Dinis Manuel Nhanga Mona O PROPÓSITO DAS PARÁBOLAS …

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Dinis Manuel Nhanga Mona O PROPÓSITO DAS PARÁBOLAS DE JESUS: Um estudo exegético de Mc 4,10-12 Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Teologia. Orientador: Prof. José Otácio Oliveira Guedes Rio de Janeiro Março de 2017

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Dinis Manuel Nhanga Mona

O PROPOacuteSITO DAS PARAacuteBOLAS DE JESUS Um estudo exegeacutetico de Mc 410-12

Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio como parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Teologia

Orientador Prof Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes

Rio de Janeiro Marccedilo de 2017

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Dinis Manuel Nhanga Mona

O PROPOacuteSITO DAS PARAacuteBOLAS DE JESUS Um estudo exegeacutetico de Mc 410-12

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial para ob-tenccedilatildeo do grau de Mestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Teologia da PUC-Rio Aprovada pela Co-missatildeo Examinadora abaixo assinada

Prof Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes Orientador

Departamento de Teologia ndash PUC-Rio

Prof Waldecir Gonzaga Departamento de Teologia ndash PUC-Rio

Prof Dioniacutesio Oliveira Soares Faculdade Batista do Rio de Janeiro

Prof Monah Winograd Coordenadora Setorial de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa

do Centro de Teologia e Ciecircncias Humanas ndash PUC-Rio

Rio de Janeiro 6 de Marccedilo de 2017

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Todos os direitos reservados Eacute proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial

do trabalho sem autorizaccedilatildeo da universidade do autor e do orientador

Dinis Manuel Nhanga Mona

Graduou-se em Teologia no Seminaacuterio Adventista Latino-americano de

Teologia (Faculdades Adventistas da Bahia) em 2010 Cursou especia-

lizaccedilatildeo em Interpretaccedilatildeo e Ensino da Biacuteblia na mesma Instituiccedilatildeo de

2011-2014

Ficha Catalograacutefica

CDD 200

Mona Dinis Manuel Nhanga O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico

de Mc 410-12 Dinis Manuel Nhanga Mona orientador Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes ndash 2017

93 f 30 cm Dissertaccedilatildeo (mestrado)ndashPontifiacutecia Universidade Catoacutelica do

Rio de Janeiro Departamento de Teologia 2017 Inclui bibliografia 1 Teologia ndash Teses 2 Paraacutebolas 3 Ensinos de Jesus 4

Propoacutesito das paraacutebolas 5 Reino de Deus 6 Endurecimento-Facilitamento I Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira II Pontifiacutecia Universi-dade Catoacutelica do Rio de Janeiro Departamento de Teologia III Tiacutetu-lo

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Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus por tornar este sonho real pela forma como gui-

ou este projeto de vida ateacute aqui suprindo no caminho as condiccedilotildees necessaacuterias

Por Sua muacuteltipla bondade expressa por vaacuterios meios que me assistiram neste pro-

cesso Por prover para mim amparo mesmo em terra distante da minha enfim

agradeccedilo a Deus por tudo

A Minha esposa Rose por ser um braccedilo direito neste processo pela maravilhosa

compreensatildeo incentivo apoio A minha filha Laura que nasceu junto com esta

pesquisa me proporcionando mais aprendizado

Aos meus familiares em Angola pela coragem que tecircm me concedido e pela

compreensatildeo de longa ausecircncia e paciecircncia pelo retorno

Aos administradores da Igreja Adventista do Seacutetimo Dia em Angola por aceita-

rem meu pedido para que pudesse continuar os estudos

Ao Departamento de Teologia da PUC-Rio pela oportunidade de participar deste

excelente programa de poacutes-graduaccedilatildeo pela admissibilidade ao mesmo programa e

pela oportunidade de crescimento acadecircmico

Ao meu orientador Dr Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes por ter aceitado ser orienta-

dor desta pesquisa pela maravilhosa experiecircncia proporcionada tanto em sala de

aula como no processo de orientaccedilatildeo pela inspiraccedilatildeo na postura de pesquisar seri-

amente o texto sagrado e pelo exemplo humano que serviu de inspiraccedilatildeo Agrade-

ccedilo pela orientaccedilatildeo acadecircmica e tambeacutem de vida aprendida neste processo

Aos professores do Departamento de Teologia PUC-Rio por terem compartilhado

conosco seus saberes notaacuteveis aperfeiccediloando nossas ferramentas de pesquisa e

pela amizade oferecida

Aos funcionaacuterios da secretaria do Departamento de Teologia-PUC-Rio pela paci-

ecircncia e eficiecircncia no atendimento pela orientaccedilatildeo que constantemente passaram

pela prestatividade e pela forma humana destacada em atender a todos sua assis-

tecircncia tornou o processo agradaacutevel Muito obrigado

A CAPES e agrave PUC-Rio pelos auxiacutelios financeiros sem os quais natildeo seria possiacutevel

a participaccedilatildeo no programa e a elaboraccedilatildeo desta pesquisa

Aos colegas de mestrado e outros amigos pela amizade desenvolvida e pela ajuda

neste processo E a todos que colaboraram diretamente ou indiretamente neste

processo

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Resumo

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira O propoacutesito

das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Rio de Ja-

neiro 2017 93 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Es-

ta pesquisa abordou o propoacutesito do uso de paraacutebolas nos ensinamento de Jesus

isto eacute qual ou quais os motivos que levaram Jesus a usar paraacutebolas em seus ensi-

namentos Para alcanccedilar os objetivos traccedilados esta pesquisa combinou a metodo-

logia da anaacutelise narrativa e anaacutelise retoacuterica considerando tambeacutem os elementos

histoacutericos do texto Com isto a exegese chegou a um resultado apresentando outra

possibilidade de interpretaccedilatildeo da teoria sobre o ensino por paraacutebolas expressa em

Mc 4 10-12 A pesquisa concluiu que na atual configuraccedilatildeo haacute possibilidades de

admitir que a periacutecope referida natildeo afirma que Jesus ensinou por meio de paraacutebo-

las para endurecer o coraccedilatildeo de Seus ouvintes e dificultar-lhes o acesso as coisas

do Reino de Deus Ao contraacuterio disto a exegese concluiu que Jesus usou paraacutebolas

em Seus ensinamentos com o propoacutesito de facilitar o processo de entendimento de

todos que O ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes

de uma linguagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Palavras-chave Paraacutebolas Ensinos de Jesus propoacutesito das paraacutebolas Reino de Deus Endu-

recimento-Facilitamento

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Abstract

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The

purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de

Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-

search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what

is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To

achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-

cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby

the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory

about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud

that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-

tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of

hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of

the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used

parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of

all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God

through a language that was familiar and natural to his listeners

Keywords

Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-

Facilitator

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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16

ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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18

Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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19

ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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20

232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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39

(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

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Dinis Manuel Nhanga Mona

O PROPOacuteSITO DAS PARAacuteBOLAS DE JESUS Um estudo exegeacutetico de Mc 410-12

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial para ob-tenccedilatildeo do grau de Mestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Teologia da PUC-Rio Aprovada pela Co-missatildeo Examinadora abaixo assinada

Prof Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes Orientador

Departamento de Teologia ndash PUC-Rio

Prof Waldecir Gonzaga Departamento de Teologia ndash PUC-Rio

Prof Dioniacutesio Oliveira Soares Faculdade Batista do Rio de Janeiro

Prof Monah Winograd Coordenadora Setorial de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa

do Centro de Teologia e Ciecircncias Humanas ndash PUC-Rio

Rio de Janeiro 6 de Marccedilo de 2017

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Todos os direitos reservados Eacute proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial

do trabalho sem autorizaccedilatildeo da universidade do autor e do orientador

Dinis Manuel Nhanga Mona

Graduou-se em Teologia no Seminaacuterio Adventista Latino-americano de

Teologia (Faculdades Adventistas da Bahia) em 2010 Cursou especia-

lizaccedilatildeo em Interpretaccedilatildeo e Ensino da Biacuteblia na mesma Instituiccedilatildeo de

2011-2014

Ficha Catalograacutefica

CDD 200

Mona Dinis Manuel Nhanga O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico

de Mc 410-12 Dinis Manuel Nhanga Mona orientador Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes ndash 2017

93 f 30 cm Dissertaccedilatildeo (mestrado)ndashPontifiacutecia Universidade Catoacutelica do

Rio de Janeiro Departamento de Teologia 2017 Inclui bibliografia 1 Teologia ndash Teses 2 Paraacutebolas 3 Ensinos de Jesus 4

Propoacutesito das paraacutebolas 5 Reino de Deus 6 Endurecimento-Facilitamento I Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira II Pontifiacutecia Universi-dade Catoacutelica do Rio de Janeiro Departamento de Teologia III Tiacutetu-lo

