Dispositivos fotovoltaicos orgânicos: estudo de camadas ativas e ...

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CARLA DANIELE CANESTRARO DISPOSITIVOS FOTOVOLTAICOS ORGÂNICOS: ESTUDO DE CAMADAS ATIVAS E ELETRODOS Tese apresentada como requisito parcial à obtenção de grau de Doutora. Área de concentração: Engenharia e Ciência dos Materiais, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais - PIPE. Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Lucimara Stolz Roman Curitiba 2010

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  • CARLA DANIELE CANESTRARO

    DISPOSITIVOS FOTOVOLTAICOS ORGNICOS:

    ESTUDO DE CAMADAS ATIVAS E ELETRODOS

    Tese apresentada como requisito parcial obteno de grau de Doutora. rea de concentrao: Engenharia e Cincia dos Materiais, Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Cincia dos Materiais - PIPE. Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paran. Orientadora: Profa. Dra. Lucimara Stolz Roman

    Curitiba 2010

  • minha me, com amor.

    "...Os tomos se associaram e se tornaram molculas. Estas se constituram em

    aminocidos, estes em protenas, estas em clulas. As clulas se agrupam em sistemas,

    os sistemas em rgos, os rgos em seres. Os seres em espcies, as espcies em

    famlias, as famlias em grupos. Os grupos em sociedades, as sociedades em naes, as

    naes em continentes. Os continentes em mundos, os mundos em galxias, as

    galxias no universo.(...) Tem que haver uma energia maior que compe neste instante

    o raciocnio micro e macro, e tudo regido pelas mesmas leis,

    pela mesma lgica: Deus!"

    Por Eduardo Aquino em "Bem-vindo Vida".

  • Agradecimentos

    Gostaria de iniciar agradecendo minha orientadora Profa. Lucimara Stolz

    Roman, pelos 7 anos de trabalho juntas, incluindo mestrado, estgio empresarial e

    doutorado. Pela ateno, pacincia, motivao e amizade.

    Agradeo ao Prof. Clas Persson, que me orientou no estgio de doutoramento no

    Instituto Real de Tecnologia (KTH) em Estocolmo, Sucia.

    Ao Laboratrio de Propriedades pticas da UFBA (LaPO), em especial s

    pessoas que colaboraram no trabalho apresentado no Captulo 2 desta tese: Prof. Antnio

    Ferreira da Silva, Prof. Denis David, Prof. Iuri Pepe e Marcus da Silva.

    s professoras Regina Melo e Liliana Micaroni e ao Dr. Rogrio Valaski pela

    sntese eletroqumica do polmero PT no Laboratrio de Eletroqumica Aplicada e

    Polmeros (LEAP UFPR) e pelas discusses sobre dispositivos fotovoltaicos.

    Dra. Paula Rodrigues pela sntese qumica do polmero PFTBT, ao Laboratrio

    de Polmeros Paulo Scarpa (LaPPS UFPR), em especial Profa. Leni Akcelrud, pela

    colaborao.

    Ao Prof. Aldo Zarbin, Profa. Mariane Schnitzler e Profa. Marcela Mohallem

    pela sntese dos nanotubos de carbono e das nanopartculas de ouro no Grupo de Qumica

    de Materiais (GQM UFPR).

    Aos professores do departamento de Fsica da UFPR: Marlus Koehler e Marcos

    Gomes E. da Luz, pela contribuio terica nas discusses dos trabalhos.

    Ao laboratrio de Dispositivos Nanoestruturados (DiNE UFPR) que durante

    este tempo foi como minha segunda casa, e meus colegas de trabalho, como meus irmos.

    Aos meus amigos queridos, que ao lerem estes agradecimentos sabero o quo

    grande foi a contribuio deles nesta etapa da minha vida profissional. Seria injusto

    esquecer algum nome aqui, pois todas as pessoas que estiveram comigo, seja por alguns

    dias ou alguns anos, foram muito especiais para mim.

    minha famlia, pelo carinho e compreenso.

    s agncias financiadoras: CAPES, CNPq/Universal, CNPq/CT-Energ, Rede

    Nacional de Pesquisa em Nanotubos/CNPq, INEO (Instituto Nacional de Eletrnica

    Orgnica), SI (Instituto Sueco).

    Muito Obrigada.

  • Lista de figuras

    Figura 1.1 Espectro da radiao solar no topo da atmosfera (curva superior) e ao nvel do mar

    (curva inferior), para atmosfera mdia e Sol no znite...................................................................32

    Figura 1.2 Exemplos de polmeros conjugados: Poliacetileno (a), Politiofeno (b) e Poli (p-

    fenileno vinileno) (c). Na figura, S simboliza tomos de enxofre...............................................34

    Figura 1.3 Nveis de energia de um diagrama de orbital molecular em uma ligao dupla entre carbonos. A diferena de energia entre estados ligante e anti-ligante (*) menor em uma ligao comparada a uma ligao ..........................................................................................................34

    Figura 1.4 Diagrama de energia para a molcula de benzeno (a). A interao entre os orbitais

    produz uma distribuio de estados eletrnicos que se assemelham uma estrutura de banda:

    HOMO, orbital mais alto ocupado e LUMO, orbital mais baixo desocupado; idealizao de uma

    cadeia infinita de PPV. Orbitais ligantes geram a banda de valnica e os orbitais * anti-ligantes

    geram a banda de conduo (b).......................................................................................................36

    Figura 1.5 Representao esquemtica de uma cadeia polimrica com diferentes comprimentos

    de conjugao (a) e sua respectiva distribuio de energias de banda proibida (b)........................37

    Figura 1.6 Representao de duas geometrias conformacionais para o poliacetileno: trans-

    poli(acetileno) com duas formas degeneradas A e B ( esquerda) e cis-poli(acetileno) com duas

    formas no-degeneradas, quinide e aromtico ( direita).............................................................38

    Figura 1.7 Criao de um sliton neutro em uma cadeida de poliacetileno devido a defeitos

    estruturais........................................................................................................................................39

    Figura 1.8 Diagrama de bandas para slitons positivo (a), neutro (b) e negativo (c) com os

    valores de carga e spin....................................................................................................................39

  • Figura 1.9 Ilustrao esquemtica para um plaron positivo (a) e um biplaron positivo (b) em

    uma cadeia de politiofeno...............................................................................................................40

    Figura 1.10 Diagramas de banda esquemticos representando as quasi-partculas

    plarons e biplarons com suas respectivas relaes de carga e spin................................41

    Figura 1.11 Representao esquemtica de trs tipos de xcitons: xciton Frenkel (a), xciton

    ntermedirio (b), tambm chamado de xciton de transferncia de carga e xciton Mott-Wannier

    (c). Os crculos representam as unidades moleculares....................................................................42

    Figura 1.12 Espectro de absoro e emisso para um polmero conjugado com as transies

    (mostradas em (b) ) marcadas nos picos e ombros dos respectivos espectros (a). Transies

    pticas entre nveis de energia vibracionais em uma molcula conjugada (b). Ao lado esquerdo

    encontra-se o processo de absoro e ao lado direito, o processo de emisso................................44

    Figura 1.13 Transies pticas indicando o estado singleto fundamental (S0) e os estados

    excitados singleto S1 e S2, e os tripletos T1 e T2. As transies ocorrem atravs de converses

    internas no-radiativas (CI) e cruzamentos inter-sistema (CIS) gerando emisso radiativa em um

    processo mais longo........................................................................................................................46

    Figura 1.14 Esquema de nveis eletrnicos de um slido desordenado para demonstrar a

    condutividade por hopping. Ef: Energia de Fermi, R: distncia espacial entre os estados,W:

    distncia energtica entre os estados...............................................................................................47

    Figura 1.15 Diagrama de nveis de energia para a interface metal/semicondutor. A situao

    representada em (a) indica a formao de um contato retificador, com o aparecomento da barreira

    Schottky. Em (b) a situao representada para a formao de um contato hmico.................50

    Figura 1.16 Representao esquemtica de um grfico J V em escala log-log mostrando a

    forma das curvas para correntes limitadas por carga espacial com armadilhas rasas e

    profundas.........................................................................................................................................52

  • Figura 1.17 Diagrama de bandas esquemtico para um polmero semicondutor com a espessura

    da camada igual ao comprimento da camada de depleo. Ilustrao do potencial intrnseco Vi

    criado no polmero quando este colocado em contato com os eletrodos. Vapl a tenso aplicada,

    Vi o potencial intrnseco devido a diferena de funo trabalho dos eletrodos 1 e 2, a

    eletroafinidade do polmero, e 1 / 2 so as alturas de barreira para a injeo de buracos e

    eltrons, respectivamente................................................................................................................53

    Figura 1.18 Estrutura de uma clula solar orgnica. O filme orgnico comprrende uma ou mais

    camadas semicondutoras, uma mistura de materiais ou a combinao destas duas estruturas.......54

    Figura 1.19 Representao esquemtica de um dispositivo fotvoltaico feito com uma camada

    de polmero entre dois eletrodos.....................................................................................................56

    Figura 1.20 Processos envolvidos na gerao de corrente eltrica em um dispositivo

    fotovoltaico orgnico......................................................................................................................56

    Figura 1.21 Representao esquemtica das respostas simbticas (a) e antibticas (b) do

    espectro de eficincia quntica externa (IPCE) (linha cheia) e o espectro de absoro do polmero

    (linha tracejada)..............................................................................................................................60

    Figura 1.22 Diagrama esquemtico que mostra um dispositivo fotovoltaico 2/Polmero/ 1 no

    escuro com o alinhamento dos nveis de Fermi (a) e sob iluminao (b), a tenso de circuito

    aberto aproximadamente o valor do potencial intrnseco em temperatura ambiente. n.v.: nvel de

    vcuo...............................................................................................................................................61

    Figura 1.23 Curva caracterstica J x V para um dispositivo fotovoltaico (a). Em (b) temos a

    representao das situaes 1, 2, 3 e 4 em diagramas de energia...................................................62

    Figura 1.24 Representao de uma curva J V para o caso ideal (linha cheia) indicando um

    valor de FF = 100% e para o caso em que a clula apresenta uma relao linear entre a corrente e

    a tenso aplicada (linha tracejada), gerando um valor de 25% para o fator de preenchimento......64

  • Figura 1.25 DCE para uma clula solar. O circuito consiste dos seguintes componentes: Uma

    fonte de corrente IL, a qual gerada pela luz incidente, um diodo que responde pela dependncia

    no-linear com a tenso, um resistor em srie Rs e um resistor em paralelo Rp. A queda de tenso

    V sobre um resistor de carga Rc e a corrente I que o atravessa tambm esto mostrados na figura.

