Dinâmica Territorial da Produção Agropecuária - A Geografia do Café

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Transcript of Dinâmica Territorial da Produção Agropecuária - A Geografia do Café

  • Presidente da RepblicaMichel Miguel Elias Temer Lulia

    Ministro do Planejamento, Desenvolvimento e GestoDyogo Henrique de Oliveira (interino)

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA - IBGEPresidentePaulo Rabello de Castro

    Diretor-ExecutivoFernando J. Abrantes

    RGOS ESPECFICOS SINGULARES

    Diretoria de PesquisasRoberto Lus Olinto Ramos

    Diretoria de GeocinciasWadih Joo Scandar Neto

    Diretoria de InformticaJos SantAnna Bevilaqua

    Centro de Documentao e Disseminao de InformaesDavid Wu Tai

    Escola Nacional de Cincias EstatsticasMaysa Sacramento de Magalhes

    UNIDADE RESPONSVEL

    Diretoria de GeocinciasCoordenao de Geografia

    Claudio Stenner

  • Rio de Janeiro2016

    Ministrio do Planejamento, Desenvolvimento e GestoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE

    Diretoria de GeocinciasCoordenao de Geografia

    A Geografia do Caf

    Dinmica Territorial da Produo Agropecuria

  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGEAv. Franklin Roosevelt, 166 - Centro - 20021-120 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil

    ISBN 978-85-240-4401-4 (meio impresso)

    IBGE. 2016

    Produo do e-bookRoberto Cavararo

    CapaMnica Pimentel Cinelli Ribeiro - Gerncia de Editorao / Centro de Documentao e Disseminao de Informaes - CDDI

    A Geografia do caf / IBGE, Coordenao de Geografia. - Rio de Janeiro : IBGE, 2016.

    136p.

    Acima do ttulo: Dinmica territorial da produo agropecuria.

    Inclui bibliografia

    ISBN 978-85-240-4401-4

    1. Geografia agrcola - Brasil 2. Caf - Cultivo. 3. Produtividade agrcola. 4. Agricultura familiar. 5. Inovaes agrcolas. 6. Agropecuria Aspectos econmicos. I. IBGE. Coordenao de Geografia. II. Ttulo: Dinmica territorial da produo agropecuria.

    Gerncia de Biblioteca e Acervos Especiais CDU 911:63

    RJ/2016-28 GEO

    Impresso no Brasil/Printed in Brazil

  • Sumrio

    Apresentao

    Introduo

    Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    A geografi a contempornea da cafeicultura brasileiraUma contextualizao regional e sustentvel

    Distribuio espacial dos estabelecimentos produtores de caf

    Espacialidade da quantidade produzida do caf arbica e canephora, familiar e no familiar

    Produo familiar e no familiar do caf arbica

    Produo familiar e no familiar do caf canephora

    As diferentes condies do produtor

    Difuso espacial da modernizao

    Mecanizao

    Adubao e uso de agrotxicos

    Irrigao

    Modernizao imaterial do caf

    Destino da produo

    Logstica da cafeicultura

    Referncias

    ApndicesApndice 1 - Trabalho de campo

    Apndice 2 - Estabelecimentos agropecurios produtores de caf: agricultura familiar e no familiar

    Apndice 3 - Condio do produtor

  • A Geografia do Caf

    Convenes- Dado numrico igual a zero no resultante de arredondamento;

    .. No se aplica dado numrico;

    ... Dado numrico no disponvel;

    x Dado numrico omitido a fim de evitar a individualizao da informao;

    0; 0,0; 0,00 Dado numrico igual a zero resultante de arredondomento de um dado numrico originalmente positivo; e

    -0; -0,0; -0,00 Dado numrico igual a zero resultante de arredondamento de um dado numrico originalmente negativo.

  • Apresentao

    Com o lanamento de Ageografiadocaf, o IBGE traz a pblico os primeiros resultados do Projeto Dinmica Territorial da Produo Agropecu-ria, que tem por objetivo acompanhar o deslocamento espacial e revelar a geografia contempornea dos principais produtos desse importante segmento econmico. Para tal, foram selecionados aqueles que, ao longo do tempo, alcanaram uma expresso relevante na estruturao do espao rural brasileiro, como o caso do caf, cuja importncia histrica, tanto economicamente, quanto no que diz respeito ao povoamento do territrio brasileiro, o credencia para inaugurar essa divulgao.

    Contemplando segmentos construtores do processo de expanso da fronteira agrcola e da prpria identidade nacional, os prximos volumes tero como foco os seguintes segmentos: a geografi a da cana-de-acar, em 2017; a distribuio espacial da produo alimentar do arroz, do feijo e da mandioca; a distribuio espacial da produo alimentar da soja e do milho; e, fi nalmente, a pecuria bovina, suna e a avicultura. Eles compem, inicialmente, a sequncia anual de divulgao do Projeto Dinmica Territorial da Produo Agropecuria, que se compromete a acompanhar a evoluo espao-temporal desses segmentos a cada cinco anos.

    Os procedimentos metodolgicos adotados no presente estudo foram baseados em pesquisa bibliogrfi ca e trabalho de campo que qualifi cam a anlise estatstica voltada agropecuria.

    Wadih Joo Scandar Neto

    DiretordeGeocincias

  • Introduo

    A anlise geogrfi ca fundamental para o planejamento da agricultura contempornea, e o conhecimento da dinmica territorial dos diferentes segmentos agroindustriais auxilia diretamente nesse projeto.

    Com efeito, na perspectiva moderna de gesto do territrio, toda ao referente ao seu planejamento, ordenao e monitoramento deve privilegiar a anlise dos diferentes usos pela agropecuria, seja em sua dinmica ao longo do tempo, seja em termos da distribuio espacial de um segmento em um dado momento.

    Nesse sentido, cabe lembrar a relevncia que a questo da dinmica territorial da produo agropecuria vem adquirindo no debate contem-porneo em torno das mudanas climticas e das polticas de adaptao e mitigao a elas associadas1, bem como das diversas formas de manejo dos solos e dos recursos hdricos que atendam a essa produo. Afi nal, de acordo com Giddens (2010, p. 205), a adaptao nos reconduz questo do planejamento, uma vez que envolve a refl exo antecipada e sistemtica das formas atuais e futuras de apropriao do territrio e, nesse sentido, as anlises dos deslocamentos dos diferentes usos da terra esto no centro das medidas em torno da diminuio das vulnerabilidades locais, regionais e nacionais diante das mudanas climticas.

    Esse um desafio posto ao planejamento do territrio, notada-mente de pases de dimenso continental, como o Brasil. Contudo, dada a complexidade e a diversidade dos temas envolvidos, o foco desse projeto

    1 O conceito de adaptao, pelo menos aquela orientada para futuros possveis, isto , a adaptao pr-ativa, de acordo com Giddens (2010, p. 203), diz respeito a diagnosticar vulnerabilidades e responder a elas, cabendo ressaltar que a vulnerabilidade no apenas um problema referenciado ao meio fsico, mas tambm s dimenses econmicas e sociais.

  • A Geografia do Caf

    est concentrado no mapeamento e anlise da evoluo das reas de concentrao da produo agropecuria, com base nos resultados da Produo Agrcola Municipal - PAM entre os anos de 1975 e 2013, e das diferenas regionais verificadas entre os estabelecimentos rurais e as quantidades produzidas, a partir de variveis selecionadas do Censo Agropecurio 2006, ambas as pesquisas realizadas pelo IBGE.

    A Pesquisa de Estoques e o Cadastro Central de Empresas - Cempre, referentes a 2013, constituem outras fontes de informaes do IBGE que auxiliam a traar a trajetria geogrfica do caf no Territrio Nacional.

    Nesse contexto, cabe lembrar que a perspectiva geogrfica do espao rural brasileiro permite a integrao, em um nico projeto, de inmeras pesquisas da Instituio voltadas agropecuria.

    Para a elaborao desse estudo, , portanto, fundamental o trabalho conjunto da Estatstica e da Geografia do IBGE, uma vez que a operacionalizao dos novos conceitos do rural contem-porneo passa, na atualidade, pela compreenso integrada, no s das informaes censitrias, como tambm das demais pesquisas conjunturais que gravitam em torno da agropecuria nacional.

    Alm das bases de dados do IBGE, o presente estudo conta tambm com informaes dis-ponibilizadas pela Secretaria de Comrcio Exterior - Secex, acerca da exportao de commodities agrcolas2.

    O mapeamento, enquanto instrumento operacional, por excelncia, da espacializao das informaes estatsticas, permite ademais uma viso integrada inerente complexidade da an-lise geogrfica das redes virias vis--visos pontos estratgicos de estocagem, processamento e consumo da produo agropecuria.

    A geografia dos diversos segmentos que compem a agricultura e a pecuria vem seguindo, cada vez mais, uma dinmica espacial que tem como motor, na maioria das vezes, o comrcio mundial de commodities e, portanto, a logstica que envolve no s as reas agrcolas, como tam-bm, cada vez mais, sua localizao frente s vias de circulao e aos pontos de armazenagem, processamento e distribuio da produo e de servios.

    Nesse contexto, o espao agrrio tradicional passou por um intenso processo de transfor-mao, perdendo a autonomia relativa que possua e se integrando mais intensamente s esferas econmica, social e cultural de uma sociedade e de um territrio em crescente articulao.

    Enfim, elaborar a sistematizao, em uma mesma base cartogrfica, de um conjunto de in-formaes agropecurias de modo a contribuir para a anlise geogrfica dos principais segmentos que compem o espao rural brasileiro na contemporaneidade constitui o foco do Projeto Dinmica Territorial da Produo Agropecuria, cuja divulgao ora se inicia.

    O presente estudo espera servir, tambm, de instrumento para a consolidao de um quadro geogrfico de referncia para a divulgao e a anlise estatsticas, essencial ao aprofundamento da complexa realidade territorial do Brasil contemporneo.-

    2 Para informaes mais detalhadas, consultar: BRASIL. Secretaria de Comrcio Exterior. AliceWeb: sistema de anlise das informaes de comrcio exterior. Braslia, DF: Secex, 2014. Disponvel em: . Acesso em: out. 2015.

