DISSERTA O-CARLOS ANTONIO DE SOUZA...
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REALIDADE VIRTUAL APLICADA A FORMAÇÃO INICIAL E
CONTINUADA DE TÉCNICOS DE OPERAÇÃO DA INDÚSTRIA DE
REFINO DE PETRÓLEO - UMA METODOLOGIA
Carlos Antonio de Souza Pereira
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Engenharia Civil.
Orientadores: Luiz Landau
Gerson Gomes Cunha
Rio de Janeiro
Março de 2012
ii
REALIDADE VIRTUAL APLICADA A FORMAÇÃO INICIAL E
CONTINUADA DE TÉCNICOS DE OPERAÇÃO DA INDÚSTRIA DE
REFINO DE PETRÓLEO - UMA METODOLOGIA
Carlos Antonio de Souza Pereira
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO
LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA
(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIENCIAS EM ENGENHARIA CIVIL
Examinada por:
____________________________________________
Prof. Luiz Landau, D.Sc.
____________________________________________
Prof. Gerson Gomes Cunha, D.Sc.
____________________________________________
Prof. Cristina Jasbinschek Haguenauer, D.Sc
____________________________________________
Prof. José Luis Drummond Alves, D.Sc.
RIO DE JANEIRO
MARÇO DE 2012
iii
Pereira, Carlos Antonio de Souza
Realidade Virtual Aplicada a Formação Inicial e
Continuada de Técnicos de Operação – Uma
Metodologia/Carlos Antonio de Souza Pereira. – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2012.
XIV, 111 p.: il.; 29,7 cm
Orientadores: Luiz Landau
Gerson Gomes Cunha
Dissertação (mestrado) – UFRJ/COPPE/Programa de
Engenharia Civil, 2012
Referências Bibliográficas: p. 107 – 111
1.Realidade Virtual. 2.Computação Gráfica.
3.Treinamento Profissional. I. Landau, Luiz et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Civil. III. Título.
iv
“E eu vos digo: Pedi e dar–se–vos–á; buscai e achareis, batei e abrir–se–vos–á. Pois
todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá.”
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 11, versículos 9–10
v
Dedico este trabalho a meus pais , Irene e Manoel (in memorian), pela
visão, determinação (“Meus filhos não vão passar o que eu passei!”) e o enorme
esforço para que eu pudesse me educar e a minhas irmãs, Regina e Fátima, que abriram
o caminho para que isto pudesse acontecer.
Dedico também, de modo especial, àqueles que são hoje o motivo
maior de tudo o que faço, meus filhos muito amados, João Carlos, Lúcia e Mariana e a
Valéria (minha “Neguinha”), esposa querida (“...a amada mais amada, sem a qual a vida
é nada...”), meu presente de Deus, companheira que segurou todas as barras para que
este trabalho pudesse ser feito.
vi
Agradecimentos
Agradeço ao LAMCE – Laboratório de Métodos Computacionais em
Engenharia, na pessoa de seu coordenador, Professor Luiz Landau, pelas portas sempre
abertas deste Laboratório e pela oportunidade de crescimento pessoal e profissional.
Agradeço ao Professor Gerson Gomes Cunha, meu orientador, pelo
constante e contagiante entusiasmo e amor pelo que faz, transmitidos junto com muito
conhecimento nas aulas das diversas disciplinas ministradas.
Agradeço a Petrobras, minha casa profissional a vinte e quatro anos e
motivo de orgulho, através dos diversos profissionais de excelência com quem convivi
durante todo este tempo: aos meus colegas da Universidade Petrobras, da Engenharia da
REDUC e , especialmente, meus companheiros de agora e do passado da UFCC –
Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido (U–1250), onde tudo começou. E agradeço
a REDUC, também pela colaboração como espaço de pesquisa para este trabalho.
Agradeço a AVEVA, desenvolvedora do PDMS – Plant Design
Management System, na pessoa de seu Supervisor Técnico, Douglas Serrano, pela
colaboração e preciosas informações técnicas.
Agradeço aos profissionais Valéria Figueiredo dos Santos Ferreira,
pedagoga da Universidade Petrobras, Raul de Carvalho, Técnico de Operação Senior, da
Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido (U–1250), da REDUC e ao Desenhista
Industrial e Mestre em Ciências da Engenharia, pela COPPE, Renan Leser, por
dedicarem seu precioso tempo para compor a equipe multidisciplinar, elemento central
deste trabalho, com seus profundos conhecimentos. Serei eternamente grato.
Agradeço aos meus pais, Manoel(in memorian) e Irene, por tudo que
me ensinaram e fizeram por mim.
Agradeço a meus filhos João Carlos, Lúcia e Mariana, a compreensão
pela ausência e o incentivo e interesse para que eu terminasse o trabalho.
Agradeço a minha amada esposa, Valéria, além dos motivos acima,
pelo amor, companheirismo e paciência(começamos o mestrado com dois filhos e
acabamos com três!), que viabilizaram este projeto.
A Maria, Mãe Santíssima, pelo amor infinito e constante intercessão
junto ao seu Filho, Jesus.
E por último e mais importante agradeço a DEUS que, mais que por
meus méritos, pela sua graça e misericórdia permitiu que eu chegasse aqui.
vii
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
REALIDADE VIRTUAL APLICADA A FORMAÇÃO INICIAL E
CONTINUADA DE TÉCNICOS DE OPERAÇÃO DA INDÚSTRIA DE
REFINO DE PETRÓLEO - UMA METODOLOGIA
Carlos Antonio de Souza Pereira
Março/2012
Orientadores: Luiz Landau
Gerson Gomes Cunha
Programa: Engenharia Civil
Este trabalho apresenta uma proposta de metodologia para
potencializar a utilização da Realidade Virtual como ferramenta para a formação inicial
e continuada de Técnicos de Operação da área de refino, buscando através de uma
equipe multidisciplinar a complementaridade de habilidades necessárias para
desenvolver uma capacitação motivadora para uma atividade profissional extremamente
complexa e que aproveite a capacidade da Realidade Virtual de propiciar, dentre outras
vantagens (treinamento seguro, menor custo, etc.) uma experiência antecipada de
diversas vivências profissionais , sem no entanto perder de vista as boas práticas
pedagógicas e mais do que isso fazer das mesmas um elemento decisivo para
impulsionar a utilização da Realidade Virtual ao melhor resultado possível, sem perder
o foco do objetivo específico de cada treinamento.
viii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
VIRTUAL REALITY APPLIED TO INITIAL AND CONTINUOUS
TRAINING OF OPERATORS FROM OIL REFINING INDUSTRY –
A METHODOLOGY
Carlos Antonio de Souza Pereira
March/2012
Advisors : Luiz Landau
Gerson Gomes Cunha
Department: Civil Engineering
This dissertation presents a proposal for a methodology to maximize
the use of Virtual Reality as a tool for initial and continuous training of refining
operators searching through a multidisciplinary team to complementarity of necessary
skills to develop a motivating training to a extremely complex professional activity and
that take advantage of the Virtual Reality capability to provide, among other benefits
(insurance training, lower cost, etc.), an early experience in a variety of professional
pratices, without however losing sight of the good educational practices and more than
that make them a decisive factor to boost the use of Virtual Reality to the best possible
result, without losing the focus of specific objective of each training.
ix
SUMÁRIO
1. CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1. Introdução ............................................................................................................1
1.2. Definição do problema.........................................................................................2
1.3. Motivação.............................................................................................................3
1.4. Objetivo................................................................................................................5
1.5. Objetivo específico...............................................................................................5
1.6. Relevância e justificativa......................................................................................6
2. CAPÍTULO 2 – ESTADO DA ARTE
2.1. Introdução............................................................................................................8
2.2. Ambiente imersivo para reforço de conceitos de Engenharia de Processo –
Universidade de Queensland - Austrália / Refinaria Brisbane – Bulwer Island,
Austrália.............................................................................................................. 8
2.3. Treinamento com Realidade Virtual como um método interativo e aprendizado
baseado em experiência – Universidade Johannes Kepler – Linz, Áustria /
Refinaria de Scwechat – Áustria .......................................................................12
3. CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE DE TRABALHO DO TÉCNICO DE
OPERAÇÃO: OS PROCESSOS E OS SISTEMAS DE UMA REFINARIA DE
PETRÓLEO
3.1. O petróleo............................................................................................................15
3.2. Os processos de refino.........................................................................................16
3.3. Características da indústria do refino..................................................................19
3.3.1. Complexidade......................................................................................................19
3.3.2. Unicidade das instalações....................................................................................20
3.3.3. Heterogeneidade da materiaxprima petróleo......................................................21
3.3.4. Freqüência de modificações................................................................................21
3.3.5. Otimização do refino...........................................................................................22
3.3.6. Impactos ambientais do processo de refino e seus produtos...............................23
3.3.7. Influência no trabalho do Técnico de Operação..................................................23
x
4. CAPÍTULO 4 - O TÉCNICO DE OPERAÇÃO DA INDÚSTRIA DO REFINO
4.1. Atribuições e características...............................................................................25
4.2. A formação do Técnico de Operação.................................................................29
4.3. Atuação do Técnico de Operação.......................................................................31
5. CAPÍTULO 5 - ALGUNS ASPECTOS PEDAGÓGICOS
5.1. A formação inicial e continuada.........................................................................35
5.2. A Pedagogia do trabalho.....................................................................................37
5.3. Aplicabilidade ao trabalho do Técnico de Operação..........................................39
6. CAPÍTULO 6 – A REALIDADE VIRTUAL
6.1. Definição e conceitos..........................................................................................43
6.2. A realidade virtual na área de ensino..................................................................46
6.2.1. A realidade virtual na área de educação.............................................................48
6.2.2. A realidade virtual na área de capacitação profissional......................................51
6.2.2.1. Histórico..................................................................................................51
6.2.2.2. Jogos para treinamento (Serious Games)................................................54
6.2.3. A realidade virtual na área de petróleo e gás em geral e no refino em
especial............................................................................................................................57
6.3. Justificativas para utilização da Realidade Virtual na formação de Técnicos de
Operação..........................................................................................................................58
6.3.1. Treinamento seguro.............................................................................................58
6.3.2. A compreensão dos fenômenos físico-químicos.................................................59
6.3.3. Generalização da prática dos procedimentos.......................................................60
6.3.4. Disseminação das boas práticas na atuação em anormalidades...........................62
6.3.5. Comparação entre capacitação com Realidade Virtual e capacitação
tradicional........................................................................................................................62
7. CAPÍTULO 7 – A METODOLOGIA PROPOSTA
7.1. Introdução............................................................................................................69
7.1.1. Princípio básicos..................................................................................................69
7.1.2. Processos e procedimentos..................................................................................73
7.1.3. Necessidades de formação dos Técnicos de Operação........................................77
7.1.4. Os tipos de ambientes virtuais necessários..........................................................78
xi
7.2. Descrição da metodologia....................................................................................79
7.2.1. Etapas...................................................................................................................79
7.2.2. Definição da equipe interdisciplinar....................................................................80
7.2.3. Definição dos objetivos.......................................................................................81
7.2.4. Definição dos processos/sistemas e/ou procedimentos a serem
modelados.......................................................................................................................82
7.2.5. Desenvolvimento dos diagramas.........................................................................82
7.2.5.1. Processos ................................................................................................83
7.2.5.1.1. Modelagem na Educação.........................................................................84
7.2.5.1.2. Tipos de modelos.....................................................................................85
7.2.5.1.3. Dinâmica dos sistemas.............................................................................86
7.2.5.1.4. Diagramas causais....................................................................................88
7.2.5.2. Procedimentos..........................................................................................90
7.2.6. Desenvolvimento dos modelos dos ambientes virtuais...........................94
7.2.6.1. Obtenção do modelo tridimensional........................................................94
7.2.6.2. A exportação para o programa gráfico...................................................96
7.2.6.3. A exportação para o programa de gerador do ambiente virtual..............99
7.2.6.4. A criação do ambiente virtual................................................................100
7.2.7. Testes.................................................................................................................101
7.2.8. Validação da equipe multidisciplinar................................................................101
8. CAPÍTULO 8 – UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA
8.1. O processo escolhido: craqueamento catalítico.................................................102
8.2. A equipe multidisciplinar...................................................................................104
9. CAPÍTULO 9 –CONCLUSÃO E COMENTÁRIOS FINAIS..........................105
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.…………………………………………...108
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1-Passeio Virtual em uma unidade de processo de refinaria
Figura 2-Unidade teórica: comportamento da fase de destilação
Figura 3-Atividade prática: isolamento de bomba
Figura 4 - Técnico de Operação usando simulador de Realidade Virtual para treinamento
Figura 5-Diagrama de fluxo básico de uma refinaria(Gary, et al., 2007)
Figura 6-O ambiente de trabalho do Técnico de Operação - Visão geral de uma unidade de processo em uma refinaria de petróleo
Figura 9 - Realidade Virtual com óculos estereoscópicos passivos e tela de projeção
Figura 10-Média das avaliações dos pré e pós-testes para os estudantes-gráfico
Figura 12 - Diagrama esquemático da metodologia proposta
Figura 13 - Tipos de modelo
Figura 14 - Feedback ou retroalimentação
Figura 15 - Enlace de reforço
Figura 16 - Enlace de equilíbrio
Figura 17 - Exemplo de Redes de Petri representando um procedimento sequencial
xiii
Figura 18 - Exemplo de Redes de Petri representando um procedimento com alternativas
Figura 19 - Exemplo de Redes de Petri representando um procedimento com possibilidade de retorno
Figura 20 - Conjunto Conversor - Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido - REDUC - Refinaria Duque de Caxias
Figura 21 - Esquema de funcionamento do conversor tipo side by side
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1-Matrizes energéticas brasileira e mundial (%)
Tabela 2-Matriz Ocupacional de Atividades da CBO para as ocupações - Família Ocupacional Operadores polivalentes de equipamentos em indústrias químicas, petroquímicas e afins
Tabela 3 - Comparação entre as possibilidades dos diversos métodos de treinamentos
Tabela 4 – Média das avaliações dos pré e pós-testes para os estudantes
Tabela 5-Melhoria de desempenho do ensino tradicional através da simulação computacional
Tabela 6-Princípio de design instrucional de educação multimídia
Tabela 7 - Comparação entre técnicas para descrição de procedimentos
Tabela 8 - Elementos básicos das Redes de Petri:Características e representação gráfica
1
1. CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1. Introdução
Embora haja atualmente uma preocupação em pesquisar-se cada vez
mais novas fontes de energia mais “limpas” e renováveis, a matriz energética mundial
ainda será por algum tempo dominada pelo petróleo. O petróleo e seus derivados
respondem por 33,1 % da matriz energética mundial e por 37,7% da matriz energética
brasileira (MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, 2011)(ver Tabela 1) e os
cenários futuros apontam para uma manutenção deste quadro (SECRETARIA DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2010).
FONTE Brasil Mundo
Petróleo e derivados 37,7 33,1
Gás Natural 10,3 21,1
Carvão Mineral 5,2 27,0
Urânio 1,4 5,8
Hidráulica e Eletricidade 14,1 2,2
Biomassa/Eólica/outras 31,2 10,7
Fonte: Ministério das Minas e Energia
Tabela 1-Matrizes energéticas brasileira e mundial (%)
Essa substância precisa, após um complexo trabalho de extração e
produção em terra(“on-shore”) ou no mar(“off-shore”), passar por processos não menos
complexos onde vai se transformar nos produtos que chegarão de fato aos
consumidores: os derivados do petróleo.
Esses processos ocorrem nas refinarias de petróleo, onde sob rígidos
controles o petróleo é submetido a diversas condições de temperatura, pressão e outras
variáveis, dentro de muitos, diferentes e sofisticados equipamentos, provocando um
grande número de transformações físico-químicas até a obtenção de produtos distintos
como gasolina, querosene de aviação(QAV), diesel, lubrificantes, entre outros. Na
2
operação e controle destes processos está o profissional chamado de Operador de
Processo ou Técnico de Operação 1.
O trabalho desenvolvido pelos Técnicos de Operação de processo das
plantas industriais de refino da área de petróleo e gás envolve uma série de
especificidades. Como foi dito acima, os processos que ocorrem nos equipamentos
dessas plantas para obtenção dos seus diversos produtos são extremamente complexos e
da atuação dos Técnicos de Operação no controle das variáveis desses processos(vazão,
temperatura, pressão, etc.) através da correta operação desses equipamentos, seja nas
consoles dentro das casas de controle ou pela atuação no campo, é que depende a
obtenção de toda uma grande variedade de produtos obtidos a partir do petróleo,
devidamente enquadrados em severos padrões internacionais de qualidade e, o que é
mais importante, de forma segura e sem comprometer o meio ambiente.
O treinamento de Técnicos de Operação tem sido feito ao longo dos
anos através de materiais didáticos, aulas teóricas e após essa formação teórica inicial
um período de ambientação nas unidades industriais, onde podem assistir a execução de
diversos procedimentos operacionais. Após algum tempo poderão realizar
procedimentos mais simples e participar de procedimentos mais complexos, sob
acompanhamento, até que, uma vez considerados aptos pelo supervisor já poderão atuar
sozinhos, inclusive no painel da casa de controle. Esse treinamento era feito de forma
muito pouco estruturada, não havendo até bem pouco tempo um acompanhamento
pedagógico adequado na maioria dos casos.Recentemente estão sendo unificados e
desenvolvidos esforços mais direcionados para melhoria deste quadro2.
1.2. Definição do problema
1 Na Petrobras- Petróleo Brasileiro S.A., detentora da quase totalidade do parque de refino do Brasil, o
nome do cargo que designa o profissional que exerce estas funções é Técnico de Operação, que
utilizaremos por considerarmos o termo mais adequado à qualificação e importância do cargo para a
cadeia produtiva do petróleo.
2 A Universidade Petrobras, universidade corporativa da empresa, desenvolveu em conjunto com
diversas unidades de refino o primeiro esforço conjunto de um curso para Técnicos de Operação
apoiado em uma metodologia, que premia aspectos pedagógicos, utilizada pela UP em seus cursos e
aproveitando as experiências dos setores de Desenvovimento de Recursos Humanos das diversas
Unidades Operacionais.
3
Diversas propostas de Realidade Virtual em treinamentos na área de
petróleo e gás em geral e no refino em especial já vêm sendo utilizadas e/ou
desenvolvidas por pesquisadores da área acadêmica e empresas (Norton, et al., 2008)
(Holm, et al., 2008) (Hoiset, et al., 2008) (Norton, et al., 2008). Essas pesquisas têm
desenvolvido sistemas que utilizam, principalmente, muito do potencial da Realidade
Virtual, na sua capacidade de possibilitar ao Técnico de Operação em treinamento uma
experiência mais próxima da prática. Porém, sendo a formação inicial e continuada uma
atividade educacional voltada para profissionais existe a necessidade do
desenvolvimento de uma metodologia multidisciplinar para utilização da Realidade
Virtual que possa definir os objetivos a serem atingidos através da utilização da
Realidade Virtual, sistematizar o processo para atingir-se esses objetivos, incorporando
o conhecimento tácito dos Técnicos de Operação, reconhecido como fundamental na
formação desses profissionais, permeando todo esse processo com a incorporação do
saber pedagógico, para potencializar as reconhecidas possibilidades da Realidade
Virtual no treinamento profissional.
No caso específico deste trabalho, que utiliza como base o parque de
refino brasileiro, como já citado, quase que inteiramente da Petrobras - Petróleo
Brasileiro S.A., há também o aspecto econômico da utilização dos modelos já
existentes, gerados em PDMS3, agregando valor a tais modelos desenvolvidos para
automação de projetos, e abaixando custos para criação dos ambientes em Realidade
Virtual.
Assim, apresenta-se como problema desenvolver uma metodologia para
utilização da Realidade Virtual na capacitação de Técnicos de Operação da área de
refino, através do desenvolvimento de ambientes virtuais interativos, animações ou
outros recursos quaisquer da Realidade Virtual, amparando-os em um processo que
envolva bases pedagógicas e o conhecimento tácito acumulado dos profissionais, para
potencializar a utilização da Realidade Virtual neste contexto e que, eventualmente,
3 PDMS – Plant Design Management System, programa desenvolvido pela inglesa AVEVA, para
automação de projetos de plantas industriais de processo e adotado como padrão para a área de refino
da Petrobras.
4
agregue valor aos modelos tridimensionais gerados nos projetos ou nos “as built” feitos
pelo processo de escaneamento a laser4.
1.3. Motivação
O conhecimento histórico da formação inicial e continuada dos
Técnicos de Operação mostra-nos uma grande defasagem entre as reais necessidades de
treinamento e os modelos que foram sendo desenvolvido na maioria das diversas
unidades industriais do parque de refino brasileiro, além de uma evolução lenta, onde
conceitos mais modernos, como confiabilidade humana, por exemplo, ainda não foram
incorporados. Falou-se em modelos por que embora as refinarias brasileiras sejam
basicamente da mesma empresa, só recentemente está se concretizando uma proposta
comum para a capacitação dos Técnicos de Operação. Considerando a amplitude de
conhecimentos e competências necessários para o exercício da profissão, suas
características extremamente peculiares e a grande responsabilidade que ele envolve,
faz-se necessária uma maior atenção ao preparo desses profissionais, fundamentais para
a manutenção de toda a cadeia produtiva, envolvidos diariamente com processos com
características físicas extremas (altas pressões, altas temperaturas, etc.), produtos
tóxicos e inflamáveis (hidrocarbonetos diversos: petróleo e derivados como gasolina,
diesel, etc., produtos químicos adicionados ao processo com vários objetivos,
subprodutos resultantes do processo, como enxofre, etc.), operando um ativo de alto
valor (equipamentos como bombas, torres, vasos, reatores etc.) e com a grande
responsabilidade de manter abastecido o mercado nacional com os derivados
necessários para o desenvolvimento do país.
Dentro deste quadro a idéia de treinamento seguro e um alto nível de
qualificação é fundamental e a utilização da Realidade Virtual como ferramenta para
este objetivo se mostra muito apropriada. E foi com essa visão inicial que surgiu o
projeto para este trabalho. Verificou-se, porém, em função do que foi exposto acima que
4 Para conseguir-se obter o modelo tridimensional das unidades das refinarias já existentes antes da
utilização da automação de projetos através desses modelos, utiliza-se a tecnologia do escaneamento a
laser, onde é feito um levantamento físico do que existe no campo (“as built”) através de equipamentos
(scaners) que fazem um modelo de “nuvem de pontos” topográficos, reproduzindo os equipamentos
existentes, transformado depois em um modelo do PDMS.
5
a simples utilização da Realidade Virtual, fora de um modelo que leva-se em conta
aspectos pedagógicos poderiam levar a resultados inadequados. Neste caso as pesquisas
desenvolvidas por KUENZER (2007) foram importantes por terem sido realizadas
exatamente em uma refinaria com foco na formação de Técnicos de Operação
fornecendo alguns subsídios para esta visão dentro deste trabalho.
Assim, este trabalho busca introduzir uma proposta de modelo
unificado para desenvolvimento de elementos de treinamento com utilização da
Realidade Virtual na formação de Técnicos de Operação, inserida como meio em um
processo maior e baseado em apoio pedagógico e na percepção dos profissionais das
necessidades de treinamento, no seu conhecimento tácito, no conhecimento teórico
sobre os processos do refino e nos resultados das pesquisas já realizadas sobre a
utilização da Realidade Virtual em processos de ensino em geral e profissional em
especial.
1.4. Objetivo
O objetivo desta dissertação é descrever uma metodologia para
utilização dos diversos recursos de Realidade Virtual, que potencialize seu
aproveitamento como ferramenta no processo de ensino-aprendizagem, através de um
embasamento pedagógico adequado, utilizando-se fortemente do conhecimento
acumulado dos Técnicos de Operação.
1.5. Objetivo específico
Criar um procedimento que permita um acompanhamento
multidisciplinar para a geração de Realidade Virtual através de animações ou
ambientes tridimensionais com os níveis de interatividade e imersão, de acordo com as
necessidades objetivas do público alvo seja de formação inicial ou continuada,
Técnicos de Operação novos ou experientes, adequando conteúdo, custos e recursos
materiais.
6
1.6. Relevância e justificativa
A importância deste profissional, a grande variedade e complexidade de
conhecimentos a serem aprendidos e em especial a natureza teórico-prática destes
conhecimentos necessários a sua formação fazem da Realidade Virtual, em função de
suas características uma potencial ferramenta para utilização na formação inicial e
continuada de Técnicos de Operação.
