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14 Peregrinação: do caminho exterior ao caminho interior “Caminhar nos passos de Santo Inácio é viver a beleza de experimentar o amor de Deus”, esse é o sentimento da advogada Regina Carvalho, 54, que participou da Peregrinação Nos Cami- nhos de Santo Inácio. A experiência, promovida pelo CCB (Centro Cultu- ral de Brasília), foi realizada entre os dias 6 e 22 de setembro e percorreu os lugares por onde Inácio de Loyola peregrinou no seguimento de Jesus. “A ideia era seguir os passos do peregri- no Inácio, que, por amor ao Senhor, se pôs a caminho”, acrescentou o padre J. Ramón F. de la Cigoña, que também fez a peregrinação. Na Espanha, o grupo de 37 pesso- as, vindas de diversas partes do Bra- sil, passou por Barcelona, Mosteiro de Montserrat, Gruta de Manresa, Pam- plona, Loyola, Madri e Toledo, locais ESPECIAL fundamentais no processo de conver- são de Santo Inácio. Em Israel, visita- ram Tel Aviv, Cesareia Marítima, Haifa, Nazaré, Qumran, Jericó, Belém e Jeru- salém, lugares significativos para to- dos os cristãos. Os peregrinos também foram a Istambul, na Turquia, e Roma, na Itália. “Visitar os lugares em que Je- sus e Inácio viveram nos possibilitou a experiência de momentos de muita consolação, animando-nos para fazer o bem e seguir em frente na caminhada a Jerusalém celeste”, ressalta Regina. Cada local visitado, cada oração e cada partilha proporcionaram mo- mentos de reflexão e discernimento. “A vida é uma peregrinação. Quisemos fazer este caminho espiritual em gru- po, tendo, todos os dias, um momento de oração, partilha e exame, utilizando como referência a vida de Inácio e os lugares geográficos que o viram pas- sar, sempre cheio de Deus”, diz o padre Ramón. Para o jesuíta, a peregrina- ção fortaleceu a fé dos participantes. “Voltamos mais felizes com a nossa fé e comprometidos com o modo inacia- no de ser e proceder. Todos acharam ótima a experiência e sugeriram sua realização a cada dois anos, para pos- sibilitar que outras pessoas possam fazer o percurso”, completa. Para muitas pessoas, Nos Cami- nhos de Santo Inácio foi a primeira peregrinação de suas vidas, esse não foi o caso da Regina. Em 2010 e 2013, a advogada participou da experiência com freis Franciscanos de Brasília. Ela conta que todas foram especiais, mas que sempre teve o desejo de fazer a peregrinação com um viés inaciano. “Como pertenço a CVX São José (Co- DISCÍPULOS (AS) DE CRISTO, ALIMENTADOS (AS) PELA ESPIRITUALIDADE INACIANA

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Peregrinação: do caminho exterior ao caminho interior

“Caminhar nos passos de Santo Inácio é viver a beleza de experimentar o amor de Deus”, esse é o sentimento da advogada Regina Carvalho, 54, que participou da Peregrinação Nos Cami-nhos de Santo Inácio. A experiência, promovida pelo CCB (Centro Cultu-ral de Brasília), foi realizada entre os dias 6 e 22 de setembro e percorreu os lugares por onde Inácio de Loyola peregrinou no seguimento de Jesus. “A ideia era seguir os passos do peregri-no Inácio, que, por amor ao Senhor, se pôs a caminho”, acrescentou o padre J. Ramón F. de la Cigoña, que também fez a peregrinação.

Na Espanha, o grupo de 37 pesso-as, vindas de diversas partes do Bra-sil, passou por Barcelona, Mosteiro de Montserrat, Gruta de Manresa, Pam-plona, Loyola, Madri e Toledo, locais

especial

fundamentais no processo de conver-são de Santo Inácio. Em Israel, visita-ram Tel Aviv, Cesareia Marítima, Haifa, Nazaré, Qumran, Jericó, Belém e Jeru-salém, lugares significativos para to-dos os cristãos. Os peregrinos também foram a Istambul, na Turquia, e Roma, na Itália. “Visitar os lugares em que Je-sus e Inácio viveram nos possibilitou a experiência de momentos de muita consolação, animando-nos para fazer o bem e seguir em frente na caminhada a Jerusalém celeste”, ressalta Regina.

