo-poltica da interveno profissional do assistente social avanou, especialmente, atravs do processo de organizao e realizao dos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais CBAS e das reformulaes do Cdigo de tica Profissional, em 1986 e 19937.Emmeioaestesprocessos,vriosautoresrelacionadosaoServioSocial brasileiroelatino-americanovemsedebruadosobreestatemticaaolongodesuas produes tericas. Por sua vez, o processo de Renovao do Servio Social brasileiro, especialmenteatravsdaperspectivadeintenoderupturacomoconservadorismo,

6Oumovimentodereconceptualizao(NETTO,2002).OmarcoinicialdaReconceituaofoioI Seminrio Regional Latino-Americano de Servio Social, realizado emmaio de 1965 emPorto Alegre, coma presena de 415 participantes do Brasil, Uruguai e Argentina (NETTO, 2005, p. 09). O Movimento de Reconceituaoconstituiuumaindagaoglobalsobretodososcomponentesetodasasdimensesdo Servio Social. Ele no teve mais do que uma dcada de existncia de 1965 a 1975 , mas seus reflexos provocarameroses irreversveis nas bases de cunho tradicional do Servio Social. 7 Os momentos de reformulao do Cdigo de tica Profissional, tanto em1986 quanto em1993, no se deramisoladamente. Ambos foramfrutos de processos scio-histricos gestado, nas respectivas dcadas, emnosso pas.20tambmpropiciouaelaboraodereflexesimportantessobreestadimensoda interveno profissional. Um marco deste debate foi a produo terica de Marilda Villela Iamamoto e Raul de Carvalho RelaesSociaiseServioSocialnoBrasil:esboode uma interpretao histrico-metodolgica publicada em 1982.Muitos autores, dentro da literatura especializada, contriburam com este debate, publicandoelaboraestericascujoamadurecimentosemostracapazdedesvendar elementos extremamente ricos para as reflexes que propomos realizar. Assim como, h tambm, questes problemticas que precisam ser discutidas com maior profundidade a fim de suscitar maiores debates.Destemodo,tendocomopontodepartidaelaboraestericasproduzidase publicadaspelacategoriaprofissional,apresentedissertaopretendeproblematizar questes acerca da dimenso deo-poltica do Servio Social. Este mergulho reflexivo tem porobjetivoanalisarodebatetericodoServioSocialacercadaconformaoda dimensodeo-polticadaprticaprofissionaldosassistentessociais,nointuitode identificar os principais elementos que a constituem. Paraaconstruoterico-metodolgicadoobjetodeestudobuscamos fundamentao no campo do materialismo histrico e dialtico. Este fecundo referencial permiteaanlisedeprticaspolticas,queintencionemcontribuirparaacrticada sociedade capitalista, apontando suas contradies e perspectivas de superao. Assim, a elaboraotericadoobjetodestadissertaopautou-senateoriamarxista,buscando compreenderaaoprofissionalemsuasdeterminaesatravsdeummovimento reflexivo orientado pela crtica, considerando os fenmenos em sua totalidade. Nestemomento,faz-senecessrioressaltarqueoobjetodestadissertaoa dimensodeo-polticacontidanoprocessointerventivodoassistentesocialnofoi escolhidodeformaaleatria.Aocontrrio,revelaoencontroentreoelementodeo-21poltico que sempre esteve presenteno centro de minhasinvestigaes8 e no campo de minhasatuaes9,comoServioSocialprofissoqueescolhi,marcadapordesafios cujas determinaes precisam ser compreendidas para serem enfrentadas. Paraalcanaroobjetivoproposto,foirealizadoumestudobibliogrficodas principais publicaes, na rea do Servio Social, a partir da dcada de 196010 at os dias atuais. O crivo seletivo foi a abordagem da dimenso deo-poltica da prtica profissional do assistente social. Tal estudo desdobrou-se, ao longo do processo, em algumas etapas investigativas que sero aqui apresentadas. OCaptuloIcontextualizaaconfiguraoscio-histricaquepossibilitouo surgimentoeodesenvolvimentodoServioSocialenquantoprofissosocialmente determinada. O embasamento terico de tal exposio referenciou-se, especialmente, em autorescomoNetto(1992),Guerra(2000),Iamamoto(2000)eAbreu(2002),cujos estudosapresentamasrelaesentreomovimentodeexpansodocapitalismo monopolista e a gnese da profisso.Estecaptuloexpe,tambm,oscaminhosscio-histricospercorridospelo Servio Social no Brasil, analisando suas especificidades. Em nosso pas, o solo histrico ondeseinstitucionalizouaprofissofoimarcadopelaexpansodeserviossociais pblicos, permitindo s famlias de trabalhadores dotados de emprego formal protegido usufruremacidadaniaregulada,comacessoaosdireitos,podendoaplicarsuarenda

8 Especialmente atravs das monografias realizadas na graduao SE MUITO VALE O J FEITO, MAIS VALE O QUESER...MovimentoEstudantildeServioSocial:CaminhosHistricoseContribuiesnaFormao Profissional e na especializao VAMOSPRECISARDETODOMUNDO,UMMAISUMSEMPREMAISQUE DOIS...ParticipaoPopulareEspaosInstitucionalizadosnoSUS:aExperinciadoConselhoLocalde Sade Progresso Juiz de Fora/MG.9 Seja na militncia do Movimento Estudantil (1998 a 2003); na prtica profissional, procurando contribuir para a consolidao de umprojeto tico-poltico profissional crtico emnossa categoria (2003 a 2007); seja atravs da dedicao ao estudo e pesquisa desde a graduao, passando pela especializao, pelo mestrado e pelo futuro doutorado.10Operodohistricodemarcadoparaainvestigaosejustificapelofatodeadcadadesessentater constitudo o momento histrico que propiciou a ecloso do Movimento de Reconceituao. Movimento este que trouxe tona o debate sobre a dimenso deo-poltica da profisso. 22monetria para consumir e dinamizar a economia (IAMAMOTO, 2007, p. 171). A este quadro somaram-se inmeros trabalhadores destitudos de trabalho e, consequentemente, de cidadania.NoBrasil,oServioSocialexpandiu-se,aolongodemuitosanos,soba influnciaconservadoradaEuropaedosEstadosUnidosdaAmrica.Estecenrio comeou a alterar-se apenas a partir da mobilizao de segmentos da categoria profissional em torno de um questionamento global da profisso que ficou historicamente conhecido como Movimento de Reconceituao. Sob as influncias progressistas deste movimento e do contexto scio-poltico da dcadade1970oServioSocialnoBrasilviveuumamplomovimentoderenovao crtica que derivou em significativas alteraes nos campos do ensino, da pesquisa e da organizao poltico-corporativa dos assistentes sociais (IAMAMOTO, 2007, p. 223). O Servio Social brasileiro, nas ltimas dcadas, redimensionou-senumforteembatecontrao tradicionalismoprofissionaleseu lastroconservador,adequandocriticamenteaprofissos exignciasdoseutempo,qualificando-ateoricamente,comoo atestaaproduoacumuladanasltimasduasdcadaseo crescimento da ps-graduao (IAMAMOTO, 2007, p. 225). Assim, chegamos ao tempo presente, onde o Servio Socialenfrentainmeros desafios. Alguns deles so identificados e discutidos no final deste captulo. O Captulo II, por sua vez, se prope a apresentar os debates mais pertinentes no que se refere ao objeto de estudo desta dissertao. Nele encontra-se uma exposio crtica acercado processode problematizaodadimensodeo-polticadoServioSocial,a partir da dcada de 1960, onde segmentos da categoria profissional comearam a desenhar uma nova direo scio-poltica para a profisso.O foco central deste captulo o objeto desta pesquisa to bem identificado por 23Iamamoto (2007, p. 163) no trecho a seguir: Osassistentessociais, pormeiodaprestaodeserviosscio-assistenciaisindissociveisdeumadimensoeducativa(ou poltico-ideolgica)realizadosnasinstituiespblicase organizaes privadas, interferem nas relaes sociais cotidianas, noatendimentosvariadasexpressesdaquestosocial,tais comoexperimentadaspelosindivduossociaisnotrabalho,na famlia, na luta pela moradia epela terra, na sade, na assistncia social pblica, entre outras dimenses. Apssituaralgunsmomentoshistricosdecisivosparaoaprofundamentodo debate em torno desta dimenso da prtica profissional, referenciando-se principalmente emBarroco(2001)eAbramides(2006),ocaptuloapresentaaanlisedadiscusso realizada por autores de renome no Servio Social, no que diz respeito a elaboraes em tornodoelementodeo-polticoinerenteaoprocessointerventivodoassistentesocial. Dentreosautorespesquisadosencontram-se:DiegoPalma(1987),VicentedePaula Faleiros (1985; 1991; 1993), Marilda Villela Iamamoto (2000; 2001; 2003; 2007), Jos Paulo Netto (1992; 1996; 1999; 2004) e Marina Maciel Abreu (2002), ressaltando que a anlise apresentada nesta dissertao no recai sobre a totalidade das obras destes autores, massobreaselaboraesquecontribuemparaumamelhorcompreensodadimenso deo-poltica do Servio Social. O captulo traz, ainda, algumas consideraes que ressaltam pontos importantes do debate realizado anteriormente, uma vez que, ao longo de cerca de quatro dcadas de discusses, em meio categoria profissional, muito se avanou ao pensar a dimenso deo-polticadaprofisso,masequvocostambmforamcometidos.Estasconsideraes apontampontoscruciaisparaodebatepropostoporestapesquisaeque,nemsempre, emergiram nas anlises anteriores comtoda a sua fora, clareza e importncia.A concluso deste trabalho destaca momentos importantes da construo desta 24dissertaodemestradoeressaltaalgumasquestesqueconsideramoscruciaisparaa continuao deste debate, realizando um balano do processo aqui apresentado.Nestesentido,apresentedissertaonopretenderegistrarconcluses definitivas,nemtopoucooferecerrespostasprontasparaadiscussoproposta,mas constituir-seem uma contribuio terica no campo dos debates em torno da dimenso deo-poltica do Servio Social. preciso fora pra sonhar e perceber que a estrada vai alm do que se v. (Marcelo Camelo). 25Captulo I Determinaes scio-histricas do desenvolvimento do Servio Social 1.1. Condies scio-histricas da gnese do Servio Social O Servio Social uma profisso inserida na diviso social e tcnica do trabalho, constituindo-se em uma prtica socialmente til que contribui no processo de reproduo social. A profisso possui, desta maneira, uma instrumentalidade vinculada forma de insero que a ordem burguesa lhe atribui na diviso sociotcnica do trabalho (GUERRA, 2000, p. 06), uma vez que os processos de trabalho se estruturam a partir das exigncias econmicas e sociopolticas da organizao da acumulao de capital.A gnese histrico-social da profisso, em mbito mundial, se situa no concreto tratamentodaquestosocialnummomentomuitoespecficododesenvolvimentoda sociedade burguesa: a era do capitalismo monopolista (NETTO, 1992). A questo social11, base de fundamentao do Servio Social, inerente forma deorganizaodasociedadecapitalistaquepromoveodesenvolvimentodasforas produtivase,paralelamente,aprofundaeexpande adesigualdade,amisria,a pobreza. Suas mais variadas expresses revelam-se cotidianamente nas experincias vividas pelos indivduos no trabalho, na famlia, na sade etc. Questo social que, sendo desigualdade tambm rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opem (IAMAMOTO, 2001b, p. 28). , portanto, reproduo das lutas sociais, das relaes de poder e dos antagonismos de classe.No final do sculo XIX o modelo capitalista sofreu profundas modificaes em