A grande quantidade de conhecimentos a apreender citada acima, tanto
teóricos quanto práticos, faz com que a formação de técnicos de operação tenha
características únicas. Em primeiro lugar o embasamento teórico necessário para
entendimento dos processos , que envolve Química Aplicada, Física
Aplicada(Termodinâmica e Transferência de Calor, Mecânica dos Fluidos
,Eletricidade), dentre outras. Em segundo lugar o conhecimento dos diversos processos
que podem ocorrer em uma unidade industrial do setor de petróleo, como destilação,
craqueamento, tratamentos(cáustico, DEA) etc. Junto com os processos há a
necessidade de se conhecer o funcionamento dos diversos equipamentos estáticos
(tubulações e acessórios, torres,vasos de pressão, trocadores de calor, caldeiras e
tanques) e dinâmicos (bombas, compressores, etc). para saber como tais processos
ocorrem em seu interior ou como estes equipamentos contribuem para que eles ocorram
e o domínio do comportamento das diversas variáveis , que através dos controles dos
equipamentos permitem o controle dos processos, e seu inter-relacionamento com os
mesmos. Em seguida, uma vez já lotado em uma unidade específica, o técnico de
operação precisa aprender a unidade em si, já que mesmo unidades com a mesma
finalidade (unidades de destilação, craqueamento, etc.) e mesmos processos são, em
geral, completamente diferentes em termos físicos5, pois para um mesmo processo há
equipamentos similares, que executam-no utilizando a idéia básica do processo , mas
com variações na forma de execução. Além disso o projeto de uma unidade é feito para
uma determinada estratégia que vai determinar as necessidades da unidade a ser
implantada como, por exemplo, a quantidade de carga a ser processada, o tipo de
petróleo, etc., o que faz com que os projetos sejam diferentes, já que atenderão a
diferentes necessidades. O aprendizado da unidade industrial envolve o conhecimento 5 Atualmente, recursos de automação de projetos permitem que o projeto de uma unidade inteira possa
ser repetido, sem grande esforço. Mas tal recurso, só terá sentido se os condicionantes estratégicos
citados(quantidade e tipo de carga a ser processada, etc.), forem atendidos.
7
físico da mesma (localização dos equipamentos estáticos e dinâmicos, seus “tags”6 etc.),
o conhecimento de seus processos, ou seja, saber quais e como ocorrem os processos,
vistos de forma teórica anteriormente, só que agora especificamente naquela
determinada unidade industrial e quais as variáveis e seus valores de controle para que
os produtos saiam especificados.
A utilização da realidade virtual pode assim dar uma nova dimensão ao
treinamento dos Técnicos de Operação , pela possibilidade que proporciona de uma
visão antecipada, mesmo que virtual, do ambiente complexo de uma planta industrial
de processo, dos procedimentos para situações tanto de rotina quanto de emergência,
neste caso proporcionando treinamento seguro e um entendimento melhor dos
fenômenos físico-químicos que os compõe.
6 Código que identifica um equipamento
8
2. CAPÍTULO 2 – ESTADO DA ARTE
2.1. Introdução
O treinamento profissional não é novidade e vem se aperfeiçoando ao
longo do tempo de acordo com a própria evolução da indústria. A constante evolução
tecnológica fez com que, diferentemente do que acontecia no passado, um trabalhador
vivenciasse diversas transformações no modo de trabalho da sua especialidade ao longo
de sua vida laboral, solicitando um constante aperfeiçoamento e muitas vezes uma total
modificação, requisitando novos aprendizados.
A necessidade tanto de acelerar este processo, quanto de qualificá-lo
trouxe a pedagogia para apoiar o processo de formação dos profissionais. Outro aliado
que veio se incorporar a esse processo foram as novas tecnologias educacionais. A
união desses dois fatores pode trazer significativas contribuições para acelerar o
processo de formação inicial e continuada dos profissionais das mais diversas áreas.
Muitos desses processos ainda são construídos apenas a partir das possibilidades
oferecidas pela ferramenta tecnológica, sem definições claras dos objetivos
educacionais a serem alcançados pela capacitação. Constata-se ainda um descompasso
entre o desenvolvimento e disponibilização das novas tecnologias educacionais, que
acompanham o próprio desenvolvimento dos processos industriais e a compreensão da
utilização mais adequada destas tecnologias, as orientações pedagógicas que
potencializarão essas ferramentas.
Segundo Norton, Cameron, et al. (NORTON, CAMERON, et al.,
2008):
“Infelizmente a teoria educacional por trás de tais
aplicações multimídia não foi desenvolvida tão rapidamente quanto a
capacidade tecnológica para construí-las. Muitas vezes a concepção de
tais recursos é orientada pelo potencial técnica em vez de teoria
educacional validada.”
Como o objetivo deste trabalho é definir uma proposta metodológica
que premie a pedagogia e o conhecimento construído a partir da experiência do Técnico
de Operação na utilização das ferramentas de Realidade Virtual, foram pesquisadas
9
experiências que buscaram utilizar estes conceitos, simultaneamente ou não, na
montagem de programas de capacitação profissional da área de petróleo e gás com
utilização de Realidade Virtual.
2.2. Ambiente imersivo para reforço de conceitos de Engenharia de Processo –
Universidade de Queensland - Austrália / Refinaria Brisbane – Bulwer Island,
Austrália
Este projeto (NORTON, CAMERON, et al., 2008) tem como
característica particular o atendimento tanto a universidade quanto a indústria. No caso
da primeira pretendia atender aos alunos de graduação na área de Engenharia de
Processo das universidades australianas, em princípio, procurando complementar a
formação teórica com um melhor entendimento das operações e complexidade de uma
unidade de processo. No caso do atendimento a indústria visava cobrir uma deficiência
dos operadores(Técnicos de Operação) relativa a conhecimentos teóricos e de
entendimento das origens dos fenômenos observados. Para solucionar este problema,
ou seja, a utilização de um único sistema para dois públicos distintos, serve-se de
suportes de aprendizagem que atendam a ambos e baseado no conceito de que
visualizações e animações são adequados para explicar os conteúdos dinâmicos da
engenharia de processos, dá preferência a este tipo de recurso no lugar de textos ou
explicações através de gráficos. Assim, baseia-se fortemente no ambiente imersivo de
Realidade Virtual como recurso de aprendizagem. Porém procura utilizar práticas e
teorias educacionais relevantes de forma a incorporar os recursos de aprendizagem ao
ambiente virtual básico.
Basearam-se então em duas teorias básicas para o projeto instrucional
de educação multimídia, que guiaram as decisões em relação ao desenvolvimento do
ambiente virtual:
• Teoria da carga cognitiva, que considera os indivíduos têm uma
capacidade de processamento máxima, que limita a informação
recebida pelo canal de aprendizagem. Exceder esta capacidade
levaria a uma sobrecarga cognitiva e a um possível sub-
processamento da informação.
10
• Teoria do código dual, que preconiza a existência de sistemas
diferentes de processamento, trabalhando de forma
independente para estímulos provocados por materiais verbais e
visuais, com capacidades de cargas cognitivas diferentes, sendo
o entendimento gerado pela integração dos modelos mentais
gerados por esses dois canais, auditivo e visual.
Além desses princípios teóricos, incorporou outros aspectos e
princípios da prática de educacional de treinamentos no desenvolvimento da ferramenta:
• Utiliza os conceitos provenientes do aprendizado centrado no
aluno, possibilitando o estudo investigativo, a construção do
conhecimento, através de uma interface que permita ao usuário
escolher o seu caminho dentro do ambiente de acordo com as
suas necessidades de aprendizado. Considera que desta forma o
conhecimento é mais fácil de ser incorporado por ser
pessoalmente mais significativo.
• Utiliza um modelo construtivista, que busca potencializar a sua
capacidade potencial de aprendizagem, o processamento
cognitivo, o compartilhamento de carga cognitiva e o
processamento e desenvolvimento de informações.
• Procura usar a tecnologia com a menor interferência possível no
trabalho humano na interface, compensando a falta de
conhecimento neste aspecto, reduzindo assim carga cognitiva
estranha.
• Participação dos alunos, através de teste em protótipos durante a
fase de desenvolvimento, buscando compensar a não
participação na fase de projeto.
A Figura 1 a,Figura 2 e a Figura 3 mostram interfaces do sistema
desenvolvido pela Universidade de Queensland.
11
Figura 1-Passeio Virtual em uma unidade de processo de refinaria
Figura 2-Unidade teórica: comportamento da fase de destilação
12
Figura 3-Atividade prática: isolamento de bomba
2.3. Treinamento com Realidade Virtual como um método interativo e aprendizado
baseado em experiência – Universidade Johannes Kepler – Linz, Áustria /
Refinaria de Scwechat – Áustria
Este trabalho (HOLM, PRIGLINGER e GMBH, 2008) foi
desenvolvido a partir de uma proposta dos instrutores dos Técnicos de Operação da
refinaria de Schwechat, que apresentaram a ideia da criação de um simulador de
Realidade Virtual para treinamento seguro em 1997, gerando uma parceria com a
Unidade Johannes Kepler que resultou em um simulador completo em 2003.
O seu desenvolvimento, inclusive nos aspectos educacionais, baseou-se
na experiência dos instrutores, sendo fortemente voltado para a realização de
procedimentos de campo e atuações em resposta a mudanças no processo, através do
aprendizado e da execução no ambiente virtual da correta seqüência das tarefas e das
consequências ou respostas do processo e equipamentos no caso de esquecimento de
alguma etapa ou erro na ordem adequada de execução.
13
O sistema é composto de um painel que reproduz o da casa de controle
e onde o instrutor pode atuar alterando variáveis e o estado dos equipamentos, criando
situações antes ou durante o treinamento para que o aluno possa buscar a atuação mais
correta para trazer o sistema a normalidade. O aluno é colocado em pé em uma
plataforma usando um HMD(head mounted display)7, através do qual penetra no mundo
virtual visual e acusticamente, pode locomover-se através do ambiente virtual e
selecionar e atuar nos instrumentos através de um joystick. O instrutor tem também
acesso, através de um monitor, à mesma visualização do aluno, podendo, caso queira,
orientá-lo através de um microfone.
O simulador foi desenvolvido de forma a permitir total liberdade na
organização da capacitação, não havendo um procedimento para a elaboração das
sessões de treinamento que são criadas a livremente pela área responsável pelo
treinamento de acordo com as necessidades detectadas e baseadas no conhecimento do
pessoal mais experiente, sendo possível tanto que o empregado a ser capacitado seja
guiado pelo programa, quanto adaptação do treinamento as suas necessidades, pelo
instrutor.
O treinamento é dividido em vinte módulos cobrindo um amplo
espectro de conhecimentos necessários ao trabalho na refinaria, indo desde as tarefas
básicas as mais complexas, sendo que todos os Técnicos de Operação têm de dez a
doze dias de treinamento obrigatório no simulador, que faz parte do treinamento regular
e é utilizado de cento e vinte a cento e cinquenta dias por ano. Em uma sessão típica de
treinamento da refinaria os treinandos são divididos em grupos de cinco pessoas, que se
revezam no simulador em períodos de quinze a vinte minutos, podendo também haver
um exercício com dois dos operadores: um no painel de controle e outro no simulador,
reproduzindo a relação real da sala de controle com a área industrial, sendo mediada
pelo instrutor.
7 Dispositivo de visualização individual, tipo de capacete utilizado para saída de dados que procura
isolar o usuário do mundo real. A visualização ocorre através de duas minúsculas telas e um conjunto de
lentes especiais, colocados a alguns milímetros dos olhos do usuário.
14
Figura 4 - Técnico de Operação usando simulador de Realidade Virtual para treinamento
Essas pesquisas mostram dois aspectos relevantes para a utilização da
Realidade Virtual para capacitação de Técnicos de Operação com utilização de
Realidade Virtual: a inserção dos conceitos pedagógicos para auxiliar na construção do
ambiente virtual utilizado na pesquisa de (NORTON, CAMERON, et al., 2008) e a
incorporação do conhecimento tácito dos Técnicos de Operação na pesquisa de (HOLM,
PRIGLINGER e GMBH, 2008). A importância deste conhecimento prático adquirido
ao longo dos anos é uma característica do trabalho dos Técnicos de Operação da
indústria do refino, reconhecido inclusive na primeira pesquisa e em outras feitas
inclusive com os próprios profissionais (KUENZER, 2007).
15
3. CAPÍTULO 3 – O AMBIENTE DE TRABALHO DO TÉCNICO DE OPERAÇÃO:
OS PROCESSOS E OS SISTEMAS DE UMA REFINARIA DE PETRÓLEO
3.1. O petróleo
O petróleo é uma substância composta de hidrocarbonetos, ou seja,
carbono e hidrogênio. Segundo Gary et al. (1):
“O petróleo é uma complexa mistura de hidrocarbonetos
que ocorre na Terra nas formas líquida, gasosa e sólida. A palavra
petróleo é freqüentemente restrita a forma líqüida, mas também inclui o
gás natural e o carvão mineral. A palavra petróleo, ou “óleo da pedra”,
deriva do latin petra(rocha ou pedra) e oleum(óleo) e foi usada pela
primeira vez em um trabalho publicado em 1556 por George Bauer.”
(Gary, et al., 2007)
Complementando, segundo Szklo[2]
“Ainda de forma simplificada, podemos definir o petróleo
como uma substância oleosa, inflamável, menos densa que a água, com
cor variando entre o negro e castanho-claro.”
Os óleos obtidos de diferentes reservatórios de petróleo possuem
características diferentes, conforme cor, viscosidade, densidade, acidez, teor de enxofre
etc.” (Szklo, 2005)
Além disso o petróleo recebe uma série de classificações possíveis de
acordo com determinadas características físico-químicas ou de sua composição, como
petróleos leves, petróleos pesados, petróleos ultrapesados(referências ao tamanho das
cadeias de hidrocarbonetos e a seu peso molecular), petróleos parafínicos, petróleos
naftênicos, petróleos aromáticos(referências ao arranjo e quantidade dos elementos da
sua cadeia), petróleos azedos, petróleos ácidos, petróleos com baixo/alto teor de
enxofre(referências a outros elementos diferentes do carbono e do hidrogênio presentes
em sua composição) etc. Determinados tipos de petróleo, em função de suas
características e origem receberam nomes de “referência” como o Brent, o West Texas
Intermediate(WTI), o Dubai, o Árabe Leve e outros. Estas características fazem com
que cada tipo de petróleo seja mais adequado a produção de determinados produtos
16
derivados, tornando este fato determinante para se definir a carga de entrada de uma
refinaria, ou seja, o mercado que se pretende atingir com determinado derivado indica o
tipo(ou tipos) de petróleo adequados como carga de entrada. A REDUC (Refinaria
Duque de Caxias), localizada no Municipio de Duque de Caxias, no estado do Rio de
Janeiro, por exemplo,importa o petróleo do tipo Árabe Leve, para utilizá-lo como carga
de entrada, pois sendo o mesmo parafínico, é adequado a produção de lubrificantes, os
quais a REDUC fornece ao mercado nacional (Szklo, 2005)8..
3.2. Os processos de refino
O petróleo precisa passar por diversos processos de refino, baseados
em métodos físicos e/ou químicos, até que possa se transformar em produtos que
estejam em condições de serem comercializados, já que em seu estado natural o óleo cru
não tem utilização prática. Os diversos processos de refino envolvem pressão, calor,
produtos químicos, catalisadores utilizados para promover as mais diversas condições
operacionais que possibilitem os fenômenos físico-químicos que irão gerar os produtos
derivados do petróleo, como gasolina, QAV(querosene de aviação), óleos lubrificantes
etc. A figura 1 mostra um diagrama de fluxo básico de uma refinaria genérica (Gary, et
al., 2007).
O processo inicial do refino é a destilação, onde pelo aquecimento do
óleo cru, obtém-se diversas frações ou cortes9. A partir da destilação, processos como,
por exemplo o craqueamento e a reforma, dentre outros, chamados de processos de
conversão são utilizados para conseguir-se mais produtos derivados, agora através da
transformação da estrutura molecular e de seu tamanho. Por fim, a qualidade dos
produtos é aprimorada através de diversos tipos de tratamento e processos de separação
8 A REDUC é responsável pela produção de aproximadamente 80% dos lubrificantes do mercado
nacional
9“Cada petróleo tem uma curva de destilação.... Frações ou cortes na curva de destilação representam
os grupos de hidrocarbonetos cujo ponto de ebulição se encontra dentro de determinada faixa de
temperatura(caracterizada por duas temperaturas ou “pontos de corte”.
Quando comparamos dois petróleos diferentes, para uma mesma especificação de produto final(ou
mesmo perfil de destilação), o que muda não é a temperatura de corte, mas quanto de cada produto se
obtém nas faixas de corte predeterminadas” (Szklo, 2005)
17
Figura 5-Diagrama de fluxo básico de uma refinaria(Gary, et al., 2007)
18
onde constituintes prejudiciais ao desempenho dos mesmos são retirados dos diversos
produtos.
Todo este processo tem algumas fases bem definidas e pode ser
classificado dividindo-as em cinco etapas (Gary, et al., 2007):
1. Destilação
2. Processos de conversão
3. Processos de tratamento
4. Blending(mistura)
5. Outras operações de refino
Na destilação são obtidos, nos diversos cortes, grupos de
hidrocarbonetos baseados em seu tamanho molecular e faixa de ponto de ebulição. Isto
é feito nas torres de destilação atmosférica e a vácuo.
Os processos de conversão promovem a alteração do tamanho ou da
estrutura molecular do hidrocarboneto. Isto pode ser feito pelos processos de
decomposição, unificação ou reforma. Na decomposição moléculas grandes de
hidrocarbonetos são “quebradas” para obtenção de moléculas menores e portanto com
menor ponto de ebulição, através de craqueamento ou processos semelhantes. Nos
processos de unificação como alquilação, polimerização e outros semelhantes,
moléculas maiores são “construídas” pela união de moléculas menores.Na reforma
ocorre um rearranjo das moléculas formando novas estruturas. Os processos utilizados
para essa transformação são a isomerização, a reforma catalítica e outros processos
semelhantes.
Através dos processos de tratamento, as correntes de hidrocarbonetos
são preparadas, através de métodos de separação química ou física, para processamentos
adicionais ou já para serem produtos finais acabados. Esses processamentos podem
incluir dessalgação, hidrodessulfurização, refino de solventes, adoçamento, extração de
solventes e desparafinação.
Para se obter o produto final com atendimento a determinadas
propriedades de desempenho, são misturados ao hidrocarboneto aditivos e outros
componentes. A esta etapa chamamos “blending”(mistura).AFigura 5, mostra um
diagrama de fluxo básico de uma refinaria.
19
Outros processos de refino incluem produção de hidrogênio,
tratamento cáustico, recuperação de enxofre, tratamento de resíduo sólido e água de
resíduo, resfriamento e tratamento de água de processo, transferência e estocagem,
recuperação de leves, “estripagem” de águas ácidas, movimentação de produtos,
tratamento de gás ácido e residual e recuperação de enxofre.
Assim, segundo Gary et al.:
“Em termos gerais refinarias operam sob as leis físicas e
as especificações de engenharia dos sistemas, os princípios econômicos
que guiam os requisitos de investimento e operacionais, e as
regulamentações governamentais para as atividades de produção e as
especificações dos produtos. Existem complexas inter-relações entre as
leis físicas pelas quais o sistema opera, a demanda de produtos requerida
pelo mercado, e as regras comerciais e regulações estabelecidas pelo
sistema.” (Gary, et al., 2007)
3.3. Características da indústria do refino
A indústria do refino de petróleo possui muitas características específicas,
as quais afetam diretamente a atuação do Técnico de Operação no desenvolvimento de
seu trabalho e, conseqüentemente, na necessidade e no conteúdo de sua formação inicial
e continuada.
3.3.1. Complexidade
No princípio da industria de destilação de petróleo o processo era feito
em pequenas bateladas em unidades de destilação e a capacidade de processamento era
cerca de uma centena de barris por dia. Não havia também uma grande variedade de
origens do petróleo. As refinarias de hoje processam milhares de barris por dia,
provenientes de cerca de mais de uma dezena de diferentes tipos de petróleo, em
dezenas de unidades de processo.São unidades industriais extremamente complexas e
com alto nível de integração que variam em sofisticação, tamanho, o tipo de petróleo a
ser processado e os produtos a serem obtidos (GARY, HANDWERK e KAISER, 2007).
20
Além das unidades de processamento propriamente ditas, são necessárias unidades de
utilidades para geração de vapor, energia, água, para serem utilizadas nos processos das
unidades industriais e para a infra-estrutura de funcionamento da refinaria.
A complexidade dos sistemas de uma refinaria reflete-se, obviamente, nas
necessidades de conhecimento do profissional que irá operar este sistema, devendo este
conhecimento abranger desde a visão geral do processo na refinaria até as nuances que
aumentarão sua eficiência em cada equipamento.
3.3.2. Unicidade das instalações
A carga da refinaria, ou seja, os insumos ou mix de insumos que a compõe
e os produtos que ela gerará definirão as características do seu projeto, determinando as
múltiplas complexas operações que serão necessárias para obtenção dos mesmos. Esses
fatores fazem com que não seja possível uma configuração padrão para uma refinaria,
ou seja, não existem duas refinarias iguais no mundo (Szklo, 2005).
É possível haver “unidades gêmeas”10, em uma determinada refinaria, em
que o projeto adotado foi o mesmo para ambas em função da mesma carga e que, por
algum motivo, essa decisão de projeto mostrou-se mais adequada do que uma unidade
com capacidade de processamento igual a das duas juntas. Com os atuais recursos de
automação de projetos11 isto, se configurar-se como a melhor solução, torna-se
extremamente simples. Mas, em termos operacionais, em função dos múltiplos e
complexos fatores já citados envolvidos nos processos de uma unidade em uma
refinaria(heterogeneidade da carga, levando a atuações diferentes para controle das
variáveis de processo, afetando de forma diferente os materiais dos equipamentos, etc.),
estas unidades não terão o mesmo comportamento ao longo do tempo.
10
As unidades U-1530 e U-1520 da Planta de Lubrificantes da Refinaria Duque de Caxias(REDUC), no
Município de Duque de Caxias, são um exemplo de “unidades gêmeas”.
11 Diversas empresas da área de petróleo e gás, têm desenvolvido seus projetos através de modelos
tridimensionais inteligentes que, através de bancos de dados, guardam importantes informações, como
especificações de peças, quantidades, características geométricas, etc., que facilitam todo o processo de
projeto, gerando, automaticamente, lista de materiais,desenhos de plantas, de isométricos. As plantas
industriais já existentes passam por um “as built”(levantamento) através de uma técnica chamada de
escaneamento a laser, através da qual se consegue, após o devido tratamento, o modelo tridimensional
inteligente.
21
Não só o domínio do processo ou de um tipo de equipamento, mas o
conhecimento específico das características de sua unidade são essenciais para que o
Técnico de Operação possa exercer plenamente suas atividades. Esse conhecimento
envolve a localização física e as características dos equipamentos, os fluxos dos
diversos produtos através dos equipamentos(“alinhamentos”, como é utilizado no jargão
dos Técnicos de Operação), as variáveis de operação da sua unidade, os procedimentos
específicos da mesma, etc.
3.3.3. Heterogeneidade da matéria-prima petróleo
O petróleo cru não é um material homogêneo, possuindo uma composição
química diferente de acordo com sua formação. Cerca de 150 tipos são comercializados
atualmente, dos quais muitos são misturas de dois ou mais tipos.Êle é uma mistura
complexa onde predominam compostos de hidrocarbonetos(cerca de 98%) e outros
materiais como oxigênio, nitrogênio, enxofre,sal e água, sendo classificado de acordo
com a seqüências moleculares de seus hidrocarbonetos em parafínicos, nafitênicos,
aromáticos ou asfálticos. Tais seqüências determinam as características e propriedades
físico-químicas do petróleo (GARY, HANDWERK e KAISER, 2007).
Essa heterogeneidade da substância petróleo vai demandar uma atuação
correspondente da operação para manter o produto final dentro das especificações. A
cada conjunto de características de uma carga, corresponderão determinadas ações dos
Técnicos de Operação para obter-se os derivados desejados nos volumes
estrategicamente definidos e especificações desejadas. Tais atuações demandam um
conhecimento dessas relações que permitirão a obtenção deste produto final
homogêneo(derivados) a partir de um produto heterogêneo(petróleo).
3.3.4. Freqüência de modificações
Não raramente refinarias sofrem modificações. Construídas para atender
certas demandas de um determinado período histórico e com uma determinada
tecnologia, podem precisar sofrer transformações em função de mudanças de na
demanda do mercado, carga, especificações de produtos, regulamentação ambiental e
22
atualizações tecnológicas, sendo comum que possuam unidades de processo com
tecnologias mais antigas e outras mais modernas12.
Neste caso, existe, na mesma velocidade das modificações, uma demanda
por formação continuada para atualizar os conhecimentos necessários para domínio das
novas tecnologias que se apresentem.
3.3.5. Otimização do refino
A flexibilidade da maioria das refinarias permite a obtenção do mesmo
objetivo por diversos caminhos. A atuação nas diversas variáveis de operação como
temperatura, pressão, tempo de residência, qualidade da carga, pontos de corte e
catalisadores etc. são usados para equilibrar a matéria-prima, o produto e a qualidade.
Essa flexibilidade permite uma adequação da produção oriunda tanto de fatores de
mercado ou de decisões governamentais, quanto de fatores técnicos associados a
melhoria da qualidade, atendimento a especificações, necessidades inesperadas
provenientes, por exemplo, de paradas de unidades em emergência. Segundo (GARY,
HANDWERK e KAISER, 2007)
“Os subsistemas que compõem uma refinaria são
continuamente otimizados, expandidos, ou desativadas para melhorar as
operações. Porque o refino é uma operação contínua e integrada,
otimização requer uma formulação sofisticada, multidimensional, e
variável no tempo que liga variáveis operacionais, especificações de
produtos, preços de entrada e saída, e restrições ambientais e
econômicas. A integração total do site é usada para otimizar a interação
das unidades de refinaria com a infra-estrutura de utilidades existente.
