Dinâmicas de Desenvolvimento de Inovações Tecnológicas e...

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1 Dinâmicas de Desenvolvimento de Inovações Tecnológicas e Negócios nos Projetos do Programa de Incentivo à Inovação (PII-MG) Autoria: Luciana Paula Reis, Carlos Eduardo Guerra Silva, Reynaldo Maia Muniz, Marcelo Bronzo Ladeira, Lin Chih Cheng Resumo Estudo que analisa as dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias em ambiente acadêmico e a consubstanciação dessas em negócios tecnológicos, seja na forma de licenciamentos, seja pela criação de Empresas de Base Tecnológica (EBTs). Por meio da análise de conteúdo de relatórios do PII (Programa de Incentivo à Inovação) de 2007 a 2010, cujos registros remetem às percepções de pesquisadores, empreendedores e agentes de suporte à inovação, buscou-se identificar conceitos e categorias relevantes para descrever tais dinâmicas. A partir de um processo seletivo e relacional envolvendo os conceitos e categorias identificados, foi elaborado um esquema fundamentado nos dados, no qual as dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias e de negócios são posicionadas em relação aos aspectos micro, meso e macro organizacionais, o que possibilita a obtenção de uma visão holística e estratégica sobre a temática. Observa-se que por meio do PII foi criado um ambiente favorável ao desenvolvimento de inovações/negócios tecnológicos, muito embora cada um dos projetos analisados apresente especificidades que ora propulsionam, ora se constituem em fatores obstativos para o alcance do objetivo desse Programa. Dentre outras constatações do estudo, observou-se, no nível micro, o foco difuso de alguns pesquisadores, que ora oscilam em empreender a tecnologia, ora oscilam para o licenciamento, sendo ainda observados conflitos de papéis, onde os pesquisadores, embora pretendam empreender, em certos casos não querem ser vistos como empresários; no nível meso, observou-se a existência de diversos agentes que compõem o campo da inovação tecnológica, cada qual desempenhando papéis específicos, sendo que o PII apresenta características híbridas que o posicionam simultaneamente como governo (pois é um programa da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia) e como um agente de apoio/fomento, amalgamando atividades que vão do suporte à inovação até a criação de uma EBT propriamente dita; no nível macro, foi constatado que disposições legais, econômicas, tecnológicas e culturais da ambiência se constituem em importantes referências para a atuação dos diversos agentes de inovação. De forma a ampliar o potencial das discussões desenvolvidas e sugerir o desenvolvimento de estudos futuros, buscou-se elaborar algumas proposições concernentes à realidade investigada, considerando a interação com algumas perspectivas teóricas, quais sejam: (a) teoria da agência (JENSEN e MECKLING, 1976), (b) visão baseada em recursos (PENROSE, 1995), (c) economia dos custos de transação (WILLIAMSON, 2002) e (d) teoria institucional (DIMAGGIO E POWELL, 1983).

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Dinâmicas de Desenvolvimento de Inovações Tecnológicas e Negócios nos Projetos do Programa de Incentivo à Inovação (PII-MG)

Autoria: Luciana Paula Reis, Carlos Eduardo Guerra Silva, Reynaldo Maia Muniz, Marcelo Bronzo Ladeira,

Lin Chih Cheng

Resumo

Estudo que analisa as dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias em ambiente acadêmico e a consubstanciação dessas em negócios tecnológicos, seja na forma de licenciamentos, seja pela criação de Empresas de Base Tecnológica (EBTs). Por meio da análise de conteúdo de relatórios do PII (Programa de Incentivo à Inovação) de 2007 a 2010, cujos registros remetem às percepções de pesquisadores, empreendedores e agentes de suporte à inovação, buscou-se identificar conceitos e categorias relevantes para descrever tais dinâmicas. A partir de um processo seletivo e relacional envolvendo os conceitos e categorias identificados, foi elaborado um esquema fundamentado nos dados, no qual as dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias e de negócios são posicionadas em relação aos aspectos micro, meso e macro organizacionais, o que possibilita a obtenção de uma visão holística e estratégica sobre a temática. Observa-se que por meio do PII foi criado um ambiente favorável ao desenvolvimento de inovações/negócios tecnológicos, muito embora cada um dos projetos analisados apresente especificidades que ora propulsionam, ora se constituem em fatores obstativos para o alcance do objetivo desse Programa. Dentre outras constatações do estudo, observou-se, no nível micro, o foco difuso de alguns pesquisadores, que ora oscilam em empreender a tecnologia, ora oscilam para o licenciamento, sendo ainda observados conflitos de papéis, onde os pesquisadores, embora pretendam empreender, em certos casos não querem ser vistos como empresários; no nível meso, observou-se a existência de diversos agentes que compõem o campo da inovação tecnológica, cada qual desempenhando papéis específicos, sendo que o PII apresenta características híbridas que o posicionam simultaneamente como governo (pois é um programa da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia) e como um agente de apoio/fomento, amalgamando atividades que vão do suporte à inovação até a criação de uma EBT propriamente dita; no nível macro, foi constatado que disposições legais, econômicas, tecnológicas e culturais da ambiência se constituem em importantes referências para a atuação dos diversos agentes de inovação. De forma a ampliar o potencial das discussões desenvolvidas e sugerir o desenvolvimento de estudos futuros, buscou-se elaborar algumas proposições concernentes à realidade investigada, considerando a interação com algumas perspectivas teóricas, quais sejam: (a) teoria da agência (JENSEN e MECKLING, 1976), (b) visão baseada em recursos (PENROSE, 1995), (c) economia dos custos de transação (WILLIAMSON, 2002) e (d) teoria institucional (DIMAGGIO E POWELL, 1983).

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Introdução Dentre as diversas atividades exercidas pelas universidades, encontra-se a promoção

da pesquisa científica, cuja importância é notável para o desenvolvimento sócio-econômico da nação. A pesquisa científica, quando alinhada com as políticas científico-tecnológicas e articulada no espaço das relações entre universidade e comunidade, possibilita a geração de inovações e a criação de negócios, que potencializam esse desenvolvimento sócio-econômico. Embora não detenha a exclusividade das inovações, “[...] a Universidade ainda é o centro principal de produção do conhecimento em todo o mundo” (FAVA-DE-MORAES, 2000, p.10). No contexto do Massachusetts Institute of Technology (MIT), constata-se que

[...] as empresas criadas por seus alunos ou docentes egressos constituem, sozinhas, a 24ª economia mundial. São 4.000 empresas, com 1,1 milhão de empregados e US$ 232 bilhões de faturamento anual (superior ao PIB de muitos países, como, por exemplo, a Tailândia). Portanto, é enorme o impacto que uma Universidade de Pesquisa (no caso, o MIT) gera nos mais variados aspectos da economia de uma nação (FAVA-DE-MORAES, 2000, p. 8).