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013A trajetria da civilizao brasileira est

    sintetizada nas peripcias histricas do caf....

    (GUEDES apud TAUNAY, 1939, p. 5)

    A agricultura e, em especial, a cafeicultura, tem histrica relevncia geopoltica e econmica no Brasil, tendo moldado as diversas formas de apropriao e uso do imenso patrimnio natural tropical e subtropical que formam o Pas.

    Arajo (2006) chama ateno para o fato de que o Brasil engatou no Sculo XVI no velho movimento de internacionalizao do capital comercial como colnia de explorao dentro de um processo que deixa sua marca at os dias atuais. Desse modo, pedaos do territrio brasileiro foram articulados nesse movimento, montando bases produtivas e estruturas socioculturais diferenciadas que, ainda hoje, marcam nossas distintas regies1.

    A estrutura espacial nas primeiras dcadas do Sculo XIX, ainda refl e-tia, contudo, um Pas de ocupao concentrada na faixa litornea, cuja base econmica agrria, espacialmente descontnua e comandada pelo mercado externo, era marcada por dinmicas pontuais que se reproduziam em dife-rentes reas de seu territrio, de forma desintegrada, conforme as condies naturais reagiam participao do Brasil no mercado internacional enquanto produtor de bens primrios diferenciados.

    1 Sobre os primrdios da lavoura cafeeira no Oriente e os principais episdios do uso do caf nos gran-des paizes occidentaes consolidando o comrcio da fava de Moka e a transplantao do cafeeiro America antilhana e Guyana de onde veio ter ao Brasil ainda em 1723, ano em que se malograram por completo as tentativas para a plantao de mudas vindas de Guyana Franceza, de Cayenna para o Par, de onde Francisco de Mello Palheta introduziria a fava rubicea para a regio onde mais tarde viria a tomar o imenso surto que sabemos, a ponto de ser a quase monopolizadora, por assim dizer, do seu comrcio, e a fornecedora mxima dos mercados mundiais (TAUNAY, 1939, p. 17). Em 1760 as primeiras mudas foram trazidas para o Rio de Janeiro onde se expandiu pela Serra do Mar, atingindo, em 1780, o Vale do Paraba (ORMOND; PAULA; FAVERET FILHO, 1999, p. 7).

  • A Geografia do Caf

    Nesse contexto, as principais atividades econmicas, desenvolvidas desde o incio da colo-nizao, estiveram ligadas a produtos agrcolas ou de carter extrativo, como pau-brasil, cana-de--acar, fumo, algodo, caf, borracha e cacau.

    Dentre elas, a atividade cafeeira assume papel relevante na economia nacional, ao induzir, em parceria com o Estado, o desenvolvimento dos setores industrial, comercial e financeiro, dife-renciando e influenciando at os dias atuais a configurao territorial de So Paulo.

    Alm disso, o cultivo do caf no Brasil esteve historicamente associado ao deslocamento espacial de sua produo consagrando a narrativa de sua marcha pioneira (MONBEIG, 1957) sobre o territrio fluminense em direo ao planalto paulista em meados do Sculo XIX2.

    Com efeito, a cafeicultura constitui uma das mais antigas exploraes agrcolas do Brasil e sua expanso, a partir do ltimo quarto do Sculo XIX, que se prolongaria e se consolidaria ao longo das trs primeiras dcadas do Sculo XX, eleva essa cultura condio de principal exportao do Pas, assumindo, portanto, a posio antes desfrutada pelas economias aucareira e algodoeira. Tal posio se deu, portanto, a partir de uma conjuno de fatores favorveis, tanto internos, como externos (ATLAS..., 2011, p. 173).

    No plano interno, a disponibilidade de terras frteis e de mo de obra, remanescente das lavouras algodoeira e aucareira, logo engrossada pela imigrao de colonos europeus e mais tar-de de japoneses, resultou na expanso da cultura pela Regio Sudeste, estendendo-se mais tarde pela Regio Sul, enquanto, no plano externo, a quebra da safra nos principais Pases produtores e o incremento do consumo nos mercados europeu e norte-americano, alou o Brasil condio de maior produtor mundial de caf.

    Nunca demais lembrar que a cafeicultura teve papel central tanto na estruturao do sis-tema colonial, pautado no binmio plantation/escravido, como na questo da migrao europeia e asitica que marcou a agenda poltica e o processo de povoamento do Brasil no Sculo XIX3.

    Analisando o longo perodo entre 1884-1977, Freitas (1979 apud GASQUES; BASTOS, 2014, p. 158), faz uma anlise do ciclo do caf mostrando os fatos mais importantes como geadas e interven-es de poltica pblica que provocaram mudanas na tendncia de produo e preo que esto na raiz do deslocamento espacial verificado na cafeicultura no territrio nacional ao longo do tempo.

    Entre as grandes intervenes naquele perodo Freitas (1979 apud GASQUES; BASTOS, 2014, p. 158) relata a proibio de plantio feita em 1932 e entre junho de 1931 e julho de 1944, promoven-do a destruio de 78,0 milhes de sacas de 60 quilos. Entre 1962 e 1967 foi aplicado o plano de erradicao por meio do qual foram erradicadas cerca de 2,0 bilhes de cafeeiros liberando uma rea da ordem de 2,7 milhes de hectares.

    Dentre esses fatores, as fortes geadas que atingiram os cafezais de So Paulo e Paran, dentre as quais se destaca a de 1975, alm da poltica pblica voltada a esse segmento especfico, como

    2 Nada mais comprobatrio de tal proposio do que o deslocamento do eixo econmico nacional, para o sudoeste, desde que as terras montanhosas, e portanto sujeitas eroso das velhas zonas cafeeiras fluminenses, cessaram de suportar as lavouras da planta arbica (TAUNAY, 1939, p. 8).

    3 O cafezal se alastrando por montes e colinas, desbravando matas, rasgando estradas, fundando cidades, dilatando sempre a fron-teira litornea, que ento delimitava a zona rica do imenso imprio brasileiro (GUEDES apud TAUNAY, 1939, p. 6).

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    as aes de erradicao, os planos de renovao e, mais recentemente, os zoneamentos agrocli-mticos, constituem os mais poderosos vetores geogrficos indutores do deslocamento espacial da cafeicultura no territrio brasileiro ao longo do tempo histrico.

    Os perodos de superproduo e preos elevados, nos quais os cafeicultores estabeleciam novas reas de expanso, so igualmente apontados como elementos responsveis pela dinmica espacial da produo cafeeira, alm do prprio crescimento do mercado urbano associado ao processo de urbanizao do Pas e, mais diretamente, do Estado de So Paulo.

    Nesse contexto, pode-se afirmar que a temporalidade da longa durao, ligada a aspectos estruturais, aquela que interessa mais de perto a essa pesquisa, pois constitui o objeto geogrfico por excelncia da anlise territorial, sendo fundamental para a explicao dos processos socioe-conmicos em sua totalidade (JORD POBLET, 2011), vis--visa temporalidade ligada a aspectos conjunturais e os de curta durao, decorrentes, em grande parte, do comportamento cclico do caf4.

    No caso dessa lavoura em especial pode-se afirmar que dentre as profundas transformaes operadas em seu processo produtivo, a se destacando a introduo da tecnologia, de novas varie-dades e de prticas agronmicas, o deslocamento espacial, resultando na mudana das regies cafeeiras constitui, seguramente, um dos traos mais significativos que acompanhou a evoluo da cafeicultura no Brasil ao longo do tempo.

    No se pode deixar de mencionar a importncia que a ocupao do oeste paulista pela cafeicultura representou em termos da insero do Brasil e, sobretudo, de So Paulo, na lgica do sistema-mundo quando o mercado externo ampliou o consumo do caf.

    Em relao ao passado, cabe observar, tambm, a importncia que a interpretao de Mon-beig (1984) sobre a ocupao do oeste paulista pelo caf representou para a evoluo da prpria anlise geogrfica e a consolidao de sua viso abrangente do territrio.

    Tal viso articulava, pioneiramente, a expanso e mobilidade da produo cafeeira no terri-trio paulista no s estritamente ao aproveitamento das condies naturais proporcionados pela presena dos latossolos associados a derrames baslticos, clima e relevo, mas acelerao do uso desses recursos atravs do desenvolvimento tcnico que podia ser identificado concretamente pela expanso das ferrovias, alm de sua associao ao mercado mundial5.

    A ocupao agrcola do territrio brasileiro em geral e, especificamente, aquela promovida pelo caf foi, assim, um dos elementos fundamentais para conformar a diferenciao regional que hoje em dia compe a Regio Sudeste, a includa a peculiar malha territorial de So Paulo que distingue esse Estado no contexto nacional pelo adensamento de uma malha viria indutora de uma interiorizao fortemente associada expanso ferroviria e suas Bocas do Serto.

    4 No curto prazo, o comportamento cclico do caf decorre, em essncia, do fato de se tratar de uma planta perene, que atinge a idade de produo comercial por volta do terceiro ano, embora j com um ano e meio inicie a primeira produo, segundo Freitas (1979 apud GASQUES; BASTOS, 2014, p. 158).

    5 Em Monbeig (1984) a questo da relao tempo e espao amplamente discutida na Geografia se torna crucial em busca de expli-caes mais abrangentes e complexas do espao geogrfico.

  • A Geografia do Caf

    Com efeito, como legado da civilizao do caf e da interiorizao pioneira desse Estado, sua estrutura urbano-regional caracteriza-se na atualidade por uma rede urbana polinucleada e uma distribuio de cidades bem mais equilibrada que a dos demais Estados brasileiros.

    Ao contrrio de grande parte dos estados das Regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Pas, observa-se na Regio Sudeste e, em especial no territrio paulista, uma distribuio espacial sem forte primazia urbana, que, combinada a uma estrutura fundiria e uma espacialidade de estabelecimentos rurais menos desigual, proporciona uma geografia singular no que diz respeito s formas de ocupao de seu espao rural.

