Diretrizes gerais da ação evangelizadora da igreja no brasil

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  • 1. 1 CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASILDIRETRIZES GERAIS DA AO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL 2003 - 2006Texto aprovado no dia 8/5/2003 41a Assemblia GeralItaici Indaiatuba, SP, 30 de abril a 9 de maio de 2003Objetivo GeralEvangelizarproclamando a Boa-Nova de Jesus Cristo,caminho para a santidadepor meio do servio, dilogo, anncioe testemunho de comunho, luz da evanglica opo pelos pobres,promovendo a dignidade da pessoa,renovando a comunidadeformando o povo de Deus eparticipando da construo de uma sociedadejusta e solidria,a caminho do Reino definitivoAPRESENTAOAs Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil foram o tema central da41a Assemblia Geral da CNBB, realizada em Itaici de 30 de abril a 9 de maio deste ano.Tendo por base o texto preparado por uma Comisso encarregada para isso, aAssemblia estudou, debateu, emendou e, finalmente, aprovou o texto que agora colocado disposio das dioceses, parquias, comunidades e agentes de pastoral detodo o Brasil.As novas Diretrizes, por um lado, esto numa linha de continuidade com as precedentes,e nem poderia ser diversamente, pois a misso da Igreja continua sendo a mesma e ocontexto no qual ela realiza esta misso tambm , basicamente, o mesmo. No entanto,nas Diretrizes tambm so levadas em conta as circunstncias mudadas, as questesemergentes e os novos e grandes desafios culturais, sociais e religiosos que a Igrejaenfrenta no Brasil, bem como a sua renovada conscincia da misso recebida de JesusCristo, sobretudo a partir da celebrao do Grande Jubileu do ano 2000.O Objetivo Geral parte da fundamental diretriz que Jesus mesmo deu Igreja, quandoenviou os discpulos em misso: Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a todacriatura (Mc 16,15). Evangelizar a grande graa e, ao mesmo tempo, a constantetarefa da Igreja: Ai de mim, se eu no anunciar o Evangelho! (1Cor 9,16). O annciodo Evangelho uma dvida que a Igreja tem para com todo o povo de Deus. E aproclamao da Boa-Nova tem, antes de tudo, a finalidade de atrair as pessoas a JesusCristo e de lev-las ao encontro com ele: Jesus mesmo a boa notcia que Deus enviouao mundo, o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6); a Boa-Nova de Jesus Cristo caminho para a santidade e esta a grande proposta que os evangelizadores tm parafazer a todas as pessoas: No hesito em dizer que o horizonte para o qual deve tendertodo o caminho pastoral a santidade (Novo millennio ineunte, n. 30).

2. 2Vrios so os passos e os modos de evangelizar: as diversas formas de servio aoprximo e sociedade, o dilogo cultural e religioso, o anncio explcito do Evangelho edo patrimnio da f da Igreja, bem como o testemunho de vida crist e de comunhofraterna e eclesial. A pessoa humana, com suas pobrezas e carncias, mas tambm comsua dignidade intocvel, sempre o grande destinatrio e o primeiro beneficirio da Boa-Nova da salvao; ao mesmo tempo, esta tambm uma proposta para a constanterenovao e revitalizao da comunidade humana e eclesial, e para a formao do povode Deus, conforme o desgnio do prprio Deus. Mediante a sua ao evangelizadora, aIgreja quer participar da ingente tarefa de construo de uma sociedade justa e solidriae animar a todos na esperana, a caminho do Reino definitivo.Fao votos e peo a Deus que as novas Diretrizes ajudem a Igreja no Brasil a avanarpara guas mais profundas; que possam nortear a elaborao dos planos de pastoraldas dioceses, a fim de que sejam produzidos muitos e bons frutos. Que a Virgem Maria,que teve pressa em levar a alegre notcia sua prima Isabel (cf. Lc 1,39) e com quemaprendemos a contemplar o rosto de Jesus Cristo, proteja-nos e ampare a Igreja em suamisso.Braslia, 13 de maio de 2003.D. Odilo Pedro SchererSecretrio Geral da CNBBINTRODUO1. A Igreja se compreende como imagem viva da Trindade Santa, povo de Deus, corpode Cristo, templo do Esprito Santo1. Nela, todos agem coordenadamente para o objetivocomum da evangelizao.2 Inserida na histria e atenta realidade, mantendo suaidentidade, procura discernir nos desafios os sinais dos tempos.32. Para que a Igreja no Brasil possa agir de maneira articulada, eficiente, fiel suamisso e atenta aos novos desafios, apresentamos agora as Diretrizes Gerais da AoEvangelizadora, como orientao para o planejamento pastoral no perodo 2003-2006.3. Elas so a continuao de um esforo que vem desde a poca do Conclio Vaticano II.O Plano de Pastoral de Conjunto (1966-1970) j desdobrava o objetivo geral em seislinhas de trabalho, hoje chamadas dimenses. Estas dimenses no so aes isoladas,mas diferentes aspectos que devem estar presentes em toda ao pastoral, construindoum trabalho coordenado, orgnico, como convm a um corpo, em que cada rgoprecisa dos outros. Assim, em todo trabalho da Igreja, temos em vista as dimenses: 1)comunitrio-participativa; 2) missionria; 3) bblico-catequtica; 4) litrgica; 5)ecumnica e de dilogo inter-religioso; 6) sociotransformadora.4. Alm do esquema das seis linhas ou dimenses, existe a possibilidade de novosenfoques, que no se afastam do Conclio Vaticano II, mas contribuem para realizarmelhor suas orientaes. A Igreja no Brasil aprendeu muito com o prprio processo deplanejamento, que h tanto tempo vem desenvolvendo. Ele trouxe um contnuo esforode anlise da realidade e de acompanhamento das mudanas socioeconmicas, culturaise religiosas, junto com o progresso da reflexo teolgica, em sintonia com a Igrejalatino-americana e universal.5. At 1994 tivemos, a cada quatro anos, Diretrizes Gerais da Ao Pastoral. A partir de1995, o documento orientador do planejamento passou a chamar-se Diretrizes Gerais daAo Evangelizadora. Dava-se uma nova nfase evangelizao, na qual se destacavamos seguintes aspectos:4a) Inculturao: processo global e complexo, que tem analogia com a encarnao e visaa comunicar a f de modo mais ligado ao contexto em que se desenvolve aevangelizao; 3. 3b) Exigncias intrnsecas da evangelizao: servio, dilogo, anncio e testemunho decomunho;c) Proposta de uma nova evangelizao: um novo contexto, de pluralismo e secularismo,exige uma nova evangelizao mesmo em pases j evangelizados h sculos.6. Formulando agora as novas Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja noBrasil, para os anos 2003-2006, percebemos a necessidade de dar continuidade ricaherana de experincia e reflexo pastoral acumulada nas ltimas dcadas e, ao mesmotempo, discernir as respostas pastorais aos novos desafios, que esto emergindo e quedevero marcar os prximos anos.7. Especial inspirao e empenho nos vm da Carta apostlica Novo millenio ineunte [Noincio do novo Milnio]. Contemplar o rosto de Cristo e contempl-lo com Maria aproposta do Papa Igreja na aurora do Terceiro Milnio, convidando-a a avanar paraguas mais profundas da histria, lanando-se com entusiasmo na nova evangelizao.5Enfim, o prprio Cristo o programa expresso no Evangelho e na Tradio viva. Esteprograma no novo. necessrio, no entanto, traduzi-lo em orientaes pastoraisajustadas s condies de cada comunidade.68. Estas Diretrizes Gerais so nossa proposta de evangelizao para o Brasil no prximoquadrinio. Devero inspirar dioceses, parquias e comunidades, na elaborao de seusplanos ou programas pastorais, no esprito de uma recepo criativa.79. Conforme lembra a Novo millennio ineunte, a Igreja deve viver uma dupla fidelidade aCristo: por um lado, fidelidade s origens, Tradio recebida, ao que o Esprito j fezgerminar sobre a base dos apstolos e profetas da primeira gerao crist;8 por outrolado, fidelidade tarefa missionria, de anunciar o Evangelho a novas geraes eenfrentar novos desafios.10. Estas duas fidelidades no esto, na realidade, separadas. So dois esforos emtenso, que se alimentam e estimulam reciprocamente. A fidelidade Palavra e Tradio impulsiona para a misso, para novos avanos, descobertas e criaes. Afidelidade misso e o encontro com os novos desafios estimulam a Igreja a interrogar-se novamente, com maior abertura e sensibilidade, sobre sua herana, seu patrimnio:as insondveis riquezas de Cristo.9 Por isso, com a assistncia do Esprito, a Igreja tomaconscincia sempre mais ampla da vontade de Deus e das exigncias da f.11. Os discursos de Paulo mostram que, desde o incio da pregao apostlica, o Cristomorto e ressuscitado anunciado de forma diferente e adequada compreenso ecultura de cada povo. O discurso aos judeus (At 13,16-43) supe o conhecimento dahistria de Israel; o discurso aos camponeses da Licania (At 14,15-18) supe oconhecimento das estaes climticas e dos rudimentos da agricultura; o discurso aosintelectuais atenienses (At 17,16-31) cita filsofos e poetas.12. Estas novas Diretrizes procuram sempre conjugar os dois aspectos: o da fidelidade misso permanente da Igreja (captulo I), e o da apreciao da realidade e discernimentodos novos desafios (captulo II). Com base nestes fundamentos, propomos pistas de aopara os prximos anos (captulo III).CAPTULO I: MISSO DA IGREJA: EVANGELIZAR13. Nos ltimos tempos, cresceu a conscincia de que o encontro do Evangelho com aspessoas, sem perder seu carter individual e nico, acontece no contexto da cultura. Atarefa da evangelizao foi descrita por Paulo VI, com estas palavras: Para a Igreja nose trata tanto de pregar o Evangelho a espaos geogrficos cada vez mais vastos oupopulaes maiores, mas de chegar a atingir e como que a transformar pela fora doEvangelho os critrios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, aslinhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade [...]. preciso evangelizar no de maneira decorativa, como que aplicando um verniz 4. 4superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto at as suas razes a cultura eas culturas humanas, no sentido pleno e amplo que estes termos tm na ConstituioGaudium et spes (n. 53), a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo paraas relaes das pessoas entre si e com Deus10.14. Desde ento se tornou comum o uso na Igreja do termo inculturao, para indicaruma dimenso intrnseca da evangelizao. A inculturao uma perspectiva queacompanha permanentemente a evangelizao e no se reduz a uma etapa prvia. Ainculturao, na verdade, deve ser compreendida em analogia com a encarnao.11 Naencarnao, o Filho de Deus vem de junto do Pai e se insere na histria humana,partilhando da sua fragilidade marcada pelo sofrimento, pelo pecado e pela morte,assumindo-a para redimi-la. A comunicao do Evangelho tambm quer se inserir nahistria dos povos e pessoas a que se destina, num dilogo respeitoso. Esse dilogobeneficia tanto o evangelizador quanto o evangelizado, num intercmbio e numainterao enriquecedora. A prpria cultura que acolhe o Evangelho tambm setransforma, abrindo-se a novas perspectivas e purificando-se de seus aspectosnegativos. O ponto de partida a certeza de que Deus est presente e atua em cadacultura.15. Estas novas Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora continuam ressaltando quatroexigncias intrnsecas da evangelizao: o servio, o dilogo, o anncio e o testemunhode comunho. O evangelizador ou a evangelizadora fazendo-se presente num ambienteou numa cultura no evangelizada dever, em primeiro lugar, buscar reconhecer seusvalores e se fazer acolher, mostrando a disposio ao servio e solidariedade para comaquela cultura e aquele povo. Isso j um sinal do Cristo que vem no para ser servido,mas para servir e dar a sua vida.12 medida que o evangelizador ou evangelizadora seinserir numa cultura ou numa comunidade humana, comunicar-se- com ela e iniciarum dilogo, para refletir com os outros sobre o sentido da vida, a f em Deus, a orao,o motivo da misso. Esse dilogo tornar possvel um anncio do Evangelho que possaser retamente entendido e acolhido, suscitando a f em Cristo. Unida pela f, nasceruma nova comunidade crist, chamada a dar testemunho dos valores em que cr,celebra e vive na fraternidade e na fidelidade ao Evangelho.1316. A ordem servio-dilogo-anncio-comunho expressa, portanto, uma seqnciapedaggica das exigncias todas elas essenciais da evangelizao. Do ponto de vistadas finalidades ou dos valores, porm, o anncio do Evangelho deve ter primado ouprioridade permanente. para ele que se volta a evangelizao ou misso: Aevangelizao conter sempre como base, centro e, ao mesmo tempo, vrtice do seudinamismo uma proclamao clara de que em Jesus Cristo a salvao oferecida acada homem, como dom de graa e de misericrdia do prprio Deus.1417. Anncio e testemunho so duas formas, complementares e conexas, da missocrist. O anncio indica mais propriamente a proclamao explcita da mensagem doEvangelho. O testemunho pode ser dado pela palavra, mas principalmente uma atitudede vida, muitas vezes silenciosa. O mundo de hoje escuta com melhor boa vontade astestemunhas do que os mestres, ou ento, se escuta os mestres, porque eles sotestemunhas.15O testemunho pode assumir diversos aspectos. Um ato de solidariedadeou de servio, uma atitude de dilogo, uma declarao franca da prpria f, o exemplode uma vida fraterna e inspirada pelo amor: tudo isso testemunho, que pode chegar mxima expresso na doao da prpria vida.1618. Expresso privilegiada de testemunho a comunho eclesial, condio para que omundo creia. Fazer da Igreja a casa e a escola da comunho: eis o grande desafio quenos espera. [...] Antes de planejar iniciativas concretas, preciso promover umaespiritualidade da comunho.17 Espiritualidade de comunho significa ter o coraovoltado para o mistrio da Trindade. [...] Significa a capacidade de sentir o irmo de fcomo um que faz parte de mim [...] ainda a capacidade de ver, acima de tudo, o queh de positivo no outro. [...] Por fim, espiritualidade da comunho saber criar espao 5. 5para o irmo, levando os fardos uns dos outros18e rejeitando as tentaes egostas quesempre nos insidiam e geram competio, arrivismo, suspeitas, cimes.1919. A evangelizao exige muita ateno situao em que vivemos, sincera abertura deesprito e solidariedade diante das aspiraes, angstias e interrogaes da nossapoca.20 Mas, ao mesmo tempo, por fidelidade ao prprio Cristo e misso que delerecebeu, a Igreja tem a estrita responsabilidade de oferecer, em cada poca, o acesso Palavra de Deus,21 celebrao da Eucaristia e aos demais sacramentos, e de cuidar dacaridade fraterna e do servio aos pobres. Uma antiga tradio, que se inspira na Palavrade Deus e que foi diversamente retomada na histria da Igreja, descreve essaresponsabilidade segundo um trplice mnus: ministrio da Palavra, ministrio da liturgia,ministrio da caridade.22Ministrio da Palavra20. O Conclio Vaticano II colocou, conscientemente, o ministrio da Palavra de Deus emprimeiro lugar. Paulo louvava os cristos de Tessalnica que a tinham recebido nocomo palavra humana, mas como o que ela de fato : palavra de Deus, que age em vsque acreditais.23A escuta e a acolhida da Palavra desde que traduzidas coerentementeem atos24 so fundamento da vida e da misso da Igreja. Alimentar-nos da Palavrapara sermos servos da Palavra no trabalho da evangelizao: tal , sem dvida, umaprioridade da Igreja ao incio do novo milnio.2521. A proclamao e a escuta da Palavra ocupam um lugar central na liturgia. Nela Cristoest presente na sua palavra, pois ele quem fala quando se lem as SagradasEscrituras.26 Assim a proclamao da Palavra na liturgia torna-se para os fiis a primeirae fundamental escola da f. Por isso, essencial que pastores e fiis se empenhem paraque a Palavra seja claramente anunciada nas celebraes ao longo do ano litrgico, sejacomentada e refletida com homilias cuidadosamente preparadas, seja encarnada navida.2722. Seja tambm incentivada e reforada a prtica da leitura pessoal e orante da Bbliaconforme as orientaes do Conclio28 e, especialmente, a prtica dos crculos bblicosou das reunies de grupo, para a leitura da Bblia e a reflexo sobre a vida hoje, com odecorrente compromisso cristo. Tambm dioceses e parquias incentivem as formasmais adequadas e acessveis de formao bblica, inclusive para multiplicar o nmero dosanimadores do apostolado bblico.23. O ministrio da Palavra exige o ministrio da catequese. Hoje, na culturamarcadamente pluralista, os ambientes da escola, do trabalho e da vida social de modogeral no comunicam os valores cristos. A prpria famlia est incapacitada paraassumir sozinha a responsabilidade da educao da f. Neste contexto, a catequese, emprocesso de renovao, adquire uma nova importncia. Sem reduzir seu dinamismo emrelao s crianas e aos jovens, coloca sua prioridade na catequese adulta comadultos, na verdade modelo para todas as formas de catequese. Tambm oportunoincentivar e orientar a catequese em famlia, com a participao dos pais, apoiando-os naeducao religiosa dos filhos, desde a primeira idade. Haja, por isso, um cuidadosopreparo dos catequistas e dos pais.24. Aos fiis leigos, sejam oferecidas oportunidades de formao bblica e teolgica e deuma formao integral, hoje indispensvel para uma atuao crist mais consciente nasociedade.29 Escolas e universidades catlicas colaborem na educao crist de jovens eadultos, por meio de uma catequese em harmonia com as parquias. As dioceses,colaborando entre si e com o Estado, apiem o ensino religioso nas escolas pblicas eparticulares e cuidem da formao de professores competentes. Embora este no sesitue mais na perspectiva da catequese, um importante instrumento para responder dimenso religiosa da pessoa humana. Nas escolas catlicas, e onde for possvel,apresentem-se os contedos fundamentais do cristianismo e da doutrina da Igreja. Alm 6. 6disso, preciso dar apoio decidido Pastoral de Juventude e Pastoral de Adolescentes,inseridas na Pastoral de Conjunto.25. pela pregao da Palavra30 que todos podem ter acesso f e salvao,chegando a conhecer o Deus nico e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que o Paienviou.31 As comunidades eclesiais tenham viva conscincia de que aquilo que uma vezfoi pregado pelo Senhor deve ser proclamado e espalhado at os confins da terra, demodo que tudo quanto foi feito uma vez por todas, pela salvao dos homens, alcance oseu efeito em todos, no decurso do tempo.32 A Palavra escutada e acolhida pelos fiistambm para que Deus se valha deles para difundir sua mensagem entre todos ospovos33.Ministrio da liturgia26. A celebrao litrgica o momento mais visvel da comunidade eclesial, o momentoem que ela se rene, convocada pelo Esprito de Deus e pela Palavra, para louvar oSenhor, alimentar a f e celebrar a vida.A liturgia fonte e vrtice da vida da Igreja.34 Isso especialmente vlido para acelebrao eucarstica.A eucaristia edifica a Igreja, e a Igreja faz a eucaristia.3527. Pela graa do batismo, os cristos tm o direito e a obrigao de participar, de formaplena, consciente e ativa, das celebraes litrgicas.36 Toda comunidade eclesial deveempenhar-se para que a liturgia seja celebrada no esprito e segundo as orientaes daIgreja. Isso exige que nas aes litrgicas no se esquea a centralidade do mistriopascal e o carter celebrativo da liturgia. Deve-se realizar uma sbia mistagogia, ouseja, uma introduo ao mistrio celebrado, um itinerrio de f que conduza ao encontrocom Deus e plena vivncia eclesial e, na sociedade, ao testemunho da justia e dacaridade.28. Procure-se conscientizar pela prpria prtica e atitudes corretas a assemblia deque ela que celebra, sob a presidncia do ministro ordenado ou do ministro leigo. Aliturgia essencialmente comunitria. Ritos e smbolos litrgicos devem ser, quantopossvel, sbrios e compreensveis por si mesmos. Mas a longa tradio bblica e eclesial,em que se inserem as formas atuais da liturgia, exige uma formao dos fiis, umaeducao litrgica, que no s os ajude a compreender a liturgia, mas a inseri-la nocorao da prpria vida crist. Especial cuidado merece a formao das pessoas queexercem diversos ministrios (leitores, aclitos, equipes litrgicas, animadores...), semas quais no ser possvel uma celebrao comunitria viva e ordenada.3729. A participao na eucaristia seja verdadeiramente, para cada batizado, o corao dodomingo: um compromisso irrenuncivel, assumido no s para obedecer a um preceito,mas como necessidade para uma vida crist verdadeiramente consciente e coerente.38Em muitas das nossas comunidades, no meio rural e na periferia das metrpoles, no possvel a celebrao regular ou assdua da eucaristia dominical. Valorizamos o empenhodas comunidades que se renem para celebraes da Palavra de Deus, com distribuioda comunho, quando possvel, alimentando o desejo da celebrao eucarstica. Sejavalorizada tambm a celebrao eucarstica em dias de semana, especialmente nascomunidades que no contam com a eucaristia dominical.30. A reforma litrgica do Conclio trouxe maior clareza e riqueza espiritual na celebraodo ano litrgico. Com isso, o mistrio de Cristo vai sendo celebrado no decorrer do ano,tendo como ponto culminante a Pscoa. A Igreja inclui, tambm, no ciclo anual amemria da bem-aventurada Virgem Maria, dos mrtires e dos santos e as comunidadesdevem celebrar suas festas populares no esprito da Igreja. As comunidades valorizem acelebrao dos tempos litrgicos, ressaltando a espiritualidade e as atitudes prprias decada tempo, sempre na perspectiva do mistrio pascal. 7. 