    As setas indicam o sentido da corrente de buracos (positiva) seguindo os padres em

    eletrnica.........................................................................................................................................65

    Figura 1.26 Estrutura bicamada para um dispositivo fotovoltaico e a representao da

    transferncia de carga do polmero (D) para o C60 (A) atravs do diagrama de energia................68

    Figura 1.27 Representao de um dispositivo com estrutura heterjuno indicando os materiais

    doadores (D) e aceitadores de eltrons (A).....................................................................................69

    Figura 2.1 Clula unitria de uma estrutura cristalina de SnO2. As esferas maiores indicam

    tomos de oxignio e as esferas menores indicam tomos de estanho...........................................76

    Figura 2.2 Representao esquemtica de um material no-estequiomtrico mostrando defeitos

    cristalogrficos. Estes defeitos podem atuar como centros doadores ou aceitadores.....................77

    Figura 2.3 Primeira zona de Brillouin para o cristal SnO2 (a). Estrutura de banda eletrnica nas

    direes e (b).............................................................................................................80

    Figura 2.4 Otimizao dos parmetros de rede do SnO2. Volume (a), razo c/a (b) e parmetro

    interno u (c).....................................................................................................................................81

    Figura 2.5 Funo dieltrica calculada, partes real (a) e imaginria (b). ndice de refrao

    calculado, partes real (c) e imaginria (d) para o SnO2. As linhas cheias e pontilhadas indicam as

    componentes paraleleas () e perpendiculares () ao eixo c do cristal, respectivamente..............83

    Figure 2.6 Coeficiente de absoro calculado para o SnO2. Linhas cheia e pontilhada indicam

    componentes paralela e perpendicular ao eixo c do cristal, respectivamente.................................84

  • Figura 2.7 Amostra retangular esquemtica com comprimelnto l, largura b e espessura d. I a

    corrente eltrica que flui atravs da rea b d quando um campo eltrico E aplicado na

    amostra............................................................................................................................................87

    Figura 2.8 Esquema da tcnica de quatro pontas utilizada para medir resistncia de filmes

    finos.................................................................................................................................................87

    Figura 2.9 Morfologias obtidas por AFM para (a) TO, (b) FTO e (c) hFTO sobre substratos de

    vidro. Para comparao, ns tambm mostramos em (d) um filme de FTO sobre substrato de

    boro-silicato apresentando rugosidade menor (df = 430 nm e RMS 18 nm); este filme mostra

    transmisso e reflexo similares s do filme de FTO sobre vidro comum (df = 510 nm e RMS 23

    nm)..................................................................................................................................................92

    Figura 2.10 Padres de difrao de raio-X para o TO (a), FTO (b) e hFTO (c). A diminuio

    dos picos em (1 1 0), aumento em (2 0 0) e diminuio em (2 1 1) em relao ao TO indicam

    ocupao de tomos de flor em ambas posies: substitucional e intersticial para o FTO e hFTO.

    Os picos em (1 0 1) e (2 0 0) para o hFTO so ligeiramente deslocados de 2 e 1%,

    respectivamente, comparados aos picos correspondentes para TO e FTO.....................................93

    Figura 2.11 Espectros de transmisso (linha + smbolos slidos) e reflexo (linha + smbolos

    abertos) vsivel e IR prximo para filmes de TO (quadrados), FTO dopado (crculos) e hFTO

    altamente dopado (tringulos). Os filmes dopados mostram transmisso mais baixa para energias

    menores do que1 eV devido ao aumento da concentrao de dopagem. Os filmes de FTO e hFTO

    possuem reflexo similares, assim como as concentraes de portadores de carga: nc 61020

    cm3 para ambos FTO e hFTO........................................................................................................97

    Figura 2.12 Coeficientes de absoro ptica (temperatura ambiente) para os filmes de TO

    (linha + quadrados), FTO (linha + crculos) e hFTO (linha + tringulos). As linhas representam os

    coeficientes de absoro calculados (temperatura zero) para o TO (linha pontilhada) e para o FTO

    com F ocupando stios de oxignio (nF 41020 cm3) (linha tracejada). A banda proibida

    temperatura ambiente em torno de 0,150,20 eV menor do que o valor calculado temperatura

    zero..................................................................................................................................................98

  • Figura 2.13 Estrutura de banda esquemtica para o TO (a) e (b) FTO / hFTO. A energia de

    banda proibida fundamental Eg reduzida pela blindagem do gs de eltrons dos tomos de F

    doadores: . O preenchimento de banda at o nvel de Fermi Eggredg EEE = F implica em uma

    energia de banda proibida ptica que quase se iguala a EoptgE g. Os estados doadores do F

    hibridizam (rea cinza) os estados primrios do TO em 2.2 eV acima dos estados ocupados

    da banda de conduo, levando a uma absoro em baixa energia..............................................100

    optgE

    Figura 3.1 Esquema de uma clula eletroqumica utilizada na sntese dos filmes de politiofeno

    (PT)...............................................................................................................................................107

    Figura 3.2 Voltamogramas cclicos para os filmes de PT sintetizados em diferentes potencias:

    3 V (crculos fechados), 2 V (crculos abertos). Eletrlito: 0,02 mol/L (CH3)NBF4 em acetonitrila

    sem o monmero...........................................................................................................................109

    Figura 3.3 Morfologia de AFM das superfcies dos filmes de PT sobre substratos de FTO em

    diferentes espessuras: 180nm (a), 280 nm (b) e 550 nm (c). (Note a diferena nas escalas)..110

    Figura 3.4 Eficincias de foto-converso (IPCE) caractersticas para os dispositivos

    monocamada FTO/PT/Al, com iluminao pelo FTO (crculos abertos) e pelo alumnio (crculos

    fechados), comparadas ao espectro de absoro do PT (linha cheia). Os resultados so

    apresentados na forma normalizada e indicam o efeito de filtro atravs das respostas simbticas

    (iluminao pelo Al) e antibticas (iluminao pelo FTO) das eficincias com a absoro........111

    Figura 3.5 (a) IPCE para dispositivos FTO/PT/Al com iluminao atravs do eletrodo de FTO

    (crculos abertos, dPT = 310 nm, crculos fechados, dPT = 180 nm). (b) Dependncia do IPCE com

    as espessuras do PT.......................................................................................................................112

    Figura 3.6 Curvas caractersticas J V para um dispositivo FTO/PT/Al no escuro (crculos

    fechados) e sob iluminao de 620 nm, 1 W/m2 (crculos abertos). O valor encontrado para o

    VOC de aproximadamente 700 mV.............................................................................................114

  • Figura 3.7 Diagrama dos nveis de energia para os materiais antes do contato. Os nveis

    HOMO e LUMO do polmero PT foram obtidos por voltametria cclica e medidas pticas. O

    diagrama tambm indica as funes trabalho dos eletrodos de FTO e alumnio..........................115

    Figura 3.8 Medida do inverso do quadrado da capacitncia pela tenso reversa aplicada para

    dispositivos FTO/PT/Al, com a espessura de 280 nm do PT. O ponto onde a curva intercepta o

    eixo da tenso aplicada (V) fornece o valor do potencial intrnseco do dispositivo.....................117

    Figura 3.9 Esquema de uma matriz passiva de fotodetectores.................................................118

    Figura 3.10 Matriz de fotodetectores orgnicos 3 4 (a); exemplo de um pixel obtido pelo

    encontro de uma linha com uma coluna, construdo na estrutura sanduche FTO/PT/Al (b).......119

    Figura 3.11 Curvas caractersticas J V para um diodo endereado na matriz. Quadrados

    cheios, medida no escuro e quadrados vazios, medida sob iluminao........................................120

    Figura 3.12 Curva caracterstica J V para um diodo iluminado cujos eletrodos no esto sob

    tenso aplicada (no-endereado) (quadrados vazios). Para comparao, a curva de um diodo

    endereado sem iluminao (quadrados cheios)...........................................................................121

    Figura 3.13 Espectros de absoro (a) e fotoluminescncia (b) para o polmero PFTBT em

    soluo de clorobenzeno...............................................................................................................124

    Figura 3.14 Diagrama de nveis de energia para o polmero PFTBT indicando os nveis HOMO

    e LUMO e os eletrodos de PEDOT:PSS e Al com seus respectivos valores de funo

    trabalho.........................................................................................................................................124

    Figura 3.15 Resultados de IPCE para dispositivos monocamda com espessura do PFTBT de 30

    nm (quadrados fechados), 60 nm (quadrados abertos), 100 nm (crculos abertos) e 120 nm

    (crculos fechados). No mesmo grfico o espectro normalizado de absoro para um filme de

    PFTBT representado (linha pontilhada).....................................................................................125

  • Figura 3.16 Morfologia da superfcie de filmes de PFTBT depositados sobre substratos de

    FTO/PEDOT com espessuras de 30 nm (a), 60 nm (b) e 120 nm (b). O aumento de espessura dos

    filmes indica uma diminuio da rugosidade................................................................................127

    Figura 3.17 Comportamento J V para dispositivos monocamada FTO/PEDOT/PFTBT/Al,

    com espessuras do PFTBT de 30 nm (quadrados fechados), 60 nm (quadrados abertos) e 120 nm

    (crculos abertos)...........................................................................................................................128

    Figura 3.18 Resultados de IPCE para dispositivos bicamada com espessura do PFTBT de 30

    nm (quadrados fechados), 60 nm (quadrados abertos), 100 nm (crculos abertos) e 120 nm

    (crculos fechados). A espessura da camada de C60 de 30 nm...................................................130

    Figura 3.19 Resultados de IPCE para um dispositivo feito com camada ativa de PFTBT

    produzida por gotejamento de soluo.........................................................................................132

