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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS A FORMAÇÃO SERRA DO APERTADO (EOCAMBRIANO, RS) E SEU CONTEXTO TECTÔNICO NA EVOLUÇÃO DO RIFT GUARITAS Lucas Padoan de Sá Godinho Orientador: Prof. Dr. Renato Paes de Almeida DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica SÃO PAULO 2012 (Versão corrigida)

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

A FORMAÇÃO SERRA DO APERTADO (EOCAMBRIANO, RS) E SEU CONTEXTO TECTÔNICO NA EVOLUÇÃO DO RIFT

GUARITAS

Lucas Padoan de Sá Godinho

Orientador: Prof. Dr. Renato Paes de Almeida

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica

SÃO PAULO

2012

(Versão corrigida)

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I

RESUMO

O Supergrupo Camaquã constitui uma bacia sedimentar do tipo rifte, localizada na região centro-sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, cuja deposição ocorreu entre o Ediacarano e o Eocambriano. Em sua unidade sedimentar mais recente, o Grupo Guaritas, que reúne depósitos fluviais, eólicos e de leques aluviais, foi descoberta recentemente uma nova Formação, denominada Serra do Apertado, que até então não possuía estudos detalhados de fácies e arquitetura deposicional. O início dos estudos a respeito do Grupo Guaritas remonta ao início do século XX, após a descoberta de ocorrências de cobre na região, no entanto são escassas na literatura as informações sobre proveniência sedimentar dessa unidade.

O presente estudo se empenhou em aplicar os métodos da análise de fácies e análise de elementos arquitetônicos nos depósitos da Formação Serra do Apertado e Pedra Pintada superior, a fim de interpretar o paleoambiente deposicional dessas unidades e estabelecer critérios descritivos de distinção para a primeira. Também foi aplicado o método da análise de proveniência macroscópica em depósitos conglomeráticos do Grupo Guaritas, a fim de estudar suas variações composicionais ao longo do tempo e do espaço. Verificou-se que na Formação Serra do Apertado ocorre apenas um tipo de elemento arquitetônico, denominado EL – enchentes em lençóis, que possui geometria tabular, espessura que varia entre 2 a 3 m, continuidade lateral de dezenas de metros e associações de fácies que indicam ciclos de aumento e diminuição de vazão, cujo ambiente de deposição foi interpretado como fluvial efêmero. A Formação Pedra Pintada superior apresenta os elementos DB – dunas barcanóides, e IF – interdunas fluviais, que ocorrem intercalados, ambos apresentando espessura de dezenas de metros e continuidade lateral de centenas de metros, sendo interpretados como ambiente de campos de dunas eólicas com interdunas.

A análise de proveniência mostrou que no Grupo Guaritas existem depósitos com áreas fonte distais, situadas a norte da bacia, que estão associados a um sistema fluvial longitudinal ao eixo maior da bacia, e depósitos com áreas fonte mais proximais, situadas principalmente a leste, que estão associados a sistemas fluviais transversais e de leques aluviais. A comparação dos dados de composição dos seixos entre as unidades do Grupo Guaritas mostrou que, da base para o topo da sucessão, o sistema fluvial transversal da borda leste da bacia passa de áreas fonte mais distais para mais proximais, caracterizando uma diminuição da área de captação dos rios sentido a jusante, o que foi interpretado como uma reativação da falha de borda ao tempo da deposição das Formações Varzinha e Pedra Pintada. Ao longo da estratigrafia da Formação Serra do Apertado o conjunto de seixos quartzosos varia de forma inversamente proporcional ao conjunto de seixos não quartzosos. Como não foi verificado um controle da distância da área fonte nesse tipo de variação, e como o principal fator que a comanda é a composição dos seixos, foi interpretado que isso se

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deve a variações climáticas, onde climas mais áridos correspondem ao predomínio de seixos não quartzosos nos depósitos, e climas mais úmidos ao predomínio de seixos quartzosos.

Palavras-chave: Grupo Guaritas, Formação Serra do Apertado, Formação Pedra Pintada, análise de fácies, elementos arquitetônicos, proveniência sedimentar.

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III

ABSTRACT

The Camaquã Supergroup constitutes a rift stile sedimentary basin, located in the central-south region of Rio Grande do Sul state, Brazil, which deposition occured between the Ediacaran and the Eocambrian. In it´s younger unit, the Guaritas Group, composed of fluvial, eolian and aluvial fan deposits, a new Formation was recently discovered, named Serra do Apertado, which until then hadn´t detailed studies about facies analyses and architectural elements. The initial studies about the Guaritas Group go back to the beginning of the 20th century, after the discovery of copper occurences in that region, but references about sedimentary provenance of this unit are scarce in the literature.

The present study was engaged on applying the facies and architectural elements analysis methods in the Serra do Apertado and superior Pedra Pintada Formations, in order to interpret the depositional palaeoenvironment of those units and establish descriptive distinction criteria to the first one. The method of macroscopic provenance analysis was also applied in conglomeratic deposits of the Guaritas Group, in order to study it´s compositional variations through time and space. Was verified that in the Serra do Apertado Formation occurs only one type of architectural element, named EL – sheet floods, which have tabular geometry, thickness varying between 2 and 3 m, lateral continuity of dozens of meters and facies associations that indicates cicles of raising and waning flow, which depositional environment was interpreted as efemeral rivers. The superior Pedra Pintada Formation presents the elements DB – barcanoid dunes, and IF – fluvial interdunes, that occurs intercalated, both presenting thickness of dozens of meters and lateral continuity of hundreds of meters, being interpreted as aeolian dune fields with interdunes.

The provenance analysis shown that in the Guaritas Group exists deposits with distal source areas to the north of the basin, that are associated with a fluvial system paralel to the longest basin axis, and deposits with more proximal sources mainly to the east, that are associated with transversal fluvial systems and aluvial fans. The comparison of pebble compositional data between the Guaritas Group units shown that, from the base to the top of the succession, the basin´s east border transversal fluvial system passes from more distal source areas to more proximal, characterizing a downstream diminution on the river´s catchment area, that was interpretated as a reactivation of the border fault by the time of the deposition of the Varzinha and Pedra Pintada Formations. Along the stratigrafy of the Serra do Apertado Formation, the group of quartzose pebbles varies in an inversely proportional way in relation to the non quartzose pebble group. As it wasn´t verified a source area distance control in this kind of variation, and as the main factor that comands it is the pebble´s composition, it was interpreted that this is due to climatic variations, where more arid climates correspond to

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the prevalence of non quartzose pebbles in the deposits, and more humid climates to the prevalence of quartzose pebbles.

