Dissertação Amanda - Versão Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

AMANDA MASSANEIRA DE SOUZA SCHUNTZEMBERGER

ANLISE DO COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BOI GORDO NA PECURIA DE CORTE PARANAENSE: PERODO 1994-2009

CURITIBA 2010

ii i AMANDA MASSANEIRA DE SOUZA SCHUNTZEMBERGER

ANLISE DO COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BOI GORDO NA PECURIA DE CORTE PARANAENSE: PERODO 1994-2009

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincias Veterinrias, rea de Concentrao em Cincias Veterinrias, linha de pesquisa Sistemas de Produo Animal e Meio Ambiente, Setor de Cincias Agrrias, Universidade Federal do Paran, como parte das exigncias para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Veterinrias. Orientador: Prof. Dr. Paulo Rossi Junior Co-orientador: Prof. Dr. Joo B. Padilha Junior.

CURITIBA 2010

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Ao Claudio, meu esposo. Por todo o amor, por quem sou e por tudo o que tenho conquistado ao seu lado.

vi AGRADECIMENTOS

Raramente algum alcana seus objetivos sem precisar, em algum momento, de apoio, por menor que ele seja. E quando falo em apoio me refiro quele de todo tipo: afetuoso, emocional, familiar, profissional ou acadmico. E eu no fugi regra. Para que pudesse chegar at aqui usufrui de todos os tipos de apoio que existem. E agora chegou o momento de agradecer aqueles que me deram um pouquinho de si para que eu alcanasse meu objetivo. Perdoem-me aqueles que se sentiram rejeitados ao no verem seus nomes escritos aqui, mas saibam que pensei em todos enquanto escrevia meus agradecimentos.

A pecuria pode ser vista como uma interao entre a natureza, os animais e os seres humanos. E se tudo isso existe porque algum os criou. Assim, agradeo a Deus, criador e mantenedor do Universo, por ter permitido realizar este trabalho.

Lembro como se fosse ontem... esses so os primeiros dois meses de muitos outros que ainda viro... Hoje so mais de dez anos juntos. Claudinho, sem voc a vida realmente perde o sentido. Eu te amo, pouco, mas tudo.

Um filho fruto da unio entre um homem e uma mulher, ou seja, um pai e uma me. Sem pais no h filhos. Agradeo imensamente aos meus pais, Iracilda e Djalma, a quem devo tudo o que sou.

Ao meu irmo Diogo, pelo apoio na realizao deste projeto, principalmente pelo seu talento na construo do site, principal meio de divulgao do trabalho; e tambm pela nova famlia que formamos com a chegada da Vaneca e da Luluzita e, em breve, da Isabela.

Se fui considerada aluna, porque existiam professores para ensinar. Se fui considerada mestranda, porque tive um orientador nesta batalha. Alm de ganhar a batalha, ganhei um amigo, Paulo Rossi Junior. Meu sincero agradecimento pela orientao, apoio e a confiana em mim depositada, pelo seu exemplo profissional e mais ainda pelo seu exemplo de vida.

vii Se venci mais esta batalha porque tive, alm do orientador, um co-orientador, o Companheiro Joo Batista Padilha Junior, que fez despertar em mim o gosto pela Economia Rural. Caro Padilha, agradeo pela orientao e toda a ateno a mim dispensada.

Aos amigos e colegas Adir, Marcel, Rodrigo, Simeon e Tcia pela amizade, companheirismo e pela colaborao na realizao deste trabalho.

Ao Professor Henrique Soares Kehler pelo auxlio com as anlises estatsticas.

Este trabalho s foi possvel porque havia informantes dirios de dados. Agradeo ao pessoal dos frigorficos, escritrios de compra e venda de gado, leiloeiros e produtores do estado do Paran por me concederem uma visita e por aceitarem participar deste projeto.

Aos colegas de Ps-graduao, em especial ao Miguel e ao Ronald, pela amizade, companheirismo e colaborao recebida durante o curso. E aos demais colegas que de alguma forma contriburam no desenvolvimento do trabalho.

Aos verdadeiros amigos por entenderem meus momentos de ausncia e por me apoiarem em todos os momentos, mesmo sem entender direito o que exatamente eu fazia nesse tal de mestrado, em especial Nine e Tata por me escutarem nos momentos em que mais precisei e por estarem sempre perto, mesmo estando distantes... Amo, amo, amo!!!

No h como desenvolver um projeto de pesquisa se no houver recursos financeiros, assim, agradeo ao CNPq, ao MAPA e a UFPR pelo auxlio nas pesquisas desenvolvidas, bem como CAPES, pela bolsa mim concedida.

Por fim, agradeo minha casa, a Universidade Federal do Paran, de onde, mais uma vez, recebi a estrutura para minha formao, e para onde pretendo um dia voltar para compartilhar o que aprendi.

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O impossvel, em geral, o que no se tentou. (Jim Goodwin)

Quando agente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas... (Luis Fernando Verssimo)

ix RESUMO

A pecuria de corte uma atividade que apresenta incertezas e certo risco econmico, devido dependncia dos fatores climticos, do elevado tempo em que as criaes permanecem no campo sem apresentar o retorno esperado e das dvidas quanto aos preos que sero recebidos, pois a deciso de engordar o animal para o abate tomada muito antes de se conhecer o preo pelo qual ele ser comercializado. O tamanho do rebanho e o volume de abate de bovinos so diferentes nas mesorregies paranaenses, o que faz com que os preos da arroba do boi gordo tambm difiram entre si. Assim, conhecer o comportamento dos preos agropecurios um aspecto mercadolgico fundamental, pois quanto mais transparente for esse mercado mais fcil torna-se a tomada de deciso dos vendedores e compradores de animais, permitindo um bom desempenho de todos e uma maior competitividade da atividade. No primeiro captulo realizou-se uma reviso de literatura sobre a pecuria de corte paranaense, caracterizando seus aspectos regionais. A reviso ainda discorreu sobre o mercado do boi gordo, sua formao de preos e os ciclos anuais e plurianuais da bovinocultura de corte, alm de aspectos dos preos agropecurios. O segundo captulo fez uma anlise do comportamento dos preos do boi gordo na pecuria de corte paranaense no perodo de janeiro de 1994 a dezembro de 2009, verificando a existncia de tendncia e caracterizando as variaes cclicas e sazonais. Os preos da arroba do boi gordo no apresentaram tendncia significativa, mantendo-se estveis durante o perodo analisado. A existncia de um perodo cclico de cerca de sete anos pode ser atribuda aos efeitos dos processos de investimentos e desinvestimentos pecurios em resposta ao comportamento dos preos. A anlise estacional do preo da arroba do boi gordo mostrou a relao existente entre a safra e a entressafra, determinada pelas foras de oferta e demanda de animais. O preo do boi gordo apresentou ndices sazonais inferiores a 100 entre fevereiro e julho, com elevaes acima de 100, de agosto a janeiro. O pico de preos baixos ocorreu no ms de maio e o de preos altos, no ms de novembro. O terceiro e ltimo captulo props a construo de um Indicador de Preos da Arroba do Boi Gordo no Estado do Paran, que foi formulado a partir de uma mdia ponderada considerando o volume de abate de bovinos em cada mesorregio do estado. Analisou-se a relao existente entre o Indicador LAPBOV/UFPR e os preos do boi gordo nas diferentes mesorregies do estado. Para testar sua eficincia, o Indicador LAPBOV/UFPR foi comparado com aquele divulgado pela SEAB/PR, para o estado do Paran, e com aquele divulgado pelo CEPEA, apenas para a regio noroeste paranaense. Aps as anlises concluiu-se que este novo indicador pode servir como referencial nas operaes de compra e venda de gado pelos produtores e frigorficos, visto que traduz mais adequadamente as realidades da bovinocultura de corte no Estado.

Palavras-chave: Ciclos pecurios, Indicadores de preos, Pecuria de corte.

x ABSTRACTThe beef cattle production is an activity which has some uncertainty and economic risk due to the dependence on climatic factors and the long time that the herds remain in the field without producing the expected return. Also there are doubts about the prices to be received, because the decision to raise the animal for slaughter is taken a long time before knowing which price it can reach on the market. The herd size and the volume of slaughter cattle are not the same in the different mesoregions of the state, which means that prices of live cattle are also different. Know the behavior of agricultural prices is a fundamental aspect of marketing, once as more transparent be the market, the decision-making of the sellers and buyers of animals becomes easier, allowing a good performance of everyone involved and a greater competitiveness of the activity. In the first chapter was presented a review of literature on the beef cattle production in Parana State, showing its regional features. The literature review was also about the beef cattle market, their pricing and the beef cattle cycles, as well as aspects of agricultural prices. The second chapter analyzed the price behavior of beef cattle in Parana during the period from January 1994 to December 2009, verifying the existence of a trend and characterizing the cyclical and seasonal variations. The beef cattle prices not showed a significant trend from 1995 to 2009, keeping stable during the period analyzed. The existence of cyclical periods of around seven years can be attributed to the effect of the processes of beef cattle investments and divestments, in reply to the price behavior. The seasonal analysis showed the relation between harvest and period between harvests, determined by the supply and demand of animals. The real price of beef cattle in Parana presented seasonal rates below 100 between February and July, and increments above 100, from August to January, corresponding to the periods during and between harvests, respectively. The lowest price occurred in May and the highest in November. The third and final chapter proposed to develop a price index of cattle in Parana state. The proposed index was formulated from the formation of a database of prices in the physical market, considering the volume of slaughtered cattle in each mesoregion of Parana. It was analyzed the relation between the index LAPBOV/UFPR and the prices of beef cattle in the different mesoregion. To test its efficiency, this new index was compared with the one currently published by SEAB/PR for the whole state and with the index released by CEPEA for the northwestern region of Parana. This new index can be used as a reference to the cattle trade operations by the producers and slaughterhouses, because it better reflects the realities of beef cattle production in the state.

Key words: Beef Cattle Cycles, Prices Indexes, Beef Cattle Production.

xi LISTA DE ILUSTRAES

CAPTULO I CONSIDERAES GERAIS FIGURA 1 Efetivo do rebanho de bovinos no estado do Paran em 2008................ FIGURA 2 Esquema representativo do complexo agro-industrial da carne bovina... FIGURA 3 Ciclo anual da pecuria de corte da regio centro-sul do Brasil.............. FIGURA 4 Fases do ciclo plurianual da pecuria de corte no Brasil......................... CAPTULO II ANLISE DO COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BOI GORDO NA PECURIA DE CORTE PARANAENSE NO PERODO DE JANEIRO DE 1994 A DEZEMBRO DE 2009 FIGURA 1 Evoluo dos preos mdios mensais (reais e nominais) da arroba do boi gordo no estado do Paran, entre janeiro de 1994 e dezembro de 2009......................................................................................................... FIGURA 2 Estimativa da tendncia, por regresso linear, dos preos mdios mensais da arroba do boi gordo no estado do Paran, agosto de 1995 a dezembro de 2009................................................................................ FIGURA 3 Componente cclico dos preos mdios mensais da arroba do boi gordo no estado do Paran, entre 1994 e 2009...................................... FIGURA 4 Preos reais mdios mensais da arroba do boi gordo no estado do Paran no ano de 2009........................................................................... FIGURA 5 ndices sazonais e irregularidades positiva e negativa dos preos mdios reais da arroba do boi gordo no estado do Paran, 1994 e 2009, deflacionados pelo IGP-DI, base dez/09 = 100........................... CAPTULO III PROPOSTA PARA INDICADOR DE PREOS DA ARROBA DO BOI GORDO NO ESTADO DO PARAN FIGURA 1 O Paran e suas mesorregies, segundo o IBGE.................................... FIGURA 2 Sries de preos mensais nominais e reais da arroba do boi gordo no estado do Paran, no perodo de junho a dezembro de 2009................