11 Questo social apreendida como o conjunto das expresses das desigualdades da sociedade capitalista madura, que temuma raiz comum:a produosocial cadavez mais coletiva, o trabalho torna-semais amplamente social, enquanto a apropriao dos seus frutos mantm-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2001b, p. 27). 26sua organizao que levaram a um reordenamento de elementos centrais deste sistema de produo.Estemomentohistricofoicaracterizadopelapassagemdocapitalismo concorrencialparaocapitalismomonopolistaedemarcouaascensodasociedade burguesamaturidade de seu desenvolvimento.Taismodificaesderam origem aum perodoquesesituaentre1890e1940equeficouconhecidocomoimperialismo clssico (NETTO, 1992). Aeramonopolistaprocurouviabilizarametaprimriadocapitalismo:o acrscimo dos lucros atravs do controle dos mercados. A livre concorrncia se tornou uma batalha vital travada entre os grupos monopolistas e entre estes e os setores ainda no monopolizados.Acontradiofundamentalqueexisteentreaproduocoletivaea apropriao privada foi elevada ao pice por meio da internacionalizao do processo de produo.As principais consequncias deste processo foram: a queda do padro de vida dos assalariados e o aumento da taxa de afluncia de trabalhadores ao exrcito industrial de reserva.Emsntese,verifica-seaampliaodamisriaabsolutaerelativadegrande parcela da populao trabalhadora, consubstanciando um processo crescente de dilapidao da fora de trabalho coletiva (IAMAMOTO, 2000, p. 82). Ocapitalismomonopolistacolocouempatamaraindamaisaltoosistemade contradies produzido pela ordem burguesa, como a explorao e a alienao da fora de trabalho.Potencializouantagonismosfundamentaisinerentesordem docapital,j existentes no estgio concorrencial, e produziu novas contradies ainda mais complexas. Provocou umareordenao dadominaoburguesae, consequentemente,dasrelaes dessaclassecomasdemais,comoEstado,comasgrandescorporaeseasnaes centrais, com as quais os laos foram estreitados (IAMAMOTO, 2000, p. 80). A sua consolidao ocorreu nas primeiras dcadas do sculo XX, em meio ao 27contexto da organizao e difuso do conjunto de inovaes nos processos de produo e no trabalho, introduzidas pelo modelo fordista/taylorista12. De maneira sinttica, podemos indicar que o binmio taylorismo/ fordismo,expressodominantedosistemaprodutivoedeseu respectivo processo detrabalho, que vigorou na grande indstria, ao longo praticamente de todo sculo XX, sobretudo a partir da segundadcada,baseava-senaproduoemmassade mercadorias,queseestruturavaapartirdeumaproduomais homogeneizadaeenormementeverticalizada(ANTUNES,2002, p. 36). Opadrofordista/tayloristanoapenasrepresentouaintroduodenovas tecnologias e novas formas de organizao do processo produtivo, como foi alm disso. Significou,tambm,umanovamodalidadedecontrolesocial,constituindoumanova poltica de gerenciamento do trabalhador no interior da fbrica e fora dela. Instituiu novas formas de reproduo da fora de trabalho, novos padres de consumo, um novo tipo de sociedade.Nesteprocessodeimplementaoelegitimaodaracionalizao fordista/tayloristadaproduoedotrabalhoaintervenodoEstadotornou-seuma estratgia indispensvel para a consequente formao de um novo tipo humano com as qualidadesmoraiseintelectuaisadequadasnovaorganizaodoprocessoprodutivo (ABREU, 2002, p. 45). Entre as estratgias estatais combinaram-se processos extremamente coercitivos com aes educativas pautadas naelevao dos salrios ena distribuio de benefcios sociais. Assim, a reorganizao da produo e do trabalho se deu por meio da articulao da fora ataque ao sindicalismo operrio com a persuaso melhores condies de

12 Uma linha rgida de produo articulava os diferentes trabalhos (...). Esse processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela mescla da produo emsrie fordista como cronmetro taylorista, almda vigncia de uma separao ntida entre elaborao e execuo. (...) Esse processo produtivo transformou a produo industrial capitalista,expandindo-seaprincpioparatodaaindstriaautomobilsticadosEUAedepoispara praticamente todo o processo industrial nos principais pases capitalistas (ANTUNES, 2002, p. 37).28trabalho e de vida sustentados pela propaganda da ideologia dominante. Destemodo,oEstadoquesempredesempenhouumimportantepapelno desenvolvimentodassociedadescapitalistas,naeramonopolistapassouaincidirna organizaoenadinmicaeconmicadeformacontnuaesistemtica.Especialmente depoisdacrisede1930,quandoasdemandasqueseapresentaramaoEstado impulsionaram a gestao da poltica keynesiana13. Apartir desteperodo,asfunes polticasestataisligaram-seintimamente s suas funes econmicas e o Estado passou a desempenhar uma multiplicidade de funes diretas14 e indiretas15. Ele foi capturado pela lgica monopolista e, a partir da, o que se viu foi a profunda integrao entre aparatos privados e instituies estatais. Vale dizer: o Estadofuncional aocapitalismomonopolista , no nveldassuasfinalidadeseconmicas,ocomitexecutivoda burguesiamonopolistaoperaparapropiciaroconjuntode condiesnecessriasacumulaoe valorizaodocapital monopolista (NETTO, 1992, p. 22). Nocapitalismomonopolista,devido ameaaconstantedasuperexplorao, a preservao e o controle da fora de trabalho, tanto ocupada quanto excedente, passou a ser uma funo primordialmente estatal. Afinal, para exercer com sucesso o papel de comit

13 Na poltica keynesiana o Estado, por sua vez, assumia uma variedade de obrigaes. Na medida emque a produo demassa, que envolvia pesados investimentosemcapital fixo, requeria condies de demanda relativamente estveis para ser lucrativa, o Estado se esforava por controlar ciclos econmicos comuma combinao apropriada de polticas fiscais e monetrias no perodo ps-guerra. Essas polticas eramdirigidas para as reas de investimento pblico emsetores como o transporte, os equipamento pblicos etc. vitais para o crescimento da produo e do consumo de massa e que tambmgarantiamumemprego relativamente pleno.Osgovernostambmbuscavamfornecerumfortecomplementoaosalriosocialcomgastosde seguridade social, assistncia mdica, educao, habitao etc. Almdisso, o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordo salariais e os direitos dos trabalhadores na produo (HARVEY, 1994, p. 129).