    O Mapa 1, relativo distribuio espacial da rea plantada com caf segundo municpio e o Mapa 2, que utiliza para o mapeamento desta informao a tcnica de Kernel6, permitem uma avaliao geogrfica abrangente da distribuio espacial da rea plantada de caf em meados da dcada de 1970, ressaltando, o primeiro, a geografia do conjunto de municpios paulistas, paranaen-ses e capixabas que lideravam a produo de caf no Pas naquele momento enquanto o segundo permite uma viso da intensidade dessa atividade no noroeste paraense.

    6 O Mapa de Kernel permite uma anlise geogrfica do comportamento de padres espaciais que chama ateno da intensidade pon-tual erminado fenmeno no espao investigado. Nesse sentido, pode-se afirmar uma viso geral da intensidade de ocorrncia da rea plantada de determinado produto agropecurio.

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Mapa 1 - Caf - 1975

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 1975.

  • A Geografia do Caf

    Os Mapas 1 e 2, contudo, apesar de apontarem para reas de especializao futura dessa produo, rebatem, ainda, em grande parte, a configurao das regies pioneiras que marcaram historicamente a interiorizao do Sudeste brasileiro e, em especial, do oeste paulista. Esses Mapas destacam tambm a expresso espacial que adquiriu o noroeste paranaense at esse perodo de-vido s vantagens comparativas apresentadas por essa nova fronteira agrcola do Pas no perodo 1940-1960 e da poltica de valorizao externa (DELGADO, 2014, p. 363).

    Em meados dos anos 1970, embora no se pudesse mais afirmar, como em perodos ante-riores, que a produo de caf se distribua em quase todo o Estado bandeirante, conforme assi-nalado em estudos anteriores (STRAUCH, 1958, p. 508), quando analisadas todas as classes de rea plantada do Mapa 1, ainda aparecia um padro difuso de distribuio da cafeicultura, guardando o Planalto Ocidental paulista uma posio de destaque, seguindo os eixos ferrovirios.

    Nesse contexto ilustrativo o fato de o Estado de So Paulo possuir apenas dois municpios Gara e So Manuel - dentre aqueles que concentravam 20,0% da rea plantada do Pas em 1975, conforme observado no Mapa 2. O primeiro deles, ligado ao do ciclo do caf no incio do Sculo XIX, est situado na Microrregio Geogrfica de Marlia, pertencendo a uma das Zonas Velhas (MOMBEIG, 1958) da cafeicultura paulista, enquanto So Manuel, ocupada no incio do Sculo XX, localiza-se na chamada Expanso das Zonas Velhas7.

    Em publicao de 1939 Taunay assinalava como grandes zonas produtoras os Estados do Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais e, de menor importncia, os Estados do Esprito Santo, Bahia, Cear etc. (TAUNAY, 1939, p. 23), revelando a geografia traada por essa lavoura no incio do Sculo XX.

    Na geografia do caf de meados da dcada de 1970, se destacam, contudo, nas classes mais altas observadas nos Mapas 1 e 2 tanto as reas de incorporao de novos cafezais resultantes do prosseguimento direto da marcha pioneira paulista (MONBEIG, 1957, p. 722), situadas no norte--noroeste do Paran, como aquelas localizadas no Esprito Santo, sinalizando a consolidao futura dessa cultura para fora do eixo histrico representado por So Paulo e Paran, que sucedeu o curto ciclo da cafeicultura fluminense.

    7 Faixa que se estende pela regio central de So Paulo, de forma paralela aos limites oeste e leste, desde Franca, no norte, at Piraju, no sul, passando por Ribeiro Preto, Araraquara, So Carlos, Ja e Botucatu (MONBEIG, 1958, p. 724).

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Mapa 2 - Caf - 1975

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 1975.

    PROJEO POLICNICA

    ESCALA : 1 : 27 000 000125 0 250 500 km

    Concentrao da rea plantada

    Concentrao dos valoresde rea plantada

    Alta concentrao

    Baixaconcentrao! Municpios que concentram

    20 % da rea plantada

  • A Geografia do Caf

    Conforme observado no Mapa 2, o Estado do Paran possua nessa ocasio cafezais situ-ados muito alm das fazendas e stios surgidos entre 1935-1945 em torno da regio de Londrina, alterando profundamente a paisagem das margens dos Rios Paran e Paranapanema. Nesse Estado destacavam-se, em meados dos anos 1970, os municpios situados nas Mesorregies Geogrficas do Norte Central, Noroeste e Oeste Paranaense, a se destacando os Municpios de Rolndia, Londrina e Camb, pertencentes Microrregio Geogrfica de Londrina, Umuarama e Cianorte, nas microrregies geogrficas de mesmo nome; e Formosa do Oeste, pertencente Microrregio Geogrfica de Toledo.

    Combinando um nmero superior ao de municpios paulistas dentre aqueles que concentravam 20,0% das reas plantadas com caf em 1975, Colatina, Barra do So Francisco, Linhares, Pancas e So Gabriel da Palha, que integram a Mesorregio Geogrfica do Noroeste Esprito-santense, alm de Ina, na Mesorregio Geogrfica Sul Esprito-santense, afirmam a consolidao da cafeicultura desse Estado no contexto nacional, notadamente aps a substituio, na dcada de 1960, do caf arbica pelo tipo robusta (caf Conillon) mais adaptados s condies climticas locais.

    Na escala estadual, observa-se a consolidao do noroeste e do Vale do Rio Doce como regio cafeicultora em expanso e em substituio antiga regio serrana ao sul na qual a migrao italiana e alem desempenhou importante papel na introduo do caf no Estado do Esprito Santo ainda no Sculo XIX.

    Como extenso da cafeicultura paulista no Estado de Minas Gerais, o Municpio de Trs Pontas, na Microrregio Geogrfica de Varginha no sul deste Estado, constitua em 1975 o nico municpio mineiro pertencente ao conjunto daqueles que nesse ano reuniam 20% da rea plantada de caf8.

    Quando comparamos os Mapas 1 e 2 referenciados ao ano de 1975 aos Mapas 3 e 4 relativos a 1985 justamente a faixa fronteiria entre os Estados de So Paulo e Minas Gerais, isto , na zona de influncia da concesso da antiga Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que sinalizar, no Mapa do Brasil, uma linha demarcatria entre a geografia traada pelas frentes pioneiras do caf e uma outra que vai pautar a distribuio espacial dessa cultura no Brasil contemporneo.

    Nesse contexto, os Estados de Minas Gerais e Esprito Santo, includos na economia do caf desde final do Sculo XIX e incio do Sculo XX, so, ao contrrio de So Paulo e do Paran, os dois Estados que iro, no s permanecer, como se firmar na liderana da produo nacional9.

    Com efeito, se at a dcada de 1970, Paran e So Paulo ofertavam o maior volume de caf, dentre os Estados brasileiros, nas dcadas seguintes, como decorrncia de trs processos principais como o Plano de Renovao e Revigoramento de Cafezais - PRRC, proposto pelo ento Instituto Brasileiro do Caf - IBC, a ocorrncia de geadas nas principais reas de produo do Paran e So Paulo e a incorporao de extensas reas de cerrado para a prtica agricultura (PELEGRINI; SIMES, 2010, p. 3), a cafeicultura de Minas Gerais e do Esprito Santo passaram a apresentar resultados mais expressivos comparativamente aos demais Estados. Nunca demais lembrar que a partir dos anos 70 do sculo passado que o sul de Minas Gerais alcana realce na produo cafeeira nacional.

    8 A regio do sul de Minas Gerais foi inserida nas frentes pioneiras do caf do final do Sculo XIX e incio do Sculo XX, acompanhando expanso do ramal ferrovirio da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.

    9 A regio sul de Minas Gerais, devido s dificuldades de transportes e de comunicaes com as demais regies do Estado, sempre foi muito ligada ao Estado de So Paulo, levando sua produo em carros de boi at as estaes ferrovirias da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro mais prximas, no interior paulista (ramal de Mococa), rumo ao porto de Santos (GRINBERG, 2011, p. 319).

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Mapa 3 - Caf - 1985

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 1985.

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    PROJEO POLICNICA

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  • A Geografia do Caf

    A ocorrncia de geadas nas principais reas de produo nos Estados do Paran e So Pau-lo, e a adeso tcnica de Minas Gerais ao PRRC, marcou, desse modo, o incio de uma profunda transformao na cafeicultura nacional10.

    Os estmulos governamentais destinados a promover a implantao de novos cultivos, ao longo da dcada de 1970, concomitante implantao de novos cafezais em inmeros municpios do Sul-sudoeste, Zona da Mata, Vale do Rio Doce, dentre outros, fizeram elevar a participao de Minas Gerais na produo nacional, relativamente aos demais Estados produtores, processo que se tornou mais pronunciado a partir de 1978.

    Com efeito, o Mapa 3 e, principalmente, o Mapa 4, deixam evidenciados o perodo dessa mudana no padro regional da cafeicultura brasileira, o que fica registrado espacialmente at mesmo pelo crescimento numrico dos municpios que concentram 20,0% da produo nacional que, em 1985, no mais se localizavam to acentuadamente no Paran, como em 1975, mas, antes, se dispersavam por So Paulo, notadamente na regio fronteiria com o territrio mineiro na Bacia do Rio Grande, pelos Estados de Minas Gerais e Esprito Santo.

    Conforme observado no Mapa 4, o Paran reduz o nmero de municpios dentre aqueles que concentram 20,0% da rea plantada em 1985, com forte retrao em relao a 1975. No Estado de So Paulo, todavia, a participao de municpios nas classes mais altas de rea plantada sinaliza o momento de mudana, com o revigoramento das tradicionais reas dedicadas cafeicultura. Esse processo desenvolveu-se ao longo do eixo da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e, mais ao norte, nas reas de influncia da antiga Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.