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Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus por tornar este sonho real pela forma como gui-

ou este projeto de vida ateacute aqui suprindo no caminho as condiccedilotildees necessaacuterias

Por Sua muacuteltipla bondade expressa por vaacuterios meios que me assistiram neste pro-

cesso Por prover para mim amparo mesmo em terra distante da minha enfim

agradeccedilo a Deus por tudo

A Minha esposa Rose por ser um braccedilo direito neste processo pela maravilhosa

compreensatildeo incentivo apoio A minha filha Laura que nasceu junto com esta

pesquisa me proporcionando mais aprendizado

Aos meus familiares em Angola pela coragem que tecircm me concedido e pela

compreensatildeo de longa ausecircncia e paciecircncia pelo retorno

Aos administradores da Igreja Adventista do Seacutetimo Dia em Angola por aceita-

rem meu pedido para que pudesse continuar os estudos

Ao Departamento de Teologia da PUC-Rio pela oportunidade de participar deste

excelente programa de poacutes-graduaccedilatildeo pela admissibilidade ao mesmo programa e

pela oportunidade de crescimento acadecircmico

Ao meu orientador Dr Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes por ter aceitado ser orienta-

dor desta pesquisa pela maravilhosa experiecircncia proporcionada tanto em sala de

aula como no processo de orientaccedilatildeo pela inspiraccedilatildeo na postura de pesquisar seri-

amente o texto sagrado e pelo exemplo humano que serviu de inspiraccedilatildeo Agrade-

ccedilo pela orientaccedilatildeo acadecircmica e tambeacutem de vida aprendida neste processo

Aos professores do Departamento de Teologia PUC-Rio por terem compartilhado

conosco seus saberes notaacuteveis aperfeiccediloando nossas ferramentas de pesquisa e

pela amizade oferecida

Aos funcionaacuterios da secretaria do Departamento de Teologia-PUC-Rio pela paci-

ecircncia e eficiecircncia no atendimento pela orientaccedilatildeo que constantemente passaram

pela prestatividade e pela forma humana destacada em atender a todos sua assis-

tecircncia tornou o processo agradaacutevel Muito obrigado

A CAPES e agrave PUC-Rio pelos auxiacutelios financeiros sem os quais natildeo seria possiacutevel

a participaccedilatildeo no programa e a elaboraccedilatildeo desta pesquisa

Aos colegas de mestrado e outros amigos pela amizade desenvolvida e pela ajuda

neste processo E a todos que colaboraram diretamente ou indiretamente neste

processo

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Resumo

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira O propoacutesito

das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Rio de Ja-

neiro 2017 93 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Es-

ta pesquisa abordou o propoacutesito do uso de paraacutebolas nos ensinamento de Jesus

isto eacute qual ou quais os motivos que levaram Jesus a usar paraacutebolas em seus ensi-

namentos Para alcanccedilar os objetivos traccedilados esta pesquisa combinou a metodo-

logia da anaacutelise narrativa e anaacutelise retoacuterica considerando tambeacutem os elementos

histoacutericos do texto Com isto a exegese chegou a um resultado apresentando outra

possibilidade de interpretaccedilatildeo da teoria sobre o ensino por paraacutebolas expressa em

Mc 4 10-12 A pesquisa concluiu que na atual configuraccedilatildeo haacute possibilidades de

admitir que a periacutecope referida natildeo afirma que Jesus ensinou por meio de paraacutebo-

las para endurecer o coraccedilatildeo de Seus ouvintes e dificultar-lhes o acesso as coisas

do Reino de Deus Ao contraacuterio disto a exegese concluiu que Jesus usou paraacutebolas

em Seus ensinamentos com o propoacutesito de facilitar o processo de entendimento de

todos que O ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes

de uma linguagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Palavras-chave Paraacutebolas Ensinos de Jesus propoacutesito das paraacutebolas Reino de Deus Endu-

recimento-Facilitamento

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Abstract

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The

purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de

Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-

search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what

is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To

achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-

cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby

the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory

about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud

that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-

tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of

hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of

the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used

parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of

all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God

through a language that was familiar and natural to his listeners

Keywords

Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-

Facilitator

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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39

(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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51

alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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66

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

71 Obras de referecircncia

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Todos os direitos reservados Eacute proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial

do trabalho sem autorizaccedilatildeo da universidade do autor e do orientador

Dinis Manuel Nhanga Mona

Graduou-se em Teologia no Seminaacuterio Adventista Latino-americano de

Teologia (Faculdades Adventistas da Bahia) em 2010 Cursou especia-

lizaccedilatildeo em Interpretaccedilatildeo e Ensino da Biacuteblia na mesma Instituiccedilatildeo de

2011-2014

Ficha Catalograacutefica

CDD 200

Mona Dinis Manuel Nhanga O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico

de Mc 410-12 Dinis Manuel Nhanga Mona orientador Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes ndash 2017

93 f 30 cm Dissertaccedilatildeo (mestrado)ndashPontifiacutecia Universidade Catoacutelica do

Rio de Janeiro Departamento de Teologia 2017 Inclui bibliografia 1 Teologia ndash Teses 2 Paraacutebolas 3 Ensinos de Jesus 4

Propoacutesito das paraacutebolas 5 Reino de Deus 6 Endurecimento-Facilitamento I Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira II Pontifiacutecia Universi-dade Catoacutelica do Rio de Janeiro Departamento de Teologia III Tiacutetu-lo

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Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus por tornar este sonho real pela forma como gui-

ou este projeto de vida ateacute aqui suprindo no caminho as condiccedilotildees necessaacuterias

Por Sua muacuteltipla bondade expressa por vaacuterios meios que me assistiram neste pro-

cesso Por prover para mim amparo mesmo em terra distante da minha enfim

agradeccedilo a Deus por tudo

A Minha esposa Rose por ser um braccedilo direito neste processo pela maravilhosa

compreensatildeo incentivo apoio A minha filha Laura que nasceu junto com esta

pesquisa me proporcionando mais aprendizado

Aos meus familiares em Angola pela coragem que tecircm me concedido e pela

compreensatildeo de longa ausecircncia e paciecircncia pelo retorno

Aos administradores da Igreja Adventista do Seacutetimo Dia em Angola por aceita-

rem meu pedido para que pudesse continuar os estudos

Ao Departamento de Teologia da PUC-Rio pela oportunidade de participar deste

excelente programa de poacutes-graduaccedilatildeo pela admissibilidade ao mesmo programa e

pela oportunidade de crescimento acadecircmico

Ao meu orientador Dr Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes por ter aceitado ser orienta-

dor desta pesquisa pela maravilhosa experiecircncia proporcionada tanto em sala de

aula como no processo de orientaccedilatildeo pela inspiraccedilatildeo na postura de pesquisar seri-

amente o texto sagrado e pelo exemplo humano que serviu de inspiraccedilatildeo Agrade-

ccedilo pela orientaccedilatildeo acadecircmica e tambeacutem de vida aprendida neste processo

Aos professores do Departamento de Teologia PUC-Rio por terem compartilhado

conosco seus saberes notaacuteveis aperfeiccediloando nossas ferramentas de pesquisa e

pela amizade oferecida

Aos funcionaacuterios da secretaria do Departamento de Teologia-PUC-Rio pela paci-

ecircncia e eficiecircncia no atendimento pela orientaccedilatildeo que constantemente passaram

pela prestatividade e pela forma humana destacada em atender a todos sua assis-

tecircncia tornou o processo agradaacutevel Muito obrigado

A CAPES e agrave PUC-Rio pelos auxiacutelios financeiros sem os quais natildeo seria possiacutevel

a participaccedilatildeo no programa e a elaboraccedilatildeo desta pesquisa

Aos colegas de mestrado e outros amigos pela amizade desenvolvida e pela ajuda

neste processo E a todos que colaboraram diretamente ou indiretamente neste

processo

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Resumo

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira O propoacutesito

das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Rio de Ja-

neiro 2017 93 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Es-

ta pesquisa abordou o propoacutesito do uso de paraacutebolas nos ensinamento de Jesus

isto eacute qual ou quais os motivos que levaram Jesus a usar paraacutebolas em seus ensi-

namentos Para alcanccedilar os objetivos traccedilados esta pesquisa combinou a metodo-

logia da anaacutelise narrativa e anaacutelise retoacuterica considerando tambeacutem os elementos

histoacutericos do texto Com isto a exegese chegou a um resultado apresentando outra

possibilidade de interpretaccedilatildeo da teoria sobre o ensino por paraacutebolas expressa em

