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Geografia

Dinâmica da População Brasileira

Professor Luciano Teixeira

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Geografia

DINÂMICA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA 8608

Migrações Brasileiras

Imigrações

O Brasil foi o quarto país a receber mais imigrantes no continente americano, no período que vai de 1800 a 1955. Ficamos atrás dos EUA (40 milhões), da Argentina (7 milhões) e do Canadá (5 milhões). Nesse período, o Brasil recebeu cerca de 4,3 milhões de imigrantes.

Podemos falar em imigração no Brasil apenas a partir de 1808, com a chegada da família real ao país. Antes desse período, o país estava sendo colonizado e a maioria dos que aqui chegavam eram provenientes da Europa (principalmente colonizadores portugueses) e da África (escra-vos, forçados a fazer esse deslocamento). Para entendermos melhor o processo migratório em nosso país, é necessário dividi-lo em três períodos:

1º Período – de 1808 a 1850

• Fluxo imigratório estimulado pelo decreto de D. João, de 15 de novembro de 1808, que permitia ao estrangeiro ser proprietário de terras no Brasil.

• Dificuldades para a compra de escravos.

• Instabilidade política do período regencial.

• Temor do imigrante em ser tratado como um escravo (a escravidão repele a imigração).

2º Período – de 1850 a 1930

• Período de maior entrada de imigrantes no Brasil.

• Desenvolvimento da cafeicultura, exigindo numerosa mão de obra.

• Proibição do tráfico de escravos, mediante a Lei Eusébio de Queirós.

• Disposição dos fazendeiros do café de cobrir as despesas do imigrante durante o primeiro ano de trabalho e de permitir a este o cultivo de alimentos para a subsistência da própria família, fornecendo-lhe uma parcela de terra de sua propriedade.

• Custeio, por parte do governo imperial, dos gastos de transportes dos imigrantes até 1889.

• Abolição da escravatura em 1888.

• Instabilidade política e econômica na Itália e na Alemanha devido às guerras de unificação territorial de cada país. O imigrante italiano foi o que mais entrou no Brasil do período de 1878 até o final do século XIX.

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Nesse período, as principais correntes migratórias foram formadas por italianos, alemães, espanhóis, sírio-libaneses, poloneses, ucranianos e japoneses.

3º Período – de 1850 até os dias atuais.

• Caracterizado pela queda acentuada do fluxo migratório no Brasil, com exceção das décadas de 1940-50 (2ª Guerra mundial) e de 1970 (“milagre econômico”).

• Marcado por uma série de problemas econômicos e políticos que diminuíram a vinda de imigrantes.

Brasil – Principais Grupos de Imigrantes e Áreas de Fixação

Imigrantes Áreas de Fixação

Portugueses Praticamente em todo o Brasil, principalmente no Rio de Janeiro (preferência por cidades em detrimento ao campo)

Italianos São Paulo (capital e Interior), Rio Grande do Sul (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, etc.) e Santa Catarina (Nova Trento, Uruçanga, Nova Veneza).

AlemãesSanta Catarina (Vale do Itajaí – Joinville, Brusque, Blumenau), Rio Grande do Sul (Vale do Sinos – São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estrela, Lajeado, etc.), Paraná, São Paulo e Espírito Santo.

Espanhóis Principalmente São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

JaponesesSão Paulo (capital e áreas do interior: Marília, Tupã, Presidente Prudente, Vale da Ribeira), Pará (região Bragantina), Paraná (Londrina e Maringá) e Mato Grosso do Sul.

Eslavos Paraná (Curitiba, Ponta Grossa, Castro e Lapa), em especial.

Sírio-Libaneses Quase todo o país, com destaque para o estado de São Paulo.

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Emigrações Brasileiras

O período no qual o Brasil teve um aumento significativo na taxa de emigração coincide com o do grande recesso econômico brasileiro da década de 1980, quando o governo perdeu a capacidade de investimento e o país passou por um processo político conturbado, a transição democrática. Sendo assim, muitos brasileiros acabaram saindo do país para tentar a vida em outros lugares do planeta. Os principais destinos dos emigrantes brasileiros foram:

• EUA – 800.000

• Paraguai – 455.000

• Japão – 270.000

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Leitura Complementar

Emigração Brasileira

Mais de 100 mil brasileiros emigram todos os anos à procura de melhores condições de trabalho no mundo. O número global de emigrantes brasileiros ascende já a mais 2 milhões, calculando-se que perto de 33% estejam clandestinamente nos seus países de acolhimento (Dados de 2005).

A emigração brasileira é um fenômeno relativamente recente e ocorre apenas a partir dos anos 70 do século XX. A partir dos anos 80, o brasileiro está a tornar-se num novo nômade do mundo, seguindo as pegadas dos portugueses.