    Como ncleos iniciais responsveis pela disperso da cafeicultura nos cerrados da Mesorre-gio Geogrfica do Tringulo Mineiro/Alto Paranaba, o Mapa 4 destaca, dentre os municpios que concentram 20,0% da rea plantada em 1985, os Municpios de Araguari, na Microrregio Geogrfica de Uberlndia; e Patrocnio, na Microrregio Geogrfica de Patrocnio que, de acordo com Pelegrini e Simes (2010) se vincularam a essa cultura a partir da migrao para Estado de Minas Gerais de famlias de cafeicultores oriundos do Estado do Paran.

    Quando se observa em sequncia a evoluo da cafeicultura no tempo e no espao no se pode deixar de verificar que a dcada de 1980 marca a passagem de uma geografia do caf, ainda sediada nos Estados do Paran e de So Paulo, para uma outra que incorpora crescentemente as reas de Cerrado.

    Tal passagem longe de ser conduzida, como no perodo anterior, por uma poltica estri-tamente focada para o caf, articula-se agora aos avanos tecnolgicos e inovaes advindas da Revoluo Verde, entre as quais se destacam as tcnicas de correo e adubao de solos e a adaptao de novas espcies e variedades de gros aos solos de Cerrado.

    Um aspecto importante do deslocamento da cafeicultura em direo aos cerrados diz respei-to a um contexto mais amplo de ampliao/diversificao da pauta de exportao, com destaque para a soja, carne (bovina, suna e aves), acar e algodo dentro de um processo que se iniciou

    10 De acordo com Caixeta (1977 apud PELEGRINI; SIMES, 2010, p. 2), 100% dos cafeeiros do Paran, 80% dos de Mato Grosso, 66% dos de So Paulo e apenas 10% dos cafeeiros de Minas Gerais foram afetados pela geada em julho de 1975.

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    nos Estados da Regio Sul do Brasil, mas alcanou a regio desse bioma como extensa fronteira de expanso agropecuria, conforme relatado por Diniz (2006, p. 87).

    A correo da acidez dos solos a partir de aplicaes de calcrio experincia procedida pelos imigrantes alemes nos Campos de Guarapuava, no Estado do Paran - serviu de exemplo aos agricultores mineiros. Tendo como centro de difuso das novas tecnologias os programas iniciais de incentivos, a exemplo do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados - Polocentro e do Pro-grama de Cooperao Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados - Prodecer, imensas reas de chapadas de Minas Gerais tornaram-se produtoras, no s de soja, milho e algodo, mas tambm de caf.

    O Mapa 3 distingue claramente no somente os municpios localizados na Regio Sudeste, mas tambm aqueles situados no norte e sudoeste de Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul; na Regio Centro-Oeste; no Estado de Rondnia, na Regio Norte; e nos Estados da Bahia e Cear, na Regio Nordeste, que, embora j inseridas anteriormente na cafeicultura, aumentam, contudo, sua participao em termos de rea plantada, conforme observado no referido Mapa.

    Com efeito, a consolidao de novas reas e o esgotamento do histrico padro espacial de concentrao da cafeicultura brasileira em torno do ncleo liderado pelo binmio So Paulo--Paran marcam a passagem da geografia do caf em direo a um outro ncleo, em meados da dcada de 1980 (Mapas 3 e 4), articulado a partir de Minas Gerais-Esprito Santo. Na dcada de 1990, a cafeicultura ainda se destacava nos Municpios de Umuarama e Altnia, no noroeste paranaense, e no Municpio de Londrina, no norte central do Paran, quando os municpios paranaenses e pau-listas no mais constavam do conjunto que concentrava 20,0% da rea plantada do Pas, conforme observado nos Mapas 5 e 6.

    Gasques e Bastos (2014, p. 159) relatam a ocorrncia, no ano de 1994, de duas grandes geadas ( junho e julho) que atingiram extensas reas produtoras de caf no Pas, quando praticamente todo o Estado do Paran, grande parte do Estado de So Paulo e faixas considerveis do sul do Estado de Minas Gerais tiveram suas lavouras seriamente comprometidas pelos danos causados pelas intem-pries climticas. Nesse contexto, a continuao dessas condies climticas ao longo do tempo, constituiu, seguramente, um dos motivos mais fortes, dentre outros, associados ao deslocamento do caf em direo aos estados ao norte do territrio paulista.

    Ainda segundo esses autores, esse fator, associado desfavorvel conjuntura econmica internacional fez com que o caf at meados dos anos 1990 conhecesse um longo perodo de baixas cotaes internacionais causadas, entre outros fatores, por uma quase ausncia de estrat-gia comercial, aliada a uma eficiente manuteno de altos estoques pelos pases consumidores, que conseguiam assim manter os preos deprimidos e direcionar o mercado de acordo com seus interesses11.

    11 Este comportamento levou nossa cafeicultura a um crculo vicioso que consistia em baixas cotaes, que geravam pouca renda, que causavam desestmulo ao produtor, que no cuidava adequadamente de suas lavouras, as quais produziam cada vez menos e eram, cada vez mais, afetadas por carncias nutricionais, pragas e doenas. Como esta situao se prolongou por muitos anos, os estoques dos pases consumidores foram diminuindo, tambm caindo a disponibilidade de cafs de alta qualidade. Este declnio teve seu pice no primeiro semestre de 1994, quando as cotaes por saca de caf beneficiado atingiram um preo que inviabilizava de vez a cafeicul-tura, sendo a nica sada o abandono ou a erradicao das plantas em pior estado, em boa parte das regies produtoras.

  • A Geografia do Caf

    Mapa 4 - Caf - 1985

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 1985.

    PROJEO POLICNICA

    ESCALA : 1 : 27 000 000125 0 250 500 km

    Concentrao da rea plantada

    Concentrao dos valoresde rea plantada

    Alta concentrao

    Baixaconcentrao! Municpios que concentram

    20 % da rea plantada

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Mapa 5 - Caf - 1995

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 1995.

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  • A Geografia do Caf

    Mapa 6 - Caf - 1995

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 1995.

    PROJEO POLICNICA

    ESCALA : 1 : 27 000 000125 0 250 500 km

    Concentrao da rea plantada

    Concentrao dos valoresde rea plantada

    Alta concentrao

    Baixaconcentrao! Municpios que concentram

    20 % da rea plantada

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Com efeito, um acontecimento importante no que se refere ao deslocamento geogrfico desse perodo foi a conjuno de fenmenos interligados de fortes geadas, seguidas de ventos, causando a chamada geada negra em alguns locais, o que geralmente causa prejuzos irreversveis, matando a planta. Alm disso, aps as geadas, seguiu-se nesse perodo uma estiagem que se prolongou at a florao da safra 1994-1995 (GASQUES; BASTOS, 2014, p. 159).

    Nesse contexto climtico adverso, a elevao dos preos no mercado mundial e o estmulo retomada da cafeicultura que ocorreria de 1996 em diante j se dar atravs de uma dinmica territorial que reafirma a tendncia verificada nas dcadas anteriores em torno da liderana dos Estados de Minas Gerais e do Esprito Santo, com expanso para os estados situados ao norte dessas duas Unidades da Federao, conforme observado nos Mapas 7 e 8.

    Com efeito, na segunda metade da dcada de 1990, a situao se manteve favorvel aos produtores de caf e o setor teve condies de se reorganizar, com a criao de rgos normativos, com a valorizao do selo de qualidade da Associao Brasileira da Indstria de Caf - ABIC e com a diversificao de produtos nas prateleiras dos supermercados. O caf voltou a ser um bom negcio e os produtores passaram a investir mais na atividade.

    Assim, a partir do final do Sculo XX e incio do Sculo XXI, os investimentos em novos plantios e de novos viveiros ocorreram nas principais regies produtoras, reforando a presena dos Estados de Minas Gerais e do Esprito Santo. Nesse perodo consolidou-se, tambm a tendncia do plantio aden-sado e superadensado, com populaes de cinco mil a 15 mil plantas por hectare, alguns em respaldo experimental, visando apenas a possibilidade de lucro mais rpido (GASQUES; BASTOS, 2014, p. 160).

    Gradativamente foram eliminadas as reas de maior risco de geadas, dentro de um processo observado principalmente na implantao de novos plantios, consolidando uma geografia do caf no Brasil contemporneo agora marcada pela liderana mineira e capixaba e pela contnua expan-so dessa cultura em direo ao cerrado do oeste baiano e ao eixo da Rodovia BR-364 no Estado de Rondnia, rea pioneira de cultivo do caf na Regio Norte do Pas assim como alguns municpios situados na Rodovia Transamaznica, conforme observado pela comparao dos Mapas 5 e 6 e os dois subsequentes - Mapas 7 e 8.

    Nesse contexto, cabe observar que em 1995 e 2005 os Mapas de Concentrao da rea Plantada (Mapas 6 e 8) comeam a apresentar manchas espaciais em torno de municpios, como Cacoal (RO), e Barra do Choa (BA), que embora includos dentre aqueles que detm 20,0% da rea plantada no Pas, esto situados fora dos grandes estados produtores de Minas Gerais e Esprito Santo. Em 2005, o Mapa 8 registra, alm de Cacoal a presena de So Miguel do Guapor (RO), naquele grupo de municpios com expresso na cafeicultura brasileira.

    Na outra ponta da dinmica territorial da cafeicultura observa-se que tanto em 1995, como em 2005 (Mapas 6 e 8) os municpios paulistas e paranaenses esto excludos do grupo de unidades municipais que concentram 20,0% da rea plantada no Pas, refletindo, assim, a consolidao de um novo Mapa da cafeicultura brasileira, distante daquele vinculado histrica migrao do caf que se deslocou das proximidades da cidade do Rio de Janeiro e do Vale do Paraba fluminense e mineiro12, em direo a So Paulo.

    12 De acordo com Taunay (1939), a zona mineira onde a cultura do caf iria se desenvolver de modo absolutamente notvel viria a ser a da Mata pela sua maior proximidade com o Rio de Janeiro e, nos Municpios do Vale do Paraba onde em breve Mar de Espanha, Juiz de Fora, Leopoldina, Cataguases e Ub seriam centros cafeeiros da maior importncia na segunda metade do Sculo XIX.

  • A Geografia do Caf

    Mapa 7 - Caf - 2005

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 2005.

