Dinâmica de vertentes e ocupação humana do meio · e ocupação humana do meio Prova de Aptidão...

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Dinâmica de vertentes e ocupação humana do meio Prova de Aptidão Pedagógica Pedro Cortesão Casimiro Departamento de Geografia e Planeamento Regional Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Dezembro de 1993

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Dinâmica de vertentes e ocupação humana do meio

Prova de Aptidão Pedagógica Pedro Cortesão Casimiro Departamento de Geografia e Planeamento Regional Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Dezembro de 1993

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1. Objectivos A aula apresenta um conteúdo eminentemente teórico, constituindo uma introdução ao conceito de vertente como um sistema dinâmico aberto, sendo orientada para alunos do primeiro ano da licenciatura. Objectivos operacionais : Apresentar o sistema vertente como unidade básica da paisagem física; Identificar os fluxos de matéria e energia dentro do sistema vertente e sua

conexão com os sistemas adjacentes (atmosfera e sistema fluvial); Identificar os processos básicos de modelação das vertentes e factores que

os controlam; Analisar como a ocupação humana do meio condiciona os processos

actuantes no sistema vertente. Objectivos científicos : Apresentar uma noção sistémica e integrada de meio físico; Analisar a relação homem-meio a nível do sistema vertente; Identificar a importância do estudo dos condicionalismos físicos à ocupação

humana do meio no contexto do ordenamento do território.

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2. Plano da aula

1. Conceitos de vertente

2. Sistema vertente 2.1. Componentes 2.2. Fluxos de matéria e energia 2.3. Inputs e outputs do sistema

3. Processos actuais de modelação de vertentes 3.1. Preparação do material - meteorização 3.1.1. Processos físicos 3.1.2. Processos químicos 3.1.3. Factores condicionantes 3.1.3. Rególito 3.2. Transporte de material na vertente 3.2.1. Fontes de energia 3.2.2. Deslocação em massa 3.2.3. Deslocação por elementos 3.3. Forma da vertente 3.3.1. Sectores 3.3.1. Encaixe fluvial - nível de base 3.3.2. Balanço material transportado - material removido

4. Ocupação humana no sistema vertente

4.1. Impacto directo - consequências 4.1.1. Inputs 4.1.2. Meteorização 4.1.3. Processos de transporte 4.2. Impacto indirecto - consequências 4.2.1. Forma da vertente 4.2.2. Sistema fluvial

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3. Bibliografia

Manuais de Geomorfologia - Gerais BIROT, Pierre (1959) Précis de Géographie Physique Générale, Paris, Armand Colin, 403 p. CHRISTOFOLETTI, A. (1980) Geomorfologia, São Paulo, Edgard Blücher, 188 p. COQUE, Roger (1977) Gómorphologie, Paris, Armand Colin, 452 p. COTTON, C.A. (1952) Geomorphology, Londres, Whitcombe & Tombs, 505 p. DERRUAU, Max (1972) Les Formes du Relief Terrestre, 2ª ed., Paris, Masson, 120 p. DERRUAU, Max (1988) Précis de Géomorphologie, 7ª ed., Paris, Masson, 533 p. EASTERBROOK, Don J. (1969) Principles of Geomorphology, Nova Iorque, McGraw Hill, 461 p. HOLMES, Arthur (1987) Principles of Physical Geology, 3ª ed., Oxford, Van Nostrand Reinhold, 730 p. RICE, R.J. (1977) Fundamentals of Geomorphology, Londres, Longman, 387 p. SMALL, R. J. (1977) The Study of Landforms, Cambridge, University Press, 486 p. SPARKS, B. W. (1988) Geomorphology, 3ª ed., Londres, Longman, 561 p. STRAHLER, Arthur N. (1975) Physical Geography, 4ª ed., Chichester, John Wiley & Sons, 643 p. TREWARTHA, G.; ROBINSON, A.H.; HAMMOND, E.H.; HORN, L.H. (1977) Fundamentals of Physical Geography, 3ª ed., Nova Iorque, MacGraw-Hill, 376 p. TRICART, Jean (1977) Précis de Géomorphologie : Géomorphologie Dynamique Générale, Tomo II, Paris, SEDES, 345 p.