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xii LISTA DE TABELAS

CAPTULO I CONSIDERAES GERAIS TABELA 1 Efetivo do rebanho bovino no estado do Paran, por meso e microrregies, em 2008....................................................................... 6 TABELA 2 Exportaes paranaenses de carne bovina, 2005 a 2008....................... 7 TABELA 3 Percentuais da renda gasta com alimentao no domiclio, por classes de rendimento monetrio e no monetrio mensal, segundo os tipos de despesa, no Paran........................................................................... 9 TABELA 4 Indicadores de produtividade da pecuria de corte paranaense, em 2008....................................................................................................... 10 CAPTULO II ANLISE DO COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BOI GORDO NA PECURIA DE CORTE PARANAENSE NO PERODO DE JANEIRO DE 1994 A DEZEMBRO DE 2009 TABELA 1 Preos mdios reais da arroba do boi gordo no estado do Paran, 1994-2004, deflacionados pelo IGP-DI, base dez/09 = 100.................. TABELA 2 Anlise de regresso de tendncia na srie temporal de preos reais da arroba do boi gordo no estado do Paran, 1995/2009....................... TABELA 3 Mdia Mvel Centralizada dos preos reais da arroba do boi gordo no estado do Paran, 1994-2004, deflacionados pelo IGP-DI, base dez/09 = 100............................................................................................ TABELA 4 ndice Estacional Geral dos preos reais da arroba do boi gordo no estado do Paran, 1994-2004, deflacionados pelo IGP-DI, base dez/09 = 100............................................................................................ TABELA 5 ndices Estacionais Mdios, ndices Sazonais, Desvios-padro e Irregularidades positivas e negativas para os preos da arroba do boi gordo no estado do Paran, 1994-2004, deflacionados pelo IGP-DI, base dez/09 = 100................................................................................. CAPTULO III PROPOSTA PARA INDICADOR DE PREOS DA ARROBA DO BOI GORDO NO ESTADO DO PARAN TABELA 1 Estatstica descritiva dos preos do boi gordo praticados nas mesorregies paranaenses, do Indicador LAPBOV/UFPR, dos preos divulgados pela SEAB e pelo CEPEA, entre junho e dezembro de 2009, em R$/@............................................................. TABELA 2 Matriz de correlao do Indicador LAPBOV/UFPR e dos preos da arroba do boi gordo nas mesorregies paranaenses............................ TABELA 3 Coeficientes de regresso linear, valores de r, r2, r2 ajustado e erro padro de estimativa das equaes ajustadas para as diferentes sries temporais dos preos da arroba do boi gordo no estado do Paran e nas suas mesorregies............................................................ TABELA 4 Comparao das mdias dos preos da arroba do boi gordo, de diferentes fontes, pelo Teste t-Student, a um nvel de significncia de 5%.........................................................................................................

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xiii LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS

@ arroba ABIEC Associao Brasileira das Indstrias Exportadoras de Carnes BM&F/BOVESPA Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de So Paulo CEPEA Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada COFINS Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social CONESA Conselho Estadual de Sanidade Agropecuria CPMF Contribuio Provisria sobre Movimentao Financeira DEFIS Departamento de Fiscalizao e Defesa Agropecuria DERAL Departamento de Economia Rural EMATER Instituto Paranaense de Assistncia Tcnica e Extenso Rural FAEP Federao da Agricultura do Estado do Paran FGV Fundao Getlio Vargas IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IGP-DI ndice Geral de Preos / Disponibilidade Interna IN Instruo Normativa IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento OIE World Organisation for Animal Health PIS Programa de Integrao Social POF Pesquisa de Oramentos Familiares SEAB/PR Secretria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paran SEBRAE/PR Servio de apoio s micro e pequenas empresas do Paran SEFA Secretaria de Estado da Fazenda SIF Servio de Inspeo Federal SIM Servio de Inspeo Municipal SINDICARNE/PR Sindicato das Indstrias da Carne e Derivados no Estado do Paran SIP Servio de Inspeo do Paran t - tonelada VBP Valor Bruto da Produo Agropecuria

xiv SUMRIO

CAPTULO I CONSIDERAES GERAIS........................................................... 1. INTRODUO...................................................................................................... 2. REVISO DE LITERATURA................................................................................ 2.1 A BOVINOCULTURA DE CORTE NO ESTADO DO PARAN......................... 2.1.1 Aspectos regionais da pecuria de corte do estado do Paran....................... 2.1.2 Estrutura do rebanho de corte paranaense..................................................... 2.2 MERCADO DO BOI GORDO.............................................................................. 2.3 A FORMAO DE PREOS.............................................................................. 2.3.1 Ciclos da pecuria de corte.............................................................................. 2.3.1.1 Ciclo anual ou sazonal.................................................................................. 2.3.1.2 Ciclo plurianual ou pecurio.......................................................................... 2.4 PREOS AGROPECURIOS............................................................................ 2.4.1 Funes dos preos agropecurios................................................................. 2.4.2 Deflacionamento dos preos agropecurios.................................................... 2.4.3 Anlise temporal dos preos agropecurios.................................................... 3. CONCLUSO....................................................................................................... 4. REFERNCIAS.................................................................................................... 5. DOCUMENTOS CONSULTADOS....................................................................... CAPTULO II ANLISE DO COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BOI GORDO NA PECURIA DE CORTE PARANAENSE NO PERODO DE JANEIRO DE 1994 A DEZEMBRO DE 2009....... RESUMO.................................................................................................................. ABSTRACT.............................................................................................................. 1. INTRODUO...................................................................................................... 2. MATERIAL E MTODOS..................................................................................... 3. RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................ 4. CONCLUSO....................................................................................................... 5. REFERNCIAS.................................................................................................... CAPTULO III PROPOSTA PARA INDICADOR DE PREOS DA ARROBA DO BOI GORDO NO ESTADO DO PARAN............................. RESUMO.................................................................................................................. ABSTRACT.............................................................................................................. 1. INTRODUO...................................................................................................... 2. MATERIAL E MTODOS..................................................................................... 2.1 ELABORAO DO INDICADOR LAPBOV/UFPR.............................................. 2.2 ANLISES........................................................................................................... 3. RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................ 4. CONCLUSO....................................................................................................... 5. REFERNCIAS....................................................................................................

1 1 3 3 10 11 16 20 21 22 25 29 30 31 32 37 39 44

45 45 45 46 48 51 62 63

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CONSIDERAES FINAIS...................................................................................... 85

1 CAPTULO I CONSIDERAES GERAIS

1. INTRODUO

A pecuria bovina de corte, assim como outras atividades agropecurias, uma atividade produtiva de certo risco econmico devido dependncia dos fatores climticos e o elevado tempo em que as criaes permanecem no campo sem apresentar retorno esperado do investimento realizado, alm das dvidas quanto aos preos que sero recebidos, o que faz desta atividade um jogo de incertezas e de risco financeiro (BIALOSKORSKI NETO, 1995). Segundo CASTRO et al. (2003), a incerteza quanto aos preos do boi gordo praticados na poca de sua comercializao um dos fatores que causam mais riscos para os produtores. Essa incerteza ocorre porque a deciso de engordar o animal para o abate tomada muito antes de se conhecer o preo pelo qual ele ser comercializado, no sendo possvel fazer um ajuste instantneo do volume produzido ao nvel de preos vigente no mercado, como ocorre em outros ramos da produo. Segundo o IBGE (2009b), o Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, cerca 170 milhes de bovinos, sendo que o Paran ocupa a 10 posio no ranking da pecuria com um rebanho em torno de 9,5 milhes de cabeas. Destes, 70% so destinados a pecuria de corte (BORGES e MEZZADRI, 2009), ou seja, so 6,7 milhes de bovinos distribudos entre 94.078 propriedades e 55 mil produtores que efetivamente participam do mercado. O Paran vem se tornando um plo importante em pecuria de corte. Os rebanhos possuem qualidade gentica, sanidade e os produtores preocupam-se em conhecer e utilizar tecnologias sanitrias, de manejo, reprodutivas e nutricionais que levem a uma maior produtividade e qualidade de seus rebanhos (MEZZADRI, 2007). Nas ltimas dcadas, o progresso tecnolgico no complexo agro-industrial da carne bovina1, especialmente na fase de produo animal, reflete no volume produzido, na sazonalidade da produo e, conseqentemente, nos preos dos

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Cabe destacar que um complexo agro-industrial tem como ponto de partida determinada matria prima de base que passa por diferentes processos industriais e comerciais at se transformar em diferentes produtos finais, enquanto que uma cadeia produtiva definida a partir da identificao de um produto final. Na pecuria de corte o boi gordo considerado matria-prima e no um produto final do processo e, portanto, deve ser entendido como um complexo agro-industrial.

2 animais das diversas categorias e dos produtos finais, alterando a repartio dos ganhos econmicos entre os agentes deste complexo (SACHS e PINATTI, 2007). O tamanho do rebanho e o volume de abate de bovinos so desiguais nas diferentes regies. Em algumas h o predomnio da pecuria de corte, sendo os rebanhos maiores, como o caso de Umuarama e Paranava; em outras, o destaque para atividades como a produo de gros, sunos, aves e gado de leite. Assim, os preos do boi gordo diferem entre as regies do estado. Como o nmero de produtores (fornecedores de matria prima) bem maior que o nmero de frigorficos, acaba existindo uma predominncia por parte destes em formarem o preo de comercializao da arroba do boi, sendo os produtores tomadores de preo (MENDES e PADILHA JR, 2007). Segundo SACHS e PINATTI (2007) a anlise do comportamento dos preos dentro de uma cadeia produtiva de grande importncia, sendo indispensvel para o correto planejamento da atividade, principalmente diante da representatividade da pecuria no contexto econmico estadual, da recente evoluo da pecuria bovina, percebida pelo encurtamento dos ciclos de produo dos animais e pela reduo da sazonalidade da oferta de carne, e das mudanas na economia brasileira. Tendo em vista a importncia da anlise dos preos agropecurios, verificou-se o comportamento dos preos da arroba do boi gordo praticados no Paran, no perodo de janeiro de 1994 a dezembro de 2009, identificando e quantificando o ciclo plurianual existente, o padro sazonal dentro de cada ano e o tipo de tendncia existente na srie histrica. O indicador de preos de um produto o preo mdio de mercado daquele produto praticado num determinado perodo, ou seja, o preo (cotao) que reflete as foras de oferta e demanda que atuam naquele momento. Para ampliar as informaes referentes formao de preos e auxiliar os agentes deste complexo agro-industrial na tomada de decises, o presente estudo tambm props a construo de um Indicador de Preos da Arroba do Boi Gordo no Estado do Paran, embora j existam alguns ndices divulgados por outras instituies.

