Dissertação - A indústria de calçado em S. João da Madeira (1881-1953) - estudo e mediação
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SUSANA ISABEL LAGE DE CARVALHO
A INDÚSTRIA DE CALÇADO EM S. JOÃO DA MADEIRA (1881-1953):
ESTUDO E MEDIAÇÃO
Tese de mestrado em História e Património – Ramo Mediação Patrimonial
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
2012
FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE DO PORTO
RESUMO
Este trabalho consiste num estudo e organização de conteúdos sobre a indústria do
calçado em S. João da Madeira entre 1881 e 1953, tendo em vista a sua mediação expositiva
pelo Museu da Indústria de Chapelaria, situado na mesma localidade.
A metodologia utilizada foi a análise de documentação primária presente nos arquivos
sanjoanenses e no Arquivo Distrital de Aveiro, bem como a consulta de numerosa
documentação impressa, tal como estudos estatísticos governamentais e periódicos locais ou
temáticos de cariz regional e nacional.
O período prolongado de estudo deveu-se à escassez de dados conhecidos sobre esta
matéria, procurando-se assim oferecer uma visão alargada sobre a indústria. Pelo presente
trabalho foi possível concluir a existência de dois períodos fundamentais para o seu
desenvolvimento: durante a Primeira Guerra Mundial, período em que diminuiu o produto
importado e a sua concorrência, criando assim oportunidades para a sua substituição, e após a
década de 1920, quando se verifica a criação de sociedades comerciais e industriais do
calçado, com frequência associadas à produção de outros artigos, tendência que se mantém,
pelo menos, até 1953.
Até à criação destas parcerias, todos os elementos analisados apontam para a
existência de uma indústria sobretudo domiciliar e familiar, de natureza tradicional. A análise
da constituição das sociedades sanjoanenses do calçado permite perceber as caraterísticas
fundamentais que definem a evolução desta indústria, que mantém, pelo menos até inícios da
década de 1950, alguns dos atributos tradicionais, tais como o fabrico manual.
PALAVRAS-CHAVE: indústria do calçado, S. João da Madeira, sociedades, história,
mediação.
ABSTRACT
The present study consists in a historical research and organization of the footwear
industry in S. João da Madeira contents between 1881 and 1953, considering future
exhibitions at Museu da Indústria de Chapelaria, located in the same municipality.
The methodology used was the analysis of primary documents at local and district
archives, and the consultation of numerous printed documentation such as government
statistical studies and local or theme-oriented regional and national periodical resources.
The scarcity of information available on this subject led us to work on a long period of
time, thus attempting to provide a broad overview of the industry. We were able to conclude
that there were two fundamental periods for its development: Primarily, throughout the First
World War, during which the imported product and its competition decreased, creating
opportunities between local manufacturers to create or expand their production, and
secondarily on the 1920s, with the establishment of commercial and industrial partnerships,
often associated with the production of other items, a remaining trend at least until 1953.
All previous researched elements point to the prevalence of small home industry,
traditional in nature, prior to these partnership constitutions. The analysis of these business
organizations documentation unravels its fundamental characteristics, defining the evolution
of this industry, which saved, at least until the early 1950s, some of the its traditional
attributes, such as the manual production process.
KEY WORDS: footwear industry, S. João da Madeira, commercial and industrial partnerships,
history, mediation.
RÉSUMÉ
Basé sur une étude et une organisation/exploitation des données relatives à l'industrie
de la chaussure à S. João da Madeira entre 1881 et 1953, ce travail pave la voie à des
expositions prochaines prévue par le Museu da Indústria de Chapelaria de S. João da Madeira.
Sur le plan de la méthodologie nous avons surtout eu recours à une analyse des
sources primaires disponibles dans les archives locales et régionales, ainsi qu'à une
consultation des études statistiques gouvernementales et des périodiques locaux ou
thématiques aux niveaux régional et national.
L'avancement de la recherche, laquelle s'est attachée à donner le plus large aperçu
historique possible, a été quelque peu retardé par la rareté des informations sur le sujet. Nous
pouvons toutefois dégager deux phases fondamentales de l'évolution de l'industrie de la
chaussure à S. João da Madeira: la période de la Première Guerre mondiale, caractérisée par
une baisse de l'importation du produit, une baisse du taux de concurrence, et une création
d'opportunités nouvelles pour les producteurs locaux; et la période allant de l'après-guerre
jusqu'en 1953, qui vit la création de nouvelles sociétés commerciales et industrielles, souvent
associées à la production d'autres articles.
Jusqu'à la constitution de ces entreprises, tous les éléments analysés indiquent
l'existence d‟une activité industrielle de type traditionnel et familial, en grande partie
domestique. L'analyse de la documentation existant sur la constitution de ces entreprises a
permis de mettre en valeur les caractéristiques fondamentales définissant l'évolution de cette
industrie, laquelle maintient, au moins jusqu'à début des années 1950, des attributs
traditionnels, comme la fabrication manuelle.
MOTS-CLÉS: industrie des chaussures, S. João da Madeira, sociétés, l'histoire, la médiation.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO: JUSTIFICAÇÃO TEMÁTICA, OBJETIVOS E PROBLEMÁTICA,
FONTES E METODOLOGIA
1.1. Justificação do tema
1.2. Objetivos e problemática
1.3. Fontes e metodologia
2. A INDÚSTRIA DA SAPATARIA DE S. JOÃO DA MADEIRA NO QUADRO
NACIONAL E DISTRITAL (1881- 1920)
2.1. Delimitação e caraterização espacial de S. João da Madeira
2.2. A indústria sanjoanense da sapataria no quadro nacional e distrital
2.2.1. Caraterísticas da atividade industrial
2.2.1.1. Produção artesanal e domiciliar
2.2.1.2. Dimensão
2.2.1.3. Sazonalidade da produção
2.2.1.4. Registo e licenciamento
2.3. Dificuldades da indústria
2.3.1. Concorrência
2.3.1.1. Trabalhadores rurais
2.3.1.2. Reclusos
2.3.1.3. Trabalho feminino
2.4. Escassez de capitais
2.5. Ensino profissional
2.6. Proteção pautal
2.7. Tipo de produção
3. AS SOCIEDADES SANJOANENSES DO CALÇADO (1917-1952)
3.1. A dinâmica industrial – as sociedades comerciais e industriais e o seu significado
3.2. Aproximação a uma avaliação quantitativa
3.2.1. Quadro n.º 1A – Sociedades de calçado (amostra analisada)
3.2.2. Ramo específico de atividade das sociedades
3.2.3. Frequência de constituição das sociedades
3.2.4. Natureza jurídica das sociedades
3.2.5. Número inicial de sócios e capitais
3.2.6. Distribuição do capital social inicial entre sócios
3.2.7 Localização das indústrias
3.2.8. Período em atividade
3.2.9. Existência de maquinaria
4. CONCLUSÃO
5. FONTES E BIBLIOGRAFIA
6. APÊNDICES
NOTA DE ABERTURA
A realização do presente trabalho contou com múltiplas contribuições, diretas ou
indiretas, que nos compete agradecer.
À nossa orientadora de dissertação, Professora Doutora Alice Semedo e co-orientadora,
Professora Doutora Inês Amorim, pela liberdade permitida, pela orientação científica e
correção.
À diretora do Museu da Indústria de Chapelaria, Doutora Suzana Menezes, pela sua
disponibilidade e acompanhamento.
À Doutora Teresa Azevedo e à Doutora Graça Oliveira, da Biblioteca Municipal Dr.
Renato Araújo, em S. João da Madeira e à equipa do Arquivo Distrital de Aveiro, em Ílhavo,
por toda a atenção.
Ao Doutor Delfim Bismarck, da Fundação Solheiro Madureira, em Estarreja, pelo seu
apoio e empenho.
Ao Professor Doutor Manuel Ferreira Rodrigues, da Universidade de Aveiro, pelo seu
interesse e contribuição.
9
1. INTRODUÇÃO: JUSTIFICAÇÃO TEMÁTICA, OBJETIVOS E
PROBLEMÁTICA, FONTES E METODOLOGIA
O primeiro contacto com o Museu da Indústria da Chapelaria, onde decorreria o
estágio curricular no âmbito do Mestrado em História e Património, ramo Mediação
Patrimonial, tinha presente, de antemão, a disponibilidade e flexibilidade pessoal para
responder às necessidades e interesses imediatos da instituição. Este foi o primeiro passo
condutor desta dissertação. Não se trata tanto de um relatório de estágio, embora não se deixe
aqui de ter em conta essa experiência, pois esta nos mobilizou para a necessidade de procurar
conteúdos que venham a alimentar futuros trabalhos expositivos. Daí o subtítulo, estudo e
mediação.
Com efeito, os objetivos traçados aquando do estágio revelaram-se distintos do
trabalho inicial, realizado no contexto do mestrado e abriram a possibilidade de pesquisa
sobre a história industrial, especialmente local, proposta que rapidamente nos cativou perante
as primeiras leituras e os primeiros contactos com as fontes. Cedo se revelou uma motivação
desconhecida, desenvolvendo-se em crescendo um interesse por tal temática. No final de todo
o trabalho realizado subsistiu o gosto pela história industrial e tornou-se firme o desejo de
manter esta orientação em formações e produções futuras.
Surgiu então a possibilidade de auxiliar o museu na pesquisa sobre a história do
calçado em S. João da Madeira, bem como na montagem de uma exposição programada sobre
esta temática, designada de «O ofício de sapateiro», inaugurada em maio de 2011, inserida
num projeto mais alargado de organização e salvaguarda do património referente a esta
indústria e no incremento do já existente, embora diminuto, núcleo museológico,
recentemente instalado no Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado (CFPIC),
sito na mesma localidade. Este espaço recolhera, desde a sua formação, testemunhos
referentes a esta atividade, concentrando-se todavia, compreensivelmente, na informação
técnica e tecnológica desta indústria.
À partida, este trabalho dispunha-se a apresentar uma pesquisa sobre a história da
indústria do calçado e sua consequente composição narrativa, como suporte da referida
exposição, bem como uma subsequente reflexão sobre a historiografia em contexto
museológico. É que a narrativa museológica é um processo de confluência entre um
aprofundamento da pesquisa historiográfica, na recuperação do registo documental, seja ele
10
qual for e a necessidade museológica de explorar o caráter emocional e a relação estreita com
a comunidade, num apelo geracional aos filhos e aos netos dos envolvidos naquela atividade
industrial. A historiografia não pode, portanto, num trabalho de parceria, esquecer a
indispensabilidade do museu local em conferir reconhecimento aos seus. Sendo assim, a
história profunda, no âmbito do museu, não poderá recusar nunca o acontecimento. Algum
fatual pode ajudar a desencadear a identificação dos herdeiros, como catalisadores do legado
histórico.
A historiografia afasta-se do visível, dominado pelo museu, mas tem de lá estar.
Procura, sim, recuperar as linhas que estão invisíveis na nossa percepção. Por isso, este
trabalho é por demais útil ao museólogo. Uma comunicação efetiva com os seus públicos
exige, antes de mais, que os conheça e o conhecimento histórico diz-nos coisas sobre o
passado, desconhecidas mesmo para aqueles que o viveram1: as densas ramificações da
estrutura socioeconómica que os subjugou.
Neste percurso, organizamos esta dissertação em três partes. Na introdução
apresentam-se as questões, os objetivos e a problemática (nomeadamente, embora com
brevidade, a da relação entre investigação e museu), assim como as fontes utilizadas e a sua
crítica.
Na segunda parte, aprecia-se o significado da indústria da sapataria no concelho de S.
João da Madeira, bem como no quadro nacional e distrital, utilizando, fundamentalmente,
informação estatística que permite cobrir os anos de 1881-1920.
Imprime-se, na terceira parte, alguma dinâmica ao que foi a organização empresarial
da indústria de calçado através, sobretudo, da análise de sociedades constituídas,
essencialmente, entre as décadas de 20 e 50 do século XX.
Fique claro que se pretendeu, principalmente, a organização e análise de conteúdos e
não tanto a construção de uma monografia, que exigiria a inserção de leituras contextuais
acerca do processo industrializador e empresarial, bem como a articulação profunda com a
realidade socioeconómica vivida.
Ainda do ponto de vista da mediação, foi recolhida considerável informação sobre os
atores desta indústria, que contribuirá para futuras reconstituições biográficas dos produtores
sanjoanenses de calçado.
1 LOWENTHAL, David – The past is a foreign country. Cambridge: University Press, 1990, p. 214.
11
1.1. Justificação temática no âmbito dos objetivos do Museu da Indústria de
Chapelaria e a indústria do calçado em S. João da Madeira
Os museus de cariz industrial, tal como o Museu da Indústria de Chapelaria, em S.
João da Madeira, tiveram, sem dúvida, um papel relevante na apresentação de uma nova
imagem museológica, apartada do distanciado museu tradicional, de natureza contemplativa e
na criação de novas necessidades, como a proximidade e o diálogo com os seus públicos ou a
abordagem de temáticas mais alargadas, de índole social e comunitária.
De acordo com a coleção que acolhe e com os propósitos da sua existência, o Museu
da Indústria de Chapelaria tem forte pendor industrial, com natural aptidão para a história
industrial e tecnológica da região. É também um museu municipal, no que concerne à sua
gestão e às suas fronteiras socioeconómicas e geográficas, conferindo assim grande relevância
às questões comunitárias e à identidade unificadora dos atores sanjoanenses. Procura ser o
centro, por excelência, da memória coletiva local.
Desenvolvendo a temática do calçado, o museu alarga o seu elo com o passado da
localidade, reforçando assim, também, o vínculo com o presente da sua comunidade, onde a
indústria do calçado tem ampla presença. Realçando uma parte da história local, uma história
pouco divulgada, em abandono quase total, o museu confere, deste modo, reconhecimento
àquela que foi, durante muito tempo, a segunda indústria de S. João da Madeira e, desde há
algumas décadas já, a mais importante da cidade e uma das primeiras do país, hoje em amplo
desenvolvimento e internacionalização.
Esta é uma memória ditosa, emotiva, não ferida2, a da indústria do calçado. Com a
pesquisa histórica sobre esta atividade e a constituição do acervo para um futuro núcleo
museológico, o museu propõe-se encontrar o fio condutor do presente de sucesso desta
indústria.
Consegue assim a consagração cultural de uma legitimidade socioeconómica há muito
conquistada. Este é também o reconhecimento de uma grande parcela da sua comunidade. A
comunidade, e o museu que se coloca como representante dessa coletividade, têm em dívida
este legado. Para esta comunidade, como olhar o futuro sem esta memória?
2 A «mémoire heureuse», que se contrapõe à «mémoire blessée», de que fala Michäel de Saint Cheron em De la
mémoire à la responsabilité. Paris: Dervy, 2000, p. 124. Ou seja, a emoção (positiva) como elemento
fundamental na retenção do passado.
12
A articulação entre mudança e continuidade, da coleção museológica e de um conceito
mais alargado desta, é um aspeto fundamental do trabalho deste museu e de qualquer museu
atual3. Pela sua instalação num edifício histórico da chapelaria, espaço da antiga Empresa
Industrial de Chapelaria, Limitada (a primeira fábrica de chapéus totalmente mecanizada da
localidade), a conexão, no espaço museológico, entre a história do calçado e a daquela
indústria torna-se, não só interessante, mas a continuação do trabalho do museu: pela sua
vocação industrial e pela produção, nestas mesmas instalações, da marca de calçado Sanjo,
marca emblemática da localidade e símbolo de uma época, elemento inegável da relação entre
estas duas indústrias. O museu e o edifício que o alberga tornam-se o vínculo sólido e
perdurável entre os dois mundos da chapelaria e do calçado. Estes nunca se acharam de costas
voltadas, não obstante as dissemelhanças: o calçado não se encontrou entre as chamadas
indústrias motrizes da industrialização moderna, que se caraterizaram pela «utilização de
tecnologias altamente progressivas, densas relações de interdependência na estrutura
industrial» e que exigiam, comummente, elevadas dimensões fabris4. Nesse passado insere-se
a chapelaria, em S. João da Madeira, cujo processo tradicional de produção foi mais
precocemente alterado pela mecanização. A indústria do calçado, onde se incluem as
indústrias da sapataria e da tamancaria, parece ter permanecido praticamente incólume, até
bastante tarde, ao abalo da industrialização. Esta é representativa, na localidade, do caráter
artesanal e familiar da atividade produtiva, dos valores pré-industriais, que não terão sofrido
verdadeira revolução, pelo menos até meados de 1950. Este caráter tradicional adequa-se, em
perfeição, à vertente etnoantropológica da nova museologia.
Estas duas indústrias, chapelaria e calçado, representaram, na história da localidade, a
conjugação de dois ritmos sociais e duas mentalidades laborais: por um lado, o ritmo
industrial dos chapeleiros, um operariado altamente qualificado5; por outro, o compasso lento
do fabrico tradicional dos artesãos sapateiros, mestres na sua arte.
É na década de 1920 que se começa a constatar uma lenta articulação entre estas duas
indústrias. Em fábricas dedicadas originalmente à chapelaria começa a surgir, conjuntamente
com o fabrico de chapéus, a produção de algum calçado. Este laborar lado a lado, com maior
3 AMBROSE, Timothy; PAINE, Crispin – Museum basics. London: ICOM, 1993, p. 124.
4 MURTEIRA, Mário – O desenvolvimento industrial português e a evolução do sistema económico. Em Análise
Social, vol. II, n.º 7-8. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 1964, p. 485. 5 MÓNICA, Maria Filomena - Artesãos e operários: indústria, capitalismo e classe operária em Portugal
(1870-1934). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade, 1986, p. 23.
13
ou menor frequência, ter-se-á mantido, pelo menos, até meados de 1950, quando a
diversificação presente em alguma da indústria do calçado começa a decair, por oposição ao
desenvolvimento de uma maior especialização numa única produção. Mas constata-se ainda,
na viragem dos anos 50, o fabrico, no mesmo espaço, dos artigos das duas indústrias, como
veremos.
Mas o futuro reservado a ambas as indústrias seria completamente distinto. A
chapelaria estava já em desaparecimento e o calçado estava prestes a entrar numa fase de
desenvolvimento e industrialização sem precedente.
A noção de aprendizagem permanente pressiona os museus a desempenhar um papel
cada vez mais interventivo na produção de conteúdos no âmbito das suas coleções. Este
esforço é também revelador do papel que o museu pretende assumir no seio da comunidade:
abrigo das memórias coletivas e espaço de articulação das diversas realidades locais. O museu
reivindica para si a competência na transmissão cultural das heranças que não se pretendem
deixar perder. Relembrando a indústria do calçado, o Museu da Indústria de Chapelaria tem a
oportunidade de reforçar a memória industrial de S. João da Madeira.
Mas não se trata somente da história da indústria. Este potencial histórico é também
simbólico. Trata-se da partilha de um valor coletivo, que tanto ocupa o imaginário identitário
da cidade: o trabalho - o «elemento mais permanente e mais profundo da actividade humana»6.
S. João da Madeira assume-se como cidade de labor, que valoriza o esforço e a ética de
trabalho. A sobrevivência desta indústria desponta assim como símbolo de sucesso dos
valores da comunidade sanjoanense.
A exploração da história desta atividade vai também ao encontro de valores
revivalistas, que já se deslumbram nas novas sociedades: o apreço pela produção artesanal, o
desejo de autonomia sobre os processos de produção, o brio pela posse de uma arte – novos
valores que retornam aos de uma época passada.
O presente não deixa o passado em paz. Por isso, é pedido à nova museologia que vá
ao encontro das realidades incipientes do seu espaço comunitário, não podendo deixar de
refletir os seus novos contextos. «Nenhum museu é uma ilha»7, todos os museus devem assim
6 No dizer de Albert Soboul, em Descrição e medida em história social. Em GODINHO, Vitorino Magalhães
(dir.) – A história social: problemas, fontes e métodos. Colóquio da Escola Normal Superior de Saint-Cloud.
Lisboa: Edições Cosmos, 1964, p. 38. 7 AMBROSE, Timothy; PAINE, Crispin, op. cit., p. 121.
14
trabalhar com múltiplas instituições. Percebe-se, deste modo, que começa a ser exigido ao
museu um papel mais ativo na exploração dos benefícios económicos prestados ou a prestar à
comunidade8, embora este papel continue «menos compreendido em muitos países em
comparação com o seu papel sociocultural». Mas esta intervenção pode, sem dúvida,
«regenerar ou desenvolver as economias locais»9.
Neste elo entre uma história quase morta, patrimonializada – a da indústria da
chapelaria - e a história assaz viva, que é a do calçado, há uma aprendizagem latente. Nesta
última, as ambições do passado concretizam-se hoje. Mas este elo não permite esquecer o
quão vulneráveis são as aspirações dos homens. O conhecimento do percurso desta indústria
pode constituir uma peça estratégica para o seu futuro, na medida em que lhe exige um
esforço de reflexão. E vemos as coisas mais nitidamente quando as consequências emergem.
O futuro escapa-nos, só o passado pode contribuir para o apaziguamento das
ansiedades humanas. Num inquérito realizado a descendentes dos peregrinos do Mayflower,
os primeiros colonos dos E.U.A., alguém confessa: «o património faz-me sentir seguro em
períodos de crise»10
.
O importante edifício histórico em que se insere o museu, localizado na passagem da
estrada nacional, não permite o esquecimento do passado industrial da cidade. Este apela ao
envolvimento de toda a comunidade, fator decisivo na salvaguarda do património local e
trabalha, através desta instituição, para que se atinja uma consciencialização coletiva do que
representa a herança cultural e do que se deixa como legado.
1.2. Objetivos e problemática
Embora a nova historiografia tenha absorvido grande influência de outras áreas do
conhecimento, tais como da arqueologia ou da antropologia (desta, nomeadamente, o
8 SEMEDO, Alice – Museus, educação e cidadania. Em CADILHA, Sérgio (dir.) – Actas da conferência Museus
e Sociedade – 2007. Caminha: Câmara Municipal, 2008, p. 31. 9 Idem, p. 10.
10 Inquérito não publicado da General Society of Mayflower Descendants and Spouses, realizado por Donna
Morganstern. Cf. LOWENTHAL, David – The heritage crusade and the spoils of history. Cambridge:
University Press, 2003, p. 34.
15
interesse e a análise das fontes orais), o estudo das fontes escritas continua a ser o método
histórico por excelência e o símbolo metodológico desta disciplina.
Na sua inclusão de elementos das restantes ciências sociais, sobretudo da sociologia, a
historiografia optou por uma história que se aproxima de uma análise durkheiminiana do
macro social, renunciando às propostas mais individualistas do interacionismo simbólico ou
da etnometodologia.
A historiografia mantém-se muito cautelosa no entrelaçar dos vestígios do passado. A
índole particularmente documental que está na base do trabalho historiográfico, e, deste modo,
do próprio conhecimento histórico, tem sido o seu maior trunfo, mas também o seu calcanhar
de Aquiles. A avareza do documento nunca permite ao historiador abranger todo o passado e
fazer-lhe justiça. Mas é este cuidado rigoroso que permite e tem permitido à investigação
histórica conservar o seu prestígio e manter-se como condição sine qua non de autenticidade
no que concerne ao património.
Essa constatação do incompleto e da infinidade do conhecimento histórico está
implícita na narrativa historiográfica. O historiador tem especial predileção pelo imperfeito,
pois é imperfeita a sua narração. Já a consciência das omissões e exclusões sobre as quais se
constroem as narrativas nunca foi tão simples de traduzir pelo verbo.
As fontes tendem a esquecer o subalterno, o despojado. Os silenciados da história são,
sem dúvida, os dominados, os não-detentores. Estes são, com frequência, os homens que
obedecem a outros homens e as mulheres, sem dúvida. Estas são as grandes órfãs da história.
A historiografia tem tido colossal dificuldade em identificar as mulheres por detrás da
propriedade e da autoridade masculinas. Estas ocupam-se, com frequência, das atividades
complementares ou de suporte ao trabalho do homem. Mas é o objeto do trabalho que persiste.
E este tem uma feição masculina. Mas só a obra é perdurável. Como sabemos e lamentamos,
o homem é perecível e a memória efémera. Neste contexto, a mulher torna-se mais mortal do
que o homem.
No longo tempo em que se andou a escrever história, a «ideia de passado» foi-se
construindo como uma «coisa dada, pronta e acabada»11
. Neste horizonte, não estavam
incluídas as questões para quê e para quem evocar o passado, que passado eternizar e o que
fazer com essa herança. A história, depois do conhecimento, da propaganda, do insurgimento
11
CHAGAS, Mário – A imaginação museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e
Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: MinC/Ibram, 2009, p. 108.
16
e do entretenimento, surge como «meio colectivo para aclarar problemas de identidades, de
causas, de razões e de responsabilidades»12
. A sua função social13
expande-se. Inclui agora
um cunho intervencionista. Já não se trata de «quanto melhor o homem conhecer o seu
passado tanto menos será seu escravo»14
, mas do quanto melhor o homem conhecer-se a si
mesmo e à sua sociedade tanto menos será subjugado pela herança recebida e melhor passado
poderá legar, por sua vez. Este intervencionismo social dá ao conhecimento uma ação
socialmente interventiva.
A questão que se coloca então, num contexto de alargamento das fontes de
conhecimento, é a da justiça das escolhas em termos de pesquisa. A quem pertence o passado?
Quem incluir e quem excluir? Como articular memória individual e memória coletiva? Esta
discussão ocupa ainda os cientistas sociais, que procuram hoje, mais do que nunca, expô-la e
partilhá-la com os seus públicos.
Com a preocupação de se tornar relevante para a comunidade em que se revê, o museu
rapidamente acrescentou, ao seu trabalho de conservação e divulgação patrimonial, algumas
das principais questões de política social, como o combate à exclusão e a construção da
coesão comunitária15
. A preocupação da história social em dar representatividade ao homem
comum não encontrou parceiro mais dedicado do que o museu local e os novos museus de
cariz industrial. O novo museu procura rejeitar a violência simbólica, no asserto bourdeniano,
da cultura elitista que carateriza o museu tradicional contemplativo. O museu acompanha
assim a historiografia neste esforço que acredita ser de democratização.
A museologia e a historiografia, que foram durante longo tempo moldadas pelos
valores conservadores, mergulharam, nas últimas décadas, nas preocupações liberais. O poder
que lhes é atribuído não lhes permite escapar ao substrato político, inerente assim à sua
essência. Este uso mais democrático do passado não tem qualquer precedente na história de
ambas16
. Com crises de consciência, a historiografia e o museu esforçam-se hoje por iluminar
os invisíveis do passado. Reconhecendo certas parcelas da estrutura social, procuram
12
LE GOFF, Jacques – Reflexões sobre a história. Lisboa: Edições 70, 1983, p. 20. 13
HOBSBAWM, Eric J. – The social function of the past: some questions. Em Past and Present, n.º 55 (1).
Oxford: University Press, 1972, pp. 3-17. 14
HALKIN, Léon-E. – Initiation à la critique historique. 3.ª ed. Paris: Librairie Armand Colin, 1963, p. 19. 15
CROOKE, Elizabeth – Museums and community. Em MACDONALD, Sharon (org.), op. cit., p. 170. 16
POULOT, Dominique – Patrimoine et musées : l’institution de la culture. Paris: Hachette Supérior, 2001, p.
203.
17
combater o esquecimento, mas também o preconceito sobre elas. Busca-se assim, através de
novas práticas, acelerar o germe dinâmico das representações sociais.
É revelador, sem dúvida, da movimentação dos gostos, dos valores, das sensibilidades
– fenómeno que a história não se cansa agora de identificar nas sociedades anteriores. É
indicador sobretudo das transformações nas relações humanas e do quanto o presente
comanda o passado.
Muitos dos feitos e muito do que foi dito pelo indivíduo não deixou qualquer traço,
inclusive na memória17
. As elites tiveram sempre mais vontade e mais motivação para
recuperar o passado. Promoviam uma história de alguns, que era a sua. As classes
trabalhadoras tinham pouco a querer recordar. Desgastando-se no esforço diário, entre
humores de desalento, em períodos de crise, e de expetativa, em épocas de crescimento,
alimentaria algum destes homens e mulheres a fantasia da eternidade?
A existência de mapas culturais partilhados pressupõe juízos de valor sobre as práticas
e os produtos culturais, sobre a sua monta, estatuto e legitimidade18
. A tábua comum de
valores permite dar coesão à sociedade. Esta forma assim uma comunidade dita moral, no
entendimento durkheiminiano, com esta partilha. Os elementos que a compõem entram em
relações simbólicas, cuja ritualização sistemática se transforma em distinções significantes. A
ritualização de novos valores tem ocupado a museologia e a historiografia numa causa
comum: a sobrevivência duramente ganha. Esta encontra-se agora entre os novos valores
sociais, conquistando, enfim, a dignidade que lhe foi sempre recusada.
Esta transição para uma história de todos passa por uma apreensão mais universal do
passado, menos egocêntrica, afastada do tropeçar individual. A historiografia empenha-se
agora em encontrar na diversidade de experiências a uniformidade de um passado comum. A
história torna-se assim mais espessa, mais histórica.
O trabalho do novo museu revela também este resgate das invisibilidades.
Recuperando os ofícios, as histórias de vida e as práticas populares, nomeadamente através de
histórias orais de cariz etnoantropológico, a museologia social aventura-se a recuperar o que
ficou perdido na e para a história. Juntamente com a historiografia, esta revela hoje tendência
para uma história sociológica que passa de um extremo político – dos ilustres – para outro, as
classes trabalhadoras. Quando se trata do património industrial este extremo é inegável.
17
LEFEBVRE, Georges – Réflexions sur l’histoire. Paris: François Maspero, 1978, p. 41. 18
MASON, Rhiannon – Cultural theory and museum studies. Em MACDONALD, Sharon (org.), op. cit., p. 18.
18
Preocupa-se agora em redimir a memória dos homens e das mulheres cuja existência foi tão
frequentemente ignorada. Começa a incluir na sua narrativa o anonimato, os homens que
obedecem a outros homens e lentamente, também, o periférico, as mulheres de todos eles.
Chamam-lhe o «triunfo relativo de uma história „vista de baixo‟»19
. Procura o efeito
de contramemória. A nova museologia, tal como a historiografia desde há algumas décadas,
rendeu-se praticamente ao que podemos designar como uma certa discriminação positiva. As
narrativas distinguem ambos os domínios, mas o discurso aproxima-os.
A memória coletiva que hoje se constrói é constituída quase exclusivamente por certo
tipo de atores sociais. Envolvidas no politicamente correto, conscientes do seu poder, museu e
academia traçam uma memória comum, supostamente social e total, tão parcial e incompleta
como em períodos anteriores. São novas as paixões e novos os preconceitos. Esta abordagem
que inclui (determinado tipo de atores) também exclui (outros protagonistas). É como se a
história se tratasse de uma grande sala de espetáculos. As marcações permutam-se, mas os
lugares são limitados. Renunciar a uma manipulação da memória coletiva implicará renunciar
à história?
A história social é uma história dos grupos, das grandes massas e dos seus feitos
coletivos20
. Entre as novas invisibilidades contam-se assim, sobretudo, as elites, o esforço
individual, o acontecimento. A ditadura do proletariado, falhada no plano político-económico,
transfere-se para o campo cultural. Desliza-se de um contexto de minorias para uma
abordagem total das maiorias… Talvez a sua articulação não seja espontânea, talvez procure
cada uma destas visões do mundo reinar sozinha. Nesta viragem abrupta, a historiografia e a
museologia encontram-se ainda absorvidas nas suas reflexões. O novo trilho para uma história
que se deseja mais justa tornou-se um atalho pleno de riscos. Na busca de uma moralização
que rompe com o campo político e económico, o cultural foi desarticulado das esferas que o
dominam (ultrapassando a previsibilidade de Marx, Weber ou Bourdieu). Porém, estas são
indissociáveis. A herança artificializa-se. Ignorando as lutas simbólicas a decorrer nos
diferentes campos «e nas quais está em jogo a própria representação do mundo social»,
impedindo assim o entendimento das hierarquizações dentro de cada campo e entre campos21
,
oculta-se ainda a concreta desigualdade e hierarquia. Longe da vista, longe do coração. O real
19
POULOT, Dominique, op. cit., p. 204. 20
Ernest Labrousse em L‟histoire sociale. Cf. CERTEAU, Michel de – L’écriture de l’histoire. Paris: Gallimard,
1975, p. 46. 21
BOURDIEU, Pierre – O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989, p. 133.
19
é o que é conhecido22
. Mantendo-se na obscuridade estas permanecem esquecidas e não
podemos colaborar com ingenuidade a esse respeito. «A memória é um lugar do poder»23
.
Mantém-se o perigo das penumbras na história e no museu. Na omissão das elites económicas
e sociais, os homens creem que lhes foi feita justiça24
.
Bourdieu defende que o arbitrário cultural surge das relações de forças e não da
relação, digamos, funcional, relacionada com a totalidade da sociedade25
. Mas esta força das
massas é ela real? A diferenciação social não assumidamente apresentada no espaço do museu
não colabora, decididamente, para o entendimento da desordem entre os homens.
É importante uma moderação destas paixões. A história do calçado em S. João da
Madeira torna-se interessante nesta perspetiva. Na procura do homem comum, fugindo a uma
história de alguns, encontramos homens que integraram rapidamente, embora em pequeno
número, a elite da cidade. O industrial do calçado sanjoanense é esse homem comum, mas
ocupou dois mundos. O que nos relembra a complexidade de práticas, de papéis e
estratificações socioeconómicos do período contemporâneo. Já nada está preestabelecido.
«Há sempre uma relação entre a história que se pratica e o tipo de documentação que o
historiador tem à sua disposição»26
. Há sempre, também, uma relação entre um tipo de
historiografia e museologia que se estabelece e as representações sociais. Se as fontes são
inúmeras para o fazer de uma história com forma e temperamento social, adivinhava-se uma
multiplicação de olhares sobre a história. Mas essa possibilidade não parece ter tido ainda
lugar. Foi adiada.
O historiador nas tarefas que se propõe cumprir não pode avançar desprevenido, sem
consciência das implicações sociais. Sem explicar a dicotomia presença versus ausência, no
processo de construção da narrativa histórica, continua o ciclo das narrativas que se tornam
discursos e dos discursos que se tornam narrativas.
Cada geração decide o que conservar do legado que lhe foi deixado pelos seus
antecessores. Entre a memória e o esquecimento, moldamos o passado que nos legaram,
decidimos sobre os resíduos da história. Todos os grupos sociais atualizam e protagonizam
22
CERTEAU, Michel de, op. cit., p. 46. 23
LE GOFF, Jacques – História e memória. Vol. I. Lisboa: Edições 70, 2000, p. 32. 24
LAURIN-FRENETTE, Nicole – Las teorias funcionalistas de las classes sociales – sociologia e ideologia
burguesa. Madrid: Siglo XXI de Espanã, 1976, pp. 12-17. 25
BOURDIEU, Pierre, op. cit., p. 25. 26
LE GOFF, Jacques, op. cit., 1983, p. 64.
20
uma história», mesmo que não lhes possibilite «assumirem-se como autores e actores do seu
destino». Estes não se mantêm inertes na passividade27
. Deste modo, debatemo-nos sobre
quem ocupará a história que está para vir, do mesmo modo que nos interrogamos sobre a
história que poderia ser ou poderia ter sido…
1.3. Fontes e metodologia
No que concerne à primeira etapa deste trabalho, a recolha de informação sobre a
indústria do calçado para a construção de conteúdos, tornou-se rapidamente evidente a
manifesta insuficiência de informação organizada sobre a temática, bem como a dispersão
notável dos elementos que pudessem auxiliar no entendimento desta. Sendo assim, a própria
determinação do que consistia a indústria do calçado alargou-se, abrindo espaço para a
pesquisa da indústria da tamancaria, além da sapataria, bem como da indústria dos curtumes,
como atividades paralelas ou até mesmo indissociáveis destas.
Também a delimitação cronológica, embora sempre flexível como sabemos,
dificultou-se seriamente, pelo número muito reduzido de trabalhos sobre esta indústria e a
inexistência absoluta de pesquisa científica sobre esta a nível local, não permitindo assim a
identificação das etapas cruciais do seu desenvolvimento.
Deste modo, para a construção de um fio condutor que permita um entendimento desta
atividade em S. João da Madeira, compreendendo, à partida, as sérias limitações que se
apresentam a este desígnio, tendo em conta a documentação sobrevivente e a dispersão
cronológica desta, bem como a sua descentralização espacial, no que diz respeito às
instituições que a albergam, tornou-se evidente a necessidade de uma ampla investigação, da
qual este trabalho constituiria somente um esforçado começo.
A contribuição de conteúdos históricos para a exposição programada foi escassa, não
só pelo pouco tempo para a pesquisa de dados sobre a indústria do calçado na localidade, de
cerca de quatro meses, mas pela manifesta dificuldade na delimitação temática e cronológica
27
TEIXEIRA LOPES, João – A cidade e a cultura. Porto: Edições Afrontamento, 2000, pp. 25-27.
21
decorrente da escassez, diversidade e dispersão documental. A pouca informação recolhida
em monografias locais não permitia estabelecer uma cronologia, nem aproximada, para o
surgimento ou desenvolvimento da indústria em S. João da Madeira ou na região. Referimo-
nos a um conjunto de trabalhos, que assomam como as primeiras sínteses de caráter local, ora
de índole académica, produzidas, nalguns casos, por autores locais, alguns com relações
profissionais próximas da atividade: a Monografia da vila de S. João da Madeira, publicada
em 1944, dos autores Mário Resende Martins, José Fernando de Sousa Teixeira e Manuel
Dias da Silva; a tese de licenciatura em Ciências Geográficas S. João da Madeira: Estudo
geográfico deste aglomerado humano, de Marina de Carvalho Graça, no ano de 1960; as
Memórias de tempos idos (subsídio para a história de S. João da Madeira e da sua região, de
1992, tendo como autor Levi Moreira da Costa; Onde nasceu a indústria do calçado:
subsídios para o estudo da arqueologia industrial do calçado no triângulo de Santa Maria da
Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis, publicado em 1995, de António Mesquita e
a obra S. João da Madeira: cidade do trabalho, de 1996, do autor M. Antonino Fernandes.
