Dissertação Klebinho
-
Upload
lia-carelli -
Category
Documents
-
view
17 -
download
0
Transcript of Dissertação Klebinho
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
1/136
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Instituto de Geocincias e Cincias Exatas
Campus de Rio Claro
KLEBER CARVALHO LIMA
RELAES ENTRE A REDE DE DRENAGEM E AS SUPERFCIES DE
APLAINAMENTO NO SEMIRIDO: A BACIA HIDROGRFICA DO RIO BOM
SUCESSO (BAHIA)
Dissertao de Mestrado apresentada ao Instituto deGeocincias e Cincias Exatas do Campus de RioClaro, da Universidade Estadual Paulista Jlio deMesquita Filho, como parte dos requisitos paraobteno do ttulo de Mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Archimedes Perez Filho.
Rio Claro - SP2012
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
2/136
2
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
3/136
3
KLEBER CARVALHO LIMA
RELAES ENTRE A REDE DE DRENAGEM E AS SUPERFCIES DE
APLAINAMENTO NO SEMIRIDO: A BACIA HIDROGRFICA DO RIO BOM
SUCESSO (BAHIA)
Dissertao de Mestrado apresentada ao Instituto deGeocincias e Cincias Exatas do Campus de RioClaro, da Universidade Estadual Paulista Jlio deMesquita Filho, como parte dos requisitos paraobteno do ttulo de Mestre em Geografia.
Comisso examinadora
Prof. Dr. Archimedes Perez Filho
(IGE/UNICAMP/Campinas)Orientador
Prof. Dr. Iandara Alves Mendes
(IGCE/UNESP/Rio Claro)
Prof. Dr. Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin
(IGC/UFMG/Belo Horizonte)
Rio Claro, SP, 18 de outubro de 2012.
Resultado: APROVADO
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
4/136
4
Ao serto e aos sertanejos
DEDICO
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
5/136
5
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeo a Deus por me ter revelado a grandiosidade das suas
obras, das suas criaes. No cai uma folha da rvore que no seja permisso do
Senhor.
Agradeo ao meu querido pai Antonio Lima, minha querida irm Rake Lima e
minha prima Virgnia Lima que acreditaram em mim e me deram a fora necessria
para que eu chegasse nesse momento. Mesmo distantes vocs esto comigo em
todo o tempo.
querida Cinthia Brum, pois, no momento final, surgiu como um presente de Deus
para alegrar os meus dias.
Ao professor Jmisson Mattos dos Santos (DCHF/UEFS) por despertar em mim o
interesse e o esprito investigativo na Geomorfologia. Agradeo ainda pelo incentivo
e apoio para fazer o mestrado em outra instituio.
Ao professor e orientador Dr. Archimedes Perez Filho pelo convite inicial de cursar o
mestrado em Rio Claro e por ter possibilitado a realizao dessa dissertao.
professora Dra. Cenira Maria Lupinacci da Cunha (UNESP Rio Claro), agradeo
por ter me recebido e acreditado no meu trabalho. Os nossos dilogos sobre o
desconhecido semirido foram enriquecedores. Seu compromisso e rigor com a
pesquisa geomorfolgica me servem de exemplo.
professora Dra. Iandara Alves Mendes (UNESP Rio Claro) pelas importantes
consideraes e troca de conhecimento durante o exame de qualificao.
Ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Estadual Paulista
Jlio de Mesquita filho, Campus de Rio Claro, pela oportunidade concedida e pela
estrutura fsica disponibilizada.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
6/136
6
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pela
concesso da bolsa de mestrado.
Ao Laboratrio de Geomorfologia (DEPLAN/IGCE/UNESP Rio Claro) por
disponibilizar sua estrutura fsica, bem como material e equipamento necessrios
realizao da pesquisa.
professora Dra. Maria Jos Marinho do Rgo (UFBa) pela troca de conhecimento
acerca dos processos pedogenticos na regio de Santaluz.
Aos professores Dr. Carlos Csar Uchoa, Dra. Liana Maria Barbosa e Dra. Marilda
Miedema (DEXA/UEFS) por viabilizarem o emprstimo de equipamentos para os
trabalhos de campo.
Ao amigo e irmo Silas Melo, agradeo pelo companheirismo, pelas diversas
conversas no prdio da ps-graduao e na pista de corrida do campus, alm da
troca de conhecimentos sobre o ArcGIS.
Agradeo Dbora Baratto que, por meio da amizade e dos sbios conselhos, se
tornou a minha segunda irm. Agradeo tambm pelos seus questionamentos e
crticas, dilogos sempre produtivos que ajudaram a organizar as ideias.
Aos amigos Pedro Ivo, Ana Carolina, Guilherme, Neto (o japons), Leandro (Bidu),
Cibele Marto e Cristiane Dambrs, agradeo pelo companheirismo e por me
ajudarem quando a saudade de casa e da Bahia me apertaram o peito. Agradeotambm s famlias De Lucca, Gouveia e Lana por me acolherem como um filho.
Aliana Bblica Universitria (ABU) por me proporcionar momentos to singulares
na UNESP atravs das oraes, dos estudos bblicos e dos momentos de diverso.
Aos meus ex-alunos do ensino mdio Renan Santos, Renan Arajo, Marlia Arajo,
Lion Almeida e Aurlio Carneiro, alm do amigo Tiago Thuera e do primo Ramon
Silva pelo auxlio prestado durante os trabalhos de campo.
Por fim, agradeo a todos que contriburam para a realizao desta pesquisa.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
7/136
7
(...) Mas quele riachinhoQue a paisagem enfeitavaS s vezes ficava cheio.
Vez em quando transbordava (...).
Lembranas de um riacho sertanejo (Manoel
Messias Belizrio Neto)
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
8/136
8
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo analisar, de forma quali-quantitativa, a rede de
drenagem da bacia hidrogrfica do Rio Bom Sucesso (Bahia), partindo do pr-suposto de que as drenagens de ambientes semiridos so pouco eficientes noprocesso de evoluo das superfcies de aplainamento. Busca tambm estabeleceras relaes entre a rede de drenagem e a elaborao de compartimentosgeomorfolgicos por meio dos diferentes padres de drenagem. Para tanto, aabordagem sistmica foi adotada como mtodo de anlise por se entender que oscomponentes do sistema interagem entre si, favorecendo a elaborao de formas derelevo que evoluem no decorrer do tempo. A unidade de anlise espacial escolhidaest inserida em uma rea de atuao do clima semirido, onde poucas pesquisasde cunho geomorfolgico foram desenvolvidas. Os resultados demonstraram que aatuao do clima quente e seco favoreceu a elaborao de uma vasta superfcie de
aplainamento que se encontra organizada em trs nveis topogrficos distintos,sendo que os nveis superior e intermedirio esto conservados e o nvel inferior,dissecado. As caractersticas morfolgicas e morfomtricas da rede de drenagemindicam que se trata de uma bacia hidrogrfica cuja atuao dos canais fluviais, emgeral, pouco eficaz na dissecao do relevo, porm, a interao desta com ageologia local favoreceram graus de dissecao diferenciados, o que resultou naformao de seis compartimentos geomorfolgicos. Por meio das caractersticas doscompartimentos, afirma-se que estes exibem formas que comumente soencontradas no quente e seco. No entanto, formas de relevo como topossuavemente convexos e vertentes convexas foram identificadas e que,provavelmente, esto relacionados a processos azonais. Os procedimentos tcnicose metodolgicos empregados contriburam para que esses resultados fossemalcanados e, sugere-se que, novos mtodos sejam aplicados no intuito de melhorcompreender a influncia da rede de drenagem na evoluo do modelado de regiessemiridas.
Palavras-chave: Rede de drenagem; Superfcie de aplainamento; Semirido; RioBom Sucesso; Bahia.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
9/136
9
ABSTRACT
This research aims to analyze, in quali-quantitative form, the drainage network of the
river basin Bom Successo (Bahia), starting from the presupposition that the drainageof semi arid environments are less efficient in evolution process of planning surfaces.It also points to establish the relationship between the drainage network and theelaboration of geomorphological compartments through the different drainagepatterns. For this, the system approach was adopted as a method of analysis tounderstand that system components interact with each other, favoring the elaborationof landforms that evolute in the course of time. The unit of spatial analysis chosen isinserted in a field of semiarid climate, where few geomorphological surveys weredeveloped. The results showed that the performance of the hot and dry climatefavors the elaboration of an extensive planning surface that is organized into threedistinct topographic levels, whereas the upper and intermediate levels are preserved
and the lower level, dissected. The morphological and morphometric characteristicsof the drainage network indicate that this is a watershed whose performance, ingeneral, is not very effectual in dissecting the relief, nevertheless, the interaction ofthat with the local geology favored different degrees of dissection, which resulted inthe formation of six geomorphological compartments. Through the compartmentsfeatures, it is said that they exhibit shapes which are commonly encountered in hotand dry. However, landforms as tops gently convex and convex hillsides have beenidentified and are probably related to non zonal processes. The technical andmethodological procedures employed contributed to these results were achieved andit is suggested that new methods are applied in order to better understand theinfluence of the drainage network in the evolution of the modeled of semi aridregions.
