Diretriz para Indicações e Utilização da Ecocardiografia na Práica Clínica

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    Diretriz para Indicações e Utilização da Ecocardiografia na

    Prática Clínica

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    Diretriz para Indicações e Utilização da Ecocardiografia

    na Prática Clínica

    Editor

    Orlando Campos Filho

    Co-editores

    Paulo Zielinsky, Juarez Ortiz

    Membros

    Benedito Carlos Maciel

    José Lazaro Andrade

    Wilson Mathias Jr.

    Djair Falcão Brindeiro Filho

    Jorge Eduardo Assef 

    Carlos T. Oliveira Lima

    Márcia de Melo Barbosa

    Valdir Ambrósio Moisés

    Samira Mohry Borges

    Sérgio Cunha Pontes

    Rogério Tasca

    Vera Márcia Gimenez

    Iran Castro

    Manuel Adan Gil

    Adelaide Arruda-Olson

    Jeane Mike Tsu-Tsui

    Coordenador

    Jorge Ilha Guimarães

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    Arq Bras Cardiol

    volume 82, (suplemento II), 2004

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    Introdução

    As recomendações atuais para o uso prático da ecocar-diografia nasceram de um consenso, originalmente editado

     pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, em 1995 1, posterior-mente sistematizado, em 1997, em outro documento 2, pro-

     pondo critérios para solicitação de exames complementares,não como normas rígidas, mas sim como orientação para ocardiologista proceder a uma investigação diagnóstica racio-nal e objetiva, baseada em parâmetros técnicos e éticos, como mesmo propósito, coube à atual comissão representativado Departamento de Ecocardiografia da SBC atualizar o texto,incorporando as inovações tecnológicas que têm se agrega-do à rotina do exame ecocardiográfico e acrescentando a expe-riência sedimentada de novas evidências em medicina. Por-tanto, longe de ser definitivo, assim como os estudos ante-riores 1,2, este consenso é dinâmico e deverá ser constante-mente aperfeiçoado, assimilando as permanentes transforma-ções decorrentes do contínuo processo de evolução científi-

    ca. Um extenso estudo semelhante, elaborado pelas Socieda-des Americanas de Cardiologia, recentemente revisado 3,também serviu de base para este consenso.

     No desenvolvimento deste texto, o exame ecocardio-gráfico se refere à integração de todos seus elementos atuais(ecocardiograma uni e bidimensional, estudo do fluxo comDoppler espectral pulsátil e contínuo, e mapeamento do flu-xo em cores), que constituem modalidades complementarese indissociáveis para um diagnóstico não invasivo comple-to e abrangente dos aspectos estruturais e funcionais docoração e grandes vasos. Tais modalidades estão presen-tes nos diversos procedimentos diagnósticos disponíveis:

    ecodopplercardiografia convencional transtorácica, ecocar-diografia transesofágica, ecocardiografia sob estresse,ecocardiografia com contraste, ecocardiografia fetal, eco-cardiografia intra-operatória e ecocardiografia intra-cardía-ca. Para simplificação, o termo “ecocardiografia” abrangeráos títulos “Doppler-ecocardiografia” ou “ecodopplereco-cardiografia”, referidos de forma abreviada no texto comoECO ou ECO-D.

    O valor do método foi analisado para cada doença, sín-drome ou condição clínica, considerando-se os seguintesaspectos: impacto diagnóstico, contribuição no planeja-mento terapêutico e monitorização dos resultados, avalia-ção prognóstica e estratificação de risco, acompanhamentolongitudinal de pacientes e, por fim, triagem de familiares,quando pertinente.

    Sempre que possível, as recomendações foram pauta-das nas evidências clínicas disponíveis. As indicações doexame obedeceram a critérios consagrados de classificaçãode evidências: Classe I : consenso unânime sobre indicaçãodo exame, com valor diagnóstico comprovado; Classe IIa:aprovação da maioria, porém com algumas discordânciasna indicação; Classe IIb: divergências , com divisão de opi-niões; Classe III : consenso de que o exame é desnecessá-rio, ou quando não for aplicável.

    Uma divisão dos temas foi feita para facilitar a consul-

    ta na prática diária, cujo conteúdo não pretendeu esgotar o

    assunto, apenas procurou organizar o uso dessa ferramentadiagnóstica versátil e indispensável na avaliação cardioló-gica não invasiva.

    1. Avaliação da Função Ventricular Esquerdae das Cardiomiopatias

    1.1. Avaliação global da função ventricular esquerda

    1.1.1 Função sistólica -A indicação do estudo ecocar-diográfico com o objetivo de avaliar a função sistólica ven-tricular esquerda corresponde a uma das principais aplica-ções clínicas deste método diagnóstico. A contratilidadeventricular representa o resultado de uma complexa intera-ção entre o estado contrátil do músculo cardíaco e os níveisde pré e pós-carga. Tradicionalmente, avalia-se a funçãosistólica ventricular mediante análise da mobilidade seg-mentar da parede ventricular ou utilizando índices de de-sempenho da fase de ejeção, obtidos de forma simples e nãoinvasiva, por meio do ecodopplercardiograma (ECO-D)como a fração de encurtamento sistólico ventricular (deltaD %), a velocidade média de encurtamento circunferencial(Vcf), o volume ejetado por sístole (VS), o débito cardíaco(DC) e a fração de ejeção (FE), além dos índices de desempe-nho da fase isovolumétrica, como a velocidade máxima deelevação da pressão ventricular (dp/dt max) em presença derefluxo mitral ou tricúspide. A tensão parietal sistólica tam-

     bém pode ser estudada. Índices mais sofisticados, como arelação pressão-dimensão (ou pressão-volume) ventricular esquerdo ao final da sístole, podem ser obtidos de modonão invasivo, mediante a administração de drogas vasoati-vas e o uso da ecocardiografia modo-M.

    A técnica bidimensional, que apresenta maior resolu-ção espacial, possibilita caracterizar mais precisamente afração de ejeção de um ventrículo esquerdo com geometriaanormal. Embora, na prática clínica, a estimativa visual dafração de ejeção do VE seja freqüentemente utilizada, demodo semi-quantitativo, deve-se registrar que esta técnicadepende fundamentalmente da experiência do examinador,estando mais sujeita a erros. A análise da mobilidade seg-mentar do ventrículo esquerdo pela ecocardiografia bidi-mensional representa uma técnica semi-quantitativa de ava-liação da função sistólica regional, que se tem mostrado degrande valor na prática clínica, especialmente, na ecocardio-

    grafia sob estresse. Esta técnica depende da análise de es- pessamento da parede ventricular e da mobilidade endocár-dica, apresentando, deste modo, a mesma dependência dascargas impostas ao coração observada para os demais índi-ces da fase de ejeção.

    Outras técnicas disponíveis para análise da funçãosistólica envolvem o cálculo do débito cardíaco pelo Eco-De a estimativa do dp/dt em vigência de insuficiência mitral.Recentemente, foi desenvolvido um índice de desempenhomiocárdico, que integra elementos de função sistólica ediastólica, cuja utilidade encontra-se em estudos.

    Métodos mais elaborados de análise global ou regio-

    nal das funções sistólica e diastólica de ambos os ventrícu-

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    los, envolvendo sofisticados processos de computação( strain, strain rate, tissue tracking ), são muito promissorese ainda encontram-se na fase de pesquisa.

    1.1.2 Função diastólica - Ultimamente tem sido valori-zada a participação da disfunção diastólica na gênese dasmanifestações congestivas da insuficiência cardíaca, mes-mo em pacientes com uma função sistólica preservada 4-7.Admite-se, inclusive, que entre 30 e 40% dos pacientes cominsuficiência cardíaca apresentem sinais de congestão pul-monar dependentes, fundamentalmente, de uma funçãodiastólica anormal 8-11. Além disso, tem sido demonstrado,em um número apreciável de condições clínicas, que a dis-função diastólica precede a disfunção sistólica12-15. Apesar do interesse e do volume de informações, a função diastóli-ca ainda não é compreendida por completo. A diástole com-

     preende um número amplo de elementos, que interagem demodo complexo, para resultar no enchimento ventricular: orelaxamento miocárdico ativo, a complacência ventricular, o

    sincronismo regional ventricular, a sucção diastólica ventri-cular, as propriedades viscoelásticas do miocárdio, a con-tração atrial, a restrição pericárdica, a interação ventricular eo efeito erétil das coronárias 16-19.  Adicionalmente, os fato-res que interferem na diástole são sensíveis às sobrecargasimpostas ao coração durante o ciclo cardíaco e à contratili-dade ventricular. A limitação dos métodos invasivos deavaliação do desempenho diastólico estimulou a busca por métodos não invasivos para esse fim. Na ecocardiografia,iniciou-se com o modo-M digitizado, depois passou-se àsdiversas técnicas com Doppler atualmente disponíveis, queenvolvem a análise do padrão de fluxo diastólico mitral, o es-tudo do fluxo das veias pulmonares e, mais recentemente, a

     propagação do fluxo mitral e as velocidades do tecido mio-cárdico ventricular. Todas estas técnicas têm em comum a li-mitação de considerar apenas a variação de velocidade defluxo ou de estruturas em função do tempo, sem levar emconta modificações da pressão intraventricular. O estudodas velocidades diastólicas do fluxo mitral são realizadashabitualmente pelo Doppler pulsátil, determinando as on-das E e A, que caracterizam respectivamente as fases de en-chimento rápido e contração atrial, e a relação entre ambas(E/A) 20. Também são determinados os tempos de desacele-ração do fluxo mitral e o tempo de contração isovolumétricado ventrículo esquerdo. Assim, foi possível reconhecer 

    quatro diferentes padrões de disfunção diastólica, com gra-vidade crescente: relaxamento ventricular diastólico altera-do, padrão pseudo-normal e padrão restritivo de enchimen-to ventricular reversível e irreversível. O advento recente doDoppler tecidual pulsátil, avaliando as velocidades de mo-vimentação do miocárdio ventricular, permitiu acrescentar novos índices de função diastólica, menos sensíveis a va-riações de carga. O fluxo de veias pulmonares e a velocidadede propagação do “Color M-mode” são técnicas tambémúteis na avaliação da função diastólica.