14 O Estado se inseriu como empresrio nos setores bsicos no-rentveis, como os de energia e matrias-primasfundamentais;assumiuocontroledeempresasqueencontravam-seemdificuldades;entregoua setores monopolistas complexos industriais construdos comfundos pblicos (NETTO, 1992). 15 O Estado assegurou a possibilidade de valorizao atravs de encomendas e compras realizadas junto aos setores monopolizados; forneceu subsdios e realizou investimentos pblicos emmeios de transporte, infra-estrutura, preparao institucional da fora de trabalho requerida, investigao e pesquisa (NETTO, 1992).29executivodaburguesiamonopolistaoEstadoprecisavaselegitimarpoliticamente incorporando os outros protagonistasscio-polticos desta histria os trabalhadores. nestemomentoque,nocapitalismomonopolista,asfuneseconmicasepolticasdo Estado se articulam de uma forma como jamais havia acontecido antes. O alargamento da suabasedesustentaomedianteageneralizaoeainstitucionalizaodedireitose garantiassociais,lhepermitiuorganizarum consensocapazdeasseguraroseu desempenho. Aomesmotempo,naeramonopolista,aimensaquantidadedetrabalhadores homogeneizados,aglomeradosnasgrandesfbricas,vivenciandoosmesmosnveisde explorao encontrou as bases necessrias para a identificao coletiva das desigualdades sociais e a constituio de reivindicaes por melhores condies de trabalho e de vida. Este cenrio propiciou um salto organizativo nas lutas do proletariado, que se deu por meio do aparecimento de partidos operrios de massa e da luta pela cidadania.

(...)nascontradiesinerentesaodesenvolvimentodopadro fordista/tayloristaesuaexpansoeconsolidaonospases centrais a partir do ps Segunda Guerra Mundial, sob a regulao estatal nos moldes keynesianos, encontram-se as condies de luta e resistncia da classe trabalhadora a esse padro (ABREU, 2002: 66). A resistncia dos trabalhadores organizados gerou conquistas significativas junto ao Estado interventor e ampliou, a tal ponto, o campo das negociaes que instituiu as bases fundantes do grande acordo entre capital-trabalho-Estado que viria a se consolidar atravs do Welfare State. Esta gerao de trabalhadores, ou melhor, parte dos sindicatos e partidosqueosrepresentavamrealizaramumpactocomocapitalaceitandoaumentos salariaisdiretoseindiretos,benefcios,proteoeassistnciaemtrocadono questionamento da ordem vigente.30O Welfare State se constituiu em (...) umaforma de sociabilidadefundada nocompromisso que implementavaganhossociaiseseguridadesocialparaos trabalhadoresdospasescentrais,desdequeatemticado socialismofosserelegadaaumfuturoaperderdevista.Alm disso,essecompromissotinhacomosustentaoaenorme explorao do trabalho realizada nos pases do chamado Terceiro Mundo,queestavamtotalmenteexcludosdesse compromisso social-democrata (ANTUNES, 2002, p. 38 e 39). Ele instaurou-se em naes desenvolvidas ocasionando a introduo de direitos sociais modernos civis, polticos e sociais. Mas, a instituio e o desenvolvimento destes direitosdeu-sedemaneiradistintaemdiferentespasesprovocandoosurgimentode diversos modelos de WelfareState. Assim, EUA16 e Europa17 passaram por experincias diferenciadas em relao s responsabilidades estatais que procuravam garantir o bem-estar bsico dos cidados. No entanto, mesmo salvaguardando as devidas diferenas, o Welfare State significou um pacto realrealizado entrecapitale trabalhoquepermaneceuquase inabalvel, nos pases desenvolvidos, at a dcada de 1970.TodooprocessodedesenvolvimentodoWelfareStatefoimediatizadopela correlaodeforas dasclassessociais mostrando que umcomponentedelegitimao, mesmoqueamplo,suportvel,eatmesmonecessrio,paraqueoEstadopossa continuar desempenhando a sua funcionalidade econmica.OEstado,buscandolegitimaoatravsdojogodemocrtico,tornou-se

16NosEUAconsolidou-seumWelfareState liberal,ondepredominavaaassistnciaprestadaqueles comprovadamente pobres, fazendo comque os benefcios chegassemapenas a uma parcela da populao detentora de baixa renda. Assim, o Estado impulsionava o mercado passivamente aogarantir modestos benefcioseplanosdeprevidnciacomoativamente aosubsidiaresquemasprivadosdeprevidncia (ESPING-ANDERSEN, 1991).17 A Europa experimentou diferentes experincias atravs de Welfare States corporativistas onde, apesar de todo o aparato estatal provedor de benefcios sociais mais amplos, o que predominava era a preservao dasdiferenasdestatus,fazendocomqueoimpactodaredistribuiofossedesprezvel;esocial-democratas onde os princpios da universalidade atingiramtambmas novas classes mdias, na busca da promoo de melhores padres de vida para todos (ESPING-ANDERSEN, 1991).

31permevel demanda dos trabalhadores, que fizeram incidirsobre eleseusinteresses e reivindicaesimediatas.Mas,aoabsorv-las,opoderpblicoasrevestiucomum significado coesionador, ou seja, as colocou em um patamar onde no ameaavam as bases de acumulao do capital. Essas condies possibilitaram que as sequelas da questo social se tornassem objeto de uma interveno contnua e sistemtica por parte do Estado, ou seja, alvo de polticas sociais. Afuncionalidadeessencialdapolticasocialseexpressounosprocessosde preservao e controle da fora de trabalho, seja ela ocupada mediante a regulamentao dasrelaes capitalistas/trabalhadoresouexcedenteatravsdos sistemasdeseguro social.Aspolticassociaisasseguraramascondiesadequadasaodesenvolvimento capitalista, pois ofereceram um respaldo efetivo imagem do Estado como social, como mediador de interesses conflitantes. Assim o fato de que as demandas soatendidas a partir de mobilizaes e presses vindas do exterior do aparato estatal permite que aqueles que conquistaram algum atendimento se reconheam como representados nele (NETTO, 1992, p. 28). Noentanto,importanteobservarquealgicadeconstituiodaspolticas sociais reside na sua converso em instrumento a servio do capital (GUERRA, 2000, p. 19).Aintervenoestatalsobreasseqelasdaquestosocialserealizoudemaneira fragmentadae parcializada,pois trat-laemsua totalidade, ou seja,remet-larelao capital/trabalho, colocaria em xeque a ordem burguesa. Assim, (...) no plano ideolgico, as polticas sociais devem aparecer aos trabalhadores apartadas de interesses de classe (GUERRA, 2007a, p. 135). A questo social recortada em problemticas particulares. E a poltica social, fragmentada em diversas polticas setoriais. 32(...)aspolticassociaistornam-se formasracionalizadorase instrumentaisderesoluoimediatadosproblemassociais,bem como,aoseremformalizadasnombitojurdico-formal,elas convertem-seemprocedimentosracionalizadoresdas necessidades, interesses e lutas da classetrabalhadora (GUERRA, 2000, p. 19). Destemodo,emmeioordemsocietriacomandadapelomonoplioforam gestadasascondieshistrico-sociaisparaque,nadivisoscio-tcnicadotrabalho, aparecesseumespaoondepudessemsemoverprticasprofissionaiscomoasdo assistentesocial.Comisso,oprofissionalpassouainscrever-senumarelaode assalariamento e a significao social do seu fazer passou a ter um sentido novo na malha da reproduo das relaes sociais.O Servio Social se instituiu como profisso na Europa e nos Estado Unidos da Amrica EUA , no perodo compreendido entre o final do sculo XIX e comeo do sculoXX18.Apartirdeento,asaessociaiseasescolasdeServioSocialse proliferaram por estes dois continentes, estendendo-se por toda a Amrica Latina.OServioSocial,tantonaEuropaquantonosEUA,desenvolveu-sesobuma perspectiva reacionria frente aos movimentos revolucionrios que vieram tona no incio dosculoXX,incentivadospelaRevoluoRussaem1917.Emambososcasos,a profisso aliou-se aos interesses capitalistas para desenvolver estratgias de controle social sobreaclassetrabalhadora.Mas,avertentenorte-americanafundamentou-seemum pensamentoconservadorquepriorizoualinhadaPsicanlise,dandonfaseajuda psicossocial individualizada; enquanto a vertente europia sustentou-se na orientao da Sociologia, comdestaque na ao social (ABREU, 2002).Apesar das diferenas tericas, em ambas as vertentes, a profisso sofreu forte