Keywords: Network drainage; Planning surface; Semi arid; Rio Bom Successo;Bahia.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
10/136
10
SUMRIO
1 INTRODUO ...................................................................................................... 11
1.1 Hiptese e Objetivos ......................................................................................... 12
1.2 Contexto da Pesquisa e Justificativas ........................................................... 13
2 REFERENCIAL TERICO E CONCEITUAL ........................................................ 15
2.1 A Anlise Sistmica Enquanto Mtodo de Pesquisa e sua Abordagem na
Geomorfologia ........................................................................................................ 15
2.2 O Pensamento Geomorfolgico e as Teorias de Aplainamento da Superfcie
.................................................................................................................................. 21
2.2.1 A Teoria da Pediplanao de Charles Lester King .......................................... 24
2.2.2 Novas Interpretaes para as Superfcies de Aplainamento: algumas
consideraes .......................................................................................................... 28
2.3 Dinmicas Geomorfolgicas no Quente e Seco ............................................. 29
2.3.1 Sistema Morfogentico das Regies Quentes e Secas .................................. 34
3 CARACTERSTICAS AMBIENTAIS DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO BOM
SUCESSO ................................................................................................................ 40
4 PROCEDIMENTOS TCNICOS E OPERACIONAIS ........................................... 53
4.1 Reviso Bibliogrfica ....................................................................................... 53
4.2 Trabalhos de Campo ........................................................................................ 534.3 Produtos Cartogrficos ................................................................................... 54
4.3.1 A Base Topogrfica ......................................................................................... 55
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
11/136
11
4.3.2 O Esboo Geolgico......................................................................................... 594.3.3 O Esboo Pedolgico ....................................................................................... 59
4.3.4 O Mapa Hipsomtrico ....................................................................................... 60
4.3.5 O Mapa de Declividade .................................................................................... 60
4.3.6 O Mapa de Relevo Sombreado ........................................................................ 61
4.3.7 O Mapa Geomorfolgico .................................................................................. 61
4.4 A Definio dos Nveis de Pedimentos ........................................................... 68
4.5 Compartimentao Geomorfolgica do Relevo ............................................ 68
4.6 Morfometria da Rede de Drenagem ................................................................. 69
5 RESULTADOS E DISCUSSES .......................................................................... 725.1 A Rede de Drenagem ....................................................................................... 72
5.1.1 Anlise Morfomtrica da Rede de Drenagem .................................................. 79
5.2 Os Compartimentos Geomorfolgicos ........................................................... 86
5.2.1 Compartimento Geomorfolgico Superfcie Elevada da Serra da Matina ....... 86
5.2.2 Compartimento Geomorfolgico Superfcie Elevada da Serra Branca ............ 88
5.2.3 Compartimento Geomorfolgico Topos de Valente ......................................... 90
5.2.4 Compartimento Geomorfolgico Superfcie de Eroso do Riacho das Onas..925.2.5 Compartimento Geomorfolgico Pediplano de Santaluz ................................. 94
5.2.6 Compartimento Geomorfolgico Pediplano de Araci ....................................... 98
5.3 Espacializao e Caractersticas Morfolgicas dos Solos ......................... 101
5.4 A Organizao do Modelado ......................................................................... 108
5.5 Relaes entre a Rede de Drenagem e a Superfcie de Aplainamento Local
............................................................................................................................... 121
6 CONCLUSES ................................................................................................... 123
REFERNCIAS ...................................................................................................... 126
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
12/136
11
1 INTRODUO
Analisar a superfcie terrestre e os fatores que favorecem a formao do
relevo constitui o principal objetivo da geomorfologia. Na concepo da
geomorfologia climtica, conceito introduzido por J. Bdel em 1963
(CHRISTOFOLETTI, 1980), a interao entre os diferentes tipos de clima e os
agentes internos de formao do relevo o fator condicional para a existncia dos
processos morfogenticos que daro origem s feies geomorfolgicas. A
interao dos grandes tipos de clima com os diversos tipos de estruturas geolgicas
forma os sistemas morfoclimticos que, por conseguinte, possuem dinmicas
prprias e os agentes climticos atuam de forma direta e indireta na elaborao do
modelado. Segundo Derraux(1965), soreconhecidos os sistemas morfoclimticos
do quente e mido (Equatorial, Tropical e Subtropical), do quente e seco (os
desertos, as regies semiridas e as savanas), o sistema periglacial e o glacial.
Sobre os sistemas morfoclimticos quentes e secos, algumas teorias sobre a
gnese e evoluo do relevo nessas regies foram desenvolvidas, a exemplo da
Teoria da Pediplanao de Charles Lester King (1953), que tambm contribuiu para
a consolidao da abordagem climtica na geomorfologia. A partir de ento,trabalhos com este vis foram realizados por autores como Tricart (1969), Twidale
(1978), dentre outros. Na literatura internacional, os trabalhos desenvolvidos nas
ultimas duas dcadas sobre as paisagens ridas e semiridas tratam de temas
especficos para esse tipo de ambiente, a exemplo dos processos gerados por ao
dos eventos climticos de grande magnitude e das caractersticas e comportamento
dos canais de drenagem intermitentes. Estes fazem uso de ferramentas modernas
como o sensoriamento remoto e os sistemas de informaes geogrficas, alm deaplicarem diversas tcnicas de datao.
Vrios trabalhos vm sendo produzidos por pesquisadores em diversos
pases, a exemplo da Austrlia, Espanha, Estados Unidos e Israel, permitindo o
conhecimento cada vez mais aprofundado dos processos que atuam na elaborao
do modelado no quente e seco. Destacam-se aqui os trabalhos de Kenny (1990),
Thomas (1997), Martn-Vide (1999), Tooth (2000), Blumberg et al (2004), Bracken e
Kirkby (2005), Mign et al (2005), Billi (2007), Bowman et al (2007), Robinson et al
(2007), Wittenberg et al (2007), Billi (2008), Bowman et al (2010), El-Magd et al
(2010), Kozlowski et al (2010) e Daz-Ortega et al (2011).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
13/136
12
No contexto brasileiro, o semirido enquanto sistema morfoclimtico, ocorre
em uma rea aproximada de 982.563,3 km (11% do territrio nacional) e a regio
semirida mais populosa do mundo, com cerca de 36 milhes de pessoas (ARAJO
FILHO, 2006). Grande parte do relevo desse domnio formada por extensas reas
aplainadas, cuja gnese est associada a eventos tectnicos, s oscilaes
climticas pretritas e s condies climticas quentes e secas atuais. A baixa e
irregular pluviosidade, somada s condies de resistncia litolgica de grande parte
do domnio, favorece a formao de solos pouco desenvolvidos, a formao de
cobertura vegetal arbustiva com grande ocorrncia de espcies cactceas e o
estabelecimento de uma rede de drenagem composta sumariamente, por canais
fluviais intermitentes e efmeros.
1.1 Hiptese e Objetivos
Levando-se em considerao que as caractersticas de semiaridez climtica
da rea em estudo refletem sobre o regime fluvial da rede de drenagem, os cursos
intermitentes e efmeros so pouco eficientes no processo de denudao da
superfcie e contribuem de forma pouco significativa na evoluo das superfcies deaplainamento qual essa rede de drenagem est instalada.
Tendo em vista a hiptese levantada, o objetivo dessa pesquisa realizar a
anlise quali-quantitativa da rede de drenagem da bacia do Rio Bom Sucesso,
Estado da Bahia, e como esta contribui para a evoluo do relevo. Para tanto, foram
delineados os seguintes objetivos especficos:
Analisar a espacializao da rede de drenagem, as caractersticas dos canaisfluviais e suas relaes com a superfcie de aplainamento;
Identificar os compartimentos geomorfolgicos e as superfcies de aplainamento
formadas em condies de clima quente e seco;
Analisar as feies geomorfolgicas da bacia do Rio Bom Sucesso, por meio das
interaes clima x geologia.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
14/136
13
1.2 Contexto da Pesquisa e Justificativas
Dada a representatividade da extenso territorial do semirido no contexto
brasileiro, a quantidade de pesquisas desenvolvidas sobre as dinmicas
geomorfolgicas em ambientes semiridos ainda so incipientes, uma vez que se
trata de uma tipologia climtica dominante em quase todo o interior da Regio
Nordeste e do norte de Minas Gerais. No Brasil, o conhecimento acerca da
geomorfologia do semirido nordestino teve grandes contribuies a partir dcada
de 1950, embora a maior parte destes possua um carter generalista do ponto de
vista da escala de anlise. Destacam-se autores como King (1956), Ab Saber
(1956), Tricart (1958), Ruellan (1959), Demangeot (1960), Dresh (1967), AbSaber(1969 a, b), Matsumoto (1974), Mabessone e Castro (1975), Mabessone (1978),
Motti et al (1980), dentre outros.
Sobre os aspectos geomorfolgicos do Estado da Bahia, os primeiros
estudos foram desenvolvidos a partir da segunda metade da dcada de 1950,
conforme observao de Mendes (1978). Segundo o autor, o Laboratrio de
Geomorfologia da Universidade Federal da Bahia em Salvador, colaborou com o
desenvolvimento de vrias pesquisas, alm de contribuir com a formao e oaperfeioamento de diversos pesquisadores, atravs dos aportes da professora
Teresa Cardoso da Silva. Segundo Lima et al (2006), outros pesquisadores
brasileiros, alm de estrangeiros, realizaram estudos no laboratrio, a exemplo de
Milton Santos, Jean Tricart, Pascal Motti, Maria do Carmo Barbosa, Clia Peixoto,
Creuza Lage e Henrique Falk.
Embora a produo cientfica dos trabalhos desenvolvidos na Bahia tenha
contribudo para os primeiros entendimentos acerca da gnese e evoluo domodelado em condies quentes e secas atuais e pretritas no Estado, observa-se
que a maior parte dos trabalhos produzidos no final da dcada de 1950 abrange
aspectos gerais (o trabalho de Tricart e Silva, 1969, por exemplo) e que os trabalhos
em escala de detalhe desenvolvidos entre a segunda metade da dcada de 1970 e
inicio da dcada de 1990 so incipientes diante da extenso do semirido baiano
cerca de 320, 211 km (MELO FILHO E SOUZA, 2006, p. 50). Estes, por sua vez,
trazem uma anlise do modelado e das formaes superficiais, alm de aplicarem
tcnicas de mapeamento geomorfolgico em nvel de detalhe nas respectivas reas
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
15/136
14
de estudo. Destacam-se os trabalhos de Bamberg (1978), Mendes (1978), Jesus
(1981), Silva (1986), Lage (1986) e Brito (1991).
Da segunda metade da dcada de 1990 at as primeiras dcadas do Sculo
XXI, poucas pesquisas foram realizadas no contexto da geomorfologia semirida da
Bahia, porm, so majoritariamente estudos de caso, de carter aplicado como os
trabalhos de Hagge (2000), Arglo et al (2002), Lima et al (2006), Lima et al (2008),
Oliveira (2008), Santos e Lima (2009), Santos e Salgado (2010). Observa-se ainda
que, boa parte das pesquisas recentes est sendo desenvolvida em laboratrios de
outras universidades baianas, a exemplo da Universidade Estadual de Feira de
Santana, porm, carecem de maiores avanos com relao s tcnicas de
investigao e anlise. No contexto da Bacia do Rio Bom Sucesso, os trabalhos de
cunho geomorfolgico so escassos, existindo apenas o trabalho de Lage e Arglo
(2002) que trata de aspectos gerais da geomorfologia da regio sisaleira da Bahia e
acaba por abranger a bacia em estudo. Alm desse, encontra-se o trabalho
desenvolvido por Lima et al (2010) sobre a anlise morfomtrica da rede de
drenagem da bacia.
A escolha da rea em estudo se deu, dentre diversos aspectos abordados
anteriormente, baseada no fato de se tratar de uma bacia semirida, situada emuma poro da Bahia onde poucos trabalhos de carter geomorfolgico foram
realizados. Alm disso, a bacia est inserida em uma rea onde as caractersticas
geolgicas influenciam a intensa explorao de recursos minerais como o cromo e o
granito, sendo que, o conhecimento mais aprofundado das caractersticas
ambientais da rea, especialmente as caractersticas geomorfolgicas, contribui no
sentido de melhor fundamentar as aes de planejamento econmico e ambiental.