3 2. REVISO DE LITERATURA

2.1 A BOVINOCULTURA DE CORTE NO ESTADO DO PARAN

O Paran, diferentemente de outros estados, possui um clima diversificado, pois o norte do estado cortado pelo Trpico de Capricrnio que divide o clima em subtropical e temperado, o que favorece a cultura de variadas espcies forrageiras em todas as estaes do ano, e permite a criao de diferentes raas bovinas adaptadas ao frio e ao calor, favorecendo a oferta constante de animais precoces e com bom peso ao longo do ano (MEZZADRI, 2007). Segundo a SEAB/DERAL (2003), no norte as temperaturas so mais elevadas e predominam rebanhos formados por raas zebunas das quais apresenta destaque a raa nelore, tanto pelo nmero de cabeas, quanto em qualidade gentica dos animais. Porm, o perfil da pecuria no Norte vem mudando. Os rebanhos comerciais, que h alguns anos eram formados quase que somente por animais puros nelore, agora esto sendo compostos tambm por animais mestios, zebunos x europeus, atravs da tcnica chamada de cruzamento industrial, seja atravs de monta natural ou da inseminao artificial, o que vem reforar ainda mais a idia de que os pecuaristas paranaenses passaram a preocupar-se com a qualidade dos seus rebanhos e com sua produtividade. J o sul do estado, onde predominam temperaturas frias e amenas, se caracteriza por apresentar, em sua maior parte, rebanhos formados por animais de origem europia destacando-se as raas: Simental, Pardo-Suio, Aberdeen e Red Angus, Limousin, Charols, Canchin, Gelbvieh e seus cruzamentos. Na regio, na entressafra (inverno), quando as constantes geadas e a estiagem reduzem quase a zero as pastagens nativas, os pecuaristas mais profissionalizados utilizam meios alternativos para a alimentao dos animais, como a produo de silagem, feno e, principalmente, o cultivo de espcies forrageiras de clima temperado, destacando-se como espcies mais cultivadas a aveia e o azevm (SEAB/DERAL, 2003).

4 A pecuria de corte paranaense ainda marcada por caractersticas bastante tradicionais, apesar das mudanas verificadas nos ltimos anos, especialmente nas regies Noroeste e Norte, em que os pecuaristas vm desenvolvendo uma atitude empresarial mais acentuada, tanto em termos inovativos quanto nas relaes com os agentes frigorficos. Essas alteraes so um resultado da poltica macroeconmica vigente aps o Plano Real, a qual implicou a eliminao de um comportamento especulativo em funo da nova tendncia dos preos ao consumidor. H, portanto, indicaes de que esse tpico comportamento dos criadores venha cedendo espao para a eficincia como nico caminho para a lucratividade dos estabelecimentos pecurios. Por outro lado, ainda persiste entre os pecuaristas a lgica da venda no programada de animais para cobrir gastos correntes ou investimentos no planejados (IPARDES, 2002). Segundo a Produo Pecuria Municipal 2008, mais de 9,5 milhes de cabeas formam o rebanho bovino paranaense (incluindo bovinos de corte, leite e mistos), sendo considerado o dcimo maior do pas e correspondendo a 4,7% do rebanho nacional (IBGE, 2009b). Em 2002, o Paran possua 5,4% do rebanho brasileiro, situando-se em 8 lugar no ranking nacional. Nesse ano, o rebanho paranaense de bovinos compreendia mais de 10,48 milhes de cabeas, segundo o IBGE (2009a). Em seis anos o rebanho diminuiu em quase 8,6% seu tamanho e perdeu duas posies no ranking nacional. A distribuio do efetivo do rebanho bovino no Estado do Paran e nas suas mesorregies e microrregies no ano de 2008 apresentada na Figura 1 e na Tabela 1. possvel perceber uma maior concentrao do rebanho nas mesorregies Noroeste, Norte Central e Centro-Sul Paranaense, enquanto que as regies com menor nmero de animais so a Sudeste e a Metropolitana de Curitiba.

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FIGURA 1 Efetivo do rebanho de bovinos no estado do Paran em 2008FONTE: IPARDES (2009)

Por mais que a atividade esteja presente em praticamente todo o Estado, o Noroeste apresenta um nvel de desenvolvimento superior ao das demais regies, no apenas pela maior participao das reas de pastagens, do nmero de animais e de criadores, mas pela capacidade de suporte (densidade cabeas/ha) e pelo tamanho da explorao pecuria, isto , o nmero mdio de cabeas (IPARDES, 2002). Dados da SEAB/DERAL (2009) informam que a produo pecuria estadual, em 2008, foi de mais de R$ 15,8 bilhes, correspondendo a 38,21% do VBP da agropecuria paranaense que totalizou mais de R$ 41,3 bilhes. O segmento da bovinocultura respondeu por aproximadamente R$ 3,26 bilhes, o que representa 7,88% do VBP de 2008. Segundo o IBGE (2010), o volume de abate no Estado em 2008 foi de cerca de 1,2 milhes de cabeas nos estabelecimentos com SIF, SIP e SIM, aproximadamente 4,18% do total de abates no Brasil, o que resultou em mais de 279 mil toneladas de carne (convertido para peso de carcaa de 225 kg).

6 TABELA 1 Efetivo do rebanho bovino no estado do Paran, por meso e microrregies, em 2008ESTADO, MESORREGIES E MICRORREGIES PARAN Noroeste Paranaense Paranava Umuarama Cianorte Norte Central Paranaense Ivaipor Astorga Faxinal Apucarana Londrina Porecatu Maring Flora Centro-Sul Paranaense Guarapuava Pitanga Palmas Oeste Paranaense Cascavel Toledo Foz do Iguau Norte Pioneiro Paranaense Wenceslau Braz Ibaiti Jacarezinho Cornlio Procpio Assai Sudoeste Paranaense Francisco Beltro Pato Branco Capanema Centro Oriental Paranaense Telmaco Borba Ponta Grossa Jaguariava Centro Ocidental Paranaense Campo Mouro Goioer Sudeste Paranaense Prudentpolis Unio da Vitria Irati So Mateus do Sul Metropolitana de Curitiba Curitiba Cerro Azul Lapa Rio Negro Paranagu FONTE: Adaptado de IBGE (2009b) REBANHO (CABEAS) 9 585 600 2 186 061 973 895 959 007 253 159 1 382 097 491 074 395 464 150 667 109 724 108 162 62 428 48 027 16 551 1 206 134 671 391 387 959 146 784 1 195 005 590 715 384 676 219 614 1 012 049 267 192 256 062 204 872 194 848 89 075 884 865 473 831 215 260 195 774 672 845 332 324 195 949 144 572 575 358 305 642 269 716 252 034 113 010 70 652 36 860 31 512 219 152 94 748 52 092 43 802 22 800 5 710

7 Segundo o MDIC/SECEX (2010), em 2008, as exportaes paranaenses de carnes e derivados de bovinos alcanaram o volume de mais de 26 mil toneladas (Tabela 2), correspondendo a 1,9% do total exportado pelo pas. As carnes desossadas congeladas responderam por 66% (17.435,53 t) das exportaes do Estado seguidas por outras miudezas comestveis de bovino congeladas (15%) e pelas tripas bovinas (9%). Em termos de valor, as exportaes de carne bovina somaram mais de US$ 91 milhes. A Rssia foi o maior mercado das exportaes de carne bovina paranaense em 2008, absorvendo, em mdia, 46% das exportaes do estado (12 mil t), seguida por Hong Kong (26,8%) e Venezuela (4,3%).

TABELA 2 Exportaes paranaenses de carne bovina, 2005 a 2008Ano 2005 2006 2007 2008 FONTE: Adaptado de MDIC/SECEX (2010) Toneladas 34.508 12.384 10.416 26.216 U$$ FOB 78.427.312 23.874.357 20.778.942 91.847.922

De acordo com a Tabela 2, o volume de carne bovina exportado pelo Paran em 2008 bem mais expressivo do que os volumes exportados em 2006 e 2007, mas ainda pequeno quando comparado ao volume exportado pelo estado em 2005, bem como quando comparado ao volume exportado por outros estados brasileiros, o que mostra que a pecuria paranaense tem como um de seus desafios, a expanso das exportaes, j que possui potencial para tal ao. Em outubro de 2005, o estado apresentou focos de febre aftosa, sendo este um fator que ainda faz com que o volume das exportaes seja pequeno, devido aos embargos sanitrios carne paranaense pelos pases importadores. Quando estes embargos terminarem, o que se espera que acontea em breve, pois, em 2008, o estado recuperou perante OIE o status de livre de febre aftosa, com vacinao, situao essa que contribuiu para alavancar as exportaes do ano de 2008 (BORGES e MEZZADRI, 2009), a tendncia que as exportaes aumentem ainda mais. O estado dever voltar a exportar para importantes

8 mercados, como a Unio Europia, gerando maior receita para este complexo agroindustrial. Para que isso acontea, preciso um maior investimento, por parte do governo, nos programas de vigilncia sanitria, bem como a ao conjunta com outros estados, principalmente nas regies que fazem fronteira com os pases da Amrica do Sul, como o Paraguai e a Bolvia, onde a vigilncia sanitria animal precria. O baixo volume de exportao tambm indica que a carne bovina produzida no Paran tem como destino o mercado interno, principalmente os municpios do prprio estado. Em relao ao consumo, as carnes bovinas e de frango so importantes fontes proticas da dieta do povo brasileiro e apresentam peso significativo no oramento do consumidor (BACCHI e HOFFMANN, 1995). A Pesquisa de Oramentos Familiares 2002/2003 concluiu que os gastos com alimentao do paranaense corresponderam a 15,68% de sua despesa total, cujo valor mdio era de R$ 1.858,13, sendo que os maiores gastos com alimentao foram observados nas classes com menor rendimento monetrio. No perodo 2002/2003, o consumo per capita de carnes bovinas e derivados no estado do Paran foi de 17,3 kg por habitante, incluindo carnes de primeira, de segunda, carne de hambrguer, carne seca e outras no especificadas (IBGE, 2009c). A Tabela 3 apresenta os percentuais da renda gasta com alimentao no domiclio, por classes de rendimento monetrio e no monetrio mensal, segundo os tipos de despesa, no Paran. Verifica-se que a carne bovina de primeira tem participao significativa e cresce de acordo com o nvel de renda da populao, tendo um sentido contrrio ao da carne de frango.