Otimizar uma refinaria é uma questão de equilíbrio, porque cada
benefício tem um custo, cada ganho incremental tem uma perda de
compensação, e cada tentativa de remover um produto indesejado cria
um nova corrente de resíduos.”
12
A REDUC (Refinaria Duque de Caxias) possui ainda hoje unidades com instrumentação pneumática e
unidades com SDCD, já em sua segunda ou terceira geração.
23
Tais operações são executadas pelo Técnico de Operação, que de forma
integrada com outras unidades da refinaria, vai executar as ações que permitirão buscar
o melhor nível de operacional para a unidade, conforme a decisão estratégica tomada,
baseada no mercado, necessidades operacionais, etc. Assim essa flexibilidade
operacional para a otimização, demanda também do operador possuir o conhecimento e
uma visão geral dos processos não só da sua unidade, mas da refinaria como um todo.
3.3.6. Impactos ambientais do processo de refino e seus produtos
Os mais diversos tipos de resíduos e emissões atmosféricas são gerados
pelos processos do refino, sendo boa parte deles tóxicos ou perigosos. Assim, em
função de severos controles dos órgãos ambientais, das leis ambientais cada vez mais
restritivas, das políticas ambientais de governo em todas as esferas(municipal, estadual
e federal) e das próprias diretrizes de gestão das empresas, com foco na imagem e na
responsabilidade social, tanto os projetos das unidades novas quanto diversos projetos
de melhorias operacionais visam aperfeiçoar os processos e equipamentos no sentido de
mitigar ou minimizar tais impactos no meio-ambiente. Da mesma forma, e muitas vezes
em conseqüência disto, procedimentos operacionais são revisados gerando novas
demandas na formação inicial e continuada.
Os resultados na área ambiental de uma refinaria estão intimamente ligados
a atuação dos Técnicos de Operação, seja na busca pela minimização de resíduos
através da ação eficiente no controle do processo ou numa simples drenagem de
equipamento, cada atuação do Técnico de Operação pode gerar, impedir ou minimizar
um impacto ambiental de qualquer porte, pequenos e grandes.
3.3.7. Influência no trabalho do Técnico de Operação
Todas estas características têm influência na atuação do Técnico de
Operação e na utilização de seus conhecimentos e, conseqüentemente, na capacitação
dos mesmos devendo, assim, também servir de insumos na elaboração de um programa
de formação inicial e continuada que pretenda atingir seus objetivos.
O ambiente onde se desenvolvem essas operações, ou seja, onde o Técnico
de Operação desenvolve as suas atividades é um ambiente de risco, em função dos
valores elevados das variáveis físicas do processo, da presença de hidrocarbonetos
24
(substâncias altamente inflamáveis), substâncias tóxicas. É um ambiente de ruído, onde
mesmo com o uso do protetor auricular, trazendo este ruído para níveis aceitáveis para o
ouvido humano, ele é contínuo. Em função de todos estes elementos, para executar e
verificar a execução de outros serviços na área sob sua responsabilidade, o Técnico de
Operação deve receber, além do apoio adequado dos setores de Segurança Industrial das
refinarias, intenso treinamento na área de Segurança Industrial. A Figura 6 mostra uma
visão de uma unidade de processo, que é onde o Técnico de Operação executa o seu
trabalho.
Figura 6-O ambiente de trabalho do Técnico de Operação - Visão geral de uma unidade de processo
em uma refinaria de petróleo
O trabalho do Técnico de Operação também é executado nas salas de
controle, onde em um ambiente menos agressivo é realizado o controle geral da unidade
através de consoles onde são visualizados esquemas das unidades e o valor das variáveis
permitindo uma atuação a distância e, quando necessário, uma comunicação ao campo
para algum tipo de atuação que deva ser feita diretamente na área industrial.
25
4. CAPÍTULO 4 – O TÉCNICO DE OPERAÇÃO DA INDÚSTRIA DO REFINO
4.1. Atribuições e características
A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), publicação do Ministério
do Trabalho e Emprego é “o documento normalizador do reconhecimento (no sentido
classificatório), da nomeação e da codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. (Ministério do Trabalho e Emprego-Secretaria de
Políticas Públicas e Emprego, 2010)
A partir de um método de análise ocupacional já utilizado nos Estados
Unidos, Canadá e outras partes do mundo há mais de quarenta anos, adaptado as
peculiaridades brasileiras e que reúne os profissionais atuantes em um mesmo grupo de
ocupações denominado família, o documento contém as ocupações, organizadas e
descritas por estes grupos. Cada família constitui um conjunto de ocupações similares
correspondente a um domínio de trabalho mais amplo que aquele da ocupação.
Assim, por este critério, temos sob o código 8110, da CBO, a família
“Operadores polivalentes de equipamentos em indústrias químicas, petroquímicas e
afins” que tem os seguintes títulos: “Operador de processos químicos e petroquímicos”
e “Operador de sala de controle de instalações químicas, petroquímicas e afins”, sob os
códigos 8110-05 e 8110-10, respectivamente, como as classificações que podemos
considerar as mais adequadas para o operador de processo da área de refino de
petróleo(ou Técnico de Operação, como, pelo motivos já expostos, estamos chamando
este profissional neste trabalho). Tais títulos têm a seguinte descrição, conforme a CBO:
“TÍTULO
8110-05 Operador de processos químicos e petroquímicos
- Mantenedor operacional de processos químicos e petroquímicos;
Técnico de operação em processos químicos e petroquímicos; Técnico de
processo petroquímico (operador de equipamentos).
8110-10 Operador de sala de controle de instalações
químicas, petroquímicas e afins - Operador industrial nas instalações
químicas, petroquímicas e afins.
26
DESCRIÇÃO SUMÁRIA
Preparam passagem de turno e controlam etapas do
processo químico e petroquímico.Realizam análises químicas e físicas e
zelam pelo funcionamento das instalações e equipamentos. Operam
instalações industriais e equipamentos de campo e controlam fluxo de
materiais e insumos. Trabalham em conformidade com as normas de
segurança, higiene, qualidade e preservação ambiental.
FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA
Para o exercício dessas ocupações requer-se curso técnico
de nível médio em química, petroquímica ou áreas afins oferecido por
instituições de formação profissional ou escolas técnicas. O pleno
desempenho das atividades ocorre após cinco anos de experiência
profissional. ...
CONDIÇÕES GERAIS DE EXERCÍCIO
Atuam na fabricação de produtos químicos, coque, refino
de petróleo, combustíveis nucleares e álcool como assalariados com
carteira assinada. Organizam-se em equipe, sob supervisão ocasional dos
engenheiros. Podem trabalhar em locais fechados, a céu aberto ou em
veículos, por rodízio de turnos, em ambiente confinado, subterrâneo ou
em grandes alturas. Em algumas atividades permanecem expostos a
materiais tóxicos, ruído intenso, altas temperaturas, radiação, vibração e
partículas de suspensão. Atuam de forma ampla e variada e são
conhecidos, em seu meio, como profissionais com habilidades
diferenciadas (multi-skill).
CÓDIGO INTERNACIONAL CIUO 88
8159 - Operadores de instalaciones de tratamientos
químicos. no clasificados bajo otros epígrafes.
27
RECURSOS DE TRABALHO
Bombas; Compressores; Controladores; Painéis de
controle; Reatores; Torres; Tubulações; Turbinas; Válvulas.” (Ministério
do Trabalho e Emprego-Secretaria de Políticas Públicas e Emprego,
2010) CBO, Ministério do Trabalho e Emprego,2002,livro 2,pg 405
A Tabela 1 apresenta a Matriz Ocupacional de Atividades da CBO para as
ocupações e que traz “as grandes áreas de atividades e atividades, bem como a sigla de
quem faz o quê naquela família ocupacional (perfil), em forma de planilha” (Ministério
do Trabalho e Emprego-Secretaria de Políticas Públicas e Emprego, 2010).
Complementando então a caracterização legal das atividades desses
profissionais, feita acima através da CBO(Classificação Brasileira de Ocupações, do
Ministério do Trabalho e Emprego), para melhor entendimento da complexidade de suas
funções e das necessidades de seu processo de capacitação, podemos tomar como
referência adicional as habilitações requeridas para participação nos processos seletivos
públicos organizados pela Petrobras para admissão dos seus futuros Técnicos de
Operação, bem como as atribuições constantes de seus editais, uma vez que que a quase
totalidade do parque de refino brasileiro é da Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A13.
No último edital14 lançado pela Petrobras para realização de Processo
Seletivo Público para formação de cadastro de reserva em que houve vagas para o cargo
de Técnico de Operação Júnior15 eram citados os exemplos de atribuições:
“Exemplos de atribuições: executar e participar das
atividades de operação das instalações, equipamentos, painéis de
controle, sistemas supervisórios e de monitoramento dentro dos padrões
técnicos estabelecidos e das normas operacionais, controlando variáveis
operacionais, observando a existência de anormalidades, bem como atuar 13
As exceções ficam por conta da Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro e Refinaria Ipiranga, no
Rio Grande do Sul
14 Edital 01-Abertura - PSP RH-2/2010
15 No Plano de Cargos e Salários da Petrobras a carreira é formada por profissionais Juniores, Plenos e
Seniores
28
Tabela 2-Matriz Ocupacional de Atividades da CBO para as ocupações - Família Ocupacional
Operadores polivalentes de equipamentos em indústrias químicas, petroquímicas e afins
29
no processo de manutenção suprindo as necessidades de primeiro nível,
direcionados às demais demandas conforme normas pré-definidas,
acompanhando e testando as correções.” (PETROBRAS - PETRÓLEO
BRASILEIRO S.A.-RECURSOS HUMANOS, 2009)
4.2. A formação do Técnico de Operação
O Catálogo Nacional de Cursos “Instrumento cuja proposta é disciplinar a
oferta de cursos técnicos, no tocante às denominações por eles empregadas”
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009)agrupou os cursos técnicos até então existentes
conforme suas características científicas e tecnológicas em 12 eixos tecnológicos que
somam ao todo 185 possibilidades de oferta de cursos técnicos apresentando as
denominações que deverão ser adotadas nacionalmente para cada perfil de formação.
“Para cada curso técnico constante do Catálogo foram
destacadas importantes informações, tais como: atividades principais
desempenhadas por esse profissional, destaques em sua formação
técnica, possibilidades de locais de atuação, infraestrutura recomendada e
carga horária mínima.” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009)
Anexo ao Catálogo está a tabela de convergência entre as denominações,
relacionando as denominações anteriormente empregadas àquelas empregadas pelo
Catálogo.
Não há no corpo do documento, nem em seu anexo a referência a um curso
específico que anteriormente preparasse ou que atualmente prepare para a função
específica de Técnico de Operação ou Operador de Processo. Dentro do eixo
tecnológico Controle e Processos Industriais encontramos o curso de Técnico em
Petroquímica, onde dentro do campo “Possibilidades de temas a serem abordados na
formação” estão os itens “Tecnologias de processos de refino” e “Operações de
máquinas e equipamentos da indústria petroquímica” e , no mesmo eixo, neste mesmo
campo, no curso de Técnico de Química o Item “Processos industriais”. São, dessa
forma, os cursos técnicos que mais se aproximariam de uma formação específica para as
funções de Técnico de Operação na área de refino. Isso pode ser explicado pelo fato de,
30
conforme citado no item 2.1, as refinarias brasileiras serem quase todas pertencentes a
uma única empresa: a Petrobras-Petróleo Brasileiro S.A e para a qual, por ser uma
empresa estatal e segundo a legislação brasileira vigente, o acesso só pode ser feito via
concurso público, não havendo, portanto, uma possibilidade de empregabilidade via
mercado. Essa possibilidade existe não propriamente na área de refino de petróleo, mas
na chamada área de petroquímica de primeira, segunda e terceira geração, que utiliza
insumos provenientes da indústria do refino e através de outros processos produzem
produtos para utilização nas mais diversas indústrias, desde a indústria de embalagens a
indústria de tintas.
Temos assim que, no último edital16 lançado pela Petrobras para realização
de Processo Seletivo Público para formação de cadastro de reserva em que houve vagas
para o cargo de Técnico de Operação Júnior17 as habilitações que permitiam a
participação no concurso eram : Técnico em Análises Químicas, Automação Industrial,
Eletricidade e Instrumentos Aeronáuticos, Eletroeletrônica, Eletromecânica, Eletrônica,
Eletrotécnica, Fabricação Mecânica, Manutenção Automotiva, Manutenção de
Aeronaves, Mecânica, Mecatrônica, Metalurgia, Petróleo e Gás, Petroquímica,
Plásticos, Química, Refrigeração e Climatização ou Sistemas a Gás.
A formação do Técnico de Operação na área de refino é feita no Brasil, de
uma forma geral então, após processo seletivo público (ou particular, no caso somente
de duas exceções) dentro da própria Petrobras, e a partir de um leque amplo de
formações técnicas, sendo portanto esta a nossa referência de como é desenvolvida a
formação inicial e continuada do Técnico de Operação no Brasil e a estrutura para qual
será desenvolvida a metodologia proposta. Ressalte-se, porém, que a ela pode ser
utilizada para outras áreas onde atuem operadores de processos industriais, em especial
na área petroquímica, onde apesar da diferença de processos, as similaridades com as
carcterísticas (complexidade, diversidade de processos e equipamentos, unicidade das
plantas, etc.) favorece sua utilização. SIBILIDADES DE TEMASEM ABORDADA
FORMAÇÃOOSSIBILIDADES DE TEMAS
16 Edital 01-Abertura - PSP RH-2/2010
31
4.3. Atuação do Técnico de Operação
O contínuo e veloz desenvolvimento tecnológico nas áreas de
eletrônica e informática têm afetado nos últimos anos fortemente todas as áreas
industriais. Na área de petróleo e gás e mais especificamente no refino não foi diferente,
passando as refinarias por um aumento e também uma grande evolução na automação,
propiciando um maior controle de seus processos através das novas tecnologias digitais.
Os sistema de SDCD(Sistemas Digitais de Controle Distribuído), que começaram a ser
implantados nas refinarias brasileiras na década de 90 e hoje já atualizados, a mudança
na visão da forma de controle com o surgimento dos CIC(Centros Integrados de
Controle), que substituíram as casas de controle locais e centralizaram o controle em
único espaço e outras mudanças de grande porte trouxeram maior confiabilidade aos
sistemas, com maior precisão no controle das diversas variáveis, possibilidade de
atuação e respostas mais rápidas, entre outras muitas vantagens, sobre os velhos
sistemas pneumáticos, aos quais muitas vezes substituíram em unidades que sequer
sofreram uma “transição tecnológica” passando pelos sistemas eletrônicos18.
De forma similar a outras indústrias houve também uma expectativa
no que diz respeito ao quanto essas novas tecnologias impactariam na necessidade da
presença do Técnico de Operação. Conforme mostrado no item 3.2 os sistemas e
processos do refino são extremamente complexos. Diversos tipos de equipamentos
sofisticados, trabalhando em condições severas, variáveis físicas e químicas interagindo
continuamente, um produto de entrada no processo, o petróleo, que como todo material
natural não é homogêneo e muitos outros fatores fazem com que existam muitas
possibilidades de ocorrências inéditas. Nestes casos são necessárias, além dos
conhecimentos teóricos e práticos já citados, habilidades específicas desenvolvidas ao
longo dos anos e uma capacidade de análise para a solução do problema. Muitas dessas
ocorrências geram emergências operacionais e as soluções devem ser pensadas
rapidamente, em um ambiente de tensão e risco, simultaneamente a ações que tragam a
18
Em finais da década de oitenta e início da década de noventa partiram as primeira unidades em SDCD
do sistema Petrobras: a primeira na REPLAN(Refinaria de ),em Paulínia e a segunda: a unidade de
Craqueamento Catalítico Fluído (U-1250) da REDUC(Refinria Duque de Caxias). Ambas tinham controle
pneumático que foi substituído pelo SDCD
32
unidade as condições operacionais estáveis ou se for o caso que se proceda a parada da
unidade em condições as mais seguras possíveis.
A área de processos de refino exige um amplo espectro de
conhecimentos em diversas áreas teóricas e aplicadas na formação dos Técnicos de
Operação, além desta função possuir uma série de peculiaridades que tornam necessário
a existência de um bom programa de formação inicial e continuada.
Dentre as múltiplas qualificações citadas acima para cumprir suas
atribuições o Técnico de Operação necessita conhecimentos teóricos gerais como Física
Aplicada (Termodinâmica e Transferência de Calor, Mecânica dos Fluidos,
Eletricidade), Química Aplicada, etc e conhecimentos de processos de
refino(destilação, craqueamento catalítico, tratamentos,etc.-ver item 2.2). Quanto aos
processos de uma unidade de refino, além de conhecimentos teóricos sobre estes
processos, precisa dominar os conhecimentos específicos referentes a esses processos
na unidade em que estiver lotado, uma vez que, apesar dos novos softwares de
automação de projetos, de um modo geral e por razões diversas, não existem duas
unidades de processos iguais (organização física, variáveis de processo, tipo de
equipamentos,etc.,ver item 3.3.2) , ainda que para um mesmo tipo de processo. Além
disso, no aspecto prático atua diretamente junto aos equipamentos, precisando aprender
o funcionamento e operação de bombas, turbinas, fornos, torres,etc. participando
também “no processo de manutenção suprindo as necessidades de primeiro nível,
direcionados às demais demandas conforme normas pré-definidas, acompanhando e
testando as correções.” (PETROBRAS - PETRÓLEO BRASILEIRO S.A.-RECURSOS
HUMANOS, 2009).
No que se refere as peculiaridades da função existem o fato de
freqüentemente o Técnico de Operação vivenciar situações que demandam uma análise
e atuação imediata, onde seus conhecimentos são testados muitas vezes sob pressão, a
grande quantidade de procedimentos operacionais a serem dominados e que podem ficar
por longos períodos sem serem executados, a complexidade dos sistemas e processos na
área de refino, a exclusividade do arranjo das instalações das unidades industriais de
processo,etc.. Todas estas características fazem com que esse profissional necessite,
para um bom desempenho de suas funções de uma formação, tanto inicial quanto
continuada, que seja ampla, atendendo as necessidades de formação teórica do
33
profissional e agregue experiências anteriores para uma boa formação de ordem prática,
que permita o vivenciamento dos procedimentos de campo.
Estes profissionais são responsáveis pelo controle de todo o processo
de produção, atuando nas variáveis de processo(temperaturas, pressões, vazões, etc.),
seja através da atuação em painéis de controle e/ou pela atuação no campo, diretamente
nos equipamentos. O trabalho também é realizado em área de risco, já que as variáveis
de processo por eles controladas alcançam valores elevados e por fatores diversos,
como falhas em equipamentos( bombas que param de funcionar,etc.), podem levá-las a
níveis capazes de gerar um descontrole do processo, podendo acarretar danos aos
equipamentos, aos profissionais e ao meio ambiente. Nessas ocasiões a própria
necessidade de paralisação do processo em condições anormais (chamada parada em
emergência) potencializa o risco de acidentes.
Outra característica da atuação destes técnicos é que tantos são os
processos e procedimentos que é possível que um técnico de operação em função de seu
regime de trabalho, que é de revezamento de turno19, passe anos sem presenciar um
determinado procedimento como, por exemplo, a partida de um grande compressor, que
envolve muito itens e cujo domínio é de grande importância.
Ocorre também que o aspecto prático do treinamento do Técnico de
Operação na área industrial, embora acompanhado por profissionais mais experientes, é
feito diretamente nos equipamentos, sem um sentimento antecipado do que seja
determinada operação.
19 Na Lei 5.811/72 está a origem dos turnos ininterruptos de revezamento. Esta lei estabelece a jornada
de trabalho dos empregados nas atividades de exploração, perfuração, produção e refinação de
petróleo.
O trabalho em turno é caracterizado pela sucessão de grupos de trabalhadores em um mesmo ambiente
de trabalho, permitindo um processo de produção ininterrupto.
Ou seja, o trabalhador cuja jornada de trabalho pode ser diurna ou noturna e que, em função de uma
escala de serviço, esta jornada ocorre, ora na parte da manhã, ora na parte da tarde, ora na parte da
noite é considerado em turno ininterrupto de revezamento.
34
O trecho abaixo, extraído de uma pesquisa feita entre Técnicos de
Operação (KUENZER, 2007) sintetiza bem a visão, a partir dos próprios profissionais
envolvidos na operação, as habilidades necessárias ao bom desempenho do cargo:
“Ao entrevistar operadores, engenheiros e gerentes na
REPAR, é recorrente a compreensão que, em situações de risco
previstas e não previstas, nem sempre é aquele que detém o
conhecimento teórico que atua com mais rapidez e eficiência, no sentido
de voltar o sistema à situação de normalidade com segurança e
confiabilidade, protegendo vidas humanas, o ambiente e os
equipamentos. Nestes casos, vale mais a experiência adquirida ao longo
da trajetória laboral, nem sempre sustentada por sólida formação teórica
na área do refino, mas sustentada por conhecimentos tácitos. É corrente
entre eles, também, a clareza que a formação teórica é necessária, por
que, em tese, melhora as condições de atuação; contudo, há outros fatores
que intervém na capacidade de enfrentar situações de risco, que
extrapolam a dimensão cognitiva, tais como a disposição para atuar, a
estabilidade emocional, a capacidade de atuar em situações de stress, o
comprometimento com o coletivo, e assim por diante. E ainda,
mantendo-se a discussão no domínio cognitivo, está presente a
capacidade para articular a situação a ser enfrentada com outras situações
que contiveram elementos similares, bem como a capacidade para
articular conhecimentos teóricos a conhecimentos práticos, reafirmando a
compreensão de que a simples existência de conhecimentos, sejam
tácitos ou sejam teóricos, não é suficiente para desencadear ações
competentes. E estas competências estarão tão mais presentes quanto
mais ricas forem as experiências vividas, os conhecimentos adquiridos, o
acesso a informações, e assim por diante.”
35
5. CAPÍTULO 5 – ALGUNS ASPECTOS PEDAGÓGICOS
5.1. A formação inicial e continuada
De um modo geral, consideramos que a formação profissional pode ser
dividida em duas fases distintas (MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO;MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO, 2010):
a. a formação inicial
b. a formação continuada
A formação inicial é aquela etapa necessária para a atuação profissional,
funcionando como um pré-requisito para que o profissional possa exercer a sua
atividade, reunindo o conhecimento e a prática mínimas, suficientes e necessárias para
este desempenho.
A formação continuada é um processo ininterrupto de acúmulo e
transformações de conhecimentos agregados as práticas vivenciadas pelos profissionais.
Segundo o Art. 3º do Decreto 5.154/2004, que regulamenta o Cap. III da
LDB:
“Os cursos e programas de Formação Inicial e Continuada
de trabalhadores, incluídos a capacitação, o aperfeiçoamento, a
especialização e a atualização, em todos os níveis de escolaridade,
poderão ser ofertados segundo itinerários formativos, objetivando o
desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e social.”
(PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CASA CIVIL SUBCHEFIA PARA
ASSUNTOS JURÍDICOS, 2004)
Quanto aos objetivos da formação inicial e continuada:
“Os cursos e programas de Formação Inicial e Continuada
objetivam:
a. Proporcionar aos trabalhadores, o desenvolvimento
de aptidões para a vida produtiva e social;
36
b. Promover a capacitação, o aperfeiçoamento, a
especialização e a atualização de profissionais nas
áreas da educação profissional e tecnológica;
c. Qualificar e requalificar trabalhadores, preparando-
os para que se dediquem a um tipo de atividade
profissional a fim de promover seu ingresso e/ou
reingresso no mercado de trabalho;
d. Ampliar as competências profissionais de
trabalhadores;
e. Despertar nos cidadãos o interesse para o
reingresso na escola, em cursos e programas que
promovam a elevação de escolaridade e o aumento
da consciência sócio-ambiental” (INSTITUTO
FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DE GOIÁS, 2010)
Na apresentação de (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO,
CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS, 2010) Ministério da Educação e do
Ministério do Trabalho e Emprego sobre a Rede Certific-Rede Nacional de Certificação
Profissional e Formação Inicial e Continuada, encontramos a seguinte definição:
“A etapa inicial caracteriza-se como sendo a que, do ponto
de vista acadêmico, credencia o indivíduo a atuar em determinada área
do conhecimento e é adquirida com a conclusão do curso de nível básico,
técnico, tecnológico, licenciatura ou bacharelado. Já a outra etapa de
formação, denominada formação continuada, envolve todas as
aprendizagens decorrentes da atualização permanente, das experiências
profissionais vivenciadas associadas ou não aos cursos de atualização que
ampliam a formação inicial.”
Podemos utilizar esta mesma definição sob o ponto de vista profissional
específico de uma carreira, considerando a formação inicial o primeiro nível de
aprendizagem profissional de uma determinada ocupação, podendo este nível
37
corresponder, no aspecto acadêmico,a qualquer um dos níveis citados na definição
acima, de acordo com as exigências de formação para o cargo a ser ocupado, acrescido
de algum conhecimento adquirido em treinamento específico que lhe permita exercer as
suas atividades. No caso dos Técnicos de Operação, conforme explicado no Capítulo 4,
as exigências mínimas de formação acadêmica prevêem o curso técnico em algumas
determinadas especialidades e o aprendizado específico para exercer a função.Na
verdade é esse aprendizado específico que vai realmente corresponder a formação
inicial do Técnico de Operação.
