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Centro Universitário Metodista Bennett DISCIPULADO CRISTÃO: AS ÊNFASES E OS DESAFIOS AOS PASTORES E PASTORAS DA IGREJA METODISTA NO BRASIL, PARA UM DISCIPULADO GENUINAMENTE CRISTOCÊNTRICO. LAÉCIA CONCEIÇÃO NOGUEIRA 2007

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Discipulado

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Centro Universitário Metodista Bennett

DISCIPULADO CRISTÃO:

AS ÊNFASES E OS DESAFIOS AOS PASTORES E PASTORAS DAIGREJA METODISTA NO BRASIL, PARA UM DISCIPULADOGENUINAMENTE CRISTOCÊNTRICO.

LAÉCIA CONCEIÇÃO NOGUEIRA

2007

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Centro Universitário Metodista Bennett

DISCIPULADO CRISTÃO:

AS ÊNFASES E OS DESAFIOS AOS PASTORES E PASTORAS DAIGREJA METODISTA NO BRASIL, PARA UM DISCIPULADOGENUINAMENTE CRISTOCÊNTRICO.

Autor: Laécia Conceição NogueiraMonografia apresentada ao Curso deTeologia do Centro Universitário MetodistaBennett como parte dos requisitosnecessários à obtenção do título de Bacharelem Teologia.

Orientador: Prof. Odilon Massolar Chaves

Rio de Janeiro

Dezembro/2007

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FICHA CATALOGRÁFICA

232N778d Nogueira, Laécia Conceição.

Discipulado cristão : as ênfases e os desafios aos pastorese pastoras da Igreja Metodista no Brasil para um discipuladogenuinamente cristocêntrico / Laécia Conceição Nogueira. –Rio de Janeiro : 2007.

65p.

Monografia (Graduação) – Bennett - Centro UniversitárioMetodista – Curso de Teologia.

l. Discipulado Cristão. 2. Pastores. 3. Igreja Metodista.I. Título.

Bibliotecária: Maria de Fátima P. Schütz CRB-7/5345

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DISCIPULADO CRISTÃO:

AS ÊNFASES E OS DESAFIOS AOS PASTORES E PASTORAS DAIGREJA METODISTA NO BRASIL, PARA UM DISCIPULADOGENUINAMENTE CRISTOCÊNTRICO.

Autor: Laécia Conceição Nogueira

Orientador: Professor Odilon Massolar Chaves

Monografia de Conclusão submetida ao Curso de Graduação em Teologia do CentroUniversitário Metodista Bennett, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título deBacharel em Teologia.

Aprovada por:

_______________________________Presidente - Professor Odilon Massolar Chaves – Monografia II

_____________________________Professor Odilon Massolar Chaves – Orientador

Rio de Janeiro

Dezembro/2007

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RESUMO

DISCIPULADO CRISTÃO:

AS ÊNFASES E OS DESAFIOS AOS PASTORES E PASTORAS DA IGREJAMETODISTA NO BRASIL, PARA UM DISCIPULADO GENUINAMENTECRISTOCÊNTRICO.

Autor: Laécia Conceição Nogueira

Orientador: Professor Odilon Massolar Chaves

Resumo da monografia apresentada ao Curso de Teologia do Centro Universitário MetodistaBennett como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Teologia.

O presente trabalho é uma reflexão para os pastores e pastoras – em particular, da Igreja

Metodista, sobre os desafios que nos são apresentados nos dias de hoje, para a condução e

prática de um discipulado genuinamente cristocêntrico, onde os moldes aplicados sejam os

mesmos que nortearam a caminhada dos primeiros cristãos da igreja primitiva. Não temos a

pretensão de esgotar o assunto, pois é demasiadamente extenso, queremos apenas dar nossa

contribuição visando uma maior reflexão sobre um tema tão desafiador para a igreja

contemporânea. Sabemos que não é nada de novo, embora seja algo pertinente aos tempos

atuais, onde vemos que o discipulado tem sido deixado de lado e quando o vemos, os métodos

adotados nada têm a ver com as práticas pedagógicas e ideológicas de Jesus Cristo.

Palavras-chave: discipulado – discípulo – cristocêntrico – genuíno – desafio – ênfases

Rio de JaneiroDezembro/2007

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus que foi quem me deu as forças e a inspiração

necessária para que ele tomasse forma; dedico a meus filhos Vinícius e Tatiana para que eles

me vejam como exemplo de determinação, pois quando queremos realmente atingir um alvo,

ainda que as lutas sejam grandes, conseguiremos superar todas as dificuldades e quaisquer

obstáculos.

Dedico ainda a minha mãe Dona Dulcinea, que tão orgulhosa está por ver que sua filha

alçou um nível a mais na escala do conhecimento. Sei que mesmo do seu jeito simples, ela

sempre acreditou que eu chegaria até esse momento, e eu louvo a Deus por seus estímulos, já

que sua vida é um verdadeiro exemplo que me impulsiona a buscar vida nova a cada dia.

Dedico a minha irmã Márcia e a todos os meus familiares, e peço que recebam meus

agradecimentos sinceros, por terem aceito se privar de minha companhia pelos estudos,

concedendo a mim a oportunidade de me realizar ainda mais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao Deus Pai ,que por meio de Jesus Cristo –Deus Filho, verbo

encarnado, Senhor de minha vida encheu-me da presença do Deus Espírito Santo, e assim,

através de Sua condução fui introduzida nesta Universidade e amparada por Sua maravilhosa

Graça que me sustentou em todo o tempo; Agradeço a meu pastor Rev. Elias Barbosa, que em

todo momento acreditou em meu chamado, em minha capacidade e sempre me deu forças

para continuar a caminhada;

Agradeço a minha família consangüínea, e também a minha família do coração: Aía,

Taninha e Glorinha, que me apoiaram não apenas com incentivos para seguir em frente, como

por muito tempo me ajudaram em minhas dificuldades financeiras. De igual modo agradeço

ao casal Cristina e Marcos Gomes e a querida irmã Mirian, pois sempre me incentivaram e

também me ajudaram a conseguir superar os obstáculos financeiros em minha caminhada

acadêmica; Não posso deixar de agradecer ainda, aos casais: Elza e José Tercio; Augusto e

Norma Torres; pastor Marcio Galindo e Ruth e a Paula Janet – minhas irmãs na fé, que desde

o começo, em meio a tantas lutas sempre tiveram uma palavra de estímulo e de credibilidade

em meu chamado ministerial; Agradeço a minha igreja local que me sustentou com suas

orações e incentivos diante de todos os obstáculos que se colocavam no decorrer do curso e

que por muitas vezes, quase me fizeram desistir.

Agradeço ao meu orientador e mestre, professor Odilon Massolar Chaves, que soube

me conduzir sempre na perspectiva de que eu fizesse um trabalho que realmente me

desafiasse a exercitar o potencial que ele sempre viu em mim e creio ter me esmerado o

suficiente para não desapontá-lo. Agradeço ao companheirismo de meus colegas de turma em

todos esses anos, destacando a figura de minha amada amiga Maria Emília, que em todo

tempo foi instrumento de Deus em minha jornada acadêmica –que nossa amizade perdure por

toda a eternidade, e que, ao assumirmos nosso chamado ministerial, possamos sempre contar

uma com a outra, para qualquer situação.

Agradeço ainda a todos os meus professores que durante esses quatro anos sempre me

incentivaram e acreditaram em meu potencial; quero a todos dizer que me sinto

desprovida de palavras que possam fielmente retratar minha gratidão, no entanto,

desejo retribuir a competência, a sensibilidade e a disponibilidade com que

sempre me orientaram, contribuindo para o aprimoramento intelectual, profissional e

pessoal que acredito ter adquirido através do vínculo estabelecido.

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“Que a proximidade do nosso Salvador e Amigo, Jesus o

Cristo, seja pergunta que instigue nossas acomodações de

cada dia, seja convite ao despojamento de tudo àquilo que

se coloca entre nós e Deus, entre nós e o próximo. Nisto,

certamente está a nossa salvação.” (Edson Fernando de

Almeida – Para Quem Tem Fome de Beleza, 2003, p.56)

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SUMÁRIO

Introdução..................................................................................... 08I A importância da Cristologia para o Ministério Pastoral 121. O Que É Cristologia................................................................................. 121.1 O messianismo em Jesus Cristo para uma visão pastoral....................................... 141.2 A oferta de salvação................................................................................................... 161.3 Jesus e a aceitação dos marginalizados..................................................................... 181.4 A libertação das opressões através do Evangelho de Cristo...................................... 211.5 Na Paixão –A vitória e reconciliação......................................................................... 22II Discipulado: Um Compromisso com Jesus Cristo 252. O que é Discipulado Cristão.................................................................... 252.1 O chamado ao discipulado e a Graça preciosa........................................................... 292.2 A herança Metodista e a ênfase ao discipulado......................................................... 342.3 O Discípulo seguindo a Jesus e reconhecendo os equívocos do G-12....................... 362.4 O Metodismo, o discipulado e a mensagem da Cruz................................................. 392.5 O Discipulado e a Santificação................................................................................. 40III Desafios aos metodistas para um discipulado cristocêntrico 443. O desafio pastoral contemporâneo, frente à modernidade....................... 443.1 O Metodismo e a compreensão de Reino de Deus..................................................... 463.2 O discipulado e a expansão do Reino de Deus.......................................................... 483.3 Formação do Discípulo - A diferença entre Discípulo e Prosélito......................... 493.4 A vocação do discípulo, a vocação da igreja e o compromisso pastoral................... 533.5 A ação libertadora da Igreja de Jesus Cristo.............................................................. 56Conclusão..................................................................................................... 59Bibliografia................................................................................................... 62

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INTRODUÇÃO

Nunca se falou tanto em discipulado como nos dias atuais. A Igreja Metodista tem

inclusive, dado uma ênfase toda especial do que diz respeito a esse assunto – embora

saibamos que nada se está introduzindo de novidade, pois a prática metodista sempre esteve

voltada para o discipulado, desde os tempos da formação do “clube santo” – reuniões onde os

irmãos John e Charles Wesley iniciaram um movimento que acabou por originar a Igreja

Metodista. Sabemos que por muito tempo essa estratégia de evangelização teve êxito

considerado, basta olharmos no decorrer da história o crescimento que teve a Igreja

Metodista, não só na Inglaterra – de onde se originou, quanto nos EUA, e nos dias atuais, não

só na América Latina como em todos os continentes – já que temos presença expressiva em

todas as partes do mundo inclusive em países onde o cristianismo não pode ser pregado com a

liberdade que desfrutamos aqui no Brasil. No entanto, talvez devido a fenômenos religiosos

que tem a cada dia se espalhado mais e mais, notamos que a tônica do discipulado tem se

perdido, em função, quem sabe, do grande número de denominações pentecostais e

neopentecostais que vem se proliferando de uma forma desgovernada, e que muitas vezes tem

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perdido o foco central da mensagem do evangelho de Jesus Cristo. Com isso, em virtude

desse equivoco de valores de Reino de Deus, e em face da carência que a humanidade tem de

Deus; um povo carente de espiritualidade, e que é muitas vezes carente até mesmo de suas

necessidades básicas para sua subsistência, acabam por propagar um evangelho adaptado ao

sistema que impera no mundo: o cristianismo secular, o cristianismo cultural, e estes, talvez

estejam sendo fatores de influência negativa à uma prática saudável do verdadeiro anúncio

das Boas Novas do Reino de Deus.

A presente pesquisa não se estenderá ao âmbito global, antes estaremos enfocando a

realidade encontrada em nosso país, e ainda assim, talvez não seja possível uma abordagem

mais profunda se quisermos nos referir de modo peculiar a cada região eclesiástica de nossa

igreja no Brasil, entretanto que esse ensaio seja motivador e que no futuro possamos estar nos

envolvendo ainda mais com um assunto que realmente é de suma relevância não só dentro da

comunidade científica, mas também indispensável para a prática pastoral dentro das

comunidades de fé.

Cremos ser pertinente perguntarmos qual tem sido a ênfase dada quando o assunto

abordado é o fazer discípulos? Que tipo de discípulos temos sido e formado? Qual tem sido

nosso referencial? Será que verdadeiramente temos seguido o bom exemplo de Jesus Cristo e

temos trabalhado o verdadeiro discipulado cristão, de acordo com os padrões estabelecidos

por Ele, trabalhando os valores do Reino de Deus, a missão libertadora e salvífica de Cristo, e

valorizado a vida em todas as dimensões?! As respostas, encontraremos ao refletirmos diante

de nossas realidades pastorais; mas isto somente se dará, se não nos intimidarmos e realmente,

formos sinceros para com nosso ministério e com nossa participação pessoal no compromisso

que enquanto igreja, assumimos perante Deus.

O exemplo de Jesus deve nortear a caminhada daqueles(as) que anseiam

verdadeiramente serem chamados de seus discípulos. A teologia aplicada no discipulado

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cristão deverá ser uma teologia libertadora que restaure vidas, que resgate os marginalizados;

que retire do nosso meio todo e qualquer tipo de opressão, seja ela sócio-politica-religiosa-

cultural e econômica; que ofereça o Reino de Deus para todos como um meio de Graça e que

tenha a igreja como referencial de Reino e do amor incondicional de Deus por toda a

humanidade. Assim sendo, desejamos que o presente trabalho possa despertar e difundir uma

maior reflexão sobre a necessidade de uma práxis cristã, nos moldes dos ensinamentos do

próprio Cristo, a partir de um discipulado norteado pelos exemplos e ensinamentos deixados

por Jesus Cristo, pressupostos esses, utilizados na Igreja primitiva.A abordagem cristocêntrica

que estaremos dando é mister, já que estaremos nos propondo a realçar a missão messiânica

de Cristo como protótipo para a construção de um pastorado eficaz para a introjeção de um

discipulado genuinamente cristão.

Faz-se também imperativo no presente trabalho, a abordagem do Jesus histórico para

que possamos entender a mensagem antropológica de Jesus, e ao fazê-la, conseguirmos

entender que Nele se nos apresenta e revela a verdadeira essência do ser humano, mas

também se nos revela a verdadeira essência de Deus, ou seja, nele encontramos o modelo do

que é ser humano e a interpretação (palavra e imagem) de Deus.Nesse ponto, estaremos nos

forjando com uma visão pastoral que enfatize e valorize o discipulado, já que estaremos

partindo do chamamento de Jesus, e dos caminhos que deverão ser seguidos. Ao

conseguirmos inserir no ministério pastoral, a práxis de seu discipulado, o estilo de vida

vivido por Ele e seus discípulos, e que devem ser seguidos para vermos transformado o

mundo a nossa volta, fazendo da Igreja um ponto de partida para que a ação do Espírito Santo

de Deus flua na vida e no coração dos que dela se aproximam, poderemos desta forma estar

atendendo verdadeiramente a ordenança que a nós foi dada pelo próprio Cristo, e deste modo

ir pelo mundo fazendo discípulos, pregando a palavra, vivendo o Evangelho.