Cada local visitado, cada oração e cada partilha proporcionaram mo-mentos de reflexão e discernimento. “A vida é uma peregrinação. Quisemos fazer este caminho espiritual em gru-po, tendo, todos os dias, um momento de oração, partilha e exame, utilizando como referência a vida de Inácio e os

lugares geográficos que o viram pas-sar, sempre cheio de Deus”, diz o padre Ramón. Para o jesuíta, a peregrina-ção fortaleceu a fé dos participantes. “Voltamos mais felizes com a nossa fé e comprometidos com o modo inacia-no de ser e proceder. Todos acharam ótima a experiência e sugeriram sua realização a cada dois anos, para pos-sibilitar que outras pessoas possam fazer o percurso”, completa.

Para muitas pessoas, Nos Cami-nhos de Santo Inácio foi a primeira peregrinação de suas vidas, esse não foi o caso da Regina. Em 2010 e 2013, a advogada participou da experiência com freis Franciscanos de Brasília. Ela conta que todas foram especiais, mas que sempre teve o desejo de fazer a peregrinação com um viés inaciano. “Como pertenço a CVX São José (Co-

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munidade de Vida Cristã), em Brasília, conversei com o padre Ramón, então diretor do CCB, e propus para que, na condição de diretor espiritual, aceitas-se a empreitada. Após a obtenção da aprovação, começamos o planejamen-to da viagem”, relembra.

Assim como Regina, milhões de pessoas ao redor do mundo vivenciam a espiritualidade inaciana através das comunidades ou dos grupos de leigos. Essa vivência possibilita a participação em experiências espirituais que têm como base a espiritualidade inaciana. “Minha participação nessa peregrina-ção é fruto da aproximação que tenho com a CVX, que se iniciou em 2007, por meio do CCB, onde frequento diaria-mente a missa e onde fiz os Exercícios Espirituais na Vida Cotidiana. Hoje, eu coordeno a CVX São José e sou colabo-radora do CCB”, conclui Regina.

Atualmente, há cinco comunida-des/grupos de leigos que vivenciam a espiritualidade inaciana. São eles: Congregação Mariana, CVX (Comuni-dade de Vida Cristã), AO (Apostolado da Oração), MEJ (Movimento Eucarís-tico Jovem) e ACVM (Associação de Comunidades de Vida Mariana). Esses grupos têm como fonte principal da espiritualidade os Exercícios Espiritu-ais, tanto no seu formato original de 30 dias, quanto em formatos mais breves, como uma série de fins de semana ou o retiro de oito dias.

Para o padre Paul Schweitzer, assistente regional da CVX/RJ, as diferenças desses grupos dependem do público que procuram atingir. “Os leigos jovens e/ou adultos são o públi-co da CVX e das Congregações Maria-nas. Já o Apostolado da Oração, que é um grupo muito maior (estima-se que há entre 40 a 50 milhões de associa-dos), assume o compromisso de ora-ção com a Igreja. O MEJ focaliza mais nos adolescentes e pré-adolescentes das paróquias. E a Associação de Co-munidades de Vida Mariana, que tem uma forte ligação com a CVX, orga-niza encontros e retiros para atingir pessoas de diversas faixas etárias da periferia do Rio de Janeiro”, explica padre Paul.

especial

cONgrEgaçõEs mariaNas

Desde a adolescência, o casal Jonas Leandro, servidor público, e Shirlei dos Santos, advogada, am-bos com 36 anos, são membros das Congregações Marianas. Nessa época, os dois já participavam de retiros inacianos. Porém, no ano de 2007, resolveram fazer um retiro de iniciação aos Exercícios Espiri-tuais. A experiência foi orientada pelo padre J. Ramón F. de la Cigoña, na Carpa (Casa de Retiros Padre Anchieta), no Rio de Janeiro. “Esse retiro se tornou um divisor de águas em nossas vidas. Apaixonamo-nos pela metodologia e pudemos expe-rimentar os frutos em nosso dia a dia. De lá para cá, estreitamos bas-tante nossos laços com os jesuítas que moram no Rio e temos buscado um aprofundamento dos Exercícios Espirituais na vida”, afirma Jonas.