5.2. A pedagogia do trabalho
A percepção da necessidade de interação entre teoria e prática na
formação inicial e continuada pode ser percebida pelas atribuições do Técnico de
Operação e as características do seu trabalho, já descritas anteriormente(ver Capítulo 4).
Mas busquemos o embasamento teórico para um melhor entendimento desta interação
entre conhecimento teórico e prática para subsidiar a formação de nossa metodologia
para aplicação de Realidade Virtual a formação dos Técnicos de Operação.
Essa aproximação entre teoria e prática, tão necessária a formação e ao
desenvolvimento do Técnico de Operação pode ser analisada a partir de alguns
conceitos oriundos da Pedagogia do Trabalho. Dentre estes destaca-se o conceito de
competência, que segundo Kuenzer é:
“ ...a capacidade de agir, em situações previstas e não
previstas, com rapidez e eficiência, articulando conhecimentos tácitos e
científicos a experiências de vida e laborais vivenciadas ao longo das
histórias de vida. ... vinculada à idéia de solucionar problemas,
mobilizando conhecimentos de forma transdisciplinar a comportamentos
e habilidades psicofísicas, e transferindo-os para novas situações; supõe,
portanto, a capacidade de atuar mobilizando conhecimentos...”
(KUENZER, 2007)
38
Esta definição torna-se especialmente rica para o nosso trabalho que
busca, dentre outros objetivos dar uma base pedagógica a utilização da Realidade
Virtual na capacitação de Técnicos de Operação, por que, conforme a autora, foi
desenvolvida “...com apoio na teoria, mas também nas entrevistas levadas a efeito com
148 operadores...” (KUENZER, 2007)Esta entrevista foi parte de uma pesquisa
realizada na REPAR- Refinaria Presidente Getúlio Vargas, em Araucária, Estado do
Paraná, com Técnicos de Operação em formação inicial que já haviam passado pelo
treinamento teórico, chamado formação básica e estavam vivenciando a parte prática no
campo, chamada formação específica, e seus facilitadores, Técnicos de Operação
experientes. Estes dois módulos correspondem na verdade a formação inicial dos
Técnicos de Operação, conforme as definições dadas anteriormente.
Dentre diversas observações interessantes e importantes desta pesquisa
podemos destacar a “falta de articulação entre teoria e prática” nessa formação inicial”
(KUENZER, 2007)nessa formação inicial, segundo a visão dos novos Técnicos de
Operação.Além disso cerca de 60% dos entrevistados, colocam que esta articulação,
caso houvesse ocorrido desde o início do processo de formação, faria com que os
conteúdos teóricos tivessem maior significado. Em relação as sugestões para um
próximo curso, 75% pediram essa mesma alteração, confirmando a opinião de
operadores experientes também entrevistados.
Os Técnicos de Operação novos manifestaram também, segundo a
pesquisa, uma maior afinidade com as disciplinas da formação básica que têm maior
“relação visível com a área de trabalho” (KUENZER, 2007), como as referentes a
equipamentos. Apontam também a falta de motivação na formação básica e o oposto na
formação específica em função das aulas práticas:
“É importante destacar que, de modo geral, os novos
operadores reconhecem que tiveram um bom embasamento teórico; o que
apontam é a necessidade de uma melhor integração deste conhecimento
com a prática desde o início do curso, em particular questionando o
significado das disciplinas de caráter básico.
A percepção dos novos operadores coincide com a dos
facilitadores, operadores experientes que os receberam na operação
assistida; embora reconheçam a superioridade do curso com relação à sua
39
própria formação e a cursos anteriores, ainda apontam uma maior
necessidade de articulação entre teoria e prática.” (KUENZER, 2007)
Percebemos aqui um fator determinante que influenciou o
desenvolvimento do curso de formação: o motivacional relacionado a interação entre a
teoria e a prática. Como já foi dito anteriormente as necessidades de conhecimento do
operador são muitas e abrangem muitas áreas de conhecimento. Assim a carga de
conhecimento teórico necessária é alta e imprescindível e não é rejeitada, segundo a
pesquisa, pelos Técnicos de Operação, onde é dito que “...A concepção dos operadores
não exclui a posse do saber teórico, que chamam de teoria do processo, dada a
complexidade e risco da atividades de refino...” (KUENZER, 2007).Mas leva a um
nível de desmotivação quando apresentada isolada de um sentido prático. A Realidade
Virtual tem, pelas suas características de interatividade e imersão, de tornar o
aprendizado mais interessante e motivador e neste caso específico fazer, virtualmente,
esta ligação entre teoria e prática.
Além desse amplo conhecimento teórico e prático conforme a definição
dada acima por Kuenzer para competência, são necessárias para adquiri-las também
“habilidades psicofísicas” como equilíbrio emocional, capacidade de atuação sob
pressão, etc. A possibilidade da Realidade Virtual de criar situações de risco sob
controle pode ajudar a desenvolver tais habilidades.
5.3. Aplicabilidade ao trabalho do Técnico de Operação
A pesquisa realizada por Kuenzer (KUENZER, 2007) (KUENZER,
2007) na REPAR fornece interessantes subsídios para uma validação dos princípios
adotados na proposta deste trabalho conforme será desenvolvido no Capítulo 6, ou seja ,
a necessidade de uma construção multidisciplinar que leve em consideração o
conhecimento tácito dos operadores bem como a construção em cima de bases
pedagógicas consistentes sob pena de subutilizar o recurso da Realidade Virtual. Nesta
pesquisa, desenvolvida a partir de entrevistas feitas com 148 Técnicos de Operação
daquela refinaria do sistema Petrobras, são ratificadas, com utilização de metodologia
científica, diversas percepções do autor deste trabalho, baseadas em sua experiência
como Técnico de Operação de refino, no período de 1988 a 1993, na Refinaria Duque
de Caxias e em conversas informais com outros Técnicos de Operação.O trabalho de
40
são analisadas diversas questões relativas a como era desenvolvida formação dos
Técnicos de Operação, quais as expectativas em relação construção de um novo modelo,
além de outras questões, a partir da percepção dos Técnicos de Operação novos e
antigos. Exatamente por ter sido desenvolvido no público alvo a ser atendido pela
metodologia desenvolvida neste trabalho e no mesmo objetivo básico, que é a melhoria
da qualidade da formação inicial e continuada de Técnicos de Operação, embora com
outro foco, fornece alguns pontos, sob o olhar pedagógico, que ratificam as grandes
possibilidades da utilização da Realidade Virtual no treinamento de Técnicos de
Operação. Analisaremos, então, alguns desses pontos, relacionando-os com aspectos da
Realidade Virtual e sua aplicabilidade no treinamento profissional dos Técnicos de
Operação.
Ao citar e comentar Kopnin em seu trabalho, Kuenzer, afirma:
“Ou, como afirma Kopnin, o “pensamento como relação
teórica do sujeito com o objeto, surge e se desenvolve à base da interação
prática entre eles” (Kopnin, 1978). Ou seja, não há pensamento fora da
atividade humana; esta interação tem caráter material, concreto-sensorial,
passível de verificação empírica, uma vez que provoca mudanças no
objeto, e ao mesmo tempo, no sujeito.” (KUENZER, 2007)
A “visualização” do processo pelo Técnico de Operação ocorre,
basicamente, pela interpretação do comportamento das variáveis de processo(vazão,
temperatura, pressão, etc). Um Técnico de Operação “pensa” , “imagina” naturalmente
o processo, uma vez que este não são visíveis , pois ocorrem dentro dos equipamentos,
além do que “não há pensamento fora da atividade humana”.
Seria correto dizer que A Realidade Virtual pode ser uma ferramenta
poderosa para auxiliar o pensamento como “interação prática” entre o objeto e o sujeito,
uma vez que pode potencializar o caráter material e concreto-sensorial dessa interação
e, conseqüentemente do conhecimento teórico.
Sob o olhar da Realidade Virtual, temos também a afirmação de Tori, et
al.:
“Apesar de haver uma forte tendência na simulação do
real nas aplicações de realidade virtual, a realização do imaginário é
41
também de fundamental importância, em função das dificuldades de se
comunicar conceitos e idéias inexistentes e de seu potencial de inovação.
Até há alguns anos atrás, a única maneira de se retratar o imaginário era
descrevê-lo verbalmente ou, quando possível, desenhá-lo ou representá-
lo de maneira restrita como desenhos, esculturas, maquetes, animações
ou filmes, com muitas limitações, seja de custo, de produção ou de
interação.” (TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
A representação em realidade virtual dos diversos processos que
ocorrem em uma unidade industrial da área de refino do petróleo, enquadra-se
perfeitamente nessa possibilidade de “representação interativa e imersiva do
imaginário” (TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006), já que pretende mostrar os
diversos fenômenos físico-químicos que ocorrem no interior dos equipamentos durante
estes processos de forma dinâmica e com possibilidade da atuação dos Técnicos de
Operação, como se estivessem de fato na unidade industrial, fazendo as alterações
necessárias ao processo e “vendo” as respostas a suas atuações, o que no mundo real só
pode ser verificado quantitativamente através das alterações dos valores apresentados no
painel das consoles, nas casas de controle, ou através das indicações dos instrumentos
de campo. A associação da avaliação quantitativa dos fenômenos a uma “visualização”
dos mesmos pode conferir, certamente, um nível de excelência ao processo de ensino-
aprendizagem.
“ E, entre a teoria e a práxis... insere-se uma mediação: o
trabalho educativo, que se dá como resultado da interação entre
consciências e circunstância, entre pensamento e bases materiais de
produção, entre superestruturas e infraestruturas.
Sobre esta forma de compreender, Vázquez mostra que
“uma teoria é prática na medida em que se materializa, através de uma
série de mediações, o que antes só existia idealmente como conhecimento
da realidade ou antecipação ideal de sua transformação” (KUENZER,
2007)
A indicação em um instrumento de campo, a tendência de
comportamento em um gráfico(“trend”) no painel da sala de controle, por exemplo, são
os indicadores de como estão ocorrendo eventos que não são vísiveis pois ocorrem
42
dentro dos equipamentos. Assim, essa correlação entre as variáveis e o melhor
entendimento dos fenômenos só ocorrerá através da manipulação dos valores das
variáveis, o que o Técnico de Operação em formação inicial, no formato atual dessa
formação, só veria quando estivesse de fato atuando no campo ou no painel. A
atividade do Técnico de Operação envolve uma forte relação entre prática e teoria.
43
6. CAPÍTULO 6 - A REALIDADE VIRTUAL
6.1. Definição e conceitos
Com o advento e desenvolvimento exponencial dos computadores e sua
capacidade de processamento, todo o interesse humano em representações da realidade
ou do imaginário, desenvolvidos ao longo da história nas mais diversas formas de
expressar idéias, seja pela comunicação de fatos (desenhos primitivos), de forma
artística(desenhos, pinturas, cinema, teatro, etc.) ou técnica (desenhos de projeto),
ganharam um importante aliado. Sua capacidade de juntar textos, imagens, sons, vídeos
e animações, gerando a multimídia fez com que formas de expressão diversas
convergissem em torno dele aliadas ao desenvolvimento extraordinário dos vídeo-
games e sua capacidade de interação:
“...Não demorou para que todas essas tecnologias
convergissem e, rompendo a barreira da tela do monitor, passassem a
gerar ambientes tridimensionais interativos em tempo real, através da
realidade virtual...” (TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
São muitas as definições adotadas para Realidade Virtual, baseadas em
focos diversos, segundo TORI et al.:
“Realidade virtual é uma interface avançada para
aplicações computacionais, que permite ao usuário a
movimentação(navegação) e interação em tempo real, em um ambiente
tridimensional, podendo fazer uso de dispositivos multisensoriais, para
atuação ou feedback” (TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
Chamamos de interação a capacidade do usuário alterar aspectos do
ambiente virtual através de determinadas ações as quais o computador tem capacidade
de detectar e reagir as mesmas imediatamente. O exemplo mais simples dessa
interatividade é a navegação onde o usuário apenas se “desloca” pelo ambiente virtual,
sem gerar modificações em nenhum de seus componentes, utilizando algum dispositivo
de captura ou um mouse, por exemplo, para obter novos pontos de vista do ambiente
virtual. A interação, propriamente dita, ocorre quando o usuário “explora, manipula e
44
aciona os objetos virtuais, usando seus sentidos, particurlamente os movimentos
tridimensionais de translação e rotação do corpo humano.” (TORI, KIRNER e
SISCOUTTO, 2006).Para isso utiliza desde dispositivos convencionais como mouse,
teclado, o próprio corpo, através de comandos de voz ou dispositivos de captura, ou
dispositivos especiais como luvas.
A imersão é relacionada com a sensação do usuário de estar dentro do
ambiente virtual, sendo tão mais forte quanto mais as relações tempo-espaço com o
ambiente virtual se aproximarem da realidade, ou seja, com respostas as suas ações no
ambiente virtual, como deslocamentos, por exemplo, em um tempo que não gere
desconforto. Relaciona-se também, tão mais fortemente quanto for o isolamento das
influências do mundo real. Aqui, também, essas sensações podem ser conseguidas, em
maior ou menor escala, através de dispositivos convencionais, como monitores e
mouses ou dispositivos mais sofisticados como capacetes de visualização.
Figura 7 - Realidade Virtual não imersiva Figura 8 - Realidade Virtual imersiva com
c/ monitor (TORI, KIRNER e e SISCOUTTO, 2006) capacete e luvas(TORI, KIRNER SISCOUTTO,2006)
Além dessa possibilidade de imersão em ambientes de simulação do real
propiciada pela realidade virtual, existe também a possibilidade da representação do
imaginário para comunicação de conceitos e idéias inexistentes e de trabalhar com
dimensões acima da capacidade humana, ampliando-a em intensidade, no tempo e no
espaço. A possibilidade de representação de fenômenos de dimensões tanto ao nível de
sistemas solares, quanto de células, bem como a capacidade de acelerar a passagem do
tempo para processos seculares ou de enxergar em câmera lenta ocorrências ultra-
45
rápidas, amplia o poder de conhecimento desses fenômenos, partindo-se de modelos
gerados adequadamente.
O conhecimento pré-existente do usuário sobre o comportamento do
mundo físico também é um diferencial no aprendizado através da Realidade Virtual, já
que o mesmo será utilizado na sua interação com o mundo virtual, tornando a
experiência a mais natural possível.
Existe, porém, como já foi dito anteriormente, a necessidade da utilização
de aparatos tecnológicos, que podem ser mais ou menos complexos, para que possa
ocorrer a interação e a imersão, mas que de qualquer forma representam uma limitação,
já que, obviamente, retiram um tanto da naturalidade da relação com o ambiente
interativo . Ainda assim permitem a realização de tarefas antes consideradas
impossíveis.
Figura 9 - Realidade Virtual com óculos estereoscópicos passivos e tela de projeção(TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
A necessidade destes dispositivos também demandam custo, que varia
com a complexidade e sofisticação dos dispositivos, gerando uma limitação econômica.
Deve-se, assim, fazer uma análise adequada dos objetivos a serem alcançados, definindo
os níveis de imersão e interatividade apropriados para se fazer uma escolha que ofereça
a melhor relação custo-benefício para o projeto.
46
6.2. A Realidade Virtual na área de ensino
A utilização da Realidade Virtual para fins educativos já tem sido alvo
de diversas pesquisas:(PANTELIDIS,1996), (LOCKWOOD AND KRUGER, 2008),
que, de um modo geral, apontam ganhos na aprendizagem quando comparadas com as
formas tradicionais deste processo e até mesmo com outros recursos educacionais via
computador. As pesquisas de (BYRNE, 1996), feitas com estudantes de ensino médio
que usaram a Realidade Virtual, de forma interativa, em experiências de Química em
que visualizavam e manipulavam moléculas, apresentaram resultados relativos a
retenção do conteúdo, após cerca de três meses, superiores a estudantes que utilizaram
outros meios, como sistemas audiovisuais, para tentar aprender o mesmo conteúdo
(BYRNE, 1996). Além disso, ou seja, das avaliações quantitativas do potencial do uso
dos recursos da Realidade Virtual para o ensino, iniciou-se também uma discussão
reflexiva sobre suas possibilidades e implicações nas formas de ensinar, que vêm
sofrendo uma transformação radical diante dos novos recursos à disposição e sua
constante evolução proporcionando a todo instante novas possibilidades pedagógicas:
“Pensadores como LÉVY(1999) e pesquisadores da área
de educação como CLARK(2006) e GEE(2006) apontam para o uso de
simulações e realidades virtuais, como possibilidades de aproveitamento
dos recursos computacionais disponíveis e conseqüente melhoria da
qualidade dos materiais didáticos em contextos educativos ou EAD on
line.” (NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA, 2011)
A necessidade de uma metodologia que preveja suporte pedagógico
para a implantação de um aprendizado baseado em Realidade Virtual ou que a utiliza
como ferramenta já encontra respaldo em outros textos. CARDOSO e JR,
(2009)afirmam:
“A discussão da utilização da Informática na educação e
treinamento deve considerar muitos fatores, sob pena de falsas soluções
serem apontadas como efetivas. A simples utilização de uma tecnologia
não é a solução para os problemas, logo, informatizar o material
tradicional (anteriormente aplicado em educação/treinamento presencial),
sem uma adequada alteração das técnicas de ensino, não é solução por si
só (ROBLES ET AL., 1997). O risco declarado consiste em confundir a
47
entrega de informação com aprendizado, alijando elementos essenciais,
tais como resolução de problemas, criatividade e imaginação dos
instrutores e dos alunos (BORK; BRITTON, 1998). Neste contexto,
tecnologias como a Realidade Virtual (RV) e a Realidade Aumentada
(RA) vêm apresentando diferenciais importantes (LIN ET. AL. 2008).”
(CARDOSO e JR, 2009)
Desse modo, passada a fase do “encantamento tecnológico”, estudos
mais profundos já dão uma visão crítica possibilitando através do resultado de suas
pesquisas a construção de novos modelos que incorporem de fato elementos úteis ao
processo de ensino-aprendizagem, tirando sofisticações desnecessárias que, para os
casos de treinamento em empresas como este, objeto dessa pesquisa, na área do refino
de petróleo, representam também custos mais elevados.
A adequação desses recursos pode significar a possibilidade ou não de
adoção de uma solução informatizada de um modo geral, e de Realidade Virtual em
especial, na formação inicial e continuada de profissionais, pois como dito
anteriormente (ver item 6.1) os recursos tecnológicos para interatividade representam
também uma limitação econômica para a implantação de um sistema em Realidade
Virtual.
Tais tecnologias provêm da combinação de programas
computacionais, computadores de alto desempenho e periféricos específicos, para a
geração dos ambientes gráfico realísticos e a interatividade do usuário com o mesmo,
através de canais multisensoriais que podem atuar na visão, audição, tato, olfato ou
paladar (CARDOSO e JR, 2009).
Assim, a Realidade Virtual fornece possibilidades para a ampliação do
ambiente educacional e/ou de treinamento transformando-o em um ambiente de
exploração, descoberta, observação e construção do conhecimento, sob novos e
inovadores ângulos possibilitando ao aprendiz, através desta nova visão, uma melhor
compreensão do objeto de estudo. Através da experimentação prática, essa tecnologia
atua fortemente no processo de aprendizagem, colaborando, ampliando e acelerando o
domínio dos conteúdos.
48
6.2.1. A Realidade Virtual na Educação
Os aspectos de interação, imersão e navegação descritos no item 6.1
são os vetores nos quais está baseada a potencialidade da utilização da Realidade
Virtual na Educação. São eles que permitem que o estudante explore e aprenda inserido
no próprio ambiente do tema objeto de seu estudo, dentro do contexto do mesmo,
experimentando e construindo o conhecimento a partir da interatividade com o ambiente
virtual (NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA, 2011)
A partir das características dos recursos da Realidade Virtual podemos
enumerar alguns benefícios específicos para a utilização com fins educacionais
(CLARK,2006):
1) tornar o aprendizado mais interessante e divertido,
melhorando a motivação e atenção;
2) redução de custos, quando a utilização do objeto e do
ambiente real for mais dispendiosa que a simulação;
3) possibilitar que se faça coisas impossíveis de serem feitas no
mundo real;
4) acelerar o aprendizado;
5) integrar habilidades e conhecimento;
6) aumentar a retenção através do reforço;
7) aumentar a retenção através do realismo
8) melhorar a transferência de aprendizagem para o mundo real;
9) acessar o conteúdo de aprendizagem em qualquer lugar e em
qualquer tempo(no caso de Realidade Virtual na Internet)
10) eliminar riscos e perigos para o ambiente, para o professor ou
para o aprendiz
Um aspecto importante para um melhor aproveitamento do material
educativo produzido com a utilização de recursos computacionais e em especial da
Realidade Virtual seria sua flexibilidade. Modelos, tanto no aspecto pedagógico que
antecipa a criação da solução educacional, quanto os modelos virtuais, sua geometria e
suas diversas interações, que possam ser reutilizados em diversas soluções
educacionais, reduzindo os custos de criação e modelagem geométrica, a partir de
padrões que possam ser facilmente identificáveis e reaproveitados.
49
NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA, 2011 propõe uma metodologia
com estas características baseada em quatro aspectos dos quais três deles referem-se ao
aspecto pedagógico:
1) o modelo pedagógico da Aprendizagem Significativa de David
Ausubel(1980)
2) a autoria centrada no professor;
3) o formato baseado em Objetos de Aprendizagem;
Segundo a proposta estes conceitos se adéquam a utilização de
ambientes virtuais de aprendizagem. O modelo pedagógico desenvolvido por Ausubel
se baseia nas seguintes premissas:
1) a existência de um conhecimento prévio relacionável com um
novo corpo de conhecimento é mais fácil de ser compreendida
e lembrada;
2) a adoção do modelo ausbeliano não implica na alteração
radical do tradicional modelo em sala de aula, por ele chamado
de aprendizagem verbal receptiva de um corpo de
conhecimento;
3) a aprendizagem é centrada no aluno
4) estratégias de ensino que permitem a alteração do tempo de
aprendizagem, tanto por parte do professor quanto por parte do
aluno, são as melhores;
5) o conceito de Organizadores Prévios, materiais introdutórios,
apresentados antes do próprio material a ser aprendido, porém
com maior abstração e generalidade;
Em relação a autoria centrada no professor defende, que apesar da
dificuldade da instrumentalização do professor com as novas ferramentas e recursos
computacionais a disposição, e que a “preparação de bons conteúdos para e-learnig
também requer uma linguagem apropriada para a Internet: um conjunto de habilidades
que não fazem parte da formação dos professores, pelo menos por enquanto” (NOBRE,
HAGUENAUER e CUNHA, 2011), considera que este deve assumir este papel, sendo o
protagonista deste processo, acreditando em uma “tendência das interfaces gráficas de
50
cada vez mais oferecer autonomia ao usuário comum” (NOBRE, HAGUENAUER e
CUNHA, 2011).
Essa posição, contraria a alternativa, adotada atualmente em que
equipes multidisciplinares, composta por designers instrucionais, ilustradores,
modeladores, programadores, que interagindo com o professor tentarão dar forma ao
conteúdo imaginado por ele.
“No caso específico de sistemas interativos para educação,
o designer também precisa ter conhecimentos pedagógicos, pois o
sistema deve se fundamentar em alguma teoria de como as pessoas
aprendem. (Santos, 2003).
Contudo, mesmo um designer que integre essas
competências e habilidades não teria sentido sem a participação do
professor, pois é a autoria dele que vai dar o acabamento final ao projeto.
Assim sendo, é preciso também prever sua criatividade e seu saber
pedagógico(Marins, 2003).” (NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA,
2011)
Citando a necessidade dessa complementariedade entre os
profissionais das diversas disciplinas para o desenvolvimento de jogos para treinamento
profissional MICHAEL e CHEN (2006)afirmam:
“Normalmente, desenvolvedores de “games” não são
educadores e educadores não são desenvolvedores de “games”. Os
resultados de um grupo tentar produzir por conta própria no domínio do
outro são raramente exemplares( ainda que existam exceções).
Entretanto, pela combinação de habilidades do desenvolvedor de
“games” com as do educador, “serious games” podem ser uma força no
ensino de estudantes de todas as idades.”
De qualquer forma, seja desenvolvendo as habilidades necessárias a
criação individual de seu próprio material de aprendizagem ou integrado a uma equipe
de especialistas, não se pode abrir mão da participação criativa do professor autor e na
materialização do seu projeto deve ser centrada a criação do material, desde uma
animação até um jogo para treinamento(“serious games”, ver item 5.2.2.2)
51
Os Objetos de Aprendizagem oferecem como sua maior vantagem a
possibilidade de reutilização, pois tratam-se de pedaços “completos” de informação, ou
seja, com início, meio e fim.
6.2.2. A realidade virtual na área de capacitação profissional (formação inicial e
continuada)
6.2.2.1. Histórico
A disputa cada vez mais acirrada por vantagens competitivas, através
da modernização de seus processos e sistemas de produção, através do emprego de
equipamentos cada vez mais complexos e sofisticados, tem exigido um nível mais
elevado de especialização de seus recursos humanos, além da necessidade de constante
atualização, para o quê os métodos tradicionais de formação inicial e continuada, talvez
já não possam dar uma resposta adequada por ser necessária uma transferência de
conhecimentos maior, mais complexa em um espaço de tempo menor, precisando para
isso ser mais eficiente.
