REVISTA BATISTA RONDONIENSE-CONVENÇÃO BATISTA DE RONDÔNIA Nº 1
Dissertação_ Enf_ Mavy Batista Dourado.pdf
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
MAVY BATISTA DOURADO
SIGNIFICADO DO VIVIDO PELA PESSOA IDOSA LONGEVA EM
BUSCA DO CUIDADO EM SADE
SALVADOR
2015
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MAVY BATISTA DOURADO
SIGNIFICADO DO VIVIDO PELA PESSOA IDOSA LONGEVA EM
BUSCA DO CUIDADO EM SADE
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-
-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal da
Bahia, como requisito parcial de aprovao para obteno
do grau de Mestra, rea de concentrao Gnero, Cuidado
e Administrao em Sade, linha de pesquisa O Cuidar em
Enfermagem no Processo de Desenvolvimento Humano.
Orientadora: Prof. Dr. Tnia Maria de Oliva Menezes
SALVADOR
2015
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Departamento de Processamento Tcnico, Biblioteca Universitria de Sade,
Sistema de Bibliotecas da UFBA
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D739 Dourado, Mavy Batista.
Significado do vivido pela pessoa idosa longeva em busca do cuidado em sade /
Mavy Batista Dourado. - Salvador, 2015.
75 f. : il.
Orientadora: Profa. Dra. Tnia Maria de Oliva Menezes.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Enfermagem,
Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, 2014.
1. Idoso de 80 anos ou mais. 2. Idoso - Assistncia Sade. 3. Servios de sade
para idosos. 4. Necessidades e demandas de servios de sade. 5. Fenomenologia
- Metodologia. I. Menezes, Tnia Maria de Oliva. II. Universidade Federal da Bahia.
Escola de Enfermagem. III. Ttulo.
CDU: 616-053.9
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http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=mh:%22Necessidades%20e%20Demandas%20de%20Servi%C3%A7os%20de%20Sa%C3%BAde%22
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FOLHA DE APROVAO
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A minha av Ldia, pelo amor incondicional, carinho e zelo,
Aos meus avs longevos Dad e Dinho,
por admirao e inspirao.
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AGRADECIMENTOS
Deus, por mais um momento de vitria, diante as angstias da vida, me fez superar os
desafios do tempo.
Aos meus pais Eudies e Sebastio, que sempre se dedicaram na minha educao e sonharam
junto comigo na finalizao dessa etapa.
A professora Tnia Menezes, pelo exemplo de ser humano, e de orientadora, pela confiana,
amizade e palavras de sabedoria diante as vivncias da vida.
A professora Larissa Pedreira, pela abertura do meu caminho na iniciao cientifica e as
contribuies na rea da fenomenologia.
A professora Clia Caldas, pelas ricas contribuies para o estudo e suas produes cientficas
que valorizam a pessoa idosa.
A professora Acylene Ferreira, pelas discusses sobre a fenomenologia.
A CAPES, pelo financiamento do estudo para a realizao de todas as suas etapas.
Ao Centro de Referncia, por ter aberto as portas para a pesquisa.
As idosas longevas participantes do estudo, por ter compartilhado o seu vivido em busca do
cuidado em sade.
Aos meus familiares, que demonstraram apoio e carinho diante a minha luta diria para
finalizar mais essa etapa.
A Ana Luiza Oliveira, pela amizade e apoio na vida acadmica.
As amizades construdas, em especial, Tssia, Marilia, Samylla e Paula, por ter compartilhado
comigo as dvidas, os desafios e as alegrias durante o mestrado.
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Aos membros do Ncleo de Estudos e Pesquisa do Idoso-NESPI, pelos anos de convivncia e
pela dedicao na academia pela pessoa idosa.
A Maria Olivia Medeiros e Iris Soeiro, pelas ricas discusses no campo da enfermagem
gerontolgica.
A Mariana Pinheiro e Celimar Bittencourt pela amizade e apoio.
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A cada dia que vivo,
mais me conveno de que o desperdcio da vida
est no amor que no damos,
nas foras que no usamos,
na prudncia egosta que nada arrisca e, que
esquivando-nos do sofrimento,
perdemos tambm a felicidade.
(Carlos Drummond de Andrade)
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DOURADO, Mavy Batista. Significado do vivido pela pessoa idosa longeva em busca do
cuidado em sade. 2015. 75f. Dissertao [Mestrado]. Programa de Ps Graduao em
Enfermagem. Universidade Federal da Bahia, 2015.
RESUMO
Trata-se de um estudo fenomenolgico que objetivou compreender o significado da busca dos
cuidados em sade pela pessoa idosa longeva. Com o intuito de desvelar as vivncias no
processo de busca dos cuidados em sade. As colaboradoras foram 13 idosas, com idade
compreendida entre 80 e 93 anos, cadastradas no Centro de Referncia Estadual de Ateno a
Pessoa Idosa, no municpio de Salvador/BA. Como estratgia para a produo das descries
vivenciais, utilizamos a tcnica de entrevista fenomenolgica. A partir da compreenso vaga e
mediana, e sua estruturas essenciais, emergiriam as unidades de significao: 1.
Compreendendo a chegada no servio de sade; 2. A famlia como suporte para a busca do
cuidado nos servios de sade; 3. Compreendendo a necessidade da busca do cuidado por
outros caminhos; 4. A busca dos servios de sade pelas demandas do adoecer; 5. As perdas
motivando a busca ao servio de sade. E a unidade de significado: O vivido pela pessoa
idosa longeva nos modos da ocupao e preocupao, nas perdas e a busca do cuidado no
servio de sade. Essas unidades foram fundamentas na obra Ser e Tempo de Martin
Heidegger. Nesse contexto, o vivido da pessoa idosa longeva se constitui pela chegada ao
servio de sade, com o reconhecimento do nvel especializado pelos profissionais de sade e,
da comunidade, a dependncia da famlia como suporte social para garantia do cuidado, a
busca do cuidado relacionado a independncia e o processo de envelhecimento associado ao
adoecimento pelas perdas da sade e pelas mortes simblicas e concretas do seu vivido.
Desse modo, conclui-se que necessria uma ampla rede de servios para atender a demanda
de cuidados a pessoa idosa, sobretudo, a idosa longeva, diante suas necessidades de sade
evidentes com o processo de envelhecimento, alm da rede de servios pautada na
funcionalidade da pessoa idosa longeva.
Palavras chave: idoso de 80 anos ou mais; cuidado; cuidados de sade; fenomenologia
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DOURADO, Mavy Batista. Meaning of lived by the long-lived elderly in search of health
care. 2015. 75f. Dissertao [Mestrado]. Programa de Ps Graduao em Enfermagem.
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2015.
ABSTRACT
This is a phenomenological study aimed to understand the meaning of health care seeking in
the long-lived elderly person. In order to unveil the experiences in the process of finding
health care. The collaborators were 13 elderly women, aged between 80 and 93 years enrolled
in the State Reference Center of Attention to the Elderly in the city of Salvador / BA. As a
strategy for the production of experiential descriptions we used the phenomenological
interview technique. From the vague and median understanding, and its essential structures,
that would emerge the meaning units: 1. Understanding the arrival in the health service; 2.
The family as support for seeking care in health services; 3. Understanding the necessity of
seeking care in other ways; 4. The pursuit of health services by the demands of illness; 5.
Losses motivating the search to the health service. And the unit of meaning: The experienced
by the elderly long-lived modes of occupation and concern in losses and seeking care in the
health service. These units were fundamentals on Martin Heideggers Being and Time work.
In this context, the experienced long lived elder is constituted by the arrival to the health
service, with the recognition of specialized level by health professionals and the community,
the dependence of the family as a social support for caring guarantee, the search for related
care the independence and the aging process associated with the illness for the loss of health
and the symbolic and actual deaths of his lived. Thus, it appears to require an extensive
network of services to meet the demand of the caring for elderly, above all, long-lived elderly,
on their health needs evident with the aging process, as well as guided service network in
functionality of long-lived elderly person.
key words: aged, 80 and over; caring; health care; phenomenology
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DOURADO, Mavy Batista. Significado del vivido por el longevo anciano en busca de
atencin de la salud. 2015. 75f. Dissertao [Mestrado]. Programa de Ps Graduao em
Enfermagem. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2015.
RESUMEN
Se trata de un estudio fenomenolgico tuvo como objetivo comprender el significado del
cuidado de la salud que buscan en la persona de edad avanzada de larga vida. Con el fin de
conocer las experiencias en el proceso de bsqueda de atencin de la salud. Los colaboradores
fueron 13 mujeres de edad avanzada, con edades comprendidas entre 80 y 93 aos
matriculados en el Centro de Referencia Estatal de Atencin a las Personas Mayores en la
ciudad de Salvador / BA. Como estrategia para la produccin de descripciones experienciales
utilizamos la tcnica de la entrevista fenomenolgica. De la vaga comprensin y la mediana, y
sus estructuras esenciales, emergera las unidades de significado: 1. Comprender la llegada de
los servicios de salud; 2. La familia como apoyo a la bsqueda de atencin en los servicios de
salud; 3. Comprender la necesidad de la bsqueda de atencin en otros aspectos; 4. La
bsqueda de servicios de salud por parte de las demandas de la enfermedad; 5. Las prdidas
que motivan la bsqueda en el servicio de salud. Y la unidad de sentido: El experimentado por
los mayores modos de vida larga de ocupacin y preocupacin en prdidas, y la bsqueda de
atencin en el servicio de salud. Estas unidades fueron fundamentas la obra Ser y tiempo de
Martin Heidegger. En este contexto, la longeva mayor experiencia est constituida por la
llegada al servicio de salud, con el reconocimiento de nivel especializado de profesionales de
la salud y la comunidad, la dependencia de la familia como un apoyo social para la garanta
de la atencin, la bsqueda de la atencin relacionada la independencia y el proceso de
envejecimiento asociado a la enfermedad de la prdida de la salud y las muertes simblicas y
reales de su vida. Por lo tanto, parece requerir una amplia red de servicios para satisfacer la
demanda de atencin para personas mayores, sobre todo, de larga vida de ancianos, en su
salud necesita evidente con el proceso de envejecimiento, as como la funcionalidad de la red
de servicio guiada de-vivido persona de edad avanzada.