No âmbito brasileiro, embora não se tenham números tão precisos da inovação

tecnológica de origem acadêmica, a partir de um conjunto de variáveis que tangencia ora a inovação ora os aspectos de ciência e tecnologia, é possível traçar um panorama nacional: o quantitativo de mestres e doutores dobrou nos últimos dez anos (2001-2010), passando de 26 mil para cerca de 53 mil titulados por ano (CAPES, 2011); a produção acadêmica brasileira responde por 1,5% dos artigos científicos publicados em periódicos internacionais indexados e por 45% da produção científica latino-americana (FINEP, 2006); o crescimento na taxa de inovação da indústria, foi de 31,5% em 2000 para 38,6% em 2008 (IBGE, 2010); os depósitos de pedidos de patentes pelas universidades e instituições de ensino, ao longo dos quinze anos (1990-2004), subiu de cerca de 40 para mais de 200 por ano, sendo ainda notável que dentre os 20 primeiros depositantes do total de patentes, cinco eram universidades (INPI, 2007).

Inserido nesse contexto, o presente estudo analisa as dinâmicas de desenvolvimento de inovações tecnológicas em ambiente acadêmico e a consolidação dessas em negócios, notadamente nas formas de licenciamentos ou de criação de empresas de base tecnológica (EBTs). As EBTs, portanto, referem-se às organizações criadas para explorar comercialmente as tecnologias desenvolvidas nas universidades. Os dados analisados (2007-2010) advêm dos relatórios do PII (Programa de Incentivo à Inovação) e são referentes à implementação nas Universidades Federais de Lavras (UFLA), Juiz de Fora (UFJF) e Minas Gerais (UFMG). Esse programa é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SECTES/MG), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-MG) e universidades e prefeituras locais, que em conjunto buscam promover a inovação tecnológica no ambiente acadêmico.

Apesar de se constatar diversos estudos sobre a inovação no contexto das organizações (MALDONADO, SANTOS e SANTOS, 2010), observa-se que estudos sobre a realidade brasileira e com o foco na inovação em ambiente acadêmico são recentes e ainda estão se consolidando enquanto campo de investigação (CHENG et al., 2004; DRUMMOND et al., 2005; GONÇALVES e PAIVA JR., 2006; LEONEL et. al., 2006; PEREIRA e MUNIZ, 2006; TONELLI e OLIVEIRA, 2007; REIS, 2006, 2007; SERRA et al., 2008).

As dinâmicas de desenvolvimento de inovações tecnológicas e de negócios tecnológicos são descritas nesse artigo ao longo de quatro seções, além deste percurso introdutório. A primeira seção aborda a inovação tecnológica no ambiente acadêmico e sua trajetória para a viabilização de um negócio tecnológico. A segunda seção é dedicada à caracterização da pesquisa e à descrição dos procedimentos metodológicos adotados, que envolvem fundamentalmente a análise de conteúdo e a elaboração de um esquema fundamentado nos dados. Na terceira seção, a partir da interação entre os conceitos e

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categorias identificados, descreve-se o esquema propriamente dito, no qual é evidenciado que as dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias e de negócios tecnológicos são permeadas por uma rede de inovação composta por vários agentes, processos e recursos. Na última seção são tecidas considerações finais que enfatizam as possibilidades de aplicação em novos estudos de proposições elaboradas a partir da interação com algumas perspectivas teóricas, quais sejam: (a) teoria da agência (JENSEN e MECKLING, 1976), (b) Visão Baseada em Recursos (Resource Based View – RBV) (PENROSE, 1995), (c) economia dos custos de transação (WILLIAMSON, 2002) e (d) teoria institucional (DIMAGGIO E POWELL, 1983). Ademais, tem-se em vista que as discussões apresentadas no artigo possibilitarão, tanto aos acadêmicos quanto aos pesquisadores e empreendedores diretamente envolvidos com a inovação em ambiente acadêmico, obterem uma visão holística e estratégica sobre a temática, ainda que a análise desenvolvida circunscreva-se ao Programa de Incentivo à Inovação (PII).

1. Inovação Tecnológica no Ambiente Acadêmico

A inovação tecnológica aplica-se a produtos, processos ou serviços e pode ser entendida a partir da ocorrência de (a) melhoria significativa no desempenho (e. g. trem a vapor => trem bala; freios a disco => freios ABS); (b) redução de características indesejadas (e. g. redução de poluição emitida nos processos industriais; eliminação de gorduras e açúcares na produção de alimentos); e (c) surgimento de novidades anteriormente inexistentes (e. g. Viagra, Biodiesel) (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000).

Não raro, o desenvolvimento da inovação tecnológica ocorre por meio de interfaces entre a universidade e a indústria (ou outros segmentos do mercado), demandando competências diversas que envolvem pesquisa básica e aplicada, desenvolvimento de produtos e processos, controle de qualidade e pesquisa sobre marketing e comercialização (CUNHA, 1999; HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000). Por sua vez, é desejável que as tecnologias desenvolvidas em ambiente acadêmico sejam protegidas por meio de patentes e outros registros, tornando-se negócios principalmente por meio dos licenciamentos ou da criação de empresas de base tecnológica (EBTs). A patente, forma mais comum de proteção da tecnologia, é um título de propriedade industrial sobre a invenção ou modelo de utilidade, um prêmio outorgado pelo Estado como recompensa ao inventor. O registro de patente garante ao inventor certa segurança nas negociações entre ele e a parte interessada em comprar determinada tecnologia, para que possa ser aplicada em algum setor industrial (LOBOSCO, DE MORAES, MACCARI, 2010). As demais formas existentes no contexto brasileiro são os registros de marca, de software ou de desenho industrial (INPI, 2007).

As EBTs de origem acadêmica, também conhecidas como spinoffs acadêmicos, decorrem das tecnologias desenvolvidas nos laboratórios universitários. Nesse sentido, remetem a empresas fundadas por pessoas que estudam ou trabalham na universidade (ROBERTS, 1991) ou ao processo de transformação dos resultados de pesquisas acadêmicas, advindas de laboratórios das universidades, em produtos e negócios tecnológicos (NDONZUAU et al., 2002). Não obstante, além de estarem circunscritas ao ambiente acadêmico, essas EBTs surgem ou pelo licenciamento formal da tecnologia para os empreendedores interessados no mercado em comercializar os produtos oriundos das patentes, ou por meio da transferência de conhecimento tácito, com a participação do pesquisador acadêmico no time de empreendedores. Assim, constituem-se como empresas criadas para explorar a propriedade intelectual desenvolvida nas instituições acadêmicas (O’SHEA, 2007).

O processo de licenciamento tecnológico envolve o repasse de uma inovação tecnológica para uma organização, seja ela pública ou privada (ROGERS et. al., 2001). Essa transferência pode envolver as empresas estabelecidas no mercado ou até mesmo as EBTs que são criadas a partir dessa transferência. No caso das EBT de origem acadêmica, o pesquisador pode ser um dos membros do negócio, se associando ou não a um empreendedor (ou indivíduo com visão de oportunidades), representado por uma pessoa externa à universidade e

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que tem o interesse em viabilizar o empreendimento (ROBERTS & MALONE´S, 1996). Embora as universidades tenham o licenciamento como uma importante fonte de recursos, elas vêm buscando estruturar diretamente as EBTs de OA, como forma de agregar mais valor e aumentar as chances de retorno financeiro sob a comercialização das tecnologias (FRANKLIN et al., 2001). Com efeito, as EBTs são importantes formas de mobilização de recursos e de desenvolvimento sócio-técnico para a própria universidade.