Deste modo, o trabalho de pesquisa historiográfica prolongou-se muito além desse período
inicial, estendendo-se por cerca de 20 meses, dadas as dificuldades que revelaremos em
seguida.
Nas publicações de cariz local encontramos, sobretudo, a suspeita do surgimento de
fábricas sanjoanenses de calçado ainda no século XIX, dados pouco seguros sobre o seu
desenvolvimento no pós-Primeira Guerra Mundial e indicadores de uma certa maturidade da
indústria já na década de 1940.
É ainda apontada, numa das leituras locais, uma transição abrupta da tamancaria para a
sapataria. É relacionado também, com frequência, o negócio dos cabedais ao calçado, sem se
perceber claramente a dimensão ou o tipo de relação existente entre estas atividades. Sendo
assim, a tamancaria e a indústria dos curtumes surgiram definitivamente como dois polos de
interesse na identificação da(s) primeira(s) fases de desenvolvimento da indústria da sapataria,
ramo que se tornou alvo de toda a pesquisa no momento em que estas leituras apontaram para
o estabelecimento, mais ou menos bem-sucedido, deste setor na década de 1940.
Perante a possibilidade de transição de uma atividade para outra, no caso específico da
tamancaria para a sapataria, torna-se fundamental conhecer a sua dimensão, bem como os
seus principais intervenientes. Esta eventual transição, a ter acontecido, terá sido dependente
22
dos níveis de consumo nacionais e internacionais, via exportação e para isso seriam precisas
infraestruturas, benefícios aduaneiros, etc., desconhecendo-se qualquer estudo que articule
estas questões. As dificuldades acumulavam-se. Deste modo, era imperativo definir o quanto
antes o período cronológico e a temática específica a pesquisar.
À partida, adivinha-se um desenvolvimento tardio da sapataria, pelo limitado consumo
deste produto, pelo menos até às décadas de 1930 e 1940, se não até muito mais tarde. Porém,
a possibilidade de existência fabril da indústria no século XIX, bem como a de um possível
incremento no período que se segue à Primeira Guerra Mundial, como referido nas
monografias locais, tem de ser averiguada. É fundamental indagar a sua veracidade e, em caso
positivo, a sua dimensão. A confirmação das suspeitas de trabalhos locais, por oposição à
hipótese avançada de um desenvolvimento mais tardio, implicaria uma organização da
indústria deveras precoce para o panorama industrial nacional, o que a verificar-se seria
elemento, sem dúvida, de grande entusiasmo local.
Assim, com tão pouca e insegura informação organizada, vimo-nos obrigados a
empreender inicialmente uma recolha exaustiva de dados. Sem cronologia estabelecida, esta
busca iniciou-se pela documentação governamental, em busca de uma perspetiva mais geral
sobre a indústria do calçado a nível nacional e, principalmente, a nível concelhio e distrital.
Deste modo, esta pesquisa iniciou-se com a consulta dos inquéritos industriais
existentes em finais do século XIX. Falamos da documentação relativa ao inquérito industrial
realizado em 1881 (Inquérito Industrial de 1881, Resumo do Inquérito Industrial de 1881 e
Documentos sobre o Inquérito Industrial de 1881) e sobretudo do Inquérito Industrial de
1890, sendo este o mais completo.
No que diz respeito ao Inquérito Industrial de 1881, a fragilidade dos dados
apresentados é constatável. O tempo de preparação do documento foi na ordem dos três meses,
sendo realizado, portanto, sob grande pressão, tendo em vista a atualização dos tratados
comerciais com a França28
. Este inquérito obedeceu a duas metodologias: uma de
levantamento direto (junto dos produtores) e outra «de gabinete». A primeira atividade tratou-
se da recolha dos depoimentos dos dirigentes dos estabelecimentos industriais, «obtidos, quer
por meio de visitas aos referidos estabelecimentos, quer pela comparência dos mencionados
28
REPARTIÇÃO DE ESTATISTICA. COMMISSÃO CENTRAL DIRECTORA DO INQUERITO
INDUSTRIAL – Inquerito Industrial de 1881. Inquerito indirecto. Terceira parte. Lisboa: Imprensa Nacional,
1882, p. 5.
23
chefes no ministerio das obras publicas, commercio e industria [em Lisboa], nos dias e horas,
que para esse effeito for[am] designados». Este período referido foi depois definido em
apenas um mês, às quartas, quintas e sextas-feiras, entre as dez e as 15 horas29
. As inspeções
diretas, por seu lado, tinham um período de execução de apenas um mês e meio e exigiam a
presença de cinco membros da «comissão central directora» organizada30
. Perante tais
condicionantes, não surpreende que muitas das indústrias, sobretudo as ditas indústrias ao
domicílio, não tenham sido inquiridas na sua quase totalidade31
. Sobretudo, não se desvenda
imediatamente o que se entendia por indústria.
Por sua vez, o inquérito «de gabinete» resultou num questionário enviado aos
industriais32
. As respostas recebidas parece terem sido, frequentemente, ambíguas e confusas,
apresentando valores inexatos, quer pela ausência de hábito de registo sistemático nas
pequenas indústrias, quer pela alteração deliberada dos dados, sobretudo no que concerne aos
capitais. «Industrias houve, que elevaram ou baixaram o quantum do seu capital industrial,
conforme lhes pareceu mais adequado aos fins a que cada qual se propunha, augmentando ou
diminuindo a quantidade e valores das materias primas em desequilibrio evidente com a
quantidade e valor dos produtos fabricados em um anno»33
. Ainda «às dificuldades
provenientes da falta de uniformidade, acresce[u] ainda a que resulta de se acharem
duplicados os numeros e as informações relativas a alguns estabelecimentos fabrís, cujos
chefes, tendo sidos inquiridos nas proprias fabricas, responderam tambem por escripto aos
quesitos dos boletins»34
.
É dito ainda pelos inquiridores que as diferentes comissões regionais afastaram-se,
com frequência, do inquérito original e da metodologia de investigação previamente definida.
Terão tido grande dificuldade no acesso a profissionais qualificados para este tipo de
atividade35
, resultando assim em apenas 596 inquéritos respondidos considerados válidos,
representando apenas 17 dos 21 distritos do país, não incluindo ainda variados concelhos
29
Documentos sobre o Inquérito Industrial de 1881, Lisboa: Imprensa Nacional, 1881, pp. 21, 27, 28. 30
Idem, pp. 28, 29, 31. 31
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DE
ESTATISTICA – Resumo do Inquerito Industrial de 1881. Lisboa: Imprensa Nacional, 1883, p. XXVIII. 32
Documentos sobre o Inquérito Industrial de 1881, 1881, p. 21. 33
REPARTIÇÃO DE ESTATISTICA. COMMISSÃO CENTRAL DIRECTORA DO INQUERITO
INDUSTRIAL – Inquerito Industrial de 1881. Inquerito indirecto. Terceira parte, 1882, pp. 6, 12-13. 34
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DE
ESTATISTICA – Resumo do Inquerito Industrial de 1881, 1883, p. III. 35
REPARTIÇÃO DE ESTATISTICA. COMMISSÃO CENTRAL DIRECTORA DO INQUERITO
INDUSTRIAL – Inquerito Industrial de 1881. Inquerito indirecto. Terceira parte, 1882, p. 5.
24
dentro de cada distrito. Dos 16 concelhos de Aveiro, nomeadamente, apenas um ou dois
satisfez o questionário36
.
Dá-se ainda a generalização de certos valores em médias, nomeadamente no que toca
aos salários dos operários, «não significa[ndo estes] com exactidão, e às vezes nem
approximadamente, a verdadeira feria do homem de trabalho, (…) sofismado pela addição de
ordenados não só elevados, mas sempre fixos, dos mestres e dos contramestres das fábricas»37
.
Deste modo, a síntese dos resultados presente no resumo do inquérito terá sido
complexa, mas terá, segundo os próprios inquiridores, alguma exatidão sob o ponto de vista
estatístico, pese embora as muitas lacunas. Para estes, as conclusões obtidas representavam
«apenas uma approximação da verdade, que não bastará talvez para satisfazer os apaixonados
theoricos da sciencia»38
, tendo sido considerados válidos apenas cerca de dez por cento dos
questionários realizados39
.
Sendo assim, nas suas conclusões, não tratam obviamente a população total, mas
aceitam, questionavelmente, os dados obtidos, sem uma metodologia sistemática, como
amostra válida para análise estatística. Esta constatação tornava assim inaceitável, à partida, a
utilização dos dados apresentados sem extremo cuidado. Porém, a indústria da sapataria, a da
tamancaria ou a dos curtumes parecem inserir-se nas indústrias caseiras à época, das quais
esta inquirição não apresenta, de qualquer modo, grande informação. A consulta destes
documentos, relativos ao inquérito industrial de 1881, permitiu, contudo, prever o caráter
tradicional das referidas indústrias.
O Inquérito Industrial de 1890, por sua vez, com os seus extensos cinco volumes,
forneceu mais informação do que o inquérito anterior. A partir dos dados apresentados neste
documento foi feita uma recolha detalhada, procurando perceber a dimensão da indústria nos
diferentes distritos do país, no sentido de relativizar os valores referentes ao distrito de Aveiro,
pesando embora a possível fragilidade de todos os dados apresentados. Este trabalho
permitiria, contudo, uma primeira inferência sobre o panorama da indústria no distrito de
Aveiro, inserida no contexto nacional.
36
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DE
ESTATISTICA – Resumo do Inquerito Industrial de 1881, 1883, p. III. 37
REPARTIÇÃO DE ESTATISTICA. COMMISSÃO CENTRAL DIRECTORA DO INQUERITO
INDUSTRIAL – Inquerito Industrial de 1881. Inquerito indirecto. Terceira parte, 1882, pp. 7, 11-12. 38
Documentos sobre o Inquérito Industrial de 1881, 1881, p. 15 39
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DE
ESTATISTICA – Resumo do Inquerito Industrial de 1881, 1883, pp. XXVIII, XXX.
25
Ao contrário do sucedido na inquirição de 1881, os inquiridores de 1890 debateram
apenas resumidamente a metodologia, as condições da recolha de dados e as potenciais
omissões e desinformação presentes. Sabemos, somente, que alguns dos concelhos não
relataram hierarquicamente as suas dificuldades na empresa, mas apenas a informação obtida,
não permitindo àqueles, nem a futuros investigadores, inquirir sobre a validade desta.
Sabemos, nomeadamente, que não foram recebidos, sobre o distrito de Aveiro, os relatórios
dos concelhos de Aveiro e de Oliveira de Azeméis40
, inserindo-se neste último, à época, a
então freguesia de S. João da Madeira. De qualquer modo, este menor zelo parece ter afetado
somente uma minoria e, desta forma, os inquiridores parecem seguros quanto à validade,
estatística, certamente e não descritiva, dos valores apresentados. Este empreendimento terá
envolvido uma organização mais completa e sólida, resultado também do período temporal
mais extenso para a realização da inquirição.
Depressa se torna evidente a possibilidade da existência de inúmeras omissões e
porventura imperfeições, sobretudo em relação à designada pequena indústria, aquela que
envolvia um pequeno número de trabalhadores, muitas vezes um só, em instalações reduzidas,
tratando-se com frequência do próprio domicílio do produtor. O governo central pretendia,
sobretudo com esta última inquirição industrial, compreender a efetiva industrialização do
país. A ambição dos governantes a este respeito (certamente atentos aos processos de
mecanização e modernização dos modos e relações de produção em países como a Inglaterra
e a França), bem como a escassa colaboração dos produtores nacionais e o diminuto e
inexperiente trabalho dos inquiridores, conduziu a um conjunto de dados que refere ao de leve
a pequena indústria, suspeitando-se em todos eles a fragilidade tremenda da informação.
Esta consulta permitiu, porém, perceber que as indústrias da sapataria, da tamancaria e
dos curtumes inseriam-se, sem dúvida, na pequena indústria, de natureza tradicional e familiar,
com processos manuais de produção. No caso da sapataria e da tamancaria, estas foram,
inclusive, incluídas nas designadas indústrias caseiras, ou seja, grande parte da sua produção
era realizada ao domicílio. Nada que não fosse expectável, afinal grande parte da população,
carenciada, andava descalça e, deste modo, as possibilidades de um aumento significativo da
produção dos respetivos artigos era limitadíssima, percebendo-se mais tarde, inclusivamente,
por outras fontes, sobretudo periódicos mas também no Boletim do Trabalho Industrial, as
40
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA - Inquerito Industrial de 1890, vol. III. Lisboa: Imprensa Nacional, 1891, p. 69.
26
dificuldades sentidas na exportação dos mesmos, até para os mercados do Ultramar. A este
respeito, em 1890, os produtores de calçado queixavam-se da concorrência da produção
estrangeira no Ultramar: «em toda a parte os ingleses, os franceses no Brasil e em África, os
alemães em África e os austríacos no Brasil»41
. Os mercados das colónias terão durante muito
tempo preferido o calçado estrangeiro. Segundo outro periódico, terá sido a partir de meados
da década de 1920 que terá cessado quase por completo a importação de calçado inglês e
americano nas colónias (africanas)42
.
O que se pretendia mormente desta consulta era obter informação sobre a dimensão da
indústria em S. João da Madeira, sobretudo dos estabelecimentos em laboração. No entanto,
não só os elementos estavam agrupados em concelhos e não em localidades, como também a
informação não parecia absolutamente fiável, pela ausência de alguns relatórios, como
referido, sobre a execução da inquirição por parte das comissões regionais. Foi possível, no
entanto, conseguir alguma informação sobre os materiais utilizados nas indústrias observadas,
confirmando a natureza ainda pouco complexa dos seus modos de produção. Permitiu
também perceber a diferença feita a nível governamental, pelo menos, entre fábrica e a
designada pequena indústria, abrangendo não só o número de trabalhadores envolvidos, mas
também a existência ou a ausência de mecanização e até as relações de produção, no interior
dos estabelecimentos industriais. Compreende-se a degradação, já incontestável, do passado
corporativo do ofício, mas percebe-se também a distância em que estariam ainda as indústrias
pesquisadas de um modelo capitalista de produção: primeiramente, na relação entre mestres e
oficiais é já patente um conjunto de comportamentos que ousamos designar como pré-
capitalistas - «em Lisboa, os mestres evita[va]m quanto possível ter à vista os seus oficiais;
poupam luz»43
. O mesmo seria verdadeiro para os aprendizes. Contudo, sabemos que a união
dos trabalhadores na luta dos seus interesses laborais, resultado de uma série de
transformações nos modos e relações de produção, seria ainda inexistente, apontando os
inquiridores, nomeadamente, que «as greves na indústria do calçado não se [tinham dado]
ainda porque não exist[iam] fábricas com pessoal numeroso dentro delas»44
.
41
A Sapataria Portugueza, n.º 4, 12 de abril de 1890, p. 26. 42
A Indústria do Calçado, n.º ilegível, 30 de novembro de 1940, p. 11. 43
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA - Inquerito Industrial de 1890, vol. IV, 1891, p. 764. 44
Idem, p. 765.
27
Esta pesquisa suscitou uma enorme frustração pela quantidade (incalculável) de
omissões e suspeita de imperfeições em toda a informação recolhida. O extremo cuidado
exigido para lidar com estas fontes, pelo aparente desconhecimento da realidade industrial ou
pela potencial desorganização dos dados, refreou desde logo as expetativas acerca das
ambições iniciais, sobretudo na procura de dados precisos sobre a dimensão das indústrias
pesquisadas, a nível local. Obteve-se, porém, alguma caraterização não negligenciável das
mesmas e a suspeita de que o desenvolvimento desta indústria, na localidade sanjoanense ou
no concelho, teria sido bem mais tardia.
A procura de informação respeitante à dimensão da indústria da sapataria, da da
tamancaria e da dos curtumes, relativamente ao número de estabelecimentos, sobretudo, mas
também no que diz respeito ao volume e caraterísticas da população trabalhadora envolvida,
em S. João da Madeira ou no concelho, prolongou-se na consulta dos volumes do Anuário
Estatístico de Portugal e do Boletim do Trabalho Industrial.
A mesma indiferença quanto à pequena indústria, bem como a suspeita da existência
de omissões, vai revelar-se também nesta documentação. Identificam-se contradições entre
publicações e, novamente, não se alongam em grandes explicações acerca da metodologia
utilizada na recolha de informação, limitando seriamente as nossas certezas.
A informação aí disposta aparece maioritariamente agrupada por distrito e é utilizado,
com intensa frequência, o recurso a médias (nomeadamente no que diz respeito aos salários
dos trabalhadores), dificultando consideravelmente qualquer análise mais local. Apesar de
exaustiva, esta pesquisa revelou-se praticamente infrutífera.
Quanto aos diversos volumes do Boletim do Trabalho Industrial, foram consultadas
todas as publicações existentes, que se estendem de 1906 a 1939. A informação apresentada
também se faz sobretudo por distrito, principalmente nas publicações mais antigas,
recorrendo-se, também, às pouco esclarecedoras médias. Não obstante, foi aí possível obter
variada informação, servindo de suporte aos dados recolhidos posteriormente, em
documentação primária nomeadamente, permitindo um entendimento mais globalizante da
indústria. Conseguiu-se aí recolher informação específica sobre as indústrias estudadas, no
que concerne às dificuldades vividas, à legislação em vigor e ao seu cumprimento ou
indiferença por parte dos produtores, à fiscalização efetiva, aos modos de produção, entre
outros, mas toda ela escassa e, com frequência, dispersa em termos cronológicos. Todavia,
esta consulta vai permitir suspeitar da limitada dimensão das indústrias dos curtumes e da
28
tamancaria a nível local, concentrando-se então a pesquisa, sobretudo, na indústria da
sapataria. Vai permitir, também, presumir o desenvolvimento da indústria da sapataria a partir
das décadas de 1920 e 1930.
Tornou-se inevitável concluir que pouca informação era possível recolher de toda esta
documentação, tendo em conta a sua escassez, a sua dispersão territorial e cronológica, bem
como a pouca solidez dos dados apresentados.
No fazer historiográfico nenhum documento é desprezível. Todo este esforço
possibilitou, todavia, demonstrar a vulnerabilidade e ausência de dados à disposição do
investigador sobre esta temática, por parte da documentação governamental, bem como
averiguar a desorganização e desconhecimento das entidades centrais sobre o estado das
indústrias, no geral. Se estas eram desconhecidas, sobretudo as pequenas indústrias, não
podiam ser efetivamente reguladas. É uma primeira pista. Se as pequenas indústrias são alvo
de menor atenção e conhecimento, também menor a influência estatal aí seria sentida.
A documentação consultada revela-se de natureza nitidamente institucional, no quadro
de um esforço estatístico caraterístico dos finais do século XIX. A aproximação ao local terá
de seguir a via da documentação primária, pelos arquivos de S. João da Madeira, procurando,
ainda, a identificação dos estabelecimentos em laboração, o respetivo volume de
trabalhadores e o tipo de produção, num intervalo temporal ainda incerto, iniciando-se, porém,
seguramente, na proximidade da década de 1920.
Esta documentação revelou-se, sem surpresas, escassa e irregular. No Arquivo
Histórico dos Paços da Cultura encontra-se somente a Matriz Municipal para o Lançamento
do Imposto de Prestação de Trabalho no ano de 1927, o Recenseamento Militar aos 20, de
1927 e de 1929, com reduzidíssima informação e, muito posteriores, os recenseamentos
eleitorais de 1945 e de 1948.
Embora incluindo a referência às ocupações, a informação é diminuta,
impossibilitando um reconhecimento alargado da realidade socioprofissional do concelho. O
mesmo aconteceu com a consulta da documentação paroquial respeitante a S. João da
Madeira, presente no Arquivo Distrital de Aveiro, mas existente apenas para o período de
1881 a 1899, o que desencorajou a continuidade da exploração.
No designado Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de S. João da Madeira surge
um volume incompleto das licenças de estabelecimentos comerciais ou industriais, do grupo
29
C (onde rapidamente se percebe a presença da sapataria), terminando na letra D do alfabeto, o
Serviço de Aferições – relação das entidades ou firmas que declaram estar isentas do
pagamento de contribuição industrial, também bastante incompleto, com apenas oito entradas
(sete sobre fábricas e estabelecimentos de calçado e um armazém de couros, abrangendo um
período alargado – décadas de 1950 e 1960), o Imposto de Prestação de Trabalho, relativo ao
período entre 1948 e 1954 e entre 1958 e 1962 (presente somente a identificação dos
indivíduos a quem se impunha alterações a esta prestação, nomeadamente os emigrantes, que
já não estariam sujeitos ao seu pagamento), estes últimos documentos sem a indicação da
profissão do trabalhador e, portanto, sem a possibilidade de uma utilização, pelo menos,
imediata.
Toda a pesquisa efetuada a nível local verificou-se infecunda, à exceção dos
recenseamentos eleitorais de 1945 e de 1948, pese embora as suas limitações e prováveis
omissões (bem como repetições), que permitiram ter uma ideia do número de trabalhadores
neste período, bem como a identificação destes. Não constituindo, porém, o objetivo
específico deste trabalho, esta informação foi, contudo, recolhida para posterior manipulação
por parte do museu.
Seguiu-se a pesquisa de variados periódicos, principalmente locais, procurando assim
informação mais específica, que permitisse apreender a real importância da indústria no
panorama local.
Foi identificado o ano de 1953 como fundador do Grémio Nacional dos Industriais do
Calçado, em S. João da Madeira45
, surgindo no quadro da organização corporativa do Estado
Novo. Este fenómeno parece indicar a existência de alguma regulação e concentração da
indústria ou a sua busca, caraterísticas que, a partir da consulta de documentação
governamental, parecem ausentes da indústria num período temporal anterior. Tornou-se
assim imperativo perceber o período intercalar, ou seja, entre a Primeira Grande Guerra, como
sugerem algumas leituras locais, ou inícios da década de 1920, até aquela data. Algures neste
período, cremos, ter-se-á desenvolvido a indústria da sapataria.
Deste modo, consultaram-se as publicações periódicas presentes na Biblioteca
Municipal Dr. Renato Araújo, em S. João da Madeira, anteriores à data referida de 1953.
Falamos de A Defeza Local, publicada de 1915 a 1916, de A Grei Sanjoanense, consultada de
45
O Regional, n.º 854, 26 de julho de 1953, pp. 2, 15.
30
1950 a 1953, de O Sanjoanense, publicado apenas o primeiro volume, em 1951, e sobretudo
O Regional, publicado desde 1922, e de onde se obteve considerável informação.
Neste último periódico, percebe-se a dinâmica do desenvolvimento da indústria desde
a década de 1920, sempre em crescendo até inícios da década de 1950, aquando da limitação
cronológica instituída para este trabalho. Esta consulta possibilitou o entendimento das
necessidades da indústria da sapataria no contexto local, do papel desta na elevação da própria
localidade a concelho (parecendo ser já a segunda indústria local na década de 1920), do
surgimento de crises de produção, da perspetiva dos seus autores e dos atores da indústria, dos
diferentes interesses entre si, das oposições existentes entre as diversas camadas da
população… Enfim, toda a dinâmica vivida no intervalo temporal assinalado, embora sem as
certezas de um levantamento sistemático e representativo da indústria de calçado.
No mesmo sentido, foram ainda consultados outros periódicos relativos a esta temática
tais como A sapataria portugueza: jornal profissional interessando a industria do calçado,
publicado entre 1890 e 1894, o Boletim commercial e industrial, com oito publicações
referentes ao ano de 1909, O Sapateiro: órgão dos operários sapateiros e defensor das
classes trabalhadoras, com a sua única publicação em 1916, o Boletim do Industrial: boletim
mensal de informação e defeza dos industriais e comerciantes do país, publicado entre 1936 e
1938, o Boletim do comércio e indústria, com seis publicações no ano de 1948, o Boletim
Municipal n.º 46 - S. João da Madeira: 80 anos - 1926-2006 (publicação comemorativa) do
ano de 2006 e ainda o Curtumes e Calçado, com uma publicação única em 1941.
Todavia, apesar de toda a documentação consultada, era inexequível a análise
profunda de qualquer temática relativa à indústria da sapataria ou dos objetivos propostos - a
identificação dos estabelecimentos ou do tipo de indústria (domiciliar ou fabril, manual ou
mecanizada). Apesar da conquista de dados relevantes sobre esta indústria, estes mantinham-
se claramente insuficientes. Quanto a este último aspeto, todas as fontes consultadas
apontavam, porém, para a resistência de modos de produção ainda bastante tradicionais, em
relação às indústrias pesquisadas. Mas os dados relativos a S. João da Madeira,
particularmente, eram escassos.
Sem alternativas, uma maior e mais fidedigna recolha de informação exigiu a consulta
da documentação notarial relativa a S. João da Madeira, presente no Arquivo Distrital de
Aveiro, na perspetiva de uma aproximação às relações contratuais.
31
A recolha de informação partiu do ano de elevação deste concelho, em 1926, ano que
coincide com a constituição local de um serviço de notariado, até à data referida de 1953. Foi
inicialmente consultada a documentação notarial no fundo referente à localidade, designada
de Actos e Contratos, embora nada nos garantisse que os contratos referentes à constituição
de sociedades fossem aí todos realizados. Era também expectável a impossibilidade de
identificar todos os estabelecimentos industriais, visto que muitos não estabeleceriam
qualquer tipo de sociedade para a sua laboração, mas abria-se a possibilidade de identificar,
pelo menos, grande parte das parcerias realizadas entre produtores do calçado, neste período,
tornando-se assim esta recolha, bem como a sua análise, o objetivo central da pesquisa.
Tendo presente a suspeita lançada por monografias locais sobre um desenvolvimento
significativo da indústria da sapataria aquando da Primeira Guerra Mundial, ou seja, a partir
de 1914, empreendemos uma busca nos fundos notariais de Vila da Feira e Oliveira de
Azeméis entre esta data e 1926. Posteriormente foram localizadas as escrituras referentes à
indústria da sapataria e da tamancaria nestes mesmos fundos até 1953, perante a constatação,
sobretudo no que diz respeito a Oliveira de Azeméis, que os industriais sanjoanenses, apesar
da existência de um serviço de notariado na cidade sanjoanense, optaram muitas vezes por
constituir as suas sociedades em Oliveira de Azeméis, por motivos que por ora
desconhecemos.
A pesquisa iniciou-se pelo fundo notarial de Vila da Feira, tendo em vista a maior
proximidade geográfica, fator que se revelou enganador. Pertencendo S. João da Madeira ao
concelho de Oliveira de Azeméis, foi aí que os produtores de sapataria foram constituir as
suas sociedades, num número, porém, bastante reduzido até 1926.
A existir um elevado número de estabelecimentos industriais da sapataria em S. João
da Madeira, estes seriam estabelecimentos tradicionais. Como havia revelado a consulta do
Boletim do Trabalho Industrial, estas pequenas oficinas ou o trabalho domiciliar não se
registava de todo até inícios da década de 1920 e, deste modo, dificilmente conheceremos
alguma vez a sua exata dimensão.
Nenhuma desta informação notarial se encontra tratada no referido Arquivo Distrital
de Aveiro, tendo constituindo assim uma considerável diligência, essencial, contudo, para o
conhecimento das possibilidades e das limitações desta informação, perante a grande escassez
de fontes sobre esta temática.
32
A partir desta recolha de informação, determinou-se a constituição de uma base de
dados disponibilizada à instituição, que funcione como ponto de partida para futuras
investigações sobre esta indústria, bem como se procedeu a uma análise dos dados recolhidos,
complementada com informação obtida nas restantes fontes consultadas. Esta tem como
campos fundamentais, no que diz respeito a cada sociedade constituída, a década e data de
constituição, o tipo de sociedade, os dados referentes aos outorgantes do contrato, o tipo e o
ramo de atividade, o número de sócios fundadores, o volume e o tipo de capital social, bem
como a distribuição deste pelos sócios, a localização da sede e/ou estabelecimento fabril, as
funções dos sócios na sociedade, a divisão dos lucros e perdas da sociedade entre si, a
remuneração ou mensalidade recebida por estes (se existente), a informação relativa à
exclusividade profissional, os dados sobre as testemunhas, bem como a restante informação
considerada relevante e a descrição e localização do documento.
No que concerne às cópias obtidas da documentação referente às sociedades criadas,
ou restante informação considerada relevante, será organizada e entregue ao Museu da
Indústria de Chapelaria, não somente para certificação da sua validade científica, mas também
como instrumento para trabalhos vindoiros.
Foi também possível recolher informação referente a diferentes intervenientes desta
indústria, nomeadamente trabalhadores e empresários. Esta informação inseriu-se numa
grande variedade tipológica de escrituras, nomeadamente partilha de bens por testamento,
obrigações e confissões de dívida, pagamentos e quitações, empréstimos a juro, hipotecas,
compra de bens de raiz, procurações, créditos em armazéns de matérias-primas, entre outras.
Pela sua diversidade e densidade e pela limitação temporal deste trabalho não foi possível
tratá-la adequadamente, nem aprofundá-la de forma sistemática. Os dados recolhidos nesta
pesquisa específica, bem como em toda a investigação, serão todavia organizados e
fornecidos ao museu, como já referido, tendo em conta os futuros trabalhos que esta ou outras
instituições empreenderão sobre esta temática.
Tendo em vista uma maior recolha de informação, sobretudo sobre determinados
industriais da sapataria, nomeadamente no que diz respeito às primeiras atividades
profissionais, foi consultada a documentação paroquial respeitante a S. João da Madeira,
presente no mesmo local, mas existente apenas para o período de 1881 a 1899. No futuro,
uma recolha sistemática destes dados poderá contribuir para pesquisas mais alargadas e de
cariz biográfico e confirmação de primeiras inferências.
33
Cedo percebe-se a importância da triangulação entre Oliveira de Azeméis, S. João da
Madeira e Vila da Feira na construção historiográfica desta indústria, pela estreita relação
socioeconómica entre as localidades. Uma historiografia do calçado sanjoanense é, assim,
sem dúvida, um corte artificial a toda uma dinâmica mais alargada. Mas, sem qualquer
hesitação, este trabalho extenso não poderá ser realizado numa única etapa, tendo em conta,
sobretudo, as limitações documentais, que serão verdadeiras também para estas localidades,
pela natureza da indústria e pelas condicionantes sociais e históricas do período estudado. Um
entendimento mais aprofundado da história industrial do calçado nesta região surgirá somente
de trabalhos que contemplem as interligações entre estas povoações, nomeadamente no que
toca à circulação da mão de obra.
Perante flagrantes omissões, o Museu da Indústria da Chapelaria iniciou uma recolha
de testemunhos orais sobre a indústria da sapataria e da tamancaria, junto de antigos
trabalhadores e empresários, que conta com a nossa participação, mas cujos elementos não
integrarão esta pesquisa. Esse trabalho complementar prolongar-se-á até finais de 2012.
34
2. A INDÚSTRIA DA SAPATARIA DE S. JOÃO DA MADEIRA NO QUADRO
NACIONAL E DISTRITAL (1881- 1920)
2.1. Delimitação e caraterização espacial de S. João da Madeira
S. João da Madeira é o concelho nacional com menor área territorial, tendo somente
cerca de oito quilómetros quadrados. É também um dos poucos municípios com apenas uma
freguesia. Tornou-se município autónomo do vizinho concelho de Oliveira de Azeméis em
outubro de 1926, tendo sido elevado ao estatuto de cidade em junho de 1984.
Situando-se no extremo norte da Beira Litoral, pertence ao distrito de Aveiro.
A cidade sanjoanense é limitada a norte e oeste pelo município de Santa Maria da Feira e a
este e sul pelo concelho de Oliveira de Azeméis, mais especificamente pela freguesia de
Milheirós de Poiares a norte, pela da Arrifana a oeste, pela de Cucujães e a de Vilã-Chã de S.
Roque a sul e por Nogueira do Cravo e Macieira de Sarnes a este46
. As permanentes
interações com as localidades vizinhas granjeou-lhe uma elevada densidade populacional.
Remanescências de um período de menor urbanização encontram-se os seus 21
lugares: Casaldelo, Corgas, Carquejido, Espadanal, Fundo de Vila, Fundões, Fontainhas,
Laranjeiras, Mourisca, Orreiro, Parrinho, Pedaço, Ponte, Praça, Quintã, Ribeiros, Tapado,
Travessas, Vale, Vista Alegre e Volta47
.
2.2. A indústria sanjoanense da sapataria no quadro nacional e distrital
Podemos dividir o intervalo cronológico entre 1881 e 1920 em duas fases
fundamentais: primeiramente, até à Primeira Guerra Mundial e, em seguida, de 1914 a 1920.
A década de 1920 inaugurará uma época de desenvolvimento na indústria da sapataria em S.
João da Madeira, como analisaremos.
46
FERNANDES, M. Antonino – S. João da Madeira: cidade do trabalho. S. João da Madeira: Câmara
Municipal, 1996, pp. 19, 21, 105, 115. 47
MARTINS, Mário Resende; TEIXEIRA, José Fernando de Sousa; SILVA, Manuel Dias da – Monografia de S.
João da Madeira. Porto: Sociedade de Papelaria, Lda., 1944, p. 72.
35
Os dados relativos ao primeiro período revelaram-se muito escassos no que diz
respeito, especificamente, à localidade de S. João da Madeira ou até mesmo ao concelho de
Oliveira de Azeméis, onde esta se incluía até 1926. Porém, a informação disponível sobre o
panorama nacional foi profícua para o entendimento da indústria do calçado neste período.
Ainda, a informação a nível distrital48
, neste caso referente a Aveiro, contribuiu nesse sentido,
pese embora as abrangentes lacunas existentes.
O Inquérito Industrial de 1890 não cede informação sobre a indústria do calçado em S.
João da Madeira ou ainda em Oliveira de Azeméis, indicador de quanto esta se manteria
sonegada em vãos de escada. Os valores aí descritos parecem apontar o Porto como centro
importante desta indústria à época49
. Acreditamos que, pela sua relativa proximidade a S. João
da Madeira, poderá ter constituído uma fonte de concorrência para os sapateiros sanjoanenses,
sobretudo porque o Porto tinha já um considerável número de fábricas mais ou menos
mecanizadas à época, podendo produzir mais calçado, com melhor acabamento. Embora
existissem na cidade nortenha grandes fábricas que trabalhavam exclusivamente para
exportação50
, a introdução da «mecânica» feita «bruscamente», […] não deixou de baratear os
preços de mão de obra»51
nomeadamente, o que terá tido impacto mesmo fora do concelho.
Não se verificou, contudo, a existência de nenhum registo que confirme uma potencial tensão
entre as indústrias das duas localidades.
Desconhecemos as consequências específicas para a indústria da sapataria sanjoanense
da «gravíssima crise por que passaram as indústrias em 1890»52
. Parece terem existido
oportunidades que foram aproveitadas, visto que a «Sapataria da Moda», fundada entre 1880
e 1883, por Gaspar de Almeida Pinho, sobrevive até 1919 (o motivo para a sua dissolução
48
Referimo-nos, sobretudo, aos inquéritos industriais, mas também ao Boletim do Trabalho Industrial, cuja
informação encontra-se, maioritariamente, organizada por distritos. 49
O distrito do Porto apresenta valores absolutos só inferiores ao distrito de Lisboa, embora não tenha sido
possível separar totalmente os dados relativos à produção de sapatos de tranças. Ver Apêndices - Quadros n.º 2A
– A indústria de sapataria no distrito do Porto em 1890, p. 110 e n.º 2B – A indústria nacional de sapataria em
1890 – totais distritais (continente), p. 111. 50
No Porto, a mecanização era já uma realidade, nomeadamente na fábrica «A Portugal», mas esta dedicava-se
quase exclusivamente à exportação. Em MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho
Industrial, n.º 49, 1910, p. 227. Esta fábrica terá sido fundada por um dos filhos de João Narciso da Silva,
industrial do calçado de S. João da Madeira, com fábrica em 1915. Em O Regional, edição especial n.º 2123, 31
de julho de 1985, p. 12. 51
O Sapateiro, série n.º 1, novembro de 1911, p. 2. 52
Idem, ibidem.
36
parece ter sido, inclusive, a ausência de sucessão, pois nenhum dos descendentes quis
continuar o ofício)53
e estabelecem-se, entretanto, Victorino Tavares Lisboa, em 189754
e
Pedro Soares dos Santos, com a «Firmeza», por volta de 191055
.
Estas ditas fábricas seriam, contudo, de pequena dimensão. A «Sapataria da Moda»,
por exemplo, nunca chegou a ter mais de cinco operários56
. Distinguiam-se já, porém, da
indústria caseira, caraterizada pelo mestre sapateiro, trabalhando no rés do chão ou no anexo
da sua habitação, com um ou dois aprendizes, muitas vezes a sua própria descendência,
ajudado ainda pelo cônjuge. A indústria seria constituída, na sua quase totalidade, por
pequenas oficinas de um mestre e uns tantos aprendizes. Podemos, assim, falar de uma
indústria ainda profundamente familiar.
O concelho de Oliveira de Azeméis teria somente quatro estabelecimentos de sapataria
com mais de dez operários, nenhum empregando ainda qualquer maquinaria em 191457
,
aquando do início da Grande Guerra. Desconhecemos se algum destes estabelecimentos fabris
localizava-se em S. João da Madeira, embora sejam conhecidas duas fábricas sanjoanenses de
média dimensão: a pertencente a José António da Costa, que terá sido fundada em 1858, com
38 operários «varões» e dez mulheres e a Correia & Irmão, que terá sido estabelecida em
183558
. Ignoramos, todavia, se permaneciam em atividade à época. Não nos é permitido
assegurar também, por agora, se a fábrica de Francisco Dias Pinho, supostamente fundada em
1872, no lugar de Casaldelo, em S. João da Madeira, empregando oito operários, entre os
quais duas «fêmeas»59
, encontrava-se em laboração no período analisado. Percebemos,
contudo, que as oficinas de maior dimensão empregavam já, precocemente, mão de obra
feminina (numa relação laboral que se afastava, naturalmente, da da indústria caseira).
