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Revista Geográfica de América Central
Número Especial EGAL, 2011- Costa Rica
II Semestre 2011
pp. 1-15
DINÂMICA ESPACIAL E A FORMAÇÃO DA FEIRA LIVRE EM DEMERVAL
LOBÃO-PIAUÍ-BRASIL
Anézia Maria Fonsêca Barbosa
1
José Alberto de Sousa Filho2
Rosemeri Melo e Souza3
Resumo
A feira livre é uma modalidade de comércio muito antiga, pois seu papel tornou-
se verdadeiramente importante a partir da Revolução Comercial por volta do século X, e
sempre foi incentivada pelos governantes e mandatários do lugar, devido o seu
movimento atrair renda e desenvolvimento para os locais onde essas atividades
acontecem. No Brasil, essa atividade, durante muito tempo foi o aporte do
abastecimento de alimentos dos povoados, sendo assim responsável pelo surgimento de
diversos núcleos de povoamento urbanos no país. Assim, este artigo tem como objetivo
geral analisar a dinâmica territorial que a feira livre de Demerval Lobão – Piauí provoca
no espaço local semanalmente, para isso o problema constitui-se na seguinte questão:
Como se processa a dinâmica e funcionamento da feira livre do município a qual leva
ao surgimento de uma nova organização espacial no centro da cidade? O caminho
metodológico da pesquisa teve como etapas, levantamento bibliográfico e documental,
aplicação de entrevistas junto à comunidade local, sendo que a amostra utilizada foi
aleatória e não-estratificada entre os feirantes e transeuntes. Dessa forma, constatou-se
que mais de 53% dos feirantes já estão trabalhando neste local a mais de 11 anos, que de
1 Professora de Geografia da Secretaria de Educação do Estado do Maranhão e do Colégio de Aplicação
(CODAP – UFS), Doutoranda em Geografia na Universidade Federal de Sergipe – UFS, Membro
Pesquisadora do Grupo de Geoecologia e Planejamento Territorial (GEOPLAN/CNPq/UFS) – BRASIL.
E-mail: [email protected]
2 Professor de Geografia da Secretaria Municipal de Educação do Município de Timon – MA, Pós-
Graduando em Gestão Ambiental no Instituto Federal do Piauí – IFPI – BRASIL 3 Professora Associada do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia
(NPGEO) da Universidade Federal de Sergipe – UFS, Bolsista Produtividade do CNPq. Pós – Doutora
em Geografia Física (Biogeografia) pela The University of Queensland – Austrália. Líder do Grupo de
Geoecologia e Planejamento Territorial (GEOPLAN/CNPq/UFS) – BRASIL.
Presentado en el XIII Encuentro de Geógrafos de América Latina, 25 al 29 de Julio del 2011
Universidad de Costa Rica - Universidad Nacional, Costa Rica
Dinâmica espacial e a formação da feira livre em Demerval Lobão-Piauí-Brasil
Anézia Maria Fonsêca Barbosa; José Alberto de Sousa Filho; Rosemeri Melo e Souza
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acordo com Correa (2001) representa exercer a profissão de feirante por um longo
período de tempo.
Palavras - chave: Feira livre; Dinâmica espacial; Demerval Lobão-PI – Brasil.
Resumén
El feria libre es una forma muy antigua de comercio, ya que su papel se ha
vuelto muy importante desde la Revolución de Comercio de todo el siglo X, y siempre
ha sido alentado por los gobernantes y los representantes del lugar, debido a su
movimiento atraer renta y el desarrollo de lugares donde estas actividades se realizan.
En Brasil, esta actividad ha sido la contribución del suministro de alimentos en los
pueblos y por lo tanto responsable de la aparición de diversos centros de población
urbana en el país. Por lo tanto, este artículo tiene como objetivo analizar la dinámica
territorial de la calle abierta Demerval Lobão - Piauí causas en un semanario local para
que el problema está en la siguiente pregunta: ¿Cómo la dinámica del proceso y el
funcionamiento de la Feria libre lo que conduce a la aparición de una nueva
organización del espacio en el centro de la ciudad? Los pasos metodológicos de la
investigación fue, bibliográfico y documental de la aplicación de entrevistas con la
comunidad local, y la muestra fue aleatoria y no estratificada entre los vendedores y
transeúntes. Así, se encontró que más de un 53% de los comerciantes ya están
trabajando en este sitio por más de 11 años, de acuerdo con Correa (2001) representa la
comercialización de ocupación durante un largo periodo de tiempo.