Palabras - clave: mayores de 80 aos o ms; cuidar; cuidado de la salud; fenomenologa
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INTRODUO
SUMRIO
1 INTRODUO ......................................................................................................................... 12
2 REVISO DE LITERATURA 18
2.1 ASPECTOS DEMOGRFICOS E EPIDEMIOLGICOS DO ENVELHECIMENTO 18
2.2 POLTICAS DE ATENO A SADE DA PESSOA IDOSA 20
2.3 CUIDAR/CUIDADO: A PESSOA IDOSA E A ENFERMAGEM NOS SERVIOS DE SADE 24
3 REFERENCIAL TERICO 27
4 METODOLOGIA 29
4.1TIPO DE ESTUDO 29
4.2 LOCAL DO ESTUDO 29
4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO 30
4.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DOS DEPOIMENTOS 32
4.5 PROCEDIMENTO DE ANLISE INTERPRETAO DOS DEPOIMENTOS 33
4.6 ASPCTOS TICOS 34
5 RESULTADOS 36
5.1 COMPREENDENDO A CHEGADA AO SERVIO DE SADE 36
5.2 A FAMLIA COMO SUPORTE PARA A BUSCA DO CUIDADO NOS SERVIOS DE 40
SADE
5.3 COMPREENDENDO A NECESSIDADE DA BUSCA DO CUIDADO POR 43
OUTROS CAMINHOS
5.4 A BUSCA DOS SERVIOS DE SADE PELAS DEMANDAS DO ADOECER 44
5.5 AS PERDAS MOTIVANDO A BUSCA AO SERVIO DE SADE 46
6 O VIVIDO PELA PESSOA IDOSA LONGEVA NOS MODOS DA OCUPAO 49
E PREOCUPAO, NAS PERDAS E A BUSCA DO CUIDADO
7 CONSIDERAES FINAIS 53
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REFERNCIAS 56
APNDICES
A OFCIO DE SOLICITAO DE LIBERAO DO CAMPO 67
B TERMODE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 68
C FORMULRIO DE ENTREVISTA 69
ANEXO
A PARECER DO CEP 74
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INTRODUO
A dissertao de mestrado apresenta o Significado do vivido pela pessoa idosa
longeva em busca do cuidado em sade, atravs da abordagem da fenomenologia baseada na
obra Ser e Tempo, do filsofo Martin Heidegger. Para Heidegger, ser cuidado, o
cuidado que conduz o ser abertura existencial e, o primeiro gesto da existncia, o
horizonte da transcendncia (SALES, 2008).
Assim como ressalta Ayres (2009) na perspectiva do cuidado, a ateno sade est
ativamente instruda pelo sentido existencial do adoecimento e, consequentemente, atenta aos
significados e implicaes prticas das aes tcnicas demandadas. A noo deste cuidado
no apreendida como um nvel de ateno do sistema de sade, ou, como procedimento
tcnico simplificado, mas, como uma ao integral, que tem significados e sentidos voltados
para a compreenso de sade como o direito de ser (PINHEIRO; GUIZARDI, 2005).
Conforme destaca Pinheiro (2009), o cuidado em sade no apenas um nvel de
ateno do sistema de sade, ou, um procedimento tcnico simplificado, mas, uma ao
integral, que tem significados e sentidos voltados para compreenso de sade como o direito
de ser. Pensar o direito de ser na sade ter cuidado com as diferenas dos sujeitos,
respeitando as relaes de etnia, gnero e raa, que so portadores no somente de
deficincias ou patologias, mas, de necessidades especficas. Pensar o direito de ser garantir
acesso s outras prticas teraputicas, permitindo ao usurio participar ativamente da deciso
acerca da melhor tecnologia mdica a ser por ele utilizada.
valido ressaltar que o conhecimento sobre a busca de ateno sade pode
contribuir para a compreenso sobre o comportamento em relao ao cuidado e utilizao de
servios de sade. Deve-se considerar que este usurio que far a escolha final, ou seja, ele
quem detm o poder de cumprir ou no as determinaes mdicas, ou, procurar outras formas
alternativas de cura (GUERIN, ROSSONI, BUENO, 2012). Afinal o ser-pessoa idosa que
adoece e busca cuidado no servio de sade.
Diante deste cenrio, a motivao para desenvolver essa pesquisa surgiu a partir das
experincias durante as prticas de graduao voltadas pessoa idosa, na qual percebi o
quanto esta busca pelo cuidado no servio de sade encontra fragilidade na rede de ateno.
Alm disso, os conhecimentos adquiridos durante a trajetria acadmica me fizeram seguir na
rea por admirao a esse segmento populacional e, pelas peculiaridades do processo de
envelhecimento. A participao no Ncleo de Estudos e Pesquisas do Idoso (NESPI) desde o
ano de 2010 surgiu com a oportunidade de ser bolsista de Iniciao Cientifica pelo perodo de
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um ano, aproximando-me ainda mais do meio acadmico e da vontade de divulgar
conhecimentos produzidos sobre a pessoa idosa. Como bolsista, realizei uma reviso
bibliogrfica sobre Segurana do Paciente Idoso, que me fez perceber a vulnerabilidade da
pessoa idosa aos cuidados recebidos, tanto a nvel domiciliar como institucional, atravs de
uma equipe multiprofissional, e assim, perfazendo o incio de oportunidades para refletir
sobre o cuidado a pessoa idosa.
Somado a isso, enquanto profissional da sade percorri municpios do estado da Bahia
e de Sergipe, na condio de avaliadora da qualidade do Programa de Melhoria do Acesso e
da Qualidade na Ateno Bsica (PMAQ-AB), o que me permitiu conhecer a realidade da
assistncia pessoa idosa dentro da Ateno Bsica, e perceber que esta assistncia ainda no
considerada como prioridade no servio de sade.
A pessoa idosa est presente nos servios de sade e precisa de cuidados nos distintos
nveis de complexidade, contudo, permanece em peregrinao pelo cuidado e ateno a sade.
Diante deste cenrio surgiu a inquietao diante dos caminhos trilhados pela pessoa idosa
longeva em busca do cuidado, a qual culminou no desejo de ampliar o conhecimento diante
da experincia vivida por elas. A escolha pela populao longeva surgiu pela facticidade de
que a expectativa de vida est aumentando, alm de a literatura abordar que a faixa etria
que mais precisa de cuidados contnuos, pois denotam maior dependncia devido s condies
de sade relacionadas ao processo de sade e doena.
Em virtude de que o envelhecimento um processo intrnseco do desenvolvimento
humano e produz novos desafios sociedade, existem demandas que so visualizadas em
situaes reais da contemporaneidade, cuja caracterizao humanstica pode ser evidenciada
pela demografia da longevidade (LODOVICI; SILVEIRA, 2011).
De acordo com o ltimo censo demogrfico, o pas possui um total de 190.755.199
milhes de pessoas, sendo 20.590.599 pessoas idosas. Na Regio Nordeste, a proporo de
idosos passou de 5,8% em 2000, a 7,2% em 2010. A Bahia concentra o maior nmero de
pessoas idosas dessa regio, e a capital do Estado, Salvador, conta atualmente com um
percentual de idosos correspondente a 9,2% da populao. Conforme vem acontecendo com a
populao brasileira, a Bahia vem apresentando aumento na longevidade de sua populao
(IBGE, 2012).
possvel observar que a populao muito idosa, de 80 anos ou mais, em comparao
com o total da populao brasileira, tambm est aumentando e em ritmo bastante acelerado
(CAMARANO; KANSO, 2011). Como a proporo dos idosos mais idosos aumentar,
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tambm poder produzir crescimento desproporcional das demandas sociais e de sade
(CHAIMOWICZ; CAMARGOS, 2011).
Para Lodovici e Silveira (2011), essa sociedade envelhecida, sobretudo os
octogenrios, nonagenrios e centenrios continua a preocupar os tericos no
desenvolvimento de projetos e mobilizao pelas reais necessidades e exigncias deste
segmento, que aguarda receber uma assistncia cada vez mais especializada.
Deste modo, Aires e Paz (2008) apontam que, um dos grandes desafios para as
cincias humanas, sociais aplicadas e da sade a compreenso das transformaes do
processo de envelhecimento que envolve os idosos, as famlias e os servios de sade,
medida que geram impactos e demandas diversas na sociedade.
Tais desafios tambm advm da transio epidemiolgica, que produz significativas
mudanas nos perfis de morte e no modo de adoecer da populao. Afinal, as necessidades em
sade tm um padro de distribuio no qual os indivduos, particularmente no final da vida,
apresentam mais problemas de sade, e consequentemente, uma maior utilizao do sistema
de sade, com as mltiplas patologias crnicas, que geram grandes desafios para o sistema de
sade (IBGE, 2009).
Assim, a longevidade pode ser considerada como forte indicador de sade, o qual deve
ser incorporado aos instrumentos de avaliao das polticas pblicas, na tentativa de que os
resultados apresentados sejam reflexos dos ganhos nos nveis de sade, principalmente em
termos de independncia funcional e anos potenciais de vida (MESQUITA; COSTA,
CARVALHO, 2011).
O perfil de morbimortalidade da populao idosa e a forma de utilizao dos servios
de sade provocam uma demanda da populao idosa por cuidados de sade, diferenciada
daquela apresentada por outros segmentos etrios, pois, a pessoa idosa tem utilizado com
maior frequncia e intensidade esses servios e exigem aes de maior complexidade e custo
(FIALHO, 2012).
Ressalta-se ainda que, em maior ou menor grau, os aspectos individuais, coletivos,
contextuais e histricos das experincias de desenvolvimento e de envelhecimento geram
possibilidades de adoecimento e dificuldades de acesso aos recursos da rede de suporte social
disponveis na sociedade (RODRIGUES; NERI, 2012).
Na realidade, este panorama de enfermidades complexas e onerosas resultantes de
pases longevos, caracterizado por doenas crnicas e mltiplas demandas de cuidados
constantes, seja atravs de medicao contnua, exames peridicos entre outros, requer por
parte dos profissionais de sade o reconhecimento das necessidades nesse perodo do ciclo
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vital (VERAS, 2009), alm de desafiar os modelos de cuidado, na medida em que a sociedade
envelhece (VERAS, 2012).
A mudana nesse perfil de adoecimento traz repercusses tambm para ateno a
sade, que passam a enfatizar a promoo da sade, a manuteno da autonomia e a
valorizao das redes de suporte social, e assim, geram impactos nas diversas formas de se
prestar assistncia pessoa idosa que busca cuidados em sade (BRASIL, 2003).