A fonte de espiritualidade das Congregações Marianas é a ina-ciana. Esse é o elemento caracte-rístico de sua origem. A primeira Congregação Mariana teve início

em Roma (Itália), com o jesuíta João Leunis, em 1563. A iniciativa nasceu por meio de uma pequena comuni-dade de leigos que queriam viver a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola. Segundo Shirlei, a Congre-gação Mariana se sustenta sob três pilares: a busca da vida interior profunda pela prática da espiritu-alidade inaciana, a par ticipação na vida da igreja através da constân-cia sacramental e a consagração a Nossa senhora , modelo de fiel ser-viço a Deus e aos irmãos.

No século XVI, as Congregações Marianas se espalharam pelo mundo, dessa forma, os leigos que desejas-sem poderiam viver a vida cristã in-tensamente na linha dos Exercícios Espirituais, além de contar com o apoio de assessores jesuítas. Quando a Companhia de Jesus foi suprimida, em 1773, a instituição passou aos cui-dados dos bispos de cada diocese. “Depois da restauração da Ordem, em 1814, as Congregações Marianas voltaram a ter uma forte ligação com a Companhia de Jesus”, explica padre Paul Schweitzer.

atUaçãO NO pEríODO Da sUprEssãO

A Companhia de Jesus foi supri-mida em todo o mundo, à exceção da Rússia e Prússia, no dia 21 de Julho de 1773, por meio do Breve Dominus ac Redemptor, do papa Clemente XIV. Durante esse período, alguns traba-lhos dirigidos pela Ordem religiosa passaram à direção de administra-ções laicas ou diocesanas. Isso acon-teceu com as Congregações Maria-nas, que seguiram orientações do clero diocesano.

No artigo A espiritualidade jesu-íta durante a supressão (Anuário da Companhia de Jesus | 2014), o padre jesuíta Michael W. Maher explica que, apesar da supressão da Companhia de Jesus, as Congregações Marianas não foram suprimidas. A ausência da liderança jesuíta não provocou o de-saparecimento da instituição.

Para padre Michael, as Congre-gações Marianas ajudaram na disse-minação da espiritualidade inaciana durante esse período. “A continui-dade das Congregações Marianas, ou Sodalitas, proporcionou outra forma de manter a espiritualidade dos jesuítas durante os anos de su-pressão. Estatutos impressos da congregação, bem como livros so-bre espiritualidade, poderiam sim-plesmente ficar nas prateleiras sem utilidade, caso não fossem usados por pessoas interessadas em pro-mover e revigorar a vida dos Soda-litas”, afirma. O jesuíta acredita que “foi por intermédio dessas pessoas que a espiritualidade dos jesuítas, tal como ensinada e praticada pelas Congregações Marianas, atraves-sou o período da supressão.”

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especial

Em 1967, foi realizada a assembleia das Congre-gações Marianas de todo o mundo. Na ocasião, ficou decidida a mudança do nome das Congregações Marianas para Comunida-des de Vida Cristã − CVX. “A manutenção do nome

antigo não era obrigatória. Isso acarretou uma presen-ça dúbia no Brasil. Dessa forma, no início da década de 1990, as Congregações Marianas do Brasil torna-ram-se uma associação autônoma, erigidas pela CNBB (Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil). A associação manteve os traços que configuraram sua história e os elementos que construíram sua voca-ção ao longo de quatro sé-culos”, explica Jonas.

A Congregação Mariana é formada por leigos e reli-giosos e, apesar do grande número de jovens e adultos,

as crianças também podem participar da associação. “Temos os setores para as crianças que chamamos de Marianinhos. Há também o Departamento de Juventu-de, com o nome de JAM (Ju-ventude de Ação Mariana). No Rio de Janeiro, por exem-

plo, temos uma Congrega-ção Mariana que funciona na Escola Naval, bem como na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). É comum ter grupos em seminários. Há um número significativo de padres, diáconos e até bispos que pertencem aos quadros da Congregação”, esclarece Shirlei.