Subjacentes à criação de uma EBT encontram-se diversos fatores, tais como as características individuais dos envolvidos, a configuração organizacional da empresa, os recursos necessários, a ambiência externa e a relação com fornecedores, competidores e clientes, o processo de desenvolvimento do negócio, além do contexto sócio-cultural mais amplo e o da universidade em específico (O’SHEA, 2007). O suporte das universidades na promoção das tecnologias geradas pelos pesquisadores é fundamental para que esses possam sair da inércia para o mercado (nacional ou internacional) em um menor tempo. Esse suporte advém, por exemplo, do apoio dado pelos Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETTs).

Os ETTs surgem como órgãos internos às universidades, especializados em licenciamento e transferência de tecnologias1 para empresas estabelecidas ou empresas nascentes. O licenciamento das tecnologias geradas no âmbito acadêmico para as empresas estabelecidas no mercado é um processo que consiste de várias etapas, assim sintetizadas: pesquisa científica => descoberta da tecnologia => proteção da tecnologia => divulgação da tecnologia para o mercado => negociações => formalização de contrato de licenciamento (SIEGEL et al., 2004). O uso comercial da tecnologia por parte do licenciado implica no pagamento de royalties para universidade. Assim, os ETTs auxiliam os pesquisadores na elaboração de solicitação de patentes, oferecem apoio nas negociações que envolvem a tecnologia, assim como elaboram contratos e convênios com as organizações de mercado. Como mencionado, também oferecem apoio à criação de novas EBTs, comumente por meio de incubadoras de empresas e parques tecnológicos (CONDE & SANTOS, 1999).

Algumas instituições estão buscando criar esquemas apropriados de suporte ao financiamento de capital semente, com rodadas de investimentos vindos do setor público ou privado, o que aumenta as chances de sucesso das EBTs. As políticas de fomento à inovação possuem presença significativa no ambiente acadêmico. Boa parte dos recursos destinados aos investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) são comumentes oriundos de fontes de recursos governamentais, demonstrando a importância do setor público e das políticas públicas no incentivo à inovação (GALLON, REINA, ENSSLIN, 2010).

Embora seja crucial a habilidade das universidades em gerar de forma bem sucedida as EBTs, diversas restrições e regulamentações internas podem afetar esse objetivo. As limitações são manifestas, por exemplo, na falta de um entendimento sobre as leis que impactam na inovação, em incentivos tímidos para que os pesquisadores gerem novos empreendimentos, ou até mesmo em conflitos desses próprios pesquisadores perante o desafio do processo empreendedor e da carreira acadêmica (ROBERTS, 1991).

Como observado, as dinâmicas que envolvem o desenvolvimento de tecnologias e a geração de negócios tecnológicos em ambiente acadêmico são bastante complexas, sendo que a compreensão de suas sutilezas constitui-se em fator distintivo não só para o desenvolvimento de tecnologias e empreendimentos bem sucedidos, como também para a avaliação das políticas científico-tecnológicas e da articulação das universidades e de seus pesquisadores com o campo que constitui o seu entorno. Nesse sentido, por meio da análise de conteúdo, foram investigados os relatórios do PII (Programa de Incentivo à Inovação), buscando identificar categorias e conceitos que sejam centrais para a compreensão de tais dinâmicas, que nesse caso são potencializadas por uma política pública. Os procedimentos metodológicos adotados para esse fim estão demonstrados na próxima seção.

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2. Metodologia e Caracterização da Pesquisa O Programa de Incentivo à Inovação (PII) é uma iniciativa da SECTES/MG, em

parceria com o SEBRAE-MG e universidades e prefeituras locais, que em conjunto buscam promover a inovação tecnológica. O PII conta ainda com o suporte do Núcleo da Tecnologia da Qualidade e da Inovação (NTQI) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que fornece assessoramento técnico, metodológico e de gestão para o desenvolvimento do Programa. Espera-se, como principal resultado do PII, a geração de

[...] proteções e transferências de tecnologia tanto por licenciamentos quanto, preferencialmente, pela abertura de novas empresas (ie. Empresas Nascentes de Base Tecnológica de Origem Acadêmica – ENBTs de OA). Nesse sentido, o apoio, gerencial e financeiro, a projetos inovadores existentes [...] é o fundamento do Programa, com base no qual se visa dar suporte ao desenvolvimento tanto de documentos (eg. Plano Tecnológico – PTec) quanto de testes, protótipos e aumentos de produção que favoreçam a proteção e a transferência (PII, 2009, p.3).

Entre os anos de 2007 (início do programa) e 2010, foram implementados vários PIIs

em Universidades Federais como a de Lavas (UFLA), Itajubá (UNIFEI), Juiz de Fora (UFJF), Viçosa (UFV), e Minas Gerais (UFMG). Em consonância com os propósitos deste artigo, foram selecionados para análise os relatórios do PII UFLA/UFJF/UFMG, por representarem a evolução da metodologia do programa ao longo do tempo. O PII é dividido em duas fases, sendo a primeira para a elaboração dos Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica, Comercial, Impacto Ambiental e Social (EVTECIAS) e, a segunda, para o desenvolvimento do protótipo e plano tecnológico. Cada PII contemplou 20 projetos na primeira fase, totalizando 60 projetos. A segunda fase totalizou 37 projetos (13 UFLA, 14 UFJF e 10 UFMG). Desse total, foram analisados 22 projetos, conforme apresentado no QUADRO 1.

Quadro 1: Caracterização dos PIIs e Projetos Analisados.

Período Projetos Analisados Detalhe dos Projetos

Prod

uto

Proc

esso

2 So

ftwar

e

Proj. Nematóides Nematóides para controle biológico de pragas. x Proj. Alface Alface de folhas lisas, resistente a nematóides e tolerante ao calor. x Proj. Leveduras Leveduras selecionadas para a produção de cachaça de qualidade. x Proj. Bioativador do Solo

Blend com uma concentração específica entre o Lithothamnium e o Biotech com alto valor agregado e com função ativadora. x

Proj. Sêmen Bio-speckle laser como quantificador de atividade biológica em sêmen animal. x Proj. Sementes Híbridas de Milho

Produção de sementes híbridas de milho. x Proj. Couro Recuperação do cromo. x Proj. Propagação Veget. de Cafeeiros

Protocolo para propagação vegetativa de cafeeiros (Coffea arábica L.) por meio de estacas caulinares. x

UFL

A

2007 a 2008

Proj. Bioprotetor do Café

Aplicação de um agente como bioprotetor de café e de seus metabólicos na ind. Alimentos. x

Proj. Handgrip Avaliação da força de preensão da mão. x xProj. Kit Estéril Kit estéril e descartável para a realização da estereotaxia (procedimento

radiográfico para marcação de lesões mamárias). x Proj. Fluxômetro de Urina

Fluxômetro portátil que utiliza a variação da capacidade elétrica para determinar o volume da urina. x x

Proj. Água no Leite Verificação da porcentagem de água no leite por meio da medição da condutividade elétrica. x

