Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

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INSPER INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS NA SAÍDA DOS FUNDOS DE PE E VC NO BRASIL E CONSEQUENTEMENTE NA REDUÇÃO DO TEMPO EM QUE INVESTIMENTOS SÃO MANTIDOS EM CARTEIRA PIERO LARA ROSATELLI SÃO PAULO 2016

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INSPER INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS NA

SAÍDA DOS FUNDOS DE PE E VC NO BRASIL E CONSEQUENTEMENTE

NA REDUÇÃO DO TEMPO EM QUE INVESTIMENTOS SÃO MANTIDOS

EM CARTEIRA

PIERO LARA ROSATELLI

SÃO PAULO

2016

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PIERO LARA ROSATELLI

A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS NA SAÍDA DOS FUNDOS DE

PE E VC NO BRASIL, E CONSEQUENTEMENTE NA REDUÇÃO DO TEMPO EM QUE

INVESTIMENTOS SÃO MANTIDOS EM CARTEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Administração do

Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Mestre em Administração.

Área de Concentração: Estratégia

Linha de pesquisa: Estratégia Corporativa

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Andrea Maria

Accioly Fonseca Minardi – Insper

SÃO PAULO

2016

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Rosatelli, Piero Lara A influência do aquecimento do mercado de capitais na saída dos fundos de pe e vc no brasil, e consequentemente na redução do tempo em que investimentos são mantidos em carteira Piero Lara Rosatelli – São Paulo: Insper, 2016; Qtde de Páginas 30p. Dissertação (Mestrado – Programa de Mestrado de Profissional em Administração. Linha de pesquisa: Estratégia Competitiva) – Insper Instituto de Ensino e Pesquisa.

Orientador : Prof.ª Dr.ª Andrea Maria Accioly Fonseca Minardi Palavras Chaves:

1. Private Equity. 2.Venture Capital. 3.Holding Period. 4. Mercado Aquecido.

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RESUMO

A Literatura internacional contém evidências de que janelas de aquecimento do

mercado de capitais aumentam a probabilidade de saída de investimento de Private Equity e

Venture Capital, reduzindo consequentemente o Holding Period. Existe o risco de que isso

faça com que o gestor do fundo encurte o tempo ótimo que se deveria manter a empresa em

sua carteira para gerar uma melhora de governança, profissionalização e implementação de

criação de valor sustentável, não sendo ideal para as empresas investidas ou para os

investidores do fundo. Seria esperado que essa relação fosse mais intensa no Brasil, dada a

menor intensidade e frequência de momentos de aquecimento no mercado de capital (Hot

Markets).

Apesar da importância do PE e VC como a classe de ativos com maior expansão no

mercado brasileiro, atingindo mais R$ 100 bilhões de ativos sob gestão em 2014 e participação

de 45% dos IPOs de 2000 a 2014, de acordo com a Associação Brasileira de Venture Capital e

Private Equity, ainda são poucos os estudos sobre a indústria e não foi investigada a influência

de mercados aquecidos no período de investimento dos fundos de PE e VC. Esse estudo

investiga qual a magnitude do impacto das janelas de aquecimento do mercado de capital

brasileiro na antecipação de saída por parte dos gestores de PE e VC com base no holding

period e controlando por outros fatores que também o influenciam. Ele contribui com a

literatura e a prática da indústria, trazendo informações importantes para investidores e

gestores tomarem decisão quanto a investimentos nessa classe de ativo no Brasil,

especialmente quanto à liquidações de investimentos.

A análise partiu da base de dados Spectra Insper, com investimentos realizados por

fundos de Private Equity entre julho de 1994 e março de 2015 no Brasil a partir de informações

de Private Placement Memoranda. A metodologia adotada foi o modelo hazard

semiparamétrico proporcional de Cox. Os resultados indicam que os gestores antecipam a

saída em momentos de aquecimento de mercado, aumentado a taxa de saída de 2 a 3 vezes

em relação a momentos de não aquecimento.

Palavras-chave: Private Equity; Venture Capital; Holding Period; Mercado aquecido.

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ABSTRACT

The international literature shows evidence that hot market windows in the capital

markets elevate the probability of exit for Private Equity and Venture Capital funds, reducing

the holding period. This could mean that the fund manager may shorten the optimum holding

period, which should foster the development of better governance and implementation of

sustainable value generation, therefore being harmful to the invested company entrepreneurs

and the fund limited partners. It would be reasonable to expect that this relation would be of

a more intense nature in Brazil, since hot markets are less frequent and weaker than in more

developed markets.

Although PE and VC is the asset class with the highest growth in the Brazilian market,

reaching more than R$ 100 billion in assets under management in 2014 and participating in

45% of the IPOs from 2000 to 2014 according to the Brazilian Venture Capital and Private

Equity Association, there is too few research about this industry and the hot market influence

on holding period is yet to be investigated. This paper addresses the degree of the relation

between hot markets and holding period, controlling for other potential variables that might

also affect it. It contributes with the literature and the industry practice, adding new important

information to LPs and GPs investment decision in Brazil, especially regarding exits.

This article uses the Spectra Insper database, containing investments made by PE and

VC funds from July 1994 to March 2015 in the Brazilian market, obtained through Private

Placement Memoranda. The adopted methodology is the Cox proportional hazards model.

The results shows evidence that fund managers (GPs) anticipate exit during hot markets,

having and exit ratio 2 to 3 times higher than in cold markets.

Key words: Private Equity; Venture Capital; Holding Period; Hot Market.