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Geomorfologia - Temas específicos BAULIG, H. (1956) Vocabulaire de Géomorphologie, Paris, PUF, 230 p.

BERMÚDEZ, Francisco López (1984) Geomorfologia y Medio Ambiente, Madrid, MOPU, 110 p. COOKE, R. U. ; DOORNKAMP, J. C. (1990) Geomorphology in Environmental Management, 2ª ed., Oxford, Clarendon Press, 410 p. GERRARD, A.J. (1988) Rocks and Landforms, Londres, Unwin Hyman, 319 p. KIRKBY, M. J. ; NADEN, P. S. ; BURT, T.P. ; BUTCHER, D. P. (1987) Computer Simulation in Physical Geography, Chichester, John Wiley & Sons, 227 p. McCULLACH, P. (1978) Modern Concepts in Geomorphology, Oxford, University Press, 128 p. REYNAUD, Alain (1971) Épistémologie de la Géomorphologie, Paris, Masson, 125 p. THORNES, J. B. ; BRUNSDEN, D. (1977) Geomorphology and Time, Londres, Methuen, 208 p.

Morfologia - Vertentes BIROT, Pierre (1958) Morphologie Stucturale, Tomo I, Paris, PUF, 167 p. KING, L. (1962) The Morphology of the Earth, Londres, Oliver & Boyd, 699 p. PENCK, W. (1953) Morphological Analysis of Landforms, Londres, MacMillan, 429 p. SELBY, M. J. (1982) Hillslope Materials and Processes, Oxford, University Press, 264 p. TRICART, Jean (1968) Précis de Géomorphologie : Géomorphologie Structurale, Tomo I, Paris, SEDES, 322 p. YOUNG, A. (1978) Slopes, Londres, Longman, 288 p.

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Quadro natural - Mosaico morfo-climático DAVEAU, Suzanne (1976) O ambiente geográfico natural: aspectos fundamentais, Lisboa, INCM, 135 p. DEMANGEOT, Jean (1984) Les Milieux «Naturels» du Globe, Paris, Masson, 250 p. DERBYSHIRE, E. (1973) Climatic Geomorphology, Londres, 296 p. TRICART, Jean (1978) A terra planeta vivo, col. Biblioteca de Textos Universitários, Lisboa, Editorial Presença, 195 p. TRICART, Jean (1977) Précis de Géomorphologie : Géomorphologie Climatique, Tomo III, Paris, SEDES, 313 p.

Impacto humano no ambiente GOUDIE, Andrew (1990) The Human Impact on the Natural Environment, 3ª ed., Oxford, Basil Blackwell, 388 p. JOHNSTON, R. J. (1989) Environmental Problems, Londres, Belhaven Press, 211 p. MANNION, A. M. (1991) Global Environmental Change, Londres, Longman, 404 p. RAMADE, François (1987) Les Catastrophes Écologiques, Paris, McGraw-Hill, 317 p. SIMMONS, I. G. (1991) Changing the Face of the Earth : Culture, Environment, History, Oxford, Basil Blackwell, 487 p. SMITH, Keith (1992) Environmental Hazards : Assessing Risk & Reducing Disaster, Londres, Routledge, 324 p.