731. Os Sacramentos so sinais da comunho com Deus em Cristo, que marcam com suagraa momentos fortes da vida. A Igreja acolhe pelo batismo os filhos das famlias cristse todos os que querem aderir comunidade eclesial. Confere o vigor do Esprito nacrisma, para uma vida crist madura e o compromisso missionrio. Celebra a eucaristia,comunho com Cristo, que se oferece em sacrifcio ao Pai por ns, alimentando-nos comseu prprio Corpo, e nos convida partilha fraterna. Na reconciliao, celebra o perdo,o reencontro com o Pai, o dom da paz e um recomeo apoiado na graa. Aos doentes eidosos leva, pela uno, o conforto do perdo e o alvio no sofrimento. Com o sacramentoda ordem, constitui os ministros que, de modo especial e nico, fazem as vezes do CristoBom Pastor. Abenoa em Cristo o matrimnio, que faz do amor do casal um sinal daaliana com Deus.3932. A celebrao dos Sacramentos favorea a evangelizao e a catequese do povo deDeus, superando o ritualismo e os hbitos apenas devocionais e jurdicos de suarecepo.33. A pastoral sacramental, de fato, no se dirige apenas aos catlicos praticantes, quetm um bom conhecimento da doutrina da Igreja, participam assiduamente da liturgia emesmo, em muitos casos, do uma contribuio ativa evangelizao e ao trabalhopastoral. A pastoral sacramental deve, tambm, cuidar do grande nmero de catlicosque desejam manter algum vnculo com a Igreja, especialmente em certas ocasies:matrimnio, batismo e primeira comunho dos filhos, exquias ou missas pelos defuntosda famlia...34. Muitos desses catlicos pouco praticantes, por razes diferentes, no conhecem, noaceitam ou no se sentem motivados para abraar formas mais completas da vida daIgreja. Entretanto, pedem os sacramentos, mesmo com motivaes que, hoje, parecemincompletas ou insatisfatrias, s vezes fruto de antigos esforos de evangelizao ecatequese. Isso torna estas pessoas dispostas a algum dilogo pastoral, mesmo se poucodisponveis a um empenho maior. Estas ocasies de encontro e de dilogo no devem serdesprezadas ou subestimadas. Toda pessoa que procura a Igreja deve ser acolhida comsimpatia. Particular ateno deve ser dada aos jovens e adultos que pedem o batismo,para o qual devem ser preparados segundo as indicaes do Rito prprio.4035. No devemos impor a todos, de forma indiscriminada, idnticas exigncias, quandona realidade as pessoas so diversas e os graus de proximidade com a vida eclesial somuito diferentes. Tambm no se pode exigir dos adultos de boa vontade aquilo para oque no lhes foi dada adequada motivao.41 Por isso, os pastores, com a ajuda deministros leigos e equipes pastorais, devem procurar o dilogo pessoal, considerandocada caso segundo suas exigncias especficas.42 Mesmo se o dilogo levar conclusode que a pessoa no tem condies de ser admitida ao sacramento, ela deve sair doencontro sentindo que foi acolhida e escutada e que poder voltar, quando mais dispostaa assumir os compromissos da f crist.36. A comunidade eclesial deve sentir-se responsvel pela evangelizao de todos. Paraisto a participao nas celebraes litrgicas e na vida sacramental muito importante.Deve, tambm, acolher com ateno e discernimento a religiosidade popular. Avenerao de Maria Santssima, modelo dos discpulos e discpulas, e dos santos esantas, seguidores de Jesus, aproxima-nos tambm de Cristo e mantm aberta nocorao das pessoas, especialmente das mais pobres, a procura do Deus verdadeiro,Deus-conosco.Ministrio da caridade37. Se as fontes da vida da Igreja so a Palavra e o Sacramento, a essncia da vidacrist o amor, o amor-doao, o amor que vem de Deus mesmo, a caridade, que oapstolo Paulo aponta como o mais alto dos dons.43 No poderia ser diversamente, se oprprio Jesus faz do amor o distintivo dos cristos: Como eu vos amei, assim tambm 8. 8vs deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecero todos que sois os meus discpulos:se vos amardes uns aos outros.4438. O amor cristo tem duas faces inseparveis: faz brotar e crescer a comunhofraterna entre os que acolheram a Palavra do Evangelho (a koinonia, a partilha dosbens, a solidariedade, um s corao e uma s alma) e leva ao servio dos pobres, aocuidado para com os sofredores, ao socorro de todos os que precisam, semdiscriminao.45 O Papa nos exorta ao compromisso dum amor ativo e concreto a cadaser humano. Alm disso, ele reafirma a opo preferencial pelos pobres: Severdadeiramente partimos da contemplao de Cristo, devemos saber v-lo no rostodaqueles com quem ele mesmo quis identificar-se: Pois eu estava com fome, e medestes de comer... (Mt 25,35-46).4639. O amor atento s necessidades reais das pessoas, especialmente das mais pobresde nosso tempo, os excludos da sociedade. O grande escndalo da nossa poca47 que,apesar da disponibilidade de grandes recursos econmicos e tecnolgicos, persistam aconcentrao de uma enorme riqueza nas mos de poucos e a insensibilidade tica e afalta de vontade poltica de nossa sociedade de acabar com a fome, de prevenir asdoenas comuns, de alfabetizar e educar a todos! As nossas comunidades, quegeralmente promovem uma ampla variedade de atividades caritativas e obras sociais,tenham o cuidado de no atender apenas s antigas formas de pobreza, mas tambm snovas, que surgem em conseqncia das numerosas mudanas econmicas e sociais dosltimos anos e atingem novos segmentos da populao.40. Ainda mais, tenham o cuidado de no deixar decair a verdadeira caridade emassistencialismo paternalista. No somente devemos partilhar da conscinciademocrtica, que exige o respeito pela dignidade de cada pessoa e a promoo efetivade seus direitos, mas tambm ver na prtica da caridade uma oportunidade de doar edoar-se, de aprender e crescer na troca mtua dos bens materiais e dons espirituais.4841. O testemunho cristo se estende tambm defesa dos direitos humanos aorespeito pela vida de cada ser humano, desde a concepo at a morte. A caridadetomar ento, necessariamente, a forma de servio cultura, poltica, economia, famlia, para que em toda a parte sejam respeitados os princpios fundamentais de quedepende o destino do ser humano e o futuro da civilizao.49 Nunca demais lembrarque o nosso servio da caridade deve envolver aqueles a quem servimos no comoobjetos, mas como sujeitos da conquista de seus direitos como pessoas, criadas imagem de Deus.42. Levados pela caridade, os cristos so tambm impulsionados pelo Esprito aparticipar da vida poltica, para que a prpria organizao da sociedade seja cada vezmais impregnada de valores evanglicos. Esta participao poltica, motivada pela f,pode assumir diferentes formas, desde o interesse pelos problemas sociais, que compromisso de todo cidado, at a filiao a partidos e a aceitao de cargos eletivos.Os cristos podero, assim, dar sua contribuio para o aprimoramento da cidadania.43. A vivncia da trplice dimenso escuta da Palavra, comunho fraterna ecompromisso com a justia alimenta e expressa a espiritualidade batismal, queconfigura o cristo com Cristo e o faz viver como filho, irmo e servidor.CAPTULO II: NOVOS DESAFIOS NO INCIO DO NOVO MILNIO44. A sociedade brasileira, inserida na sociedade mundial, que se encontra numa fase deglobalizao, est atravessando mudanas profundas. A primeira delas a complexidade.A sociedade complexa porque nela funcionam muitos sistemas autnomos: cincia,tecnologia, economia, poltica, comunicao, ideologia, religio... Isso torna difcilcompreender o que vai acontecer e alimenta as incertezas. Podemos, porm, apontarmovimentos e tendncias que marcam s vezes, contraditoriamente o nossopresente e o futuro prximo. 9. 945. A globalizao de nossa sociedade um fenmeno recente, embora tenha tidoantecedentes. Os ltimos quinze, vinte anos viram um crescimento muito intenso dascomunicaes entre pessoas, empresas e pases,50 um expressivo fluxo de migraoentre os diversos pases e o aumento do peso das relaes internacionais, financeiras epolticas. A globalizao recente provoca crescimento econmico muito desigual,favorvel para alguns pases, fraco ou at negativo para outros. Particularmenteprejudicial aos pases em desenvolvimento tem sido a circulao de capitaisespeculativos, sempre em busca do maior lucro, que repentinamente abandonam essespases e os condenam a crises profundas. No se v uma clara tendncia diminuiodas desigualdades; antes, elas parecem ter aumentado, tanto no interior de um mesmopas como entre as diversas naes.5146. Apesar de aspectos positivos da globalizao (maior produo e circulao de bens,facilidade de comunicao, progressos tecnolgicos), a impresso que prevalece naopinio pblica, inclusive nos pases ricos, os mais beneficiados pela globalizao, dedesencanto.52 Em nossa sociedade, em lugar da segurana e do progresso prometidos, aglobalizao provocou um aumento sensvel dos riscos. Muitos temem sobretudo ascatstrofes climticas e ecolgicas, conseqncias da interveno humana sem limites,agressiva ao meio ambiente, as catstrofes qumicas e atmicas, o terrorismo. Mesmoquem no se preocupa com esses fenmenos mundiais, teme pelo seu posto de trabalho,pela insegurana do seu futuro e pela violncia cotidiana, inclusive dentro de casa.47. Diante da incerteza e do risco, a reao das pessoas a busca do imediato, dasatisfao aqui e agora. A atual sociedade de consumo mantm aceso o desejo deadquirir mais, criando artificialmente novas necessidades, e procura dar a impresso deque cada um pode escolher e comprar o que quiser. Na esfera da vida privada, difunde-se uma mentalidade pela qual cada um se julga absolutamente dono de suas decises esempre menos aceita orientaes da sociedade, s vezes mesmo os imperativos ticosmais elementares, levando a um permissivismo, acirrando o ambiente de sensualidade. Abusca da felicidade, da realizao pessoal, da satisfao do indivduo, que em si soaspiraes legtimas, tomadas, porm, como absolutas, tm conseqncias negativassobre as relaes sociais, as instituies, os compromissos duradouros, que se tornamfrgeis e facilmente descartveis.48. Um aspecto importante dessa mudana de mentalidade o enfraquecimento dapoltica. Isso decorre das mudanas culturais como a difuso do individualismo e,principalmente, do crescimento do poder dos grandes grupos econmicos multinacionais,que pretendem impor suas decises sociedade e substituir as instncias polticas. Da orisco de esvaziamento da democracia, que a opinio pblica procura corrigir com umamaior vigilncia sobre as decises polticas e com o exerccio de presses populares,diretas, em favor das causas que lhe parecem essenciais: contra a guerra, contra aexplorao econmica, contra a corrupo, inclusive a eleitoral, em defesa dos direitoshumanos e da soberania popular. Houve desencanto e diminuio da confiana do povonos polticos e nas instituies pblicas; em contrapartida, h novos sinais de esperanae empenho poltico. Surgem organizaes alternativas, no-governamentais. Muitaspessoas, inclusive muitos jovens, renem-se em movimentos sociais, sem vinculaopartidria, para defender com energia os direitos individuais e para expressar aesperana de que um outro mundo possvel.49. H tambm uma mudana socioeconmica, que se caracteriza pela diminuio damo-de-obra empregada na indstria, pela fragmentao do processo produtivo e pelaflexibilizao das relaes de trabalho. Neste contexto de luta pela sobrevivncia, osalve-se quem puder ameaa a unio dos trabalhadores e seu empenho nas lutascoletivas. O fenmeno do desemprego particularmente grave, pela amplitude quealcanou e porque atinge muito diretamente a vida e a dignidade de milhes de pessoas,a comear pelos jovens. 10. 