Mc 4 10-12 A pesquisa concluiu que na atual configuraccedilatildeo haacute possibilidades de

admitir que a periacutecope referida natildeo afirma que Jesus ensinou por meio de paraacutebo-

las para endurecer o coraccedilatildeo de Seus ouvintes e dificultar-lhes o acesso as coisas

do Reino de Deus Ao contraacuterio disto a exegese concluiu que Jesus usou paraacutebolas

em Seus ensinamentos com o propoacutesito de facilitar o processo de entendimento de

todos que O ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes

de uma linguagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Palavras-chave Paraacutebolas Ensinos de Jesus propoacutesito das paraacutebolas Reino de Deus Endu-

recimento-Facilitamento

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Abstract

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The

purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de

Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-

search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what

is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To

achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-

cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby

the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory

about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud

that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-

tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of

hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of

the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used

parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of

all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God

through a language that was familiar and natural to his listeners

Keywords

Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-

Facilitator

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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39

(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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44

trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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65

Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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66

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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76

ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

71 Obras de referecircncia

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72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio

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Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus por tornar este sonho real pela forma como gui-

ou este projeto de vida ateacute aqui suprindo no caminho as condiccedilotildees necessaacuterias

Por Sua muacuteltipla bondade expressa por vaacuterios meios que me assistiram neste pro-

cesso Por prover para mim amparo mesmo em terra distante da minha enfim

agradeccedilo a Deus por tudo

A Minha esposa Rose por ser um braccedilo direito neste processo pela maravilhosa

compreensatildeo incentivo apoio A minha filha Laura que nasceu junto com esta

pesquisa me proporcionando mais aprendizado

Aos meus familiares em Angola pela coragem que tecircm me concedido e pela

compreensatildeo de longa ausecircncia e paciecircncia pelo retorno

Aos administradores da Igreja Adventista do Seacutetimo Dia em Angola por aceita-

rem meu pedido para que pudesse continuar os estudos

Ao Departamento de Teologia da PUC-Rio pela oportunidade de participar deste

excelente programa de poacutes-graduaccedilatildeo pela admissibilidade ao mesmo programa e

pela oportunidade de crescimento acadecircmico

Ao meu orientador Dr Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes por ter aceitado ser orienta-

dor desta pesquisa pela maravilhosa experiecircncia proporcionada tanto em sala de

aula como no processo de orientaccedilatildeo pela inspiraccedilatildeo na postura de pesquisar seri-

amente o texto sagrado e pelo exemplo humano que serviu de inspiraccedilatildeo Agrade-

ccedilo pela orientaccedilatildeo acadecircmica e tambeacutem de vida aprendida neste processo

Aos professores do Departamento de Teologia PUC-Rio por terem compartilhado

conosco seus saberes notaacuteveis aperfeiccediloando nossas ferramentas de pesquisa e

pela amizade oferecida

Aos funcionaacuterios da secretaria do Departamento de Teologia-PUC-Rio pela paci-

ecircncia e eficiecircncia no atendimento pela orientaccedilatildeo que constantemente passaram

pela prestatividade e pela forma humana destacada em atender a todos sua assis-

tecircncia tornou o processo agradaacutevel Muito obrigado

A CAPES e agrave PUC-Rio pelos auxiacutelios financeiros sem os quais natildeo seria possiacutevel

a participaccedilatildeo no programa e a elaboraccedilatildeo desta pesquisa

Aos colegas de mestrado e outros amigos pela amizade desenvolvida e pela ajuda

neste processo E a todos que colaboraram diretamente ou indiretamente neste

processo

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Resumo

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira O propoacutesito

das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Rio de Ja-

neiro 2017 93 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Es-

ta pesquisa abordou o propoacutesito do uso de paraacutebolas nos ensinamento de Jesus

isto eacute qual ou quais os motivos que levaram Jesus a usar paraacutebolas em seus ensi-

namentos Para alcanccedilar os objetivos traccedilados esta pesquisa combinou a metodo-

logia da anaacutelise narrativa e anaacutelise retoacuterica considerando tambeacutem os elementos

histoacutericos do texto Com isto a exegese chegou a um resultado apresentando outra

possibilidade de interpretaccedilatildeo da teoria sobre o ensino por paraacutebolas expressa em

Mc 4 10-12 A pesquisa concluiu que na atual configuraccedilatildeo haacute possibilidades de

admitir que a periacutecope referida natildeo afirma que Jesus ensinou por meio de paraacutebo-

las para endurecer o coraccedilatildeo de Seus ouvintes e dificultar-lhes o acesso as coisas

do Reino de Deus Ao contraacuterio disto a exegese concluiu que Jesus usou paraacutebolas

em Seus ensinamentos com o propoacutesito de facilitar o processo de entendimento de

todos que O ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes

de uma linguagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Palavras-chave Paraacutebolas Ensinos de Jesus propoacutesito das paraacutebolas Reino de Deus Endu-

recimento-Facilitamento

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Abstract

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The

purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de

Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-

search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what

is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To

achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-

cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby

the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory

about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud

that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-

tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of

hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of

the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used

parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of

all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God

through a language that was familiar and natural to his listeners

Keywords

Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-

Facilitator

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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18

Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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19

ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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20

232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

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Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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39

(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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43

nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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44

trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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45

alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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50

proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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51

alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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53

4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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54

grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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65

Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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71

do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

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Resumo

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira O propoacutesito

das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Rio de Ja-

neiro 2017 93 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Es-

ta pesquisa abordou o propoacutesito do uso de paraacutebolas nos ensinamento de Jesus

isto eacute qual ou quais os motivos que levaram Jesus a usar paraacutebolas em seus ensi-

namentos Para alcanccedilar os objetivos traccedilados esta pesquisa combinou a metodo-

logia da anaacutelise narrativa e anaacutelise retoacuterica considerando tambeacutem os elementos

histoacutericos do texto Com isto a exegese chegou a um resultado apresentando outra

possibilidade de interpretaccedilatildeo da teoria sobre o ensino por paraacutebolas expressa em

Mc 4 10-12 A pesquisa concluiu que na atual configuraccedilatildeo haacute possibilidades de

admitir que a periacutecope referida natildeo afirma que Jesus ensinou por meio de paraacutebo-

las para endurecer o coraccedilatildeo de Seus ouvintes e dificultar-lhes o acesso as coisas

do Reino de Deus Ao contraacuterio disto a exegese concluiu que Jesus usou paraacutebolas

em Seus ensinamentos com o propoacutesito de facilitar o processo de entendimento de

todos que O ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes

de uma linguagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Palavras-chave Paraacutebolas Ensinos de Jesus propoacutesito das paraacutebolas Reino de Deus Endu-

recimento-Facilitamento

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Abstract

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The

purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de

Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-

search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what

is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To

achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-

cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby

the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory

about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud

that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-

tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of

hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of

the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used

parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of

all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God

through a language that was familiar and natural to his listeners

Keywords

Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-

Facilitator

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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11

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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18

Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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19

ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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20

232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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44

trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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51

alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

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STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minne-sota v 5 n 3 p 248-257 1985 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evan-gelical Theological Society v 49 n 3 p 505-25 2006

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Abstract

Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The

purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de

Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro

The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-

search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what

is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To

achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-

cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby

the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory

about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud

that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-

tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of

hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of

the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used

parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of

all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God

through a language that was familiar and natural to his listeners

Keywords

Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-

Facilitator

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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17

pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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18

Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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19

ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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20

232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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39

(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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43

nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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53

4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

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HARRINGTON D J Second Testament Exegesis and the Social Scienc-

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Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14

221 A Juumllicher 15

222 C Dodd 16

223 J Jeremias 17

23 Periacuteodo Contemporacircneo 18

231 A nova criacutetica literaacuteria 19

232 Nova hermenecircutica 20

233 Criacutetica esteacutetica 21

234 Estruturalismo 22

235 Desconstrutivismo 23

236 Resposta-do-leitor 24

237 Outras abordagens 25

3 Exegese de Mc 410-12 27

31 O texto e o contexto 27

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29

33 Criacutetica Textual 30

34 A constituiccedilatildeo do texto 33

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33

342 Verificaccedilatildeo da unidade 36

343 Uso de fontes literaacuterias 37

35 Estrutura literaacuteria 40

351 A estrutura da unidade menor 410-12 44

352 A organizaccedilatildeo do texto 46

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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18

Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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19

ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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20

232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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39

(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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43

nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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53

4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

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42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56

43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63

441 O motivo de falar em paraacutebolas 63

442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66

443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73

52 Leitura facilitadora 77

53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84

72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84

73 Artigos 91

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1 Introduccedilatildeo

As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-

vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das

questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o

propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido

na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A

maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere

que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem

acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho

no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-

prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope

provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute

que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta

grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo

Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12

considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do

Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-

pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12

O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo

do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-

tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees

Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da

anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-

tos histoacutericos do texto

Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas

foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-

mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como

horizonte para a mesma

No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-

to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto

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No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-

mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα

(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας

τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-

oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc

410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante

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2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas

Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-

raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se

seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-

mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-

na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte

para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se

basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia

(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-

riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-

racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)

21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia

Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-

mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos

[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-

pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-

ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-

do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com

poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica

relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-

mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do

exposto

A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que

eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a

1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines

Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden

Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p xiii

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indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas

afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios

negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5

Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de

Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de

entendecirc-la6

Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que

junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a

infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-

ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7

Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de

Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-

ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis

Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e

o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro

chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-

ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa

era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o

dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10

Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-

no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de

4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)

La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-

gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem

identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T

C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la

eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A

(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-

ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La

Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio

seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada

por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-

cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of

Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10

Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3

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Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o

quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio

representa a salvaccedilatildeo11

Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-

ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma

postura oposta

Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo

desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-

lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12

e a gramaacutetica13

Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e

Joatildeo Crisoacutestomo14

Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-

plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15

Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-

na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que

ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-

sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-

tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo

mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento

da condiccedilatildeo anterior16

Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo

para outras paraacutebolas

Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-

ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo

ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de

Mopsueacutestia17

Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo

que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para

11

Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln

Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting

the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12

HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands

Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 27 14

Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-

ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15

Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-

Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16

Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10

Oregon Sage Software 1996 p 597 17

MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods

Milton Keynes Paternoster 1977 p 27

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todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18

no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-

te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19

Outros

nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas

Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20

Joatildeo

Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21

Joatildeo Maldonado

ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22

Alexander

B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo

habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23

e foi o primeiro inteacuter-

prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta

criacutetica24

Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo

alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25

Em periodos

posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica

severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher

22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)

Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-

tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e

continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J

Jeremias

18

BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo

Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19

Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 41 20

Cf Ibid p 45 21

No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem

Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-

nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22

Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23

BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables

of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24

Cf KISSINGER W S op cit p 70 25

Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71

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221 A Juumllicher

Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo

de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26

como visto acima a maioria dos autores da atualida-

de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas

Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-

zenoverdquo27

para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as

paraacutebolasrdquo28

Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-

tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29

e Kingsburry observa que a ideia de

muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-

ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30

Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um

ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os

evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que

as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um

julgamento31

No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas

posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a

histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica

Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do

arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se

levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []

em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []

Juumllicher parou a meio do caminhordquo32

Kissinger observa que o caraacuteter da teologia

liberal em Juumllicher eacute destacada33

Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi

ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34

e

26

Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B

Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico

(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-

ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27

HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28

THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30

Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological

Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31

Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography

London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32

JEREMIAS J op cit p 12 33

KISSINGER W S op cit p 77 34

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181

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ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-

ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35

A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-

ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as

geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-

mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-

pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-

cher36

no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que

foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes

222 C Dodd

Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-

bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi

situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37

Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-

satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38

Dodd

compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39

mas

observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer

corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40

Dodd

tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-

que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41

Dodd procura interpretar as

paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-

nificado especiacutefico para o ouvinte

Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia

sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus

35

RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36

Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p

77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-

chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of

Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de

DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-

tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando

pesquisadores posteriores neste aspecto 37

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

16 39

Cf Ibid p 18 40

Cf Ibid p 20 41

Cf Ibid p 22

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pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo

mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42

para ele ldquoo eschaton se moveu

do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-

dardquo43

Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das

paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um

encolhimento da escatologia44

e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-

rece soacutelidos fundamentos

Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-

caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o

fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as

paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos

expliacutecitos e ambiacuteguos45

As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores

posteriores46

o que inclui Jeremias

223 J Jeremias

Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia

para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores

e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma

voxrsquo de Jesus47

Sua metodologia compreende

a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo

linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o

grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o

significado original48

) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da

transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-

mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)

consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de

42

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43

Ibid p 41 44

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45

Cf DODD C H op cit p 27 46

KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the

Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The

Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press

1979 p 125-131) 47

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48

Cf Ibid p 19

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18

Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-

ger49

Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das

paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando

se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias

as reconstruiu50

No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de

Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin

tambeacutem aponta como seus limites

a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-

terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus

como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-

construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma

seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-

to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora

estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-

bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-

ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-

rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte

original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51

Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para

um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de

Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-

gias continuam surgindo

23 Periacuteodo Contemporacircneo

A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-

gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso

expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-

49

KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-

don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50

Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976

p 101 51

Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico

Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens

contextualizantes

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19

ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para

os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)

231 A nova criacutetica literaacuteria

A nova criacutetica literaacuteria52

eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-

ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-

tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original

[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-

te em seus proacuteprios termosrdquo53

Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto

e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original

do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para

uma interpretaccedilatildeo futura54

no entanto observa que a natureza do texto como texto

deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55

Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo

das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de

abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos

criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-

lista do seacuteculo vinte56

Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute

uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57

Stein ainda observa

que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um

meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58

Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os

proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a

Nova Hermenecircutica

52

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-

pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia

com a anaacutelise narrativa 53

BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-

ary v 1 London Yale University Press p 734 54

Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of

the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4

p 361-375 1972 p 367 55

Cf Ibd p 370 56

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 57

PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-

spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 257

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20

232 Nova hermenecircutica59

Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst

Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem

enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional

entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do

texto e o inteacuterprete60

Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas

Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-

raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61

Um dos enfoques

da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-

tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62

Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-

ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-

der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63

ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora

e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra

a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64

Estes novos enfoques suscitaram

criacuteticas

Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-

zem mais do que elas significamrdquo65

Bomblerg ainda observa que a nova compre-

ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-

zotildees66

Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-

bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a

59

Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam

simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of

Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 134 135 61

PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p

110-126 62

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990

p 135 63

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64

HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield

Press 1993 p 193 65

BLOMBERG C opcit p 137 66

Cf BLOMBERG C opcit p 139-144

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21

outra67

Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-

co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das

paraacutebolas68

Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo

mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69

Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-

tica

233 Criacutetica esteacutetica

Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70

a criacutetica esteacutetica se asse-

melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com

a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-

bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71

Esta abordagem entende a paraacutebo-

la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora

dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo

Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72

Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela

performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave

algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de

palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute

o atual discurso73

Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua

estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo

radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74

Estas posturas

confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente

67

Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23

213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London

SPCK1966 68

VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic

of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69

Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70

Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press

2000 p 16 71

STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 254 72

Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser

Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola

2002 p 347 73

SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74

Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347

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22

Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D

Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na

interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia

Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens

que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam

esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas

paraacutebolas75

Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo

das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por

exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo

Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute

o estruturalismo

234 Estruturalismo

O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-

nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-

cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76

O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-

da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura

linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77

Ela se

interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa

abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78

Por isto de acordo com os estruturalistas

natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79

Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo

analisa as paraacutebolas

Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-

dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-

nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de

Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de

natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento

para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma

75

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77

Ibid p 735 78

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 65 79

Cf BAIRD W opcit p 735

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23

forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das

paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80

Al-

guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia

Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)

perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta

tendecircncias alegorizantes81

b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo

eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82

c) rejeita a possibilidade da reve-

laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83

d) eacute dialeacutetico quando pro-

cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84

Por

conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-

ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor

235 Desconstrutivismo

Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-

do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-

ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-

ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85

O propoacutesito do

desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses

significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se

desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86

Alguns autores de forma mesclada

com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas

Segundo Blomberg87

John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos

literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus

conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem

o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente

em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria

80

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

146-149 81

STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press

1981 p 69 82

Ibid p 69 83

Cf BLOMBERG C opcit p 145 84

Cf Ibid p 145 85

Cf Ibid p 152 86

Ibid p 153 87

Ibid p 153

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24

efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-

ecircnciardquo88

A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua

anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-

lente (multifacetada)89

Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-

mo apresenta suas limitaccedilotildees

Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o

texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90

e ten-

de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-

sais91

Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si

mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-

mada seriamente92

Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-

melhante a esta eacute a resposta-do-leitor

236 Resposta-do-leitor

A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor

Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute

criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em

conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93

Baird

observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a

fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94

A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa

sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo

reflexatildeo e diaacutelogordquo95

por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade

88

Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New

York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

150 90

Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p

248-257 1985 p 252 91

Cf Ibd p 254 92

Cf BLOMBERG C op cit p 154 93

Ibid p 155 94

Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-

tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95

Ibid p 735

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25

da interpretaccedilatildeordquo96

Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam

as paraacutebolas

Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos

por exemplo Via97

tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico

produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o

que o leitor quiser que elas signifiquem98

Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo

combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99

e

Tolbert tambeacutem pende para esta linha100

Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa

que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-

co101

Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa

tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na

escolha que o inteacuterprete faz102

Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas

interpretaccedilotildees das paraacutebolas103

e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta

abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo

especificamente sua abertura agrave alegoria104

Outras abordagens com foco nas paraacute-

bolas tecircm surgido na contemporaneidade

237 Outras abordagens

96

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p

155 97

VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress

1967 98

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-

lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio

Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e

anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension

Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99

WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In

PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of

multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100

TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations

Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101

Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical

Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102

Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p

155 103

Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation

Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104

Cf BLOMBERG C op cit p 155

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26

Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-

las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente

social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105

Similar a esta eacute

a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que

tecircm toacutepicos sobre economia106

Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-

ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107

Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-

bola do filho proacutedigo108

Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-

ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109

Khatry observa

que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-

das como midrash em passagens do AT110

Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-

do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-

po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-

tas

3

Exegese de Mc 410-12

105

SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal

2007 106

BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161

nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-

on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of

the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins

and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament

Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85

1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107

Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108

BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the

Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)

Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh

Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9

p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In

PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109

BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist

reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-

tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the

Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts

Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110

KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its

Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino

Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of

the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet

Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-

gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970

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27

Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto

Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do

Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-

to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-

dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos

Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em

seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-

dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto

literaacuterio-teoloacutegico da unidade

31 O texto e o contexto

Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-

texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111

referentes

ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a

presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os

feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-

ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-

decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos

111

Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New

Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p

163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the

Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B

New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-

cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-

cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-

tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND

C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria

escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele

selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-

tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-

tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo

Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel

Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in

its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes

Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004

MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca

Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids

William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L

Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34

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28

Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112

Essa incerteza

referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os

pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia

Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem

sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na

determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a

Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta

os anos sessenta e os anos setentardquo113

uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de

ser alcanccedilada

O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-

cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114

A identificaccedilatildeo do objetivo

do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel

mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se

na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115

portanto

a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo

Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116

certamente

alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-

siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117

ldquomila-

greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118

Desta-

cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-

senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e

dominante eacute a cristologia119

do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita

esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma

112

Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64

LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113

CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida

Nova 1997 p 108-112 114

Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-

Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo

Paulus 1982 p 10 115

CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116

Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-

lo Paulus 2009 p 97 117

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge

University Press 1959 p 20 118

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21

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29

compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da

exegese propriamente dita

32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo

O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-

to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em

frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras

falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-

vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo

[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das

palavras entre sirdquo120

assim segue o texto segmentado e traduzido

Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121

sozinho

ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς

παραβολάς

10c os que [estavam]122

ao redor dele

com os doze [a respeito]123

das

paraacutebolas

καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles

ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς

βασιλείας τοῦ θεου

11b para voacutes o misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado124

ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς

τὰ πάντα γίνεται

11c mas para aqueles aos de fora em

paraacutebolas todas coisas

120

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do

estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121

Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se

tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na

liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar

de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel

Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122

O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123

Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento

que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124

Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F

DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A

Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder

amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-

to na voz passiva

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30

acontecem125

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam

καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126

natildeo notem

καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam

καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam

μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado

33 Criacutetica Textual

As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-

fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o

Textual commentary o the greek New Testament128

natildeo ter dedicado nenhuma dis-

cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no

aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-

sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as

leituras variantes

A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo

lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12

28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or

lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez

traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo

levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem

οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129

Embora a leitura variante

125

Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto

que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo

Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma

sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126

Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-

de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227

ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p

185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam

que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127

Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido

para a liacutengua de chegada 128

METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th

London Uni-

ted Bible Societies 1971 p 83 129

Sobre este assunto ver o toacutepico 41

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31

esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este

criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130

Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc

89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os

lugares paralelosrdquo131

Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade

da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem

testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos

Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-

to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era

sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132

Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-

cai sobre a leitura como consta no texto

No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo

Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a

vgcl a sy

ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-

ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero

isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute

acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura

anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta

dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope

anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus

explica imediatamente a paraacutebola do semeador

Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar

a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se

apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-

do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-

or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente

isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai

sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-

dignas

130

ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131

OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo

Divino 2000 p 64 132

PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 185

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32

Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas

seguintes testemunhas D W Θ f13

28 565 2542 it Orlat

Esta leitura eacute contes-

tada por א B C L ∆ 892 vgst sy

s e co que apoacuteiam a leitura como consta no

texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-

temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve

sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)

Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-

no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)

provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento

estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ

παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que

eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente

discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente

uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado

aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a

preferecircncia pela leitura do texto

As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma

discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133

Lei-

turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-

adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda

mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν

apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia

pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-

mente preferecircncia134

Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam

a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao

que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento

133

A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da

vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de

ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical

Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A

omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆

f113

33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-

do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565

1424 2542 it e vgms

natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que

apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-

sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134

Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament

Leiden Brill 1969 p 65

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33

Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver

problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-

blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a

tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope

em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo

34 A constituiccedilatildeo do texto

A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12

eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-

gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-

res tambeacutem135

isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-

des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo

complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o

iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso

da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136

Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados

a seguir

341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope

A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica

pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus

desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137

comunicando assim o que

pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a

sua mensagem138

Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual

presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-

ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio

no v11139

e com um final estendido ateacute o v13140

Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-

135

Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB

2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and

their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136

Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137

Ibid p 85 138

Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola

2000 p 79 139

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY

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34

tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-

tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-

ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto

A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-

guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto

gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila

de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo

escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos

οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus

aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)

Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)

composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141

e daacute o tempo

da accedilatildeo142

e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-

po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se

tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica

anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila

no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar

a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades

Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-

guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-

9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143

que eacute se-

guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-

guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-

nua o assunto antes de 410

R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81

colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-

do a periacutecope como Mc 4 11-12 140

Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade

inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142

WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo

Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86

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35

Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-

mento como o Greek New Testament144

Novum Testamentum Graece (NestleA-

land)145

Greek New Testament (SBL Edition)146

Cambridge Greek Testament147

Novum Testament Graece148

A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope

da mesma forma149

Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-

ccedilatildeo diferente de Mc 410-12

Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-

senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-

duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio

do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um

dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta

pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do

todo

Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um

todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-

decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150

Haacute um tema que eacute

transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No

v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma

anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e

funcionalidade da mesma

144

NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft

2014 145

Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146

HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of

Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147

CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge

Cambridge University Press 2012 148

TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149

Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The

Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A

Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to

Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand

Rapids Baker Academic 2008 p 191 150

Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G

Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical

Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989

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36

342 Verificaccedilatildeo da unidade

Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-

senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no

texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs

versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e

11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento

entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151

c) a

conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152

indica que o

v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda

sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na

unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-

ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de

turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa

dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται

(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα

(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no

singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-

cordo Wallace153

Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural

neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum

(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-

ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-

bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o

verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular

Blass-Debruner154

tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-

ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT

Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna

estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual

151

Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo

Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar

of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-

sity Press 1961 sect 438 152

WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma

Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153

WALLACE D B op cit p 399 154

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132

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37

Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-

das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-

ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-

tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-

to155

Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem

delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto

eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo

de Isaiacuteas 6910

343 Uso de fontes literaacuterias

A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente

quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-

ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156

E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas

entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157

e assim o faz Mc

412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-

se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a

citaccedilatildeo que compotildee todo v12

Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158

Portanto ao se compara-

rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois

155

Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-

tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011

p 81-83 156

Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press

1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo

ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953

(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress

1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress

Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-

va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005

HASEL G opcit p 364-380 157

HASEL G opcit p 366 158

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El

Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York

Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the

Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa

69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo

2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background

of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E

Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento

no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-

reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on

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38

ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []

No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-

produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159

Um qua-

dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo

Mc 412 Is 69-10

ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ

μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν

καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי

ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב

ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני

שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י

ין ושב ורפא לו יב

Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-

ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que

determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de

uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos

formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ

ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam

be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f

וראו ראו e lsquo

ee vede ven-

do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd

cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo

ce

ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב

מעו שמוע cש lsquo

cescutai

escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef

eμήποτε ἐπιστρέψωσιν

fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

lsquoea fim que natildeo se convertam

fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf

eושב lsquo

ee re-

torna fe o curarsquo

Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No

texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש

) estaacute antes do segmento

9ef (וראו ראוfוראו ראו

e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-

tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν

bκαὶ μὴ ἴδωσιν

the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159

WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo

Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106

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(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-