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Num tempo, aonde existem vários tipos de distorções do Cristianismo sendo

propagados, não podemos permanecer inertes, estáticos e sem ação. É imperativo um modelo

de Evangelho fiel às Escrituras e aos moldes do ensinamento de Cristo para que a Cruz

continue tendo seu escândalo, e não simplesmente seja a Cruz de um Cristo que não é Senhor

e Salvador. Necessitamos que o sentido original do evangelho seja amplamente difundido,

mas para que isso aconteça, necessitamos de práticas pastorais comprometidas com um

discipulado que verdadeiramente aborde e abrace tais questões com seriedade e compromisso.

No momento que tomarmos consciência da responsabilidade pastoral para a qual fomos

não só designados mais também instituídos, poderemos estar nos aprofundarmos na ênfase de

Cristo quanto ao discipulado e estar atuando com mais subsídios para um melhor

aproveitamento de Sua metodologia, aplicando-a nas diversas áreas de atuação da igreja,

dentro e fora das comunidades cristãs, já que ao realizarmos o discipulado com ênfase na

proposta cristológica, cremos que estaremos dando uma contribuição maior, tanto no que diz

respeito à intensificação da propagação dos valores do Reino de Deus, quanto ao âmbito de

inserção social que atendam as necessidades reais de todos quanto o buscam. A esperança de

estabelecer uma melhor compreensão e condução em relação ao que diz respeito à questão da

responsabilidade pastoral no ensino e na preparação de um discipulado realmente preocupado

como divulgação do Reino, tendo por base fazer uma teologia que liberta de todas as

opressões, visando o resgate da ação transformadora da Graça de Deus que alcança a todos e

derrubando todos os dogmas de religiosidade estabelecida pelos homens, que, no entanto, não

foi pregada por Jesus Cristo, é que o presente trabalho se fundamenta.

Temos também em mente nosso compromisso – enquanto Metodista, de difundir um

discipulado que aponte para sua práxis num contexto soteriológico e escatológico, já que

vivemos momentos de tensões onde necessitamos enfatizar o significado salvifico de Cristo

para o mundo.

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CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DA CRISTOLOGIAPARA O MINISTÉRIO PASTORAL

1 - O QUE É CRISTOLOGIA

Cristologia” significa literalmente “doutrina ou discurso acerca de (Jesus, o)Cristo”. Christos corresponde à tradução para o grego do termo hebraicomashiah (o Ungido [de Deus]). Originalmente, portanto, Christus (formalatinizada) não é um cognome da figura histórica de Jesus de Nazaré, mas umaconfissão dela. Quem diz ”Jesus Cristo” com seriedade confessa: Jesus é oUngido de Deus, o portador da salvação. O título “Cristo” representa, de modovicário e sucinto, todas as predicações do portador da salvação (Filho de Deus,Salvador, libertador, etc.) com as quais se tentou, tanto no passado quanto nopresente, expressar quem Jesus é, e o que ele significa para nós.A perguntaprimordial da cristologia é: “Quem é este, afinal?” (Mc 4,41). Está em pauta aí osignificado soteriológico de Jesus (soteriologia: o discurso sobre a redenção ousalvação), portanto seu significado salvífico para o mundo e nossoposicionamento e nossa relação com ele.1

Com esse conceito podemos concluir que a cristologia não só constitui o tema central e

ponto crucial da teologia cristã, como também entender que ela é a chave para todos os outros

temas não apenas da teologia científica, como de toda a práxis da teologia pastoral, pois é o

1 Schneider, Theodor (Org.). Manual de Dogmática. Vol. I. Petrópolis: Editora Vozes, 2002, 2ªedição, 219 p.

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elemento fundamental da fé cristã e da comunhão eclesial, e que não se encontra em uma

idéia abstrata antes, numa pessoa viva.

Nesse sentido é interessante a abordagem da cristologia que permita apontar às pessoas

caminhos que sirvam de bússolas diante dos conflitos que encontramos dentro da caminhada

pastoral.

Ao referirmo-nos a Cristologia, estamos falamos do cumprimento das expectativas

salvíficas do Antigo Testamento, assim sendo, a escatologia e soteriologia surgem como pano

de fundo a essa abordagem. E o cumprimento da promessa; a presença do Messias entre nós; a

instauração do Reino de Deus; a vitória de Deus sobre os opressores; é a libertação dos

oprimidos; é a restituição de tudo o que fora perdido.

Mas, de que maneira isso se dá? Infelizmente os equívocos se deram no passado e

repetem-se até os dias de hoje. Quando a questão é tratar da redenção muitos não conseguem

entender a mensagem soteriológica e escatológica de Cristo. A salvação nos é oferecida por

Jesus, no entanto ela não pode ser barateada e/ou barganhada como muitos assim desejam.

Como afirma Bonhoeffer: “Graça barata significa justificação do pecado, e não do pecador.

Como a graça faz tudo sozinha, tudo pode permanecer como antes.”2

Portanto, não apenas como teólogos, mas também e principalmente enquanto pastores –

ministros da Palavra de Deus, é necessário que se reflita com mais cuidado, em quais devam

ser as formas de pensar e de anunciarmos a mensagem salvífica de Jesus, sabendo que isso irá

influenciar diretamente na questão do discipulado, na forma que estamos formando nossos

discípulos.

1.1 - O messianismo em Jesus Cristo para uma visão pastoral.

A esperança sempre foi algo concreto na vida do povo de Israel. O Deus Javé é o Deus

libertador e histórico presente em todos os acontecimentos do povo. É o Deus que caminha

2 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.09.

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com o povo e o conduz. Essa condução é rumo a um futuro sempre promissor. Essa esperança

é o combustível que vai sustentar o cumprimento escatológico em Cristo. A dinâmica da

esperança começa quando vemos o Deus que se revela a Abrão e lhe promete a terra. É a

resposta aos anseios de um estrangeiro, de um nômade errante. Tal dinâmica é percebida

durante toda leitura da narrativa do povo que atravessa o deserto, recém saído do Egito, onde

esteve oprimido pelo cativeiro e, que vemos passar por várias fases, entre êxitos e derrotas;

sofrimento e regozijo; guerra e paz.

No decorrer da historia, o povo vê-se mais uma vez acuado, agora disperso, rumo a um

cativeiro ainda maior – é o momento do exílio. É aí, nesse momento, que suas esperanças

messiânicas e escatológicas surgem com mais força.

No Novo Testamento, a pessoa de Jesus e sua mensagem de Reino surgem em cena

cristalizando todas as esperanças. Tudo o que foi prometido, tudo o que foi esperado, agora

toma corpo, torna-se palpável, torna-se visível. É a concretização de todas as esperanças.

Na mensagem do Reino de Deus, centro e ponto cardeal de sua pregação e de suaação, Jesus proclama a realização de tudo aquilo que sempre foi esperado. Asalvação escatológica está próxima, ela até já começou. “Completaram-se ostempos, está próximo o Reino de Deus”(Mc. 1,15;Lc. 10,9). “Se expulso osdemônios pelo dedo de Deus, é que chegou certamente o Reino de Deus atévós”(Lc. 11,20).3

Essa mensagem de esperança, no entanto, que outrora se destinava apenas a Israel, vê na

figura de Jesus sua ampliação. Já não é mais apenas para o povo de Israel que advirão as

promessas. As novas dimensões de esperança alcançam a toda a humanidade;

Jesus não é mais somente para os judeus, é para toda a humanidade em sua totalidade; é

para todos aqueles que foram criados por Deus.

As dimensões de esperança tomam novas proporções e assim sendo podemos

compreender melhor a universalidade do amor de Deus: Ele é para toda a criação, para toda a

humanidade, tanto que em Jesus Cristo toda a humanidade é salva. A oferta de salvação

3 Blank, Renold J. Nosso mundo tem futuro. São Paulo: Edições Paulinas, 1993, p.17.

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abrange toda a criação, não é apenas privilegio de alguns poucos escolhidos e sim está ao

alcance de todo aquele que responder positivamente a ela.

No entanto, para entendermos o significado do “ser” o Cristo teremos que correlacionar

ao termo Messias, e sempre o vermos assumindo sua figura messiânica, bem como a igreja

enquanto corpo de Cristo, também deverá assumir o caráter de comunidade messiânica – e o

homem cristão o homem messiânico. Veremos assim, o elemento cristão não como um nome

partidário, mas como uma promessa – a promessa messiânica.

Segundo Moltmann,“o próprio Jesus se entendeu a si e a sua mensagem nas categorias

dessa expectativa messiânica e que foi compreendido por seus discípulos nestas categorias, de

modo que Jesus está associado de forma original e indissolúvel à esperança messiânica.”4

Contudo, cabe ressaltar que a cristologia cristã não deveria significar desunião entre

cristãos e judeus. A esperança messiânica deve ser um ponto de elo para um discurso

escatológico e soteriológico entre ambos.

A cristologia cristã está ligada a esperança messiânica judaica, e ela permanece

relacionada às figuras israelitas –que apontavam para o cumprimento desta promessa, antes e

ao lado dela e dependentes delas. Compreendemos que o Cristianismo nada perde quando

reconhece esta permanente raiz judaica de sua esperança.

Infelizmente o que hoje vemos, é que a teologia cristã dividiu desde muito cedo a

messianologia veterotestamentária global na cristologia de um lado e na escatologia do outro,

fazendo assim com que se perdesse a visão coesa entre elas. Deu-se – dentro da teologia

cristã, uma ênfase exagerada para a cristologia separada da escatologia e negligenciou-se a

escatologia, razão pela qual também se perdeu o horizonte escatológico do futuro da parusia

de Cristo já que a cristologia que vivemos hoje tem se limitado e sido reduzida apenas ao

Deus-homem que veio ao mundo salvar os pecadores. A orientação escatológica tem de se

4 Moltmann, Jürgen. O caminho de Jesus Cristo, , Petrópolis:Editora Vozes,1994, 2ªedição, p.18.

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fazer na direção de recuperar o sentido o futuro sem a substituição por um futuro atemporal

que se consuma na morte de cada indivíduo.

E por tudo isto, a visão pastoral deverá se dar, em busca um maior equilíbrio e

compreensão para que possam estar atentos à maneira como tem sido, não só nossos olhares

cristológico e escatológico bem como tem sido nosso posicionamento, nossas falas, em face

dessa ruptura que tomou forma no decorrer da historia cristã e que divorciou a fé em Cristo,

da esperança futura.

Urge pensarmos uma cristologia escatológica que leve a uma escatologia cristológica,

ou seja, percebermos a Jesus como o Cristo em esperança recordada que é exercitado em toda

celebração, eucarística, tendo sempre em mente que assim como o Deus Javé se comiserou de

seu miserável povo no Egito, sua justiça consiste sempre na salvação dos filhos do indigente,

sendo que o reinado em seu nome não consistirá indubitavelmente em outra coisa senão do

direito dos pobres, da proteção dos fracos e da libertação dos oprimidos. A função pastoral

não pode estar isenta dessa realidade presente em nossas comunidades contemporâneas, pois

esse foi um dos maiores enfoques dados por John Wesley, ao sentir seu coração pulsar mais

forte pelas causas dos pobres e excluídos de sua época, como foi na época de Jesus.

1.2 - A oferta de salvação.

Falar em Evangelho é sem sombra de dúvida, falar em salvação – já que ele é o

prenúncio da chegada do Deus que tanto se espera, através da Palavra. Este é o caráter

sacramental do Evangelho e devemos enfatizar sempre, pois é a salvação antecedendo a ela

mesma isto é, o Evangelho é o início da epifânia do Deus vindouro é também o anuncio

messiânico que já está em vigor mediante o próprio Evangelho.

O Evangelho nada tem de utópico, não é o vislumbre de um futuro distante ou

inatingível, antes a irrupção desse futuro que tem propriedades libertadoras. O Evangelho

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adquire, portanto, a autoridade do Deus vindouro e de seu futuro; torna-se palavra criadora

que concretiza tudo o que diz, garantindo seu apelo.

Em termos universais, o Evangelho messiânico é entendido como salvação para todos

os povos, e não apenas para Israel (conf. Dêutero-Isaías e no Salmo 96).

Quando observamos Isaías 61,1s, constatamos esse Evangelho na boca do escatológico

profeta messiânico, que está pleno do Espírito do Senhor e que cria a salvação por intermédio

de Sua Palavra. Em se tratando de Deus, ele apregoa o imediato governo de Javé, sem limites,

sem fim; em se tratando do homem, anuncia a justiça, comunhão e liberdade. Os endereçados

desta mensagem, são os pobres, os miseráveis, doentes e desesperançados, como aqueles que

sofrem mais e mais, ante o afastamento de Deus e a inimizade dos homens.

Essa mensagem que aponta para a glória vindoura de Deus sob o seu povo, sua criação,

sua terra, é análogo à conclamação para a liberdade, e tal libertação é legitimada e motivada

teologicamente. “A alegria pela criação e a esperança de sua renovação na ressurreição

universal são os elementos principais, pois a ação redentora de Deus em Jesus Cristo,

abrange todas as criaturas”.5

“Javé irá a nossa frente” (Isaías 52,12,). Por mais que a libertação do povo sejarealizada por essa mensagem: “Javé é Rei”, ela também é obra dos presos, que selibertam a si próprios, tomam a iniciativa e retornam para sua casa por seuspróprios pés.A mensagem de messiânica a respeito do reino vindouro de Deusnão reduz a liberdade humana, mas lhe confere autoridade e a coloca dentro deum espaço amplo.6

A mensagem não é um agente vinculador de autoridade e poder, antes por si mesma, é a

própria autoridade da liberdade que vem de Deus.

O Evangelho é liberdade, liberdade para aquele que o recebe; liberdade para os filhos de

Deus; Evangelho que traz a libertação para o povo, já que o que se anuncia é o futuro de Deus

e esse futuro é sinônimo de libertação.

5 Klaiber,Walter;Marquart Manfred. Viver a Graça de Deus -Um Compêndio da Teologia Metodista. SãoPaulo,; Editeo, 1999,p.85.6 Moltmann, Jurgüen, O caminho de Jesus Cristo, Petrópolis, Editora Vozes, 1994, 2ªedição, pg.139.