1050. A sociedade contempornea enfraqueceu, s vezes eliminou, as comunidadestradicionais. A passagem da agricultura para a indstria provocou uma rpidaurbanizao e concentrou nas cidades a populao antes dispersa nos campos.53 Maisrecentemente essa concentrao produziu as chamadas megalpoles. O aumento dascomunicaes de massa levou a cidade a exercer uma influncia ainda mais extensa,difundindo seus padres culturais tambm em regies rurais. A grande cidade modernafavorece o contato com uma pluralidade de experincias e expresses culturais,multiplicando as possibilidades de escolha do indivduo. Ao mesmo tempo, priva-o dasolidariedade mas tambm do controle que encontrava nas comunidades menores. Aviolncia urbana e a criminalidade criam um clima de medo. A enorme expanso dascomunicaes sociais torna o indivduo muito menos preso ao seu territrio. Variadasatividades humanas se conectam com uma rede de contatos e trocas que cobre o mundointeiro.51. O mundo atual aprecia a novidade e tende a desprezar a tradio e a sabedoria dosantigos. Em geral, a sociedade tem substitudo os papis atribudos pelo nascimento porpapis escolhidos pelo indivduo. No se herda mais da famlia a profisso, a religio, acultura, o partido poltico... Escolhe-se a partir da prpria experincia de vida. Oindivduo constri a prpria identidade. Por outro lado, muitos correm o risco de no termais uma identidade estvel e bem definida. A acelerao das mudanas contribui paradeixar as pessoas estressadas ou desnorteadas.52. Diante do perigo da massificao, o indivduo tem ainda na famlia um apoiofundamental, embora ela tambm esteja menor, reduzida ao seu ncleo, mais frgil eexposta a rupturas. Contribuem para fragiliz-la o trabalho fora de casa de pai e me, aentrega da educao dos filhos a outros, a influncia da televiso na vida das crianas eadolescentes etc. Alm da famlia, o indivduo procura sempre mais relaes a partir desua escolha, por afinidade de interesses. Entre as novas experincias comunitrias fundadas em afetos e afinidades emocionais esto tambm as experincias de novascomunidades e movimentos religiosos, unidos ao redor de uma causa, de um carisma, deum lder e sobretudo de uma acolhida recproca, cheia de calor humano, que atrai e uneos membros do grupo.53. Apesar do individualismo, h movimentos sociais que se articulam em favor decausas mais amplas que a classe ou o interesse local. Assim, a luta contra asdiscriminaes, a promoo dos direitos das mulheres, a preservao do meio ambiente,a defesa dos direitos de culturas e etnias especficas tm-se revelado como causascapazes de mobilizar grande nmero de pessoas. A busca da justia social e de umoutro mundo possvel rene uma extraordinria e variada adeso de grupos emovimentos. Este fenmeno manifesta uma conscincia planetria e a percepo de quefazemos parte de uma nica famlia universal.54. A tendncia individualista alastrou-se, tambm, no campo religioso. O indivduosempre mais escolhe sua religio num contexto pluralista. Mesmo aderindo a umatradio ou instituio religiosa, escolhe crenas, ritos e normas que lhe agradamsubjetivamente ou se refugia numa adeso parcial. Ou, ainda, procura construir, numaespcie de mosaico, sua religio pessoal com fragmentos de doutrinas e prticas devrias religies. Finalmente, aumenta o nmero dos que recusam a adeso a qualquerinstituio religiosa e fazem de suas convices uma religio invisvel, com pouca ounenhuma prtica exterior.54 Alastra-se tambm o fenmeno da Nova Era, com aspectostambm religiosos e diversas vertentes, afetando negativamente a f crist.55 Ao mesmotempo, cresce a atrao pelas prticas esotricas.55. Outra tendncia a inverso de sentido da experincia religiosa. A religio deixa deser pensada e vivida como uma forma de reconhecimento, adorao e entrega aoCriador, obedincia na f, servio a Deus. Torna-se busca de utilidade para o indivduo,seja ela um sentido para a vida, paz interior, terapia ou cura de males, sucesso na vida enos negcios, como prometido pela assim chamada teologia da prosperidade. Dessaforma, a religio, longe de desaparecer, intensa e difusamente procurada, inclusive na 11. 11mdia, como no se via h anos. A mdia pode banalizar a religio, reduzi-la a mais umespetculo para entreter o pblico. H tambm, em novas expresses religiosas, umatendncia difusa e generalizada, inclusive por influncia de certa psicologia, a afirmar ainocncia dos indivduos. Segundo elas, ningum deve se sentir pecador ou culpado.Outros grupos religiosos atribuem toda a culpa a demnios ou espritos malignos.Conseqentemente, ningum se sente responsvel por corrigir o que est errado nasociedade, na qual convivem, estranhamente, muita religiosidade e muita criminalidade,busca de Deus e injustia.56. Essas tendncias, no Brasil, aparecem nos dados do Censo 2000, que evidenciamtambm a diversidade das situaes regionais: metrpoles e mundo rural, litoral einterior, Nordeste e outras grandes reas.Os principais dados relativos questo religio so trs: a diminuio da porcentagem dos cristos catlicos, de 83,3% (1991) para 73,9%(2000);56 esta diminuio, de quase dez pontos percentuais em nove anos, foi muitorpida, se considerarmos que uma diminuio semelhante aconteceu, anteriormente,num prazo de noventa anos (de 98,9% em 1890 para 89,0% em 1980); o aumento da porcentagem dos cristos evanglicos, de 9,0% (1991) para 15,6%(2000);57 o aumento dos que se declaram sem religio, que passam de 4,7% da populao(1991) para 7,4% (2000), ou de 7 milhes para 12,5 milhes.5857. A novidade no apenas o aumento real do nmero dos evanglicos ou dos semreligio, mas o aumento das pessoas que no tm mais receio de assumir publicamentetal condio. Para avaliar devidamente os resultados do Censo, so necessrias, ainda,algumas consideraes. O Censo pergunta pela religio do entrevistado. Ora, um bomnmero de brasileiros freqenta atos religiosos de vrias denominaes. A recentepesquisa do CERIS nas seis maiores regies metropolitanas brasileiras59 encontrou cercade 25% dos entrevistados que freqentam atos de mais de uma religio e cerca demetade deles (12,5% do total) o fazem sempre. Alm disso, uma pesquisa qualitativamostraria que h muitos modos de crer e de praticar dentro do prprio catolicismo, nomundo evanglico, ou em outras religies.58. Uma outra observao importante que os dados sobre religio podem sercomparados com outros dados do Censo, como diminuio da natalidade, aumento dasunies consensuais sem legalizao, aumento da escolaridade etc. Todos esses dadosapontam para uma modernizao dos hbitos da populao brasileira e para umcrescimento do individualismo e subjetivismo.59. Tambm no parece exato dizer que o Pas se tornou menos religioso. As pesquisasatuais mostram que a religiosidade continua alta entre os brasileiros. A declarao semreligio parece indicar mais uma des-institucionalizao da religio e a emergncia dachamada religio invisvel. O indivduo no adere mais a uma religio institucionalizada,mas no deixa de acreditar em Deus e de rezar, ocasionalmente.60. Na opinio de muitos pastoralistas, se o catolicismo perdeu, nas ltimas dcadas, umcerto nmero de catlicos nominais (catlicos s de nome), ganhou em participaoativa dos fiis na vida eclesial, na evangelizao e no compromisso social. No catolicismocontemporneo existe um nmero elevado de fiis que dedicam, voluntariamente, muitashoras por semana ao trabalho pastoral ou de evangelizao, assumindo, como batizados,tarefas que, antigamente, eram reservadas ao clero.61. Muitas Igrejas evanglicas se mostram dinmicas na procura de novos fiis,chegando, s vezes, at ao proselitismo. No queremos encarar as outras Igrejas cristscomo rivais; antes, queremos que cresa a dimenso ecumnica da evangelizao. Cabe,porm, uma avaliao da qualidade da nossa presena junto ao povo, como exigncia daprpria misso de evangelizar. A organizao da Igreja Catlica est muito dependente 12. 12do padre e da parquia. Ora, o nmero de padres no tem crescido no mesmo ritmo dapopulao.60 Podemos nos perguntar se, diante das mudanas socioculturais, asestruturas pastorais e o atendimento da Igreja Catlica conseguiram alcanar de formasuficiente as populaes nas periferias metropolitanas, nas fronteiras agrcolas e naregio amaznica. A vocao apostlica dos leigos e leigas, bem como sua formao, enovas formas de organizao da vida eclesial no mundo urbano e nas reas maismarcadas pela mobilidade humana devem ser mais incentivadas.62. significativo que os estados com maior porcentagem de catlicos pertenam regio do semi-rido nordestino: Piau, 91,3%; Cear, 84,9%; Paraba, 84,2%;Maranho, 83%; Alagoas, 81,9%; Sergipe, 81,7%; Rio Grande do Norte, 81,7%. Asdiferenas significativas entre uma regio e outra no se explicam apenas pelo fenmenoda urbanizao, que recente, ou pela atuao da Igreja Catlica ou de outras Igrejasnas ltimas dcadas. O fenmeno tem razes profundas em sculos de histria. Ocatolicismo hoje, tanto nas regies onde se alimenta numa tradio mais firme quantonas regies em que foi mais desgastado pelas mudanas recentes, enfrenta novosdesafios, que esto a exigir como recordou o santo padre Joo Paulo II na Carta sobreo incio do Novo Milnio a coragem de ousar e de avanar para guas maisprofundas.CAPTULO III: DIRETRIZES DE AO63. Os desafios da hora atual so, como vimos, numerosos e complexos. Procurando afidelidade misso que Cristo confiou Igreja e a docilidade ao seu Esprito, e visandoevitar a disperso em nossa ao evangelizadora, destacamos para os prximos anostrs mbitos de ao: pessoa, comunidade e sociedade.61 No so realidades a seremconsideradas separadamente, mas trs enfoques interligados, complementares.64. Para cada mbito indicamos: 1) um desafio principal; 2) uma reflexo crist, queoferea fundamentos e critrios de ao; 3) pistas de ao. Nossas indicaes epropostas so orientaes bsicas a serem desenvolvidas, adaptadas e concretizadaspelas Igrejas particulares e comunidades locais.1. Promover a dignidade da pessoa1.1. O desafioA construo da identidade pessoal e da liberdade autntica numa sociedade consumista65. O desejo de autonomia das pessoas uma das caractersticas da modernidade. Taldesejo se manifesta por uma srie de atitudes como a reivindicao dos direitosindividuais, a participao nos destinos da sociedade, a liberdade de escolha e decisesda prpria pessoa, liberta de padres e de regulamentos.66. H uma situao cultural de individualismo, que tem aspectos positivos, enquantopromove a individualidade, e que no deve ser confundida com o egosmo, atitude moralnegativa, que rompe os laos de solidariedade com o prximo.67. As mudanas que a modernidade recente trouxe para a sociedade e para osindivduos so ambguas: oferecem mais liberdade; no entanto, esta liberdade estameaada por muitos condicionamentos, numa sociedade voltada para o consumoinsacivel. Cada um se v na situao de construir a prpria identidade, descobrir-sequem , dar sentido ao que realiza.68. So tambm desafios promoo da dignidade da pessoa as vrias formas dedesrespeito vida, como a manipulao gentica, o aborto, a eutansia, a esterilizao,a comercializao do sexo e do corpo, bem como as diversas formas de violncia. 13. 131.2. A f crist: a dignidade absoluta da pessoa - Filhos de Deus, ns o somos!