    1.2 Estimativa das pressões de enchimento ventricular

    Diferentes técnicas Doppler-ecocardiográficas têm sido

    empregadas com o objetivo de determinar a pressão de enchi-

    mento, incluindo a velocidade de fluxo transvalvar mitral, ascurvas de velocidade de fluxo em veia pulmonar, o Modo M co-lorido, o Doppler tecidual e a resposta de velocidade de fluxoatravés da valva mitral em condições de sobrecarga 21. Em pa-cientes com disfunção ventricular, documenta-se um encurta-mento progressivo do tempo de desaceleração mitral e um au-mento da relação E/A enquanto a complacência ventricular se

    reduz e a pressão atrial esquerda aumenta. Correlação satisfató-ria também tem sido descrita para a velocidade (A>30 cm/s) ouduração (> 30 ms quando comparada com a onda A do fluxotransvalvar) de fluxo retrógrado em veia pulmonar, bem como

     para a redução (>0.5) da razão E/A mitral durante a manobra deValsalva, o que não ocorre quando a função sistólica ventricu-lar está preservada. Considerando que as velocidades tanto defluxo de enchimento ventricular esquerdo quanto de veias pul-monares são influenciadas por múltiplos fatores, incluindo a

     pressão atrial esquerda, o relaxamento ventricular, as sobrecar-gas impostas ao coração, a interação ventricular, a freqüênciacardíaca e a idade, outras variáveis têm sido testadas com o ob-

     jetivo de estimar as pressões de enchimento ventricular. Entre

    estas, destaca-se a relação E/E’, obtida entre as velocidades defluxo inicial transvalvar mitral e do Doppler tecidual registradono anel valvar mitral, que mostra uma boa correlação com os va-lores de pressão de enchimento ventricular, tanto em pressõeselevadas (E/E’>15) como normais (E/E’

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    medicamentos. A monitorização da função ventricular es-querda antes e durante o período de tratamento tem sido em-

     pregada, embora os índices de função sistólica da fase deejeção, quando analisados em condições basais, mostremalgumas limitações para a identificação precoce de toxicida-de 36. Alguns resultados promissores têm sido relatadosquando se analisa a presença de disfunção diastólica ven-tricular, que parece preceder a redução da fração de eje-ção37, bem como quando se investiga a função sistólica ven-tricular durante estudo ecocardiográfico sob estresse 38.

    1.8 Cardiomiopatia hipertróficaA eco-D estabelece o diagnóstico da cardiomiopatiahipertrófica (CMH) através da caracterização da hipertrofiaventricular, identificando seu grau e distribuição, e classifi-cando os diversos tipos: septal assimétrica, apical, concên-trica ou mesoventricular. O Doppler é utilizado para localizar 

    e quantificar a obstrução intraventricular quando presente(em repouso ou latente, induzida por manobras provocati-vas/medicamentos), detectar e quantificar a regurgitaçãomitral e avaliar a função diastólica pelo padrão de enchi-mento do ventrículo esquerdo pelo fluxo mitral 39. A maioriados pacientes apresenta padrão de relaxamento anormal;

     pacientes mais sintomáticos apresentam padrão “pseudo-normal” e, excepcionalmente, alguns apresentam padrãorestritivo (muito sintomáticos ou após a instalação de insu-ficiência cardíaca pós infarto). Outras técnicas mais especí-ficas, como Doppler tecidual e velocidade de propagação dofluxo mitral pelo modo M em cores podem ser usados para talfim 40. Dado o caráter hereditário da CMH, justificam-se es-tudos de screening, que demostram prevalência da doençaem 22% dos parentes de 1o. grau de portadores da CMH. Astabelas abaixo resumem as diversas indicações da ECO-D

    na CMH.

    1.9 Cardiomiopatia restritiva

    As cardiomiopatias restritivas (CMR) constituem umgrupo de entidades, que incluem a CMR idiopática, a endo-miocardiofibrose (EMF) a fibroelastose endomiocárdica e aendocardite parietal de Löefler, além das formas infiltrativas(amiloidose, sarcoidose, etc), as de armazenamento (hemo-cromatose, doença de Fabry, etc) e outras formas secundá-rias a diferentes processos patológicos ou terapêuticos (es-clerodermia, síndrome carcinóide, metástases de neoplasiassistêmicas, toxicidade pela antraciclina, e cardiopatia por ir-

    radiação) 41. O diagnóstico pela ECO-D baseia-se nas alte-rações anatômicas e funcionais comuns: cavidades ventri-culares de dimensão normal ou reduzida com disfunção

    Tabela I - Indicações da ecocardiografia para avaliação da função

    ventricular esquerda, de dispnéia e edema, e de cardiomiopatias

    Indicação Classe

    Avaliação das dimensões, espessura miocárdica e Ifunção ventricular esquerda (sistólica e diastólica)em pacientes com suspeita de cardiomiopatia ouinsuficiência cardíaca

    Avaliação de dispnéia ou edema com suspeita clínica Ide envolvimento cardíaco

    Pacientes expostos a substâncias cardiotóxicas, para Iavaliação de comprometimento miocárdico ou paraorientação terapêutica

    Reavaliação da função ventricular em pacientes com Icardiomiopatia conhecida, quando há mudança nacondição clínica ou para orientação terapêutica

    Reavaliação de pacientes com cardiomiopatia estabelecida IIbsem mudanças no estado Clínico

    Reavaliação de rotina em pacientes com cardiomiopatia IIIestável, sem perspectiva de mudança na orientação terapêutica

    Tabela II - Indicações da ecocardiografia na

    cardiomiopatia hipertrófica

    Indicação Classe

    Diagnóstico e classificação da CMH, avaliação da I

    repercussão hemodinâmica (obstrução sub-aórtica,função diastólica, regurgitação mitral)

    Reavaliação de pacientes com diagnóstico de CMH Iquando ocorre mudança documentada da sintomatologia

    Avaliação de resultados terapêuticos de tratamento Ifarmacológico, cirúrgico (miectomia), procedimentosintervencionistas (oclusão alcoólica da 1a septal) ou marcapasso

    Reavaliação em pacientes com diagnóstico estabelecido IIbde MH e que estejam clinicamente estáveis

    Reavaliação rotineira em paciente cl inicamente estável em IIIquem não se contempla um mudança do manuseio

    Estudo de familiares do 1o grau I

    Avaliação periódica de familiares durante a infância IIae adolescência

    Avaliação periódica de familiares adultos IIb

    Tabela III - Indicações de ecocardiograma transesofágico na

    cardiomiopatia hipertrófica

    Indicação Classe

    Pacientes descritos na indicação anterior, quando Ias imagens transtorácicas não forem diagnósticas

    Monitoração intraoperatória da miectomia IIa

    Indicação de ecocardiograma de contraste na IIacardiomiopatia hipertrófica Monitoração da ablaçãoseptal por oclusão alcoólica da 1a perfurante septal

    Indicação de ecocardiograma sob esforço ouestresse farmacológico na cardiomiopatia hipertrófica

    Pacientes sintomáticos com obstrução leve em condições basais IIa

    Quadro I - Diagnóstico diferencial da EMF direita

    Parâmetros EMF Pericardite Doença dedireita constrictiva Ebstein

    Fibrose Presente Ausente AusenteRestrição diastólica Presente Presente AusenteValva tricúspide Aderida Normal redundanteVia de saída do VD Dilatada Normal Dilatada

    Fluxo venoso sistêmico Monofásico Bifásico não restritivo

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    diastólica do tipo restritivo ao Doppler, função sistólica glo- bal em geral preservada, e átrios dilatados. Observando-seaspectos estruturais peculiares de algumas doenças, é pos-sível identificar a doença de base responsável pelo quadrorestritivo, em conjunção com os dados epidemiológicos, clí-nicos e laboratoriais, e não raramente, com a anatomia pato-lógica. Na CMR idiopática, o diagnóstico é feito por exclu-são, e o diagnóstico diferencial principal é a pericardite cons-tritiva. O Doppler tissular pode ser útil nessa situação 42. Naamiloidose, há espessamento das valvas AV, paredes mio-cárdicas e eventualmente septo atrial, com reflexão mais in-tensa e aspecto granuloso do miocárdio. Na EMF, obser-vam-se obliteração do ápice pela fibrose, sinais de restrição

    ventricular, envolvimento das valvas AV e sinais subse-qüentes 43. O diagnóstico diferencial impõe-se principal-mente na EMF direita (quadro I). A EMF esquerda represen-ta uma das etiologias de insuficiência mitral. A diferenciaçãoda fibrose com trombos apicais(p.ex aneurismas de ponta) éfacilmente descartada, uma vez que não há acinesia ou dis-cinesia na EMF esquerda. O ETE está indicado quando exis-tem dificuldades técnicas ao exame transtorácico e na moni-torização transoperatória da ressecção da fibrose e corre-ção dos defeitos valvares por via apical .

    2. Valvopatias, Sopros Cardíacos e PrótesesValvares

    2.1 Valvas nativas

    A ecocardiografia é um método importante de avalia-ção dos sopros cardíacos e das valvopatias. A modalidade

     bidimensional pode demonstrar alterações morfológicas efuncionais da valvas, mas, habitualmente, não se presta

     para a correta quantificação da gravidade das lesões valva-res, exceção feita à estenose mitral. A utilização do Doppler espectral identifica anormalidades dos fluxos, permitindoassim a exata quantificação das estenoses valvares pela de-terminação dos gradientes e áreas das valvas. Com o empre-go do mapeamento do fluxo em cores, torna-se possívelidentificar e quantificar a gravidade dos jatos regurgitantes.