Fernandes e Soares (2012) citam a insipincia dessas redes de ateno sade e a no
oferta de alguns servios de cuidados a essa populao. Denunciam por si s lacunas que
devero ser objetos de reorganizao, que uma vez superados, sero indicadores do bem-estar,
da resolubilidade dos servios, do acesso e da integralidade da ateno.
Assim, as perspectivas podem ser positivas em relao ao status de sade da pessoa
idosa. Por outro lado, o nmero de consultas se amplia, medida que a populao envelhece,
e mais consultas levam ao maior consumo de medicamentos, mais realizaes de exames
complementares e maior nmero de hospitalizaes (LAMARCA; VETTORE, 2012). Essa
ateno sade considerada crescente e promove mudanas constantes quanto ao uso dos
servios de sade.
Nesse sentido, a pessoa idosa necessita do cuidado, o qual fundamental para que se
mantenha independente (MENEZES; LOPES, 2012). Os reflexos da assistncia e do cuidado
de enfermagem podem ser analisados entre outros, pelo bem-estar sentido, pelo ser que
cuidado e, tambm, pela anlise das suas necessidades de sade (ZOBOLI, 2007).
Diante deste contexto, as relaes de busca por cuidados de sade produzem
necessidades aos servios de sade. Compreender esse cenrio uma possibilidade de que
seja conferida aos profissionais de sade, em especial ao enfermeiro, atuar com vistas
recuperao, preveno de doenas e incapacidades, reabilitao e promoo da sade.
Com o propsito de identificar o estado a arte sobre a temtica foi realizado
levantamento bibliogrfico na base de dados LILACS - Literatura Latino Americana e do
Caribe em Cincias da Sade no SCIELO Scientific Electronic Library Online, nos meses
de junho a agosto de 2013 e IBECS - ndice Bibliogrfico Espanhol de Cincias da Sade e
BDENF Base de dados de enfermagem, no ms de outubro de 2014.
Na base SCIELO foram cruzados os descritores: cuidados de sade, idoso de 80 anos
ou mais, ateno a sade, acesso aos servios de sade e servios de sade para idosos, o que
resultou em 3 artigos, sendo que apenas 1 foi produzido na rea temtica de sade da pessoa
idosa, demonstrando um pequeno nmero de publicaes sobre essa temtica nessa base de
dados.
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Na base de dados LILACS, com os cruzamentos dos seguintes descritores foram
encontrados: cuidados de sade e idoso de 80 anos ou mais (211 artigos); ateno a sade e
idoso de 80 anos ou mais (160 artigos); acesso aos servios de sade e idoso de 80 anos ou
mais (28 artigos); servios de sade para idosos e idoso de 80 anos ou mais (151 artigos).
Com a busca foram selecionados apenas 15 artigos, cujos objetos estavam
relacionados: ao uso e acesso aos servios de sade pela populao idosa no territrio
brasileiro; anlise de dados demogrficos e socioeconmicos do grupo etrio; o padro
epidemiolgico e as condies de sade da pessoa idosa em relao s dificuldades no acesso
aos servios de servios. Dois artigos estavam relacionados aos cuidados a pessoa idosa, e
apenas uma produo voltada para o significado do cuidado ao idoso longevo.
No IBECS, com o cruzamento dos descritores foram encontrados: cuidados de sade
and idoso de 80 anos ou mais (34 artigos); ateno a sade and idosos de 80 anos ou mais (30
artigos); acesso aos servios de sade and idoso de 80 anos ou mais (1 artigo); servios de
sade para idosos and idoso de 80 anos ou mais (26 artigos), sendo selecionado 5 artigos com
objetivos relacionados a uso dos servios, perfil demogrfico e de mortalidade, repercusses
do cuidado domiciliar a pessoa idosa.
Na BDENF foram encontrados atravs do cruzamento: cuidados de sade and idoso de
80 anos ou mais (47 artigos); ateno a sade and idoso de 80 anos ou mais (20 artigos);
acesso aos servios de sade and idoso de 80 anos ou mais (1 artigo); servios de sade para
idosos and idoso de 80 anos ou mais (19 artigos), sendo selecionados 6 artigos, os quais
possuam objetivos relacionados aos cuidado no contexto domiciliar e a famlia como unidade
de cuidado, necessidades de sade da pessoa idosa e o perfil da pessoa idosa nos servios de
sade.
O estado da arte revela que os estudos abordam questes relacionadas ao acesso e ao
uso dos servios de sade, com nfase ao perfil da pessoa idosa e as peculiaridades do
processo de sade-doena voltado para a clnica do ser-idoso que busca os distintos servios.
Alguns estudos publicados abordam a necessidade do cuidado no domicilio e a
incluso da famlia como unidade de cuidado. Em nossa realidade, o modelo de ateno
sade predominante por muitas dcadas tem-se caracterizado pela fragmentao do cuidado,
centralizao do poder no profissional mdico e dificuldade de acesso da populao com
menor poder aquisitivo a essa ateno. Desta forma, no se tem conseguido atender
adequadamente aos diversos e complexos problemas de sade da populao (MARIN, 2008).
Nesse sentido, as demandas por cuidados so cada vez mais intensas, de forma
abrangente e constante, seja atravs da busca de redes de suporte ou apoio social, ou, atravs
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do cuidado informal, que possui importncia pessoal e afetiva e as relaes mais
especializadas e formais, composta por todos os indivduos famlia, amigos, vizinhos,
colegas de trabalho, comunidade e pela ligao entre indivduos com quem se tem uma
relao familiar prxima, ou com envolvimento afetivo (LEMOS; MEDEIROS, 2011).
O aumento da complexidade das atividades que formam parte do cuidado atual produz
evidncias de incrementos na complexidade do cuidado fornecido nos distintos ambientes que
a pessoa idosa ocupa, afinal, h necessidade constante de inovao e adaptaes que facilitem
e melhorem o cuidado (CRUZ-ORTIZ et al, 2011).
Sendo assim, faz-se necessrio investir em pesquisas voltadas para a melhoria na
ateno sade da pessoa idosa, em particular, a longeva (MENEZES; LOPES, 2008). Estudo
realizado por Lima e Menezes (2011) refere que a produo cientfica sobre a pessoa idosa
longeva ainda considerada singela. Portanto, consideramos que o cuidado a sade muito
mais do que cuidar do corpo, evitar ou tratar doenas, de forma preventiva ou curativa. Em
paralelo, existem as vulnerabilidades, insegurana e instabilidade social, na qual a populao
est em busca do cuidado, seja atravs de terapias alternativas ou convencionais, com o
estabelecimento de diagnsticos e alvio dos sintomas.
Diante deste contexto, elegeu-se como questo norteadora do estudo: Qual o
significado do vivido pela pessoa idosa longeva em busca do cuidado em sade? Elegendo-se
como objeto deste estudo: o significado do vivido pela pessoa idosa longeva em busca do
cuidado em sade. Apresenta como objetivo: Compreender o significado do vivido pela
pessoa idosa longeva em busca do cuidado em sade.
Assim, as reflexes acerca desta temtica, por meio de relatos da pessoa idosa longeva
so um caminho para compreender o vivido em busca do cuidado nos servios de sade. A
relevncia do estudo destaca-se ao considerar as demandas de sade da pessoa idosa longeva.
Ao compreender o comportamento em relao busca por cuidados de sade e utilizao dos
servios de sade, com nfase na assistncia prestada em sade, pretende-se contribuir com
uma ferramenta de qualificao da assistncia prestada para o campo da enfermagem, alm de
ampliar o olhar para as aes no cuidar/cuidado a pessoa idosa, com destaque para a longeva.
As vivncias da pessoa idosa longeva aspecto que possibilita reflexo no ensino da
sade da pessoa idosa e do processo de envelhecimento na graduao e Ps-graduao em
Enfermagem, pois possibilita lanar olhares sobre os caminhos percorridos para a busca do
cuidado.
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2 REVISO DE LITERATURA
2.1 ASPECTOS DEMOGRFICOS E EPIDEMIOLGICOS DO ENVELHECIMENTO
O envelhecimento populacional um fenmeno preponderante e atingiu os pases
desenvolvidos no final do sculo XIX. Nestes pases, o processo ocorreu no sculo passado e
perdura at os dias de hoje, permitindo que eles se organizassem para atender as necessidades
de cuidados de sade da populao.
A partir da segunda metade do sculo XX, a populao brasileira sofreu diversas
transformaes. As primeiras mudanas referem-se ao descenso dos nveis de mortalidade,
com a queda das taxas de mortalidade infantil e o aumento da esperana de vida ao nascer. A
segunda refere-se transio demogrfica, que possuiu incio tmido, em meados da dcada
de 1960, e em 1970, os indicadores de natalidade e fecundidade detectaram essas mudanas.
a partir de 1970 que o Brasil experimenta uma verdadeira revoluo demogrfica
(VASCONCELOS; GOMES, 2012).
Assim, o Brasil vem apresentando nos ltimos anos este novo padro demogrfico,
que se caracteriza pela reduo da taxa de crescimento populacional e por transformaes
profundas na composio de sua estrutura etria, com um significativo aumento do
contingente de idosos (IBGE, 2009).
Hoje, dados estatsticos afirmam que o processo de envelhecimento no Brasil ocorre
de maneira acelerada, e o pas possui, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio
do ano de 2009, uma estimativa na ordem de 21 milhes de pessoas idosas com 60 anos ou
mais (IBGE, 2010).
Dentro desse grupo, os denominados mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice
avanada (acima de 80 anos), tambm vm aumentando proporcionalmente e de maneira
mais acelerada, constituindo o segmento populacional que mais cresce nos ltimos tempos
(BRASIL, 2010).
Em 1980, havia no Brasil 591 mil idosos longevos (80 anos e mais), e as projees
indicam que em 2050, eles sero 13,8 milhes, o que corresponde a um aumento de 2,2%,
enquanto a populao total aumentaria 81,6% e a de idosos 436%, no mesmo perodo. Os
idosos longevos correspondem a 12,8% da populao idosa e 1,1% da populao total
(BRASIL, 2010).
Esse fenmeno delineia uma srie de implicaes sociais, culturais e epidemiolgicas,
uma vez que, nesse grupo etrio, a prevalncia de morbidades e incapacidades maior. Por
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19
outro lado, estudos destacam que os anos a mais adquiridos devem ser acompanhados de
qualidade de vida e isentos de um alto custo de dependncia (NOGUEIRA et al., 2010).