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Nesse ponto cabe ressaltar e corroborar com Moltmann quando ele diz: “Aqui, não

convêm nem o temor do pelagianismo nem a prevalência ateísta da liberdade contra Deus.7

1.3 - Jesus e a aceitação dos marginalizados.

Dentro da perspectiva cristológica, não podemos deixar de perceber o Evangelho do

Reino de Deus, que aponta em direção dos pobres – ele é anunciado a estes. Ele aponta para a

justiça de Deus descrita como direito da comiseração pelos mais miseráveis; aponta ainda

para o futuro do reino de Deus que surge em meio àqueles que mais sofrem sob o domínio da

violência e injustiça dos poderosos – os pobres. A boa nova do reino de Deus lhes oferece a

atuação de Deus em seu contexto vivificador e recriador. Age na perspectiva real e não em

uma expectativa ideal; não se trata de uma nova doutrina, mas da instauração de uma nova

realidade e isso fica-nos bem claro quando percebemos em Jesus sua preocupação com a

situação real do povo que é permeado de pobreza, doença, possessão demoníaca, abandono, e

não com as doutrinas dos saduceus e fariseus.

A fórmula que encontramos nos evangelhos sinóticos deixa-nos bem clara esta

preferência. No entanto a de se fazer uma pergunta: quem são esses pobres?

Se formos olhar o termo coletivo os pobres, não teremos dificuldade em identificar sua

abrangência. O termo refere-se aos famintos, desempregados, doentes, desanimados e

enlutados. Refere-se ao povo que se encontra subjugado, oprimido e humilhado. Os pobres

são os doentes, os aleijados, os mendigos nas ruas e nas estradas – por onde passam os

sacerdotes e os levitas; os pobres são os tristes. Ao descrevermos sua situação exterior, nos

vemos penalizados, pois se encontram de tal maneira, que até mesmo suas roupas são objeto

de penhora, necessitando responder com seu próprio corpo, ou seja, seu próprio ser e suas

famílias são entregues como objeto de penhora reduzida à escravidão e a prostituição – seu

7 Moltmann, Jurgüen, O caminho de Jesus Cristo, Petrópolis, Editora Vozes, 1994, 2ªedição, pg.139.

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direito a vida e a dignidade lhes são destituídos. A que se dizer que os pobres são as não-

pessoas, os marginalizados, os não-contados, os animalizados, o material humano.

Não só Jesus como também seus discípulos tinham por regra e prática, o anúncio aos

pobres do Reino de Deus – a esperança escatológica, porque esses (os pobres), reconheceram

o reino de Deus como já pertencente a eles, embora não somente a eles.

O evangelho abre o enunciado de que não somente o reino de Deus pertence aos pobres,

como na verdade o reino dos pobres é o Reino de Deus. Ele anuncia não somente a salvação,

antes nos revela os pobres como concidadãos deste reino e da mesma forma os revela como

filhos de Deus. Assim, aqueles que levam as Boas Novas do Reino, são nada menos que os

mesmos pobres que a partir daí, tem sua vida restaurada e revivificada, andando em plena

comunhão entre os demais integrantes (participantes) desse reino.

Se olharmos pelo lado sociológico, veremos uma grande empreitada de Jesus rumo aos

pobres; foi um movimento da pobreza e pelo fim das desigualdades que não possibilitavam

nenhuma alternativa ao pobre para que de sua condição miserável pudesse sair. Quando

falamos de um movimento da pobreza, queremos mostrar que tal movimento não permite

acúmulo de provisões, ou seja, os discípulos deveriam sair sem provisões, pés-descalços,

como mendigos e sem lar, abandonando tudo, indo anunciar o evangelho.

Mas qual o sentido real dessa afirmação?! O despojamento de tudo aquilo que pode

impedir a realização do anúncio por parte daqueles que foram comissionados e a confiança

depositada única e exclusivamente nas mãos de Deus – já que Ele é quem entra com as

provisões e suprimentos necessários para atender àqueles que vivem a vida, pautados na

pregação do Evangelho. Deus é quem supre todas as necessidades e nada deixará faltar; e

ainda que falte, maior é a esperança do futuro vindouro, do que saciar a vontade passageira. O

próprio Mestre viveu dessa forma, como um pobre, sem família, sem arrimo, sem lar, sem

previdência.

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No entanto, existe o lado bom dentro dessa aparente pobreza que é a solidariedade que é

apresentada e aceita por muitos. A multiplicação dos pães e peixes deixa isso bem claro para

todos nós, é a comunidade que partilha seus bens, divide com aquele que nada tem o seu

próprio pão e que, ainda assim, vê-se plenamente saciado, sem nada lhe faltar.

Ao falarmos de um movimento pelo fim da miséria e da pobreza, temos a nítida visão de

um movimento em defesa da dignidade humana que luta pelo fim das opressões e tiranias dos

regimes políticos que aos poucos vai empurrando o pobre para dentro de um buraco mais e

mais profundo. Falamos de um evangelho preocupado em mostrar ao pobre os méritos de ser

um cidadão desse reino, livre das tiranias augustas, onde há uma vida plena e abençoada e que

se pode desfrutar desde já, pois a dignidade já foi restaurada. Ora, não existem mais pobres

nem escravos, nem despossuidos, esses não são mais objetos passivos da opressão e

humilhação, antes são sujeitos da história com dignidade restaurada e com a dignidade de

serem os primeiros filhos de Deus.

John Wesley viveu essa experiência, a experiência encontro daqueles que careciam de

auxilio, daqueles que eram os pobres, marginalizados e rejeitados de sua época, e conseguiu

transformar toda uma sociedade e cultura decadente, pois como é bem conhecido em sua

história, ao dedicar-se e ir de encontro aos menos favorecidos, levando a proclamação do

Evangelho conseguiu revolucionar toda uma estrutura não apenas religiosa bem como toda

uma estrutura sócio-politica, numa Inglaterra decadente do século XVIII.

O envolvimento do metodismo com as questões relevantes da sociedade é umamarca que o acompanha desde seu início. A humanização dos presídios, ocombate à escravidão, a luta por salários dignos para os operários, ofornecimento de ensino básico para as crianças pobres, distinguiram osmetodistas quando ocorreu a assim chamada Revolução Industrial, na Inglaterra.8

Podemos perceber isso em vários de suas empreitadas e podemos destacar sua atenção

especial aos mineradores de Kingswood, que suscitou um grande movimento nas esferas

sociais e espirituais.

8 Marques, Rev.Natanael Garcia – John Wesley e o movimento Metodista. Universidade Metodista de São Paulo,disponível em http://www.metodista.br/pastoral/reflexoes-da-pastoral/john-wesley-e-o-movimento-metodista/.Acesso em 05/10/2007

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Em 1739, John Wesley foi a Bristol, onde surgiu um reavivamento entre osmineiros de carvão em Kingswood. O reavivamento continuou sob a liderançadireta dele durante mais de cinqüenta anos. Viajou cerca de 400.000 km, portodas as partes da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, pregando cerca de40.000 sermões. Sua influência se estendeu à América do Norte.9

1.4 - A libertação das opressões através do Evangelho de Cristo

O significado das curas e milagres vai muito além de simplesmente o ato da cura física.

Jesus inaugura o anúncio do Reino de amor que não só restitui a dignidade como também dá a

possibilidade de uma restauração espiritual de recondução do homem ao seu criador. Curas

milagrosas e expulsão de demônios não eram novidades, aliás, era um fenômeno freqüente no

mundo antigo. Cabe ressaltar que elas existem até hoje em culturas não só da África e Ásia,

bem como no submundo da civilização moderna. O significado da atuação de Jesus, no

entanto, refere-se à irrupção do Reino da vida ante esse domínio e poderio das trevas; o

resgate, a restauração da vida, da saúde ante esse reinado mórbido de dor, doença, sofrimento

e morte, visto que o próprio senhor Jesus chama não de pecadores e sim de doentes, aqueles

que se aproximam dele. Aqueles que sofrem buscam a Cristo e Ele os restaura, seu poder lhes

devolve saúde, vida e liberdade, ante as opressões.

A proclamação do Evangelho era necessária para que o povo soubesse que oReino estava à disposição de todos aqueles que esperavam pelas promessas deDeus e que viviam oprimidos de toda sorte. Jesus utilizava a pregação comoelemento fundamental, mas não a enfatizava isolada. A pregação estavaintegrada de uma outra parte fundamental do Evangelho -a cura: "Indo de aldeiaem aldeia, anunciando a Boa Nova e operando curas por toda a parte."(Lc 9.6).10

A real missão de Jesus consistia em devolver a liberdade total àqueles que vivam cativos

e oprimidos pelos vários poderes deste mundo, poderes destruidores, opressores, demoníacos,

e ao proclamar o Reino de Deus, automaticamente as cadeias se rompiam, as opressões

cessavam, e a restauração da vida era imediata. A atuação maligna cessava, pois onde Jesus

estava, ali não mais poderia permanecer os poderes das trevas.

9John Wesley. disponível em http://www.pregaapalavra.com.br/pregadores/wesley.htm.Acesso em 05/11/2007.10 Chaves, Odilon Massolar. A Evangelização Libertadora de Jesus, Imprensa Metodista, 1985, p.16.

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Jesus teve a missão de libertar totalmente o ser humano, Ele definiu a sua missãoassim ‘Proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação das vistas,para restituir a liberdade aos oprimidos...’(Lc 4.18).Um dos fatores quecooperavam para a opressão do povo era o demônio. Ele representava o opostodo Reino de Deus. Ele oprimia, escravizava, destruía as vidas humanas. Antes deJesus chegar, o reino das trevas, o poder da morte,dominava, em parte, o mundo.Jesus veio anunciar a Boa Nova do Reino, o começo de uma Era nova, o começodos novos tempos. Sim, o tempo da vitória do bem, do amor, da vida.11

1.5 - Na paixão – A vitória e reconciliação

Não podemos olhar para o Cristo, sem olharmos para o Jesus homem, que sofreu dores

em total entrega voluntária, por amor a humanidade e para que Nele se consumisse a

totalidade da criação. Ao tomarmos a sério a expressão da “paixão” em seu duplo sentido,

podemos entender o grande mistério de Cristo. O tomarmos o termo passio em latim, também

o termo grego pathema percebemos o duplo sentido ao qual tais termos se referem; ambos

designam tanto paixão/desejo, quanto sofrimento.

Os sofrimentos de Cristo, embora sejam pessoais, tem dimensões universais, porque se

encontram no horizonte apocalíptico “do tempo presente”. Ele sofre em solidariedade com os

outros, em substituição a muitos e em antecipação para toda a criação sofredora. Ele não sofre

para si mesmo, mas sofre pelo mundo, o desejo de ver liberta a criação dos poderes do

mundo; o desejo de ver instaurada em cada coração a nova ordem, o Reino de Deus, o Reino

de Amor.

Os sofrimentos de Cristo adquirem seu significado salvifico no contexto do fim desse

éon12 que se aproxima e da irrupção da nova e eterna criação.

Atrelada a sua mensagem de reino de Deus, seus sofrimentos não são seus sofrimentos

pessoais e sim, os sofrimentos apocalípticos que ele sofre pelo mundo – sofrimentos esses

necessários e levarão ao mundo conhecer uma instauração de uma nova ordem. A morte de

11 Ibidem, p.19.

12 éon – palavra grega que significa mundo.

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Jesus é a morte de todo ser vivente, é a solidariedade com a criação, bem como sua

ressurreição deixa claro o agir escatológico de Deus onde é revelado o cumprimento da

vontade de Deus – fazer novas todas as coisas. Assim, pode-se entender a ressurreição de

Jesus, como o acontecimento escatológico que dá inicio a nova criação de todas as coisas.

Quando transpomos para nossa realidade a pergunta a despeito da morte e ressurreição

de Jesus, podemos dimensionar a proporção do amor de Deus. Seus sofrimentos se deram

para nossa libertação do poder do pecado e do fardo de nossa culpa.

E o chamamento para uma nova vida, é a opção que outrora não tínhamos e agora nos

foi oferecido. Em Cristo temos o perdão para os nossos pecados e a nova vida dentro da

justiça de Deus. É a obra justificadora que nos liberta e nos religa ao Criador.

Essa justificação, no entanto, somente se concretiza mediante a fé. É mediante a fé, que

somos habilitados e entramos em comunhão com o Cristo que venceu a morte e é principio da

nova criação. Ele é o cabeça de toda a humanidade; é a glória de Deus entre nós; é o poder

libertador da maldição da lei do pecado que leva a morte e a instalação da justiça mediante o

amor de Deus, que gera vida, e vida eterna.

O evangelho de Cristo traz ao mundo o poder salvífico de Deus, isto porque é o poder

justificador, poder do renascimento do Espírito vivificante, que dá razão à nova vida, a nova

criação e essa passa a caminhar num novo estilo de vida; àqueles que aceitam esse fato,

passam por um novo processo, o processo de uma nova mentalidade onde a conscientização

do perdão de seus pecados, faz o homem entrar num processo gradual e constante no ensejo

de buscar estar mais perto daquele que o libertou graciosamente.

O metodismo, sempre destacou o aspecto da fé como resposta a graça que concede a

reconciliação da humanidade com Deus, mediante a paixão, morte e ressurreição de Cristo.

O Espírito comunica a presença de Deus em Cristo e alimenta dentro de nós umaresposta de gratidão e amor. Tal resposta, e o novo relacionamento baseado nagraça que o viabiliza, é a fé. Assim, Wesley passa de sua interpretação anteriorda fé como uma aceitação racional, ou como aceitação da autoridade, a uma férelacional, que permaneceu como definitiva. A fé não é nem uma emoção

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subjetivista nem uma aceitação racionalista que opera dentro do individuo, masuma relação à qual somos levados pela graça.13

13 Runyon, Theodore. A Nova Criação -A Teologia de João Wesley hoje. São Bernardo do Campo-SP. Editeo,2002, p.74.

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CAPÍTULO II

DISCIPULADO: UM COMPROMISSO COM O CHAMAMENTODE JESUS CRISTO

2 - O que é Discipulado Cristão

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada nocéu e na terá. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os emnome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas ascoisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até aconsumação do século.14

Quando nos é perguntado o significado do discipulado cristão, temos sido fieis a sua real

implicação?! Nos tempos atuais, temos tido a percepção de alcançar e dar cumprimento,

através da leitura deste texto do evangelho de Mateus, a ordenança de Cristo Jesus para sua

Igreja?!

14 Cf. Evangelho de Mateus 28, 18-20, extraído da Bíblia de Estudos de Genebra.

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Jesus em todo o tempo de seu ministério ensinou, discipulou e formou discipuladores.