    Se o diagnóstico não é elucidado de maneira satisfatória por 

    meio da ecocardiografia transtorácica, o emprego da eco-

    cardiografia transesofágica torna-se uma excelente opção. Énecessário saber que mínimas regurgitações valvares “fi-siológicas” podem ser detectadas em indivíduos saudáveis,tanto nas valvas do lado direito (mais freqüentes) como nasdo lado esquerdo. Na endocardite infecciosa, os critériosmaiores da Duke University incluem uma massa oscilante,abscesso anular ou deiscência de prótese. Nestas situa-ções, por vezes, o estudo transesofágico é necessário paraadicionar dados ao exame transtorácico. As duas modalida-des de exame (torácico e esofágico) são complementares ese integram na avaliação cardíaca. Uma recente indicação daECO inclui pacientes em uso de anorexígenos que podem

    causar valvopatias

    Tabela IV - Indicações da ecocardiografia na

    cardiomiopatia restritiva

    Indicações Classe

    Investigação diagnóstica de pacientes com quadro Ide ICC sem etiologia esclarecida

    Diagnóstico diferencial de pacientes com síndrome restritiva I

    Portadores de doenças sistêmicas potencialmente causadoras Ide MR (forma associada) com clínica de ICC

    Pacientes com síndrome hipereosinofilica, ascite e turgência Idas veias jugulares

    Pacientes submetidos à radioterapia com sinais de Ihipertensão venosa sistêmica

    Reavaliação de pacientes com diagnóstico prévio de MR Iquando há mudança do curso clínico da doença

    Portadores de EMF para planejamento terapêutico e Iiaavaliação prognóstica

    Pacientes com edema e ascite, com pressão venosa sistêmica IIInormal e sem evidência de cardiopatia

    Tabela VII - Indicações da ecocardiografia na estenose mitral (EM)

    Indicação Classe

    Diagnóstico, avaliação da gravidade (gradiente médio, Iárea valvar e pressão arterial pulmonar) e avaliação dotamanho e função do ventrículo direito

    Avaliação da morfologia valvar para determinar a I possibilidade de tratamento por meio da valvotomia percutânea com cateter 

    Diagnóstico e avaliação de lesão valvar associada I

    Reavaliação de pacientes sabidamente portadores de EM Ique apresentaram alterações dos sinais ou sintomas

    Reavaliação da pressão arterial pulmonar em pacientes IIbassintomáticos, portadores de EM moderada a grave

    Reavaliação rotineira de pacientes assintomáticos com EMde grau discreto e achados clínicos estáveis III

    Tabela V - Indicações da ecocardiografia para pacientes adultos

    assintomáticos com sopros cardíacos

    Indicação Classe

    Sopros sistólico, diastólico ou contínuo I

    Sopro associado a palpação e ausculta normais IIa

    Sopro associado a ECG e radiografia de tórax normais IIa

    Sopro mesossistólico de grau leve, identificado como IIbinocente ou funcional por observador experiente

    Detecção de regurgitações mitrais ou aórticas si lenciosas IIIem pacientes sem sopros cardíacos, com o intuito defazer profilaxia da endocardite infecciosa

    Tabela VI - Indicações da ecocardiografia para pacientes

    sintomáticos com sopros cardíacos

    Indicação Classe

    Sintomas ou sinais de ICC, angina ou síncope I

    Sintomas ou sinais de endocardite infecciosa ou I

    tromboembolismoDiferenciação de sintomas ou sinais ocasionados por IIadoenças cardíacas de extra-cardíacas, não elucidadoscom avaliação cardiológica básica

    Sintomas ou sinais de doença extracardíaca IIIassociados com sopro mesossistólico “inocente” isolado

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    As recomendações gerais para a utilização da ECO-Dnos portadores de sopro cardíaco, valvopatias, prótese val-vares e endocardite infecciosa são as seguintes 44-47:

    2.2 Próteses valvaresApesar da contínua evolução na fabricação das próte-

    ses, mesmo após implante valvar bem sucedido, os pacien-tes estão sujeitos a complicações como fenômenos embóli-cos, endocardite infecciosa e processos degenerativos das

     próteses.A ecocardiografia, com suas modalidades transtoráci-

    ca (ETT) e transesofágica (ETE) é um importante métododiagnóstico não invasivo das disfunções protéticas. Reco-menda-se um ETT basal como padrão para exames evoluti-vos, a ser realizado entre 3 a 4 semanas após alta hospitalar 46,tempo necessário para o coração adaptar-se às novas con-

    dições hemodinâmicas. Embora não exista um consenso

    sobre a periodicidade de ecocardiogramas evolutivos em pacientes sem sintomas ou sinais clínicos de disfunção protética, é recomendado um ETT anual. Na hipótese clínica

    de disfunção protética, o ETT faz parte dos exames comple-

    Tabela VIII - Indicações da ecocardiografia sob esforço físico na

    estenose mitral

    Indicação Classe

    Avaliação da resposta hemodinâmica do gradiente Iiamédio e da pressão arterial pulmonar ao exercício,quando há discrepância entre os achados clínicos ehemodinâmicos de repouso

    Tabela IX - Indicações de ecocardiograma transesofágico na

    estenose mitral

    Indicação Classe

    Uso na orientação de procedimento intervencionista I(valvotomia por cateter-balão)

    Determinação da presença ou ausência de trombo IIaatrial esquerdo em candidatos à valvotomia transmitral percutânea por catéter 

    Avaliação da morfologia da valva mitral e hemodinâmica IIa

    quando os achados transtorácicos são inadequadosAvaliação rotineira da morfologia da valva mitral e IIIhemodinâmica quando os dados obtidos por meiodo exame transtorácico são satisfatórios

    Tabela X - Indicações da ecocardiografia na insuficiência mitral (IM)

    Indicação Classe

    Avaliação inicial da gravidade da IM e função ventricular Iesquerda em qualquer paciente com suspeita desta doença

    Determinação do mecanismo da IM I

    Avaliação anual/semestral da função VE (estimada pela I

    fração de ejeção ou diâmetro sistólico final do VE)em pacientes assintomáticos com IM grave

    Avaliação cardíaca após alteração de sintomas I

    Avaliação cardíaca inicial após implante de prótese ou Icirurgia reparadora (plastia valvar)

    Avaliação rotineira da IM discreta com função/dimensão IIInormais do VE

    Tabela XI - Indicações da ecocardiografia transesofágica na

    insuficiência mitral

    Indicação Classe

    Avaliação transesofágica intra-operatória para Iestabelecer as causas anatômicas da IM eauxiliar no reparo valvar 

    Avaliação de pacientes com IM, nos quais o exame Itranstorácico mostrou-se insatisfatório para adeterminação da gravidade e/ou do mecanismo daregurgitação, assim como para a avaliação da função do VE

    Acompanhamento rotineiro ou avaliação de pacientes IIIcom IM em portadores de valva nativa

    Tabela XII - Indicações da ecocardiografia no prolapso da

    valva mitral (PVM)

    Indicação Classe

    Diagnóstico, avaliação da gravidade hemodinâmica Ida regurgitação, da morfologia dos folhetos e

    compensação ventricular em pacientescom sinais físicos de PVM

    Exclusão do PVM em pacientes com tal diagnóstico Ie sem evidências clinicas que sustentem este diagnóstico

    Exclusão do PVM em pacientes que possuem parentes IIasabidamente portadores de doença valvar mixomatosa

    Estratificação de risco em pacientes com sinais físicos Iiaou diagnóstico prévio de PVM

    Exclusão do PVM em pacientes com ausência de achados IIIfísicos sugestivos ou uma história familiar positiva

    Repetição rotineira do ecocardiograma em pacientes com IIIPVM competente ou que apresentam regurgitação de graudiscreto, sem alterações de sintomas ou sinais clínicos

    Tabela XIII - Indicações da ecocardiografia na estenose aórtica (EA)

    Indicação Classe

    Diagnóstico e avaliação da gravidade da EA I

    Avaliação da hemodinâmica, função e/ou tamanho do VE na EA I

    Reavaliação de pacientes com EA já diagnosticada, que Iapresentam alterações nos sintomas ou sinais físicos

    Avaliação de alterações da gravidade hemodinâmica Ie compensação ventricular, em pacientes com EA jádiagnosticada, durante gravidez

    Reavaliação de pacientes assintomáticos, portadores Ide EA grave

    Reavaliação de pacientes assintomáticos, portadores de IIaEA de grau discreto a moderado e evidências de disfunção

    ou hipertrofia do VEReavaliação rotineira de pacientes adultos assintomáticos IIIcom EA de grau discreto, que apresentam sinais físicosinalterados e função/dimensões normais do VE

    Ecocardiograma de estresse com dobutamina para avaliação IIbde pacientes com EA com baixo gradiente e disfunção miocárdica

    Ecocardiograma com esforço para avaliação da resposta IIbhemodinâmica em pacientes sem EA crítica

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    mentares para avaliação diagnóstica, e poderá posterior-mente ser complementado pelo ETE, principalmente sehouver suspeita de endocardite infecciosa ou trombose da

     prótese. As próteses valvares, principalmente as mecâni-cas, causam reverberações e sombras acústicas, prejudican-do freqüentemente uma boa avaliação ecocardiográfica,

     principalmente pelo ETT. O ETE, devido sua proximidade eabordagem posterior do coração, consegue melhor acurá-cia diagnóstica nas disfunções das próteses valvares. Narealidade, os ETT e ETE se complementam, sendo sempreaconselhável realizar um ETT completo e cuidadoso antes

    de indicar o ETE.

    3. Avaliação de Dor Torácica

    A causa mais comum de dor torácica de etiologia car-

    díaca é a isquemia miocárdica por coronariopatia, seguida

    Tabela XV - Indicações da ecocardiografia na endocardite infecciosa

    (EI) em valva nativa

    Indicação Classe

    Detecção de vegetações; caracterização, quantificação das Ilesões valvares e avaliação da repercussão funcionalventricular em pacientes com suspeita clínica de EI *

    Detecção de anormalidades associadas I(p.ex: abcessos anulares, fístulas)*

    Estudos de reavaliação em casos de endocardite complexa I(p.ex: organismos virulentos, lesão hemodinâmica grave,envolvimento da valva aórtica, febre ou bacteremia persistentes, alterações clínicas ou deterioração dos sintomas) *

    Avaliação de pacientes com hemoculturas negativas e alta Isuspeita clínica de EI*

    Avaliação de pacientes com bacteremia não estaficocócica IIasem causa conhecida*

    Estratificação de risco em pacientes sabidamente IIa portadores de EI*

    Reavaliação rotineira na EI sem complicações durante IIbantibioticoterapia

    Avaliação de febre e sopro inocente em pacientes sem IIIevidências de bacteremia

    (*) A ecocardiografia transesofágica pode fornecer informações adicionaisàquelas obtidas por meio da ecocardiografia transtorácica.