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PIERO LARA ROSATELLI

A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS NA SAÍDA DOS FUNDOS DE

PE E VC NO BRASIL, E CONSEQUENTEMENTE NA REDUÇÃO DO TEMPO EM QUE INVESTIMENTOS SÃO MANTIDOS EM CARTEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional em Administração do Insper Instituto de

Ensino e Pesquisa, como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de Concentração: Estratégia

Linha de pesquisa: Estratégia Corporativa

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Andrea Maria Accioly

Fonseca Minardi – Insper

Data de Aprovação: __/__/__

Banca Examinadora

_________________________________

Andrea Maria Accioly Fonseca Minardi

Professora Doutora

Instituição: Insper Instituto de Ensino e Pesquisa

_________________________________

Hsia Hua Sheng

Professor Doutor

Instituição: FGV-EAESP

_________________________________

Priscila Fernandes Ribeiro

Professora Doutora

Instituição: Insper Instituto de Ensino e Pesquisa

SÃO PAULO

2016

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Dedico essa dissertação à minha esposa Rubia e à

minha filha Helena, pela compreensão, amor e

inspiração.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Professora e Orientadora Andrea Minardi por aceitar ser minha

orientadora e pelo seu tempo e colaboração ao me guiar pelo desenvolvimento da tese e do

meu conhecimento em Private Equity e Venture Capital.

Agradeço ao Insper e à Spectra pela iniciativa da criação e manutenção da base Insper-

Spectra, contribuindo com a academia e com a indústria Private Equity e Venture Capital.

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SUMÁRIO

1. SUMÁRIO EXECUTIVO ....................................................................................................................... 10

2. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 12

3.REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................................. 15

4.METODOLOGIA .................................................................................................................................. 20

4.1.Base de dados Insper-Spectra ..................................................................................................... 20

4.2.Argumento Teórico ..................................................................................................................... 24

4.3.Modelo Econométrico ................................................................................................................. 24

5. RESULTADOS ..................................................................................................................................... 27

6. CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 30

7. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................... 31

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1. SUMÁRIO EXECUTIVO

De grande importância para o mercado de capitais brasileiro, seja pelo seu tamanho

atual em termos dos mais de R$ 100 bilhões em ativos sob gestão ou pela participação em

45% dos IPOs de 2000 a 2014, há pouca literatura sobre condições de mercado e seus efeitos

na tomada de decisão do gestor e eventuais impactos para seus investidores. Partindo de uma

nuance especificamente mais intensa no Brasil, qual seria o efeito da escassez de mercados

aquecidos na taxa de saída dos investimentos de Private Equity quando há a ocasião?

A literatura internacional mostra que, de fato, fundos antecipam suas saídas em

momentos de mercado aquecido. Ao mesmo tempo, também caracteriza a classe de PE e VC

como um formato de investidor que busca a geração de valor, seja ela melhorando uma

companhia saudável ou fazendo o turnaround de ativos ineficientes, apontando então para

uma relação conflitante na pressão por saída e tempo necessário para a geração de valor e

que no mercado brasileiro pode ser ainda mais forte e complexa dada a escassez de mercado

aquecido.

Para contribuir com essa análise e melhorar a tomada de decisão do investidor e do

gestor de PE e VC, o estudo utiliza da base Insper Spectra com informações de investimentos

de fundos de PE e VC no Brasil coletadas por meio de Private Placement Memoranda. Se adota

uma metodologia estatística que corrige a censura cronológica dos dados de uma amostra que

contém investimentos ainda não desinvestidos. Essa metodologia é usual na literatura para se

testar a relação entre mercado aquecido e holding period, mas apresenta ineditismo por ser

aplicada ao mercado brasileiro e com uma base de dados robusta.

Seguindo a literatura existente, se utiliza também de algumas variáveis de controle

disponíveis na base de dados como tamanho do investimento, experiência da firma, tipo do

fundo (PE ou VC) e se são investimentos minoritários ou com controle acionário buscando

entender melhor isoladamente o efeito de mercado aquecido.

Nos diferentes modelos gerados com as combinações das variáveis explicativas e de

controle, se comprova de forma significativa que em tempos de mercado aquecido há um

grande impacto na probabilidade de saída dos investimentos de PE e VC, aumentando em 2 a

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3 vezes a taxa de saída. Tal evidência corrobora com a hipótese de que gestores encurtam o

holding period nesses momentos antecipando a saída.

Uma dúvida que viria na sequência de tal conclusão seria a de que o encurtamento do

holding period pelos gestores poderia ser feito às custas de menor retorno. É testado então

por um usual teste-t de médias o retorno dos investimentos em momentos de mercado

aquecido e não-aquecido e se encontra evidências de que não há um retorno menor em

função da antecipação da saída.

Com as conclusões da hipótese o estudo chama a atenção da academia e da indústria

de PE e VC para o peso elevado que mercado aquecido exerce sobre essa classe de ativos no

Brasil. Se permite então que seja dado o devido peso na análise do timing de investimentos

por gestores e investidores e que o peso da liquidez em uma análise de risco e retorno seja

devidamente balanceada às características específicas do mercado brasileiro de PE e VC. No

entanto, é importante se atentar que pouco foi possível dizer sobre as variáveis de controle e

suas influências na relação entre mercado aquecido e holding period e que uma parte

considerável da amostra ainda se encontra em fase de investimento, podendo trazer

resultados diferentes se analisada novamente após o término dessas safras.

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2. INTRODUÇÃO

A menor frequência e duração de períodos de aquecimento no mercado de capitais

(Hot Market) no Brasil pode trazer uma pressão de saída nesses momentos mais intensa do

que em mercados mais desenvolvidos e líquidos, influenciando o desempenho da indústria

brasileira de Private Equity. Considerando que a bolsa brasileira teve apenas um boom de IPO

nesse século, que durou de 2004 a 2008 e que poucas vezes a quantidade mensal de IPOs

supera 5 ofertas (como visto na figura 1 abaixo) é possível que janelas de mercado aquecido

sejam um dos maiores fatores determinantes do comportamento de gestores de Private

Equity e do retorno de seus fundos.

Figura 1: Série Histórica mensal de IPOs na bolsa brasileira (BM&FBOVESPA). Eixo vertical esquerdo com valores em milhões de reais e eixo vertical direito com contagem das ofertas. Fonte: BM&FBOVESPA.