Casados há quatro anos, Jonas e Shirlei fizeram os Exercícios Espirituais de 30 dias, entre os meses de ju-nho e julho de 2014, na Casa de Retiros Vila Kostka, em Itaici (Indaiatuba/SP). O padre Emmanuel da Silva e Araújo foi o orientador

da experiência, que reuniu 24 religiosos e três leigos. “Foi uma experiência fas-cinante”, ressalta Shirlei. “Sabemos das dificuldades para se retirar por um perí-odo tão longo, sobretudo na condição de leigo, por isso, essa experiência ganha um sabor tão especial. Trata--se de colocar-se a caminho, dispondo o seu tempo, tão precioso tempo, para um itinerário com o Senhor”, completa Jonas.

cOmUNiDaDEs DE ViDa cristã

Em 1948, o papa Pio XII, na Constituição Apostólica Bis Saeculari, convidou as Congregações Marianas a voltarem para suas origens. O documento propunha que os Exercícios Espirituais fossem o coração de sua espirituali-dade. Segundo o padre Paul Schweitzer, assistente re-gional da CVX/RJ, essa ação impulsionou a realização das assembleias mundiais, que levaram à renovação e à mu-dança de nome das Congre-gações Marianas para Comu-nidades de Vida Cristã – CVX,

em 1967, a exceção do Brasil [leia mais em Congregações Marianas].

O intuito da renovação era focar na formação humana e espiritual dos membros e, além disso, fortalecer a importância da pequena Comunidade. O pa-dre Paul explica que “cada CVX é uma comunidade que possui entre seis e 12 pessoas. Esses grupos realizam reuniões co-munitárias semanalmente ou a cada 15 dias. Cada membro assume o compromisso de oração pessoal diária, partilha da fé e experiência cristã nas reuniões, além de participar dos sacramentos e da vida da Igreja. Eles também partici-pam de um retiro anual e do trabalho apostólico, discerni-do na oração”.

Segundo padre Paul, a ação apostólica das CVX tem diferentes linhas de atuação, desde trabalho de serviço aos pobres, apoio às comu-nidades católicas, que vivem em favelas, e catequese em paróquias, até a organização de retiros espirituais e a di-reção espiritual de outros lei-gos. “Cada comunidade deve discernir a sua missão comum dentro da Igreja”, explica.

a CongREgação maRIana é FoRmada PoR lEIgoS E RElIgIoSoS E, aPESaR do gRandE númERo dE JovEnS E adUlToS, aS CRIançaS TamBém PodEm PaRTICIPaR da aSSoCIação

Desde a adolescência, o casal Jonas Leandro e Shirlei são membros das Congregações Marianas

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Atualmente, segundo o site oficial da CVX (www.cvx.org.br), há comunidades espa-lhadas por cerca de 60 países, nos cinco continentes. Os gru-pos ao redor do mundo estão comprometidos a respeitar um modo de vida e a fazer a in-tegração da comunidade com a espiritualidade inaciana. A inspiração da CVX é Cristo e sua devoção a Nossa Senho-ra, o modelo para ação.

A estrutura administra-tiva da CVX é descentrali-zada e flexível, com base em um conjunto de Princípios Gerais que são a linha mes-tra da comunidade mundial, nacional e local. Para o mem-bro da CVX, uma parte da missão é a qualidade de sua presença em todas as áre-as da vida. “Muitos jesuítas assessoram comunidades CVX, mas com o crescimen-to das obras nem todos têm tempo para colaborar com as comunidades. Por isso, cada CVX tem um assessor, que pode ser jesuíta ou não. Na maioria dos casos, esse cargo é ocupado por um leigo, que possui uma expe-riência inaciana mais exten-sa”, ressalta padre Paul.

apOstOlaDO Da OraçãO

No dia 3 de dezembro de 1844, dia de São Francisco Xavier, o padre Francisco Xavier Gautrelet, diretor espiritual de uma casa de formação de estudantes je-suítas, em Vals-pres-le-Puy, região central da França, decidiu conversar com os jovens residentes. Segundo depoimentos, não foi bem uma conversa, mas sim um alerta. O jesuíta teria dito aos jovens: “Vocês estão mais motivados com a ideia de ir a longas e distantes missões na Índia do que em estudar Teologia!”.