Em relao aos aspectos epidemiolgicos, a preveno e o retardamento de doenas e
deficincias e a manuteno da sade, independncia, em uma populao mais velha se
constituem em um dos maiores desafios relacionados sade decorrentes do envelhecimento
da populao, em funo dos altos ndices de comorbidades (ONU, 2011).
Com a transio demogrfica e epidemiolgica que se aceleraram no final do sculo
20, registrando-se forte migrao rural-urbana, o envelhecimento populacional, a longevidade,
a queda da fecundidade, imps-se necessidade de uma reorientao dos servios de sade.
Estes servios passaram a ter de alcanar metas de reduo de deficincias, de mortalidade
prematura e controle de doenas crnicas, com a necessidade de incorporar prticas
assistenciais interdisciplinares, baseadas na manuteno e recuperao da capacidade
funcional (MESQUITA; COSTA; CARVALHO, 2011).
Afinal, os pases em desenvolvimento, nos ltimos tempos, passaram a conviver com
problemas do passado, no caso as doenas infecto-parasitrias, conjuntamente com as
consideradas de pases desenvolvidos, as doenas crnico-degenerativas (MESQUITA;
COSTA; CARVALHO, 2011).
A correlao direta entre os processos de transio da estrutura etria e
epidemiolgica, ao alcanar os 60 anos, leva os brasileiros a uma esperana de viver mais uns
21 anos em mdia. Assim, nas prximas quatro dcadas, com a exploso demogrfica da
terceira e quarta idades surgir uma populao de idosos mais dependentes, com menos
recursos prprios, mantidas as atuais tendncias, precrio suporte formal do governo e
informal de suas famlias. (CHAIMOWICZ; CAMARGOS, 2011).
Portanto, as consequncias da transio epidemiolgica requerem novas estratgias
que faam frente ao aumento do nmero de idosos potencialmente ou efetivamente
dependentes, com baixo nvel socioeconmico, e que consomem uma parcela desproporcional
de recursos do sistema de sade (PAPALEO NETTO; YUASO; KITADAI, 2005).
Assim, os cuidados de sade necessrios para a populao de mais de 60 anos de idade
so diferentes daqueles apresentados pelos demais grupos etrios, em funo da incapacidade
e do processo degenerativo, que requerem investimentos considerveis em recursos fsicos,
medicamentos, pessoal capacitado e procedimentos tecnolgicos (ORGANIZAO PAN-
AMERICANA DE SADE, 2009).
No tocante a ateno sade da pessoa idosa deve principalmente orientar e ajudar a
adaptao as limitaes, e no apenas curar, permitindo resgatar a histria e valorizar as
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20
potencialidades. A ateno sade da pessoa idosa deve objetivar a valorizao de sua
autonomia para a realizao de atividades dirias. A manuteno de uma vida ativa tem
estreita relao com o autocuidado, dando a pessoa idosa a possibilidade de ser uma cidad,
ativa, participativa, produtiva e afetiva, mantendo seu interesse pela vida e desempenho de
novos papeis no campo social e individual, ampliando seus horizontes cultural, econmico,
poltico e afetivo (SHIRATORI, et al, 2012).
O reconhecimento e o enfrentamento das necessidades de sade esto estreitamente
vinculados a princpios bsicos do Sistema nico de Sade (SUS), em especial aos conceitos
de integralidade e equidade (CECILIO, 2001).
Afinal, as necessidades de sade expressas em mltiplas dimenses social,
psicolgica, biolgica e cultura torna-se indispensvel integrao de todos os atores
envolvidos, usurios, equipes interdisciplinares na busca da resolutividade dos problemas
existentes (MESQUITA; COSTA, CARVALHO, 2011). Considera-se que pessoas idosas so
mais vulnerveis medida que envelhecem, de modo que o crescente grupo populacional
idoso se caracteriza por grande heterogeneidade.
2.2 POLTICAS DE ATENO A SADE DA PESSOA IDOSA
A Organizao das Naes Unidas (ONU) colocou em sua agenda a criao de
Assembleias Mundiais sobre o Envelhecimento, com intuito de comprometer os pases, e em
particular os governos, em relao nova questo social do envelhecimento populacional.
sabido que o envelhecimento populacional foi tema de estudos da ONU em 1956, mas que
recebeu maior ateno a partir da primeira Assembleia Mundial em 1982.
Anterior ao ano de 1982 existia uma marginalizao em relao ao fenmeno do
envelhecimento. A ateno pessoa idosa era responsabilidade apenas das agncias
internacionais, a citar: Organizao Internacional do Trabalho (OIT), Organizao Mundial da
Sade e Unesco (CAMARANO; PASINATO, 1999).
Em 1982, o denominado Plano de Viena foi o marco inicial para estabelecer uma
agenda internacional de polticas pblicas para a populao idosa, atravs da aprovao do
plano global de ao, entretanto, o foco de ateno para a questo do envelhecimento era
destinado aos pases desenvolvidos (ONU, 2013).
Em 1991, na Assembleia Geral da ONU foram discutidos cinco temas: 1)
Independncia: autonomia fsica e financeira; acesso aos direitos bsicos; 2) Participao:
integrao na sociedade; 3) Cuidados: desfrute dos direito humanos atravs do cuidado
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familiar ou institucional; 4) Auto-realizao: desenvolvimento do seu potencial; 5) Dignidade:
possibilidade de vida digna e segura, livre de qualquer forma de explorao e maus-tratos.
Em 1992, determinou o Ano Internacional dos Idosos: Sociedade para todas as
idades. Considerou a situao dos idosos; desenvolvimento individual continuado; relaes
multigeracionais; inter-relao entre envelhecimento e desenvolvimento social;
No Plano de Madri, as medidas foram dirigidas aos governos nacionais, com parceira
da sociedade civil e setor privado e, tambm a cooperao internacional. Aps 20 anos, em
2002, na 2 Assembleia Mundial, existia um contexto diferente atravs da colaborao do
Estado e da sociedade civil com uma nova declarao poltica e plano de ao que deveriam
orientar adoo de medidas normativas para o sculo XXI tanto em pases desenvolvidos
quanto aqueles em desenvolvimento (ONU, 2002).
O plano de ao da referida assembleia foi composto por participao ativa da pessoa
idosa: sociedade, desenvolvimento e luta contra a pobreza; na perspectiva que o
envelhecimento no um processo que esgota os recursos da sociedade, sendo necessrias
polticas de trabalho, integrao social e seguridade social; promoo do envelhecimento
saudvel; polticas para melhorias de sade da infncia velhice. necessria a promoo da
sade, acesso universal aos servios de sade; entorno propcio e favorvel ao
envelhecimento, alm de aes voltadas para a famlia e sociedade que assegure um
envelhecimento seguro e promova solidariedade intergeracional (ONU, 2002).
Os desdobramentos do plano de Madri contriburam para o envelhecimento
populacional na agenda das polticas pblicas brasileiras no perodo pr-constituio de 1988.
Neste perodo, a poltica para a pessoa idosa possua relao com a garantia de renda direito
apenas a idosos trabalhadores. O impacto no desenvolvimento de polticas pblicas para a
pessoa idosa ocorreu com a criao, em 1961, da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia e, em 1963, do Servio Social do Comrcio (CAMARANO; PASINATO,
1999).
Destarte, as polticas pblicas na rea da sade direcionadas para uma populao de
pas jovem, a base demogrfica apontava que as polticas sociossanitrias estavam
direcionadas populao materno-infantil. Contudo, nos anos 70, o processo sociopoltico
comeou a operar mudanas diante do novo perfil da populao (FERNANDES; SOARES,
2012).
Em 1976, a poltica social para a pessoa idosa era constituda de diretrizes bsicas,
polticas tais que do governo brasileiro concediam atravs do provimento de renda para a
populao que trabalhou de alguma forma na assistncia social, inclusos apenas a pessoa
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idosa necessitada e dependente de cuidado. A concepo existente da pessoa idosa era de uma
populao vulnervel e dependente (CAMARANO; PASINATO, 1999).
Assim, os pases em desenvolvimento incorporaram a questo do envelhecimento
progressivamente na sua agenda poltica e, os governos da Amrica Latina, sobretudo o
Brasil, modificaram suas constituies (CAMARANO; PASINATO, 1999).
Moimaz et al (2009) referem que a legislao brasileira menciona a pessoa idosa na
constituio federal de 1988, e a partir dela, uma srie de regulamentaes surgem no pas,
visando assegurar direitos fundamentais pessoa idosa.
Na dcada de 90 ocorreu o denominado processo de envelhecimento rpido,
incorporando de forma mais expressiva o debate poltico pela academia, atravs do
questionamento de estar diante da populao idosa como um segmento homogneo, com
necessidades e experincias comuns. Existia a associao do envelhecimento a dependncia e
problemas sociais, e tambm, a ameaa ao futuro das economias e da prpria democracia
(CAMARANO; PASINATO, 1999).
No Brasil, em 1994 foi sancionada a primeira Lei n8.842, a qual dispe sobre a
Poltica Nacional do Idoso (PNI), cria o Conselho Nacional do Idoso e prope, entre seus
princpios e diretrizes, que o envelhecer diz respeito sociedade em geral, devendo, assim, ser
objeto de conhecimento e informao para todos, alm de assegurar o apoio a estudos e
pesquisas sobre as questes relativas ao envelhecimento (BRASIL, 1994).
Outro elemento de importncia para ateno sade da pessoa idosa divulgado
atravs da Portaria 702, do ano de 2002, a qual cria mecanismos de organizao e implantao
de Redes Estaduais de Assistncia Sade do Idoso, tendo como base as condies de gesto
e a diviso de responsabilidades (IBGE, 2012).
Posteriormente, outras medidas foram acrescentadas a criao da PNI, as quais foram
a Poltica Nacional de Sade do Idoso Portaria MS 1.395/99, a qual foi atualizada atravs da
Portaria n 2.528 em 19 de outubro de 2006 e passou a ser definida como Poltica Nacional de
Sade da Pessoa Idosa (PNSPI). vlido ressaltar a Lei n 10.741 de 1/10/2003, que
promulgou o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003, 2006).
Os direitos Sade no poderiam deixar de ser mencionados no Estatuto do Idoso (Lei
10.471 de 01 de outubro de 2003), que no seu captulo IV, estabelece: do direito sade:
Art.15. assegurada a ateno integral sade do idoso, por
intermdio do Sistema nico de Sade SUS garantindo-lhe o acesso
universal e igualitrio, em conjunto articulado e contnuo das aes e
servios, para a preveno, promoo, proteo e recuperao da
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sade, incluindo a ateno especial s doenas que afetam
preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003).