18 Este processo foi impulsionado pela criao das primeiras escolas de formao profissional para atuao nocampodaassistnciasocialnosEUA,em1899;pelaaosocialdesenvolvidapelasSociedadesde OrganizaodaCaridadeeuropiaseamericanas;pelaaoedoutrinasocialdaIgrejaCatlica;pelas primeiras escolas de Servio Social na Europa uma inaugurada na Inglaterra em1903 e duas na Frana, sendo uma em1911 e outra em1913 (ABREU, 2002). 33influncia da doutrina catlica consubstanciada na filosofia neotomista, como fundamento da racionalizao da assistncia. O suporte tcnico e filosfico pautou-se em duas fontes principaisdecunhopositivista:opensamentotayloristaqueimprimiuorganizaoao americanismo19 e a orientao dogmtica base da filosofia humanista crist.Nesta perspectiva, as desigualdades sociais foram naturalizadas e tratadas como inerentes s peculiaridades da condio humana. A questo social, traduzida no quadro de misria dos operrios, apresentou-se como reveladora da deteriorao dos valores morais, apontando a necessidade de recuper-los mediante uma interveno humanizadora.Comisso,acategoriaprofissionalemergentepreocupou-secomo aperfeioamento de procedimentos, tcnicas e instrumentos que pudessem ser utilizados no processodeelaboraodediagnsticossobreasituaosocialeapersonalidadedo indivduo buscando o controle tcnico do atendimento prestado. Frente ao objetivo maior demanutenodaordemsocialosesforosseconcentraramnabuscaporeficciae eficincia nas aes desenvolvidas20. Em relao ao processo de institucionalizao do Servio Social como profisso naEuropa,estefoiinicialmentemarcado pelaprevalnciade uma orientao filosfica neotomista. Os profissionais, nesta perspectiva, apropriaram-se de conceitos e concepes advindasdequestesticasquecontriburam paramistificaraconsolidaodacultura dominante. Os avanos tcnico-cientficos s foram surgir como preocupao desta parte dacategoriaprofissionalapartirdadcadade1940,comadifusodopadro fordista/taylorista sob a regulao do Estado keynesiano.