Nesse mesmo dia, du-rante a homília da missa de São Francisco Xavier, sem ter previsto, padre Gautre-let acaba por entusiasmar os jovens a se dedicar aos estudos. Durante a cerimô-nia, ele descreveu que uma vida inteiramente consagra-da aos estudos pode alcan-çar uma eficiência apostóli-ca considerável. “Se cada um mergulhar seu trabalho com um espírito de oração e de oferta, se várias comunida-

des se orientam no mesmo sentido, isso trará uma con-vergência de forças capazes de levantar montanhas! Se-jam agora missionários por sua oração, pela oferta de sua vida cotidiana. Sua mis-são encontra-se aqui, em seus estudos e nas coisas simples de cada dia”, afir-mou padre Gautrelet.

Assim, padre Gautrelet propôs aos jovens que reali-zassem uma série de passos simples que os ajudariam a dar maior sentido aos que já viviam a serviço da missão de Cristo, ao mesmo tempo em que esse caminho iria aprofundando sua disponi-bilidade apostólica. “Esse trabalho de cada dia foi o primeiro apostolado mis-sionário, graças à sua oferta cotidiana. Essa maneira de olhar a oração pela missão, a propagação da fé pela ora-ção, rapidamente transfor-mou a comunidade, a missa

e a oferta sacramental de Cristo, tornando-se o centro do dia a dia daquelas pesso-as, como uma missa prolon-gada. Aquele momento deu origem ao que chamamos de Apostolado da Oração (AO)”, explica padre Otmar Jacob Schwengber, secretário na-cional do AO e coordenador nacional do MEJ (Movimen-

to Eucarístico Jovem).Após a homília do padre

Gautrelet, os estudantes je-suítas passaram a transmi-tir as comunidades vizinhas essa nova maneira de rezar a partir da vida. E, em pou-co tempo, a mensagem do padre Gautrelet espalhou--se pelo mundo. Em 1849, o Apostolado da Oração con-quistou o reconhecimento do papa Pio IX, e, em 1890, o papa Leão XIII passou a con-fiar suas intenções mensais de oração ao Apostolado. Em pouco tempo, o Aposto-lado da Oração se tornaria uma rede mundial de oração a serviço dos desafios da humanidade e da missão da Igreja, que são expressos nas intenções mensais de oração do sumo pontífice.

O padre Otmar Jacob explica que o trabalho do Apostolado da Oração tem como fundamento a inti-midade das pessoas com Jesus. “O papel do AO é ofe-recer algumas práticas de oração diária pela manhã, ao longo do dia e à noite, pela qual oferece ao Pai, unido ao Coração Eucarístico de Je-sus, com muita simplicidade, mas, também, com radica-

Em PoUCo TEmPo, o aPoSTolado da oRação SE ToRnaRIa Uma REdE mUndIal

dE oRação a SERvIço doS dESaFIoS da HUmanIdadE E da mISSão da IgREJa

Pe. Otmar Jacob com membros do Apostolado da Oração, em Brusque (SC)

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lidade, tudo o que somos e temos. O AO presta um culto especial à Eucaristia, fonte e cume de toda a vida apos-tólica.”

Atualmente, cerca de 40 a 50 milhões de pessoas ao redor do mundo são as-sociados ao Apostolado da Oração. Segundo padre Ot-mar, qualquer católico que deseje fortalecer a vivência de sua fé pode participar do AO. O superior geral da Com-panhia de Jesus é o diretor mundial do Apostolado, que ainda é composto pelo dire-tor delegado mundial, por secretários nacionais, além de diretores e coordenado-res locais.