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    PROJEO POLICNICA

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  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Mapa 8 - Caf - 2005

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 2005.

    PROJEO POLICNICA

    ESCALA : 1 : 27 000 000125 0 250 500 km

    Concentrao da rea plantada

    Concentrao dos valoresde rea plantada

    Alta concentrao

    Baixaconcentrao! Municpios que concentram

    20 % da rea plantada

  • A Geografia do Caf

    Finalmente o ltimo perodo comparativo observado nesse trabalho, entre 2005 (Mapas 7 e 8) e 201313 (Mapas 9 e 10), permite um olhar contemporneo da geografia da cafeicultura no Brasil no que diz respeito sua distribuio espacial no Territrio Nacional, apontando persistncias e mudanas entre o perodo analisado.

    Com efeito, seguindo a liderana estadual de Minas Gerais e Esprito Santo na atual geografia do caf no Brasil, em escala local, destaca-se, desde o final da dcada de 1990 o Municpio de Patrocnio, localizada na Microrregio Geogrfica de mesmo nome pertencente Mesorregio Geogrfica do Tri-ngulo Mineiro/Alto Paranaba, que h mais de uma dcada ocupa a primeira posio no ranking dos municpios com rea plantada de caf, seguido, na maior parte desse perodo, pelo Municpio de Trs Pontas, pertencente Microrregio Geogrfica de Varginha no sul/sudoeste do Estado de Minas Gerais.

    Tais municpios mineiros alcanaram ao final dos anos 1990 a hegemonia da rea plantada de caf em detrimento da liderana nacional prevalecente at cerca de 1997 em torno dos Municpios esprito-santenses de Linhares, Afonso Cludio e Colatina, pertencentes s microrregies de mesmo nome, situados o primeiro deles no litoral norte esprito-santense e os demais nas Mesorregies Central e Noroeste Esprito-santense, respectivamente.

    Em relao ao Estado do Esprito Santo, cabe ressaltar a liderana alcanada desde 2005 pelos Municpios de Vila Valrio e Nova Vencia, situados na Microrregio Geogrfica de Nova Vencia no noroeste esprito-santense e o Municpio de Jaguar, pertencente Microrregio Geogrfica de So Mateus no litoral norte esprito-santense. Ainda em relao a esse estado, chama ateno a presena de uma distribuio espacial relativamente dispersa em seu territrio, o que pode ser visualizado no Mapa 10, no qual se destaca no s o litoral norte e o noroeste do estado, como tambm sua poro central e meridional. Com efeito, nesta ltima os Municpios de Ina e Vargem Alta se destacam naquele grupo de municpios que detm 20,0% da rea plantada de caf em escala nacional.

    Fora os municpios localizados nos Estados de Minas Gerais e Esprito Santo, se destacam nas ltimas dcadas quanto rea plantada de caf em escala nacional, o Municpio baiano de Barra do Choa, localizado na Microrregio Geogrfica de Vitria da Conquista, no centro-sul baiano, e o Municpio de Cacoal, no Estado de Rondnia. Este ltimo, embora com presena relativa em declnio nos ltimos 15 anos em relao posio ocupada no grupo dos municpios que detm 20,0% da rea plantada do Pas, continua a fazer parte desse conjunto at o ano de 2012.

    Em relao a esses dois ltimos Estados, isto , Rondnia e Bahia, cabe observar a presena nesse grupo selecionado de municpios, no s de Cacoal (RO), como de Barra do Choa (BA), mas o Municpio de So Miguel do Guapor, localizado na Microrregio Geogrfica de Alvorada do Oeste no leste rondoniense, como de Barra da Estiva, localizado na Microrregio Geogrfica de Seabra, na Mesorregio Geogrfica do Centro Sul Baiano.

    Cabe observar, contudo, que, no Estado de Rondnia, enquanto o Municpio de So Miguel do Guapor alcanou uma presena na cafeicultura nacional desde o ano 2000, o municpio baia-no de Barra da Estiva s alcanaria essa expresso no ltimo ano analisado neste trabalho, isto , em 2013. Esses dois casos apontam que, enquanto em escala estadual ocorre um movimento de

    13 O ano de 2013 foi selecionado por possibilitar o mapeamento mais recente que se dispe da Produo Agrcola Municipal no momen-to de elaborao desse projeto, o que permite avanar, em termos temporais, na anlise geogrfica.

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    Mapa 9 - Caf - 2013

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 2013.

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    CUIAB

    RECIFE

    SO PAULO

    MACAP

    RIO BRANCO

    SO LUS

    JOO PESSOA

    ARACAJU

    FLORIANPOLIS

    RIO DE JANEIRO

    PORTO ALEGRE

    PORTOVELHO

    BOA VISTA

    CAMPOGRANDE

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    BUENOS AIRES

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    GUYANA

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    ILHA DEMARAJ

    I. DO

    La. Mangueira

    La. Mirim

    La. dos Patos

    Arquip. de Abrolhos

    Arquip. de Fernando de Noronha

    Atol das Rocas

    D.F.

    PARAN

    B A H I A

    TOCANTINS

    SERGIPE

    ALAGOAS

    PERNAMBUCO

    PARABA

    RIO GRANDE DO NORTE

    CEAR

    PIAU

    MARANHO

    RORAIMA

    A M A Z O N A S

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    RONDNIA

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    MATO GROSSO

    G O I S

    MINAS GERAIS

    MATO GROSSO DO SUL ESPRITO SANTO

    RIO DE JANEIROSO PAULO

    SANTA CATARINA

    RIO GRANDE DO SUL

    AMAP

    PROJEO POLICNICA

    ESCALA : 1 : 27 000 000125 0 250 500 km

    rea plantada (ha)

    At 905906 a 3.200

    3.201 a 7.3007.301 a 14.586Acima de 14.587

    Nmero demunicpios

    rea Plantada

    2201247411

    1.260

  • A Geografia do Caf

    Mapa 10 - Caf - 2013

    Fonte: IBGE, Produo Agrcola Municipal 2013.

    PROJEO POLICNICA

    ESCALA : 1 : 27 000 000125 0 250 500 km

    Concentrao da rea plantada

    Concentrao dos valoresde rea plantada

    Alta concentrao

    Baixaconcentrao! Municpios que concentram

    20 % da rea plantada

  • Dinmica territorial da cafeicultura entre 1975-2013

    alternncia ao longo do tempo ligado no s sazonalidade natural da produo agropecuria, como, na atualidade, tais alteraes entre espaos relativamente prximos podem, tambm, estar associadas valorizao de potencialidades naturais e/ou culturais locais vinculadas diversificao dos chamados cafs diferenciados.

    No perodo compreendido entre meados da dcada de 1970 e o incio do segundo decnio do Sculo XXI, pode-se inferir que, em escala macrorregional, embora disseminada no Territrio Nacional, inclusive com focos importantes em reas de explorao mais recente, como o caso das Regies Nordeste e Centro-Oeste, a cafeicultura se manteve concentrada na Regio Sudeste, quer pelo conhecimento acumulado do manejo da cultura, quer pela fertilidade do solo, aliado ainda a uma eficiente infraestrutura de transporte e comunicao que agiliza o escoamento e a distribuio da produo (ATLAS..., 2011, p. 173).

    Com efeito, a Regio Sudeste no s foi o lcus de disperso dessa cultura como atividade econmica geradora de riquezas para o Pas, como, ainda hoje, detm o controle da cadeia produti-va (do plantio ao mercado). Nesse circuito, os estados cafeicultores do sudeste lideram a produo propriamente dita, discutem polticas para o setor, desenvolvem pesquisas, atuam na formao de preos e realizam negociaes comerciais nacionais e internacionais. H, todavia, em outras regies do Pas, como o Norte, Nordeste e o Centro-Oeste, que vm consolidando sua participao na cafei-cultura nacional, produzindo caf seja em quantidade, seja em qualidade e diversidade crescentes.

    Quando se analisa esse mesmo perodo em termos intrarregional, contudo, pode-se afirmar que na geografia da cafeicultura brasileira as mudanas esto atreladas, por um lado, ao prprio processo geral de desconcentrao do espao rural brasileiro como um todo, isto , acompanhando sua expanso em direo regio dos cerrados e ao norte do Pas.

    Nesse movimento se destacaram a Regio do Tringulo Mineiro e o Oeste Baiano, em relao ao cerrado14 e, em relao fronteira amaznica, o Estado de Rondnia, onde a cafeicultura fez parte do processo de colonizao da Amaznia promovido pelo planejamento estatal atravs do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - Incra e o norte do Estado de Mato Grosso.

    Por outro lado, correspondendo a uma dinmica especfica do segmento da cafeicultura, observa-se seu histrico deslocamento das terras paulistas e paranaense, associada, em grande parte recorrncia das geadas, abrindo caminho para a hegemonia mineira e capixaba na atualidade.

    Pode-se afirmar, enfim, que a dinmica territorial do caf na atualidade possui importncia marcante em determinadas regies do espao rural brasileiro nos quais o caf constitui seno o segmento econmico dominante, um dos que possuem importncia no s em termos de ocupao e uso da terra, como, principalmente, em termos das relaes em rede, de natureza socioeconmica e, mesmo, poltica, estabelecidas no interior do territrio brasileiro e entre este e o mundo.

    Desse modo, a comparao do Mapa 10 com a malha territorial-regional definida pelo Projeto Regies Rurais (PROJETO..., 2015), permite afirmar que as Regies Rurais das Capitais Regionais

    14 Na atualidade a cafeicultura praticada no Tringulo Mineiro e no oeste da Bahia utiliza cultivares bem adaptadas ao Bioma Cerrado e , de forma geral, amplamente tecnificada, contando com sistemas de irrigao, colheitadeiras mecnicas, entre outros recursos tecnolgicos de ponta bastante representativos do agronegcio do caf no Pas.

  • A Geografia do Caf

    de Pouso Alegre e Varginha (RR-3105) e a Regio Rural da Capital Regional de Vitria (RR-3201)15, possuem na cafeicultura um dos motores de suas articulaes internas e externas.