Ademais, alguns dados sobre a bacia j haviam sido levantados por Lima et al(2010). Observa-se ainda que, o conhecimento prvio da rea tambm favoreceu a
escolha por esta.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
16/136
15
2 REFERENCIAL TERICO E CONCEITUAL
2.1 A Anlise Sistmica Enquanto Mtodo de Pesquisa e sua Abordagem na
Geomorfologia
A abordagem sistmica surgiu na dcada de 1930, sendo inicialmente
aplicada em estudos da biologia pelo austraco Ludwig Von Bertalanffy, favorecendo
a consolidao da Teoria Geral dos Sistemas no ano de 1937. Na sua teoria,
Bertalanffy observa que um sistema maior que a soma de suas partes onde, a
investigao apurada de qualquer dessas partes deve ser feita relacionada ao todo
(BERTALANFFY, 1973).
Apesar de um determinado sistema ser composto por partes ou
subsistemas, o todo ou sistema maior no deve ser considerado como uma soma
das partes, pois, conforme Marques Neto (2008, p. 70) [...] a fragmentao do
objeto implica num obscurecimento das relaes de interdependncia entre as
partes de um todo, e que constituem a realidade principal.
Embora o pensamento sistmico tenha sido reconhecido na cincia e
aplicado por diversos cientistas a partir das concepes de Bertalanffy, Capra (1996)afirma que o pesquisador russo Alexander Bogdanov desenvolveu uma teoria
semelhante na Rssia denominada de Tectologia e publicada entre 1912 e 1917.
Porm, por questes polticas, suas obras foram proibidas de serem circuladas.
A Tectologia [...] antecipou o arcabouo conceitual da Teoria Geraldos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy, e tambm incluiu vriasidias importantes que foram formuladas quatro dcadas mais tarde,numa linguagem diferente, como princpios fundamentais da
ciberntica, por Norbert Wiener e Ross Ashby. (CAPRA, 1996, p. 51).
Bertalanffy (1973) relaciona alguns motivos que o levaram a formular a
Teoria Geral dos Sistemas, que seriam: a) necessidade de generalizao dos
conceitos cientficos e modelos; b) introduo de novas categorias no pensamento e
na pesquisa cientficas; c) os problemas da complexidade organizada, que so
agora notados na cincia, exigem novos instrumentos conceituais; d) pelo fato de
no existirem instrumentos conceituais apropriados que sirvam para a explicao e a
previso na biologia; e) introduo de novos modelos conceituais na cincia; f)
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
17/136
16
interdisciplinaridade: da resulta o isomorfismo dos modelos, dos princpios gerais e
mesmo das leis especiais que aparecem em vrios campos.
Com base nisso, Bertalanffy (1973) define sistemas como um conjunto de
elementos em interao. O que se percebe que Bertalanffy buscava uma
linguagem cientfica nica, capaz de abarcar diversas reas do conhecimento
(VICENTE E PEREZ FILHO, 2003). Limberger (2006) afirma que a abordagem
sistmica surge como uma alternativa ou complemento ao cartesianismo
Diz-se que alternativa ou complemento porque esta novaabordagem no veio com o intuito de destituir tudo o que existia arespeito de mtodos de investigao da cincia, mas para agrup-los
e deles buscar uma compreenso maior da realidade (LIMBERGER,2006, p. 97).
Apesar das definies variadas, em geral encontram-se presentes as
caractersticas principais de um sistema, como o carter global, o aspecto relacional,
a organizao e a hierarquizao. Ainda segundo o autor, No possvel identificar
uma definio que unifique o que seja sistema. Vrios autores o definiram, mas se
encontram intrnsecos em cada conceito os paradigmas ou objetivos dos autores.
(LIMBERGER, 2006, p.98).A partir das ideias e concepes de Bertalanffy, vrias crticas foram
realizadas, o que permitiu o aperfeioamento e diversidade de pensamentos nos
estudos sistmicos que foram sendo desenvolvidos. Uma das contribuies que
podem ser citadas a de Edgar Morin (1977) que aborda os sistemas como um
mtodo de interpretao conjunta da realidade, trazendo consigo a ideia de estrutura
e complexidade embutidas em um determinado sistema.
Na viso de Morin, a teoria dos sistemas formulada por Bertalanffy insuficiente, faltando nesta, uma reflexo a respeito do prprio conceito de sistemas.
Nesse sentido, Morin (1977) desenvolve algumas reflexes que se constituram
como grandes avanos de carter epistemolgicos para a Teoria dos Sistemas.
O sistema aparece como um conceito apoio e, como tal, de Galileuat meados do nosso sculo, no foi estudado nem reflectido.Podemos compreender por que motivo: ora a dupla e exclusivaateno dada aos elementos constitutivos dos objetos e s leis
gerais que os regem impedem toda a emergncia da ideia desistema; ora a ideia emerge fracamente, subordinada ao carter suigeneris dos objetos encarados disciplinarmente. Assim, no seu
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
18/136
17
sentido geral, o termo sistema uma palavra-envelope; no seusentido particular, adere totalmente matria que o constitui,portanto, impossvel conceber qualquer relao entre os diversosempregos da palavra sistema: sistema solar, sistema atmico,
sistema social; a heterogeneidade os constituintes e dos princpiosde organizao entre sistemas estelares e sociais de tal modoevidente e impressionante que aniquila qualquer possibilidade de uniras duas acepes do termo sistema (MORIN, 1977, p. 98).
A crtica que Morin realiza demonstra a sua preocupao com relao s
bases tericas da Teoria dos Sistemas, fazendo-o definir sistemas como as relaes
existentes entre os seus componentes, constituindo uma unidade plena [...] um
sistema uma unidade global, no elementar, visto que constitudo por partes
diversas e inter-relacionadas (MORIN, 1977, p. 102). O autor observa que o simplesfato de estabelecermos inter-relaes dos componentes de um sistema com a sua
totalidade no o suficiente para a compreenso de um sistema. necessrio, alm
disso, unir os elementos por meio do que ele denomina de organizao. Desta
forma, a organizao do sistema a chave para a compreenso da concepo de
Morin a respeito da teoria, sendo que, na sua concepo, um sistema especfico
possui uma dinmica fundamentada em relaes de ordem e desordem que buscam
a organizao do prprio sistema.O elemento principal que favorece o funcionamento organizado do sistema
a interao existente entre os seus componentes. Na concepo de Morin, ordem e
desordem, interaes e organizao so acontecimentos que estruturam a dinmica,
sendo que, cada acontecimento desses no ocorre de forma fechada uns dos
outros, dando um carter de complexidade aos sistemas.
Considera-se que as contribuies de Morin foram fundamentais para que a
Teoria dos Sistemas avanasse em suas bases epistemolgicas, incorporandoformas de anlises complexas em busca da melhor compreenso a respeito do
funcionamento dinmico dos sistemas. Apesar disso, as concepes acerca da
Teoria dos Sistemas so diversas e cada ramo do conhecimento cientfico se apoia
no conceito de sistema mais adequado ao seu objeto de estudo. A fim de
exemplificar pode-se dizer que na Geografia tem-se o Geossistema, nas cincias da
sade tem-se o sistema ou corpo humano, na Biologia encontra-se o ecossistema,
dentre outros.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
19/136
18
A Geomorfologia, assim como diversos campos do conhecimento cientfico,
incorporou o pensamento sistmico e tambm desenvolveu reflexes e concepes,
fazendo as devidas adequaes para o seu objeto de estudo, o relevo.
O primeiro a introduzir o pensamento sistmico na Geomorfologia foi
Chorley, em 1962, sendo que, vrios aspectos foram considerados por outros
autores, a exemplo de Christofoletti (1979), Hugget (1985) e Scheidegger (1991).
Apesar disso, estudos na geomorfologia que abordaram os conceitos de no
linearidade dos sistemas e estruturao fractal s cresceram na segunda metade da
dcada de 1980. Christofoletti (1979) faz algumas consideraes acerca da
introduo do mtodo sistmico de anlise do relevo na geomorfologia.
A abordagem sistmica surge como plenamente adequada anlisegeomorfolgica, pois considera que um sistema constitudo por umconjunto de elementos interconectados que funcionam compondouma complexa entidade integrada. Nos sistemas geomorfolgicos, aspartes constitudas so representadas pelas formas topogrficas,integrada pela ao dos processos morfolgicos, enquanto oscondicionamentos ambientais so representados pela dinmicaatmosfrica e fatores da geodinmica terrestre. A interconexoenvolve fluxos, ciclos, transferncias e armazenagens de matria eenergia. A focalizao analtica considera as caractersticas
morfomtricas da composio e arranjo espacial das formastopogrficas, o comportamento dinmico do sistema como um todo eo estudo dos ajustamentos mtuos entre as formas topogrficas emfuno dos inputs gerados pelos fatores ambientais condicionantesdo sistema (CHRISTOFOLETTI, 1987, p. 121).
Ainda na segunda metade da dcada de 1980, surgiram as reflexes sobre a
anlise dos sistemas complexos, o que fez surgir a concepo de auto-organizao
e de criticidade auto-organizada, o que serviu de base para diversas pesquisas
desenvolvidas na dcada de 1990 (LIMBERGER, 2007). Alm disso, essasconcepes serviram de base para o desenvolvimento de hipteses a respeito da
gnese e evoluo das paisagens morfolgicas fluviais. A insero de uma teoria
geomorfolgica sobre a evoluo e organizao das redes de drenagem e das
paisagens associadas surge como uma proposta que visa integrar os componentes
integrantes do sistema complexos das bacias hidrogrficas, concatenando o
desenvolvimento dos processos independentes que ocorrem nas vertentes e os
processos erosivos dependentes que operam nos canais de drenagem.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
20/136
19
Faz-se necessrio compreender que qualquer modificao no eventual do
sistema no tempo ou no espao deve ser relacionada s influencias de uma varivel
externa ao sistema.
Os fatores que no se encontram dentro do sistema definido, masque controlam o fluxo de massa e energia atravs do sistema so asvariveis externas. Os sistemas geomorfolgicos so essencialmentepassivos, isto , alteram-se somente atravs de modificaesocorrentes no ambiente. Isto pode ser verdadeiro se todas as fontesde massa e energia, em ultima anlise, forem provenientes doambiente, assim como se perderam para ele (FOSTER; RAPOPORT;TRUCO, 1957 apud HOWARD, 1973).