O mercado brasileiro de Private Equity evoluiu para R$ 127 bilhões em capital

comprometido em 2014, o dobro de 2011, de acordo com censo anual realizado pela ABVCAP

e KPMG. O fundraising em 2014 no Brasil foi equivalente por 84% do total captado na América

Latina. Em Minardi, Kanitz e Bassani (2014), da base de dados de 78 gestoras de PE/VC, 40%

tinham três ou mais fundos levantados, mostrando um amadurecimento de uma classe que

-

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Quantidade (eixo direito) Volume (R$ milhões, eixo esquerdo)

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se iniciou tardiamente na década de 1990. No boom de IPOs entre 2004 e 2008 no Brasil, 39%

das empresas eram investidas por PE/VC e Minardi, Ferrari e Tavares (2013) aponta evidências

de performance superior nesses IPOs nos anos 2004 a 2006. Minardi, Kanitz e Bassani (2014)

conclui que o retorno médio de fundos de PE/VC das safras de 2003 a 2008 foram superiores

ao mercado americano.

Apesar de seu grande impacto na economia como forma alternativa de financiamento

para empresas e como classe de ativos no Brasil, PE e VC vive sobre a sombra de ciclos pouco

frequentes e curtos de mercado aquecido no país. Embora haja literatura considerável sobre

a natureza de PE e VC, os determinantes de Holding Period e sua relação com mercado

aquecido no mundo, não há na literatura estudos sobre o impacto desse fator no

comportamento de fundos de PE e VC no Brasil.

Gestores de Private Equity e Venture Capital buscam gerar retorno elevado e no menor

tempo possível. Há três principais visões na literatura sobre a natureza de gestores de Private

Equity (THAKER, 2013). Jensen (1989) argumenta que Private Equity é uma forma

organizacional superior de longo prazo, pautada em alinhamento de interesses, governança e

alavancagem que minimizam problemas de agência. Já Rappaport (1990), caracteriza Private

Equity como uma forma de terapia de choque, na qual os fundos buscam companhias

ineficientes nas quais possam rapidamente mudar governança e estrutura corporativa e sair

em poucos anos. Uma terceira via apresentada por Kaplan (1991) argumenta que uma visão

heterogênea de ambas visões seria mais adequada, dado que os gestores têm incentivos para

se comportar das duas formas e o Holding Period é na maioria intermediário, nem curto nem

longo.

Quanto ao Venture Capital, há duas principais visões: a reação exagerada a sinais de

mercado ou a de ajustes racionais a mudanças aos fundamentos do mercado público. Embora

de forma distinta, ambas apontam que gestores de fundos reagem a sinais de mercado

aquecido afetando as principais decisões quanto ao seu ciclo de fundraising, investimento e

saída (Gompers, 1998).

Há ainda outros incentivos e circunstâncias que influenciam o comportamento do

gestor de Private Equity quanto o Holding Period. Gompers (1996) defende que gestores de

Venture Capital mais novos perseguem IPOs com menor Holding Period do que gestores mais

experientes para sinalizarem ao mercado sua capacidade de gerar retorno. Por outra ótica,

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gestores mais experientes usam de sinais de mercado aquecido para aumentar as atividades

de investimento e gerar maior retorno timing o mercado (Gompers et Al., 2008). O próprio

economics de Private Equity leva gestores a sempre perseguirem o lançamento de novos

fundos, incentivando a encurtar o Holding Period.

Independente de qual visão de Private Equity seja a correta, é evidente que o Holding

Period é um fator chave para os gestores (LJUNGQVIST E RICHARDSON, 2003; GIOT E

SCHWIENBACHER, 2007; CAO, 2011). Assim como outros fatores externos, mercado aquecido

pode influenciar o comportamento do gestor em termos de antecipar ou não uma saída e no

Brasil, que tem janelas pouco frequentes e mais curtas do que em mercados como EUA e

Europa, ele pode ser ainda mais importante.

Esse estudo se propõe a testar a hipótese de que em momentos de mercado aquecido

gestores de PE e VC brasileiros encurtam o Holding Period, antecipando saída do

investimento. Encontrando-se evidência positiva, pretende-se também evidenciar a

magnitude do aquecimento de mercado na taxa de saída. .

Para tal, é utilizado uma base de dados proprietária, coletada através de PPMs (Private

Placement Memoranda) por um investidor institucional que traz informação nos níveis de

análise da transação, empresa e fundo sobre mais de 700 operações de Private Equity e

Venture Capital no Brasil de 1990 a 2014. Através da aplicação do modelo de hazard

proporcional de Cox, controlando por fatores da firma de PE e VC e do deal, espera-se

comprovar que mercados aquecidos encurtam o Holding Period e também se existem

diferenças observadas pelos grupos de controle que ajudam a compreender os seus

determinantes.

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3.REVISÃO DA LITERATURA

Ponto central de estudo desse artigo, a relação entre Holding Period e mercado

aquecido é tida no geral como negativa pela maioria da literatura (veja por exemplo Ljungqvist

e Richardson (2003), Giot e Schwienbacher (2007) e Cao (2011)).

Ljungqvist e Richardson (2003) partem de um framework teórico que considera que

enquanto a oferta de Private Equity é constante no curto prazo, a demanda por Private Equity

é volátil e em boas condições de mercado (testando IPO e retorno em NASDAQ) os fundos

existentes aumentam seus investimentos e ganham retorno anormal. Por meio de modelos

de análise de sobrevivência, os autores comprovam que em mercados aquecidos, fundos de

PE e VC investem e saem dos investimentos com maior velocidade, gerando ainda melhores

retornos. O oposto também é verdadeiro, em cold markets, no qual com a oferta de capital

constante, há maior competição por menos investimentos e em piores condições de mercado

causando menor investimento pelos fundos que também sofrem com maior tempo para

realizarem seus investimentos e, portanto, menor performance.