No Brasil, o primeiro centro do Apostolado da Oração foi fundado em 1867, no Recife (PE), na Igreja de Santa Cruz. O padre jesuíta Bento Schembri foi o seu fundador e primeiro dire-tor. A sede atual do AO está localizada no bairro do Alto do Ipiranga, em São Paulo (SP). No espaço, são reali-zados encontros, retiros e reuniões. Anualmente, no segundo domingo de junho, acontece também a Roma-ria Nacional do Apostolado da Oração, que reúne deze-nas de milhares de fiéis de diversos lugares do País, em Aparecida do Norte (SP). “Quando vejo as caravanas do AO chegando dispostas, seja de lugares próximos ou distantes, imagino o motivo que as traz a ficar aqui um dia inteiro escutando, can-tando e rezando. As Jorna-das Apostólicas Diocesanas também não são menos fer-vorosas. E eu sinto um forte testemunho de fé em Deus revelado pelo Sagrado Cora-ção de Jesus aos pequenos. Esse é o testemunho de fé

que o Apostolado transmi-te”, ressalta padre Otmar.

Com o intuito de chegar a mais pessoas, o Apostolado da Oração utiliza também os seguintes meios de comuni-cação: a Revista Mensageiro do Coração de Jesus, o site www.apostoladodaoracao.com.br, as redes sociais e blogs. Além disso, mem-bros do AO participam de entrevistas e missas trans-mitidas pela TV. “O objetivo é de sempre disseminar de maneira mais abrangente a nossa espiritualidade, as informações e as novidades do Apostolado da Oração”, explica padre Otmar. Ele diz ainda que “o Apostolado da Oração não é da Companhia de Jesus, mas que os papas confiam essa importante missão à Ordem”, conclui.

mOVimENtO EUcarísticO JOVEm

Em Recife (PE), jovens alegres e confiantes na missão de Deus atuam nas paróquias da capital per-nambucana. Eles animam as celebrações eucarísti-cas, adoram ao Santíssimo Sacramento, atuam como catequistas e, além disso,

O camiNhO DO mEJ

Padre Javier Enciso, diretor arquidiocesano do MEJ--Rio, explica que “os jovens que entram no MEJ come-çam a trilhar um caminho de fé e de vida cristã.” Eles par-ticipam de uma pequena comunidade junto com outros companheiros que desejam se tornar amigos de Jesus e apóstolo de um mundo novo. No Brasil, esse caminho de fé se compõe de três etapas:

1ª grUpO sEmENtE (9 a 12 aNOs)Essa etapa tem como intuito ajudar o pré-adoles-cente a perceber que a Palavra de Deus é a semente que, ao longo do tempo, vai frutificando em nossas vidas. Essa proposta é apresentada aos jovens que já fizeram a Primeira Eucaristia. Nessa faixa etária, desenvolve-se a tendência à ação. O grupo é orien-tado a realizar visitas, pesquisas, colaboração na comunidade, entre outras ações.

2ª grUpO gENtE NOVa (13 a 15 aNOs)A proposta do MEJ, nessa etapa, é lembrar ao ado-lescente que o Mundo Novo, feito de Gente Nova, deve ser construído, começando por si mesmo e pelo próprio ambiente. Nessa fase, o jovem é ajuda-do a tomar consciência de sua personalidade. Ele é incentivado a descobrir suas possibilidades, a cres-cer, a fazer o bem ajudando os outros.

3ª cOmUNiDaDE FOgO NOVO (16 aNOs Em DiaNtE)A proposta do MEJ, nessa fase, é ajudar o jovem a construir sua comunidade e abrir os olhos ao mundo e ao Evangelho, para descobrir em ambos as razões da esperança. O intuito é ajudá-lo na descoberta mais responsável de sua vida, incentivando-o a se sentir mais solidário com o mundo.

O MEJ nasceu oficialmente em 1962 e hoje reúne milhares de jovens pelo mundo

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realizam visitas e produzem campanhas em prol dos ne-cessitados. Uma das pes-soas responsáveis por esti-mular esses jovens é Paula Assunção, 56, coordenadora do MEJ (Movimento Euca-rístico Jovem) da Arquidio-cese de Olinda e Recife. “Eu motivo e incentivo os jovens a participarem dos seus grupos com dinâmica, per-severança, fé, entusiasmo e alegria no amor ao Sagrado Coração de Jesus”, afirma Paula.