Palabras - clave: Feria libre. Dinámica espacial. Demerval Lobão – PI – Brasil.
Introdução
A formação de excedente de produção dos produtores agrícolas pode ser uma
das principais causas da origem das feiras livres. Modalidade de comércio varejista
observada em todo mundo, originado principalmente pela necessidade de intercâmbio
de mercadorias em locais que congregasse todos os produtos disponíveis em uma
determinada região (SOUTO MAIOR, 1978).
É importante salientar que a feira livre é uma modalidade de comércio muito
antiga, pois seu papel tornou-se verdadeiramente importante a partir da Revolução
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Comercial por volta do século X e sempre foi incentivada pelos governantes e
mandatários do lugar, devido o seu movimento atrair renda e desenvolvimento para os
locais onde essas atividades acontecem.
No Brasil, essa atividade, durante muito tempo foi responsável pelo
abastecimento das cidades, e também pelo surgimento de núcleos de povoamento
urbano que com o passar do tempo se desenvolveram e transformaram-se em centros
urbanos dinâmicos (HUBERMAN, 1976).
Desse modo, o presente artigo, faz uma análise da feira livre que ocorre
semanalmente no município de Demerval Lobão – Piauí – Brasil, o qual se localiza
espacialmente, conforme Figura 1 a seguir.
Figura 1: Localização de Demerval Lobão no Piauí.
Fonte: www.pt.wikipedia.org
De acordo com a Figura 1 o município de Demerval Lobão fica localizado na
região centro-norte do Estado do Piauí, na microrregião de Teresina, capital do Estado,
distando 30 (trinta) Km do maior centro econômico estadual. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município é considerado de
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pequeno porte e que no último censo demográfico apresentou uma população total
estimada de 13.274 habitantes (IBGE, 2010).
Procedimento metodológico
Quanto à metodologia utilizada, foram elaborados entrevistas semi-estruturadas
com questões abertas e fechadas e aplicados a moradores residentes na cidade,
sobretudo, aqueles freqüentadores da feira semanalmente, que constituem os
transeuntes, além dos feirantes que trabalham no local, a amostra utilizada na
investigação científica contou com uma amostra aleatória e não estratificada do tipo
intencional dos sujeitos sociais envolvidos na pesquisa.
Através do trabalho de campo, foi possível coletar os dados primários, o mesmo
foi realizado entre os meses de julho de 2008 a dezembro de 2009, neste período, foram
obtidas informações que permitiram avaliar a evolução desse comércio temporário ao
longo dos anos e as mudanças estruturais ocorridas no seu entorno.
Os dados secundários foram obtidos a partir de um vasto levantamento
bibliográfico e documental em órgãos que constituem o Governo do Estado e da
Prefeitura Municipal de Demerval Lobão, além de sites especializados em dados dos
municípios brasileiros como o IBGE.
Evolução histórica do comércio
O comércio desde a antiguidade desempenha importantes funções econômicas,
abastece os mercados com produtos de que necessitam os consumidores, contribui para
o desenvolvimento da produção e do consumo, interligando assim o mundo em uma
rede de transações comerciais.
Segundo Souto Maior (1978), a história do comércio está ligada ao
desenvolvimento das áreas de transporte, comunicações, sendo que, o aumento do
comércio em grandes distâncias foi praticado incisivamente através de rotas nos
desertos, ao longo das quais mercadores viajavam juntos, formando caravanas.
O referido autor acrescenta que, os romanos sempre estiveram mais voltados
para as atividades agrícolas, e que após a consolidação da supremacia de Roma sobre a
Grécia começaram a dar atenção ao comércio. Limitaram se a seguir as rotas comerciais
já abertas pelos gregos, mais o volume de intercâmbio com as regiões pendentes do
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império conheceu grande incremento. A fim de proteger o comércio por vias marítimas,
os imperadores romanos chegaram a combater a pirataria no Mediterrâneo, ao mesmo
tempo em que providenciavam a melhoria dos portos e a construção de estradas.