Sobre esse conceito de passividade dos sistemas geomorfolgicos, observa-se que se trata de uma viso equivocada, uma vez que, em determinadas situaes,
o sistema controla o seu ambiente de forma parcial, a exemplo do controle
microclimtico por meio da forma topogrfica e, inversamente os efeitos das
diferenas microclimticas sobre as vertentes, sobre a densidade hidrogrfica,
dentre outros (HACK and GOODLETT, 1960). Na mesma perspectiva esto as inter-
relaes entre as formas de relevo e a vegetao tambm abordada por Hack and
Goodlett (1960).
Em geral, todavia, essas influncias podem ser consideradas comoefeitos de uma segunda ordem na geomorfologia, selecionandoparmetros internos que mascarem as interaes de pequena escala(por exemplo, os valores mdios das vertentes em todas as suasorientaes) ou negligenciando a retroalimentao (feedback),quando se desejam parmetros para a quantificao das formas derelevo, em vez de explicaes causais (por exemplo, considerando acarga e a descarga de sedimentos como fatores independentes noestudo dos regimes fluviais, como realizado por Leopold & Maddock(1953) (HOWARD, 1973).
A alterao de uma das variveis externas frequentemente provoca
reajustamentos de todos os componentes integrantes do sistema (HALL and
FAGEN, 1956 apud HOWARD, 1973). A partir disso, Hall e Fagen (1956) apud
Chorley (1971), afirmam que um sistema [...] um conjunto de objetos com relaes
estreitas entre si e entre seus atributos. (CHORLEY, 1971, p. 4). Por sua vez,
Thornes e Brunsden (1977) apud Christofoletti (1979, p.1), definem um sistema
como conjunto de objetos ou atributos das suas relaes, que se encontram
organizados para executar uma funo particular. Sendo assim, afirma-se que o
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
21/136
20
sistema composto de elementos ou objetos, seu estado e inter-relaes, estando
sujeito a modificaes atravs do tempo. De modo geral, qualquer objeto de
investigao que mostre unidade e forte interdependncia entre os seus
componentes pode ser analisado por meio da abordagem sistmica.
Christofoletti (1979) afirma que os sistemas podem ser classificados
segundo o critrio funcional e o critrio da complexidade estrutural, se constituindo
os critrios mais importantes. No critrio funcional, o autor discorre sobre os
sistemas isolados e os sistemas no isolados, com base nas consideraes de
Forster, Rapoport e Trucko (1957). Os Sistemas isolados so aqueles que no
sofrem nenhuma perda nem recebem energia ou matria do ambiente que os
circundam. Os sistemas no isolados, por sua vez, mantm relaes com os
sistemas externos ao qual este est inserido. Os sistemas no isolados podem ser
subdivididos em sistemas fechados (quando h recebimento ou perda de energia,
mas no h troca de matria) e sistemas abertos (quando ocorrem constantes trocas
de energia e matria, tanto recebendo quanto perdendo).
Na geomorfologia, sistemas utilmente definidos incluem uma bacia de
drenagem, um segmento ou perfil longitudinal de um rio, uma vertente e outros. Os
sistemas geomorfolgicos, por trocarem tanto energia como matria com seuambiente, so exemplos de sistemas abertos. Chorley e Kennedy (1971 apud
CHRISTOFOLETTI, 1979), classificam os sistemas de acordo com a sua
complexidade estrutural, sendo que, Christofoletti (1999) afirma que apenas quatro
dos onze tipos de sistemas so os mais relevantes nos estudos ambientais.
Os sistemas morfolgicos, compostos apenas pela associao dos componentes
fsicos e constituindo os sistemas menos complexos das estruturas naturais; Os sistemas em sequncia ou encadeantes, compostos por subsistemas em
cadeia e possuem grandeza e localizao espacial. Existe aqui uma importante
caracterizao dos fluxos de matria e energia e nas transformaes ocorridas
em cada subsistema;
Os sistemas de processos-resposta, formados pela juno dos sistemas
morfolgicos e dos sistemas em sequncia. Os sistemas em sequncia esto
relacionados aos processos, enquanto que os morfolgicos esto associados forma, a resposta a determinado funcionamento (Christofoletti, 1999, p. 6);
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
22/136
21
Os sistemas controlados, que apresentam a atuao humana sobre os sistemas
de processos-resposta. medida que a interveno humana aumenta em um
determinado sistema, aumenta tambm a sua complexidade. Dessa forma, a
ao antrpica pode intervir para produzir modificaes na distribuio de
matria e energia dentro dos sistemas em sequncia, influenciando nas formas
com ele relacionadas.
Para fins de anlise da Bacia Hidrogrfica do Rio Bom Sucesso, foi adotado
o modelo de sistema no isolado aberto, a partir de um critrio funcional. Segundo a
sua complexidade estrutural, o sistema adotado foi o de processos-resposta por
considerar que a relao existente entre os agentes climticos e as caractersticas
litoestruturais da bacia geram os processos geomorfolgicos que resultam nas
formas de relevo.
2.2 O Pensamento Geomorfolgico e as Teorias de Aplainamento da
Superfcie
As primeiras interpretaes com bases sistmicas dentro da geomorfologiaj eram verificadas na Teoria do Ciclo Geogrfico de Willian Morris Davis, mesmo
que sob a ptica de um sistema fechado (VICENTE E PEREZ FILHO, 2003). Este
modelo foi elaborado em 1899 e constituiu-se na primeira grande escola de
pensamento geomorfolgico. Segundo esta, a paisagem o resultante da inter-
relao entre a varivel estrutura, que a soma das variveis endgenas; a varivel
dos processos, que a soma das variveis exgenas; e a varivel do tempo
cronolgico (DAVIS, 1899).A proposta do ciclo de evoluo do relevo da escola davisiana assume que
todo o processo de formao do relevo inicia com um rpido e generalizado
soerguimento da crosta continental com relao ao nvel de base geral, ou seja, aos
oceanos. A partir de ento, um longo perodo sem grandes atividades tectnicas
iniciado. O rpido soerguimento crustal, segundo Davis (1899) cria condies para
que o relevo seja modelado atravs dos processos erosivos desenvolvidos em
condies climticas midas. Desta forma, a maior presena de gua favorece omaior desgaste das rochas constituintes do relevo. Aps o soerguimento crustal e a
relativa quietude tectnica em climas midos, iniciado o processo de desgaste
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
23/136
22
erosivo lento e progressivo do relevo. Esse processo caracteriza-se pelo
rebaixamento vertical das vertentes (downwearing) e requer milhes de anos para
ocorrer. Pode ser dividido em trs fases: juventude, maturidade e senilidade (DAVIS,
1899).
A fase da juventude corresponde fase inicial de denudao da superfcie
logo aps o soerguimento crustal. Nesta fase os cursos de gua so caracterizados
por possurem alta energia em decorrncia do elevado gradiente existente entre os
continentes e o nvel de base geral, os oceanos. Isso favorece o rpido desgaste da
superfcie, aumento a diferena altimtrica entre os interflvios e os fundos de vale.
A fase da maturidade caracterizada pela progressiva e lenta perda de
energia do sistema. Alm disso, caracterizada pelo arredondamento das formas de
relevo, bem como pela diminuio das vertentes entre os interflvios e os fundos de
vale, que se apresentam cada vez mais rebaixados.
A fase senil, por sua vez, corresponde fase em que o relevo se encontra
quase que completamente rebaixado pelos processos de denudao. A diferena
altimtrica entre os fundos de vale e os interflvios muito pequena, e a declividade
das vertentes est suavizada. Os canais fluviais j se encontram rebaixados em
relao ao nvel do mar e a energia do sistema fluvial se torna cada vez menor. Osrios se tornam lentos e com baixa competncia para transportar sedimentos. Os
processos erosivos tornam-se pouco eficientes (DAVIS, 1899). Segundo Davis,
amplas superfcies aplainadas se formam no entorno dos fundos de vale e so
denominadas de peneplanos. Alguns relevos podem sobreviver ao processo de
regularizao topogrfica constituindo os monadnocks. Esta fase ir perdurar at o
momento em que um novo soerguimento ocorra e se inicie um novo ciclo de eroso,
embora Davis considere que a qualquer momento do ciclo, um novo soerguimentopossa ocorrer.
Considera-se que alm de ter trazido consigo interpretaes de cunho
sistmico (VICENTE E PEREZ FILHO, 2003), o modelo proposto por Davis
contribuiu para a sistematizao da Geomorfologia, constituindo a primeira
interpretao acerca da evoluo geral do relevo (Ciclo geogrfico ideal) e
representou a escola de pensamento norte-americana. Porm, tanto a escola
americana quanto a escola inglesa ps-davisiana foram marcadas por uma
tendncia fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas e no processo de
quantificao. A partir do modelo de Davis, outros foram surgindo atravs da sua
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
24/136
23
contestao, a exemplo da Teoria do Primrrumpf desenvolvida por Walther Penk, a
Teoria da Pediplanao desenvolvida por Lester Charles King e a Teoria da
Etchplanao desenvolvida por Julius Bdel.
As superfcies de aplainamento, por sua vez, foram e so amplamente
estudadas na Geomorfologia, tanto quanto sua origem de formao, quanto s
suas caractersticas. Dessa maneira, e com base na teoria do Ciclo Geogrfico
Ideal, surgem as teorias de Penk e de King.