    Em Minas Gerais, ainda se destaca a Regio Rural do Centro Sub-regional de Patos de Minas Gerais (RR-3107), onde se localiza o Municpio de Patrocnio, como rea de crescente afirmao da cafeicultura moderna ligada expanso do caf nos cerrados do Tringulo Mineiro.

    Quanto Regio Rural Esprito-santense, de protagonismo na cafeicultura nacional, tem na Regio Rural das Capitais Regionais de Ipatinga e Governador Valadares (RR-3103), uma forte relao de contiguidade espacial e de fluxos econmicos.

    Finalmente, a Regio Rural da Capital Regional de Vitria da Conquista (RR-2909), no Estado da Bahia, e a Regio Rural da Capital Regional de Porto Velho (RR-1101), no Estado de Rondnia, constituem importantes segmentos espaciais descontnuos em relao s regies core da cafei-cultura nacional que, apesar de apresentarem distintos contextos geogrficos e temporalidades histricas, se mantm presentes na geografia do caf no Pas, cuja dinmica territorial interage, cada vez mais, s mudanas econmicas nacionais e internacionais que historicamente regem a trajetria geogrfica do caf no Brasil.

    Com efeito, a crescente demanda internacional pelo segmento dos cafs especiais pressupe atributos de qualidade indissociveis das caractersticas fsicas, como a origem geogrfica que, como veremos mais adiante, podem revitalizar antigas regies especializadas, assim como projetar novas reas associadas a especificidades de mo de obra, de gesto empresarial e/ou mesmo logstica de propaganda/circulao/distribuio ao consumidor final.

    Desse modo, o futuro da dinmica territorial da produo do caf vai refletir, de modo geral, o intenso processo de transformaes e reajustamentos pelo qual passa esse segmento da agrope-curia brasileira, decorrente no s da reestruturao tecnolgica, como das diferenas existentes no interior dos estabelecimentos voltados produo do caf e, mais amplamente, em decorrncia das alteraes verificadas no imprevisvel mercado consumidor.

    De acordo com Giddens (2010, p. 181), quem poderia imaginar que, depois de suportarem durante anos um caf com qualidade inferior, os consumidores norte-americanos e britnicos ansiavam secretamente por um produto melhor e com numerosas variedades?.

    Nesse contexto, as diferenas verificadas nos estabelecimentos cafeicultores vo depender, na contemporaneidade, no s de especificidades prprias desse setor como, ao mesmo tempo, se inserir na dinmica econmica comum aos demais segmentos produtivos da agropecuria brasileira, no restando mais qualquer margem para correr o erro que se cometeu em dcadas posteriores crise de 1930, quando se dava por encerrada a era do caf no Brasil tropical (MONBEIG, 1957, p. 724 ).

    15 A proximidade existente entre a Regio Rural das Capitais Regionais de Pouso Alegre e Varginha (RR-3105), tradicional produtora de caf no sul do Estado de Minas Gerais e a Regio Rural do Centro Subregional de Patos de Minas (RR-3107), nos Cerrados do Tringulo Mineiro, de recente e modernizada expanso dessa lavoura, reafirmam a tendncia de reforo contiguidade espacial da cafeicultura entre essas duas Regies Rurais. Isto , elas constituem duas regies protagonistas na atualidade da lavoura do caf no Pas.

  • A abordagem geogrfi ca sobre a dinmica de ocupao do territrio pelo caf foi elaborada com base tanto nas informaes secundrias como naquelas recolhidas no trabalho de campo realizado entre os dias 23 de maro e 02 de abril de 2015 que percorreu alguns municpios da Mesorregio Geogrfi ca do Sul/Sudoeste de Minas16 e da regio conhecida como Baixa Mogiana paulista, reas de cultivo do caf arbica, por excelncia. Uma sntese deste trabalho encontra-se no Apndice 1 desta publicao.

    A operao de campo permitiu a identifi cao de novas tendncias que aportam nessa lavoura atravs de entrevistas realizadas com os mais variados agentes, cujo objetivo tambm era identifi car suas prticas socioes-paciais. Conjuntamente, levantamentos em sites de referncia da produo do caf e leituras bibliogrfi cas representam instrumentos metodolgicos relevantes para a contextualizao geogrfi ca da dinmica territorial da lavoura do caf.

    Tambm nesse captulo, outro importante alicerce a descrio da distribuio espacial da produo de caf arbica e canephora, isto , o ma-peamento em escala municipal da varivel quantidade produzida levantada pelo Censo Agropecurio 2006, realizado pelo IBGE, que serve de referncia para a anlise espacial. Portanto, o volume gerado nessa cultura so os norte-adores da territorialidade da lavoura de caf. Bem como, neste mapeamento, procurar-se- compreender as feies diferenciadas dos estabelecimentos produtores de arbica e canephora e identifi car os arranjos espaciais da

    16 Segundo a diviso regional do Brasil em mesorregio geogrfi ca e microrregio geogrfi ca do IBGE (DIVISO..., 1989), a Mesorregio Geogrfi ca do Sul/Sudoeste de Minas composta pelas Microrregies de Passos, So Sebastio do Paraso, Alfenas, Varginha, Poos de Caldas, Pouso Alegre, Santa Rita do Sa-puca, So Loureno, Andrelndia e Itajub. No trabalho de campo citado foram visitados os Municpios de Alfenas, Varginha e Poos de Caldas.

    A geografi a contempornea da

    cafeicultura brasileira

  • A Geografia do Caf

    produo familiar e no familiar e das condies legais do produtor cafeicultor (Apndice 2), uma vez que o Censo Agropecurio permite esse debate.

    Alm dessas informaes, limitam o escopo de anlise desse captulo as variadas formas de uso da tcnica, alm dos canais de comercializao de uma atividade, cuja expanso marcou e ainda marca a articulao do Brasil com o mercado externo. Nesse sentido, pode-se afirmar que a totalidade dessas anlises teve influncia determinante no direcionamento das consideraes aqui apresentadas.

    Uma contextualizao regional e sustentvelA comear por uma rpida contextualizao, na contemporaneidade o Brasil experimentou,

    a partir da dcada de 1970, profundas mudanas no processo produtivo de sua agropecuria. Nes-se processo, as polticas pblicas voltadas lavoura do caf tiveram papel central na distribuio espacial dessa lavoura no Territrio Nacional, uma vez que o Plano de Renovao e Revigoramento de Cafezais - PRRC, organizado pelo Instituto Brasileiro do Caf - IBC17, teve o objetivo de renovar e recuperar o parque cafeeiro do Pas baseado na trilogia do uso do crdito, da assistncia tcnica e apoiado pela pesquisa cafeeira regionalizada (MATIELLO, 2006, p. 1).

    A partir da a lavoura de caf sofre grandes transformaes no seu processo produtivo e na sua distribuio geogrfica, que deve obedecer aos limites ditados por zoneamento agroclimtico18. Nesse sentido, na atualidade, a avaliao que se faz da cafeicultura corrobora a ideia de ser o Brasil o Pas que mais reorganizou sua atividade agropecuria desde meados do Sculo XX, conforme analisa Elias (2013, p. 14).

    Na verdade, com o PRRC e o zoneamento agroclimtico encerra-se o ciclo da lavoura de caf condicionada, praticamente, por fatores naturais, herana da distanciada marcha pioneira, especialmente no oeste paulista, que firmou a ideia do uso dos solos frteis, como queles de solos roxos, dos Estados do Paran e de So Paulo, ou as terras de mata virgem (MATIELLO, 2006, p. 1), e inicia-se um novo ciclo mais complexo envolvendo os condicionantes locacionais da cafeicultura.

    Na apreciao de Matiello (2006, p. 1), reconhecido que antes da dcada de 1970 a cafei-cultura estava mais identificada aos Estados de So Paulo e Paran e, agora, est distribuda, com destaque para o crescimento havido nos Estados de Minas Gerais, Esprito Santo, Bahia e Rondnia. Esse autor atribui toda expanso mais recente dessa atividade como resultado do zoneamento agroclimtico e do PRRC que possibilitaram a incorporao de reas do cerrado nos Estados de

    17 O IBC foi criado pela Lei n. 1.779, de 22.12.1952, como entidade autrquica vinculada ao Ministrio da Fazenda. A partir de 1961 pas-sou para o mbito do ento Ministrio da Indstria e do Comrcio, tendo sido extinto pela Lei n. 8.029, de 12.04.1990. O Instituto tinha por atribuies executar a poltica cafeeira nacional, prestar assistncia tcnica e econmica cafeicultura e controlar a comercializa-o do caf. Quanto ao PRRC, ele foi implantado nos primeiros anos da dcada de 1970, aps o Programa Nacional de Erradicao de Cafezais com o objetivo de ampliar a capacidade produtiva do caf. De acordo com Moura (2007), o PRRC alocou recursos que permiti-ram ao Estado de Minas Gerais alcanar a liderana nacional da produo cafeeira.

    18 Segundo Silva e Soares (2016), na agricultura globalizada, incrementos nos rendimentos e reduo dos custos e dos riscos de insu-cessos so exigncias bsicas competitividade. Maior eficincia no uso de recursos; melhora qualitativa dos produtos; e preservao dos recursos naturais so desafios da sustentabilidade da moderna agricultura. Entretanto, a maioria das culturas est sujeita imprevi-sibilidade das variveis climticas, para as quais pouco se tem a oferecer como soluo ao produtor sem que haja um aumento do custo de produo. Diante desse cenrio, o zoneamento agroclimtico visa atender a uma grande demanda existente e possibilita significativa reduo de perdas na agricultura.

  • A geografia contempornea da cafeicultura brasileira

    Minas Gerais e Bahia, antes terras inativas e hoje abrigando uma atividade cafeicultora de grande expresso na escala nacional. Nesse contexto, pode-se afirmar que o programa lanado pelo extinto IBC redesenhou a geografia da lavoura de caf no territrio brasileiro.