De acordo com Salinas (1998), Cristóvão Colombo navegando rumo ao ocidente
em busca de um caminho para a Índia, chegou a terras que hoje constituem o território
americano. Esse feito estava fadado a provocar uma verdadeira revolução no comércio
mundial. Portugal e Espanha estavam na teoria de potências de primeira grandeza,
transformando-se em grandes centros de irradiação mercantil, passando a disputar a
supremacia no domínio das rotas oceânicas.
Esse fato será marcante para o surgimento das primeiras vilas que irão dar lugar
as sedes das cidades posteriormente, em especial na região litorânea do continente
americano, onde a proximidade com o continente europeu e as grandes navegações
acontecendo pelo oceano Atlântico foi fundamental para a efetivação desses primeiros
núcleos urbanos.
Os processos espaciais e a dinâmica comercial urbana
O processo de organização espacial constitui entre as cidades uma inter-relação
que se materializa através dos centros de consumo, comercialização de serviços,
transporte e distribuição, podendo ainda se posicionar como centros de pequena escala
de manufaturas, de difusão de inovações e interação social.
De acordo com Santos (1988) a multiplicação das áreas urbanas faz do espaço
um campo de forças multi direcionais e complexas, onde cada um é extremamente
distinto do outro, mas mesmo possuindo sua singularidade, é também claramente ligado
a todas as demais, por um nexo único, dado pelas forças motrizes do modo de
acumulação, hegemonicamente universal.
Conforme este autor, o espaço é formado pela configuração territorial e pela
dinâmica social, que interagem continuamente, onde a rede urbana tem o papel
fundamental na sua organização, sendo desse modo seu estudo essencial para a
compreensão das articulações entre as diversas frações desse espaço, posto que a análise
evolutiva do sistema urbano e feita segundo essa ótica, permitindo reconhecer as
diversas dinâmicas espaciais, em diferentes segmentos.
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Segundo Corrêa (2001) essa organização social que se estabelece, sob o prisma
capitalista e desempenha papel fundamental na sociedade, que emerge baseada na
divisão social e territorial do trabalho, na existência de uma massa assalariada, de forma
predominante, e na articulação entre diversas áreas produtoras, e utiliza as cidades como
locais que se interligam por meio do comércio de atacado e de varejo, como também
dos serviços.
Neste contexto, a diferenciação do consumo entre classes sociais se configura
em uma complexa hierarquia de localidades centrais que assume arranjos diferentes.
Santos (1988) faz referência aos circuitos “superior e inferior” da economia e para suas
projeções espaciais, que devem ser analisadas como sendo meios sócio-espaciais, com
serviços voltados a classes sociais distintas.
Para Correa (2000, p. 6), a organização estrutural do comércio varejista, deve ser
analisada como “... um conjunto de características que dizem respeito, de um lado, à
organização comercial em setor formal e informal e de outro, a organização do
comércio em rede”.
Entretanto, este autor explica que a transição do comércio varejista de circuito
inferior para o superior, como referenciado por Santos (1988), pode ser estabelecida
através da ação interventora do Estado que irá organizar uma área para instalar os
vendedores de ruas e os camelódromos, que posteriormente será denominada de espaço
destinado ao comércio popular. E ainda, pode se dar através de uma auto-organização
na qual os espaços apropriados apresentam uma certa divisão territorial do trabalho.
Sobre as localidades centrais Christaller (1966), desenvolve proposições,
segundo as quais prevalece a existência de princípios gerais que regulam o número, o
tamanho e a distribuição dos núcleos de povoamento. Neste sentido, são consideradas
localidades centrais, grandes, médias e pequenas cidades e também os núcleos semi-
rurais, todos dotados de funções centrais, ou seja, atividades de distribuição de bens e
serviços para uma população externa, que reside na região de influência – região
complementar, em relação à qual a localidade central tem uma posição de destaque.
As redes de localidades centrais nos países subdesenvolvidos
Conforme Corrêa (2001), nos países subdesenvolvidos as redes de localidades
centrais apresentam-se paralelas as possíveis setores regionais, na qual ela se caracteriza
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por forte semelhança com o esquema christalleriaro, por três modos de produção, que
podem coexistir em uma mesma rede regional.
Estes modos de produção tratam-se da rede dendrítica de localidades centrais
dos mercados periódicos e do desdobramento da rede em dois circuitos.