Proj. Tacômetro Equipamento para a medição do nível de balanceamento de máquinas rotativas. x Proj. Reator Reator eletrônico de baixo custo que propicia correntes elétricas em alta

freqüência, a partir da rede elétrica de baixa freqüência. x Proj. Pavimentos Processo para a detecção de defeitos em pavimentos asfálticos com a utilização

de imagens. x x

UFJ

F

2007 a 2009

Proj. Modem PLC Dispositivo de transmissão digital - voz, dados e vídeo - através das redes de distribuição de energia elétrica: PLC x

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Proj. Órtese Próteses/órteses são aparelhos que auxiliam as funções prejudicadas de membros de indivíduos portadores de deficiência física. x

Proj. Vidros Bioativos

Materiais capazes de se ligar ao tecido ósseo propiciando a mineralização do tecido e sua regeneração. x

Proj. Sensor Tecnologia (Chip) de Redes de Sensores dedicados sem Fio (RSSF). x Proj. Monitoramento Sistema de controle de cargas elétricas de baixo custo e fácil instalação. x x

UFM

G

2009 a 2010

Proj. Prontuário Eletrônico

Software de Registro Eletrônico em Saúde (RES) que possui um conjunto de módulos com várias funcionalidades. x

Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos PIIs UFLA/UFJF/UFMG.

Os relatórios do PII são elaborados pelos analistas do NTQI, que também acompanham e oferecem suporte ao desenvolvimento dos projetos. Ademais, remetem às percepções de pesquisadores, empreendedores e agentes de suporte à inovação.

O material selecionado foi submetido à análise de conteúdo. Para Vergara (2005, p.15), essa é uma técnica “para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”, que neste artigo refere-se às dinâmicas subjacentes ao desenvolvimento de tecnologias e aos negócios tecnológicos nos projetos do Programa de Incentivo à Inovação (PII-MG). A análise de conteúdo compreende três etapas básicas: (a) pré-análise; (b) exploração do material; e (c) tratamento dos dados e interpretação.

A pré-análise refere-se à seleção do material propriamente dito, que no caso dos relatórios do PII, foram obtidos junto ao NTQI. A exploração do material remete ao alinhamento do conteúdo do texto com os objetivos da pesquisa. Bardin (1977, p.9) salienta que o conteúdo é analisado de forma a substituir a leitura “normal” – no caso aquela inicialmente realizada nos relatórios – pela leitura do analista, que é atraído pelo “[...] potencial de inédito (do não-dito), retido por qualquer mensagem”. Salienta-se que foram selecionados e explorados apenas os conteúdos alinhados com a temática em estudo, sendo que os relatórios do PII apresentam-se mais amplos e dispõem de informações que extrapolam a aplicação a eles conferida por este artigo.

O tratamento e a interpretação dos dados ocorrem simultaneamente, tendo em vista a geração iterativa de conceitos e categorias de análise que, por sua vez, são submetidos a um processo seletivo e relacional, tendo em vista a elaboração de descrições ou teorias sobre o tema em questão. Assim, os conceitos e categorias analisados, bem como a relação entre eles, foram consubstanciados no esquema apresentado na seção seguinte (FIG. 1). Salienta-se que as informações se referem a uma amostra, cujas relações observadas não necessariamente são representativas de todo o campo. Ou seja, nem todos os conceitos, categorias e respectivas relações se aplicam simultaneamente ao contexto individual de cada projeto analisado.

Salienta-se que foram utilizados para a análise de conteúdo e para a elaboração do esquema os softwares NVivo 8 e CmapsTools3.

3. Do Desenvolvimento de Tecnologias aos Negócios Tecnológicos nos Projetos do Programa de Incentivo à Inovação (PII-MG)

As dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias em ambiente acadêmico e a consubstanciação dessas em negócios tecnológicos, seja na forma de licenciamentos, seja por meio da criação de empresas de base tecnológica (EBTs), envolve uma rede de inovação composta por vários agentes, processos e recursos, cuja interação gera configurações diversas que contribuem para o sucesso ou fracasso dos negócios tecnológicos. Conforme ilustra a FIG. 1, esses elementos foram agrupados em três níveis de análise – micro, meso e macro – baseando-se no modelo de Djokovic & Souitaris (2008)4. Os tópicos seguintes abordam cada um desses agentes, processos e recursos, considerando os respectivos níveis nos quais foram posicionados. Salienta-se que alguns elementos centrais foram identificados por números (1, 2, 3 e 4), de forma a facilitar a localização dos mesmos na figura. Ademais, os elementos representados pelas letras (a) contratos, (b) recursos, (c) custos de transação e (d) campo organizacional serão abordados na seção seguinte, que trata da ampliação das possibilidades analíticas por meio da interação com múltiplas perspectivas teóricas.

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Figura 1: Dinâmicas de Desenvolvimento de Tecnologias e de Negócios Tecnológicos nos Projetos do PII-MG. Fonte: Elaborado pelos autores. 3.1. Nível Micro

O nível micro compreende os processos, recursos, pessoas e informações que são articulados num primeiro momento, para o suporte e o desenvolvimento da tecnologia (1). Antes de se tornar negócio, busca-se alguma forma de proteção da tecnologia (2). Por sua vez, a tecnologia pode ser licenciada para outras empresas já estabelecidas no mercado (3), ou os pesquisadores que a desenvolveram podem optar pela criação de uma EBT (4).

O desenvolvimento da tecnologia (1) ocorre nos ambientes acadêmicos, tendo à frente pesquisadores que mobilizam conhecimentos/experiências e recursos diversos, num cenário de incertezas e complexidades, onde nem mesmo se pode garantir que a tecnologia gerará algum tipo de negócio. As tecnologias desenvolvidas pertencem às diversas áreas de conhecimento, tais como a área de ciências biológicas, em especial a área de saúde humana e animal, como o Proj. Kit Estéril, Proj. Fluxômetro de Urina, Proj. Órtese, Proj. Vidros Bioativos; a área de ciências exatas, como o Proj. Água no Leite, Proj. Tacômetro; a área de ciências aplicadas, como o Proj. Reator, Proj. Sensor, dentre outras. Os projetos, em sua

Nível Macro

Nível Meso

Nível Micro

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maioria, envolvem tecnologias de produtos e processos e, em alguns casos, o desenvolvimento de softwares (ver Quadro 1).

Os processos percorridos desde o desenvolvimento da tecnologia ao estabelecimento do negócio apresentam-se distintos em cada projeto. Em casos como o do Proj. Kit Estéril, o desenvolvimento da tecnologia se deu ao longo da tese de doutorado do pesquisador e culminou, logo em seguida, em um licenciamento. Já no Proj. Handgrip, observa-se um período de cerca de 20 anos entre o desenvolvimento do primeiro protótipo da tecnologia, iniciando-se na dissertação de mestrado do pesquisador (1989), passando por sua tese de doutorado e por desdobramentos posteriores, gerando, por fim, uma EBT (SensorMed).