9 TABELA 3 Percentuais da renda gasta com alimentao no domiclio, por classes de rendimento monetrio e no monetrio mensal, segundo os tipos de despesa, no ParanClasses de rendimento monetrio e no monetrio mensal familiar (R$) Tipos de despesa Carne bovina Primeira Carne bovina Segunda Carne suna Carnes e peixes Processados Pescados frescos Frango Ovos TOTAL Total At 400* 2,20 4,69 1,08 2,32 0,17 5,91 1,14 17,51 > 400 a 600 1,79 5,92 1,21 2,90 0,69 6,45 1,19 20,15 > 600 > 1.000 > 1.200 > 1.600 > 2.000 > 3.000 > a a a a a a 4.000 1.000 1.200 1.600 2.000 3.000 4.000 4,12 3,67 1,39 2,40 0,28 5,02 1,30 18,18 3,31 2,73 2,43 2,99 0,37 4,49 1,45 17,77 3,29 4,17 1,46 2,58 0,46 4,90 1,11 17,97 5,22 2,31 1,06 3,33 0,72 3,61 1,25 17,5 4,42 3,02 1,08 3,08 0,72 3,59 0,96 16,87 6,54 2,15 0,87 3,41 0,62 2,87 0,87 17,33 4,16 1,33 1,27 2,31 0,78 1,68 0,66 12,19

4,04 3,03 1,31 2,72 0,57 3,89 1,04 16,6

FONTE: POF 2002/2003, IBGE (2009c) *Inclusive sem rendimento

O consumo per capita da carne de segunda aumenta relativamente pouco quando se passa de faixas de renda mais baixas para faixas intermedirias, e tende a cair quando se passa para rendas mais elevadas. O potencial de crescimento da demanda interna por carne de segunda depende do crescimento da populao e da demanda por produtos elaborados, que a utilizam como matria-prima. Padres de consumo mais elevados de carne bovina dependem da relao preo/renda. Se ocorrer uma queda nessa relao, seja por queda de preo relativo seja por aumento na renda, espera-se um aumento na demanda dessa carne por parte da populao que hoje se encontra com menor poder aquisitivo, especialmente por carne de primeira. Sabe-se tambm que o comportamento de compra dos indivduos influenciado por variveis scio-demogrfico-culturais, variveis psicolgicas (estilo de vida, motivao) e por situao de compra (IPARDES, 2002).

10 2.1.1. Estrutura e distribuio do rebanho de corte paranaense

O Paran se destaca por possuir uma pecuria de corte relativamente desenvolvida, no aspecto tecnolgico, com rebanhos de alto nvel gentico, onde existem animais com destaque em importantes exposies nacionais e

internacionais. O Estado tambm se destaca pelo grande nmero de produtores conscientizados em empregar tecnologia e preocupados com a sanidade e a rentabilidade do rebanho (SEAB/DERAL, 2003). De acordo com BORGES e MEZZADRI (2009), o uso destas tecnologias, o entendimento de novos conceitos na pecuria de corte e a modernizao das propriedades rurais resultam na melhoria constante dos nveis de produtividade (Tabela 4). Estes ndices so uma mdia das marcas atingidas em todo o Estado, sendo que em muitas propriedades os indicadores apresentam-se bem superiores aos apresentados.

TABELA 4 Indicadores de produtividade da pecuria de corte paranaense, em 2008INDICADORES DE PRODUTIVIDADE Taxa de natalidade Mortalidade no 1 ano Taxa de lotao de pastagens Idade mdia 1 cria Intervalo entre partos Idade mdia de abate Rendimento de carcaa Taxa de desfrute FONTE: Adaptado de BORGES e MEZZADRI, 2009 60% 2% 1,5 U.A 36 meses 14,5 meses 36 meses 52% 22%

Segundo dados preliminares do Censo Agropecurio 2006, existem no estado 209.307 propriedades com bovinos (IBGE, 2009d). Embora a produo pecuria no Paran seja uma atividade presente na grande maioria dos estabelecimentos agropecurios, sua importncia maior entre aqueles situados na faixa de at 500 ha, mais particularmente acima de 100 ha, ou seja, a produo mais concentrada nas propriedades de mdio porte (IPARDES, 2002).

11 O sistema de criao predominante o sistema extensivo e o uso do semiconfinamento geralmente feito para dar acabamento no animal. A idade de abate varia de 20 a 42 meses, sendo os maiores perodos verificados nos grandes e mdios produtores (ABRAHO2 et al., 1999 apud IPARDES, 2002; SOUZA e PEREIRA, 2002). No norte do estado os animais so criados e terminados basicamente em regime de manejo extensivo e em grandes estabelecimentos, com rea mdia de pasto de 110 ha, apresentando menor custo de produo e animais de boa qualidade. Na regio sul a atividade ocorre de forma mais sistemtica em mdios e pequenos estabelecimentos, com rea mdia de 70 ha (IPARDES, 2002). O confinamento de animais para o abate mais comum nas regies noroeste e norte central do estado, embora existam outras regies importantes na atividade como Campo Mouro, Jacarezinho e Ponta Grossa.

2.1.2 Aspectos regionais da Pecuria de corte do Estado do Paran

A coordenao de uma cadeia produtiva envolve um processo de transmisso de informaes, estmulos e controles para que a mesma possa responder s mudanas no ambiente competitivo, com o objetivo de buscar eficincia ao longo da cadeia; ou seja, os modelos de governana normalmente objetivam disciplinar os negcios de modo a torn-los eficientes. A ausncia de mecanismos de articulao sistmica impe a necessidade de estimular o fortalecimento de instituies que possam desempenhar funes de coordenao das cadeias produtivas. A competitividade, e at mesmo a existncia de uma cadeia produtiva, depende da promoo de acordos entre agentes, parcerias com o setor pblico ou entre agentes privados, e estmulo ao associativismo e cooperao para romper gargalos e identificar solues (IPARDES, 2002). De acordo com IPARDES (2002), problemas presentes em determinados elos ou comportamentos oportunistas de determinados agentes comprometem o desempenho da cadeia como um todo. Porm, aqueles que possuem uma cadeiaABRAHO, J. J. S. et al. Bovino de corte: prospeco de demandas tecnolgicas do agronegcio paranaense. Londrina: IAPAR, 1999. 10p.2

12 produtiva mais estruturada e melhor coordenada beneficiam-se mais rapidamente dessa situao, pois as informaes so transferidas de forma mais gil a todos os segmentos da cadeia, e os produtores podem se adaptar mais facilmente s mudanas do mercado. No caso da bovinocultura de corte paranaense, tal transmisso praticamente inexistente, dada a descoordenao ao longo deste complexo agro-industrial. Quando se realiza uma anlise comparativa entre os principais complexos agro-industriais da pecuria estadual, percebe-se que o da pecuria de corte o menos organizado e verticalizado. A pecuria de corte no Paran, assim como no restante do pas, considerada diversificada e descoordenada. A diversidade relativa variedade de raas utilizadas, s rotas tecnolgicas (pacotes tecnolgicos), aos sistemas de produo, s condies sanitrias de criao e abate dos animais e aos aspectos inerentes da cada sistema de comercializao verificado em cada regio produtora do Estado do Paran. No aspecto da descoordenao, verifica-se claramente a baixa relao entre os principais intermedirios (produtor-frigorfico-atacado-varejo-consumidor) do sistema de comercializao, que torna obscura a informao de mercado entre o produtor e o frigorfico/indstria, aumentando a concorrncia predatria, a ineficincia de mercado e o risco dos agentes envolvidos no processo produtivo (FAVARET FILHO e PAULA, 1997). A descoordenao, ou seja, a baixa relao existente entre os diversos intermedirios atuantes no sistema (produtor frigorfico atacado varejo consumidor) outro fator que de certa forma impede uma melhor organizao do setor e a gerao de um produto padronizado e com melhor qualidade. Segundo IPARDES (2002) e SOUZA e PEREIRA (2002), as entidades de representao do setor de produo, abate e processamento da carne bovina no Paran tm atuado como agentes de representao junto ao setor pblico. No mbito estadual, essa cadeia representada pela FAEP e pelo SINDICARNE-PR, que atuam na observao e sugesto de leis e portarias que interferem nas questes tributrias e sanitrias.

13 Para as empresas exportadoras, existe a ABIEC, que representa a cadeia nas questes referentes s exportaes. Outras instituies vinculadas ao setor pblico so relevantes para a regulamentao e o controle operacional do setor, como a SEAB e estruturas vinculadas (DERAL/DEFIS/CONESA/SIP; EMATER); a SEFA, o MAPA e tambm as Prefeituras Municipais. A relao entre a produo e a indstria pouco cooperativa, sendo em grande parte determinada por aspectos conjunturais de mercado. Os pecuaristas contam com a possibilidade de reter seus animais no pasto, buscando elevar preos. Por outro lado, em pocas de ampla oferta ou de retrao de demanda, so os frigorficos que ditam os preos. O preo pago ao produtor pecuarista estabelecido pelos frigorficos em conformidade com os preos parametrizados em So Paulo, que so, em mdia, 5% maiores (ABRAHO et al., 1999 apud IPARDES, 2002). Na rea de processamento convivem frigorficos modernos, voltados prioritariamente ao mercado externo e capazes de oferecer carne embalada, tipificada e identificada; com frigorficos antigos e desatualizados tecnologicamente, que oferecem carne para o mercado estadual e nacional em condies sofrveis de higiene e qualidade (IPARDES, 2002). Em 1998, o Paran era um dos estados que possua o segundo maior nmero de frigorficos de bovinos credenciados no SIF, com 14 estabelecimentos (12% do total nacional), localizados principalmente nas regies norte e noroeste paranaense, ficando atrs apenas de So Paulo que detinha 15% do total dos frigorficos com SIF. Em termos de capacidade de abate, o estado tambm detinha a segunda posio, com 11,84% do total de bovinos abatidos no pas (ANUALPEC, 1998). J em 2007, o parque industrial paranaense possua 26 frigorficos cadastrados no SIF e 71 no SIP (MEZZADRI, 2007), demonstrando que pouco mais de 26% dos estabelecimentos possuam condies de competir no mercado nacional. Em nove anos, o nmero de unidades com SIF no estado aumentou 85%, evidenciando o crescente investimento na atividade neste perodo. A autora do presente estudo identificou que em 2009 havia no estado 58 estabelecimentos ativos (17 frigorficos com cadastro no SIF e 41 no SIP). Atualmente, cerca de 30% dos frigorficos do estado tm condies de competir no mercado nacional.