va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria

Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos

na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-

do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-

tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי

) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo

se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad

( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע

c ואזניו הכבד

b השמן לב־העם הזה

a) Assim percebe-

se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras

duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160

de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar

que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161

no NT fato

que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo

Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-

firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns

poucos sugerem ser a LXX162

adaptada outros sugerem o Targum163

e uns poucos

natildeo admitem nenhuma versatildeo164

Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada

em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado

do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute

duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-

ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada

Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10

ἵνα βλέποντες

βλέπωσιν καὶ μὴ

ἴδωσιν καὶ

ἀκούοντες

καὶ εἶπεν πορεύθητι

καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ

τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε

καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ

יזיל ואמר א

עמא ותימר ל

ין הדין דשמע

שמע ולא מ

אמר לך ואמרת וי

מעו לעם הזה ש

ינו שמוע ואל־תב

וראו ראו

160

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans 2002 p 193 161

Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo

Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162

Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163

Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do

Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A

Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker

Academic 2008 p 210 164

Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342

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40

ἀκούωσιν καὶ μὴ

συνιῶσιν μήποτε

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἀφεθῇ αὐτοῖς

βλέποντες βλέψετε καὶ

οὐ μὴ ἴδητε

ין וחזן סתכל מ

ין חזא ולא ידע מ

ואל־תדעו

ἐπαχύνθη γὰρ ἡ

καρδία τοῦ λαοῦ

τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν

αὐτῶν βαρέως

ἤκουσαν καὶ τοὺς

ὀφθαλμοὺς αὐτῶν

ἐκάμμυσαν μήποτε

ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς

καὶ τοῖς ὠσὶν

ἀκούσωσιν καὶ τῇ

καρδίᾳ συνῶσιν καὶ

ἐπιστρέψωσιν καὶ

ἰάσομαι αὐτούς

ביה טפיש ל

דעמא הדין

י יקר ואודנוה

י טמטים ועינוה

חזון למא י ד

בעיניהון 1

באודנהוןו 2

ובאודניהון

יבהון שמעון ובל י

סתכלון י 1

יתובון ו

2ויתיבון

שתביק להון וי

השמן לב־העם

הזה ואזניו הכבד

ועיניו השע

ראה בעיניו פן־י

שמע ובאזניו י

ין ושב ולבבו יב

ורפא לו

O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em

Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-

das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-

beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito

das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-

figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as

diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto

35 Estrutura literaacuteria

Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura

maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-

lada de seu contexto largordquo165

Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do

165

Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In

CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp

Holman 2002 p 323

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41

arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito

pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias

segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166

A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de

Marcos167

Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas

muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura

organizada em Marcos168

Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-

buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-

rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas

A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade

maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-

dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169

tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo

(4 33-34)170

A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve

ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-

cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-

ccedilotildeesrdquo171

Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do

semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta

comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute

presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com

a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa

166

MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R

E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167

LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura

do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168

Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-

tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos

In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola

2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-

16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological

Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and

Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235

HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in

Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de

San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia

Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170

Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R

H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A

MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972

p 80 171

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116

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42

estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e

os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas

A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-

cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais

complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25

constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que

germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e

um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo

de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um

repouso (v32)

Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo

intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-

iacutedardquo172

assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as

sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-

xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173

O ter-

mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam

um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-

9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-

plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta

a pergunta)174

O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum

nos v3-25175

Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-

cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176

correspon-

dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-

172

MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174

Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua

forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175

solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que

natildeo tem 176

Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na

importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma

abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese

do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo

151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135

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nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada

como um quiasmo por alguns autores177

como se segue

A Introduccedilatildeo (1-2)

B Paraacutebola do Semeador (3-9)

C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)

D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)

Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)

Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)

Aacute Conclusatildeo (33-34)

Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo

Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma

de arranjo178

Tolbert179

sugere uma estrutura tripartida France180

observa que

ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a

unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34

Stein181

apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2

+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34

Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc

41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas

unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no

ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-

177

Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of

Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E

Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris

Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about

Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros

citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE

J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the

Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press

1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem

citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J

Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars

Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-

road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier

1989 178

Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179

Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective

Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB

Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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44

trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas

unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise

estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute

inserida em seu contexto

351 A estrutura da unidade menor 410-12

Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A

ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-

muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos

morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί

(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι

(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-

ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de

fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades

de 41-34182

A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior

(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a

locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no

v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente

nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v

12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23

todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-

ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a

ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-

senta a proacutepria dinacircmica

O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e

estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes

partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto

11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama

aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama

182

Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-

bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos

e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34

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alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de

Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-

gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις

No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-

sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao

v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-

bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as

partes tanto da unidade menor como da maior

A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-

pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que

o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo

em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A

(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183

Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar

uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184

sendo

a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-

to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν

B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν

Ou

A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν

B καὶ μὴ ἴδωσιν

183

FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-

lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-

dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-

ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13

questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto

este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra

unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que

permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta

sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado

indicando o tema paraboacutelico como o central 184

DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books

1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um

nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -

d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo

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C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς

Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν

Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν

Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-

dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-

de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos

estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute

arranjado e organizado

352 A organizaccedilatildeo do texto

Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada

descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado

tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute

dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185

entatildeo se

torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar

a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e

fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-

ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade

a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal

Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do

ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos

(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)

trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-

ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se

relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos

constituem fala do narrador

O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o

verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-

do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que

185

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25

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ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O

verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como

sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e

concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si

O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν

e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do

verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com

o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no

verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)

na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia

Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-

da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo

καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos

as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados

O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto

ἐγένετοv10

ἠρώτων v10 ἔλεγενv11

δέδοταιv11 γίνεταιv11

βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12

ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12

ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12

Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos

do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta

costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade

b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade

O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-

to186

E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-

junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x

(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A

186

EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77

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conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί

tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo

anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase

que estatildeo em par com outrasrdquo187

A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal

No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-

dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-

siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que

pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188

indicando neste

caso a convergecircncia do que se tratou antes

No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em

12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-

denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-

vo189

eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-

mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma

coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-

dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-

cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-

dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na

mesma

c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes

Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-

cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-

meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que

seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e

tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ

A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre

a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-

indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma

187

BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early

Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188

Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New

Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189

ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p

185

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retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o

discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do

ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto

comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se

percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-

ticardquo190

Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como

sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E

por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo

ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-

nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-

sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo

d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade

Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito

bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-

mas191

satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-

das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-

rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-

ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo

γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x

12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)

A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal

fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria

unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem

satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima

outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto

As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os

verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-

forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma

190

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191

Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76

(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-

malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)

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proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que

indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-

tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις

(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)

ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem

tecida e organizada

353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412

A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir

daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e

que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)

continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito

(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-

as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-

gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-

ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122

No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos

Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-

cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo

endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite

de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta

accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute

apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-

za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-

lhordquo192

Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que

esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel

importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193

Assim em Marcos

esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem

para fazer um convite do retorno a um povo obstinado

A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs

proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra

192

CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193

Ibid p 59

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alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se

observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל

3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל

(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-

sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-

satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da

proacutepria accedilatildeo

Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-

re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de

Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a

alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que

apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece

harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em

ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-

nidade

Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem

compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)

βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)

ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus

fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo

ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque

lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194

o que sugere a quebra da

mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo

este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade

aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195

Assim observa-se que a dinacircmica

eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova

oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido

Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-

ma196

Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל

194

BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids

William B Eerdmans 1998 p 67 195

ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta

passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio

Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet

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βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל

ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O

discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo

permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em

escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197

sendo a rebeliatildeo o

motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus

Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-

dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem

pode ser que o entendemrdquo198

Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto

uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o

dito199

os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim

conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado

vastamentede forma explicita ou implicita

Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e

Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197

ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198

TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199

ZIMMERLI W opcit p 269

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53

4 Comentaacuterio exegeacutetico

A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν

e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-

recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo

seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo

41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)

A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-

pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo

descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-

pulos200

os futuros fieacuteis201

os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas

tambeacutem distintos dos doze202

aqueles que em algum momento estatildeo acompa-

nhando ou associados com a figura central da narrativa203

O que se observa eacute que

certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se

trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma

anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-

mos

O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso

referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre

no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em

334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ

tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma

grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus

No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande

multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no

200

Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201

Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983

p 111 202

Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St

Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-

noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191

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grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-

35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se

aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)

Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo

ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou

seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem

uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204

isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-

riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205

Assim o fato de οἱ περὶ

αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-

tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo

maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα

A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-

dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-

cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206

eacute um termo teacutecnico

para se referir a este grupo207

natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-

ro eacute um tiacutetulo208

Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao

grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores

esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo

mais do que dignidade especialrdquo209

Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a

identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-

nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo

parece ser mais viaacutevel

A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de

disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210

Esta ajuda a com-

preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-

204

Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p

Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205

Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206

FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 190 207

Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J

Gabalda ET Cie 1993 p 96 208

Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United

Bible Societies 1993 p 134 209

RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210

TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-

pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo

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plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-

tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211

Esta

ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que

Jesus daacute aos seus disciacutepulos

Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-

lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores

imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida

para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a

mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus

lhes deu212

poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas

As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-

ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus

falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de

Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213

Poreacutem mais do que

funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos

promovem seu ensinamento sobre discipulado214

Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo

deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e

noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre

vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215

Assim ao analisar os as-

pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha

papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa

do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo

especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que

viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os

δώδεκα

42

211

HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the

New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212

WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213

Ibid p 14-145 214

Ibid p 145 215

GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir

do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71

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ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)

Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-

taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica

que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν

(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como

visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ

αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν

O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ

αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-

ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de

οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3

35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou

nas pessoas que formam o grupo

Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode

dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem

conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-

dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender

maisrdquo216

Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-

naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-

tir ateacute o fim217

Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o

antigo Israel218

De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-

to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram

em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335

A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-

mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute

um forte indicativo de uma matildeo redatora219

outros na mesma dinacircmica sugerem

216

MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 302 217

Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in

the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-

PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p

82 219

Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A

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que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220

portanto Mazzarolo observa que

esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221

Alguns autores ob-

servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo

331-32 estavam do lado de fora222

Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-

datildeo223

similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-

tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224

Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-

lar225

No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem

mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226

o que eacute confirmado pela atitude de

cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-

los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de

Jesus

Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como

primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-

cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar

uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf

Mt 722 2 Ts 110)227

o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de

MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81

LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-

lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San

Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220

Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-

258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-

ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222

Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M

D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223

Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark

1990 p 78 224

Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-

ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem

ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225

Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum

v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in

Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San

Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo

Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam

seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia

de Jesus 226

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291

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acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer

(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus

e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica

Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria

tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma

forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)

Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que

entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o

Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir

como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos

ou aos gentios

Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado

mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228

Em

1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora

da feacute cristatilde229

De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande

narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e

os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-

te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom

solo230

(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-

7)231

Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino

paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas

mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232

O quadro abaixo sobre as correspondecircncias

dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere

228

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p

59-79 2004 p 74 229

Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia

(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-

bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para

verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da

paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-

ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)

The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing

Company 2000 p 90 232

MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-

bridge University Press 1967 p 76-77

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que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a

postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo

do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35

O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15

O solo bom v8 O solo mau v3-7

Semente que germina e daacute muito fruto

v8

Semente que natildeo germina ou germina e

daacute pouco fruto v3-7

Voacutes v11 Os de fora v11

Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra

v15-19

Candeia vista v21 Candeia oculta v21

Mostrado v22 Oculto v22

Visiacutevel v22 Escondido v22

Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12

Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24

O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25

Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a

grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele

os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma

especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo

aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-

gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino

de Deusrdquo233

Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de

cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus

233

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

463

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43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)

Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma

tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234

o que

seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-

plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido

conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se

refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235

Para Brown

ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido

mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236

consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237

Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-

lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-

do no Evangelho238

isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem

representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239

A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio

(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω

Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos

disciacutepulos por ouvirem obedientemente240

Baird chega a afirmar que ldquohaacute um

contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o

234

Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826

Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826

4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235

Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca

Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel

According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao

povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical

Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237

MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY

R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238

Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v

103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239

Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other

Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240

MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-

ble) New York Doubleday 1986 p 263

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ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241

Outros chegam a

sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242

o que de certa forma

limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo

algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros

autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a

Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e

mulheres na sua missatildeordquo243

Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-

bertamente proclamado a todos244

Este pensamento se solidifica quando se consi-

dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)

A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em

anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de

uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245

ou

passivum Divinum246

o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-

co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo

γίνεται

No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de

Jesus ao ensinar em paraacutebolas247

entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser

entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-

bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de

Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O

NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos

na Pessoa de Jesus

O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν

ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας

241

BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242

Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme

1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In

LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B

Eerdmans 2000 p 90 243

Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244

Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

p 107 246

Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17

STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em

Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-

tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247

A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito

das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo

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τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248

sustenta que o corres-

pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249

Estas correspondecircn-

cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται

Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo

pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-

marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250

visto que ἐν com dativo pode designar

tambeacutem o modo251

isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos

grupo

Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo

uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo

da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua

narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252

Stein observa que em 327

1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30

141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de

forarsquo253

aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-

to das coisas do Reino de Deus

Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de

todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino

de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se

refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do

homemrdquo254

e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua

248

Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of

Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-

delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for

Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-

terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-

KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190

sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-

serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas

aos disciacutepulos 250

BAIRD J A op cit p 202 251

Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010

sect 64 252

AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the

Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254

BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-

adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of

Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564

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palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255

accedilotildees que

natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de

Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem

sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256

Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-

bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-

tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-

pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-

pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo

daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a

paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que

a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar

disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum

divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos

auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-

mento

44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento

A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo

de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em

conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-

to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E

visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve

esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto

441 O motivo de ensinar em paraacutebolas

Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-

raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de

255

BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p

462-463 256

MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103

n 4 p 557-574 1984 p 74

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fora257

ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e

ininteligiacuteveis para os de fora258

Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar

o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259

Outros no entanto

entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas

para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de

Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260

Uma observaccedilatildeo no material

que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade

maior de preferecircncia

Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-

sito didaacutetico261

o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma

foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262

pois a con-

junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-

taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de

257

Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-

REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)

A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power

of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a

funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes

autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada

posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de

Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute

nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual

configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do

Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a

impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu

modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258

Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc

que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259

Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and

Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386

1948 p 379 260

Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In

BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid

Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B

Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-

ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo

convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261

Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-

bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In

FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-

152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-

dade entre a ordem natural e espiritual 262

Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ

θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)

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Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um

processo didaacutetico

Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-

ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263

Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial

das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-

do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264

trazem ao conhecimento o

que era desconhecido para os ouvintes265

sendo uma ldquoforma para a mensagem de

Seu reino celestialrdquo266

Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas

era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de

Deus267

suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268

convidar o ouvinte a fazer um juiacute-

zo sobre si mesmo269

e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270

relacionada ao Rei-

no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271

Este

objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em

412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-

zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-

prio profeta272

especificamente em Is 69-10

263

DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20

embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The

Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-

las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita

de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265

Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266

Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical

Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as

paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

284 268

Cf JEREMIAS J op cit p 23 269

REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270

Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966

p 22 DODD C H opcit p 21 271

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272

Cf RATZINGER J op cit p 170

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442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento

Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois

desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de

grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e

posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-

lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo

de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute

descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas

boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)

imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e

lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo

Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo

(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das

uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo

Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um

exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH

envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo

seis

Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-

dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-

ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I

(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo

situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e

um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os

protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e

a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute

uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade

A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura

a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-

ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para

executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta

Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a

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duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-

cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-

peranccedila para o remanescente

As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)

impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-

rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-

ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo

do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e

das tradiccedilotildees do desertordquo273

A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-

dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274

a resposta de

YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar

Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275

Tambeacutem as imagens de escutar

mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-

ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a

ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo

do proacuteprio povo276

informado desde o comeccedilo do livro (12)

Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas

no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por

YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-

tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que

a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-

ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo

consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e

todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277

Em Dt 294 Moiseacutes lembra

ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de

YHWH

273

SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-

liam B Eerdmans 1996 p 119 274

Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275

Cf Ibid p 118 276

Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and

Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-

cal Research v 8 p 167-186 1998 277

KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131

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A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento

com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do

povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de

entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a

queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no

v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-

raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que

a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo

que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-

raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412

443 A temaacutetica do endurecimento

O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do

lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute

recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura

cerviz278

rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279

lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280

lsquoincircuncisatildeo de cora-

ccedilatildeorsquo281

lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282

lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283

e

outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado

para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus

Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre

que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a

tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35

o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-

naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo

Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-

terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou

endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute

278

Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279

Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612

2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280

Cf Ez 1119 3626 etc 281

Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282

Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl

10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283

Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc

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reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos

estes satildeo

a) A foacutermula exortativa conclusiva

Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo

para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν

ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa

ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284

O verbo ἀκούω ocorre treze vezes

em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285

Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-

ca286

tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287

obedecer e ouvir

para entender288

Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-

sagem289

entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer

discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290

Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-

do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o

opostordquo291

As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do

v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que

o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente

Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e

este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-

recimento

284

HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v

58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285

SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p

285 286

Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary

of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288

Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 1505 IV 2 3 289

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 59 291

Id loc cit

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b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)

A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar

A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-

gativa μήτι292

isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute

sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-

gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto

eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser

ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir

presente em 12c

Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem

tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)

ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes

pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-

tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-

da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293

o que equivale

a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de

endurecer

c) O que todos receberam (v25)

Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes

do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder

luz espiritual para o homemrdquo294

O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam

ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns

e revelou para outros

d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)