A utilização de sistemas de Realidade Virtual para treinamento já não
é mais tão recente, ou pelo menos seus princípios, utilizados no passado em
equipamentos hoje considerados pouco sofisticados. Dentre as muitas aplicações
possíveis que empresas e Universidades resolveram pesquisar a partir da criação do
primeiro computador, o ENIAC, em 1930 e o crescente aprimoramento desta máquina,
culminando com o lançamento do PC , pela IBM, no início da década de 1980, com a
sua popularização e aumento constante de capacidade de processamento, estavam o
desenvolvimento de soluções para a área de representação gráfica, nas suas mais
diversas possibilidades (artísticas: Laposky , nos Estados Unidos,cria em 1950, com a
utilização de um osciloscópio, as primeiras obras de arte com utilização de tecnologia,
técnicas: o sistema Sage de monitoramento aéreo surge em 1955, também nos Estados
Unidos , etc). O próprio termo Computer Graphics foi criado dentro do meio
corporativo, por Hudson, da Boeing, em 1959. Em 1967, é criado na NASA, a Agência
Espacial Norte Americana, por Rougelet, o primeiro simulador de vôo interativo. Nos
anos seguintes o aumento exponencial da capacidade de processamento dos
computadores, além de sua utilização comercial, proporcionou resultados importantes
para o desenvolvimento da área de computação gráfica, aprimorando a qualidade das
52
representações e já proporcionando através dos primeiros jogos(games) a interatividade.
Tudo isto já sob a forma de produtos no mercado da área de entretenimento: em 1966,
foi lançado o Odissey, primeiro console caseiro para jogos, em 1972 Bushnell funda a
ATARI e em 1979, George Lucas, diretor e produtor de cinema, cria a Lucas Film,
especializada na criação de efeitos especiais para a indústria cinematográfica. Essa
mistura tem trazido até os dias de hoje resultados positivos para as diversas áreas
envolvidas.
“Coube a um cineasta, na década de 1950, a concepção do
primeiro dispositivo que propiciava a imersão dos sentidos do usuário em
um mundo virtual tridimensional, a um engenheiro, na década de 1960, a
construção do primeiro capacete de realidade virtual e aum profissional
misto de artista e cientista da computação, na década de 1980, a proposta
do termo que veio a consolidar-se como denominação da área tema deste
livro....diversas áreas de pesquisa e desenvolvimento também se
apropriam e se beneficiam dos avanços da tecnologia de RV, como os
jogos de computador, as interfaces home-máquina e as artes.” (TORI,
KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
A partir daí diversas pesquisas e produtos comerciais vêm sendo
desenvolvidos e aperfeiçoados nas mais diversas áreas de conhecimento, ao longo
desses anos. Especificamente na área de formação inicial e continuada, objeto deste
trabalho podemos , por exemplo , citar o uso militar de sistemas desse tipo, para
simulação e combate desenvolvidos pela British Aerospace Real para treinamento dos
cadetes britânicos (KALAWSKY, 1993), o treinamento de operadores de radares Sense
8 (Sense8, 1996) ou o treinamento desenvolvido pelo DARPA(Defense Advanced
Research Projects Agency – USA ) para soldados na operação de tanques de guerra pelo
projeto SIMNET (PIMENTEL & BLAU, 1994; MOSHELL et al., 1994).
No treinamento corporativo são citados sistemas de Realidade Virtual
utilizados por empresas como Nabisco Food, de alimentos(East Hanover, N.J.), ou
Motorola, fabricante de chips e outros componentes eletrônicos, que também na década
de noventa já utilizavam sistemas de Realidade Virtual para treinarem seus empregados
no local de trabalho, economizando milhões de dólares em viagens (Netto, et al., 1998).
53
Nesta década de 1990, mereceram destaque no meio acadêmico duas
pesquisas que desenvolveram sistemas para treinamento de procedimentos utilizando
Realidade Virtual: tratam-se dos trabalhos de Jeff Rickel(Johnson; Rickel, 1997;Rickel;
Johnson, 1998) e o trabalho de Lin, hon e SU (1996) . No primeiro o autor utiliza um
personagem virtual animado, chamado Steve, que se movimentava em um ambiente
virtual e era capaz de executar alguns gestos simples, como apontar objetos do cenário
virtual. Utilizado inicialmente para capacitação na operação de um compressor de alta
pressão, sua evolução passando a reconhecer comandos, realizar expressões faciais e
executar movimentos mais próximos dos movimentos humanos, fizeram com que
pudesse ser utilizado em outro tipo de simulador, cujo objetivo era treinar marinheiros
americanos a enfrentar situações de conflito, tomando decisões sob pressão (Belloc,
2011).
No trabalho de Lin, Hon e Su (1996) era possível em um ambiente
virtual manipular uma máquina fresadora de três eixos, para usinagem de pequenas
peças, podendo, assim seus usuários praticarem procedimentos de usinagem. Nesta
pesquisa foi feita uma comparação da aprendizagem dos estudantes que foram treinados
no ambiente virtual com outros dois grupos: um treinado por um instrutor e outro
treinado através de manuais convencionais. Os resultados mostraram que os resultados
do treinamento virtual eram compatíveis com o treinamento feito por instrutores e
superiores ao treinamento feito através dos manuais.
Também data da década de 1990 a utilização pela Agência Espacial
Norte Americana(NASA) de Realidade Virtual , pela primeira vez, no treinamento de
pessoal para procedimentos em uma missão espacial: tratava-se do treinamento da
equipe de manutenção do telescópio espacial Hubble, descrito por Loftin e Kenney, em
publicação de 1995 (Belloc, 2011).
A partir da década de 2000 a demanda gerada pelo sucesso da
pesquisas na área de Realidade Virtual aplicada a treinamentos, fez com que diversas
instituições, que já desenvolviam trabalhos relativos a Realidade Virtual,
desenvolvessem ferramentas específicas para treinamento em ambientes virtuais, dos
quais destacam-se o GVT(Generic Virtual Training) (2005) desenvolvido pelo francês
INRIA (Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automação) em parceria com o
Centro europeu de Realidade Virtual e o Grupo privado Nexter e a plataforma
54
VDT(Virtual Development and Training Platform), desenvolvida pelo alemão
Fraunhofer IFF. Este último criou nesta época o Centro de Desenvolvimento e
Treinamento Virtual (VDTC), especializado em aplicações para treinamento. A
plataforma desenvolvida neste centro, a VDT, já é utilizada em aplicações para
capacitações diversas, como manutenção de transformadores, operação de fornalhas
industriais e manutenção de aeronaves e o GVT, francês, para mais de 50
procedimentos, em equipamentos diversos. (Belloc, 2011)
No Brasil, já temos instituições, centros de pesquisa e empresas
voltadas para o desenvolvimento de treinamento com utilização de Realidade Virtual.
Podemos citar, como exemplo o Centro de Tecnologia SENAI-RJ -Automação e
Simulação do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), no Rio de
Janeiro, onde são oferecidas diversas ferramentas de visualização 3D e imersão para
desenvolvimento de simuladores em Realidade Virtual de diversos tipos. Lá encontra-
se também o, atualmente, mais moderno simulador de estabilidade e emergências para
treinamento de operadores em simulação de operações em unidades semi-submersíveis,
FPSO/FSO e Jack-up20 do mundo, desenvolvido pela ASET-Aberdeen Skills and
Enterprise Training Limited, de Aberdeen, Escócia.
6.2.2.2. Jogos para treinamento (“Serious Games”)
Segundo o filósofo Huizinga, um jogo pode ser definido como uma
atividade que compreende as seguintes características (HUIZINGA, 1955):
1. É voluntária
2. Não é real
3. É imersiva ou toma toda a atenção de seus jogadores 20
FPSO - Floating Production Storage and Offloading, em português Unidade Flutuante de
Armazenamento e Transferência é navio projetado para utilização na indústria petrolífera para a
explotação (produção), armazenamento de petróleo, gás natural ou ambos e escoamento da produção
atavés da transferência para outros navios chamados aliviadores. As FSO (Floating Storage and
Offloading, Unidades Flutuantes de Armazenamento e Transferência) são utilizadas apenas para
armazenamento e alívio.
Jack-up – São plataformas auto-elevatórias compostas basicamente de uma balsa que possui ima
estrutura de apoio, ou pernas, que podem , ao serem acionadas atingirem o fundo do mar para ,em
seguida, elevar a plataforma acima do nível do mar, até uma altura segura ,fora da ação das ondas.
55
4. É realizada dentro de determinados limites de tempo e lugar
5. É baseada em regras
6. Social, cria um grupo social de jogadores ou tende a levar as
pessoas envolvidas com um tipo particular de jogo a
identificarem-se como um grupo
Ele também faz referências a um tipo de jogo que, junto as
características gerais citadas acima, se aproxima do que hoje conhecemos como
“games”: chama-os de “forma mais elevada” de jogos, que descreve como “uma
competição por algo ou a representação de algo” (MICHAEL e CHEN, 2006).
Segundo MICHAEL e CHEN (2006) podemos então definir games da
seguinte forma:
“ Em resumo, “games” são uma atividade voluntária,
claramente separada da vida real, criando um mundo imaginário que
pode ou não ter alguma relação com a vida real e que absorve totalmente
a atenção de seus jogadores. São jogados dentro de um tempo e lugar
específico, segundo regras estabelecidas e que criam grupos sociais a
partir de seus jogadores.”
Surgido nos últimos anos como uma nova área da indústria de mídia
criativa os “serious games” vêm tornando-se cada vez mais populares nas áreas de
educação, negócios, segurança etc. Embora, inicialmente, não tenha havido um
consenso sobre uma definição para “serious games”, há uma concordância da maioria
de que são jogos ou sistemas interativos desenvolvidos como jogos com tecnologia de
jogos e princípios de design para um fim primário que não puro entretenimento
(KANKAANRANTA e NEITTAANMÄKI, 2008).
Segundo MICHAEL e CHEN (2006):
“Serious games são mais do que apenas “edutainment”,
que era nos anos 1990, a tentativa de lucrar com o crescimento do
mercado de PC multi-mídia e aumento do predomínio de computadores
nas escolas. Serious games abrangem os mesmos objetivos de
“edutainment”, mas ampliam antigas práticas de ensino e o costume de
56
memorizar para incluir todos os aspectos da educação: o ensino, o
treinamento e a informação.”
E, ainda, segundo KANKAANRANTA e NEITTAANMÄKI ( 2008)
“...”serious games” são entendidos como jogos que visam
proporcionar um envolvente, contexto de auto-reforço para motivar e
educar os jogadores. ”Serious games” podem ser de qualquer gênero,
usar qualquer outra tecnologia de jogo, e ser desenvolvidos para qualquer
plataforma. Eles podem ser divertidos, mas normalmente eles ensinam
algo ao usuário. O objetivo central dos ”serious games” é elevar a
qualidade de vida e bem-estar. Como parte da indústria de mídia
interativa, o campo de ”serious games” concentra-se em projetar e
utilizar jogos digitais para fins da vida real e para a vida quotidiana dos
cidadãos nas sociedades de informação. O campo de ”serious games” se
concentra em áreas como educação, negócios, bem-estar, militares, de
tráfego, segurança, viagens e turismo.”
MICHAEL e CHEN (2006) colocam que a característica de
voluntariedade apresentada na definição de um jogo por Huizinga não é freqüente
quando se trata de “serious games”, uma vez que estes são utilizados como parte de um
treinamento necessário para qualificar o treinando a exercer determinada função, ou
mesmo para atualizá-lo em relação a determinados procedimentos e/ou processo
programado por sua empresa. Mesmo em se tratando de profissionais que não o façam
por exigência de um programa corporativo, mas por auto-desenvolvimento a
participação em um treinamento que utiliza ambientes virtuais, embora “voluntária” é
movida por uma necessidade.
Falando a respeito dos “games” de um modo geral, eles citam a
necessidade de um “game” ser divertido, baseado no fato de ser um ato voluntário:
“Uma vez que é uma atividade voluntária, algo que o
jogador escolheu fazer, existe uma implicação de divertimento, ou em
antecipação ou baseada em uma experiência passada. Na ausência de
uma antecipação do divertimento ou uma experiência anterior não
prazerosa, o jogador escolherá não participar do jogo ou encontrar outra
57
coisa para fazer. Em outras palavras, se um jogador não achar um jogo
divertido, é pouco provável que ele o escolha para jogar novamente.
(MICHAEL e CHEN, 2006)
Como, da mesma forma que no caso do “serious games”, na maioria
dos casos, não há essa possibilidade de escolha, os objetivos do treinamento podem ser
extremamente prejudicados pela falta de motivação, fator decisivo para alcançar
plenamente os objetivos de aprendizagem. Assim, de um jogo para treinamento em
especial, em função dessa situação, espera-se que uma das características que ele deve
possuir para alcançar seus objetivos é ser divertido, ou melhor, diríamos ser atrativo. Ou
seja, usar todo o potencial dos recursos das ferramentas de realidade virtual como
fatores de geração de um diferencial de motivação para que se atinja os objetivos de
capacitação.
6.2.3. A realidade virtual na área de petróleo e gás em geral
A busca pelo aperfeiçoamento de processos decisórios, buscando
maior precisão, confiabilidade e diminuição de custos na área de exploração e produção
de petróleo(E&P) levou os pesquisadores noruegueses Mons Midittun e Christopher
Giertsen a procurar soluções para este complexo problema. A já cara e cada vez mais
difícil busca por petróleo na década de 80, precisava ser complementada com decisões
que poderiam definir o sucesso ou não do empreendimento: como e onde perfurar para
obter a máxima produção. Naquela época, apesar do grande avanço das “workstations”,
estas ainda apresentavam limitações em alguns aspectos como a manipulação de objetos
3D com interação 2D e a interpretação de estruturas 3D complexas em uma tela
pequena. Com a criação em 1992, pelo Laboratório de Visualização Eletrônica, da
Universidade de Chicago, de uma CAVE (CAVE Automatic Virtual Environment),
sistema de Realidade Virtual formado por um ambiente em que cada parede é, na
verdade, uma tela de projeção, provocando um alto nível de imersão ao observador
dentro da sala, a companhia norueguesa de petróleo Norsk Hydro enxergou o potencial
da nova tecnologia. A partir de uma parceria com o instituto norueguês Christian
Michelsen de Pesquisa(CMR) para melhoria dos processos relativos a E&P com
utilização de Realidade Virtual, a Hydro adquiriu em 1997 uma CAVE e o Instituto
começou a desenvolver o HydroVR (já utilizado como prova de conceito em 1998),
58
aplicação que alterou os processos dos projetos de E&P, antes com análises seqüenciais
dos diversos profissionais envolvidos, como engenheiros de petróleo, geofísicos, etc.
passando agora a um processo de análise comum, com os dados integrados ao ambiente
virtual, proporcionando uma grande interatividade entre os mesmos.
Em relação ao refino os exemplos citados no Capítulo 2, são
referência da aplicação da Realidade Virtual neste tipo de indústria.
6.3. Justificativas para utilização da Realidade Virtual na formação de Técnicos de
Operação
Diversas características específicas do trabalho dos Técnicos de
Operação relatadas nesta pesquisa (ver item 4.3) geram dificuldades ou a necessidade de
uma abordagem diferenciada para a elaboração de um plano de treinamento ou uma
metodologia eficiente. Conforme descrito no item 6.2 a Realidade Virtual já encontra
em pesquisas diversas respaldo para sua utilização como solução adequada para
algumas dessas dificuldades. Além disso, outros trabalhos indicam que aspectos típicos
da Realidade Virtual potencializam o aprendizado indicando uma superioridade ou
possibilidades de complementação em relação a outras formas de recursos
computacionais utilizados na educação e treinamento( ver item 6.3.5).
Nos itens seguintes será feita uma correlação entre alguns destes
aspectos e as vantagens proporcionadas por eles especificamente na indústria do refino,
além de outros elementos motivadores para seu uso na área de capacitação desta
indústria.
6.3.1. Treinamento seguro
Conforme já foi dito anteriormente, atividades como a indústria do
petróleo em suas diversas fases envolvem riscos patrimoniais, pessoais e ambientais,
mas são ainda necessárias na atual estrutura econômica mundial, não havendo
perspectivas de mudanças no curto e médio prazos. Assim são necessárias ações que
permitam a continuidade das suas operações reduzindo ao mínimo tais riscos. Dentre as
ações sabidamente eficazes e imprescindíveis para que isto ocorra encontra-se a
59
qualificação dos profissionais ligados a este processo, com destaque para os Técnicos de
Operação, por sua responsabilidade direta na condução dos processos dessa indústria.
Os itens 3.3 - Características da indústria do refino e 4.3 - Atuação do
Técnico de Operação descrevem as complexidades da indústria do refino e do trabalho
desenvolvido pelos Técnicos de Operação, percebendo-se que uma das dificuldades
para o treinamento dos profissionais é a de realizar manobras ou procedimentos sem que
se possa parar o processo, ou seja, o treinamento é feito, mesmo com acompanhamento
por um operador experiente, sob risco.
A utilização da Realidade Virtual possibilita uma antecipação do
exercício da manobra ou procedimento e a possibilidade de visualizar e “experimentar”
suas conseqüências sem riscos reais.
Segundo (Nobre, et al., 2011):
“Devido a esse último benefício, redução de riscos, as
simulações têm sido cada vez mais utilizadas em treinamento militar, na
medicina e na aviação, em campos onde decisões e ações dos aprendizes
podem causar danos ou mortes” (NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA,
2011)
As atividades do Técnico de Operação enquadram-se nesse nível de
responsabilidade já que, como explicado no capítulo 2, os processos de obtenção de
derivados da indústria do refino envolvem variáveis como pressão, temperatura, vazão
de produtos tóxicos e inflamáveis em níveis elevados.
6.3.2. A compreensão dos fenômenos físico-químicos
Segundo TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006 referenciando-se a
possibilidade citada no item 5.2.1 de se realizar virtualmente coisas humanamente
impossíveis de serem feitas no mundo real:
“Além disso, no ambiente virtual, os sentidos e as
capacidades podem ser ampliados em intensidade, no tempo e no espaço.
É possível ver, ouvir, sentir, acionar e viajar muito além das capacidades
60
humanas como: muito longe; muito perto; muito forte; muito fraco;
muito rápido ou muito lento. Pode-se, assim, ser tão grande( a nível das
galáxias ou tão pequeno(a nível das estruturas atômicas) quanto se
queira, viajando a velocidades muito superiores a da luz e aplicando
forças descomunais. Ao mesmo tempo, pode-se ampliar a medida do
tempo, para que as pessoas possam observar ocorrências muito rápidas
em frações de segundos, implementando o conceito de câmera lenta, ou
reduzir a medida do tempo, acelerando-o, para observar ocorrências e
fenômenos muito lentos, que poderiam demorar séculos. Para isto, são
utilizadas técnicas de modelagem tridimensional na elaboração dos
objetos e montagem do cenário virtual, por onde o usuário poderá
navegar.”
Em um trabalho onde descreve um sistema de Realidade Virtual
desenvolvido para treinamento dos Técnicos de Operação da refinaria de Schwechat,
Áustria, HOLM, PRIGLINGER e GMBH (2008), cita:
“Treinamento baseado em Realidade Virtual é, em
princípio, usado para treinamento prático, entretanto animações,
visualizações no mundo virtual são meios eficazes para explicar
processos e procedimentos complexos”
Tais recursos oferecem a possibilidade didática de explicar os
fenômenos físico-químicos que ocorrem nos processos, permitindo a interatividade e a
visualização de eventos em níveis microscópicos como aqueles que ocorrem nos
processos de refino “a nível das estruturas atômicas”, como a quebra das cadeias dos
hidrocarbonetos pesados pelos catalisadores, no processo de conversão do
craqueamento catalítico fluido ou a evaporação dos hidrocarbonetos mais leves na
destilação , para melhor entendimento desses fenômenos.
6.3.3. Generalização da prática dos procedimentos
Conforme esclarecido no item 4.3, uma das peculiaridades do trabalho
dos Técnicos de Operação, por trabalharem em sistema de revezamento de turno é a
61
possibilidade de não poder se realizar na prática determinado procedimento se ele
eventualmente não coincidir de ocorrer no seu turno de trabalho. Com a possibilidade de
retratar o ambiente operacional e interagir com ele pode-se fazer com que , dentro de
um plano de treinamento, todos possam realizar virtualmente os procedimentos
considerados importantes para a unidade industrial, fazendo com que o preparo da
equipe para este determinado procedimento não dependa de um fator aleatório.
“As pesssoas, em vez de atuar sobre representações da
aplicação como menus e botões, agora podem ativar aplicações
computacionais, executando ações diretamente sobre elementos
tridimensionais conhecidos como; abrir porta, acionar lavanca, puxar
gaveta, girar botão” (TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
Essas possibilidades abertas pela realidade virtual permitem que as
ações de campo oriundas dos procedimentos operacionais possam ser executadas no
ambiente virtual através de ações típicas do operador na área industrial como: abertura e
fechamento de válvulas, acionamento de bombas, etc.
“Usando-se recursos de programação, é possível a
associação de comportamentos e reações aos objetos virtuais, de forma a
se permitir a interação do usuário com o ambiente virtual. No entanto,
para interagir com o ambiente virtual, o usuário precisa utilizar algum
aparato tecnológico como uma luva, um mouse 3D, ou algum outro
dispositivo de apoio. Esses dispositivos deverão gerar algum elemento
virtual, correspondendo ao cursor dirigido pelo mouse 2D, capaz de
movimentar-se no mundo virtual, sob controle do usuário, visando
exercer ações sobre os objetos virtuais...Para ver o ambiente virtual, o
usuário pode usar o monitor do computador, capacetes de visualização ou
sistemas de projeção.” (TORI, KIRNER e SISCOUTTO, 2006)
A definição da forma de interatividade entre o usuário(Técnico de
Operação em capacitação) e o ambiente virtual(unidade industrial de processo
modelada), ou seja do “aparato tecnológico” necessário estará ligada ao espaço físico
existente, aos recursos disponíveis, ao tipo de treinamento.
62
6.3.4. Disseminação das boas práticas na atuação em anormalidades
Os casos de anormalidades operacionais, como paradas de emergência
por exemplo, embora indesejáveis, são uma fonte riquíssima de conhecimentos e de
preparo para novas situações similares ou para uma possível repetição do evento e que
tradicionalmente eram passados informalmente entre os Técnicos de Operação. A
possibilidade de transformar estas ocorrências de forma sistematizada em situações
simuladas em um ambiente virtual pode permitir que outros profissionais que não
aqueles que de fato conviveram com a situação possam reviver a mesma e treinar a sua
atuação, alem de vivenciar o conhecimento extraído da ocorrência operacional
inesperada.
A criação de um biblioteca de situações emergenciais pode gerar uma
fonte valiosa e motivadora para discussão técnica e formação continuada.
6.3.5. Comparação entre capacitação com Realidade Virtual e capacitação
tradicional
A utilização da Realidade Virtual como ferramenta de capacitação na
formação inicial e continuada de profissionais tem suas características específicas e traz
novas possibilidades , ampliando os recursos para alcançar os objetivos do treinamento.,
em relação aos métodos tradicionais de capacitação. A Tabela 3 apresenta uma
comparação entre diferentes formas de treinamento, destacando algumas características
relevantes destes métodos.
Estudos comparativos e conclusivos entre a utilização da realidade virtual
e de modelos tradicionais de soluções educacionais são raros. Segundo (LEE, WONG e
FUNG, 2010):
“...têm havido poucos estudos que comparam a eficiência
da RV com práticas de ensino que não baseiam-se em RV...Existem
também poucos estudos que investiguem os efeitos das diferenças
individuais no aprendizado baseado em RV...há muita investigação e
desenvolvimento que precisa ser feito. Esses problemas incluem:
63
• Investigar como os atributos da tecnologia RV são
capazes de apoiar e melhorar a aprendizagem de uma forma que os
métodos de ensino convencionais não são e descobrir se o uso de RV
pode melhorar o desempenho pretendido e a compreensão.
• Investigar o impacto da RV sobre alunos com aptidões
diferentes.”