    Figura 3.20 Curvas J V para dispositivos bicamada compostos pelo polmero PFTBT com

    quatro espessuras diferentes: 30 nm (a), 60 nm (b), 100 nm (c) e 120 nm (d). Os resultados foram

    obtidos no escuro (smbolos fechados) e sob iluminao monocromtica de 550 nm (smbolos

    abertos)..........................................................................................................................................134

    Figura 3.21 Curvas J V para um dispositivo bicamada com espessura do polmero PFTBT de

    60 nm e a espessura do C60 de 30 nm. Os valores de JSC e VOC obtidos sob iluminao branca com

    intensidade de 100 mW/cm2 (1 Sol) foram de 0,89 mA/cm2 e 0,5 V..........................................135

    Figura 3.22 Dependncia da tenso de circuito aberto VOC (quadrados fechados), e a densidade

    de corrente de curto circuito JSC com a intensidade de luz (I)......................................................137

    Figura 3.23 Resultados de IPCE para dispositivos heterojuno nas propores

    (PFTBT:PCBM): 1:1/2 (crculos fechados), 1:1 (quadrados fechados), 1:2 (quadrados abertos),

    1:3 (crculos abertos) e 1:4 (tringulos fechados).........................................................................138

  • Figura 3.24 Curvas J V para dispositivos heterojuno compostos pela mistura do polmero

    PFTBT e PCBM nas propores de 1:1/2 (a) e 1:3 (b), no escuro (smbolos fechados) e sob

    iluminao monocromtica de 550 nm (smbolos abertos)..........................................................139

    Figura 3.25 Esquema de um dispositivo fotovoltaico em estrutura de heterojuno. O aumento

    do material aceitador dentro da camada ativa pode gerar caminhos contnuos de conduo das

    cargas de um eletrodo a outro.......................................................................................................140

    Figura 3.26 Esquema para um dispositivo fotovoltaico fabricado em estrutura mista. A camada

    de C60 evita o contato direto do PCBM no eletrodo de alumnio..................................................141

    Figura 3.27 Comparao da resposta eltrica (sem iluminao) entre dispositivos em estrutura

    heterojuno (PFTBT:PCBM) (smbolos abertos) e estrutura mista (PFTBT:PCBM/C60)

    (smbolos fechados). A camada de C60 atua como bloqueadora de buracos e melhora o transporte

    de eltrons mantendo o campo eltrico necessrio para a dissociao dos xcitons....................141

    Figura 3.28 Comparao de IPCE para dispositivos feitos em estrutura heterojuno (smbolos

    abertos) e dispositivos feitos em estrutura mista (smbolos fechados). Um aumento de 11% para

    14,5% de IPCE observado para a estrutura mista (550 nm)......................................................142

    Figura 3.29 Curvas J V para um dispositivo em estrutura mista (camada ativa

    PFTBT:PCBM/C60) (a) e a comparao para um dispositivo em estrutura bicamada (PFTBT/C60)

    (b). Os valores de JSC e VOC obtidos sob iluminao branca com intensidade de 30 mW/cm2 foram

    de 0,44 mA/cm2 e 0,65 V para a estrutura mista e de 0,89 mA/cm2 e 0,7 V para a estrutura

    bicamada.......................................................................................................................................143

    Figura 3.30 Curva caracterstica Jf Vef em temperatura ambiente para um dispositivo OC1C10-

    PPV:PCBM 20:80 com espessura de 120 nm de camada ativa [40]............................................145

    Figura 3.31 Curvas caractersticas Jf Vef para dispositivos feitos em estrutura bicamada

    (smbolos fechados) e estrutura mista (smbolos abertos)............................................................146

  • Figura 4.1 Formao de nanotubo de carbono de parede simples (SWNT) a partir de uma folha

    de grafeno (a) e exemplo de nanotubo de mltiplas camadas (MWNT) (b).................................154

    Figura 4.2 - Modelos moleculares de SWNTs exibindo diferentes quiralidades: (a) configurao armchair, (b) arranjo zig-zag e (c) conformao quiral................................................................155

    Figura 4.3 Imagens de microscopia eletrnica de transmisso das amostras de nanotubos de

    carbono obtidas pela sntese CVD (a); imagem de alta resoluo (b)..........................................157

    Figura 4.4 Imagens de microscopia eletrnica de transmisso para um nanocompsito de

    nanotubo de carbono (20%) e o polmero semicondutor P3HT. Os nanotubos de carbono so

    envoltos pelo polmero confirmando a estabilidade do nanocompsito em soluo....................159

    Figura 4.5 Eficincia de foto-converso (IPCE) (a) para nanocompsitos com 1, 3, 5 e 10% de

    nanotubos em massa e para o polmero P3HT. A eficincia aumenta at uma quantidade de 5% e

    depois diminui, aproximando-se do valor para o polmero sem nanotubos. Em (b) curvas J V

    para os mesmos nanocompsitos. A condutividade muda significativamente a partir da

    concentrao de 5% sugerindo que os nanotubos dominam o processo de transporte nos

    nanocompsitos.............................................................................................................................160

    Figura 4.6 Comportamento eltrico para os nanocompsitos MWNT/P3HT com diferentes

    concentraes de nanotubos. Os smbolos representam resultados experimentais e as linhas

    representam os ajustes conforme o modelo de injeo e transporte de cargas descritos em

    [29]................................................................................................................................................162

    Figura 4.7 Os smbolos representam as mobilidades efetivas em funo das fraes de massa p,

    ajustados da figura 4.6. A curva contnua ajustada pela teoria da percolao...........................163

    Figura 4.8 Absoro (linha cheia) e fotoluminescncia (linha tracejada) do polmero

    PDHFPPV em estado slido (filme)...........................................................................................165

    Figura 4.9 Comparao da eficincia de foto-converso (IPCE) para dispositivos feitos com o

    polmero PDHFPPV (quadrados fechados) e para o nanocompsito contendo 1% de nanotubos de

    carbono em massa (quadrados abertos)........................................................................................165

  • Figura 4.10 Comportamento eltrico para os nanocompsitos de PDHFPPV e MWNT. O inset

    mostra uma resposta eltrica atravs de uma curva J V para um dispositivo feito somente com o

    polmero PDHFPPV....................................................................................................................166

    Figura 4.11 Representao esquemtica da oscilao plasmon para uma esfera, mostrando o

    deslocamento da nuvem de eltrons de conduo em relao ao ncleo......................................168

    Figura 4.12 Representao da estabilizao de nanopartculas metlicas atravs da camada de

    passivante......................................................................................................................................170

    Figura 4.13 Caracterizao das AuNPs. Pelo espectro de difrao de raio-X (a) observa-se a

    formao de ouro metlico e estima-se o valor mdio do dimetro das NPs atravs da lei de

    Scherrer. O espectro de absoro no visvel (b) aponta para um mximo em torno de 550

    nm.................................................................................................................................................171

    Figura 4.14 Espectros de absoro normalizados para amostras de P3HT (linha cheia), P3HT +

    0,3% de AuNPs (quadrados fechados) e P3HT + 5% de AuNPs (quadrados abertos). Todos os

    filmes foram depositados sobre substratos de quartzo..................................................................172

    Figura 4.15 Eficincia quntica esterna (IPCE) para amostras contendo 0 (P3HT), 0,1, 0,3, 1 e

    5% de AuNPs na matriz polimrica. Os valores de eficincia diminuem medida que se aumenta

    a quantidade de NPs nas amostras................................................................................................174

    Figura 4.16 Curvas caractersticas J V do comportamento eltrico para os dispositivos

    monocamada sem AuNPs na camada ativa (quadrados fechados) e com 5% de AuNPs na matriz

    polimrica (quadrados abertos).....................................................................................................174

    Figura 4.17 Eficincia quntica externa para amostras bicamada (mistura/C60) feitas com a

    mistura de P3HT e AuNPs nas concentraes de 0,1% de AuNP (smbolos fechados) e 0,3% de

    AuNP (smbolos abertos). A linha cheia representa o resultado para amostras sem a adio de

    nanopartculas na camada ativa.....................................................................................................176

  • Lista de tabelas

    Tabela 1.1 Lista de materiais utilizados no desenvolvimento do trabalho desta tese.................71

    Tabela 2.1 Caractersticas das amostras de filmes de xido de estanho depositadas por pirlise

    de spray: no dopadas (TO), dopadas (FTO) e altamente dopadas hFTO, mostrando o nmero de

    amostras (N), resistncia de filme (RS), espessura (df), rugosidade (RMS), resistividade (),

    concentrao de portadores de carga (nc), concentrao de flor (nF) e a percentagem

    correspondente relativa ao SnO2 (%F). A energia de banda proibida temperatura ambiente (Eg)

    para o FTO e hFTO so estimadas das referncias. Os valores esto apresentados como mdias

    aritimticas mais os desvios padro para cada nvel de dopagem, ou valores absolutos para uma

    amostra especfica...........................................................................................................................91

    Tabela 3.1 Comparao de valores de eficincia quntica externa (IPCE) para dispositivos

    fotovoltaicos feitos com o polmero PFTBT e com o polmero comercial P3HT em estruturas

    mono e bicamada..........................................................................................................................130

    Tabela 3.2 Relao dos parmetros fotovoltaicos (JSC, VOC e FF ) encontrados para dispositivos

    bicamada feitos com quatro espessuras diferentes de PFTBT......................................................134

    Tabela 3.3 Comparao dos parmetros fotovoltaicos entre dispositivos bicamada feitos com

    PFTBT/C60 e resultados recentes encontrados na literatura para um polmero no comercial e

    C60.................................................................................................................................................136

    Tabela 3.4 Comparao da taxa mxima de gerao de xcitons (Gmax) e a probabilidade de

    dissociao das cargas (P) para as estruturas mista e bicamada...................................................147

  • Resumo

    Neste trabalho, apresentamos os estudos de eletrodos e camadas ativas no

    desenvolvimento de clulas solares orgnicas. O xido de estanho (SnO ) apresenta

    caractersticas interessantes para a aplicao como eletrodo transparente: quando

    depositado em um substrato de vidro formando filme fino, apresenta-se semi-transparente

    ao espectro da luz visvel e capaz de conduzir eletricidade. A otimizao das

    caractersticas eltricas feita pela dopagem do xido com flor. Apresentamos

    resultados experimentais e tericos na caracterizao dos xidos sem dopagem, com

    dopagem moderada e alta dopagem de flor.