A adoo da Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa possui como propsito
basilar recuperar, manter e promover a autonomia e a independncia dos indivduos idosos,
direcionando medidas coletivas e individuais de sade para esse fim, em consonncia com os
princpios e diretrizes do SUS (BRASIL, 2006). A ateno pessoa idosa possui como porta
de entrada a ateno bsica e referncia mdia e alta complexidade.
Nessa poltica esto definidas as diretrizes norteadoras de todas as aes no setor de
sade e indicadas s responsabilidades institucionais para o alcance da proposta. Alm disso,
ela orienta o processo contnuo de avaliao que deve acompanhar seu desenvolvimento,
considerando possveis ajustes determinados pela prtica. Sua implementao compreende a
definio e/ou readequao de planos, programas, projetos e atividades do setor da sade,
direta ou indiretamente relacionados com seu objeto (FERNANDES; SOARES, 2012).
A pessoa idosa um ser na populao, sendo necessrio preservar sua integralidade
biopsicossocial, seu universo de crenas e valores, com o propsito de resguardar-lhe a
cidadania. O cenrio da realidade brasileira constitudo de pessoas idosas que emergem
como novos agentes sociais, com sua maior presena e participao, acrescentando demandas
nos cenrios nacionais socioculturais, sanitrios e econmicos, revelando-se,
consequentemente, como novos atores polticos (MESQUITA; COSTA, CARVALHO, 2011).
Hoje, o grupo de pessoas idosas, contingente populacional expressivo em termos
absolutos e de crescente importncia relativa no conjunto da sociedade brasileira, gera
impactos em uma srie de novas exigncias e demandas em termos de polticas pblicas de
sade e de insero ativa da pessoa idosa na sociedade. Desse modo, as polticas pblicas de
sade precisam constantemente de reconhecimento e se tornam objeto de ateno para o
cuidado ao idoso (IBGE, 2012).
Camacho e Coelho (2010) verificaram que, atravs do desenvolvimento e mudanas
nas polticas pblicas possvel amparar, de forma adequada, a pessoa idosa.
Consequentemente, h necessidade de uma reorientao dos servios de sade. Quanto maior
for o acesso aos bens e servios da sociedade, maior ser a qualidade de vida no processo de
envelhecimento. E sob esta tica, os servios de sade tm papel fundamental na ateno
sade e nos cuidados prestados, para que a populao idosa possa usufruir do que construdo
em prol de uma assistncia de qualidade.
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Por outro lado, os servios elencados na base legal brasileira reportam ao ideal, mas a
insipincia de redes e a no oferta de alguns servios de cuidados a essa populao,
denunciam por si s lacunas (FERNANDES; SOARES, 2012).
Deste modo, a realidade demogrfica e epidemiolgica brasileira aponta para a
urgncia de mudanas e inovao nos modelos de ateno sade da populao idosa e
reclama estruturas criativas, com propostas de aes diferenciadas, a fim de que o sistema
ganhe efetividade e a pessoa idosa possa usufruir integralmente os anos proporcionados pelo
avano da cincia (CAMACHO; COELHO, 2010).
2.3 CUIDAR/CUIDADO A PESSOA IDOSA E A ENFERMAGEM NOS SERVIOS DE
SADE
O envelhecimento inerente ao desenvolvimento humano, caracterizado como
processo essencial da vida e tem sido objeto de estudo em mbito mundial. Martins, Camargo
e Biasus (2009) citam que o estudo sobre envelhecimento bastante recente e quando foi
iniciado a partir das concepes do envelhecer retratavam que o indivduo deixava de se
desenvolver, adoecia e teria que se afastar de tudo.
Este fenmeno do envelhecimento demogrfico se tornou uma preocupao crescente,
devido ampliao significativa do nmero de pessoas idosas no mundo. Neste sentido,
existem diversos aspectos a serem compreendidos quanto ao envelhecimento populacional,
como por exemplo: questes relacionadas famlia, sociedade, e no menos importante, o
contexto onde se desenvolvem os cuidados de enfermagem pessoa idosa (MONIZ, 2008).
Uma competente ateno pessoa idosa constitui-se em um dos principais desafios
que o setor sade tem que enfrentar (VERAS, 2009). Para Maya (2011), as tendncias
internacionais mostram evidncias de que os indivduos com idade maior de 65 anos, com
diagnsticos multissistmicos e crnicos esto mais informados sobre a sade e doena na
maioria nos servios da sade e cientes dos cuidados de enfermagem.
A abordagem das relaes de assistncia aos indivduos, em especial aquelas com
idade avanada, constitui um elemento integral do desenvolvimento social (FINDILING et al,
2012). Analisar a maneira como a pessoa idosa vem sendo tratada hoje e se o acesso aos
servios de sade est garantido, assegurado, facilitado e efetivado na prtica
imprescindvel. A nova realidade incide sobre a necessidade de um Sistema de Sade mais
acessvel, resolutivo e de qualidade pessoa idosa, bem como se est baseado na tipologia de
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servio utilizado, h limitao no acesso aos cuidados especializados. Os mais senis possuem
maiores barreiras de acesso (SOUSA et al, 2012).
Considerando a ateno pessoa idosa nos moldes de uma linha de cuidados que vise
facilitar o acesso a todos os nveis de ateno, o cuidado prestado deve considerar a pessoa
idosa em seus aspectos multidimensionais, o que demanda uma abordagem global e
interdisciplinar por parte de uma equipe de profissionais da sade (BATISTA; ALMEIDA;
LANCMAN, 2011).
A concepo da enfermagem gerontogeritrica pressupe a integralizao das
multidimenses do viver da pessoa idosa as conhecidas e as que esto para ser desveladas
(GONALVES, 2010).
Neste contexto, ao considerar a Enfermagem como eixo da equipe de sade, especula-
se a escassez de profissionais num contexto altamente tecnolgico, no que diz respeito ao
cuidado que ser sustentado na relao interpessoal e indagao cientfica no tocante em
relao pessoa idosa.
Silva et al (2009) referem que cuidado tem diversos significados que, por vezes so
complexos, e sem uma concepo definida. O cuidado pode ser entendido como ato, o qual
ocupa um sentido ntico, ou como possibilidades, um sentido que vai alm do ato, alm do
que se pode perceber, ocupando um sentido ontolgico.
O cuidado contempla o modo positivo de cuidar dos entes, no sinnimo de
bondade, entender autenticamente o que importante. Um cuidado reflexivo que considere
o outro, as coisas presentes e ausentes no cotidiano, que pense no agora j modificado, ou
seja, um cuidado prprio, dinmico e inacabado. O cuidado tambm ocupa um espao de
abertura para possibilidades, como algo que ainda pode ser desvelado. E o que de fato faz
parte da existncia humana, do cuidado, s possvel conhecer na histria, no modo de ser em
que predomina seu percurso temporal no mundo, naquilo que diz respeito a sua natureza
(OLIVEIRA; CARRARO, 2011).
Por conseguinte, a enfermagem brasileira discute o desafio do processo de
envelhecimento com foco na ateno a pessoa idosa, atravs de uma assistncia holstica ao
indivduo e que ultrapasse a medicina preventiva, em busca de uma atuao com atitudes
multiprofissional e interdisciplinar (VEIGA; MENEZES, 2008).
Desse modo, a enfermagem poder focar suas aes no s na recuperao e
reabilitao da sade, como tambm na promoo e preveno de agravos, pautados na
educao em sade, respeitando a independncia e permeando com a participao da pessoa
idosa no processo de cuidado (MENEZES; LOPES, 2009).
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Afinal, cuidar da pessoa idosa, na perspectiva da enfermagem envolve saberes que no
so apenas tericos, mas, tambm, da essncia humana, sobre a biologia, o corpo que
envelhece, as necessidades e os desejos da pessoa idosa, desvios de sade, promoo da
sade, o ambiente onde ele est, o lazer, sua espiritualidade e sua famlia. Trata-se de uma
enfermagem que mergulhe no processo de envelhecimento, que se identifica com a pessoa
idosa e capaz de conviver com essa realidade de maneira natural, mesmo que no seja um
caminho fcil de ser percorrido (FIGUEIREDO; SANTOS; TAVARES, 2012).
Assim, para o desenvolvimento do conhecimento em gerontologia, a enfermagem
necessita de formao especfica para o atendimento a essa faixa etria, pois o conhecimento
instrumentaliza a enfermagem para a promoo e a resolutividade dos agravos a sade
apresentados pela pessoa idosa, e assim, no basta apenas assimilar o conhecimento cientfico,
necessrio assumir uma postura para enfrentamento e posicionamento voltado para a
interdisciplinaridade, que a enfermagem possa aplicar esse saber, em prol da populao idosa
(KLETEMBERG; PADILHA, 2011).
Neste sentido, os profissionais da sade, com destaque para os enfermeiros (as),
devem abordar a pessoa idosa no que diz respeito preveno ou promoo da sade,
considerando sempre as particularidades que so inerentes ao processo de envelhecimento
(MORAES, 2010).
A populao idosa uma grande usuria dos servios de sade, prioritariamente dos
servios em nvel pblico. E essa maior demanda aos servios de sade, uma realidade com
tendncia a intensificao devido ao aumento da longevidade da populao brasileira.
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3 REFERENCIAL TERICO
3.1 A FENOMENOLOGIA COMO REFERENCIAL TERICO
Edmund Husserl foi o precursor da fenomenologia, atravs de uma fenomenologia
pura, que aborda a fenomenologia como a intencionalidade da conscincia, tendo em vista
uma proposta de voltar s prprias coisas, atravs do sentido que a conscincia d ao mundo
que no exclui esse prprio, pois, este percebido de modo imediato e intencional
(GALEFFI, 2000; PIRES, 2012).
Vrios filsofos continuaram a percorrer pela fenomenologia, entre estes, a
contribuio do pensamento de Heidegger inaugura via fenomenologia do Dasein - a assim
chamada fenomenologia existencial (MOREIRA, 2010). O Dasein, sinnimo de presena, o
ser-a, o que evoca o processo de constituio ontolgica de homem, ser humano e
humanidade, pois na presena que o homem constri o seu modo de ser, a sua existncia,
sua histria (HEIDEGGER, 2013, p. 561).