Acreditar e incentivar o potencial dos jovens são estímulos importantes para fortalecer a atuação do MEJ no Brasil. “É formidável trabalhar no MEJ, me deixa feliz, faz com que eu cresça cada vez mais espiritual-mente e desperta em mim a confiança de acreditar cada vez mais nos jovens”, con-fessa Paula.

O MEJ é um movimento internacional de formação cristã para crianças e jo-vens. Seu intuito é ensinar as pessoas a viver ao estilo de Jesus. Segundo o padre Otmar Jacob Schwengber, secretário nacional do AO e coordenador nacional do

MEJ, “o Movimento é a ala juvenil do Apostolado da Oração”.

Atualmente, o MEJ está presente em, aproximada-mente, 50 países nos cinco continentes. Sua metodolo-gia é baseada na formação de comunidades, na cons-ciência eclesial, na vivência da oração, na Eucaristia do dia a dia, na Palavra de Deus e no discernimento. Além disso, o MEJ incentiva e va-loriza o trabalho conjunto com as Igrejas locais. “Por ser considerado um Movi-mento Eclesial, assumimos o compromisso, junto a to-dos os movimentos da Igreja no Brasil, de nos inserirmos nas Pastorais Juvenis e Se-tores Juventudes de Regio-nais e nas arquidioceses e dioceses. Estamos muito bem engajados nas instân-cias nacionais, inclusive com representação atuante na Coordenação da Comissão Pastoral para Juventude da CNBB (Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil)”, explica Everson Lima, coor-denador nacional do MEJ.

Para o padre Javier Pé-rez Enciso, diretor arquidio-cesano do MEJ-Rio, o movi-

mento está cada vez mais atuante no Brasil. “Estamos crescendo no país, prova disso foi a realização do 2º Encontro Nacional de Lide-ranças, que aconteceu em maio de 2014, em Baturité (CE). O evento contou com a presença do padre Frédéric Fornos, diretor mundial do MEJ, e de 106 jovens de 14 estados brasileiros”, afirma.

O trabalho em conjunto é uma das características da atuação do MEJ. Segundo Everson, “o MEJ está dispo-nível e aberto ao convite das comunidades, paróquias, dioceses e regionais”. O intuito é orientar e ajudar essas entidades no que se refere ao conhecimento do Movimento, aprofundamen-to da vivência eucarística e também à evangelização da juventude.

O Movimento, que nas-ceu oficialmente em 1962, reúne hoje milhares de jo-vens que se esforçam para conhecer internamente a pessoa de Jesus. Eles bus-cam conhecer o estilo de vida de Cristo, por meio da experiência pessoal e comunitária de oração, discernimento e serviço.

Padre Javier explica que “o MEJ nasceu sob inspiração do Apostolado da Oração, quando as primeiras crian-ças começaram a participar do movimento. Mas, antes de ser conhecido como MEJ, o movimento teve outras denominações”. Segundo o jesuíta, “em 1865, o padre Leonardo Cros, diretor espi-ritual do Colégio Tívoli, dos jesuítas de Bordeaux (Fran-ça) pensou em aproveitar o entusiasmo e a generosida-de dos alunos que queriam ir à luta para defender a ‘cau-sa’ do papa, ameaçada pelas tropas de Garibaldi, e for-mou um grupo chamado ‘Mi-lícia do Papa’. Dessa forma, o padre propôs que as ‘armas’ fossem as do Apostolado da Oração, ou seja, a oração, o estudo e o oferecimento do dia a dia.”

assOciaçãO DE cOmUNiDaDEs DE ViDa mariaNa

A ACVM (Associação de Comunidades de Vida Maria-na) atua na evangelização de adolescentes, jovens e adul-tos e tem como pedagogia a Espiritualidade Inaciana. O movimento é organizado em pequenas comunidades, com cinco a 15 membros, que se reúnem em nome de Cris-to. A razão de ser da ACVM é a ajudar as pessoas a fazer uma experiência pessoal de Jesus, para que possam aprofundar esta experiência em suas vidas e na Comuni-dade, testemunhando-a no mundo.