(1Jo 3,2)69. A f crist , antes de tudo, adeso pessoa de Jesus Cristo e ao seu Evangelho,acolhida do dom gratuito que vem de Deus. A f tem tambm uma dimenso tica;comporta desdobramentos ticos, morais. Mas ela , fundamentalmente, confiana emDeus que se nos revela e nos fala, como a amigos.6270. O que a revelao nos diz do ser humano, da pessoa? Qual seu sentido, seu destino?A primeira resposta est no incio da Bblia.63 Deus criou o ser humano, homem emulher ele os criou.64 Mais: Deus criou o ser humano sua imagem, imagem deDeus o criou. O salmo 8 dir, com admirao, diante dessa obra to especial de Deus:Que coisa o homem, para dele te lembrares, Senhor, que o ser humano, para ovisitares? No entanto o fizeste s um pouco menor que um deus, de glria e honra ocoroaste. Tu o colocaste frente das obras de tuas mos. Tudo puseste sob os seus ps[...].6571. Afirmar que Deus cria o mundo e os seres humanos significa afirmar a liberdade deDeus: a criao fruto de uma vontade pessoal, de amor, no resultado do acaso.Significa tambm reconhecer que homem e mulher, criados semelhantes ao Criador, sopessoas dotadas de liberdade e chamadas criatividade, responsabilidade e ao amoroblativo. Assim como no mistrio de Deus Trinitrio a pessoa divina relao amorosapara as outras pessoas, assim tambm homens e mulheres, criados imagem esemelhana do mesmo Deus, devem abrir-se, oblativamente, s outras pessoas, at aosinimigos, para merecerem ser chamados filhos e filhas de Deus.6672. Deus no criou um mundo j todo pronto. Se tudo j estivesse perfeito ou,simplesmente feito, poder-se-ia pensar que o ser humano no tem nada a fazer e avida seria sem sentido. O ser humano no est na terra simplesmente para guardar umaordem, mas para colaborar com o Criador. O ser humano foi criado para criar. Osanimais e as plantas foram criados para se reproduzirem segundo suas espcies,67repetindo sempre o mesmo programa, enquanto todo filho de uma famlia humana nico, diferente dos outros. Toda criana que nasce suscita uma nova alegria.6873. Deus criou o ser humano prpria imagem, porque o quis prximo de si, nosomente amigo, mas filho. Deus fez os seres humanos capazes de Deus. Isto significaque o ser humano est aberto ao Infinito, capaz de participar da vida divina. Paulo, emAtenas, citando um poeta grego, afirma: Somos da raa do prprio Deus.69 Somosseres feitos para Deus. Joo confirma: Desde j somos filhos de Deus, mas nem sequerse manifestou o que seremos! (1Jo 3,2).74. Crer que Deus nos quer como filhos crer que Deus nos ama. A revelao nos dizque Deus amor.70 Crer no amor de Deus crer que ele quer a nossa felicidade. ABblia, que comea e acaba com uma situao de paraso, nos diz que a felicidade odestino, o projeto de Deus para o ser humano. So inmeros os passos do AntigoTestamento que falam das bnos de Deus, das alegrias concretas que o Senhor oferecea seus filhos: matrimnio feliz, filhos numerosos, campos frteis, rebanhos que semultiplicam... A felicidade na terra, fruto da reciprocidade no amor, vista como imageme antecipao de outra felicidade, para uma vida alm da morte. No Novo Testamento, aalegria a nota principal. As bem-aventuranas, o programa da vida do cristo,comeam todas com: Felizes....75. Em nossa sociedade tornou-se muito freqente ouvir ou ler: Tenho direito de serfeliz. Mas esta reivindicao parece mais um grito de angstia de quem no consegueencontrar a felicidade. As pessoas humanas tm muita dificuldade em aceitar osofrimento, hoje, talvez, mais do que nunca. E o mal constitui para elas um escndalo,algo incompreensvel. Isso se agrava devido a um conceito errneo de felicidade,confundindo-a com bem-estar, diferentemente do conceito bblico. O conceito atual noinclui a capacidade de compreender e aceitar o sofrimento. Soa at estranha a palavra 14. 14forte de Jesus: Quem quiser seguir-me, renuncie a si mesmo e tome sobre si a suacruz.7176. O sofrimento, a violncia, as doenas, enfim todas as misrias humanas angustiam eafligem, tambm, o cristo e, s vezes, levam as pessoas a duvidarem da bondade deDeus. O cristo sabe que muitos males e sofrimentos so conseqncia do pecado ou dafinitude e limitao de todo o ser criado. Mas o cristo no busca, antes de tudo,explicaes, tendo conscincia de estar diante de um mistrio. O cristo v no mal umdesafio, que chamado a combater, seguindo o exemplo de Cristo e com o auxlio da suagraa.77. Deus no ficou insensvel diante do sofrimento humano. A resposta de Deus JesusCristo. Ele tem compaixo, assume a nossa condio frgil e precria, sofre com o serhumano.72 O cristo, como Jesus, acredita que Deus est a seu lado no sofrimento, estao lado das vtimas da desgraa ou da injustia. E acredita que o mal no ter a ltimapalavra, mesmo quando parece vencer com a morte do ser humano. O cristo acreditaque Deus ressuscitou Jesus e ressuscitar a todos,73 para que os justos tenham umaexistncia incorruptvel, liberta do mal, sem dor nem lgrimas,74 e vejam uma glria queno tem proporo com os sofrimentos do tempo presente.7578. Nas atitudes de Jesus de Nazar se tornou mais evidente at que ponto Deus nosama ou, melhor, o amor incondicional, sem medida, de Deus para conosco. Jesus deu asua vida por ns, prova suprema do amor76 que ele nos demonstrou, morrendo por nsquando ainda ramos pecadores,77 e mostrou que ama todo ser humano, sem perguntarantes quem ele ou qual sua histria.78 Ele se identifica com o bom samaritano, quesocorre a vtima dos assaltantes (smbolo de toda vtima inocente do mal do mundo),sem se perguntar pela raa ou religio dele. Ele cura inmeras pessoas, vtimas dadoena ou daquelas foras malignas que atacam os seres humanos. Ele traz uma palavrade esperana aos pobres e reparte o po com eles, promessa de um futuro diferente, deum outro mundo possvel. Ele acolhe e perdoa os pecadores. Ele misericordioso.Estende a mo para levantar o cado, acolhe com abrao o que volta arrependido e vai aoencontro do afastado. Em tudo isso, Jesus no faz assistencialismo ou paternalismo.Devolve o ser humano s suas tarefas, s suas responsabilidades, sua dignidade.7979. O cristo aquele que se distingue porque acreditou no amor.80 A referncia, parao cristo, clara: amar como Deus ama. E, se isso parece muito alto (sede perfeitoscomo o Pai que est nos cus),81 o exemplo concreto nos vem de Jesus: Amai-voscomo eu vos tenho amado.82 Fazer reconhecer e reencontrar o amor em nossasociedade: eis a tarefa do cristo! Para ns, cristos, construir uma sociedade justa esolidria significa tambm construir uma sociedade fraterna e caridosa.80. Seguindo o exemplo de Jesus e pela fora de sua graa, o cristo chamado a fazera doao de sua vida e amar at o fim.83 Nisto, como o apstolo Paulo, alegra-se nossofrimentos, suportados pelo bem de todos os irmos e completar, em seu corpo, oque falta s tribulaes de Cristo.84 Assim estar exercendo o sacerdcio batismal oucomum de todos os fiis.8581. A santidade a vocao de todo cristo, a medida alta da vida crist ordinria,86que a Igreja prope, sem hesitao, a todos os fiis. Por isso, tambm a santidade ohorizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral.87 Misso de todo cristo levar, sociedade de hoje, a certeza de que a verdade sobre o ser humano s se revela,plenamente, no mistrio do Verbo encarnado.88 O testemunho de santidade tornar esteanncio plenamente digno de f.1.3. Pistas de ao82. Toda a ao evangelizadora e pastoral seja inspirada por aquela viso da pessoahumana que acenamos acima e que nos oferecida, plenamente, pela Revelao e pelatradio viva da Igreja. 15. 1583. As pistas de ao so apresentadas seguindo o esquema servio, dilogo, anncio,testemunho de comunho. Todas essas atividades devem ser consideradas comointerligadas e a listagem que as separa no deve impedir que haja coordenao ouintegrao efetiva dos diversos aspectos.1.3.1. Servio84. Deve-se pensar aqui quais iniciativas podem ajudar, hoje, as pessoas a alcanar antes de tudo no plano humano a formao e o desenvolvimento (no campo afetivo,cognitivo, profissional, social e religioso) que cada um deseja e procura para realizar-seconforme o plano de Deus. Tenham prioridade as iniciativas voltadas para os mais pobrese excludos.85. Apontamos alguns aspectos que merecem nossa ateno (a comunidade local podedescobrir outros):a) Acolhida e orientao Qualquer pessoa que procure a comunidade eclesial deve serrecebida por algum que a escute e ajude a encontrar uma soluo para sua necessidade(um conselho, uma orientao para encontrar assistncia religiosa ou psicolgica oumdica ou jurdica ou mesmo material...) e alguma forma de apoio, seja na comunidadeeclesial, seja em outras instituies.b) Ateno s necessidades bsicas Muitas vezes, as pessoas que procuram nossascomunidades necessitam, antes de tudo, prover s suas necessidades bsicas dealimentao, sade, moradia... A comunidade eclesial, no esprito do ministrio dacaridade,89 procure oferecer, com generosidade e dedicao, todos os servios quepuder, lembrando que a caridade das obras garante uma fora indubitvel caridadedas palavras.90c) Educao fundamental A Igreja tem uma proposta educativa que visa aodesenvolvimento integral da pessoa como imagem de Deus, e que urgente, sobretudono ensino fundamental e mdio. A comunidade eclesial deve despertar a conscincia e aresponsabilidade das famlias. A comunidade pode prestar apoio a escolas, pblicas ouparticulares, montar esquemas de reforo escolar, apoiar o ensino religioso, incentivar ospais a uma participao maior na vida das escolas, organizar creches ou ncleos deeducao pr-escolar, apoiar iniciativas especficas, como os programas de alfabetizaode adultos do MEB (Movimento de Educao de Base), as atividades da Pastoral daCriana, os programas de educao rural, o ensino para portadores de deficincias...d) Educao superior e profissional H, hoje, uma forte demanda disso tambm nosmeios pobres. Uma iniciativa das comunidades eclesiais j experimentada em vrioslugares a organizao de cursinhos gratuitos em preparao para o Vestibular. reade atuao pastoral e social relevante tambm a formao profissional. Mesmopequenas iniciativas (por ex. cursos de informtica) podem ajudar os jovens a encontrartrabalho. Outra dimenso importante da educao a ser incentivada e favorecida aeducao de todos solidariedade e cidadania.91e) Centros ou cursos de formao Sejam oferecidas oportunidades de aprofundamentode formao integral da pessoa: afetiva, relacional, social, intelectual, religiosa...f) Formao da juventude92 Sejam incentivadas ou apoiadas as iniciativas quefavoream a educao dos jovens, visando formao de uma personalidade madura eequilibrada, correta vivncia da sexualidade, vivncia do amor verdadeiro, aoautocontrole em face dos desvios do alcoolismo, da dependncia de drogas e doconsumismo fcil e ilusrio. 16. 16g) Formao do esprito crtico importante educar as pessoas a um correto uso damdia, para que possam refletir, discernir e tomar posio, evitando seremmanipuladas.h) Servios de terapia ou de aconselhamento Podem ser oferecidos por parquias ecomunidades, a jovens, adultos e idosos.i) Servios especiais em favor dos idosos, dos migrantes e das crianas e jovens emsituao de risco.1.3.2. Dilogo86. Partimos, aqui, da convico de que faz parte da misso dos cristos renovar omilagre de Pentecostes, inverter Babel e estabelecer o dilogo e a recprocacompreenso entre seres humanos de lngua, cultura, religio e etnia diferentes. Asociedade moderna acentua o pluralismo e a necessidade de respeitar o outro, odiferente. Os cristos, neste terreno, tm uma contribuio especfica a oferecer.87. A globalizao tende a impor modelos culturais comuns, a implantar a mesmaeconomia e a vender os mesmos produtos, em todos os lugares. Em reao, muitosdefendem de forma radical, s vezes fantica e exclusivista, suas tradies e suasparticularidades. Est a o desafio do dilogo: tornar possvel a unio e o entendimentoentre todos. Aqui, com relao pessoa, importa, antes de tudo, contribuir para educaras pessoas para o dilogo e abertura de horizontes culturais mais amplos.88. Urge um dilogo integral, orientado ao conhecimento, escuta, compreenso dosvalores de cada um, que supere apressadas avaliaes e respeite a f que o outro vive.Dilogo que suscite relacionamentos de amizade e objetive a fraternidade universal,tendo como modelo o amor desinteressado e radical que Jesus ensinou e viveu.89. Antes da formao especfica para o dilogo ecumnico, inter-religioso ou inter-cultural, importante ajudar a todos a reconhecer que, somente no dilogo, a pessoapode realizar-se. A pessoa no se desenvolve num esplndido isolamento, mas nacomunicao constante com os outros, a comear pela famlia.90. Para o dilogo com irmos de outras Igrejas crists, d-se uma preparao especficasegundo as orientaes do Diretrio Ecumnico,93 e sejam valorizadas todas asoportunidades para crescer no conhecimento, na compreenso e na estima para com osnossos irmos em Cristo. Sejam promovidos, tambm, momentos de orao comum e dedilogo, em particular a Semana de Orao pela Unidade dos Cristos, entre Ascenso ePentecostes.91. Para o dilogo com fiis de outras religies, promova-se uma preparao adequadasegundo as orientaes dos documentos Dilogo e misso94 e Dilogo e anncio,95 esejam valorizadas as oportunidades para fazer crescer o conhecimento e compreensodas outras religies. Ofeream-se, a pessoas maduras na f ou interessadas nessedilogo, oportunidades de conhecimento e estudo, para uma formao sistemtica eparticipao em eventos inter-religiosos.92. Para o dilogo intercultural, sejam oferecidas oportunidades de encontro entrecatlicos preparados e pessoas de outras tradies culturais, visando busca dafraternidade e do bem comum, inclusive por meio de aes de alcance social ehumanitrio.1.3.3. Anncio93. O anncio do Evangelho de Jesus Cristo, de sua pessoa, vida, morte e ressurreiovisa a possibilitar o encontro da pessoa com Cristo, ajud-la na adeso a ele e nocompromisso de segui-lo na tarefa missionria por ele confiada. No haver nunca 17. 