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Aula

Dinâmica de vertentes e ocupação humana do meio

1. Conceitos de Vertente Vertente é, em sentido amplo, uma "superfície inclinada, não horizontal, sem apresentar qualquer conotação genética ou locacional" A.Christofoletti p.26 Elemento - unidade básica da paisagem, que assim mais não é que um conjunto complexo de vertentes,cuja forma resulta da interacção entre factores endógenos e exógenos. Definição mais precisa, Jan Dylik (1986) "Vertente é uma forma tridimensional que foi modelada pelos processos de desnudação, actuantes no presente e no passado, e representando a conexão dinâmica entre o interflúvio e o fundo do vale" A.Christofoletti, p.26 Nesta definição, muito mais completa, aparecem vários aspectos que importa salientar : . Uma vertente tem uma forma, forma essa que resulta de processos actuantes no passado e no presente (nesta aula, os paleo-sistemas morfogenéticos não serão referidos, será sim dada ênfase aos processos actuais de evolução de vertentes). No entanto, é extremamente importante a noção de que as formas actuais são também herdadas do passado, sendo relíquias de outros sistemas morfogenéticos ).

. O limite inferior de uma vertente não é sempre definido por um rio, como são os processos morfogenéticos que determinam a natureza da vertente, esta termina justamente onde os processos que lhe são próprios deixam de actuar, sendo substituídos por outros.

. O limite superior da vertente não é fácil de definir, nem sempre é a linha de divisão de águas, mas esse limite deve indicar a extensão mais distante e mais alta da superfície de onde provém um transporte contínuo de materiais sólidos para a base da vertente

. Os processos actuantes, nomeadamente o escoamento e os movimentos de massa ao longo da vertente, são os responsáveis pela dinâmica e pelo relacionamento funcional de todas as partes da vertente.

Uma vertente é, portanto, um sistema natural, no âmbito do qual há

numerosas e complexas ligações entre factores, processos e formas.

Sistema aberto, cujo principal atributo é a troca de energia e massa com

a envolvência.

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2. Sistema vertente Sistema pode ser definido como o conjunto dos elementos e das relações entre si e entre os seus atributos. Vários aspectos devem ser abordados no estudo da composição dos sistemas, como a Matéria e Energia.

. Matéria - material que é mobilizado através do sistema, a modelação da

superfície do globo é feita por meio do deslocamento de partículas. As fontes primárias de matéria são a precipitação, rocha subjacente, vegetação.

. Energia - forças que fazem o sistema funcionar, gerando a capacidade de realizar trabalho. A gravidade é o motor do sistema, ao ser responsável pelo escoamento de água, gelo e material na vertente. Representa uma fonte de energia potencial. Quando existe material em movimento surge energia cinética, dependendo do desnível total (entre o ponto de partida e o nível de base) e do declive da vertente.

Mas a vertente é um sistema aberto, trocando matéria e energia com o

exterior, sendo controlado por sistemas adjacentes sobre os quais também actua por feed-back :

Clima

Homem Biologia

Geologia

VERTENTE

ProcessosFormas

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. Sistema climático - sustenta e mantém o dinamismo dos processos, inputs são calor, humidade, precipitação, movimentos atmosféricos (bloco de matéria que já foi dado).

. Sistema biológico - representa o coberto vegetal e vida animal inerente, factores activos de diferenciação na modalidade e intensidade dos processos, além de fornecer e retirar matéria.

. Sistema geológico - diversidade litológica e disposição (bloco de material que já foi dado, Geomorfologia estrutural), principal fornecedor de material, factor passivo sobre o qual actuam os processos.

. Sistema antrópico - acção humana, responsável por mudanças na distribuição de matéria e energia dentro dos sistemas, com consequente modificação do equilíbrio.

O sistema vertente produz também outputs :

. Massa - Água, material detrítico, solutos e resíduos orgânicos, a maior parte dos quais deixa o sistema pelos rios ou outro meio de transporte na sua base.

. Energia - Perda de calor, irradiação, fricção no rególito móvel. Fundamentalmente o sistema vertente vai funcionar o interface entre o sistema climático (factores endogenéticos) e o sistema geológico (factores endogenéticos), actuando os restantes sistemas envolventes como moduladores dos processos actuantes.

ESQUEMA - ENDO-EXO - Comentário . Solo + Rególito = produto da acção da meteorização, comandada pelos dois tipos de factores.

. Ao longo da vertente circula água, em superfície, logo abaixo ou em profundidade, bem como material, embora através de sectores distintos.