19O americanismo se instaurou como umprojeto de hegemonia que se contraps perspectiva histrica de emancipao da classe trabalhadora. Emergiu afinado como objetivo progressista da classe dominante emcontrarrestar a queda tendencial da taxa de lucro a partir da multiplicao das variveis nas condies do aumentoreguladodocapitalconstante.E,desenvolveuumanovaformadepensar,agireviverquese constituiu emuma nova ideologia uma nova cultura (ABREU, 2002). 20 Da a nfase tcnico-instrumental do desenvolvimento do Servio Social norte-americano, bemtraduzida desde os esforosprofissionais iniciais de sistematizao e racionalizao daassistncia sob aorientao positivista, emque a obra Diagnstico Social primeira formulao terica da profisso, elaborada por Mary Richmond, em1917 emblemtica (ABREU, 2002, p. 60). 34Todo esse aporte terico influenciou a atuao profissional dos assistentes sociais no incio da consolidao da profisso no Brasil e na Amrica Latina atravs da influncia da vertente norte-americana, a partir dos anos de 1940.Odebatemaisdetalhadoacercadopercursoscio-histricopercorridopelo Servio Social, no Brasil, ser apresentado a seguir. 1.2. Trajetria scio-histrica do Servio Social no Brasil No Brasil, o processo de institucionalizao do Servio Social, como profisso reconhecida na diviso social e tcnica do trabalho, deu-se em meio ao movimento das classes sociais, s mudanas ocorridas no Estado e estratgia desenvolvida pela Igreja Catlica.Apartirde1937percebemos,emnossopas,umperodomarcadopelo aprofundamentodomodelocorporativistadoEstadoeporumapolticanitidamente favorvel industrializao. Nesta poca, a burguesia industrial ascendeu ao poder aliada aosgrandesproprietrios rurais.Estaaliana deparou-secom oimensocrescimentodo proletariado urbano. O Estado, por sua vez, procurou envolver a classe operria como um elemento adicional de sua legitimao, atravs de uma poltica de massas que, ao mesmo tempo,pudesse,tambm,reprimirosmovimentosreivindicatriosquecomeavama surgir. Paragarantirestafonte delegitimao,oEstadotem necessariamente deincorporar parte das reivindicaes populares, ampliandoasbasesdereconhecimentodacidadaniasocialdo proletariado,atravsdeumalegislaosocialesindical(...). Emergem, nesta fase, novas instituies, como o salrio mnimo, a justiadotrabalhoeumanovalegislaosindicaletc. (IAMAMOTO, 2000, p. 92). 35Entretanto, o usufruto de uma legislao minimamente protetora do trabalho foi subordinado ao atrelamento do movimento operrio ao Estado, implicando na abdicao de seu projeto poltico particular. A maioria dos sindicatos se transformaram em agncias de colaboraodopoderpblico,tornando-secentrosassistenciaiscomplementaresao estatal, utilizando recursos extrados, de maneira compulsria, da prpria classe operria. Ocorreu, assim, um esvaziamento poltico das entidades sindicais, ao mesmo tempo em que o Estadoiniciou umaaonormativae assistencial buscandocanalizaro potencial mobilizadordostrabalhadoresemanterrebaixadososnveissalariais.Foinesta perspectiva que surgiram e se desenvolveram as grandes instituies assistenciais. Nesseperodo,aposiodaburguesiaempresarialemfacedo enfrentamento da questo social altera-se: ela adere poltica de controlesocialdaditaduravarguista,aoperceberqueapaz social imposta atravs de uma legislao social simultaneamente paternalistae repressivareverteem elevaodarentabilidade econmica das empresas (IAMAMOTO, 2000, p. 93). No momento em que ocorreu a criao das grandes instituies assistenciais, o Servio Social era, ainda, um projeto embrionrio de interveno social. Limitava-se a uma atividadeprofundamenteligadaIgrejaCatlica,quedesenvolviaaesemobras assistenciaisdecunhofilantrpicoeassistencialista.Utilizavaumcomponentetcnico-operativo fundamentado em instrumentos prprios das tradicionais formas de assistncia, decunhocatlico,individualizadoevoltadoparalegitimaraordemestabelecida.Os procedimentos mais utilizados eram: estudos de necessidades individuais, familiares e de localidades,avaliaodesolicitaesdeajuda,concessodeajudamaterial,etc.Os agentestambmrealizavamvistasdomiciliares,elaboravaminquritossociais, encaminhamentos e triagem/seleo de casos.Taisaeseramimplementadasporsegmentosburgueses,essencialmente 36femininos,com ointuitode solidificara penetraocatlicaentre os setores operrios, dentrodeumprojetoderecristianizaodasociedade.Esteprojetoexpressouuma mudana na postura da Igreja que deixou de ser mais contemplativa e avanou no campo dasdisputaspolticas,procurandorecuperarsuasreasdeinflunciaameaadaspela secularizao e pelo redimensionamento do Estado. Com osurgimentodasgrandesinstituiesassistenciaisestataiseparaestatais ocorreu umaampliao euma modificaonomercadodetrabalhodoServioSocial. Este, ento, pde romper com o quadro estreito de atuao presente em sua origem para se tornar uma atividade institucionalizada e legitimada pelo Estado. Com a profissionalizao do apostolado social, deu-se um movimento de crescente cooptao destes profissionais pelo Estado e pelo empresariado. O Estado passou a ser um dos principais incentivadores da qualificao tcnica da profisso.Assim, o Servio Social se transformou em categoria assalariada e o pblico-alvo doassistentesocialsealterou.Asaesdispersasdasobrassociaisjuntoaparcelas insignificantesda populao foramsubstitudas por polticasassistenciaisdesenvolvidas paragrandessetoresdoproletariado.Osassistentessociaispassaramarealizar investigaessobreascondiesdevidadasfamliasoperriasatravsdevisitas domiciliareseinquritossociais;eorientarsobrequestesmorais,dehigieneede utilizao racional da renda familiar. Entre os anos de 1930 e 1940 ocorreu uma importao da produo profissional norte-americanaprevalecendoasabordagensindividualistasequantitativas,a hipervalorizao da personalidade e da relao interpessoal, dando-se nfase a resoluo dos problemas sociais no mbito pessoal, individual. Tal influncia deu-se por meio da difuso das tcnicas e mtodos de caso e de grupo que configuram uma perspectiva de atuao profissional pautada na ajuda psicossocial individualizada, de cunho moralizador 37direcionada para a reforma moral e a reintegrao social (ABREU, 2002). Nesse incio da institucionalizao da profisso, o Servio Social de caso aparece como abordagem predominante. Este era voltado para o estudo, diagnstico e tratamento, baseadosnainvestigao de fatoresinternos referentes aosindivduos eexternos relativos ao ambiente em que vive , para a partir dessa reunio de dados e impresses produzir um diagnstico sobre a situao psicossocial do cliente e viabilizar o tratamento. Nesse perodo, tambm era realizada a abordagem grupal. Os grupos informais e derecreaotinhamfinsteraputicosedetratamento,sendoutilizadostambmparaa resoluo de problemas pessoais de relacionamento e socializao. O processo de ajuda psicossocial individualizada pautava-se na convico de quetodohomempossuicapacidadeparaprogrediremeiosparaalcanarsuaprpria promoosocial.Estaconcepotericadeslocaaquestosocialexpressodos antagonismos de classe para o campo da psicologia, priorizando componentes individuais e subjetivos em detrimento das expresses materiais e coletivas (ABREU, 2002).Deste modo, no processo de ajuda psicossocial individualizada as necessidades queosindivduosexpressamdeixamdeserconsideradascomoquestesobjetivasque demandamrespostasconcretasepassamaserpercebidascomoaspectossubjetivosde condutasdesviantesede dificuldades derelacionamento.O relacionamento,assim,a instnciaprivilegiadadessaperspectivadeatuaoprofissional.Sobestaticapor intermdio do relacionamento psicossocial que o assistente social, imbudo de competncia tcnica e poder institucional, analisa e seleciona situaes e indivduos que tero acesso aos servios ou benefcios solicitados. Este processo de reificao das relaes sociaisreflete e refora a tendncia naturalizao da vida social, onde as desigualdades sociais apresentam-se como condio inerente pessoa humana. Este pensamento refora o fetiche do colaboracionismo entre 38capital e trabalho. (...) atribui natureza as leis do movimento histrico, subtraindo dos sujeitos a direo consciente na construo desse movimento e remetendo para a esfera moral o especfico do social, o que tende paraapsicologizaodasrelaessociais,mediante aqualas manifestaesdaquestosocialaparecemcomoproblemasde ordem moral (ABREU, 2002, p. 90). Seguindoestalgica,muitosvalores,conceitoseposturasprofissionaisforam tomados como universais e utilizados de maneira completamente descolada do contexto scio-histrico no qual se encontrava o assistente social brasileiro. No foram levadas em contaasparticularidadesregionaiselocais,adotando-secertospadresdeinterveno divorciados da realidade social de um pas perifrico e pouco desenvolvido. O modelo de interveno profissional desenvolvido em uma conjuntura de pases centrais e avanados que passavam pela experincia do Welfare State foi automaticamente transplantada para os pases latino-americanos com padres culturais muito diferenciados. Portanto,odesenvolvimentohistricodaperspectivadeatuaoprofissional pautadanaajudapsicossocialindividualizadacontribuiuparaaatualizaoda perspectivasubalternizantedecontrolesobreostrabalhadores,atravsdemecanismos capazesreforarosinteressesdaclassedominante.Nesteprocessoforamutilizados instrumentos que possibilitaram seletividade, elegibilidade, qualificao e desqualificao dossujeitossubmetidosaosprocedimentosdeajuda.Taismecanismosdeseleo impem,historicamente,formasdeenquadramentodossujeitosemnormasdeconduta estabelecidas pelos interesses dominantes na sociedade capitalista.Estasprticasassistenciaisdeajudaperpassaramtantoaescaritativas desenvolvidas pela Igreja, como intervenes de cunho filantrpico estatal. E, a partir do processoderacionalizaodaassistnciasocial,prticadaajudaforamagregados 39elementos pautados em valoresmoraisque desenvolveramumafilosofia da promoo social. Tal filosofia mostrava-se capaz de mobilizar os indivduos para umenvolvimento noprocessodeatendimentodesuasprpriasnecessidades,cujocorolriocolocado como possvel autopromoo, mas, de fato, significa a busca de reduo/socializao dos custos dos bens e servios prestados (ABREU, 2002, p. 100). Neste sentido, a partir da dcada de 1950 o Servio Social comeou a trabalhar com comunidades pormeio de processos demobilizaoe organizaode grupos para promover o desenvolvimento econmico-social de pequenas localidades. Nesse momento, o trabalho em grupo onde tenta-se resolver os problemas a partir da socializao grupal perdeu espao para os trabalhos com comunidades que erammais abrangentes. Estamudanacaracterizouosurgimentodeumanovaprticaprofissionaldo assistentesocialquedesenvolveu-seemmeioaoconjuntodemecanismoscriadosno processodedifusodaculturadobem-estarnocontinentelatino-americano.A perspectivadaparticipaosedesenvolveueseconsolidouatravsdaspropostasde Desenvolvimento de Comunidade DC , sob influncia da ideologia desenvolvimentista modernizadora.Talideologiapossuiseuarcabouotericopautadonateoriada modernizao21 que justifica o subdesenvolvimento como uma etapa dentro do processo de desenvolvimento. AsexperinciasdeDC queforam implementadasnoBrasilassimcomoem demais pases da Amrica Latina , a partir da dcada de 1950, possuam a participao popularnosprogramasdegovernocomoeixocentralnosprocessosdeintegraoe promoosocial.Estapolticaparticipacionistasuperdimensionavaoenvolvimentodos sujeitosresponsabilizando-ospelaconquistadeumapossvelsituaodebem-estar

21 Esta teoria explica o subdesenvolvimento como umestgio de transio entre tempos histricos distintos, correspondentesapadressocioculturaisconstitutivosdeplosatrasadosemodernospresentesemuma sociedade (ABREU, 2002, p. 106). Defende a idia de que os pases emdesenvolvimento esto percorrendo umcaminho histrico que os levar aos mesmos patamares dos pases j desenvolvidos. 40social. Esta ideologia, ao mesmo tempo emque destaca a participao do prpriopovonosesforosparamelhorarseunveldevidaeo apoio tcnico governamental para tornar eficazes os programas de ajudamtua,comoingredientesbsicosdoDC,oferece sustentao para o entendimento de que estes mesmos elementos constituem-secomponentesdoprocessopedaggicode organizaoedesenvolvimentolocais,em queDCum importante instrumento desse processo (ABREU, 2002, p. 110). A estratgia desenvolvimentista encontrava-se integrada aos interesses dos EUA emassegurarcondiesparaadinamizaodedesenvolvimentocapitalistajuntoao mercado latino-americano sob sua hegemonia financeira22. Pretendia fazer frente ameaa de expanso do comunismo no referido continente, visto como um campo propcio para o desenvolvimento desta ideologia.Os esforos empreendidos nestes objetivos podem ser resumidos no pensamento daOrganizaodasNaesUnidasONUaojustificaroextensoprogramade assistncia aos pases pobres principalmente os da Amrica Latina sob o argumento de que (...) o esforo de ajudar os povos a alcanar umnvel de vida mais sadioemaiseconomicamenteprodutivoeliminariaosfocosde comunismo em potencial; de que a melhoria das condies sociais eeconmicasemqualquerparte domundolivreredundariaem benefcio dos Estados Unidos (AMMANN appud ABREU, 2002, p. 96 e97). Nestesentido,aONUfoibuscar,juntoaoServioSocial,profissionais especializados,capacitadosparadesempenharfunesintelectuaisvoltadasparaa