Considerada como a segunda grande teoria do pensamento geomorfolgico,
a Teoria do Primrrumpf foi desenvolvida em 1924 pelo alemo Walther Penk. Em
seu modelo, Penk afirma que o relevo formado a partir da relao existente entre
as foras endgenas e as foras exgenas (PENK, 1924). De acordo com o autor,
os perodos com o predomnio de foras internas produzem elevaes no terreno e,
quando essas foras atuam com menor intensidade, prevalecem as foras
exgenas. Quando isso ocorre, as elevaes so rebaixadas at haver o
aplainamento do relevo. Correlacionando a sua teoria com a desenvolvida por Davis,
Penk leva em considerao a existncia de nveis de base locais, j que no
considera apenas os oceanos como nveis de base para os processos de eroso da
superfcie.Para Penk (1924) a evoluo do relevo iniciada com o soerguimento
tectnico de uma superfcie com carter aplainado Primrrumpf. Na medida em
que a rea central do relevo soerguido adquire altitude, esta se estende em direo
s reas mais perifricas, favorecendo a formao de relevo em domo. A partir do
momento em que o processo de soerguimento da superfcie perde fora, passam a
predominar a eroso mecnica e/ou a denudao geoqumica, favorecendo assim o
aplainamento das pores perifricas do domo, at ocorrer um novo soerguimento.Quando esse processo tectnico perde fora, os processos erosivos criam
uma superfcie mais elevada e mais prxima ao domo (piedmontfrippen) e uma
superfcie menos elevada na poro perifrica. Entre esses nveis ocorre a formao
de uma escarpa (piedmont) que se constitui como testemunha de dois
soerguimentos ocorridos em perodos diferentes. A escarpa denominada por Penk
de piedmont. A sucesso de perodos de soerguimento tectnico e maior atuao
dos agentes exgenos produz um piedmontflachen (relevo em forma de escadaria),
sendo que, os pontos mais rebaixados dos rios e das concavidades das vertentes
constituem os nveis de base locais do relevo.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
25/136
24
Em seu modelo, Penk aborda a questo relacionada aos processos
ocorrentes nas vertentes. Para ele, as vertentes evoluem inicialmente por processos
de retrao lateral (backwearing), ocorrendo em seguida o rebaixamento vertical
(downwearing). Por fim, o modelo em questo considera que a variao nos tipos de
rocha e de clima deve ser levada em conta, porm, estas variveis no alteram de
forma significativa a evoluo do relevo. Estas podem sim, retardar ou facilitar a
ao dos processos denudativos onde, as rochas mais resistentes constituem a
base dos relevos residuais (PENK, 1924).
2.2.1 A Teoria da Pediplanao de Charles Lester King
A Teoria da Pediplanao considerada como a terceira grande teoria sobre
a evoluo do relevo terrestre e foi criada pelo sul-africano Lester Charles King em
1953. Sua teoria possui um plano de fundo climtico onde considera que as aes
climticas so as principais responsveis pela formao das superfcies aplainadas.
Segundo este modelo, duas condies se destacam no processo de elaborao de
tais superfcies: a calmaria tectnica ou ausncia relativa de eventos intracrustais e,
principalmente, a atuao de um clima com tendncias aridez. Tais condiesclimticas so as responsveis pelo regime torrencial das chuvas que favorecem o
transporte dos detritos gerados pela desagregao mecnica das rochas nas
vertentes (KING, 1953).
O trabalho erosivo realizado pelo fluxo fluvial causa a inciso fluvial em
decorrncia de soerguimentos tectnicos ou do rompimento de um nvel de base,
em reas de clima rido ou semirido. Os canais fluviais rebaixam o seu leito at
entrarem em equilbrio com o novo nvel de base, fazendo com que se inicie otrabalho de alargamento do vale por meio da eroso lateral.
Apesar do trabalho realizado pela ao fluvial, so os processos ocorrentes
nas vertentes os principais responsveis pela formao de amplas superfcies de
aplainamento o backwearing ou a retrao lateral das vertentes. O fluxo gerado
pelo escoamento nas vertentes concentrado, favorecendo o recuo das mesmas e
a formao de uma rea no sop das elevaes constituda por material detrtico
oriundo tambm da ao gravitacional (op. cit.). A partir de ento, o material detrtico
se estende at os canais fluviais formando rampas com declividades suaves
denominadas de pedimentos. Numa ao seletiva dos detritos, o material mais
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
26/136
25
grosseiro tende a se concentrar mais prximo s vertentes enquanto que o material
mais fino encontrado nos vales fluviais. A juno de diversos pedimentos atravs
das condies de aridez/semiaridez originam amplas superfcies aplainadas
denominadas de pediplano.
Ainda em seu modelo, King (1953) afirma que relevos residuais se formam
em meio s planuras, resultantes de uma maior resistncia litolgica desses
residuais frente aos processos erosivos. Para tal feio de relevo King empregou o
termo inselbergs. Os inselbergs preservam no seu topo a antiga cota altimtrica da
superfcie de eroso e na sua base possuem blocos acumulados por ao
gravitacional. Aps a rea com acmulo de blocos, ocorrem os pedimentos
compostos com materiais menos grosseiros e que se estendem at os leitos fluviais.
Nisso so formadas duas superfcies aplainadas com idades diferenciadas. A mais
nova situada nas menores altitudes e a mais antiga situada nos topos dos
inselbergues e que resistiu aos processos erosivos. Uma nova inciso pode ocorrer,
reiniciando o processo de aplainamento e favorecendo a elaborao de trs nveis.
King (1953) destaca o papel do clima no desenvolvimento dos processos
denudacionais da superfcie terrestre, em especial atuao dos processos
morfogenticos tpicos de regies ridas e semiridas, contrapondo em algumasquestes e aperfeioando em outras, as duas teorias anteriores acerca da evoluo
do modelado continental.
Em 1956, King realizou uma pesquisa sobre a evoluo da paisagem na
poro oriental do Brasil, com o intuito de comparar, posteriormente, as fases de
desenvolvimento do relevo brasileiro e africano. A poro oriental considerada por
ele corresponde a grande parte dos Estados de Sergipe, Bahia, Minas Gerais,
Esprito Santo, Rio de Janeiro e So Paulo.Segundo King (1956), a geomorfologia brasileira compreendida por meio
da identificao de ciclos sucessivos de eroso ou desnudao da superfcie ao
longo do tempo geolgico, sendo que, esses ciclos foram ativos de maneira tal que
esculpiram formas de relevo que se preservaram posteriormente, mesmo com a
atuao de outro ciclo de eroso, estando elas inumadas ou exumadas. Segundo o
autor, o desenvolvimento de cada ciclo se deu a partir do litoral com direo ao
interior Nesta concepo de um desenvolvimento ordenado por ciclos de erososubsequentes que reside o segredo da compreenso da geomorfologia brasileira
(KING, 1956, p. 5).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
27/136
26
Naturalmente, as formas pertinentes a um determinado ciclo podemassemelhar-se, at certo ponto, s de ciclos anteriores ouposteriores, j que todas essas feies morfolgicas foram
esculpidas sob a ao de agentes desnudantes similares; todavia,nem todos os ciclos atuaram durante o mesmo perodo, antes quefossem substitudos e, portanto, alguns deles atingiram, mais do queoutros, um estado de aplainamento (peneplanao) mais avanado.Alm disso, as superfcies cclicas mais antigas existem h tantotempo que foram destrudas na maior parte do pas, permanecendoatualmente como altos planaltos ou truncamento de cristas; assuperfcies cclicas mais recentes, ao contrrio, no existem abastante tempo para que pudessem aplainar grandemente a regio eso, assim, representadas por vales, jovens ou maduros. Assuperfcies intermedirias, de idade terciria inferior [...] so as queexibem as maiores extenses e a maior perfeio de aplainamento(KING, 1956, p.5).
Por efeito da atuao dos ciclos de eroso na elaborao do relevo oriental
do Brasil, so encontradas formas de agradao e as formas de degradao sendo
que, as formas de degradao so as que ocorrem com maior frequncia. Nesse
sentido, King (1956) afirma que a superfcie atual resultado da desnudao que
recobre uma fase anterior de agradao que, por sua vez, recobre outra superfcie,
mais antiga, originria de um processo de desnudao.Com relao aos grandes aplainamentos presentes na paisagem nacional,
King (1956) observa que os mesmo ocorrem em diversas altitudes, ora no mesmo
nvel ou acima do nvel do mar, ou ainda, abaixo deste. Isso se relaciona com o que
o autor denomina de justaposio dos nveis de aplainamentos, onde a separao
entre esses nveis se d por meio de uma escarpa relativamente abrupta.
Estas escarpas mostram todas as caractersticas das escarpas deeroso. Seus contornos, suas relaes com os aplainamentossuperiores e inferiores e suas relaes com a rocha matriz afastamqualquer interpretao que as considere de origem tectnica eeliminam, portanto, qualquer possibilidade de que os aplainamentossuperiores e inferiores constituam partes de uma nica superfcie quetivesse sido deslocado por movimentos da crosta. No se trata deuma nica forma de eroso, mas sim de dois aplainamentosdistintos, sendo cada um, bem como a escarpa que os separa,produto de eroso (KING, 1956, p. 11).
As caractersticas das escarpas do as condies necessrias para a
compreenso do escalonamento do relevo do Brasil, sendo que, cada superfcie
aplainada mantm as suas caractersticas at que a escarpa do ciclo de eroso
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
28/136
27
subsequente (em nvel topogrfico inferior) a alcance, e faa com que ocorra a sua
destruio (KING, 1956). A respeito dos ciclos de eroso que aturam no
desenvolvimento do relevo brasileiro, o autor faz referncia a cinco ciclos de
desnudao que so o ciclo Gondwana, ciclo Ps-Gondwana, ciclo Sul-americano,
ciclo Velhas e ciclo Polifsico Paraguau.
A superfcie Gondwana se estendeu pelo perodo jurssico e considerada
como a mais antiga do Brasil, ocorrendo, atualmente, nos divisores topogrficos
mais importantes, alm de ocuparem a posio mais elevada. A maior parte dessa
superfcie se encontra em estado fssil sob-recobrimento cretceo em algumas
regies. Em outras regies, essa superfcie se encontra exposta, sem ter tido
recobrimento por algum tipo de cobertura sedimentar (KING, 1956).
A superfcie Ps-Gondwana foi elaborada durante o mesozoico superior e
muito antiga, assim como a superfcie Gondwana, porm, o seu aplainamento
irregular e est preservada em poucos locais. Ela constitui bancos de deposio e
terraos que esto situados nas encostas das elevaes cortadas pela Superfcie
Gondwana e formam, em alguns casos, alguns planaltos isolados (KING, 1956).
Sobre a superfcie Sul-Americana, o autor afirma que esta foi elaborada em
um longo perodo no tercirio inferior, sendo que o aplainamento atingiu uma grandeuniformidade. O ciclo Sul-Americano produziu uma superfcie que aparece em forma
de chapadas que esto sobre vales ou plancies onduladas, resultantes da atuao
de ciclos de eroso posteriores.
A respeito do ciclo de eroso Velhas (tercirio superior), King (1956) afirma
que a superfcie elaborada dificilmente atinge a fase de aplainamento generalizado,
porm, no Estado da Bahia, a superfcie foi amplamente atacada pelo ciclo Velhas, o
que produziu uma vasta rea aplainada onde so comuns a presena deremanescentes isolados ou agrupados, elaborados nos ciclos anteriores. O aspecto
dessa superfcie de uma extensa rea pedimentada e dissecada por vales
profundos do ciclo Paraguau, sendo que, algumas reas o ciclo Velhas apresenta
duas fases.