. Convém aqui salientar que esta vertente é esquemática, litologicamente uniforme, não apresentando descontinuidades nem estratigráficas, nem de dureza, nem estruturais (tectónica). Localizando-se em latitudes médias, com uma disponibilidade de água média.

. Importância extrema da vegetação, directamente dependente do clima

(também do rególito-solo), e que vai controlar a meteorização e o

escoamento, além do próprio processo pedogenético, visto que a

formação de solo depende da adição de matéria orgânica oriunda da

biocenóse.

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CONCLUINDO . Existem três componentes na dinâmica de vertentes, que consubstanciam um conceito de balanço morfogenético :

1. Componente vertical - meteorização e a pedogénese, a sua acção combinada tem o efeito de aumentar a espessura do rególito, o seu efeito faz-se em profundidade.

2. Componente paralela (tangencial) - movimentos no rególito, escoamento, acção eólica, movimentos de massa, que tem o efeito de retirar os detritos da vertente, promovendo a diminuição da espessura do rególito e o abaixamento do modelado.

3. Componente lateral - dinâmica fluvial, glaciar, que na base da vertente promove a evacuação do material detrítico, tendendo para a manutenção de um certo declive que possa garantir o uso da energia potencial, transformando-a em trabalho efectivo, caso contrário...colmatação.

3. Processos actuais de modelação de vertentes 3.1. Preparação do material - meteorização

A meteorização pode ser definida como a acção do sistema clima sobre o material rochoso, o objectivo é a libertação de partículas mobilizáveis, a partir de rochas coerentes ou formações móveis cujos elementos ultrapassam a

competência dos processos de transporte, constitui o acto inicial da

morfogénese, inicia a constituição do rególito. O produto final da meteorização sobre as formações rochosas é uma argila...

3.1.1. Processos Físicos Provocam rupturas nas rochas, sem causarem modificação na natureza mineralógica, química. A fragmentação dá origem a elementos angulosos e sub-angulosos, explorando áreas de fraqueza (micro-macro fissuração).

a. Termoclastia (térmico) - fragmentação sob o efeito de grandes variações de temperatura, alternância dilatação / retracção que afecta a rocha de forma desigual, em profundidade ou em superfície.

b. Crioclastia (térmico + água) - fragmentação provocada pela acção sucessiva gelo / degelo, oscilações de temperatura abaixo e acima de 0º C,

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aumento de volume da água, ao congelar +/- 10 %, a força provém da expansão dos cristais em formação.

c. Haloclastia (térmico + água) - fragmentação devida à cristalização de sais, pontos comuns e efeitos análogos à crioclastia. A cristalização não é contudo acompanhada de um aumento de volume, sendo a força exercida nas paredes das cavidades muito inferior, explora sobretudo descontinuidades pré-existentes. Depois de formados, os sais higroscópicos, com grande afinidade por água, captam a humidade do ar, aumentando então de volume e exercendo pressões consideráveis.

d. Hidroclastia (argilas + térmico + água) - fragmentação provocada pela alternância de humificação e dessecação, variação de volume das argilas em função do teor de água, e que se traduz pela formação de fendas de recuo numa argila que seca.

3.1.2. Processos Químicos Contrariamente às acções físicas-mecânicas, as acções químicas não dão fragmentação, modificam a natureza química das rochas, produzindo minerais novos. FACTORES que influenciam a alteração :

ÁGUA é o veiculo de todas as alterações, actua como solvente para os corpos que reagem com os minerais contidos na água e para os produtos solúveis libertados por estas reacções. Sem água não há alteração. Como solvente a eficácia da água deriva do facto de não ser pura, sendo os produtos em solução que reagem com os minerais, produtos adquiridos no trajecto na atmosfera, ao atravessar o solo, a manta morta e matéria orgânica torna-se ácida. A temperatura desempenha um papel essencial, aumentando a velocidade das reacções (2.5 X por cada 10º C de acréscimo) e a actividade dos microrganismos que decompõem a matéria orgânica, a conjugação óptima dá-se em torno dos 30º C.

a. Dissolução - dissociação duma molécula em iões, através dum solvente (a água atmosférica)

b. Alteração propriamente dita - transforma total ou parcialmente uma parte dos constituintes minerais das rochas.