Paraguai - As primeiras vagas de imigrantes estão ligadas à expulsão dos campos de milhares de camponeses que se são literalmente empurrados para os países fronteiriços, como o Paraguai, onde o seu número não para de aumentar. A emigração aumentou com a fundação de Cidade do Leste, mas, sobretudo depois da abertura da Ponte entre a Foz do Iguaçu e esta cidade. A produção de soja foi outro fator de atração de novos imigrantes. Ao longo da fronteira com o Brasil tem-se desenvolvido várias cidades constituídas maioritariamente por brasileiros (brasiguaios). Esta emigração de brasileiros chegou a ser incentivada na década de 70 pelo governo de Alfredo Strossner (presidente do Paraguai ente 1959-1989). A maioria destes imigrantes dedica-se à agricultura e está registada no Consulado do Brasil em Ciudad del Este (Cidade do Leste), junto à fronteira com o Brasil.

Na última década o Paraguai tem vindo a adotar uma série de medidas discriminatórias contra os brasileiros, nomeadamente no seu acesso à terra e aos estudos. Em 2002 foi aprovada uma lei que proíbe numa faixa de 50Km da fronteira que qualquer estrangeiro possa adquirir terras.

Paraguai: cerca de 500 mil emigrantes brasileiros (dados de 2006), o número de ilegais é também muito elevado.

Na década de 80 e 90, devido à crise económica em que o Brasil atravessa, a emigração dirige-se para três destinos privilegiados: EUA, Japão e Europa. Na Europa, vivem 350 mil brasileiros, a maioria dos em Portugal (dados de 2006).

EUA - O número de brasileiros não para de aumentar, malgrado as brutais medidas que tem sido tomadas para impedir a sua entrada. É curioso constatar que muito estão a estabelecer-se em regiões e localidades com forte implantação de imigrantes portugueses. Cerca de 300 mil estão na região de Nova York, 200 mil na região de Boston e mais 150 mil na Flórida. A Califórnia regista também um número expressivo de brasileiros: 25 mil estão registados no Consulado do Brasil em São Francisco e 17 mil no de Los Angeles (dados de 2004). A maioria destes imigrantes é oriunda de Minas Gerais, especialmente da região de Governador Valadares. Uma larga percentagem entrou nos EUA ilegalmente, sem visto, pela fronteira com o México.

EUA: 800 mil emigrantes brasileiros, mais de metade são clandestinos (Dados de Julho de 2003).

Japão - A colónia de japoneses no Brasil, iniciada nos anos 20 do século XX, está hoje a servir meio para a circulação de novos migrantes mas em sentido contrário.

Japão: 225 mil emigrantes (Dados de Julho de 2003)

Autor: Carlos Fontes

Fonte: http://lusotopia.no.sapo.pt/indexBREmigrantes.html

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Migrações Internas

Ao analisarmos o histórico de migrações no Brasil, é possível destacar regiões que são tradi-cionais polos de emigração (repulsão de pessoas) e imigração (atração de pessoas). Em nossa história, os principais fluxos migratórios são:

• Migração de nordestinos da Zona da Mata para o Sertão, cujos pioneiros foram baianos e pernambucanos que levaram a pecuária para o interior (séculos XVI e XVII)

• Migração de paulistas e nordestinos para Minas Gerais (século XVII) devido ao início do Ciclo do Ouro.

• Migração inter-regional de nordestinos para o Sudeste, além do fluxo intra-regional de pes-soas do Sudeste para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, devido ao Ciclo do Café (século XIX)

• Migração, principalmente de nordestinos, para a região Norte (Amazônia) devido ao Ciclo da Borracha (transição séculos XIX/XX)

• Migração de gaúchos, nordestinos, paulistas para o Centro-Oeste (principalmente para Rondônia e Mato Grosso), devido à expansão da fronteira agrícola (Soja e Gado) para o Cer-rado Brasileiro, na década de 1970.

• Migração de nordestinos para Goiás, na década de 1950, para a construção de Brasília.

• Embora tenha ocorrido uma diminuição dos fluxos migratórios no Brasil, ainda é possível perceber a ocorrência destes em todo o território nacional. Os movimentos migratórios mais intensos das décadas de 1980, 1990 e 2000 são:

• Centro-Oeste: Brasília, cidades do interior do MT, MS e GO, devido à expansão do agronegócio para essas regiões.

• Norte: áreas de extrativismo mineral (RO, AP e PA) e zonas de extrativismo vegetal (PA e AM), além de regiões agrícolas de RO, AC e RR.

• Sudeste: migração das metrópoles (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) para cidades do interior desses estados (desconcentração industrial).