No interior, onde o ciclo penetrou at centenas de quilmetros dacosta, ao longo dos rios principais, no chega a atingir um
aplainamento extenso, mas acha-se representado por uma incisode cerca de 100 metros que disseca a chapada mais antigaproduzida pelo Ciclo Sul-Americano [...]. Mesmo assim, como osvales se ramificam em todas as direes e se apresentam bem
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
29/136
28
alargados, a distribuio do ciclo Velhas bastante extensa [...](KING, 1956, p. 27).
O ciclo de eroso Paraguau, por conseguinte, caracterizado pela
formao de vales que esto presentes nos menores sistemas fluviais que drenam
suas guas diretamente para o mar. Segundo King (1956), este ciclo marcado pela
atuao de duas fases, sendo que, na primeira, foram elaborados terraos fluviais
elevados sobre os fundos de vale atuais. Cachoeiras e rpidos nos rios principais se
constituem tambm em indcios que demonstram as fases intermedirias.
O autor aborda ainda a importncia do clima sobre as rochas, salientando
que o elemento controlador do relevo do Brasil so os ciclos de eroso que atuaram
sequencialmente durante o mesozoico superior e o tercirio. Desta forma, se agirem
durante tempo suficiente, os ciclos atuam de tal maneira a truncarem as diferentes
litologias, resistentes e menos resistentes, desenvolvendo uma ampla superfcie
aplainada.
Observa-se que outras teorias surgiram aps a Teoria da Pediplanao na
tentativa de explicar a gnese das superfcies aplainadas, a exemplo da Teoria da
Etchplanao elaborada pelo alemo Julius Bdel em 1957 - teoria de base
climtica, esta considera que a relativa quietude tectnica e a existncia de
condies climticas tropicais semimidas so as responsveis pelo aplainamento
das superfcies.
2.2.2 Novas Interpretaes para as Superfcies de Aplainamento: algumas
consideraes
At a primeira dcada do sculo XXI, nenhuma nova teoria refutou osmodelos elaborados pelos autores anteriormente. Entretanto, novas interpretaes e
novos mtodos de investigao vm surgindo no intuito de questionarem as teorias
j existentes. Nesse sentido, Peulvast e Claudino Sales (2002) refletem sobre a
associao entre mudanas tectnicas e variaes climticas. Os autores afirmam
que essa relao pode ser a responsvel pela elaborao das superfcies de
aplainamento de extenses generalizadas. Os autores salientam sobre a
necessidade da justaposio das teorias acerca do aplainamento das superfcies eapontam-na como o caminho mais adequado na tentativa de compreenso dos
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
30/136
29
processos associados sua formao. A conjugao das teorias, segundo os
autores, uma maneira de associar as contribuies do clima e da estrutura na
elaborao desse tipo de modelado, uma vez que apenas uma teoria no oferece
subsdios suficientes para se entender os aplainamentos.
Salgado (2007) e Maia et al (2010) tambm sugerem a justaposio dessas
teorias como forma de explicar a origem e a evoluo das superfcies de
aplainamento, levando-se em considerao que cada uma dessas teorias traz os
paradigmas da poca em que foram criadas. Santos e Salgado (2010), por sua vez,
observam que as teorias clssicas devem ser contestadas e sugerem que novos
mtodos e tcnicas de anlise devem ser aplicados com esse objetivo, face aos
avanos obtidos pela geomorfologia nos ltimos 50 anos. Os trabalhos mais antigos
estabeleceram uma cronologia para as superfcies aplainadas por meio da
associao dos nveis altimtricos. Os nveis mais altos corresponderiam aos de
maior idade geolgica e os mais baixos aos de menor idade na escala geolgica.
Nisso se percebe a grande influncia dos trabalhos realizados por King.
No entanto, Small (1986) afirma que as superfcies aplainadas esto longe
de serem consideradas meras feies de relevo, assim como a datao atravs do
referencial altimtrico, sendo, portanto, o seu reconhecimento e sua interpretaoevolutiva de complexa compreenso. Nessa perspectiva, autores como Corra
(2001), sugerem que mtodos de datao absoluta sejam aplicados na busca do
melhor entendimento dos processos relacionados formao do relevo, o que pode
perfeitamente ser aplicado s superfcies aplainadas que constituem grande parte do
relevo nordestino, especialmente o relevo do Estado da Bahia.
2.3 Dinmicas Geomorfolgicas no Quente e Seco
Considera-se que as regies secas se caracterizam por apresentarem
reduzida precipitao anual, amplitude trmica diria elevada, taxas de
evapotranspirao elevadas e, por consequncia, elevado dficit hdrico do solo. A
distribuio geogrfica dessas reas ampla, sendo que ocorrem nos cinco
continentes, tanto nas altas quanto nas baixas latitudes, em reas litorneas e no
interior dos continentes, alm de serem quentes e/ou frios (ELORZA, 1998).
Tricart e Cailleux (1969) delimitaram as terras secas do globo afirmando que
os sistemas morfogenticos das regies ridas esto estreitamente relacionados
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
31/136
30
cobertura vegetal. Portanto, seria uma soluo aparente delimitar as regies secas
atravs de cartas e mapas de vegetao. No entanto, os autores afirmam que a
delimitao dessas regies por cobertura vegetal apresentavam dois grandes
problemas que estavam associados inexistncia de cartas que diferenciassem
com exatido os tipos de vegetao mundiais, particularmente as que ocorrem nas
regies secas. Alm disso, os mapeamentos de detalhes de parte das regies secas
apresentavam uma gama de informaes importantes que no eram vlidas para
essa finalidade, pois no faziam distino entre fatores naturais e fatores humanos
nas caractersticas da vegetao (TRICART e CAILLEUX, 1969, p. 46). Com base
nisso, os autores apontaram a necessidade de se delimitar as regies secas atravs
da relao existente entre os dados climticos de precipitao, temperatura e
evaporao.
A UNEP (United Nations Envionment Programme) em 1992 elaborou o Atlas
Mundial da Desertificao, dentro do seu programa de combate a desertificao, e
classificou as terras ridas em quatro reas, incluindo tambm as reas submidas
a secas (figura 1). Estas foram definidas a partir do mtodo de Thornthwaite que
estabelece o ndice de aridez (IA) atravs da relao IA=P/PET, onde P a
pluviosidade anual e ETP a evapotranspirao potencial. De acordo com estaclassificao, 47% da superfcie terrestre apresenta condio de aridez climtica.
A classificao da UNEP (1992) mais significativa do ponto de vista da
rea considerada, uma vez que ela acrescenta as regies submidas a secas.
Elorza (1998, sem pgina) salienta que a superfcie ocupada pelas terras ridas
varia em funo da classificao climtica adotada. Em cosonncia, Thomas (1997)
compara a extenso das terras secas de acordo com algumas classificaes
existentes (tabela 1).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
32/136
31
Figura 1 - Distribuio mundial das terras ridas apresentada no Atlas Mundial daDesertificao.
Fonte: UNEP (1992 apud Thomas, 1997, p. 6).
Tabela 1Extenso global das terras ridas na superfcie terrestre, de acordo comalgumas classificaes.
ClassificaoSubmido a
seco (%)
Semirido
(%)rido (%)
Hiperrido
(%)Total (%)
Kppen (1931) - 14.3 12.0 - 26.3
Thornthwaite
(1948)- 15.3 15.3 - 30.6
Meigs (1953) - 15.8 16.2 4.3 36.3
Shantz (1956) - 5.2 24.8 4.7 34.7
UN (1977) - 13.3 13.7 5.8 32.8
UNEP (1992) 9.9 17.7 12.1 7.5 47.2
Fonte: Adaptado de Thomas (1997, p. 6).
Com relao aos fatores que contribuem para a formao das zonas ridas,
a estabilidade atmosfrica, a continentalidade, a topografia e as correntes martimas
so os principais responsveis pela deficincia hdrica de determinadas pores da
superfcie. De acordo com Thomas (1997), a estabilidade atmosfrica causada pelas
clulas de alta presso favorece a diminuio do volume de chuvas onde estas
atuam. A distncia dos oceanos dificulta a penetrao de chuvas e ventos para o
interior, favorecendo o baixo ndice pluviomtrico e as elevadas amplitudes trmicas
dirias e sazonais.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
33/136
32
As grandes elevaes topogrficas, a exemplo das cadeias montanhosas
funcionam como barreiras que impedem o avano de massas midas para
determinadas reas, o que favorece a formao de reas secas aps essas
elevaes. As correntes martimas frias, por sua vez, reforam as condies de
aridez, pois favorecem a baixa evaporao que consequentemente influencia a
baixa precipitao. Muitas vezes a precipitao ocorre em forma de orvalho e sobre
o prprio oceano (THOMAS, 1997).
No Brasil, o clima semirido ocorre no interior da regio Nordeste, alm do
norte de Minas Gerais e ocorre, predominantemente, na depresso sertaneja e no
vale do Rio So Francisco. Por se tratar de uma regio intensamente habitada, se
comparada a outras regies semiridas do mundo, as definies elaboradas para o
que vem a ser o semirido brasileiro foram criadas por rgos governamentais de
planejamento territorial e constitudas por meio de legislaes nacionais.
A Lei Federal de n 7.827 de 27 de setembro de 1989, artigo 5, pargrafo
4, afirmava que o semirido brasileiro era a regio inserida na rea de atuao da
SUDENE1, com precipitao pluviomtrica mdia anual de 800 mm. No ano de
2005, uma portaria interministerial2 entrou em vigor e atualizou os critrios
empregados na redelimitao do semirido nacional, como forma de estabelecercritrios tcnicos complementares ao das precipitaes mdias anuais inferiores a
800 mm, aperfeioando o conceito de regio Semirida.
Art. 1 - Aprovar a redelimitao da Regio Semi-rida do Nordeste,constante no Relatrio Final, que tem por base os resultados doGrupo Interministerial institudo pela Portaria n 6, de 29 de maro de2004, que atualiza a relao dos Municpios compreendidos nareferida regio, observando, alem do critrio estabelecido na Lei n
7.827, de 27 de setembro de 1989, os demais:
1Isoieta de 800 mm. 2ndice de aridez. 3Dficit hdrico.