22 Neste sentido, o estmulo ao DC no pode ser visto como uma proposta dirigida exclusivamente ao Servio Social. Ao contrrio, ele fez parte de uma ampla estratgia, atravs da qual os EUA procuraramimpulsionar o desenvolvimento do capitalismo nos pases latino-americanos, mantendo seus mercados sob o seu domnio (CASTRO 2006). 41participaopopularintegradasaosprogramasdegoverno.Essademandaprovocoua ampliao de programas de capacitao profissional pra qualificar assistentes sociais de acordo com as exigncias tcnico-operativas dos programas de DC. AsequipesdeDCrecorriamainstrumentosetcnicasderivadosdaPesquisa Social,DinmicadeGrupo,Comunicao,PsicologiaeEducao,impulsionandouma ampliao das abordagens profissionais, mas ainda tinha-se a prevalncia da centralidade formalistadomtodo.Estesendoentendidocomoumconjuntodeprocedimentos predeterminados que tem por funo operacionalizar as aes atravs de instrumentos e tcnicas que so abordados como atitudes e habilidades. AsexperinciasdeDCpautavam-seemumaperspectivaprofundamente funcionalista no que se refere ao trato da questo social. Pois esta era reduzida a problemas tcnicos que poderiam supostamente ser solucionados atravs de uma frmula central que contemplasse mltiplas variantes de interveno profissional.De acordo com a proposta do DC, comunidade imprecisamente definida caberia empregar sua energia para a superao do seu atraso, uma vez que os instrumentos necessrios para tal empenho encontram-senelaprpria. Ou seja, a comunidade, em si, possuitodososelementosnecessriosparacaminharrumoaoprogressoeconmicoe social. Ao Estado que supostamente exerce o seu poder em benefcio de todos caberia colocar disposio da comunidade os recursos financeiros e o apoio tcnico entre os quais encontram-se os assistentes sociais. Esta frmula suscita o estabelecimento de laos de gratido e lealdade da comunidade para com o Estado, o que muito contribui para a reproduodaideologiadominante,pormascararasrelaesdeexploraoeas fundamentais contradies presentes na sociedade capitalista. Foi desta forma que o DC consolidou-se como um procedimento de ao profissional dentro do Servio Social.Entretanto, as necessidades da populao eram sempre infinitamente maiores do 42queosparcosrecursosdisponibilizadospeloEstado.Estaestratgiadeinterveno, centradanaspeculiaridades dasociedadenorte-americana,comeou,ento,achocar-se comarealidadelatino-americanaque,naqueledeterminadomomentohistrico configurava um contexto social amplamente diverso do gestado nos EUA e na Europa.

Adramticacondiodonossocontinente,porexemplo,no poderiaencontrarrespostasapropriadassobreaspremissas emanadasdosprocedimentosdeorganizaodecomunidade gestadas nos Estados Unidos. Os profundos problemas derivados da sujeio econmica, do processo de proletarizao da mo-de-obra,dosefeitosdaexpansododomnioimperialista,entre tantos,constituam barreirasinfranqueveisparaas recomendaesconcernentesaotrabalhodosassistentessociais, em suabuscadeumacombinaomaisadequadaentre necessidadesidentificadaserecursosdisponveis(CASTRO, 2006, p. 142 e 143). Emmeioaestaconjunturaadversa,podemosafirmarqueasexignciasda estratgia desenvolvimentista na Amrica Latina, acabaram por suscitar, em alguns grupos de assistentes sociais de pases como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, inquietaes e interrogaes a respeito do projeto profissional do Servio Social frente realidade social destecontinente.Nestapoca,comearamasurgir,pelaprimeiravez,posturas profissionais que questionavam o status quo e contestavam a prtica institucional vigente.Cabe ressaltar que a proposta desenvolvimentista suscitava grande entusiasmo na maior parte dos profissionais do Servio Social, que defendiam a estratgia do DC como umcaminhocapazdeconduziraspopulaesaassumiremconscinciadosseus problemas sociais, estabelecendo mecanismos para a sua integrao ao desenvolvimento do pas (CASTRO, 2006, p. 168). Noentanto,emmeiovitalidadedestaposiocomearamasurgirvozes divergentesconvidandoacategoriaprofissionalreflexosobreaviabilidadehistria desta proposta e sobre o seu impacto no Servio Social. O iderio destes grupos cresceu e 43transformou-se em um amplo movimento que repercutiu na categoria profissional latino-americana culminando num processo denominado Movimento de Reconceituao23. Indagando-sesobreopapeldosprofissionaisemfacede manifestaesdaquestosocial,interrogando-sesobre a adequaodosprocedimentosprofissionaisconsagradoss realidades regionais enacionais, questionando-se sobre a eficcia das aes profissionais e sobre a eficincia elegitimidade das suas representaes, inquietando-se com o relacionamento da profisso comosnovosatoresqueemergiam nacenapoltica (fundamentalmente ligadossclassessubalternas)etudoisso sobopesodocolapsodosprotagonistassociopolticos,da revoluo cubana, do incipiente reformismo gnero Aliana para o Progresso,aomover-seassim,osassistentessociaislatino-americanos,atravsdeseussegmentosdevanguardaestavam minando as bases tradicionais da sua profisso (NETTO, 2002, p. 146). Este movimento latino-americano rebateu no Servio Social brasileiro, no incio dosanosde1960,impulsionadopelocontextodeefervescnciapolticaqueassistiao colapsodopopulismoeoprotagonismodeinmerosmovimentossociaisnalutapela implementao das reformas de base durante o Governo de Joo Goulart. Assim,oinciodosanos60marcadopelagestaodeuma conscincia nacional-popular, (...) epelo engajamento de amplas camadassociaisnalutapelasreformasdebaseque impulsionaram,sobremaneira,processosde conscientizaoe politizao,envolvendoprincipalmentetrabalhadoresruraise urbanos, intelectuais eestudantes (ABREU, 2002, p. 141). Em meio a esta conjuntura, a expanso da profisso acabou por promover uma aproximao dos assistentessociais com a realidade vivida pelos trabalhadores; com as consequncias causadas por uma poltica econmica desfavorvel classe trabalhadora; e com as manifestaes populares organizadas atravs dos movimentos sociais em resposta a estas condies.

23 O Movimento de Reconceituao ser abordado de forma mais detalhada no prximo captulo. 44As lutas dos trabalhadores, tanto urbanos quanto rurais, ganharam, na dcada de 1960,umcorpomaisslido,maisconsistente,impulsionandoumprocessodemaior politizao dos setores mdios.Juntoaisso,umaparceladaIgrejaCatlica,denominadaesquerdacrist conquistouvisibilidadenacionaleacabouporinfluenciarmuitosassistentessociais alunos, militantes ou profissionais, atravs do movimento pela Teologia da Libertao24. A influncia do vis marxista da Teologia da Libertao somada s formulaes pedaggicas de Paulo Freire impulsionaram os esforos dos assistentes sociais no sentido de construir um projeto profissional vinculado aos reais interesses dos trabalhadores.Este processo provocou um redimensionamento da orientao terica do Servio Social e o desenvolvimento de uma nova direo deo-poltica da prtica profissional. Esta nova direo inspirou-se nas experincias das comunidades eclesiais de base CEBs25 queseconstituramemprocessospedaggicosdegranderepercussoemtodoopas, fortalecidos pela Teologia da Libertao, criando novos padres de sociabilidade com base nas experincias cotidianas dos trabalhadores.Entretanto,noBrasil,oanode1964significouumamudanaexpressivana correlaodeforasquevinhaseestabelecendonocenrionacional,atravsdeum movimento cvico-militar reacionrio, apoiado e patrocinado pelos EUA, que derrubou, em 1 de abril, o presidente Joo Goulart. A ditadura implantada no pas por meio de um golpe militar perdurou por longos vinte anos e instaurou um eficiente terrorismo de Estado capaz

24 Este movimento buscava estabelecer uma articulao entre o cristianismo e o marxismo, realizando uma leituracrticadasrelaessociais,desvendandoosprocessos deexploraoededominaoinerentes sociedade capitalista. O objetivo da Teologia da Libertao no era claramente definido, mas seus propsitos foramganhando contornos revolucionrios uma vez que conclamava os cristos para aderirem luta pelo socialismo no continente latino-americano (ABREU, 2002).25Enraizadasdesdeoincionasprticascotidianasdascamadaspopulares,asCEBsconstituemcontribuies efetivas na criao de canais de politizao das relaes sociais, na medida emque encorajama auto-organizao desses segmentos, favorecendo umaformaopoltica e articulao de foras emnveis cada vez mais abrangentes, mediante debate crtico sobre as contradies sociais no bojo de um processo de luta por melhorias de condies de vida e de contestao ordemestabelecida (ABREU, 2002, p. 132). 45de aniquilar todas as mobilizaes e organizaes sociais.Comarepressomilitar,osquestionamentospolticosquecomeavama sensibilizar parcelas de assistentes sociais foram abafados26. O incio de um movimento que caminhava no sentido de revisar a prtica profissional do Servio Social foi obrigado a refluir. O golpe de abril interrompeu bruscamente o processo que indicava, pela primeira vez,acriaodencleoscapazesdevincularaintervenoprofissionalaprojees societrias da classe trabalhadora.Em meados da dcada de 1970 quando a Reconceituao reflua nos demais paseslatino-americanos porconta da instaurao deregimesditatoriais,no Brasil, a ditaduramilitarcomeavaadarsinaisdecrise,especialmente,atravsdodesgastedo milagre econmico27.Esteprocessosuscitouamplasreflexesemmeiocategoriaprofissional,no nosso pas, que se desenvolveram em trs principais direes que constituram o processo de Renovao do Servio Social no Brasil.Os trs direcionamentos construdos por grupos de assistentes sociais, no Brasil, registram trs momentos que condensam suas reflexes tericas: na segunda metade dos anos de 1960 desenvolveu-se a perspectiva modernizadora; em meados da dcada de 1970 registra-se a reatualizao do conservadorismo; na abertura dos anos de 1980 encontram-sesistematizaesdaintenoderupturacomoServioSocialtradicional(NETTO,