Key-words: Guaritas Group, Serra do Apertado Formation, Pedra Pintada Formation, facies analysis, architectural elements, sedimentary provenance.

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V

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente aos meus pais e à minha família, pelo apoio e carinho durante toda a evolução deste trabalho. Ao professor Dr. Renato Paes de Almeida presto meus sinceros agradecimentos, por todos os ensinamentos, orientação atenciosa, paciência e conselhos que me ajudaram e foram fundamentais para a realização deste trabalho.

A todos os meus companheiros de campo muito obrigado pela ajuda e apoio, em especial aos geólogos Maurício Guerreiro Martinho dos Santos e André Marconato que contribuíram muito para a realização desta dissertação, não somente em campo, mas também através das discussões, ensinamentos e opiniões.

Aos meus companheiros de sala, Nicolás Misailidis Strikis, Bruno Lagler, Marcos Saito de Paula e Stephano Pessini Alberto da Silva, obrigado pelo apoio e amizade que sempre ajudaram a tornar o trabalho do dia-a-dia mais agradável. Agradeço também ao biólogo Pedro Strikis pelos auxílios com softwares de tratamento estatístico de dados.

Gostaria de agradecer à minha namorada, Carla Hachul Burattini, e aos amigos que me apoiaram durante todo o tempo, em especial os ex- e atuais moradores e frequentadores da república Astenosfera. Agradeço ao meu irmão Caio, pelo incentivo à leitura a cerca da filosofia da ciência, que ajudou muito durante a redação desta dissertação e na construção lógica das interpretações.

Agradeço a todos os professores que ministraram as disciplinas da pós-graduação que cursei, em especial o professor Dr. André Oliveira Sawakushi, cujas aulas ajudaram a esclarecer muitas questões a respeito do método estatístico.

Agradeço também aos funcionários da biblioteca, seção de apoio acadêmico, pós-graduação e gráfica pela ajuda e esclarecimentos.

À Dona Maria, das Minas do Camaquã, ao Seu Lauro, da Serra do Apertado e ao pessoal da Associação dos Moradores das Guaritas, agradeço pela imensa hospitalidade e carinho que foram muito importantes durante os trabalhos de campo.

Agradeço também aos amigos e Bruno Daniel Lenhare e Nicolás Misailidis Strikis pela confiança e apoio com as indicações para trabalhos, que me ajudaram muito financeiramente durante a etapa de conclusão desta dissertação.

Agradeço finalmente à FAPESP (processos 2009/53362-1, 2010/51103-6 e

2010/50902-2) e ao CNPq (processo 305218/2009-3) pelo apoio na forma de

financiamento e bolsas.

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VI

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 1 2. GEOLOGIA REGIONAL 3

2.1 Província Mantiqueira 3 2.2 Supergrupo Camaquã 5

2.2.1 Síntese sobre o Grupo Guaritas 7 3. MÉTODOS 10

3.1 Análise de fácies 10 3.2 Análise de elementos arquitetônicos 10 3.3 Análise de proveniência macroscópica 11 3.4 Análise estatística dos dados de proveniência 12

4. FÁCIES SEDIMENTARES E ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS 13 5. ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA SEDIMENTAR 14 6. DISCUSSÃO 15 7. CONCLUSÕES 17 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 19 ANEXOS 25 ANEXO 1 26

INTRODUÇÃO 28 MÉTODOS 30 CONTEXTO GEOLÓGICO 31

EVOLUÇÃO DAS PROPOSTAS DE NOMENCLATURA 34 ESTRATIGRÁFICA PARA O GRUPO GUARITAS

Formação Guarda Velha 34 Formação Varzinha 36 Formação Pedra das Torrinhas 37

Formação Pedra Pintada 37

Formação Serra do Apertado 39

FÁCIES SEDIMENTARES 43 ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS 47

Formação Serra do Apertado 47 Formação Pedra Pintada superior 52

SUPERFÍCIE LIMITANTE REGIONAL 56 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 59

ANEXO 2 65 INTRODUÇÃO 67 MÉTODOS 68

Análise de proveniência macroscópica 68 Análise estatística dos dados de proveniência 68

GEOLOGIA REGIONAL 70 O Cinturão Dom Feliciano 72 O Cinturão Ribeira no Rio Grande do Sul 74

TRABALHOS ANTERIORES SOBRE A PROVENIÊNCIA 75 SEDIMENTAR DO GRUPO GUARITAS ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA 79

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VII

Formação Guarda Velha 80 Formação Varzinha 87 Formação Pedra Pintada 88 Formação Pedra das Torrinhas 89 Formação Serra do Apertado 89 Comparação da proveniência entre as unidades 95 do Grupo Guaritas

PALEOGEOGRAFIA E PALEOCLIMA 99 CONCLUSÕES 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107

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VIII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo 2 Figura 2: Mapa geológico da Bacia do Camaquã e entornos. 6 ANEXO 1 Figura 1: Mapa geológico esquemático do Grupo Guaritas e áreas vizinhas. 33 Figura 2: Carta estratigráfica do Grupo Guaritas 34 Figura 3: Colunas estratigráficas da Formação Serra do Apertado. 40 Figura 4: Coluna estratigráfica mostrando a Formação Pedra Pintada 41 superior e seu contato com a Formação Serra do Apertado. Figura 5: Foto da seção tipo da Formação Serra do Apertado 42 Figura 6: Arenito arcósio conglomerático 42 Figura 7: Exemplos das fácies descritas. 46 Figura 8: Elemento arquitetônico EL em afloramento da Formação 49 Serra do Apertado em sua seção tipo Figura 9: Elemento arquitetônico EL em afloramento da Formação 50 Serra do Apertado (coordenadas UTM E0283453 e N6589070) Figura 10: Elemento arquitetônico EL em afloramento da Formação 51 Serra do Apertado (coordenadas UTM E0277301 e N6585047). Figura 11: Elemento arquitetônico DB em afloramento da Formação 54 Pedra Pintada superior. Figura 12: Elementos arquitetônicos DB e IF em afloramento da 55 Formação Pedra Pintada superior. ANEXO 2 Figura 1: Mapa geológico da Bacia do Camaquã e áreas adjacentes. 71 Figura 2: Carta estratigráfica do Grupo Guaritas 72 Figura 3: Mapa de localização dos pontos de amostragem dos dados 81 para análise de proveniência macroscópica. Figura 4: Tabela de porcentagem das classes de seixos destacando 83 as proporções relativas entre cada ponto de amostragem. Figura 5: Gráficos da análise por principais componentes dos dados 85 composicionais de seixos da Formação Guarda Velha. Figura 6: Gráficos da análise por principais componentes dos dados 91 composicionais de seixos da Formação Serra do Apertado. Figura 7: Mapa da distribuição das paleocorrentes da Formação 92 Serra do Apertado. Figura 8: Mapa de pontos da seção geológica A – A´. 93 Figura 9: Seção geológica A – A´ e gráfico de porcentagem de seixos 94 por sítios de amostragem na Formação Serra do Apertado. Figura 10: Gráficos de da análise por principais componentes dos dados 96 composicionais de seixos de todo o Grupo Guaritas. Figura 11: Modelo de evolução paleogeográfica da borda leste da bacia 101 do Grupo Guaritas.