Ele teve um relacionamento constante com o ensino, com o discipulado. Ele investiu

intensamente a sua vida, seu tempo e energias na tarefa de ensinar e formar discípulos, ou

seja, aqueles que dariam continuidade justamente àquilo que Ele fazia. E Ele não se deteve

apenas em uma área especifica da vida dos seres humanos, não. Ele procurou orientar a

respeito de dos os aspectos da vida do ser humano – sem dicotomizá-lo, como infelizmente

algumas pessoas fazem nos dias atuais. Tudo o que o ser humano necessitava saber a cerca da

sua própria espiritualidade e de sua vida terrena, foram abordados por Jesus e deixado para

que nós pudéssemos seguir seus passos, discipulando segundo seus ensinamentos.

Em suma, se olhamos para Jesus, podemos perceber que sua dedicação em transformar

homens comuns em discípulos foi uma tarefa que Ele efetuou com um zelo imarcescível, visto

que a transformação para o mundo que Ele nos apresentou, começa pela transformação de

nossa mentalidade, da forma em que passamos a enxergar o mundo a partir de seus

ensinamentos.

Sendo assim, para que possamos ser uma Igreja fiel em nosso ministério educacional, se

realmente queremos formar um ministério de onde saiam verdadeiros discípulos cristãos,

precisamos antes de qualquer coisa, seguir as pisadas do Mestre e Senhor da Igreja: Jesus. De

nada adianta a igreja tentar inovar, buscar práticas pedagógicas ou metodológicas modernas se

não estiver pautada em Jesus, se não aprender com Ele e souber discernir através Dele, pois

estará fadada ao fracasso, já que um ensino cristão distanciado de Cristo, que valha-se de

qualquer metodologia puramente humana, será inútil para alcançar ao alvo maior para qual a

Igreja foi chamada que é a transformação espiritual de que todos os seres humanos

necessitam.

Portanto, discipulado cristão é a prática de ensinar e aprender todo o ensinamento de

Jesus contido nos evangelhos; no entanto não basta apenas aprender. A prática está

Page 29: Discipulado cristão   laecia-conceicao-nogueira

intrinsecamente ligada ao aprendizado e isso fica bem claro quando o Senhor Jesus compara

aqueles que ouvem sua palavra, ao narrar a parábola dos dois homens que construíram suas

casas15; um em solo forte e sustentável e o outro na areia. Que grande moral e significado nos

dá essa parábola para o discipulado. Ora aquele que houve os ensinamentos de Jesus e não os

pratica, é comparado ao homem tolo que edificou sua casa na areia – assim se dá com o

discipulado – discípulo não é aquele que apenas aprende algo, mas aquele que põe em prática

em sua vida diariamente, todo o aprendizado que recebeu do Senhor e Mestre Jesus.

Não basta apenas receber os ensinamentos de Jesus, isso não é tudo; o que realmente

importa é por em prática tudo aquilo que se ouve de Jesus. Deve existir a obediência ante o

ensinamento que é dispensado. O verdadeiro discípulo é aquele que ouve e pratica os

ensinamentos e para isso deve se desenvolver durante a prática do ensino a conscientização,

pois somente quando estamos conscientes dos fatos rumamos de encontro a um discipulado

fiel e genuíno.

No entanto, sabemos que o chamado de Cristo ao discipulado, é para levarmos nossa

cruz pois somente assim o discípulo se coloca em comunhão no perdão dos pecados e esta é

justamente a essência do discipulado: o perdão dos pecados é o sofrimento de Cristo e este

foi ordenado a todos aqueles que querem segui-lo, serem verdadeiramente seus discípulos,

verdadeiramente cristãos.

O sofrimento é, pois, a característica dos seguidores de Cristo. O discípulo nãoestá acima de seu mestre. O discipulado é passio passiva, é sofrimentoobrigatório. Por isso, Lutero incluiu o sofrimento no rol dos sinais da verdadeiraigreja. Um anteprojeto da Confessio Augustana definiu a Igreja comocomunidade dos que são “perseguidos e martirizados por causa do Evangelho”.Quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não quiser expor sua vida aosofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a comunhão comCristo e não é seu discípulo. Quem, porém, perder a sua vida no discipulado, nocarregar da cruz, tornará a encontrá-la no próprio discipulado, na comunhão comda cruz com Cristo. O oposto do discipulado é envergonhar-se de Cristo,envergonhar-se da cruz, escandalizar-se por causa da cruz.16

15 Cf. Evangelho de Mateus, capitulo 7,24-27 extraído da Bíblia de Estudos de Genebra.16 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.48.

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Ser verdadeiramente discípulo, está intrinsecamente ligado a muitas vezes termos que

caminhar sozinhos sem o apoio de ninguém, nem mesmo de nossos familiares. Muitas vezes,

o fato de estarmos olhando para a cruz de Cristo, nos levará a uma verdadeira solidão, visto

que nos depararemos muitas vezes com o vazio de clamarmos no deserto. No entanto, é a isso

que somos chamados, a olhar somente para aquele que nos convocou, necessitamos ter em

mente que ser discípulo implica em aprender a abrir mão de nós mesmos em favor da causa de

Jesus, não que seu desejo é nos ver tristes ou desamparados, mas em nossa obediência somos

levados a buscar em primeiro lugar, fazer sua vontade, exercitando o desapego às coisas

naturais, como ficou bem claro em seu diálogo com o jovem rico17. Isso ficou bem claro em

suas palavras durante seu ministério.

O chamado de Jesus ao discipulado faz do discípulo um indivíduo. Querendo ounão, ele tem que se decidir, tem que tomar sua decisão sozinho. Não é indivíduoespontaneamente; Cristo é que faz do ser humano chamado, um indivíduo. Cadaqual é chamado individualmente e tem que ser discípulo sozinho. Com receiodessa solidão, o ser humano procura proteção junto às pessoas e coisas que ocercam. Apercebe-se, de súbito, de todas as suas responsabilidades e apega-se aelas. Encoberto por elas, deseja tomar sua decisão, mas não quer encontrar-sesozinho perante Jesus e ter que decidir-se com o olhar fixo somente nele.. mas,nesta hora, o ser humano chamado não pode ocultar-se por detrás de pai e mãe,mulher e filhos, povo e história. Cristo quer que o ser humano fique só, que nadamais enxergue senão aquele que o chamou.18

Sabemos que hoje, não é raro encontrarmos pessoas que mesmo estando engrossando as

fileiras evangélicas, não sabem sequer os rudimentos da fé que professam e em conseqüência

disso, não conseguem testemunhar sua fé e em levar outros à obediência a Jesus Cristo; não

estão dispostos a romper com suas circunstâncias naturais, e na maioria das vezes “não

querem tal rompimento”, mas na verdade, ninguém pode seguir a Cristo e ser

verdadeiramente seu discípulo se não tiver passado por pelo rompimento de sua relação

imediata com o mundo.

17 Cf. Evangelho de Lucas capítulo18,18-23. extraído da Bíblia de Estudos de Genebra.18 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.51.

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Quando voltamos nossos olhos para o evangelho do Senhor Jesus, em especial, no texto

de Mateus 10,26-3919, que nos coloca bem claro a decisão que temos a tomar e que cabe

somente a nós mesmos assumir o compromisso de nos tornarmos verdadeiros discípulos,

seguidores de Jesus em todas e quaisquer circunstâncias que se nos apresentarem no decorrer

de nossa caminhada. Entretanto, fica-nos claro que o que vem acontecendo em nossos dias é a

falta de um discipulado sério e comprometedor e isso resulta em cristãos sem identidade, sem

entusiasmo, sem vida e sem autenticidade, totalmente oposto à proposta de Jesus, que é fazer

de seus seguidores, autênticos cidadãos do Reino de Deus, com caráter e identidade

diferenciadas. Discipular é, portanto, uma tarefa que exige um cuidado pessoal com cada

indivíduo, é atividade insubstituível dentro da igreja, pois é através dele que levaremos às

pessoas a abrir-se para o chamamento de Jesus, estaremos despertando em cada cidadão do

Reino sua real condição e seu posicionamento diante do compromisso assumido com Cristo,

assim sendo, iremos levar adiante o comissionamento para o qual fomos convocados.

Os discípulos, ao reconhecerem a Cristo, recebiam seu mandamento claro; de suaboca recebiam instruções a respeito do que fazer; não era esse o grandeprivilégio daqueles primeiros discípulos? Não estamos nós abandonandojustamente neste ponto decisivo da obediência cristã? Não fala o mesmo Cristo anós de modo diverso do que àqueles? Se isso fosse verdadeiro, estaríamos hojeem situação desesperadora. Mas não é assim. Cristo não fala hoje de mododiferente a nós do que falou naqueles tempos. Não é verdade que os primeirosdiscípulos reconheceram primeiramente nele o Cristo, para depois receberem seumandamento. Antes, não o reconheceram senão por sua Palavra e por seumandamento. Creram em sua Palavra e no mandamento e reconheceram nele oCristo. Não havia para os discípulos outro reconhecimento de Cristo a não seratravés de sua Palavra clara.20

2.1 - O chamado ao Discipulado e a Graça preciosa

O chamado ao discipulado é o comprometimento que assumimos diante da pessoa de

Jesus Cristo. Para aqueles que se dizem cristãos, não é uma escolha –é uma ordenança, e

querer obediência. É a obediência sem questionamentos, sem ponderações, sem concessões

19 Cf. Bíblia e Estudos de Genebra.20 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.140.

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e/ou exceções. É entrar na seara e não olhar para trás; é trilhar um caminho que não nos

permite retrocessos; é a empreitada que faz tudo novo e onde nossa vontade está na vontade

de fazer aquilo para o qual o Mestre nos conclama. É a nova vida que se apresenta a nós como

a única opção de quem verdadeiramente aceita a Graça preciosa de Deus. No evangelho de

Marcos fica bem claro esse ato: Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na

coletoria, e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.(Mc 2,14)21.

A autoridade de Jesus não é questionada, está explicito em seu simples chamamento, sua

convocação àqueles que Ele irá comissionar. Ao fazer o chamado, não está em questão se

Jesus é um discipulador, mas encontra-se no fato Dele ser o Cristo. Sua autoridade é

inquestionável, e aquele que recebe Seu chamado, tem a consciência de que se não se

desprender de tudo o que o convenciona dentro de suas comodidades, não terá os requisitos

para O seguir e atender ao chamamento, chamado esse, no entanto, que não lhe garante

nenhuma estabilidade, mas que vem carregado de autoridade e querer obediência pois é o

Cristo quem lhe chama – ninguém menos, é como afirma Bonhoeffer:

O ser humano que foi chamado larga tudo quanto tem, não para fazer algo quetenha valor especial, mas simplesmente por causa daquele chamado, porque, deoutro modo, não pode seguir a Jesus. A esse ato não se atribui o menor valor.Em si, continua sendo uma coisa absolutamente destituída de importância, semmerecer atenção. Destruíram-se as pontes e simplesmente caminha-se em frente.Uma vez chamada para fora, a pessoa tem que abandonar a existência anterior,tem que simplesmente “existir” no sentido rigoroso da palavra. O que é velhofica para trás, totalmente abandonado.22

Quando olhamos para a segurança que temos, dificilmente estamos abertos ao

chamamento de Cristo, pois tudo o que nos impede de enxergar a Graça de Deus está ligada

aos fatores que nos dão a falsa sensação de estabilidade que o mundo nos proporciona.

O chamado ao discipulado deve, portanto, ser o olhar além das coisas aparentes, além

dos limites pré-estabelecidos pelos homens que convencionaram a estabilidade em

estagnação, já que à medida que o ser humano se despoja de seus bens, fica vulnerável e

21 Cf. Evangelho de Marcos capítulo 2, vs.14,extraído da Bíblia de Estudos Genebra.22 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.21.

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completamente desprovido de qualquer sustento palpável; mas na verdade, não deve-se pensar

de tal maneira já que essa vulnerabilidade será revestida pela presença de Jesus na vida

daqueles(as) que assumem o compromisso com Ele.

Enquanto cristãos, devemos sempre ter em mente que àquele que nos chama, é

suficientemente poderoso para suprir toda e qualquer necessidade que venhamos a ter e mais,

Seu amor é tão intenso e profundo pela humanidade, que esta é a razão de estarmos sendo

convocados ao discipulado –anunciar ao mundo as Boas Novas de um Reino que tira qualquer

preocupação com as coisas desse mundo, e onde o sustento é providenciado mediante a fé

naquele que nos chamou.

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o ser humanosai e vende com alegria tudo o quanto tem; a pérola preciosa, para cuja aquisiçãoo comerciante se desfaz de todos os seus bens; o senhorio régio de Cristo, poramor do qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar; o chamado deJesus Cristo, pelo qual o discípulo larga suas redes e o segue.23

Ser chamado ao discipulado é comprometer-se com Cristo, o Deus Filho que veio até

nós, para através de seu exemplo e ensinamento, nos reconduzir até o Deus Pai. Ser chamado

ao discipulado é um aprendizado de obediência na recondução do ser humano a um novo

relacionamento com Deus, pautado no entendimento de Sua preciosa Graça.

Mas o que será que temos entendido a respeito dessa Graça, e por que enfatizar sua

preciosidade? A Graça é preciosa, pois é a total rendição de Deus, diante de seu amor

incondicional pela humanidade. Graça preciosa justifica o pecador, pois esse carece ser

justificado; conclama o mundo ao arrependimento de seus pecados. É preciosa porque é a

encarnação de Deus; é graça preciosa porque custou vida, para dar vida ao ser humano. É

preciosa por vir como palavra de perdão a nossos espíritos angustiados e nossos corações

dilacerados. Seria muito bom se parássemos para refletir em palavras simples, porém

incisivas, que nos remetem para a graça que é a Palavra viva de Deus, para a graça que é a

condição que nos dá direito de adentrar no santuário do Deus vivo e contemplá-lo face a face.

23 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.10.

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Graça preciosa é a graça como santuário de Deus, que tem que ser preservado domundo, não lançado aos cães; e por isso é graça como palavra viva, a Palavra deDeus que Ele próprio anuncia de acordo com seu beneplácito. Chega até nóscomo gracioso chamado ao discipulado de Jesus; vem como palavra de perdãoao espírito angustiado e ao coração esmagado. A graça é preciosa por obrigar oindivíduo a sujeitar-se ao jugo do discipulado de Jesus Cristo. As palavras deJesus: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” são expressões da graça.24

No entanto, há muito tempo vem-se barateando essa graça tão preciosa; há muito, no

decorrer dos séculos desde a instituição da igreja, através das novas leituras que se fizeram e

dos interesses que começaram a serem gerados no coração do homem, essa graça começou a

sofrer distorções.