26Todasasexperinciasquevinham influenciandoosassistentessociaisbrasileiros,como:asligas camponesas, do Movimento de Educao de Base MEB vinculado, inicialmente, Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil CNBB e outros movimentos de promoo da cultura popular, como os Centros Populares de Cultura CPCs ligados a Unio Nacional dos Estudantes UNE e o Movimento de Cultura Popular MCP criado pela prefeitura do Recife, foramsufocadas pelo golpe militar (ABREU, 2002).27Omilagreeconmicoconsistiu-seem um processodedesenvolvimentodaeconomiabrasileira, absolutamente artificial e antinatural, baseado na extrema explorao dos trabalhadores e no arrocho salarial que tornava a mo-de-obra barata o bastante para atrair investimentos estrangeiros sustentado no lema: vamos fazer o bolo crescer para depois repart-lo. Segundo Netto (2002, p. 40), emnota de rodap n 53: nacrisedomilagreentrecruzam-seumacrisecclicapotenciadainicialmentepelaconjuntura internacional e a crise estrutural do capitalismo no Brasil; da, tambm, a extenso e a profundidade do processo aberto como colapso do milagre.462002). Entretanto, faz-se necessrio ressaltar que apesar da diviso temporal apontada por Netto, estes momentos, muitas vezes, se articularam e se entrelaaram num processo que buscava a renovao do Servio Social brasileiro. Portanto, devido ao processo scio-histrico do Brasil, a Renovao do Servio Social um processo exclusivamente brasileiro cujas bases deo-polticas encontram-se na Reconceituao latino-americana.Talprocessoderenovaovinculou-se,emseumomentoinicial,uma perspectiva voltada para o desenvolvimento de uma modernizao conservadora28 e no paraumatendnciaquesomasseesforosnalutapeladefesadosinteressesdaclasse trabalhadora.Assim,aprimeiradireodarenovaopautou-senaideologia desenvolvimentistaenadoutrinadesegurananacionaledodesenvolvimento pensamentos que sustentavam a ditadura militar no pas, naquele momento. (...)elasereportaaosseusvaloreseconcepesmais tradicionais, no para super-los ou neg-los, mas para inseri-los numa moldura terica e metodolgica menos dbil, subordinando-osaos seusviesesmodernos -donde,poroutrolado,olastro ecltico de que portadora (NETTO, 2002, p. 155). Todoestepensamentosesustentanumavisofuncionalistadasociedadeque consideraocrescimentoeconmicoumfatordodesenvolvimentosocial.Dentrodesta perspectivaoobjetivoconsisteemalcanaraadesoeoconsentimentodapopulao perante a hegemonia desenvolvimentista.Destaforma,instaura-seummecanismocapazdemascararaestrutura concentradora de poder e de renda na qual se sustenta a sociedade em que vivemos. Ele

28 A perspectiva modernizadora constituiu a primeira expresso do processo de renovao do Servio Social noBrasil.EmergiunoencontrodePortoAlegre,masafirmou-serealmentecomoumacorrentede pensamento nos resultados dos seminrios produzidos pelo CBCISS emArax - 19 a 26 de maro de 1967 - e Terespolis - 10 a 17 de janeiro de 1970. O Documento de Arax e o Documento de Terespolis possuemcaractersticas e nfases diferenciadas, mas representarama consolidao da tentativa de adequar o Servio Social s tendncias scio-polticas que a ditadura tornou dominantes (NETTO, 2002). 47ofereceaostrabalhadoresumsupostoacessoaosbenseserviosnecessriosparasua sobrevivnciae,aomesmo,tempoencobrereaispossibilidadesdeumaparticipao poltica que poderia questionar as estruturas sociais.Frentesdemandasimpostaspelamodernizaoconservadora,oprojeto profissionaldoServioSocialsofreuumredimensionamentoepassouareproduziras falciasdeumtransformismoinerenteaestepadrodedesenvolvimento.Assim,a participao, impulsionada pela prtica dos assistentes sociais, inscreve-se na perspectiva de integrao social entendida como integrao ordem capitalista nacional.Este pensamento impulsionou, dentro do Servio Social, esforos no sentido de teorizarsobreosprocessosdeparticipaovistoscomopossibilidadedesuperaodo problema da marginalizao e alcance da promoo social. Neste perodo os assistentes sociais assumiram atividades de planejamento, coordenao, acompanhamento e avaliao deprogramassociais.Poisademandarequisitavaprofissionaisquedominassema burocracia estatal, a administrao e que utilizassem a pesquisa social e o planejamento.A perspectiva modernizadora teve sua hegemonia posta em questo em meados da dcada de 1970, frente aos setores da categoria profissional que se colocavam contra a ditaduraeemoposiosbasestradicionaisdaprofisso.Aexpressotericadestes setores deram origem a outras direes do processo de Renovao do Servio Social no Brasil: a reatualizao do conservadorismo e a inteno de ruptura (NETTO: 2002). Na segunda metade da dcada de 1970 surgiu um grupo de profissionais que se contrapsaospadresvinculadostradiopositivistaesrefernciasdo pensamento marxista, dando origem segunda perspectiva do processo de renovao: a reatualizao do conservadorismo29. Esta perspectiva foi responsvel por conferir ao Servio Social um

29 A perspectiva denominada reatualizao do conservadorismo comeou a apresentar algumas formulaes nos seminrios realizados no Rio de Janeiro - no Centro de Estudos do Sumar, em1978 e no Alto da Boa Vista, em1984.Esta vertente revelou umelenco de traos que conferirams concepes conservadoras do 48trao microscpico em sua interveno profissional. Pautou-se em uma viso de mundo derivadadopensamento catlicotradicional,masoresgatedetalideriodeu-sesob o vernizdamodernidade.A,exatamente,oseucarterrenovadoremconfrontocom o passado: o que se opera um reatualizao dele, com um consciente esforo para fund-lo em matrizes intelectuais mais sofisticadas (NETTO, 2002, p. 157).Embora tenha ficado muito distante de alcanar o mesmo xito da perspectiva modernizadora, a reatualizao do conservadorismo exerceu algumas influncias sobre a categoria profissional que merecem ateno. Segundo Netto (2002, p. 203)

Uma primeira,eevidentementedecisiva,caractersticarelevante destaperspectivaaexignciaeavalorizaoenrgicasda elaboraoterica.Defato,todososseusdocumentos significativos insistemnanecessidadedeumesforo sistemtico no sentido de produzir (e/ou organizar) conhecimentos para fundar asprticasprofissionais.Anfase recainainterdiodo empirismoedopraticalismo,ressaltando-secomoprimordialo investimento na cognio.

Seus aportes fundamentais esto apoiados na compreenso de homem e mundo, orientada por uma hermenutica da realidade pela teoria personalista do conhecimento, por umafenomenologiaexistencialeporumaticacrist.Autilizaodosuporte metodolgico da fenomenologia emerge como uma das principais balizas diferenciadoras da contribuio desta perspectiva no processo de renovao da profisso.Na busca por esboar uma crtica ao tradicionalismo profissional, a perspectiva de reatualizao do conservadorismo, guiada pela inspirao fenomenolgica, realizou um regresso ao que h de tradicional e consagrado na herana conservadora da profisso: a recuperaodeseusvaloresuniversaiseacentralizaonasdinmicasindividuais (NETTO, 2002, p. 216). Servio Social uma nova roupagem(NETTO, 2002). 49A tnica central da terceira direo do processo de renovao do Servio Social brasileirofoiaintenoderupturacomasbasestradicionaisdaprofisso.Mas,esse processo de redimensionamento do Servio Social, alicerado em uma inteno de ruptura com o conservadorismo desdobrou-se em dois momentos diferenciados. O primeiro deles ocorreu no incio dos anos de 1970 e caracterizou-se por um vismecanicistasustentadoporumavisodicotmicaentreestrutura/superestrutura, Estado/sociedade. Neste momento, algumas universidades constituam-se em espaos de resistncia frente aos ditames ditatoriais, possibilitando o desenvolvimento de experincias e prticas alternativas, comprometidas com os interesses da classe trabalhadora.Estemomento constituiu amaior,senoanica, expresso doMovimentode Reconceituao no Brasil: a experincia de Belo Horizonte, o chamado Mtodo BH. Aemergnciavisivelmenteobjetivadadestaperspectiva renovadoraestcontidanotrabalholevadoacabo,mais notadamente entre 1972 e1975, pelo grupo de jovens profissionais queganhouhegemonianaEscoladeServioSocialda Universidade Catlica de Minas Gerais, onde se formulou o depois clebre Mtodo Belo Horizonte (NETTO, 2002, p. 261). Asexperincias30desenvolvidassobestalgicaprocuraramsecontrapor influnciadaperspectivaconservadoranaprticaprofissional,masnoconseguiram superar elementos problemticos que acompanhavam o Servio Social na sua relao com omarxismo.Taisprticasforammuitoinfluenciadasporummarxismovulgarque reproduziu nestas experincias os equvocos de um vis mecanicista voluntarista. Assim, tais equvocos foram sustentados pelo estruturalismo de Althusser e pelo marxismo vulgar