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IX

ÍNDICE DE TABELAS

ANEXO 2

Tabela 1: Tabela de porcentagem das classes de seixos presentes 82 em cada ponto de amostragem.

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X

ANEXOS

ANEXO 1: Artigo – GODINHO, L. P. S.; ALMEIDA, R. P.; 26 SANTOS, M. G. M.; MARCONATO, A.; FRAGOSO-CESAR, A. R. S. Fácies Sedimentares e Elementos Arquitetônicos das Formações Serra do Apertado e Pedra Pintada na Região das Minas do Camaquã – RS. ANEXO 2: Artigo – GODINHO, L. P. S.; ALMEIDA, R. P.; 65 MARCONATO, A.; SANTOS, M. G. M.; FRAGOSO-CESAR, A. R. S. Análise de proveniência em arenitos conglomeráticos do Grupo Guaritas (RS) e suas implicações para o paleoclima e a paleogeografia da sub-bacia Camaquã Central no Eocambriano.

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1. INTRODUÇÃO

Dentre os diversos processos que comandam a sedimentação, muitos são regidos

pelas variações climáticas e tectônicas de um determinado ambiente, o que torna as

rochas sedimentares importantes registros de eventos passados dessa natureza (Reading

e Level, 1986). Para que se possam interpretar esses registros é importante conhecer

tanto a dinâmica dos processos inerentes a cada tipo de sistema deposicional como

também o contexto geológico no qual se insere uma bacia sedimentar. Os estudos

detalhados das fácies sedimentares, associações de fácies, elementos arquitetônicos e

proveniência sedimentar são importantes ferramentas que podem auxiliar na

interpretação dos paleoambientes deposicionais e suas relações com os agentes

controladores dos processos sedimentares, como tectônica e clima (e.g. Walker e James,

1992; Miall, 1996; Reading e Level, 1986; Graham et al., 1986; Dürr, 1996; Jones,

2000).

A área do presente estudo está inserida no Supergrupo Camaquã, uma unidade

sedimentar na região centro-sul do estado do Rio Grande do Sul, formada em ambiente

tectônico do tipo rift e com idade entre o Ediacarano e o Eocambriano (Fragoso-Cesar et

al., 2000; Almeida et al., 2009). O Grupo Guaritas é a unidade mais recente dentro do

Supergrupo Camaquã e constitui o objeto principal do presente estudo, sendo composto

por rochas sedimentares continentais (Ribeiro et al., 1966; Robertson, 1966), pouco

afetadas por metamorfismo, interpretadas como de ambientes aluviais, lacustres e

eólicos (Paim, 1994; Almeida, 2005).

A estratigrafia do Grupo Guaritas ainda é uma questão controversa entre

diversos autores que a estudaram (e.g. Fambrini, 1998). Recentemente foi descoberta

uma nova unidade interna ao Grupo Guaritas, denominada Formação Serra do Apertado

(sensu Almeida, 2005), que constitui o topo da sucessão da bacia. No entanto não foram

realizados estudos detalhados de fácies e até então essa unidade era considerada muito

semelhante aos depósitos da Formação Guarda Velha, por sua vez situada na base da

sucessão, gerando novas dúvidas a respeito do empilhamento estratigráfico.

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Estudos acerca da proveniência sedimentar são escassos na literatura referente

ao Grupo Guaritas, sendo esse um campo fértil para novas descobertas acerca da

tectônica e clima durante a evolução de sua bacia sedimentar.

Dentre os principais objetivos desta pesquisa estão:

1 – Caracterizar os depósitos e o paleoambiente de formação da unidade mais

recente do Grupo Guaritas, denominada Formação Serra do Apertado, através das

análises de fácies, paleocorrentes e de elementos arqueitetônicos;

2 – Testar a hipótese preliminar de que as Formações Guarda Velha e Serra do

Apertado podem ser diferenciadas, através dos métodos da análise de fácies, análise de

elementos arquitetônicos e análise de proveniência sedimentar;

3 – Realizar estudos de proveniência sedimentar a fim de comparar as

características composicionais das unidades do Grupo Guaritas, tanto em suas variações

verticais como laterais.

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo, na região centro sul do estado do Rio Grande do Sul,

próximo à vila das Minas do Camaquã.

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3

2. GEOLOGIA REGIONAL

Será apresentada nesta seção uma breve revisão de trabalhos sobre o contexto

geológico regional no qual se insere a Bacia do Camaquã, situada no estado do Rio

Grande do Sul, assim como da estratigrafia, do paleoclima e da evolução tectônica de

sua unidade mais jovem e estratigraficamente superior, o Grupo Guaritas, que constitui

o objeto da presente dissertação. Para as revisões bibliográficas mais detalhadas acerca

da geologia local, consultar os Anexos 1 e 2.

2.1 Província Mantiqueira

A Província Mantiqueira se estende desde o sul do estado da Bahia até o Rio

Grande do Sul e Uruguai, constituindo uma faixa de dobramentos contínua de idade

meso- a neo-proterozoica (Almeida; Hasui, 1984). Ela é constituída por faixas de

dobramentos supracrustais brasilianos, núcleos cratônicos, maciços gnáissicos e

migmatíticos e intrusões graníticas sin- a pós-orogênicas.

Na Província Mantiqueira ocorrem bacias sedimentares com depósitos clásticos

e idade entre o Neoproterozoico tardio e o Eopaleozóico, que apresentam rochas

vulcânicas andesíticas e riolíticas (Hasui et al., 1975; Jost; Hartman, 1984). Essas bacias

se caracterizam por apresentar uma área geográfica pequena e uma espessura de

preenchimento deposicional muito grande. Dentre elas, pode-se citar alguns exemplos

como as Bacias de: Castro, Camarinha, Guaratubinha, Campo Alegre, Corupá, Itajaí,

Camaquã, Barriga Negra, Piriápolis, San Carlos e Cerros de Aguirre (Almeida et al.,

2009).