53
O Regional, edição especial n.º 2123, 31 de julho de 1985, p. 5. Apenas a filha, Conceição Emília de Pinho,
terá continuado na indústria, casando com Manuel Martins, industrial do calçado. Estes terão desenvolvido a
marca «Fama». Em idem, ibidem. 54
Idem, p. 11. 55
Idem, ibidem. O filho Durval da Silva Santos terá seguido o negócio familiar com a marca «Dursil», também
do tipo manual. Em idem, ibidem. 56
Idem, p. 5. 57
MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO. REPARTIÇÃO TÉCNICA DO
TRABALHO – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 116, 1917, p. 5. 58
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DE
ESTATISTICA – Resumo do Inquerito Industrial de 1881, 1883, p. 72-73. 59
Idem, ibidem.
37
Em 1910, as consequências imediatas da crise de 1890 podiam ter sido já
ultrapassadas, mas a situação geral da indústria seria ainda difícil. Esta não seria em S. João
da Madeira muito diferente do que em Guimarães. Esta localidade era também fortemente
industrializada, localizada no interior do país e com grande implantação do calçado60
. A
existência, contudo, de uma associação de classe local desta indústria61
deixou-nos um
testemunho que não detemos sobre S. João da Madeira. Sabemos que aí estava totalmente
ausente qualquer tipo de mecanização, que eram numerosas as crises de trabalho (devido ao
número elevado de aprendizes que fazia concorrência aos oficiais, segundo os sapateiros
vimaranenses), que era nula ou reduzida a exportação para as colónias, que o trabalho era
deslocado e precário - por empreitada, fora dos estabelecimentos fabris e sem contrato de
trabalho, que o horário excedia, por vezes, as 15 ou as 16 horas, escasseando, contudo, de
janeiro a março e, novamente, de outubro a dezembro, devido à sobreprodução e, mais uma
vez, ao elevado número de aprendizes. Ainda, muita desta mão de obra era constituída por
trabalhadores rurais62
.
Certamente o cenário sanjoanense não se afastaria muito desta realidade, inclusive em
termos do trabalho de elementos do meio rural, visto que as localidades que rodeiam S. João
da Madeira eram essencialmente rurais à época. O testemunho da Associação de Classe União
dos Operários Chapeleiros de S. João da Madeira, em 1910, revela-nos, de fato, uma realidade
semelhante. Os trabalhadores desta indústria eram no geral trabalhadores do campo que
chegavam das freguesias rurais. A crise era substancial. Os operários chapeleiros referem que
60
Segundo os dados apresentados no Inquérito Industrial de 1890, Guimarães estaria ao nível do concelho de
Braga, sua capital de distrito, no que diz respeito à indústria da sapataria, com os respetivos valores de 93
pequenas oficinas (num total concelhio de 102) e 94 pequenas oficinas (num total concelhio de 104) (Em
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA, Inquerito Industrial de 1890, vol. III, 1891, pp. 141, 151), logo a seguir ao
Porto – com um total de estabelecimentos na ordem dos 700 – ver Apêndices - Quadro n.º 2A – A indústria da
sapataria no distrito do Porto em 1890 - sendo um dos principais pólos desta indústria no norte do país, p. 110. 61
Segundo o relato dos operários das indústrias de calçado, a partir de uma inquirição indirecta de 1910 às
associações de classe sobre a situação do operariado, a que responderam, nomeadamente, a Associação de Classe
dos Operários Fabricantes de Sapataria de Guimarães. As associações de classe estavam obrigadas nos termos do
decreto de 9 de maio de 1891 a ceder informação ao Governo sobre as questões que fossem consultadas. Em
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO
TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, pp. VIII, 10. 62
Idem, pp. 262-265. Sabemos, porém, relativamente à exportação, que, já em 1923, a «antiga Casa Narciso»,
então Corrêas, Limitada, exportava para as «ilhas e África». Em O Regional, n.º 27, 1 de Janeiro de 1923, p. 6 e
idem, n.º 45, 9 de Setembro de 1923, p. 4.
38
tinham de mendigar. Por não pagarem aos seus «fornecedores domésticos» esgotava-se-lhes o
crédito63
.
Sabemos que em 1911, e acerca do Porto, a indústria continuava os seus momentos de
dificuldade: «a indústria da sapataria seja qual for a especialidade encontra[va]-se num caos
verdadeiramente assustador. Toda a qualidade de calçado se [fabrica] por um preço
diminuidíssimo»64
. Pela reduzida e ineficaz regulação da indústria à época, a concorrência
local seria desenfreada, diminuindo seriamente os preços e ameaçando a sobrevivência de
todos na indústria.
Em S. João da Madeira, a oficina de Victorino Tavares Lisboa, por sua vez, parece
abrir um novo capítulo na história do calçado sanjoanense, a partir da Primeira Guerra
Mundial. Produzindo inicialmente para as feiras e mercados da região, sobretudo Ovar, como
fariam, certamente, os seus concorrentes locais, durante o período de guerra começa, porém, a
produzir botas para os soldados portugueses. Todo o calçado para o Exército Expedicionário
Português terá sido fornecido, em grande escala, pelas oficinas de Victorino Tavares Lisboa e
de João Narciso65
. Sabemos que aquele já tinha o seu estabelecimento fabril em 191566
. Trata-
se, certamente, da João Narciso & Filho, dedicada ao fabrico e comércio de calçado,
localizada no lugar da Quintã, que, em outubro de 1915, acorda o abastecimento de matéria
prima, por cinco anos, com Firmino Gomes da Silva67
. Em troca recebe a sua produção
63
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO
DO TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, pp. 206-208. 64
O Sapateiro, série n.º 1, novembro de 1911, p. 3. 65
O Regional, n.º 939, 23 de junho de 1957, p. 6. João Narciso era, supostamente, natural de Cucujães, no
concelho de Oliveira de Azeméis (em O Regional, edição especial n.º 2123, 31 de julho de 1985, p. 12). Por sua
vez, Victorino Tavares Lisboa seria natural de Milheirós de Poiares, no concelho de Vila da Feira (em idem, p.
11). Percebe-se assim a relação estreita do tecido socioeconómico entre os concelhos de Oliveira de Azeméis,
(da então sua freguesia) S. João da Madeira e do concelho de Vila da Feira. 66
A Defeza Local, n.º 10, 6 de junho de 1915, p. 2. 67
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 1837-52, ff. 39 verso a
41. Esta sociedade foi constituída para o comércio de peles, de calçado e de artigos do mesmo, em julho de 1914
(por escritura de 6 de agosto do mesmo ano), na casa de João Narciso da Silva, no lugar da Quintã. O sócio e
filho, Francisco Narciso da Silva, ficou encarregado da escrituração. Tratou-se de uma sociedade comercial em
nome colectivo. «[…] As entradas dos referidos capitaes são constituidas pelo passivo e activo das firmas que
nesta Praça de São João da Madeira giravam de calçado do segundo outorgante [Francisco] e de cabedais do
primeiro [João]». Pai e filho identificaram-se como comerciantes (em idem, 5.º ofício, doc. 1330-273, ff. 26
verso a 29 verso). Firmino Gomes da Silva fundará mais tarde, em 1923, a Silva, Gomes & Corrêa (em idem, 5.º
ofício, doc. n.º 1449-392, ff. 31 verso a 34), dissolvida em 1927 (em idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc.
n.º 3-3, ff. 44 a 45) e a Gomes & Corrêa, fundada logo a seguir à dissolução daquela (em idem, ff. 45 a 48), mas
39
exclusiva (calçado masculino). Francisco Narciso da Silva era então o sócio-gerente do
referido estabelecimento68
.
O sucesso de Victorino Tavares Lisboa terá criado oportunidades de expansão a outros
produtores, que já o tinham como cliente. Tal foi o caso de Tomás Ferreira Tavares69
, que
teria fundado a sua oficina entre 1905 e 191070
, António José Ferreira dos Santos, que fundará,
mais tarde, em 1930, a Aliança Industrial de Calçado, Limitada71
e outros sapateiros de
localidades vizinhas72
. A origem do seu sucesso terá sido a razão do seu declínio, também: o
final da guerra deixou o industrial com milhares de pares de botas para o exército em
armazém e outros milhares de pares de calçado diverso, o que terá conduzido a empresa à
arrematação, por ação litigiosa, em 193373
.
A dimensão da indústria a nível distrital, em relação ao número de estabelecimentos
em laboração e, deste modo, também em relação ao número de trabalhadores envolvidos,
parece ter vivenciado um considerável crescimento. Aparecem 79 sapateiros74
no distrito de
Aveiro, em 1900. Estes valores poderão estar subestimados, visto que o volume apontado
refere-se exclusivamente aos «contribuintes»75
. Mas sob a mesma condição, verificamos que
os mesmos são agora 87, em 190376
e já 187 em 191577
. Em 1916 seriam já 202, neste
também dissolvida e liquidada, em 1935 (em idem, doc. n.º 132-37, ff. 25 a 28). Ver ainda Apêndices -
Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 114, 120. 68
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 1837-52, ff. 39 verso a
41. 69
O Regional, edição especial n.º 2123, 31 de julho de 1985, p. 11. 70
Idem, p. 5. 71
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, p. 128. 72
Falamos de Manuel Rodrigues da Silva, da Arrifana, no concelho de Santa Maria da Feira, de Ferreira
Henriques, de César, no mesmo concelho, de Vitorino, de Fajões, no concelho de Oliveira de Azeméis e de Artur
Costa Bastos, de S. Roque, neste mesmo concelho. Em O Regional, edição especial n.º 2123, 31 de julho de
1985, p. 11. 73
Idem, ibidem. Os seus filhos, Emília Lisboa e António Tavares Lisboa, terão fundado, no mesmo ano, a
«Fábrica de Calçado Chicos» (para produção de calçado de criança). Em idem, ibidem. 74
Esta categoria abrangia não só fabricantes de sapataria, mas também vendedores de calçado, em larga escala,
evidenciando a pouca especialização da indústria à época, elemento, aliás, caraterístico de outras atividades. 75
MINISTERIO DA FAZENDA. DIRECÇÃO GERAL DA ESTATISTICA E DOS PROPRIOS NACIONAES
- Anuario Estatistico de Portugal – 1900. Lisboa: Imprensa Nacional, 1907, p. 370. 76
Idem, 1903 – Volume I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1907, p. 164. 77
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS. DIRECÇÃO GERAL DE ESTATÍSTICA – REPARTIÇÃO CENTRAL -
Anuário Estatistico de Portugal – Ano de 1917. Capítulo VII – Indústria. Capítulo VIII – Comércio e navegação.
Capítulo IX – Vias de comunicação; circulação e crédito. Capítulo X – Administração pública. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1921, p. 78.
40
distrito78
. A tendência é a mesma a nível nacional, no que concerne a esta indústria: 5446
sapateiros à data (no continente)79
, por oposição aos 3788 conhecidos, em 190380
.
Os valores referidos são muitas vezes contraditórios, mesmo quando apresentados pela
mesma fonte documental, mas parecem apontar para um crescimento, em Oliveira de
Azeméis, do número de trabalhadores, mantendo-se o reduzido número de estabelecimentos
não domiciliares81
.
O ano de 1917 não terá sido, a nível nacional, «fértil em empreendimentos industriais
de manifesta importância», pelo menos para a indústria da sapataria, em particular, e do
calçado, em geral. Terão sido «múltiplas e enormes [as] perturbações ocasionadas pela guerra
e exacerbadas por uma inaudita exploração comercial […], [como a] escassez e subida
interminável do custo das matérias-primas, […] [e a] crise aguda das subsistências»82
. As
matérias-primas terão excedido o décuplo do custo de 191483
. Entretanto, em 1918, a indústria
nacional terá intensificado enormemente a sua produção, suprimindo assim a escassez de
muitos dos produtos habituais de importação. Esta ausência de concorrência do produto
estrangeiro terá motivado algumas indústrias. Impulsionou, seguramente, o calçado
sanjoanense, que viu constituir, na década de 1920, 14 sociedades de calçado ou de produção
mista, como veremos, só ultrapassada pela década de 1930, em todo o período estudado.
Vejamos ainda, com mais atenção, os elementos que caraterizam
essencialmente a indústria da sapataria em S. João da Madeira, no intervalo temporal aqui em
análise (1881-1920). 78
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS. DIRECÇÃO GERAL DE ESTATÍSTICA – REPARTIÇÃO CENTRAL -
Anuário Estatistico de Portugal - Ano de 1919. Capítulo VII – Indústria. Capítulo VIII – Comércio e navegação.
Capítulo IX – Vias de comunicação; circulação e crédito. Capítulo X – Administração pública. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1922, pp. 64-65. 79
Idem, Ano de 1917. Capítulo VII – Indústria. Capítulo VIII – Comércio e navegação. Capítulo IX – Vias de
comunicação; circulação e crédito. Capítulo X – Administração pública, 1921, p. 78. 80
MINISTERIO DA FAZENDA. DIRECÇÃO GERAL DA ESTATISTICA E DOS PROPRIOS NACIONAES
- Annuario Estatistico de Portugal – 1903 – Volume I, 1907, p. 164. 81
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMÉRCIO E INDÚSTRIA. REPARTIÇÃO DO
TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 109, 1917 (p. 12) refere que, em 1917, seriam
apenas três estabelecimentos industriais em Oliveira de Azeméis, contando agora com mais operários, 69 no total,
de ambos os géneros. Outro boletim do mesmo ano (n.º 116, p. 5) relata uma realidade mais detalhada e, por isso
mesmo, talvez mais precisa: existiriam quatro oficinas de sapataria no concelho, com um total de 55 operários,
38 homens, três mestres, cinco mulheres adultas, oito homens menores (aprendizes) e um empregado de
escritório. Estas disparidades podem ser resultado, nomeadamente, da grande instabilidade que se sentia na
indústria, à época. 82
MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO. REPARTIÇÃO TÉCNICA DO
TRABALHO – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 119, 1917, p. 15. 83
Idem, pp. 15-16.
41
2.2.1. Caraterísticas da atividade industrial
A indústria da sapataria deste período carateriza-se, sobretudo, pela sua natureza
artesanal, de fabrico manual e pelo seu cariz tradicional, de produção familiar e domiciliar,
bem como pela sua pequena dimensão e pela obscuridade das suas oficinas, permanecendo
sem registo oficial. Adivinha-se, contudo, nesta homogeneidade maioritária, uma grande
diversidade de situações, mas a escassez de dados não nos permite explorá-la.
Também a sazonalidade da sua produção é indicador, sobretudo, de uma gerência da
produção mais imediata, distante ainda, na sua maioria, das crises de superprodução,
caraterísticas do capitalismo industrial.
2.2.1.1. Produção artesanal e domiciliar
A sapataria parece ter constituído um setor pouco dinâmico, pelo menos até à década
de 1920. Ter-se-á mantido totalmente artesanal, com total ausência de emprego de motores a
vapor ou maquinaria, pelo menos até inícios do século XX e parcialmente manual, na sua
grande maioria, até bastante tarde (pelo menos até meados da década de 1950, como veremos).
S. João da Madeira não parecia acompanhar, em inícios do século passado, a tímida
introdução dos primeiros mecanismos – as máquinas de costura, como já parecia acontecer
pelo menos em Lisboa e no Porto. As máquinas de costura estariam, nestas duas cidades, já
largamente generalizadas, à época, «não [voltando os sapateiros daí], senão raras vezes ao
ajuntado à sovela, ao pesponto à mão»84
.
S. João da Madeira terá de esperar, pelo menos até à década de 1950, para empreender
uma mecanização mais intensa e em crescendo. O semanário local mais popular enche-se
então de anúncios de máquinas de calçado, entre elas as de pontear e de facear85
. Este
fenómeno acompanharia a tendência nacional desta indústria para a crescente mecanização do
fabrico86
.
84
A Sapataria Portugueza, n.º 1, 12 de janeiro de 1890, p. 2. 85
O Regional, n.º 936, 12 de maio de 1957, p. 8. 86
Idem, n.º 937, 26 de maio de 1957, p. 3.
42
A laboração domiciliar, não já só do mestre mas também dos oficiais, traduzindo-se
num trabalho à empreitada, surge como prolongamento de um regime de trabalho
tradicionalmente familiar e da degradação da relação mestre-aprendiz, que se dá, por princípio,
com a extinção das corporações, a partir de 1834.
Sobretudo no mundo rural ou na sua proximidade, como é o caso de S. João da
Madeira, em períodos de crise e desemprego, o trabalho agrícola e familiar deste operariado
ter-lhe-á permitido sobreviver e evitar a emigração, em muitos casos. Poderá ter permitido,
também, aos industriais do calçado, através do trabalho à peça, diminuir ou aumentar de
forma mais flexível a mão de obra.
Este caráter reduzido e tradicional da indústria revela-se ainda em finais da década de
1930. As relações laborais entre patrões e operários (no espaço industrial) são deveras
informais, sendo frequente os «patrões que descem às oficinas», confundindo-se com os
próprios operários. «Nas indústrias do calçado, não raro [era], à banca de trabalho, braços ao
léu, muitos patrões tornados operários pela espécie do seu emprego, martelo e faca em punho,
batendo sola, cortando peles»87
.
2.2.1.2. Dimensão
Grande parte das oficinas sanjoanenses do calçado incluía-se, certamente, pelo menos
até à década de 1920, mas seguramente até muito mais tarde, na chamada pequena indústria,
exceto os exemplos referidos de estabelecimentos maiores. Esta caraterizava-se pela
localização no domicílio do «mestre ou operário, [sendo] o trabalho executado por este, só ou
com o auxílio [da sua] consorte, dos seus parentes em linha recta ou transversal até ao terceiro
grau, ou dos seus tutelados, e o número total de indivíduos assim empregados não [excedendo]
cinco»88
.
87
O Regional, n.º 423, 10 de abril de 1938, p. 1. 88
Decreto-Lei de 10 de fevereiro de 1890, cap. I, art.º 1, § 1.º, sobre os estabelecimentos industriais. Em
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO
TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 43, 1912, p. 89.
43
Ainda em 1917, a indústria do calçado apresenta a maioria dos estabelecimentos, em
todo o país, como tendo apenas entre um e dois trabalhadores e uma grande parte entre três e
cinco89
.
2.2.1.3. Sazonalidade da produção
Na sapataria seriam curtos os períodos essenciais de produção. Esta indústria teria
duas quebras por ano, «pois só [se] trabalha[va] de estação a estação», o que ainda se
verificava na década de 194090
. O trabalho escasseava nas oficinas entre setembro e abril, pela
chegada de mão de obra sazonal, embora, em S. João da Madeira, este fenómeno adotasse,
certamente, uma escala inferior a outras localidades, como o Porto, onde aportavam muitos
trabalhadores dos concelhos limítrofes ruralizados91
. De outubro a março, faltaria trabalho
para os sapateiros, pela substituição da sapataria por «baixos de madeira» durante o inverno92
.
2.2.1.4. Registo e licenciamento
Os sapateiros por todo o país revelavam relutância em registar as suas oficinas. Nos
alvarás concedidos para instalação comercial até finais de dezembro de 1927 não se
encontram oficinas de calçado, de qualquer tipo93
. Não se licenciavam na sua grande maioria.
O mesmo parece ser verdadeiro para o calçado em todo o país94
.
89
São referidos 137 estabelecimentos, tendo entre um e dois trabalhadores; 104 estabelecimentos teriam entre
três e cinco trabalhadores; 64 entre seis e dez trabalhadores; 37 entre 11 e 20 trabalhadores; e apenas sete entre
51 e 100 trabalhadores. Em MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO.
REPARTIÇÃO TÉCNICA DO TRABALHO – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 116, 1917, p.
2. 90
Curtumes e Calçado, número único, 9 de abril de 1941, p. 9. 91
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO
DO TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, pp. 227, 230-231. 92
Exemplo do Porto, que se revelaria verdadeiro, seguramente, para todo o país. Em Idem, p. 230. 93
MINISTÉRIO DO COMÉRCIO E COMUNICAÇÕES. DIRECÇÃO GERAL DAS INDÚSTRIAS. 2.ª
REPARTIÇÃO INDUSTRIAL – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 141, 1930, p. 89. 94
Idem, pp. 87-133. Diz-nos, inclusive, o Boletim do Industrial: boletim mensal de informação e defeza dos
industriais e comerciantes do país (n.º único, maio de 1936, p. 9) que «são muitas as indústrias que se encontram
44
As oficinas de calçado poderiam não estar interessadas em registar-se e em licenciar-
se pelo custo das introduções a fazer no ambiente de trabalho, nomeadamente a nível da
segurança e da higiene laboral, como exigia a legislação, aproveitando assim a deficiente
fiscalização governamental. Estas ausências dificultam, seriamente, toda a análise, sobretudo
a quantitativa, para a avaliação do número de oficinas, de trabalhadores e famílias envolvidas.
Muitos negócios do calçado terão surgido e, entretanto, desaparecido sem qualquer registo da
sua existência.
2.3. Dificuldades da indústria
2.3.1. Concorrência
2.3.1.1. Trabalhadores rurais
A população de sapateiros excederia, em 1910, a necessidade da indústria95
. Nas
cidades ou localidades mais urbanizadas, as populações de operários sapateiros eram
aumentadas com trabalhadores vindos de outras localidades, muitas vezes trabalhadores do
campo, das freguesias rurais dessa localidade ou da sua proximidade96
.
2.3.1.2. Reclusos
A «obra» produzida pelos reclusos nas penitenciárias ou por «internados menores» nas
oficinas das Misericórdias seria geradora de grande descontentamento entre os produtores de
por legalizar. Não dizemos que as grandes indústrias estejam por legalizar, mas as médias e pequenas estão na
sua maioria por o fazerem, como determina o Decreto n.º 19.354 de 3 de Janeiro de 1931». A mesma publicação
(n.º 5 e 6, setembro e outubro de 1936, p. 9) reitera, relativamente às oficinas de calçado, que «na sua maior
parte se encontra[va]m a funcionar ilegalmente». 95
Aspeto apontado por todas as associações relacionadas com esta indústria, inquiridas em 1910, como já
referido. Poderá tratar-se, todavia, de lamento corporativo desta atividade. 96
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO
DO TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, p. 231.
45
calçado97
. Por todo o país, grande crise e concorrência decorreria destes fabricos, que
competia com a produção local e que contribuía para a redução do preço da mão de obra
profissional. Mesmo quando estas instituições não existiam na proximidade, este calçado
chegava de outras partes do país. Sabemos que esta produção existia no Porto, na Cadeia da
Relação, o que muito desagradava os sapateiros portuenses98
. Com maior proximidade, o
Asilo Distrital de Aveiro99
deveria fazer, à época, alguma concorrência aos sapateiros de todo
o concelho de Oliveira de Azeméis. Este produto era naturalmente vendido a baixo preço.
Os produtores das cidades maiores lamentavam-se, ainda, acerca da dificuldade em
competir com a produção de calçado proveniente da província, pelo mais elevado custo de
vida, que se traduzia num produto final de preço superior100
. Esta relação desigual favoreceria,
certamente, os produtores sanjoanenses em relação à sua capital de distrito, nomeadamente,
mas os sapateiros dos arredores, das freguesias da Arrifana e de Escapães, no concelho de
Vila da Feira e de Cucujães e de S. Tiago de Riba d‟Ul, no concelho de Oliveira de
Azeméis101
, poderão ter tido alguma vantagem no preço do produto final em relação aos
sapateiros de S. João da Madeira.
2.3.1.3. Trabalho feminino
As mulheres fizeram sempre parte desta indústria. Elas estariam presentes nas
pequenas lojas, trabalhando, no tempo livre das tarefas domésticas, no ofício do marido ou do
97
Relato da Associação de Classe dos Fabricantes de Sapataria de Coimbra. Em MINISTÉRIO DO FOMENTO.
DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO TRABALHO INDUSTRIAL -
Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, p. 239. 98
Idem, pp. 221, 228. 99
Sabemos que o «Asylo–escola districtal», em Aveiro, produzia obra de sapataria. Em MINISTERIO DAS
OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E
INDUSTRIA - Inquerito Industrial de 1890, vol. III, 1891, p. 5. 100
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO
DO TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, p. 225. 101
A documentação notarial pertencente aos fundos destas duas localidades, existente no Arquivo Distrital de
Aveiro, revela que estas freguesias se destacam facilmente no número de sapateiros em relação às restantes,
dentro do mesmo concelho. Cada uma destas faz também, e sem surpresas, fronteira com a antiga freguesia de S.
João da Madeira, pertencente, à época, ao concelho de Oliveira de Azeméis e território atual da cidade.
46
pai. «Nas oficinas caseiras as mulheres e as filhas ajuda[va]m principalmente os chefes da
família no trabalho de obra virada para uso de casa», ou seja, o calçado para uso caseiro102
.
Tratavam também, muitas vezes, do escoar da produção: eram as recoveiras. As
mulheres dos sapateiros levariam o calçado à cabeça, em cestos, pelas feiras da região e fora
dela. «Levavam encomendas […] à cabeça até à estação de Ovar, percurso que faziam umas
duas vezes» ao dia. Exemplo disso foi a mulher de um dos fundadores das primeiras fábricas
de calçado em S. João da Madeira, Tomás Ferreira Tavares103
.
Nos estabelecimentos industriais de maior dimensão, as mulheres surgem com
frequência, embora em número muito inferior ao dos homens e muito raramente com idade
inferior a 16 anos, como se verifica no Inquérito Industrial de 1890, para todo o país,
inclusive em outras indústrias.
Nas greves, a nível nacional, algumas mulheres substituíram os homens104
, mas não
temos conhecimento da existência de alguma greve em S. João da Madeira, no que concerne a
este período, o que é esperado, atendendo à dimensão reduzida e ao caráter maioritariamente
doméstico e vicinal desta indústria à época.
2.4. Escassez de capitais
O capital andaria muito desviado da sapataria105
. Poucas seriam as fábricas com
alguma importância, pelo menos na viragem do século XX. Os lucros obtidos na indústria
seriam aplicados fora destas. «Aqueles que [...] depois de muito lidar e poupar, consegui[am]
acumular lucros líquidos, [seguiam] o expediente preferido do nosso capitalismo – [a]
aquisição de prédios e compra de fundos públicos – não se alargaram as oficinas com os
fundos adquiridos»106
.
Também não existiam «bancos especiais para favorecer a indústria; os de maior capital
social não [eram] propensos a atender às pequenas operações, e os poucos bancos de pouco
102
A Sapataria Portugueza, n.º 12, 12 de dezembro de 1890, p. 90. 103
Falamos de Emília Azevedo Tavares. Em O Regional, n.º 80, 11 de janeiro de 1925, p. 14. 104
O Sapateiro, n.º 3, 2 de outubro de 1910, p. 3. 105
A Sapataria Portugueza, n.º 4, 12 de abril de 1890, p. 37. 106
Idem, p. 66.
47
capital [...] faz[iam] operações a juro de 12 por cento e mais»107
. Esta ausência de capital
explicaria muito do atraso da indústria do calçado, em finais do século XIX, segundo um
periódico contemporâneo108
, não sendo este, porém, um problema exclusivo desta atividade,
naturalmente.
2.5. Ensino profissional
O ensino profissional ter-se-á tornado quase inexistente, depois de se quebrar o
estreito regime de aprendizagem com o mestre109
. A extinção das corporações em 1834
conduz à desestruturação das relações de trabalho anteriormente estabelecidas e terá permitido
aos mestres sapateiros admitir o número de aprendizes que bem entendessem, sem instituir
um regime substituto de aprendizado.
O trabalho na fábrica envolveu sempre menos menores, também pela maior
fiscalização a que estavam sujeitas. A aprendizagem do ofício seria aí «quase nula». O menor
era geralmente um «criado para varrer, fazer outras limpezas e andar em recados» e os
mestres e oficiais mostrariam, na fábrica, grande relutância em legar o seu saber110
, já que
viam aí os seus interesses lesados pela grande concorrência que um potencial número elevado
de aprendizes produziria.
O estabelecimento de uma escola industrial que albergasse o ensino do ofício da
sapataria não era certamente apoiada pela grande maioria dos mestres da pequena indústria,
por temer os efeitos dessa concorrência. Porém, desde o fim do sistema corporativo,
extremamente regulado, a formação dos aprendizes – que envolvia despesas de aprendizagem
(tendo em conta, por exemplo, o material inutilizado) - não interessava também aos mestres,
pois não tinham qualquer garantia da permanência futura ou fidelidade do aprendiz.
As escolas industriais estavam somente instaladas nos grandes centros, também e os
alunos aí colocados eram escassos, face aos milhares de operários espalhados pelas fábricas e
107
A Sapataria Portugueza, n.º 4, 12 de abril de 1890, p. 66. 108
Idem, p. 74. 109
Idem, ibidem. 110
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO TRABALHO INDUSTRIAL. 3.ª CIRCUNSCRIÇÃO DOS
SERVIÇOS TECHNICOS DA INDUSTRIA - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 2, 1907, p. 243.
48
oficinas de todas as indústrias, por todo o país111
. Os aprendizes de sapateiro não sabiam, na
sua maioria, ler e escrever e os que sabiam não tinham, com frequência, o exame de
certificação, porque, depois de entrarem para as oficinas, não dispunham de tempo para
frequentarem as aulas, tendo horários de cerca de 14 horas diárias. Raramente o operário
frequentava ou tinha frequentado a escola industrial, por não existir aí, no geral, o ensino
profissional de sapateiro. Sabemos que, no Porto, a instrução dos aprendizes estava
dependente da boa vontade dos industriais, que os dispensavam para esse efeito. Existia
ensino profissional na Escola Industrial Infante Dom Henrique, ao que parece também para o
ofício de sapateiro, contudo, o seu efeito na classe seria nulo neste período, pois os aprendizes
trabalhavam, com frequência, pela noite fora e o seu salário não lhes permitiria por cobro aos
custos com livros e restante material112
.
As escolas industriais da província, após as reformas do ensino noturno do início do
século passado, tiveram uma notável baixa de frequência, privando-se a população deste
recurso. Por ser considerável a dificuldade dos jovens aprendizes e mesmo dos oficiais em
frequentar as escolas industriais, devido à escassez destas e à rigidez dos seus horários de
trabalho, uma associação de classe de Setúbal terá apelidado essas instituições de «colégios de
nobres»113
, não as considerando ao alcance do operariado.
Além disso, precisavam os pais, pelas dificuldades de vida, de acrescentar os magros
salários dos aprendizes aos seus, livrando-se ainda do inconveniente de deixar os filhos
menores sozinhos em casa grande parte do dia114
.
Ainda na década de 1940, o Sindicato Nacional dos Operários Sapateiros do Distrito
do Porto alude à necessidade de existir uma comissão técnica na indústria, que teria a seu
cargo o exame dos que se diziam habilitados para a manufatura de qualquer tipo de calçado115
.
Em S. João da Madeira, desde a década de 1920, pelo menos, a imprensa proclamava
pela fundação de uma escola industrial e comercial na localidade116
. Em 1957, ainda se
111
Embora referindo-se especificamente aos distritos de Leiria, Lisboa, Portalegre e Santarém, esta situação não
deveria ser distinta nos restantes. Em MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA.
DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO TRABALHO INDUSTRIAL. 3.ª
CIRCUNSCRIÇÃO DOS SERVIÇOS TECHNICOS DA INDUSTRIA - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 2,
1907, p. 241. 112
Segundo os relatos das associações de classe inquiridas em 1910, como já referido. Em MINISTÉRIO DO
FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO TRABALHO
INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 49, 1910, p. 235. 113
Idem, p. XVI. 114
Idem, p. XIV. 115
Curtumes e Calçado, número único, 9 de abril de 1941, p. 3.
49
esperava a dita escola técnica117
. Estava prevista a sua abertura para o primeiro dia de outubro
de 1958, em regime provisório, no entretanto criado Bairro da Saúde, não tendo previsto,
todavia, nos primeiros tempos, lecionar qualquer ensino técnico específico, mas somente
Português, História Pátria, Ciências Geográficas e Matemática, Desenho, Moral e Trabalhos
Manuais 118
.
2.6. Proteção pautal
Após a grande crise industrial de 1890, os produtores das diferentes indústrias,
«patrões e operários», reclamam do Governo o «chamado proteccionismo industrial». Reuniu-
se em Lisboa «o concelho alfandegário com a representação de todas as classes», em 1891,
exigindo a criação de uma nova pauta alfandegária, aquando dos novos contratos comerciais
com o estrangeiro (a França, nomeadamente). Pretendiam defender, através da elevação dos
direitos alfandegários, o custo dos produtos que manufaturavam e diminuir, ao mesmo tempo,
tudo o restante. Obviamente que os desejos das diferentes associações não convergiam, sendo
muitas vezes irreconciliáveis inclusive119
, nomeadamente entre a sapataria e os curtumes.
Redundou a pauta no favorecimento do produto importado em detrimento da produção
interna, favorecendo assim a sua comercialização por oposição ao seu fabrico. Deste modo,
resultou num «verdadeiro descalabro para a indústria de sapataria» e terá, certamente,
constituído um obstáculo considerável, pelo menos, até às oportunidades criadas para a
indústria, no geral, com o início da Primeira Grande Guerra120
.
116
O Regional, n.º 151, 11 de outubro de 1927, p. 2. 117
Idem, n.º 931, 3 de março de 1957, p. 1. 118
Idem, n.º 960, 27 de abril de 1958, p. 3. 119
O Sapateiro, série n.º 1, novembro de 1911, p. 2. 120
Idem, ibidem. A mesma publicação, no mesmo local, diz ainda que os industriais que tinham conseguido
conservar as suas oficinas, apesar da crise, «passaram imediatamente a tornar o trabalho clandestino, atirando
com os operários para as suas pocilgas e eles industriais a abrirem grandes estabelecimentos de venda, pois que
podiam obter do estrangeiro matérias-primas em tais condições de preço que bastariam os chamados obreiros
para fornecerem as suas montras, as suas vitrines e os seus stoks».
50
2.7. Tipo de produção
Diz-nos uma monografia local, da década de 1940, que o calçado masculino, do tipo
inglês (salto baixo, de sola ou de cortiça), teve sempre a preferência dos produtores
sanjoanenses. Em S. João da Madeira não se dedicariam ao ramo de calçado fino de senhora.
Apenas uma oficina ter-se-á consagrado a este fabrico, do tipo francês (salto alto - de
madeira)121
.
Sabemos que esta era a tendência nacional. Em 1890, existia superprodução no
trabalho para homem, enquanto era diminuta a produção de calçado de mulher (indicador do
seu baixo estatuto socioeconómico), escassez essa suprimida pela importação122
.
O calçado de criança era considerado «o mais detestável entre os sapateiros», deixado
geralmente aos obreiros123
. Contudo, parece ser neste, juntamente com a produção de calçado
masculino, que a indústria da sapataria sanjoanense se vai desenvolver.
Com o Armistício terá surgido o medo de que os preços elevados dos produtos finais
sofressem quedas abruptas. Isso seria o suficiente para abrandar o ritmo de trabalho de
algumas indústrias124
. Veremos como se comportou a indústria sanjoanense do calçado no
pós-Primeira Grande Guerra, quando a situação mundial inicia a sua normalização, a partir da
análise de 50 sociedades de calçado.
121
MARTINS, Mário Resende; TEIXEIRA, José Fernando de Sousa; SILVA, Manuel Dias da, op. cit., p. 102. 122
A Sapataria Portugueza, n.º 1, 12 de janeiro de 1890, p. 3. 123
Idem, p. 11. 124
MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO. REPARTIÇÃO TÉCNICA DO
TRABALHO – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 119, 1917, pp. 15-16.
51
3. AS SOCIEDADES SANJOANENSES DO CALÇADO (1917-1952)
3.1. A dinâmica industrial – as sociedades industriais e comerciais e o seu significado
A constituição de parcerias na indústria do calçado dá-se, sobretudo, a partir da década
de 1920. Embora sem dados que permitam compreender o processo de transição local de
relações de produção mais tradicionais, como a produção domiciliar e familiar, para um tipo
de relação contratual, envolvendo dois ou mais sócios, é seguro que a existência desta última
modalidade implica uma alteração substancial das relações mais ou menos informais da
designada pequena indústria.
A parceria implica uma conjugação de esforços entre produtores anteriormente
concorrentes, uma maior organização do trabalho e, sobretudo, uma concentração dos
recursos.
A determinação das diferentes funções a desempenhar por parte dos sócios, além da
abrangente gerência, é estabelecida, muitas vezes, na própria constituição de sociedade.
Temos os exemplos das sociedades Álvaro Ferreira Tavares & Irmão, Guilherme Paes Vieira
& Santos e Sociedade Industrial Sanjoanense, Limitada, onde a um dos sócios competia
especialmente as operações financeiras; ou as sociedades Alves Leite & Companhia, M.
Simões & Silva e Vieira & Ferreira, no que concerne à divisão entre as competências técnicas
e comerciais; ou ainda as sociedades Alves Leite, Limitada, Artur da Costa Bastos &
Companhia, Limitada, Dias & Pinho, Dias, Brandão & Companhia, Limitada, Garcia &
Companhia, Gomes & Corrêa, Santos Leite & Irmão, Silva, Gomes & Corrêa e Sociedade de
Calçado, Limitada, relativos a outro tipo ou tipos de repartição de tarefas125
.
Mesmo envolvendo elos familiares estreitos em algumas das sociedades identificadas,
a relação é agora formalizada, estabelecendo-se responsabilidades e riscos para cada um dos
envolvidos. É definida, em grande parte das escrituras de constituição de sociedade, a
proibição do envolvimento da firma social em atos que possam lesar, direta ou indirectamente,
a sociedade, como a obrigação de fiador (algumas determinam a proibição inclusive a título
pessoal, a cada um dos sócios) ou do levantamento indevido de capital da caixa social por
125
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-114, 116,
125, 130, 133, 135-137.
52
algum dos sócios, implicando muitas vezes, como penalização, a perda total ou parcial da
quota do sócio infrator. É delimitado também, com frequência, um período para a escrituração
anual e a assinatura, por parte dos sócios, da documentação relativa, implicando a perda do
direito de reclamação findo esse período. Ainda, é, frequentemente, definida a distribuição
dos prejuízos126
.