• Sul: até a década de 1980, os principais fluxos foram inicialmente para os estados da região Sul, depois para as regiões Norte e Centro-Oeste. Atualmente, existe um fluxo intraestadual das maiores cidades para o interior.

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• Nordeste: essa região pode ser considerada tradicionalmente uma área de repulsão po-pulacional, principalmente para a região sudeste do Brasil. Hoje, devido ao crescimento econômico do Nordeste, essa região vem atraindo muitas pessoas que já tinham migrado, mas estão retornando devido aos atrativos socioeconômicos que vem aumentando. É o que chamamos de migração de retorno.

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Tabela - Imigrantes, emigrantes e saldo Líquido migratório, Segundo as Grandes Regiões - 2004/2009

Grandes Regiões

2004 2009

Imigrantes Emigrantes Saldo Líquido Migratório Imigrantes Emigrantes S a l d o

Líquido

Norte 330 660 266 919 63 741 184 634 219 793 -35 159

Nordeste 848 002 934 589 -86 587 541 733 729 602 -187 869

Sudeste 844 605 1059 913 -215 308 656 386 668 801 -12 415

Sul 305 053 270 477 34 536 252 947 154 094 98 853

C e n t r o -Oeste 534 879 331 311 203 568 418 143 281 553 136 590

Fonte: IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004/2009

Brasil: País de Imigrantes?

Devido ao crescimento econômico do Brasil nos últimos anos, o país vem apresentando um número significativo de estrangeiros que optaram por residir aqui. Peruanos, bolivianos e paraguaios estão entre os principais grupos de imigrantes que chegam até o nosso país. No entanto, nos últimos tempos, o que mais chama a atenção das nossas autoridades são os haitianos que entraram ou estão tentando entrar no Brasil, principalmente pelo estado do Acre.

O Haiti é o país mais pobre do continente americano e a sua situação socioeconômica sempre foi muito precária, mas, logo após o terremoto ocorrido no início do ano de 2010 (que vitimou fatalmente mais de 300 mil pessoas), a situação complicou-se de tal forma que muitos foram obrigados a emigrar para outros países.

A primeira opção é a República Dominicana, país que faz fronteira com o Haiti na ilha de Santo Domingos, mas esse país não tem condições de receber todos os imigrantes haitianos, que são atraídos pelos salários relativamente altos, pagos em lavouras em de cana-de-açúcar ou no turismo. Os EUA, que também seriam uma opção, fazem um rigoroso controle de fronteiras, o que dificulta o acesso para os haitianos. Logo, o Brasil é um dos alvos preferencias, devido à economia, à diversidade étnica e, principalmente, à flexibilidade do governo brasileiro quanto à imigração proveniente de outros países, já que essa mão de obra é necessária para o nosso crescimento.

No entanto, muitos dos imigrantes que chegam até o país não conseguem se estabelecer por enfrentarem uma série de barreiras, como as diferenças culturais, o idioma, as jornadas de trabalho extenuantes, o preconceito, entre outros fatores.

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Brasil terá 50 mil imigrantes haitianos até o fim do ano.

Pesquisa da PUC Minas revela que 40% dos haitianos no Brasil têm curso médio e 30% trabalham na construção civil

Bertha MaakarounLeonardo Augusto

Publicação: 17/05/2014 06:00 Atualização: 17/05/2014 07:16

Aos 33 anos, viúvo, o imigrante haitiano Marco Comblonini acalenta um sonho: trazer os três filhos de 4, 8 e 11 anos para o Brasil, onde tem emprego formal de pedreiro. Ganha R$ 1,2 mil e todos os meses separa a metade para enviar à irmã que cuida das crianças. Sempre atuando na construção civil desde que desembarcou no Brasil, já desempenhou funções de carpinteiro e de pintor. É assíduo no trabalho, mantém boas relações sociais, respeita hierarquias e teve adaptação tranquila. Pesquisa inédita com a combinação de métodos quantitativo e qualitati-vo, realizada entre julho e novembro de 2013, que traça o perfil da imigração haitiana ao Brasil, divulgada ontem pelos professores da PUC Minas Duval Fernandes e Maria da Consolação Go-mes de Castro e pelo representante da Organização Internacional para as Migrações (OIM) indi-ca que, assim como Marco Comblonini, 30% dos imigrantes haitianos, no Brasil, são absorvidos pela construção civil.