Originalmente a Província Mantiqueira foi subdividida por Hasui et al. (1975)

em dois setores, setentrional, desde o sul do estado da Bahia até o Rio de Janeiro, e

meridional, desde o sul do estado de São Paulo até o Uruguai, ambos conectados por

uma grande zona de estrutura complexa, entre as regiões leste de São Paulo e Rio de

Janeiro, onde foram reconhecidas diversas falhas com deslocamento transcorrente

dextral, como as falhas Taxaquara, Caucaia, Jundiuvira, Itu, Cubatão, Freires e Piraí,

entre outras.

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O setor Meridional da Província Mantiqueira abrange as regiões entre os estados

do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e possui uma compartimentação

estrutural mais complexa que o setor Setentrional, além de apresentar porções

recobertas por depósitos paleozóicos da Bacia do Paraná. De acordo com Hasui et al.

(1975) o Cinturão Ribeira no setor Meridional é subdividido em Sistema de

Dobramentos Apiaí, Maciço Mediano Joinvile, Sistema de Dobramentos Tijucas,

Maciço Mediano Pelotas e Sistema de Dobramentos do Leste do Uruguai.

Ribeiro e Fantinel (1978), que realizaram um dos trabalhos pioneiros nas

tentativas de subdivisão do embasamento do Rio Grande do Sul, reconheceram três

principais associações petrotectônicas, as Zonas Leste e Oeste, caracterizadas por faixas

de dobramentos distintas, e a Zona Central, constituída por espessos depósitos

sedimentares molássicos, naquela época definidos como Formação Guaritas, na região

de Caçapava do Sul.

Segundo Fragoso-Cesar (1991) o Escudo Gaúcho, referindo-se ao escudo que

aflora no RS e Uruguai, possui duas faixas móveis distintas, que se dispõe

paralelamente e se orientam segundo a direção NE-SW, sendo elas o Cinturão Ribeira, a

oeste, e o Cinturão Dom Feliciano, a leste. Entre as duas faixas móveis ocorrem rochas

de idade pré-brasiliana que, em parte, constituem o Cráton Rio de La Plata, sendo

divididas nos blocos Florida e Luis Alves, que correspondem a núcleos mais antigos e

pouco afetados pelo ciclo Brasiliano, e Taquarembó e São Gabriel, que por sua vez

apresentam influências mais fortes da instalação do Cinturão Ribeira.

Fragoso-Cesar (1991) propõe que as orogêneses dos Cinturões Ribeira e Dom

Feliciano deram-se pelo fechamento de dois oceanos distintos, adjacentes ao paleo-

continente Rio de La Plata, durante a orogenia Brasiliana/ Pan-Africana. O Oceano

Charrua, a oeste, esteve relacionado com a formação do Cinturão Ribeira, enquanto o

Oceano Adamastor, a leste, com o Cinturão Dom Feliciano. As Bacias Camaquã (RS),

Itajaí (SC) e Barriga Negra (Uruguai) seriam antefossas do Cinturão Dom Feliciano,

preenchidas por depósitos molássicos.

Com o desenvolvimento de novas pesquisas, tendo como foco os depósitos

sedimentares da Bacia do Camaquã, e utilização de métodos como análise de

proveniência, análise de estruturas rúpteis e relações de contato com rochas do

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embasamento, Fragoso-Cesar et al. (2003) elaboram um novo modelo para o ambiente

tectônico de deposição dessa bacia, no qual movimentos distensivos seriam os

principais atuantes na sua formação. Propõe então que a Bacia do Camaquã constitui um

sistema de rift anorogênico, de direção NNE-SSW e idade entre o Neoproterozoico

tardio e o Eopaleozóico.

Uma revisão detalhada sobre a evolução do conhecimento no Escudo Gaúcho

está contida em Fambrini (1998).

2.2 Supergrupo Camaquã

As primeiras pesquisas no Supergrupo Camaquã foram direcionadas pelo

interesse em ocorrências de cobre, descobertas ao final do séc. XIX, quando foram

realizados os primeiros trabalhos que caracterizaram a geologia das folhas Caçapava e

Lavras em escala regional. Durante o início até meados do séc. XX, essas ocorrências

passaram a ser exploradas como jazidas, a exemplo da Mina do Seival, explorada até o

seu esgotamento, e das Minas do Camaquã, que constitui a maior ocorrência de cobre

da região, encontrando-se atualmente desativadas (Robertson, 1966; Ribeiro et al.,

1966).

Segundo Almeida et al. (2009) o Supergrupo Camaquã é a unidade estratigráfica

que compreende todos os depósitos da Bacia do Camaquã, que caracteriza-se como uma

bacia do tipo rift , localizada na região centro-sul do estado do Rio Grande do Sul, com

área aflorante de 3.200 km2 (Figura 1). Os depósitos da bacia possuem mais de 10.000

m de espessura e podem apresentar deformações, como dobras e falhas, mas sempre

preservam plenamente suas estruturas sedimentares. A idade de sua deposição está

situada entre o Ediacarano e o Eocambriano.

A Bacia do Camaquã possui formato alongado, com eixo maior orientado

segundo NNE-SSW, que coincide com a orientação das zonas de falhas que delimitam

os seus flancos, e é dividida em três sub-bacias: Camaquã Ocidental, Camaquã Central e

Camaquã Oriental. O limite entre as sub-bacias é dado pelos altos estruturais de

Caçapava do Sul, situado a oeste da sub-bacia Camaquã Central, e da Serra das

Encantadas, a leste da mesma (Almeida, 2005).

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A estratigrafia do Supergrupo Camaquã é dividida em cinco unidades principais

que são separadas por discordâncias regionais, sendo elas, da mais antiga para a mais

recente: Grupo Maricá, Grupo Bom Jardim, Formação Acampamento Velho, Grupo

Santa Bárbara e Grupo Guaritas (e.g. Fragoso-Cesar et al. 2003; Almeida, 2005;

Janikian et al. 2008).

Figura 2: Mapa geológico da Bacia do Camaquã e entornos. Extraído de Almeida (2005).

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O Grupo Maricá é a unidade basal do Supergrupo Camaquã, sobrepondo as

rochas metamórficas do embasamento, pertencentes ao Grupo Porongos. Apresenta

arenitos feldspáticos com seixos e estratificação cruzada, interpretados como de

ambiente fluvial, e arenito fino, folhelho e siltito, interpretados como ambiente de mar

raso continental (Robertson, 1966; Fragoso-Cesar et al., 2000).