Especificamente quanto a Hot Market e sua relação com Holding Period, Ljungqvist e

Richardson (2003) controlam seus modelos testando variáveis relacionadas a dívida, retorno

no mercado de ações, atividade de IPOs e atividade de M&As. Seus resultados apontam que

a atividade de IPO se apresenta como um grande determinante do Holding Period de PE e VC,

corroborando com o ponto central desse artigo. Os autores também verificam que o mercado

de dívida é significativo e que o nível de atividade de M&A e retorno da bolsa não se mostra

significativo para nenhuma das classes.

Giot e Schwienbacher (2007) concluem também através de modelos de análise de

sobrevivência, mas analisando conjuntamente tempo para saída e tipo de saída e com amostra

apenas de Venture Capital, que a medida que o tempo passa ao longo do Holding Period de

um investimento, a probabilidade de saída por IPO aumenta, mas até um certo ponto no qual

passa a diminuir, diferente do encontrado em saídas para estratégicos (trade sales) que são

menos sensíveis ao tempo. Ainda que à primeira vista não seja uma contribuição diretamente

relacionada com a dúvida desse artigo sobre Hot Market e Holding Period, com essa conclusão

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os autores argumentam que é possível deduzir que IPO é primeira opção de saída dos fundos

de PE e VC, o que por sua vez pode dizer algo a respeito da amostra do mercado brasileiro.

Mais próximo ao tema central desse estudo, testando condições do mercado por meio

da variável de volume de IPO, os autores concluem que para investimentos realizados em

períodos de mercado aquecido, o Holding Period em casos de saída via IPO é 30% menor se

comparado a períodos de mercado não aquecido. Potencialmente importante para o estudo

do mercado brasileiro, os autores verificam uma relação semelhante em casos de saída

secundária (trade sales).

Apesar de tratar apenas de Private Equity, novamente por meio de um modelo de

análise de sobrevivência testando o impacto do timing de IPO, Cao (2011) verifica que em uma

amostra de 594 Reverse Leveraged Buyouts (RLBO) de 1980 a 2006 o Holding Period é direta

e negativamente relacionado a mercado aquecido em termos de IPO. Adicionalmente, e em

linha com a visão de Shock Therapy de Rappaport (1990), o autor percebe que mercado

aquecido de IPO e investimentos maiores são condições mais prováveis para os quick-flips

(menos de dois anos de Holding Period).

Sem necessariamente verificar a relação entre mercado aquecido e Holding Period e

analisando exclusivamente Venture Capital, Gompers et al. (2008) contribui para o estudo

proposto ao verificar que fundos, em especial aqueles com mais experiência no setor de

investimento, leem sinais de mercado aquecido e respondem de forma racional aumentando

o nível de investimento sem deteriorar a performance.

Para se compreender quais forças adicionais a mercado aquecido regem o Holding

Period, é importante iniciar pelas principais visões da literatura sobre o comportamento de

fundos de Private Equity, e sua influência no tempo até a saída do investimento. Após o boom

das operações de LBO no final da década de 1980 e a importância que a classe vinha ganhando,

não apenas como alternativa de investimento, mas também participação no mercado público,

as primeiras visões da literatura se deram em uma série de três publicações em 1989, 1990 e

1991 na Harvard Business Review.

A primeira contribuição da literatura sobre a natureza de Private Equity veio em Jensen

(1989), na qual o próprio título da publicação na Harvard Business Review anunciava “The

Eclipse of the Public Corporation” a ser causado pelas operações de LBO. De acordo com o

Jensen (1989), o formato de LBO baseado em controle acionário e monitoramento mais

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intenso resolvia o conflito de agência dos executivos com relação ao cash-flow (dividendo

versus reinvestimento), se apresentando então como uma alternativa superior de corporação

de longo prazo. Os benefícios da dívida e governança, em termos de alinhamento de

interesses do management com os acionistas a respeito do uso da geração de caixa, permitem

uma corporação melhor e otimizada na ótica de valor para o acionista do que corporações

públicas com ativos com baixa performance e excesso de caixa. O Holding Period teria então

uma natureza mais longa em função de uma necessidade de maturação da geração de valor

pelos fundos (ou estruturas semelhantes) via ganho de performance na companhia para

honrar pagamentos de dívidas, distribuir caixa em excesso e a venda de ativos ineficientes.

Respondendo de forma contrária a Jensen (1989) e indicando para Holding Period

menores, Rappaport (1990) argumenta que Private Equity (naquele momento LBO) é na

verdade de uma natureza de “terapia de choque” e transitória. Os gestores de fundo ou

consórcios de LBO procuram ativos com baixa performance nos quais intensos e curtos

períodos de melhoria de governança corporativa são suficientes para permitir o retorno ao

mercado público em poucos anos. O viés desses gestores é mais relacionado a solucionar

necessidades de liquidez de investidores originais do que basearem seus retornos em

estratégias de longo prazo. De forma oposta então, Rappaport (1990) aponta para uma

natureza do gestor de sempre encurtar o Holding Period, não precisando de tempo para

capturar as melhorias de governança e geração de valor apontadas por Jensen (1989).

Já Kaplan (1991), chega a uma conclusão intermediária entre ambas visões ao testá-

las partindo do Holding Period em uma amostra de 183 LBOs realizados entre 1979 e 1986. A

combinação das evidências de que (i) o Holding Period médio era de 6,7 anos no momento,

(ii) a probabilidade de um LBO voltar ao mercado público aumenta quanto maior é o Holding

Period e (iii) em agosto de 1990 apenas 63% dos LBOs eram controladas por entidade privadas

(não-listadas), levam a conclusão de que ambos comportamentos existem simultaneamente.

É uma forma transitória como em Jensen (1990), dado que maior holding period aumenta a

probabilidade de se ter um IPO. Mas também não é de curta duração como aponta Rappaport

(1990).

Em Venture Capital, no qual dívida, venda de ativos com baixa performance, controle

acionário individual não são os mecanismos típicos dos fundos e as empresas alvo não são

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grandes corporações listadas, mas sim empresas menores e mais jovens controladas por

empreendedores, há compreensões distintas do Private Equity (LBO).