Esta junção de interesses acarreta uma expansão imediata do negócio de cada um dos
fabricantes envolvidos e, principalmente, um potencial alargamento de mercado, pois a
convergência de capitais e de competências não teria em vista, somente, o reduzido mercado
local ou regional.
Também a relação contratual exige outra postura perante o negócio, mais definida,
bem como uma maior fiscalização de parte a parte, tendo em vista a redução dos riscos. É
referido o direito à fiscalização da documentação social, por parte dos sócios ausentes das
funções de gerência, nas escrituras de constituição da Pinho, Tavares & Companhia, Limitada
e da Santos Leite & Irmão127
.
Estas sociedades representam, na nossa perspetiva, o próprio marco de
desenvolvimento desta indústria.
As sociedades sanjoanenses do calçado são maioritariamente mistas, pouco
especializadas, pelo menos até meados da década de 1950, quanto ao tipo de atividade e ao
tipo de produção, como veremos. A atividade combinada, de comércio e indústria, é
indicadora, em si, da resistência de caraterísticas tradicionais no processo de crescimento da
indústria de calçado, mas também, certamente, da ausência de acordos comerciais, pelo
menos duradouros, com companhias fora do mercado local ou regional. Sendo assim, o
produto fabricado terá sido vendido, com frequência, essencialmente no local de produção ou
nos mercados da região.
Alguns sócios deveriam, contudo, conjugar as suas tarefas de gerência com a de
«viajante», por ventura ocasional, para promoção dos artigos produzidos. É o caso da Pinho,
Tavares & Companhia, Limitada, Sucessor. Também um dos sócios fundadores da Pinho &
126
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-151. 127
Idem, pp. 122, 126.
53
Nato, Limitada apresenta-se como «viajante», embora se desconheça se exerceu a mesma
atividade nesta empresa128
.
Esta indústria poderá ter beneficiado dos capitais da atividade comercial. Alguns dos
sócios fundadores das sociedades de calçado sanjoanenses analisadas identificam-se como
comerciantes (ou «negociantes»), tendo assim, por consequência, se dedicado à atividade
fabril posteriormente. Esta tendência parece terminar em inícios da década de 1930, com os
princípios de uma maior especialização. Falamos de José Moreira Garcia da Garcia &
Companhia, constituída em 1917, de ambos os sócios da Cardeiros, Pinho & Companhia,
constituída em 1926 - António Luís da Costa Cardeiro e José Gomes de Pinho Calhau - de
ambos os sócios da Pardal & Irmão, constituída no mesmo ano - Acácio Pinto Álvares Pardal
e Carlos da Costa Lima, bem como Manuel Marques Lincho, o novo sócio da reformulada
Pardal, Limitada - de Leonel Martins Pereira da Silva da Fernandes & Martins, constituída
em 1927, dos três sócios da M. Tavares & Martins, Limitada, constituída em 1931 - Armando
Jorge Tavares, Manuel Jorge Tavares Júnior e José Martins - e de José da Costa Ribeiro da
Sociedade de Calçado, Limitada, constituída em 1932129
. O peso da vertente comercial destas
sociedades terá sido também, seguramente, decisivo para a produção fabril.
3.2. Aproximação a uma avaliação quantitativa
A informação obtida para esta análise, organizada em base de dados e exposta em
Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas (em Apêndices), foi
recolhida na documentação notarial, denominada de Actos e Contratos, presente no Arquivo
Distrital de Aveiro, de S. João da Madeira, entre o período de 1926 (após a constituição do
notariado local) e fim de 1953, de Vila da Feira, entre o período de 1881 e 1953 e de Oliveira
de Azeméis, neste mesmo período. A informação recolhida no fundo notarial de Vale de
Cambra reduziu-se, exclusivamente, à obtenção de uma escritura de constituição de sociedade,
essencial para a análise pretendida, documento esse identificado em outra escritura, obtida no
128
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 138-139. 129
Idem, pp. 113, 117, 119, 125, 127, 130.
54
fundo notarial de Oliveira de Azeméis. Referimo-nos à escritura de constituição da sociedade
Pinho, Tavares & Companhia, Limitada130
.
Foram identificadas as escrituras de constituição de 50 sociedades de calçado131
,
fundadas no período analisado, de 1881 a 1953, bem como seis escrituras de alteração do
pacto social, 11 escrituras de cessão de quota ou quotas e 16 escrituras de dissolução de
sociedade (algumas com a determinação de liquidação ou nomeação de liquidatários).
Passamos a apresentar as sociedades analisadas.
130
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Vale de Cambra, 3.º ofício, doc. n.º 701-30, ff. 24 a 25 verso,
cuja localização é referida nas restantes escrituras identificadas, de alteração do pacto social e de dissolução da
sociedade, presentes na documentação notarial de S. João da Madeira. O mesmo não foi possível fazer quanto à
Sociedade Industrial de Calçado Dália, Limitada, identificada em periódico local (Em O Regional, n.º 853, 12
de julho de 1953, p. 3), mas não encontrada nos fundos notariais de S. João da Madeira, de Oliveira de Azeméis,
de Vila da Feira ou de Vale de Cambra, na pretensa data de constituição referida no periódico. Poderá, contudo,
ter sido constituída em outro notariado (no Porto ou em Aveiro, por exemplo). Desta sociedade encontramos
somente uma escritura de cessão da quota de um dos sócios, no fundo notarial de Oliveira de Azeméis (em
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2820-306, ff. 38 a 39
verso). A limitação dos dados presentes no periódico referido, sobre a sociedade em questão, não permite incluí-
la nesta análise. 131
Veremos que a designação de calçado, aqui utilizada, refere-se a um variado número de ramos que inclui,
também, a produção do que se pensa ser de sapataria (referida, especificamente, apenas em quatro casos), na
grande maioria aliada ao comércio desse e/ou de outros produtos, bem como à indústria e ao comércio de
tamancaria.
55
3.2.1. Quadro n.º 1A – Sociedades de calçado (amostra analisada)132
Década de
constituição
Data de
constituição133
Data de
dissolução Nome da sociedade Ramo de atividade Localização (oficina/sede)
1910
01/07/1917 Desconhecida Garcia & Companhia Compra e venda de cabedais e fabrico de
calçado «em todas as qualidades» Vendas
1920
01/01/1922 Desconhecida Artur da Costa Bastos & Companhia, Limitada Comércio e indústria de calçado «em todos os
seus ramos» Quintã («provisoriamente»)
1920
01/01/1922 13/12/1927 Dias & Pinho Comércio e indústria de tamancaria Carquejido
1920
01/01/1923 08/01/1927 Silva, Gomes & Corrêa Indústria de calçado e comércio de todos os
artigos da mesma Carquejido
1920
02/01/1923 23/12/1927 Alves Leite, Limitada Comércio e indústria de chapéus e calçado,
«em todos os seus ramos» Casaldelo
1920 01/04/1926 Desconhecida
Pardal & Irmão/
Pardal, Limitada (10/1926)/ A. Pardal,
Limitada (1931)
Comércio e indústria de sapataria S. João da Madeira
1920
19/05/1926 19/08/1927 Cardeiros, Limitada Fabrico e venda de calçado Pedaço
1920
26/05/1926 28/04/1930 Cardeiros, Pinho & Companhia Fabrico e venda de calçado Ribeiros
1920
01/01/1927 Desconhecida Cardeiros & Companhia Fabrico e venda de calçado Pedaço
132
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-151. 133
Datas referidas como início da sociedade nas escrituras de constituição. Naturalmente, muitas destas serão apenas aproximadas.
56
Década de
constituição
Data de
constituição
Data de
dissolução Nome da sociedade Ramo de atividade Localização (oficina/sede)
1920
01/01/1927 20/01/1933 Gabriel Dias & Irmão134 Fabrico e venda de tamancaria Carquejido
1920
01/01/1927 19/06/1935 Gomes & Corrêa Indústria de calçado e comércio de todos os
artigos da mesma Carquejido
1920
01/01/1927 Desconhecida Manuel Martins & Companhia Comércio e indústria de sapataria Corgas
1920
20/01/1927 06/01/1937 Pinho, Tavares & Companhia, Limitada Fabrico e venda de calçado Rua do Calvário (Carquejido)
1920
10/02/1927 Desconhecida Alves Leite & Companhia Comércio e indústria manual de calçado Casaldelo
1920
13/06/1927 Desconhecida Fernandes & Martins Comércio e indústria de cabedais e calçado S. João da Madeira
1920
25/01/1928 15/01/1931 Costa & Corrêa Comércio e indústria de calçado, tamancos e
chancas Ribeiros
1920
01/01/1929 Desconhecida Santos Leite & Irmão Fabrico e venda de calçado Quintã
1930
15/02/1930 Desconhecida M. Tavares & Martins, Limitada Fabrico e venda «de toda a qualidade de
calçado» Travessas
1930
15/09/1930 Desconhecida Aliança Industrial de Calçado, Limitada Indústria de calçado e comércio de artigos da
mesma S. João da Madeira
134
Já em laboração em 1923 como oficina de tamancaria e «deposito de couros, carneiras, vernizes, taxas e outros artigos pertencentes a esta industria», com «vendas por
grosso e a retalho» (anúncio). Em O Regional, n.º 27, 1 de janeiro de 1923, p. 7.
57
Década de
constituição
Data de
constituição
Data de
dissolução Nome da sociedade Ramo de atividade Localização (oficina/sede)
1930
01/11/1930 22/01/1941 Pereira & Sá Fabrico e venda «de toda a qualidade de
calçado» Rua Dias Garcia
1930
01/01/1932 Desconhecida Sociedade de Calçado, Limitada Indústria de calçado e comércio de artigos da
mesma S. João da Madeira
1930
20/01/1932 Desconhecida Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/01/1934 Desconhecida José Martins & Companhia Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/03/1934 16/04/1934 Guilherme Paes Vieira & Santos Fabrico e venda de calçado Rua Jaime Afreixo
1930
15/03/1934 Desconhecida Dias, Brandão & Companhia, Limitada «Comércio e indústria de manufactura de
calçado de homem e de criança» S. João da Madeira
1930
1935 Desconhecida Guilherme Moreira & Companhia Fabrico manual de calçado, «podendo
explorar outra industria ou comercio» S. João da Madeira
1930
08/07/1935 Desconhecida Sociedade Industrial Sanjoanense, Limitada Indústria e comércio de calçado, brochas,
pincéis, vassouras e escovas S. João da Madeira
1930
01/01/1936 31/07/1937 Pardal & Santos, Limitada Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/02/1936 Desconhecida Vieira & Ferreira/Vieira, Ferreira &
Companhia (1941) Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/01/1937 29/05/1937 Álvaro Ferreira Tavares & Irmão Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/02/1937 Desconhecida Pinho, Tavares & Companhia, Limitada,
Sucessor Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
58
Década de
constituição
Data de
constituição
Data de
dissolução Nome da sociedade Ramo de atividade Localização (oficina/sede)
1930
08/10/1937 Desconhecida M. Simões & Silva Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/03/1938 Desconhecida Pinho & Nato, Limitada Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1930
01/01/1939 09/01/1941 Costa & Nato
Oficina de calçado, «podendo sêr explorado
qualquer outro ramo de comércio ou
indústria»
Rua Jaime Afreixo
1940
09/01/1941 Desconhecida A. Tavares Nato & Silva
Oficina de calçado, «podendo sêr explorado
qualquer outro ramo de comércio ou
indústria»
Pedaço
1940
15/01/1941 Desconhecida Nicolaus & Companhia Fabrico e venda de calçado Pedaço
1940
01/03/1941 Desconhecida J. Martins & Casal Fabrico e venda de calçado Rua Oliveira Júnior
1940
01/07/1941 Desconhecida Fábrica de Calçado Sagres, Limitada Fabrico e venda de calçado Rua Jaime Afreixo
1940
23/06/1942 Desconhecida Correia & Barbosa Fabrico e venda «de toda a qualidade de
calçado» Corgas
1940
03/01/1944 Desconhecida J. Pereira & Freitas, Limitada Fabrico e venda de calçado
S. João da Madeira
(«provisoriamente em
Santiago de Riba-Ul»)
1940
02/02/1948 31/08/1951 J. Pereira & Santos, Limitada Fabrico e venda de calçado S. João da Madeira
1940
17/05/1948 Desconhecida Costa, Amaral & Ribeiro «Indústria de sapataria, fabrico e comércio de
calçado»
Rua da Estação do Caminho
de Ferro
1940
13/07/1948 29/03/1950 J. Batista & Companhia, Limitada Indústria de calçado S. João da Madeira
59
Década de
constituição
Data de
constituição
Data de
dissolução Nome da sociedade Ramo de atividade Localização (oficina/sede)
1940
01/01/1949 Desconhecida Freitas & Pinheiro, Limitada Indústria de calçado S. João da Madeira
1940
19/02/1949 Desconhecida Vieira Araújo & Companhia, Limitada
Fábrica de chapéus (06/04/1929)
Indústria e comércio de chapéus, lápis,
calçado e camisas (1949)
Carquejido
1940
01/09/1949 Desconhecida Fábrica de Calçado Jomax, Limitada Fabrico e venda de calçado Quintã
1950
02/05/1950 Desconhecida Fábrica de Calçado Bellus, Limitada
Oficina de calçado, «podendo sêr explorado
qualquer outro ramo de comércio ou
indústria»
S. João da Madeira
1950
27/01/1951 1951 Costa & Vaz, Limitada
Oficina de calçado, «podendo sêr explorado
qualquer outro ramo de comércio ou
indústria»
S. João da Madeira
1950
01/01/1952 Desconhecida Vaz da Silva & Lima, Limitada Fabrico e venda de calçado Rua Jaime Afreixo
1950
12/03/1952 Desconhecida Costa Cardeiro & Correia Fabrico e venda de calçado S: João da Madeira
60
As restantes sociedades identificadas, mas das quais não foi obtida informação que
permita responder a um determinado número de caraterísticas analisadas, não integram esta
análise. Falamos assim de 81 sociedades sanjoanenses de calçado identificadas, no global,
neste período135
.
Entre o período de 1881 e 1920, apesar da busca exaustiva realizada, encontramos a
constituição de somente uma sociedade, em 1917. Falamos da Garcia & Companhia,
constituída em julho de 1917, dedicada à compra e venda de cabedais e fabrico de calçado136
.
Foi identificada também uma escritura de compromisso de abastecimento de matérias primas
para calçado, da João Narciso & Filho, fundada, de acordo com a escritura, em outubro de
1915, dedicando-se ao fabrico e comércio de calçado, localizada no lugar da Quintã137
, mas
cujo documento de constituição não foi encontrado em nenhum dos três fundos notariais
consultados e, deste modo, não temos dados suficientes para a incluir nesta análise. Os dados
presentes neste documento, que tem a mesma data da alegada constituição – outubro de 1915
- vão de encontro à informação recolhida em periódicos locais, que apontam a sua fundação
para o ano de 1915138
, indicando a existência da «João Narciso» em laboração no período da
Primeira Guerra Mundial139
.
Identificou-se ainda a existência da Dias & Irmão em 1914, através de uma escritura
de venda de propriedade140
, sociedade que se pensa ser a antecessora da Gabriel Dias &
Irmão ou de alguma forma a ela relacionada (um dos fundadores desta é outorgante na
referida escritura de venda), constituída em 1927 e dedicada à indústria e ao comércio de
tamancaria141
.
Sem dúvida que estas parcerias surgiram, sobretudo, a partir da década de 1920. Até lá,
suspeita-se de uma produção mais domiciliar, sem ideia, contudo, da sua real dimensão e
cujas parcerias de negócio, a existirem, teriam uma natureza informal.
135
Ver Apêndices – Quadro n.º 1B - Sociedades de calçado identificadas a laborar neste período (ausentes da
amostra analisada), pp. 105- 109. 136
Idem, Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, p. 113. 137
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 1837-52, ff. 39 verso
a 41. 138
A Defeza Local, n.º 10, 6 de junho de 1915, p. 2. 139
O Regional, n.º 939, 23 de junho de 1957, p. 6. 140
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 4.º ofício, doc. n.º 823-147, ff. 46 verso
a 48. 141
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, p. 120.
61
Relembramos que a análise feita é preliminar. Que a futura identificação das restantes
sociedades poderá alterar os resultados específicos deste trabalho. Esta análise, estatística
sobretudo, pretende mormente identificar as tendências na estruturação das parcerias
industriais ou industriais-comerciais sanjoanenses.
3.2.2. Ramo específico de atividade das sociedades142
Das 50 sociedades analisadas, verificamos que são diversos os ramos específicos de
atividade, constatação que confessamos inesperada. De todas as fontes anteriormente
consultadas nenhuma fez antever esta possibilidade, embora previsível num período de pouca
especialização industrial.
Apenas quatro por cento desta amostra dedica-se à indústria de calçado, (suspeitamos)
sem a comercialização da sua produção. As restantes sociedades dedicam-se a uma atividade
e/ou produção mistas, devido à sua pouca especialização, sem dúvida, decorrente dos seus
reduzidos capitais e da limitação do mercado interno, entre outros.
A grande maioria, na ordem dos 74 por cento, dedica-se ao fabrico e ao comércio de
calçado143
. Porém, encontramos, também, a produção de calçado e o comércio de artigos
relacionados com a mesma indústria (além da eventual venda do próprio calçado produzido),
correspondendo a seis por cento da amostra e o fabrico conjunto de calçado e de produtos de
natureza diversa, como chapelaria ou brochas, pincéis, vassouras e escovas ou ainda chapéus,
lápis e camisas. Identifica-se, além disso, uma sociedade dedicada ao comércio e à indústria
de cabedais e calçado, sem grande especificação e outra dedicada à compra e venda de
cabedais e à produção de calçado144
. Verificamos outra convergência de ramos no interior da
indústria de calçado, além da comercialização de peles: a indústria e comércio de calçado,
142
Isto é, o objeto social, referido nas escrituras de constituição das sociedades. Não podemos assegurar, de
momento, que todos os produtos referidos eram, de fato, produzidos, ou se eram mencionados apenas por
constituírem um objetivo futuro, não havendo assim, mais tarde, a necessidade de reformulação dos contratos. 143
Embora não seja referido nas escrituras, pensamos tratar-se de sapataria (ainda que apenas quatro casos o
refiram especificamente), tratando-se assim de 37 sociedades dedicadas à indústria e ao comércio de sapataria,
ou seja, 74 por cento da amostra. 144
Correspondendo, no entanto, na nossa perspetiva, à mesma atividade: de comércio de cabedais e fabrico de
calçado e não da produção e venda de ambos os artigos, no caso da primeira referência, sendo assim idêntica à
restante sociedade. Contudo, sem grande informação sobre o assunto, decidimos optar pela sua distinção em todo
o trabalho.
62
tamancos e chancas. Foram identificadas ainda duas sociedades dedicadas à indústria e
comércio de tamancaria145
. Sabemos, porém, que a Gabriel Dias & Irmão tinha «deposito de
couros, carneiras, vernizes, taxas e outros artigos pertencentes a esta industria». Tratava-se
assim, portanto, de fabrico de tamancaria e de comércio de artigos da mesma indústria146
.
As sociedades mistas, no que concerne ao tipo de atividade, ou seja, comerciais e
industriais, representam a quase totalidade da amostra (96 por cento). A produção de calçado,
com relação à tamancaria e as sociedades exclusivas de tamancaria representam seis por cento
da amostra. As que envolvem a comercialização (e eventual produção) de peles figuram em
quatro por cento, bem como as que relacionam a produção de calçado à chapelaria, indústria
importante na localidade sanjoanense. É uma possibilidade, a explorar de futuro, de que várias
sociedades estabelecidas da chapelaria quisessem alargar a sua produção ao calçado.
Analisamos duas dessas sociedades, a Alves Leite, Limitada e a (reformulada) Vieira Araújo
& Companhia, Limitada147
. Ainda, é por demais sabido também que a antiga empresa de
chapelaria onde se encontra instalado o Museu da Indústria de Chapelaria produziu a famosa
marca Sanjo (de sapatilhas).
Quadro n.º 1 – Ramo específico de atividade das sociedades
Ramo de atividade N.º de
casos
Frequências
relativas
Indústria e comércio de calçado148 37 74%
Indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria 3 6%
Indústria de calçado 2 4%
Indústria e comércio de tamancaria 2 4%
Compra e venda de cabedais e indústria de calçado 1 2%
Indústria e comércio de cabedais e calçado 1 2%
Indústria e comércio de calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas 1 2%
Indústria e comércio de calçado, tamancos e chancas 1 2%
Indústria e comércio de chapelaria e calçado 1 2%
Indústria e comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas 1 2%
TOTAL 50 100%
145
Referimos, por uma questão de comodidade, indústria e comércio, em vez da inversão de vocábulos, como,
com frequência, aparece na descrição da atividade destas sociedades, nas referidas escrituras de constituição.
Não temos, porém, de momento, como confirmar se isso é indicador de um maior peso da área comercial na
globalidade da laboração destas sociedades ou se se trata de um mero acaso. 146
O Regional, n.º 32, 11 de março de 1923, p. 4. 147
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 116, 147. 148
Como já referido, analisaremos em globo as atividades referidas de calçado e de sapataria.
63
A diversificação constatada parece iniciar um movimento de decrescimento (e maior
teria sido, certamente, sem o condicionamento industrial, a partir de inícios da década de
1930), mas mantém-se até começos da década de 1950, pelo menos, a conjugação da indústria
com a vertente comercial. Gabriel Dias da Silva, sócio fundador da Gabriel Dias & Irmão, em
1927, para fabrico e comércio de tamancaria e da Dias, Brandão & Companhia, Limitada, em
1934, para o fabrico e comércio de calçado de homem e criança149
, parece constituir um bom
exemplo desta diversificação, sabendo-se ainda que operava, também, na indústria e no
comércio de chapéus de feltro e de lã150
. Sem surpresas, verificou-se que a dispersão por
ramos de atividade é cada vez menor de década para década, tendendo a uma maior
especialização.
Constatamos que apenas uma das sociedades da amostra foi constituída no período
entre 1910 e 1920. Esta dedica-se à compra e venda de cabedais e ao fabrico de calçado.
No período entre 1920 e 1930 temos 16 sociedades, incluindo as duas únicas
identificadas para fabrico e comércio de tamancaria. Mais de metade destas dedica-se à
indústria e ao comércio de calçado, correspondendo a mais de 60 por cento da amostra. As
restantes dedicam-se à indústria de calçado e ao comércio de artigos da mesma indústria, à
indústria e ao comércio de chapelaria e calçado, à indústria e ao comércio de calçado,
tamancos e chancas e à indústria e ao comércio de cabedais e calçado.
Certifica-se assim, sem dúvida, o desenvolvimento desta indústria a partir dos anos 20
do século XX, no seguimento das oportunidades criadas pela Primeira Guerra Mundial, como
referido.
Na década de 1930 analisamos 17 sociedades. Mais de 80 por cento destas referem-se
à indústria e ao comércio de calçado. Das restantes três, duas dedicam-se à indústria de
calçado e ao comércio de artigos da mesma indústria e uma à indústria e ao comércio de
calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas.
São 12 as sociedades constituídas na década de 1940, correspondendo, a grande
maioria, à indústria e ao comércio de calçado. Juntamente com as sociedades dedicadas
exclusivamente ao fabrico deste produto correspondem já a quase 92 por cento da amostra, a
caminho, assim, de uma maior especialização.
149
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 120, 133. 150
O Regional, n.º 950, 24 de novembro de 1957, p. 3.
64
São duas as sociedades dedicadas exclusivamente à produção de calçado, sem a sua
comercialização (elemento que está ausente das respetivas escrituras de constituição).
Falamos da J. Batista & Companhia, Limitada, constituída em 1948 e da Freitas & Pinheiro,
Limitada, fundada no ano seguinte151
. Desconhecemos, todavia, se correspondem às primeiras
sociedades deste género na localidade. Dá-se então, também, a reconversão de uma sociedade
produtora de chapelaria – passa a dedicar-se à indústria e ao comércio de chapéus, lápis,
calçado e camisas. Trata-se da Vieira Araújo & Companhia, Limitada, restruturada em
fevereiro de 1949152
.
Na década de 1950, até finais de 1953, constituem-se ainda quatro sociedades
industriais e comerciais de calçado. Estamos já num período diferente em termos de
industrialização. A nível local, embora somente com dados referentes aos três primeiros anos
da década, percebe-se já a tendência para a especialização em apenas uma produção153
.
151
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 146-147. 152
Idem, p. 147. 153
Idem, pp. 149-151.
65
Quadro n.º 2 – Ramo específico de atividade por década
Ramo de atividade
N.º de
casos
Década
de 1910
Compra e venda de cabedais e fabrico de calçado 1
TOTAL 1
Década
de 1920
Indústria e comércio de calçado 10
Indústria e comércio de tamancaria 2
Indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria 1
Indústria e comércio de cabedais e calçado 1
Indústria e comércio de calçado, tamancos e chancas 1
Indústria e comércio de chapelaria e calçado 1
TOTAL 16
Década
de 1930
Indústria e comércio de calçado 14
Indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria 2
Indústria e comércio de calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas 1
TOTAL 17
Década
de 1940
Indústria e comércio de calçado 9
Indústria de calçado 2
TOTAL 11
Indústria e comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas 1
TOTAL 12
Até
1953
Indústria e comércio de calçado 4
TOTAL 4
Uma tese de licenciatura de 1960 fala-nos de 16 «fábricas de calçado» no ano de 1930,
o que vai de encontro aos nossos valores. Porém, suspeitamos que a autora poderá ter
introduzido um critério que não nos é permitido: a distinção entre pequena oficina e fábrica,
pois tratamos apenas, nesta análise, das sociedades a partir da sua documentação notarial,
desconhecendo a sua dimensão em termos de produção, mão de obra e, na grande maioria das
vezes, espacial. Mas consideramos improvável a ausência local, no período referido, de
oficinas domiciliares, muitas vezes com apenas um trabalhador, o que aumentaria os valores
apresentados. Reportar-se-ia então a investigadora a estabelecimentos de maior dimensão? E
66
quais os elementos considerados nessa distinção? Não o sabemos. Do mesmo modo, são
referidas quatro «fábricas de calçado» no ano de 1920154
.
3.2.3. Frequência de constituição das sociedades
O maior número de casos sucede no ano de 1927155
, seguido pelo ano de 1941, com
quatro ocorrências. A análise desta amostra parece indiciar a possibilidade de crescimento da
indústria nos primeiros anos da década de 1920 até 1927, decaindo depois abruptamente, nos
dois anos seguintes, aumentando novamente e estabilizando entre a criação de duas a três
sociedades nos seis anos seguintes, até 1937. Daqui decai novamente até 1941, um dos anos
com maiores ocorrências. Deste ano até 1948, o número de constituições de sociedade volta a
decrescer novamente. O ano de 1948 e o seguinte veem, por sua vez, constituir três
sociedades anualmente. Dá-se nova queda em inícios da década de 1950.
A constituição de sociedades parece ter sido consideravelmente instável. A esta
irregularidade não estará alheia, naturalmente, a conjuntura socioeconómica de cada período.
Diz-nos um periódico local, a este respeito, que, em 1938, o concelho de S. João da Madeira
estaria a atravessar uma extensa crise de trabalho. As fábricas de chapelaria, de calçado e
também da fundição, as mais importantes à época, dizem, estariam em regime de laboração
reduzida por falta de encomendas156
. Relata-nos outro periódico local que, em junho de 1940,
a Câmara Municipal e os sindicatos locais solicitaram ao Ministro das Obras Públicas e
Comunicações, que o autorizou, através do Comissariado do Desemprego, a distribuição de
uma sopa diária «aos operários sapateiros e chapeleiros desempregados»157
. «Sabemos que
comissões de operários sapateiros e chapeleiros [terão visitado] os industriais, comerciantes e
mais benfeitores, solicitando de todos um auxílio que permit[isse] prolongar a distribuição de
sopa […] enquanto dura[sse] a falta de trabalho […]»158
. Em agosto estariam a ser
154
GRAÇA, Marina de Carvalho – S. João da Madeira: Estudo geográfico deste aglomerado humano. Coimbra:
Universidade de Coimbra. Tese de licenciatura em ciências geográficas, 1960, p. 63. Até 1920, localizamos duas
sociedades, como referido. 155
Poderá passar para sete casos se se confirmar que o ano de constituição da Pinho, Tavares & Companhia,
Limitada corresponde ao ano da escritura, visto que não é referida a data de início da sociedade. Em Arquivo
Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Vale de Cambra, 3.º ofício, doc. n.º 701-30, ff. 24 a 25 verso. 156
O Regional, n.º 419, 13 de fevereiro de 1938, p. 3. 157
O Sanjoanense, n.º 13, 23 de junho de 1940, p. 1. 158
Idem, n.º 14, 7 de julho de 1940, p. 2.
67
distribuídas 200 sopas por dia, embora, diziam, «se a quantidade fosse aumentada para 800,
ainda [teriam ficado] muitos necessitados por atender»159
. Em 1941, um dos anos com maior
número de constituições de sociedade nesta amostra, é referida, logo em fevereiro, a
diminuição das sopas diárias «em virtude da melhoria verificada na situação económica do
concelho»160
.
Quadro n.º 3 – Frequência de constituição das sociedades
Ano de constituição N.º de casos
1917 1
1922 2
1923 2
1926 3
1927 6
1928 1
1929 1
1930 3
1932 2
1934 3
1935 2
1936 2
1937 3
1938 1
1939 1
1941 4
1942 1
1944 1
1948 3
1949 3
1950 1
1951 1
1952 2
TOTAL 49
159
O Sanjoanense, n.º 16, 4 de agosto de 1940, p. 2. 160
Idem, n.º 28, 2 de fevereiro de 1941, p. 1.
68
3.2.4. Natureza jurídica das sociedades
A maioria das sociedades é do tipo comercial em nome coletivo. Sendo comerciais
obedeciam, portanto, à regulação comercial e sendo estabelecidas em nome coletivo os
respetivos sócios teriam de responder pessoalmente, com todo o seu património, pelas dívidas
da sociedade, depois de esgotados os bens desta.
Verificamos a existência também da modalidade comercial por quotas de
responsabilidade limitada.
Quadro n.º 4 – Natureza jurídica das sociedades
Tipo de sociedade N.º de casos
Sociedade comercial em nome coletivo 28
Sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada 22
TOTAL 50
As sociedades comerciais por quotas de responsabilidade limitada parecem crescer em
valores relativos, do mesmo modo que as sociedades comerciais em nome coletivo parecem
decrescer, até inícios da década de 1950.
Até 1920 temos somente um caso analisado, como já referido. Trata-se de uma
sociedade comercial em nome coletivo.
Nos anos 20 do século XX, por seu lado, surgem ambas as modalidades legais,
mantendo-se, contudo, claramente prevalecente, o tipo comercial em nome coletivo.
Por sua vez, na década de 1930, o tipo comercial por quotas de responsabilidade
limitada disputava já a primazia com a habitual sociedade comercial em nome coletivo. Na
década seguinte, as duas modalidades igualam-se em número. Os valores da década de 1950
são reduzidos, mas parecem indicar uma preferência pela modalidade comercial por quotas de
responsabilidade limitada (verificada em três dos quatro casos trabalhados).
69
3.2.5. Número inicial de sócios e capitais
A esmagadora maioria das sociedades tem apenas dois sócios. Somente dez por cento
da amostra tem três ou mais sócios. Trata-se, neste caso, das sociedades Pinho, Tavares &
Companhia, Limitada (que se pensa constituída em 1927) e Silva, Gomes & Corrêa, ambas
com três sócios iniciais, na década de 1920; Aliança Industrial de Calçado, Limitada e
Guilherme Moreira & Companhia, ambas com quatro sócios, Dias, Brandão & Companhia,
Limitada, M. Tavares & Martins, Limitada e Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada, todas
estas com três sócios e todas fundadas na década de 1930; na década de 1940, as sociedades
Vieira Araújo & Companhia, Limitada, com oito sócios, Fábrica de Calçado Sagres,
Limitada, com cinco sócios, Costa, Amaral & Ribeiro e Nicolaus & Companhia, estas últimas
com três sócios. Por sua vez, a Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada admite novo sócio,
que parece já presente em março de 1935 (mas de cuja admissão não identificamos a
escritura), no momento da cessão de um dos sócios. A partir de janeiro de 1938, passa a ter
apenas dois sócios161
.
São só cinco as sociedades que fazem a admissão posterior de um sócio. Destas, duas
admissões dão-se no momento de cessão de um dos sócios, tratando-se assim de uma
substituição. Falamos da reformulada Pardal & Irmão (entretanto Pardal Limitada, com
escrituras de constituição e alteração do pacto social que distam de cerca de seis meses,
apenas), admitindo novo sócio, passando a ser três, bem como na Alves Leite, Limitada,
ambas na década de 1920; a Vieira & Ferreira que passa a Vieira, Ferreira & Companhia,
com a admissão de novo sócio, passando também a três sócios, esta na década de 1930. Ainda
nesta década, a Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada sofre a cessão de cada um dos seus
sócios iniciais, ficando, finalmente, na pertença de um novo sócio e a Sociedade Industrial
Sanjoanense, Limitada, fundada também na década de 1930, perde um dos seus dois sócios
iniciais por cessão de quota e, posteriormente, o único sócio cede a sua quota a um novo sócio
(já na década seguinte)162
.
As cessões de quota são, aliás, mais comuns. Encontramo-las em sete sociedades, num
total de onze cessões. As sociedades Aliança Industrial de Calçado, Limitada, com os seus
quatro sócios iniciais, sofre três cessões; Dias, Brandão & Companhia, Limitada, com os seus
161
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 115, 122, 127-
128, 130, 133-134, 141, 143, 146-147. 162
Idem, pp. 116-117, 130, 135-136.
70
três sócios iniciais, sofre uma cessão; José Martins & Companhia e Pinho & Nato, Limitada,
ambas com dois sócios iniciais, sofrem cada uma a cessão de um deles; ainda os casos
referidos da Sociedade Industrial Sanjoanense, Limitada, tendo esta sofrido duas cessões e da
Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada, que passa por três cessões163
.
Encontra-se grande dispersão entre os capitais sociais das sociedades, realizados
inicialmente. A média apresentada é de cerca de 113 mil e quinhentos escudos, mas a mediana
é de apenas 40 mil escudos, indicando que metade da amostra teve um capital social de início
inferior a este valor.
Verificamos ainda que dez por cento da amostra possui um capital social inicial
superior a 150 mil escudos e cinco por cento desta um capital superior a 200 mil escudos.
Vejamos ainda por década e por atividade.
Entre 1910 e 1920 encontramos apenas um caso nesta amostra, com um capital social
inicial de 4 mil escudos.
Apuramos grande dispersão na década de 1920, onde o capital social inicial mínimo
foi de 15 mil escudos e o máximo de 200 mil escudos. Metade da amostra teve um capital
inferior a 42 mil e quinhentos escudos (valor superior à mediana de todo o intervalo temporal,
de 40 mil escudos, como visto). A média, na ordem dos 64 mil escudos, torna-se inflacionada
pelos valores elevados de dez por cento da amostra, um capital social inicial superior a 165
mil escudos.
Na década de 1930 os valores de tendência central baixam todos consideravelmente. A
média encontra-se agora na ordem dos 47 mil escudos, com uma mediana de 20 mil escudos.
Temos uma descida de metade no que concerne à mediana, isto é, metade das sociedades
foram constituídas nesta década com um capital social inferior a 20 mil escudos. O valor
mínimo foi então de dez mil e quinhentos escudos e o máximo de 200 mil escudos (neste caso,
tal como na década anterior), mantendo-se assim o nível dos casos extremos.
Na década seguinte, os valores centrais voltam a subir. A média vai ser altamente
inflacionada por um capital social inicial máximo de 3 milhões de escudos, mas a mediana
revela também uma subida, tendo agora metade das sociedades constituídas um valor até 55
163
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 128, 130, 132-
133, 135, 139.
71
mil escudos. O capital social inicial mais baixo foi de dez mil escudos, não muito diferente
dos capitais sociais mínimos das décadas anteriores.
O número de sociedades constituídas nos anos 40 do século XX diminui: 12 casos por
oposição aos 17 da década de 1930 e aos 16 da década de 1920, mas a dispersão entre os
casos é crescente – na ordem dos 52 mil escudos na década de 1920, na ordem dos 54 mil
escudos na década de 1930, disparando na de 1940, com uma dispersão na ordem dos 850 mil
escudos, obviamente provocada pelo caso muito extremo de um capital social inicial de 3
milhões de escudos.
Relativamente à década de 1950, temos dados apenas até fim de 1953. São quatro as
sociedades criadas. Estas apresentam uma média e mediana de 45 mil escudos, com um
capital social inicial mínimo de 10 mil escudos e um valor máximo de 80 mil escudos.
Sem dúvida que existia grande diversidade em termos de dimensão inicial das
sociedades, no que toca ao capital social. Mas visto que existiam sociedades que não se
dedicavam exclusivamente ao fabrico ou ao fabrico e ao comércio de calçado, torna-se
impossível, pelo menos de momento, apresentar valores específicos relativamente ao calçado.
Verificaremos ainda a relação entre o capital social inicial destas sociedades e o seu
ramo específico de atividade.
A indústria e o comércio de calçado (tomado, relembramos, como sapataria na sua
totalidade, e, portanto, acrescentado aos casos que referem especificamente a sapataria)
apresenta, como já vimos, a grande maioria dos casos. Verifica-se, nestas ocorrências, um
capital inicial mínimo de dez mil escudos e um máximo de 150 mil escudos. Metade destas 37
sociedades iniciou a sua atividade com um capital social inferior a 40 mil escudos,
encontrando-se um desvio-padrão na ordem dos 38 mil escudos.
Na indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria, correspondendo a
três casos, encontramos grande diversidade. As sociedades apresentam um capital social
inicial mínimo de dez mil e quinhentos escudos e um máximo de 200 mil escudos.
São duas as sociedades dedicadas unicamente à indústria de calçado. Apuramos existir
grande distinção entre ambas, no que concerne ao capital social inicial, apresentando uma
delas a quantia de 20 mil escudos e a outra uma de 100 mil escudos.