14 visvel que o nmero de estabelecimentos vem se reduzindo nos ltimos anos, pois h uma tendncia de concentrao de empresas neste ramo, por meio de fuses e aquisies, o que provoca o desaparecimento de pequenas e mdias empresas. Em entrevista a Revista Isto Dinheiro, de 25 de julho de 2007, Rui Coutinho, que foi o primeiro presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econmica (CADE), afirma que "as fuses e aquisies fazem parte de um comportamento estratgico das empresas que buscam uma escala eficiente, um aumento de produtividade e reduo de custos". Segundo Coutinho, a

internacionalizao crescente e o processo de concentrao, muito forte (ISTO DINHEIRO, 2007). Alm disso, algumas grandes empresas que apostaram no setor antes da crise de 2008, fazendo grandes investimentos, ficaram comprometidas devido falta de crdito e retrao do mercado consumidor, no tendo alternativa a no ser a de fechar as portas. Quanto localizao, as unidades de abate, principalmente as que possuem inspeo federal, esto situadas nas regies que concentram a maior parte do rebanho bovino paranaense especializado em raas apropriadas para corte. Cerca de 70% das unidades com SIF esto localizadas nas mesorregies Noroeste, Norte Central e Norte Pioneiro. J as unidades voltadas ao abastecimento do mercado estadual (com SIP) se encontram melhor distribudas espacialmente, o que caracteriza suas aptides para o abastecimento dos mercados locais ou regionais. Nota-se que as grandes empresas frigorficas tendem a estabelecer uma unidade de abate e processamento no maior nmero de estados possveis, ficando mais prximas dos centros consumidores e dos locais de produo, e tambm para escapar de possveis embargos comerciais dos pases importadores, como ocorre em casos de febre aftosa. Dos abates realizados, aproximadamente dois teros so realizados e registrados formalmente em estabelecimentos com inspeo federal e estadual, e um tero efetuado sem registro em qualquer desses estabelecimentos ou em abatedouros com inspeo municipal. Contudo, verifica-se que os abates em estabelecimentos com SIF representam entre 80% e 90% dos abates inspecionados registrados. Nessa etapa, ainda persistem situaes de abate irregular, em grande parte resultante dos frgeis mecanismos de controle no mbito da fiscalizao sanitria municipal e estadual.

15 Outro aspecto do abate ilegal diz respeito rea fiscal, em face das distores do sistema tributrio nacional, principalmente dado pelo carter cumulativo de tributos como o COFINS e CPMF, e das disfunes do aparato arrecadador (IPARDES, 2002). A iseno dos impostos PIS e COFINS para produtos pecurios foi regulamentada em dezembro de 2009 pela Receita Federal do Brasil (BRASIL, 2009). A iseno valida para venda de gado bovino, carnes, couros etc. A suspenso alcana a comercializao efetuada por pessoa jurdica (inclusive cooperativas), para pessoas jurdicas produtoras ou que industrializem bens e produtos de carnes bovinas. No mercado interno, o incentivo visto pelo setor como uma forma de combater a concorrncia de empresas que realizam abate de forma ilegal, podendo levar ao consumidor uma carne de melhor qualidade, alm de mais barata. Quanto origem, os animais abatidos so em sua totalidade adquiridos no Estado do Paran, a uma distncia que raramente ultrapassa os 500 km. Para as empresas no exportadoras essa distncia acaba sendo menor, predominantemente de 200 km, pelo fato de os requerimentos de qualidade animal serem menos exigentes (IPARDES, 2002). De acordo com SOUZA e PEREIRA (2002), 50 a 60% dos abates so de Nelore (Zebunos) e o restante de cruzamento industrial, a maior parte de Nelore com Simental, Limousin e Charols (Taurinos). A preferncia dos frigorficos, no momento de aquisio dos animais, por machos castrados e com peso acima de 15 @. Em termos de rendimento, a converso de um bovino vivo em carne oscila entre 52% e 54%, ou seja, um boi em p com cerca de 500 kg deve resultar em um peso aproximado de carcaa limpa de 265 kg (IPARDES, 2002). Para a exportao, a preferncia o Nelore, raa mais adequada s condies requeridas nos contratos e que melhor atende aos requisitos de exportao. Os frigorficos exportadores adquirem os animais diretamente de produtores previamente cadastrados (10%) e de corretores (90%), que

arregimentam o plantel conforme requerimento e tipificao tcnica pr-estabelecida (IPARDES, 2002). A aquisio dos animais feita no mercado livre, pelo preo do dia do fechamento da pauta de abate, normalmente com pagamento em 30 dias. Muitos frigorficos no realizam compras vista em decorrncia de sua descapitalizao, e

16 conseqente falta de capital de giro (SILVA e BATALHA, 2000). Para pagamento vista, realizado desgio de 2 a 5%, sendo que a falta de qualidade ou de atendimento aos critrios de seleo pode reduzir o preo a ser pago. A dificuldade para acesso s propriedades em algumas mesorregies, em funo de perodos longos de chuva, dificulta a obteno de matria-prima e permite aes oportunistas por parte de alguns produtores (SOUZA e PEREIRA, 2002).

2.2 MERCADO DO BOI GORDO

Os mercados de produtos agropecurios so, na maioria das vezes, competitivos, isto , existe um grande nmero de compradores e vendedores com informaes sobre o mercado, negociando mercadorias consideradas homogneas. Frequentemente, inmeros produtores agropecurios se defrontam com um nmero relativamente reduzido de compradores, especialmente quando o produto negociado a matria-prima de uma agroindstria (KASSOUF e HOFFMANN, 1988). Produtos homogneos, sem grau de diferenciao e/ou agregao de valor quando comercializados so chamados de commodities. O preo das commodities imposto basicamente pela lei de mercado oferta x demanda. O boi gordo pode ser considerado uma commoditie agropecuria. Neste contexto, segundo MENDES e PADILHA JR (2007), o produtor rural um mero tomador de preos, ou seja, ele no tem o poder de estipular os valores da sua mercadoria; podendo somente aceitar a valorao do seu produto, que inteiramente imposta pelo mercado. O mercado de um produto, no caso do boi gordo, pode ser definido como rea geogrfica na qual consumidores (demanda), representados pelos frigorficos, e vendedores (oferta), representados pelos pecuaristas, interagem, tentando

influenciar os termos de mercado (preo, quantidade) chegando a um consenso. Este consenso a quantidade que ser adquirida pelo preo no qual, consumidores e vendedores ficam satisfeitos, mesmo que o consumidor no tenha pagado o menor preo e o vendedor no tenha atingido o maior lucro (ROSSETTI, 2002). Os trs elos mais importantes do complexo agro-industrial da carne bovina so: a) produtor - composto pelos agropecuaristas responsveis pela cria, recria e engorda; b) abatedouro/processamento representados pelos frigorficos,

17 responsveis pelo abate e processamento da carne e c) distribuidor tendo como um dos principais representantes as grandes redes de supermercados, onde a carne devidamente processada comercializada. A Figura 2 apresenta um esquema resumido da cadeia da carne bovina apontando a fase de comercializao do boi gordo entre o pecuarista e o frigorfico, a fase de comercializao no atacado, em que so comercializados o traseiro, o dianteiro e a ponta de agulha de bovinos e a fase de comercializao no varejo, quando so comercializados os cortes de carne bovina in natura. A relao entre produtor e frigorfico, de como tambm formas: varejistas de

(supermercados,

por

exemplo),

ocorre

diferentes

atravs

intermedirios (corretores) comissionados que fazem aquisies de animais para donos de frigorficos ou para varejistas (supermercados e aougues). Esses corretores podem ser do tipo exclusivo, que trabalha para um frigorfico, e varejista especfico e/ou do tipo no exclusivo, que trabalha para vrios frigorficos, e varejistas indistintamente. Outra forma de aquisio de bois gordos a que feita diretamente pelo frigorfico por meio de seu agente comercial, no caso, um empregado do prprio frigorfico.

MERCADO EXTERNO Boi Gordo INSUMOS AGROPECURIA (PRODUTORES) INDSTRIA (FRIGORFICOS) MERCADO INTERNO Varejo CONSUMIDOR

Atacado

FIGURA 2 Esquema representativo do complexo agro-industrial da carne bovinaFONTE: Adaptado de PINATTI e BINI (2009)

18 Pode-se afirmar que quando se considera apenas os frigorficos e as grandes redes de supermercados, verifica-se uma estrutura de mercado oligopsnica. Por outro lado, no segmento da produo, este constitudo por produtores com barganhas semelhantes, no tocante aos preos recebidos, mesmo porque no se verifica neste segmento a formao de estoques que poderiam permitir uma formao de preos diferente daquela da concorrncia perfeita (NEUMANN et al., 2006). Como o mercado de carnes tipicamente concorrencial, sem que os agentes possam fazer o preo, os pecuaristas simplesmente recebem os sinais desse mercado atravs dos frigorficos. Dessa forma, a relao entre esses dois elos da cadeia vem sendo essencialmente conflituosa em torno da margem a ser apropriada no momento da comercializao. Ou seja, diferentemente das atividades suincola e avcola, em que h ntida relao de subordinao esfera industrial, os pecuaristas, por serem independentes, acabam por deter maior poder de negociao com os frigorficos. Com isso, os obstculos para o desenvolvimento modernizante da pecuria no esto apenas no interior da propriedade, em funo da resistncia dos pecuaristas em adotar novos procedimentos e tecnologias, mas na esfera da comercializao, na medida em que os frutos da eficincia produtiva no so adequadamente remunerados (IPARDES, 2002). Segundo NEUMANN et al. (2006), a discusso entre formao de preos no agronegcio da carne bovina, com relao ao valor pago pela indstria para os produtores, gira em torno das foras de mercado, oferta e demanda, de modo que, se estabelece forte relao com a renda per capita, o preo da prpria carne e o preo de seus substitutos e/ou alternativos (frango e suno), bem como pelas alteraes nas preferncias dos consumidores. A partir da procura-se estabelecer os fatores que afetam essa oferta e demanda de carne bovina. Convm mencionar que na oferta h relao direta entre preo e quantidade, ou seja, quanto maior o preo, maior ser a quantidade que os produtores pretendem oferecer venda.

19 De acordo com PEROBELLI e SCHOUCHANA3 (2000) apud CASTRO et al. (2003), o mercado de boi gordo marcado principalmente pela expectativa de preo, em que este a expresso final da interao de diversos elementos. Os elementos gerais que determinam o preo so: produo, consumo, condies climticas, taxa de cmbio, exportaes, importaes e estoques (animais de reposio); e os elementos especficos caractersticos do produto so: relao de substituio com outros produtos, como frango e suno; influncia das variaes dos nveis e da distribuio da renda per capita no consumo de carne bovina; custos de produo e os avanos tecnolgicos. Segundo HOFFMANN (1991) h ainda outros fatores que influenciam as variaes de preos no longo prazo como a desvalorizao da moeda, crescimento da populao, urbanizao, variaes nos gostos e costumes dos consumidores. De acordo com AGUIAR (1993) uma reduo de preos pode estar ligada a uma queda da demanda, cuja origem a recesso econmica do pas. Em setembro de 2008, mais uma crise econmica mundial veio tona. Com isto, pode-se observar retrao na demanda por carnes, principalmente no mercado externo, o que acabou desencadeando, entre outros fatores, uma queda nos preos do boi gordo no mercado brasileiro. De acordo com BARROS e MARTINES FILHO (1987), a contnua variao de preos dos produtos agrcolas tem relao direta com a incidncia de choques sobre esse mercado. Enquanto no mercado de bens industriais os choques acontecem principalmente em razo de problemas relacionados com o lado da demanda, no mercado dos produtos agrcolas a situao mais complexa, uma vez que os choques podem afetar os preos tanto pelo lado da oferta, via manifestao de variaes de efeitos climticos tais como geadas, estiagens e excesso de chuva, como tambm pelo aparecimento de doenas, ataques de pragas, etc., como pelo lado da demanda, por meio de modificaes nos instrumentos de poltica econmica, que so capazes de alterar nveis de renda, hbitos de consumo, etc.

PEROBELLI, F.S.; SCHOUCHANA, F. Formao do preo do boi gordo na BM&F. So Paulo: BM&F, 2000. 53p.