A ênfase da literatura se dá na combinação de fatores como o capital humano das

firmas de Venture Capital em termos (especialização e experiência), no impacto do mercado

público (valuation, retorno de bolsa e janelas de IPO) e principalmente sobre os incentivos

que o ciclo de Venture Capital tem sobre os gestores. Por exemplo, aumento no valuation em

IPOs influenciam os gestores a levantarem mais fundos (GOMPERS E LERNER, 1998B; JENG E

WELLS, 2000), especialmente em firmas mais novas (KAPLAN E SCHOAR, 2005), e retornos são

correlacionados com aqueles do mercado público (COCHRANE, 2005; KAPLAN E SCHOAR,

2005; LJUNGQVIST E RICHARDSON, 2003).

Para o entendimento da dinâmica de Holding Period, o ponto central a respeito da

natureza dos gestores e fundos de Venture Capital se dá nas duas diferentes visões quanto às

reações causadas pela volatilidade do mercado público no comportamento do gestor ou por

mudança de fundamentos das oportunidades de investimento (GOMPERS ET AL., 2008).

Uma delas, a visão de reação exagerada mediante sinais de aquecimento do mercado

público, aponta para um viés comportamental dos gestores evidenciado no prêmio irracional

pago em investimentos (GUPTA, 2000) ou na crença superestimada de que é possível

selecionar e investir em um dos grandes vencedores (GOTTSCHALG E PHALIPPOU, 2009;

unicórnios na linguagem do mercado de Venture Capital). Em contraponto, há a visão de que

a volatilidade do Venture Capital, percebida pela flutuação no nível de investimento, se dá

meramente como resposta dos gestores de fundos se ajustando a mudanças de fundamentos

da qualidade das oportunidades de investimento e demanda e oferta de capital para

investimento. Por exemplo, em função de um choque de novas empresas ou empreendedores

e aumento na demanda por capital.

Testando ambas visões, Gompers et al. (2008) analisam empiricamente mais de trinta

mil investimentos realizados entre 1975 e 1998 por meio de uma base secundária (Thomson

Venture Economics) e encontram que a resposta do Venture Capital a mudanças no mercado

público se dá com maior intensidade por gestores com mais experiência (investimento no

mesmo setor do investimento na amostra) que aumentam o nível de investimento na

presença de sinais positivos do mercado mantendo sua performance. Com isso, os autores

concluem que mudanças nos sinais do mercado público refletem mudanças nos fundamentos

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das oportunidades de investimento, abrindo o escopo de discussão das forças que gerem a

relação entre hot Markets e Holding Period, alvo do estudo desse artigo.

Sobre o tema experiência, Stromberg (2008) também conclui que fundos de PE que

retornam seus LBOs para o mercado público o fazem mais rápido quanto maior a é a sua

experiência.

Ainda no âmbito do comportamento dos gestores de Venture Capital, o grandstanding

definido por Gompers (1996) como a evidência e incentivo de que firmas de Venture Capital

menos experientes aceleram a saída por IPO em seus investimentos comparativamente às

outras firmas, pode trazer explicações interessantes sobre o desenvolvimento do mercado

brasileiro e a quantidade de novos gestores e o Holding Period observado em períodos de Hot

Market. O autor aponta que em uma amostra de 433 IPOs de 1978 a 1987, as empresas

investidas por firmas de Venture Capital menos experientes são mais novas que a média e

tiveram mais underpricing, e defende que o incentivo para tal comportamento foi o peso da

reputação do track-record de ter realizado um IPO e o seu impacto na melhora de condições

para se levantar novos fundos.

Outro fator intrínseco às firmas de PE e VC que afeta o Holding Period é o tamanho do

investimento. Em sua base de dados global secundária (Capital IQ) com mais de vinte e um mil

amostras de LBO, Strömberg (2008) aponta que investimentos maiores têm menor duração.

Ljungqvist e Richardson (2003) verificam que em uma base primária com fundos de safras

entre 1981 a 2000 investidos por um LP americano, maiores investimentos apresentam saídas

significativamente mais cedo, sendo o tamanho do investimento uma importante variável de

controle em seu estudo sobre a performance e market timing em investimentos de PE e VC.

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4.METODOLOGIA

4.1.Base de dados Insper-Spectra

Apontado como queixa geral por pesquisadores da indústria de VC e PE como um

grande limitador da academia e do mercado em compreender o setor, a falta de dados e

análise da performance da classe de ativos não é exceção no Brasil. Apenas recentemente a

Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), com suporte da KPMG,

passou a exigir que gestores de fundos a informem dados sobre seus investimentos. A base

de dados Insper-Spectra utilizada para esse trabalho e descrita na seção de metodologia tem,

portanto, grande valor em trazer pela primeira vez dados confiáveis, tanto no nível de análise

de fundos quanto de investimentos.

Em colaboração com o fundo de fundos de PE e VC brasileiro Spectra, o Insper criou

uma base de dados privada com dados de diferentes níveis de análise, transações, fundos e

firmas de PE e VC na América Latina. As principais informações são primárias e oriundas de

Private Placement Memoranda (PPM) de fundos de PE e VC recebidos e tratados de forma

anônima pelo Spectra e posteriormente complementado com dados da Comissão de Valores

Mobiliários (CVM) e outras fontes como Thomson TRAA.

Utilizando informações dessa base de dados, Minardi, Kanitz e Bassani (2014)

concluem que fundos brasileiros tiveram performance melhores do que fundos americanos

nas safras de 1990 a 2008, de forma coerente com risco país do Brasil. Os autores destacam

que as causas para tal performance são (i) o boom econômico de 2004 a 2012, (ii) a

competição limitada por investimentos nesse período e (iii) a maturação dos gestores de

fundos brasileiros em termos de experiência.