72
A única sociedade dedicada à indústria e ao comércio de calçado, tamancos e chancas
apresenta um capital social inicial de 50 mil escudos. Panorama distinto apresentam as
sociedades de fabrico e comércio exclusivo de tamancaria. Enquanto uma das sociedades
apresenta um valor inferior, de 20 mil escudos, a restante sociedade tem como capital social
de início a quantia de 200 mil escudos.
Ainda as sociedades consagradas à indústria e ao comércio de chapelaria e de calçado,
à indústria e ao comércio de calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas e à indústria e ao
comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas, com apenas um caso cada, apresentam um
capital social inicial respetivo de 33 mil escudos, 40 mil escudos e três milhões de escudos.
Nos dois casos que combinam o calçado e as peles, uma das sociedades apresenta um
capital social inicial de 15 mil escudos (dedicada ao comércio e à indústria de cabedais e
calçado) e a restante de 4 mil escudos (consagrada à compra e venda de cabedais e ao fabrico
de calçado).
Verificamos, assim, que os valores mais baixos encontram-se nas duas sociedades
relacionadas com a indústria e o comércio de cabedais e calçado. Constatamos, também, que a
maior disparidade encontra-se nas sociedades dedicadas à indústria e ao comércio de
tamancaria (com um desvio-padrão superior a 127 mil escudos), seguida das sociedades da
indústria de calçado e de comércio de artigos da mesma indústria (com um desvio-padrão
superior a 98 mil escudos) e, por fim, das sociedades (somente) industriais de calçado (estas
apresentando um desvio-padrão na ordem dos 57 mil escudos).
Comparando o capital social de constituição das sociedades e o número inicial de
sócios não surgem surpresas: o aumento da média do capital acompanha a subida do número
de sócios, sendo superior a 45 mil escudos para dois sócios (a grande maioria das sociedades,
com 39 casos), na ordem dos 71 mil escudos para três sócios (sete casos) e no valor de 130
mil escudos para quatro sócios (dois casos). Para mais de cinco sócios temos dois casos com
uma média superior a um milhão e meio de escudos.
3.2.6. Distribuição do capital social inicial entre sócios
A distribuição do capital social é, maioritariamente, idêntica entre os sócios (o que não
será alheio o fato de a maioria ter apenas dois sócios e existir, assim, maior paridade).
73
Verificamo-lo em 30 dos 50 casos analisados. A distribuição distinta entre os sócios é, no
entanto, significativa, apresentando 19 casos.
Quadro n.º 5 - Distribuição do capital social inicial entre sócios
Distribuição do capital social inicial N.º de casos
Em partes iguais entre os sócios 30
Distribuição distinta 19
Pertence a apenas um dos sócios 1
TOTAL 50
74
Apesar da prevalecente paridade entre os sócios, no que diz respeito ao capital social
inicial, percebemos que não existiu considerável diferença, nas décadas de 1930 e de 1940,
entre esta modalidade e a de capital social distinto entre sócios, sobretudo na década de 1930,
sendo ligeiramente mais significativa, todavia, na década de 1920.
Quadro n.º 6 - Distribuição do capital social inicial entre sócios por década
Distribuição do capital social inicial
N.º de casos
Década
de 1910
Em partes iguais entre os sócios 1
TOTAL 1
Década
de 1920
Em partes iguais entre os sócios 9
Distribuição distinta 6
Pertence a apenas um dos sócios 1
TOTAL 16
Década
de 1930
Em partes iguais entre os sócios 9
Distribuição distinta 8
TOTAL 17
Década
de 1940
Em partes iguais entre os sócios 7
Distribuição distinta 5
TOTAL 12
Até
1953
Em partes iguais entre os sócios 4
TOTAL 4
75
A tendência parece ser de uma maior distinção entre as partes fornecidas pelos sócios,
no que diz respeito ao capital social, com o aumento do número de sócios.
Quadro n.º 7 - Distribuição do capital social inicial por número inicial de sócios
N.º inicial
de sócios Distribuição do capital social inicial N.º de casos
DOIS
SÓCIOS
Em partes iguais entre os sócios 28
Distribuição distinta 10
Pertence a apenas um dos sócios 1
TOTAL 39
TRÊS
SÓCIOS
Distribuição distinta 5
Em partes iguais entre os sócios 2
TOTAL 7
QUATRO
SÓCIOS
Distribuição distinta 2
TOTAL 2
MAIS DE
CINCO
SÓCIOS
Distribuição distinta 2
TOTAL 2
Verificamos que em 76 por cento das sociedades o capital social inicial é
integralmente realizado em dinheiro (em 38 dos 50 casos da amostra). Em 24 por cento das
sociedades o capital social inicial é constituído também por bens. Embora estes sejam, muitas
vezes, descritos nas escrituras de constituição de sociedade, na grande maioria dos casos não
lhes está atribuído, porém, um valor específico em escudos, que nos permita um maior
aprofundamento.
76
Quadro n.º 8 – Tipo de capital social inicial
Tipo de capital social inicial N.º de casos
Em dinheiro 38
Em dinheiro e bens 12
TOTAL 50
Parece existir uma tendência para realizar integralmente o capital social em dinheiro,
com o passar das décadas. Poderá indicar um verdadeiro aumento do número de oficinas por
oposição a uma transferência destas.
Quadro n.º 9 - Tipo de capital social inicial por década
Tipo de capital social inicial N.º de casos
Década
de 1910
Em dinheiro e bens 1
TOTAL 1
Década
de 1920
Em dinheiro 11
Em dinheiro e bens 5
TOTAL 16
Década
de 1930
Em dinheiro 12
Em dinheiro e bens 5
TOTAL 17
Década
de 1940
Em dinheiro 11
Em dinheiro e bens 1
TOTAL 12
Até
1953
Em dinheiro 4
TOTAL 4
Relativamente ao ramo específico de atividade, verificamos que a indústria de calçado
e de comércio de artigos da mesma indústria, a compra e venda de cabedais e o fabrico de
77
calçado, a indústria e o comércio de chapelaria e de calçado e a indústria e o comércio de
chapéus, lápis, calçado e camisas, bem como uma pequena parte das sociedades dedicadas à
indústria e ao comércio de calçado (seis em 37) entraram com capital misto, em dinheiro e
bens.
Constatamos também que grande parte das sociedades dedicadas à indústria e ao
comércio de calçado realizou o seu capital integralmente em dinheiro (31 dos 37 casos), bem
como as duas sociedades produtoras de calçado e as duas consagradas à indústria e ao
comércio de tamancaria. O mesmo fizeram as sociedades da indústria e do comércio de
cabedais e de calçado, da indústria e do comércio de calçado, de brochas, de pincéis, de
vassouras e de escovas e da indústria e do comércio de calçado, de tamancos e de chancas.
Quadro n.º 10 – Tipo de capital inicial por ramo específico de atividade
Ramo específico de atividade
Distribuição do
capital social
(inicial)
Em
dinheiro
Em
dinheiro
e bens
Indústria e comércio de calçado 31 6
Indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria 3
Indústria de calçado 2
Indústria e comércio de tamancaria 2
Compra e venda de cabedais e fabrico de calçado 1
Indústria e comércio de cabedais e calçado 1
Indústria e comércio de calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas 1
Indústria e comércio de calçado, tamancos e chancas 1
Indústria e comércio de chapelaria e calçado 1
Indústria e comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas 1
TOTAL 38 12
A esmagadora maioria das sociedades já tinha realizado o seu capital social no
momento da escritura. Excetuam-se quatro casos conhecidos (um caso na década de 1920 e
três na década de 1930), a que se acrescenta mais um do qual não dispomos de informação: as
sociedades Artur da Costa Bastos & Companhia, Limitada, na década de 1920; e Pinho &
Nato, Limitada, Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada e Aliança Industrial de Calçado,
78
Limitada, na década de 1930. Não dispomos de informação a este respeito sobre a Garcia &
Companhia, fundada em 1917164
.
Quadro n.º 11 - Realização integral do capital social no momento de constituição
Realização integral do capital social
no momento da escritura de constituição de sociedade
N.º de
casos
Sim 45
Não 4
Desconhecido 1
TOTAL 50
Apenas quatro das 50 sociedades analisadas (correspondendo a oito por cento da
amostra) realizaram, até 1953, um aumento do capital social inicial. Estes reforços estão
relacionados com a admissão de um sócio, em três dos quatro casos. Verificamo-lo nas
sociedades Alves Leite, Limitada, Vieira & Ferreira (que passa assim a Vieira, Ferreira &
Companhia), Pardal & Irmão (passando a Pardal Limitada). Excetua-se o caso da sociedade
Pinho, Tavares & Companhia, Limitada165
.
Estes aumentos corresponderam a uma quantia mínima de 27 mil escudos e a uma
máxima de 105 mil escudos, com uma média de 58 mil escudos.
3.2.7. Localização das indústrias
Dispomos apenas de dados específicos para um pouco mais de metade dos 50 casos
analisados, no que concerne à localização dos estabelecimentos analisados. A maioria das
escrituras de constituição de sociedade indica apenas S. João da Madeira como sede da
empresa, sem especificar a localização por lugar ou por rua do estabelecimento.
164
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-114, 128,
130, 139. 165
Idem, pp. 116-117, 122, 136.
79
Quadro n.º 12 – Localização das indústrias
Localização N.º de casos
S. João da Madeira (sem especificação) 21
Lugar do Carquejido 6
Lugar do Pedaço 4
Lugar da Quintã 4
Rua Jaime Afreixo 4
Lugar das Corgas166 2
Lugar de Casaldelo 2
Lugar dos Ribeiros 2
Rua da Estação do Caminho de Ferro 1
Rua Dias Garcia 1
Rua Oliveira Júnior 1
Travessas 1
Vendas 1
TOTAL 50
Verificamos que na década de 1920 é muito comum a referência ao lugar. Mais tarde,
com o desenvolvimento urbano de S. João da Madeira, é mais frequente não existir qualquer
menção além da sede da sociedade, nesta localidade, ou então já os nomes específicos das
ruas167
, como se expõe de seguida.
166
É referido, numa das escrituras da década de 1930, que o lugar das Corgas se tinha transformado na Rua
Oliveira Júnior (Em Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 116-
21, f. 41 verso). 167
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-151.
80
Quadro n.º 13 - Localização das indústrias por década
Localização
N.º de
casos
Década
de 1910
Lugar das Vendas 1
TOTAL 1
Década
de 1920
Lugar do Carquejido 5
Lugar de Casaldelo 2
Lugar do Pedaço 2
Lugar da Quintã 2
Lugar dos Ribeiros 2
S. João da Madeira (sem especificação) 2
Lugar das Corgas 1
TOTAL 16
Década
de 1930
S. João da Madeira (sem especificação) 12
Rua Jaime Afreixo 2
Lugar da Quintã 1
Lugar das Travessas 1
Rua Dias Garcia 1
TOTAL 17
Década
de 1940
S. João da Madeira (sem especificação) 4
Lugar do Pedaço 2
Lugar do Carquejido 1
Lugar das Corgas 1
Lugar da Quintã 1
Rua da Estação do Caminho de Ferro 1
Rua Jaime Afreixo 1
Rua Oliveira Júnior 1
TOTAL 12
Até
1953
S. João da Madeira (sem especificação) 3
Rua Jaime Afreixo 1
TOTAL 4
Constatamos que desconhecemos a localização mais precisa no caso das sociedades
dedicadas à indústria de calçado e ao comércio de artigos da mesma indústria, das duas
81
consagradas à indústria de calçado e das dedicadas à indústria e ao comércio de calçado, de
brochas, de pincéis, de vassouras e de escovas e, ainda, à indústria e ao comércio de cabedais
e de calçado, bem como cerca de 40 por cento das sociedades criadas para a indústria e o
comércio de calçado. Observamos, também, uma considerável dispersão geográfica entre
estas168
. O percurso inicial desta indústria – domiciliar e de laboração reduzida – insere-se
perfeitamente num cenário de afastamento entre produtores.
168
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-151.
82
Quadro n.º 14 - Localização das indústrias por ramo específico de atividade
Ramo específico de atividade Localização N.º de
casos
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
CALÇADO
S. João da Madeira (sem especificação) 15
Lugar do Pedaço 4
Lugar da Quintã 4
Rua Jaime Afreixo 4
Lugar das Corgas 2
Lugar do Carquejido 2
Lugar de Casaldelo 1
Lugar dos Ribeiros 1
Lugar das Travessas 1
Rua da Estação do Caminho de Ferro 1
Rua Dias Garcia 1
Rua Oliveira Júnior 1
TOTAL 37
INDÚSTRIA DE CALÇADO E
COMÉRCIO DE ARTIGOS DA
MESMA INDÚSTRIA
S. João da Madeira (sem especificação) 2
Lugar do Carquejido 1
TOTAL 3
INDÚSTRIA DE CALÇADO S. João da Madeira (sem especificação) 2
TOTAL 2
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
CALÇADO, BROCHAS, PINCÉIS,
VASSOURAS E ESCOVAS
S. João da Madeira (sem especificação) 1
TOTAL 1
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
CHAPELARIA E CALÇADO
Lugar de Casaldelo 1
TOTAL 1
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
CHAPÉUS, LÁPIS, CALÇADO E
CAMISAS
Lugar do Carquejido 1
TOTAL 1
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
CALÇADO, TAMANCOS E
CHANCAS
Lugar de Ribeiros 1
TOTAL 1
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
TAMANCARIA
Lugar do Carquejido 2
TOTAL 2
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE
CABEDAIS E CALÇADO
S. João da Madeira (sem especificação) 1
TOTAL 1
COMPRA E VENDA DE CABEDAIS E
INDÚSTRIA DO CALÇADO
Lugar das Vendas 1
TOTAL 1
83
3.2.8. Período em atividade
Só dispomos de informação precisa referente a 16 das 50 sociedades, no que diz
respeito ao período em laboração (informação obtida através das escrituras de dissolução de
sociedade). É provável que grande parte destas sociedades tenha continuado ativa após 1953.
Das sociedades presentes na amostra das quais temos dados concretos, verificamos
que o período mínimo de atividade foi de dois meses e o período máximo foi de dez anos e
dois meses. Metade destas 16 sociedades tem um período de funcionamento inferior a quatro
anos.
Não temos informação sobre a única sociedade analisada constituída entre 1910 e
1920, nem das criadas na década de 1950. Estas certamente continuaram ativas além de 1953.
Das 16 sociedades constituídas na década de 1920 dispomos de informação referente a
somente nove. Encontramos aí uma média de pouco mais de cinco anos, com metade delas a
funcionar menos de quatro anos. As nove sociedades apresentam um período mínimo de
laboração de um ano e três meses e um máximo de dez anos.
Na década de 1930 temos dados de apenas cinco das 17 sociedades constituídas. Estas
apresentam uma média de dois anos e meio de laboração, mas metade delas funcionou menos
de um ano e nove meses. Estas apresentam um tempo mínimo de atividade de dois meses e
um máximo de dez anos e dois meses.
Na década de 1940 dispomos de informação muito reduzida. Das 12 sociedades
analisadas nesse período apenas duas detêm informação definida sobre o período em
laboração, isto é, pelo menos duas dissolveram-se anteriormente a 1953. Uma apresenta a
duração de cerca de um ano e nove meses e a restante a duração de cerca de três anos e oito
meses.
Quanto às sociedades constituídas entre 1950 e 1953 parece que uma delas cessou a
atividade no mesmo ano de constituição. Trata-se da Costa & Vaz, Limitada169
.
É uma possibilidade que todas elas, as que não identificamos a respetiva escritura de
dissolução, ou uma grande parte, tenham continuado ativas após 1953. Dos 34 casos sem
escritura de dissolução identificada ou existente no período analisado, encontramos quatro
casos com alguma longevidade, sabendo que laboraram pelo menos uma média de 22 anos. A
Santos Leite & Irmão, constituída em 1929, faz parte da constituição, em 1946 e da
169
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, p. 149.
84
dissolução, em 1948, da Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada, tal como a A. Pardal, Limitada (resultado da reformulação da antiga Pardal &
Irmão, constituída em 1926). A Aliança Industrial de Calçado, Limitada, segundo as
Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial (grupo C), presentes no designado
Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de S. João da Madeira, mantinha-se em atividade
ainda em 1961, bem como a Vaz da Silva & Lima, Limitada, a laborar ainda, segundo a
mesma documentação, até 1970170
.
3.2.9. Existência de maquinaria
Apenas sete das sociedades analisadas, correspondendo a 14 por cento do total,
indicam a existência de maquinaria. Porém, as entradas integralmente em dinheiro, da maioria
das sociedades, não pressupõe que estas não pudessem adquiri-la posteriormente. De qualquer
modo, essa informação não foi encontrada em restantes escrituras, inclusive de dissolução. E
nas que apresentam essa informação é escassa a especificação, exceto no caso de uma
máquina de costura Singer, referida na escritura de dissolução da Pardal & Santos, Limitada,
em outubro de 1937171
. Esta anotação desmente a alegação de ser esta indústria totalmente
manual, como aponta uma das monografias locais172
. Mas é certo que os seus autores
poderiam ter em conta um tipo mais complexo de mecanização, envolvendo várias etapas do
processo de produção. Estes defendem, também, que a indústria do calçado teria mantido um
ritmo acelerado de crescimento devido ao pouco capital necessário a investir em maquinismo
e à fácil adaptação de qualquer casa em oficina, contrariamente à chapelaria, dizem173
.
Constatamos, de fato, que a grande maioria das sociedades analisadas possuía o seu
estabelecimento no mesmo lugar ou rua da residência de, pelo menos, um dos sócios
associados174
. Em 1922, uma publicação governamental defende o mesmo acerca da
170
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 117, 126, 128,
150. 171
Idem, p. 175. 172
MARTINS, Mário Resende; TEIXEIRA, José Fernando de Sousa; SILVA, Manuel Dias da, op. cit., pp. 102-
103. 173
MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO. REPARTIÇÃO TÉCNICA DO
TRABALHO. 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 126, 1924, p. 48. 174
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 113-151.
85
manutenção do sistema manual e do pouco investimento de capital necessário, como
favoráveis ao desenvolvimento da indústria do calçado175
.
Das 50 sociedades analisadas somente três indicam, nas suas escrituras de constituição,
que o seu processo de produção é manual. Referimo-nos às sociedades Alves Leite &
Companhia, constituída em 1927, Guilherme Moreira & Companhia, constituída em 1939 e
Dias, Brandão & Companhia, Limitada, constituída em 1934176
. Mas sabemo-lo como
verdadeiro para mais duas das sociedades analisadas: Silva, Gomes & Corrêa, que tinha
fabrico manual de calçado para homem, senhora e criança. A sua marca era «A Portuguêsa».
Esta sociedade detinha «armazem de sola e cabedais e fabrica manual de calçado»177
; e Artur
da Costa Bastos & Companhia, Limitada, a «La-Grand-Chic»178
.
Suspeita-se, todavia, com apoio nas diversas fontes que o defendem, que grande parte
destas seria inteiramente manual. Contudo, tomando como exemplo o caso da Alves Leite &
Companhia, que se apresenta como de fabrico manual, mas cujo capital social incluiu
«máquinas», leva-nos a colocar a possibilidade de muitas destas sociedades, senão todas, ter
algum tipo de maquinaria, como a comum máquina de costura.
175
MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO. REPARTIÇÃO TÉCNICA DO
TRABALHO. 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial, n.º 126, 1924, p. 48. 176
Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas, pp. 125, 133-134. 177
O Regional, n.º 32, 11 de março de 1923, p. 4. 178
Idem, n.º 27, 1 de janeiro de 1923, p. 7.
86
4. CONCLUSÃO
Este trabalho de pesquisa e organização de dados sobre a indústria sanjoanense de
calçado corresponde, como revelou-se na introdução, a uma tentativa de, por um lado,
confirmar (ou desmentir) alguma da memória coletiva sobre esta atividade e, por outro, de
avançar com algumas certezas, nomeadamente no que concerne ao período ou períodos-chave
de desenvolvimento do calçado na localidade.
Do ponto de vista documental, o percurso mostrou-se de infinita dispersão. Contudo, a
documentação notarial, em torno da constituição das sociedades, revelou-se muito profícua e
justificará um alargamento a outras tipologias que reconstituam e identifiquem os agentes
sociais envolvidos.
Conseguiu-se apontar para um friso cronológico. Não temos dúvidas que, para um
futuro projeto expositivo, este contributo ficou claro. Percebemos que um dos momentos
decisivos para esta indústria na localidade sanjoanense deu-se com a Primeira Guerra Mundial.
O conflito bélico terá paralisado muita da produção industrial dos países beligerantes e, deste
modo, a habitual concorrência exercida por estes terá diminuído drasticamente, nesse período,
criando oportunidades de negócio que alguns produtores locais souberam aproveitar. Até
então, é provável que grande parte da indústria fosse sobretudo domiciliar. Todavia, são
identificadas três fábricas em S. João da Madeira, a laborar no século XIX, com um número
de trabalhadores superior a cinco (critério utilizado no Inquérito Industrial de 1890, como
visto, para distinguir a designada pequena indústria dos estabelecimentos fabris),
desconhecendo-se, porém, se se encontravam em atividade no período analisado.
A década de 1920 abre outro capítulo na história das indústrias de calçado em S. João
da Madeira. Constituem-se parcerias entre produtores, fundando-se inúmeras sociedades
industriais e comerciais.
Identificamos também dois momentos que constituem, na nossa perspetiva, tentativas
de organização e regulação da indústria. Falamos da constituição da sociedade Cooperativa
dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada179
, que, em finais da década de
1940, envolveu um considerável número de sociedades de calçado e da constituição, em 1953,
179
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, ff. 88 a 100
verso e doc. n.º 2692-250, ff. 1 a 5.
87
do Grémio Nacional dos Industriais do Calçado. Ambas merecerão um estudo monográfico,
num futuro.
A exaustiva identificação da documentação notarial das sociedades sanjoanenses,
relativas a esta indústria, permitiu obter conhecimento de algumas das suas caraterísticas. Um
dos seus aspetos marcantes é a sua vertente comercial, que se prolonga, pelo menos, até
inícios da década de 1950, conjugando o fabrico e o comércio de calçado. Este fenómeno
poderá indicar dificuldades na articulação com os mercados exteriores à localidade,
traduzindo-se em dificuldades de escoamento, expectável em sociedades com menor
mobilidade.
É significativa também, se não mesmo dominante, a sua tendência para parcerias
duplas, tendo muitas destas sociedades continuado com um único sócio e a mesma firma
social perante o insucesso da mesma.
Verificamos a grande diversidade de produção em que se envolveram estas sociedades
industriais e comerciais, articulando a comercialização de matérias primas, como as peles, ou
a produção conjunta de vários artigos, como os de chapelaria. Este será um filão a explorar.
É também considerável a sua dispersão espacial. É provável que muitas delas tenham
continuado a sua atividade nos espaços onde se exercia a laboração mais singular. Contudo,
com o desenvolvimento urbano de S. João da Madeira, muitas deixam de referir a sua
localização específica, feita anteriormente, na sua maioria, por lugar.
A dispersão é significativa também no que toca aos capitais sociais destas sociedades.
O fato de a grande maioria realizar o capital social integralmente em dinheiro poderá indicar,
nomeadamente, que foram muitos os estreantes no negócio, pelo menos a partir da década de
1920. Pensa-se que muitos desses não eram, contudo, desconhecedores dos meandros dos
negócios do calçado. Seriam, certamente, comerciantes (como verificamos em alguns casos e
no compromisso assumido pela João Narciso & Filho, em 1915, como já referido),
estabelecendo uma espécie de sociedade de capital e indústria – mesmo que a sua designação
social fosse, frequentemente, a de nome coletivo – em que o sócio capitalista entrava com o
dinheiro e o sócio produtor com o seu saber e trabalho. Com o avançar do tempo constata-se
que a tendência para a realização do capital social integralmente em dinheiro intensifica-se.
Diverso é também o período de atividade destas parcerias. Visto que não foi possível
identificar a documentação referente à dissolução da generalidade das sociedades analisadas,
ousamos inferir que grande parte delas terá sido bem-sucedida e continuado além da data de
88
ruptura cronológica imposta para este trabalho. Quanto às sociedades sobre as quais detemos
informação, estas apresentam uma grande diversidade de casos. Todavia, imperam as
parcerias que não sobreviveram em média muito além dos quatro anos, mesmo que a empresa
(e a sua designação social) tenha continuado com um dos sócios.
Apesar da limitação dos dados, estes parecem apontar para uma indústria quase
exclusivamente manual, na sua grande maioria, pelo menos até inícios da década de 1950.
A continuação deste trabalho de compilação e análise de dados referentes às
sociedades sanjoanenses de calçado exigiria, nomeadamente, a mesma detalhada pesquisa da
documentação notarial, realizada em três fundos locais, nos documentos da mesma natureza
referentes a Vale de Cambra. Porém, muita da informação complementar só poderá vir dos
testemunhos orais da população trabalhadora e patronal desta indústria, recolha que tem sido
efetuada pelo Museu da Indústria de Chapelaria e continuará por longo tempo.
Importante, também, seria a triangulação futura das indústrias sanjoanenses de calçado
com as respetivas indústrias dos concelhos limítrofes de Oliveira de Azeméis e de Vila da
Feira. À partida, pelo que foi possível absorver da pesquisa dos fundos notariais destas
localidades, as freguesias de Cucujães e de Santiago de Riba d‟Ul, no que diz respeito a
Oliveira de Azeméis, e da Arrifana e de Escapães, no que concerne ao concelho de Vila da
Feira, constituíram, juntamente com S. João da Madeira, um tecido flexível e articulado no
que toca, sobretudo, à mão de obra.
Não podemos esquecer, contudo, que é conhecido o desenvolvimento da indústria
fabril da chapelaria sanjoanense a partir de finais do século XIX, prolongando-se, pelo menos,
até à década de 1930. A existir um desenvolvimento paralelo do calçado, nomeadamente da
sapataria, como parece verificar-se, será interessante compreender, com alguma profundidade,
a coabitação entre estas indústrias, averiguando uma possível transição de muitos dos
negócios da chapelaria para o fabrico de calçado e a possível (cor)relação entre
desaparecimento da indústria de chapelaria e crescimento da indústria do calçado em S. João
da Madeira.
Pouco se sabe também sobre a população trabalhadora desta indústria. O seu volume,
as suas condições de vida, a sua aprendizagem, tudo isso permanece, em grande parte,
desconhecido, não permitindo construir um fio condutor entre as informações dispersas.
89
Este desconhecimento é algo que procuraremos colmatar com trabalhos vindoiros. De
fato, muita da informação recolhida foi organizada em bases de dados, tendo em vista o seu
manuseamento e acrescento futuro.
Atualmente, em S. João da Madeira, continua fervilhante a indústria de calçado e de
componentes para calçado. A cidade é conhecida, aliás, como a «capital» desta indústria.
Deste modo, a relação entre passado e presente desta indústria exerce pressão na memória
coletiva, abrindo espaço, necessariamente, a uma reflexão sobre o posicionamento da
historiografia em contexto museológico, sobretudo local, onde as paixões identitárias poderão
demonstrar um fervor mais intenso.
A reduzida experiência de colaboração em montagem de exposição revelou, todavia,
algumas das pertinentes questões que se colocam na abordagem dos públicos, no tratamento
linguístico da informação, na exposição dos conteúdos e da sua apreensão, bem como no
trabalho de pesquisa e de composição historiográficas, como ainda nos discursos mudos que
acompanham a construção dessas narrativas. Considerou-se assim, sobretudo, o mediar. As
suas dificuldades e as suas necessidades.
5. FONTES E BIBLIOGRAFIA
5.1. Fontes
5.1.1. Fontes manuscritas
Arquivo Distrital de Aveiro (ADAVR)
Actos e Contratos - Fundo notarial de Oliveira de Azeméis (1881-1953)
Actos e Contratos – Fundo notarial de S. João da Madeira (1926-1953)
Actos e Contratos - Fundo de notarial de Vila da Feira (1881-1953)
Arquivo Histórico dos Paços da Cultura (S. João da Madeira)
Matriz Municipal para o Lançamento do Imposto de Prestação de Trabalho no ano de 1927
Recenseamento Militar aos 20 (1927)
Recenseamento Militar aos 20 (1929)
Recenseamento Eleitoral de 1945
Recenseamento Eleitoral de 1948
Arquivo Intermédio da C.M. S. João da Madeira
Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C
Serviço de Aferições – relação das entidades ou firmas que declaram estar isentas do
pagamento de contribuição industrial
Imposto de Prestação de Trabalho – (1948-1954)
Imposto de Prestação de Trabalho – (1958-1962)
5.1.2. Fontes impressas
5.1.2.1. Fontes estatísticas
Documentos sobre o Inquérito Industrial de 1881, Lisboa: Imprensa Nacional, 1881.
MINISTERIO DA FAZENDA. DIRECÇÃO GERAL DA ESTATISTICA E DOS
PROPRIOS NACIONAES - Anuario Estatistico de Portugal – [1900, 1903]. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1907.
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS. DIRECÇÃO GERAL DE ESTATÍSTICA –
REPARTIÇÃO CENTRAL - Anuário Estatístico de Portugal – Ano de [1917,1919].
Capítulo VII – Indústria. Capítulo VIII – Comércio e navegação. Capítulo IX – Vias de
comunicação; circulação e crédito. Capítulo X – Administração pública. Lisboa: Imprensa
Nacional, 1921-1922.
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO
GERAL DO COMÉRCIO E INDÚSTRIA - Inquerito Industrial de 1890. 5 vols. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1891.
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO
GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO DO TRABALHO
INDUSTRIAL. 3.ª CIRCUNSCRIÇÃO DOS SERVIÇOS TECHNICOS DA INDUSTRIA -
Boletim do Trabalho Industrial. Lisboa: Imprensa Nacional, 1907.
MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. REPARTIÇÃO
DE ESTATISTICA – Resumo do Inquerito Industrial de 1881. Lisboa: Imprensa Nacional,
1883.
MINISTÉRIO DO COMÉRCIO E COMUNICAÇÕES. DIRECÇÃO GERAL DAS
INDÚSTRIAS. 2.ª REPARTIÇÃO INDUSTRIAL – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho
Industrial. Lisboa: Imprensa Nacional, 1930.
MINISTÉRIO DO FOMENTO. DIRECÇÃO GERAL DO COMMERCIO E INDUSTRIA.
REPARTIÇÃO DO TRABALHO INDUSTRIAL - Boletim do Trabalho Industrial. Lisboa:
Imprensa Nacional [1910, 1912, 1917].
MINISTÉRIO DO TRABALHO. DIRECÇÃO GERAL DO TRABALHO. REPARTIÇÃO
TÉCNICA DO TRABALHO – 2.ª SECÇÃO - Boletim do Trabalho Industrial. Lisboa:
Imprensa Nacional, [1917, 1924].
REPARTIÇÃO DE ESTATISTICA. COMMISSÃO CENTRAL DIRECTORA DO
INQUERITO INDUSTRIAL – Inquerito Industrial de 1881. Inquerito indirecto. 3 vols.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1882.
5.1.2.2. Periódicos
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Simões, 1915-1916.
A Indústria do Calçado. [S.l : s.n.], 1940.
A sapataria portugueza: jornal profissional interessando a industria do calçado. N.º 1 (12 jan.
1890) - n.º 54 (17 jun. 1894). Lisboa: Associação Industrial dos Lojistas de Calçado, 1890-
1894.
Boletim do Industrial: boletim mensal de informação e defeza dos industriais e comerciantes
do país. N.º único (mai. 1936) – n.º 25/26 (mai.-jun. 1938). Porto: Agência do Industrial,
1936-1938.
Curtumes e Calçado. Número único (9 abr. 1941). Porto: Tipografia Of. Gráficas, 1941.
O Regional (1 jan. 1922- ). S. João da Madeira: Serafim Ferreira dos Santos, 1922- .
O Sanjoanense. N.º 1 (7 jan. 1940) – n.º 70 (9 fev. 1949). S. João da Madeira: Tipografia
Vouga, 1940-1949 .
O Sapateiro: órgão dos operários sapateiros e defensor das classes trabalhadoras. (27 ago.
1916). Porto: M. F. Passos, [19--] - .
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6. APÊNDICES
105
Quadro n.º 1B - Sociedades de calçado identificadas a laborar neste período (ausentes da amostra analisada)180
Nome da sociedade
Dados sobre laboração Localização Restante informação
A Bôa Nova, Limitada
Existente em 03/06/1946181
Em atividade em 1954 Rua da Fábrica Social
A. Gomes de Pinho & Companhia, Limitada
Existente em 03/06/1946
Cessou em 1951 Fontainhas
A. Leite Rezende & Companhia
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Alfredo Bastos & Companhia, Limitada
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Almeida & Silva Existente em 03/06/1946
Em atividade em 1951 Rua Jaime Afreixo
Em Junho de 1946, com apenas um
sócio - João de Almeida, industrial, de
S. João da Madeira
Alves & Companhia, Limitada
Em atividade em 1951 Casaldelo
Antunes & Castro
Cessou em 1951 Carquejido
180
Esta informação foi recolhida, maioritariamente, das Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial, presentes no designado Arquivo Intermédio da Câmara
Municipal de S. João da Madeira e/ou da escritura de constituição da Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, constituída no ano de
1946 e dissolvida em 1948, como já referido. São ainda conhecidas as empresas «Calçado Adónis», supostamente fundada em 1943, por António José de Almeida, no
lugar Travessas; «Calçado Armando Silva, Limitada», que terá sido constituída em 1946, por Armando Silva (em FERNANDES, M. Antonino, op. cit., p. 147), que
permaneceu em laboração até, pelo menos, 1970 (em C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C); a «Fábrica de Calçado Lider»,
que terá sido criada em 1951, no lugar das Travessas; a «Manuel de Almeida Jorge & Filhos, Limitada», que terá sido fundada em 1949, designada de «Calçado
Mariano» e a «Pinto de Oliveira, Irmãos», que terá sido constituída em 1937 e designada de «Calçado Pinto D‟Oliveira» (em FERNANDES, M. Antonino, op. cit., p.
148), 181
Aquando da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, como já mencionado.
106
Nome da sociedade
Dados sobre laboração Localização Restante informação
Barbosa & Simões
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Casal, Martins & Silva, Limitada
Existente em 03/06/1946
Em atividade em 1953
Rua Visconde de S. João
da Madeira
Corrêas, Limitada Em atividade em 1922/1923 S. João da Madeira
Fábrica manual de calçado e armazém
de sola e cabedais182
Trata-se da «antiga Casa Narciso»183
Costa Soares & Lima
Cessou em 1951 Rua Alão de Morais
Costas (Irmãos) & Companhia184
Fundada em 1942185
Em atividade em 1961 Rua Oliveira Júnior
Detentora da «Fábrica de Calçado
Zarco», fundada em 1942
Dias da Silva, Almeida & Companhia
Cessou em 1951 Espadanal
Dias & Rodrigues
Em atividade em 1923 S. João da Madeira Fabrico e comércio de calçado186
182
O Regional, n.º 2, 15 de janeiro de 1922, p. 4. Exportava já para as ilhas e África em inícios da década de 1920 (em idem, n.º 27, 1 de janeiro de 1923, p. 6). 183
Idem, n.º 45, 9 de setembro de 1923, p. 4. 184
A Costas Irmãos & Companhia, Limitada mantém-se ainda em laboração. 185
Segundo anúncio próprio, em O Regional, edição especial n.º 2123, de 31 de julho de 1985, p. 8. Pertenceu à sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do
Distrito de Aveiro, Limitada. Em Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 92 verso. 186
O seu anúncio, num periódico local, refere-se a «vendas por junto e a retalho. Calçado por medida e concertos» (em O Regional, n.º 27, 1 de janeiro de 1923, p. 7).
107
Nome da sociedade
Dados sobre laboração Localização Restante informação
Durval Santos & Companhia187
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Fábrica de Calçado Duro, Limitada
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Fábrica de Calçado Everest, Limitada
Existente em 03/06/1946
Supostamente fundada por
escritura de 19/10/1942, em
Oliveira de Azeméis188
Ainda em atividade
S. João da Madeira
Em 7 de novembro de 1942 – Os
sócios João Luís Ribeiro da Silva e
António Dias Ferreira fazem cessão das
suas quotas aos restantes, António
Joaquim Fernandes de Oliveira e João
Fernandes
Gomes da Costa & Irmão
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Guilherme Moreira & Tavares Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Em junho de 1946 - Guilherme
Moreira de Oliveira e Manuel Jorge
Tavares, ambos industriais, de S. João
da Madeira, são os únicos sócios
J. Almeida & Santos Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Em junho de 1946 - Joaquim de Pinho
Almeida e Armando Soares dos Santos,
ambos industriais, de S. João da
Madeira, «representam esta sociedade»
J. Gonçalves & Silva Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Em junho de 1946 - José da Costa
Gonçalves, industrial, de S. João da
Madeira, é o único proprietário
José Luís da Silva & Irmão
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
187
Durval Santos é, supostamente, filho de Pedro Soares dos Santos, fundador, por volta de 1910, da «Firmeza», como já referido. Em O Regional, edição especial n.º
2123, 31 de julho de 1985, p. 11. 188
Idem, n.º 544, 15 de novembro de 1942, p. 3. Não se encontrou, contudo, a dita escritura de constituição no fundo notarial referido, de Oliveira de Azeméis.
108
Nome da sociedade
Dados sobre laboração Localização Restante informação
Pereira & Reis Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Em junho de 1946 -
Germano José Pereira, industrial, de S.
João da Madeira, é o único proprietário
Salvador Gomes de Pinho & Irmão
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Silva & Gomes189
Em atividade em 1922 S. João da Madeira
Sílvio Dias & Companhia Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
Em junho de 1946 - Sílvio Dias,
industrial, de S. João da Madeira, é o
único sócio
Sociedade de Calçado Columbia, Limitada
Existente em 03/06/1946190
S. João da Madeira
189
Não é a antecessora da sociedade Silva, Gomes & Corrêa, constituída em 1923. Essa é a Gomes & Corrêa. Ver Apêndices - Apontamentos sobre as sociedades
sanjoanenses do calçado analisadas, p. 115. 190
M. Antonino Fernandes (op. cit., p. 148) diz que foi fundada em 1949. Não nos parece, contudo, que esta existisse informalmente quando inclui a sociedade
Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada em 1946.