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1. Oxidação - adição ou dissociação de oxigénio, dando origem a soluções precipitáveis (FeO - FeO3 .... transformação por vezes colorida, como nas mudanças de estado do ferro).

2. Hidratação - rochas capazes de fixar as moléculas de água, como os xisto

3. Hidrólise - destruição do edifício cristalino por iões livres H+ (grupo OH)

3.1.3. Processos biológicos Trituração, deslocação de massa, preparação. Acções mecânicas são acentuadas pelo input de ácidos (bactérias e raízes), respiração dá mais CO2 às águas que infiltram, mas sobretudo produção de matéria orgânica.

3.1.4. Factores condicionantes

1. Características das rochas, desde a cor (aumento de temperatura), porosidade (volume interno de vazios, comunicando entre si e com a atmosfera), permeabilidade, micro e macro fissuração (da escala cristalina aos vazios - diaclases, planos de estratificação, etc...) bem como composição mineralógica.

2. Clima - condicionante principal, pois comanda à partida a disponibilidade de água e temperatura, além das variações sazonais, intra-anuais e inter-anuais. A diversidade climática do globo vai, assim, comandar a intensidade e modos de acção da morfogénese, constituindo um mosaico morfo-climático.

BIOSTASIA RESISTASIA Água disponível em abundância Ausência quase total de água

Temperaturas elevadas (ideal 30º C) Temperaturas extremas ( + / - ) Coberto vegetal muito denso Coberto vegetal mínimo

Predomínio dos processos Químicos Predomínio dos processos Físicos Rególito muito espesso, muita argila Rególito rochoso, calhaus angulosos

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3.1.5. Rególito Vai ser a camada superficial de material desagregado e alterado, calhaus e matriz argilosa em maior ou menor quantidade. O solo forma-se por cima, através da pedogénese, tendo substâncias orgânicas e minerais intimamente misturadas. Produto final da meteorização e actividade da biocenóse sobre a vertente. O declive da vertente limita a formação do rególito e solo, um declive excessivo não permite alteração profunda no local, pois a água circularia para a base da vertente, bem como o rególito, domínio onde se exerce o confronto entre factores endogenéticos e exogenéticos, constituindo também o produto desse mesmo confronto.

3.2. Transporte de material na vertente A componente paralela, o transporte de material ao longo da vertente,

assegura a evacuação dos materiais fornecidos pela vertente, sem a sua

intervenção a fossilização dos afloramentos rochosos sob o depósito

detrítico acabaria por pôr praticamente cobro aos ataques da meteorização. O motor energético de todas estes processos de deslocação de elementos é a força da gravidade. Existem dois grandes tipos de movimentos nas vertentes : 1. Deslocações de elementos

a. Queda de blocos - separação de fragmentos ou blocos duma parede rochosa, pressupões uma fonte de alimentação, como uma bancada de rocha a nu, ou toda a vertente no caso de um abrupto rochoso. Quando estabilizados na vertente, os blocos necessitam de um impulso inicial para de novo retomarem a descida, permitindo a passagem de energia potencial (gravidade) a trabalho efectivo. Esse impulso é tanto maior quanto menor for o declive da vertente e maior a sua rugosidade. Podem assumir cariz catastrófico, quando a queda afecta muito material.

b. Reptação (creeping) - deslocação e redistribuição das partículas, no seio duma formação móvel, sob a acção do declive. A soma de todos os movimentos imperceptíveis traduz-se por uma descida lenta do conjunto...ex

2. Movimentos de massa - processos de transporte que mobilizam, em bloco,

um volume maior ou menor de materiais.

