DISCURSO SOBRE UMA NOVA REALIDADE Por Eliane Miraglia • JANEIRO DE 2011

Dia 3 de janeiro, Garibaldi Alves assumiu a Previdência Social. Num breve discurso de posse, avisou que não haverá reforma e apresentou seu Ministério como maior fator de estabilidade econômica. Ainda que não haja previsão de mudanças radicais na Previdência Social como muitos reivindicam, uma transformação sutil, porém muito significativa, já está materializada no nível do discurso e que pode ser associada a um prenúncio de novos tempos. A histórica imagem negativa da Previdência Social foi substituída por uma imagem mais apaziguadora, menos caótica, apontando para uma luz no fim do túnel. Filósofos da linguagem, como Mikhail Bakthin, postulam que a linguagem registra antecipadamente mudanças sociais ainda em gestação. Exemplos para ilustrar a teoria não faltam. A ficção científica de Júlio Verne, as criações visionárias de Leonardo Da Vinci atestam essa prerrogativa e característica do verbo. Por isso, é importante prestar atenção às palavras e, sobretudo às ações, que neste cenário, possam confirmar o discurso. Distribuição de renda Garibaldi Alves ainda afirmou: "A Previdência é o mais abrangente programa de distribuição de renda". Por que essas palavras são relevantes? Quem investe compulsoriamente parte dos rendimentos recebidos com seu trabalho nesse Sistema, precisa ter uma referência positiva associada a sua atitude de contribuir que, de imediato, começa a impactar uma cadeia infinita de valor: parte é convertida em benefícios sociais e parte é transformada em desenvolvimento econômico-social. E, no futuro, quando encerrar suas atividades laborais, chegará o tempo do trabalhador também receber sua aposentadoria. A cadeia ideal de valor envolve dignidade, cidadania, responsabilidade, equilíbrio, respeito, confiança. O trabalhador precisa ter essa segurança. A Previdência Social precisa que o trabalhador tenha essa convicção. Por isso, a consciência sobre o que antecede o recebimento da aposentadoria ainda precisa ser desenvolvida, estimulada. Obviamente a retórica não se sustenta sem a implementação de uma administração vigorosa, capaz de materializar as propostas já apresentadas pelo discurso. Há não muito tempo, tínhamos dificuldade de acreditar que o país pudesse ter uma política econômica mais madura. Com relação à Previdência social, pode ainda existir algum ceticismo. Mas nada impede que essa realidade seja, em breve, diferente e melhor.

Eliane Miraglia - mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais e

consultora de comunicação. Com Marisa Santoro Bravi, escreveu A importância dos valores para a construção de novos paradigmas sociais, disponível para leitura em http://biblioteca.abrapp.org.br/default.html