Sobre as redes dendríticas de localidades centrais, se caracterizam pela origem
colonial, nasce e se estrutura no âmbito da valorização dos territórios conquistados pelo
capital europeu, tendo como ponto de partida, a fundação de uma cidade estratégica e
excentricamente localizada por conta de uma futura hinterlândia.
Em segundo lugar, pode se caracterizar pelo número excessivo de pequenos
centros e pontos de vendas indiferenciados entre si, com relação ao comércio varejista.
Ressalta o referido autor que, essa característica é resultante do nível de demanda da
população, que é baixo, de sua mobilidade espacial limitada e da precariedade das vias e
dos meios de transporte.
Como terceira característica da rede dendrítica, Corrêa (2001) aponta a ausência
de centros intermediários intersticialmente localizados, cujas causas são derivadas do
padrão de interações comerciais atacadistas, marcadas por múltiplas transações.
Dessa maneira é comum observar que nos dias destinados as feiras, o pequeno
núcleo transforma-se em um centro de mercado, onde vendedores dos mais diversos
produtos, artesãos e prestadores de serviços, bem cedo se encontram com instrumentos
de trabalho e mercadorias, no centro. Advindos de outro pequeno núcleo, onde
trabalharam no dia anterior, exercendo sua profissão, ou de um centro mais amplo, onde
não são residentes, no exercício permanente da mesma função.
Alguns são provenientes do campo, onde exercem atividades primárias e vai ao
centro comprar o que não produzem ou mesmo vender suas produções.
[...] utilizando tropas de burro, a cavalo em carroças, caminhões
e utilitários, embarcações ou mesmo, a pé, vendedores e
compradores dirigem-se ao núcleo em seus dias de feira. Esses
são ainda, os dias em que as pessoas se encontram sabem das
novidades e realizam eventos sociais, culturais e políticos
(CORRÊA, 2001, p. 50).
À medida que o comércio e a divisão de trabalho se expandem, surgindo a
possibilidade de atuação em tempo integral, por parte dos comerciantes, verifica-se que
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a comercialização diária só ocorrerá somente se cada localidade tiver uma feira dando
subsidio para a população com a venda de produtos mais baratos.
Destarte, Corrêa (2001) considera que para pequenas cidades como Demerval
Lobão, o dia da feira livre é o dia em que a cidade passar a exercer alguma centralidade,
atraindo consumidores, principalmente aqueles que residem na zona rural. Desse modo,
os pequenos centros urbanos, via de regra têm determinados dia da semana em que
ocorre a feira livre, de modo a não competir com feiras de localidades próximas.
É o que ocorre, por exemplo, nas cidades que ficam nas proximidades de
Demerval Lobão, como os municípios de Lagoa do Piauí e Monsenhor Gil, ambos estão
situados a 20 km um do outro, e têm suas feiras realizadas aos sábados pela manhã,
enquanto que em Demerval Lobão ocorrem aos domingos, e os seus freqüentadores
além dos moradores da zona rural também concentra muitas pessoas que residem na
zona urbana.
Para Jesus (1992), as feiras livres devido a sua própria dinâmica desempenham
um importante papel dentro da sociedade, além do desempenho no abastecimento, a
feira se destaca também pela quantidade de emprego que ela gera. Posto que, absorve a
mão de obra desqualificada que vive desempregado transformando em trabalhadores
autônomos.
Desse modo, o item a seguir analisa como a feira livre é vista pela população
local, com fins de compreender sua lógica de funcionamento e dinâmica na porção
central da cidade, o qual este comércio ordena nos finais de semanas.
Análise e discussão
De acordo com o IBGE (2010), o município de Demerval Lobão possui 135
(cento e trinta e cinco) unidades comerciais, sendo que 32 (trinta e duas) situam-se no
entorno do local onde ocorre a feira livre, esses comércios vendem produtos
diversificados indo do atacado ao varejo. Assim, dentre esses comércios existem
armazéns, farmácias, lojas de roupas, eletrodomésticos, mercadinhos, entre outros.
Neste item, serão apresentados os resultados obtidos junto aos sujeitos
pesquisados para esse estudo. Num primeiro momento destacaremos os resultados das
entrevistas feitas aos feirantes, em seguida, os dados referentes aos resultados
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adquiridos com os transeuntes que freqüentam a feira livre, a mesma ocorre todos os
dias de domingos de 05 (cinco) às 12 (doze) horas da manhã.
