Diogo Assis - Poemas

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Diogo Assis, 10.º ano, n.º9, turma F, Escola Artística António Arroio - Disciplina de Português - Professora Eli

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Introdução ao Trabalho:

O objetivo deste trabalho era fazer a pesquisa e recolha de vinte poemas,

com pelo menos dez autores diferentes, para isso procurei em livros e na

internet.

Os autores que selecionei são:

Alice Abranches

Carlos Drummond de Andrade

Eugénio Andrade

Fernando Pessoa

Fora de Prazo

José Afonso

José Gomes Ferreira

Klepht

Luís de Camões

Maria Ilda Gala

Maria José Franco

Miguel Torga

Pedro Abrunhosa

Tentei procurar autores menos conhecidos, mas também escolhi nomes

consagrados, como Fernando Pessoa, Miguel Torga e Luís de Camões.

Coligi três letras de músicas, pois penso que têm qualidade para serem

consideradas poemas. Estabeleci algumas ligações para o youtube.

De entre os vinte poemas, elegi um, fiz a sua ilustração e justifiquei-a. Para a

ilustração usei aguarelas, caneta preta e lápis de carvão.

Neve

Neva neve com doçura,

Já nevou grande nevão,

Nevoeiro a pedra dura.

Neva neve a prato são.

Já nevou grande nevoeiro,

Neva nevão com doçura,

Agora de neve e centeio

Já só resta pedra dura.

Foi-se a colheita este ano,

Para o próximo, o Inverno é mais forte,

Neva muito e neva pouco

Porque a neve é meu consorte.

Alice Abranches

Salada de Frutas

Com frutífera mania

Comecei a preparar

A salada que faria

A terra e seu pasmar

Dar as mãos em harmonia:

Assim comecei por pegar na faca,

Com o horror e lâmina em riste

De quem de uma espada saca,

E assim dita o fado triste

Daquele que a arma marca.

E se a escolhida for a inocente maçã,

Cruel é a sua sina,

Que a selou tão efémera e vã.

E se o escolhido for o kiwi,

Cruel é a sua sina,

Que ditou tão pobre fim.

E se o escolhido for o ananás,

Cruel é o seu destino,

Que o termo já ele trás.

E se a escolhida for a banana,

Cruel é o seu destino,

Que esconde debaixo da cama.

E se a escolhida for a cereja,

Cruel é o seu destino,

Que a morte já a beija.

E se a escolha cair sobre todo o fruto

Cruel é a vida que some,

Faço a maior salada do mundo

E alimento quem tinha fome.

Alice Abranches

O seu santo nome

Não facilite com a palavra amor.

Não a jogue no espaço, bolha de sabão.

Não se inebrie com o seu engalanado som.

Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro).

Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão

de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra

que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.

Não a pronuncie.

Carlos Drummond de Andrade

videopoema

Conselho

Sê paciente; espera

que a palavra amadureça

e se desprenda como um fruto

ao passar o vento que a mereça.

Eugénio Andrade

Ver Claro

Toda a poesia é luminosa, até

a mais obscura.

O leitor é que tem às vezes,

em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.

E o nevoeiro nunca deixa ver claro.

Se regressar

outra vez e outra vez

e outra vez

a essas sílabas acesas

ficará cego de tanta claridade.

Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio Andrade

Fúria nas trevas o vento

Fúria nas trevas o vento

Num grande som de alongar,

Não há no meu pensamento

Senão não poder parar.

Parece que a alma tem

Treva onde sopre a crescer

Uma loucura que vem

De querer compreender.

Raiva nas trevas o vento

Sem se poder libertar.

Estou preso ao meu pensamento

Como o vento preso ao ar.

Fernando Pessoa

Pobre Velha Música!

Pobre velha música!

Não sei por que agrado,

Enche-se de lágrimas

Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te,

Não sei se te ouvi

Nessa minha infância

Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!

E eu era feliz? Não sei:

Fui-o outrora agora.

Fernando Pessoa

No youtube

Sonho. Não Sei quem Sou

Sonho. Não sei quem sou neste momento.

Durmo sentindo-me. Na hora calma

Meu pensamento esquece o pensamento,

Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo

Parece que erro. Sinto que não sei.

Nada quero nem tenho nem recordo.

Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,

Fantasmas me limitam e me contêm.

Dorme insciente de alheios corações,

Coração de ninguém.