17evangelizao verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, omistrio de Jesus de Nazar, Filho de Deus, no forem anunciados.9694. Ai de mim, se eu no anunciar o Evangelho!97 Os cristos no podem guardar spara si, mas so chamados a partilhar, com entusiasmo, o que de graa receberam e queenche o corao at transbordar. So desafiados a anunciar o Evangelho, por meio deuma nova evangelizao, no apenas em pases de misso ou no-cristos, mastambm em nosso prprio pas. No anncio do Evangelho na famlia, na escola, notrabalho, na comunidade, no bairro, os cristos realizam sua vocao missionria eencontram o caminho para descobrir a dimenso missionria universal da Igreja e aresponsabilidade de todos para com a misso ad gentes, alm-fronteiras.98 Por outrolado, a formao missionria voltada para esta misso alm-fronteiras deve ocuparum lugar central na vida crist e a tarefa especificamente missionria no deve tornar-seuma realidade diluda na misso global de todo o povo de Deus.9995. No anncio, importante prestar especial ateno s condies e expectativas dosdestinatrios e evitar classificaes e rtulos, que levam a preconceitos. As pesquisasmostram, geralmente, uma persistncia da f, muito maior que a freqncia da prticasacramental e, ao mesmo tempo, lacunas generalizadas no conhecimento da doutrinacrist, mesmo em pontos essenciais. O objetivo da evangelizao levar a uma f vivida,a uma adeso pessoal a Cristo, superando uma adeso meramente cultural aocatolicismo. Para isso, deve-se dar ateno e acolhida especial s pessoas que, emborano guardem o preceito da missa dominical ou raramente se aproximem dossacramentos, continuam professando a f catlica, aceitando a substncia da doutrina deCristo e da Igreja e esforando-se para praticar a caridade fraterna e a tica crist.96. Tudo isso impe a urgncia do anncio em nosso meio, e ao mesmo tempo anecessidade no contexto em que vivemos, marcado pelo pluralismo e subjetivismo deuma grande ateno s pessoas, de um atendimento personalizado. O anncio deveconsiderar tambm o mundo ntimo da pessoa, a verdade sobre o ser humano, primeirae fundamental via da Igreja.10097. Um aspecto da pedagogia do anncio que merece destaque a necessidade deconceber o anncio tambm em termos de dilogo e, especificamente, de reflexo sobrea experincia de vida, abrindo-a a seu verdadeiro sentido. importante valorizar erespeitar a liberdade de cada um. Toda pessoa humana carrega um desejo e umacapacidade de encontro com a Palavra de Deus, que o prprio Esprito Santo suscita. Porisso, o anncio procura partir da experincia de vida das pessoas, dialogar com ela.98. No se trata de vencer pelo argumento de autoridade, aceito pelo prestgio domestre ou da instituio. As pessoas querem se convencer pessoalmente; queremdiscutir, refletir, avaliar, ponderar os argumentos a favor e contra determinada viso,doutrina ou norma. Portanto, o evangelizador deve ter conscincia de que, mesmo em setratando da Boa-Nova, no pode impor, nem receber audincia fcil, mas deveresforar-se para persuadir o ouvinte, pelo testemunho de vida e por uma argumentaosincera e rigorosa, que estimule no interlocutor a busca da verdade, respeitando, porm,sua liberdade de escolha.99. Importante tambm ressaltar que as pessoas no buscam em primeiro lugar asdoutrinas, mas o encontro pessoal, o relacionamento solidrio e fraterno, a acolhida. Oencontro o primeiro dom ou carisma que o Esprito concede s pessoas e ele, oEsprito Santo, o protagonista da misso, aquele que chega primeiro. O cristo, portanto,deve dar grande valor ao encontro com as pessoas, atento a discernir os sinais do que oEsprito est pedindo dele e da pessoa que encontra. O cristo que tomou conscincia desua misso de evangelizador, dever no apenas acolher bem quem se aproxima, mas irao encontro dos outros e retomar a prtica evanglica das visitas s casas101. Avisitao tem um profundo sentido teolgico: a pessoa enviada por Deus representa oprprio Deus que visita seu povo. As visitas, tambm, podem inserir-se no contexto dasmisses populares e dos crculos bblicos. 18. 18100. Dentro da sociedade atual, assume relevncia o testemunho pessoal de cadacristo. necessrio tambm que ele saiba discernir entre as verdades centrais eessenciais da f e as formas histricas, inclusive expresses e linguagens, diversas emutveis, que revestiram ou revestem essas verdades. s vezes, a forma e no ocontedo da mensagem que uma pessoa tem dificuldade em aceitar.101. O Esprito acompanha e assiste os evangelizadores. Isso no os dispensa de seprepararem para a sua misso, nem dispensa as comunidades eclesiais de oferecer-lhesoportunidades adequadas de formao. Mais do que cursos intensivos, importante quedioceses e comunidades ofeream apoio permanente aos evangelizadores. Mas nadasubstitui a experincia do Deus vivo, no encontro com Cristo, alimentando-seconstantemente pela escuta da Palavra de Deus tanto no livro da Escritura quanto nolivro da vida; pela participao na eucaristia e demais celebraes; pela orao generosae aberta a Deus e sua presena na realidade humana; pelo abandono ao Esprito queprecede a ao do evangelizador, assiste-o, cotidianamente confortando nas dificuldadese mesmo nos fracassos; enfim, pela doao de si mesmo no servio aos demais.102Merece ateno especial a formao permanente dos presbteros, animadores daevangelizao.102. Alm do anncio na realidade local, caber comunidade eclesial promover aconscincia missionria e a cooperao com a misso ad gentes. Alguns fiis poderocooperar assumindo tarefas especficas na animao missionria, inclusive atravs dosConselhos Missionrios Paroquiais (COMIPAs) e Conselhos Missionrios Diocesanos(COMIDIs). Mas todos so chamados a contribuir, cada um segundo suas possibilidades eseus dons, para que o Evangelho seja anunciado por toda parte103 e a formaomissionria ocupe um lugar central na vida crist.104103. Os destinatrios do anncio so as pessoas, as comunidades e as massas. Issotorna mais urgente a implantao e o incentivo Pastoral da Comunicao e a presenapblica da Igreja junto sociedade, para que o anncio chegue at os confins da terra.1.3.4. Testemunho de comunho104. necessrio tomar conscincia que a ao pastoral deve dar muito mais valor pessoa enquanto tal, com suas exigncias e expectativas. Muitos passos j foram dadospara a maior participao e valorizao dos fiis leigos, considerados como membrosvivos da comunidade eclesial e testemunhas de Cristo no mundo. A ao dos leigos indispensvel para que a Igreja possa ser considerada realmente constituda, viva eoperante em todos os seus setores, tornando-se plenamente sinal da presena de Cristoentre os homens.105 Longo caminho, porm, temos ainda a percorrer para superar oclericalismo subjacente na mentalidade de parte dos leigos e de parte do clero.105. Aps o Conclio Vaticano II, os novos Cdigos de Direito Cannico (para a Igrejalatina e para as Igrejas orientais) destacam os direitos de todos os batizados e afirmam:Entre todos os fiis vigora, no que se refere dignidade e atividade, uma verdadeiraigualdade, pela qual todos, segundo a condio e os mnus prprios de cada um,cooperam na construo do Corpo de Cristo.106 Os sacramentos da iniciao crist batismo, crisma e eucaristia conferem no somente direitos, mas tambm deveres eresponsabilidades, vale dizer: uma misso, da qual todos so participantes, em espritode comunho. Para que as comunidades possam ser lugar de comunho e participaoe, por isso mesmo, de valorizao da pessoa, algumas atitudes so necessrias:a) cuidar para que, em suas manifestaes, especialmente na liturgia, e em suasestruturas visveis, a Igreja se revele verdadeiramente comunidade fraterna, onde asdiferentes vocaes no escondam a igual dignidade de todos os fiis nem desestimulema participao ativa de todos;107 19. 19b) estimular, no interior das estruturas eclesiais mais amplas e complexas, a formaode comunidades menores, de dimenso humana, de participao mais direta e pessoal;c) empenhar-se para que as comunidades eclesiais de base e os diversos grupos,organismos e movimentos particulares se articulem ou se integrem convenientemente naparquia e na diocese.108 , sem dvida, necessrio que associaes e movimentos,tanto no mbito da Igreja universal como no das Igrejas particulares, atuem em plenasintonia eclesial e obedincia s diretrizes autorizadas dos pastores;109d) fazer com que todos os fiis, homens e mulheres, diretamente ou por meio derepresentantes eleitos, participem quanto possvel no s da execuo, mas tambm doplanejamento e das decises relativas vida eclesial e ao pastoral, bem como daavaliao; para isso promovam-se, periodicamente, assemblias e snodos do povo deDeus, e sejam mantidos, em todos os nveis, conselhos pastorais, como recomenda oConclio,110 Puebla o reafirma,111 inclusive atravs de explcito compromisso dosbispos,112 e os Cdigos de Direito Cannico preceituam;113e) oferecer aos fiis oportunidades reais tanto de informao sobre os assuntos da vidaeclesial quanto de formao crist, sem a qual dificilmente podero participar, conscientee responsavelmente, na comunidade;f) desenvolver um esforo amplo e constante de evangelizao de jovens e adultos, quelhes proporcione o conhecimento da palavra de Deus, a que tm direito pelo batismo, eque os ajude a discernir, criticamente, ideologias e propostas religiosas que tentamreduzir ou instrumentalizar a f;114g) incentivar na Igreja uma opinio pblica para alimentar o dilogo entre os seusmembros, condio de progresso para seu pensamento e ao. Com a ausncia daopinio pblica, faltar-lhe-ia qualquer coisa de vital.115106. O Papa explicita as condies para se cultivar o esprito de comunho na Igreja: Osespaos de comunho devem ser aproveitados e promovidos dia a dia, em todos osnveis, no tecido da vida de cada Igreja. A comunho deve resplandecer nas relaesentre bispos, presbteros e diconos, entre pastores e o conjunto do povo de Deus, entreclero e religiosos, entre associaes e movimentos eclesiais. Devem-se valorizar cada vezmais os organismos de participao previstos no direito cannico, tais como os ConselhosPresbiterais e Pastorais [...]