Para aumentar as chances de sucesso na concepção da tecnologia, os pesquisadores são assessorados pelo Processo de Planejamento Tecnológico (PPTec). O PPTec direciona as atividades a serem realizadas durante o desenvolvimento da tecnologia5, culminando no plano tecnológico e no protótipo comercial. Durante as diversas fases do PPTec, os pesquisadores gerenciam pessoas (na maioria alunos de graduação, mestrado e doutorado), além de recursos como máquinas, equipamentos e insumos necessários para a pesquisa.

Quando gerada, a tecnologia será submetida a alguma forma de proteção (2). A preocupação com a proteção da tecnologia pode ser constatada no Proj. Bioprotetor, no qual os pesquisadores mostraram certa resistência inicial para disponibilizar para a equipe do PII as informações referentes à tecnologia, visto que a mesma estava passando pelo processo de proteção intelectual no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Salienta-se que nem sempre a constituição de uma EBT é a melhor opção de negócio, sendo bastante comum a prática de licenciamento da tecnologia para empresas estabelecidas no mercado. Depois de desenvolvida e protegida, caso a opção seja o licenciamento de tecnologia (3), é necessário identificar e estabelecer negociações com possíveis empresas interessadas. O processo mais comum envolve a licitação, em que o escritório de transferência da universidade (ETT) se responsabiliza tanto pelas negociações quanto pela formalização dos acordos. Não obstante, pode ocorrer de os pesquisadores fazerem uso de seus próprios networkings para encontrar as empresas mais adequadas para estabelecerem contratos de licenciamento. No Proj. Alface, o pesquisador iniciou esse processo com a empresa SAKATA, com a qual tinha um contato próximo. A relação de confiança previamente existente entre as partes fornecia certa garantia ao pesquisador, visto que sua tecnologia não poderia ser patenteada, necessitando apenas do registro da cultivar no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em outros contextos, como no Proj. Leveduras, a transferência alcança dimensões mais complexas e distantes do pesquisador, visto que apenas empresas canadenses e chinesas dispunham do maquinário necessário para aplicação da tecnologia; no Brasil, foram identificadas duas empresas (LFN Latino Americana e Fermentec) que subcontratavam as empresas canadenses e chinesas, sendo que uma delas se mostrou interessada em obter a tecnologia.

Já a opção pela criação de uma EBT (4) coloca o pesquisador numa posição de empreendedor. Os pesquisadores-empreendedores, comumente em conjunto com as equipes de suporte das universidades e de outros órgãos de apoio, necessitam gerenciar os recursos, sejam eles financeiros, tecnológicos ou pessoas, articulando-os com seus conhecimentos e experiências, num cenário de incertezas e complexidades bastante distinto daquele que envolvia tão somente o desenvolvimento da tecnologia. Observa-se que muitas das equipes que se encontravam em configurações ideais para o desenvolvimento da tecnologia, mostram-se insuficientes (em termo qualitativos e quantitativos) para levar a cabo um empreendimento. Ademais, suas redes de relacionamentos estavam geralmente voltadas para o ambiente acadêmico, necessitando de premente orientação para o mercado. Nesse sentido, para aumentar as chances de uma tecnologia gerar uma EBT, os pesquisadores-empreendedores são assessorados não só pelo PPTec (vide observações anteriores), como também pelo

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Processo de Planejamento do Negócio (PPNeg)6. O PPNeg possibilita o desenvolvimento dos processos organizacionais que comporão o negócio tecnológico, com vistas à configuração de um produto e à definição de um modelo de negócio adequado para a exploração comercial da tecnologia desenvolvida nos laboratórios das universidades. Nesse processo também está incluída a análise da viabilidade técnica, econômica, comercial, impacto ambiental e social (EVTECIAS), que explicita os principais dados que serão requisitados para a posterior avaliação dos projetos pelos potenciais investidores, futuros parceiros e agências de patentes.

Dentre algumas das EBTs criadas a partir de projetos do PII, menciona-se a empresa SensorMed (decorrente do Proj. Handgrip), responsável pela montagem direta dos equipamentos (dinamômetro manual, capaz de medir a força do indivíduo) e sua distribuição no mercado. No Proj. Bioprotetor do Café, empreender significou construir uma biofábrica para a produção dos agentes biológicos, que são biocontroladores de fungos prejudiciais à qualidade do café. Já no Proj. Sêmen, inicialmente pretendeu-se comercializar um equipamento para centrais de certificação de sêmen bovino; todavia, a configuração final do negócio foi modificada de produto para serviço, a partir da criação de laboratório que realizaria os testes de certificação de sêmen para as centrais.

A dinâmica entre licenciamento ou criação de EBTs, por vezes, ultrapassa a dimensão técnica e processual do negócio. Não raro, constata-se o foco difuso de alguns pesquisadores, que ora oscilam em empreender a tecnologia, ora oscilam para o licenciamento. Outras vezes surgem conflitos de papéis, onde os pesquisadores, embora pretendam empreender, não querem ser vistos como empresários. Enquanto somente pesquisadores, observa-se uma tendência de que as informações das tecnologias estejam neles centralizadas, em função não só de uma possível característica pessoal, mas também em função do sigilo que precede a proteção da tecnologia. Em alguns casos, essa centralização leva à interrupção de projetos, como ocorrido com um pesquisador que assumiu um cargo no CNPq e não nomeou/indicou alguém para dar continuidade às atividades.

É sugestivo que algumas características sejam comuns a esses dois grupos, notadamente que ambos lidam com incertezas e complexidades, onde a dedicação à idéia (inovação tecnológica) representa fator distintivo para o sucesso subseqüente. Ambos os grupos também lidam com a gestão de recursos diversos, articulados em torno de seus conhecimentos e expertises. Todavia, observa-se uma considerável distância entre a expertise/ conhecimento acadêmico e aquele demandado pela ação empreendedora. Ademais, observa-se que a amalgama pesquisador-empreendedor só se completa quando os indivíduos possuem como características intrínsecas a visão de oportunidades e a disposição para assumir riscos.

Como se observa, cada um dos projetos analisados apresenta especificidades que ora propulsionam, ora se constituem em fatores obstativos para o desenvolvimento de inovações/negócios tecnológicos. O Quadro 2 apresenta uma síntese dos resultados alcançados, considerando patente finalizadas, patentes em andamento, EBTs criadas e licenciamentos realizados. Ademais, também é apresentada a proporção desses resultados em relação ao total de projetos do PII (1ª e 2ª etapas)7.

Quadro 2: Síntese dos Resultados do PII

UFLA UFJF UFMG Total

% sobre os proj. da 1ª etapa (60)

% sobre proj. da 2ª etapa (37)

Patentes depositadas 6 13 6 25

42% 68% Patentes em andamento 0 0 2 2

3% 5%

EBT 5 5 3 13

22% 35% Licenciamento 4 6 0 10

17% 27%

Fonte: Elaborado pelos autores. Embora os elementos subjacentes ao nível micro possibilitem a compreensão das

dinâmicas das inovações tecnológicas e o caminho percorrido até que sejam licenciadas ou

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direcionadas para a criação de EBTs, observa-se a interação dos mesmos com outros elementos posicionados nos demais níveis (meso/macro) da ambiência, os quais serão explorados a seguir. Salienta-se que são evidenciadas apenas algumas relações, dentre uma constelação de relações possíveis que podem ocorrer entre os diversos elementos abordados.