    Se a dcada de 1970 marcada pela reestruturao territorial do caf no Pas, (PEREIRA, 2014, p. 241) com a expanso geogrfica do seu cultivo, pode-se reconhecer nos anos 1990 a emergncia de um novo perodo que marcar tambm sua expresso espacial.

    Em primeiro lugar, uma medida institucional notvel dessa mudana pode ser entendida com a extino do organismo oficial regulador, o IBC. Alm da significativa alterao no quadro institucional e, como indica Frederico (2014, p. 58):

    sem nenhum tipo de interveno estatal, as especulaes no mercado futuro do caf se tornaram um grande negcio. Por se tratar de uma cultura perene, com bianualidade nas safras e muito sensvel a intempries climticas (seca, geada, granizo) e doenas, a cafeicultura possui grande instabilidade de preos, tornando-se atrativa para os especuladores.

    Com efeito, nesse ambiente de desarticulao do aparato de regulao estatal, a busca in-quietante da defesa de interesses comuns por parte de segmentos da cadeia produtiva concorreu para que um nmero significativo de aes lograsse xito. Tanto que um conjunto significativo de associaes e cooperativas se (re)organizaram e, em alguns casos, surgiram cooperativas de ex-pressiva influncia tanto econmica, quanto no que diz respeito prpria definio das escolhas seletivas de espaos para expanso dessa atividade.

    Sob a perspectiva da adoo de tcnicas na cafeicultura brasileira, Pereira (2014, p. 245) chama ateno para seu carter seletivo, uma vez que so usadas, na maioria das vezes, apenas pelos maiores produtores, com emprego crescente de um conjunto de modernidades, como m-quinas e sistemas tcnicos modernos, que se fortalece, nos anos 1990, com o emprego da colheita mecanizada e da irrigao.

    De acordo com Frederico (2014, p. 59):

    grande parte dos sistemas tcnicos oriundos do paradigma da Revoluo Verde e difundidos na cafeicultura brasileira foi aperfeioada ou substituda com o advento das novas tecnologias da informao e tambm no desenvolvimento de novos sistemas tcnicos agrcolas, tais como: a biotecnologia, a agricultura de preciso, o monitoramento de riscos climticos, dentre outros.

    Cabe esclarecer que nas novas reas de produo, em que as propriedades so maiores [...], o uso intensivo de tecnologia evidenciado, cujos destaques so a fertirrigao e a mecanizao. A escala de produo aplicada ao caf commodity, aliada configurao das reas planas do cerrado brasileiro, tem favorecido a colheita mecanizada e elevado a produtividade mdia (SAES, 2008, p. 79).

    Por sua vez, no momento em que o caf commodity brasileiro ocupa um lugar de relevncia no mercado externo, cresce a produo dos cafs especiais em solo nacional. Com efeito, o surgi-mento de um mercado exigente e diversificado dessa rubicea cada vez mais afirma seu sentido como especiaria na busca da surpresa agradvel da degustao. Entretanto, se a natureza, clima, solo, altitude, dentre outros fatores, essencial na diferenciao deste caf, parmetros tcnicos so adicionados a essa produo traduzindo-se, entre outros, no emprego de mudas com procedncia, na gesto empresarial da propriedade agrcola, na participao em concursos de qualidade, na ino-

  • A Geografia do Caf

    vao tecnolgica e, no menos importante, no marketing e identidade da regio. Isto , a explicao da dinmica territorial do caf na contemporaneidade aponta para uma complexidade de fatores no s condicionados pelo meio fsico, como pelo seu comprometimento com as contingncias regionais, culturais e tecnolgicas que gravitam em torno de sua produo, circulao e consumo.

    Igualmente,

    o crescimento da demanda dos cafs especiais, aliado ao movimento do consumo consciente e responsvel, criou a oportunidade para a comercializao de cafs de alta qualidade produzidos de forma sustentvel, com prmios de preo em relao ao mercado de commodity. Paralelamente, vrios concursos de qualidade surgiram no Brasil como forma de incentivar a produo desses cafs de qualidade (SAES, 2008, p. 110).

    Com efeito, a discusso de uma agricultura sustentvel, que ser feita em seguida, nos remete s contingncias de adaptaes regionais e locais, isto , geogrficas, que cada vez mais esto associadas aos novos paradigmas da cafeicultura modernizada.

    Alcanar uma agricultura sustentvel, isto , que esteja imbuda do equilbrio dos fatores econmicos, sociais e ambientais, um objetivo relativamente recente na escala de tempo, j que s nas ltimas duas dcadas, aproximadamente, tem se ampliado a sua aceitao social e cientfica. E foi s a partir de uma maior demanda por parte da sociedade que muitas empresas fizeram (e tm feito) uma reviso de suas prticas muitas vezes predatrias de produo.

    Com efeito, at o incio da dcada de 1990, h o total predomnio do modo de produo da chamada agricultura convencional, amplamente usuria de mquinas e produtos qumicos na forma de adubos, agrotxicos, fungicidas, herbicidas. Um fruto da imbricao, do forte vnculo entre agricultura e indstria, a montante e a jusante, a forma como so estruturados os complexos agroindustriais. Um paradigma de produo dominante e at ento visto como nico caminho pos-svel a ser trilhado para a segurana alimentar e o progresso da atividade agrcola. Nesse contexto eram poucas as vozes a se levantar contra esta situao, cuja viso hegemnica e sua posterior e inevitvel reavaliao comentada por Khatounian (2001, p. 30):

    Para os organismos internacionais, especialmente a Organizao das Naes Unidas, a postura predominante at o incio dos anos 1970 era a de que toda a contestao ao modelo convencional era improcedente. Contudo, o acmulo de evidncias em contrrio foi obrigando a uma mudana na postura oficial. Na sequncia de conferncias sobre o desenvolvimento e o meio ambiente de 1972,1982 e 1992, foi-se tornando cada vez mais evidente que tanto o padro industrial quanto o agrcola precisavam de mudanas urgentes. Ambos haviam se desenvolvido com a premissa do campo ilimitado, mas agora o planeta se mostrava pequeno em face da voracidade no consumo de matrias pela indstria e pela agricultura. A poluio dos ecossistemas havia atingido tais propores que ameaava as bases de sustentao da vida. A contaminao das guas doces e dos oceanos, a destruio da camada de oznio, o comprometimento das cadeias trficas, os resduos de agrotxicos no leite materno e na gua das chuvas, as chuvas cidas, tudo isso infelizmente no eram mais especulaes ou alarmismos, mas fatos concretos e fartamente documentados. A agricultura, em particular, tornara-se a maior fonte de poluio difusa do planeta. A situao era claramente insustentvel.

    Nesse contexto, uma reviso do modelo se fazia necessria, o que no significava, em si, uma total ruptura em relao ao modelo vigente, to influenciado pelas grandes corporaes interna-cionais com forte poder econmico e influncia poltica. Khatounian (2001, p. 31), um defensor da agricultura orgnica, nos chama a ateno, inclusive, para o fato de que o prprio termo agricultura

  • A geografia contempornea da cafeicultura brasileira

    sustentvel foi criado [...] como tentativa de conciliar as expectativas sociais de alimento e ambiente sadios com os interesses dessas corporaes. Por essa razo, o termo [...] comporta muita nebu-losidade. Se por um lado o autor considera a expresso um retrocesso em relao agricultura orgnica, por outro, v um avano por representar um reconhecimento oficial da inadequao do modelo convencional.

    No caso especfico do Brasil, onde na dcada de 1970 o crescimento da agricultura se vinculava industrializao e urbanizao, o crdito rural subsidiado pelo Estado era atrelado adoo de todo um arcabouo instrumental da agricultura convencional: farto estmulo ao uso de fertilizantes, agrotxicos e insumos qumicos em geral. Um modelo caro perseguido pelos grandes produtores individuais e pelas grandes empresas e, em contrapartida, excludente dos pequenos produtores com maior dificuldade de acesso ao crdito. Um modelo, sobretudo, comprometedor do ambiente, socializando suas ms consequncias para a sociedade como um todo.

    S nas dcadas recentes alternativas como associaes voltadas para a pequena produo tm ganhado fora em algumas regies representando uma forma de sobrevivncia da diversidade no meio rural e, em muitas dessas associaes, a viso da administrao de uma agricultura re-almente sustentvel est fortemente presente. Mesmo entre alguns mdios e grandes produtores parece crescer a percepo de que a adoo de tcnicas poupadoras dos recursos naturais pode trazer uma lucratividade no s a curto, mas tambm a longo prazo.

    O alcance da sustentabilidade no nosso pas, porm, ainda encontra vrios obstculos, e lamentavelmente parece estar longe de ser realmente buscado pelo atual modelo agrcola do agro-negcio nacional, mostrando, de fato, a nebulosidade comentada por Khatounian (2001). Ilustra muito bem esse fato a entrevista com Luiz Cludio Meirelles (2013) presente no portal da Fundao Oswaldo Cruz - Fiocruz na Internet intitulada Agrotxico veneno. sintetizado para pragas, mas pode matar humanos. Na introduo, a triste constatao:

    O uso de agrotxicos atualmente um dos mais importantes fatores de risco para a sade da populao e o meio ambiente no Brasil. O pas atualmente o maior consumidor mundial desses produtos. De acordo com dados da Agncia de Vigilncia Sanitria (Anvisa), apesar de o Brasil no ser o maior produtor agrcola do mundo, o crescimento nacional do consumo de agrotxicos chegou a quase 200% entre 2000 e 2009. As empresas produtoras de agroqumicos no pas duplicaram desde 2008 e, nos ltimos anos, o crescimento da importao dessas substncias foi de quase 400%. A matria continua na entrevista com Luiz Claudio Meirelles, pesquisador daquele instituto. Ele ressalta o fato de o Brasil continuar a permitir a comercializao de agrotxicos j proibidos em vrios pases e a presso poltica de grandes empresas para fragilizar a legislao brasileira que regula o uso de determinadas substncias. Quanto ao modelo agrcola vigente - excludente do pequeno agricultor e concentrador de terras - considera a necessidade de fortalecimento das aes que implementem a agroecologia, como polticas de financiamento de projetos nessa rea e a ampliao de uma extenso rural que oriente os produtores em alternativas a uma plantao sem o uso de agrotxicos (MEIRELLES, 2013).

