Diogo Bernardes

23
DIOGO BERNARDES O POETA DO LIMA Prof. Luís Arezes

Transcript of Diogo Bernardes

Page 1: Diogo Bernardes

DIOGO BERNARDES

O POETA DO LIMAProf. Luís Arezes

Page 2: Diogo Bernardes

Nasceu, por volta de 1530,

“Num solitário vale, fresco, e verde,

Onde com veia doce, e vagarosa,O Vez, no Lima entrando, o nome perde.”

(II, 15)

Page 3: Diogo Bernardes

Em 20 de Setembro de 1544, recebe ordens menores na Sé de Braga. Mas não segue a carreira eclesiástica.

Ainda bastante jovem, vai para Lisboa, onde contacta com importantes individualidades da época.

Page 4: Diogo Bernardes

As “Cartas”, inseridas numa das suas obras – O Lima –, são dirigidas aos notáveis da sociedade portuguesa da 2.ª metade do séc. XVI e à elite literária de então com quem se relaciona: Sá de Miranda, António Ferreira, Andrade Caminha, Francisco de Sá de Meneses, D. Manuel Coutinho, António de Castilho...

Page 5: Diogo Bernardes

Regressa à sua terra natal, provavelmente, na sequência da morte, em 1554, do jovem príncipe D. João. Negro ano o de 1554! Para Portugal e também para Diogo Bernardes: “Levou a cruel morte, sem ter pejo,

Aquele belo moço, a quem tributoEsperavam pagar o Indo, e o Tejo.” (II, 5)

“Oh, quanto se mudou em poucos dias”, lamenta-se, na altura, o poeta!

Valeu-lhe, no meio de tantas lágrimas, o consolo amigo de Sá de Miranda que vivia na Quinta da Tapada, nas margens do rio Homem, em Amares. É ele o seu guia e mestre...

Page 6: Diogo Bernardes

Em 1566, Bernardes é mencionado como “moço da câmara” de D. Sebastião

e é nomeado para o lugar que o pai exercera na Barca, isto é,

“tabelião do público e judicial do Concelho da Nóbrega”.

Tudo indica que não terá vindo para cá. No ano seguinte, renuncia ao cargo,

que é transferido para seu cunhado, Paio de Araújo.

Page 7: Diogo Bernardes

Em 1576, Diogo Bernardes acompanha, como secretário, a embaixada de Pedro de Alcáçova

Carneiro, enviada por D. Sebastião a Madrid, ao rei Filipe II:

“Diziam todos, nunca embaixador

Levou tão escolhida, e tanta gente,

Em boas horas vá, em boas venha;Venturoso sucesso em tudo tenha.” (II, 334)

Page 8: Diogo Bernardes

No ano seguinte, por carta de 16 de Novembro de1577, é despachado “moço de toalha” do rei D. Sebastião que, depois, o escolhe para, como poeta oficial, cantar a sonhada vitória na Cruzada a Marrocos.

Page 9: Diogo Bernardes

A expedição, afinal, resulta no desastre de Alcácer-Quibir (4 de Agosto de 1578)

e na sua própria prisão, durante dois ou três anos.

Page 10: Diogo Bernardes

O poeta mergulha na desgraça e chega a lamentar não ter morrido…

“Dia cheio de dor, cheio d’espanto,Enquanto o Sol der luz, verdura os prados,Celebrado serás com triste pranto.” (III, 157)

“[...] Oh amigos, com quem m’aventurei,

Com quem fui sem ventura aventureiro,

Sempre, pois vos perdi, triste serei.Sendo no fero assalto companheiro,A vós pôs-vos no Céu o fim da guerra,A mim em miserável cativeiro.” (III, 150)

Page 11: Diogo Bernardes

No cativeiro, quem salva e mantém vivo o poetaNo cativeiro, quem salva e mantém vivo o poetaé a sua fé e a recordação do seu querido rio Lima.é a sua fé e a recordação do seu querido rio Lima.

Canção a Nossa Senhora, escrita no cárcere, em Berbéria, ou seja, Noroeste de África, perto do rio Luco ou Lucuz:

“Oh Virgem d’humildade, e graça cheia,Que converteis em riso o triste pranto,Da triste miserável vida nossa;Como vos cantarei alegre cantoCativo, sem repouso, em terra alheia,Entre bárbara gente imiga vossa?Desatai vós esta cadeia grossa,Que meus erros sem fimForjaram para mim,Porque, solto por vós, cantar vos possaNa ribeira do Lima sem receio,(Oh Madre de JESUS)Não do turvo Lucuz, de sangue cheio.”

(III, 45)

Page 12: Diogo Bernardes

Regressou à pátria, depois de pago o resgate,

numa situação miserável. Terá voltado para a Ponte da Barca,

à procura de abrigo, mas aqui apenas encontrou dureza e

ingratidão...

Page 13: Diogo Bernardes

“Águas do claro Lima, que corriaPara mim, noutro tempo, claro e puro,Que correr vejo agora turvo, escuro,Quem afogou em vós minh’alegria?