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a. Deslizamentos - descida maciça e relativamente rápida de materiais ao longo duma vertente. A sua velocidade e amplitude transforma-os frequentemente em fenómenos catastróficos. O deslocamento efectua-se ao longo dum plano, facilitando a acção da gravidade. Em séries sedimentares corresponde por vezes a um plano de estratificação +/- paralelo à vertente. Mas na maior parte dos casos efectua-se sobre material argiloso ou margoso saturado de água.

b. Solifluxão - deslocamento que afecta uma massa lamacenta deslocada de uma porção estável. Diz somente respeito a materiais argilosos susceptíveis de se transformarem em lama por acréscimo do seu teor de água. A escala

a que este processo opera é inferior à dos deslizamentos. Pode ser laminar

(fatia, descida lente, pouco espessa), subcutânea (abaixo do horizonte

superficial, pequenos terraços, acentuados por vezes pelo gado), coada (fenómeno localizado, língua, deixando cicatriz na vertente).

c. Escoamento superficial - água da chuva, de fusão, mais ou menos durável, mais ou menos rápido. Água que não infiltra escoa, com bastante energia cinética, dependendo do declive, quando este escoamento difuso

(erosão alveolar-lavagem) se começa a concentrar (erosão linear) pode formar barrancos, ao longo dos quais, dado o volume de água envolvido, a capacidade de transporte é muitíssimo elevada.

3.3. Forma da vertente Em cada ponto da vertente vai existir um balanço morfogenético, entre o material que aí chegou de montante, acrescido do que aí se encontra disponível (componente vertical), menos o material transportado pelos vários processos (componente paralela). A forma da vertente consubstancia um equilíbrio médio entre o material detrítico produzido e o material transportado pelos processos actuantes, possuindo mecanismos de auto regulação que anula os efeitos de mudanças verificadas (através do balanço inputs-outputs)

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Esquema

CobertoVegetal

Remoção de

sedimento dotopo da vertente

Espessura do

rególito no topo da vertente

Meteorização

da rocha mãe no topo

Taxa de

abaixamentodo topo

Perf il da

vertenteDeclive

( - )

( + ) ( - ) ( + ) ( + ) ( - )

Redução para restabelecer o equilibrio

Entre muitos exemplos possíveis, a redução do coberto vegetal vai ser aqui o elemento perturbador que desencadeia no sistema um mecanismo de feed-back negativo, a redução do declive reduz a velocidade e poder da lavagem superficial.

O perfil típico de uma vertente apresentaria uma convexidade no topo e uma

concavidade na base, sendo a transição feita através de um sector rectilíneo mais ou menos extenso, esta é a definição de uma vertente regular, ou normal. Mas qual a justificação desta ser a forma mais adaptada ao balanço entre a componente vertical e paralela ?

. Convexidade sumital - ao descer a quantidade de detrito a passar por unidade de superfície aumenta, logo somente um maior declive garante o

transporte, caso contrário fossilização. Sector de ablação - lavagem.

. Sector rectilíneo - por alteração as partículas vão sendo menos grosseiras,

logo menores declives mantêm o transporte, predomina o transporte, embora haja também ablação.

. Concavidade basal - acumulação de material, evacuação do talvegue não se faz (sobretudo dado o aquecimento pós-glaciar). Mas também equilíbrio

do depósito de vertente. Sector de acumulação - alteração.

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Sector Concav o (Base)

Acumulação

A lteração (+ humidade)Materiais f inos

Sector Rectilíneo

Transporte

AblaçãoMeteorização ( - )

Sector Conv exo (Topo)

Quantidade crescente de detritosLavagem intensaMeteorização ( + )