    Tabela XIV - Indicações da ecocardiografia na insuficiência aórtica (IA)

    Indicação Classe

    Diagnóstico e avaliação da gravidade da IA aguda I

    Diagnóstico da IA crônica em pacientes comachados físicos duvidosos

    Avaliação da etiologia da IA (morfologia valvar e I

    tamanho da raiz da aorta)Avaliação da função sistólica, dimensões e grau Ide hipertrofia do VE

    Estimativa semi-quantitativa da gravidade da IA I

    Reavaliação de pacientes com IA discreta, moderada ou Igrave, que apresentam sintomas novos ou alterados

    Reavaliação da função/dimensões do VE em Iassintomáticos com IA grave

    Reavaliação de pacientes assintomáticos com IA, Imoderada ou grave e dilatação da raiz da aorta

    Reavaliação anual de pacientes assintomáticos com IIIIA discreta a moderada, com sinais físicos estáveis eVE normal ou discretamente aumentado

    Tabela XVI - Indicações da ecocardiografia transesofágica em

    endocardite infecciosa (EI)

    Indicação Classe

    Avaliação de pacientes com alta probabilidade clínica de Classe IEI em valva nativa ou próteses, e exame transtorácico

    inconclusivo (particularmente bacteremia por estafilococcus

    ou fungemia sem foco aparente)Pesquisa de abscesso paravalvar em valvas nativas ou Classe I próteses (inclusive vazamento paraprotético) particularmente no envol vimento mitro-aórtico

    Avaliação de pacientes com EI bem documentada por Classe IIIexame transtorácico, não complicada

    Tabela XVII - Indicações da ecocardiografia nas próteses valvares

    Indicação Classe

    Avaliação rotineira evolutiva em pacientes com IIb prótese sem sinais ou sintomas de disfunção

    Avaliação de pacientes com suspeita de disfunção I protética (complementar com eco transesofágico nasuspeita de trombose) ou para diagnósticodiferencial com disfunção ventricular 

    Reavaliação de rotina após estudo basal, em pacientes IIa portadores de prótese, com disfunção ventricular, semmodificação dos sintomas/sinais clínicos

    Realização de ECO transesofágica em pacientes com IIadiagnóstico de disfunção protética ao ECO-Dtranstorácico para confirmação diagnóstica, melhor quantificação da lesão ou complementação de dados

    Tabela XVIII - Indicações da ecocardiografia na endocardite

    infecciosa em pacientes com próteses valvares

    Indicação Classe

    Detecção e caracterização da lesão valvar, avaliação Ida severidade hemodinâmica e desempenho ventricular (*)

    Detecção de possíveis complicações como abscessos, Irupturas, fístulas etc.(*)

    Reavaliação nos casos complexos como causados por Iorganismos virulentos, lesões hemodinâmicas severas,envolvimento da válvula aórtica, persistência de febreou bacteremia, mudanças dos sinais clínicos oudeterioração dos sintomas (*)

    Avaliação de suspeita de endocardite em paciente com Iculturas negativas (*)

    Avaliação de bacteremia de etiologia desconhecida (*) I

    Avaliação de febre persistente sem evidências de IIa bacteremia ou novos sopros (*)

    Avaliação de rotina durante o tratamento de endocardite IIbnão complicada (*)

    Avaliação de febre transitória sem evidências de bacteremia IIIou novo sopro (*)

    (*) ETE pode dar informações adicionais às obtidas com o ETT.

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    de pericardite, dissecção de aorta, estenose valvar aórtica, prolapso valvar mitral e miocardiopatia hipertrófica. Causasextra-cardíacas incluem tromboembolismo pulmonar, doen-ças do esôfago, osteoneuropatias, etc. A ECO-D pode con-firmar ou afastar alterações segmentares da contratilidadeque sugerem, no momento da dor, a presença de isquemiamiocárdica, infarto do miocárdio atual ou mesmo infarto pre-gresso. Se a dor torácica persistir, apesar do tratamento, e afunção contrátil for normal, dificilmente será por infarto domiocárdio. Se a alteração segmentar da contratilidade per-sistir, mesmo após o desaparecimento da dor, pode ser infar-to do miocárdio ou angina instável com miocárdio atordoa-do. O ECO pode ser feito sempre que possível, na sala deemergência, durante o episódio de dor torácica. O valor denovos aparelhos portáteis nestas circunstâncias está sen-

    do estudado.

    4. Doença Arterial Coronariana

    4.1 Síndromes isquêmicas agudas

    4.1.1 Infarto agudo do miocárdio - O ECO-D auxilia nodiagnóstico de isquemia aguda (infarto do miocárdio ou an-gina instável) quando a historia clinica e o eletrocardiogra-ma são diagnósticos ou não. As alterações segmentares dacontratilidade podem estar presentes no momento da dor eapós seu desaparecimento, significando isquemia transitó-ria na fase aguda, miocárdio hibernante ou fibrose na fase

    crônica. Nos pacientes com dor prolongada, a presença dealteração segmentar da contratilidade sugere infarto, mas na presença de função contrátil normal, a probabilidade de in-farto é remota. Como a isquemia aguda e o infarto agudoevidenciam alteração segmentar da contratilidade, não po-dem ser separados pelo ECO-D isoladamente. Após o perío-do agudo, com a reversão da alteração segmentar da contra-tilidade demonstrada pelo ECO-D pode-se diferenciar a an-gina instável do infarto agudo, em que permanece inaltera-do. Outra aplicação da ECO-D é na avaliação da funçãocontrátil do ventrículo esquerdo e das complicações pós-infarto como derrame pericárdico, refluxo valvar mitral,

    aneurisma, trombose intracavitária, infarto do ventrículo di-

    reito, comunicação interventricular, rotura de papilar e rotu-ra de parede livre do ventrículo esquerdo. Na análise da es-tratificação de risco pelo ecocardiograma convencional,

     pode-se afirmar que quanto menor a área de isquemia ou in-farto, quanto mais precocemente houver regressão da alte-ração segmentar da contratilidade e menores as complica-

    ções pós-infarto, melhor será o prognóstico. Pode-se usar aECO-D com contraste para a análise da perfusão miocárdicanos segmentos com contratilidade alterada pós-infarto na

     beira do leito, para previsão de recuperação contrátil. Se afunção contrátil global do ventrículo esquerdo estiver pre-servada e a função diastólica discretamente alterada ounormal, o prognóstico pós-infarto será favorável. Na orien-tação terapêutica pós-infarto, a ECO-D auxilia na análise dafunção contrátil global e segmentar dos ventrículos. A es-tratificação de risco pode ser feita com o ecocardiograma deestresse com esforço ou dobutamina, para avaliar a necessi-dade do estudo hemodinâmico mais precoce ou avaliar a re-

     percussão funcional da obstrução coronariana já conheci-

    Tabela XXI - Indicações de ecocardiografia na avaliação pós-

    operatória de cirurgia cardíaca no infarto do miocárdio

    Indicação Classe

    Avaliação da função contrátil global e segmentar do VE I

    Avaliação da correção das complicações mecânicas do infarto I

    Avaliação de tamponamento na instabilidade Ihemodinâmica (eco transtorácico ou transesofágico)

    Avaliação de reestenose pós-revascularizaçao nos IIa

     pacientes com sintomas atípicos (eco sob estresse)Avaliação de reestenose pós-revascularização nos pacientes Icom sintomas típicos (eco sob estresse)

    Avaliação de viabilidade n os candidatos a reoperação I(eco sob estresse)

    Tabela XIX- Indicações da ecocardiografia em pacientes com

    dor torácica 1-3

    Indicação Classe

    Presença de patologias cardíacas não isquêmicas I(pericardite, valvopatias, miocardiopatias)

    Suspeita de isquemia miocárdica ou infarto atual I

    Pacientes com isquemia ou infarto pregresso ISuspeita de dissecção de aorta I

    Diferenciação de doenças não cardíacas como embolia pulmonar IIb

    Pacientes com instabilidade hemodinâmica IPacientes do sexo feminino com teste ergométrico

     positivo e/ou antecedentes familiares para coronariopatiae/ou bloqueio de ramo esquerdo IIb

    Tabela XX - Indicações da ecocardiografia no infarto

    agudo do miocárdio

    Indicação Classe

    Auxílio diagnóstico com suspeita clínica e ECG inconclusivo I

    Análise da função contrátil global dos ventrículos I

    Análise da localização e extensão da área de alteração I

    contrátil segmentar, com infarto já diagnosticado por ECG e enzimas

    Detecção de trombos intracavitários I

    Avaliação de complicações mecânicas (aneurisma de VE, Irotura de parede livre, septo ventricular ou músculo papilar, derrame pericárdico)

     No infarto inferior, avaliação da possibilidade do Ienvolvimento do ventrículo direito e do músculo papilar  póstero-medial

    Pesquisa de viabilidade miocárdica com potencial Iindicação cirúrgica

    Avaliação da estratificação de risco pela ecocardiografia IIbconvencional, ou com ecocardiografia de estresse nadetecção de isquemia residual

    Auxílio na orientação terapêutica IIa

    Auxílio na avaliação prognóstica pré-alta hospitalar IIa

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    da. Na análise da viabilidade miocárdica, para definir a eficá-cia de uma revascularização por angioplastia ou cirúrgica

     para uma área acinética, o ecocardiograma pode ser associa-do ao contraste com microbolhas e/ou com dobutamina. Areavaliação da função contrátil global e segmentar tambémauxilia na orientação terapêutica precoce e tardia da revas-cularização. Na avaliação prognóstica na pré-alta hospitalar,se o paciente já fez estudo hemodinâmico com ou sem revas-cularizaçao por angioplastia, podem restar obstruções emoutras artérias que não a responsável pelo infarto e nessecaso a ecocardiografia de estresse está indicada para avaliar a repercussão funcional das outras obstruções.

    4.1.2 Angina instável - O quadro da figura 1 ilustra aaplicação da ECO-D convencional na avaliação de pacien-tes com dor torácica aguda de diferentes naturezas, incluin-do as síndromes coronarianas agudas.