Forma de treinamento Foco principal Vantagens Limitações
Simulador de Realidade Virtual
Treinamento prático
Situações de risco
Envolvimento ativo
Emocional
Aprendizado pela execução
Tentativa e erro
Treinamento e avaliações podem ser realizados juntos
Não necessita de instrutor
Limitado ao que o simulador pode fazer
Custo inicial elevado, dependendo dos equipamentos utilizados, níveis de imersão e de interatividade
E-learning / Ensino baseado na Internet
Treinamento teórico
Avaliações
Treinamento e avaliações podem ser realizados juntos
Não necessita de instrutor
Pode ser feito em casa
Interatividade limitada
Sala de aula Treinamento teórico Atendimento único pra muitos
Baixo custo
Grande quantidade de conteúdo disponível
Aprendizado passivo
Sem treinamento prático
Treinamento no local de trabalho(TLT)
Treinamento prático Vida real
Treinamento diário
Principalmente tarefas rotineiras
Sem situações de risco
Tabela 3 - Comparação entre as possibilidades dos diversos métodos de treinamentos (adaptado de (HOLM, PRIGLINGER e GMBH, 2008))
64
(MIKROPOULOS e NATSIS, 2011) pesquisaram cerca de cinqüenta e
três trabalhos publicados sobre a utilização da Realidade Virtual para fins educacionais
no período entre os anos de 1999 e 2009 e concluiu que embora diversos pesquisadores
concordem que “professores e alunos compartilham uma atitude positiva em relação à
utilização da realidade virtual em ambientes educacionais e EVE (Educational Virtual
Environments) mostraram seu potencial no entendimento de conceitos e para evitar
equívocos dos estudantes” (MIKROPOULOS e NATSIS, 2011) , ainda existe uma
lacuna no entendimento de como esta tecnologia pode ajudar no processo de
aprendizagem. Considera que a própria metodologia de pesquisa educacional para
ambientes virtuais merece um maior aprofundamento para uma correta avaliação das
possibilidades da Realidade Virtual na educação.
E, pode-se dizer, que tais estudos são inexistentes para área específica de
refino. Este fato pode ser associado a tradição do aprendizado nesta área, até bem pouco
tempo, ocorrer em grande parte no campo, com a passagem do conhecimento através do
contato com Técnicos de Operação mais experientes e sem uma estruturação
pedagógica. Conforme explicado no Capítulo 4, esta mudança de visão é recente e tão
recente quanto a própria aceleração do desenvolvimento e conseqüente expansão das
tecnologias de Realidade Virtual e a sua utilização nas áreas de formação profissional
inicial e continuada. Assim, embora já existam treinamentos de Técnicos de Operação
com a utilização de Realidade Virtual, não existem muitos estudos de maior
abrangência sobre suas potencialidades e as bases pedagógicas para seu entendimento e
desenvolvimento. Desse modo alguns trabalhos que investigam o potencial da
Realidade Virtual como ferramenta de ensino em geral e outras áreas que se utilizaram
dessa ferramenta de tecnologia educacional a mais tempo é que já têm alguma
contribuição que permita uma comparação entre os métodos tradicionais de capacitação
e aqueles que se utilizam da Realidade Virtual.
As características peculiares da ampla formação necessária ao Técnico de
Operação, que envolve aspectos técnicos, teóricos e o domínio de práticas de campo,
tornam mais difícil a existência de trabalhos com esta abrangência. Foram, então,
pesquisados trabalhos que envolvem estas diversas dimensões da sua formação,
compondo um quadro que valide a sua utilização para a capacitação deste profissional e
suas vantagens sobre métodos tradicionais
65
(JOU e WANG, 2012) desenvolveram uma pesquisa onde avalia o
desempenho em habilidades técnicas de um grupo de alunos de cursos de graduação,
treinados com a utilização de ambientes de Realidade Virtual, comparativamente a um
grupo de controle treinado em métodos tradicionais de ensino. Foram escolhidos
aleatoriamente cento e cinco estudantes dos quais cinqüenta e dois, também
aleatoriamente formaram o primeiro grupo e cinqüenta e três formaram o segundo,
sendo que ambos receberam aulas do mesmo instrutor durante o mesmo período de um
semestre. Foram aplicados testes de avaliação antes e depois do curso nas seguintes
dimensões: “natureza da tecnologia”, “operação de máquinas”, “seleção de parâmetros
de processo” e “planejamento de processos”, divididos em doze sub-grupos. A Tabela 4
apresenta as médias das avaliações nas diversas dimensões, medindo o desempenho
antes e depois da instrução e a Figura X apresenta estes resultados sob a forma de
gráfico, mostrando o desempenho nas diversas dimensões avaliadas( a escala de
avaliação vai de 0 a 4).
Control group Experimental Categories Items Pre- Post- Pre-M Post-M
Structure of technical skills 2.30 2.56 2.12 2.61 Nature of technology Function of technical skills 2,02 2.23 2.09 2.32 Relationship between technology and 2.42 2.53 2.36 2.69 Operation of machinery 2.37 2.44 2.43 3.02 Operation of machines Operation of multi-function machinery 2.10 2.63 2.20 3.09 Comprehensive operation of machinery 2.00 2.46 2.18 2.98 Identify the parameters 2.35 3.18 2.34 3.86 Selection of process Rationale 2.21 2.85 2.27 3.79 Control of parameters 1.98 2.73 1.99 3.57 Introducing of the issues 2.13 2.67 2.05 3.71 Process planning Proposition of solutions 2.02 2.58 2.00 3.58 Optimization and completion of 1.73 2.43 1.74 3.38
Tabela 4 – Média das avaliações dos pré e pós-testes para os estudantes (JOU e WANG, 2012)
66
Figura 10-Média das avaliações dos pré e pós-testes para os estudantes-gráfico (JOU e WANG, 2012)
Os resultados mostram um desempenho significantemente mais alto para
o grupo que foi instruído com a utilização de ambientes virtuais em três das dimensões
avaliadas .
Em outro estudo que abrangeu trabalhos referentes a pesquisas sobre
aplicação de simulações computacionais para ensino de ciências publicados entre os
anos de 2001 e 2011, (RUTTEN, JOOLIGEN e VEEN, 2012)dividem os mesmos, de
acordo com suas características em quatros grupos para análise: aprimoramento da
instrução tradicional com simulação computacional (incluindo temas instrução
tradicional e atividades de laboratório), diferentes tipos de visualização (incluindo
representação e imersão), diferentes tipos de apoio instrucional e configurações de sala
de aula e cenário de aula (incluindo o engajamento, colaboração e orientação do
professor). Os dois primeiros aspectos visavam responder mais especificamente a
pergunta: “Como a educação científica tradicional poderia ser melhorada com a
aplicação de simulações computacionais ?”, sendo que o primeiro deles buscava uma
avaliação em relação a educação para a ciência tradicional. Em relação a este o estudo
conclui:
“A revisão dos estudos que comparam a aplicação de
simulações de computador com instrução tradicional parecem indicar que
a esta pode ser reforçada com êxito por meio de simulações de
computador. No âmbito do ensino tradicional, eles podem ser um
complemento útil, por exemplo, servindo como uma ferramenta de
exercício ou visualização pré-laboratório. Na maioria dos casos
condições de simulação mostraram melhoria nos resultados de
67
aprendizagem.... No que diz respeito ao domínio cognitivo, o uso de
simulações de computador parece facilitar alunos a compreensão
conceitual, requer menos tempo e melhora a habilidade de prever o
resultado dos experimentos. No que se refere o domínio afetivo,
simulações de computador podem influenciar positivamente a satisfação,
a participação e a iniciativa dos estudantes e melhoram sua percepção do
ambiente de aula.” (RUTTEN, JOOLIGEN e VEEN, 2012)
A Tabela 5 mostra os resultados das pesquisas referentes a este aspecto e
destaca aqueles que por similaridade com o tipo de conhecimentos necessários a carreira
de Técnico de Operação podemos usar como referência. Os resultados mais uma vez
demonstram uma vantagem da utilização dos recursos da Realidade Virtual em relação
aos métodos tradicionais.
Outro dado interessante aprresentado por (NORTON, CAMERON, et al.,
2008) em relação a efetividade do treinamento com utilização de Realidade Virtual
relaciona-se ao tempo de treinamento necessário para tornar o Técnico de Operação
apto. Segundo eles:
“... a experiência tem mostrado uma substancial redução
no tempo necessário para que novos empregados sejam alocados em seus
futuros postos de trabalho. Os treinandos são alocados para as instalações
industriais após 3 anos de treinamento profissional, onde ainda farão 3
anos de treinamento no local de trabalho para tornarem-se empregados
independentes. Desde a introdução do simulador, o tempo de treinamento
no local de trabalho foi reduzido para 2 anos...”
Este valor representa uma redução significativa de cerca de 33% no
tempo de treinamento prático para que o profissional possa desempenhar suas funções
plenamente.
68
Tabela 5-Melhoria de desempenho do ensino tradicional através da simulação computacional (RUTTEN, JOOLIGEN e VEEN, 2012)
69
7. CAPÍTULO 7 – A METODOLOGIA PROPOSTA
7.1. Introdução
7.1.1. Princípios básicos
Este trabalho pretende, a partir da análise dos diversos aspectos
desenvolvidos nos itens anteriores (técnicos , pedagógicos, de mercado,etc.),
proveniente de pesquisa sobre o tema da utilização da Realidade Virtual aplicada a
capacitação de profissionais, propor uma metodologia consistente, interdisciplinar e
fortemente apoiada na união de diversos atores, seja de profissionais ou de recursos
técnicos para incorporar o recurso da Realidade Virtual a formação inicial e continuada
de operadores de processo da área de refino de petróleo.
A utilização da multimídia e mais recentemente da realidade virtual
para a área de educação vem se intensificando junto com o acelerado desenvolvimento
desses recursos escorados em pesquisas acadêmicas e no próprio desenvolvimento
comercial de jogos de entretenimento (“games”), que têm funcionado como grandes
alavancas do incremento dos recursos da realidade virtual (MICHAEL e CHEN,
2006)conforme citado no item 6.2.2.2. O mesmo pode se dizer da sua utilização no
campo da capacitação profissional, seja na formação inicial ou continuada, conforme
atestam vários casos e pesquisas a respeito do assunto citados neste trabalho. No que diz
respeito a área de petróleo e gás e mais especificamente a área do refino não é diferente:
essas aplicações vem crescendo pelos motivos já abordados em 6.2.3e diversas
aplicações vêm sendo desenvolvidas (HOLM, PRIGLINGER e GMBH, 2008)
(WASFY, WASFY e NOOR, 2004) (NORTON, CAMERON, et al., 2008)
(POULIQUEN, BERNARD, et al., 2007). Procurou-se, porém, neste trabalho ampliar o
aspecto metodológico e interdisciplinar para que fossem potencializadas as
possibilidades da utilização da realidade virtual aplicada especificamente a formação
dos Técnicos de Operação, agregando e/ou aprofundando alguns elementos importantes
já detectados em outras pesquisas, como os valores do saber pedagógico (NORTON,
CAMERON, et al., 2008) (KUENZER, 2007) (KUENZER, 2002), do conhecimento
tácito dos profissionais (NORTON, CAMERON, et al., 2008) (HOLM, PRIGLINGER
e GMBH, 2008) (KUENZER, 2007), as técnicas para sistematização de procedimentos
(BELLOC, 2011)e processos (NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA DA
70
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2010) e outras propostas
metodológicas já desenvolvidas anteriormente, para a utilização realidade virtual na
área de ensino, mas com focos menos específicos que o deste trabalho (NOBRE,
HAGUENAUER e CUNHA, 2011).
Assim, para o desenvolvimento da metodologia foram considerados
alguns princípios básicos descritos a seguir:
a. Em primeiro lugar, considerou-se que, conforme descrito
anteriormente, existe um conhecimento tácito desenvolvido pelo profissional e que não
pode ser desprezado. Nesse aspecto relativo a visão dos profissionais baseou-se, além
das percepções do próprio autor como ex-profissional da área de operação de processos
na Unidade de Craqueamento Catalítico da REDUC, em conversas informais e reuniões
de trabalho com Técnicos de Operação novos, antigos e aposentados, que foram
confrontadas e ratificadas quase que na sua totalidade com as pesquisas realizadas por
KUENZER, 2007 na REPAR.
Segundo NORTON, CAMERON, et al. (2008)
“Operadores de processo são exatamente o oposto. Eles
têm um conhecimento próprio de operação... mas falta-lhes um mais
profundo entendimento da teoria ou lógica atrás dos efeitos observados”
A grande quantidade de substâncias, os diversos fenômenos físico-
químicos, a matéria prima não homogênea, o desempenho dos equipamentos, enfim, a
complexidade dos sistemas das unidades industriais da área de refino como um todo,
fazem com que haja um conjunto de fatores cuja a combinação pode gerar uma
infinidade de possibilidades do que podemos chamar “estados operacionais”, aqui
entendidos como a resultante de todos os fatores que compõem condições operacionais
e dos equipamentos em um dado momento. Muitos desses “estados” não afetam a
continuidade operacional, ou seja, pertencem a faixa de controle na qual os Técnicos de
Operação procuram manter as variáveis. Pode ocorrer, porém, do sistema sair desta
faixa devido a alteração em algum dos diversos elementos que compõe esta complexa
rede de elementos do processo e as possibilidades de combinações de elementos
gerando eventos inéditos são enormes, demandando do Técnicos de Operação uma
análise e atuação rápida para sanar ou minimizar as conseqüências deste evento
71
indesejável para trazer a unidade ao estado de continuidade operacional, com segurança.
Essa experiência para um determinado evento pode ser única, uma vez que outra
conjunção dos mesmos elementos que geraram aquele evento pode não ocorrer
exatamente da mesma forma nunca mais. Mas as conseqüências para o processo, os
procedimentos adotados, suas respostas positivas e negativas para o “combate” a
emergência geram uma grande quantidade de conhecimento que pode e deve ser
aproveitado para a formação e aperfeiçoamento dos Técnicos de Operação.
Há também os procedimentos que por ocorrerem esporadicamente,
embora de grande importância por serem geradores de conhecimento, podem não ser
presenciados por uma grande quantidade de Técnicos de Operação ao longo de sua
carreira profissional, em função do regime de turno ininterrupto de revezamento. Cada
um desses eventos também vai gerando um acúmulo de conhecimento específico de
grande utilidade para o desenvolvimento dos profissionais envolvidos e para a equipe, já
que envolve não só o conhecimento prático e teórico sobre o processo e o equipamento,
mas também outras dimensões como o trabalho em equipe.
Assim, a consolidação e valorização desses conhecimentos tácitos já
reconhecidos como de grande importância para o processo de formação dos
profissionais tentarão ser incorporados pela metodologia proposta por este trabalho
através de algumas estratégias, que serão vistas adiante, como a participação efetiva dos
profissionais na definição das necessidades de formação, no desenvolvimento dos
ambientes virtuais, etc., bem como nas propostas de continuidade deste trabalho.
b. Outro princípio considerado é que as enormes
possibilidades e as potencialidades conhecidas e ainda não exploradas da Realidade
Virtual no campo da Educação, seja acadêmica ou profissional, não devem fazer-nos
perder de vista que ela é uma ferramenta e que passada admiração inicial não se pode
considerar que ela por si só terá a possibilidade de transmitir bem o amplo espectro de
conhecimentos necessários para uma boa formação, em especial no caso dos Técnicos
de Operação, sem o apoio do saber pedagógico, sob risco de uma sub-utilização, não
alcançando plenamente o potencial desta ferramenta ou, o que será pior, levando a
orientações erradas.
c. A Tabela 6 apresenta alguns princípios de design
instrucional multimídia (NORTON, CAMERON, et al., 2008) a partir de outros
72
trabalhos diversos e resume alguns itens importantes a serem seguidos na construção
das soluções educacionais em Realidade Virtual, baseados na teoria da carga cognitiva e
na teoria do código dual. A primeira se baseia no fato dos indivíduos possuírem um lim
na capacidade de seus canais de aprendizado, sendo importante evitar-se uma
sobrecarga nesses canais o que pode levar a um sub-processamento das informações. O
segundo baseado na existência de dois sistemas diferentes de processamento, um verbal
e outro visual, que atuam independentes e da integração desses dois modelos mentais é
formado o entendimento.
Princípio Descrição Base teórica
Princípio da representação
múltipla
Explicações em palavras e
figuras são melhores que
palavras e figuras separadamente
Com a exposição a palavras e
figuras, o estudante pode
exercitar os canais visual e
verbal e efetuar a construção das
conexões entre os mesmos,
gerando aprendizado
significativo
Princípio da contiguidade Representações de palavras e
figuras são melhor apresentadas
simultaneamente que
sequencialmente
Estudantes são capazes de
guardar modelos verbais e
visuais na memória ao mesmo
tempo. A diferença de tempo
entre a apresentação dos
formatos resulta na perda de um
dos modelos. Dessa forma os
alunos perderiam a habilidade de
construir conexões entre os dois
modelos.
Princípio da coerência O uso de poucas palavras e sons
pertinentes é melhor que a
aplicação de distrações
supérfluas
Embelezar uma informação com
fatos e sons aumentam carga
estranha, provocando distração e
reduzem o poder de
processamento
Princípio da modalidade Narrações isoladas são melhores
que textos na tela acompanhados
de narrações
Narração emprega somente o
canal cognitivo aural enquanto
narração com texto na tela
aumenta a carga cognitiva no
73
canal visual e no canal verbal
Princípio da redundância Animação e narração trabalham
melhor que animação, narração e
texto na tela
Três fontes de informação
sobrecarregam os caminhos
cognitivos. Apresentar dois
apoios visuais leva ao efeito de
atenção dividida
Princípio da contiguidade
espacial
Palavras impressas são melhor
localizadas próximas a suas
figuras associadas
Separação visual causa um
aumento na carga cognitiva
estranha
Efeito de personalização Aprendizado é reforçado quando
q lição é apresentada como uma
conversação
A linguagem na forma de
conversação requer menos
esforço de processamento
cognitivo. O formato de
contação de estórias é mais fácil
de compreender e lembrar que
outras formas de discurso.
Princípio da auto-referenciação Alunos entendem melhor o
fenômeno ou informação quando
é apresentado em primeira ou
segunda pessoa em vez de na
terceira
O formato de contação de
estórias é mais fácil de
compreender e lembrar que
outras formas de discurso.
Dirigindo-se diretamente aos
estudantes eles se encorajam a
codificar a mensagem como uma
experiência pessoal.
Experiências são mais fáceis de
estruturar em uma rede de
conhecimento.
Tabela 6-Princípio de design instrucional de educação multimídia (NORTON, CAMERON, et al., 2008)
7.1.2. Processos e procedimentos
Conforme já explicado anteriormente(ver Capítulo43) a complexidade
das atividades laborais desenvolvidas pelos Técnicos de preparação, demandam uma
ampla formação teórica e prática.
74
Destacaremos, no entanto, para fins de classificação, dois elementos
dentro da formação necessária aos Técnicos de Operação dentro dos quais conseguimos
enquadrar basicamente todas as necessidades de treinamento dos Técnicos de Operação:
processos e procedimentos.
a. Processos
b. Procedimentos
Segundo ROMERO (2005):
“Do ponto de vista de produção, o processo é geralmente
tomado como o lugar onde os materiais e a energia se juntam para fazer
um produto desejado...
...Qualquer operação ou série de operações que produza o
resultado final desejado é considerada um processo. Geralmente, o
processo consiste na modificação das matérias primas, colocadas na sua
entrada, nos produtos finais, obtidos em sua saída, através do suprimento
de energia, durante um determinado período de tempo.”
No capítulo 3, foram explicados os principais processos da indústria
do refino(destilação,craqueamento, etc.). Utilizaremos aqui essa definição valendo tanto
para aspectos teóricos quanto práticos dos processos, ou seja, tanto a teoria da destilação
quanto processo industrial chamado destilação serão para nossa metodologia tratados
ambos como processos a serem aprendidos pelos Técnicos de Operação em sua
formação.
Um procedimento é uma seqüência de ações, que permitem atingir um
determinado objetivo ou realizar um trabalho e alcançar o resultado esperado. Nas
indústrias temos os Procedimentos Operacionais Padrão definidos por COLENGHI
(1997) como:
“... a descrição detalhada de todas as operações
necessárias para a realização de um determinado procedimento, ou seja, é
um roteiro padronizado para realizar uma atividade. Têm uma
75
importância capital dentro de qualquer processo funcional, cujo objetivo
básico é o de garantir, mediante uma padronização, os resultados
esperados por cada tarefa executada.”
Sobre a utilização de Realidade Virtual para treinamento de
procedimentos, PONDER, HERBELIN, et al., 2003 descrevem alguns grupos nos quais
os treinamentos com utilização de Realidade Virtual podem se enquadrar: os
treinamentos de habilidades físicas e motoras, de procedimentos e habilidades
psicológicas. Este último, também chamado de treinamento de situações ou de tomada
de decisão procura ajudar o profissional a vencer ou diminuir barreiras psicológicas para
o desempenho das suas atividades, submetendo-o “virtualmente” a situações que
possam afetar sua estabilidade emocional.
Em relação aos primeiros, necessitam normalmente de interfaces de
“hardware” sofisticadas, similares aos equipamentos originais, já que a sensibilidade na
atuação nos dispositivos é determinante na assimilação da habilidade necessária ao
desempenho das funções destes profissionais. Um bom exemplo são os simuladores de
vôo.
Quanto aos treinamentos de procedimentos em Realidade Virtual,
segundo BELLOC (2011):
“...o grupo de aplicações que contempla o treinamento de
procedimentos tem como objetivo fazer com que o usuário entenda quais
tarefas ou ações são necessárias para cumprir com um determinado
objetivo, dando ênfase nas dependências existentes entre estas ações e
nas conseqüências decorrentes da execução da ação.”
As atividades e habilidades a serem desenvolvidas na formação inicial
e continuada de Técnicos de Operação com a utilização de Realidade Virtual podem ser
enquadradas simultânea ou separadamente nos treinamentos de procedimentos, por
serem suas tarefas fortemente escoradas nos mesmos, e no treinamento de tomada de
decisões ou de situação, já que, conforme descrito no item 4.3, uma das características
do trabalho dos Técnicos de Operação é, muitas vezes, a necessidade de tomar decisões,
que muitas vezes precisam ser rápidas e sob pressão.
76
Podemos ainda classificar, tanto o processo quanto o procedimento
em:
a. Específicos
b. Gerais
Procedimentos e processos gerais referem-se ao aprendizado dos
princípios fundamentais que norteiam uma prática ou uma teoria. No caso dos
procedimentos gerais um exemplo seria a seqüência de passos tecnicamente correta para
partir um determinado tipo de bomba industrial, enquanto que em relação aos processos
um exemplo seria o processo de destilação. Em ambos os casos estamos falando de um
conhecimento básico prático e teórico, respectivamente, válido para todos os objetos de
estudo enquadrados dentro daquela categoria.
Os processos e procedimentos específicos abrangem aqueles que se
referem e são válidos para um determinado equipamento, sistema ou processo. Como
exemplo de procedimento específico podemos citar a seqüência de passos tecnicamente
correta para partida da bomba de carga(P-506) da Unidade de Craqueamento Catalítico
da REDUC(Refinaria Duque de Caxias) e como processo específico a destilação na
torre fracionadora T-501 nesta mesma unidade. As características desta bomba, como
sua carga, rotação, etc. lhe conferem determinados comportamentos e certas respostas
ao Técnico de Operação que podem fazer com que seja necessário ou valha a pena um
treinamento que simule estas condições, em função de algum passo específico ou algum
detalhe particular na forma de executar algum dos passos do procedimento. Do mesmo
modo em relação ao processo de destilação na T-501, este equipamento foi projetado
para atender um determinado tipo de carga, tem variáveis de serviço com valores de
projeto que devem ser respeitados na sua operação, etc. e um manual próprio de
operação. Conforme dito no item 3.3.2 deste trabalho, de um modo geral, na área de
refino não existem duas unidades iguais em função da diversidade de cargas a serem
processadas, produtos a serem obtidos, etc. Assim, conseqüentemente, a maior parte dos
equipamentos são produzidos especificamente para uma unidade industrial de processo.
No caso da torre T-501 citada acima o processo de destilação ocorrerá, por exemplo,
com valores de controle de variáveis (pressão, temperatura, vazão de refluxo, etc)
diferentes de outras torres similares onde ocorre o mesmo processo básico de destilação.
77
Desse modo podemos ter as seguintes classificações: processos gerais,
processos específicos, procedimentos operacionais gerais e procedimentos operacionais
específicos.
7.1.3. Necessidades de formação dos Técnicos de Operação
Dentro deste quadro podemos dividir as necessidades de formação do
Técnico de Operação nos seguintes aspectos:
a. Formação inicial para capacitação nos processos e sistemas
gerais
b. Formação inicial para capacitação nos procedimentos
operacionais gerais
c. Formação inicial e continuada para capacitação nos processos e
sistemas específicos
d. Formação inicial e continuada para capacitação nos
procedimentos operacionais específicos
Os dois primeiros itens visam atender a formação inicial de novos
técnicos de operação de processos, onde o foco principal é a formação geral, ou seja, o
conhecimento dos diversos processos existentes e simulações de atuação e resposta do
processo, visando o aprendizado da resposta dos processos a alteração das variáveis e
os procedimentos básicos de operação (drenagens, “by-pass”, partidas de equipamentos,
retirada de equipamentos de operação, etc.).
Os dois últimos têm por objetivo a formação continuada de técnicos de
operação de processos já formados e técnicos de operação em formação, porém já em
uma segunda etapa de treinamento, quando já lotados em uma unidade industrial
específica. Neste caso o ambiente pretende recriar virtualmente um sistema existente,
buscando a reprodução mais fiel possível, não só do processo como das respostas a
atuação nas variáveis neste ambiente virtual, em tempo real.