A fenomenologia pertence rea da filosofia do sculo XX, a qual busca fundamentar,
em novas exigncias, as condies da cincia. Pretende conhecer onde o saber cientfico de
uma cincia concreta ou emprica ganha apoio, tendo como ponto de partida os dados
imediatos da conscincia, a raiz de que se alimenta. Por isso, seu estilo voltado para o
interrogativo, o radicalismo e o inacabamento essencial existente no fenmeno. Esse mtodo
filosfico desvela a cotidianidade do mundo do ser, onde a experincia se passa, transparece
na descrio de suas vivncias (SILVA; LOPES; DINIZ, 2008).
A expresso fenomenologia possui dois componentes: fenmeno e logos, ambos de
origem grega, que significa um conceito de mtodo que a cincia dos fenmenos, que se
pode formular atravs da expresso para as coisas elas mesmas. O termo fenmeno
significa mostrar o que se mostra em si mesmo, o que se revela. Para o termo logos tem-se o
conceito do que sempre quer dizer atravs da fala, o que pode ser dito como algo que se
tornou visvel em uma relao com outra coisa (HEIDEGGER, 2013, p. 66-74).
Desse modo, pensar no conceito preliminar da fenomenologia saltar aos olhos
deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si
mesmo. A fenomenologia a cincia do ser dos entes a ontologia (HEIDEGGER, 2013).
O sentido metodolgico da fenomenologia a descrio (HEIDEGGER, 2013). Outros
autores reforam esse pensar quando dizem:
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O mtodo heideggeriano permite chegar compreenso do ser, partindo da
descrio das situaes vivenciadas pelos indivduos. Constitui-se em
questionar o ser, interrogando o ente e buscando o sentido do ser. Este
mtodo tem alcanado valiosas contribuies para o conhecimento das
diversas dimenses que envolvem o cuidado no processo de viver humano,
que at ento se encontravam inexploradas A fenomenologia seria o
caminho para que a Enfermagem pudesse investigar os fenmenos que
envolvem o processo de cuidar do outro (DUARTE; ROCHA, 2011, p.
362-363).
Atravs da fenomenologia, o filosofo Martin Heidegger criou um modo nico de se
expressar e definir situaes no mundo. Para o filsofo, o fenmeno se mantm velado frente
ao que se mostra. Ao mesmo tempo, mostra-se diretamente, de modo a constituir o seu
sentido para quem o vivencia (GONZALEZ et al., 2012).
Heidegger (2013) interpreta o compreender como um existencial fundamental, pois o
que se pode no compreender, assumido como existencial, no uma coisa, mas o ser como
existir. Compreender o ser existencial do prprio poder-ser da presena, de tal maneira
que em si mesma, esse ser abre e mostra a quantas anda seu prprio ser (HEIDEGGER,
2013, p. 204-205). Para o filsofo, o compreender sempre alcana toda a constituio
fundamental do ser-no-mundo.
Assim, quando a pessoa idosa interage com o que est a mo, materializa seus anseios
em forma de aes, preenchendoas de significados, sendo preciso compreender seu
movimento no mundo. Essa abordagem metodolgica foi proposta para este estudo com o
intuito de compreender os fenmenos humanos no que diz respeito ao vivido na cotidianidade
de cada idosa longeva que busca o cuidado nos servios de sade.
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4 METODOLOGIA
4.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa com abordagem fenomenolgica, fundamentada na obra Ser
e Tempo do filsofo Martin Heidegger (HEIDEGGER, 2013). Para compreender o fenmeno,
atravs do vivido da pessoa idosa em relao busca do cuidado, foi preciso voltar
conscincia do indivduo que chega at o servio de sade, atravs da essncia do todo.
4.2 LOCAL DE ESTUDO
O local do estudo foi um Centro de Referncia de Ateno a Sade do Idoso do
municpio de Salvador Bahia, sendo solicitada a diretoria deste Centro a autorizao para a
realizao da pesquisa (APENDICE A). A escolha desse local de estudo se justificou pela
especificidade de atendimento ambulatorial populao idosa, sobretudo, os idosos com 80
anos, e possuir o atendimento contnuo e prestar cuidados de forma longitudinal para este
segmento populacional.
A misso deste Centro de Referncia (CR) atender a pessoa idosa que necessite de
ateno especializada na rea de geriatria e/ou gerontologia, atravs de avaliao
multidimensional, por equipe interdisciplinar, com vistas manuteno ou recuperao da sua
sade fsica, mental e funcional, adequando seus dficits s novas realidades, mantendo-o
socialmente ativo e dentro do contexto familiar (SESAB, 2013).
O servio referncia para casos prioritariamente de idosos frgeis. Foi criado em
1994, como resultado das propostas do Programa Estadual de Ateno Sade do Idoso
PROSI. Atualmente vinculado Superintendncia de Assistncia Integral Sade (SAIS) da
SESAB. Possui como diretrizes: promoo do envelhecimento saudvel; manuteno da
capacidade funcional; assistncia s necessidades de sade do idoso; reabilitao da
capacidade funcional comprometida; capacitao de recursos humanos especializados; apoio
ao desenvolvimento de cuidados informais e apoio a estudos e pesquisas (SESAB, 2013).
Possui como objetivo: atender como referncia casos que necessitem da ateno
especializada, prioritariamente os idosos frgeis na rea de Geriatria ou Gerontologia;
promover a autonomia, independncia e auto cuidado, itens formadores do conceito de sade;
incentivar a participao social, estimulando a convivncia intergeracional; propiciar campo
de estgio gerontolgico, proporcionado multiplicao do conhecimento especfico;
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desenvolver a produo cientfica nas reas afins; instituir indicadores de ateno ao idoso;
estimular projetos de ateno ao idoso; subsidiar instituies e servios de sade que atuem
com foco na populao idosa (SESAB, 2013).
O atendimento a pessoa idosa organizado em ambulatrios direcionados, a citar:
Nona ambulatrio para pacientes nonagenrios; Apsis ambulatrio para pacientes com
distrbios psicogeriatricos; Ampar/ambular - ambulatrio de reabilitao para pacientes com
sequelas de AVC recentes (at 2 anos), de cirurgia ortopdica ou de algumas doenas
neurolgicas; Ammi ambulatrio para pacientes com qualquer movimento involuntrio;
Adem - ambulatrio para pacientes com diagnstico de demncia ou queda de dficit
cognitivo, que comprometa as atividades de vida diria.
Em sua estrutura fsica, o CR possui guichs para marcao de consultas, sala de
acolhimento, trs praas que so organizadas com um guich ocupado pela equipe tcnica de
enfermagem e a sala de espera para a pessoa idosa, sala de fisioterapia, sala para realizao de
oficinas e grupo de cuidadores.
A primeira praa possui uma sala de espera, que possui os seguintes servios:
assistente social, a segunda praa para os ambulatrios de Nona, Adem e Ampar, a terceira
praa para atendimento do Apsis e Ammi, das consultas de enfermagem, do servio de
nutrio, psicologia, e fisioterapia. O CR tambm possui uma farmcia, com a dispensao
centralizada de medicamentos para a Doena de Alzheimer e Doena de Parkinson e salas
destinadas para exame de imagem, como a densitometria ssea.
4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO
A populao de investigao foi constituda por 13 idosas, na faixa etria de 80 a 93
anos, cadastradas no CR. O nmero de participantes foi determinado pela intencionalidade da
pesquisadora, visto que a etapa de campo se encerrou quando os significados das expresses
nos depoimentos se mostraram suficientes para as estruturas essenciais.
Os critrios de incluso utilizados foram: ter 80 anos ou mais; ser cadastrado no CR;
possuir capacidade de estabelecer a comunicao verbal.
4.3.1Caracterizao dos participantes
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IL 01: 81 anos, solteira, domstica, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental
incompleto, catlica, reside com duas filhas e quatro netos, no tem plano de sade. Problema
de sade: depresso. Cadastrada no CR h 5 anos.
IL 02: 85 anos, viva, dona de casa, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental
incompleto, catlica, reside com trs netos, no tem plano de sade. Problema de sade:
osteoartrose, cadastrada no CR h 11 anos.
IL 03: 86 anos, viva, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental incompleto,
catlica, reside com a irm, tem plano de sade. Problema de sade: hipertenso arterial,
hipoacusia. Cadastrada no CR h 1 ano.
IL 04: 81 anos, casada, lavradora, reside na zona rural de Itamira, municipio de Apor,
aposentada, analfabeta, reside com o marido e uma filha, no tem plano de sade. Problema
de sade: cardiopatia e depresso. Cadastrada no CR h 2 anos.
IL 05: 82 anos, casada, copeira, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental
incompleto, catlica, reside com duas filhas, tem plano de sade. Problema de sade:
osteoartrose. Cadastrada h 4 anos no CR.
IL 06: 82 anos, viva, aposentada, reside em Salvador, ensino fundamental incompleto,
testemunha de jeov, reside com a filha, genro e 3 netos, no tem plano de sade. Problema de
sade: depresso, hipertenso arterial, diabetes mellitus. Cadastrada no CR h 2 anos.
IL 07: 80 anos, solteira, auxiliar de enfermagem, reside em Salvador, aposentada, ensino
mdio incompleto, catlica, reside em Instituio de Longa Permanncia, no tem plano de
sade. Problema de sade: doena de Parkinson. Cadastrada no CR h 1 ano.
IL 08: 82 anos, casada, tcnica em contabilidade, reside em salvador, aposentada, ensino
mdio completo, catlica, reside com o marido e filha, no tem plano de sade. Problemas de
sade: hipertenso arterial, osteoartrose, hipotireoidismo. Cadastrada no CR h 6 anos.
IL 09: 93 anos, viva, agricultora, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental
incompleto, evanglica, mora com a filha, no tem plano de sade. Problema de sade:
cardiopata. Cadastrada no CR h 9 anos.
IL 10: 83 anos, viva, dona de casa, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental
incompleto, evanglica, resido com o filho, no tem plano de sade. Problema de sade:
depresso. Cadastrada no CR h 11 anos.
IL 11: 89 anos, viva, dona de casa, reside em Salvador, pensionista, analfabeta, mora com a
filha, tem plano de sade. Problemas de sade: hipertenso arterial, depresso, osteoporose.
Cadastrada no CR h mais de 10 anos.
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IL 12: 84 anos, solteira, domstica, reside em Salvador, aposentada, ensino fundamental
incompleto, catlica, reside com a sobrinha, no tem plano de sade. Problema de sade:
hipertenso arterial, hipotireoidismo. Cadastrada no CR h 3 anos.
IL 13: 91 anos, viva, dona de casa, reside em Salvador, pensionista, analfabeta, catlica,
reside com duas filhas, no tem plano de sade. Problema de sade: hipertenso arterial.