    2

    Os dispositivos fotovoltaicos orgnicos foram caracterizados tendo como base

    dois polmeros conjugados: o politiofeno (PT) e um novo derivado de tiofeno, o

    Poli(9,9-dioctil-2,7-fluorenodiilvinileno-co-5,5-(benzo[1,2,5]tiadiazol-

    4,7diil)ditiofeno)(PFTBT). A deposio da camada ativa do primeiro polmero feita por

    eletroqumica e os dispositivos foram feitos em estutura monocamda, apresentando bons

    resultados para eficincia quntica externa. A fabricao de dispositivos fotodectores

    permitiu a aplicao tecnolgica dos dispositivos em matrizes de deteco posicional. As

    camadas ativas geradas pelo segundo polmero foram obtidas pelo processo de deposio

    por centrifugao de soluo. Os resultados fotovoltaicos so apresentados em trs

    estruturas diferentes: monocamada, bicamada e heterojuno de volume. Os dispositivos

    bicamada revelam-se mais eficintes que os de heterojuno. Uma das verificaes desta

    diferena est na estimativa para a taxa de xcitons gerados na camada ativa:este valor

    maior para o caso de heterojuno, no entanto, a probabilidade destas cargas se

    dissociarem menor quando comparada a dispositivos bicamada.

    Alguns nanocompsitos tambm foram estudados para a aplicao em

    fotovoltaicos: misturas de polmero conjugado com nanotubos de carbono e misturas de

    polmero conjugado com nanopartculas de ouro. No primeiro caso, dois polmeros foram

    estudados, o comerical Poli(3-hexil tiofeno) (P3HT) e o no-comercial Poli(9,9-di-

    hexilfluorenodiil-vinileno-alt-1,4-fenilenovinileno) (PDHFPPV). A interao entre os

    diferentes polmeros e os nanotubos de carbono so apresentadas em termos da

    caracterizao ptica e eltrica. A insero de nanopartculas de ouro na matriz do

  • polmero P3HT revela a diminuio de eficincia de foto-converso quando estes

    materiais so estudados como camadas ativas em dispositivos fotovoltaicos. Este fato

    pode estar associado dificuldade na transferncia de cargas das nanopartculas para o

    polmero, devido a este apresentar camada passivadora de dodecanotiis.

  • Abstract

    In this work, we present studies of electrodes and active layers in the development

    of organic solar cells. The tin oxide (SnO ) presents interesting features for application as 2transparent electrode: when deposited on a glass substrate to form thin film, presents

    semi-transparent to visible light spectrum and is capable of conducting electricity. The

    optimization of electrical characteristics is made by doping the oxide with fluorine. We

    present experimental results and theoretical characterization of the oxides without

    doping, moderate doping and high doping of fluorine.

    The organic photovoltaics have been characterized based on two conjugated

    polymers: the polythiophene (PT) and a new derivative of thiophene, the poly (9,9 '-

    dioctyl-2 ,7-fluorenedyilvinylene-co-5, 5'-(benzo [ 1,2,5] thiadiazole-4, 7dyil)

    dithiophene) (PFTBT). The deposition of the active layer of the first polymer is made by

    electrochemistry and the devices were made in monolayer structure, showing good results

    for external quantum efficiency. The fabrication of fotodetectors devices allowed the

    application of technological devices in arrays of positional detection. The active layers

    generated by the second polymer were obtained by chemical deposition. Photovoltaic

    results are presented in three different structures: monolayer, bilayer and bulk

    heterojunction. Bilayer devices appear more efficient than the bulk heterojunction. One

    of the findings of this difference is the estimate for the rate of excitons generated in the

    active layer: this value is larger for the heterojunction case, however, the probability to

    exciton dissociation in free charges is lower when compared to bilayer devices.

    Nanocomposites were also studied for application in photovoltaics: mixtures of

    conjugated polymer with carbon nanotubes and mixtures of conjugated polymer with

    gold nanoparticles. Two polymers were studied in the first case, the commercial Poly (3-

    hexyl thiophene) (P3HT) and non-commercial poly (9,9-di-hexilfluorenodiil-vinylene-

    alt-1 ,4-phenylenevinylene) (PDHFPPV). The interaction between different polymers and

    carbon nanotubes are presented in terms of optical and electrical characterization. The

    insertion of gold nanoparticles in a polymer matrix P3HT show the decrease in efficiency

    of photo-conversion when these materials are studied as active layers in photovoltaic

  • devices. This may be associated with difficulty in transferring charges from nanoparticles

    to the polymer, due to the passivating layer capping the nanoparticles.

  • Apresentao

    Atualmente o consumo de energia mundial em mdia de 13 terawatts (TW) de

    potncia. No ano de 2050, considerando o crescimento da populao mundial e a melhora

    da qualidade de vida em pases em desenvolvimento, espera-se que este consumo

    aumente para 30 TW. Se esta potncia gerada pela queima de combustveis fsseis, a

    concentrao de dixido de carbono na atmosfera ir mais do que duplicar causando um

    aquecimento global considervel, alm de outras conseqncias indesejveis. Um dos

    maiores desafios para os cientistas e engenheiros encontrar uma maneira de suprir esta

    necessidade mundial de 30 TW de potncia sem liberar CO2 na atmosfera. Embora isto

    seja possvel atravs da extrao de carbono juntamente aos combustveis fsseis ou com

    a expanso de usinas nucleares, extremamente relevante que se desenvolva fontes

    renovveis de energia. A incidncia de radiao solar em torno de 120000 TW sobre a

    superfcie terrestre, potncia mais do que suficiente se tecnologias eficientes forem

    desenvolvidas para o aproveitamento desta energia solar.

    As clulas solares convertem energia solar em eletricidade. Nos dias atuais,

    apenas uma pequena frao de energia gerada atravs destes sistemas, principalmente

    porque o custo de produo das clulas muito elevado. Mais de 95 % destas clulas so

    feitas de silcio cristalino (c-Si). A eficincia dos painis mais comuns de

    aproximadamente 25% e o custo de $350/m2 (aproximadamente R$700/m2). Em outras

    palavras, o custo destes painis de $3.50/W de eletricidade considerando-se uma

    incidncia mxima de radiao solar. Quando se acrescentam custos de instalao,

    suporte de painel, fiao e conversores de corrente eltrica, o preo aumenta

    aproximadamente para $6/W. Levando em conta o tempo de vida de um painel (em

    mdia 30 anos), o custo mdio de eletricidade gerada de $0.3/kW-hora. Para

    comparao, em grande parte dos Estados Unidos, a eletricidade custa em torno de

    $0.06/kW-hora. Assim, o custo para a produo de energia eltrica atravs de clulas

    solares em torno de cinco vezes maior. Se o custo de produo pudesse ser reduzido por

  • um fator de 10, a energia solar no seria apenas ecologicamente como tambm

    economicamente favorvel.

    Embora as clulas de silcio iro se tornar mais baratas em escala econmica, os

    processos de corte e polimento deste material sempre sero caros. Com isso,

    interessante que se encontre uma maneira mais barata e simples de fabricao de clulas

    solares. O mtodo de produo ideal seria a deposio de eletrodos padres e

    semicondutores em folhas de plsticos ou metais em mquinas semelhantes quelas

    utilizadas em filmes fotogrficos ou impresso de jornais. Desta maneira, as clulas no

    seriam apenas mais baratas como tambm poderiam ser diretamente incorporadas em

    telhados, reduzindo custos de instalao. Os semicondutores orgnicos, ou seja, os

    polmeros conjugados, que podem ser dissolvidos em solventes comuns e pulverizados ou

    pintados sobre substratos, so candidatos bem promissores para esta aplicao [1].

    Atualmente, a eficincia e a estabilidade de dispositivos orgnicos esto comprometidas

    devido a alguns fatores de degradao. As camadas orgnicas so sensveis ao ar e ao

    vapor dgua e este um parmetro crucial que deve ser levado em conta. O uso de

    materiais orgnicos de pureza elevada e o desenvolvimento de tcnicas de encapsulao

    (proteo principalmente contra oxignio) so exemplos de estudos que apresentam bons

    resultados.

    Clulas solares mais baratas tm sido desenvolvidas com semicondutores

    orgnicos e xidos condutores como eletrodos transparentes, veja, por exemplo, a

    referncia [2]. Os xidos condutores transparentes atualmente esto presentes em muitas

    aplicaes tecnolgicas alm das clulas solares, como eletrodos em dispositivos opto-

    eletrnicos, telas sensveis ao toque (touch screens), displays de cristal lquido, barreiras

    eletromagnticas, etc. Este tipo de material, que possui um alto valor de banda proibida,

    apresenta tambm boas caractersticas na parte infravermelha do espectro, sendo bons

    refletores nesta faixa, tornando possvel seu uso em porta de fornos, em janelas de baixa

    emissividade em prdios ou como painel solar para aquecimento de gua [3]. Em clulas

    orgnicas, o eletrodo mais comumente utilizado nesta proposta tm sido o xido de

    estanho dopado com ndio (ITO). Porm, estes filmes no so economicamente

    favorveis, pois so compostos por aproximadamente 90% de ndio e 10% de estanho,

  • um problema devido ao alto custo do ndio (em torno de 1.000 dlares por quilograma) e,

    alm disso, sua disponibilidade limitada. O custo tem sido elevado principalmente pela

    fabricao de painis de displays em grandes reas, e o valor do ndio hoje da ordem de

    dez vezes maior do que em 2003 [4]. Torna-se ento importante e economicamente

    necessrio o desenvolvimento e entendimento das propriedades de xidos alternativos

    que sejam transparentes e condutores. O elemento qumico flor apresenta baixo custo

    (em torno de 10 dlares por quilograma) e, quando utilizado como elemento dopante em

    xido de estanho (FTO), seus filmes finos exibem boas transparncias e condutividades

    se comparados aos filmes de ITO.