Feirantes
A partir da pesquisa de campo, constatou-se que 53% dos feirantes estão
trabalhando neste local já por um tempo correspondente de 11 a 20 anos, 27%
trabalham nesta atividade num tempo correspondente de 21 a 30 anos, e 20% há 10
anos.
Nota-se que há um número significante de feirantes que estão no local no
período correspondente de 11 a 20 anos. Conforme exposto por Corrêia (2001) pode-se
evidenciar que a maioria exerce a profissão de feirante, onde residem, no exercício
permanente da mesma função em logo período de tempo.
Observou-se que existe uma grande variedade de produtos comercializados na
feira, os quais são de diferentes padrões de qualidade, havendo a venda de
hortifrutigranjeiros em geral, como frutas, verduras, legumes, bem como barracas de
cereais, carnes, artigos de vestuário, além de outros tipos de barracas diversas como
podemos perceber nas figuras 2 e 3, a seguir.
Figura 2: Barracas com vendas de frutas no entorno do Mercado Central.
Fonte: Sousa Filho, 2011.
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Figura 3: Vendas de roupas na feira livre
Fonte: Sousa Filho, 2011.
Conforme observamos nas figuras 2 e 3 ocorre uma diversificação do produtos
oferecidos na feira, devido a necessidade de ampliação dos bens que a população local
tem de adquirir mercadorias cada vez mais variadas. Desse modo, Corrêa (1994)
considera que ocorre uma maior exigência aos comerciantes para que aumente a
quantidade de produtos vendidos, no sentido de que o alcance espacial mínimo possa
influenciar aquela população que residente nas circunvizinhanças imediata ao município
que possui a feira livre com produtos mais variados.
Quanto aos benefícios estruturais citados pelo universo pesquisado no espaço
aonde acontece à feira, foi observado uma melhoria das estruturações físicas cidade,
40% destacaram a abertura de ruas seguidas de pavimentação asfáltica, ampliação de
pontos comerciais, apontada por 28% dos entrevistados, o aparecimento de outras
modalidades de comércio atraídas, principalmente pelo movimento de pessoas,
provocado nos dias de feira.
Dentre essas novas modalidades estão o surgimento de farmácias, lanchonetes,
óticas, lojas de material de construção e a incorporação neste espaço de prédios
públicos, como o Mercado de Carnes, o sindicato dos Trabalhadores Rurais, P.P.O
(Pelotão de Policiamento Ostensivo) e posto de atendimento da AGESPISA
(Companhia de Água e Esgotos do Piauí), conforme exposto por 32% dos entrevistados
e apresentados nas figuras 4 e 5.
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Figura 4: Ampliação do setor comercial nas proximidades da feira.
Fonte: Sousa Filho, 2011.
Figura 5: Movimento nos dias da feira livre.
Fonte: Sousa Filho, 2011.
Desta maneira, conforme observado nas figuras 4 e 5 o processo de organização
e expansão das atividades sociais, tornam o local mais densamente disputado pelos que
detêm os meios de produção, promovendo uma articulação deste espaço por meio da
implementação dos comércios de atacado e varejo, e em especial o de serviços,
assumindo assim, arranjos diferentes como exposto por Corrêa (2001).
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Vale ressaltar também que, a difusão dos transportes e das comunicações cria a
possibilidade de se ir buscar em qualquer outro ponto da região e/ou do país, aquilo que
necessitam os feirantes para comercializar, pois segundo Santos (1988) hoje a
especialização das áreas e lugares leva à intensificação do movimento e a possibilidade
crescente de trocas.
Ainda foi constatado na pesquisa de campo que existe uma cobrança de tributos
por parte da Prefeitura Municipal junto aos feirantes, de um valor único de R$ 1,00 (um
real) a cada feira, com o propósito de definirem seu lugar no local aonde acontece à
feira, assim esse passa a ser um lugar ocupado enquanto comercializar produtos no
local.
Ademais, os feirantes destacam que a cobrança do pequeno valor de imposto
feito por feira, trás melhorias estruturais para o espaço fundamentais para que eles
possam desenvolver de forma mais satisfatória seus serviços, desse modo, a existência
da feira junto ao moderno setor de serviços e comércio especializado neste município
condiz com o desdobramento da rede de localidades centrais, que se divide em dois
circuitos econômicos o superior e inferior, os quais estão espacialmente interligados,
segundo Santos (1982).