    A realização da ECO-D em pacientes com angina instá-vel (AI) permite avaliar se há comprometimento contrátil

    segmentar, compatível com isquemia, quando o exame érealizado em vigência da dor 48. Pacientes com AI podemapresentar função ventricular normal fora do episódio dolo-roso, exceto quando tenha ocorrido infarto do miocárdio

     prévio. O estudo da função ventricular global pelo ECO-Dtambém é útil, já que a fração de ejeção diminuída aumentasignificativamente o risco na evolução 49. Pacientes com AIde baixo risco para morte ou infarto agudo, evoluindo semrecidiva de dor por, pelo menos, 24h e pacientes com riscointermediário controlados por tratamento clínico por, pelomenos, 72h, podem ser candidatos a estratificação não inva-siva para detecção de isquemia, como teste ergométrico e

    ecocardiograma sob estresse físico ou farmacológico, pos-

    sibilitando diagnóstico mais preciso e alta precoce 50. Pa-cientes com diagnóstico de AI de alto risco, ou com recidivados sintomas mesmo sob tratamento, são candidatos aoestudo angiográfico. A realização da ECO-D para avaliaçãoda função ventricular pode dispensar o uso da ventriculo-grafia em situações em que haja alguma limitação para a rea-lização do estudo angiográfico. Pacientes que não apresen-tam quadro clínico típico, sem alterações eletrocardiográfi-cas ou elevação de marcadores de necrose miocárdica naevolução, têm diagnóstico definido como “possível isque-mia”. A estratificação de risco pela ECO pode ser realizado

    Dor Torácica

    IAM Angina Instável Possível IsquemiaNão

    Isquêmica

    Risco Altoou moderado

    Baixo Risco

    Teste deIsquemia

    DiagnósticoDiferencial

    Coronariografia

    TE ouECO com Estresse

    ou Cintigrafia Ecodoppler

    Fig. 1 - Classificação inicial dos pacientes com dor torácica e aplicação da ecocardiografia.

    Tabela XXII - Indicações de ecocardiografia em pacientes com

    angina instável (AI)

    Indicação Classe

    Exame durante a dor persistente supostamente isquêmica, I porém com ECG não conclusivo

    AI com instabilidade hemodinâmica I

    Suspeita de infarto não avaliada adequadamente por Imétodos convencionais

    Avaliação da função ventricular em pacientes com IIaAI de risco intermediário ou alto não submetidos àventriculografia

    Ecocardiograma sob estresse, intra-hospitalar ou I precocemente após alta, em pacientes não submetidosa estudo angiográfico e com “possível isquemia” ou comAI com risco baixo ou intermediário controlada clinicamente

    Ecocardiograma sob estresse para avaliar significadofuncional de obstrução coronária moderada à angiografia,desde que o resultado interfira na conduta IIa

    Ecocardiograma sob estresse em AI de alto risco III

    *Ecocardiograma transesofágico pode ser necessário porque tem maior acurácia.

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    com esforço físico ou sob efeitos de fármacos indutores deisquemia, como a dobutamina e o dipiridamol associados àatropina. O ecocardiograma com esforço é opção quando oECG não é adequado para a identificação de isquemia du-rante o teste ergométrico. Além da presença de isquemia, aECO sob estresse permite conhecer a extensão de segmen-tos sob risco. A isquemia desencadeada com freqüência

    cardíaca abaixo de 120 bpm ou dose baixa de fármacos indi-ca pior prognóstico.

    4.2 Insuficiência coronariana crônica4.2.1 Uso da ecocardiografia sob estresse na doença

    arterial coronariana crônica - A ecocardiografia sob es-tresse (ECO-estresse) é um método não invasivo estabeleci-do para avaliação de pacientes com doença arterial corona-riana (DAC) obstrutiva suspeita ou conhecida, exercendoum importante papel na determinação do seu diagnóstico e

     prognóstico, na avaliação do impacto de terapias de revas-cularização, na detecção de viabilidade miocárdica e no au-xílio às decisões terapêuticas. O estresse cardiovascular 

    causa isquemia miocárdica em regiões supridas por uma ar-téria com grau significativo de estenose, e este fenômeno émanifestado por alteração transitória da contração segmen-tar, passível de ser detectado pela ecocardiografia bidimen-sional, com avaliação de todos os segmentos miocárdicosdas diversas paredes do ventrículo esquerdo. Os métodosdisponíveis para a indução do estresse são o esforço físico(esteira ou bicicleta ergométrica), a estimulação atrial tran-sesofágica, o uso de drogas vasodilatadoras (dipiridamol eadenosina) ou de estimulantes adrenérgicos (dobutamina).A ECO-estresse apresenta boa acurácia para detecção deDAC significativa em pacientes com probabilidade pré-testeintermediária ou alta, com maior sensibilidade e especifici-

    dade para o diagnóstico de DAC em relação ao teste ergo-métrico, além do valor adicional na localização e quantifica-ção da isquemia miocárdica 51. A acurácia da ECO-estresse

     pela dobutamina é semelhante aquela pelo esforço (83 e85%, respectivamente), e um pouco menor com dipirida-mol52. A adição de atropina a ECO-estresse farmacológicaaumenta a acurácia e diminui a porcentagem de testes inefi-cazes, especialmente em pacientes sob uso de betabloquea-dor. A sensibilidade global é maior em pacientes com doen-ça multiarterial do que em uniarteriais, em pacientes com in-farto miocárdico prévio e naqueles com lesões >70% deobstrução51,52. É importante saber a probabilidade pré-testeda doença a ser avaliada, considerando-se história clínica,fatores de risco, exame físico e sintomas, especialmente ador torácica. Assim, se um paciente assintomático apresen-ta um teste ergométrico com possível resultado falso-posi-tivo, uma ECO-estresse negativa pode ser útil na diminui-ção da probabilidade de DAC.

    A escolha do tipo de estresse deve basear-se no obje-

    tivo do exame e nas condições clínicas associadas, conside-rando-se as contra-indicações específicas para cada moda-lidade 52. O teste com esforço físico está indicado em pa-cientes com capacidade de exercício preservada, aptos arealizar o teste ergométrico máximo e eficaz, ou para avalia-ção de angina de esforço. Pacientes com quadro clínico deinsuficiência coronariana e impossibilitados de realizar es-forço físico por razões ortopédicas, pulmonares, neurológi-cas ou vasculares devem ser submetidos à ecocardiografiacom uso de estresse farmacológico, assim como pacientescom indicação de pesquisa de viabilidade miocárdica (comutilização da dobutamina).

    Em pacientes com DAC crônica, assim como com afunção ventricular esquerda em repouso, a isquemia miocár-dica induzida pela ECO-estresse também tem valor prognós-tico 53. A presença de resultado negativo está associada a

     baixo risco de eventos cardiovasculares durante o acompa-nhamento, ao contrário do resultado positivo. Em pacientescom infarto miocárdico prévio, a ecocardiografia sob estres-se pode ser útil na avaliação da presença, distribuição e se-

    Tabela XXIII - Indicações gerais da ecocardiografia sob estresse no

    diagnóstico e prognóstico da DAC crônica

    Indicação Classe

    Avaliação de isquemia miocárdica em indivíduos Isintomáticos *

    Avaliação de isquemia miocárdica em indivíduos IIaassintomáticos com teste-ergométrico positivo ou duvidoso*

    Avaliação de isquemia miocárdica em indivíduos com I bloqueio de ramo esquerdo ou alterações que impeçam umaadequada análise eletrocardiográfica de isquemia (alteraçõesST-T repouso, digital, HVE, etc)*

    Diagnóstico de isquemia miocárdica em pacientes IIbselecionados com probabilidade pré-teste de grauintermediário ou alto para DAC*

    Avaliação pré-operatória de cirurgia não-cardíaca de I pacientes com DAC que não podem exercitar-se#

    Avaliação da função ventricular esquerda global IIbcom exercício*

    Avaliação inicial de indivíduos assintomáticos com baixa III probabilidade de DAC

    Reavaliação periódica de rotina de pacientes estáveis sem IIImudança na terapia

    Exame para substituição rotineira do teste ergométrico em III pacientes nos quais a análise eletrocardiográfica é adequada

    * Ecocardiografia sob estresse físico ou farmacológico.

    # Ecocardiografia sob estresse farmacológico.

    Tabela XXIV - Indicações da ecocardiografia sob estresse na

    avaliação de revascularização cirúrgica ou percutânea em

    pacientes com DAC crônica

    Indicação Classe

    Avaliação do significado funcional de lesões coronárias Ino planejamento de angioplastia transluminal percutâneaou cirurgia de revascularização*

    Avaliação de viabilidade miocárdica (miocárdio hibernado) I para planejamento de revascularização#

    Avaliação de reestenose após revascularização em pacientes Icom recorrência de sintomas atípicos*

    Avaliação de reestenose após revascularização em pacientes IIacom recorrência de sintomas típicos*

    Avaliação de rotina em pacientes assintomáticos após IIIrevascularização cirúrgica ou percutânea

    * Ecocardiografia sob estresse físico ou farmacológico.

    # Ecocardiografia sob estresse pela dobutamina.

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    veridade da isquemia miocárdica, com importantes implica-ções prognósticas 54. A ECO-estresse pela dobutamina éútil também na estratificação de risco pré-operatório de pa-cientes com DAC, sobretudo em cirurgias vasculares degrande porte 55.

    A avaliação da reserva coronária pela ECO-estresse é

    útil para demonstrar o significado funcional de uma determi-nada obstrução coronária, a exemplo da indicação de angio- plastia em pacientes com estenoses coronarianas de graumoderado ou na presença de múltiplas lesões. Além disto, aeco-estresse pode ser utilizada na avaliação de pacientessintomáticos para detecção de reestenose após angioplas-tia ou obstrução do enxerto ou novas lesões após cirurgiade revascularização. Outra importante indicação da ecocar-diografia sob estresse é a pesquisa de viabilidade miocárdi-ca em pacientes com DAC crônica, em que a depressão dafunção contrátil miocárdica pode estar relacionada à necro-se miocárdica ou por miocárdio hibernado, com importanteimplicações prognósticas 56.

    4.2.2 Utilização do contraste ecocardiográfico de

    microbolhas - O uso de contraste ecocardiográfico à basede microbolhas possibilita melhor definição dos bordosendocárdicos, permitindo avaliação mais adequada do es-

     pessamento miocárdico parietal e da função contrátil globale segmentar do ventrículo esquerdo, em repouso e sob es-tresse 57. É útil e seguro nos pacientes com indicação de eco-estresse farmacológico, quando têm imagens subótimas emrepouso, para melhorar delineamento de bordos 58. O con-traste pode também realçar o efeito Doppler no estudo de

     jatos regurgitantes ou estenoses valvares. Embora estu-

    dos experimentais em animais e em humanos tenham de-monstrado a possibilidade do uso do contraste na avalia-ção da perfusão miocárdica 59,60, seu uso na prática médicaainda está restrito a centros terciários, necessitando aindade padronização da técnica.