Fernando Pessoa

No youtube

Vampiros

No céu cinzento sob o astro mudo

Batendo as asas Pela noite calada

Vêm em bandos Com pés veludo

Chupar o sangue Fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhes franqueia As portas à chegada

Eles comem tudo Eles comem tudo

Eles comem tudo E não deixam nada

A toda a parte Chegam os vampiros

Poisam nos prédios Poisam nas calçadas

Trazem no ventre Despojos antigos

Mas nada os prende Às vidas acabadas

São os mordomos Do universo todo

Senhores à força Mandadores sem lei

Enchem as tulhas Bebem vinho novo

Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo

Eles comem tudo E não deixam nada

No chão do medo Tombam os vencidos

Ouvem-se os gritos Na noite abafada

Jazem nos fossos Vítimas dum credo

E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo

E lhe franqueia As portas à chegada

Eles comem tudo Eles comem tudo

Eles comem tudo E não deixam nada

Eles comem tudo Eles comem tudo

Eles comem tudo E não deixam nada

José Afonso

No youtube

O nosso mundo é este...

O nosso mundo é este

Vil suado

Dos dedos dos homens

Sujos de morte.

Um mundo forrado

De pele de mãos

Com pedras roídas

das nossas sombras.

Um mundo lodoso

Do suor dos outros

E sangue nos ecos

Colado aos passos…

Um mundo tocado

Dos nossos olhos

A chorarem musgo

De lágrimas podres…

Um mundo de cárceres

Com grades de súplica

E o vento a soprar

Nos muros de gritos.

Um mundo de látegos

E vielas negras

Com braços de fome

A saírem das pedras…

O nosso mundo é este

Suado de morte

E não o das árvores

Floridas de música

A ignorarem

Que vão morrer.

E se soubessem, dariam flor?

Pois os homens sabem

E cantam e cantam

Com morte e suor.

O nosso mundo é este….

José Gomes Ferreira

Eu e Tu

Eu e tu, somos mais do que palavras num dicionário,

Eu e tu, somos uma fonte que nunca acaba.

Somos a esperança renascida.

Eu e tu, somos a felicidade mais que imaginada

Eu e tu, somos a cura para todos os problemas,

Que nos fazem sofrer e esquecer

Grita comigo, só desta vez

Deixa tudo e vem sonhar comigo,

Imaginar e sentir o mundo a dois.

Longe de tudo e de todos,

Antes que nos perdemos de vez

Deixa tudo e vem sonhar comigo,

Imaginar e sentir o mundo a dois.

Longe de tudo e de todos,

Antes que seja tarde de mais

Fora de Prazo

No youtube

Idade da Estupidez

Chega de calma

Critiquem tudo

Ou estamos de passagem e quem vier que resolva o mundo?

Vamos unir

As próximas gerações

Ou ver passar o tempo sem pensar em ter soluções?

Nada nos prende mais

Somos a solução óbvia

Qualquer dia a coisa tem de mudar

Segue-se a extinção

Começa de novo

Poupa palavras

Temos as ideias

Só nos falta ter a coragem

Vamos fazer

A nossa revolução

Ou deixar que façam do futuro uma ilusão?

Mas já vai a meio do processo

E este é o momento

No fim do mundo

Que fique um sentimento

Só não fizemos algo mais

Porque não tivemos tempo

Mas não muda nada

Mantemos tudo

Façam mais cimeiras para dar um tiro no escuro

Há que manter

Dinheiro a correr

E jogos de interesses preservados pelo poder

Parem de vez

Menos porquês

Estamos a viver na idade da estupidez?

Vamos fazer a revolução

E dizer não, dizer não....

No fim do mundo

Que fique um sentimento

Só não fizemos algo mais

Porque não tivemos tempo

No fim de tudo

Vai sobrar silêncio

Só não fizemos algo mais

Por sermos mais do mesmo

Klepht

No youtube

Erros meus,,, má fortuna, amor ardente

em minha perdição se conjuraram;

os erros e a fortuna sobejaram,

que para mim bastava o amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente

a grande dor das cousas que passaram,

que as magoadas iras me ensinarem

a não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;

dei causa [a] que a Fortuna castigasse

as minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.

Oh! quem tanto pudesse que fartasse

este meu duro génio de vinganças!

Luís de Camões

No youtube

Esparsa ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar

no mundo graves tormentos;

e, para mais m´espantar,

os maus vi sempre nadar

em mar que contentamentos.

Cuidando alcançar assim

o bem tão mal ordenado,

fui mau, mas fui castigado:

Assi que, só para mim

anda o mundo concertado.

Luís de Camões

No youtube

O dia em que eu nasci, moura e pereça,

Não o queira jamais o tempo dar,

Não torne mais ao mundo, e, se tornar,

Eclipse nesse passo o sol padeça.

A luz lhe falte, o sol se [lhe] escureça

mostre o mundo sinais de se acabar,

nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,

a mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,

as lágrimas no rosto, a cor perdida,

cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,

que este dia deitou ao mundo a vida

mais desgraça que jamais se viu!