1A SUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste - foi criada por decreto do entopresidente da repblica Juscelino Kubitscheck atravs da lei de n 3.692, de 15 de dezembro de1959, tendo como um dos seus objetivos promover o desenvolvimento dos municpios do Nordeste,incluindo queles inseridos no polgono das secassemirido (BRASIL, 1959);2 Portaria Interministerial n 1, de 09 de maro de 2005, criada entre o Ministrio da IntegraoNacional, Ministrio do Meio Ambiente e Ministrio da Cincia e Tecnologia.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
34/136
33
Desta maneira, essa nova delimitao levou em considerao a mdia de
precipitao pluviomtrica anual de 800 mm, o ndice de aridez de Thornthwaite de
1941 (considerando-se como semirido as reas/municpios com IA 50) e o dficit
hdrico igual ou acima dos 60% ao ano. O relatrio final do grupo de trabalho
interministerial apresenta o mapa com os novos limites das reas semiridas e
submidas secas, juntamente com as delimitaes anteriores (figura 2). Com base
nisso, a lei complementar n 125 de 03 de janeiro de 2007 redefine o semirido
como [...] a regio natural inserida na rea de atuao da Superintendncia de
Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, definida em portaria daquela Autarquia.
Apesar de essa nova delimitao levar em considerao a isoieta, o ndice
de aridez e o dficit hdrico, observa-se que o limite do semirido pode ser at
menor, uma vez que se trata de uma delimitao com fins polticos, onde os
municpios inseridos recebem recursos financeiros por parte do governo federal, por
meio de polticas pblicas especficas para a regio.
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
35/136
34
Figura 2Regio Nordeste com a sobreposio do Polgono das secas e a antiga eatual delimitao do semirido do Fundo Constitucional de Financiamento doNordeste (FNE).
Fonte: Ministrio da Integrao Nacional (2005).
2.3.1 Sistema Morfogentico das Regies Quentes e Secas
Entende-se por sistema morfogentico [...] o conjunto das combinaes de
processos elementares responsveis pela modelagem do relevo de uma poro do
espao submetida aos mesmos agentes de eroso, atuando com modalidades
idnticas (COQUE, 1977, p. 19). Neste, esto inseridos os processos de
meteorizaco das rochas, o transporte e acumulao dos detritos que se combinam
para modelarem o relevo. Desta forma, de fundamental importncia a atuao do
clima.
Christofoletti (1980) afirma que os processos morfogenticos possuem
dinmica prpria e que esses so elementos que fazem parte de um conjunto ou
sistema maior de elementos que, por sua vez, refletem a atuao do clima regional
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
36/136
35
sobre o relevo. Segundo o autor, [...] processos morfogenticos diferentes
produzem formas de relevo diferentes; [...] as caractersticas do modelado devem
refletir at certo ponto as condies climticas sob as quais se desenvolveu a
topografia (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.31). Nisso, percebe-se uma relao
sistmica entre os componentes do ambiente, onde a atuao do clima sobre a
superfcie produz formas que esto intimamente associadas a essa interao. No
entanto, considera-se que os processos azonais e mesmo os processos intrazonais
so responsveis pela ocorrncia de formas de relevo que no refletem as
caractersticas atuais do clima.
Ao contrrio dos ambientes quentes e midos, onde as chuvas so
constantes e atuam com frequncia na formao do relevo, nos ambientes quentes
e secos os processos geomorfolgicos so rpidos, porm concentrados, sendo que
a desagregao mecnica ou intemperismo fsico das rochas predomina sobre o
intemperismo qumico (TRICART e CAILLEUX, 1969).
Goudie (1997) afirma que nos ambientes ridos e semiridos, a amplitude
trmica diria favorece o enfraquecimento dos minerais que compem os corpos
rochosos que, em grande quantidade, esto expostos na superfcie. Nos perodos
de temperatura elevada, os minerais se expandem ao passo que nos perodos demenor temperatura, ocorre a contrao destes (GOUDIE, 1997). medida que a
temperatura da rocha muda, o seu volume tambm alterado, gerando esforos
mecnicos que, associados a processos de origem tectnica (falhamentos e
fraturamentos, p. ex.), contribuem para o enfraquecimento das rochas e posterior
alterao fsica das rochas, embora Penteado (1979) considere que a termoclastia
um processo que atinge apenas a camada mais superficial da rocha.
A desagregao mecnica das rochas tem incio com a intensidadeda insolao e as consequentes variaes diurnas e noturnas detemperatura sobre os afloramentos rochosos. Dependendo danatureza das rochas e de suas estruturas e texturas, os afloramentosrochosos meteorizados fornecem propores variadas de detritos(RIBEIRO; MARAL; CORREA, 2010, p. 129).
Sobre os processos qumicos atuantes nas rochas, Brito (1972) e Penteado
(1979) consideram que a ao da umidade relevante, principalmente quela
oriunda dos orvalhos que se formam em perodos curtos e eventuais. Mesmo
durante as estiagens, ocorre a formao do orvalho que, na rocha provoca a
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
37/136
36
alterao qumica e bioqumica lenta e embrionria na poro mais superficial
(BRITO, 1972, p. 65). Como exemplo, destaca-se o intemperismo qumico por
oxidao que, por se tratar de uma decomposio que ocorre na poro superficial
da rocha, est associada s gotculas de gua do orvalho, embora autores como
Bigarella; Becker; Santos (2007) afirmem que a oxidao pode ocorrer na ausncia
de gua, mesmo sendo pouco eficiente nessa situao.
Os processos fsicos e qumicos, segundo Silva (1986), disponibilizam
material alterado que ser transportado pelo escoamento superficial e fluvial. Estes
se tornam mais eficientes na mobilizao dos detritos quando associados aos
eventos pluviomtricos de grande magnitude, que por sua vez so espordicos e
concentrados em curtos perodos de tempo (GREENBAUM et al, 1998). O carterdas chuvas se reflete no escoamento superficial rpido e violento das enxurradas
que constitui o agente de ablao (desnudao da superfcie dos solos) mais
eficiente neste sistema morfogentico (SILVA, 1986, p. 55). A cobertura vegetal, por
sua vez, protege o solo de forma deficiente, o que contribui para o maior impacto do
efeito splash sobre os solos, alm de potencializar o escoamento superficial.
As modalidades do escoamento que atuam no quente e seco so o
escoamento em lenol (sheet wash) e o escoamento difuso (rill wash) (PENTEADO,1979). O escoamento em lenol possui competncia suficiente para transportar
detritos de maior calibre em um curto perodo de tempo e exercer ao abrasiva.
Segundo a autora, este considerado como um tipo de eroso areolar que produz o
rebaixamento da superfcie em um plano inclinado. O escoamento difuso, por sua
vez, atua transportando os sedimentos mais finos a curta distncia e deposita-os
rapidamente devido sua baixa competncia.
Nas vertentes, o escoamento provoca a eroso regressiva (back weathering)ao remover o material intemperizado na free-face das escarpas, fazendo-as
regredirem paralelamente. Oberlander (1997) traz um conhecimento importante ao
observar que as encostas rochosas, comuns nas paisagens ridas e semiridas
esto sujeitas a eventos to espordicos no espao, tempo e intensidade que o
escoamento raramente testemunhado ou medido. Campbel (1997) observa que o
escoamento em ravina ou gullyng exerce papel importante para a remoo dos
detritos nas reas de maior declive onde a cobertura vegetal rarefeita. Em
concordncia, Goudie (2004) apresenta, alm da vegetao como varivel para a
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
38/136
37
ocorrncia desta modalidade de escoamento, as caractersticas do substrato e do
clima.
A eroso lateral, por conseguinte, atua quando ocorrem os fluxos torrenciais
que favorecem o alargamento do canal fluvial em contraponto inciso vertical. Ao
mesmo tempo em que o fluxo remove, incide tambm a deposio dos sedimentos
(PENTEADO, 1979).
A abraso ocorre a partir da reduo do tamanho das rochas provocado pela
movimentao dos fragmentos no processo de transporte, o que por sua vez, pode
ocorrer por ao da gua ou por ao elica. No transporte realizado pela gua, a
tendncia que a angularidade dos detritos seja cada vez maior como
consequncia da baixa competncia do escoamento em transport-los a longas
distncias.
O escoamento superficial concentrado no ambiente quente e seco ocorre
imediatamente aps as chuvas, favorecendo a formao de canais de drenagem
intermitentes e efmeros. Por canal de drenagem intermitente, entende-se que
quele cujo fluxo de gua permanece contnuo no canal de drenagem durante a
estao chuvosa e, durante a estao seca, esse fluxo cessa (LEOPOLD e MILLER,
1956). Em consonncia, Christofoletti (1980) define os canais intermitentes comosendo aqueles que drenam gua durante uma parte do ano e tornam-se secos em
outro perodo. Os canais efmeros, por sua vez, so definidos pelo autor como
queles que permanecem secos durante a maior parte do ano e comportam gua
apenas no momento das chuvas e imediatamente aps as precipitaes.
Cooke et al (1993) apresentam os processos dominantes nesses canais e as
formas resultantes do seu fluxo que, por sua vez, refletem a atuao do sistema
climtico sobre os demais componentes da bacia hidrogrfica. Segundo os autores,os componentes mais importantes so a natureza e a distribuio das precipitaes,
a capacidade de infiltrao da superfcie (que podem variar de forma sazonal), as
condies de umidade antecedentes (que tambm variam sazonalmente), a
topografia e a ao antrpica. Reid e Frostick (1997) estabelecem relao entre a
forma dos canais e do fluxo de sedimentos transportados. Os autores estabelecem a
relao existente entre as precipitaes e a vazo dos rios (condicionada pelas
caractersticas das tempestades, das inundaes, da rea da bacia e da descarga
de gua), a geometria dos canais efmeros (largura e morfologia do leito) e o
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
39/136
38
transporte fluvial dos sedimentos (remoo e deposio, transporte por suspenso e
o transporte ao longo do leito).
Cabe ressaltar que as reas de deposio situadas ao longo dos canais, no
contexto do semirido, no esto associadas apenas s plancies aluviais ou aos
terraos fluviais, mas tambm aos plainos aluviais que, segundo Corra (2011), so
depsitos onde as margens do canal so indefinidas e se confundem com a prpria
plancie de inundao. Os plainos aluviais esto associados, em geral, a canais de
pequena ordem (SOUZA E CORRA, 2012) sendo que os eventos deposicionais
ocorrem quando das cheias episdicas relacionadas aos eventos pluviomtricos de
grande magnitude.
Com efeito, os processos morfogenticos resultantes da ao do clima sobre
o substrato favorecem a elaborao de formas de relevo que, necessariamente, no
esto associadas apenas ao quente e seco, porm, so formas bastante comuns
neste tipo de ambiente. Twidale (1978) afirma que as paisagens ridas e semiridas
variam muito de um lugar para outro, porm, inselbergues e pedimentos constituem
feies morfolgicas significativas neste tipo de paisagem. Segundo o autor, muitos
pesquisadores tm desenvolvido estudos na tentativa de explicar tais formas de
relevo, especialmente os pedimentos. Os pedimentos so superfcies com inclinaosuave, situados entre as vertentes das elevaes, resultantes da regresso lateral
destas (TWIDALE, 1978, p. 1139). Ainda segundo o autor, as diferentes estruturas
litolgicas influenciam nas caractersticas e dimenses dos pedimentos.