    Esta tese foi desenvolvida no perodo de maro de 2006 a maro de 2010 na

    Universidade Federal do Paran, no Laboratrio de Dispositivos Nano-estruturados

    (DiNE) sob o Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Cincia dos Materiais

    (PIPE). A bolsa de estudos foi subsidiada pela CAPES (Coordenao de

    Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior). Durante o perodo de 01 de novembro de

    2007 a 30 de junho de 2008, um estgio de doutoramento foi desenvolvido em

    Estocolmo, Sucia, sob a superviso de Dr. Clas Persson no Instituto Real de Tecnologia

    (KTH Kungliga Tekniska hgskolan). A bolsa de estudos foi sbsidiada pelo Instituto

    Sueco (SI Svenska institutet). O estgio deu origem a uma Licenciate Thesis sob o

    ttulo Electrical and Optical Properties of Thin Film SnO2 and SnO2:F Transparent

    Electrodes in Organic Photovoltaics. Os estudos foram baseados em anlises

    experimentais e tericas. Foram estudadas a influncia do dopante flor no xido de

    estanho nas propriedades estruturais, eltricas, pticas e morfolgicas, assim como suas

    consequncias. Os resultados foram publicados em dois artigos cientficos e so

    discutidos no Captulo 2 desta tese.

    O Captulo 1 descreve uma introduo geral sobre os polmeros conjugados e seu

    uso em clulas fotovoltaicas orgnicas. Os processos de caracterizao tambm so

    apresentados e do a base para a comparao de clulas feitas com diferentes materiais. O

    aumento em eficincia pode ser obtido pela otimizao da arquitetura da clula

    fotovoltaica, e as estruturas em bicamada e heterojuno so apresentadas.

  • No Captulo 3 so apresentados os resultados para dispositivos fotovoltaicos

    orgnicos onde as camadas ativas foram feitas base de dois polmeros: na sesso 3.1

    discutiremos as clulas feitas com o polmero politiofeno (PT) depositado por

    eletroqumica; na sesso 3.3 analisaremos um novo derivado de tiofeno depositado

    quimicamente, o Poli(9,9-dioctil-2,7-fluorenodiilvinileno-co-5,5-(benzo[1,2,5]tiadiazol-

    4,7diil)ditiofeno)(PFTBT), sintetizado no Laboratrio de Polmeros Paulo Scarpa

    (LaPPS) da Universidade Federal do Paran.

    No Captulo 4 discutido o uso de nanocompsitos em camadas ativas de

    dispositivos fotovoltaicos orgnicos. Estes compsitos so baseados em misturas de

    polmeros conjugados e materiais estruturados em escala nanomtrica: nanotubos de

    carbono e nanopartculas metlicas, especificamente, nanopartculas de ouro.

    O Captulo 5 traz algumas consideraes finais, sugestes para trabalhos futuros,

    artigos publicados originados pelo trabalho desenvolvido no doutorado, e os artigos

    publicados durante a formao acadmica, mas que no so discutidos nesta tese.

    Referncias [1] Chiatzun Goh and Michael D. McGehee. The Bridge National Academy of Engineering 35, Number 4, 2005. [2] Organic Photovoltaics: Mechanisms, Materials and Devices. Boca Raton/FL: CRC, 2005, v. 99, p. 502-524. [3] C. G. Granqvist, Sol. Energ. Mat. Sol. Cells 91 (2007) 1529. [4] V. Bhosle, J.T. Prater, F. Yang, D. Burk, S.R. Forrest, J. Narayan, J. Appl. Phys. 102 (2007) 023501.

  • ndice

    Captulo 1 Introduo............................................................................................31 1.1 Introduo geral...............................................................................................31

    1.2 Polmeros conjugados......................................................................................33

    1.3 Dispositivos fotovoltaicos orgnicos...............................................................54

    Caracterizao de dispositivos fotovoltaicos.............................................57

    Eficincia quntica externa (IPCE)...........................................................58

    Respostas espectrais simbticas e antibticas............................................59

    Tenso de circuito aberto (VOC) e corrente de curto circuito (ISC).............61

    Curvas caractersticas J V.......................................................................62

    Diagrama de circuito equivalente (DCE) para um dispositivo

    Fotovoltaico...............................................................................................65

    Dispositivos bicamada...............................................................................67

    Dispositivos heterojuno..........................................................................68

    1.4 Materiais Utilizados.........................................................................................69

    Captulo 2 - xido de Estanho Puro e Dopado com Flor..........................75 2.1 Propriedades gerais do SnO2............................................................................75

    2.2 Propriedades de filme fino...............................................................................85

    Tcnica de deposio: pirlise de spray.....................................................85

    Resistncia de filme...................................................................................86

    2.3 xido de estanho dopado com flor SnO2:F................................................88

    Influncia do dopante F nas propriedades pticas, eltricas e

    estruturais...................................................................................................88

    Procedimentos experimentais....................................................................88

    Resultados e discusses.............................................................................90

    Concluses...........................................................................................................101

    Referncias...........................................................................................................102

  • Captulo 3 - Dispositivos Fotovoltaicos Orgnicos........................................105 3.1 Dispositivos fotovoltaicos em estrutura monocamada baseados em politiofeno

    sintetizado eletroquimicamente.......................................................................................105

    Procedimentos experimentais..................................................................106

    Resulatados e discusses..........................................................................108

    3.2 Aplicao tecnolgica: matriz passiva orgnica...........................................117

    3.3 Dispositivos fotovoltaicos baseados em um novo derivado de tiofeno

    (PFTBT)...............................................................................................................122

    Resultados e discusses...........................................................................123

    Dispositivos monocamda: FTO/PEDOT/PFTBT/Al...............................124

    Dispositivos bicamada: FTO/PEDOT/PFTBT/C60/Al...........................129

    Dispositivos heterojuno: FTO/PEDOT/PFTBT:PCBM/Al ...............137

    Concluses.............................................................................................148

    Referncias.............................................................................................149

    Captulo 4 - Nanocompsitos 4.1 Nanotubos de carbono....................................................................................153

    4.2 Nanocompsitos de polmeros conjugados e nanotubos de carbono.............157

    Nanocompsito: MWNT e P3HT............................................................158

    Nanocompsito: MWNT e PDHFPPV....................................................164

    4.3 Nanopartculas metlicas...............................................................................167

    Nanocompsitos: P3HT + AuNPs...........................................................172

    Concluses...............................................................................................176

    Referncias...............................................................................................178

    Captulo 5 Consideraes finais.......................................................................181Apndice 1.......................................................................................................................185

    Apndice 2.......................................................................................................................195

  • 31

    Captulo 1

    Introduo

    1.1 Introduo geral

    A estrutura molecular de um polmero consiste em uma cadeia composta por

    vrias pequenas unidades repetitivas, ou meros, unidas por ligaes covalentes. O nome

    da estrutura de origem grega polumeres, que quer dizer muitas partes.

    Durante muitos anos, sistemas polimricos tm sido utilizados em diferentes

    aplicaes devido a sua fcil processabilidade, baixo peso, estabilidade mecnica e

    principalmente sua caracterstica isolante. Vrios tipos de materiais polimricos esto

    presentes na vida cotidiana, como os plsticos, adesivos, borrachas, tintas, etc. Porm, o

    conceito de que polmeros apresentam somente comportamento eltrico isolante mudou

    em 1977, quando H. Shirakawa e seus colaboradores descobriram que o polmero

    poliacetileno, quando dopado com iodo, passava a conduzir eletricidade [1]. Este trabalho

    rendeu o prmio Nobel em Qumica em 2000 e iniciou um novo campo em pesquisas

    cientficas: polmeros condutores, tambm chamados metais sintticos (dentro da

    grande classe de materiais orgnicos, isto , baseada principalmente em carbono). A

    possibilidade de combinar as propriedades mecnicas dos polmeros com propriedades

    eltricas dos condutores despertou grande interesse na rea cientfica e tecnolgica. A

    condutividade eltrica dos polmeros varia de isolante (< 10-10 S/cm) metlica ( 103

    S/cm) permitindo assim, as mais variadas aplicaes [2].

    Em termos de converso de energia, as propriedades semicondutoras dos

    polmeros tornam-se interessantes para a aplicao destes materiais em clulas solares. A

    figura 1.1 mostra o espectro da radiao solar que atinge a superfcie da Terra para o caso

    do Sol no znite (altura = 90 ) (curva inferior), juntamente com o espectro da radiao

    solar incidente no topo da atmosfera (curva superior). Nota-se que a faixa do espectro de

    maior emisso encontra-se na luz visvel, entre 500 750 nm. Assim, a sntese de

    materiais que apresentem um valor de energia proibida nesta regio (1,6 2,5 eV,

  • Captulo 1

    32

    aproximadamente) interessante para a fabricao de clulas fotovoltaicas com o um

    melhor aproveitamento da luz solar.

    Figura 1.1 Espectro da radiao solar no topo da atmosfera (curva superior) e ao nvel do mar

    (curva inferior), para atmosfera mdia e Sol no znite [3].

    As primeiras clulas solares orgnicas feitas em estrutura bicamada com a

    utilizao de dois polmeros conjugados foram publicadas em 1986 por C.W Tang [36]. E

    em 1993, N. S. Sariciftci e colaboradores apresentaram a utilizao de fulereno para o

    aumento significativo de eficincia das clulas [38]. Outras arquiteturas esto sendo

    desenvolvidas, como por exemplo, estrutura tandem [4], estrutura de heterojuno de

    volume invertida [5] e estrutura dobrada [6].

    Atualmente, as clulas solares orgnicas tm sido construdas com polmeros

    conjugados e combinao com outros materiais apresentando eficincias maiores que 5%

    para converso de potncia. Para comparao, as clulas solares inorgnicas feitas com

    silcio cristalino apresentam, atualmente, eficincias em torno de 25%. Estes valores

    podem ser encontrados na referncia [35] e tambm comparados com outros processos e

    materiais utilizados na fabricao de clulas solares.

    Topo da atmosfera

    Absoro

  • Introduo

    33

    Este Captulo divide-se em 4 sesses: na sesso 1.2, iremos mostrar como se

    tornou possvel a utilizao dos polmeros na eletrnica orgnica com a descoberta de seu

    comportamento semicondutor. Sero apresentados aspectos gerais, como o conceito de

    quasi-partculas, xcitons, processos de absoro e fotoluminescncia, transporte de

    cargas em materiais desordenados, e a discusso da interface metal/semicondutor. Na

    sesso 1.3 introduziremos os conceitos e definies das grandezas relevantes para um

    dispositivo fotovoltaico orgnico, bem como seu princpio de funcionamento e

    caracterizao. Algumas consideraes so feitas para dispositivos tendo a camada ativa

    em estrutura bicamada e em estrutura de heterojuno de volume. Na sesso 1.4

    apresentaremos os materiais utilizados no desenvolvimento do trabalho desta tese.