    4.2.3 Visibilização das artérias coronárias e avalia-

    ção da reserva de fluxo coronariano - A ecocardiografiatransesofágica possibilita a visibilização da porção proximaldas artérias coronárias. A análise das velocidades de fluxono terço inicial da artéria coronária descendente anterior,associada ao uso de vasodilatadores (adenosina ou dipiri-

    damol), permite avaliação não invasiva da reserva de fluxocoronariano, útil na determinação do significado funcionalde estenose nesta artéria ou no estudo das alterações da mi-crocirculação coronariana 61. O desenvolvimento tecnoló-gico tem permitido a visibilização da artéria coronária des-cendente anterior em sua porção média e distal pela ecocar-

    diografia transtorácica, inclusive com medida da reserva defluxo coronariano 62.A ecocardiografia de contraste com perfusão em tem-

     po real associada à quantificação do fluxo miocárdico regio-nal é uma técnica recente que permite a quantificação da re-serva de fluxo coronariano 63. Entretanto, a avaliação das ar-térias coronárias e a quantificação da reserva de fluxo pelaecocardiografia permanecem limitadas a pequenos estu-dos, não havendo consenso atual para seu uso clínico.

    5. Hipertensão Arterial Sistêmica

    Os efeitos estruturais e funcionais da hipertensão arte-

    rial sistêmica (HAS) sobre o miocárdio podem ser avaliados pela ECO-D, não só sobre a função sistólica ou diastólica,mas sobretudo em relação ao grau e formas de hipertrofiaventricular esquerda (HVE). O exame permite identificar equantificar a hipertrofia miocárdica, com base na medida daespessura das paredes ventriculares e da massa do VE, bemcomo caracterizar o padrão geométrico ventricular, a partir darelação entre a massa ventricular e a espessura relativa das

     paredes. São caracterizados três tipos de padrão geométricoanormais do VE: a) hipertrofia concêntrica (aumento da massado VE associada a aumento da espessura relativa da paredeventricular); b) hipertrofia excêntrica (aumento da massa do

    VE em associação à espessura relativa de parede ventricular normal) e c) remodelamento concêntrico (massa ventricular esquerda normal associada a aumento da espessura relativada parede ventricular). Este último padrão se relaciona a pior 

     prognóstico 64. A avaliação da hipertrofia tem relevância clí-nica, pois representa fator de risco independente de morbi-mortalidade cardíaca 64. Estes aspectos devem ser valoriza-dos ao se decidir sobre início de tratamento em pacientes comHAS limítrofe. Embora esteja documentada a regressão da

    Tabela XXV - Indicações da ecocardiografia com contraste

    ecocardiográfico de microbolhas

    Indicação Classe

    Avaliação da função ventricular esquerda global e Isegmentar em pacientes com imagens subótimas

    Melhora do sinal Doppler em pacientes com imagem subótima I

    Delineamento de bordos endocárdicos durante a ecocardiografia Isob estresse em pacientes com imagens subótimas em repouso

    Uso rotineiro do contraste ecocardiográfico em todos os pacientes III

    Delineamento de bordos endocárdicos durante a ecocardiografia IIIsob estresse em pacientes com janela acústica adequada

    Avaliação de perfusão miocárdica III

    Tabela XXVI - Indicações da ecocardiografia na hipertensão

    arterial sistêmica

    Indicação Classe

     Necessidade de avaliação da função ventricular ou do I padrão de HVE para orientação terapêutica

    Acompanhamento de dilatação ou disfunção VE já Idocumentada na vigência de alteração no quadroclínico para orientação terapêutica

    Detecção ou avaliação da repercussão funcional de doença Icoronária associada por meio de ecocardiografia de estresse

    Avaliação de HVE em paciente com HAS limítrofe, sem IIaalteração no ECG para orientar tratamento

    Diagnóstico de disfunção diastólica associada ou não à IIadisfunção sistólica

    Estratificação de risco para avaliação prognóstica baseada IIa

    na função do VE

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    HVE induzida pelo tratamento, não há consenso sobre o va-lor de exames periódicos para o acompanhamento da funçãoventricular ou da massa miocárdica, particularmente em pa-cientes assintomáticos. A presença de disfunção diastólica,de alterações valvares degenerativas associadas ou de doen-ça coronária podem ser avaliadas, respectivamente pela ECO-

    D ou pela ECO sob estresse.6. Doenças Cardioembólicas

    Este termo engloba os processos embólicos que aco-metem o encéfalo (acidente vascular encefálico: AVE) e acirculação periférica (obstrução arterial aguda). Embora otromboembolismo pulmonar constitua entidade individua-lizada, também merece investigação da fonte embolígena, eserá discutido em outro capítulo. O AVE de origem embólicaoscila em torno de 20%, causado por fibrilação atrial nãovalvar, cardiopatia isquêmica, aneurisma ventricular, miocar-diopatia dilatada, doença valvar reumática, dentre outros.

    Quando ocorre AVE na ausência de doença vascular cere- bral demonstrável, é imprescindível a pesquisa de fonte em- bólica cardíaca ou extracardíaca (aorta), quer seja direta(trombos, vegetações, tumores) ou indiretas (anormalida-des estruturais potencialmente embolígenas: aneurismas,miocardiopatias, forâmen oval patente, etc). A existência demúltiplos eventos acometendo diferentes territórios vascu-lares, bem como a oclusão aguda de um vaso periférico coma artéria femoral ou renal deve levantar a suspeita de embo-lia. Além do ecocardiograma transtorácico, pode-se contar com a ECO transesofágica, que é mais sensível e específica,sobretudo na detecção de trombos em átrio esquerdo (par-

    ticularmente no apêndice atrial esquerdo), de contraste eco-gráfico espontâneo (marcador de estase sanguínea e pre-cursor de trombos), de vegetações endocárdicas ocultas,de tumores intracardíacos embolígenos (mixomas e fibroe-lastomas), de aneurismas do septo interatrial, fôramen oval

     patente (embolia paradoxal) e de ateromas aórticos com

    “debris” móveis (placas complexas,rotas e pedunculadas,com trombose recente). Essas condições podem passar despercebidas ao exame transtorácico, ou serem exclusiva-mente detectadas ao exame transesofágico, que tem maior impacto diagnóstico na pesquisa de trombos no apêndiceatrial, pequenas vegetações ou trombos em próteses valva-

    res, forame oval patente, aneurisma do septo interatrial e fo-cos embolígenos da aorta torácica (placas de ateroma mó-veis ou “debris”). A pesquisa de forame oval patente neces-sita da ECO transesofágica associada ao uso de contrastecom salina agitada e manobra de Valsalva. Essas medidas

     podem reduzir o número de AVE criptogênicos, transfor-mando-os em cardioembólicos, sobretudo em pacientes jo-vens. Outros aspectos da fibrilação atrial são discutidos emcapítulo especial.

    7. Hipertensão Pulmonar,TromboembolismoPulmonar e Doenças Pulmonares

    A ECO-D desempenha papel importante na definiçãoda causa dos sintomas na suspeita de doenças pulmonares(DP), já que a dispnéia pode ter origem pulmonar ou cardía-ca, além de avaliar a repercussão cardíaca de pneumopatias

     primárias. Nos pneumopatas, a janela paraesternal pode ser limitada pela hipersinsuflação pulmonar, que prejudica atransmissão do ultra-som. A despeito das dificuldades téc-

    Tabela XXVII - Indicações do ecocardiograma* em pacientes com

    AVE ou outros eventos vasculares obstrutivos periféricos 1-3

    Indicação Classe

    Oclusão aguda, em qualquer idade, de grande artéria I

    central ou periférica

    Paciente jovem (

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    Tabela XXIX - Indicações da ecocardiografia em adultos com

    arritmias e palpitações

    Indicação Classe

    Arritmias ou palpitações com suspeita de cardiopatia estrutural I

    Arritmias em paciente com antecedente familiar de cardiopatia Igenética associada a arritmias (ex: miocardiopatía hipertrófica)

    Displasia arritmogênica ventricular direita IS. Brugada (fibrilação ventricular idiopática) para excluir Idoença cardíaca estrutural

    Avaliação pré e pós-ablação com suspeita de complicações I

    Arritmias que requerem tratamento IIa

    Auxílio em técnicas de ablação IIa

    Arritmia ventricular em pacientes candidatos a esportes IIacompetitivos

    Evidência de pré-excitação no ECG IIa

    Pós-ablação sem evidência de complicações IIb

    ECO transesofágica em fibrilação auricular para IIbestratificar risco embólico

    Arri tmia recorrente que não requer tratamento na presença IIbde exame físico normal

    Pré-excitação no ECG na ausência de anomalias cardíacas IIb

    Palpitações sem arritmia identificada e sem suspeita clínica IIIde cardiopatía

    nicas impostas pela doença pulmonar para avaliação eco-cardiográfica, o exame pode dar informações importantesem boa parte dos pacientes. Uma alternativa é a obtençãode imagens por via subcostal. Casos especiais necessitamde estudo transesofágico.

    Há certas limitações na avaliação funcional do ventrí-

    culo direito (VD), devido à sua conformação geométrica pe-culiar. A dificuldade no uso de métodos quantitativos noVD impõe o recurso da avaliação subjetiva desta câmara na

     prática. Nos casos crônicos (“cor pulmonale” crônico) cau-sados por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) oufibrose pulmonar, a repercussão da HP pode determinar dila-tação e hipocinesia do VE, com alterações do formato e mo-

     bilidade do septo interventricular. São freqüentes os reflu-xos valvares tricúspide e pulmonar, tanto no indivíduo nor-mal como no portador de hipertensão arterial pulmonar, atin-gindo aproximadamente 70% da população 65. A gravidadeda hipertensão arterial pulmonar (HP), uma freqüente com-

     plicação da DP, pode ser estimada quanto à sua severidade

     por meio da ECO-D. O método mais comum consiste na de-terminação da pressão sistólica da artéria pulmonar (AP) de-rivada da curva do refluxo tricúspide, quando presente 65.Outras técnicas menos precisas incluem a avaliação da pres-são diastólica da artéria pulmonar na vigência de refluxo

     pulmonar, e da pressão média da AP pela análise do fluxo davia de saída do VE.