. A teologia e a espiritualidade da comunho inspiram umaescuta recproca e eficaz entre pastores e fiis, mantendo-os unidos em tudo o que essencial e, ante o que opinvel, incentivando-os a convergir para decises ponderadase compartilhadas.116 preciso garantir a mais ampla escuta de todo o povo de Deus.117107. Muitas vezes, o mais generoso e eficaz trabalho de inculturao do Evangelho feito pelas mulheres, atravs da educao dos filhos, da animao da vida comunitria,da participao eclesial e de muitas outras formas. Essa presena feminina,predominante nos trabalhos de base, dever ter maior acesso s responsabilidades dedireo e participao nas decises importantes da vida eclesial. Mais ainda: precisoque a questo do reconhecimento da dignidade da mulher na Igreja e a busca derelaes verdadeiramente humanas entre homens e mulheres seja objeto de reflexoteolgica e de efetivo progresso na vida pastoral das comunidades.118108. A tarefa de construir comunho e participao deve ser encarada comcontinuidade e perseverana. Exige uma mudana de mentalidade, que muitas vezesainda no aconteceu. Em alguns casos, existem queixas de retrocesso na prtica dacomunho e participao para um clericalismo incompatvel com os ideais evanglicos ea eclesiologia da comunho. O testemunho se manifesta, tambm, na transparnciaadministrativa do proco, do conselho paroquial, das coordenaes das comunidades, depastorais e de movimentos, na prestao de contas, dzimo, coletas e campanhas. Estadeve ser tambm uma preocupao constante na formao presbiteral. 20. 20109. Um fator importante da educao da f a educao para a orao. Esta no sepode dar por suposta; necessrio aprender a rezar, voltando sempre de novo aconhecer esta arte dos prprios lbios do divino Mestre.119 O cultivo da orao vem aoencontro de uma intensa busca de espiritualidade, que renasce em nossas comunidadese em outras religies. Nossas comunidades devem tornar-se autnticas escolas deorao, onde o encontro com Cristo no se exprima apenas em pedidos de ajuda, mastambm em ao de graas, louvor, adorao, contemplao, escuta, afetos da alma, atse chegar a um corao verdadeiramente apaixonado. Uma orao intensa, mas queno afasta do compromisso na histria.120110. A educao orao pessoal contribua tambm para a formao litrgica dos fiis,para que sua participao nos ritos no seja meramente exterior.121 A melhor formaolitrgica ser dada por meio de uma adequada catequese e das prprias celebraes daeucaristia e dos outros sacramentos. Celebraes descuidadas dificultam aos fiiscompreender e admirar a riqueza que Deus lhes est oferecendo.111. Na sociedade atual, principalmente nas grandes cidades, cada vez mais difcil paraas pessoas encontrarem-se com outras fora de casa, nos horrios noturnos, parareunies e celebraes. Diminui o nmero dos que freqentam atividades comunitriasou assemblias litrgicas. A facilidade de encontrar programas radiofnicos e televisivosde carter religioso leva muitas pessoas a dispensarem a ida igreja, na semana emesmo aos domingos. preciso estimular a vida comunitria, mas no podemos ignoraro novo contexto. Temos o dever de oferecer s pessoas programas de boa qualidadepara a espiritualidade crist, mediante os novos meios de comunicao, que alispenetram, para alm do mundo urbano, em todos os cantos, mesmo os mais remotos,do Pas, sem deixar de conscientizar acerca do valor da presena na igreja.2. Renovar a comunidade2.1. O desafio: A fragmentao da vida e a busca de relaes mais humanas112. Temos uma organizao social que acentua o isolamento dos indivduos, incentivaum comportamento que leva ao egosmo e coloca as pessoas numa competioestressante. Especialmente nas reas urbanas, o enfraquecimento da famlia, a diluioda vida comunitria e a violncia acentuam o isolamento e a incerteza, gerandodesconfiana e medo nas relaes cotidianas dos cidados. A modernidade tende asubmeter a sociedade ao mercado e ao poder, levando-a a perder muitos valores. Acultura brasileira, todavia, conservou muitos desses valores: o sentido da festa, o prazerda convivncia, a abertura ao diferente e a mistura de raas e povos... Subsiste,tambm, em muitos a aspirao a relaes comunitrias, comunho, de fraternidade ede amor mtuo, verdadeiramente humanas e humanizadoras.113. Renovar a comunidade no significa voltar comunidade natural ou comunidadetradicional. Nosso esforo ser criar condies para que as pessoas possam viverrelaes de solidariedade e de fraternidade que permitam sua maior realizao, nocontexto atual.2.2. A f crist: Da dignidade de filhos realizao da fraternidade - Vs todossois irmos! (Mt 23,8)114. O Novo Testamento no usa o termo fraternidade em abstrato, masfreqentemente fala dos discpulos de Jesus como irmos. Porque existe um s Pai detoda a humanidade, todos somos chamados a ser irmos ou irms. irmo aquele quese reconhece como tal, que reconhece a Deus por Pai e aos outros como irmos e irms.Esta fraternidade se baseia no dom do Esprito, que nos faz filhos e filhas no Filho.115. A fraternidade crist aberta e quer acolher a todos os seres humanos e no fazdiscriminao. Deus no faz acepo de pessoas.122 Todos os povos so chamados aformar a nica famlia de Deus. A fraternidade vai alm dos vnculos de sangue ou de 21. 21raa. Pedro nos diz no livro dos Atos: Deus me mostrou que homem algum profano ouimpuro.123 O fato de sermos pecadores no elimina a fraternidade.124 Tambm ospecadores so irmos.125116. A condio de irmos e irms estende aos discpulos e discpulas de Jesusaquela solidariedade que comum nas famlias de sangue. De fato, os discpulos colocamem comum seus bens, praticam a comunho fraterna.126 Quando as comunidades cristsse multiplicaram, e no foi possvel continuar nos mesmos moldes a experincia decomunho da primeira comunidade, os cristos continuaram a se chamar irmos e apraticar a fraternidade. Ela significa busca de unidade entre os irmos e caridade paracom todos os que precisam, inclusive na forma de socorro material. Um testemunhoeloqente nos vem da tradio litrgica, que est plena de oraes pelos irmos e seconstitui, ela prpria, num encontro de irmos. Na histria da Igreja, todas as vezes emque se buscaram formas mais elevadas de vida no Evangelho, colocou-se na vidafraterna seu apoio fundamental.117. O Conclio Vaticano II reafirma a fraternidade como caracterstica essencial da vidacrist. A Igreja, novo povo de Deus, descrita como corpo de Cristo, uno na variedadedos membros, os quais todos tm igual dignidade. uno o povo eleito de Deus: Um sSenhor, uma s f, um s batismo;127 comum a dignidade dos membros pela suaregenerao em Cristo, comum a graa de filhos, comum a vocao perfeio; uma sa salvao, uma s a esperana e a unidade sem diviso.128118. Ainda mais insistentemente, o Conclio Vaticano II prope, como vocao dahumanidade inteira e como meta a ser efetiva e intensamente procurada, a fraternidadeuniversal. Afirma, tambm, que a revelao crist favorece poderosamente estacomunho entre as pessoas, e ao mesmo tempo leva a uma compreenso maisprofunda das leis da vida social.129119. A fundamentao teolgica da comunho e fraternidade entre os seres humanosfoi desenvolvida, ulteriormente, no documento de Puebla, que ressalta a relao entre aviso crist de Deus, como comunho das Trs Pessoas, e a crtica a uma sociedade quecontradiz e nega a comunho.130120. Deus, modelo de comunho na Trindade, no anula as pessoas, mas as plenifica noamor. Ser imagem e semelhana do Criador tambm trazer no corao um enormeanseio de ser comunidade. A fecundidade da comunho que vem de Deus nos impulsionapara a transformao da sociedade: O amor de Deus que nos dignifica radicalmente sefaz necessariamente comunho de amor com os outros homens e participao fraterna;para ns, hoje em dia, deve tornar-se sobretudo obra de justia para com os oprimidos,esforo de libertao para quem mais precisa. De fato, ningum pode amar a Deus aquem no v, se no ama o irmo a quem v (lJo 4,20).1312.3. Pistas de ao121. Toda a ao evangelizadora e pastoral seja inspirada por aquela viso dacomunidade humana e da vida de comunho eclesial que apresentamos acima. Assim,estaremos forjando uma comunidade eclesial repleta de vitalidade e evangelizadora, quevive uma profunda experincia crist alimentada pela Palavra de Deus, pela orao epelos sacramentos, coerente com os valores evanglicos na sua existncia pessoal,familiar e social.132122. A promoo de relaes humanas sadias e fraternas e a edificao da comunidadeeclesial devem estar a servio da promoo integral da pessoa humana conforme o planode Deus, apresentada na seo anterior. Tanto no planejamento como na avaliao daao, necessrio verificar se as propostas comunitrias valorizam devidamente apessoa e a famlia, com suas diversas exigncias.2.3.1. Servio 22. 22123. Apontamos algumas sugestes de servios que a comunidade crist podedesenvolver com vistas a um relacionamento mais humano e humanizador:a) educao ao relacionamento no apenas correto e respeitoso, mas solidrio e fraterno,das pessoas entre si. Isto exige ateno s pessoas, aos seus anseios econdicionamentos, e dilogo ou convivncia com essas mesmas pessoas. No h umnico modelo vlido para todos. Tendo conscincia disso, procurar-se- oferecer spessoas oportunidades de encontro, de contato e conhecimento com outras, inclusivecom aquelas que so diferentes, que ainda no fazem parte da experincia de vida dogrupo; promover-se-o oportunidades de prticas solidrias ou de participao emprojetos comuns, experincias de amizade e reciprocidade, experincias de doaogratuita a servio dos irmos;b) educao solidariedade e fraternidade inicia-se com as crianas e continua comos adolescentes e jovens. Ateno especial deve ser dada s famlias. Fala-se hoje,freqentemente, de crise da famlia.133 A crise no deve ser interpretada apenas comoenfraquecimento da famlia, mas como um desafio maior: o de reestruturao dasrelaes no interior da famlia e das famlias entre si. Nesta reorganizao, a famlia noassume uma forma nica nem segue o modelo tradicional (patriarcal), mas tende abuscar novas formas de realizao. Isso exige, por parte da comunidade crist, umaatitude de discernimento e de abertura, que procure ajudar as famlias, na diversidadedas situaes em que vivem hoje, a buscar uma realizao mais plena luz dos valoresessenciais da concepo crist da famlia;134c) defesa dos direitos das famlias e das pequenas comunidades isso pode incluirempenho para que as polticas pblicas ofeream condies necessrias ao bem-estardas famlias e evitem tudo o que as prejudica gravemente. Quando as polticas pblicasso insuficientes ou ineficazes, a prpria comunidade local ser chamada a tomariniciativas de solidariedade para com pessoas, famlias e grupos atingidos maisgravemente pela misria e pela fome. A Igreja no Brasil assumiu um claro compromissocom esta luta;135d) ateno aos ncleos de convivncia, como residncias de estudantes, cortios,alojamentos de trabalhadores e pees das fazendas, albergues de moradores de ruas,prises... Nestes ambientes, vivenciam-se, muitas vezes, valores humanos profundos,que os cristos devem reconhecer e apoiar;e) servio de preveno de HIV e assistncia a soro-positivos a Igreja assume esteservio e, sem preconceitos, acolhe, acompanha e defende os direitos daqueles edaquelas que foram infectados pelo vrus da AIDS. Faz, tambm, um trabalho depreveno, pela conscientizao dos valores evanglicos, sendo presena misericordiosae promovendo a vida como bem maior;f) ateno ao problema da violncia e da droga levando em conta as situaes locais,continue-se o trabalho de preveno contra a droga e de combate sua difuso.Oferea-se apoio s famlias e s instituies que lidam com toxicodependentes. Acomunidade tambm poder promover com a participao mais ampla possvel campanhas pela pacificao do bairro ou da rea, pelo desarmamento, pela paz;136g) educao crtica para o uso dos meios de comunicao as comunidades eclesiaispodem dar uma importante contribuio para o uso desses meios,137 incentivando acomunicao em nvel local e orientando a conscincia crtica para evitar a massificao ea manipulao. A comunicao nas comunidades locais deve valorizar as pessoas,favorecer a informao e a educao, promover a solidariedade.138 igualmenteessencial educar o pblico a selecionar, criticar, reagir diante dos programas e negaraudincia ao lixo e baixaria;139 23. 