Os autores verificam que na amostra de 46 fundos (consideram apenas aqueles com

mais de 60% desinvestido), o retorno bruto dos fundos apresenta uma média de 22% e

mediana de 23,5%, com desvio padrão de 31,1%, uma dispersão entre o primeiro e quarto

quartil de 72% em média e 60% em termos de mediana, um Holding Period médio implícito

de 4,6 anos e mediano de 6,2 anos. Dentro da amostra total de 172 fundos das safras de 1990

a setembro de 2013 de 78 firmas de PE e VC locais e internacionais, 22% das gestoras de

Page 21: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

21

fundos possuíam apenas um fundo levantado, 78% já haviam levantado dois ou mais fundos,

apontando para uma moderada maturação da indústria.

Os autores também percebem um comportamento mais cíclico no mercado brasileiro

do que no mercado americano. Embora apontem que pode ser devido ao tamanho amostral,

os autores não elaboram a respeito do efeito de Hot Market. Minardi, Ferrari e Tavares (2013)

mostram que no boom de IPOs no país entre 2004 a 2008, dos 108 IPOs, 42 eram de empresas

investidas por fundos de PE e VC e indicam uma performance superior desses IPOs no geral.

Já considerando ajustes e exclusões, a base de dados tratada para a realização desse

estudo é composta por investimentos de julho de 1994 a meados de 2014 e contém

informações de 172 fundos de 78 gestoras, locais e internacionais, em uma amostra de 717

investimentos, dos quais 228 já foram realizados (saídas).

Para adequar a base de dados ao modelo adotado, foram excluídos: casos de write-

offs, devido à falta de informação da data da saída, investimentos feitos antes de julho de

1994, data de início do Plano Real no Brasil, em função da dificuldade de conversão cambial e

efeito da hiperinflação nos anos anteriores e de operações de infraestrutura e mercado

imobiliário pelas suas especificidades.

Visando completar e aumentar a quantidade de informações de retorno, foram

convertidas em reais as informações do valor do investimento na entrada e na saída que foram

reportados originalmente em dólar pelos gestores, por meio da data de entrada e saída e do

câmbio (Dólar PTAX) nas datas de início e fim do investimento. Esse ajuste pode ter gerado

algum viés negativo nos valores de retorno em TIR por não considerar efeitos de fluxos

positivos, como dividendos, entre a entrada e saída.

Para se classificar os meses como mercado aquecido (hot market) ou frio (cold market),

se adotou o procedimento sugerido em Alti (2006) e também utilizado em Rossi e Marotta

(2010). Os meses de aquecimento são aqueles em que a quantidade de IPOs supera a média

da série histórica. A média dos 31 meses da amostra analisada foi de 1,13 IPO por mês. A

Figura 2 ilustra o número de IPOs por mês, coletados da BM&FBOVESPA. Ljungqvist e

Richardson (2003) utilizam de variáveis semelhantes de atividade de IPO e retorno da bolsa

para o mercado americano, Giot e Schwienbacher (2007) e Gompers et al. (2008) adotam

apenas atividade de IPO.

Page 22: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

22

Apesar do custo de dívida ter sido significativo em Ljungqvist e Richardson (2003) como

evidência de mercado aquecido, se optou por não adotar a mesma abordagem nesse estudo

para o mercado brasileiro por ele não possuir atividade relevante de aquisição do controle

com uso considerável de dívida (LBO), como destacado no artigo intitulado In Brazil, No Room

for Leverage at Buyout Firms no NYTimes em março de 2011.

Figura 2. Hot/Cold IPO de acordo com definição adotada.

Em uma primeira análise da distribuição de saídas de PE e VC e de IPOs na figura 3, é

possível notar alguma correlação nos picos de atividade de IPO, mas ao mesmo tempo há

períodos de baixa atividade de IPO e número elevado de saídas. A primeira impressão é

inconclusiva para se confirmar ou refutar a hipótese de que gestores de PE e VC antecipam

saídas em momentos de mercado aquecido.

Page 23: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

23

Figura 3. Quantidade mensal de IPOs e saídas de PE e VC.

A tabela 1 contém uma análise descritiva da base de dados e indica que as médias de

58,7 meses e 55,1 meses de mercado aquecido e de mercado não aquecido, respectivamente,

são inconclusivas quanto a hipótese de encurtamento do holding period. Testando-se a

diferença das médias em um teste-t, não se rejeita a hipótese nula de que a diferença das

médias é igual a zero, confirmando que não se pode inferir que há encurtamento do holding

period em períodos de mercado aquecido.

É importante notar que os dados estão censurados e que os investimentos que até

março de 2015, data limite de fechamento da base de dados, ainda não haviam tido saída

possuem um holding period médio de 59 meses.

Já em relação às médias de retorno, presentes na tabela 1, há vestígio de um impacto

positivo em momentos de mercado aquecido. O MOM de 5,5x e TIR de 50,1% em mercado

aquecido são bastante superiores às médias de 3,1x e 33,4% em casos de saída em mercado

não-aquecido. Aplicando-se o teste-t de diferença de médias, se conclui que a diferença é

estatisticamente significativa, tanto em MOM quanto TIR, que é mais elevado em períodos de

mercado aquecido. Tal resultado é um indício de que os gestores não encurtam o holding

period em momentos de mercado aquecido ao custo de um menor retorno.

-

2

4

6

8

10

12

14

16

mai

/04

no

v/0

4

mai

/05

no

v/0

5

mai

/06

no

v/0

6

mai

/07

no

v/0

7

mai

/08

no

v/0

8

mai

/09

no

v/0

9

mai

/10

no

v/1

0

mai

/11

no

v/1

1

mai

/12

no

v/1

2

mai

/13

no

v/1

3

mai

/14

no

v/1

4

mai

/15

no

v/1

5

Qtd. de IPOs Qtd. de Saídas de PE e VC

Page 24: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

24

TABELA 1 – SUMÁRIO DA BASE DE DADOS POR SAÍDA E MERCADO AQUECIDO

4.2.Argumento Teórico

Em linha com a revisão de literatura a respeito da relação de Hot Market e Holding

Period (Ljungqvist e Richardson, 2003; Giot e Schwienbacher, 2007; Cao, 2011), o contexto

adotado nesse artigo para a construção das hipóteses acerca do problema a ser testado

considera que: (i) momentos de mercado aquecido aumentam a probabilidade de saída,

reduzindo o holding period e (ii) momentos de aquecimento aumentam o retorno dos

investimentos, mesmo reduzindo o holding period.