Ao se expandir após o 3º século da era cristã, onde após os fracassos de detê-lo, o

Cristianismo começou a sofrer uma secularização cada vez mais crescente por parte da então

Igreja institucional, e com isso, a consciência dessa graça preciosa, pouco a pouco foi se

perdendo. A graça passara a ser propriedade do mundo cristianizado. Sabemos, entretanto,

que não se perdera o foco completamente, para isso basta nos voltarmos às periferias da

Igreja, onde homens e mulheres entendendo o significado precioso da graça eram capazes de

tudo abandonar para manter viva a consciência do significado real do ser discípulo de Jesus, e

conseqüentemente, abandonavam tudo o que lhes atrelava ao mundo em seus apelos para

buscar cumprir os mandamentos de Cristo numa vida de discipulado. Um exemplo vivo que

temos deste fato, foi o surgimento dos monastérios, que eram uma expressão de total protesto

contra a secularização do cristianismo e do barateamento da graça.

Esse protesto foi valido, no entanto, a simples negação do mundo em busca de viver em

harmonia com Deus, não era suficiente, já que somos desafiados a viver Cristo, dentro dos

apelos do mundo, sem nos deixar influenciar, antes influenciando e nesse momento, a partir

da Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero25 , que percebeu que uma vida em

24 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.11.25 Martin Lutero – Precursor da Reforma Protestante, foi um monge alemão, com formação em Direito, Teologia,que viveu entre 1483 a 1546, que ousou a questionar as praticas da igreja católica, a partir das vendas deindulgências, adoração a relíquias e cobrança de sacramentos aos fieis, sua intenção não era dividir a igreja,antes, ousou alertar contra as absurdas distorções do evangelho de Cristo, tendo como seu primeiro ato, a fixação

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obediência perfeita aos mandamentos de Cristo deveria acontecer na vida confessional de

cada dia. Com isso se aprofundou cada vez mais e de maneiras imprevisíveis nos conflitos em

que vivem os cristãos em relação com sua vida no mundo, concluindo que o viver cristão é

um confronto diário com os poderes, prazeres e seduções que lhes são oferecidas, mas que, se

nos mantivermos firmemente ligados e nos exercitando aos ensinamentos discipuladores

diários de Jesus, certamente não nos deixaremos sucumbir a tais apelos.

Contudo, apesar de todos os esforços de Martinho Lutero, no decorrer do tempo, ao

serem inseridos novos pensares a cerca de suas doutrinas, foram acrescidas distorções em

cima de suas afirmações, e estas, passaram a ser fator de ruína de suas convicções, pois ainda

que estivesse implícitos em seus ensinamentos e formas de pensamento, a questão do

arrependimento dos pecados para a justificação do pecador, seus sucessores, os seguidores de

sua doutrina mais uma vez, equivocadamente, destruíram seu movimento reformatório, pois

retomaram o discurso da justificação do pecado e do mundo. Mas uma vez a graça preciosa

transformou-se em graça barata sem discipulado.

O mundo passou a ser o alvo da graça, o perdão e a justificação do pecador passou a ser

a justificação do mundo e de seus pecados, sendo então dispensado o discipulado de Cristo

para a promoção de uma vida verdadeiramente transformada, verdadeiramente crista.

A graça mais uma vez, tornou a ser barateada, quando se passou a uma pregação de

perdão de pecados sem o verdadeiro arrependimento, com o batismo sem disciplina cristã.

Graça barata, é a vida sem o processo da metanóia26 , sem a confissão de que Jesus é não só

Salvador, mas antes e sobretudo Senhor.

É a graça sem mudança de vida, sem mudança de caráter, sem atender a obediência do

chamado ao discipulado, sem a cruz, sem o Jesus Cristo presente em nossas vidas. Em suma:

de suas 95 teses, em Outubro de,1517, à porta do castelo de Wittenberg, cujo teor resume-se em que Cristorequer o arrependimento e a tristeza pelo pecado, e não a penitência.26 Palavra originaria do grego que significa mudança de mente

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A graça barata e a pregação do perdão sem o arrependimento, é o batismo sem adisciplina comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é aabsolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado,agraça sem cruz,a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.27

2.2 - A Herança Metodista e a ênfase ao Discipulado

O discipulado sempre teve papel importante da vida de John Wesley, visto que ele

mesmo desde cedo, ele mesmo recebeu formação e orientações à cerca do evangelho por parte

de sua mãe Suzana Wesley, que marcava a data do quinto aniversario seus filhos como sendo

o momento que passavam a aprender o alfabeto, e isso, a partir do estudo e leitura do primeiro

versículo da Bíblia. Entretanto, em se tratando de John Wesley, um fato aconteceu que

diferenciou-o de seus demais irmãos. A casa onde residia sua família certa noite foi acometida

por um incêndio, no entanto a família do pastor Samuel Wesley – pai de John, continuava a

dormir tranqüilamente até que um dos filhos acordou e deu o aviso da tragédia. Todos

começaram a sair menos um: o pequeno John. Seus familiares se puseram em orações e

milagrosamente conseguiu-se resgatar a criança completamente sã e salva. Sua mãe viu nesse

fato, um ato divino de Deus e entre suas afirmações em suas meditações particulares encontra-

se esse relato a cerca de tal acontecimento:

Senhor, esforçar-me-ei mais definitivamente em prol dessa criança, a qualsalvaste tão misericordiosamente. Procurarei transmitir-lhe fielmente aocoração os princípios de tua religião e virtude. Senhor, dai-me a graçanecessária para fazer isso sincera e sabiamente, e abençoa os meus esforçoscom grande êxito!28

Certamente a educação cristã diferenciada que sua mãe lhe dedicou, teve influência

direta na vida de John Wesley, pois com o passar do tempo seu comprometimento com as

coisas concernentes ao anuncio das Boas Novas do Reino, foram sua maior motivação de

vida. Mesmo em seu tempo de faculdade, em Oxford, já se reunia com colegas para estudar as

27 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.11.28 Boyer, Orlando. Heróis da Fé.Rio de Janeiro: CPAD, 2003, 24ªedição, p.50.

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Escrituras, meditar a cerca dos textos, jejuar, visitar os doentes e encarcerados e confortar

criminosos na hora de suas execuções –ministrando a esses, palavras de salvação mediante a

confissão de seus pecados a Cristo.

Tais hábitos o seguiram no decorrer de sua caminhada, pois todos aqueles que se

juntavam a ele, passavam a ter os mesmos ideais e a nutrirem o mesmo anseio de estar

espalhando pelo mundo tal desejo de transformação do ser humano, através dos ensinamentos

de Cristo.

Ele realmente viveu uma vida dinâmica, evangelizadora, missionária e atenta às

necessidades de sua época. O movimento wesleyano, que aconteceu numa época onde a

Inglaterra encontrava-se num contexto onde a espiritualidade pessoal e eclesiástica eram

consideradas mortas, onde a moral era baixa, as massas eram ignorantes e brutalizadas; onde a

degradação social levava ao sofrimento físico os pobres e perdidos. E ainda assim, movido

pelo sentimento que somente aqueles que verdadeiramente conhecem Àquele que os chama,

ele conseguiu não apenas sentir despertado em seu íntimo, bem como despertar nos outros a

necessidade de uma atuação dinâmica, evangelizadora e missionária que fosse capaz de

transformar as realidades e necessidades a sua volta, sem perder o foco central da mensagem

do Evangelho, que é o próprio Cristo Jesus.

Hoje necessitamos ter sempre ávidos em nossos corações, enquanto metodistas, os

mesmos ideais que estavam presentes não apenas em John Wesley, como naqueles que o

seguiam; temos que ter em mente as reais necessidades de nosso presente século, para que

possamos buscar uma prática eficaz em nossas investidas evangelísticas e missionárias.

Necessitamos ter em nós a mesma força e o mesmo espírito que eram presentes no movimento

wesleyano, para que possamos despertar e estarmos motivados para reavermos a paixão que

dinamiza a formação de um discipulado genuinamente cristocêntrico, para que possamos estar

alcançando pessoas, grupos e comunidades que infelizmente vivem hoje, dentro de um

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contexto de cruel agonia, crise, corrupção, angustia, opressão, dominação, ausência de valores

morais, injustiça, carência de verdade, de amor, de solidariedade, de paz e do mais importante

nisso tudo – da esperança de sua redenção, de sua justificação, do perdão de Deus para suas

amarguradas vidas destruídas pelo mal.

2.3 – O discípulo seguindo a Jesus e reconhecendo os equívocos do G-12

Por tudo o que já discorremos, é fácil entender que a vida de John Wesley e

conseqüentemente dos seguidores de sua doutrina – ou seja, a Igreja Metodista. Há uma forte

evidência de que nosso compromisso está em seguir os passos do Mestre Jesus.

Através da experiência de redenção de John em Aldersgate, somos até os dias atuais,

desafiados a viver uma vida em consonância com o ensinamento de nosso mestre. Tal foi a

experiência, que realmente marcou a vida de John Wesley de uma forma tão intensa, que tal

fato foi, em sua vida, o divisor de águas entre a religião morta, legalista, da frieza emocional e

do orgulho enfadonho vivido em sua época, frente à crescente satisfação da fé que age pelo

amor que o motivou durante toda sua caminhada terrestre, e é essa mesma motivação que

devemos redescobrir e fazer com que permaneça em nossos corações para nos dar o incentivo

necessário e a motivação sempre inovadora para continuar seguindo os passos de Jesus, assim

como Wesley e seus contemporâneos.

Entretanto, os dias são conturbados; a crescente diversificação de conceitos doutrinários

a cerca das Boas Novas do Evangelho, tem dado margem para movimentos totalmente

opostos ao mandamento bíblico. Ao sermos alcançados por Jesus Cristo, ao sermos

convocados ao discipulado, nosso ideal deve ser alcançar a estatura de Cristo, seguindo seus

passos, imitando suas ações, guardando e cumprindo seus ensinamentos, e sabedores de que

discipulado cristão não é outra coisa, senão o relacionamento de mestre e aprendiz, baseado

no modelo de Jesus e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aprendiz a

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plenitude da vida que tem em Cristo, temos que verdadeiramente crer que o discípulo é capaz

de treinar, ensinar e formar outros discípulos.

Ao termos em mente que Jesus é o grande mestre fazedor de discípulos, e sabedores de

que como cristãos levamos o nome de Jesus –por sermos seus seguidores, não podemos dar

lugar para a mediocridade no discipulado, pois o chamado ao discipulado de Jesus, é fator

transformador de vidas. O simples - “Segue-me” – deve ter hoje a mesma legitimidade que

tinha no início da era cristã. Não podemos ser levianos a sua convocação, já que o destino

eterno das pessoas irá depender da forma que respondemos a Sua convocação.

Por isso, devemos estar bem atentos a modismos que vem sendo estabelecidos e por

falta de conhecimento e discernimento espiritual, muitos vêm aderindo a modelos totalmente

equivocados, como é o caso do G-12. Tal método foi uma importação dos EUA, e há alguns

anos assumido na Colômbia pelo pastor César Castelano e sua esposa Claudia Castelano.

Sua metodologia consiste em designar uma igreja organizada por células, ou seja,

grupos de pessoas que são orientadas por um líder, e suas afirmações são que assim fica mais

fácil um maior aproveitamento no discipulado. No entanto tal modelo é totalmente contrário à

doutrina bíblica, já que as células não dão espaço para o desenvolvimento dos diversos dons e

ministérios e as instruções quanto à unidade do corpo de Cristo contidos nas Escrituras

Sagradas.29

Outra grande evidência de sua incompatibilidade com as Escrituras Sagradas, é o fato

de, assim como no passado sugiram heresias que deram origem a seitas tais como: o

movimento dos Mórmons em 1823, que teve por fundador Joseph Smith; os Testemunhas de

Jeová –fundado por Charles Taze Russell, em 1872; os Adventistas –movimento efetivado em

1863, tendo como principal precursora Ellen G. Harmon –posteriormente:White; 30 que

partiram de princípios de revelações divinas que não passaram por nenhum crivo de

29Cf. a epístola de 1 Corintios 12,1-31 – Bíblia de Estudos de Genebra.30 Pesquisado através do site: www.cacp.org.br/seitas e heresias em 15/11/2007

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autenticidade através de testificação bíblica e profética, e pior ainda, acabaram por arrebanhar

centenas de milhares de almas para um emaranhado religioso, que faz com que as pessoas

percam o verdadeiro alvo que é Jesus Cristo.

Nós metodistas, enquanto Igreja com bases doutrinárias cristãs, somos sabedores que

não podemos aceitar distorções quanto as Escrituras Sagradas, e, sabemos ainda, que a Igreja

exerce papel indispensável na manutenção do Cristianismo, não que a igreja, seja fator

determinante de salvação e sim, por ser através dela que a voz profética do povo de Deus se

fortalece por ser ela o Corpo de Cristo, que aponta para o Reino de Deus e que foi constituída

justamente para lutar contra as injustiças cometidas pelos sistemas imperativos no mundo.

Quanto ao discipulado, tão distorcido pelo movimento G-12, temos toda autoridade para

afirmar que discipulado não é nenhuma novidade ou modismo. Nossa historia enquanto Igreja

Metodista nos confere a tradição do discipulado. Em todo tempo, John Wesley demonstrou

grande preocupação com a formação não só espiritual, como em todas as áreas da vida do ser

humano e assim, àqueles que iam aderindo ao movimento chamado metodista, eram

envolvidos em pequenos grupos chamados de sociedades ou classes, para que esses pudessem

ter obter um maior aproveitamento de aprendizado e apreensão dos conteúdos que lhes eram

ministrados, e essa prática vinha desde os tempos de estudante em Oxford, como citado

anteriormente.

Como consta na Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre o G-12, recebemos as

seguintes recomendações:

Em que se pese os testemunhos de vários lideres evangélicos a favor e contra oG-12, considerando os equívocos presentes neste método apresentado comoprograma de discipulado, damos a seguinte orientação ao povo metodista: Nãoentreguemos nossas ovelhas para serem pastoreadas por terceiros. Pastores epastoras e demais lideres de ministérios nas igrejas locais, são os responsáveispelo rebanho, que está sedento e desejoso de ser pastoreado e aprofundar suasexperiências com Deus. Seguindo a tradição metodista, grupos de discipuladodevem ser organizados em nossas igrejas, sobretudo com a liderança dosministérios. Que nestes grupos seja aplicado o modelo wesleyano.Lembremos que o programa de discipulado, em fase de implantação em nossaigreja, define discipulado como um estilo de vida que caracteriza a vida daspessoas alcançadas pela graça de Deus e comprometidos com o Reino de

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Deus;método de pastoreio através do qual e, em pequenos grupos, o pastoreio, acomunhão, a confraternização e a solidariedade são desenvolvidos para amaturidade cristã dos membros da igreja; e uma estratégia para o cumprimentoda missão, por meio da integração nos diversos dons e ministérios que visam ocumprimento da missão que a Igreja recebeu de Deus.31

Mesmo sem esgotar o assunto, cremos que o presente conteúdo sobre tal questão é

bastante esclarecedor, merecendo credibilidade, visto não se tratar de nenhuma ufania pessoal,

e sim fatos e exposições documentados que merecem toda credibilidade.