Cadastrada no CR h 3 anos.
4.4 COLETA DOS DEPOIMENTOS
A coleta de depoimentos foi realizada aps aprovao do projeto de pesquisa pelo
Comit de tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia. A
tcnica empregada foi entrevista fenomenolgica. Segundo Paula et al (2014), a entrevista
fenomenolgica utilizada com a pretenso de acessar o vivido do ser humano por meio de
um movimento de compreenso, atravs de uma atitude fenomenolgica que se produz
envolvimento subjetivo, com foco no respeito singularidade do ser, sua historicidade e
vivncias que foram compartilhadas no referido momento.
Inicialmente foi realizada uma aproximao com o CR, na qual fui apresentada aos
profissionais de sade, conheci a estrutura fsica da instituio, delimitando os ambulatrios
especficos para realizar a coleta das entrevistas, sendo selecionados os seguintes
ambulatrios: Nona, Ampar/ambular, Apsis e Ammi, de acordo com os critrios de incluso
estabelecidos previamente para a pesquisa.
A aproximao com as idosas longevas ocorreu nas praas 2 e 3 do CR, no formato da
sala de espera, durante os atendimentos das consultas mdicas, de enfermagem e do servio
de nutrio. Nos turnos da manh e/ou da tarde fui apresentada a pessoa idosa na condio de
pesquisadora pelos profissionais de sade da instituio, para aqueles que se encontravam
aguardando a consulta. A pessoa idosa acima de 80 anos que se voluntariavam para uma
primeira conversa era realizada a aproximao. A conversa informal possui, em sua maioria,
contedos sobre a histria de vida da pessoa idosa, e teve durao mxima de vinte minutos.
Posteriormente, foi apresentado o objetivo da pesquisa, momento em que foi feita a leitura em
conjunto com a longeva do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
(APENDICE B), garantindo-lhe o direito de aceitar ou recusar participar da pesquisa de forma
livre e voluntria. O maior nmero das idosas que foram entrevistadas estava cadastrada no
ambulatrio Apsis.
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As entrevistas foram realizadas aps o trmino de cada consulta, para minimizar a
preocupao em perder a consulta agendada na instituio, visto que as participantes
apresentavam-se ansiosas pela consulta e poderia interferir na realizao e conduo da
entrevista. O formulrio utilizado encontra-se no Apndice C.
Algumas interferncias ocorreram durante o desenvolvimento da entrevista, como os
rudos do prprio ambiente e a presena de outra pessoa. Nesse caso, uma cuidadora que, por
solicitao da idosa longeva em condio de dependncia fsica estava presente no momento
da entrevista.
Foi necessrio se lanar no exerccio constante de retomar o objeto do estudo, pois, as
participantes iniciavam seus discursos falando da sua trajetria de vida, do cuidado que
possuam com a famlia e com outros, at que foram identificados elementos empticos para o
aprofundamento e a busca de clareza nos discursos produzidos durante a entrevista.
Tambm foram consideradas a comunicao no-verbal, quando algumas longevas
apresentaram momentos de choro, de tristeza, por se lembrarem das perdas, alm dos
momentos significativos de pausa atravs do silncio das lembranas do que vivenciaram
durante a vida.
A coleta dos depoimentos foi realizada durante os meses de dezembro de 2013 a abril
de 2014. vlido ressaltar que a pesquisadora enfrentou feriados do municpio de Salvador e
recessos do calendrio, como os de Natal e Carnaval, alm das frias dos profissionais de
sade e greves no municpio de Salvador Bahia, motivos pelos quais o perodo de coleta de
estendeu por aproximadamente quatro meses.
As entrevistas foram realizadas atravs da tcnica face a face, em sala reservada do
prprio Centro de Referncia, sendo gravadas em aplicativo Android, e possuiu como tempo
de durao variando de oito minutos uma hora e seis minutos de entrevista. Apenas duas
idosas longevas solicitaram que a entrevista fosse realizada no prprio espao da sala de
espera.
4.5 PROCEDIMENTO DE ANLISE E INTERPRETAO
Em sua obra Os problemas fundamentais da fenomenologia, o filsofo Martin
Heidegger (2012) revela o carter metodolgico da ontologia, atravs de componentes
fundamentais do mtodo fenomenolgico. A primeira tarefa a demonstrao do fundamento
ntico. A segunda tarefa consiste na caracterizao do modo de conhecimento que se realiza
na ontologia como a cincia do ser, com a elaborao de estruturas metodolgicas, que so
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denominados de componentes fundamentais, atravs da reduo fenomenolgica, como a
reconduo do nosso olhar do ente para o ser e, posterior desconstruo dos conceitos
tradicionais, por meio da destruio que a ontologia pode se assegurar de maneira
fenomenolgica na autenticidade de seus conceitos (HEIDEGGER, 2012).
Desse modo, a anlise fenomenolgica ocorreu em dois momentos. O primeiro,
denominado de dimenso ntica: em que a presena um ente determinado em seu ser pela
existncia, ao prprio ser com o qual a presena pode relacionar-se dessa ou daquela maneira
e com o qual sempre se relaciona de alguma maneira, atravs da compreenso vaga e
mediana.
Neste primeiro momento ocorreu aproximao com o fenmeno, determinado por
um movimento compreensivo, em que foram destacados trechos significativos do vivido no
cotidiano da pessoa idosa longeva na busca do cuidado no servio de sade. Foram
considerados os fatos vividos que surgiram de imediato, e que conduziram a construo das
unidades de significao, que o fio condutor para o segundo momento, que a
hermenutica, a dimenso ontolgica.
O termo ontologia designa-se o sentido de ser, que surge atravs do movimento que
desvela o significado do ser que se mostra a partir da compreenso vaga e mediana e revelou a
construo das unidades de significado.
4.6 ASPECTOS TICOS
Os participantes foram orientados a respeito dos objetivos e contribuies desta
pesquisa. A concordncia da participao na pesquisa foi realizada por meio da assinatura do
TCLE (APNDICE B), o qual afirmou que sua participao livre e voluntria, com garantia
do sigilo e anonimato quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa, bem como
ausncia de nus. Ademais, considerando que toda pesquisa envolvendo seres humanos
apresenta risco, nessa pesquisa o risco presumvel e encontra-se relacionado ao desconforto
que pode ser proporcionado pelo ato da entrevista.
A identidade e o anonimato das entrevistadas foram preservadas atravs da
identificao de cada uma delas pela sigla IL, seguida da numerao correspondente
ordem de entrevista (ex.: IL 01; IL 02...). Alm disso, os princpios ticos de beneficncia,
no maleficncia, autonomia e justia foram todos avaliados e respeitados durante o
desenvolvimento da pesquisa.
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Foi respeitado o direito da pessoa idosa participar ou no da pesquisa, e de poder
desistir ou anular o consentimento em qualquer fase da pesquisa, com a garantia de que no
haveria prejuzos e penalizaes. Foi disponibilizada uma cpia do TCLE para a participante
e outra para as pesquisadoras, a qual ser guardada pela pesquisadora por um perodo de cinco
anos, no arquivo do NESPI. Aps este perodo, os protocolos sero desprezados.
Em virtude de esta ser uma pesquisa de campo, este estudo foi desenvolvido de acordo
com os princpios ticos de pesquisas com seres humanos, expresso atravs da Resoluo 466
de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Sade (BRASIL, 2012). Em
cumprimento as normas desta resoluo, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comit de
tica e Pesquisa da Escola de Enfermagem, e aprovado com o parecer de nmero 453.290, de
06 de novembro de 2013. Os resultados produzidos neste estudo sero divulgados em meio
cientfico (artigos cientficos, congressos, jornadas, simpsios).
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5 RESULTADOS
As colaboradoras do estudo foram 13 idosas, com idade entre 80 e 93 anos, trs eram
solteiras, trs casadas e 7 vivas, todas residem com familiares, possui o tempo de um a onze
anos de cadastramento no CR. O problema de sade mais prevalente referido pelas idosas
longevas foram hipertenso arterial e depresso.
A compreenso vaga e mediana possibilitou a abertura das seguintes unidades de
significao: 1. Compreendendo a chegada ao servio de sade; 2. A famlia como suporte
para a busca do cuidado no servios de sade; 3. Compreendendo a necessidade de busca de
cuidado por outros caminhos; 4. A busca dos servios de sade pelas demandas do adoecer; 5.
As perdas motivando a busca ao servio de sade.
A partir das unidades de significao foi apreendida a unidade de significado: O
vivido pelo ser-pessoa-idosa longeva nos modos da ocupao e preocupao, vivenciando
perdas e a busca pelo cuidado no servio de sade.
5.1 COMPREENDENDO A CHEGADA AO SERVIO DE SADE
Como o envelhecimento no um processo homogneo, necessidades e demandas da
pessoa idosa variam, sendo preciso fortalecer o trabalho em rede para contemplar a ateno e
atender queles com diferentes graus de incapacidade ou enfermidade, inclusive nos
domiclios (MOTA; AGUIAR; CALDAS, 2011).
Nesse sentido, os discursos das idosas longevas desvelam a riqueza e complexidade
envolvida na busca pelos cuidados em sade, atravs de enfrentamentos e da possibilidade de
acesso aos servios de sade.
A chegada da idosa longeva ao servio de sade possui elementos predisponentes para
que ocorra, a citar: o reconhecimento do servio especializado para a pessoa idosa; os
encaminhamentos realizados por referncia de outros profissionais da sade diante das
necessidades das longevas; a dependncia da famlia como suporte e, tambm, algumas
possuem a capacidade de chegar sozinha aos servios.
A chegada ao servio realizada por existir a associao entre as peculiaridades da
idade, com a chegada da velhice e a necessidade de ter um acompanhamento diferencial. A IL
08 consegue identificar que o geriatra o mdico especialista para cuidar das necessidades de
sade do seu grupo etrio, como no discurso a seguir:
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[...] Foi que eu voltei aqui, problema mais clnico, geriatria por causa da
idade. Agora que eu tenho osteopenia no joelho e osteopenia na coluna [...]
(IL 08).
A IL 08 revela um comportamento positivo em busca do seu cuidado em sade, afinal
h alguns anos no fazia acompanhamento. Atravs da busca do cuidado no servio de sade,
as idosas reconhecem seus direitos, para que possam ter uma ateno especializada. Destaca-
se que os problemas de sade e o uso de servios de sade aumentam com a idade, sobretudo,
nas ltimas dcadas de vida (LIMA-COSTA; LOYOLA FILHO; MATOS, 2007). Nesse
sentido, conhecer as necessidades de sade relevante na prestao da assistncia direta a
pessoa idosa (FREITAS, 2006).