     No tromboembolismo pulmonar agudo (“cor pulmona-le” agudo), a ECO-D pode contribuir na avaliação da reper-cussão hemodinâmica da HP instalada sobre o VD, como ma-nisfestações de episódios embólicos maciços ou submaci-ços. Pequenas embolias podem não provocar alterações fun-

    cionais detectáveis à ECO-D. O exame auxilia também na pes-quisa da fonte embólica no coração direito e nas veias cavas, bem como possibilita a localização de trombos na AP e seuramos proximais, principalmente na presença de trombos demaior tamanho. Entretanto, em geral apresenta baixa sensibi-lidade e especificidade para detectar embolia pulmonar 66.

     Nesta situação, o acesso transesofágico pode ser útil.

    8. Arritmias e Síncope

    As arritmias podem resultar de uma alteração funcio-nal eletrofisiológica ou anormalidade estrutural cardíaca.Palpitações são queixas freqüentes, nem sempre relaciona-das a arritmias, mas que necessitam de investigação de cau-sa orgânica. A ECO-D é útil na identificação de substratoanatômico para arritmias (disfunções ventriculares, hiper-trofia miocárdica, dilatação de câmaras, valvopatias, etc).

     Na presença de palpitações ou extra-sístoles benignas (ven-triculares ou supraventriculares), a ECO-D deve ser indica-da se houver suspeita de cardiopatia subjacente. Os pacien-tes com arritmias ventriculares originadas no ventrículo di-reito (morfología de BRE) necessitam de ECO-D na busca deevidências de displasia arritmogênica de ventrículo direito.A displasia arritmogênica ventricular direita se caracteriza

     por peculiar envolvimento do ventrículo direito, instabilida-

    de elétrica que precipita arritmias ventriculares, síncope e

    morte súbita, em que o eco-D pode estabelecer critériosmaiores de diagnóstico como severa dilatação, micronaneu-rismas e hipocinesia do ventrículo direito. As taquicardiasventriculares originadas no ventrículo esquerdo chamam aatenção para disfunção contrátil de ventrículo esquerdo. Aocorrência de fibrilação ventricular na ausência de qualquer alteração estrutural cardíaca é classificada como “doença

    elétrica primária” ou “fibrilação ventricular idiopática” des-crita por Brugada 67, na qual a ECO-D está indicada para ex-cluir doença cardíaca estrutural.

    8.1 Fibrilação atrial

    A ECO-D transtorácica (ETT) deve ser realizada naavaliação inicial de todos os pacientes com fibrilação atrial(FA), a fim de se determinar o tamanho do átrio esquerdo(AE), o tamanho, espessura miocárdica e função do ventrí-culo esquerdo (VE), assim como para excluir doenças valva-res, pericardiopatias ou miocardiopatia hipertrófica 68. Aanálise das funções sistólica e diastólica ajudam na decisão

    terapêutica. Trombos ocorrem em 10% dos pacientes comfibrilação atrial, porém cerca de 2% embolizam, mesmo apósrestabelecimento da contração mecânica. A sensibilidadedo ETT na detecção de trombos no AE varia de 33 a 60%,mas não é capaz de detectar trombos no apêndice atrial es-querdo (AAE). Já a sensibilidade da ECO transesofágica(ETE ) na detecção de trombos no AE/AAE é de 92% e a es-

     pecificidade de 98%. O ETE tem sido usado na FA para seestratificar pacientes em termos do risco de acidente vascu-lar cerebral, para guiar a cardioversão (CV), para identificar 

     pacientes em que a CV terá sucesso e que irão manter ritmosinusal 69. A incidência de 5 a 7% de eventos embólicos

    após a CV, em pacientes não anticoagulados, tem sido atri-

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     buída ao deslocamento de trombo previamente existente.Contudo, estudos recentes demonstraram uma disfunçãodo AE e do AAE após reversão a ritmo sinusal, potencial-

    mente tromboembolígena, o que explica os eventos embóli-cos em pacientes sem trombos ao ETE prévio à CV 70. A ex-clusão de trombos intra-atriais pelo ETE possibilita reduçãodo tempo de anticoagulação pré-CV 71. O estudo multicêntri-co ACUTE propôs uma alternativa segura e eficaz de anti-coagulação breve com heparinização terapêutica endove-nosa para pacientes com FA não valvular de duração supe-rior a 48 horas, seguida de ETE para excluir trombo em AE/AAE, acompanhada de 4 semanas de anticoagulação oralapós CV bem sucedida 72. Esta opção parece ser adequada

     para pacientes com FA de início recente (

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    cos ou periféricos, febre prolongada, variações auscultató-rias de sopros cardíacos, ou possibilidade de malignidadecom acometimento de câmaras cardíacas ou do espaço peri-cárdico. Os tumores mais comuns no adulto são de natureza

     benigna, representados pelo mixoma, e menos freqüente pelo fibroelastoma, ambos com potencial embolígeno, quan-do pedunculados e móveis. Mais raros são os tumores ma-lignos como sarcomas e linfomas infiltrando as paredes car-díacas, ou invadindo as cavidades como os hipernefromas,melanomas e tumores torácicos primários. Massas intra-miocárdicas podem sugerir fibromas, ou rabdomiomas quan-do múltiplas e presentes em crianças. Derrames pericárdicosrecorrentes de causa indeterminada devem levantar a sus-

     peita de metástase pericárdica1-3.

    10. Doenças do Pericárdio

    A ECO-D transtorácica é o método mais usado paraavaliação semiquantitativa do derrame pericárdico e suas

    conseqüências hemodinâmicas, que dependem não só dovolume de líquido coletado, mas sobretudo da velocidadede sua instalação. São necessários múltiplos planos para acaracterização de derrame septado, comum no pós-operató-rio de cirurgia cardíaca sob a forma de hematoma pericárdi-co. Conteúdos sólidos podem ser reconhecidos no interior do espaço pericárdico, associados a líquido (gordura epi-cárdica, grumos de exsudato, fibrina, coágulos ou massastumorais, geralmente metastáticas), porém não podem ser diferenciados de forma precisa. Sinais de restrição externa

     podem ser determinados e necessitam de exames evolutivos para detectar precocemente o tamponamento cardíaco, queé um processo dinâmico. Inicia-se com colapso das câmaras

    direitas, evolui para acentuação das variações respiratóriasdos fluxos transvalvares, e sinais de pletora da veia cava in-ferior, que podem anteceder as manifestações clínicas detamponamento. Pericardites “secas”, fibrinosas por vezesnão se acompanham de derrame pericárdico.

    Tabela XXXIII - Indicações da ecocardiografia nas doenças do

    pericárdio classe

    Avaliação Classe

    Suspeita de derrame pericárdico por doença pericárdica I primária (pericardite quilotórax exsudativa) ou secundária

    (sangramento, metástase, mixedema, hidropericárdio,quilotórax, etc)

    Suspeita de processo restritivo externo por doença I pericárdica primária (pericardite constritiva) ousecundária (compressão tumoral)

    Estudos evolutivos para avaliação de derrames recorrentes Iou para detecção precoce de processo constritivo

    Suspeita de tamponamento por hemorragia secundária a Itrauma torácico, perfuração iatrogênica durante cateterismo,rotura de parede ventricular durante infarto agudo domiocárdio e dissecção aórtica

    Monitoramento de punção pericárdica guiada por ecocardiograma Iia

    Exame de rotina para pequenos derrames em pacientes estáveis III

    Pesquisa de espessamento pericárdico sem repercussão III

    hemodinâmica

    O espessamento pericárdico é um achado inespecífi-co, dependente de fatores técnicos. A pericardite constriti-va pode ocorrer sem calcificações pericárdicas evidentes,mas pode ser suspeitada pelas alterações hemodinâmicas,que resultam nas variações fásicas respiratórias de fluxosdas valvas cardíacas e veias hepáticas, além da pletora da

    veia cava inferor. Em exames inconclusivos para derrame,espessamento ou constrição pericárdica, um ECO transeso-fágico deverá ser realizado.

    Cistos pericárdicos, tumores císticos e agenesia de pe-ricárdio constituem outras situações menos freqüentes que

     podem ser diagnosticadas à ECO-D1-3.

    11. Doenças da Aorta Torácica, ArtériaPulmonar, Veias Cavas e Pulmonares

    A porção proximal da aorta ascendente, do arco aórti-co e do tronco da artéria pulmonar podem ser avaliados pelaECO transtorácica (ETT). As janelas supraesternal e sub-

    costal são utilizadas para complementação do estudo dasveias cavas, pulmonares e da aorta abdominal proximal.Uma adequada visibilização das porções tranversa e des-cendente da aorta torácica, do segmento proximal dos ramosda artéria pulmonar, da desembocadura das veias pulmona-res e da das veias cavas necessita do exame transesofágico(ETE). Nas síndromes aórticas agudas (dissecção aórtica,hematoma intramural e úlcera aterosclerótica penetrante),

     bem como nos aneurismas aórticos verdadeiros (não com- plicados, ou com suspeita de rotura), o envolvimento proxi-mal da aorta pode ser suspeitado ao ETT, necessitando doETE para melhor acurácia diagnóstica da doença, da exten-

    são do envolvimento, da caracterização dos orifícios de en-trada e das luzes verdadeira e falsa, e de eventuais complica-ções (derrame pericárdico, insuficiência aórtica). Traumatorácico fechado com suspeita de transecção aórtica exigeo ETE na ausência de complicações esofagianas. O ETE

    Tabela XXXIV - Indicações de ecocardiografia nas

    doenças da aorta classe

    Indicação ClasseETT ETE

    Dissecção aórtica e suas variantes (hematoma IIa Iintramural, úlcera aterosclerótica penetrante)

    Aneurismas aórticos verdadeiros (ateroscleróticos, I IMarfan e doenças do tecido conjuntivo)

    Rotura traumática da aorta (dissecção ou transeccção) IIa I

    Doenças degenerativas (aterotrombose) ou inflamatórias IIa I(arterites) da aorta torácica, com fenômenostromboembólicos ou oclusões arteriais crônicas

    Acompanhamento evolutivo de dissecções ou suas I IIavariantes, após tratamento conservador, procedimentosintervencionistas (“stent”), ou cirurgia, sem complicações

    Acompanhamento evolutivo de dissecções ou suas variantes, I Iapós tratamento conservador, procedimentos intervencionistas(“stent”), ou cirurgia, com suspeita de progressão ou complicação

    Rastreamento familiar de parentes de pacientes com síndrome I Ide Marfan ou outras doenças do tecido conjuntivo

    Suspeita de arterite de Takayasu I I

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    também é necessário na avaliação da aorta como fonte em- bolígena na suspeita de aterotrombose da aorta torácicacom a formação de placas ateroscleróticas móveis, associa-das a trombos, ou placas ulceradas complexas, com espes-sura superior a 4 mm. Nas doenças inflamatórias crônicas,como na arterite de Takayasu, o ETT pode detectar compli-

    cações (dilatação da aorta ascendente, insuficiência aór-tica), e o ETE pode caracterizar o espessamento parietal e a perda de elasticidade das paredes aórticas 1-3.