30 Alguns dos principais aspectos que caracterizaramtais experincias foram: umsuperdimensionamento da participao popular no processo de construo do projeto profissional; umdescompasso entre os avanos poltico-ideolgicos,noqueserefereintensionalidadedaprticaprofissional,eaefetivaanlisedas condies objetivas de tal prtica. 50queapresentamumaanlisepositivistaeempiricistaencobertaporumafraseologia marxista.Elasacabaramporadquirircontornosdepartidarizaoque,emmuitos momentos, seguindo a lgica que confundia testemunho cristo com prtica profissional misturou interveno profissional com militantismo poltico.O segundo momento do redimensionamento do Servio Social pautado em uma inteno de ruptura com as bases conservadoras da prtica profissionalfoiinfluenciado pelo contexto poltico dos anos de 1980. Esta dcada representou a abertura poltica que culminounochamadoperododetransiodemocrtica.Aredemocratizaoenvolveu vriossegmentosorganizadosdasociedade,incorporandodiversasreivindicaesdos trabalhadores e culminou na aprovao da nova Constituio Federal de 1988.Aperspectivadeintenoderupturacomasbasestradicionaisdaprofisso consolidou-seemmeiocategoriaprofissionalnoinciodadcadade1980,trazendo como substrato nuclear uma crtica sistematizada ao seu desempenho conservador e aos seussuportestericos,metodolgicoseideolgicos.Comefeito,elamanifestaa pretenso de romper quer com a herana terico-metodolgica do pensamento conservador (a tradio positivista), quer com os seus paradigmas de interveno social (o reformismo conservador) (NETTO, 2002, p. 159). Umaforteexpressodepublicizaoeespraimentodetodoesteprocesso construdoporsetoresdacategoriaprofissionalfoioIIICongressoBrasileirode AssistentesSociaisrealizadoem1979,emSoPaulo,queficouconhecidocomo Congresso da Virada.O projeto de ruptura com o conservadorismo no Servio Social se instalou em meio aos debates da categoria e vem dando o tom da produo intelectual da profisso. Procurando repensar o Servio Social sob a perspectivahistrico-crtica, vem buscando fundamentaonatradiomarxistaespecialmentenospensamentosdeGramsci, 51Lukcs, Engels e do prprio Marx. Ele tem garantido a hegemonia de um projeto tico-polticoprofissionalqueindicacategoriaumaprticavinculadaaumprojetosocial radicalmente democrtico, compromissado comos interesses da classe trabalhadora.UmmarcocentraldestarupturafoiaproduotericadeMarildaVillela Iamamoto e Raul de Carvalho RelaesSociaiseServioSocialnoBrasil:esboode uma interpretao histrico-metodolgica publicada em 1982. Neste livro Iamamoto procura compreender o significado social do exerccio profissionalemsuasconexescomaproduoeareproduodasrelaessociaisna formaosocialvigentenasociedade brasileira.Asua perspectivadeanliseenfocao Servio Social como profisso referenciada ao contexto de aprofundamento do capitalismo no pas e supe que a apreenso do significado histrico da profisso s desvendada em sua insero na sociedade, pois elase afirma como instituio peculiarna e a partir da diviso social do trabalho. De acordo com Netto (2002, p. 292 e293) (...)importanterealarumelementoaxial,queasingulariza dentreas elaboraes construdas nomarcodo Servio Social: a justacompreensoqueIamamototemdaposturaterico-metodolgicamarxiana.Provavelmenteauxiliadapelofatode enfrentarasfontesclssicas,sadjetivamente recorrendoa intrpretes, ela consegue superar os vieses mais generalizados na tradio marxista e comprometer-se com a perspectiva ontolgica original de Marx. Esta a razo da riqueza e fecundidade da obra de Iamamoto: a interpretao do Servio Social a partir da sua insero na dinmica capitalista, luz de uma inspirao terico-metodolgica legitimamente marxiana. Ela consiste no primeiro trabalho que trata, comrigor,oServioSocial,nointeriordareflexobrasileira,enquantoatividade apreendida na perspectiva terico-metodolgica crtico-dialtica, a partir de um trabalho 52sistemtico sobre a obra marxiana. Os resultados dessa apreenso interferiram profundamente nos rumos do debate profissional, qualificando terica e politicamente esta profisso. Foi a partir da elaborao deIamamotoqueavertenteintenode rupturaseconsolidounoplanoterico-crtico dentro do quadro nacional do Servio Social. Destaforma,oprocessodeRenovao,especialmenteatravsdaintenode ruptura, pde dar materialidade no apenas a crticas direcionadas ao tradicionalismo no ServioSocial,comotambmacrticasvoltadasaoprprioMovimentode Reconceituao,reparando seusequvocosemantendovivas assuasinquietaes.Este processoderupturacomoconservadorismodesenvolveu-se,nombitododebate profissional, ao longo das dcadas de 1980 e 1990. Naconstruodestenovoprojetoprofissionalasproblemticassociaisso atribudasaocapitalismo,rejeitando-seacompreensodasdisfunesindividuaisque precisemdetratamentosocial.Esseprocessoexpressouasintoniaquesedeuentreos princpios e diretrizes deste projeto com tendncias significativas de movimentos sociais que se desenvolveram na conjuntura brasileira. Deste modo, tais princpios e diretrizes no significamavontadedealgunspoucosassistentessociaisdevanguarda,massimas demandaseaspiraesdoconjuntodostrabalhadoresassalariadosquevivenciama realidade de nosso pas. Numa palavra: este projeto profissional vinculou-se a um projeto societrioque,antagnicoaodasclassesproprietriase exploradoras, tem razes efetivas na vida social. Neste sentido, a construodesteprojetoprofissionalacompanhouacurva ascendente do movimento democrtico e popular que, progressista e positivamente, tensionou a sociedade brasileira entre a derrota da ditaduraeapromulgaodaConstituiode1988(...)um movimento democrtico e popular que, inclusive apresentando-se como alternativa nacional de governo nas eleies presidenciais de 531989, forouuma rpida redefiniodo projetodemocrticodas classes proprietrias (NETTO, 1999a, p. 18). Sintonizadoaomovimentodasclassessociaisemmeiodinmicaquese processava, no Brasil, na passagem da dcada de 1980 para 1990, aliado aos interesses da classetrabalhadora,oprocessodeconstituiodoprojetotico-polticoprofissional expressou o indiscutvel amadurecimento do debate em torno da dimenso deo-poltica do Servio Social31.Desta forma, foram as conquistas da dcada de 1980 que permitiram a categoria profissionalavanar,nadcadade1990,naconstruodeumprojetotico-poltico profissional crtico. Este projeto conquistou e consolidou sua hegemonia junto parcelas significativas da categoria profissional, mas isto no significa que ele seja o nico projeto existentenocorpoprofissional.Suapropostaderupturacomoconservadorismona profisso no significa que tenham se extinguido as tendncias e perspectivas profissionais conservadoras ou neoconservadoras. No interior de uma categoria profissional comum que existam vrios projetos profissionais concorrendo em busca de hegemonia.Oprojetotico-polticoqueconsolidousuahegemonianosanosde1990 deparou-secomosdesafioscolocadospeloantagnicoprojetosocietriopautadona ofensiva neoliberal que tornou-se hegemnico em nosso pas na mesma dcada. Assim, acruzada antidemocrtica dograndecapital, expressa na culturadoneoliberalismocruzadaentrenscapitaneadapor setorespoltico-partidriosautointituladossocial-democ