23h) mundo do trabalho a comunidade eclesial deve considerar a centralidade do trabalhona vida da pessoa e na sociedade humana, promovendo a conscientizao e a luta contrao desemprego, inclusive buscando caminhos alternativos de gerao de renda eeconomia solidria;i) servio aos migrantes dever da comunidade crist acolher o migrante e ajudar suainsero nela, no trabalho e na sociedade. Regionais, dioceses e parquias colaborementre si a fim de que os migrantes encontrem apoio e solidariedade desde o seu lugar deorigem at o seu destino;j) servio a martimos, pescadores e caminhoneiros ao longo do litoral e principais riosdo Brasil, especialmente nos portos, preciso dar ateno aos martimos e aospescadores. Um cuidado particular exigem os motoristas de caminho, nas estradas ounos locais de estacionamento;k) pastoral do turismo acolher os turistas que buscam, nas temporadas e fins desemana, as praias, as montanhas e outros locais de descanso.2.3.2. Dilogo124. A comunidade eclesial, tanto em sua vida interna como em sua atuao nasociedade, deve dar um claro testemunho de seu empenho para superar toda forma dediscriminao, no esprito do Evangelho (Deus no faz discriminao entre as pessoas)e conforme as orientaes do Conclio Vaticano II: Ns no podemos invocar Deus, Paide todos os homens, se nos recusamos a comportar-nos como irmos para com algunshomens criados imagem de Deus.140125. As comunidades eclesiais catlicas devem, particularmente, continuar a busca dareaproximao com os irmos das outras Igrejas ou comunidades crists.141 omovimento ecumnico, em sentido prprio. Coerentemente, o esprito ecumnico deveimpregnar toda a ao pastoral das comunidades catlicas e, particularmente, a suadimenso catequtica. O empenho pela espiritualidade de comunho imprime um novoimpulso ao ecumenismo, pois leva a discernir formas e maneiras aptas a melhorfavorecer a realizao de anelos unidade de todos os cristos, que Jesus nos deixoucomo dom e misso na ltima Ceia.142126. O dilogo ecumnico entre os cristos de diferentes Igrejas, depois do ConclioVaticano II, no pode ser mais entendido como algo que toca apenas de longe as nossascomunidades, nem como algo acessrio em suas vidas. Todos os fiis em Cristo, mesmose ainda imperfeitamente, pertencem ao seu corpo que a Igreja, que e permaneceuna. Apesar das incompreenses entre os cristos, Joo XXIII dizia que h mais coisasque os unem do que coisas que os dividem. preciso, portanto, viver o amor recprocoentre ns, para que Jesus mesmo escreve Joo Paulo II na Ut unum sint estejarealmente presente e ilumine os passos que devemos dar para alcanar a plenaunidade.143127. O Conclio Vaticano II recomenda mtuo conhecimento e estima entre judeus ecristos, que podem ser obtidos sobretudo pelos estudos bblicos e teolgicos e pelodilogo fraterno.144 O recente documento da Pontifcia Comisso Bblica, O povo judeu eas suas sagradas escrituras na Bblia crist, ajuda-nos a compreender melhor o valor datradio bblica, desde as suas origens judaicas, e a superar os preconceitos contra ojudasmo, que por muito tempo nos afastaram de nossos irmos.145128. A busca de aproximao e dilogo se estende alm dos cristos, aos seguidores deoutras religies e a todas as pessoas empenhadas na busca da justia e na construo dafraternidade universal. A tradio brasileira geralmente favorvel tolerncia e aproximao entre as diversas religies e culturas. Em tal contexto, a comunidadecatlica age, ao mesmo tempo, para manter a paz e o dilogo e para, neste dilogo, 24. 24propor com serenidade e firmeza a sua f, sem ceder s modas de confuses e misturassuperficiais.129. A ao pastoral e catequtica da Igreja Catlica assuma conscientemente umadimenso ecumnica e de dilogo inter-religioso. Os catlicos demonstrem sempresincero respeito pela liberdade religiosa e pelas convices dos outros em matria dereligio e costumes. Diante de atitudes sectrias e proselitistas, evitem polmicasestreis, quando no contraproducentes. A Igreja tambm no fecha os olhos ao perigodo fanatismo ou fundamentalismo.146 O Diretrio para o Ecumenismo pede que, ondeesse trabalho ecumnico encontrar oposies ou impedimentos por atitudes sectrias,os catlicos sejam pacientes e perseverantes. Atuem com honestidade, prudncia econhecimento dos fatos. Essa forma de proceder [...] tambm uma garantia para nosucumbir tentao do indiferentismo e proselitismo, o que seria a runa do verdadeiroesprito ecumnico.147130. urgente que a comunidade eclesial continue seus esforos para assegurar asubsistncia das diversas culturas indgenas, reconhecendo tambm seus grandesvalores religiosos, nos quais a Igreja contempla a presena de sementes do Verbo.148 AIgreja toda se considera comprometida com as comunidades indgenas,149 para quetenham seus direitos reconhecidos, suas terras demarcadas e protegidas, suas culturaspreservadas dentro do dinamismo que lhes prprio.150131. Outra responsabilidade particular se impe comunidade eclesial no Brasil, nestaconjuntura histrica, em face da tomada de conscincia de que, apesar da unanimidadecontra o racismo, a sociedade brasileira continua profundamente injusta em relao populao de origem africana. As comunidades eclesiais podem e devem contribuir paraa superao de todos os preconceitos, reconhecendo os valores religiosos da culturaafricana e facilitando o acesso de crianas e jovens da populao afro-descendente educao e sade.132. No interior da comunidade eclesial, o dilogo deve ser uma regra permanente paraa boa convivncia e o aprofundamento da comunho. A variedade de vocaes,espiritualidades e movimentos deve ser vista como riqueza e no como motivo paracompetio e rejeio. Tambm deve ser evitada qualquer discriminao (como aindapode acontecer com pobres, mulheres, portadores de deficincias etc.) e a comunidadeeclesial deve, efetivamente, mostrar sua estima pelo princpio de que todos somosirmos e iguais em dignidade.151 Quanto maior for sua unio, tanto mais a comunidadeser eficaz em seu testemunho.2.3.3. Anncio133. O anncio da comunidade eclesial anncio da fraternidade. A ordem de Jesus Idee fazei discpulos152 significa Ide e fazei irmos. Em muitas passagens do evangelhode Mateus, Jesus insiste que quer apenas irmos153 e at probe chamar algum demestre na comunidade eclesial.154 Assim, os evangelizadores no so mestres, nemdevem ceder tentao de se sentirem superiores aos outros. So testemunhas daquiloque viram, encontraram, experimentaram.134. Pode-se dizer que a prpria comunidade crist deve ser ela mesma anncio. Deveirradiar a presena de Deus, de Cristo Deus-conosco. Deve proclamar com a palavra ecom a vida: Cristo est vivo entre ns. Vendo-a reunida no amor e em orao, aspessoas de hoje deveriam exclamar, como o visitante de quem fala Paulo aos Corntios:Verdadeiramente, Deus est entre vs!.155135. Homens e mulheres do nosso tempo apreciam, principalmente, o testemunho. Masisso no dispensa a comunidade como no dispensa cada cristo de prestar o servioda proclamao ou do anncio explcito, oferecendo a indivduos, grupos e tambm massa do povo a pregao do Evangelho, nas variadas modalidades que o ministrio daPalavra pode assumir. Recomendamos as misses populares, nas suas diversas formas. 25. 25Elas, na preparao do Grande Jubileu do ano 2000, mostraram sua eficcia eencontraram boa recepo. Recomendamos as diversas formas de pastoral bblica, emparticular aquelas que renem grupos e pequenas comunidades para refletir sobre a vida luz da Palavra e lem a Bblia como Palavra viva, que Deus dirige, hoje, ao seu povo.156136. A comunidade dever perguntar-se quais so os grupos humanos ou as categoriassociais que merecem uma ateno especial e devem ter prioridade no trabalho deevangelizao. Entre esses grupos esto os que tm pouco vnculo com a Igreja: svezes so jovens, pessoas vivendo na periferia de nossas cidades, outras vezesintelectuais, artistas, formadores de opinio, trabalhadores com grande mobilidade,nmades etc.137. Entre os grupos humanos aos quais deve-se dirigir o anncio missionrio a partirdas nossas comunidades eclesiais esto os povos indgenas do Brasil, na perspectiva deuma evangelizao inculturada, pelas atitudes do servio, do dilogo, do testemunho edo anncio explcito da mensagem crist.138. Nossas comunidades eclesiais, apesar de sobrecarregadas de tarefas e muitas vezescontando com escassos recursos, devem dar de sua pobreza157 tambm para aevangelizao ad gentes ou para as misses em outras regies e alm-fronteiras. UmaIgreja local no pode esperar atingir a plena maturidade eclesial e, s ento, comear apreocupar-se com a Misso para alm de seu territrio. A maturidade eclesial conseqncia e no apenas condio de abertura missionria.2.3.4. testemunho de comunho139. Aps o Conclio Vaticano II houve um grande empenho no sentido de valorizar oaspecto comunitrio da Igreja. Isto se expressou na busca de comunidades eclesiaismenores, de rosto humano, mais afetivas e acolhedoras, com mais participao.Formaram-se comunidades eclesiais de base, grupos e, tambm, como decorrncia demovimentos supraparoquiais ou transnacionais, diversos tipos de associaes. Nessafermentao toda, acolhemos um dom do Esprito, que suscita uma renovao e um novovigor. Os pastores devem acolher, valorizar e orientar os movimentos, ajudando seusmembros, em esprito de comunho, a viverem sua prpria espiritualidade, a abrirem-seaos desafios da atual conjuntura e a participarem das comunidades, envolvendo-os naPastoral de Conjunto.140. Na atualidade, deve-se continuar a incentivar formas associativas e comunitriasque ofeream aos cristos uma experincia de convivncia, solidariedade, participaoativa e co-responsvel, de valorizao da pessoa. Trata-se, porm, de compreender bemo que uma comunidade eclesial. A experincia oferecida deve ir alm da comunidadeemocional, que satisfaz os sentimentos mas que no chega a uma experincia autnticada f e do compromisso. importante, tambm, que as pessoas no se fechem nogrupo, recusando a solidariedade e a comunho que devem Igreja como instituio,representada pela parquia e pela diocese.141. A Igreja, como instituio, baseia-se sobre um slido fundamento, que Cristo eseu Evangelho. na fidelidade a este fundamento que ela se organiza ao longo dahistria, em formas diversas, e pode evoluir, exatamente porque se mantm aberta saspiraes e anseios que emergem das comunidades de