78
7.1.4. Os tipos de ambientes virtuais necessários
No item 7.1.1, que descreve os princípios básicos dessa metodologia e
em outros pontos deste trabalho, citamos que a Realidade Virtual deve ser uma
ferramenta dentro de um trabalho maior de formação profissional e subordinada a
princípios pedagógicos. Desse modo classificamos os tipos de ambiente virtuais a serem
modelados como decorrência das definições dos tipos de elementos necessários a
formação dos Técnicos de Operação (processos e procedimentos), suas classificações
(gerais e específicos), e as necessidades de formação dos profissionais descritas nos
itens anteriores.
Assim, quanto aos ambientes virtuais a serem gerados, temos:
a. os ambientes para simulação de processos e procedimentos
característicos da indústria do refino, podendo para isso ser ou
não utilizado um sistema existente
b. os ambientes específicos para treinamento em uma
determinada unidade industrial, sendo que neste caso deverá
ser utilizado um ambiente virtual que reproduza essa unidade
industrial, objeto do treinamento (WASFY, WASFY e NOOR,
2004)
Diversos trabalhos (STAFFORD e HAUSER, 2010) (HOISET e
GLITTUM, 2008) (HOLM, PRIGLINGER e GMBH, 2008) (BELLOC, 2011) indicam
a possibilidade existente hoje de se aproveitarem modelos de engenharia de projetos
gerados em ferramentas CAD para transformá-los em ambientes virtuais interativos ou
não. Segundo BELLOC (2011):
“Outro fator que contribui para a adoção de treinamentos
virtuais é a vasta utilização de modelos CAD na indústria. A
disponibilidade destes modelos reduz o trabalho necessário para elaborar
os cenários de treinamento, pois grande parte do processo de modelagem
já foi realizado, sendo necessário apenas converter o modelo CAD para
um formato passível de visualização em tempo real.”
Tal proposta adotada nesta metodologia sempre que possível, agrega
valor a ferramenta, aumentando o retorno do investimento, além de diminuir os custos
79
no desenvolvimento da solução educacional. Necessita, porém, de algumas ações que
também devem ser procedimentadas.
7.2. Descrição da metodologia
7.2.1. Etapas
A metodologia desenvolve-se através das seguintes etapas:
a. Definição da equipe interdisciplinar
b. Definição dos processos/sistemas a serem modelados
c. Definição dos objetivos
d. Desenvolvimento dos diagramas
e. Desenvolvimento dos modelos dos ambientes virtuais
f. Testes
g. Validação da equipe interdisciplinar
A Figura 11 mostra uma representação esquemática da proposta
metodológica e os itens seguintes descrevem cada um dos seus passos.
Definição do(s) processo(s) / sistema(s) ou procedimento(s) ou a ser(em) modelado(s)
Processo Sistema
Procedimento
Definição dos objetivos
Diagrama
Diagrama
Desenvolvimento do modelo do ambiente
virtual
Definição da Equipe
Multidisciplinar
Testes
Desenvolvimento dos diagramas
Validação pela Equipe Multidiscipli
nar
Figura 11 - Diagrama esquemático da metodologia proposta
80
7.2.2. Definição da equipe multidisciplinar
A equipe multidisciplinar tem por objetivo obter a complementaridade
de habilidades necessárias para o desenvolvimento das soluções educacionais baseadas
em Realidade Virtual para treinamento dos Técnicos de Operação, buscando preservar a
idéia do professor autor (no nosso caso, o conhecimento teórico-prático dos Técnicos de
Operação mais experientes), conforme discutido no item 6.2.16.2.1
Naquele item estabelecemos uma discussão sobre as habilidades
necessárias ao professor que desejasse desenvolver material de ensino com utilização de
ferramentas baseadas em realidade virtual ou em ambientes virtuais de aprendizagem.
Verificamos que, apesar do surgimento de ferramentas visando facilitar este trabalho e
embora seja importante ou até mesmo o ideal a autoria do professor, seria possível e no
momento mais realista, baseado em algumas propostas existentes, a criação de um
grupo interdisciplinar guiado pelo professor para gerar este material didático, pois “’
para desenvolver conteúdos atraentes são necessárias, além do conhecimento do tema,
habilidades pedagógicas e de design gráfico’,um conjunto de habilidades que não fazem
parte da formação dos professores” (FUCKS, GEROSA e LUCENA, 2000).
No caso da formação inicial e continuada dos Técnicos de Operação
(e provavelmente em muitas carreiras profissionais que demandem um grande
conhecimento prático, associado a bagagem teórica para a boa execução de suas
atividades) , os profissionais mais experientes são os grandes detentores do
conhecimento a ser transmitido. O primeiro princípio básico desta metodologia(ver item
6.1.1) refere-se a este conhecimento tácito citado por KUENZER (2007) e NORTON,
CAMERON, et al. (2008). Não detendo estes os conhecimentos pedagógicos que
defendemos como necessários para a utilização plena e adequada das ferramentas de
Realidade Virtual aplicadas a capacitação dos Técnicos de Operação, bem como das
habilidades de modelagem de ambientes virtuais, preencheremos estas necessidades
optando pela formação de uma equipe interdisciplinar, das quais constarão um
pedagogo, preferencialmente da área de treinamento profissional e um modelador dos
ambientes, além de um coordenador que seja responsável pelo projeto e tenha visão
sistêmica de todo o processo de criação da solução educacional.
81
Descrevemos, desse modo, as atribuições ou o objetivo da presença de
cada um na equipe multidisciplinar: o Técnico de Operação experiente é o detentor do
conhecimento a ser transferido, como foi dito acima corresponde ao professor autor
discutido no item 6.2.1.
O pedagogo vai colocar o conhecimento pedagógico a serviço do
grupo e cuidar para que o objetivo educacional proposto inicialmente seja bem definido
e não se perca nas possibilidades da Realidade Virtual, enquanto o modelador vai, a
partir da compreensão dos objetivos do treinamento e do conhecimento básico do
processo passado pelo Técnico de Operação construir um ambiente virtual que
corresponda a proposta do grupo.
O coordenador deve organizar o processo, fazer com que cada etapa
seja bem definida, verificar que haja um bom entendimento dos objetivos do
treinamento proposto, estimular a troca para a boa compreensão de cada membro da
área de conhecimento que não lhe pertence e validar com a equipe as diversas etapas
que se encerram.
O modelador vai, a partir do entendimento do processo proveniente
das explicações do Técnico de Operação experiente, das orientações do pedagogo, e da
retroalimentação do grupo transformar o projeto de solução educacional no modelo que
sintetize a proposta do grupo.
7.2.3. Definição dos objetivos
Nesta etapa a partir de uma determinada necessidade de treinamento,
define-se de forma precisa o objeto do treinamento, elaborando-se, a partir deste uma
proposta de solução educacional em Realidade Virtual. Deve ficar claro para a equipe
multidisciplinar se a necessidade de treinamento é para formação inicial ou continuada
e o público alvo: se Técnicos de Operação novos ainda sem lotação, novos já lotados
nas unidades ou Técnicos de Operação experientes. Outra informação importante para
esta etapa é a definição de qual o nível de conhecimento que se deseja que o Técnico de
Operação deva possuir após o treinamento.
82
É importante que haja um foco bem definido dessa necessidade de
capacitação para evitar que sejam despendidos esforços e recursos desnecessários no
desenvolvimento da solução educacional em Realidade Virtual, além da análise da
solicitação para verificar se não seria mais interessante uma divisão em duas ou mais
soluções educacionais. Ou, ao contrário, a união de duas ou mais necessidades de
treinamento em uma solução educacional única.
7.2.4. Definição dos processos/sistemas e/ou procedimentos a serem modelados
A partir do entendimento da necessidade de treinamento a equipe
multidisciplinar pode chegar a conclusão que a solução educacional pode englobar mais
de um processo/sistema ou procedimento, ou a combinação de um ou mais
processos/procedimentos, etc.
Com as informações geradas na etapa anterior definem-se os mesmos
e faz-se a classificação dos tipos de processos/sistemas ou procedimentos que deverão
ser modelados, se gerais ou específicos. Define-se, também, qual a solução em realidade
Virtual mais adequada (animação 3D, imersiva ou não e se imersiva qual o nível de
imersão, interativa ou não e se interativa qual o nível de interatividade, etc) e a partir
dessas decisões, quais recursos tecnológicos disponíveis ou possíveis de serem
adquiridos serão usados, sempre adequando estes ao objetivo do treinamento.
7.2.5. Desenvolvimento dos diagramas
O desenvolvimento dos diagramas procura, através de determinadas
ferramentas, dar uma visão geral que consolide a proposta de solução educacional a ser
construída através dos ambientes tridimensionais necessários ao treinamento a serem
criados em Realidade Virtual, de forma a facilitar a sua geração pelo modelador, pelo
melhor entendimento do que estritamente precisa ser modelado traduzindo o resultado
do trabalho da equipe multidisciplinar nas etapas anteriores.
Para isso foram pesquisadas duas teorias: para os processos a dinâmica
de sistemas e para os procedimentos as Redes de Petri, que se adéquam aos objetivos
descritos acima.
83
No caso da primeira utilizou-se também um aplicativo desenvolvido
pelo GINAPE (Grupo de Informática Aplicada a Educação)do NCE-UFRJ(Núcleo de
Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro),coordenado pelo
Prof. Fábio Ferrentini Sampaio.
7.2.5.1. Processos
Como foi explicado no Capítulo 3, para obtenção dos diversos
produtos resultantes dos processos que ocorrem em uma indústria de refino, estes
processos são controlados através de diversas variáveis. Equipamentos como bombas,
compressores, etc., geram ou alteram variáveis como vazões, temperaturas pressões,
etc. que são, de um modo geral, mantidas nos valores desejáveis, ou seja, dentro dos
parâmetros necessários para que sejam obtidos os resultados esperados, através de
controladores(de nível, de pressão, de vazão, etc.), válvulas , dentre outros. Nesse
sistema extremamente complexo a alteração de um desses valores de variáveis, afeta
diversas outras que com elas se inter-relacionam, sendo que quando ocorre um evento
perturbador do sistema que leva alguma variável a uma variação brusca(a parada
repentina em uma bomba, a chamada “queda” da bomba, por exemplo) haverá uma
propagação dessa perturbação em todo o sistema, ou em uma parte do mesmo, que pode
ser suficiente para provocar transtornos como o perda de especificações de produtos, a
parada de unidades ou em casos mais críticos acidentes de processo.
Conforme descrito acima essas variáveis guardam um inter-
relacionamento, cujos valores nas faixas adequadas de trabalho mantêm o sistema
estável e o conhecimento dessas relações é básico para o desempenho dos Técnicos de
Operação. Esse inter-relacionamento que, de certa forma, descreve basicamente o
funcionamento de um sistema, dependendo do mesmo, pode ser bem complexo e
compreender seu comportamento, mesmo que qualitativamente, será também muito
importante para que a equipe multidisciplinar possa ter o entendimento mínimo do
processo, explicado pelo Técnico de Operação experiente que dela fará parte, de forma
que cada um dentro da sua especialidade e atribuições no grupo possa avaliar ao longo
do processo de geração da solução educacional a manutenção dos objetivos definidos
na terceira etapa.
Para isso a geração de uma representação gráfica desse inter-
relacionamento das variáveis seria útil para ambos objetivos: dar um melhor
84
entendimento do processo ao grupo de trabalho e auxiliá-lo a “enxergar” exatamente os
sistemas realmente necessários de serem modelados para obtenção dos objetivos. Além
disso, será também útil ao integrante da equipe multidisciplinar com a função de gerar
o modelo tridimensional, interativo ou não , para que possa ter uma noção mais clara de
qual o comportamento de determinado elemento do ambiente virtual modelado diante
de determinada ação do aluno ou do comportamento de outro elemento do ambiente
virtual. Com este fim utilizaremos a ferramenta WLinkIt, programa livre, desenvolvido
para modelagem em educação, que pelas suas características poderá servir ao nosso
propósito. Descreveremos em seguida alguns conceitos importantes para seu
entendimento.
7.2.5.1.1. Modelagem na Educação
Conceitualmente, na área de Educação, simular é imitar alguma coisa
e para que se possa fazer uma simulação é necessário que se tenha um modelo que possa
representar razoavelmente o objeto, processo, fenômeno, etc. originais.
Em NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO( 2010), encontramos a seguinte
definição para modelo:
“Um modelo representa fatos, eventos, objetos ou
processos que ocorrem no mundo real ou num mundo imaginário e pode
ser físico,..., matemático,..., computacional ou uma combinação de um ou
mais destes tipos. O modelo é, em geral, a simplificação de um objeto ou
fenômeno existente no mundo real. Por ser mais simples do que a própria
realidade, facilita o processo de entendimento e/ou estudo do objeto ou
fenômeno modelado.”
Em Educação, o objetivo é que haja interação, reflexão debate em sala
de aula a respeito do tema objeto da modelagem e da simulação. Essa experiência pode
ser feita em sala de aula de duas formas: a expressiva, onde o próprio aluno cria o
modelo e faz a simulação, e para ao que é levado a desenvolver o pensamento sistêmico
e a exploratória onde o aluno explora um modelo construído por um especialista, pelo
professor ou outro aluno. A nossa proposta metodológica para modelar processos
85
industriais de refino tem em comum com este segundo tipo a criação do modelo pelo
especialista, no caso o Técnico de Operação experiente, porém o objetivo, neste caso, é
dar um a melhor compreensão do processo aos componentes da equipe interdisciplinar,
além de uma visão ampla das relações entre as variáveis que facilite a verificação do
caminho na obtenção dos objetivos, evitando desvios e seja um facilitador para o
modelador do ambiente virtual.
7.2.5.1.2. Tipos de modelos
A Figura 6 mostra uma categorização dos modelos.
Figura 12 - Tipos de modelo (GINAPE- GRUPO DE INFORMÁTICA APLICADA A EDUCAÇÃO/NCE- NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2010)
Os modelos podem ser classificados em estáticos e dinâmicos. O
primeiro tipo refere-se àqueles em que os elementos do sistema não sofrem alterações
ao longo do tempo. O segundo engloba os modelos que buscam representar situações
que sofrem mudanças ao longo do tempo, utilizados para analisar problemas,
antecipando soluções e prevendo resultados, são mais comuns no dia a dia.
Os modelos dinâmicos ainda podem ser classificados em modelos
dinâmicos quantitativos, que buscam representar a relação matemática entre variáveis,
os modelos dinâmicos qualitativos, que ao contrário do anterior, utiliza símbolos
nãoxmatemáticos para representar as relações entre seus elementos, baseando-se em
descrições destes elementos e das suas relações no mundo.
86
Há um terceiro grupo: são os modelos dinâmicos semi-quantitativos
que podem ser definidos como da seguinte forma:
“Os modelos semi-quantitativos usam relacionamentos
ordinais para descrever comportamentos(incrementar, decrementar,
maior que, menos que, relações de causa e efeito, etc.). São os mais
usados para descrever situações do dia a dia e para expor as mudanças
que ocorrem nos sistemas.” (NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO
ELETRÔNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO, 2010)
A definição desse tipo de modelo dinâmico mostra o quanto o mesmo
seria útil para retratar um processo/sistema de uma unidade de refino, mostrando as
relações entre as diversas variáveis que dele fazem parte. O aplicativo WLinkIt é
utilizado para modelar este tipo de sistemas e foi escolhido neste trabalho, também em
função disto, para ser a ferramenta de pré-modelagem dos processos dentro da
construção da solução educacional.
Esse programa de modelagem baseia-se em uma área de conhecimento
chamada dinâmica de sistemas.
7.2.5.1.3. Dinâmica de sistemas
Desenvolvida como uma disciplina acadêmica por Jay W. Forrester no
MIT(Massachussets Institute of Technology, em 1956, a dinâmica de sistemas é hoje
utilizada em diferentes áreas de conhecimento. Pode ser definida como:
“ A dinâmica de sistemas (sytem dynamics) é um conjunto
de ferramentas e métodos que têm por objetivo a análise e o estudo do
funcionamento de sistemas dinâmicos (sistemas que sofrem alteração ao
longo do tempo).
Na dinâmica de sistemas, um sistema pode ser definido de
forma resumida como um conjunto de elementos que se relacionam entre
si ao longo do tempo e que forma um todo unificado.” (GINAPE-
GRUPO DE INFORMÁTICA APLICADA A EDUCAÇÃO/NCE-
87
NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2010)
Um sistema possui uma estrutura representada pelas relações e
conexões entre seus elementos, sendo chamada de comportamento de um sistema o
modo como ocorrem as mudanças desses elementos ao longo do tempo.
Outros conceitos importantes da dinâmica de sistemas são os de
pensamento sistêmico e feedback ou retroalimentação. O primeiro refere-se a uma
forma de analisar os fenômenos, não de forma linear, enxergando os diversos elementos
separadamente, mas analisando o sistema no seu todo, descobrindo as variáveis que
participam do fenômeno, como estas influenciam e são influenciadas pelas demais
variáveis, verificando a existência de ciclos de eventos, padrões de comportamento. O
desenvolvimento desta capacidade propicia uma melhor análise tanto da estrutura
quanto do seu comportamento.
A retroalimentação se caracteriza pela alteração de informações
originais ao processo serem modificadas pelos resultados, pela saída do processo,
formando um ciclo constante característico de sistemas dinâmicos e mais próximo do
mundo real
Esses conceitos mostram que, embora com outros objetivos, essa
teoria é adequada para a representação dos sistemas referentes aos processos de refino
de petróleo e seu melhor entendimento. Podemos, por exemplo, citar um processo de
destilação e as relações entre o aumento da variável temperatura de fundo de uma torre
de destilação e a variável vazão de refluxo de topo.
Figura 13 - Feedback ou retroalimentação
Ou seja, há uma constante retroalimentação aos controladores de
temperatura do fundo da torre e de vazão de refluxo, para que as variáveis sejam
88
mantidas na faixa ideal para que os diversos “cortes” possam sair dentro de certas
especificações para continuar o processo. Outra observação é que neste exemplo
analisamos um sistema simples que faz parte de um sistema maior que envolve todo o
processo de destilação, com uma quantidade muito maior de variáveis e suas inter-
relações. Este processo de destilação está também integrado ao processo maior da
unidade de destilação da refinaria. Assim podemos, utilizando esta teoria, além de
entender o sistema/processo, definir melhor, as variáveis realmente relacionadas ao
nosso objetivo de estudos.
7.2.5.1.4. Diagramas causais
Os diagramas causais ou diagramas de ciclo causal são uma
representação gráfica utilizada para representar os elementos de um sistema e as
relações entre eles. É composto basicamente por palavras e setas e mostram o tipo de
relação entre cada par de conceitos e estas relações, chamadas enlaces, podem ser de
dois tipos: enlaces reforçadores e enlaces de equilíbrio.
Os enlaces de reforço ocorrem quando na relação entre duas variáveis
do sistema ambos crescem ou decrescem na mesma direção, ou seja, se um deles
aumenta o outro também ou se um deles diminui o outro também diminuirá. Esse
crescimento na mesma direção é representado por um sinal de mais no centro do elo,
que não quer necessariamente significar uma aumento no valor dos elementos, mas uma
alteração similar, seja ela positiva ou negativa. Os enlaces de reforço são também
conhecidos como enlaces de retroalimentação positivos, por proporcionarem um
aumento ou diminuição da condição inicial a taxas crescentes.
Podemos dar como exemplo na área de processo de refino a relação
entre a vazão de catalisador regenerado no “stand-pipe”de regenerado e a temperatura
de craqueamento no processo de craqueamento catalítico. Este processo será usado no
protótipo e está explicado no item 7.1. e seu diagrama causal desta relação está
representado na
89
+
Figura 14 - Enlace de reforço
Os enlaces de equilíbrio ocorrem quando o aumento ou diminuição de
uma variável do sistema provoca o mesmo tipo de alteração em uma segunda variável.
Já o aumento ou diminuição desta segunda variável provoca a alteração inversa na
primeira. De forma similar aos enlaces de reforço, é representado por um sinal de menos
no centro do elo com o significado de comportamento contrário nas mudanças de uma
ou outra variável. Os enlaces de equilíbrio são chamados de enlaces de retroalimentação
negativos, pois tendem a amenizar, com crescimento ou declínio, uma situação inicial,
buscando a estabilidade do sistema. Caracterizam “...os mecanismos que os sistemas
usam para solucionar problemas.” (NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2010)
-
Figura 15 - Enlace de equilíbrio
90
7.2.5.2. Procedimentos - Redes de Petri
As Redes de Petri (ou simplesmente RdP) foram apresentadas por
Carl Adam Petri em sua tese de doutorado intitulada Kommunication mit
Automaten(Comunicação com Autômatos), defendida na Universidade de Bonn em
1962, como uma proposta de modelagem de sistemas. Teve suas primeiras aplicações
desenvolvidas em 1968, pela norteamericana A.D.R. (Applied Data Research, Inc , em
seu projeto Information System Theory, onde muito da notação e da representação hoje
utilizada em RdP foi criada. Os anos setenta marcaram uma expansão das aplicações de
RdP, em especial devido as pesquisas realizadas pelo MIT (Massachusetts Institute of
Technology), em seu projeto MAC, através do grupo de Estruturas Computacionais e os
anos oitenta marcaram a ampliação das possibilidades das RdP, através do surgimento
das RdP de alto nível, levando a sua utilização para os mais variados campos, como
automação de escritórios, bancos de dados,inteligência artificial e sistemas de
informação de maneira geral. Nos final dos anos noventa novas evoluções levaram ao
tratamento de aspectos temporais, inexistentes até então. Em função da diversidade de
variantes em função das muitas aplicações desenvolvidas buscou se a partir de 1995 a
padronização das Redes de Petri, através de uma proposta Prof. Jonathan Billington
levada à ISO, International Standards Organization levada a termo nos anos 2000. As
Redes de Petri são hoje utilizadas nas mais diversas áreas como automação de
escritórios, automação de manufatura, avaliação de desempenho, bancos de dados,
circuitos integrados, protocolos de comunicação, sistemas distribuídos e sistemas de
produção (MARRANGHELLO, 2005).
(BELLOC, 2011)desenvolveu um trabalho onde busca estruturar a
criação de simuladores de procedimentos em Realidade Virtual e compara algumas
técnicas existentes para descrever procedimentos como Objetivos e Restrições, Grafos,
Diagrama LORA E Redes de Petri, gerando a Tabela 7.
Ainda segundo BELLOC (2011): “... as Redes de Petri possuem uma
representação gráfica que pode auxiliar sua utilização por profissionais sem
conhecimento técnico avançado da ferramenta...”, o que se adéqua as necessidades do
91
Objetivos e Restrições
Grafos LORA Redes de Petri
Representação explícita das dependências
Não Sim Sim Sim
Organização em hierarquia Sim Sim Sim Sim
Caminho de retorno Sim Parcial Não Sim
Trechos mutuamente exclusivos Sim Não Sim Sim
Complexidade de utilização¹ Alta Baixa Média Média
Tabela 7 - Comparação entre técnicas para descrição de procedimentos
¹Baseada em tabela de (BELLOC, 2011): “A complexidade destas técnicas também foi classificada de
forma qualitativa, avaliando a quantidade de conceitos envolvidos na utilização destes modelos em
casos reais” (BELLOC, 2011)
grupo multidisciplinar. Além disso:
“ De acordo com os trabalhos estudados, as Redes de Petri
se mostram como uma alternativa interessante para realizar a
representação de procedimentos, pois além de possuírem recursos
suficientes para descrever relações complexas de dependência, o seu uso
já foi consolidado em diversas outras áreas do conhecimento, o que
promove a disponibilização de livros e tutoriais, além de softwares e
ferramentas gratuitas sobre o tema.” (BELLOC, 2011)
As Redes de Petri são formadas basicamente por dois elementos: o
primeiro, chamado transição, é um componente ativo que corresponde a uma ação
realizada no sistema e o segundo, chamado lugar, é um componente passivo que
corresponde a alguma variável de estado do sistema. Para que as ações ocorram existem
pré-condições ou condições das variáveis de estado do sistema, de forma similar após a
ocorrência de uma ação, informações de lugares são alteradas, gerando pós-condições.
Transições e lugares são interligados por setas ou arcos direcionados,
que representam as relações entre estes elementos, sendo que quando os arcos
interligam lugares a transições representam relações entre condições verdadeiras
92
possibilitando que as ações sejam executadas. Ligações no sentido oposto, ou seja, de
transições para lugares representam relações entre ações e condições que se tornam
verdadeiras a partir da execução das ações. A execução das ações, também chamada de
disparo das transições, é controlada pelo número de marcas e sua distribuição nos
lugares. Graficamente os lugares são representados por circunferências ou elipses e as
transições por segmentos de reta, retângulos ou barras (PÁDUA, SILVA, et al., 2004).
Nome do componente Representação gráfica Tipo Correspondência
Transição Ativo Ação
Lugar Passivo Variável de estado
─ ─ Relações entre componentes
Tabela 8 - Elementos básicos das Redes de Petri:Características e representação gráfica
Um exemplo de utilização das Redes de Petri, seria um diagrama que
representasse um procedimento seqüencial como o da Figura 16., onde as ações
referentes a transições T1 a T6, devem ser executadas nesta ordem para cumprimento do
procedimento associado a atividade.