109
Nome da sociedade
Dados sobre laboração Localização Restante informação
Sociedade Industrial de Calçado Dália, Limitada
Constituída em 1943191
Ainda em laboração
S. João da Madeira
Em agosto de 1951 - Armando Ferreira
Maia, industrial, residente e natural de
S. João da Madeira, filho de Manuel
Ferreira Maia e de Maria Rosa de
Jesus, cede a sua quota aos restantes
sócios, Romeu de Matos Mota,
industrial, natural da Arrifana, em Vila
da Feira e residente na freguesia de
Milheirós de Poiares, no mesmo
concelho, filho de Laurindo Mota e de
Alice Soares Mota e Luís Augusto de
Matos, também industrial, natural da
freguesia e concelho de Aljezur e
residente em Faro, filho de José João
Augusto Matos e de Maria Custódia
Matos 192
Tavares & Irmão193
Existente em 03/06/1946 S. João da Madeira
191
Numa escritura de cessão de quota desta sociedade é referida a data de 20 de março de 1943 como fundadora (em Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos,
Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2820-306, ff. 38 a 39 verso). Porém, a escritura de constituição de sociedade não se encontra na documentação notarial de S.
João da Madeira, de Oliveira de Azeméis, de Vila da Feira ou de Vale de Cambra (nesta, pelo menos na data referida de constituição), não incluindo assim a análise
efetuada. 192
Idem, ibidem. 193
É referida em monografia local como Tavares & Irmão, Limitada e terá sido criada em 1938. Terá sido designada de «Fábrica Nilo» (em FERNANDES, M.
Antonino, op. cit., p. 148) e fundada por Rufino Ferreira Tavares (filho), pelo seu irmão José Ferreira Tavares e pelos filhos do primeiro, José Ferreira Tavares
Sobrinho, Augusto Ferreira Tavares, Óscar de Pinho Tavares e César de Pinho Tavares (em O Regional, n.º 936, 12 de maio de 1957, p. 3). Terão sido dois dos filhos
de Rufino, José Tavares e Augusto Tavares, a fundar a «Fábrica de Calçado Arauto», em 1958 (em idem, edição especial n.º 2123, 31 de julho de 1985, p. 11). A
sociedade Álvaro Ferreira Tavares & Irmão tinha sido dissolvida em 1937, sociedade a que José Ferreira Tavares, sócio da Tavares & Irmão, Limitada tinha
pertencido (ficando aquela, entretanto, como propriedade exclusiva do restante sócio e seu irmão Álvaro) (em Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João
da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 141-46, ff. 32 a 33 verso).
110
Quadro n.º 2A – A indústria de sapataria no distrito do Porto em 1890
Legenda:
a) Sapatos de tranças
b) Incluindo uma costureira
c) Incluindo oito costureiras
d) Incluindo escarpinzeiros
e) Incluindo um formeiro (formas para calçado)
Fonte: MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA - Inquerito Industrial de 1890, vol. IV, 1891, pp. 423-551.
PORTO
CALÇADO - Sapataria
PESSOAL EXISTENTE
CALÇADO – Sapataria
Número de estabelecimentos,
oficinas ou
casas de trabalho Mestres e contramestres Operários + aprendizes
Unidade
fabril Pequena indústria Unidade
fabril
Pequena
indústria
Unidade
fabril
Pequena
indústria
Amarante 26 12 35+17
Baião
31
5
29+2
Bouças
24
12
33
Felgueiras
Gondomar
Lousada
26
12
26+3
Maia
8
4
14
Marco de
Canaveses 29
2
48+3
Paços de
Ferreira 6
10
Paredes
18
2
21+4
Porto 17 + 6 a) 612 + 45 a) + 1e) 19 + 3
a) b)
256 + 29
a) c)
133 + 16 + 6
a)
733 e) +
162 + 8
a)c)
Póvoa do
Varzim 7
5
7 + 1
Santo Tirso
15
7
18 + 4
Valongo
16
7
17 + 1
Vila do
Conde 1 25 1 7 4 + 2 27 + 2
V. N. Gaia 1+1 a) 87+127 a) 1+ 8 a) d) 40 6+ 8 a) d) 82 + 16 a)
d) + 20
TOTAIS 26 1103 32 400 175 1343
111
Quadro n.º 2B - A indústria nacional de sapataria em 1890 – Totais distritais (continente)
TOTAIS
DISTRITAIS
CALÇADO - Sapataria
Número de
estabelecimentos, oficinas
ou
casas de trabalho
Pessoal existente
Mestres e contramestres Operários + aprendizes
Unidade
fabril
Pequena
indústria
Unidade
fabril
Pequena
indústria
Unidade
fabril
Pequena
indústria
Lisboa 26 1456 29 385 238 1810
1482 414 2048
Porto 26 1102 32 400 175 1343
1128 432 1518
Beja 13 746 16 180 113 884
759 196 997
Guarda 2 745 2 135 12 908
747 137 920
Castelo Branco 2 677 2 72 18 746
679 74 764
Leiria - 524 - 31 - 551
524 31 551
Santarém - 514 3 113 21 618
514 116 639
Viseu 9 457 8 114 78 654
466 122 732
Portalegre 8 450 8 153 61 604
458 161 665
Évora 17 363 19 86 176 530
380 105 706
Faro 14 346 13 149 127 682
360 162 809
Coimbra 5 334 7 86 52 404
339 93 456
Braga 20 312 23 207 211 522
332 230 733
Bragança 1 312 1 49 8 344
313 50 352
Viana do Castelo 4 214 4 51 15 237
218 55 252
Vila Real 3 187 3 81 29 269
190 84 298
Aveiro 3 103 3 50 32 139
106 53 171
TOTAIS 153 8842 173 2342 1366 11245
Fonte: MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA - Inquerito Industrial de 1890, vols. III (pp. 3-33, 72-99, 139-193, 255-
275, 303-331, 375-413, 455-485, 525-563, 609-653, 709-741), IV (pp. 5-149, 364-391, 423-551) e V
(4-39, 80-107, 140-169, 202-247), 1891.
112
Quadro n.º 2C – A indústria de sapataria no distrito de Aveiro em 1890
AVEIRO
INDÚSTRIA DE SAPATARIA
NÚMERO DE
ESTABELECIMENTOS,
OFICINAS OU
CASAS DE TRABALHO
PESSOAL EXISTENTE
Unidade
fabril
Pequena
indústria
MESTRES E
CONTRAMESTRES
OPERÁRIOS +
APRENDIZES
Unidade
fabril
Pequena
indústria
Unidade
fabril
Pequena
indústria
Águeda 9 9 5+7
Albergaria-a-Velha
Anadia 2 2 1+1
Arouca 2 1 2
Aveiro 1 a) 19 1 13 17 b) 20+10
Castelo de Paiva 1 1
Estarreja 4 4
Feira 2 12 2 10 11+4 20+7
Ílhavo 9 2 8+2
Macieira de Cambra 6 2 4+2
Mealhada 20 7 20+4
Oliveira de Azeméis
Oliveira do Bairro
Ovar
Sever do Vouga 19 4 20+1
Vagos
TOTAIS 3 103 3 50 11+21 105+34
32 139
Legenda:
a) Oficina de formação em asilo
b) Todos aprendizes
Fonte: MINISTERIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA. DIRECÇÃO GERAL DO
COMMERCIO E INDUSTRIA - Inquerito Industrial de 1890, vol. III, 1891, pp. 3-47.
113
APONTAMENTOS SOBRE AS SOCIEDADES SANJOANENSES DO CALÇADO
ANALISADAS
Julho de 1917 - Garcia & Companhia
Constituída por escritura de 2 de julho de 1917, esta sociedade comercial em nome
coletivo, para a compra e venda de peles e fabrico de calçado «de todas as qualidades», teve
estabelecimento no lugar das Vendas. O seu capital social inicial foi de quatro mil escudos,
com quotas iguais entre os sócios, José Moreira Garcia, comerciante, morador na freguesia da
Arrifana, no concelho de Vila da Feira e Artur da Costa Bastos, industrial, de S. João da
Madeira. A quota do primeiro foi realizada em dinheiro corrente e a do segundo em dinheiro,
em máquinas e em peles194
.
Ambos os sócios ficaram nomeados administradores e gerentes. A cargo do sócio
Garcia ficou «a caixa e a escrituração». O sócio Bastos ficou encarregado da direção da
oficina e das «compras»195
. O período integral de laboração encontra-se, por enquanto,
desconhecido.
Artur da Costa Bastos irá co-fundar a Artur da Costa Bastos & Companhia, Limitada,
em 1922. Será, ainda, em 1930, um dos fundadores da Aliança Industrial de Calçado,
Limitada (saindo em 1932) e da Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada, em 1932 (que
abandona, por sua vez, em 1938)196
.
194
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 5.º ofício, doc. n.º 1367-310, ff. 18 verso
a 20. 195
Idem, ibidem. 196
Ver pp. 114, 128 e 130.
114
Janeiro de 1922 - Artur da Costa Bastos & Companhia, Limitada
Constituída, por escritura de 7 de fevereiro de 1922 e com início declarado em janeiro
do mesmo ano, entre Artur da Costa Bastos, do lugar da Quintã, em S. João da Madeira e
Armando Bernardino Guimarães, ambos «negociantes», este da cidade de Bragança e
residente no lugar de Casaldelo. Terá tido, provisoriamente, o seu estabelecimento no lugar da
Quintã. O seu objeto era o «comércio e indústria do calçado em todos os seus ramos». O
capital social inicial desta sociedade foi de 45 mil escudos e estava distribuído da seguinte
forma: 30 mil escudos de Artur da Costa Barros, concretizado em «fazendas e créditos
conforme o balanço dado em um de janeiro» e os restantes 15 mil escudos de Armando
Bernardino Guimarães, com apenas cinco mil escudos realizados e dez mil escudos a realizar
em lucros futuros. Estes seriam distribuídos numa relação de 66,6 por cento para o primeiro
sócio e 33,3 por cento para o segundo. Ambos terão sido administradores e gerentes, devendo
exclusividade à sociedade fundada. Ficou a cargo de Artur da Costa Bastos a «gerência das
oficinas, comprar e vender» e a cargo do restante o serviço de escritório «e o mais que
[pudesse] ser útil»197
. A sua produção era manual e a sua marca a «La-Grand-Chic». Tinha
filial na Rua Bento Carqueja, em Oliveira de Azeméis198
.
Desconhece-se, por agora, o período completo de atividade.
Janeiro de 1922 - Dias & Pinho
Constituída por escritura de 8 de setembro de 1927, mas com início asseverado a partir
de 1922, esta sociedade comercial em nome coletivo tinha como objeto o comércio e o fabrico
de tamancaria. O capital social foi de 20 mil escudos, integralmente realizado aquando da
escritura de constituição e distribuído da seguinte forma: cinco mil escudos de José Dias da
Silva e quinze mil escudos de Manuel Gomes de Pinho Júnior, ambos industriais e moradores
no lugar do Carquejido. A sua oficina localizava-se no mesmo lugar. A administração, a
197
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 4.º ofício, doc. n.º 900-224, ff. 23 verso
a 26 verso. 198
O Regional, n.º 27, 1 de janeiro de 1923, p. 7.
115
gerência e a representação ficaram a cargo de ambos os sócios, «de forma que ao socio Dias
fic[ou] a direcção da industria e ao socio Pinho a escrituração e caixa»199
.
Foi dada como dissolvida a partir de 13 de dezembro de 1927. O ativo e o passivo da
extinta sociedade ficaram a cargo exclusivo do ex-sócio Manuel Gomes de Pinho Júnior200
.
Manuel Gomes de Pinho Júnior será um dos sócios fundadores da Pinho, Tavares &
Companhia, Limitada, em 1927 e co-fundador da Pinho, Tavares & Companhia, Limitada,
Sucessor, dez anos mais tarde201
.
Janeiro de 1923 – Silva, Gomes & Corrêa
Constituída por escritura de 24 de janeiro de 1923, esta sociedade comercial em nome
coletivo teve como sócios António de Lima Corrêa, «guarda-livros», Firmino Gomes da Silva
e Quintino José da Silva, ambos industriais, este do lugar do Carquejido e aquele do lugar da
Quintã. Dedicou-se à indústria de calçado e ao comércio de todos os artigos da mesma.
Detinha um capital social de 150 mil escudos - 60 mil escudos de Quintino José da Silva,
igual quantia de Firmino Gomes da Silva e 30 mil escudos de António Lima Corrêa: sendo, a
dos dois primeiros, parcialmente em fazendas e o restante pertencente ao ativo da sociedade
Silva & Gomes, transferido agora para esta sociedade e a quota do terceiro era constituída por
fazendas no valor de dez mil escudos e o restante em dinheiro. Situava-se no lugar do
Carquejido. A gerência ficou a cargo de Quintino José da Silva. A administração do pessoal
ficou entregue a Firmino Gomes da Silva, bem como a aquisição de matérias primas. A cargo
de António de Lima Corrêa ficou a escrituração. Os lucros seriam distribuídos da seguinte
forma: 30 por cento para Quintino José da Silva, 50 por cento para Firmino Gomes da Silva e
199
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 6-6, ff. 4 a 6. 200
Idem, ff. 45 a 46. Por escritura de 20 de janeiro de 1927 é constituída a Pinho, Tavares & Companhia,
Limitada (em idem, Vale de Cambra, 3.º ofício, doc. n.º 701-30, ff. 24 a 25 verso), sendo um dos sócios
apelidado de Manuel Gomes de Pinho Júnior (incluindo-se na Pinho, Tavares & Companhia, Limitada, Sucessor,
em 1937 – em idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 140-45, ff. 11 verso a 14). Poderá não ser a mesma
pessoa visto que aparece referida primeiramente como casada e nesta última sociedade como solteira. 201
Ver pp. 122 e 138.
116
20 por cento para António de Lima Corrêa. As perdas seriam suportadas na mesma
proporção202
.
Dissolve-se por escritura de 8 de janeiro de 1927. O ativo e o passivo da dissolvida
sociedade ficaram a cargo dos ex-sócios Firmino Gomes da Silva e António de Lima
Corrêa203
. Estes vão constituir a Gomes & Corrêa204
.
Janeiro de 1923 - Alves Leite, Limitada
Constituída por escritura de 27 de abril de 1923, tendo início declarado em 2 de
janeiro do mesmo ano, teve como sócios Manuel Martins Alves Leite e Germano Martins
Alves Leite, ambos industriais, do lugar de Casaldelo. A oficina localizava-se no mesmo lugar.
Esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada dedicou-se ao comércio e à
indústria de chapéus e de calçado em todos os seus ramos, com o capital social de 33 mil
escudos (30 mil escudos de Manuel e 3 mil escudos de Germano, integralmente realizado,
sendo a quota do primeiro em dinheiro e em fazendas e a do segundo em dinheiro corrente). A
gerência ficou a cargo exclusivo do sócio Manuel, bem como o «uso da firma» e a escrita da
sociedade. À responsabilidade de Germano ficou o serviço «auxiliar de escritório, embalagem
dos produtos manufacturas e todo o mais que [pudesse] fazer». Os ganhos e as perdas terão
sido distribuídos do seguinte modo: 90 por cento para o primeiro e dez por cento para o
segundo («[…] depois de deduzidos cinco por cento para fundo de reserva legal e outros
cinco por cento para desvalorização de maquinas, moveis e utensílios até à sua cómpleta
amortização»). «Nenhum dos socios [podia] ter interferencia directa ou indirecta em outro
qualquer negocio ou industria alheio aos negocios da sociedade, sem autorização previa do
outro socio»205
.
Por escritura de 15 de janeiro de 1925, é admitido novo sócio - Francisco Soares Leite,
industrial, residente no lugar de Escarigo – e é aumentado o capital social para 90 mil escudos.
202
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 5.º ofício, doc. n.º 1449-392, ff. 31 verso
a 34. 203
Idem, ibidem. 204
Ver p. 121. 205
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 5.º ofício, doc. n.º 1453-396, ff. 49 verso
a 50 verso e doc. n.º 1454-397, ff. 1 a 2 verso.
117
«Resolveram aumentar a quota do segundo […] - que era de três mil escudos - para trinta mil
escudos, e admitir [como] sócio da mesma firma [Francisco Soares Leite], com igual quota de
trinta mil escudos». Este terá sido, como os restantes, gerente206
.
Foi dissolvida por escritura de 23 de dezembro de 1927, estando já o sócio Germano, à
época, emigrado em Sá da Bandeira (Angola), como empregado comercial. «Todos os valôres
[…] fica[ram a pertencer] aos sócios […] Manuel Martins Alves Leite e Francisco Soares
Leite»207
.
Manuel Martins Alves Leite irá co-fundar a Alves Leite & Companhia, em 1927208
.
Abril de 1926 - Pardal & Irmão/Pardal, Limitada/A. Pardal Limitada
Esta sociedade comercial em nome coletivo é constituída, por escritura de 1 de abril de
1926, entre Acácio Pinto Álvares Pardal e Carlos da Costa Lima, ambos comerciantes e
residentes em S. João da Madeira. O seu objeto era o comércio e a indústria da sapataria,
apresentando um capital social inicial de 40 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro
e fornecido por ambos os sócios em partes iguais. Um e outro terão sido «administradores e
gerentes»209
.
Por escritura de 13 de outubro de 1926, acrescentaram ao capital social a quantia de 60
mil escudos, com a entrada do novo sócio, Manuel Marques Lincho, também comerciante, de
S. João da Madeira. O capital social era então de 100 mil escudos, integralmente realizado em
dinheiro «[…] e dividido da seguinte forma: Acacio Pinto Alvares Pardal, trinta e quatro mil
escudos, Carlos da Costa Lima trinta e três mil escudos e Manuel Marques Lincho trinta e três
mil escudos». Ficaram todos nomeados gerentes e adoptaram uma nova modalidade jurídica –
passam de sociedade comercial em nome coletivo para sociedade comercial por quotas de
responsabilidade limitada. Abraçam também um novo nome: Pardal, Limitada210
. Alteraram
206
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 4.º ofício, doc. n.º 924-248, ff. 6 verso a
7 verso. 207
Idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 7-7, ff. 3 a 4. 208
Ver p. 125. 209
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 1-1, ff. 79 a 81. 210
Idem, doc. n.º 3-3, ff. 4 a 6 verso.
118
novamente, no entanto, a designação social para A. Pardal, Limitada, por escritura de 12 de
Fevereiro de 1932 «[…] por existir outra firma igual a Pardal Limitada»211
. Em 26 de abril de
1934, ambos Acácio Pinto Álvares Pardal e Carlos da Costa Lima cessam as suas quotas a
Manuel Marques Lincho212
.
Em 1946, aquando da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de
Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, de que faz parte esta sociedade, Manuel Marques
Lincho Júnior declara ser o seu único sócio e proprietário213
.
Acácio Pinto Álvares Pardal co-fundará, em 1936, a Pardal & Santos, Limitada214
.
Maio de 1926 – Cardeiros, Limitada
Constituída por escritura de 19 de maio de 1926, esta sociedade comercial por quotas
de responsabilidade limitada teve o seu estabelecimento no lugar do Pedaço. Foi fundada por
António da Costa Cardeiro, proprietário, residente no lugar dos Ribeiros e Domingos Luís da
Costa Cardeiro, industrial, do mesmo lugar. A sociedade para fabrico e venda de calçado
contou com um capital social de 70 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro e
correspondente às quotas de 35 mil escudos de cada um dos sócios. Ambos ficaram
responsáveis pela administração, gerência e representação da sociedade215
.
Dissolve-se por escritura de 19 de agosto de 1927. «Todos os valôres com os seus
correspondentes efeitos comerciais da dissolvida sociedade [foram] adjudicados e fica[ram a
pertencer] exclusivamente ao ex-socio Antonio da Costa Cardeiro», bem como [o] passivo216
.
211
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 113-18, ff. 38 verso a
39 verso. 212
Idem, doc. n.º 126-31, ff. 37 verso a 38. 213
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 89 verso. 214
Ver p. 135. 215
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 1-1, ff. 92 verso a 95. 216
Idem, doc. n.º 5-5, ff. 31 a 32.
119
Registo, sem efeito, de uma nova Cardeiros, Limitada, em 22 de agosto de 1927,
ainda de António da Costa Cardeiro e agora, também, de Casimiro Gomes Correia, residente
na freguesia da Arrifana, no concelho de Vila da Feira, de António Ferreira da Silva, morador
no lugar do Pedaço e de Luís Pinto da Rocha Nascimento Azevedo Coutinho, residente no
lugar das Vendas. Teria tido sede social em S. João da Madeira e escritório no lugar do
Pedaço, para fabrico e venda de calçado, com um capital social de 115 mil escudos217
.
António da Costa Cardeiro vai co-fundar a Cardeiros & Companhia, em 1927218
.
Maio de 1926 - Cardeiros, Pinho & Companhia
Constituída em 26 de maio de 1926, esta sociedade comercial em nome coletivo foi
fundada por António Luís da Costa Cardeiro219
, filho de Domingos Luís da Costa Cardeiro
(ex-sócio da dissoluta Cardeiros, Limitada) e José Gomes de Pinho Calhau, comerciante,
ambos residentes no lugar do Pedaço. Com estabelecimento no lugar de Ribeiros, o seu objeto
era a «exploração do fabrico e venda do calçado», com um capital social de 40 mil escudos,
integralmente realizado em dinheiro e fornecido por ambos os sócios em partes iguais. «A
administração e gerencia de todos os negocios sociais e a sua representação [ficaram] a cargo
dos dois socios que [terão dividido] entre si o serviço como melhor entende[ram]»220
.
Foi dissolvida em 28 de abril de 1930, ficando o ativo e o passivo da cessada
sociedade a cargo de António, que fica autorizado a continuar a firma social «com o
aditamento de Sucessor»221
.
António Luís da Costa Cardeiro irá co-fundar, em 1939, a Costa & Nato e, em 1941, a
A. Tavares Nato & Silva222
.
217
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 5-5, ff. 34 a 37. 218
Ver p. 124. 219
Terá iniciado o seu percurso profissional com uma tamancaria, no lugar do Carquejido. Em Costa, Levi
Moreira da – Memórias de tempos idos (subsídio para a história de S. João da Madeira e da sua região. 2.ª
edição. Cucujães: Escola Tipográfica das Missões, 1997, p. 110. 220
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 2-2, ff. 1 a 3. 221
Idem, doc. n.º 16-16, ff. 12 a 13.
120
José Gomes de Pinho Calhau será um dos sócios fundadores da Sociedade Industrial
Sanjoanense, Limitada, em 1935223
. Terá tido uma fábrica de calçado para homem, senhora e
criança, com as marcas «Bem-Fica» e «Sportex», a laborar, pelo menos, desde 1954. Este
industrial era também sócio da J. Calhau & Filho, dedicada à produção de guarda-sóis e
«sombrinhas» e detentora da marca «A Vencedora»224
. Foi também o fundador da marca
«Herói» e sócio principal da firma Pinho & Teixeira, com sede no Porto, para fabricação de
calçado de mulher225
.
Janeiro de 1927 – Gabriel Dias & Irmão
Com início em 1 de janeiro de 1927 e escritura de 18 do mesmo mês, esta sociedade
comercial em nome coletivo foi constituída por Gabriel Dias da Silva e Arnaldo Dias da Silva,
ambos industriais, residentes no lugar do Carquejido, para a «indústria e comércio do fabrico
e venda de tamancaria».
Com estabelecimento comercial e fabril no mesmo lugar, tinha um capital social de
200 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro e fornecido pelos dois sócios em partes
iguais. «A administração e gerencia de todos os negocios sociais [terão sido] exercidos pelos
dois socios, de maneira que a cargo do socio Gabriel fi[caram] todos os assuntos referentes ao
escritorio [tendo] assim tudo que diga respeito a compras, e a cargo do socio Arnaldo a
administração do estabelecimento e tudo quanto di[ssesse] respeito a vendas, podendo no
entanto entre si dividir por qualquer outra fórma o serviço como melhor entende[ss]em»226
.
É dissolvida por escritura de 20 de janeiro de 1933. Todo o ativo da sociedade - 200
mil escudos - ficou a pertencer exclusivamente a Arnaldo Dias da Silva, também responsável
por todo o passivo. A sociedade tinha adquirido, em 19 de janeiro de 1927, um terreno no
222
Ver p. 140. 223
Ver p. 135. 224
O Regional, n.º 880, 25 de julho de 1954, p. 9. 225
Idem, n.º 599, 1 de janeiro de 1945, p. 5. 226
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 4-4, ff. 1 a 3.
121
lugar do Carquejido. Metade deste, pertencente a Gabriel e à sua consorte, é vendido a
Arnaldo com todas as suas pertenças, pelo preço de dois mil escudos227
.
Gabriel Dias da Silva será um dos sócios fundadores da Dias, Brandão & Companhia,
Limitada, em 1934228
.
Janeiro de 1927 - Gomes & Corrêa
Constituída por escritura de 8 de janeiro de 1927 (após a dissolvência da Silva Gomes
& Corrêa, com escritura do dia anterior), esta sociedade comercial em nome coletivo é
fundada por António de Lima Corrêa, industrial, morador na Rua Visconde de S. João da
Madeira e por Firmino Gomes da Silva, também industrial, morador na Avenida Vista Alegre.
Consagrada à indústria de calçado e ao comércio de todos os artigos da mesma, no lugar do
Carquejido, teve um capital social de 120 mil escudos, fornecido pelos dois sócios em partes
iguais, realizado em fazendas e com uma parte do ativo da extinta firma Silva, Gomes &
Corrêa. A gerência ficou entregue a António de Lima Corrêa. «A cargo do socio Firmino
Gomes da Silva fic[ou] a Administração de todo o pessoal, podendo [...] admitir ou demitir
qualquer operário que não cumpra com os seus deveres para com a sociedade ou para com
qualquer dos sócios em particular». «A aquisição de todas as materias primas, ser[ia] feita
pelo socio Firmino Gomes da Silva, podendo tambem o socio Lima Corrêa efectuar qualquer
compra em comum acordo com este»229
.
Dissolvida em 19 de junho de 1935, «[…] o activo e o passivo da sociedade, fic[aram
a pertencer] ao ex-sócio Firmino Gomes da Silva, por cedencia e venda [destes] pelo ex-socio
Antonio de Lima Corrêa. Firmino Gomes da Silva declara ter recebido […] todos os valores e
bens da dissolvida sociedade, incluindo o prédio onde se encontrava a séde social, e que [era]
constituido por casas [...] térreas, sito na Rua Alão de Morais». «Firmino exonera o seu ex-
socio Corrêa, das responsabilidades que havia assumido como depositário dos haveres sociais,
227
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 122-27, ff. 46 verso a
48 verso. 228
Ver p. 133. 229
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 3-3, ff. 45 a 48.
122
arrolados por mandato do Juiz de Direito d[aquela] comarca. No entretanto [...] o ex-socio
Lima Corrêa fic[ou] ainda com as seguintes responsabilidades: se aparece[sse] qualquer
crédor da extinta firma a receber uma importancia que já lhe [estivesse] debitada por Caixa,
sem lhe ter sido paga, fica[ria] o referido ex-socio Lima Corrêa, obrigado ao seu pagamento,
bem como ao pagamento de todos aqueles créditos que, não consta[vam] das listas que […]
foram entregues [ou viessem] a aparecer». «O crédito pedido pelo interessado da dissolvida
sociedade, Antonio da Costa, em acção que corr[ia] no juizo d[aquela] comarca [...], [ficaria
da] inteira e unica responsabilidade do cessionário Firmino Gomes da Silva». «Todas as
demais responsabilidades que […] não [tivessem sido] expressamente impostas ao ex-socio
Lima Corrêa, fica[riam a pertencer] exclusivamente ao ex-socio Firmino Gomes da Silva».
«Afirmam os referidos dois [sócios] terem cessado entre si todas as hostilidades e
divergências existentes», estabelecendo o pagamento respeitante aos processos a decorrer,
relativos a esta dissolvência. António de Lima Corrêa declarou que tinha recebido de Firmino
a quantia de 69 mil e 500 escudos, preço pelo qual lhe fez a cessão e a venda de tudo a que
tinha direito na sociedade (compreendendo a sua quota, os lucros, os suprimentos e a sua
parte no imóvel da sociedade). Proíbem-se mutuamente o uso da firma social230
.
Cremos que António de Lima Correia manteve a produção de calçado até 1951, pelo
menos, com a «A. L. Correia», no lugar da Quintã231
.
Janeiro de 1927 - Pinho, Tavares & Companhia, Limitada
Esta sociedade foi fundada, por escritura de 20 de janeiro de 1927, entre José Gomes
de Pinho Júnior, morador no lugar do Carquejido, Rufino Ferreira Tavares, morador no lugar
das Corgas e Manuel Gomes de Pinho Júnior, morador no «antigo logar do Carquejido, hoje
rua do Calvario», onde se localizava a oficina. Todos declararam-se industriais, no momento
da constituição. Para o fabrico e venda de calçado, esta sociedade comercial por quotas de
responsabilidade limitada apresentou um capital social de 45 mil escudos, integralmente
230
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 132-37, ff. 25 a 28. 231
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C.
123
realizado em dinheiro – uma quota de 40 mil escudos de José Gomes de Pinho Júnior e duas
quotas de dois mil e quinhentos escudos dos restantes sócios. A gerência, a administração
técnica e a «escrita» ficaram a cargo exclusivo de Rufino Ferreira Tavares e de Manuel
Gomes de Pinho Júnior, tendo, porém, o sócio José Gomes de Pinho Júnior o direito à
fiscalização desta. Os lucros são repartidos na proporção de 50 por cento «em partes eguaes
[pelos] dois socios Rufino Ferreira Tavares e Manuel Gomes de Pinho Júnior como
gratificação pelos serviços de gerencia e administração, e os outros cincoenta por cento serão
distribuidos pelos tres socios e na proporção das respectivas quotas»232
.
Em 13 de fevereiro de 1933, recebe um reforço de capital na ordem dos 105 mil
escudos. «A referida importancia do reforço foi subscrita pela forma seguinte: dés mil
escudos pelo socio José Gomes de Pinho Júnior, que, com os quarenta mil escudos com que
entrou […], fi[cou entretanto com] cinquenta mil escudos; Quarenta e sete mil e quinhentos
escudos pelo sócio Rufino Ferreira Tavares, que, com os dois mil e quinhentos escudos com
que tinha entrado na sociedade, fi[cou então] com a cota de cinquenta mil escudos; Quarenta e
sete mil e quinhentos escudos pelo socio Manuel Gomes de Pinho Júnior, que, com os dois
mil e quinhentos escudos com que tinha entrado para a sociedade, fic[ou finalmente] com a
cota de cinquenta mil escudos»233
.
Esta sociedade dissolve-se em 6 de janeiro de 1937, com escritura respetiva de 26 do
mesmo mês. Todo o ativo e passivo ficou na pertença exclusiva de Manuel Gomes de Pinho
Júnior. Este entregou a Rufino Ferreira Tavares a quantia de 20 mil escudos em dinheiro e o
restante em letras, com prazos trimestrais. Manuel ficou com o direito de manter o nome da
firma, acrescentando-lhe a designação «Sucessor»234
.
232
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Vale de Cambra, 3.º ofício, doc. n.º 701-30, ff. 24 a 25 verso. 233
Idem, ibidem. 234
Idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 140-45, ff. 6 verso a 8 verso. Teria saído e cessado a sua quota,
entretanto, o sócio José Gomes de Pinho Júnior? Não encontramos essa documentação nos fundos notariais
explorados.
124
Janeiro de 1927 - Manuel Martins & Companhia
Constituída por escritura de 17 de maio de 1927, mas com início de laboração em 1 de
janeiro do mesmo ano, foi fundada por Manuel Martins, morador no lugar das Corgas e José
Leite Brandão, residente no lugar da Quintã. Ambos apresentam-se como industriais. Esta
sociedade comercial em nome coletivo tinha estabelecimento no lugar das Corgas, para o
comércio e a indústria da sapataria, com um capital social de 25 mil escudos, integralmente
realizado em dinheiro, em partes iguais pelos dois sócios. «A administração e [a] gerencia de
todos os negocios sociais e a sua representação em juizo e fóra dele activa ou passivamente
fica[ram] a cargo dos dois socios que [terão dividido] entre si o serviço como melhor
entender[am]»235
.
Desconhece-se o período integral de laboração.
Manuel Martins será um dos sócios fundadores da Aliança Industrial de Calçado,
Limitada, em 1930 e da Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada, em 1932236
.
José Leite Brandão será um dos sócios fundadores da Dias, Brandão & Companhia,
Limitada, em 1934237
.
Janeiro de 1927 - Cardeiros & Companhia
António da Costa Cardeiro constituiu, por escritura de 24 de agosto de 1927, com
início oficial desde 1 de janeiro desse mesmo ano, uma sociedade com a sua mulher, Júlia
Mota da Costa Cardeiro, proprietária, ambos do lugar de Ribeiros. Esta sociedade comercial
em nome coletivo, para fabrico e comércio de calçado, localizada no Pedaço, tinha um capital
social de 100 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro, constituindo 85 mil escudos a
quota do marido e o restante do cônjuge. «A administração e [a] gerencia de todos os
negocios sociais e a sua representação em juizo e fóra dele [...] activa e passivamente s[eriam]
235
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 4-4, ff. 42 a 44. 236
Ver pp. 128 e 130. 237
Ver p. 133.
125
exercidos pelo socio Antonio da Costa Cardeiro, que [ficou] nomeado gerente».« Ao gerente
compet[ia] admitir ou demitir pessoal, fixando-lhes ordenados ou percentagens»238
.
Desconhecemos o seu período integral de atividade.
Fevereiro de 1927 – Alves Leite & Companhia
Constituída por escritura de 26 de agosto de 1927, com início declarado em fevereiro
do mesmo ano, esta sociedade comercial em nome coletivo, para comércio e indústria manual
de calçado, no lugar de Casaldelo, teve como sócios Casimiro Pereira e Manuel Martins Alves
Leite, ambos industriais, residentes no mesmo lugar. O capital social inicial de 26 mil e 500
escudos, integralmente realizado em dinheiro, fazendas, máquinas, móveis e utensílios,
pertencia exclusivamente a Alves Leite. Este será o gerente comercial e Casimiro o gerente
técnico. Ambos podiam fazer «uso da firma» (apenas em assuntos da sociedade). A divisão
dos lucros iniciais foi estipulada do seguinte modo: 75 por cento para Alves Leite e 25 por
cento para Pereira. «Aumentando-se passar[iam] a sêr»: 66,67 [por cento] para Alves Leite;
33,33 [por cento] para Pereira». Este «não [podia] ter interferência directa ou indirectamente
em outro qualquer negocio ou industria […] sem autorisação previa do outro socio,
obrigando-se a empregar a sua actividade exclusivamente nos negócios que diz[iam] respeito
a esta sociedade e no córte da pelaria para a fabricação de calçado»239
.
O período integral de laboração encontra-se, por ora, desconhecido. Não faz parte,
contudo, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de
Aveiro, Limitada, em 1946.
Junho de 1927 - Fernandes & Martins
Constituída, por escritura de 13 de junho de 1927, para comércio e indústria de
cabedais e de calçado, pertenceu a Augusto de Almeida Fernandes, empregado comercial,
238
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 5-5, ff. 42 a 43 verso. 239
Idem, ff. 48 a 50.
126
residente na Rua Dias Garcia e a Leonel Martins Pereira da Silva, comerciante, residente na
Rua Padre Oliveira. Esta sociedade comercial em nome coletivo tinha um capital social inicial
de 15 mil escudos, integralmente realizado e fornecido em partes iguais pelos sócios. Ambos
ficaram nomeados gerentes240
.
O período total de existência desta sociedade encontra-se, de momento, desconhecido.
Não faz parte, contudo, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de
Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946.
Janeiro de 1928 - Costa & Corrêa
Foi constituída, por escritura de 25 de janeiro de 1928, entre Domingos Luís da Costa,
«tamanqueiro, digo […] industrial», morador no lugar dos Ribeiros e Casimiro Gomes
Correia, também industrial, da freguesia da Arrifana, no concelho de Vila da Feira. Fundada
para comércio e indústria de calçado, tamancos e chancas, com estabelecimento no referido
lugar dos Ribeiros, tinha como capital social a quantia de 50 mil escudos, integralmente
realizado em dinheiro e fornecido por ambos os sócios em partes iguais. A administração e a
gerência terão sido também exercidas pelos dois sócios241
.
A sociedade foi dissolvida em 15 de janeiro de 1931. O ativo e passivo ficaram a
cargo do ex-sócio Correia. Este ficou ainda autorizado a usar a mesma firma «com o
aditamento de sucursal»242
.
Janeiro de 1929 - Santos Leite & Irmão
Constituída, por escritura de 26 de janeiro de 1929, entre Aurélio dos Santos Leite e
Silvestre dos Santos Leite, industriais, do lugar da Quintã, esta sociedade comercial em nome
240
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 5-5, ff. 16 verso a 18
verso. 241
Idem, doc. n.º 7-7, ff. 22 a 23 verso. 242
Idem, doc. n.º 113-18, ff. 13 verso a 14 verso.
127
coletivo dedicou-se ao comércio e à indústria de calçado. O seu escritório e oficina
localizavam-se no mesmo lugar da Quintã. O capital social inicial foi de 40 mil escudos,
integralmente realizado em dinheiro e fornecido pelos dois sócios em partes iguais. Foi
acordado ser «expressamente proibido aos sócios por si ou por interposta pessoa de [Oliveira
de] Azeméis exercer individualmente ou associado com outrem a mesma indústria ou
comércio que a sociedade explor[asse] ou v[iesse] a explorar». Os dois sócios terão exercido a
gerência e a representação da sociedade. A escrituração e a «caixa» ficaram a cargo do sócio
Aurélio Leite. «A admissão e demissão do guarda-livros e mais empregados ser[ia] feita de
mutuo acôrdo [entre os] sócios». «O sócio Silvestre poder[ia] sempre que lhe aprouve[sse],
verificar a caixa, encaminhar os livros e documentos da escrituração e exercer duplamente o
seu direito de fiscalização»243
.