Dessa forma, esse estudo pretende responder se especificamente a menor intensidade

de mercado aquecido no Brasil acentua o seu peso efeito de encurtamento de Holding Period

quando ela é existente. Adicionalmente, se espera ainda entender quais fatores influenciam

essa relação para que seja possível compreender melhor esse fenômeno.

4.3.Modelo Econométrico

Para a execução do teste proposto, foi definida a hipótese e o modelo teórico abaixo

de acordo com a literatura sobre Holding Period e Hot Market e conceitos gerais de PE e VC

como variáveis de controle:

Hipótese: Em face de momentos de aquecimento de mercado, os gestores aceleram a

saída dos investimentos, encurtando o holding period.

Painel A) Holding Period, em meses Média Mín. Máx. # Obs.

Saída = 0 59,0529 12,1333 229,2333 489

Saída = 1, HOTMARKET = 0 58,7192 4,7731 156,2667 172

Saída = 1, HOTMARKET = 1 55,1448 1,7499 146,1000 156

Painel B) MOM Média Mín. Máx. Máx.

Saída = 1, HOTMARKET = 0 3,0739 0,0193 20,3333 143

Saída = 1, HOTMARKET = 1 5,5073 0,1523 52,3504 48

Painel C) TIR Média Mín. Máx. Máx.

Saída = 1, HOTMARKET = 0 33,3747% -38,3484% 352,5806% 144

Saída = 1, HOTMARKET = 1 50,0890% -44,3228% 260,9513% 48

Page 25: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

25

As variáveis de controle, detalhadas nessa seção, servirão para moderar e testar se o

resultado do teste da hipótese é o mesmo isolando fatores extra mercado aquecido

mencionados na revisão de literatura, permitindo então uma melhor compreensão do

resultado do teste da hipótese.

Como usual na literatura que testa empiricamente a relação entre Holding Period e

mercado aquecido (Ljungqvist e Richardson, 2003; Giot e Schwienbacher, 2007; Cao, 2011), é

adotado um modelo hazard, também nomeado como modelo de duração ou de tempo de

falha. Adota-se a abordagem semiparamétrica proporcional de Cox.

Considera-se que a taxa de encerramento do investimento (saída) se comporta de

acordo com alguma distribuição de probabilidade em função do período de tempo que o

investimento fica na carteira do investimento (Holding Period). Como não se conhece a

função de distribuição entre o holding period e o encerramento do ciclo, se adota um modelo

não paramétrico para estimar essa relação, que é acelerada ou retardada por outras variáveis,

como o aquecimento de mercado, experiência do fundo, se o investimento envolve controle

ou é minoritário, estágio do investimento (PE ou VC) e tamanho do investimento. Se adota a

distribuição exponencial para modelar o efeito dessas variáveis na probabilidade de se

encerrar um ciclo. Por isso é escolhido o modelo semiparámetrico proporcional de Cox, com

modelagem não paramétrica para estimar a relação entre o holding period e a taxa de saída,

e uma abordagem paramétrica para as outras variáveis que influenciam a saída.

Como existem vários investimentos em que não ocorreram saída até 31 de março de

2015, momento em que foram coletados os dados, não se observa o holding period em que

ocorrerá a saída. Surge então o problema de censura à direita (right censoring). Em uma

regressão linear típica, não se trataria o problema de censura à direita nem o fato de que além

da variável dependente, a variável independente também pode estar se alterando no tempo.

A taxa de hazard (h) é função do holding period (t) e é definida por:

(1) ℎ(𝑡) =𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜 𝑖𝑛𝑐𝑖𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑒𝑚 𝑡

(𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑛ã𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑡) 𝑋 (𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜)

E a taxa de saída é modelada conforme a equação (2).

Page 26: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

26

(2) ℎ(𝑡) = ℎ0(𝑡) 𝑋 exp (𝛽1𝑆𝑎í𝑑𝑎 𝑒𝑚 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜 + 𝛽2𝐸𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝐹𝑖𝑟𝑚𝑎 +

𝛽3𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 + 𝛽6𝑃𝐸 𝑜𝑢 𝑉𝐶 + 𝛽7𝑇𝑎𝑚𝑎ℎ𝑜 𝑑𝑜 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜)

A variável dependente é uma dummy que assume valor 1 se houve saída no ano X, ou

0, caso contrário. Como os dados foram coletados até 31 de março de 2015, foram

considerados como censuradas todas as observações que não apresentaram saída.

A taxa de saída varia conforme o holding period, e se modela essa relação por uma

abordagem não paramétrica. Espera-se que essa relação seja crescente com o tempo de

permanência, pois quanto maior o tempo de investimento, maior a pressão para sair do

investimento.

Além da dummy de mercado aquecido, foram adotadas as seguintes variáveis de controle

como PE, variável dummy que assume valor 1 se o deal é de PE ou 0 se for VC, com o objetivo

de controlar uma eventual diferença de liquidez de investimentos menores e com maior

perfil de risco (VC) relativamente a investimentos maiores, menor risco e com maior

frequência de controle acionário (PE) na saída das duas modalidades. Para a definição de VC

ou PE na amostra, foram considerados investimentos de VC aqueles nos quais as empresas

ainda não tinham atingido o breakeven. A variável de experiência EXPER expressa a

quantidade de meses de fundação da firma de PE e VC até o momento da saída ou do corte

final do estudo nos casos em que a saída ainda não aconteceu, controlando a experiência da

firma e o efeito potencial de redução de Holding Period por competência em acelerar IPOs

(Schmidt, 2004; Stromberg, 2008; Gompers et al., 2008) ou por conflito de interesse de

grandstanding (Gompers, 1996). Para controlar diferença de contexto, tamanho e tipo de

investimento, se inclui a variável dummy de controle que assume o valor 1 se o fundo detinha

igual ou superior a 50% da companhia e valor 0 caso a participação no capital da empresa

fosse menor do que 50%.De forma semelhante, TAMANHO expressa o tamanho do

investimento em reais para se observar efeito da diferença da liquidez em termos do tamanho

do investimento (Rappaport, 1990; Ljungqvist e Richardson, 2003; Stromberg, 2008).