3.2. Nível Meso O nível meso envolve os agentes que compõem o campo organizacional e que

desempenham papéis distintos, relacionados com atividades que vão do suporte à inovação até a criação de uma EBT propriamente dita. A dinâmica de operação desse nível guarda estrita consonância com as configurações dos elementos do nível micro e com as disposições encontradas no nível macro. De modo geral, são considerados como os principais agentes8 que compõem o campo: clientes, concorrentes, parceiros, fornecedores, entidades de apoio e fomento, governo, agências reguladoras e universidades.

a) Clientes Representam o público consumidor dos produtos e serviços decorrentes das

tecnologias desenvolvidas, sendo identificados pela segmentação do mercado. Em função das distintas tecnologias, os clientes variam bastante em cada projeto. No Proj. Nematóides os clientes potenciais são os produtores de alimentos orgânicos; no Proj. Sêmen, as centrais certificadoras de sêmen bovino. O Proj. Handigrip apresentou uma segmentação bastante variada, que vai desde clientes primários (hospitais, clínicas, unidades de exames de habilitação), secundários (fisioterapeutas, ortopedistas, profs. de educação física), terciários (academias, clubes, times) e canais diretos de business to business – B-to-B (fabricantes de esteiras ergométricas e bicicletas).

b) Concorrentes São as empresas que oferecem produtos e serviços similares ou substitutos e que

competem pelo mesmo nicho de mercado. As informações dos preços praticados, do porte das empresas e da análise de forças contribuem para a definição do posicionamento estratégico das tecnologias. Se por um lado o Proj. Handgrip apresenta um alto potencial de clientes, por outro, constata-se que existe um grande número de empresas que comercializam produtos similares, gerando um cenário que se aproxima de uma “concorrência perfeita”. No Proj. Sementes Híbridas de Milho, a concorrência constitui-se num contingente mais específico de empresas (Monsanto, Pionner, Agroceres, Syngenta e Embrapa). Alguns projetos, por serem muito inovadores, apresentam somente concorrentes indiretos, como é o caso do Proj. Kit Estéril, que inclusive conquistou o 1o lugar no Austin Technology Incubator Challenge.

c) Parceiros São organizações que apresentam características alinhadas à tecnologia ou ao negócio, de forma que algum objetivo comum possa ser estabelecido. As parcerias podem se manifestar de diversas formas. Para o desenvolvimento de sua tecnologia, o Proj. Handgrip necessitou estabelecer parceria com a empresa EMG System – Eletromiografia e Biofeedback – sediada inclusive em outro Estado (SP). Considera-se o licenciamento da tecnologia como uma espécie de parceria, como ocorrido entre o Proj. Alface e a empresa SAKATA. A empresa Wisecomm do Proj. Health Care firmou a parceria com a UFVJM (Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri) para o desenvolvimento de um sistema de monitoramento para agricultura de precisão; com a empresa GeoTech, para o desenvolvimento de produtos para uma plataforma de continuidade do cuidado; e com a empresa Axoon para o desenvolvimento do chip para equipamentos médicos.

d) Fornecedores Os fornecedores oferecem algum tipo de matéria-prima ou produto incorporado pela

tecnologia. O Proj. Handgrip necessita de fornecedores para a fabricação de empunhaduras e

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sensores que compõem seu equipamento final. No Proj. Sementes Híbridas de Milho, o fornecedor assume a terceirização de parte do processo de beneficiamento de sementes, já que não se dispõe de todo o equipamento necessário para a implementação da tecnologia. Em outros projetos, os produtos dos fornecedores são comercializados simultaneamente com a tecnologia em questão, como é o caso do Proj. Prontuário, em que o software desenvolvido só é entregue para o cliente juntamente com a hospedagem em um servidor web (responsável pelo armazenamento de páginas do software) do fornecedor do projeto.

e) Agências Reguladoras Órgãos governamentais que têm por finalidade regular e/ou fiscalizar a atividade de

empresas que atuam em determinado setor, muitas vezes exigindo testes e registros que garantam a eficiência dos produtos ou o controle dos impactos destes sobre o homem e o meio ambiente. Essas regulamentações são muito comuns principalmente para produtos da área química, farmacológica e biológica. Para que a empresa oriunda do Proj. Vidros Bioativos entrasse efetivamente em funcionamento, foi necessária a Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE), concedida pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), contendo permissão para que exerça atividades sob regime de Vigilância Sanitária; obtenção do Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF), também expedido pela ANVISA e referente aos produtos enquadrados nas classes de maior risco; obtenção de certificado ou laudo de conformidade do produto, de acordo com exigências da legislação sanitária vigente; registro de produto de saúde conforme especificações da legislação sanitária vigente. As empresas somente poderão iniciar suas atividades após a publicação, pela ANVISA, da Autorização de Funcionamento no Diário Oficial da União. Situação análoga ocorreu com o Proj. Sementes Híbridas de Milho, que necessitou de registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

f) Entidades de Apoio/Fomento De origem tanto pública quanto privada, oferecem apoio/fomento das mais diversas

naturezas, desde o desenvolvimento das pesquisas até o estabelecimento dos negócios. Tal apoio/fomento ocorre comumente por meio da disponibilização de recursos para a aquisição de insumos, equipamentos, bolsas de pesquisas. Para o desenvolvimento da tecnologia em grande parte dos projetos é comum o apoio/fomento de entidades públicas como o CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) ou as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPEMIG, FAPESP, FAPERJ, etc.). Já em relação ao apoio ao desenvolvimento e estruturação do negócio, observa-se a atuação mais freqüente de entidades tanto públicas quanto privadas. Dentre as públicas, mencionam-se a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), as Secretarias Estaduais de Ciência e Tecnologia (no caso do PII, a SECTES-MG), os bancos de desenvolvimento (BNDES, BDMG, etc.), dentre outros. Dentre as entidades privadas, destaca-se o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o FIR Capital, que gerencia fundos de capital empreendedor (venture capital) para investimentos em empresas nascentes, emergentes ou em expansão. Existem diferentes tipos de investidores privados para os diferentes níveis de desenvolvimento do negócio, como os angels e fundos de capital semente para as empresas que se encontram nos estágios iniciais, além dos privaty equities, quando a empresa já está mais consolidada. Além desses investidores, existem empresas privadas no mercado com interesse no desenvolvimento de novas tecnologias para a melhoria de seu portfólio de produtos ou de seus processos industriais. O Proj Modem PLC recebeu um significativo investimento da CEMIG para o desenvolvimento da tecnologia, que consiste em um dispositivo de comunicação digital de transmissão de dados multimídia – voz, dados e vídeo – por meio das redes de distribuição de energia elétrica: PLC ou Power Line Comunications.