Também conhecida como «Fábrica de Calçado Airosa», dez anos depois, em 12 de
março de 1939, consolidada a empresa, é inaugurado o seu novo e maior estabelecimento244
.
O período total de laboração desta sociedade encontra-se, por ora, desconhecido. Faz
parte, porém, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do
Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946245
.
Fevereiro de 1930 – M. Tavares & Martins, Limitada
Esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada foi constituída por
escritura de 6 de maio de 1931, tendo sido declarado o seu início de atividade em 15 de
fevereiro de 1930. Tendo como sócios Armando Jorge Tavares, Manuel Jorge Tavares Júnior
e José Martins, todos comerciantes, de S. João da Madeira, dedicou-se ao comércio e ao
fabrico «de toda a qualidade de calçado»246
. Teve estabelecimento no lugar das Travessas e
um capital social inicial de 15 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro e distribuído
da seguinte forma: sete mil escudos de cada um dos dois primeiros sócios (que terão sido os
243
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 11-11, ff. 12 a 14 verso. 244
O Regional, n.º 447, 12 de março de 1939, p. 3. 245
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 92 verso. 246
Obviamente, isto diz-nos muito pouco sobre a sua produção. Podiam comercializar todo o tipo de calçado,
mas trabalhar numa produção específica.
128
gerentes) e mil escudos do restante. A partilha dos lucros seria efetuada de acordo com as
respetivas quotas247
.
O período total de atividade desta sociedade encontra-se, para já, desconhecido.
Sabemos, contudo, que não incluiu a constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes
de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946.
José Martins co-fundará a José Martins & Companhia, em 1934248
.
Setembro de 1930 - Aliança Industrial de Calçado, Limitada
Constituída por escritura de 17 de setembro de 1930, com início declarado desde o dia
15 do mesmo mês, trata-se de uma sociedade comercial por quotas de responsabilidade
limitada, para a produção de calçado e comércio de artigos da mesma indústria. Com o capital
social de 200 mil escudos, foi fundada por António José Ferreira dos Santos249
, conhecido
como o «Tum-Tum»250
, Artur da Costa Bastos, Artur Soares dos Santos e Manuel Martins.
Designam-se todos como industriais, de S. João da Madeira. A distribuição do capital social
foi de 75 mil escudos de António José Ferreira dos Santos (realizados 35 mil escudos, no
momento de constituição), 50 mil escudos de Manuel Martins (realizados 30 mil escudos) e a
mesma quantia de Artur da Costa Bastos (realizados 25 mil escudos) e 25 mil escudos de
Artur Soares dos Santos (realizados dez mil escudos), mais a quantia de 20 mil escudos em
dinheiro e o restante em fazendas e «maquinismos». «O restante de cada quota [atribuída a
cada sócio] ser[ia] realizado em duas prestações eguaes, uma no praso de um ano e outra no
praso de dezoito meses, a contar do inicio da sociedade»251
.
247
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 2.º ofício, doc. n.º 2135-73, ff. 30 verso
a 33. 248
Ver p. 132. 249
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2724-296, ff. 42 verso
a 45 verso. 250
O Regional, edição especial n.º 2123, 31 de julho de 1985, p. 11. 251
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2724-296, ff. 42 verso
a 45 verso.
129
Cerca de um ano depois da criação desta empresa, Artur Soares dos Santos, que
deveria cumprir uma quota de 25 mil escudos, ainda só tinha realizado dez mil, pelo que cede
a referida quota a Manuel Martins252
.
Por escritura de 13 de janeiro de 1932, Manuel Martins cede, por sua vez, a sua quota
de 75 mil escudos (50 mil da sua quota original e 25 mil, quota devedora de Artur Soares dos
Santos) ao sócio António José Ferreira dos Santos. Também Artur da Costa Bastos cede a sua
quota de 50 mil escudos a este último, autorizado a continuar com o nome da firma, «podendo
acrescentar-lhe, querendo, a palavra “Sucessor”»253
.
Esta empresa constituiu a sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do
Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946254
. Manteve-se em atividade, pelo menos, até 1961, na
Rua Padre Oliveira255
.
Artur Soares dos Santos co-fundará a Sociedade de Calçado, Limitada, em 1932256
.
Novembro de 1930 - Pereira & Sá
Constituída por escritura de 15 de dezembro de 1930, dado como início o primeiro dia
de novembro do mesmo ano, esta sociedade comercial em nome coletivo, para fabrico e
comércio de calçado «de toda a qualidade», teve um capital social de 20 mil escudos,
realizado em partes iguais entre José da Silva e Sá, morador na Rua Dias Garcia e José Maria
Pereira de Resende, morador nas Fontainhas, ambos industriais. O estabelecimento comercial
e industrial encontrava-se na Rua Dias Garcia. Pelo «uso da firma social» atribuído a ambos,
depreendemos que partilhavam a gerência257
.
Foi dissolvida e liquidada por escritura de 22 de janeiro de 1941, «[…] [tendo sido
atribuído] ao activo social; de que não faz[iam] parte bens de raiz; o valôr de oitenta [mil
252
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 115-20, ff. 39 verso a
41. 253
Idem, doc. n.º 117-22, ff. 23 verso a 25 verso. 254
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 91 verso. 255
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C. 256
Ver página seguinte. 257
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 2.º ofício, doc. n.º 2125-63, ff. 8 a 9.
130
escudos], e o de sessenta [mil escudos] ao passivo social, excluído o das cotas: Que a
liquidação ser[ia] […] terminada no prazo de um ano a contar [da referida] data [de
dissolução]». «A séde da dissolvida sociedade ocupa[va] […] a décima-parte dum prédio
urbâno, inscrito na matriz sob o artigo quinhentos noventa e três, com o rendimento colectavel
de vinte e três escudos e quarenta centavos, pertencente a Francisco Ferreira»258
.
Janeiro de 1932 - Sociedade de Calçado, Limitada
Constituída por escritura de 1 fevereiro de 1932, com início declarado desde janeiro do
mesmo ano, esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada, para a
indústria de calçado e comércio de artigos da mesma atividade, teve como sócios Artur Soares
dos Santos, industrial sanjoanense e José da Costa Ribeiro, comerciante, morador no lugar do
Pedaço. Teve um capital social inicial de dez mil e 500 escudos, sendo de dez mil escudos a
quota do segundo sócio, integralmente realizado em dinheiro e em máquinas para a referida
indústria. A gerência da sociedade e a sua representação ficou exclusivamente a cargo do
sócio José. A cargo do sócio Artur ficou a «direcção tecnica da industria»259
.
O período integral de laboração é, para já, desconhecido. Não faz parte, contudo, da
constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada, em 1946.
Janeiro de 1932 - Sociedade Lusitana de Calçado, Limitada
Constituída por escritura de 3 de fevereiro de 1932, com início declarado em 20 de
janeiro do mesmo ano e tendo como sócios Manuel Martins, morador na Rua Oliveira Júnior,
Artur da Costa Bastos, morador no lugar do Pedaço e Clementina Lima dos Santos Silva,
viúva, de S. João da Madeira, todos industriais, dedicou-se à «fabricação e venda de calçado».
258
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 163-68, ff. 44 verso a
46. 259
Idem, doc. n.º 118-23, ff. 3 a 5.
131
Esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada teve um capital social de
150 mil escudos, fornecido em partes iguais pelos sócios, sendo que Artur e Manuel
«realiza[ra]m no acto da escritura social cinquenta por cento e trinta e quatro por cento,
respectivamente, do seu capital, comprometendo-se o primeiro a realizar os restantes
cinquenta por cento durante o mes de Julho próximo, e o segundo a realizar os restantes
sessenta e seis por cento dentro do prazo de dois anos, em duas prestações, pagando à
sociedade o juro de dôze por cento até [à] completa realização do seu capital». Clementina
«entreg[ou] […] a importância de vinte e cinco mil escudos, sendo em dinheiro quinze mil
quatrocentos e quarenta e sete escudos e quarenta e cinco centavos e em maquinas, utensílios,
materias primas e produtos manufacturados nove mil quinhentos cinquenta e dois escudos e
cinquenta e cinco centavos do seu antigo estabelecimento, comprometendo-se a entregar até
trinta de Junho [seguinte] mais quinze mil escudos e os restantes déz mil escudos até ao fim
do corrente ano». A gerência, segundo o definido na escritura, ficaria entregue aos dois sócios
do sexo masculino, durante o primeiro ano260
.
Clementina Lima dos Santos Silva abandona a sociedade em 23 de fevereiro de 1933,
transferindo a sua quota de 50 mil escudos para Manuel Martins, que deteve, assim, um total
de 100 mil escudos na sociedade. Aquela só tinha realizado a importância de 25 mil escudos,
sendo este obrigado a entregar o restante261
.
Mais tarde, em 13 de março de 1935, Manuel Martins cede a sua quota a Artur da
Costa Bastos e ao novo sócio, Jaime da Rocha Valente, funcionário público, de Pinheiro da
Bemposta, no concelho de Oliveira de Azeméis, em 25 e 75 mil escudos, respetivamente262
.
Cerca de três anos mais tarde, em 24 de janeiro de 1938, a quota de 75 mil escudos de
Artur da Costa Bastos tinha sido apenas parcialmente realizada. Este cede a referida quota a
Jaime da Rocha Valente por cerca de 32 mil escudos, importância que a seu favor tinha sido
apurada. Todo o ativo e passivo ficaram a pertencer inteiramente a este último263
.
O período total de atividade encontra-se, de momento, por definir, mas sabemos que
esta sociedade fez parte da constituição da Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do
Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946264
.
260
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 118-23, ff. 9 verso a 13. 261
Idem, doc. n.º 123-28, ff. 22 verso a 24. 262
Idem, doc. n.º 130-35, ff. 23 verso a 24. 263
Idem, doc. n.º 144-49, ff. 1 a 2 verso. 264
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, 92 verso.
132
Sabemos que Manuel Martins adquire mais tarde uma oficina de sapateiro, no lugar
das Vendas, pertencente a Carlos da Costa Lima, ex-sócio da A. Pardal, Limitada, «com todas
as suas pertenças», por cinco mil escudos, em 30 de março de 1935, tendo continuado assim a
sua atividade265
.
Janeiro de 1934 - José Martins & Companhia
Constituída por escritura de 31 de maio de 1939, «considerando-se em atividade desde
o dia 1 de Janeiro de 1934», teve como sócios Hernâni Nicolau da Costa e José Martins,
ambos industriais de S. João da Madeira. Dedicada ao fabrico de calçado e ao comércio do
mesmo produto, esta sociedade comercial em nome coletivo, teve um capital social inicial de
20 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro e fornecido em partes iguais, pelos
sócios. Ambos terão exercido a gerência266
.
Em 15 de junho de 1939, José cede a Hernâni a quota de dez mil escudos, que havia
realizado. Este último pôde continuar com o uso da firma «comercialmente». A sociedade
achava-se instalada «e tinha a sua séde nas três-quartas-partes do prédio descrito na matriz
urbana dêste concelho sob o artigo cento sessenta e oito, onde contin[uou] o
estabelecimento»267
.
O tempo completo de laboração desta sociedade é-nos desconhecido. Não faz parte,
contudo, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de
Aveiro, Limitada, em 1946.
Hernâni Nicolau da Costa será um dos sócios fundadores da Nicolaus & Companhia,
em 1941268
.
265
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 130-35, ff. 47 a 48. 266
Idem, doc. n.º 153-58, ff. 35 verso a 37 verso. 267
Idem, doc. n.º 154-59, ff. 21 a 23. 268
Ver p. 141.
133
Março de 1934 - Guilherme Paes Vieira & Santos
Constituída por escritura de 14 de abril de 1934, com início declarado em março do
mesmo ano, teve como sócios Guilherme Paes Vieira, industrial e Bernardino Soares dos
Santos, sapateiro, ambos de S. João da Madeira. Com sede na Rua Jaime Afreixo, esta
sociedade comercial em nome coletivo, para comércio e indústria de calçado, teve um capital
social de 18 mil escudos, «[…] sendo onze mil escudos do sócio Guilherme Paes Vieira, e
sete mil do sócio Bernardino Soares dos Santos. As entradas do capital já est[avam] realizadas,
do seguinte modo: a do sócio Bernardino Soares dos Santos [foi] em dinheiro […]; a do sócio
Guilherme Paes Vieira exist[iu] em diversos valores do activo e passivo […] que lhe
pertenciam como comerciante em nome individual», (constituindo ativo: cerca de 126
escudos; letras a receber: cerca de sete mil escudos; devedores gerais: cerca de sete mil e 600
escudos; despesas gerais: cerca de 168 escudos; fazendas gerais: por volta de 19 mil escudos;
formas (de calçado): 516 escudos; móveis e utensílios: cerca de quatro mil e 500 escudos,
num total próximo da quantia de 39 mil escudos, com um passivo no mesmo valor». Ambos
os sócios ficaram nomeados administradores e gerentes, mas a «caixa social» [seria] da
competência do sócio Guilherme Paes Vieira. Apesar das entradas distintas de capital, os
ganhos e as perdas seriam repartidos em partes iguais entre os sócios269
.
Foi dissolvida logo em 16 de abril de 1934, com escritura de 23 do mesmo mês. Todo
o ativo e passivo ficou na posse de Guilherme Paes Vieira. A parte de Bernardino foi-lhe paga
em dinheiro: pouco mais de mil escudos e três letras no valor de cerca de 6 mil escudos, a
vencerem-se em 20 de agosto de 1934, em 20 de outubro do mesmo ano e em 20 de junho de
1935270
.
Março de 1934 - Dias, Brandão & Companhia, Limitada
Constituída por escritura de 14 de março de 1934, com início previsto para o dia
seguinte, teve como sócios Gabriel Dias da Silva, José Leite Brandão, estes industriais e
269
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 126-31, ff. 31 a 32
verso. 270
Idem, ff. 33 verso a 34 verso.
134
Gabriel Dias da Silva Júnior, empregado comercial, todos de S. João da Madeira. Para
«comércio e indústria de manufactura de calçado de homem e de criança», esta sociedade
comercial por quotas de responsabilidade limitada teve um capital social inicial de 25 mil
escudos, inteiramente realizado em dinheiro, correspondendo a dez mil escudos de cada um
dos primeiros dois sócios e a cinco mil escudos do restante. Os lucros seriam divididos na
proporção das respetivas quotas. A gerência técnica ficou a cargo de José Leite Brandão e a
caixa social e a representação da sociedade a cargo de Gabriel Dias da Silva271
.
José Leite Brandão cede, em 5 de abril do mesmo ano, a sua quota de dez mil escudos
a Gabriel Dias da Silva272
.
O período total de laboração desta sociedade encontra-se, de momento, desconhecido.
Não faz parte, todavia, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado
do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946.
1935 - Guilherme Moreira & Companhia
Constituída por escritura de 21 de janeiro de 1939, mas declarada em atividade desde
1935, pertenceu a Álvaro Gomes da Costa, Augusto Gomes da Costa, Guilherme Moreira de
Oliveira e Delfim Alberto Augusto de Almeida, todos industriais, de S. João da Madeira. Esta
sociedade comercial em nome coletivo, para a exploração do fabrico manual de calçado,
«podendo explorar outra indústria ou comércio», teve um capital social inicial de 60 mil
escudos, integralmente realizado, constituindo 20 mil escudos de cada um dos sócios Gomes
da Costa e 10 mil escudos de cada um dos restantes. Todos os sócios terão sido gerentes, mas
o «uso da firma social» era exclusivo dos sócios Álvaro e Augusto Gomes da Costa. Os lucros
e os prejuízos seriam repartidos em função das respetivas quotas273
.
O período integral de laboração encontra-se, também, desconhecido. Não faz parte,
porém, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de
Aveiro, Limitada, em 1946.
271
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 126-31, ff. 15 a 17
verso. 272
Idem, ff. 25 verso a 26 verso. 273
Idem, doc. n.º 149-54, ff. 40 verso a 42 verso.
135
Julho de 1935 - Sociedade Industrial Sanjoanense, Limitada
Declarada a data de abertura em 8 de julho de 1935, mas com escritura de 5 de
setembro do mesmo ano, teve como sócios José Gomes de Pinho Calhau e Henrique Garcia
Leite Ferreira, ambos industriais, de S. João da Madeira. O objeto desta sociedade comercial
por quotas de responsabilidade limitada era a indústria e o comércio de calçado, brochas,
pincéis, vassouras e escovas, com um capital social de 40 mil escudos, integralmente
realizado em dinheiro, fornecido em duas partes iguais. Ambos os sócios ficaram nomeados
gerentes. «Ao sócio Henrique Garcia Leite Ferreira compet[iu] especialmente a Caixa»274
.
Dá-se a cessão da quota de José Gomes de Pinho Calhau, em 10 de outubro de 1940, a
Henrique Garcia Leite Ferreira275
. Este, mais tarde, em 12 de janeiro de 1932, cede uma parte
desta (18 mil escudos) a Zacarias António de Sousa, industrial da Arrifana, no concelho de
Vila da Feira276
.
Encontra-se por decifrar, de momento, o seu período absoluto de atividade, mas
sabemos que fez parte da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado
do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946277
.
Janeiro de 1936 - Pardal & Santos, Limitada
Foi constituída, por escritura de 3 de janeiro de 1936, entre Acácio Pinto Álvares
Pardal e Adelino Ribeiro dos Santos, ambos industriais, de S. João da Madeira, para o
«exercício da indústria e comércio de calçado». Esta sociedade comercial por quotas de
responsabilidade limitada teve como capital social a quantia de 20 mil escudos, tendo
contribuído o primeiro sócio com 10 mil escudos em «fazendas comerciais». Ambos os sócios
terão sido gerentes, fazendo «uso da firma social»278
.
274
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 134-39, ff. 13 verso a
15 verso. 275
Idem, doc. n.º 161-66, ff. 49 verso a 50. 276
Idem, doc. n.º 170-75, ff. 8 verso a 10 verso. 277
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, 93. 278
Idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 136-41, ff. 16 verso a 19.
136
A dissolução desta sociedade dá-se por escritura de 7 de outubro de 1937, com efeitos
legais desde finais de julho desse mesmo ano. Todo o ativo ficou na posse de Adelino Ribeiro
dos Santos, ficando também este responsável pelo passivo. Todo o capital do ex-sócio Pardal
foi absorvido pelo passivo, tendo ficado ainda a dever à dissolvida sociedade uma quantia
superior a cinco mil escudos, que se comprometeu a pagar em quatro letras e ainda o valor
não pago em prestações, no total de cerca de 700 escudos, da máquina de costura Singer,
incluída no capital de entrada279
.
Certamente para liquidar esta dívida e para um novo começo, Acácio Pardal contrai
um empréstimo de 12 mil escudos em 1938280
. Os seus planos terão fracassado, estando já
imigrado em África em setembro de 1939, tendo deixado a mulher, Rosa Luísa da Mota
Pardal, como sua procuradora281
.
Fevereiro de 1936 – Vieira & Ferreira/ Vieira, Ferreira & Companhia
Constituída por escritura de 15 de fevereiro de 1937, com início declarado desde
fevereiro de 1936, esta sociedade comercial em nome coletivo teve um capital social inicial de
20 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro, cedido pelos dois sócios em partes
iguais, para exercício da indústria e do comércio de calçado. A parte comercial ficou a cargo
de Joaquim Pais Vieira, morador no lugar do Espadanal e a técnica a cargo de José Bento
Ferreira, residente no lugar do Pedaço, ambos industriais. A sociedade foi representada por
ambos os sócios, «que fica[ra]m […] nomeados gerentes», com «uso da firma social»282
.
Com a admissão do sócio Rodrigo José Correia, industrial, de S. João da Madeira, em
18 de março de 1941, a quem ficou a cargo a escritura e a correspondência, dá-se um reforço
de capital. Ao capital inicial é acrescentado mais 10 mil escudos de cada um dos sócios de
origem, passando as quotas de cada um para 20 mil escudos e o capital social para 60 mil
279
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 142-47, ff. 49 verso a
50 verso e doc. n.º 143-48, ff. 1 a 2. 280
Idem, doc. n.º 145-50, ff. 34 a 35 verso. 281
Idem, doc. n.º 156-61, f. 4. 282
Idem, doc. n.º 140-45, ff. 25 verso a 28.
137
escudos. O nome da sociedade é alterado para Vieira, Ferreira & Companhia. A gerência
social era competência de todos os sócios283
.
Desconhecemos o seu período integral de laboração, mas esta última designação fez
parte da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada,
em 1946284
.
Janeiro de 1937 - Álvaro Ferreira Tavares & Irmão
Constituída por escritura de 7 de janeiro de 1937 (embora esta assinale 1936, por
lapso), com início declarado desde o princípio desse mês, teve como sócios Álvaro Ferreira
Tavares e José Ferreira Tavares285
(irmãos de Rufino Ferreira Tavares - neto)286
, ambos
industriais de S. João da Madeira287
(sabemos que o segundo terá começado a sua carreira
como caixeiro-viajante de sapataria288
). Com um capital social de 40 mil escudos, realizado
em dinheiro e em duas partes iguais, esta sociedade comercial em nome coletivo tinha como
objeto a indústria e o comércio de calçado289
.
No mesmo dia de constituição da sociedade, os sócios adquirem a familiares (Manuel
Gomes de Pinho, Rufino Ferreira Tavares e respetivas consortes) uma casa no lugar da
Quintã290
, onde terão instalado a sua oficina.
A dissolução da sociedade dá-se por escritura de 29 de maio de 1937. Esta refere-se
apenas ao comércio, pelo que a sociedade poderá não ter produzido calçado. José Ferreira
Tavares vende os seus direitos sobre a propriedade ao irmão Álvaro, que ficou responsável,
assim, pelo ativo e passivo. Este pôde continuar a gerir o seu negócio sob o mesmo nome291
.
Álvaro hipoteca a mesma propriedade ao irmão José, para garantia de letras de pagamento –
283
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, doc. n.º 164-69, ff. 47 a 50. 284
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 88 verso. 285
Idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 139-44, ff. 41 a 42 verso. 286
O Regional, edição especial n.º 2123, 31 de julho de 1985, p. 11. 287
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 139-44, ff. 41 a 42
verso. 288
O Regional, n.º 936, 12 de maio de 1957, p. 4. 289
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 139-44, ff. 41 a 42
verso. 290
Idem, ff. 44 a 45. 291
Idem, doc. n.º 141-46, ff. 32 a 33 verso.
138
cinco de quatro mil e 500 escudos cada e uma, ainda, de cerca de cinco mil escudos292
. Esta
designação manteve-se, pelo menos, até 1960293
, certamente com Álvaro Ferreira Tavares.
José Ferreira Tavares será sócio da Tavares & Irmão, Limitada294
.
Fevereiro de 1937 - Pinho, Tavares & Companhia, Limitada, Sucessor
Procedente da Pinho, Tavares & Companhia, Limitada, esta sociedade, também
comercial por quotas de responsabilidade limitada, com escritura de 3 de fevereiro de 1937,
surge entre Manuel Gomes de Pinho Júnior e José Pinho, ambos industriais, de S. João da
Madeira. Para a indústria e comércio de calçado, tinha um capital social de 100 mil escudos,
integralmente realizado em dinheiro e distribuído por quotas iguais entre os sócios. Ambos
terão desempenhado funções de gerência. Além desta atividade, o sócio José Pinho
acumularia o cargo de «viajante», ficando «com a obrigação de […] promover a venda dos
artigos da sociedade»295
.
O período integral de laboração encontra-se desconhecido, para já. Não faz parte,
porém, da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de
Aveiro, Limitada, em 1946.
Outubro de 1937 - M. Simões & Silva
Constituída por escritura de 8 de outubro de 1937, teve como sócios Manuel Simões
Ventura e José Gomes da Silva, ambos industriais, de S. João da Madeira. Com um capital
292
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 141-46, ff. 34 verso a
36. 293
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C. 294
O Regional, n.º 936, 12 de maio de 1957, p. 3. Ver também Apêndices - Quadro n.º 1B - Sociedades de
calçado identificadas a laborar neste período (ausentes da amostra analisada), pp. 105-109. 295
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 140-45, ff. 11 verso a
14.
139
social inicial de 20 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro, em duas partes iguais,
esta sociedade comercial em nome coletivo dedicou-se ao comércio e à indústria de calçado.
Ambos os sócios ficaram nomeados gerentes. A parte comercial ficou a cargo de Manuel
Simões Ventura e a técnica a cargo de José Gomes da Silva296
.
Desconhecemos o seu período total de laboração, mas sabemos que não fez parte da
sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946.
Março de 1938 – Pinho & Nato, Limitada
Constituída por escritura de 24 de fevereiro de 1938, com início previsto para março
do mesmo ano, esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada teve como
sócios Américo Tavares da Silva Nato, empregado industrial e Augusto Soares de Pinho,
«viajante», ambos de S. João da Madeira. Dedicada à indústria e ao comércio de calçado, teve
um capital social inicial de 20 mil escudos, correspondendo a 18 mil escudos a quota de
Augusto e a dois mil escudos a de Américo. «O socio Augusto Soares de Pinho, já [tinha
entrado] para a caixa social com dés mil escudos, comprometendo-se a entrar com os restantes
oito mil escudos dentro do praso de um ano […] ou antes, se a caixa necessita[sse]». Nato
tinha realizado integralmente a sua parte no momento da escritura. Ambos os sócios seriam
gerentes, com «uso da firma social». A distribuição dos lucros foi decidida da seguinte forma:
cinco por cento do capital social para cada um dos sócios, em função das suas quotas e o
restante partilhado em partes iguais. Os prejuízos seriam repartidos pelas duas partes297
.
Por escritura de 31 de dezembro de 1938, Américo Tavares da Silva Nato cede a sua
quota de dois mil escudos, integralmente realizada, a Augusto Soares de Pinho, em fazendas e
em letra comercial.
Desconhecemos o período integral de atividade desta sociedade, mas sabemos que esta
não fez parte da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada, em 1946.
296
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 143-48, ff. 2 a 4. 297
Idem, doc. n.º 144-49, ff. 31 a 33 verso.
140
Américo Tavares da Silva Nato co-fundará a Costa & Nato, em 1939 e a A. Tavares
Nato & Silva, em 1941298
.
Janeiro de 1939 - Costa & Nato
Constituída por escritura de 24 de março de 1939, com começo declarado desde
janeiro desse mesmo ano, pertenceu a António Luís da Costa Cardeiro e a Américo Tavares
da Silva Nato, ambos industriais, de S. João da Madeira. Esta sociedade comercial em nome
coletivo tinha «loja» na Rua Jaime Afreixo e o seu objeto social era a produção de calçado,
«podendo sêr explorado qualquer outro ramo de comércio ou indústria». Teve um capital
social de 21 mil escudos, realizado em dinheiro, sendo de 20 mil escudos a parte de Costa
Cardeiro e de mil escudos a de Silva Nato. Ambos os sócios eram gerentes, fazendo «uso da
firma social»299
.
Dissolve-se e é liquidada por escritura de 9 de janeiro de 1941. Todo o ativo e passivo
da extinta sociedade ficaram a pertencer a Américo Tavares da Silva Nato, atribuindo «[…]
ao activo social o valor de oitenta e seis mil e vinte escudos, do qual não fazem parte bens de
raiz». Costa Cardeiro recebeu de Nato uma quantia de cerca de 54 mil escudos, «por saldo de
sua conta de capital, lucros e suprimentos». O passivo da dissolvida sociedade era de 32 mil
escudos. «[...] A séde da dissolvida sociedade ocupa[va] a quarta-parte do prédio urbâno
inscrito na respectiva matriz dêste concelho sob o artigo cento e noventa [...], prédio
pertencente a Costa Cardeiro300
.
Janeiro de 1941 - A. Tavares Nato & Silva
Constituída por escritura de 18 de janeiro de 1941, com início declarado desde o
princípio do mesmo mês, foi fundada por Américo Tavares da Silva Nato e António da Silva,
298
Ver sociedades seguintes. 299
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 151-56, ff. 3 verso a 5. 300
Idem, doc. n.º 163-68, ff. 22 a 23 verso.
141
ambos industriais, de S. João da Madeira. Estes terão sido ambos gerentes da sociedade
comercial em nome coletivo. A oficina de calçado, «podendo ser explorado qualquer outro
ramo de comércio ou indústria», ocupava metade do primeiro andar dum prédio urbano, sito
no Pedaço (pertencente a António Luís da Costa Cardeiro). Teve um capital social inicial de
25 mil escudos, fornecido em partes iguais pelos dois sócios e integralmente realizado em
dinheiro301
.
Pertenceu à sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada, constituída em 1946302
. Sabemos que se encontrava em atividade em 1961, na Rua
das Ribes303
.
Janeiro de 1941 - Nicolaus & Companhia
Designada de «Fábrica de Calçado Colar»304
, foi constituída, por escritura de 25 de
janeiro de 1941, com início declarado a partir do dia 15 do mesmo mês, por Hernâni Nicolau
da Costa, Mário Nicolau da Costa e Daniel Nicolau da Costa, todos industriais, de S. João da
Madeira. Com sede no lugar do Pedaço - «em três-quartas-partes do prédio urbâno inscrito na
matriz sob o artigo novecentos trinta e cinco, pertencente a José Martins & Companhia» -
esta sociedade comercial em nome coletivo, para fabrico e comércio de calçado, detinha um
capital social inicial de 50 mil escudos, distribuído do seguinte modo: 25 mil escudos do
primeiro e 12 mil e 500 escudos dos restantes dois sócios. Ficaram todos nomeados gerentes.
Os ganhos e os prejuízos deveriam ser repartidos em função do capital investido305
.
Em 1946, fez parte da constituição da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de
Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada306
.
Na escritura de constituição, escrito nas margens, sabe-se que, por escritura de 5 de
março de 1964, os futuros sócios Vasco Nicolau da Costa, Luís Nicolau da Costa e António
301
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 163-68, ff. 37 a 39
verso. 302
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 89. 303
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C. 304
O Sanjoanense, n.º 28, 2 de fevereiro de 1941, p. 2. 305
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 163-68, ff. 48 verso a
50. 306
Idem, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 91 verso.
142
Nicolau da Costa cedem as respetivas quotas a Manuel e a Hernâni Nicolau da Costa. Em 27
de maio de 1964, o capital social é aumentado de 300 mil para 1,5 milhões de escudos. Em 4
de abril de 1966, Manuel Nicolau da Costa cede a sua parte a Daniel Nicolau da Costa,
posição que se reverte em 4 de julho307
. Sabemos que a entretanto Nicolaus da Costa &
Companhia, Limitada deteve, pelo menos desde 1957, a marca «Fox»308
. Sabemos que se
encontrava em atividade em1970309
.
Março de 1941 - J. Martins & Casal
Constituída por escritura de 26 de fevereiro de 1941, com início apontado para o
primeiro dia de março seguinte, teve como sócios os industriais José Severino Martins, de S.
João da Madeira e Dionísio da Silva Ferreira Casal, de Oliveira do Douro, no concelho de
V.N. de Gaia. Com sede e estabelecimento na Rua Oliveira Júnior - «[…] na vigésima parte,
rés-do-chão, do prédio urbâno inscrito na matriz sob o artigo número seiscentos sessenta e
dois, pertencente a Pedro Luiz da Silva Carneiro e outros» - esta sociedade comercial em
nome coletivo dedicou-se ao fabrico e ao comércio de calçado, com um capital social inicial
de 30 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro e fornecido em partes iguais pelos
dois sócios. Ficaram ambos nomeados gerentes310
.
Desconhecemos o seu período absoluto de laboração, mas não fez parte da sociedade
Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946.
307
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 163-68, ff. 48 verso a
50. 308
O Regional, n.º 950, 24 de novembro de 1957, p. 3. 309
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C. 310
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 164-69, ff. 26 verso a
30.
143
Julho de 1941 - Fábrica de Calçado Sagres, Limitada
Foi constituída por escritura de 9 de setembro de 1941, com início declarado desde
julho do mesmo ano, entre Manuel Vieira Araújo, morador na Rua Alão de Morais, Alfredo
Gomes de Bastos, morador na Rua Jaime Afreixo, Manuel Gomes de Bastos, do lugar do
Tapado, Manuel Gomes Bastos, morador na Rua Padre Oliveira e António Fernando
Moutinho, do lugar da Devesa Velha. Declararam-se todos industriais. Esta sociedade
comercial por quotas de responsabilidade limitada tinha estabelecimento na Rua Jaime
Afreixo - «[…] ocupando, a título de arrendamento verbal, um vinte ávos do prédio inscrito
sob o artigo cento vinte e nove da matriz urbâna desta fréguesia» - e constituiu-se para a
indústria e o comércio de calçado, com um capital social inicial de 150 mil escudos,
distribuído da seguinte forma: duas quotas de 40 mil escudos de Manuel Vieira Araújo e de
António Fernando Moutinho, uma de 30 mil escudos de Alfredo Gomes de Bastos e duas de
20 mil escudos dos restantes. Qualquer um dos sócios representaria a sociedade «em juízo e
fóra dêle, activa e passivamente» e todos foram nomeados gerentes. Os lucros seriam
divididos em função das respetivas quotas. O primeiro e segundo sócios tinham fundado a
Vieira Araújo & Companhia, constituída por escritura de 6 de abril de 1929. Esta havia
registado a marca «Sagres» na Repartição do Comércio no Ministério da Economia, em
Lisboa, cedendo então, a esta sociedade, o direito à sua utilização311
.
Desconhecemos o seu período integral de laboração, mas não fez parte da sociedade
Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro, Limitada, em 1946.
Manuel Vieira Araújo será um dos sócios da reformulada Vieira Araújo & Companhia,
Limitada, em 1949312
.
311
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 168-73, ff. 2 verso a 6. 312
Ver p. 147.
144
Junho de 1942 - Correia & Barbosa
Com início declarado em 23 de junho de 1942, é constituída, por escritura de 25 de
maio de 1945, entre Manuel da Silva Correia e Hernâni Barbosa Marau, ambos industriais, de
S. João da Madeira. Esta sociedade comercial em nome coletivo dedicou-se ao «fabrico e
comércio de toda a qualidade de calçado», no lugar das Corgas - «[…] instalad[a] na loja do
prédio urbano […], descrito na Conservatória desta comarca sob número quarenta e quatro
mil seiscentos e noventa e dois, inscrito na matriz com o artigo seiscentos e trinta e cinco
[…]», que tomaram de arrendamento ao seu proprietário Rogério Gomes de Pinho Calhau.
Deteve um capital social inicial de 30 mil escudos, integralmente em dinheiro e fornecido em
partes iguais pelos sócios. Ambos foram gerentes313
.
Desconhecemos o tempo de atividade absoluta desta sociedade, mas sabemos que não
fez parte da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada, em 1946.
Janeiro de 1944 - J. Pereira & Freitas, Limitada
É constituída, por escritura de 1 de junho de 1944, mas com início desde janeiro do
mesmo ano, entre José de Almeida Pereira, de S. João da Madeira e Benjamim da Costa
Freitas, residente no lugar da Igreja, em Santiago de Riba-Ul, no concelho de Oliveira de
Azeméis. Ambos declaram-se industriais. Esta sociedade comercial por quotas de
responsabilidade limitada dedicava-se à indústria e ao comércio de calçado, provisoriamente
instalada, segundo os sócios, em Santiago de Riba-Ul, mas com futuro estabelecimento em S.
João da Madeira. Teve um capital social inicial de 100 mil escudos, realizado em dinheiro,
pertencendo uma quota de 75 mil escudos a José de Almeida Pereira e uma de 25 mil escudos
a Benjamim da Costa Freitas. Ambos foram designados gerentes. Os lucros e as perdas seriam
distribuídos em função das diferentes quotas314
.
313
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 2.º ofício, doc. n.º 2454-385, ff. 52 verso
a 55 verso. 314
Idem, doc. n.º 2443-374, ff. 6 verso a 9 verso.
145
Aquando da constituição da sociedade é realizado o trespasse à mesma, por parte de
Rufino Pereira Borges de Castro, do prédio urbano, «constituído por casa de dois pavimentos
com loja e suas pertenças situado naquele lugar da Igreja [...], inscrito na matriz com o artigo
urbano noventa e seis […]» onde se [tinha instalado] o «estabelecimento comercial de fabrico
e comércio de calçado […] que [usava] a denominação de […] «Fábrica Manual de Calçado
Excelsior»». O trespasse, em globo, foi feito pela quantia de cinco mil escudos, «no qual se
inclu[iu] a quantia de dois mil e quinhentos escudos, valor atribuido ao local do
estabelecimento [...], tôdo o activo e passivo e demais coisas moveis [...], bem como tôdos os
seus direitos ao respectivo alvará e licenças e obrigações»315
.
É desconhecido, por enquanto, o seu período total de atividade, mas, em 1946,
pertenceu à sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada316
.
José de Almeida Pereira co-fundará a J. Pereira & Santos, Limitada, em 1948317
.
Fevereiro de 1948 - J. Pereira & Santos, Limitada
Foi constituída, por escritura de 7 de fevereiro de 1948 e declarada em funcionamento
desde o dia 2 do mesmo mês, entre José de Almeida Pereira e Joaquim da Costa Santos,
ambos industriais, de S. João da Madeira. Esta sociedade comercial por quotas de
responsabilidade limitada apresentou um capital social, realizado em dinheiro, de 100 mil
escudos, com duas quotas de igual importância. «A gerência da sociedade fic[ou] afecta a
ambos os sócios»318
.
Por escritura de 26 de setembro de 1951, os sócios dão-na como dissolvida (desde 31
de agosto do mesmo ano). Todo o ativo e passivo da sociedade ficou na pertença de José.
«Pelos [sócios] foi finalmente dito que, tendo considerado incobráveis créditos no montante
315
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 2.º ofício, doc. n.º 2443-374, ff. 10 a 12. 316
Idem, 6.º ofício, doc. n.º 2691-249, p. 91 verso. 317
Ver sociedade seguinte. 318
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 3052-409 A, ff. 13
verso a 16 verso.