Cerca de 70% dos haitianos que vivem no Brasil estão em idade ativa, entre 18 e 50 anos, são homens, dividem a moradia com outros imigrantes e decidiram migrar por causa do caos e da falta de perspectiva profissional no país caribenho, devastado por um terremoto, de 7 graus na escala Richter, em janeiro de 2010. Pouco mais de 40% dos imigrantes haitianos têm escolari-dade de nível médio completo ou incompleto. “A ideia de que a maioria deles seja analfabeta não é verdadeira, sendo muito pequeno o número dos que não têm nenhuma instrução. Esta-mos ganhando com a presença deles aqui”, afirma Duval.

Segundo o professor Fernandes, a taxa de ocupação dos haitianos é maior do que a dos brasi-leiros. “Em geral essa é a regra entre imigrantes: fazem trabalhos que ninguém quer. Em Porto Velho (RO), por exemplo, 70% dos empregados de uma empresa de coleta de lixo são haitia-nos”, assinala o professor. “A maior parte está trabalhando em condições semelhantes à dos brasileiros”, acrescenta o professor. Assim é com Elson Charles, de 32, há seis meses em Belo Horizonte. Ajudante de jardinagem, com um salário de R$ 1 mil, acaba de conquistar no Depar-tamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) sua carteira de motorista. “Vou ser caminhoneiro”, diz o haitiano, que luta para aumentar seu salário e oferecer uma condição de vida melhor para os três filhos e a mulher que continuam no Haiti. “Um dia ainda vamos nos reunir”, espera ele.

Um pouco diferente é a trajetória de Jean Evens, de 33, há dois anos vivendo em Contagem. Ele veio com a mulher e o filho menor de dois anos, deixando com a mãe, no Haiti, as duas filhas, de 3 e 12 anos. Trabalhou por um ano e sete meses em uma empresa de alimentação como carregador noturno: ganhava entre R$ 1,1 mil e R$ 1,3 mil. Mas há poucos meses a empresa reduziu o quadro e Jean ficou desempregado. Está agora trabalhando, em um “bico”, com car-ga e descarga em uma transportadora. “Quero ficar no Brasil, guardar dinheiro, construir uma casa e trazer as minhas filhas. Aluguel aqui é muito caro”, revela ele, que tem instrução de nível médio e em seu país trabalhava como segurança e pescador do próprio barco.

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Há, no Brasil, cerca de 34 mil haitianos, segundo estimativa Duval Fernandes, que calcula 50 mil até o fim deste ano. No conjunto do fluxo migratório que chega ao país, eles representam 10% do contingente – há quatro anos eles não passavam de duas centenas, mas, no fim de 2011, somavam 4 mil. As estatísticas fazem do Brasil o maior ponto do tráfico de imigrantes haitianos da América do Sul: 75% passam pelo Equador, seguem para o Peru e ingressam no Brasil por Tabatinga e Brasileia, fazendo, na fronteira, o pedido de refúgio. Apenas 5% deles tomam rotas distintas com passagem pela Argentina, Bolívia ou Chile antes de imigrar para o Brasil. Cerca de 20% saem do Haiti com vistos obtidos nos consulados e fazem escala no Panamá, antes de desembarcar nos aeroportos de Belo Horizonte, Brasília ou São Paulo.

“Eles demoram em média 15 dias para chegar ao Brasil e gastam no trajeto cerca de US$ 2,9 mil”, explica o professor Fernandes, considerando ainda que as despesas podem ser mais altas e chegar a mais de US$ 5 mil. “Muitos são cooptados por um poderoso esquema, que se vale de coiotes haitianos, que acenam com promessas de altos salários. As casas são hipotecadas em troca de empréstimos em espécie e do serviço burocrático da viagem”, afirma o pesquisador. “É grande a vulnerabilidade desses 80% de imigrantes que entram no país dessa forma, sobre-tudo pelo Peru”, acrescenta, lembrando que, após o trajeto até a fronteira brasileira, é longo o processo para a regularização da situação migratória: depois de solicitar o refúgio, a abertura do processo leva à emissão de um protocolo que permite ao imigrante a obtenção de carteira de trabalho e CPF provisórios.

Embora estejam em 286 cidades brasileiras, 75% dos haitianos estão concentrados em São Paulo, em torno de 10% em Manaus e 7% – cerca de 3 mil – em Minas Gerais, sobretudo em Belo Horizonte e Esmeraldas e Contagem, ambas na Grande BH. “O Brasil não é mais o país de imigração do início do século nem o país da emigração dos anos 1980. Somos hoje um país de imigração, emigração e trânsito, além dos brasileiros que retornam depois de viver muitos anos no exterior. A questão migratória é atualmente muito maior do que foi no passado”, considera Duval Fernandes. Segundo ele, considerando a redução da taxa de natalidade no país, em 2030, a população brasileira começará a encolher, e mais da metade das aposentadorias serão banca-das pela contribuição dos imigrantes.

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