    Nesse sentido, se caminhos j foram abertos pela agricultura ecolgica no Brasil, eles no tm sido, porm, fceis de trilhar. A necessidade de manter e ampliar ainda mais essa trajetria, no entanto, se faz fundamental e urgente. Entre outras medidas, preciso buscar o aprimoramento e o cumprimento da legislao ambiental, favorecer a infra-estrutura e o crdito produo sus-tentvel (especialmente aos pequenos produtores), estimular a pesquisa e a extenso de prticas

  • A Geografia do Caf

    agrcolas realmente sustentveis. Nesse processo, uma sociedade mais consciente e com maior acesso informao sobre a importncia das questes ambientais tem papel central no sentido de atuar para que prevaleam os interesses da coletividade por uma melhor qualidade dos alimentos consumidos, fato diretamente relacionado s condies de sade da populao.

    A discusso em torno da sustentabilidade da cafeicultura brasileira impe crescentemente a necessidade de se analisar a distribuio espacial da cafeicultura no Brasil vista aqui a partir de uma abordagem multiescalar que transita do recorte estadual, mesorregional e municipal.

    Distribuio espacial dos estabelecimentos produtores de cafQuanto distribuio espacial, os estabelecimentos produtores de caf arbica ou canepho-

    ra19 concentram-se em grande parte naquelas Unidades da Federao que dispem, em alguma medida, tanto de fatores naturais favorveis ao cultivo do gro, como as condies edafoclimticas adequadas, assim como de fatores ligados tradio agrcola e ao acesso a incentivos pblicos de apoio financeiro e tcnico voltados para a produo.

    Conforme dados apresentados na Tabela 1, no ano de 2006, destacavam-se quanto quan-tidade de estabelecimentos voltados cafeicultura os Estados de Minas Gerais, Esprito Santo, Rondnia, Bahia, Paran e So Paulo.

    TotalProporo

    (%)Total

    Proporo(%)

    Brasil 286 842 199 492 69,5 87 350 30,5Minas Gerais 113 427 104 939 52,6 8 488 9,7

    Esprito Santo 59 797 24 452 12,3 35 345 40,5

    Rondnia 34 717 5 079 2,5 29 638 33,9

    Bahia 24 239 21 319 10,7 2 920 3,3

    Paran 23 173 20 488 10,3 2 685 3,1

    So Paulo 18 470 16 830 8,4 1 640 1,9

    Demais Unidades da Federao 13 019 6 385 3,2 6 634 7,6

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

    Caf arbica Caf canephora

    Tabela 1 - Nmero de estabelecimentos produtores de caf arbica e de caf canephora,

    Total

    segundo as Unidades da Federao - 2006

    Estabelecimentos produtores

    Unidades da Federao

    19 O Brasil produz duas espcies de caf, ou seja, duas espcies de arbustos originrios do continente africano que pertencem famlia das rubiceas e ao gnero Coffea. So classificadas como Coffea arbica e Coffea canephora, sendo, esta ltima, mais comumente iden-tificada pelos nomes de suas variedades Conilon e Robusta. Essas variedades so diferenciaes naturais que ocorrem entre indivduos de uma mesma espcie, identificadas em subdivises segundo nomes que as distinguem das demais. Como exemplo de variedades de caf da espcie arbica, destacam-se os cafs Bourbon, Catua, Novo Mundo, que so cultivados nas principais regies produtoras do Pas. Ainda de acordo com essa fonte, existem, ainda, as cultivares que so variedades desenvolvidas a partir da seleo humana das caractersticas desejveis presentes no caf produzido. Nesse sentido, h um vasto campo de informaes sobre espcies, variedades e cultivares, alm dos critrios de qualidade do gro, que obedecem a condicionantes que vo desde os mais estritamente naturais como tipo de solo, altitude, insolao, declividade do terreno, at as tcnicas de manejo utilizadas no plantio. Finalmente, cabe observar que o caf consiste, de forma geral, em blends ou ligas resultantes da composio de gros das diferentes espcies: arbica e canephora. Para informaes mais detalhadas, consultar o endereo eletrnico: .

  • A geografi a contempornea da cafeicultura brasileira

    Os dados do Censo Agropecurio 2006 demonstram que Minas Gerais o Estado brasileiro que detm o maior nmero de estabelecimentos cafeicultores do Pas, em sua maior parte dedi-cados ao cultivo do caf arbica. As unidades produtivas localizam-se, em grande nmero, nas Mesorregies Geogrfi cas do Sul/Sudoeste de Minas, Zona da Mata mineira e Vale do Rio Doce, como mostra o Grfi co 1.

    Grfico 1 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies de Minas Gerais - 2006

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

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    Noroeste de Minas e Central Mineira

    Metropolitana de Belo Horizonte

    Campo das Vertentes

    Norte de Minas

    Vale do Mucuri

    Tringulo Mineiro/Alto Paranaba

    Oeste de Minas

    Jequitinhonha

    Vale do Rio Doce

    Zona da Mata

    Sul/Sudoeste de Minas

    Minas Gerais

    Brasil

    Arbica Canephora

    Nas mesorregies geogrfi cas da Zona da Mata Mineira e do Vale do Rio Doce, os cafezais compem, em conjunto com aqueles dos municpios do estado vizinho do Esprito Santo, uma extensa rea de cultivo. O Esprito Santo o segundo estado com o maior nmero de estabeleci-mentos cafeicultores no Pas 59 797 dos quais 35 345 produzem caf canephora e se encontram em maior nmero na poro norte do estado. O caf arbica, por sua vez, produzido em 24 452 estabelecimentos, localizados, em sua maior parte, na regio centro-sul capixaba (Grfi co 2).

    Em 2006, duas outras Unidades da Federao tambm se destacavam no cultivo do caf no Pas: Rondnia e Bahia. Tambm nestes estados, a cafeicultura avanou a partir da dcada de 1970, estimulada pelas polticas de incentivos agrcolas ento vigentes.

    No Estado de Rondnia, os precursores da cafeicultura foram em grande parte produtores oriundos do norte do Estado do Esprito Santo que l iniciaram a produo familiar do caf canephora (BINSZTOK, 2006). No ano de 2006, o Estado de Rondnia ocupava o segundo lugar na produo nacional de caf canephora, precedido apenas pelo Esprito Santo. Dos 34 717 estabelecimentos cafeicultores existentes no estado, 29 638 produziam caf canephora enquanto 5 079 cultivavam caf arbica. Na Mesorregio Geogrfi ca Leste-Rondoniense concentrava-se a quase totalidade do nmero de unidades produtivas, conforme demonstrado a seguir, no Grfi co 3.

  • A Geografi a do Caf

    Grco 2 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies do Esprito Santo - 2006

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    Arbica Canephora

    Sul Esprito-santense

    Litoral Norte Esprito-santense

    Central Esprito-santense

    Noroeste Esprito-santense

    Esprito Santo

    Brasil

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

    Grco 3 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies de Rondnia - 2006

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

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    Arbica Canephora

    Madeira-Guapor

    Leste Rondoniense

    Rondnia

    Brasil

    Na Bahia, a cafeicultura se consolidou com a espcie arbica nas Mesorregies Geogrfi cas Centro Sul Baiano, Centro Norte Baiano e Extremo Oeste Baiano (esta ltima tendo sido incorporada em tempos mais recentes). Na Mesorregio Geogrfi ca Sul Baiano, o plantio do caf canephora se desenvolveu a partir da expanso da produo norte esprito-santense dessa espcie (FERREIRA, 2014).

    O Censo Agropecurio 2006 computou 24 239 estabelecimentos cafeicultores no Estado da Bahia, dos quais 21 319 produziam caf arbica. A Mesorregio Geogrfi ca Centro Sul Baiano concentrava a quase totalidade dos estabelecimentos que produziam esta espcie de caf. Quanto aos produtores de caf canephora, seus estabelecimentos localizavam-se, em maior nmero, na Mesorregio Geogrfi ca Sul Baiano, como pode ser observado no Grfi co 4. Sob o ttulo de demais mesorregies consta o somatrio dos nmeros de estabelecimentos produtores das duas espcies de caf (71 unidades produtivas ao todo).

  • A geografi a contempornea da cafeicultura brasileira

    Grco 4 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies da Bahia - 2006

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    Demais Mesorregies

    Centro Norte Baiano

    Sul Baiano

    Centro Sul Baiano

    Bahia

    Brasil

    Arbica Canephora

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

    Dos 23 173 estabelecimentos cafeicultores existentes no Estado do Paran, 20 510 produziam caf arbica. Destes, 18 208 localizavam-se no norte paranaense, regio historicamente construda a partir da expanso das lavouras paulistas (Grfi co 5).

    Grco 5 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies do Paran - 2006

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    CanephoraArbica

    Demais Mesorregies

    Centro Ocidental Paranaense

    Noroeste Paranaense

    Norte Pioneiro Paranaense

    Norte Central Paranaense

    Paran

    Brasil

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

    No Estado de So Paulo, o Censo Agropecurio 2006 computou 18 470 unidades produtivas como nmero total de estabelecimentos cafeicultores no estado. Destes, 16 830 cultivavam a es-pcie arbica. Nas Mesorregies Geogrfi cas de Campinas; de Presidente Prudente; e de Ribeiro Preto encontravam-se 9 128 do total de estabelecimentos paulistas que produziam esta espcie de caf (Grfi co 6).

  • A Geografi a do Caf

    Grco 6 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies de So Paulo - 2006

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    Demais Mesorregies

    Araatuba

    Marlia

    Bauru

    Assis

    So Jos do Rio Preto

    Ribeiro Preto

    Presidente Prudente

    Campinas

    So Paulo

    Brasil

    Arbica Canephora

    Fonte: IBGE, Censo Agropecurio 2006.

    Grco 6 - Estabelecimentos produtores de caf arbica e canephora, segundo as Mesorregies de So Paulo - 2006