Transeuntes (Moradores)
Para os transeuntes foi aplicado entrevistas com questões abertas e fechadas que
tinha como finalidade levantar o posicionamento dos moradores locais, sobre a
importância da feira livre para a cidade de Demerval Lobão-Piauí. Cabe destacar que,
este universo pesquisado possui mais de 30 (trinta) anos que mora no local e que
acompanhou a consolidação do povoado Morrinhos deste a sua elevação a categoria de
cidade, o qual ocorre em 09 de dezembro de 1963, segundo dados da Prefeitura
Municipal.
Assim ao serem indagados quanto à existência de alguma aglomeração
comercial no local antes do desenvolvimento da feira livre, todos os entrevistados
informaram que o surgimento da feira livre acompanhou o crescimento e a consolidação
do município de Demerval Lobão.
Quanto à organização das primeiras feiras, os transeuntes comentaram que:
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“No início a feira não possuía qualquer tipo de estrutura, pois
os feirantes viam expor suas mercadorias em caixotes e até com
panos no chão. Com o passar do tempo foram sendo construídos
galpões de palha improvisados [...]. Esses galpões eram
construídos com estacas e cobertos com as palhas da babaçu.
Embaixo deles os feirantes se distribuíam (Anísio da Costa
Batista, Morador de 83 anos).
Observou-se no espaço de estudo que a cidade de Demerval Lobão apresentou
um crescimento físico-territorial, especialmente no entorno da feira, onde constatamos
que os bairros mais antigos da cidade estão localizados nas proximidades da feira livre,
contribuindo consideravelmente para dinamizar este espaço.
Ademais, o aumento do número de estabelecimentos comerciais, dos prestadores
de serviços e as melhorias das estruturas físicas no local, segundo os transeuntes foram
essenciais para a melhoria das condições tanto de trabalho dos vendedores como das
pessoas que realizam comprar na feira. Assim, reportando a literatura de Santos (1988)
podemos evidenciar que a cidade de Demerval Lobão passou de uma configuração
territorial tímida para uma mais dinâmica, sendo desse modo, mais suscetível a
mudanças regulares exigidas ao longo do tempo.
Segundo os transeuntes freqüentadores mais antigos da feira livre, os primeiros
feirantes comercializavam animais vivos, peles de animais, além de produtos agrícolas
oriundos das pequenas plantações que existiam nas áreas do entorno do povoado, e que
o excedente das produções destes lavradores eram totalmente negociado na feira livre,
dessa forma, tinha muitos produtos alimentícios como melancia (Citrullus Vulgaris
Schrad), mandioca (Manihot Esculenta Crantz), arroz (Oryza Sativa), feijão (Phasedus
Vulgaris), dentre outros.
No entanto, nos dias atuais ocorre o inverso, a feira livre possui mais produtos
industrializados, provocando uma diversificação muito grande e até mesmo,
descaracterizando o real objetivo da atividade que os moradores mais velhos
conheceram como podemos observar na figura 6.
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Figura 6: Vendas de produtos variados na feira em Demerval Lobão – Piauí.
Fonte: Sousa Filho, 2011.
Destarte, Corrêa (2000) ressalta que essa descaracterização da feira como é
percebido na figura 6, é parte integrante do desenvolvimento capitalista, o qual está
ancorado na produção industrial como participante efetivo do momento atual da
sociedade, contribuindo de maneira efetiva na diversificação dos produtos
comercializados na feira livre de Demerval Lobão.
Conclusão
Através do estudo foi possível concluir que a feira livre no município já teve seu
momento de maior representação, justamente quando ainda não se contava na cidade
com uma grande diversificação comercial, outro ponto relevante, é a variação do
número de barracas no local no período que se comemora os festejos do santo
padroeiro, há um aumento considerável das barracas por ter uma necessidade de
abastecer além da população da cidade aqueles que moram na zona rural.
Ainda podemos destacar que a feira livre constitui uma tradição cultural para a
sociedade morrinhense, principalmente para aqueles moradores mais velhos que tem
nesta atividade dominical uma forma de lazer e reencontro com os amigos, sejam eles
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os feirantes ou apenas os moradores que sempre se encontraram ao longo destes anos
em dias de feira.
Referências
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