2.4 - O Metodismo, o discipulado e a mensagem da Cruz

Como temos destacado na presente pesquisa, a ênfase metodista quanto ao discipulado é

o processo de formar vidas, ensinando-lhes um novo estilo de vida com base no evangelho do

Reino. Portanto, formar um discípulo cristão, é formar alguém totalmente comprometido com

o Senhor Jesus, com a proclamação do Evangelho, com o próximo, e acima de tudo estar

comprometido com o amor incondicional. É olhar sempre para a Cruz de Cristo e caminhar

em sua direção.

Ao olharmos para a Cruz, passamos a crer em tudo o que Cristo disse e a fazer tudo

quilo que Ele nos deixou como mandamento. Ao olhar para a Cruz, o indivíduo que

verdadeiramente é impactado pelo amor de Deus pela humanidade, toma uma nova postura,

converge numa nova direção –na direção do autor e consumador de sua fé e esperança. Essa

descoberta é crucial para a nova caminhada e também para que possamos acatar o

chamamento de Cristo ao discipulado.

Ser justificado é descobrir-se beneficiário da justiça de Deus e essa descoberta,que vem romper o velho desconhecimento fatal da carne, realizou-se naressurreição de Jesus, certamente, mas como ponto de chegada de sua existência“entregue”. Jesus foi entregue por nossos pecados. Isso quer dizer primeiramenteque não pelos seus – a cláusula que esclarece que Jesus não conhece pecadopessoalmente, é habitual e necessária; assim Romanos 8,3: “Deus enviou seuFilho numa carne semelhante a do pecado” e 2ª Corintios 5,21 “Aquele que nãotinha conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós”. Nenhum desvio do desejode Jesus que merecesse que sua existência fosse “entregue” pelo julgamento de

31 Biblioteca Vida e Missão.Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre o G-12 .SP.Editora Cedro,2004.

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Deus. É “para nossos pecados”, a favor de nós pecadores e a fim de introduzir aobra de justificação que Jesus foi “entregue”.32

Somente tendo em mente um Deus próximo do ser humano, que sente as dores do

homem, e liberalmente as toma para si na perspectiva de salvá-lo e reintegrá-lo a si é que se

consegue atingir a essência do querer de Deus pela humanidade e assim sendo, despojar-se de

si mesmo para estar indo de encontro à vocação para a qual os discípulos são chamados.

Quando buscamos o termo discípulo, vemos que ele aparece no Novo Testamento mais

de 250 vezes. No entanto, atualmente damos preferência a termos como: Convertido –alguém

que mudou de direção, houve transformação; Salvo – o que foi liberto da culpa e condenação

do pecado; Crente – aquele que crê; Cristão – seguidor de Cristo, igual a Cristo, e por fim

Evangélico –termo que não aparece na Bíblia, mas que se refere a alguém que tem “fé no

evangelho”. Entretanto, ainda que todos esses termos queiram fazer referência a mesma

pessoa, eram no entanto, praticamente ignorados no Novo Testamento, já que os seguidores

de Jesus eram conhecidos como discípulos; não somente os doze,33 ou os setenta34, mas todos

aqueles que reconheceram a Jesus como Senhor.35

2.5 - O Discipulado e a santificação

O discipulado cristão surge em conexão natural de nossa tarefa de fazer discípulos. Deus

quer que sejamos mais do que meros expectadores ou simples proclamadores do seu anúncio.

Ele nos deu a tarefa de ensinar e formar a vida da pessoa que se converte.

Temos que entender, então, que o ministério de fazer discípulos não vai somente até o

batismo, mas continua com a edificação do novo que se converteu. É uma relação de

compromisso para edificação e frutificação.

32 Varone, François “esse Deus que dizem amar o sofrimento.” Aparecida/SP, editora Santuário,8ªedição,2003,p.192-193.33 Cf. o evangelho de Lucas, 6.13. –Bíblia de Estudos Genebra34 Ibid, 10.1-23.35 Cf. os textos nos evangelhos de Mateus 27.57; João 9.27,28; e no livro de Atos dos Apóstolos 6.1 e 2. Bíbliade Estudos Genebra

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O discipulador é aquele que outrora foi discipulado e é alguém mais maduro que está

ajudando o outro, que é mais novo na fé. Isto não é apenas mais uma metodologia humana; é

a prática de Jesus; é o que sustenta, edifica e ajusta ao corpo alguém que se converte. É um

vínculo que passar a existir espontaneamente quando alguém ganha o outro e sente-se

responsável por ele, passando a cuidar, velar, ensinar, amparar, sofrer e levar suas cargas.

Na santificação, cumpre-se a vontade de Deus: “Vocês serão santos porque Eusou santo” e”eu sou santo, o Senhor que os santifica”. Este cumprimento érealizado por Deus, o Espírito Santo. Nele, completa-se a obra de Deus no serhumano. Ele é o “selo” com o qual os crentes serão selados como propriedadede Deus até o dia da redenção.36

Nesse processo é iniciada a santificação, parte indispensável na vida de qualquer cristão

e requisito indispensável para a continuação de sua vida em Cristo. No processo da redenção

iniciada no ato da resposta ao ato da justificação do pecador, ao chamado à comunhão com

Deus em Cristo Jesus, e que conseqüentemente desemboca na possibilidade de desfrutar a

plena salvação por meio da graça, passamos a viver um processo progressivo e continuo de

desenvolvimento cristão, que nos levam ao que John Wesley chama de “Perfeição Cristã”.

Não que perfeição cristã seja a ausência total de pecados, antes a santidade que leva o

ser humano a perfeição tem o significado de dedicação total, completa, de nossas vidas – a

alma, a mente, as forças e o coração, tudo a serviço do Senhor. É o oferecimento de todos os

sentimentos, palavras e ações como um sacrifício espiritual –como afirma Wesley37 ao

identificar finalmente, o significado do termo santificação. Ele definiu ainda, a perfeição

cristã de cinco maneiras diferentes38:

1-“Amar a Deus de todo o coração.”

2-“Ter um coração e vida completamente devotados a Deus.”

3-“Recuperar a imagem integral de Deus.”

4-“Ter toda a mente de Cristo.”

36 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.182.37 Ensley, Francis Gerald. João Wesley O Evangelista-Coleção Metodismo.S.P.:Imprensa Metodista,1992, p.34.38 Ibidem.

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5-“Andar uniformemente como Cristo andou.”

Ao expor tais definições percebemos que a necessidade de buscarmos em nossa

trajetória, a santificação de nossas vidas, para conseqüentemente alcançarmos um genuíno

discipulado, para isso Wesley deixa bem explicitado a universalidade do ser humano e sua

totalidade na relação com Deus.

A fé do individuo nos méritos de Cristo, lhe outorgará a perdão de seus pecados e irá

produzir uma certeza inabalável que será fator decisivo para sua confiança e reconciliação

com Deus; ao alcançar tal estágio, o evangelho tornar-se-á fonte de vínculos e atitudes sociais

que resultarão em boas obras, pois o homem salvo é aquele que tem como marca

inconfundível, o amor – que é o ideal e inspiração de todo cristão.

Por fim, para Wesley, a santidade e sinônimo de desejos e sentimentos santos39. Ou seja,

amamos as coisas que devemos amar – todas elas. A santidade inspira os homens e mulheres a

se deixarem instar pelo desejo de contribuir para a mudança das vidas em busca de uma nova

qualidade revestida de ação e essa, perpassa até mesmo os muros mais sombrios.

E como resultado final da busca de uma vida em santificação diária, progressiva e

constante, desponta o amor, o gozo e a verdadeira paz – a paz que só conhece aqueles que

andam trilhando os passos do Senhor Jesus.

A santidade, a perfeição cristã, a vida totalmente integrada com Cristo não podem ser

deixadas de lado e mesmo em face às dificuldades que venhamos enfrentar, devemos buscar

em Deus coragem, pedindo discernimento e estratégias que possam verdadeiramente nos

conduzir a uma prática discipuladora aos moldes de Jesus.

A cada dia somos desafiados a viver uma vida de fiel testemunho aos ensinamentos

contidos no Evangelho e isso não será possível se não tivermos sempre em mente que o maior

testemunho que irá fazer com que pessoas venham convergir em nossa direção, será a maneira

39 Wesley, John. Explicação clara da Perfeição Cristã .São Bernardo do Campo –SP, Imprensa Metodista. 1984.

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com a qual conduzimos nossas vidas e as vidas daqueles que são colocados sob nossa tutela,

confiados a nós por Deus, para que se tornem homens e mulheres discípulos e discipuladores.

Santidade não é um programa e sim um relacionamento com o Senhor. Asantidade vem pela graça de Deus e pela ação do Espírito Santo, mas éfundamental a nossa decisão e vontade pessoal: “Esforcem-se para viver em pazcom todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá oSenhor”(Hb12,14).40

A santidade nos livra do domínio do pecado e nos leva a uma vida de amor aopróximo e a Deus. A armadura é a proteção de Deus para seus filhos e filhas.Não é sem motivo que Paulo diz que os sóbrios devem se vestir da couraça da fée do amor (1Ts 5,8). 41

Esse ideal de John Wesley, se transformou no ideal metodista até os dias de hoje, onde

nossa constante preocupação não pode e nem deve se deixar conduzir para outros caminhos e

direções, para que não corramos o risco de embalados nos modismos que se multiplicam a

cada dia, deixemos de lado a nossa herança de fé, que é totalmente pautada na doutrina

bíblica.

Fazer discípulos é nossa ênfase e maior desafio ante os apelos que vemos dentro do

campo religioso. Cabe a nós, no entanto, buscarmos fazer discípulos sem que percamos o

ideal de Cristo, tão bem explicitado a nós por Wesley.

40 Chaves, Odilon Massolar & Massolar, Eleide Guimarães de Castro. Terapia de Deus – um tratamentoamoroso e paciente. Niterói – Rio de Janeiro,2007,1ªedição, p.11.41 Ibid,p.12

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CAPÍTULO III

DESAFIOS AOS METODISTAS, PARA UM DISCIPULADOCRISTOCÊNTRICO

3 – O desafio pastoral contemporâneo, frente à modernidade

Hoje, reformula-se a pergunta pelo destino do ser humano e do “ser gente” de maneira

ao mesmo tempo simples e dramática, confrontando as possibilidades do homem que marcha

entre desigualdades sociais, políticas, econômicas, raciais, culturais dentre outras e é aí que

num dado instante a Cruz se junta a esses anseios, sendo transformada em símbolo de

esperança e resistência, em busca da libertação das opressões, e nesse momento a religião

passa a fazer parte do contexto do mundo.

A libertação com todos os seus derivados é um resultado. É a tematização, é atentativa de expressar ao nível da ação, da linguagem, da criação de novosmarcos referenciais e de uma nova consciência algo que é maior do que oexpresso e feito. [...] É o limite de nossas possibilidades de falar, de agir, delutar, de denunciar, de viver e de morrer.42

42 Boff, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. São Paulo, Circulo do Livro S.A.,1980.p.82-83.

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Não só perpassa o mundo dos pobres, antes, é também um anseio geral, visto que o

homem caminha nesses tempos em busca de uma religiosidade que satisfaça suas expectativas

frustradas o que faz com que aprendamos a lidar com as mais diversificadas práticas

religiosas e pastorais.Com isso revela-se não só a importância das práticas pastorais, como

também a dificuldade que encontramos, em face da variedade de posturas diante do ser

moderno. Temos que estar cientes de que por muitas vezes, sofreremos perseguições por amor

ao Evangelho de Cristo, ao denunciarmos as injustiças, ao nos colocarmos contra os poderes

dominadores deste mundo.

Seguir Jesus Cristo é viver suas opções que foram a favor do pobre, da ovelhatresmalhada, do filho pródigo, dos marginalizados – social e religiosamente. Oreligioso que se propõe como projeto fundamental de vida estar na seqüela Jesudeverá buscar identificação com os mais fracos, pois com eles se identificoutambém o Filho do Homem. Seguir a Cristo é inserir dentro desta caminhada,como normal e conseqüente, a possibilidade real da perseguição, da calúnia, daprisão e, quem sabe, também da própria morte em favor dos homens. A vidareligiosa que se compromete desta forma concreta com Jesus Cristo implica emsua opção fundamental o sacrifício e o martírio, que hoje na América Latinapode assumir as mais variadas formas.43

Isso nos revela que necessitamos ir além da modernidade entrando num estágio mais

avançado onde o discipulado seja incisivo e potencialmente libertador; que esteja mais

presente em nossa realidade, para que assim, possam ressurgir práticas de defesa das causas

dos menos favorecidos, onde os esforços são feitos na busca de uma melhor compreensão do

mundo atual.

Nossa realidade mostra que as transformações apenas mudaram as formas de

dominação, dando-lhe um novo rosto. Agora não se trata apenas de constatar os índices de

pobreza e miséria, antes de diagnosticar os novos mecanismos que geram a pobreza, a

desigualdade e a miséria.

43 Boff, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. São Paulo, Circulo do Livro S.A.,1980.p.203.

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No momento atual a dominação adquire o rosto da exclusão das classes mais pobres,

onde a figura do êxodo caracteriza-se pelo vagar sem rumo tentando encontrar a direção para

um destino melhor, que infelizmente não tem sido encontrado, surgindo então alternativas que

às vezes se nos apresentam em forma de um messianismo fanático.

Já o cativeiro, apresenta-nos a saudade, a ausência, e faz com que se sobreviva com a

esperança de dias melhores; trava-se então uma luta, onde a violência é apresentada das mais

variadas formas.