Page 27: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

27

5. RESULTADOS

Como há muitos missing values na base de dados, se optou por alternar as variáveis de

controle utilizadas em cada modelo, resultando em seis modelos hazard semiparamétricos

proporcional de cox. A tabela 2, resume os diferentes modelos e os resultados encontrados.

Todos os modelos se mostraram válidos no teste da premissa de hazard proporcional. Os

coeficientes da tabela estão expressos em termos da taxa de hazard, ou no caso, taxa de saída.

Os resultados apontam evidências de que em momentos de mercado aquecido, os

gestores antecipam a saída dos investimentos encurtando o Holding Period. Nos seis modelos

(I a VI), o coeficiente de HOTMARKET é significativo a 1% e superior a 1, indicando que o

aquecimento do mercado impactou positivamente a taxa de saída.

A variável CONTROLE se mostrou estatisticamente significativa a 5% de nível de

confiança no modelo I e estatisticamente não relevante no modelo III. Em ambos modelos seu

coeficiente foi menor do que 1, apontando relação negativa com a probabilidade de saída. No

modelo 1, o coeficiente de 0,69 indica que em investimentos com controle acionário a

probabilidade de saída é menor do que quando não há controle acionário.

Com relação ao tipo de investimento, PE se mostrou significativo a 1% de nível de

confiança no modelo IV, no qual é testado apenas junto a variável HOTMARKET, mas

estatisticamente não relevante no modelo I, com todas as variáveis de controle. O coeficiente

superior a 1 em ambos modelos aponta para uma relação positiva com a probabilidade de

saída. O modelo IV indica que em investimentos de PE a taxa de saída é maior que em

investimentos de VC.

As variáveis EXPER e TAMANHO não foram estatisticamente relevantes e não

apresentaram, portanto, impacto significativo na taxa de saída. Já as variáveis HOTMARKET,

CONTROLE e TAMANHO aumentam a tendência de se encerrar um ciclo antecipadamente, ou

seja, em diminuir o holding period.

Page 28: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

28

TABELA 2 – EFEITO DO HOT MARKET NA TAXA DE SAÍDA DE INVESTIMENTOS DE PE

MODELOS I II III IV V VI

HOTMARKET 2,900914*** 4,253304*** 2,663246*** 4,102378*** 2,950090*** 4,147979***

(0,562271) (0,740431) (0,429941) (0,634475) (0,500619) (0,642169)

EXPER 0,986422 1,001619

(0,012034) (0,010173)

CONTROLE 0,688754** 0,828842

(0,128510) (0,126313)

PE 1,166056 1,469524***

(0,242294) (0,212432)

TAMANHO 0,999673 0,999298

(0,000796) (0,000676)

Núm. de observações 338 623 450 711 432 717

LR 30,49 61,44 32,54 71,31 36,47 64,85

Log Likelihood -744,48707 -1096,2023 -1026,1145 -1241,3458 -948,67151 -1247,0124

Recuperando o Hazard básico e comparando taxas de saída para holding periods

análogos, é possível notar na figura 4 que quanto maior o holding period, maior é a taxa de

saída, tanto para mercado aquecido quanto para momentos de mercado não aquecido. No

entanto, corroborando com a hipótese desse estudo, o efeito de mercado aquecido é

significativo, podendo aumentar a taxa de saída em até quatro vezes, conforme o gráfico no

ponto de 150 meses de holding period. Tal efeito é enaltecido maior para holding periods

superiores (avançando no eixo horizontal), ou seja, deals de até 25 meses tem de saídas

menores e períodos de aquecimento aumentam a taxa de saída em apenas 2 vezes,

aproximadamente.

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29

Figura 4. Estimativas suavizadas do hazard básico. Fonte: Stata.

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30

6. CONCLUSÃO

Os resultados do estudo corroboram com a hipótese de que em momentos de

aquecimento de mercado, conforme previsto, gestores antecipam suas saídas. Não apenas a

significância estatística dos resultados é relevante, mas principalmente o grau do efeito no

aumento da probabilidade de saída em mercados aquecidos, próximo a dobrá-la ou até

quadrupicá-la, em função do período em que o investimento está na carteira. O efeito do

mercado aquecido é mais intenso para deals que estão há mais tempo na carteira, em média.

Tal conclusão está em linha com a natureza de Private Equity & Venture Capital da

visão de Shock Therapy de Rappaport (1990), como em Cao (2010), tanto pelo efeito de

HOTMARKET quanto EXPER, ainda que os resultados encontrados não tenham permitido

maiores contribuições quanto ao detalhamento das relações de outras variáveis com o holding

period e mercado aquecido.

Seria rico ao estudo proposto poder aumentar a base da amostra capturando nos

próximos anos os efeitos de safras mais recentes de fundos e idealmente com dados dos

fundamentos do investimento, como geração de valor, arbitragem de múltiplo e ganhos de

estrutura de capital, para se ter um maior controle do efeito de mercado aquecido.

Independente de quaisquer limitações do estudo, é possível afirmar que Private Equity

e Venture Capital no Brasil dependem significativamente de ciclos de mercado aquecidos no

país, que são por sua vez concentrados em poucos períodos na histórica do mercado brasileiro

até aqui e exercem, portanto, um grande peso sobre a indústria, no que tange o

comportamento do gestor.

Page 31: Dissertação MPA Insper - Piero Rosatelli - 2016

31

7. BIBLIOGRAFIA

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