    1.2 Polmeros conjugados

    Os polmeros condutores pertencem classe dos polmeros conjugados, onde a

    caracterstica principal a alternncia de ligaes simples e duplas entre tomos

    consecutivos de carbono ao longo de toda a cadeia. A figura 1.2 mostra trs exemplos de

    polmeros conjugados.

    O estado fundamental eletrnico do carbono 1s2 2s2 2p2. Os eltrons de valncia

    hibridizam como consequncia da excitao eletrnica de um ou mais eltrons 2s com o

    orbital 2p levando a trs diferentes estados de hibridizao: sp3, sp2 or sp. O mais comum

    o sp3 onde todos os eltrons de valncia participam de ligaes covalentes simples.

    Nesta configurao o tomo de carbono possui quatro tomos vizinhos (por exemplo, o

    metano) e as ligaes so denominadas como ligaes . Estas ligaes so

    responsveis pela dureza caracterstica do diamante.

    Em polmeros conjugados, a configurao de menor energia aquela onde os

    tomos de carbono possuem trs orbitais hbridos sp2 (trs eltrons em ligaes ) e um

    orbital remanescente pz perpendicular ao plano que contm os trs orbitais sp2. A

    sobreposio entre dois orbitais pz adjacentes leva a uma ligao . Esta ligao mais

    fraca que a ligao , encontrada, por exemplo, no grafite.

  • Captulo 1

    34

    Figura 1.2 Exemplos de polmeros conjugados: Poliacetileno (a), Politiofeno (b) e Poli (p-

    fenileno vinileno) (c). Na figura, S simboliza tomos de enxofre.

    A sobreposio construtiva das funes de onda dos orbitais que participam das

    ligaes qumicas produz um orbital molecular ligante e a sobreposio destrutiva

    produz um orbital molecular anti-ligante (o smbolo * ir denotar ligaes anti-

    ligantes). O orbital ligante no estado fundamental ocupado por dois eltrons, enquanto o

    anti-ligante permance vazio. A figura 1.3 mostra os estados de energia em um diagrama

    de orbital molecular de uma ligao dupla entre dois carbonos. Nota-se que a diferena de

    energia entre orbitais e * menor do que a diferena de energia os orbitais e *,

    indicando que ligaes so mais fracas que ligaes .

    Figura 1.3 Nveis de energia de um diagrama de orbital molecular em uma ligao dupla entre carbonos. A diferena de energia entre estados ligante e anti-ligante (*) menor em uma ligao

    comparada a uma ligao .

    (a)

    (b)

    (c)

    C ligao dupla ligao simples

    *

    *

    sp2 sp2

    pz

    Ene

    rgia

  • Introduo

    35

    A molcula de benzeno o sistema conjugado mais simples, composta por trs

    ligaes simples e trs ligaes duplas (ver figura 1.4a). Os eltrons encontram-se

    delocalizados no anel aromtico por fazerem parte de ligaes mais fracas, ao contrrio

    dos eltrons localizados entre dois tomos de carbono (estado fundamental). A

    interao entre orbitais produz uma distribuio de estados eletrnicos, similares a uma

    estrutura de banda (figura 1.4a). O orbital molecular mais alto ocupado (HOMO highest

    occupied molecular orbital) est relacionado ao estado ligante e o orbital molecular

    mais baixo desocupado (LUMO lowest unoccupied molecular orbital) est relacionado

    ao estado anti-ligante *.

    Em uma cadeia polimrica infinita, as interaes entre orbitais levam a uma

    total delocalizao do eltron na cadeia. Desta maneira, os nveis de energia iro aparecer

    em uma distribuio quase contnua de estados e o resultado da interao entre o sistema

    produz um diagrama contnuo de bandas. As interaes entre orbitais ligantes

    (ocupados) equivalem banda de valncia e as interaes entre orbitais * anti-ligantes

    (desocupados) equivalem banda de conduo. Este sistema pode ser visualizado por

    uma cadeia infinita do polmero poli (p-fenileno vinileno) (PPV) mostrado na figura 1.4b.

    A diferena entre o HOMO e o LUMO fornece a energia de banda proibida do

    material (Eg1). Em semicondutores slidos, a energia de banda proibida definida como a

    diferena de energia entre o mximo da banda de valncia (VBM) e o mnimo da banda

    de conduo (CBM). Na maioria dos polmeros conjugados esta diferena em torno de

    1,5 e 3,5 eV (maior do que a excitao trmica kBT, a qual em torno de 25 meV

    temperatura ambiente) e desta forma, estes polmeros so frequentemente chamados de

    semicondutores orgnicos [7].

    1 A representao da energia de banda proibida por Eg ser utilizada por questes convencionais. A letra g vem do ingls gap.

  • Captulo 1

    36

    Figura 1.4 Diagrama de energia para a molcula de benzeno (a). A interao entre os orbitais

    produz uma distribuio de estados eletrnicos que se assemelham uma estrutura de banda:

    HOMO, orbital mais alto ocupado e LUMO, orbital mais baixo desocupado; idealizao de uma

    cadeia infinita de PPV. Orbitais ligantes geram a banda de valnica e os orbitais * anti-ligantes

    geram a banda de conduo (b).

    importante enfatizar que o sistema de bandas contnuas uma aproximao para

    cadeias polimricas idealizadas, onde efeitos de fronteiras e defeitos configuracionais so

    negligenciados. Diferentemente de sistemas inorgnicos, cristalinos e peridicos, os

    polmeros conjugados podem apresentar diferentes comprimentos das cadeias e diferentes

    comprimentos de conjugao efetiva, alm da morfologia desorganizada (slidos

    amorfos). Eventualmente poder haver o agrupamento de segmentos conjugados levando

    a uma interao entre os eltrons em diferentes regies do polmero, causando uma

    alterao nos nveis eletrnicos. Quanto maior o comprimento de conjugao, maior a

    proximidade dos nveis de energia e, portanto, menor o valor de energia de banda

    proibida. De maneira anloga, quanto menor o comprimento de conjugao, maior a

    localizao dos estados energticos e maior ser o valor de banda proibida [8]. Assim, em

    um sistema conjugado real, teremos uma distribuio de valores de energia de banda

    proibida relacionada distribuio de comprimentos de conjugao ao longo da cadeia.

    Esta situao pode ser visualizada pela figura 1.5 que mostra uma cadeia polimrica com

    diferentes comprimentos conjugados (fig. 1.5.a) associada respectiva distribuio de

    energias de banda proibida (fig. 1.5.b) representadas por Eg.

    HOMO ()

    LUMO (*)

    pz

    sp2 sp2

    pz

    LUMO (*)

    HOMO ()

    n

    (a) (b)

  • Introduo

    37

    Figura 1.5 Representao esquemtica de uma cadeia polimrica com diferentes comprimentos

    de conjugao (a) e sua respectiva distribuio de energias de banda proibida (b).

    Alguns estados energticos podero aparecer dentro da banda proibida devido a

    relaxaes das cadeias, injeo ou extrao de cargas junto a defeitos estruturais. Estes

    recebem o nome de quasi-partculas e sero vistos a seguir.

    Quasi-partculas

    Em cadeias conjugadas, a energia total do sistema no estado fundamental diminui

    devido relaxao. A energia da banda ocupada (HOMO) para uma cadeia com alterao

    de ligaes duplas e simples menor comparada a uma cadeia linear, refletindo em um

    ganho de energia. Esta estrutura alternada contra-balanceada pelo aumento da energia

    elstica causada pelo deslocamento dos tomos de carbono, resultando em uma situao

    de equilbrio, na qual a energia total do sistema minimizada. Assim, podemos dizer que

    a estrutura mais estvel de uma cadeia polimrica conjugada a estrutura relaxada.

    d1 d2 d3

    (a)

    Eg1 Eg2 Eg3 (b) Eg2 > Eg1 > Eg3

    Segmento no conjugado

    Segmento conjugado

  • Captulo 1

    38

    Tomemos como exemplo a cadeia de poliacetileno, composta por tomos de

    carbono alternados por ligaes duplas e simples. Esta estrutura existe em duas formas

    conformacionais diferentes, trans e cis-poliacetileno. O trans-poliacetileno possui um

    estado fundamental degenerado, ou seja, dois estados conformacionais que levam

    mesma energia do estado fundamental. O cis-poliacetileno apresenta dois estados

    fundamentais no-degenerados: quinoide e aromtico (figura 1.6). As quasi-

    partculas formadas nos estados excitados dependem da geometria do polmero em seu

    estado fundamental [9].

    Figura 1.6 Representao de duas geometrias conformacionais para o poliacetileno: trans-

    poli(acetileno) com duas formas degeneradas A e B ( esquerda) e cis-poli(acetileno) com duas

    formas no-degeneradas, quinide e aromtico ( direita). [255]

    Na geometria trans, as ligaes duplas e simples podem ser permutadas (formas A

    e B) sem que haja alterao na energia do estado fundamental, o que no verdade para a

    geometria cis, onde a configurao aromtica possui menor energia comparada

    quinoide. Em consequncia do processo de sntese, por exemplo, eventualmente as

    formas A e B podero coexistir em uma mesma cadeia de trans-poliacetileno.

    Aproximando-se as formas A e B, uma regio de transio de fase ir ocorrer,

    caracterizada pelo defeito aparente das ligaes alternadas (fig 1.7). Este defeito,

    chamado sliton neutro, cria um estado no-ligante no centro da banda proibida, como

    mostra a figura 1.8b. Duas outras situaes podem ocorrer pela insero ou retirada de

    um eltron gerando combinaes de carga e spin: sliton positivo (fig.1.8a) e sliton

    negativo (fig.1.8c).

    A

    B

    trans-

    ou

    cis-

    quinide

    aromtico

  • Introduo

    39

    Figura 1.7 Criao de um sliton neutro em uma cadeida de poliacetileno devido a defeitos

    estruturais.