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20 J na dcada de 80, CADAVID GARCA (1984a) afirmava que, em geral, o horizonte de planejamento da empresa pecuria determinado no s por ndices zootcnicos e por condies ecolgicas da regio, mas tambm por variveis econmicas, as quais podero agir sobre o mercado de bovinos, provocando mudanas no processo produtivo e na caracterizao dos ciclos pecurios (na durao e amplitude do ciclo), incentivando, sustentando ou at mesmo desencorajando o produtor, conforme as condies favorveis, instveis ou adversas predominantes no mercado do boi. Se na poca em que a bovinocultura quase no era vista como um empreendimento esse conceito j predominava, hoje indispensvel pensar desta forma para que se tenha sucesso na atividade.

2.3 A FORMAO DE PREOS

Diversos fatores cooperam para a formao de preos na pecuria bovina. H fatores estruturais e temporais relativos tanto oferta quanto demanda do produto, nos mercados interno e externo. Basicamente, os fatores estruturais mais importantes so os relacionados com o carter cclico da produo. Os fatores temporais, tendncias e variaes irregulares, alm de outros, como preos de outras carnes, principalmente de frango, tambm exercem influncia, porm, em menor intensidade. O boi gordo o elemento central na evoluo de preos dos bovinos, podendo-se observar, ao longo de sucessivos ciclos, variaes nas sries de preos das outras categorias: bezerro, boi magro e vaca solteira (PECURIA DE CORTE, 1982). SACHS e MARTINS (2007) que estudaram a relao entre preos de boi gordo e bezerro, SACHS e PINATTI (2007), analisando a relao do boi gordo com o boi magro na pecuria de corte paulista no perodo de 1995 a 2006, HASEGAWA4 (1995) apud SACHS e PINATTI (2007) que trabalhou a relao de preos entre todas as categorias da pecuria de 1970 a 1994 e BACCHI (1999) que avaliou a transmisso de preos entre boi gordo, boi magro e bezerro, no perodo de janeiro4

HASEGAWA, M.M. O mercado de reposio da pecuria bovina de corte no estado de So Paulo. Piracicaba, 1995. 142p. Dissertao (Mestrado em Agronomia) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So Paulo.

21 de 1981 a fevereiro de 1995, chegaram mesma concluso, ou seja, que o preo do boi gordo influencia sistematicamente os demais preos da pecuria de corte. Assim, considerando os elos produtor e frigorfico, a informao relativa cotao de preo do boi gordo a mais importante na pecuria de corte. Todos os agentes desta cadeia tentam influenciar a cotao do preo do boi gordo, aqueles que atuam antes da sua comercializao almejam uma cotao maior e os que atuam posteriormente sua comercializao desejam o contrrio, sendo que a fora de cada um varivel ao longo dos perodos (PINATTI, 2008). No entanto, o maior poder de barganha das grandes redes varejistas, as quais, dizendo-se pressionadas pelo consumidor final, procuram forar a diminuio das margens, tanto de pecuaristas quanto de frigorficos, faz com que este seja o elo central do preo da carne bovina. Segundo DE ZEN (1993), os fatores que os pecuaristas mais observam, no momento de vender os animais, alm da tradicional necessidade de fazer caixa, ou seja, de usar as reservas que so os animais no pasto, so, principalmente, as relaes de troca entre boi gordo e boi magro e entre boi gordo e bezerro (quantos animais o pecuarista consegue repor com a venda de um boi gordo, mostrando mais a preocupao do pecuarista em manter lucratividade na atividade, no longo prazo, do que com a necessidade de apenas ter dinheiro para resolver problemas ou aplicaes financeiras no curto prazo); como tambm as taxas de juros reais praticadas no mercado e o prazo de pagamento entre outros fatores.

2.3.1 Ciclos da pecuria de corte

Podem-se observar na bovinocultura de corte dois ciclos distintos: o ciclo anual ou sazonal e o ciclo plurianual ou pecurio. O ciclo da pecuria bovina um fenmeno que ocorre em todo o mundo, sendo sua durao determinada por fatores zootcnicos, variaes climticas e tambm por variveis econmicas.

22 2.3.1.1 Ciclo anual ou sazonal

Sabe-se que existem dois perodos distintos na comercializao de bovinos durante o ano, a safra e a entressafra, relacionados com a disponibilidade de animais gordos em ponto de abate, que, por sua vez, decorrente da maior ou da menor disponibilidade de pastagens ao longo das estaes do ano (KASSOUF5, 1988 apud KASSOUF e HOFFMANN, 1988; WEDEKIN e AMARAL, 1991; SACHS e PINATTI, 2007). Devido s variaes climticas ao longo do ano, em geral, existe uma maior quantidade e qualidade das pastagens no primeiro semestre do ano, pois a precipitao pluviomtrica maior. Nestes meses, os proprietrios retm o gado para um aumento do peso e ao atingir o ponto ideal para abate, ocorre a venda. Dessa forma, existe uma maior oferta de animais para abate neste perodo, o que leva queda nos preos. No segundo semestre do ano, com a queda da quantidade e qualidade das pastagens devido ao perodo de estiagem, em que h reduo da umidade, do fotoperodo e das temperaturas, sendo menos favorvel ao crescimento das forrageiras (SOUZA, 2005), a oferta do boi para o abate reduz, o que acaba provocando aumento de preos. Pode-se concluir, portanto, que enquanto o primeiro semestre marca o perodo da safra do boi gordo, o segundo semestre indica a entressafra (KASSOUF, 1988 apud KASSOUF e HOFFMANN, 1988; WEDEKIN e AMARAL, 1991; AGUIAR, 1993). A Figura 3 apresenta o ciclo anual da pecuria de corte na regio centro-sul do Brasil, sendo observadas algumas modificaes nas outras regies geogrficas devido s variaes climticas.

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KASSOUF, A.L. Previso de preos na pecuria de corte do Estado de So Paulo. Piracicaba, 1988. 102p. Dissertao (Mestrado) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So Paulo.

23PRIMAVERA/VERO OUT NOV DEZ JAN Aumento produo forragens FEV MAR > Oferta animais abate Queda preo boi gordo < Oferta animais abate SET AGO Queda produo forragens JUL JUN MAI Preo boi gordo mais baixo ABR

Preo boi gordo mais elevado Aumento preo boi gordo

OUTONO/INVERNO

FIGURA 3 Ciclo anual da pecuria de corte da regio centro-sul do BrasilFONTE: Adaptado de MEDEIROS e MONTEVECHI, 2005

Estudos feitos em vrias regies do Pas mostram que existe uma variao estacional de preos ao analisarem-se as mdias de preos mensais em vrios perodos (de um ano cada), observando que alguns meses apresentam constantemente, preos mais elevados, outros mdios e outros baixos. COUTO (1996) constatou que os preos do boi gordo apresentam nitidamente um perodo de preos baixos de dezembro a maio (safra). O perodo de preos altos, que corresponde entressafra, compreende os meses de junho a novembro. Este entendimento pode auxiliar o produtor rural a planejar a sua produo de animais destinados ao abate, buscando momentos mais propcios comercializao. Os abates tendem a concentrar no perodo que antecede o inverno, visto que nesta estao h maior comprometimento das pastagens, sendo que no ms de maio ocorre o pico de preo baixo da arroba do boi gordo, enquanto que o pico de preo alto em outubro, visto que neste ms se registra normalmente o menor nmero de animais abatidos, em funo do fato de que nesse perodo a reduo das pastagens atinge seu ponto mximo (MARGARIDO et al., 1996; COUTO, 1996). Um comportamento semelhante ao citado acima tambm foi verificado por S e SILVA JR. (1992), em estudo sobre variao estacional de produtos agropecurios em Gois; bem como por AMARAL e WEDEKIN (1993) que

24 analisaram as variaes ocorridas nos preos no mercado de bovinos no perodo de 1955 a 1992; SOUZA (2005) que estudou a evoluo e a sazonalidade dos preos e a relao de troca do boi gordo e do bezerro no estado de So Paulo entre 1999 e 2004 e SANTOS e GOMES (2006), que avaliaram os padres sazonais e cclicos para preos de boi gordo no estado de So Paulo entre 1976 e 2004. CADAVID GARCIA (1984b), analisando preos reais de boi magro acima de trs anos no Pantanal mato-grossense para o perodo 1968/81, encontrou os menores ndices de preos nos meses de fevereiro e maro, perodo que coincide com o inicio das enchentes, e o maior ndice de preo em outubro. SILVA e LEMOS (1986) fizeram uma anlise comparativa dos preos recebidos pelos produtores de bovinos de corte no Maranho, Piau e Cear no perodo de 1980/82 e identificaram o padro sazonal das variaes dos preos do boi gordo ocorridos nestes mercados. Os resultados obtidos indicaram a existncia de um padro estacional definido dos preos de boi gordo nos respectivos Estados e diferenas significativas entre os preos nos Estados, meses e anos. Os nveis de preos mais baixos ocorreram em torno do ms de julho e os mais altos nos meses de janeiro, fevereiro e maro. A amplitude de variao dos preos reais do boi gordo entre os meses de safra e entressafra de um dado ano funo das condies climticas, do momento cclico da pecuria e, da mesma forma, do comportamento da economia nacional e internacional, do poder aquisitivo do consumidor interno e das medidas polticas adotadas para o setor (TOLEDO e SANTIAGO, 1984; WEDEKIN et al., 1994). Um aspecto interessante que se constata, principalmente aps a dcada de 90, que a diferena entre a arroba de boi gordo na safra e na entressafra est diminuindo (MIELITZ NETTO, 1995). DE ZEN e BARROS (2005), afirmam que em anos anteriores, as diferenas de preos eram de cerca de 20%, porm atualmente no chegam a 5%. Uma explicao para a reduo desta diferena a adoo de novas tcnicas, como a suplementao mineral, utilizao de forrageiras de inverno, complementao alimentar no inverno, expanso dos confinamentos e a melhoria do potencial gentico e do manejo dos animais, que tm aumentado o desempenho do rebanho (KASSOUF e HOFFMANN, 1988; MIELITZ NETTO, 1995; CASTRO et al., 2003; SACHS e PINATTI, 2007).