3.1 - O Metodismo e a compreensão de Reino de Deus

No nível da práxis pastoral, o fenômeno da modernidade se relaciona dentro de uma

ambigüidade dentro da Igreja e também fora dela. Essa ambigüidade consiste nas inúmeras

possibilidades que se abriram para a humanidade e o fato de poucos terem a chance de

desfrutar de tais possibilidades. A tão sonhada igualdade confronta-se a exclusão maciça das

classes menos favorecidas, ou seja, a sociedade atual passa em meio a uma crise existencial

que necessita de um posicionamento imediato em contraposição às questões de tem sido

esquecidas ou ignoradas, e é nesse momento que a igreja deveria tomar seu lugar,

transformando-se agente de libertação. A igreja deve assumir seu papel com sua pastoral

libertadora e profética.

Existem propostas para uma mudança revolucionária na América Latina –em especial

para o Brasil, visando uma libertação além da modernidade, que combina o sentido da

comunidade com os avanços tecnológicos, que enfrentaria as forças desintegradoras da

própria modernidade quanto à fascinação pelas promessas da mesma.

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Surge então um desafio aos cristãos: um discipulado que confronte os valores e force a

trazer à luz, uma nova leitura da já realizada, permeando o Reino de Deus a esse momento

novo, dando-lhe consistência e fundamentos bastante sólidos.

A solidariedade com o pobre por causa do Evangelho leva o religioso a rompercom um tipo de vida e de relações próprias dos setores privilegiados dasociedade. Sua presença no mundo se torna um sinal crítico e profético. O pobrecom o qual se solidariza não é simplesmente pobre; é um empobrecido, aquele aquem lhe foram tirados os meios para ser um membro da sociedade e dela foiposto à margem. Um amor inteligente ao pobre obriga a compreender a fundo aestrutura social que gera a pobreza, como subproduto da riqueza das minoriasopulentas. Daí a necessidade de o religioso ser crítico e não ingênuo e de estarsempre atento às manipulações que o status pode continuamente fazer nainstrumentalização da vida religiosa para um assistencialismo que acalma aconsciência e cria a ilusão de estar servindo realmente ao mundo dos pobres. Apresença crítica do religioso implica por um lado denúncia de uma situação quecontradiz ao plano de Deus e à mensagem evangélica e por outro anúncio de realfraternidade e de repartição dos bens e dos encargos e pesos a serem carregadospor todos.44

A modernidade muitas vezes torna-se asfixiante, já que leva muitos a uma resignação

mórbida, que reduz todas as expectativas associadas a uma suposta democracia e cidadania,

que paradoxalmente cria os potencialmente realizados e os fracassados e frustrados.

A fé confronta-se com a modernidade a partir das possibilidades que a própria

modernidade requer. As experiências de fé são muitas vezes freadas em seus primeiros

estágios, pois como afirma James Fowler em seu livro “Estágios da fé”, essa passa por vários

degraus que vão sedimentando-se à medida que gradativamente o ser humano desenvolve-se

em suas dinâmicas de fé.45

Os desafios se apresentam e representam novas possibilidades para as ações pastorais, e

estes devem ser vistos e observados por diferentes ângulos e também revelados em dimensões

que muitas vezes tornam-se esquecidas.

44 Boff, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. São Paulo, Circulo do Livro S.A.,1980.p.206-207.45 Fowler, James W. Estágios da fé. São Leopoldo-RS, editora Sinodal,1892,p.82.

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Os desafios no ministério pastoral exigem de cada um, que se sente chamado e

vocacionado, reflexões e clareza do chamado, já que a realidade encontrada no campo de

atuação é antagônico às aspirações acadêmicas.

Muitas vezes só pensamos nos louros que colheremos dentro do ministério, no entanto, a

vida pastoral é feita de choro, tristeza e espinhos, pois lidamos com seres humanos como nós

mesmos, cheios de dúvidas, defeitos e inquietações, onde as frustrações, muitas vezes podem

despedaçar àqueles que realmente não se deixarem forjar pelas mãos do senhorio de Cristo

Jesus.

Somos chamados a servir e cuidar da criação como seus servos; chamados a amar como

o Senhor ama a toda a humanidade; chamados a amar incondicionalmente tanto aos que nos

aceitam, quanto aos que nos repudiam. Sendo essa a opção que se nos foi dada ao aceitarmos

ingressar nas fileiras do ministério pastoral.

Em nossa caminhada devemos estar cientes de nosso chamado e de nossa vocação,

sabedores que, ao respondermos “sim” ao chamado, nos tornamos prisioneiros de Cristo, nos

tornamos seus Servos e mordomos, tendo sempre em mente que as lágrimas de hoje, são o

regozijo do amanhã, certos da vitória que nos aguarda na glória com Cristo Jesus.

3.2 - O Discipulado e a expansão do Reino de Deus

Quando falamos de vocação pastoral e chamado ministerial, para a expansão do Reino

de Deus, na maioria das vezes, não nos damos conta e muito menos temos noção do trabalho

árduo que esperam a esses homens e mulheres que resolvem atender ao ide do Senhor Jesus e

isso faz com que entremos muitas vezes despreparados no ministério; o que resultará desta

forma, a um ministério fadado ao fracasso.

Page 51: Discipulado cristão   laecia-conceicao-nogueira

No decorrer da vida ministerial, acabamos por perceber que algumas frustrações se dão

justamente por esse despreparo, pois as pessoas não conseguem vislumbrar senão uma

carreira de sucesso e triunfo.

A partir das experiências do apóstolo Paulo, começamos a trazer para nossa realidade

todas as dificuldades por ele encontradas, e então podemos nos situar, contextualizando-o em

nossa realidade eclesial.

Veremos inúmeras dificuldades que surgem no decorrer da caminhada. Perceberemos

que o choque se dá de início, dentro da universidade, no momento acadêmico, pois somos

levados a confrontarmo-nos com nossas utopias, ideologias e valores de Reino, com a cruel

realidade que nos é apresentada e àquela que estará nos esperando ao sairmos para o campo

de ação.

Mas tudo isso, deverá servir de estímulo e não de desânimo, pois cremos que Deus

continuará sempre sendo o Senhor da Igreja, e será Seu Santo Espírito que estará conduzindo

àqueles e àquelas que se dispuserem a fazer a vontade do Pai, em Cristo Jesus, Ele norteará

nosso caminho, à medida com que nos sujeitarmos ao senhorio de Jesus, e com isso,

continuaremos a travar o bom combate, assim como já dizia o apóstolo Paulo.

3.3 – Formação do Discípulo - A diferença entre Discípulo e Prosélito

"Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”1Co 11:1 -A grandeênfase no discipulado cristão é ser um imitador de Jesus Cristo, ser um discípuloou discípula que reproduz exatamente o ensino de Jesus em nosso modo de falar,andar, relacionar e expressar a fé.46

A grande ênfase da Igreja Metodista no que diz respeito ao discipulado cristão é ser

verdadeiramente um imitador de Jesus Cristo, ser um discípulo ou discípula que reproduz

exatamente o ensino de Jesus em nosso modo de falar, andar, relacionar e expressar a fé.

46 Bispo Roberto Alves de Souza, da 4ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista

Page 52: Discipulado cristão   laecia-conceicao-nogueira

Entretanto, é relevante refletir sobre o que é ser um imitador. Essa é uma palavra que

tem sua raiz do latim “imitare” e pode ser traduzida por “reproduzir exatamente o que outrem

faz”, “tomar como modelo”, “reproduzir”, “copiar”, “seguir o exemplo de”, “arremedar” e

“falsificar”.

Com isso, observamos que imitar é uma palavra com inúmeros significados e estes

podem ser aplicados em diferentes argumentações. Ao falarmos de proselitismo e

discipulado, necessitamos ter em mente que os novos convertidos –os neófitos, tem a

necessidade de ver a Jesus como sua referência, para que com isso venham a buscar imitá-lo

em todas as suas ações, tendo-o verdadeiramente como alusão do que é entender que isto

significa vir a ser um verdadeiro cristão.

Como afirmou o Bispo da 4ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista Roberto Alves de

Souza:

Antes, porém, destacamos que há uma prática de discipulado no meio cristão que

distorce o verdadeiro ensino de Jesus Cristo, pois é uma imitação que falsifica,

adultera, que dá aparência enganosa a ações que não correspondem com a

realidade do discipulado como um estilo de vida, como um modo de vivenciar os

ensinos de Jesus Cristo.No discipulado temos um modelo a ser seguido, não

estamos perdidos sem referência. Quando os ensinos de Jesus Cristo são vistos

em nós, através das nossas atitudes, do nosso modo de falar, de agir, podemos

afirmar como o apóstolo Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de

Cristo” (1 Coríntios 11:1).47

A vida de Jesus, será sempre um referencial para todos aqueles que fielmente desejam

ser discípulos e discipuladores, pois seu ministério consistia em ensinar, educar, orientar e

formar o caráter de todos aqueles que se colocavam em sua presença. Ele sempre tinha uma

47 Artigo publicado em Julho/2007, sobre Discipulado Cristão no site:www.metodista.org.com; acessado em16/10/2007

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palavra de vida, que despertava o compromisso para com as verdades do Reino de Deus; e

não somente a seus discípulos, mas a toda multidão que se apresentava diante Dele.

Até mesmo quando chegavam até ele com situações muitas vezes complicadas, Ele, em

sua simplicidade e sabedoria, conseguia fazer com que seus ouvintes aprendessem a tirar

lições de crescimento para suas vidas e encontrarem soluções para seus aparentes problemas.

Como discípulos(as) e discipuladores, devemos sempre buscar reproduzir os desafios

deixados por nosso mestre. Para que possamos imitá-lo, necessitamos seguir seus passos em

obediência. Segundo o texto do bispo Roberto Alves de Souza, quando cita Bonhoeffer48,

nos mostra que este faz a analise quanto a obediência dentro do chamado de Jesus aos seus

discípulos, afirmando que muitas vezes o que falta em nós para seguir esse chamado de Jesus

“não é falta de fé, mas falta de obediência”.

Ser obedientes a Cristo em nossos dias têm sido realmente um desafio, não só para as

ovelhas mas também para os pastores e pastoras, já que esses tempos de pós modernidade nos

confrontam com anseios antagônicos aos valores do Reino de Deus, dificultando assim, o

anúncio genuíno das Boas do Evangelho de Cristo, e é nesse momento que começam a surgir

as heresias dentro de nossas igrejas, as distorções do Evangelho e os maus testemunhos que

causam escândalo ao nome do Senhor Jesus.

Aprender a buscar Seu caráter, é outro imperativo na vida daquele(a) que deseja ser

discípulo de Jesus, e isso se desenvolve gradativamente, no dia a dia do discipulado. Ao

seguir os passos de Cristo, aprendemos a andar como Ele andou e como seus discípulos

andavam. Ser discípulo é querer ter atitudes ousadas, intrépidas, e não há espaços para meio-

termos; ou você é ou não é; ou você o segue ou não.

48 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.53.

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Infelizmente, em nossos dias está acontecendo um grande equívoco que vem pouco a

pouco sufocando o verdadeiro discipulado: o chamado proselitismo religioso49.

Necessitamos estar sabendo fazer a diferenciação entre aqueles que apenas aderem ao

Cristianismo – que tornam-se adeptos, por motivos os mais variados, e aqueles que realmente

achegam-se à Cristo ansiando conhecê-lo e desfrutar de Sua intimidade.

Se hoje formos olhar para nossa realidade, com um olhar franco, crítico e não

paternalista, iremos perceber que a grande maioria das pessoas que fazem parte de nossas

igrejas, estão totalmente desprovidas de qualquer comprometimento com a Missão. Sequer

sabem o significado do “ser um cristão”. Usam termos cristãos, se vestem como cristãos, mas

na verdade, ainda não vivenciaram a experiência da transformação de se deixar conduzir pelo

Espírito Santo de Deus; estão dentro das igrejas como poderiam estar dentro de qualquer

outro “movimento” que lhes dessem prazer e a possibilidade de terem alcançados seus

objetivos imediatos.

Portanto, ao fazermos uma análise franca de nossa realidade eclesial, devemos ter como

pergunta o que realmente queremos em nossas igrejas: se simples adeptos ao “movimento”

tido como evangélico – os prosélitos , ou homens e mulheres que desejam tornar-se íntimos

de Cristo Jesus, tornando-se seus discípulos.

Essa não é uma empreitada fácil, ao contrário, é muito trabalhosa, pois irá requerer do

pastor(a), dedicação e ânimo sempre constantes, visto que a tarefa de formar discípulos,

querer um amor que somente quando gerado no coração de Deus, consegue ser algo

continuado.

O discipulado querer mudança de direção, mudança de mente, mudança de caráter,

mudanças de atitudes. Aquele que quer ser discípulo sabe que irá deixar para trás, não suas

49 O proselitismo, do grego prosélitos (= aderente), consiste em conquistar aderentes de uma doutrina feita e nãoem um trabalho de puro desenvolvimento dos conhecimentos sobre a religião. Extraído em 20/11/2007,do sitewww.simpozio.ufsc.br/Port/1-enc/y-mega/mega-filosgeral/filosofia-religiao/7270y003.html

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experiências de vida, mas tudo aquilo que for danoso e não estiver em conformidade coma

vida de um verdadeiro servo do Reino de Deus cujo desígnio está em espalhar as Boas Novas

do Reino de Deus, testemunhando não com palavras, mas com sua própria vida.

Restaurar o caráter de Deus em nós –foi essa a maior missão de Jesus em seu ministério

e hoje, compete aos pastores e pastoras, leigos e leigas, lideranças das igrejas locais, distritais,

regionais e nacional, dar continuidade a essa tarefa, assim como foi na Igreja Primitiva.

Há urgente necessidade de tal resgate, precisamos formar lideranças que venham a ter

essa visão de Reino, para que a plenitude dos tempos se instaure na humanidade.

3.4 - A vocação do Discípulo, a vocação da Igreja e o compromisso pastoral

Infelizmente, vivemos numa época onde o misticismo e o mercadejamento da fé tem se

propagado de modo desordenado, desviando assim a atenção do que é o anúncio do Reino

pregado por Cristo, substituindo-o por sessões de curas, auto-ajuda, prosperidade material,

prometendo o fim dos problemas afetivos, financeiros, paz, soluções mágicas, sucesso e fama

–tudo o que o ser humano contemporâneo é incitado a buscar pelos veículos de ditam os

comportamentos da sociedade atual.

Sendo assim, o trabalho da Igreja de Cristo se torna cada dia mais difícil, pois se deve

levar a sério a pregação do Evangelho. No entanto, no afã de encher seus templos, muitos

líderes inescrupulosos acabam por falsear o evangelho, distorcendo totalmente a mensagem

de Jesus e acabando por ganharem simples adeptos.