Luís de Camões

No youtube

Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

No youtube

Não tenhas pressa!

Não vás, jovem, assim, que a vida é pouca

e esta é a verdade, crê em mim,

porque partindo em correria louca,

cedo demais verás chegado o fim.

Em outros como tu, sonhos e pressa

galvanizaram toda a sua vida,

mas crê que muitas vezes se tropeça,

por isso tenta ser mais comedida!

Sem refreares teu jovem coração,

procura ar ouvidos á razão,

não tenhas pressa e tenta meditar...

Talvez assim evites decepções

e não vejas ruir as ilusões

que na vida quiseres arquitectar!

Maria Ilda Gala

Poema Esotérico

No Horizonte

do meu pensamento,

surgiu a visão

de um imenso universo

de sensações ambíguas.

Estranho poder

de quimeras desfeitas...

que, renascendo,

nos despertam de uma longa letargia.

Mergulhados nos abismos

do nosso próprio ser

não notamos

o resplendor de mil sóis

que nos rodeiam

e se expandem

em revérberos místicos

de cânticos suaves!...

Mágico Festim

da Natureza que nos envolve...

Maria José Franco

Sísifo

Recomeça...

Se puderes,

Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro,

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances,

Não descanses

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,

Vai colhendo

Ilusões sucessivas no pomar

Sempre a sonhar

E vendo,

Acordado,

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é a tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

No youtube

Não desistas de Mim

A porta fechou-se contigo

Levaste na noite o meu chão

E agora neste quarto vazio

Não sei que outras sombras virão

E alguém ao longe me diz

Há um perfume que ficou na escada

E na TV o teu canal está aberto

Desenhos de corpos na cama fechada

São um mapa de um passado deserto

Eu sei que houve um tempo em que tu e eu

Fomos dois pássaros loucos

Voamos pelas ruas que fizemos céu

Somos a pele um do outro

Não desistas de mim

Não te percas agora

Não desistas de mim

A noite ainda demora

Ainda sei de cor o teu ventre

E o vestido rasgado de encanto

A luz da manhã e o teu corpo por dentro

E a pele na pele de quem se quer tanto

Não tenho mais segredos

Escondi-me nos teus dedos

Somos metades iguais

Mas hoje só hoje

Leva-me para onde vais

Que eu quero dizer-te

Não desistas de mim

Não te percas agora

Não desistas de mim

A noite ainda demora

E não desistas de mim

Não te percas agora

Pedro Abrunhosa

No youtube

Poema seleccionado e a minha ilustração:

Conselho

Sê paciente; espera

que a palavra amadureça

e se desprenda como um fruto

ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade

Diogo Assis. 2012

(aguarela, caneta preta e lápis de carvão)

Justificação da escolha destes poemas:

Escolhi estes poemas, porque, como já escrevi antes, quis compilar

textos de poetas não muito conhecidos… De qualquer modo, não deixei de

querer incluir nomes sobejamente conhecidos, como, por exemplo, Camões e

Fernando Pessoa.

O tema geral deste trabalho é o Amor e o Protesto. O poema que escolhi

para fazer a ilustração foi “Conselho” de Eugénio Andrade. Decidi dar maior

relevo a este poema porque gostei das palavras simples e diretas do Poeta e,

quando, estava a refletir sobre o lido, surgiram-me ideias novas, interessantes.

Talvez, e por antítese, o facto de eu não ser paciente tenha sido fator

decisivo para esta minha opção.

Conclusão:

Eu gostei do trabalho proposto, penso que foi uma boa maneira de

conhecer novos poetas e aprofundar mais e melhor conhecimentos que já

possuía.

Tive algumas dificuldades em selecionar poemas que se adequassem ao

tema geral que me havia proposto – Amor e Protesto – por vezes senti-me

inseguro, indeciso, porém, após mais profunda reflexão creio ter ultrapassado

os meus dilemas e ter dado unidade a este dossiê.

A minha pesquisa centrou-se, fundamentalmente, em livros e um dos que

me foi mais útil, pela diversidade de textos, estava mesmo à mão, o

Expressões 10. Porque penso que a música, a palavra, a poesia estão

indissociadas, fui ouvindo algumas versões dos textos que escolhi, então,

ocorreu-me colocar ligações para o youtube para que, assim, o leitor também

possa ter essa fruição.

http://www.citador.pt/poemas/a/fernando-pessoa

Expressões 10, Português 10.º Ano, Porto Editora

Retratos de Alma, Maria Ilda Gala, Oliveira do Bairro

Expresso, Maria José Franco, Edição da Autora