O Grupo Bom Jardim possui depósitos siliciclásticos com diferentes fácies de

ambiente lacustre e aluvial, intercalados com rochas vulcânicas e vulcanoclásticas

datadas entre aproximadamente 595 e 580 Ma (Janikian et al., 2008). A Formação

Acampamento Velho é constituída apenas por rochas vulcânicas e vulcanoclásticas,

ácidas e básicas, de ambiente subaéreo, datada pelo método U-Pb em zircão, extraído de

riolito, em 573±18 Ma (Janikian et al., 2008).

O Grupo Santa Bárbara é composto por ritmitos, com intercalação de arenitos

finos a médios e siltitos, e pacotes de conglomerados e arenitos. As rochas dessa

unidade apresentam ângulos de mergulho acentuados, devido a basculamento tectônico.

São interpretados como depósitos de leques aluviais e planícies aluviais (e.g. Almeida,

2005), com interpretações alternativas de sistemas costeiros localizados (e.g. Fambrini

et al., 2005).

O Grupo Guaritas, como já foi citado anteriormente, é o objeto do presente

estudo e sua descrição e síntese serão detalhadas no subitem 2.2.1, a seguir, e nos

Anexos 1 e 2.

2.2.1 Síntese sobre o Grupo Guaritas

O Grupo Guaritas é a unidade de topo do Supergrupo Camaquã, ocorrendo

sobreposto aos depósitos do Grupo Santa Bárbara, e é composto por arenitos

conglomeráticos e ritmitos psamo-pelíticos de depósitos aluviais e arenitos finos a

médios com estratificação cruzada de grande porte atribuídos a depósitos eólicos. Os

arenitos são predominantes no Grupo Guaritas, representando cerca de 80% dos

depósitos dessa unidade, e são classificados como arcósios e arcósios líticos, ambos de

caráter imaturo (Paim, 1995; Almeida et al., 2009).

O Grupo Guaritas aflora em uma área de aproximadamente 150 km por 50 km,

possuindo forma alongada e eixo principal orientado segundo NNE-SSW. Sua espessura

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é de aproximadamente 1.500 m (Almeida et al., 2009). É delimitado em sua borda leste

pela zona de falhas da Serra das Encantadas e em sua borda oeste pela zona de falhas do

Alto Estrutural de Caçapava do Sul, onde se localiza a serra homônima. Seus limites

atuais preservam, de maneira aproximada, a geometria das ombreiras da bacia tipo rift

(Almeida, 2005).

O contato entre a base do Grupo Guaritas e o Grupo Santa Bárbara sotoposto é

marcado por uma discordância angular, que indica o fim de um ciclo de subsidência da

bacia, seguido de exposição subaérea e início de uma nova fase de subsidência. Dessa

forma, a evolução do Grupo Guaritas é caracterizada por um último ciclo de subsidência

dentro do Supergrupo Camaquã, marcado por uma tectônica distensional que gerou um

rifteamento perene (Fragoso-Cesar et al., 2003; Almeida et al., 2009).

As deformações que afetam as rochas do Grupo Guaritas, ao contrário do que

ocorre com sua unidade sotoposta e intensamente basculada, o Grupo Santa Bárbara,

ocorrem de forma sutil, como ondulações abertas de baixa amplitude que se estendem

por alguns quilômetros, mas ocorrem importantes zonas de falhamentos com expressivo

rejeito vertical, como a Falha Tapera-Emiliano (Almeida, 2005).

De Ros, Morad e Paim (1994) caracterizam as condições paleoclimáticas para o

Grupo Guaritas como semi-áridas de ambiente continental, com base no estudo da

paragênese de minerais diagenéticos nos arenitos.

Desde o primeiro trabalho onde consta a descrição das rochas do Grupo

Guaritas, realizado por Robertson (1966), que naquele tempo utilizou a denominação de

Formação Guaritas, diversas propostas distintas para a estratigrafia dessa unidade foram

realizadas. Segundo Paim (1994) e Almeida (2005) essa não concordância entre

diferentes autores sobre a estratigrafia do Grupo Guaritas deve-se, principalmente, a: (i)

fácies muito semelhantes que se repetem tanto verticalmente como lateralmente, (ii)

presença de diversas zonas de falhas que, por vezes, justapõe fácies semelhantes de

níveis estratigráficos distintos, (iii) ausência de registros fósseis na bacia e (iv)

mapeamentos realizados em áreas e escalas diferentes.

Paim (1994) propõe uma subdivisão aloestratigráfica para a Bacia do Camaquã

em detrimento das subdivisões litoestratigráficas propostas anteriormente e cunha o

temo Alogrupo Guaritas. Essa subdivisão tem como base a identificação de superfícies

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9

limitantes por inconformidades que marcam hiatos na deposição. Posteriormente

Almeida (2005) faz uma nova revisão da estratigrafia do Grupo Guaritas com base em

um mapeamento de escala detalhada, reconhecendo zonas de falhas e superfícies de

inconformidade. Segundo Almeida (2005) e Almeida et al., (2009) o Grupo Guaritas é

subdividido em cinco unidades, sendo elas, da mais antiga para a mais nova, as

formações: Guarda Velha (depósitos aluviais efêmeros), Varzinha (depósitos flúvio-

lacustres efêmeros), Pedra Pintada (depósitos eólicos com influência de interdunas),

Pedra das Torrinhas (leques aluviais) e Serra do Apertado (depósitos aluviais efêmeros).

No Grupo Guaritas também há registros de um magmatismo alcalino básico a

intermediário, denominado Suíte Intrusiva Rodeio Velho, que se encontra encaixado nas

Formações Varzinha e Pedra Pintada. Sua datação pelo método 40Ar-39Ar apresenta

idade de 535,2 ± 1,1 Ma e também é utilizada como idade dos depósitos encaixantes,

por indícios de que o sedimento esteve inconsolidado durante o evento intrusivo (Lopes

et al., 1999; Almeida, 2005).

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10

3. MÉTODOS

3.1 Análise de fácies

Através da análise de fácies é possível descrever um determinado depósito

sedimentar e levantar interpretações acerca dos processos e ambiente no qual ele se

originou. A metodologia utilizada se baseia nas propostas apresentadas por Reading

(1986), Walker (1992) e Miall (2000).