Contudo, as aes de sade buscadas pela pessoa idosa e as prprias demandas e
expectativas destas parecem centrar-se no atendimento individual, prestado pelo profissional
mdico e com enfoque curativo (PASKULIN; VALER; VIANNA, 2011).
A chegada ao CR tambm realizada atravs de encaminhamento feito pelos
profissionais de sade, ou, pela referncia que a comunidade possui dos servios ofertados em
funo da resolutividade no mbito da rede do Sistema nico de Sade (SUS). O discurso da
IL10 revela a necessidade de encaminhamento para o profissional especialista, o psiquiatra,
que tambm presta atendimento no CR:
Eu procuro aqui no CR. O meu mdico aqui, s aqui. [...] Tem 11 anos [...]
eu estava l na Pituba, uma mdica particular, mas, quando ela viu que eu
precisava de um psiquiatra [...] (IL 10).
O discurso da IL 10 revela que o profissional da sade de consultrio particular que a
atendia anteriormente possua conhecimento da rede de ateno sade da pessoa idosa,
encaminhando-a para o CR, pois, mesmo sendo uma rede especializada para atendimento
geritrico, possui outras especialidades mdicas, o que destaca o atendimento de cunho
integral a pessoa idosa.
preciso que os profissionais possam assumir uma ateno integral sade deste
segmento populacional, por intermdio das diretrizes e princpios do SUS, garantindo acesso
universal, em conjunto articulado e contnuo das aes e servios, alm da perspectiva da
preveno, promoo, recuperao e reabilitao. A Poltica Nacional de Sade da Pessoa
Idosa base para a continuidade do cuidado, com destaque para a capacidade funcional,
necessidade de sade, autonomia e independncia da pessoa idosa (BRASIL, 2006).
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Por outro lado, a chegada ao servio tambm feita pelo reconhecimento que a
populao expressa sobre o CR, como a IL 11 traz na sua fala:
Eu estava na irm Dulce, depois mudei para aqui. [...] me informaram que
era muito bom. [...] Depois, eu deixei l e passei para aqui. [...] Primeiro,
tive no posto l na Fazenda Grande, depois, no mdico particular (IL 11).
A IL 11 mostra o seu itinerrio teraputico antes de chegar at o CR, enfatizando a sua
busca por toda a rede de ateno, nos distintos nveis de complexidade como instituio de
referncia para o cuidado pessoa idosa e a Estratgia de Sade da Famlia (ESF). A busca
feita por um servio de boa qualidade e que seja capaz de contemplar as necessidades de
sade.
Para algumas longevas, a busca do cuidado tambm ocorre simultaneamente na ESF,
contudo, uma busca distante dos moldes preconizados pelo SUS. A ESF no funciona como
porta de entrada, mas, uma referncia para aspectos de demandas do processo sade-doena,
que surge para as longevas como alternativa, um plano alternativo para garantia dos seus
cuidados, conforme os depoimentos abaixo:
Bom, se eu no tiver alguma coisa marcado aqui pelo CR, eu vou no posto
de sade que tem perto (IL 08).
Todos os postos esto em reforma, mas eu vou. Tem o de Castelo Branco
[...]. O homem me atendeu e eu fiz l os exames. S fui para isso, fazer o
exame [...] (IL 10).
Nos discursos de IL 08 e IL 10 foi possvel descrever duas formas de utilizao da
ESF, pois, o posto de sade tambm faz parte de uma rede de ateno sade, que
utilizado em momentos espordicos e possui como uma das caractersticas suprir demandas,
como por exemplo, a realizao dos exames laboratoriais.
Isso denota a desarticulao da rede e a inexistncia ou desconhecimento dos servios
de retaguarda disponveis, alm de apresentar o comprometimento da resolutividade da ESF.
Pesquisa realizada em trs municpios brasileiros corrobora com essa realidade. Os exames ou
consultas para garantir ateno pessoa idosa so realizados atravs da referncia informal.
(MOTA; AGUIAR; CALDAS, 2011).
Outro instrumento para a busca do cuidado em sade se deu atravs da visita
domiciliar, como relatado por IL 06. Esse atendimento no domiclio ocorreu devido s
limitaes de mobilidade para se deslocar at a ESF, e ressalta que recebeu a visita domiciliar
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do mdico da equipe da ESF para garantia do seu cuidado. Alm disso, houve necessidade da
ajuda do familiar para marcao da consulta:
Agora, a mdica do posto esteve l e passou um remdio, e eu fiquei melhor
[...] A mdica foi l em casa. Nunca fui no posto [....] S vai quando minha
filha vai no posto. Marca, demora [...] um ms (IL 06).
Estudo revela que a ESF possibilita o acesso ao cuidado, reafirmando a importncia do
cuidado domiciliar no atendimento populao incapacitada de se deslocar aos servios de
sade, sendo a famlia a responsvel pelas solicitaes de cuidado para a pessoa idosa no
domicilio (THUMME et al., 2010). No Brasil, a ponte para que os profissionais cheguem at
o domicilio guiada pelas necessidades trazidas pelo agente comunitrio de sade e pela
prpria famlia (OLIVEIRA, 2013).
Estudo realizado na Espanha demonstrou a efetividade das visitas domiciliares para a
pessoa idosa, no que diz respeito reduo do declnio da capacidade funcional e da
mortalidade (RUBIO, 2013).
A experincia no Canad se apresenta diferente da realidade brasileira, na qual estudo
revela que a equipe de sade da famlia est posicionada para oferecer cuidado compartilhado
para o idoso frgil. Esse modelo permitiu um tempo de referncia de curto e de fcil acesso, o
que poderia permitir que a pessoa idosa permanecesse em seu ambiente de escolha (MOORE,
2012).
Algumas idosas tambm passaram por um perodo de hospitalizao recente e, como a
IL 11, que precisou do servio de sade em situaes de emergncia devido a uma situao
abrupta e aguda e, como consequncia, necessitou de acompanhamento no hospital. Algumas
idosas realizam revises tanto no CR quanto em outros servios devido algumas
comorbidades, como a IL 04, que possui marcapasso e necessita de revises contnuas no
servio, o que lhe possibilita acesso ao cuidado longitudinal, como nos depoimentos abaixo:
[...] tive que vim no hospital, tem uns vinte dias que eu sa [...] (IL 11).
[...] de seis em seis meses, eu tenho que fazer a reviso [...] o atendimento
do marcapasso no hospital [...] (IL 04).
Estudo realizado em unidade de clinica mdica revela que, como cada vez mais a
pessoa idosa est vivendo prximo aos cem anos, o que vem a contribuir para o agravamento
das doenas crnicas, torna mais frequentes as exacerbaes do processo de adoecimento e,
consequentemente, as internaes hospitalares (STORTI, 2013). Se houver ao mais efetiva
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da ateno bsica, provavelmente haver reduo na demanda de internaes hospitalares,
reduo de complicaes e manuteno da pessoa idosa no domiclio.
As idosas longevas possuem ateno as suas necessidades de sade no CR quando
buscam cuidados nesse espao, com destaque nesse estudo para a consulta mdica, mas, ainda
se deparam com a fragmentao dos demais nveis de complexidade, encontrando fragilidades
da rede de ateno a sade quando buscam cuidado na ESF. Assim, esto diante de vrios
cenrios para a busca do cuidado e a famlia possui destaca no auxlio busca do cuidado.
5.2 A FAMLIA COMO SUPORTE PARA A BUSCA DO CUIDADO NOS SERVIOS DE
SADE
As idosas reconhecem sua dependncia dos familiares, no que se refere ao
deslocamento do domiclio para o CR e demais redes de ateno sade. A literatura refere
que a rede de apoio para a pessoa idosa composta predominantemente pela famlia,
comunidade e amigos (ALVARENGA et al, 2011). O comparecimento s consultas mdicas
realizado atravs do apoio familiar, em sua maioria por cuidadores familiares.
Eu s no posso vir sozinha, tem que vir uma pessoa (IL 07).
Quem faz tudo ela, minha filha mais velha [...] Eu me arrumo, pego um
taxi [...] Sempre com ela, minha primeira filha. Ela quem marca, vai para
fila, quem vai receber o remdio, ela compra, e assim (IL 11).
A pessoa idosa longeva se apresenta em uma fase do ciclo vital que a torna mais
suscetvel fragilizao e dependncia, devido frequncia de comorbidades crnicas no
transmissveis, que vo se agravando com o passar do tempo (SILVA; NOVAIS, 2009).
Assim, algumas mudanas fisiolgicas tornam-se mais visveis e a capacidade
funcional da pessoa idosa pode estar ou ficar comprometida. O surgimento da dependncia, a
perda da autonomia, o comprometimento de funes que dificultam inclusive realizar
atividades simples da vida, como caminhar, manifesta-se na pessoa idosa e exige cuidados
constantes (MARTINS et al, 2009), o que pode interferir na sua independncia para a busca
pelo cuidado nos servios de sade.
Nesse sentido, a famlia se constitui como um pilar de apoio e suporte, sendo
designada para a garantia de realizao da busca pelos cuidados, alm de se envolver no
contexto de cuidado, conforme os discursos a seguir:
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[...] tive muito doente, a Deus me ajudou, sofri muito, ela (a filha) do meu
lado. Ela sempre me olhou e hoje eu estou com ela [...] (IL 01).
Eu s no posso vir sozinha, tem que vir uma pessoa (IL7).
[...] eu me arrumo, pego um nibus, um txi e venho normal [...] sempre com
ela, a minha primeira filha (IL 11).
A famlia referncia para garantia de cuidados, pois, ela quem apia a idosa
longeva em suas atividades quando se encontram mais frgeis. A presena de uma rede de
apoio familiar de extrema importncia para garantir o bem-estar dos longevos (PAVARINI
et al, 2009). O cuidado dispensado pelos familiares acrescenta recuperao desse familiar
que necessita de cuidado, alm de que a famlia a primeira cuidadora na histria da
humanidade (MARTINS et al, 2009).
Para quem depende de algum para o deslocamento ao servio de sade, significa
compatibilizar a demanda de ateno a idosa longeva com os compromissos que tem, seja no
contexto do trabalho, ou, da prpria famlia. Neste estudo, as co