Acção fluvial

A linha de água (ou glaciar) que funciona na base da vertente (componente

lateral) vai constituir meio de evacuação do material acumulado, mesmo que a sua acção se faça sentir de uma forma intermitente, ou mesmo esporádica. Além dessa acção de transporte, a erosão linear que promove o encaixe da linha de água vai aumentando sucessivamente o declive da vertente, o que lhe garante a continuidade enquanto sistema dinâmico, pois o potencial morfogenético mantém-se, declive e desnível, que de reequilibrio e reequilibrio vão promover o consumo do modelado. As vertentes evoluem simultâneamente por recúo paralelo e abaixamento dos topos, podendo um dos processos predominar largamente sobre o outro, caso das falésias, em que a acção marinha na base mantém um abrupto rochoso, a conjugação de ambos os processos depende também da litologia. >>>> A noção de nível de base geral, levando ao conceito de ciclo de erosão

será abordada depois...ESQUEMA

VERTENTE é ...sistema em que processos activos agem sobre materiais

passivos, a forma resultante da vertente depende do tempo de acção dos

processos, intensidade e modalidades.

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4. Ocupação humana no sistema vertente Visto que a vertente é a unidade básica da paisagem, todas e quaisquer actividades humanas vão estar implantadas no espaço, ou seja, em vertentes ou na sua proximidade imediata. 4.1. Impacto directo

. Água Independentemente da água chegada ao sistema, cuja variação é presentemente tema de amplo debate, modificações climáticas, vai ser sobretudo a forma como essa água é distribuída no sistema e circula através dele que vai ser responsável pelas maiores interferências : Exemplo Se ocorrer um aumento da taxa de escoamento (induzida por impermeabilização de áreas, diminuição do coberto vegetal, compactação do solo) a primeira consequência é o aumento da capacidade de transporte do escoamento superficial via maior volume escoado. O rególito vai ter tendência a diminuir, a vegetação tem menos água disponível no solo, diminui de densidade, o que vai ampliar o efeito inicial. Em termos de balanço morfogenético, a produção de rególito (Componente vertical) é inferior ao transporte ao longo da vertente, o material que atinge a base aumenta em quantidade.

Escoamento

Superficial

(+)

Infiltração( - )

AlteraçãoQuímica

( - )

Espessura

Rególito no Topo

( - )Vegetação

( - )

Materialna Base

(+)

Perfil da Vertente

Declive( - )

Transporte(+)

Potencial

Morfogenético

( - ) Transporte

( - )Rególito

(+)

Infiltração

(+)

Escoamento

( - )

Alteração(+)

Vegetação(+)

A modificação dos processos vai implicar uma modificação de forma, como o sistema tende para um equilíbrio (embora dinâmico), essa forma vai neutralizar o efeito invertendo os processos até haver um balanço morfogenético quase nulo, entre a componente vertical (meteorização-pedogénese) e a horizontal (transporte).

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4.2. Impacto indirecto Depois do exemplo anterior torna-se claro que se acção humana se exercer a

nível da forma da vertente directamente os processos se vão reajustar até se atingir uma forma de equilíbrio.

+ Declive

+ Detritos+ Escoamento

ABLAÇÃO

+ Declive+ Meteorização

+ EscoamentoABLAÇÃO

ACUMULAÇÂO

Mudança de Forma

Outra forma de impacto indirecto na vertente passa-se a nível da componente lateral, transporte ao longo do talvegue. Aqui a remoção de material da base e a manutenção de declive vão acelerar os processos, independentemente de poder ocorrer erosão de sapa e recuo paralelo das vertentes.

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MAS...o sistema charneira vai ser a vegetação, pois controla todos os sistemas adjacentes.

Homem

VEGETAÇÂO

Estabilidade das VertentesSedimento

MeteorizaçãoFormas de Relev o

Teor de CO2

AlbedoTranspiração

Clima

CobertoMatéria Orgânica

Fauna do soloCirculação de Nutrientes

Estrutura

Solo

EvapotranspiraçãoEstrutura do soloRetenção em Superf ícieCirculação de Nutrientes

Intercepção

Água

CobertoAlimento

MicroclimaFauna

FIM - Buffer de +/- 10 minutos sobre a questão das duas vertentes do ordenamento, em termos de respeito aos condicionalismos físicos, como simultaneamente MAX e MIN...