Uma fácies sedimentar constitui um corpo de rocha com características

litológicas e fossilíferas próprias que a distinguem, como granulometria, estruturas

sedimentares, acamamento, fósseis e composição mineral. Cada fácies representa um

evento de deposição particular, mas, se analisada individualmente, pode gerar

interpretações ambíguas quanto ao paleoambiente. Um conjunto de fácies vizinhas, que

supostamente ocorrem em um mesmo ambiente sedimentar e estão relacionadas

geneticamente, podem ser agrupadas em uma associação de fácies, permitindo assim

analisar um contexto maior e realizar interpretações mais seguras (Reading, 1986;

Walker, 1992; Miall, 2000).

Um modelo de fácies nada mais é do que uma síntese sobre um tipo de ambiente

deposicional, realizada a partir da comparação entre depósitos recentes e antigos,

embasada em diversos exemplos de locais distintos, que busca compreender os

processos que determinam suas sucessões de fácies e geometria (Walker, 1992).

3.2 Análise de elementos arquitetônicos

Elementos arquitetônicos são associações de fácies com geometrias internas e

externas, litotipos, superfícies limitantes e padrões de paleocorrente bem definidos e que

possuem escala maior que uma fácies individual e menor que um preenchimento de

canal (Miall, 1985, 1996, 2000).

Uma das maiores inovações que esse método trouxe, comparado com os

tradicionais levantamentos de colunas estratigráficas, é a possibilidade de visualizar a

geometria e superfícies limitantes dos depósitos em duas ou três dimensões, expandindo

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11

o leque de informações que podem ser extraídas para a interpretação de um determinado

tipo de ambiente deposicional (Miall, 1985; 1996).

O método se baseia em construir mapas da arquitetura dos depósitos a partir de

seções verticais que exponham as variações laterais, tanto da geometria como das fácies,

atitudes das camadas e paleocorrente. Isso pode ser feito no campo tanto através de

desenhos como fotomosaicos (Miall, 1996).

3.3 Análise de proveniência macroscópica

A análise de proveniência no estudo de rochas sedimentares é utilizada para

reconstituir a composição da rocha parental que serviu como fonte para o sedimento

(Weltje e Eynatten, 2004). Esse método vem sendo muito utilizado a fim de estudar o

comportamento tectônico das áreas fonte, assim como características climáticas e

geomorfológicas, constituindo uma importante ferramenta na reconstituição de

paleoambientes deposicionais (e.g. Graham et al., 1986; Dürr, 1996; Jones, 2000;

Marconato, 2010).

No presente estudo, a análise de proveniência macroscópica foi realizada através

da contagem de seixos em arenitos conglomeráticos, abundantes na área de estudo. A

metodologia utilizada baseia-se nas propostas de Dürr (1994) e Marconato (2010).

Para cada sítio de observação foram contados todos os clastos maiores que 0,5

cm, como seixos, calhaus e matacões, contidos em uma ou mais áreas retangulares,

totalizando aproximadamente 300 seixos. Apesar da proposta original de Dürr (1994)

sugerir que a contribuição de cada litotipo para o depósito seja expressa em grandeza de

volume, no presente estudo essa variável foi expressa em grandeza de área, pois os

afloramentos não permitem uma exposição tridimensional dos seixos nem sua retirada

para medição. Segundo Marconato (2010), a estimativa da contribuição dos litotipos em

área, similarmente à estimativa por volume, minimiza os possíveis erros advindos da

simples contagem de frequência, que por sua vez não considera a relação entre o

tamanho do clasto e o litotipo que representa. A estimativa por área pode ser feita

atribuindo-se um parâmetro de forma para o seixo e medindo-se seus eixos maior e

menor (Marconato, 2010).

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12

3.4 Análise estatística dos dados de proveniência

Os dados de composição de seixos foram tratados através da análise estatística

multivariada, pois esta permite facilitar a interpretação acerca dos dados quando há uma

grande quantidade de variáveis atribuídas a cada unidade de observação (Davis, 1986).

Os dados foram tratados como composicionais, ou seja, todas as variáveis de uma

mesma unidade de observação estão inter-relacionadas e a variação em uma delas

acarreta obrigatoriamente na variação das demais, sendo que a soma de todas elas é uma

dada constante, como por exemplo 100, se forem expressas em porcentagem, ou 1, se

forem expressas como partes por unidade (Pawlowsky-Glahn e Egozcue, 2006).

Uma vez que os dados composicionais não podem ser diretamente tratados

através de métodos estatísticos convencionais, devido à suas propriedades intrínsecas,

utilizou-se a transformação logarítmica (Aitchson, 1986 apud Pawlowsky-Glahn e

Egozcue, 2006) a fim de representá-los como dados independentes de vetores e que

podem ser aplicados à analise multivariada de dados. A técnica de transformação

adotada foi a razão logarítmica centrada (clr) por se aplicar melhor à análise

multivariada de dados (Pawlowsky-Glahn e Egozcue, 2006). Anteriormente ao

procedimento de transformação logarítmica acima mencionado, os valores iguais a zero,

que representam litotipos que possivelmente não ocorrem na unidade de observação ou

não foram detectados pelo método de amostragem utilizado, foram substituídos pelos

valores do mínimo erro amostral relacionado à sua ocorrência, segundo o método

introduzido por Marconato (2010).

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13

4. FÁCIES SEDIMENTARES E ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS

Os resultados da presente dissertação referentes aos estudos de análise de fácies

e análise de elementos arquitetônicos, nos depósitos das Formações Pedra Pintada

superior e Serra do Apertado, encontram-se no texto do Anexo 1.

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14

5. ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA SEDIMENTAR

Os resultados da presente dissertação referentes à análise de proveniência

sedimentar e tratamentos estatísticos dos dados composicionais, nas unidades internas

do Grupo Guaritas, encontram-se no texto do Anexo 2.

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15

6. DISCUSSÃO

Os estudos levados pela presente dissertação mostram que, ao longo da

estratigrafia da Formação Serra do Apertado, a variação na composição dos seixos está

correlacionada, em alguns casos, com a variação na arquitetura dos seus depósitos.

Foi demonstrado no Capítulo 4 que a Formação Serra do Apertado, na região da

serra homônima, apresenta apenas um tipo de elemento arquitetônico denominado EL –

enchentes em lençol, cujas características principais como espessura, geometria e

associações de fácies variam pouco, porém com algumas diferenças na frequência dos

ciclos de aumento e diminuição de vazão. Os fotomosaicos das Figuras 8 e 10 (Anexo

1), que ocorrem em áreas próximas, mostram uma menor quantidade de superfícies de

2a ordem (sensu Miall, 1996) do que no fotomosaico da Figura 9 (Anexo 1), onde a

abundância dessas superfícies evidencia uma maior frequência nos ciclos de aumento e

diminuição de vazão.