    O sliton uma quasi-partcula que corresponde a ondas solitrias, similares aos

    ftons para ondas eletromagnticas ou fnons para ondas sonoras [9]. Ondas solitrias

    possuem propriedades especiais, como por exemplo, a propagao sem distoro e

    dissipao de energia. Um sliton em uma cadeia de poliacetileno livre para se mover,

    pois a energia total do sistema independe de sua posio.

    Figura 1.8 Diagrama de bandas para slitons positivo (a), neutro (b) e negativo (c) com os

    valores de carga e spin.

    A maioria dos polmeros conjugados possuem estados fundamentais aromticos

    no-degenerados com uma estrutura quinoide de mais alta energia, como por exemplo o

    politiofeno. Pela insero de cargas extras nestes polmeros (injeo de carga, dopagem),

    defeitos quinoidais so criados. Estes defeitos, denominados de plarons (fig 1.9a) so

    +

    sliton neutro

    sliton positivo sliton neutro sliton negativo

    q = e S = 0

    q = 0 S = 1/2

    q = - e S = 0

    (a) (b) (c)

  • Captulo 1

    40

    considerados como espcies carregadas auto-localizadas devido relaxao geomtrica

    das ligaes em um nmero limitado de unidades de monmeros. Com o aumento do

    nvel de dopagem, dois plarons em uma nica cadeia podem coalescer em um

    biplaron criando uma deformao duplamente carregada em um sistema conjugado

    (fig 1.9b) [10].

    Figura 1.9 Ilustrao esquemtica para um plaron positivo (a) e um biplaron positivo (b) em

    uma cadeia de politiofeno.

    Em resumo, um sliton caracterizado por um estado no centro da banda proibida

    e um plaron caracterizado por dois estados dentro da banda proibida. Estes dois

    estados so nveis ligantes e anti-ligantes que resultam da hibridizao de dois estados

    slitons de um plaron. A ocupao destes estados pode se dar por zero, um ou dois

    eltrons. Alm das excitaes carregadas (slitons, plarons e biplarons), excitaes

    neutras podem ocorrer em polmeros conjugados, como por exemplo, dois plarons de

    sinais opostos gerando xcitons-plarons. Os xcitons podem ser singletos, quando os

    spins das cargas constituintes estiverem emparelhados, ou tripletos, quando os spins

    encontram-se desemparelhados. As representaes em nveis de banda de energia para

    estas quasi-partculas esto representadas pela figura 1.10.

    S

    S

    S

    S

    +

    + +

    (a)

    (b)SS

    S

    S

  • Introduo

    41

    Figura 1.10 Diagramas de banda esquemticos representando as quasi-partculas

    plarons e biplarons com suas respectivas relaes de carga e spin.

    xcitons

    O conceito de xcitons bem conhecido no campo de semicondutores e cristais

    moleculares, mas tem sido assunto de contnua discusso no campo dos polmeros

    conjugados. Podemos definir dois casos limites: em semicondutores inorgnicos o

    xciton definido como um par eltron-buraco ligado pela atrao de Coulomb, e ento

    denominado xciton Mott-Wannier [11,12]. A distncia entre eltron e buraco muito

    maior que o espaamento entre cada clula unitria e a anergia de ligao tipicamente

    da ordem de 0,1 eV. Neste caso, o par encontra-se delocalizado no cristal. Em sistemas

    orgnicos, os quais apresentam baixos valores para a constante dieltrica, a interao de

    Coulomb entre o eltron e o buraco torna-se muito forte e os xcitons tendem a ser

    menores, da mesma ordem de uma clula unitria (neste caso, uma unidade molecular). A

    energia de ligao pode variar de alguns kT (energia de excitao trmica, para

    temperatura ambiente ~ 25 meV) [13] at valores da ordem de 1,5 eV [14]. Estes so

    chamados xcitons moleculares ou xcitons Frenkel e localizam-se geralmente em uma

    unidade molecular [15,16].

    Os pares eltron-buraco podem ser considerados como xcitons Frenkel se o par

    estiver localizado em uma unidade molecular, e xcitons Mott-Wannier se estes se

    plaron positivo plaron negativo

    q = +2e S = 0

    q = +e S = 1/2

    q = - e S = 1/2

    q = - 2e S = 0

    biplaron negativo biplaron positivo

  • Captulo 1

    42

    estenderem em algumas unidades moleculares [17]. Nos casos intermedirios, em que os

    xcitons encontram-se sobre poucas unidades adjacentes, podem ser denominados de

    xcitons de transferncia de cargas[18]. A figura 1.11 mostra os trs tipos de xcitons

    descritos acima. Em polmeros conjugados, os xcitons so muito importantes nos

    processos de luminescncia e foto-gerao de portadores de cargas como ser visto na

    prxima sesso.

    Figura 1.11 Representao esquemtica de trs tipos de xcitons: xciton Frenkel (a), xciton

    ntermedirio (b), tambm chamado de xciton de transferncia de carga e xciton Mott-

    Wannier (c). Os crculos representam as unidades moleculares.

    Absoro e Fotoluminescncia

    O processo de absoro devido a transies eletrnicas ocorre quando um eltron

    em um estado energtico excitado por um fton incidente e ocupa um estado de maior

    energia. O xciton criado pode difundir atravs do semicondutor, separar-se em cargas

    livres ou recombinar de maneira no-radiativa ou de maneira radiativa, ou seja, emitindo

    um fton de menor energia. Este ltimo processo chamado de fotoluminescncia.

    Devido ao sistema conjugado, os polmeros semicondutores geralmente

    apresentam forte fotoluminescncia originada da foto-excitao de eltrons do nvel

    HOMO para o nvel LUMO. Os espectros de absoro e emisso apresentam

    caractersticas distintas na regio do espectro visvel, indicando que os polmeros

    conjugados apresentam-se coloridos. A intensidade de luz absorvida e emitida depende

    da energia de banda proibida do material, sendo que as emisses de colorao vermelha

    + - +

    -

    - (a) (b) (c)

  • Introduo

    43

    correspondem a materiais com valores baixos de energia de banda proibida, em torno de

    1,9 eV, e os materiais que emitem em regies que tendem para o azul, possuem altos

    valores de banda proibida.

    Quando um fotn absorvido produzindo a excitao de um eltron, ocorre uma

    relaxao geomtrica na cadeia polimrica (em menos de um picossegundo), similar com

    o que ocorre na formao de plarons discutida anteriormente. A recombinao radiativa

    do eltron com um buraco produz espectros de fotoluminescncia semelhantes ao

    mostrado na figura 1.12a juntamente com o espectro de absoro. Os espectros de

    absoro e emisso em sistemas conjugados so, em sua maioria, espelhos um do outro

    (como mostrado na figura 1.12a) e este fato est relacionado com seus estados vibrnicos

    e as respectivas transies, como ser visto a seguir.

    Para descrever os estados eletrnicos de uma molcula utiliza-se curvas de

    potencial em funo da coordenada de configurao, similares s de osciladores

    harmnicos, com estados vibracionais representados por m correspondentes aos

    diferentes valores de energia (veja figura 1.12b). No caso dos polmeros conjugados,

    estas vibraes so produzidas pelos tomos de carbono em ligaes duplas.

    As transies eletrnicas entre diferentes nveis seguem o princpio de Frank-

    Condon, o qual descreve que estas ocorrem mais rpido do que qualquer mudana das

    posies atmicas. A figura 1.12b representa o estado fundamental (S0) e excitado (S1)

    para um polmero conjugado em funo da coordenada de configurao, e as diferentes

    transies vibrnicas para absoro e emisso so representadas por setas entre os nveis

    vibrnicos. As transies com maiores probabilidades iro representar os picos mximos

    ou ombros nos espectros de absoro e emisso.

  • Captulo 1

    44

    Figura 1.12 Espectro de absoro e emisso para um polmero conjugado com as transies

    (mostradas em (b) ) marcadas nos picos e ombros dos respectivos espectros (a). Transies

    pticas entre nveis de energia vibracionais em uma molcula conjugada (b). Ao lado esquerdo

    encontra-se o processo de absoro e ao lado direito, o processo de emisso.

    m=3 m=2

    m=1 m=0

    m=3 m=2

    m=1 m=0

    m=3 m=2

    m=1 m=0

    m=3 m=2

    m=1 m=0

    S1m S1m

    S0m S0m Ener

    gia

    Coordenada Configuracional

    (b)

    Absoro Fotoluminiscncia

    1200 SS 1100 SS

    1000 SS

    0010 SS

    0110 SS

    0210 SS

    450 500 550 600 650 700 750 Comprimento de onda (nm)

    (a)

  • Introduo

    45

    A absoro ocorre do estado fundamental S00 para qualquer estado excitado

    vibracional S1m. Este processo seguido por decaimentos no-radiativos muito rpidos

    (~ 100 fs) at o nvel vibracional S11 do estado excitado. Finalmente, a emisso ir

    ocorrer pela relaxao do nvel mais baixo excitado S10 para qualquer nvel do estado

    vibracional fundamental (S0m). O tempo de vida de um eltron em um estado vibrnico

    S10 da ordem de 0,1 1 ns para polmeros [19].

    As simetrias exibidas entre transies vibracionais na absoro e na emisso

    levam ento a uma imagem espelhada entre os dois espectros. As diferentes transies

    iro, consequentemente, dar origem a uma estrutura vibrnica em ambos espectros de

    absoro e emisso. No entanto, o espectro de emisso demonstra uma caracterstica

    vibracional mais pronunciada (figura 1.12a). Isto pode ser explicado pela distribuio

    mais estreita de estados excitados da geometria molecular comparada com a configurao

    no estado fundamental, isto , somente segmentos conjugados mais longos iro contribuir

    para a emisso, enquanto que a maioria dos segmentos participam na absoro [20].

    Os materiais luminescentes normalmente apresentam um deslocamento em

    energia entre a transio do nvel mais baixo em absoro, resultante da transio S00 para

    S10, e o mais alto nvel de transio em emisso, ou seja, S10 para S00. Este deslocamento

    devido relaxao conformacional molecular e conhecido como o deslocamento de

    Stokes [7]. Os polmeros apresentam uma estrutura mais quinoidal em estados excitados,

    a qual reduz o ngulo de torso entre os anis gerando uma planarizao das cadeias.