    12. Cardiologia Pediatria, Cardiologia Fetal eCardiopatias Congênitas no Adulto

    A ecocardiografia tornou-se o método diagnóstico de-finitivo para o reconhecimento e acompanhamento das car-diopatias congênitas e adquiridas no grupo pediátrico, o quediminui a necessidade de exames invasivos, facilitando aconduta médica ou cirúrgica. Serão descritas as indicaçõeshabituais do exame nas formas congênitas e adquiridas das

    doenças cardíacas no feto, no recém-nascido, na infância eadolescência, além das doenças congênitas em adultos.

    12.1 Ecocardiografia fetal

    Considerando a importância prognóstica do diagnós-tico intra-uterino rede cardiopatias congênitas e arritmiasgraves, todos os esforços devem ser mobilizados no senti-

    Tabela XXXV - Indicações da ecocardiografia fetal

    Indicação Classe

    Detecção ou exclusão de anormalidades cardíacas fetais Icomo rotina da avaliação pré-natal, independentemente da presença de fatores de risco para cardiopatias

    Translucência nucal aumentada no primeiro trimestre I

    Detecção ou suspeita de alterações cardíacas à Iultra-sonografia obstétrica

    Presença de alterações do rítmo cardíaco I

    Presença de fatores de risco materno-familiar para cardiopatias I

    Cariótipo alterado I

    Diabetes materno I

    Lupus eri tematoso sistêmico ou outra colagenose materna I

    Exposição a agentes teratogênicos I

    Uso materno de indometacina, aspirina, anti-inflamatórios Ie outros medicamentos que interfiram no metabolismo

    da prostaglandina

    Anormalidades extracardíacas detectadas à Iultra-sonografia obstétrica

    História de perdas fetais anteriores I

    Retardo do crescimento intra-uterino I

    Oligodrâmnio ou polidrâmnio I

    Hidropsia fetal não imunológica I

    Idade materna avançada I

    Uso materno de substâncias com potencial efeito deletério Isobre o coração fetal (álcool, fumo e drogas com ação sobreo sistema nervoso central)

    Infecções virais ou parasitárias maternas I

    Avaliação do coração fetal no primeiro trimestre IIb

    da gestação por ecocardiografia transvaginal

    do de se avaliar o coração fetal em todas as gestações atra-vés da ecocardiografia fetal 75-77. A ecocardiografia fetal

     passou a ser ferramenta fundamental para o diagnósticocardiológico intra-uterino. A implicação imediata desse fatoé a de que muitas cardiopatias graves, com necessidade deatendimento clínico-cirúrgico de emergência logo após o

    nascimento, passaram a ter seu diagnóstico conhecido ain-da na vida intra-uterina, propiciando o planejamento anteci- pado das ações a serem adotadas pela equipe médica no pós-parto imediato 78-80. O exame pode ser realizado no pri-meiro trimestre, tanto por via transvaginal como transabdo-minal. Entretanto, é a partir da 18a semana de gestação, até otermo, que todas as alterações estruturais ou funcionais docoração fetal podem ser identificadas 81. Sugere-se utilizar aanálise segmentar para identificação e descrição das estru-turas cardíacas, e estudo pelas técnicas de Doppler pulsátile mapeamento de fluxo em cores para a avaliação dos fluxosnas grandes artérias, valvas e cavidades cardíacas, assimcomo canal arterial, ducto venoso, veias pulmonares, siste-

    ma venoso abdominal, artéria e veia umbilicais e artéria cere- bral média.

    12.2 Ecocardiografia em recém-nascidos

     Nas indicações da ecocardiografia para o grupo de pa-cientes recém-nascidos deve-se levar em conta a fisiologia car-diovascular de transição do feto para a fase pós-natal, assimcomo a freqüente coexistência de doenças pulmonares 82-84.

    12.3 Ecocardiograma em lactentes, crianças e adolescentes

    Em lactentes, crianças e adolescentes, as principais in-dicações da Doppler-ecocardiografia incluem alterações da

    Tabela XXXVI - Indicações para ecocardiografia no recém-nascido

    Indicação Classe

    Cianose, desconforto respiratório, insuficiência cardíaca I

    Anormalidades cromossômicas ou anomalias extracardíacascom probabilidade de coexistir com cardiopatia I

    Ausência de melhora esperada da função cardiopulmonar em prematuro com doença pulmonar I

    Doença sistêmica materna associada a morbidade neonatal I

    Sopro intenso ou outra anormalidade cardíaca ISíndrome com herança dominante associada a cardiopatia

    ou incidência em vários membros da família ICardiomegalia ao RX-tórax I

    Dextrocardia, anomalias de situs visceral ou pulmonar ao exame clínico, ECG ou radiografia. I

    Arritmias e/ou distúrbios da condução elétrica I

    Hidropisia fetal não imunológica IAcompanhamento de neonato submetido a fechamentode canal arterial. I

    Sopro suave na borda esternal inferior esquerda IIa

    Dificuldade de crescimento na ausência de anormalidadeclínica definida IIa

    Síndrome associada a cardiopatia congênita sem evidênciaclínica de anormalidade cardíaca IIb

    Ritmo cardíaco ectópico fetal não sustentado e ausência

    de arritmia pós-parto III

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    anatomia, da função, da morfogênese e do rítmo cardíaco. O principal papel do exame está na completa caracterização dalesão de pacientes com suspeita clínica, na avaliação dahistória natural, no reconhecimento e na prevenção de mu-danças secundárias, assim como na resposta ao tratamentodispensado85-96.

    12.4 Crianças com cardiopatias adquiridas

    A Doppler-ecocardiografia permite informações impor-tantes na avaliação das principais categorias de cardiopatiasadquiridas no grupo pediátrico. Tais cardiopatias ocorrem

     principalmente em doenças sistêmicas associadas a proces-sos inflamatórios, drogas cardiotóxicas, transplante cardía-co, doença parenquimatosa pulmonar e trombos  97-101.

    12.5 Adultos com cardiopatias congênitas

    Pacientes adultos podem apresentar cardiopatiascongênitas diagnosticadas na infância, não operadas ouque foram previamente submetidas a cirurgia paliativa oucorretiva. Alguns podem manifestar tardiamente cardiopa-

    tias congênitas não diagnosticadas na infância 102.

    Tabela XXXVII - Indicações para ecocardiografia em lactentes,

    crianças e adolescentes

    Indicação Classe

    Sopro atípico ou patológico ou outra evidência de Ianormalidade cardíaca

    Cardiomegalia à radiografia I

    Dextrocardia, anomalias de situs visceral ou pulmonar Iao exame clínico, ECG ou radiografiaI

    Determinação do momento adequado para tratamento Iclínico ou cirúrgico de paciente com defeito cardíaco conhecido.

    Avaliação pré-operatória imediata para orientação de Imanuseio cirúrgico em paciente com defeito cardíaco conhecido

    Mudança evolutiva no quadro clínico de paciente com Idefeito cardíaco conhecido

    Arri tmias e/ou distúrbios da condução elétr ica do coração I

    Avaliação pós-operatória com suspeita clínica de lesão Iresidual ou anormalidade recorrente, função contrátildiminuída, hipertensão arterial pulmonar, trombo,septicemia, ou derrame pericárdico

    Síndrome com herança dominante associada à Icardiopatia ou com incidência em vários membros da família

    História familiar de doença miocárdica transmitida geneticamente I

    Fenótipos de síndrome de Marfan ou Elhers-Danlos I

    Doença neuromuscular associada ao envolvimento miocárdico I

    Síndrome associada à alta incidência de cardiopatia Icongênita sem evidência clínica de anomalia cardíaca

    Síncope ou dor precordial induzida por esforço físico I

    Febre prolongada sem causa aparente em paciente com Icardiopatia congênita

    Sopro funcional em paciente assintomático IIa

    Retardo de crescimento na ausência de anormalidade IIbclínica definida.

    Avaliação pós-operatória recente sem suspeita de lesão residual IIb

    Avaliação pós-operatória tardia de paciente assintomático, III

    sem anormalidade clínica ou recorrenteDor torácica de origem músculo-esquelética em III paciente assintomático

    Tabela XXXVIII - Indicações para ecocardiografia em cardiopatias

    adquiridas no grupo pediátrico

    Indicação Classe

    Avaliação inicial e reavaliações de pacientes com Idiagnóstico suspeito ou confirmado desíndrome de Kawasaki, miopericardites, HIV e febre reumática.

    Pós-transplante cardíaco, para monitorização de Isinais de rejeição, trombo e crescimento cardíaco

    Avaliação inicial e reavaliação de pacientes em uso Ide droga cardiotóxica

    Evidência clínica de doença miocárdica I

    Insuficiência renal grave e evidência de anormalidade cardíaca I

    Avaliação de doadores para transplante cardíaco I

    Hipertensão arterial pulmonar I

    Evento trombo-embólico I

    Septicemia, insuficiência cardíaca direita e cianose Iem paciente com cateter venoso

    Embolização sistêmica ou pulmonar em paciente I

    com shunt  cardíaco e com cateter venoso

    Síndrome da veia cava superior em paciente com cateter venoso I

    Diagnóstico de provável febre reumática em atividade I