No Capítulo 5 foi demonstrado que, ao longo da estratigrafia da Formação Serra

do Apertado, ocorre uma variação na composição dos seixos e que há uma forte

correlação entre a variação do grupo de seixos quartzosos, como quartzo de veio e

quartzo milonito, e não quartzosos, como granitos, riolito e leucogranito (Figuras 6 e 7

do Anexo 2). Devido à maior susceptibilidade dos seixos não quartzosos a alterações

intempéricas, em relação aos seixos quartzosos, tais variações foram interpretadas como

fruto de mudanças climáticas, onde a maior presença de clastos quartzosos indicaria

clima mais úmido, enquanto a maior presença de clastos não quartzosos indicaria clima

mais árido.

Na seção geológica A – A´ (Figura 6 do Anexo 2) da Formação Serra do

Apertado a região que apresenta a menor proporção de seixos quartzosos, que

corresponde ao ponto SA-31, é também onde os depósitos apresentam maior frequência

de ciclos de aumento e diminuição da vazão (Figura 9 do Anexo 1). Em ambientes de

clima mais árido as rápidas enchentes tendem a desenvolver frequentes ciclos de

aumento e diminuição de vazão (Miall, 1985; Tirsgaard e Øxnevad, 1998), portanto a

associação de fácies e elementos arquitetônicos observados corroboram a interpretação

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16

de clima mais árido onde ocorre menor proporção de seixos quartzosos e maior de

seixos não quartzosos.

Mais estudos associando as análises de proveniência e de elementos

arquitetônicos nos depósitos da Formação Serra do Apertado, ou até mesmo em

depósitos de outras unidades do Grupo Guaritas, poderiam auxiliar a testar a força dessa

teoria que prevê condições climáticas relativas de acordo com a proporção de seixos

quartzosos e não quartzosos e a arquitetura dos depósitos fluviais.

Page 28: Dissertação_Versão corrigida

17

7. CONCLUSÕES

A seguir serão destacadas as principais conclusões decorrentes do presente

estudo:

A Formação Serra do Apertado na região da serra homônima é constituída por

apenas um tipo de elemento arquitetônico, denominado aqui como EL – enchentes em

lençol, cujo paleoambiente deposicional foi interpretado como fluvial efêmero. A

porção estratigraficamente superior da Formação Pedra Pintada é composta por dois

elementos arquitetônicos intercalados, denominados DB – dunas barcanóides, e IF –

interdunas fluviais, que foram interpretados como um ambiente de campos de dunas

afetados por interdunas fluviais.

A caracterização das fácies sedimentares, elementos arquitetônicos e padrões de

paleocorrente da Formação Serra do Apertado forneceram critérios de diferenciação

dessa unidade, e sua comparação com estudos anteriores de arquitetura deposicional,

fácies e paleocorrentes da Formação Guarda Velha mostraram que tais unidades

apresentam características distintas. A análise de proveniência sedimentar realizada em

ambas as unidades também mostrou características distintas para as Formações Guarda

Velha e Serra do Apertado, negando as suposições da literatura a respeito da

similaridade entre as duas (e.g. Almeida et al. 2009).

A espessura mínima da Formação Serra do Apertado foi recalculada em 695 m,

com base no levantamento de uma seção geológica ortogonal à direção do acamamento

local.

Os estudos da análise de proveniência sedimentar nos depósitos do Grupo

Guaritas, somados à comparações com estudos anteriores de paleocorrentes, mostraram

que em todas as suas unidades os depósitos da borda leste apresentam sentido de

transporte predominante para NW e áreas fonte principais situadas no Alto da Serra das

Encantadas e no Batólito Pelotas, evidenciando a existência de um mesmo sistema

fluvial transversal durante toda a história deposicional preservada da bacia do Grupo

Guaritas.

Page 29: Dissertação_Versão corrigida

18

Os depósitos das regiões oeste e central da Formação Guarda Velha e da região

central da Formação Varzinha apresentam áreas fonte mais distais, situadas a norte, com

exceção dos depósitos conglomeráticos da base da Formação Guarda Velha, que

apresentam proveniência mista de áreas fonte a leste e a norte. Na Formação Pedra das

Torrinhas, as áreas fonte são muito proximais e situam-se no Alto da Serra das

Encantadas, para os depósitos da borda leste, e no Alto de Caçapava do Sul, para os da

borda oeste. Os depósitos situados na borda leste das Formações Guarda Velha,

Varzinha, Pedra Pintada, Pedra das Torrinhas e Serra do Apertado apresentam áreas

fonte situadas a leste, no Alto da Serra das Encantadas e no Batólito Pelotas.

O estudo da variação composicional dos seixos ao longo da borda leste do Grupo

Guaritas levou à conclusão de que houve uma reativação da falha de borda leste da

bacia durante a deposição das Formações Varzinha e Pedra Pintada, evidenciada pela

passagem gradativa de seixos de áreas fonte mais distais para mais proximais, tendo

ocasionado o soerguimento do alto de embasamento adjacente e a diminuição da área de

captação do sistema fluvial da borda leste da bacia.

A variação composicional dos seixos ao longo da estratigrafia da Formação

Serra do Apertado provavelmente é um reflexo de mudanças climáticas, onde o

predomínio do grupo de seixos quartzosos no depósito indicaria condições climáticas

mais úmidas, enquanto que o predomínio do grupo de seixos não quartzosos indicaria

presença de clima mais árido.

Page 30: Dissertação_Versão corrigida

19

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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25

ANEXOS

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26

ANEXO 1

Fácies Sedimentares e Elementos Arquitetônicos das Formações Serra do Apertado e

Pedra Pintada na Região das Minas do Camaquã – RS

Sedimentary Facies and Architectural Elements of the Serra do Apertado and Pedra

Pintada Formations in the Minas do Camaquã Region – RS

Lucas Padoan de Sá Godinho1 ([email protected])

Renato Paes de Almeida2 ([email protected])

Mauricio Guerreiro Martinho dos Santos1 ([email protected])

André Marconato1 ([email protected])

Antonio Romalino Santos Fragoso-Cesar2 ([email protected])

1Programa de Geoquímica e Geotectônica – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo, Rua do Lago, no 562, CEP 05508-080, São Paulo, SP, Brasil

2Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo, Rua do Lago, no 562, CEP 05508-080, São Paulo, SP, Brasil

Número de palavas: 7674; total de figuras: 10.