    Como no estado fundamental as cadeias so mais flexveis, vrios estados

    conformacionais so possveis e, assim, um alargamento de transies observado nos

    espectros de absoro, as quais podem mascarar os modos vibracionais. Outras possveis

    causas para o deslocamento de Stokes nos polmeros conjugados so o transporte de

    xcitons em segmentos com energia mais baixa e diferentes transies eletrnicas na

    absoro e emisso.

    Os processos de decaimento dos xcitons podem ocorrer em vrias rotas. Alm

    das transies radiativas, podero ocorrer transies no-radiativas, que fornecem energia

    na forma de toro e vibrao molecular. As transies de decaimento esto sujeitas a

    regras de seleo, correspondentes aos estados singletos e tripletos, dependendo da

  • Captulo 1

    46

    paridade dos eltrons que formam os xcitons. No processo de decaimento dentro de um

    estado singleto, o eltron voltar rapidamente para o estado de energia mais baixa de

    forma no-radiataiva at chegar no estado em que seja permitida a transio radiativa.

    Este processo denominado como converso interna (CI).

    O decaimento poder tambm ocorrer via estado tripleto atravs do cruzamento

    inter-sistema (CIS). Eventualmente, a transio direta dos estados singleto excitado e

    fundamental proibida pela combinao de spins, o que significa dizer que o sistema ir

    para um estado tripleto de menor energia e far outras converses internas at que seja

    possvel ir para o estado fundamental de menor energia (figura 1.13). Este processo

    responsvel pela fosforescncia dos materiais e devido a estas transies extras, o xciton

    tripleto tem um tempo de vida maior que o xciton singleto.

    Figura 1.13 Transies pticas indicando o estado singleto fundamental (S0) e os estados

    excitados singleto S1 e S2, e os tripletos T1 e T2. As transies ocorrem atravs de converses

    internas no-radiativas (CI) e cruzamentos inter-sistema (CIS) gerando emisso radiativa em um

    processo mais longo.

    S0

    Abs.

    CIS

    CI S2

    S1 T2

    T1

    CI

    CIS

  • Introduo

    47

    Transporte de cargas

    Em materiais eletrnicos cristalinos (metais, semicondutores), a conduo eltrica

    diferente daquela de materiais amorfos como os polmeros. Os eltrons em uma rede

    cristalina esto livres e se movem em um potencial peridico, sendo conhecidos como

    eltrons Bloch. Estes eltrons possuem estados estacionrios como conseqncia da

    periodicidade do potencial e so estendidos, delocalizados em todo o cristal [21].

    Em semicondutores orgnicos amorfos, estados localizados distribudos de forma

    randmica surgem devido ao potencial no qual o eltron se move ser desordenado [22]. O

    transporte de eltrons entre estes estados localizados feito atravs do tunelamento

    quntico assistido por fnons2, conhecido por hopping [23]. A figura 1.14 mostra um

    diagrama esquemtico de uma estrutura de bandas com estados localizados na banda

    proibida, distribudos randomicamente em espao e em energia. O nvel de energia de

    Fermi se encontra no centro da banda proibida, os estados abaixo deste nvel esto

    ocupados e os estados acima deste nvel esto vazios. Os eltrons iro tunelar de stios

    ocupados para stios vazios, na maioria das vezes para stios de mais alta energia, com a

    ajuda de fnons.

    Figura 1.14 Esquema de nveis eletrnicos de um slido desordenado para demonstrar a

    condutividade por hopping. Ef: Energia de Fermi, R: distncia espacial entre os estados,

    W: distncia energtica entre os estados.

    2 Fnon: um quantum de vibrao da rede em um slido

  • Captulo 1

    48

    A dependncia da condutividade por hopping com a temperatura explicada pela

    teoria VRH3 . Em altas temperaturas, mais fnons esto disponveis para assistir uma

    transio para nveis de mais alta energia. Quando a temperatura diminui, menos fnons

    esto disponveis e estados energeticamente acessveis tornam-se raros diminuindo a

    probabilidade de tunelamento e, assim, diminuindo a condutividade. Consequentemente,

    a distncia mdia para uma transio por hopping diminui. Como a probabilidade de

    tunelamento diminui exponencialmente com a distncia, a condutividade tambm

    diminui.

    A expresso da condutividade em funo da temperatura dada por:

    onde d a dimenso do sistema onde o processo de hopping ocorre (1=unidimensional,

    2=bidimensional,etc), 0 est relacionado com a distncia mdia de hopping, a densidade

    eletrnica de estados no nvel de energia de Fermi e a frequncia de fnon. A temperatura

    caracterstica T0 est relacionada com o inverso do comprimento de localizao e a

    densidade eletrnica de estados no nvel de Fermi.

    Interface Metal / Semicondutor

    Como visto anteriormente, os polmeros conjugados so considerados como

    semicondutores orgnicos e geralmente apresentam mobilidade de portadores de carga

    maior para buracos do que para eltrons. Neste caso, so considerados como

    semicondutores tipo p. Na construo de clulas fotovoltaicas, o matarial orgnico

    encontra-se em contato com dois eletrodos, sendo um deles mtalico. O tipo de interface

    formada entre o metal e o polmero muito importante para a determinao dos

    3 VRH: Variable range hopping

    =

    +d

    TTT

    11

    00 exp)( (1.1)

  • Introduo

    49

    processos de injeo e transporte de cargas em dispositivos opto-eletrnicos e depende

    dos nveis de energia dos materiais.

    O nvel de Fermi (Ef) definido como a energia do nvel mais alto ocupado por

    um estado quntico. Nos metais este nvel localiza-se no centro da banda de conduo, e

    em semicondutores no-dopados este nvel localiza-se no centro da banda proibida. A

    funo trabalho () definida como a energia necessria para se arrancar um eltron e

    seu valor a diferena entre o nvel de Fermi e o nvel de vcuo no diagrama de bandas.

    Quando um metal entra em contato com um semicondutor, ocorre um balano de cargas

    de um material para o outro at que os nveis de Fermi se igualem no equilbrio trmico.

    Quando a funo trabalho do metal (m) menor que a funo trabalho do polmero (p),

    ocorrer a transferncia de eltrons do metal para o semicondutor, criando um acmulo

    de cargas negativas no polmero e cargas positivas no metal prximo interface. Estas

    regies so denominadas de regies de carga espacial. A curvatura de banda devido a

    este fenmeno cria a chamada zona de depleo, definida pela distncia do incio da

    curvatura at interface e possui largura W (em dispositivos feitos com filmes finos, a

    camada de depleo eventualmente possui a mesma largura que a espessura do filme).

    Esta situao est representada na figura 1.15a e o tipo de contato formado neste caso

    dito bloqueador (retificador) formando uma barreira para injeo de cargas positivas no

    semicondutor. Esta barreira energtica conhecida como barreira Schottky e dada

    pela diferena de energia entre a funo trabalho do metal e a afinidade eletrnica do

    semicondutor ( diferena de energia entre o HOMO e o nvel de vcuo) . Para um

    semicondutor tipo p a altura de barreira dada por [24]:

    )( = mgb E (1.2)

    onde b a altura da barreira Schottky, Eg a energia de banda proibida e a afinidade

    eletrnica. Em semicondutores com baixa mobilidade, como no caso dos orgnicos, a

    expresso dada para a corrente eltrica limitada pelo contato descrita pela equao da

    emisso termoinica sobre a barreira de potencial, considerando efeitos de difuso de

    portadores, onde o transporte de cargas dado por [25]:

  • Captulo 1

    50

    = 1expexp2*Tk

    qVTk

    qTAJBB

    (1.3)

    onde J a densidade de corrente, A* a constante efetiva de Richardson, T a

    temperatura absoluta, q a carga eltrica elementar, kB a constante de Boltzman e V a

    tenso aplicada.

    Figura 1.15 Diagrama de nveis de energia para a interface metal/semicondutor. A situao

    representada em (a) indica a formao de um contato retificador, com o aparecomento da barreira

    Schottky. Em (b) a situao representada para a formao de um contato hmico.

    Na situao em que a funo trabalho do metal maior que funo trabalho do

    polmero, haver a transferncia de eltrons do semicondutor para o metal, levando a um

    aumento de portadores positivos no polmero prximo interface de contato, como

    representado na figura 1.15b. A regio com acmlo de portadores positivos no polmero

    recebe o nome de regio de acumulao e neste caso o contato dito hmico, por no

    apresentar barreiras para injeo de cargas na interface. O eletrodo tambm considerado

    hmico se apresentar barreiras de potencial inferiores a 0,3 eV [26] no semicondutor e

    contato

    contato

    n.v

    m p

    pm <

    FE

    n.v

    m p

    pm >

    FE

    + + +

    FE - - FE W

    METAL POLMERO

    - - - -

    - - - -

    FE + FE W

    METAL POLMERO

    (a)

    (b)

    HOMO

    LUMO

    -

  • Introduo

    51

    garantir injeo de cargas suficiente para alcanar o regime de corrente limitada por

    carga espacial (descrito em breve) a altos campos.

    No processo de injeo de cargas do metal para o polmero, ocorrer,

    eventualmente, o acmulo de cargas espalhado no volume do semicondutor, por este

    apresentar baixa mobilidade. Assim, o eletrodo fornece mais corrente do que o

    semicondutor pode transportar e a corrente dita limitada por carga espacial. Se

    considerarmos um semicondutor sem armadilhas, ou seja, stios com energia mais baixa

    capazes de capturar uma carga (ex., tomos de oxignio), a corrente total em funo da

    tenso aplicada dada por [27,28]:

    onde p0 a densidade de portadores livres gerados termicamente, a mobilidade, d a

    espessura do semicondutor, a constante dieltrica do semicondutor.

    Enquanto a densidade de portadores livres termicamente gerados dominante, a

    corrente segue a lei de Ohm. No caso contrrio, a corrente aumenta com o quadrado da

    tenso aplicada de acordo com o segundo termo da equao 1.4. Este termo conhecido

    como a equao de Mott e Gurney para correntes limitadas por carga espacial livre de

    armadilhas. A transio do regime hmico para o regime de carga espacial ocorre de

    maneira suave neste caso.

    Se o material apresentar armadilhas rasas (baixo potencial), o tempo de

    residncia na armadilha inferior ao tempo de