A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile

O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila

semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda

que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma

intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem

292

Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-

tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early

Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F

DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-

erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293

SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294

Ibid p 99

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do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse

intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada

e) O ensino por muitas paraacutebolas

Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio

de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-

tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino

de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de

que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria

dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal

ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e

de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-

beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta

sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam

ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-

posto

Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-

camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o

tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que

natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso

pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4

13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o

endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo

do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou

seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar

Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por

contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do

endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-

ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-

posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute

muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a

negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o

qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-

servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade

em estudo

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Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto

sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-

nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a

um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na

tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a

temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-

sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-

cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo

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5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope

Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o

uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-

poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-

durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos

diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias

51 Leitura dificultante

Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-

raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-

no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta

posiccedilatildeo

Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica

sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e

propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas

ocultam295

Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica

sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-

mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296

ou seja ele entende que a

atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-

niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar

Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo

velada estaacute expressa em Mc 411-12297

Este ainda afirma que estes versiacuteculos

foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que

natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298

Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-

diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma

295

JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-

neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296

Ibid p 65 297

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 298

Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The

Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379

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leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo

em geral299

Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual

contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de

Deus e endurececirc-los300

No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as

palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-

das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301

Juumllicher Dodd e Jeremias embora

admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem

que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar

Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou

baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-

cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de

percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-

caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302

Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade

[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor

poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute

justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-

do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo

pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303

Em suma para Marcus o contexto

atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-

des dos relatos semelhantes no AT

Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse

propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304

Para

Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem

299

Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p

15 300

JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-

ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o

secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-

bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301

Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten

San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk

410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961

p 165 302

MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York

Doubleday 1999 p 305 303

Ibid p 306 304

Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 263-264

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de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-

co305

Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido

entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse

nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto

pelo uso de paraacutebolas no v11306

E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute

um crux interpretum

Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles

de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras

do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e

outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-

teacuterio de Jesus307

Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-

12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma

explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade

Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A

consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta

proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-

taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-

tacam-se aqui as seguintes

a) interpretaccedilatildeo literalista

A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-

ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo

existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-

mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as

verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-

dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles

natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses

proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se

considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como

em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo

O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve

ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-

305

Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York

Doubleday 1986 p 264 306

Cf Ibid p 265 307

STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191

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ceber notarrsquo308

e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309

natildeo podem ser en-

tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a

um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os

verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310

ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-

ar)311

e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta

b) Desconsideraccedilatildeo do contexto

O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-

ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior

demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-

do312

Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-

ral313

mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece

natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto

atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural

dentro do todo314

O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute

uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo

c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13

O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada

com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12

embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-

to de Is 61-13315

Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado

de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316

Outrossim

eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute

308

LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th

ed add Oxford Clarendon Press

1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament

and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309

DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other

Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310

LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311

DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R

ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament

v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312

Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313

Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os

ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314

LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que

natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor

sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-

ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315

Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316

SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-

79 2004 p 70

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entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata

de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em

obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem

d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva

Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-

siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-

ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-

texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-

se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com

relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards

observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc

412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo

contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317

O

que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-

taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero

de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees

e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-

ccedilotildees da mesma

Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente

que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por

exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando

incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318

Esses autores quando afirmam

sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal

afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma

problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica

se encaixaria dentro do Evangelho

Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo

deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as

317

Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans

2002 p 134 318

CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus

San Francisco HarperOne 2012 p 37

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paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319

Assim a insinuaccedilatildeo

de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta

52 Leitura facilitadora

Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende

dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora

Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a

compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos

autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro

desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que

observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade

para alguns320

Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas

de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao

inveacutes de ocultar321

Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-

fuscante322

pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323

e

esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324

Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e

persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325

ou fazer um

juiacutezo de si mesmo326

Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-

rica ou enigmaacutetica327

logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus

ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda

proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem

319

Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge

Cambridge University Press 1967 p 7690 320

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321

Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids

WB Eerdman 2002 p 193 322

Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1

p 59-79 2004 p 71 323

Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324

Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-

PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325

Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286

2013 p 284 326

Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A

(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327

Cf PAGOLA J A opcit p 49

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de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-

tes

a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista

Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-

cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-

gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que

parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-

sentes no texto como jaacute foi visto acima

b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto

A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada

antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-

niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT

c) Consideraccedilatildeo do contexto

O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-

deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328

observa que

Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas

nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir

da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como

uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-

sagem que estaacute interiormente interligada

O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles

que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-

em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem

predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo

Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria

d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado

Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-

texto de Is 61-13329

Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus

com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330

Estes horizontes

paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-

ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos

tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de

328

RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329

WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198

e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam

uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330

BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a

ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo

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Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo

entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos

e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta

Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no

elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou

muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo

manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de

Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica

que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como

segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que

ignore este dado material deve ser evitada

53 Leitura harmonizante

Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por

leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas

anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-

posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que

no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o

de ocultar ou endurecer

Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331

Similarmente

Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus

que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra

poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de

paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332

Neste sentido Brooks expotildee que e-

xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333

Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas

paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-

331

KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud

BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press

1987 p 64 332

Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University

Press 1977 p 157 333

Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82

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taccedilatildeo pode revelarrdquo334

Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for

aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem

ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo

tecircm335

Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute

o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-

cultas e misteriosas336

Observa-se que estes autores embora possam pender para

uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-

bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se

a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia

Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a

unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de

Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus

um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com

a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-

ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-

gicos em Marcos

O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-

receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-

cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-

sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da

ocultaccedilatildeo ou de ambos337

b) Justificativa deficitaacuteria

A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo

das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam

para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando

analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-

334

HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p

119 335

SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p

112 336

EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002

p 119 337

Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443

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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta

uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-

claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do

Reino de Deus

c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas

A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens

Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-

bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou

Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes

das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo

ideias incompatiacuteveis

A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do

proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura

indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-

cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas

com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-

litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-

vados em conta

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6 Conclusatildeo

Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-

mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-

guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-

tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves

coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no

atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-

cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta

possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez

leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-

tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende

A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-

miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-

temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-

nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da

periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos

da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo

apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma

segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e

coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda

narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes

da pesquisa para outros dois que se seguiram

No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu

o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ

αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos

apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a

Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente

os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos

satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-

mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς

βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas

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ao grupo dos disciacutepulos se refere ao conhecimento das coisas do Reino de Deus

dadas por intermeacutedio de Jesus a todos sendo contiacutenua aos que respondem

continuamente e limitada a quem responde negativamente que Jesus natildeo usou

paraacutebolas para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o

coraccedilatildeo de Seus ouvintes pelo contraacuterio usou as paraacutebolas por motivos didaacuteticos

de forma a facilitar o processo de compreensatildeo e aumentar a possibilidade de ga-

rantia de aceitaccedilatildeo dos ouvintes

E finalmente no quarto capiacutetulo se apresentou a siacutentese e uma breve anaacutelise

teoloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito do propoacutesito das paraacutebolas

de Jesus expresso em Mc 410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a

harmonizante se concluindo que a teoria de que a proposta do endurecimento

que Jesus usou paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo dos ouvintes natildeo tem apoio

dentro da estrutura da proacutepria periacutecope nem da narrativa de Marcos e nem do

conjunto de todo o NT que a proposta facilitadora parece ser a melhor opccedilatildeo por

se harmonizar melhor com a teologia da unidade de Marcos e com todo o conjun-

to do NT que a leitura harmonizante a semelhanccedila da primeira tambeacutem natildeo pa-

rece ser adequada por apresentar algumas limitaccedilotildees e natildeo se enquadrar no con-

texto apresentado pelo texto o Evangelho de Marcos e todo NT

Reafirma-se portanto a preferecircncia da leitura facilitadora sobre a dificul-

tante e harmonizante isto eacute Jesus natildeo usou paraacutebolas em Seus ensinamentos para

endurecer o coraccedilatildeo dos de fora e ocultar-lhes as coisas do Reino de Deus pelo

contraacuterio usou paraacutebolas para facilitar o processo de compreensatildeo a todos que O

ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes de uma lin-

guagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes

Novas pesquisas poderiam se deter natildeo num exame das paraacutebolas e da teoria

de Mc 410-12 em si mas numa anaacutelise cuidadosa das metodologias que tecircm sido

usadas para a interpretaccedilatildeo de ambos As metodologias poderiam ser testadas e

verificadas a fim de observar se sua relaccedilatildeo com o objeto de estudo (as paraacutebolas

e o texto de Mc 410-12) eacute adequada ou natildeo se seus resultados satildeo imputados agraves

paraacutebolas e ao texto ou se satildeo extraiacutedos deles mesmos se os dados e procedimen-

tos que estas metodologias usam satildeo tangiacuteveis e verificaacuteveis se satildeo metodologias

adequadas para essa natureza de material e por fim se satildeo relevantes ou natildeo

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7 Referecircncias bibliograacuteficas

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