Atualmente, a ACVM atua no Estado do Rio de Janeiro, em um centro na capital e ou-tro em Niterói – cada um deles é composto pelas Comunida-

Comunidade exprime o espírito e a unidade da ACVM

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des de Vida Mariana. A psicóloga Lucia-na Lessa, 38, coordenadora do DEFOR (Departamento de Formação) da ACVM – setor responsável pelas atividades de formação −, explica que “o objetivo dos membros da Associação é ajudar às pes-soas tanto pela Evangelização, por meio dos Encontros de Adesão e do anúncio da Palavra, quanto pelo serviço aos mais ne-cessitados, através das diversas ativida-des oferecidas pelo Projeto VIDA e pelo DPSOL (Departamento de Promoção Social), durante o ano”.

A ACVM iniciou seus trabalhos em 1970, no movimento JAM (Juventude de Ação Mariana), o departamento jo-vem das Congregações Marianas. Seu fundador foi José Batista Sobrinho, que atua hoje como vice-coordenador da Coordenação Geral da ACVM. Após um longo período de oração e discerni-mento, em 1998, um grupo se afastou do JAM e fundou a ACVM. “O movi-mento esteve, desde o início, ligado a CVX (Comunidades de Vida Cristã) e,

como sempre aconteceu ao longo de sua história, contou com total apoio da Companhia de Jesus, através de seus sacerdotes”, afirma Sobrinho.

Em 2014, a ACVM celebrou 44 anos de atuação e de cooperação entre suas comunidades. Para Luciana, a palavra comunidade exprime o espírito e a uni-dade necessária da Associação. “Reu-nidos, nos ajudamos mutuamente, nos preocupamos uns com os outros e to-dos com a Igreja”, ressalta. Desde os 17 anos, ela participa da ACVM e, durante esses anos de dedicação, conheceu me-lhor a Igreja Católica e a espiritualidade inaciana. “Eu me dedico a essa missão da ACVM, pois aqui é meu lugar de Evan-gelização. Participar do movimento me permite retribuir o que um dia foi feito por mim”, finaliza Luciana.

ExErcíciOs EspiritUais para JOVENs

Os Exercícios Espirituais são um modo de oração que ajuda a criar proximidade e intimidade com Deus. O centro de juventude Anchietanum adaptou o método de oração de Santo Inácio para a juventude e, assim, criou os Exer-cícios Espirituais para Jovens,

que são organizados em cinco etapas. Essa modalidade ajuda o participante a viver uma experi-ência pessoal de oração, para que ele possa se abrir para o envolvi-mento com o Projeto de Deus, no serviço aos irmãos, à Igreja e à sociedade.

O EstUDO Da EspiritUaliDaDE iNaciaNa

Em 1989, o CEI-Itaici (Centro de Espiritualidade Inaciana) foi fun-dado em Indaiatuba (SP), com o objetivo de aprofundar e divulgar a espiritualidade inaciana. Os je-suítas que assumiram a missão eram responsáveis por elaborar cursos e retiros. Em 2012, o cen-tro foi transferido para o Rio de Janeiro. O intuito da mudança foi ampliar seu campo de ação e atender às demandas em nível na-

cional. Dessa forma, passou a se chamar CEI-Jesuítas. “O CEI é marcado por uma tra-jetória de grandes iniciativas no campo da Espiritualidade Inaciana, sobretudo na linha da formação e capacitação de pes-soas, bem como na reflexão e produção de subsídios e artigos para a revista Itaici”, afirma o pa-dre Adroaldo Palaoro, diretor do CEI-Jesuítas.

cONhEça mais sOBrE Os grUpOs E mOVimENtOs lEigOs

CVX (Comunidades de Vida Cristã) www.cvx.org.br

Congregações Marianaswww.cncmb.org.br

Apostolado da Oraçãowww.loyola.com.br/ao/

Associação das Comunidadesde Vida Marianawww.acvm.org.br

Movimento Eucarístico Jovemwww.loyola.com.br/mej