Em concordncia com Twidale (1978), o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE, 2009) traz a definio de pedimento como sendo uma superfcie
de aplainamento, de inclinao suave, capeada por material detrtico descontnuo
sobre a rocha sem apresentar, no entanto, dissecao marcada ou deposio emexcesso. Os pedimentos geralmente apresentam forte ruptura de declive no seu
contato com as vertentes ngremes, suavizando-se medida que se direcionam a
jusante onde ocorre a deposio detrtica nos vales ou nas depresses (IBGE,
2009). As vertentes ngremes, habitualmente, compem o relevo residual que
testemunha os antigos nveis da superfcie de aplainamento e so denominados de
inselbergues.
Na definio apresentada pelo IBGE (2009), os inselbergues so formaes
residuais que apresentam feies variadas, com encostas com declives em torno de
50 a 60, dominando uma superfcie de aplanamento herdada ou funcional, com a
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
40/136
39
qual forma no sop uma ruptura de onde divergem as rampas de eroso. Segundo
Bigarella; Becker; Santos (2007) os inselbergues podem ser de dois tipos: em forma
dmica e em forma de grandes mataces ou tors.
Inselbergues dmicos, segundo os autores, so monolitos esculpidos com
as diclases estruturais, onde predominam os processos de esfoliao esferoidal da
rocha (descamao das partes exteriores de uma rocha semelhante s cascas de
cebola) e as vertentes exibem um perfil retilneo. Os inselbergues em tors, por sua
vez, esto associados s rochas regularmente fraturadas, formados por mataces
submetidos aos processos de esfoliao esferoidal nos planos de fraqueza,
resultando em formas arredondadas.
Alm dos pedimentos e inselbergues, outras formas de relevo so
encontradas no ambiente semirido, conforme aponta Silva (1986). Segundo a
autora, as formas tpicas encontradas so os planos que convergem para o eixo da
drenagem e contrastam com as vertentes ngremes das elevaes residuais e
inselbergues. Alm destes so encontrados os depsitos de tlus, interflvios planos
(resultantes da regularizao topogrfica), as reas de acumulao (situadas nas
reas baixas), os lajedos (afloramentos rochosos) e as reas com caos de bloco
(SILVA, 1986) (figura 3).
Figura 3Formas tpicas de relevo da regio semirida.
1. Tlus; 2. Inselbergue e elevaes residuais; 3. Interflvios planos; 4. reas deacumulao; 5. Planos com espraiamento de detritos; 6. Lajedos e acmulos de blocos; 7.
Escoamento difuso; 8. Escoamento concentrado; 9. Diferenas litolgicas.Fonte: Silva (1986, p. 60).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
41/136
40
3 CARACTERSTICAS AMBIENTAIS DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO BOM
SUCESSO
A Bacia Hidrogrfica do Rio Bom Sucesso um subsistema inserido na
mdia bacia do Rio Itapicuru, poro nordeste do Estado da Bahia, e est localizada
entre as coordenadas geogrficas 110930e 112300 S e 390530 e 392830
O. Possui rea aproximada de 468 km e sua rede hidrogrfica drena pores dos
municpios de Santaluz, Valente, Conceio do Coit e Araci (figura 4).
Inserida em uma regio de agricultura e pecuria tradicionais e intensa
explorao mineral, os aspectos climticos e as formas de relevo da Bacia do Rio
Bom Sucesso, so considerados como os subsistemas ambientais fsicos
dominantes na elaborao da paisagem.
O relevo local foi elaborado a partir de rochas que compem terrenos muito
antigos, datados entre o arqueano e o proterozico, constituintes do Bloco Serrinha,
individualizado no Crton do So Francisco. O Crton do So Francisco ou
Provncia Estrutural So Francisco uma extensa rea de terreno pr-cambriano
situado na poro centro-leste da Plataforma Sul-Americana, ao lado das provncias
da Borborema, Tocantins e Mantiqueira, e ocupa pores do centro, norte enoroeste de Minas Gerais, nordeste de Gois, e a quase totalidade do Estado da
Bahia e Sergipe.
Acredita-se que as rochas mais antigas que compem a superfcie brasileira
so encontradas nas provncias So Francisco e Borborema (DELGADO, 2003). O
Crton do So Francisco foi formado a partir de terrenos que foram sendo soldados
e transformado durante os eventos paleo e neoproterozicos. Este se caracteriza
pela ocorrncia de domnios tectnicos e estruturas diversificadas (figura 5).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
42/136
41
Figura4
MapadeLocalizaodaB
aciaHidrogrficadoRioBo
mS
ucesso(Bahia).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
43/136
42
Figura 5Mapa simplificado dos domnios tectnicos e das feies estruturais doCrton do So Francisco. Em destaque, a localizao aproximada da rea emestudo.
Fonte: Adaptado de Alkmim e Marshak (1998, p. 51).
So encontrados remanescentes paleoarqueanos em forma de domos,
macios e pltons; blocos mesoarqueanos constitudos pela associao de
complexo granito-gnissicos e greenstone belts que constituem a crosta consolidada
no mesoarqueano. So exemplos os blocos Quadriltero Ferrfero e Guanhes em
Minas Gerais e os blocos Gavio, Paramirim e Serrinha na Bahia (DELGADO, 2003);
terrenos neoarqueanos representados pelo orgeno Itabuna-Salvador-Cura;
batlitos granticos como resultado do plutonismo intraplaca ocorrentes no
paleoproterozico; bacia intracratnica do mesoproterozico situada na Chapada
Diamantina; bacias intracratnicas do neoproterozico como a bacia de Trs Marias-
Bambu (MG) e Salitre (BA); bacias de margem passiva neoproterozicas e bacias
rea em estudo
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
44/136
43
intracratnicas e bacias rifte do fanerozico; e as coberturas sedimentares do
cenozico (DELGADO, 2003).
Importantes lineamentos se destacam na Provncia So Francisco, fruto da
intensa atividade tectnica a qual esta foi submetida. So exemplos o lineamento
Jacobina-Contendas (JC) e o lineamento Espinhao (ES). A colagem dos blocos
atravs dos eventos ocorridos entre o paleoproterozico e o neoproterozico foi de
extrema importncia para a formao desta superfcie, tendo rebatimento tambm
nas caractersticas litoestruturais da bacia em estudo (SILVA FILHO, 2010).
Na Bacia Hidrogrfica do Rio Bom Sucesso, o Bloco Serrinha est
subdividido em dois domnios estruturais (figura 6): as rochas do Complexo Santaluz
e as rochas que compem o Greenstone Belt do Itapicuru, alm das intruses
litolgicas associadas ao Complexo Santaluz, segundo o Servio Geolgico do
Brasil (CPRM, 1989).
Aspectos litoestruturais do Complexo Santaluz
Segundo o esboo geolgico elaborado com base em CPRM (1989), o
Complexo Santaluz se formou no arqueano mdio inferior (> 3,0 Ga) e abrange maisda metade da rea da bacia (figura 6). Este composto por gnaisses bandados,
granada e silimanita e rochas calcissilicticas, ortognaisses granodiorticos de
textura augen, gnaisses e migmatitos a anfibolitos associados. Alm destas, esto
associadas ao Complexo Santaluz rochas bsico/ultrabsicas do tipo gabros,
peridotitos e dunitos.
Do ponto de vista estrutural, este complexo caracterizado pela grande
ocorrncia de falhas e fraturas. Na poro ocidental do complexo, os eventostectnicos favoreceram a orientao preferencial das fraturas em sentido SW-NE. As
falhas, por sua vez, esto dispostas no sentido SE-NO, W-E e W-NE.
Atravs da anlise do esboo geolgico, nota-se o rompimento na
continuidade dos gnaisses por consequncia de eventos tectnicos que favoreceram
o surgimento das falhas que, provavelmente, contriburam para o soerguimento
desse grupo de rochas na extremidade oeste da bacia, alm dos sienitos e intruses
granticas associadas a essa poro (figura 6).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
45/136
44
Figura6
EsbooGeolgicodaBac
iaHidrogrficadoRioBomS
ucesso(Bahia).
-
5/27/2018 Disserta o Klebinho
46/136
45
A poro oriental do complexo Santaluz caracterizada pela ocorrncia de
um grande sinclinal que se estende desde a regio de Conceio do Coit at a
altura de Santaluz (CPRM, 1989). Como consequncia os lineamentos estruturais
seguem orientao preferencial SE-NO (figura 6). As intruses granticas so
pontuais, se levada em considerao a escala de anlise adotada, porm, algumas
delas possuem maior extenso, a exemplo dos afloramentos granticos do Morro dos
Lopes (MATOS e CONCEIO, 1993).
A explorao econmica dos recursos minerais se concentra nesta poro
do complexo onde, aos afloramentos granticos, esto associadas s pedreiras e
pequenas reas de extrao mineral; na rea de ocorrncia dos gabros e peridotitos
est localizada a extrao de cromo nas proximidades da cidade de Santaluz
(ARGOLO e DEBAUT, 2002). Associadas s intruses granticas, esto localizadas
as superfcies elevadas que constituem a Serra do Pintado, o Morro dos Lopes e a
Serra Branca. Nesta ultima, existe a extrao ilegal de ouro. Percebe-se que o
sistema de falhas do Complexo Santaluz (figura 6) favoreceu a diferena de nvel
altimtrico entre os setores oriental e ocidental, ainda que, atualmente, esse
desnvel seja sutil no contexto regional.
Caractersticas litolgicas e estruturais do Greenstonebelt do Itapicuru
O Greenstone Belt do Rio Itapicuru foi formado no proterozico inferior, entre
1,8 a 2,6 Ga e ocorre na parte leste da bacia do Bom Sucesso (figura 6). Este
domnio est agrupado em trs subunidades conforme CPRM (1989).
A unidade sedimentar composta por metapelitos, metagrauvacas e
formaes ferrferas, metarcseos, metagrauvacas e metassiltitos. Esta unidade estsituada entre o domo do Ambrsio e os metabasaltos que limitam o greenstone com
o Complexo Santaluz. Os lineamentos estruturais seguem a orientao preferencial
NO-SE, seguindo, posteriormente, a orientao S-NE, acompanhando o contorno do
domo (Figura 6).
A unidade vulcnica flsica composta por metandesitos e metadacitos de
idade aproximada de 2,1 Ga. Ocorre na p