L1 T1 L2 T2 L3 T3 L4 T4 L5 T5 L6 T6
Figura 16 - Exemplo de Redes de Petri representando um procedimento seqüencial
Esse procedimento poderia representar a retirada de uma válvula de
operação, utilizando-se o “by pass”(desvio)21 sendo, neste caso:
L1: Bloqueio do desvio fechado e bloqueios a montante e a jusante da
válvula aberttos
T1: Abrir lentamente 1/3 do bloqueio de desvio
21
Esta é uma manobra operacional muito comum em uma unidades industriais de processo. O by-pass é
um desvio do fluxo normal do fluido conduzido pela tubulação. As válvulas de controle possuem
bloqueios a montante(antes da válvula) e a jusante(após a válvula). O by-pass é uma tubulação que
começa antes do bloqueio a montante e termina após o bloqueio a jusante, possuindo ele também um
bloqueio. Este bloqueio é aberto, enquanto os outros dois bloqueios da válvula são fechados, para que
acha o desvio do fluxo e a válvula possa receber manutenção.
93
L2: Bloqueio do desvio aberta 1/3
T2: Fechar lentamente 1/3 do bloqueio a jusante da válvula
L3: Bloqueio do desvio aberta 1/3 e bloqueio a jusante da válvula
fechado 1/3
T3: Abrir lentamente mais 1/3 do bloqueio de desvio
L4: Bloqueio do desvio aberta 2/3 e bloqueio a jusante da válvula
fechado 1/3
T4: Fechar lentamente mais 1/3 do bloqueio a jusante da válvula
L5: Bloqueio do desvio aberta 2/3 e bloqueio a jusante da válvula
fechado 2/3
T5: Abrir lentamente mais 1/3 do bloqueio de desvio
L6: Bloqueio do desvio totalmente aberta e bloqueio a jusante da
válvula fechado 2/3
T6: Fechar lentamente mais 1/3 do bloqueio a jusante da válvula
L7: Bloqueio do desvio totalmente aberta e bloqueio a jusante da
válvula totalmente fechado
T7: Fechar totalmente o bloqueio a montante
Podemos ter Redes de Petri com trechos alternativos, onde deverá ser
feita uma escolha de entre duas opções possíveis e também com retorno de forma que
o usuário possa voltar a um ponto desfazendo as ações pelas quais optou inicialmente e
escolhendo outra alternativa, conforme mostram a Figura 17 e a Figura 18.
Figura 17 - Exemplo de Redes de Petri representando um procedimento com alternativas
94
Figura 18 - Exemplo de Redes de Petri representando um procedimento com possibilidade de retorno
7.2.6. Desenvolvimento dos modelos dos ambientes virtuais
7.2.6.1. Obtenção do modelo tridimensional
Os modelos tridimensionais básicos que serão gerados inicialmente
para tornarem se ambientes animados e/ou interativos podem ser desenvolvidos em
ferramentas tradicionais para estes fins como o AutoCad, Microstation, 3D Studio,
Blender , etc. Por se tratarem de modelos oriundos de projetos engenharia, a modelagem
através de programas de desenho técnico como AutoCad ou Microstation se torna mais
adequada e de acordo com o nível de realismo necessário aos objetivos da solução
educacional e pode ser feita nesses próprios programas ou então realiza-se a exportação
do modelo para receber acabamento(texturas, luz, etc.), além da animação em
ferramentas mais poderosas para este fim. É importante que a equipe interdisciplinar
defina este nível de acabamento, a partir da explicações do especialista na área, que é o
modelador, sempre com foco nos objetivos da solução educacional, para evitar que seja
gerado trabalho desnecessário.
Neste trabalho acompanhamos diversas pesquisas (STAFFORD e
HAUSER, 2010) (HOISET e GLITTUM, 2008) (HOLM, PRIGLINGER e GMBH,
2008) (BELLOC, 2011) que, conforme citado no item 7.1.4, preconizam a utilização
de modelos tridimensionais já existentes, desenvolvidos em ferramentas
CAD(Computer Aided Design) para reaproveitá-los em treinamentos em ambientes de
Realidade Virtual. Entre as vantagens dessa utilização, podemos citar:
a. A utilização de ferramentas CAD de automação de projetos de
plantas industriais é hoje comum nos novos empreendimentos
da área de refino, além das plantas existentes estarem sofrendo
95
“as built”22 com utilização de modernas tecnologias de
escaneamento a laser23
b. Tais modelos têm potencial, se preparados para tal, para
diversas utilizações (simulações de procedimentos de
montagem, acompanhamentos de paradas de manutenção,
etc.), dentre elas o treinamento de profissionais ligados a
unidade industrial de processo modelada, agregando valor e
aumentando assim o retorno do alto investimento na aquisição
e manutenção dessas ferramentas
c. Com a possibilidade de obtenção dos ambientes virtuais de
forma mais rápida, evitando ou diminuindo consideravelmente
o trabalho de modelagem, abaixam-se os custos do
desenvolvimento da solução educacional
A área de Abastecimento da Petrobras(Petrobras/Abast), que engloba
seu parque de refino(ver item 1.2) vem modelando suas unidades industriais utilizando
o programa PDMS (Plant Design Model Sistem) com o objetivo, dentre outros, de
melhorar a qualidade de seus projetos, evitando retrabalhos, diminuindo inconsistências,
reduzindo prazos, etc.. No entanto os modelos tridimensionais gerados, que são na
verdade também um banco de dados, têm um grande potencial para outras utilizações,
agregando valor e gerando um maior retorno do investimento.
A utilização desses modelos para gerar ambientes virtuais de
treinamento se enquadra neste caso, sendo necessário para isso no entanto algumas
ações que possam viabilizar esta utilização, já que esta modelagem não tem este
objetivo específico, e um procedimento para a transformação destes modelos existentes
22
Termo de Engenharia de Projetos que significa o levantamento do “como construído” para consolidar
na documentação final da obra as alterações de campo que o projeto sofreu durante a mesma em
função de melhorias, ou algum tipo de impedimento, como interferências não detectadas
anteriormente, na fase de projeto. Também, neste caso, serve para o levantamento total de unidades
para adequar a documentação ao novo formato de modelo tridimensional, de onde se gera
automaticamente os desenhos para construção e montagem. Após o escaneamento a laser, que gera
uma “nuvem de pontos” que localiza com precisão os elementos escaneados é feita uma conversão para
a plataforma utilizada pela unidade industrial(PDMS,PDS,etc.) obtendo o modelo CAD
23 Ver item 1.2, página 2, Nota de Rodapé
96
em um ambiente virtual interativo, necessita a verificação de compatibilidades,
possibilidades de exportação, etc. para utilização com os softwares a serem adotados
para gerar ambientes virtuais que dêem resposta em tempo real.
7.2.6.2. A exportação para o programa gráfico
Conforme explicado anteriormente, um dos intuitos deste trabalho é
agregar valor aos modelos já desenvolvidos em softwares de automação de projetos
como o SmartPlant, PDS ou, como no caso das refinarias da Petrobrás, o PDMS,
utilizando-os como uma das alternativas para a construção das soluções educacionais
em Realidade Virtual. Para isto tais modelos precisam ser preparados para serem
utilizados em uma ferramenta que gere estes ambientes virtuais e o primeiro passo é a
exportação para um programa gráfico já que, apesar da visualização, a modelo
tridimensional gerado é na verdade a imagem de um banco de dados.
Esse passo intermediário entre a o modelo original e um modelo em
um programa de representação gráfica nem sempre será necessário. No caso específico
de programas CAD, que assim como o PDMS são na verdade um banco de dados é que
será preciso fazer esta transformação. Embora sejam ambos programas CAD, existe
uma grande diferença entre a forma de trabalhar de ambos e também uma maior
abrangência de objetivos dos programas de automação de projetos como o PDMS, PDS,
SmartPlant, etc. em relação aos programas de representação gráfica para engenharia
como AutoCad e Microstation, ou de animação como 3D Studio Max, Blender, etc.. Os
programas que geram o ambiente virtual interativo normalmente precisam de modelos
gerados nestes últimos tipos.
Poderia-se, por exemplo, a partir de um modelo em PDMS de uma
unidade de processo de uma refinaria, fazer-se no primeiro passo da modelagem a
conversão para o formato DWG, original do programa AutoCAD, da Autodesk, e
posteriormente uma exportação para o formato 3DS, original do 3D Studio Max,
também da Autodesk e por fim, através do formato Collada para o Quest3D, onde seria
desenvolvido o ambiente virtual interativo e as animações.24
24
No capítulo 7 são descritos os detalhes do desenvolvimento do protótipo
97
De forma similar ao protótipo desenvolvido neste este trabalho Hoister
et al (HOISET e GLITTUM, 2008) partem de um modelo gerado no PDMS para
desenvolver um ambiente virtual para treinamento seguro na área de segurança
industrial. Em seu sistema foi feita a conversão para o formato V7 DGN, do
Microstation, e deste para um modelo em VRML(Virtual Reality Modeling Language).
“Uma conversão automática de um modelo CAD tem
algumas falhas. Primeiro, pode ser muito rica em detalhes, o que faz com
que o modelo final em VRML seja muito pesado para ser visualizado em
tempo real. Isto é melhorado pela filtragem do banco de dados do PDMS
na conversão para V7 DGN, normalmente pela entidade peso ou
dimensão. Unidades pequenas, como parafusos e porcas que não são
essenciais em comunicação de risco de gás, são abandonadas.
Equipamentos de processo, como tubulações, reatores e separadores são
mantidos intactos.
Em segundo lugar, a informação de cores no PDMS -
normalmente usadas com propósito de classificação interna de
engenharia - é mantida. Isto pode levar a um modelo de aspecto estranho,
com cores brilhantes, artificiais. Alguma edição manual e aplicação de
textura no modelo em VRML levará um visual mais realista” (HOISET e
GLITTUM, 2008)
Em relação a primeira observação há realmente a necessidade de uma
adequação do modelo desenvolvido no PDMS, sendo esta uma das ações necessárias
para que possamos utilizar de forma adequada e potencializada a ferramenta onde será
feita a geração do ambiente virtual interativo. A visualização da planta industrial no
PDMS é na verdade uma interface gráfica de um banco de dados onde são guardadas
todas as informações sobre os elementos da montagem virtual da planta industrial.
Assim, ao gerarmos a visualização de um tubo, estamos na verdade definindo um tubo
específico, com suas especificações de material, schedule25 , classe de pressão26, etc.,
além das informações de características geométricas e de localização espacial e de
25
Espessura da parede de um tubo
26 Pressão máxima para a qual um tubo foi fabricado para suportar
98
cores. Na conversão são extraídas no formato adequado, apenas estas duas últimas que
são as que nos interessam realmente para a utilização no programa de computação
gráfica adotado e para os nossos objetivos.
Para se ter uma idéia da importância desta filtragem, comparando
geometricamente, as informações armazenadas necessárias para a visualização de um
tubo, são em bem menor quantidade que para a visualização de um parafuso ou de uma
porca sextavados27, por exemplo, sendo que para a fixação de um tubo flangeado28, de
um modo geral, necessita-se de diversos parafusos e porcas sextavadas, em ambos os
lados do tubo. Esta relação depende do diâmetro do tubo, mas pode chegar a dezenas de
porcas e parafusos por um tubo, o que significaria , tanto para o programa gráfico
intermediário, quanto para a ferramenta onde será criado ao ambiente virtual, uma
quantidade enorme de informação, importante para o modelo de engenharia, mas
desnecessária para o modelo a ser utilizado na criação da solução educacional.
Quanto a segunda observação, na nossa metodologia ela será avaliada
pela equipe multidisciplinar. No caso do trabalho de (HOISET e GLITTUM, 2008)
houve esta necessidade de dar um tratamento realístico ao cenário virtual, em função do
objetivo específico a que se propunha o treinamento. Em muitos casos as cores
originais, ou com alterações que se julguem necessárias, poderão ser interessantes para
determinado tipo de objetivo, como aprendizado de alinhamento29 de unidades
industriais, por exemplo.
7.2.6.3. A exportação para o programa gerador do ambiente virtual
Com o cenário virtual de treinamento pronto faz-se a exportação do
mesmo para um programa que comporte a criação de ambientes virtuais interativos,
27
Parafuso sextavado: com a cabeça em formato hexagonal; porca sextavada: com formato hexagonal
28 Fixado ou unido a outros equipamentos(tubos, vasos, bombas, através de flanges. Flanges são
elementos de união entre duas peças de tubulação, normalmente parafusados, usados em pares para
efetuar esta união e permitem a desmontagem sem agredir a tubulação.
29 Chama-se alinhamento, no jargão dos Técnicos de Operação, a localização dos diversos
equipamentos, em especial das tubulações, suas origens e destinos, além de seu conteúdo e fluxo,
associados ao processo. É considerado um conhecimento fundamental para atuação na área de um
modo geral, e em especial em emergências
99
onde será produzida de fato a animação, o game, o ambiente interativo, etc. ou qualquer
outro formato da solução educacional que a equipe interdisciplinar tenha decidido e
elaborado. A escolha desta ferramenta passa por diversos aspectos que vão desde a
disponibilidade de recursos até a compatibilidade para importar os formatos de modelos
nos quais serão gerados os cenários virtuais,etc. Um dos fatores mais importantes a
serem considerados é a possibilidade do programa ser o mais intuitivo possível, não
demandando, por exemplo, conhecimento prévio de linguagens de programação.
A linguagem VRML (Virtual Reality Modeling Language), “...é uma
linguagem usada para descrever objetos em três dimensões e combiná-los em cenários
de mundos virtuais...”, sendo “...possível criar simulações interativas que incorporam a
física do movimento..” (NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA, 2011). Recurso já
tradicional para este fim e já utilizado em trabalhos provenientes de exportações do
programa PDMS, via formato compatível com o DWG , nativo do AutoCad, encontra
em nosso propósito algumas objeções. Segundo (NOBRE, HAGUENAUER e CUNHA,
2011):
“Os principais desafios para a utilização de VRML no
contexto educacional são: (1) alcançar a qualidade gráfica, pois uma das
principais metas do bom design é estabelecer credibilidade (Nielsen,
2000); (2) conhecer a linguagem VRML, pois, muito embora editores
como Cosmo Worlds 2.0 facilitem a criação dos objetos tridimensionais,
eles são ainda pouco intuitivos e exigem do desenvolvedor um
conhecimento significativo da linguagem.” (NOBRE, HAGUENAUER e
CUNHA, 2011)
E, ainda afirma:
“O desenvolvimento de uma metodologia de projeto é um
dos desafios para o desenvolvimento de Objetos de Aprendizagem
utilizando Realidade Virtual, pois mesmo com a utilização de editores, a
criação de objetos de conteúdo em VRML ainda necessita de
conhecimentos técnicos pouco acessíveis ao professor, mesmo que ele
possua alguma proficiência em informática.” (NOBRE, HAGUENAUER
e CUNHA, 2011)
100
Mesmo adotando uma equipe multidisciplinar, com um membro
especialista para cuidar dos aspectos referentes ao ambiente virtual, ferramentas mais
amigáveis podem diminuir prazos e custos da criação do ambiente virtual interativo ou
não, da animação ou outra opção que tenha sido decidida pelo equipe multidisciplinar.
Programas como o Quest 3D, por exemplo, apresentam esta característica, como
ausência da necessidade de programação.
7.2.6.4. A criação do ambiente virtual
Nesta etapa, já com um entendimento básico do sistema, além do
apoio do Técnico de Operação experiente, com uma definição clara dos objetivos do
treinamento, bem como do que deve ser consolidado no modelo para alcançar estes
objetivos, com o apoio pedagógico do membro da equipe especialista e, por fim, com
uma visão geral do que será modelado obtida através dos diagramas causais, no caso da
modelagem de processos/sistemas, ou das Redes de Petri, no caso de procedimentos, o
profissional responsável pelo desenvolvimento do modelo em Realidade Virtual, poderá
executá-lo.
7.2.7. Testes
O modelo, uma vez pronto, deverá ser testado, em especial no que diz
respeito a correção das inter-relações das variáveis descrita nos diagramas causais e a
seqüência correta dos procedimentos expressa nas Redes de Petri. Os testes serão feitos
também para verificação do atendimento a outros aspectos definidos pela equipe
durante as fases anteriores, como nível de interatividade, nível de imersão, etc. , ou seja,
atendimento geral as definições dadas pela equipe multidisciplinardisciplinar para que o
modelo alcançasse o objetivo proposto.
7.2.8. Validação da equipe interdisciplinar
A partir dos testes realizados e do resultado final do ambiente virtual
desenvolvido a equipe interdisciplinar poderá reavaliar alguns pontos e optar por
alterações , para melhor atendimento ao objetivo ou aprovar o modelo e considerar o
trabalho concluído.
101
8. CAPÍTULO 8 – UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA
Com o intuito de fazer uma avaliação da proposta metodológica, foi
formado um grupo multidisciplinar com o propósito de desenvolver uma solução
educacional para o ensino de um processo específico de uma unidade de processo da
REDUC (U-1250) denominado FCC (Fluid Catalitic Crackeament - Craqueamento
Catalítico Fluido), escolhido informalmente pelos próprios operadores.
O objetivo era que através das reuniões do grupo utilizando a
metodologia fosse avaliado o nivel de entendimento do processo a ter sua solução
educacional montada e a avaliação do grupo sobre a proposta metodológica.
8.1. O processo escolhido : craqueamento catalítico
Conforme citado no item o craqueamento é um processo de conversão,
ou seja, busca através da diminuição do peso e do tamanho da estrutura molecular do
hidrocarboneto a obtenção de derivados. No caso do craqueamento catalítico fluido
estas alterações na estrutura molecular são conseguidas através da utilização de um
catalisador que entrando em contato com a carga da unidade, sob determinadas
condições, promove a quebra das cadeias carbônicas pesadas.
Esse processo ocorre em um equipamento chamado de conjunto
conversor, que pode ser de diversos tipos (Orthoflow,Stacked,Side by Side, etc.), com o
mesmo princípio básico, mas com estruturas diferentes. O conjunto conversor da
unidade de Craqueamento Catalítico Fluido da REDUC é do tipo side by side que é
formado por um reator e um regenerador montados nesta posição relativa(um ao lado do
outro) . No reator ocorrem as reações de conversão propriamente ditas, com as
alterações moleculares desejadas ao longo da parte do reator chamada riser, em função
do contato dessas reações ocorrerem enquanto catalisador e carga, em contato íntimo,
ascendem ao longo do mesmo após entrarem ambos por sua parte inferior, enquanto no
conversor, propriamente dito, o catalisador é recuperado através da queima com ar
quente do coque que o envolveu durante o processo de reação.
102
Riser
Vaso separador
Conjunto ConversorUFCC REDUC
Reator
Regenerador
Striper
HC
p/ f
raci
onad
ora
Gas
com
bust
ãop/
cald
eira
deC
O
Figura 19 - Conjunto Conversor - Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido - REDUC - Refinaria Duque de Caxias
Figura 20 - Esquema de funcionamento do conversor tipo side by side
8.2. A equipe interdisciplinar
103
A equipe interdisciplinar prevista na metodologia foi formada pelos
seguintes profissionais: a pedagoga industrial Valéria Figueiredo dos Santos Ferreira, da
Universidade Petrobras, o Técnico de Operação Senior, da Unidade de Craqueamento
Catalítico da Refinaria Duque de Caxias Raul de Carvalho e o Desenhista Industrial
Renan Leser, sob a coordenação do autor deste trabalho. Foram feitas cinco reuniões
com os seguintes objetivos:
1ª reunião: apresentação dos conceitos de Realidade Virtual, dos
objetivos e relevância da proposta metodológica
2ª reunião: Definição do processo ou procedimento a serem
modelados a partir da lista feita pelos Técnicos de Operação: o processo escolhido foi o
craqueamento catalítico. Explicação do mesmo pelo Técnico de Operação Raul
Carvalho
3ª reunião: Explicação pelo Coordenador do grupo sobre Dinâmica de
Sistemas e o aplicativo WLinkit. Geração dos diagramas causais do processo através do
programa WLinkit
4ª reunião: Apresentação do protótipo pelo modelador, o Desenhista
Industrial Renan Leser. Solicitadas pequenas alterações.
5ª reunião: Nova apresentação do protótipo pelo modelador, com
atendimento as solicitações da equipe multidisciplinar, testes e validação da equipe.
104
9. CAPÍTULO 9 – CONCLUSÃO E COMENTÁRIOS FINAIS
9.1. Conclusão
Diversos trabalhos pesquisados (YAHAYA, 2006) (JOU e WANG,
2012) (AUSBURN e AUSBURN, 2008)demonstram que ainda há um vasto campo a ser
pesquisado, no que diz respeito as possibilidades da Realidade Virtual como ferramenta
de capacitação na formação inicial e continuada de profissionais, no que diz respeito a
aspectos pedagógicos, em especial na avaliação do desempenho da aprendizagem em
relação aos métodos tradicionais de ensino profissional. Há também outros poucos
trabalhos (LEE, WONG e FUNG, 2010)que procuram criar uma métrica que permita
melhorara esta avaliação.
As pesquisas existentes apontam , de um modo geral, para um
desempenho superior no aprendizado daqueles cujo processo de aprendizado utilizou-se
de soluções educacionais que envolviam ambientes virtuais (MIKROPOULOS e
NATSIS, 2011) (JOU e WANG, 2012) (RUTTEN, JOOLIGEN e VEEN, 2012).
Uma discussão que se apresenta, ainda com uma lacuna a ser
preenchida é o modo de desenvolvimento das soluções educacionais que pretendam
utilizar esta ferramenta . Este trabalho apresentou uma proposta metodológica, que
busca sintetizar diversas pesquisas que trataram de vários aspectos deste tema de forma
esparsa. Assim algumas dimensões como a autoria do professor, as práticas mais
adequadas para utilização de elementos de mídia , as avaliações das vantagens da
utilização de recursos de ambientes vurtuais, etc. colocadas como importantes fatores
para o sucesso do desenvolvimento das soluções educacionais criadas com utilização de
ambientes virtuais, foram discutidas e consolidadas na montagem da proposta
metodológica, visando dotá-la das referências hoje existentes em relação ao assunto.
Importante lembrar que este desenvolvimento foi feito através da
convergência desses diversos aspectos em torno da metodologia, como citado acima,
bem como da adaptação desses vários conceitos, desenvolvidos muitas vezes para áreas
de ensino mais acadêmico ou outras áreas profissionais, para aplicação em uma área
profissional muito específica e com grandes peculiaridades (Técnico de Operação) e
para a qual, existem poucos trabalhos desenvolvidos e os existentes mais voltados para
105
a implementação do ambiente virtual do que uma discussão procedimental ou
pedagógica que o preceda.
Foram então buscadas soluções que se adaptassem as características
peculiares das funções do Técnico de Operação,baseado em alguns trabalhos e em
especial na pesquisa realizada por Kuenzer junto a Técnicos de Opereração, a respeito
do capacitação dos mesmos e da própria experiência passada do autor como Técnico de
Operação. Uma delas foi a opção pelo grupo multidisciplinar, que procura suprir,
complementar as habilidades necessárias para que o detentor do conhecimento, que
neste caso, no lugar do professor, está o Técnico de Operação experiente, possa ter
transformada em solução educacional com utilização de Realidade Virtual este
conhecimento.
Segundo algumas (NORTON, CAMERON, et al., 2008)pesquisas
esse conhecimento tácito do Técnico de Operação é fundamental para a manutenção da
memória do conhecimento de uma unidade, em função das particularidades de cada
uma, já que, como foi explicado no trabalho, não existem duas unidades totalmente
iguais e mesmo semelhantes têm comportamentos diferentes.
Outro aspecto importante focado pelo trabalho é a definição correta
dos objetivos da solução educacional, para que através do bom entendimento pelos
membros do grupo multidisciplinar do sistema/processo ou procedimento a ser
modelado e das possibilidades oferecidas de nível de realismo, interação e imersão,
possam ser escolhidos os recursos adequados que viabilizem a solução, sem custos
adicionais desnecessários.
A metodologia mostra-se consistente, baseando-se no conhecimento
pedagógico construído até agora sobre a aplicação da Realidade Virtual para
treinamento,. Assim, buscou-se tratar alguns aspectos levantados para utilização de
Realidade Virtual na área de educação profissional e especificamente na formação do
Técnico de Operação: a autoria do professor(no caso o Técnico de Operação, detentor
do conhecimento, pela criação do grupo multidisciplinar), a inserção do saber
pedagógico para potencializar a Realidade Virtual em treinamentos ( pela utilização do
conhecimento pedagógico acumulado até o momento para utilização de Realidade
Virtual), a inserção do conhecimento tácito do Técnico de Operação, como elemento
fundamental na geração das soluções educacionais para formação desses profissionais
106
(pela construção da solução educacional a partir de seus conhecimentos, como professor
autor ou,neste caso, como o detentor do conhecimento).
Como trabalho futuro é importante uma avaliação mais profunda da
eficiência da construção de soluções educacionais utilizando-se esta metodologia,
através de sua aplicação prática no treinamento de Técnicos de Operação, e verificação
de sua eficiência por avaliações de reação, avaliações de impacto,etc. ou outras
metodologias mais específicas como aquelas apresentadas neste trabalho (LEE, WONG
e FUNG, 2010) (AUSBURN e AUSBURN, 2008) (JOU e WANG, 2012) em algumas
pesquisas para que se possa conhecer a real contribuição da metodologia na
potencialização do uso da Realidade Virtual na formação inicial e continuada dos
Técnicos de Operação.
107
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