A Igreja é uma unidade organizada. O corpo de Cristo como Igreja implicaorganização e estruturação da Igreja; estas são inerente ao corpo. Um corpodesorganizado está em estado de decomposição. A forma do corpo vivo de Cristoé, de acordo com os ensinamentos do apóstolo Paulo,estruturada (Rm 12,5; 1Co12,2ss). É impossível distinguir conteúdo e forma, essência e fenômeno. Issoseria a negação do corpo de Cristo, do Cristo feito carne (1Jo 4,3). Assim, o

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corpo de Cristo, além do espaço da pregação, exige o espaço da estrutura daIgreja.50

Ainda existe o fato de vivermos numa época onde as pessoas não mais se prendem a

dogmas, requerem respostas a seus questionamentos e nem sempre os líderes tem a

disponibilidade de responder, e não é o simples fato de dar respostas e sim o de ensinar. Não

podemos esquecer que: discipular é ensinar.

Com tudo isso, em face de uma sociedade descomprometida com valores morais,

extremamente vazia, individualista e distante de Deus, a Igreja acaba perdendo sua voz e

começa a demonstrar uma imensa crise teológica – já que por muito tempo o que se fez foi a

mera reprodução de discursos prontos, cabíveis na idade média, ou nos séc.XIX e XX, sem

uma reflexão atualizada a cada geração, e isso resultou em um vazio espiritual onde já não se

tem argumentação plausível ante a toda indagação que se faz.

O que acontece então? O discipulado tem sido deixado de lado por boa parte das igrejas

dando lugar a um mercado que cresce cada vez mais, ou seja, a busca do lucro e da

rentabilidade que alguns já descobriram ser extremamente fácil – que é a oferta de soluções

para os problemas do povo. E assim, despontam pregadores que se adequam ao sistema que

impera no mundo, fazendo simplesmente o chamamento para promessas de prosperidade que

atraem multidões. É bem mais fácil, usar a mídia para esse intento, do que gastar tempo com

um discipulado sério que mostre para as pessoas a verdade contida no Evangelho, suas

exigências e comprometimento com Jesus Cristo.

A tarefa das igrejas e dos pastores e pastoras em particular dentro da Igreja Metodista,

está no desafio de ir contra tendências e modismos que distorceram de forma danosa à

autenticidade do Evangelho de Cristo e com isso acabam por dilapidar o discipulado. O que

50 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.161.

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vemos atualmente, são massificações doutrinárias ou pior ainda, imposições de costumes e

doutrinas anti-bíblicas e até mesmo hereges.

Existe em nossos dias, a necessidade urgente de resgatarmos a vocação do discípulo, a

vocação da Igreja, a vocação pastoral, e essa não estará completa, se como pano de fundo não

estiver em primeiro plano, a ardor pelas almas. O pulsar em nosso ser, por ganhar vidas para

Cristo e isso somente será possível, a medida que passarmos a sentir novamente a dor do

outro, e isso somente acontecerá, quando olhamos para o exemplo de Jesus e da Igreja

Primitiva, pois só assim conseguiremos vislumbrar o grande valor da unidade em Cristo a

partir do discipulado genuinamente cristocêntrico.

Isso está testemunhado no primeiro relato sobre a Igreja de Atos dos Apóstolos(2,42ss; 4,32ss): “Perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, nopartir do pão e nas orações.” “Todos os que creram estavam juntos, e tinhamtudo em comum.” É instrutivo observar que aí a comunhão (koinonia) ficoucolocada entre a Palavra e a Ceia. Esta definição de sua natureza não é casual:ela deve ter seu ponto de partida na Palavra, seu alvo e realização na Santa Ceia.Toda comunhão cristã se move entre a Palavra e sacramento, têm sua origem eseu fim no culto. Ela aguarda a última Ceia na companhia do Senhor, no reino deDeus. A comunhão que tem tal origem e tal destino é comunhão plena,comunhão a qual devem subordinar-se também as coisas e bens dessa vida. Emliberdade, alegria e no poder de Espírito Santo estabeleceu-se aí uma comunhãona qual ninguém passava necessidade, na qual se distribuía “à medida quealguém tinha necessidade” , na qual “ninguém considerava exclusivamente suanenhuma das coisas que possuía”. Na natureza cotidiana desses acontecimentos,revela-se plena liberdade evangélica que não necessita de pressão, pois “damultidão dos que creram era um o coração e a alma”.51

Em seu ministério, Jesus foi o modelo da integralidade que a Igreja deve ser. Ele se fez

presente em todas as áreas da vida do ser humano. Como já vimos no primeiro capítulo, Ele

não dicotomizava o ser humano, antes, tratava da cura em sua totalidade.

Portanto, cabe a nós, seus seguidores, sua Igreja, buscar viver essa integralidade em

nosso ministério. Assim, ao fazermos discípulos e discípulas, deveremos estar bem atentos

para ensiná-los e também a admoestá-los quando alguma área da vida do ser humano for posta

de lado. Não há espaço para parcialidade. A palavra de ordenança do grande mestre Jesus

51 Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.153.

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deixa bem claro que, àqueles que o seguissem verdadeiramente, os seguiam também sinais da

manifestação do poder de Deus52, onde cegos enxergariam, coxos e paralíticos andariam e

mortos ressuscitariam. Quantos mortos, coxos, paralíticos, cegos surdos mudos e aleijados

espirituais temos visto em nossas comunidades de fé. Esse é o começo da Missão; as curas

físicas, serão conseqüência da revitalização espiritual que somente acontecerá, se

verdadeiramente nos dispusermos para tal.

No mais, temos vivido uma grande problemática no que concerne tanto à educação

cristã, quanto ao discipulado, e nós enquanto igreja, como um todo, muitas vezes não temos

nos dado conta do grande desafio que é o ato de discipular, para assim podermos enfrentar e

resolver uma questão de vital importância para que se mantenha a autenticidade da mesma.

Urge repensar formas de resgatar o papel da Igreja dentro da sociedade, fazendo com

que a voz de Deus que ecoa dentro de corações verdadeiramente envolvidos com o ardor da

missão para o qual foram comissionados seja bem clara e audível, e assim comecem a buscar

maneiras de suscitar um movimento de real intencionalidade quanto o caráter primordial que a

Igreja deve desempenhar dentro da sociedade, pois se temos a certeza, a firme convicção de

que somos luz do mundo não podemos deixar que nosso óleo se acabe e nossa luz deixe de

brilhar apontando o caminho para almas aflitas e corações amargurados. Conscientizar líderes

em sua formação, despertar o espírito crítico e o desejo por fazer a vontade de Deus, são

alguns passos que reconduzirão a um genuíno discipulado cristocêntrico.

3.5 - A ação libertadora da Igreja de Jesus Cristo

A igreja é o meio pelo qual o Senhor mostra Seu caráter ao mundo. Vivemos e

trabalhamos no Corpo vivo de Cristo, uma comunidade nascida do Evangelho que, por sua

52 Cf. Evangelho de Marcos cap.16,14-18ss. – Bíblia de Estudos Genebra.

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natureza é chamada para demonstrar o amor, a graça e a santidade que marcam o Evangelho

de Jesus. Esta virtude divina é essencial à vida da igreja, e é aí que encontramos o seu grande

problema. O que é essencial à igreja é o caráter de Deus e o Evangelho de Cristo, e isso, não é

natural nos seres humanos decaídos, por essa razão, necessitamos do auxilio divino para

realizar tal intento com êxito.

A Igreja mantém o Evangelho ao se agarrar a Bíblia como a palavra viva deDeus que atinge sua finalidade em Jesus Cristo. A Igreja preserva e proclama oevangelho através de seus credos , orações, sermões, hinos e obras. Os recém-nascidos começam na nudez espiritual. Precisam de babás que os vistam com asvestes do cristianismo. Assim, o evangelho precisa de uma organização quesobreviva às gerações de fiéis. Os cristãos vêm e vão, mas a comunidade dosremidos continua através dos séculos. Portanto, se o Evangelho é a mensagem deDeus, a Igreja, apesar de suas imperfeições, é o meio utilizado por Deus paramanter vivo este Evangelho.53

Nesse momento a Igreja teve buscar meios de inserir-se a realidade, necessitando

encontrar pontos de apoio para seu sentido real, sob o risco de não encontrar ao Deus que se

revela no real, caso não reformule sua leitura inserindo-a ao contexto atual.

A ação da Igreja deve se voltar não só para a edificação interna da comunidade de fé,

quanto para a missão que ela tem para com o mundo. Devemos sair do antropocentrismo

machista que está associado à modernidade e passarmos para o biocentrismo associado ao

pos moderno i.é, começar a vislumbrar a vida em sua totalidade, já que a própria

sobrevivência do homem, depende dessa forma de visão. As ênfases devem ser dadas às

abordagens sistêmicas deixando de tratar dos fatos isoladamente. Devido a pluralidade,

teremos que estar modificando a atual estrutura erigida em torno apenas da figura pastoral,

descentralizando-a e conectando os vários segmentos, transformando-s em partes de um todo,

para com isso, diminuir a tensão e permitir as expressões de fé multifacetada. Buscar manter

sintonia com as comunidades existentes. Criar novas possibilidades de correlação entre

ciência e teologia, espiritualidade e vida.

53 Stokes, Mack B. As crenças fundamentais dos Metodistas. Coleção Metodismo, S.P.- Imprensa Metodista, 2ªedição,1992, p.113.

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Na práxis, é importante incorporar novos elementos para que possa haver a

sobrevivência não só dos sonhos e esperanças humanas, mas, manter vivos também seus

sonhos e esperanças. O grande desafio da pastoral, passa a ser a mediação entre as utopias e

os fragmentos de mundos a serem construídos. Ser agente de transformação, mudar a

realidade que foi condicionada pela modernidade. Inverter a ação devastadora que acompanha

a modernidade, que exclui mais do que inclui. A releitura dar-se-á, partindo do pressuposto

que não podemos agir com rigidez e inflexibilidade, ampliando a visão da Igreja para que

coerentemente possa existir coerência entre teoria e prática e em meio a um turbilhão

aglutinado de idéias imersas em uma realidade plural, antagônica e confusa, a prática pastoral

possa se efetuar de maneira incisiva e visionária.

Readequar a Igreja, aos anseios da humanidade, sem perder, no entanto, sua base sólida,

sempre fiel ao papel que a Igreja deve desempenhar no mundo ao qual foi ordenada por Deus,

em Cristo Jesus.

O grande desafio da Igreja Metodista, está em desenvolver um discipulado que vise o

estilo de vida que tenha como principio, base e referência, o estilo de vida de Jesus. Sermos

imitadores de Cristo é estarmos reproduzindo exatamente o que Jesus ensinou a seus.

A função da Igreja, requer uma Missão total de redenção do ser humano – tanto

espiritual, quanto físico, e isso irá requerer de cada um(a) pastor(a), envolvimento total,onde

não haverá espaços para se colocar na balança a valia de cada individuo, pois sabemos que

para Deus, todos são de igual importância embora o tratamento dispensado a cada um deva

ser individual e exclusivo, para que assim possa atender às necessidades pessoais de cada ser

humano, tão precioso para Deus.

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CONCLUSÃO

Como deixamos bem claro em nossa introdução, nosso objetivo maior é dar uma

contribuição que seja útil na elaboração de planos e estratégias para um discipulado realmente

eficaz, já que vivemos tempos onde surgem a cada dia, modismos e fenômenos religiosos que,

no entanto, nada tem a ver com o verdadeiro ensinamento de nosso Senhor e Salvador Jesus

Cristo.

E nós, enquanto Igreja Metodista em especial –que temos uma meta a ser alcançada de 1

milhão de discípulos, sim, pois verdadeiramente cremos que a visão episcopal, não surgiu do

coração do homem, e sim, do coração de Deus, devemos estar nos conscientizando de nosso

papel, nossa função e os compromissos que assumimos diante dos homens e diante de Deus

com os votos que um dia fizemos, sejam clérigos ou leigos.

Os tempos são realmente difíceis, mas sabemos que não estamos sozinhos nessa

empreitada. Em todo tempo podemos contar com o auxílio, a presença e as doces consolações

do Espírito Santo de Deus entre nós, basta que nos deixemos conduzir por seus caminhos,

deixando de lado os nossos pensares pessoais e nos colocando verdadeiramente na função de

servos, pois foi para isso que fomos recrutados no grande exército do Senhor.

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Sem sombra de dúvida, a questão do discipulado irá diferenciar o tipo de pessoas que

estarão fazendo parte de nossas comunidades de fé. Precisamos de homens, mulheres,

anciões, jovens, adolescentes e crianças que realmente estejam comprometidos com a grande

obra que o Senhor Jesus nos confiou.

No entanto, cabe aos pastores e pastoras, dar o pontapé inicial para a formação sólida de

um discipulado que parta de pressupostos genuinamente cristocêntricos. Não necessitamos de

mais nada, de nenhum outro tipo de referencial. Se nos voltarmos exclusivamente para os

ensinamentos deixados por Jesus, sua pedagogia, sua didática, alcançaremos êxito na difícil

tarefa de alcançar vidas, e não somente alcançar vidas, antes transformar cada uma dessas

vidas em discípulos e discípulas de nosso Senhor Jesus.

Chega de incharmos nossas igrejas com prosélitos, com simples adeptos da

religiosidade. O momento é de fazermos a diferença e isso só se dará a medida em que

buscarmos ter em nossas igrejas, pessoas dispostas a olhar somente para a cruz de Cristo e,

cada uma, carregar sua própria cruz, em direção a coroa de glória.

Urge repensarmos nossos objetivos, o que realmente queremos para nossas igrejas, se

um aumento exclusivamente numérico e monetário, ou verdadeiramente um aumento

exponencial qualitativo que se manifestará com o acréscimo numérico.

Não basta que alguns sonhem e desejem tal meta, é mister que todos se unam num só

coração e numa só determinação, contagiando seus rebanhos, pois cabe ao pastor e a pastora

serem os alavancadores de seus rebanhos; as ovelhas vão para onde são conduzidas.

Essa é a tarefa que nos vêm como um desafio, e se buscarmos força em Deus, não

ficaremos em apenas 1 milhão de discípulos, cresceremos muito mais e seremos exemplo não

só na 1ª região, mas poderemos estar amparando e servindo de modelo em todo o Brasil e, nos

atrevemos a ir mais profundo: ganharemos o mundo. Se Wesley em seu tempo conseguiu

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mudar a curso de toda uma nação, é para que pensemos que também nós, ao mantermos acesa

a chama do avivamento em nossos corações, nos deixando guiar pela mão forte do Senhor,

igualmente conseguiremos mudar a situação caótica que se instalou não somente em nosso

Estado do Rio de Janeiro, e assim como Wesley, marcaremos nosso tempo e a história do

povo que se chama pelo nome de Brasil.

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