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g) Governo9 Elabora e implementa, em suas diversas instâncias, políticas e programas de incentivo

e apoio à inovação, muito embora sua extensão e importância se desdobre em contextos outros como aqueles relacionados com as agências reguladoras, entidades de apoio/fomento e as próprias universidades nas quais as tecnologias são geradas (ver respectivos itens nessa seção). O PII (Programa de Incentivo à Inovação), p. ex., é um programa do Governo de Minas Gerais, desenvolvido por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SECTES/MG), em parceria com o SEBRAE Minas, universidades e outros agentes locais. Outro programa governamental de âmbito nacional é o PRIME (Primeira Empresa Inovadora), que oferece apoio a empresas com até dois anos de vida, tendo em vista o desenvolvimento e inserção no mercado de produtos inovadores. O PRIME é coordenado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), uma empresa pública vinculada ao MCT (Ministério da Ciência e tecnologia). Também está no escopo da atuação governamental a criação de incentivos, redução ou isenção de impostos para empresas que desenvolvam produtos e serviços tecnológicos, dentre outros.

h) Universidades Desenvolvem as pesquisas e as tecnologias. As universidades, além de

disponibilizarem os pesquisadores, fornecerem a infra-estrutura laboratorial e os insumos para o desenvolvimento das tecnologias, também possuem estruturas de suporte à inovação, como os parques tecnológicos, as incubadoras e os escritórios de transferência de tecnologia, que no conjunto promovem um ambiente favorável ao compartilhamento de recursos e conhecimentos, aumentando as possibilidades de êxito dos negócios. No caso do PII, as incubadores dão suporte ao desenvolvimento das tecnologias e negócios por meio de processos como o PPTec e o PPNeg. Por sua vez, os negócios gerados na incubadora alimentam os parques tecnológicos das universidades. O Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT), denominado NIT (Núcleo de Inovação e Transferência) no contexto analisado, encarrega-se da proteção intelectual e de negociações das tecnologias com interessados no mercado. Todos os relatórios do PII evidenciam que o envolvimento das pró-reitorias de pesquisa, dos ETTs e das incubadoras constitui um fator interveniente nos resultados de inovação. Não obstante toda essa estrutura, os pesquisadores constituem importantes agentes que também iniciam o processo de geração de tecnologias, podendo também se tornar empreendedores ao constituírem as EBTs10.

3.1. Nível Macro

O nível macro refere-se aos aspectos mais estruturais que interferem nas dinâmicas organizacionais e, em última instância, inclusive na forma de pensar e agir dos indivíduos. O nível macro, tal como considerado neste artigo, envolve os aspectos legais, econômicos, tecnológicos e culturais.

a) Aspectos Legais Os aspectos legais representam as leis, regulamentações e registros impostos pelo

governo ou órgãos competentes. No contexto da inovação, a Lei do Bem (nº 11.196/ 2005), consolidou os incentivos fiscais que as pessoas jurídicas podem usufruir desde que realizem pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica. A Lei da Inovação (nº 10.973/2004) estabeleceu medidas de incentivo à pesquisa e à inovação, além de ter determinado os mecanismos de gestão para as instituições científicas e tecnológicas. Quando uma tecnologia é gerada, uma primeira interação com os aspectos legais se dá diante da possibilidade de protegê-la, sob a égide da Lei nº 9.279/1996, que regula a propriedade industrial. O licenciamento da tecnologia para terceiros é mediado também pela Lei da Inovação (nº 10.973/2004). Já a criação de uma EBT demandará a constituição jurídica de

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uma empresa, em conformidade com a lei 10.406/2002 (Código Civil que regula a constituição de pessoas jurídicas). Ademais, a EBT necessitará obter outros registros em diversos órgãos para poder comercializar a tecnologia11. O Proj. Alface optou por transferir para terceiros, via licenciamento, o direito comercial de explorar a tecnologia desenvolvida. De forma distinta, no Proj. Handgrip, optou-se pela criação da empresa SensorMed. A SensorMed necessitou obter o registro do CNPJ, registro de inscrição estadual, autorização de nota fiscal, certificação ANVISA do produto, além do registro no INPI da patente e marca “Handgrip”, só para citar as principais interações com os aspectos legais que estão subjacentes à criação de uma EBT.

b) Aspectos Econômicos Os aspectos econômicos referem-se às condições econômicas do país, como as taxas

de câmbio, taxa de crescimento do mercado, infra-estrutura para a comercialização. De uma maneira geral, todos os projetos passam por uma análise econômica, onde se busca identificar o potencial retorno a ser obtido num dado horizonte de tempo. Essa análise é crucial, notadamente nos casos em que se vislumbre comercializar a tecnologia a partir de uma EBT a ser criada pelo pesquisador. Os projetos do PII de Lavras, com tecnologias voltadas para a agricultura, possuíam grande oscilação de demanda e preço, decorrente ora devido à sazonalidade do cultivo (Proj. Sementes Híbridas de Milho), ora às características de produtos relacionados à exportação e ao capital especulativo como cultura do café (Proj. Bioprotetor de Café e o Proj. Propagação Vegetativa de Cafeeiros), ou ainda devido a algumas tecnologias substituírem produtos importados, distribuídos por grandes multinacionais (Proj. Bioativador do Solo, Proj. Nematóides).

c) Aspectos Tecnológicos Os aspectos tecnológicos dizem respeito aos processos, técnicas, métodos e

instrumentos já existentes ou em desenvolvimento, com os quais a tecnologia em questão se relaciona. A partir do levantamento desses aspectos, é possível delinear as características da tecnologia que se busca desenvolver, seu grau de inovação, diferencial competitivo, dentre outros. No caso do PII, por se tratarem de projetos que envolvem a pesquisa acadêmica de desenvolvimento tecnológico, tais aspectos são intrínsecos à dinâmica da inovação. A falta de um aparato tecnológico que dê suporte à inovação dificulta a comercialização do produto, a exemplo do Proj. Sementes Híbridas de Milho, que não dispunha de equipamento próprio de beneficiamento de sementes, necessitando terceirizar parte do processo de produção. No caso do Proj. Couro, não se conhecia no mercado nenhum equipamento capaz de implementar em larga escala a tecnologia desenvolvida, constituindo-se num gargalo tecnológico que necessitou de desenvolvimento de tecnologias complementares.

d) Aspectos Culturais Os aspectos culturais referem-se ao conjunto de características, conhecimentos e

valores que fazem parte da sociedade e que implicam de diversas formas nas tecnologias desenvolvidas. No Proj. Nematóides, um ponto relacionado à entrada no mercado remeteu à resistência de clientes, que podiam associar os nematóides (semelhantes a minhocas) a pragas, além do fato do mercado de produtos orgânicos ainda representar um mercado incipiente e restrito devido ao preço mais elevado em comparação aos produtos convencionais. O Proj. Sêmen necessitou considerar que no contexto de inseminação artificial bovina, aspectos culturais ligados à certificação de sêmen (“maquiagem” do sêmen) remetem à importância da opinião das centrais sobre qualidade do sêmen, impossibilitando a comercialização direta para os criadores. Os aspectos culturais podem interferir inclusive na probabilidade de que um pesquisador se tornar um empreendedor.