146
de cinco mil e setenta escudos, de que são devedores a dissolvida sociedade Armindo Santos,
de Fafe, a quantia de três mil quatrocentos setenta e seis escudos; Manuel Machado, de
Moscavide, da quantia de novecentos setenta e seis escudos; e Sapataria Astória, de Lisboa,
da quantia de seiscentos e dezoito escudos, acordaram em dividir em partes iguais qualquer
importância que v[iesse] a ser recebida daqueles devedores ou de qualquer deles»319
.
Maio de 1948 – Costa, Amaral & Ribeiro
Foi constituída, por escritura de 17 de maio de 1948, entre Emídio do Amaral
Semblano, de Oliveira de Azeméis, José Gomes Ribeiro de Sá, residente em Espargo, no
concelho de Vila da Feira, ambos industriais e Maria Augusta de Oliveira Costa, viúva e
doméstica, residente no Barroco, em S. João da Madeira. Esta sociedade comercial em nome
coletivo, com estabelecimento na Rua da Estação do Caminho de Ferro, dedicou-se à
«indústria de sapataria, fabrico e comércio de calçado», com um capital social inicial de 60
mil escudos, realizado em dinheiro e em partes iguais pelos sócios. Todos foram nomeados
gerentes320
. Desconhece-se a sua longevidade.
Julho de 1948 - J. Batista & Companhia, Limitada
Constituída por escritura de 13 julho de 1948, teve como sócios João Pereira Batista,
industrial e Inês Frutuoso Marques, viúva e comerciante, ambos de S. João da Madeira. Esta
sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada dedicou-se à indústria de calçado,
com um capital social de 20 mil escudos, realizado integralmente em dinheiro e em partes
319
A Grei Sanjoanense, n.º 9, 27 de outubro de 1951, p. 7. A escritura de dissolução não se encontra na
documentação notarial de S. João da Madeira, de Oliveira de Azeméis, de Vila da Feira ou de Vale de Cambra,
pelo menos na data de dissolução referida. 320
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2770-273, ff. 70 a 72
verso.
147
iguais entre os sócios. A «administração, gerência e representação, em juízo e fora dele, ativa
e passivamente», ficaram a cargo de ambos321
.
Dissolve-se por escritura de 29 de março de 1950, com liquidação até fim de abril do
mesmo ano322
.
Janeiro de 1949 - Freitas & Pinheiro, Limitada
Constituída por escritura de 7 de maio de 1949, mas declarada a funcionar desde o
início desse ano, teve como sócios António Gonçalves Pinheiro e Armando de Pinho Freitas,
ambos industriais, de S. João da Madeira. Esta sociedade comercial por quotas de
responsabilidade limitada dedicou-se à indústria de calçado, com o capital social inicial de
100 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro, correspondendo a quotas iguais entre
os dois sócios. A administração, a gerência e a representação da sociedade ficaram a cargo de
ambos323
. Desconhece-se o seu período total de atividade.
Fevereiro de 1949 - Vieira Araújo & Companhia, Limitada
Por escritura de 19 de fevereiro de 1949 é alterado o pacto social e feita uma
remodelação integral da sociedade original, constituída em 6 de abril de 1929 para fabrico de
chapéus (a Vieira Araújo & Companhia)324
. Mas, em 1946, esta já aparece, porém, como
fundadora da sociedade Cooperativa dos Fabricantes de Calçado do Distrito de Aveiro,
Limitada325
. O capital da sociedade original pertencia a Manuel Vieira Araújo, a Maria de
Bastos Araújo e a António Pais Vieira. A entrada de novos sócios tinha em vista o
321
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Vila da Feira, 6.º ofício, doc. n.º 2341-196, ff. 14 verso a 17. 322
Idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 202-107, ff. 39 verso a 41. 323
Idem, Vila da Feira, 6.º ofício, doc. n.º 2355-208, ff. 2 verso a 5 verso e O Regional, n.º 718, 31 de julho de
1949, p. 3. 324
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. 2783-282 A, ff. 18 verso
a 20 verso. 325
Idem, doc. n.º 2691-249, p. 92.
148
«desenvolvimento dos negócios e [a] ampliação do objecto social […] mediante a entrada de
fundos, para reforço do capital, no montante de um milhão e novecentos mil escudos». Os
sócios eram agora oito: Manuel Vieira Araújo, por si e na qualidade de procurador do seu
filho Ângelo Vieira Araújo (este médico), Maria de Bastos Araújo, António Pais Vieira
Araújo, Manuel Pais Vieira Araújo, Manuel Pais Vieira Júnior, Acácio Vieira Araújo e Elza
Maria Vieira Araújo, todos autodeclarados industriais, de S. João da Madeira. Esta sociedade
comercial por quotas de responsabilidade limitada teve um capital social inicial de 3 milhões
de escudos, distribuído da seguinte forma: Manuel Vieira Araújo - 1.010 mil e quinhentos
escudos; Maria de Bastos Araújo - 549 mil e quinhentos escudos; António Pais Vieira Araújo
- 300 mil escudos; Manuel Pais Vieira Araújo - 300 mil escudos; Manuel Pais Vieira Júnior -
300 mil escudos; Acácio Vieira Araújo - 180 mil escudos; Ângelo Vieira Araújo - 180 mil
escudos; e, finalmente, Elza Maria Vieira Araújo - 180 mil escudos. As quotas de Manuel
Vieira Araújo, de Maria de Bastos Araújo e de António Pais Vieira Araújo «[foram]
representadas pelas fazendas, créditos e mais valores do activo da sociedade, conforme o
balanço do fim do ano de mil novecentos quarenta e oito». Os lucros e os prejuízos seriam
repartidos em função das respetivas quotas. Esta nova sociedade dedicou-se à indústria e ao
comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas, no lugar do Carquejido. «A administração e [a]
gerência, assim como a sua representação em juízo e fora dele, ativa e passivamente, [era]
competência de todos os sócios». A direção ficou, contudo, a cargo de Manuel Vieira
Araújo326
. Com escritura na mesma data, a sociedade anterior, de produção de chapéus,
transforma o pacto social – de sociedade comercial em nome coletivo passa a sociedade
comercial por quotas de responsabilidade limitada327
.
Setembro de 1949 – Fábrica de Calçado Jomax, Limitada
Constituída por escritura de 15 de dezembro de 1949 e declarada em atividade desde
início de setembro do mesmo ano, esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade
limitada é fundada por Alcides Soares da Costa Rebelo, industrial, morador no lugar do Souto,
326
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. 2783-282A, ff. 21 a 26
verso. 327
Idem, ff. 18 verso a 20 verso.
149
na freguesia de Nogueira do Cravo, pertencente ao concelho de Oliveira de Azeméis e José
Mendes Rodrigues Quaresma, industrial, morador no lugar da Quintã, em S. João da Madeira.
Ocupada com a produção e o comércio de calçado, neste mesmo lugar, esta sociedade detinha
um capital inicial de 10 mil escudos, correspondendo a uma quota de oito mil escudos de
Quaresma e outra de dois mil escudos de Rebelo. Ambos ficaram nomeados gerentes. Os
lucros e as perdas seriam repartidos em função das respetivas quotas328
. Desconhecemos, por
agora, até quando se prolongou a sua atividade.
Maio de 1950 - Fábrica de Calçado Bellus, Limitada
Foi constituída, por escritura de 2 de maio de 1950, entre Paulo de Barros Frutuoso,
filho de António Manuel Frutuoso e de Maria Piedade de Barros Frutuoso e António Ferreira
Amorim, filho de António José Ferreira dos Santos e de Amélia da Costa Amorim, ambos
industriais, com naturalidade e residência em S. João da Madeira. O objeto desta sociedade
comercial por quotas de responsabilidade limitada era a «oficina de calçado, podendo sêr
explorado qualquer outro ramo de comércio ou indústria». Deteve um capital social inicial de
10 mil escudos, realizado em dinheiro e em partes iguais pelos sócios. Ambos terão
desempenhado funções de gerência. Nenhum dos sócios teve autorização para explorar direta
ou indiretamente a mesma atividade, sob pena da amortização da sua quota pela sociedade329
.
Não conhecemos, por enquanto, contudo, quanto tempo se manteve em funcionamento.
Janeiro de 1951 - Costa & Vaz, Limitada
Foi constituída, por escritura de 27 de janeiro de 1951, entre Manuel Luís da Costa,
cortador de calçado, filho de Manuel Luís da Costa e de Emília Rosa da Costa e Gaspar Vaz
da Silva, empregado de escritório, filho de Saturnino Vaz da Silva e de Lucinda Francisca de
328
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2792-287A, ff. 96
verso a 100. 329
Idem, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 202-107, ff. 54 verso a 56 verso.
150
Lima, ambos naturais e residentes em S. João da Madeira. Esta sociedade comercial por
quotas de responsabilidade limitada constitui-se como «oficina de calçado, podendo sêr
explorado qualquer outro ramo de comércio ou indústria», com um capital social de 40 mil
escudos, integralmente realizado em dinheiro e fornecido em partes iguais pelos dois sócios.
A gerência ficou a cargo de Manuel Luís da Costa330
. Parece ter cessado a sua atividade em
1951, ano da sua constituição. Situava-se na Rua Dias Garcia331
.
Janeiro de 1952 - Vaz da Silva & Lima, Limitada
Constituída por escritura de 28 de janeiro de 1952 e declarada em atividade desde o
início desse mesmo mês, esta sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada
teve como sócios Domingos Vaz da Silva, filho de Saturnino Vaz da Silva e de Lucinda
Ferreira de Lima332
, morador na Rua Jaime Afreixo, em S. João da Madeira e Manuel Ferreira
de Lima, residente em Lisboa, ambos industriais e naturais da localidade sanjoanense. Os dois
sócios ficaram nomeados gerentes da sociedade dedicada à indústria e ao comércio de calçado,
na Rua Jaime Afreixo. Com o capital social inicial de 80 mil escudos, inteiramente realizado
em dinheiro e em duas quotas iguais333
, manteve-se em atividade, pelo menos, até 1970, no
lugar do Parrinho334
. Foi a produtora da marca «Liner», de calçado para homem e da marca
«Linito», de calçado para criança335
.
Março de 1952 - Costa Cardeiro & Correia
Foi constituída, por escritura de 12 de março de 1952, entre António Luís da Costa
Cardeiro Júnior, filho de António Luís da Costa Cardeiro e de Gracinda Rosa da Costa e
330
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 203-108, ff. 51 verso a
53. 331
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C. 332
E, por consequência, irmão de Gaspar Vaz da Silva, da Costa & Vaz, Limitada. Ver sociedade anterior. 333
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, Oliveira de Azeméis, 6.º ofício, doc. n.º 2827-312, ff. 16 verso
a 19. 334
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C. 335
O Regional, n.º 941, 27 de julho de 1957, p. 4.
151
António Ferreira Correia, filho de Américo Ferreira Correia e de Júlia Maria da Silva.
Declaram-se ambos industriais, naturais e residentes em S. João da Madeira. Esta sociedade
comercial em nome coletivo, para a indústria e o comércio de calçado, detinha um capital
social inicial de 50 mil escudos, integralmente realizado em dinheiro e em partes iguais pelos
sócios. Ambos foram nomeados administradores336
.
Manteve-se em atividade, pelo menos, até 1956, no lugar do Pedaço337
.
336
Arquivo Distrital de Aveiro, Actos e contratos, S. João da Madeira, 1.º ofício, doc. n.º 204-109, ff. 89 verso a
90 verso. 337
C.M.S.J.M. - Licenças de Estabelecimento Comercial ou Industrial – Grupo C.
152
OUTPUT SPSS – Relatório de análises
RAMO ESPECÍFICO DE ATIVIDADE DAS SOCIEDADES
Tipo de atividade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Indústria de chapelaria e
calçado
1 2,0 2,0 2,0
Indústria e comércio de
calçado
34 68,0 68,0 70,0
Indústria de calçado e
comércio de artigos da
mesma indústria
3 6,0 6,0 76,0
Comércio e indústria de
cabedais e calçado
1 2,0 2,0 78,0
Comércio e indústria de
calçado, tamancos e
chancas
1 2,0 2,0 80,0
Comércio e indústria de
tamancaria
2 4,0 4,0 84,0
Indústria de calçado 2 4,0 4,0 88,0
Indústria e comércio de
calçado, brochas, pincéis,
vassouras e escovas
1 2,0 2,0 90,0
Indústria e comércio de
chapéus, lápis, calçado e
camisas
1 2,0 2,0 92,0
Compra e venda de
cabedais e fabrico de
calçado
1 2,0 2,0 94,0
Indústria e comércio de
sapataria
3 6,0 6,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
153
RAMO ESPECÍFICO DE ATIVIDADE POR DÉCADA
Tipo de atividade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Compra e venda de
cabedais e fabrico de
calçado
1 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1910
Tipo de atividade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Indústria de chapelaria e
calçado
1 6,3 6,3 6,3
Indústria e comércio de
calçado
8 50,0 50,0 56,3
Indústria de calçado e
comércio de artigos da
mesma indústria
1 6,3 6,3 62,5
Comércio e indústria de
cabedais e calçado
1 6,3 6,3 68,8
Comércio e indústria de
calçado, tamancos e
chancas
1 6,3 6,3 75,0
Comércio e indústria de
tamancaria
2 12,5 12,5 87,5
Indústria e comércio de
sapataria
2 12,5 12,5 100,0
Total 16 100,0 100,0
Década de constituição = 1920
154
Tipo de atividade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Indústria e comércio de
calçado
14 82,4 82,4 82,4
Indústria de calçado e
comércio de artigos da
mesma indústria
2 11,8 11,8 94,1
Indústria e comércio de
calçado, brochas, pincéis,
vassouras e escovas
1 5,9 5,9 100,0
Total 17 100,0 100,0
Década de constituição = 1930
Tipo de atividade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Indústria e comércio de
calçado
8 66,7 66,7 66,7
Indústria de calçado 2 16,7 16,7 83,3
Indústria e comércio de
chapéus, lápis, calçado e
camisas
1 8,3 8,3 91,7
Indústria e comércio de
sapataria
1 8,3 8,3 100,0
Total 12 100,0 100,0
Década de constituição = 1940
Tipo de atividade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Indústria e comércio de
calçado
4 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1950 (até 1953)
155
ANO DE CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES
N Valid 49
Missing 1
Mode 1927
Ano de constituição
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid 1917 1 2,0 2,0 2,0
1922 2 4,0 4,1 6,1
1923 2 4,0 4,1 10,2
1926 3 6,0 6,1 16,3
1927 6 12,0 12,2 28,6
1928 1 2,0 2,0 30,6
1929 1 2,0 2,0 32,7
1930 3 6,0 6,1 38,8
1932 2 4,0 4,1 42,9
1934 3 6,0 6,1 49,0
1935 2 4,0 4,1 53,1
1936 2 4,0 4,1 57,1
1937 3 6,0 6,1 63,3
1938 1 2,0 2,0 65,3
1939 1 2,0 2,0 67,3
1941 4 8,0 8,2 75,5
1942 1 2,0 2,0 77,6
1944 1 2,0 2,0 79,6
1948 3 6,0 6,1 85,7
1949 3 6,0 6,1 91,8
1950 1 2,0 2,0 93,9
1951 1 2,0 2,0 95,9
1952 2 4,0 4,1 100,0
Total 49 98,0 100,0
Missing System 1 2,0
Total 50 100,0
156
NATUREZA JURÍDICA DAS SOCIEDADES
Tipo de sociedade
N Valid 50
Missing 0
Tipo de sociedade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Sociedade comercial por
quotas de responsabilidade
limitada
22 44,0 44,0 44,0
Sociedade comercial em nome
coletivo
28 56,0 56,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
NATUREZA JURÍDICA POR DÉCADA
Tipo de sociedade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Sociedade comercial em
nome coletivo
1 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1910
157
Tipo de sociedade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Sociedade comercial por
quotas de responsabilidade
limitada
2 12,5 12,5 12,5
Sociedade comercial em
nome coletivo
12 75,0 75,0 87,5
Sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada
1 6,3 6,3 93,8
Sociedade em nome
coletivo
1 6,3 6,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Década de constituição = 1920
Tipo de sociedade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Sociedade comercial por
quotas de responsabilidade
limitada
7 41,2 41,2 41,2
Sociedade comercial em
nome coletivo
8 47,1 47,1 88,2
Sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada
2 11,8 11,8 100,0
Total 17 100,0 100,0
Década de constituição = 1930
Tipo de sociedadea
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Sociedade comercial por
quotas de responsabilidade
limitada
5 41,7 41,7 41,7
Sociedade comercial em
nome coletivo
5 41,7 41,7 83,3
Sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada
2 16,7 16,7 100,0
Total 12 100,0 100,0
a. Década de constituição = 1940
158
Tipo de sociedade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Sociedade comercial por
quotas de responsabilidade
limitada
3 75,0 75,0 75,0
Sociedade comercial em
nome coletivo
1 25,0 25,0 100,0
Total 4 100,0 100,0
Década de constituição = 1950 (até 1953)
NÚMERO INICIAL DE SÓCIOS
N Valid 50
Missing 0
Mean 2,40
Median 2,00
Percentiles 25 2,00
50 2,00
75 2,00
90 3,00
159
CAPITAL SOCIAL INICIAL DAS SOCIEDADES
N Valid 50
Missing 0
Mean 113560,00
Median 40000,00
Percentiles 25 20000,00
50 40000,00
75 85000,00
90 150000,00
95 200000,00
CAPITAL SOCIAL INICIAL POR DÉCADA
N Valid 1
Missing 0
Mean 4000,00
Median 4000,00
Minimum 4000
Maximum 4000
Percentiles 25 4000,00
50 4000,00
75 4000,00
90 4000,00
95 4000,00
Década de constituição = 1910
160
N Valid 16
Missing 0
Mean 63718,75
Median 42500,00
Std. Deviation 52427,718
Minimum 15000
Maximum 200000
Percentiles 25 28125,00
50 42500,00
75 92500,00
90 165000,00
95 .
Década de constituição = 1920
N Valid 17
Missing 0
Mean 47029,41
Median 20000,00
Std. Deviation 53517,074
Minimum 10500
Maximum 200000
Percentiles 25 20000,00
50 20000,00
75 50000,00
90 160000,00
95 .
Década de constituição = 1930
161
N Valid 12
Missing 0
Mean 306250,00
Median 55000,00
Std. Deviation 849387,814
Minimum 10000
Maximum 3000000
Percentiles 25 26250,00
50 55000,00
75 100000,00
90 2145000,00
95 .
Década de constituição = 1940
N Valid 4
Missing 0
Mean 45000,00
Median 45000,00
Std. Deviation 28867,513
Minimum 10000
Maximum 80000
Percentiles 25 17500,00
50 45000,00
75 72500,00
90 .
95 .
Década de constituição = 1950 (até
1953)
162
CAPITAL SOCIAL INICIAL POR RAMO ESPECÍFICO DE ATIVIDADE
Capital social inicial
N Valid 1
Missing 0
Mean 33000,00
Median 33000,00
Minimum 33000
Maximum 33000
Percentiles 25 33000,00
50 33000,00
75 33000,00
90 33000,00
95 33000,00
Tipo de atividade = Indústria de chapelaria e de calçado
Capital social inicial
N Valid 3
Missing 0
Mean 120166,67
Median 150000,00
Std. Deviation 98209,385
Minimum 10500
Maximum 200000
Percentiles 25 10500,00
50 150000,00
75 .
90 .
95 .
Tipo de atividade = Indústria de calçado e comércio de artigos da
mesma
163
Capital social inicial
N Valid 1
Missing 0
Mean 15000,00
Median 15000,00
Minimum 15000
Maximum 15000
Percentiles 25 15000,00
50 15000,00
75 15000,00
90 15000,00
95 15000,00
Tipo de atividade = Comércio e indústria de cabedais e de calçado
Capital social inicial
N Valid 1
Missing 0
Mean 50000,00
Median 50000,00
Minimum 50000
Maximum 50000
Percentiles 25 50000,00
50 50000,00
75 50000,00
90 50000,00
95 50000,00
Tipo de atividade = Comércio e indústria de calçado, tamancos e
chancas
164
Capital social inicial
N Valid 2
Missing 0
Mean 110000,00
Median 110000,00
Std. Deviation 127279,221
Minimum 20000
Maximum 200000
Percentiles 25 20000,00
50 110000,00
75 .
90 .
95 .
Tipo de atividade = Comércio e indústria de tamancaria
Capital social inicial
N Valid 2
Missing 0
Mean 60000,00
Median 60000,00
Std. Deviation 56568,542
Minimum 20000
Maximum 100000
Percentiles 25 20000,00
50 60000,00
75 .
90 .
95 .
Tipo de atividade = Indústria de calçado
165
Capital social inicial
N Valid 1
Missing 0
Mean 40000,00
Median 40000,00
Minimum 40000
Maximum 40000
Percentiles 25 40000,00
50 40000,00
75 40000,00
90 40000,00
95 40000,00
Tipo de atividade = Indústria e comércio de calçado, brochas,
pincéis, vassouras e escovas
Capital social inicial
N Valid 1
Missing 0
Mean 3000000,00
Median 3000000,00
Minimum 3000000
Maximum 3000000
Percentiles 25 3000000,00
50 3000000,00
75 3000000,00
90 3000000,00
95 3000000,00
Tipo de atividade = Indústria e comércio de chapéus, lápis, calçado
e camisas
166
Capital social inicial
N Valid 1
Missing 0
Mean 4000,00
Median 4000,00
Minimum 4000
Maximum 4000
Percentiles 25 4000,00
50 4000,00
75 4000,00
90 4000,00
95 4000,00
Tipo de atividade = Compra e venda de cabedais e fabrico de
calçado
Capital social inicial
N Valid 37
Missing 0
Mean 49608,11
Median 40000,00
Std. Deviation 37955,225
Minimum 10000
Maximum 150000
Percentiles 25 20000,00
50 40000,00
75 65000,00
90 104000,00
95 150000,00
Tipo de atividade = Indústria e comércio de calçado = Conjugação
entre calçado e sapataria
167
CAPITAL SOCIAL INICIAL POR NÚMERO INICIAL DE SÓCIOS
Capital social inicial
N Valid 39
Missing 0
Mean 45461,54
Median 30000,00
Std. Deviation 40091,734
Minimum 4000
Maximum 200000
Percentiles 25 20000,00
50 30000,00
75 50000,00
90 100000,00
95 120000,00
N.º de sócios - início = 2
Capital social inicial
N Valid 7
Missing 0
Mean 70714,29
Median 50000,00
Std. Deviation 56230,817
Minimum 15000
Maximum 150000
Percentiles 25 25000,00
50 50000,00
75 150000,00
90 .
95 .
N.º de sócios - início = 3
168
Capital social inicial
N Valid 2
Missing 0
Mean 130000,00
Median 130000,00
Std. Deviation 98994,949
Minimum 60000
Maximum 200000
Percentiles 25 60000,00
50 130000,00
75 .
90 .
95 .
N.º de sócios - início = 4
Capital social inicial
N Valid 2
Missing 0
Mean 1575000,00
Median 1575000,00
Std. Deviation 2015254,32
6
Minimum 150000
Maximum 3000000
Percentiles 25 150000,00
50 1575000,00
75 .
90 .
95 .
N.º de sócios - início = 5 ou mais
169
DISTRIBUIÇÃO DO CAPITAL SOCIAL INICIAL ENTRE SÓCIOS
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
30 60,0 60,0 60,0
Distribuição distinta 19 38,0 38,0 98,0
Pertence a apenas um dos
sócios
1 2,0 2,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
DISTRIBUIÇÃO DO CAPITAL SOCIAL INICIAL ENTRE SÓCIOS POR DÉCADA
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
1 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1910
170
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
9 56,3 56,3 56,3
Distribuição distinta 6 37,5 37,5 93,8
Pertence a apenas um dos
sócios
1 6,3 6,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Década de constituição = 1920
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
9 52,9 52,9 52,9
Distribuição distinta 8 47,1 47,1 100,0
Total 17 100,0 100,0
Década de constituição = 1930
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
7 58,3 58,3 58,3
Distribuição distinta 5 41,7 41,7 100,0
Total 12 100,0 100,0
Década de constituição = 1940
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
4 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1950 (até 1953)
171
DISTRIBUIÇÃO DO CAPITAL SOCIAL INICIAL
POR NÚMERO INICIAL DE SÓCIOS
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
28 71,8 71,8 71,8
Distribuição distinta 10 25,6 25,6 97,4
Pertence a apenas um dos
sócios
1 2,6 2,6 100,0
Total 39 100,0 100,0
N.º de sócios - início = 2
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em partes iguais entre os
sócios
2 28,6 28,6 28,6
Distribuição distinta 5 71,4 71,4 100,0
Total 7 100,0 100,0
N.º de sócios - início = 3
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Distribuição distinta 2 100,0 100,0 100,0
N.º de sócios - início = 4
Distribuição do capital social pelos sócios
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Distribuição distinta 2 100,0 100,0 100,0
N.º de sócios - início = 5 ou mais
172
TIPO DE CAPITAL SOCIAL INICIAL
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 38 76,0 76,0 76,0
Em dinheiro e bens 12 24,0 24,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
TIPO DE CAPITAL SOCIAL INICIAL POR DÉCADA
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro e bens 1 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1910
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 11 68,8 68,8 68,8
Em dinheiro e bens 5 31,3 31,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Década de constituição = 1920
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 12 70,6 70,6 70,6
Em dinheiro e bens 5 29,4 29,4 100,0
Total 17 100,0 100,0
Década de constituição = 1930
173
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 11 91,7 91,7 91,7
Em dinheiro e bens 1 8,3 8,3 100,0
Total 12 100,0 100,0
Década de constituição = 1940
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 4 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1950 (até 1953)
TIPO DE CAPITAL SOCIAL INICIAL POR RAMO ESPECÍFICO DE ATIVIDADE
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro e bens 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria de chapelaria e de calçado
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro e bens 3 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria
174
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Comércio e indústria de cabedais e de calçado
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Comércio e indústria de calçado, tamancos e chancas
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 2 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Comércio e indústria de tamancaria
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria e comércio de calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro e bens 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria e comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro e bens 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Compra e venda de cabedais e fabrico de calçado
175
Tipo de capital
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Em dinheiro 31 83,8 83,8 83,8
Em dinheiro e bens 6 16,2 16,2 100,0
Total 37 100,0 100,0
Indústria e comércio de calçado = conjugação entre calçado e sapataria
REALIZAÇÃO INTEGRAL DO CAPITAL SOCIAL
NO MOMENTO DE CONSTITUIÇÃO
Realização integral do capital no momento de constituição
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Não 4 8,0 8,2 8,2
Sim 45 90,0 91,8 100,0
Total 49 98,0 100,0
Missing System 1 2,0
Total 50 100,0
AUMENTOS DO CAPITAL SOCIAL INICIAL
Aumentos de capital social
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Desconhecido 46 92,0 92,0 92,0
Sim 4 8,0 8,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
176
Quantia acrescentada
ao capital social
N Valid 4
Missing 46
Mean 58000,00
Median 50000,00
Std. Deviation 34146,742
Minimum 27000
Maximum 105000
LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 6 12,0 12,0 12,0
Casaldelo 2 4,0 4,0 16,0
Corgas 2 4,0 4,0 20,0
Pedaço 4 8,0 8,0 28,0
Quintã 4 8,0 8,0 36,0
Ribeiros 2 4,0 4,0 40,0
Rua da Estação do Caminho
de Ferro
1 2,0 2,0 42,0
Rua Dias Garcia 1 2,0 2,0 44,0
Rua Jaime Afreixo 4 8,0 8,0 52,0
Rua Oliveira Júnior 1 2,0 2,0 54,0
S. João da Madeira 21 42,0 42,0 96,0
Travessas 1 2,0 2,0 98,0
Vendas 1 2,0 2,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
177
LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS POR DÉCADA
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Vendas 1 100,0 100,0 100,0
Década de constituição = 1910
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 5 31,3 31,3 31,3
Casaldelo 2 12,5 12,5 43,8
Corgas 1 6,3 6,3 50,0
Pedaço 2 12,5 12,5 62,5
Quintã 2 12,5 12,5 75,0
Ribeiros 2 12,5 12,5 87,5
S. João da Madeira 2 12,5 12,5 100,0
Total 16 100,0 100,0
Década de constituição = 1920
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Quintã 1 5,9 5,9 5,9
Rua Dias Garcia 1 5,9 5,9 11,8
Rua Jaime Afreixo 2 11,8 11,8 23,5
S. João da Madeira 12 70,6 70,6 94,1
Travessas 1 5,9 5,9 100,0
Total 17 100,0 100,0
Década de constituição = 1930
178
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 1 8,3 8,3 8,3
Corgas 1 8,3 8,3 16,7
Pedaço 2 16,7 16,7 33,3
Quintã 1 8,3 8,3 41,7
Rua da Estação do Caminho
de Ferro
1 8,3 8,3 50,0
Rua Jaime Afreixo 1 8,3 8,3 58,3
Rua Oliveira Júnior 1 8,3 8,3 66,7
S. João da Madeira 4 33,3 33,3 100,0
Total 12 100,0 100,0
Década de constituição = 1940
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Rua Jaime Afreixo 1 25,0 25,0 25,0
S. João da Madeira 3 75,0 75,0 100,0
Total 4 100,0 100,0
Década de constituição = 1950 (até 1953)
179
LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS POR RAMO ESPECÍFICO DE ATIVIDADE
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Casaldelo 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria de chapelaria e de calçado
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 1 33,3 33,3 33,3
S. João da Madeira 2 66,7 66,7 100,0
Total 3 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria de calçado e comércio de artigos da mesma indústria
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid S. João da Madeira 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Comércio e indústria de cabedais e calçado
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Ribeiros 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Comércio e indústria de calçado, tamancos e chancas
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 2 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Comércio e indústria de tamancaria
180
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid S. João da Madeira 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria e comércio de calçado, brochas, pincéis, vassouras e escovas
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Indústria e comércio de chapéus, lápis, calçado e camisas
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Vendas 1 100,0 100,0 100,0
Tipo de atividade = Compra e venda de cabedais e fabrico de calçado
Localidade
Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent
Valid Carquejido 2 5,4 5,4 5,4
Casaldelo 1 2,7 2,7 8,1
Corgas 2 5,4 5,4 13,5
Pedaço 4 10,8 10,8 24,3
Quintã 4 10,8 10,8 35,1
Ribeiros 1 2,7 2,7 37,8
Rua da Estação do Caminho
de Ferro
1 2,7 2,7 40,5
Rua Dias Garcia 1 2,7 2,7 43,2
Rua Jaime Afreixo 4 10,8 10,8 54,1
Rua Oliveira Júnior 1 2,7 2,7 56,8
S. João da Madeira 15 40,5 40,5 97,3
Travessas 1 2,7 2,7 100,0
Total 37 100,0 100,0
Indústria e comércio de calçado = Conjugação entre calçado e sapataria
181
PERÍODO EM ATIVIDADE
Período em atividade (em anos)
N Valid 16
Missing 34
Mean 3,9100
Median 3,0950
Std. Deviation 3,27081
Minimum ,02
Maximum 10,02
Percentiles 25 1,0900
50 3,0950
75 6,0075
90 10,0060
Período de laboração conhecido
(em anos)
N Valid 4
Missing 46
Mean 22,0150
Median 20,0000
Std. Deviation 6,36141
Minimum 17,06
Maximum 31,00
Percentiles 25 17,2950
50 20,0000
75 28,7500
182
PERÍODO EM ATIVIDADE POR DÉCADA
Período em atividade (em anos)
N Valid 0
Missing 1
Década de constituição = 1910
Período em atividade (em anos)
N Valid 9
Missing 7
Mean 5,0233
Median 4,0000
Std. Deviation 2,77740
Minimum 1,03
Maximum 10,00
Percentiles 25 3,0550
50 4,0000
75 7,0350
90 .
Década de constituição = 1920
Período em atividade (em anos)
N Valid 5
Missing 12
Mean 2,6360
Median 1,0900
Std. Deviation 4,20859
Minimum ,02
Maximum 10,02
Percentiles 25 ,0350
50 1,0900
75 6,0100
90 .
Década de constituição = 1930
183
Período em atividade (em anos)
N Valid 2
Missing 10
Mean 2,0850
Median 2,0850
Std. Deviation 1,40714
Minimum 1,09
Maximum 3,08
Percentiles 25 1,0900
50 2,0850
75 .
90 .
Década de constituição = 1940
Período em atividade (em anos)
N Valid 0
Missing 4
Década de constituição = 1950 (até 1953)
EXISTÊNCIA DE MAQUINARIA
Existência de maquinaria
Frequency Percent Valid Percent
Cumulative
Percent
Valid Não 3 6,0 6,0 6,0
Sim 7 14,0 14,0 20,0
Desconhecido 40 80,0 80,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro n.º 1A – Sociedades de calçado (amostra analisada) ................................................... 55
Quadro n.º 1 - Ramo específico de atividade das sociedades .................................................. 63
Quadro n.º 2 - Ramo específico de atividade por década ........................................................ 65
Quadro n.º 3 - Frequência de constituição das sociedades ....................................................... 67
Quadro n.º 4 - Natureza jurídica das sociedades ..................................................................... 68
Quadro n.º 5 - Distribuição do capital social inicial entre sócios ............................................ 73
Quadro n.º 6 - Distribuição do capital social inicial entre sócios por década ......................... 73
Quadro n.º 7 - Distribuição do capital social inicial por número inicial de sócios ................. 74
Quadro n.º 8 - Tipo de capital social inicial ............................................................................ 75
Quadro n.º 9 - Tipo de capital social inicial por décadas ........................................................ 75
Quadro n.º 10 - Tipo de capital inicial por ramo específico de atividade ............................... 76
Quadro n.º 11 - Realização integral do capital social no momento de constituição ............... 77
Quadro n.º 12 - Localização das indústrias ............................................................................. 78
Quadro n.º 13 - Localização das indústrias por década ........................................................... 79
Quadro n.º 14 - Localização das indústrias por ramo específico de atividade ........................ 81
Quadro n.º 1B - Sociedades de calçado identificadas a laborar neste período (ausentes da
amostra analisada) .................................................................................................................. 105
Quadro n.º 2A – A indústria de sapataria no distrito do Porto em 1890 ................................ 110
Quadro n.º 2B – A indústria nacional de sapataria em 1890 – Totais distritais (continente) . 111
Quadro n.º 2C - A indústria de sapataria no distrito de Aveiro em 1890 ............................... 112
ÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO: JUSTIFICAÇÃO TEMÁTICA, OBJETIVOS E PROBLEMÁTICA,
FONTES E METODOLOGIA ....................................................................................... 9
1.1. Justificação do tema .................................................................................................... 11
1.2. Objetivos e problemática ............................................................................................. 14
1.3. Fontes e metodologia .................................................................................................. 20
2. A INDÚSTRIA DA SAPATARIA DO CONCELHO DE S. JOÃO DA MADEIRA
NO QUADRO NACIONAL E DISTRITAL (1881- 1920) ......................................... 34
2.1. Delimitação e caraterização espacial do concelho de S. João da Madeira .................. 34
2.2. A indústria da sapataria do concelho sanjoanense no quadro nacional e distrital ....... 34
2.2.1. Caraterísticas da atividade industrial .......................................................................... 41
2.2.1.1. Produção artesanal e domiciliar ................................................................................. 41
2.2.1.2. Dimensão .................................................................................................................... 42
2.2.1.3. Sazonalidade da produção .......................................................................................... 43
2.2.1.4. Registo e licenciamento ............................................................................................. 43
2.3. Dificuldades da indústria ............................................................................................ 44
2.3.1. Concorrência .............................................................................................................. 44
2.3.1.1. Trabalhadores rurais ................................................................................................... 44
2.3.1.2. Reclusos ..................................................................................................................... 44
2.3.1.3. Trabalho feminino ...................................................................................................... 45
2.4. Escassez de capitais .................................................................................................... 46
2.5. Ensino profissional ...................................................................................................... 47
2.6. Proteção pautal ........................................................................................................... 49
2.7. Tipo de produção ........................................................................................................ 50
3. AS SOCIEDADES SANJOANENSES DO CALÇADO (1917-1952) ...................... 51
3.1. A dinâmica industrial – as sociedades comerciais e industriais e o seu significado .. 51
3.2. Aproximação a uma avaliação quantitativa ................................................................ 53
3.2.1. Quadro n.º 1A – Sociedades de calçado (amostra analisada) ..................................... 55
3.2.2. Ramo específico de atividade das sociedades ............................................................ 61
3.2.3. Frequência de constituição das sociedades ................................................................. 66
3.2.4. Natureza jurídica das sociedades ................................................................................ 68
3.2.5. Número inicial de sócios e capitais ............................................................................. 69
3.2.6. Distribuição do capital social inicial entre sócios ...................................................... 72
3.2.7 Localização das indústrias .......................................................................................... 78
3.2.8. Período em atividade .................................................................................................. 83
3.2.9. Existência de maquinaria ............................................................................................ 84
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 86
5. FONTES E BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 90
5.1. Fontes .......................................................................................................................... 90
5.1.1. Fontes manuscritas ...................................................................................................... 90
5.1.2. Fontes impressas ......................................................................................................... 91
5.1.2.1.Fontes estatísticas ........................................................................................................ 91
5.1.2.2. Periódicos ................................................................................................................... 93
5.2. Bibliografia ................................................................................................................. 93
5.3. Bibliografia auxiliar .................................................................................................... 96
6. APÊNDICES ............................................................................................................. 104
Quadro n.º 1B - Sociedades de calçado identificadas a laborar neste período (ausentes da
amostra analisada) .................................................................................................................. 105
Quadro n.º 2A – A indústria de sapataria no distrito do Porto em 1890 ............................... 110
Quadro n.º 2B – A indústria nacional de sapataria em 1890 – Totais distritais (continente) ......
Quadro n.º 2C - A indústria de sapataria no distrito de Aveiro em 1890 .............................. 112
Apontamentos sobre as sociedades sanjoanenses do calçado analisadas ............................... 113
Output SPSS – relatório de análises ...................................................................................... 152
Índice de quadros .................................................................................................................. 184