Cuidei que com vos ver descansariaDo mal do cativeiro, triste e duro;Mas mais sem gosto aqui, menos

seguroMe vejo, do que me vi em Berberia.

Mudança vejo aqui em arvoredos:Cresceram muitos, muitos acabaram,Fez seu ofício em tudo a natureza.

Duas coisas, porém, não se mudaram:

Lugar e duro ser destes penedos,De vossos naturais teima e dureza.”

(I, 111)

Page 14: Diogo Bernardes

Bernardes, todavia, procura valer-se da protecção de amigos bem colocados na governação do Reino. A todos escreve, a pedir ajuda.

Em 1582, Filipe II agracia-o com o hábito de Cristo e a tença de 20.000 réis.

Em 1587, Diogo Bernardes está em Lisboa,

exercendo o cargo palatino de “moço de toalha” junto do representante de Filipe II de Espanha,

o Cardeal-Arquiduque Alberto. Por carta de 13 de Setembro de 1593, é-lhe concedida

uma tença de 40.000 réis em cada ano de sua vida, podendo deixar em testamento metade dessa quantia a sua mulher e filhos.

Page 15: Diogo Bernardes

Morre em Lisboa, ao que tudo indica, Morre em Lisboa, ao que tudo indica, a 30 de Agosto de 1596, a 30 de Agosto de 1596,

com fama de “príncipe do género bucólico”.com fama de “príncipe do género bucólico”.

É sepultado na Igreja das religiosas do É sepultado na Igreja das religiosas do Mosteiro de Sant’Ana, onde também Mosteiro de Sant’Ana, onde também havia sido enterrado Luís de Camões.havia sido enterrado Luís de Camões.

Partia um dos poetas que mais bem Partia um dos poetas que mais bem se integrou na vida da corte portuguesa se integrou na vida da corte portuguesa de Quinhentos, ao longo dos reinados de de Quinhentos, ao longo dos reinados de D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e Filipe II. Convivera com a fidalguia e a Filipe II. Convivera com a fidalguia e a aristocracia do tempo e com muitos aristocracia do tempo e com muitos homens de letras.homens de letras.

Page 16: Diogo Bernardes

Ficou imortalizado na sua obra, organizada em 3 volumes:

Várias Rimas ao Bom Jesus e à Virgem Gloriosa Sua Mãe (1594),

que é o seu cancioneiro espiritual e religioso; O Lima (1596),

a sua grande obra bucólica, cujo nome o próprio autor justifica na dedicatória: “tal nome pareceu-me que lhe não quadrava mal, pois tudo o mais do que nele vai escrito compus na sua ribeira”;

Rimas Várias – Flores do Lima (1596/7?),

que reúne o principal do seu lirismo amoroso.

Page 17: Diogo Bernardes

Cantor das fontes e dos rios – os pátrios Lima, Vade e Vez –, Bernardes sentiu como poucos no seu

tempo a melancolia da paisagem, nomeadamente, a minhota,

e a harmonia entre o Homem e a Natureza.

Com Camões, é o nosso bucólico renascentista mais puro e mais inspirado.

E o Barquense mais conhecido e mais prestigiado...

Page 18: Diogo Bernardes

É chamado o poeta do Lima:

“[...] O pátrio Lima celebrasteEm versos repassados de

ternura,E deste-lhe uma fama, que

perdura,À qual teu próprio nome

cimentaste...”Delfim Guimarães, Alma Portuguesa

Page 19: Diogo Bernardes

Diogo Bernardes na Ponte da Barca

Page 20: Diogo Bernardes

• Desde 1905, dá nome a uma rua da vila. • Segundo a acta camarária de 29 de Julho,

entendeu o Presidente da altura, Dr. João Maria Cerqueira Machado, que se desse “o nome de Diogo Bernardes à actual rua da Fonte Nova, por ser a que fica mais próxima do local tão cantado por esse escritor, onde tem lugar a confluência do rio Vez com o Lima”.

Page 21: Diogo Bernardes

Com o irmão Frei Agostinho da Cruz, inspira a designação do

Jardim dos Poetas. O monumento evocativo remonta

a 1940, no âmbito das celebrações do 4.º centenário

do nascimento de Frei Agostinho da Cruz

(03.05.1540/14.03.1619).

Page 22: Diogo Bernardes

Os dois irmãos foram ainda os patronos do Centro Cultural, fundado na década de oitenta.Diogo Bernardes está também associado à Universidade Sénior. E é o patrono da nossa Escola, a Escola Básica e Secundária.

Page 23: Diogo Bernardes

Meu pátrio Lima, saudoso e brando,Como não sentirá quem Amor sente,Que partes deste vale descontente,Donde também me parto suspirando?

Se tu, que livre vais, vais murmurando,Que farei eu, cativo, estando ausente?Onde descansarei da dor presente,Que tu descansarás no mar entrando?

Se te não queres consolar comigo,Ou pede ao Céu que nossa dor nos cure,Ou que trespasse em mim tua tristeza:

Eu só por ambos chore, eu só murmure,Que d’um fado cruel o curso sigo,Não tu, que segues tua natureza.

Soneto XXXX, in Rimas Várias – Flores do Lima