25 2.3.1.2 Ciclo plurianual ou pecurio

Os preos dos animais vivos tambm apresentam ciclos plurianuais de acrscimo e decrscimo, conhecidos como ciclo pecurio (Figura 4), o qual est atrelado s caractersticas do sistema produtivo. Sua origem est relacionada s expectativas dos agentes do sistema produtivo em relao ao preo do boi gordo no futuro (KASSOUF e HOFFMANN, 1988; WEDEKIN, 1988; AGUIAR, 1993). Em 1987, IGREJA6 apud MEDEIROS et al. (2005) concluiu que o ciclo pecurio possui duas fases. A primeira delas se inicia quando existe uma tendncia de queda nos preos do boi gordo, que acaba retraindo os preos dos produtos das etapas de produo anteriores (cria e recria). Os produtores responsveis pela etapa de cria, ao possuir uma expectativa de queda nos preos, acabam abatendo as matrizes, com o objetivo de minimizar o prejuzo futuro e cobrir seus custos de produo. Neste momento surgem duas conseqncias. No curto-prazo, h aumento da oferta de animais para o abate, o que contribui ainda mais para o declnio dos preos. No longo-prazo, a oferta de animais para reposio fica comprometida, j que as matrizes que dariam origem aos bezerros foram abatidas (IGREJA, 1987 apud MEDEIROS et al., 2005; KASSOUF, 1988 apud KASSOUF e HOFFMANN, 1988). Esta diminuio na oferta de bezerros levar, em perodos futuros, a uma queda na oferta de boi gordo. Neste sentido, o movimento de declnio dos preos sofre uma reverso, j que a expectativa de preos formada pelos agentes deste mercado se altera completamente, iniciando-se a segunda fase do ciclo pecurio, a fase ascendente. O produtor diminuir a oferta de matrizes para o abate, visando aumentar a oferta de animais para reposio. Os preos iro se elevar aps dois ou trs anos do incio desta fase. Dois impactos, novamente sero sentidos: primeiro os preos do boi gordo sofrero um aumento ainda maior devido queda da oferta para abate e segundo, haver aumento de animais de reposio para o abate, o que acarretar,

IGREJA, A.C.M. Evoluo da pecuria bovina de corte no estado de So Paulo no perodo de 1969-1984. Piracicaba, 1987. 197 p. Dissertao (Mestrado) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So Paulo.

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26 na fase descendente dos preos (IGREJA, 1987 apud MEDEIROS et al., 2005; TOLEDO e SANTIAGO, 1984; MENDES e PADILHA JR, 2007). Assim, as relaes de preos boi gordo/boi magro, boi gordo/garrote e boi gordo/bezerro se estreitam na fase cclica de alta e aumenta posteriormente quando as cotaes esto em baixa (WEDEKIN, 1988; WEDEKIN e AMARAL, 1991). Atualmente o ciclo pecurio no est mais atrelado ao ciclo biolgico de produo do boi gordo, que mais curto em funo dos aspectos tecnolgicos, mas inerente a globalizao da economia e est ligado aos ciclos econmicos prprios do capitalismo. COUTO (1996) identificou ciclos pecurios com um perodo de cerca de seis anos nos quais os preos seguem um perodo ascendente de trs anos e um descendente tambm de trs anos. IGREJA (1987) apud MEDEIROS et al. (2005) e MENDES e PADILHA JR (2007) tambm citaram que a durao do ciclo oscila entre cinco e seis anos. CADAVID GARCIA (1982b), analisando preos no pantanal mato-grossense no perodo de 1950/82, encontrou ciclos pecurios com durao mdia de oito anos. Tambm em 1982, este autor estimou que o perodo fundamental da variao cclica do preo do boi gordo em So Paulo era de sete anos (CADAVID GARCIA, 1982a). Este mesmo ciclo de sete anos para o estado de So Paulo foi encontrado por SANTOS e GOMES (2006) analisando preos do boi gordo entre 1976 e 2004. Os autores comentam que este ciclo de sete anos resultado dos efeitos de investimentos e desinvestimentos na pecuria, em resposta ao comportamento dos preos. Estes investimentos e desinvestimentos, por sua vez, afetam a oferta e, de forma recproca e defasada, os preos.

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1 FASE Descendente

Maior oferta animais abate Mercado Queda preo boi gordo Fase cria Abate Matrizes Mercado Curto Prazo Preo boi gordo diminui mais

Longo Prazo Fase recria Fase Engorda Reduz oferta animais reposio Reduz oferta boi gordo

2 FASE Ascendente

Aumento oferta boi gordo Fase Engorda

Maior oferta animais reposio Fase recria Longo prazo Mercado Preo boi gordo aumenta mais

Reduz Abate Matrizes Fase cria

Aumento preo boi gordo Mercado

FIGURA 4 Fases do ciclo plurianual da pecuria de corte no BrasilFONTE: MEDEIROS e MONTEVECHI, 2005

Estudos da FNP Consultoria e Comrcio tentam contestar a idia do ciclo pecurio de seis ou mais anos. Para estes, desde 1986 a pecuria deixou de ter um ciclo previsvel de seis a sete anos, sendo que os picos de alta e de baixa dos preos pecurios vm se repetindo de quatro em quatro anos. Os ltimos picos de alta ocorreram em 1986, 1990 e 1994, enquanto os picos de baixa ocorreram em 1984 na transio do ciclo de seis para o de quatro anos, 1988, 1992, 1996 e 1998 (ANUALPEC, 1997). Segundo a FNP, o ciclo pecurio ainda , em todo o mundo, o fator de maior importncia na determinao dos preos. E, tambm em todo o mundo, sua durao de quatro anos, ou seja, a distncia entre os picos de preos de quatro anos. Acreditava-se que o ciclo pecurio durava seis anos no Brasil, diferentemente do resto do mundo, porque a idade de abate aqui era mais elevada. possvel que o ciclo da pecuria brasileira tenha se reduzido para quatro anos, porque a dinmica da atividade mudou. A velocidade da transmisso de informaes aumentou muito e tambm cresceu a participao de outras carnes no mercado, trazendo um novo equilbrio de foras que afeta a oferta e a demanda de carnes, sendo que este

28 equilbrio j muito semelhante ao existente no restante do mundo. O mercado pecurio brasileiro amadureceu muito nos ltimos anos e por isso tornou-se parecido com o de outros pases (ANUALPEC, 1997). Com a inovao tecnolgica que a pecuria bovina de corte vem passando nestes ltimos anos, a precocidade dos animais tem sido cada vez maior, levando a uma menor durao deste ciclo. Mas por outro lado, esta diminuio do ciclo produtivo gera uma queda no estoque de animais, o que, novamente, aumenta o preo da arroba de boi gordo (SILVEIRA, 2002). H ainda outros fatores afetam o comportamento dos preos de carne bovina no mercado, sendo que os preos da carne de frango so os mais importantes, pois a concorrncia entre estas carnes mais forte. BRANDT et al. (1987) calculando elasticidade-preo para os pares carne bovina/carne suna e carne bovina/carne de aves chegaram a concluso de que a elasticidade-preo maior no caso de preo de carne de ave do que no caso de carne suna, sugerindo a maior eficincia de ajuste do setor avcola. Em 1995, BACCHI estudou a causalidade entre preos no mercado de carnes do Estado de So Paulo e segundo a autora, os testes de causalidade indicaram que variaes no preo de frango causam variaes no preo de bovino, o que no foi verificado com relao carne suna. A autora ainda afirma que esse resultado fornece subsdios idia de que a tendncia decrescente dos preos de bovino nos ltimos anos, perodo em que o frango passa a ser representativo na alimentao do brasileiro, decorrente da queda dos preos de frango, ocasionada pelo desenvolvimento tecnolgico ocorrido no setor e acrescenta que de fato, a avicultura brasileira, caracterizada atualmente como uma atividade com elevado grau de integrao vertical, tem acompanhado os avanos tecnolgicos dos pases desenvolvidos, os grandes produtores de frango". Outro estudo de BACCHI e HOFFMANN (1995), que identificou e estimou modelos para explicar o comportamento das sries de preos de bovino e frango com o objetivo de obter previses desses preos, de maneira geral, conseguiu, com os modelos propostos para a srie de preos de bovino, boas previses. A introduo da varivel explicativa preo de frango nos modelos univariados estabelecidos para essa srie trouxe melhorias nas previses um passo a frente, sendo que o inverso no foi verificado.

29 A produo da carne de frango ajusta-se mais rapidamente s variaes de preo do que a de bovino, fazendo com que os investimentos na produo se adaptem com maior facilidade ao volume vendido. Isso acontece porque o ciclo de produo de frango muito mais curto que o da carne bovina. Entretanto, nos ltimos anos, as promoes de frango tm afetado a demanda por carne bovina, e dessa forma, modificam as relaes entre esses preos. Havendo promoes de carne de frango, a sada de carne bovina fica mais fraca e, com isso, nos frigorficos, os abates so reduzidos, provocando queda no preo da arroba. Isso tem acontecido com freqncia e os mercados destes dois tipos de carne encontram-se bastante vinculados (SILVA e BATALHA, 2000). MENDES e PADILHA JR (2007) citam que a pecuria de difcil adaptao s necessidades do mercado, pois o consumo permanece praticamente estvel durante o ano ou cresce a baixas taxas entre os anos (devido ao crescimento da populao e ao aumento da renda per capita), j a produo sazonal e possui uma resposta defasada no tempo, sendo que para haver maiores ofertas de bois necessrio aguardar a produo ocorrer em um momento futuro.

2.4 PREOS AGROPECURIOS

Os preos dos produtos agropecurios tm como caracterstica fundamental a instabilidade. O grau de variao (volatilidade) ao longo do tempo elevado e decorre de vrios fatores, dentre os quais:

- A produo tem importante carter biolgico, podendo ser afetada por pragas e doenas; e dependente de condies climticas, o que faz com que a produo planejada seja, em geral, diferente da efetivamente obtida (KASSOUF e HOFFMANN, 1988); - difcil prever e controlar a oferta; - A produo localizada e sazonal. A oferta varia ao longo do ano e se concentra em determinados locais;

30 - Possibilidade de frustrao de resultados. Em razo da elasticidade-preo da demanda e da oferta (para uma dada variao na produo), quanto mais inelstica a curva de demanda, maior a variabilidade nos preos do produto e no retorno esperado pelo pecuarista (MENDES e PADILHA JR, 2007).

2.4.1 Funes dos preos agropecurios

De acordo com MENDES e PADILHA JR (2007), h trs funes bsicas desempenhadas pelos preos agropecurios. A primeira delas a alocao de recursos, em que o nvel de preos no mercado determina o grau de consumo e o de produo. Quanto maior o preo de um produto quando comparado aos demais, maiores sero a possibilidade de rentabilidade e o volume de recursos destinados na produo deste item. A segunda quanto distribuio de renda, pois variaes nos preos dos produtos agropecurios em relao aos no agropecurios afetam a distribuio intersetorial da renda. Em relao aos consumidores, um aumento nos preos agropecurios afetar principalmente os de baixa renda, pois estes gastam maior parcela de sua renda com alimentao. J no lado dos produtores, uma elevao nos preos agropecurios beneficia mais os grandes produtores, visto que detm maior volume de excedente. A ltima funo est relacionada com a formao de capital, em que aumento nos preos agropecurios estimula o investimento (formao de capital), por permitir maiores retornos aos recursos, e consequentemente, nveis maiores de renda e poupana setorial (MENDES e PADILHA JR, 2007).