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4. Considerações Finais Os relatórios do Programa de Incentivo à Inovação (PII) constituem-se na principal

base empírica deste artigo. Como mencionado, foram selecionados desse material apenas os conteúdos alinhados com a temática em estudo, sendo que os relatórios do PII apresentam-se mais amplos e dispõem de informações que extrapolam a aplicação a eles conferida por este artigo, constituindo-se assim em relevante fonte de informação secundária. Nesse sentido, tem-se a expectativa de que o presente artigo incentive outros pesquisadores a explorarem as possibilidades de análise de dados secundários, somando esforços com outros estudos que também fizeram uso desse artifício no contexto da inovação tecnológica (PACAGNELLA JR. et al. 2006; RUTHES et al. 2006). Sobremaneira, uma das vantagens dessa aplicação é o fato de os dados já terem sido coletados, o que além de se constituir num procedimento econômico, possibilita ao pesquisador maior alocação de seu tempo ao tratamento e à análise das informações. Não obstante, há que se considerar que os dados secundários geram certas restrições por não terem sido coletados com a finalidade da análise proposta, constituindo-se esta como uma das limitações deste estudo. Nesse sentido, sugere-se que novos estudos sejam desenvolvidos a partir da coleta de dados primários que busquem ampliar a compreensão das dinâmicas de desenvolvimento de tecnologias em ambiente acadêmico e a consubstanciação dessas em negócios tecnológicos.

Com o intuito de ampliar o potencial de alcance de algumas das discussões desenvolvidas na seção anterior, buscou-se relacioná-las com os pressupostos centrais das seguintes perspectivas teóricas12: (a) teoria da agência (JENSEN e MECKLING, 1976), (b) visão baseada em recursos – VBR (PENROSE, 1995), (c) economia dos custos de transação (WILLIAMSON, 2002) e (d) teoria institucional (DIMAGGIO E POWELL, 1983).

(a) Teoria da agência: a relação de agência constitui-se num contrato onde um “principal” contrata um “agente” para executar um serviço em seu nome, delegando a esse, algum tipo de responsabilidade ou tomada de decisão. No caso do PII, o Programa se constitui como o principal e, a universidade, como o agente; a universidade, por sua vez, delega aos pesquisadores a responsabilidade pela execução do contrato. Como forma de limitar as divergências e minimizar as incertezas do contrato, o PII realiza periodicamente o monitoramente dos projetos financiados.

(b) Visão Baseada em Recursos: os recursos que se mostram adequados para o desenvolvimento da tecnologia no ambiente acadêmico podem se representar como restritos – ou até mesmo inadequados – para o desenvolvimento de negócios (EBTs), implicando na dinâmica de ajuste dos recursos entre esses dois ambientes, sendo o PII um relevante intermediador para a adequada alocação de tais recursos.

(c) Economia dos Custos de Transação: caso os custos de transação relacionados com as inovações tecnológicas possibilitem sua produção e distribuição por meio da hierarquia, ocorre a constituição de uma EBT; casos os custos sejam impeditivos, busca-se por meio de transações com o mercado, licenciar a tecnologia para alguma empresa já estabelecida. Considerando essa dinâmica, o PII constitui-se como uma política pública que, em parte, minimiza diversos custos de transação, ao criar uma estrutura híbrida que internaliza (por meio de incentivos e subsídios) diversas transações que seriam coordenadas tão somente pelo binômio hierarquia-mercado.

(d) Teoria Institucional: o campo organizacional remete ao conjunto de atores que constituem uma área reconhecida da vida institucional; da interação entre esses atores emergem padrões, regras e normas. O PII, enquanto um desses atores, fomenta projetos que estejam em conformidade com os seus editais, onde regras são definidas. Esse procedimento reduz incertezas tanto para o Programa quanto para as organizações que são por ele fomentadas, ao estabelecer um quadro de referência comum para a ação. Não obstante, também favorece o isomorfismo coercitivo, visto que os agentes que estão buscando fomento

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irão se orientar pelas mesmas bases e referências, gerando assim comportamentos similares; caso não ocorra o alinhamento esperado, pode haver a aplicação de sanções diversas, que forçam os agentes a se orientarem pelas regras definidas pelo Programa.

Salienta-se que as letras que identificam tais perspectivas correspondem respectivamente aos elementos (a) contratos, (b) recursos, (c) custos de transação e (d) campo organizacional, ilustrados anteriormente na FIG.1. Assim, a interação das dinâmicas analisadas com essas múltiplas perspectivas teóricas suscita a possibilidade do desenvolvimento de diversas agendas de pesquisa. Tais teorias oferecem um potencial analítico que pode ser explorado em bases mais profundas do que o evidenciado no artigo, visto que em função das próprias limitações de extensão do texto, foram apresentadas apenas algumas relações, dentre diversas possíveis dentro de cada uma dessas perspectivas (ou mesmo entre elas). Seja como for, a utilização simultânea de múltiplas perspectivas teóricas evidencia a complexidade subjacente à dinâmica de desenvolvimento de tecnologias e de negócios tecnológicos.

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1 A transferência da tecnologia remete à transferência da posse da patente, enquanto que o licenciamento aufere a exploração comercial da tecnologia mediante o pagamento de royalties pelo licenciado ao titular da patente. Como as universidades freqüentemente buscam o “licenciamento”, optou-se pelo uso dessa terminologia, muito embora as discussões também possam, em certos casos, se aplicar à “transferência” de tecnologia. 2 Incluído “cultivares”. 3 Mais informações: NVivo 8 (www.qsrinternational.com) / CmapsTools (http://cmap.ihmc.us/). 4 Djokovic & Souitaris (2008) consideram três níveis de análise: (a) micro, que envolve as características individuais dos pesquisadores/empreendedores; (b) meso, que aborda os recursos organizacionais e as características institucionais; (c) macro, relacionado aos aspectos ambientais. Em específico ao esquema (FIG.1), considerou-se esses mesmos níveis, no entanto, agrupando os recursos organizacionais no nível micro de análise. 5 O PPTec é composto por cinco fases: pesquisa científica, pesquisa embrionária, laboratorial, pré-comercial e comercial. Ver mais em Cheng et. al., 2007; Reis et. al., 2006, 2007. 6 O PPNeg também é composto por cinco fases: pesquisa científica, estruturação da oportunidade, empresa protótipo, Empresas Nascente de Base Tecnológica (ENBT) e Nova Empresa de Base Tecnológica (NEBT). Considerando os relatórios do PII que foram analisados (UFJF, UFLA e UFMG), apenas os projetos da UFMG contaram com o suporte do PPNeg. 7 Embora a análise qualitativa aborde 22 projetos do PII, para a elaboração deste quadro foram considerados os dados de todos os projetos. 8 Há de se considerar a existência e importância de grupos representativos, agentes que representam determinadas classes, como os sindicatos de setores industriais, a Rede Mineira de Incubadora (RMI), etc.. Esses grupos possuem a finalidade de defender os interesses de seus filiados. Todavia, os dados dos relatórios do PII não remeteram a esses grupos. 9 Ver também item macro/aspectos legais. 10 Ver também item “micro”, abordado anteriormente. 11 Ver também item “micro” e “meso/agências reguladoras”. 12 Foram adotados alguns autores seminais de tais perspectivas. Todavia, para análises futuras, há de se reconhecer as contribuições de outros de seus teóricos. Ademais, as teorias estão segmentadas tão somente para fim analítico, sendo reconhecida a interseção existente entre algumas delas.