31 2.4.2 Deflacionamento dos preos agropecurios

Devido constante desvalorizao da moeda, para comparar os preos de um produto no tempo preciso deflacion-los, isto, fazer uma correo em relao inflao acumulada durante certo perodo, descontando-a dos preos nominais, obtendo-se os preos reais. A partir deste deflacionamento pode-se acompanhar a evoluo do preo de um determinado produto e analisar as variaes ocorridas ao longo do tempo, bem como comparar os preos reais e nominais (HOFFMANN et al., 1976). De acordo com SOUZA et al. (2006), aps fazer as correes monetrias necessrias nos preos nominais histricos relativas aos diferentes planos econmicos, deflacionam-se os preos de cada ms de forma a atualiz-los para valores equivalentes ao ltimo ms da srie histrica em anlise. Geralmente, utilizase como deflator o ndice Geral de Preos (IGP), calculado pela Fundao Getlio Vargas, principalmente o IGP-DI, pois usado para medir os preos das matrias primas agrcolas e industriais no atacado e bens e servios finais no consumo. O IGP-DI coletado entre o primeiro e o ltimo dia do ms de referncia e sua srie histrica retroage a 1944. O IGP um indicador macroeconmico que representa a evoluo do nvel de preos. um ndice de abrangncia nacional, que engloba os mais diversos setores da economia, como Indstria, Construo Civil, Agricultura, Comrcio Varejista e Servios prestados s famlias. Tambm um deflator de valores nominais de abrangncia compatvel com sua composio e usado como referncia para a correo de preos e valores contratuais (FGV, 2010). Para seu clculo, realiza-se a mdia aritmtica ponderada de trs outros ndices de preos: o ndice de Preos por Atacado (IPA), o ndice de Preos ao Consumidor (IPC), e o ndice Nacional de Custo da Construo (INCC). Os pesos de cada um dos ndices componentes correspondem a parcelas da despesa interna bruta, calculadas com base nas Contas Nacionais resultando na seguinte distribuio: 60% para o IPA, 30% para o IPC e 10% para o INCC. A base atual do IGP-DI (ndice = 100) o ms de agosto de 1994. Para que se possa fazer o deflacionamento, preciso mudar a base do IGP-DI para o ms mais atual da srie, trazendo todos os ndices anteriores para um referencial prximo

32 que permita a comparao no tempo. A mudana de base feita dividindo-se o ndice de cada perodo pelo ndice do ms definido como base e multiplicando o valor por 100 (MENDES e PADILHA JR, 2007). Uma vez realizada a mudana de base, procede-se correo dos preos nominais em preos reais, pela frmula: Correo dos valores = [ndice base/ndice de cada perodo] x preo nominal. Alm disso, para cada produto analisado, pode tambm ser calculado um ndice de evoluo dos preos reais mdios anuais, com base 100 no primeiro ms da srie histrica, de forma a permitir comparaes entre os movimentos de preos dos diferentes produtos. O ndice de preos, na medida em que transforma valores absolutos (em unidades monetrias) em valores relativos (sem unidade alguma) fixados em uma mesma base, permite que se possa comparar a evoluo dos diferentes preos (SOUZA et al., 2006).

2.4.3 Anlise temporal dos preos agropecurios

A anlise de preos constitui uma das principais fontes de informaes econmicas no processo de tomada de decises dos pecuaristas. Para o Governo, esta anlise permite a formulao e aplicao de polticas convenientemente direcionadas. Para os rgos de pesquisa e extenso, a anlise de preo constitui o elemento chave para estimar a viabilidade econmica no processo de difuso e adoo de novas tecnologias, de acordo com as relaes de preos de produtos e fatores de produo (CADAVID GARCA, 1982b). A compreenso dos ciclos que afetam os preos dos produtos agropecurios pode ser til queles que se preocupam com o desenvolvimento e a utilizao destes produtos, especialmente no que tange s previses de curto prazo e s projees de longo alcance (BRANDT et al., 1987). Algumas caractersticas dos preos so observveis por meio das suas sries histricas e podem ser de grande utilidade na anlise do mercado (AGUIAR, 1993). Uma srie temporal pode ser definida como um conjunto de observaes (dados numricos) de uma varivel dispostas seqencialmente no tempo. O preo dirio de fechamento das cotaes da arroba do boi gordo, na BM&F/BOVESPA,

33 um exemplo de uma srie temporal. Os dados das sries temporais de preos da arroba do boi gordo podem ser formados de diversas maneiras, entre elas: por mdia simples aritmtica ou por mdia ponderada aritmtica. Nos clculos envolvendo mdia aritmtica simples, todas as ocorrncias tm exatamente a mesma importncia ou o mesmo peso. No entanto, nos clculos que envolvem mdia ponderada, as ocorrncias tm importncias relativas diferentes e, nestes casos, leva-se em considerao esta importncia relativa atribuindo a elas peso relativo (S MATEMTICA, 2008). Numa srie de preos podem-se identificar vrios componentes, dentre os quais se destacam: a tendncia, as variaes cclicas e as variaes estacionais. A srie temporal pode ainda apresentar uma componente aleatria ou irregular que causada por fatores exgenos, incluindo os fatores catastrficos, epidemias, planos de governo entre outros. No caso de existncia de um componente aleatrio os preos podem apresentar variaes substanciais num curto perodo (MENDES e PADILHA JR, 2007). A anlise de preos pode ser feita pela decomposio da srie em seus principais componentes, mediante uma funo matemtica, que permite analisar as flutuaes entre os fatores que compem a srie temporal (CADAVID GARCA, 1984a). O modelo clssico multiplicativo de sries temporais dado por: P =T x C x E x A Em que P a srie de preos que se prope analisar; T a componente tendncia contida na referida srie de preos; C, a componente cclica da srie temporal; E, a componente estacional da srie e A a componente aleatria. A tendncia, tambm conhecida como o movimento de longo prazo, mostra o comportamento padronizado da srie durante um perodo longo de tempo. Esta tendncia pode ser apresentada mediante um grfico e duas equaes, visando exprimir a tendncia global e as principais oscilaes da srie. A mdia poder apresentar uma tendncia global crescente (ascendente), estvel ou decrescente (descendente). De acordo com AGUIAR (1993), para constatar graficamente uma tendncia necessrio trabalhar com uma srie bastante longa de preos, mensais ou anuais.

34 Na anlise de tendncia, busca-se tentar ajustar certo modelo matemtico (linear, polinomial, exponencial, etc) srie temporal de preos para tentar captar a sua evoluo no tempo, sendo que o modelo de regresso linear o mais utilizado. O modelo linear calculado pelo mtodo dos mnimos quadrados, que permite ajustar uma reta de forma que os valores dos coeficientes linear e angular resultem na soma das diferenas dos quadrados, entre cada valor observado e estimado do preo, ao longo da linha de tendncia que est sendo minimizada (MENDES e PADILHA JR, 2007). O modelo linear apresenta a seguinte forma geral:

Onde: - Pt o preo no tempo t; - a, o intercepto ou coeficiente linear da reta de tendncia; - b, a inclinao ou coeficiente angular da reta de tendncia; - t, o perodo de tempo.

Um aspecto que deve ser observado na anlise de tendncia o Coeficiente de Determinao (R2), cujo objetivo medir a proporo de variao que explicada pela varivel independente no modelo de regresso linear. Quanto maior for o valor de R2, maior ser o grau de ajustamento do modelo escolhido em relao srie temporal analisada. Uma tendncia de queda de preos, em geral, est associada melhoria tecnolgica, isto , a gerao de tcnicas que diminuem o custo de produo e que possibilitam o aumento da oferta e consequentemente a reduo do preo ao longo do tempo; e diminuio da preferncia dos consumidores pelo produto (caso os hbitos da populao mudem no sentido de se demandar menos de um produto, seu preo tende a diminuir). A tendncia de preos crescentes pode ter sua origem na estagnao da oferta de um produto ou num crescimento desta numa taxa menor que a demanda, quer por aumento da preferncia pelo produto quer por uso de tcnicas inadequadas (AGUIAR, 1993). O componente cclico, tambm chamado de variaes cclicas, relaciona-se com as caractersticas do sistema produtivo e ao comportamento do pecuarista frente os sinais do mercado. Este componente corresponde s flutuaes do preo

35 que se repetem sistematicamente a intervalos de vrios anos. So as oscilaes para cima e para baixo ao longo da srie. Estes movimentos podem variar em extenso e em geral duram de dois a dez anos, diferindo em simetria, intensidade e amplitude, freqentemente so associados a um ciclo produtivo (MENDES e PADILHA JR, 2007). Geralmente, se aceita que as flutuaes sejam recorrentes, mas admite-se que a periodicidade rgida e terica , por vezes, afastada da realidade. Desta forma, o intervalo de recorrncia e suas caractersticas no podero se comportar sempre segundo um mesmo padro com a mesma durao e amplitude. Para ser identificado, AGUIAR (1993) comenta que preciso observar uma srie de preos que envolva, no mnimo, em torno de quatro vezes o perodo do ciclo. As variaes estacionais ou sazonalidade so as flutuaes peridicas relativamente regulares que os preos apresentam a cada doze meses (MENDES E PADILHA JR, 2007). Devem-se a fatores naturais prprios de cada regio, os quais determinam os perodos de safra e entressafra. Na poca de safra e pico de comercializao, h uma tendncia dos preos serem menores, enquanto que, na entressafra, espera-se que os preos aumentem. Pela variao estacional dos preos possvel ter uma referncia quanto dependncia da pecuria dos fatores naturais, tendo em vista que, medida que se acentua o descompasso entre a oferta natural de pastagens e a quantidade procurada de boi, devero ocorrer reflexos de instabilidade nos preos (CADAVID GARCA, 1982b). CHATFIELD7 (1975) apud CADAVID GARCIA (1984a) sugeriu que quando se verifica pequena tendncia, a sazonalidade pode ser estudada a partir da mdia de cada subperodo (ms, trimestre, semestre) e comparada com a mdia geral do perodo como diferena ou relao. Porm, quando a tendncia da srie significativa o mesmo autor considera que o clculo da Mdia Mvel Centralizada (MMC) o mtodo mais comum para isolar os efeitos estacionais. A mdia mvel centralizada definida pela expresso: MMC = 1/13 (Pt-6 +...+ Pt-1 + Pt + Pt+1 +...+ Pt+6)

CHATFIELD, C. The analysis of time series: theory and practice. London: Chapman & Hill, 1975. 263p.

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36 Em que:

- MMC = Mdia Mvel Centralizada - Pt = Preo mdio mensal deflacionado no tempo t O efeito estacional pode ser estimado, dependendo da natureza da variao estacional, como aditivo ou multiplicativo. O modelo aditivo pressupe que cada componente tem um efeito independente permitindo seu isolamento sem problemas de correlao significativa. J o modelo multiplicativo supe que as componentes da serie de preos no so independentes e admite efeitos principais (isolados) e de interao. Efeitos sazonais oscilando em torno do valor mdio podem ser definidos como modelos aditivos, enquanto que os efeitos sazonais que experimentam incrementos diretamente proporcionais ao nvel mdio, so ditos modelos multiplicativos (CHATFIELD, 1975 apud CADAVID GARCIA, 1984a). AGUIAR (1993) sugeriu que uma forma de visualizao da sazonalidade seria por meio da construo de ndices sazonais (ISAZ), sendo que para sua elaborao necessrio ter disponvel uma srie de dados mensais de um perodo de, pelo menos, 10 anos, pois isso permite que o efeito de anos seja diludo. O ndice separa os dados de acordo com o ms em que ocorreu a observao, possibilitando verificar em quanto o preo de um ms tende a ser maior ou menor do que a