Resumo

O Grupo Guaritas (Cambriano, RS) abriga depósitos de ambientes aluviais dominados por carga de fundo, aluviais de carga mista, campo de dunas eólicas e leques aluviais, constituindo um raro registro sedimentar de idade Cambriana no leste da América do Sul. Nesse contexto, sua unidade de topo, designada Formação Serra do Apertado, constitui o último registro das fases de estabilização do Gondwana no sul e sudeste do Brasil. Apesar disso, não há estudos detalhados de fácies e arquitetura deposicional publicados, e a unidade foi considerada como semelhante à Formação Guarda Velha desde sua definição original. Com base em estudos de fácies sedimentares e arquitetura deposicional da Formação Serra do Apertado e da porção superior da unidade imediatamente sotoposta, Formação Pedra Pintada, foram caracterizados seus ambientes de sedimentação e estabelecida uma base descritiva para discriminação das demais unidades do Grupo Guaritas. A Formação Serra do Apertado é caracterizada pelo elemento arquitetural EL – enchentes em lençol – no qual predominam associações de fácies que remetem a um ambiente fluvial dominado por grandes variações de vazão e esporádico retrabalhamento eólico de barras emersas. A porção superior da Formação Pedra Pintada apresenta intercalações entre os elementos

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arquitetônicos DB – dunas barcanóides – e IF – interdunas fluviais. A exclusividade do elemento EL na Formação Serra do Apertado contrasta com descrições anteriores da Formação Guarda Velha, que relatam elementos de preenchimento de canais e abundância de lentes conglomeráticas. Tais diferenças revelam maior retrabalhamento eólico na Formação Serra do Apertado e, possivelmente, fluxo mais episódico, sugerindo, de forma preliminar, clima mais árido que aquele da Formação Guarda Velha.

Palavras-chave: Grupo Guaritas, Formação Serra do Apertado, Formação Pedra Pintada, elementos arquitetônicos, paleoambiente deposicional.

Abstract

The Guaritas Group (Cambrian, Southern Brazil) encompasses sedimentary deposits of bedload or mixed load rives, eolian dune fields and alluvial fans, and constitutes a rare sedimentary record of Cambrian age in Eastern South America. In this context, its uppermost unit, named Serra do Apertado Formation, contains the last record of the phase of stabilization of the Gondwana Continent in south and southeastern Brazil. Nevertheless, there are no published detailed studies on its facies and depositional architecture, and the unit has been considered as similar to the Guarda Velha Formation since its original definition. Based on facies and architectural studies on the Serra do Apertado Formation and the upper portion of its underlying unit, the Pedra Pintada Formation, we characterize the depositional environments and establish a descriptive basis to distinguish them from the other units of the Guaritas Group. The Serra do Apertado Formation is characterized by the architectural element EL – sheet floods – in which facies associations point to a fluvial system with great discharge variation and occasional eolian reworking of bar tops. The upper part of the Pedra Pintada Formation intercalates the elements DB – barchanoid dunes – and IF – fluvial interdunes. The exclusivity of element EL in the Serra do Apertado Formation contrasts with previous descriptions of the Guarda Velha formation, which show elements of channel-fill and frequent conglomeratic lenses. Those differences reveal more eolian reworking in the Serra do Apertado Formation and possibly more episodic flow, suggesting, preliminarily, a dryer climate than the one recorded by the Guarda Velha Formation.

Keywords: Guaritas Group, Serra do Apertado Formation, Pedra Pintada Formation, architectural elements, depositional paleoenvironment.

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INTRODUÇÃO

O Grupo Guaritas é uma unidade sedimentar depositada no Eo a Mesocambriano

no sul do Brasil que expõe mais de 1.500 m de sucessões aluviais, com significativos

intervalos eólicos. O grupo é caracterizado por sucessões de arenitos conglomeráticos

com estratificação cruzada, sucessões arenosas com níveis de pelitos gretados, arenitos

finos a médios com estratificação cruzada de grande porte, além de conglomerados e

brechas nas proximidades das falhas de borda, ativas durante a sedimentação (Almeida

et al., 2009). Em trabalhos recentes de mapeamento e levantamentos estratigráficos,

duas unidades de arenitos conglomeráticos fluviais foram individualizadas com base no

reconhecimento de seu posicionamento estratigráfico distinto. Desta forma, Almeida

(2005) e Almeida et al. (2009) reservaram o termo Formação Guarda Velha (Ribeiro et

al., 1966) à sucessão basal do Grupo Guaritas, que encontra-se exposta no Passo da

Guarda Velha e em amplas áreas a oeste da Falha Tapera-Emiliano (Figura 1), enquanto

uma nova unidade, designada Formação Serra do Apertado, foi identificada acima dos

arenitos eólicos da Formação Pedra Pintada (sensu Fragoso-Cesar, 1991), a leste da

mesma falha.

Esta nova unidade tem grande importância como registro potencial de eventos

tectônicos e climáticos, considerando-se ser a unidade de topo do Grupo Guaritas e,

portanto, de toda a Bacia Camaquã. Desta forma representa a mais jovem unidade

anterior à Bacia do Paraná no sul e sudeste do Brasil, com registro ímpar de sedimentos

do Meso-Cambriano no leste da América do Sul. Apesar disso, não há estudos

detalhados de fácies e arquitetura deposicional publicados, e a unidade foi tratada

apenas em linhas gerais em trabalhos anteriores, tendo sido considerada como

semelhante à Formação Guarda Velha por Almeida (2005) e Almeida et al. (2009).

O presente trabalho apresenta os resultados de estudos sedimentológicos e

estratigráficos de detalhe desenvolvidos na área-tipo da Formação Serra do Apertado,

com o objetivo de interpretar as características de seus sistemas deposicionais e

estabelecer uma base descritiva para sua distinção das demais unidades do Grupo

Guaritas e para futuros estudos de seu registro tectônico e climático. Com o objetivo de

caracterizar o papel da unidade na evolução da Bacia Camaquã, foram desenvolvidos

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estudos sobre as sucessões de topo da Formação Pedra Pintada sotoposta e uma

caracterização da superfície que limita as duas unidades. Uma revisão das propostas de

nomenclatura estratigráfica para o Grupo Guaritas é também apresentada, de forma a

tornar clara a definição da Formação Serra do Apertado e das demais unidades

relacionadas.

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MÉTODOS

As análises de fácies e de elementos arquitetônicos vem sendo amplamente

utilizadas na caracterização e reconstrução paleoambiental de sistemas deposicionais

antigos pois permitem que a interpretação dos processos que geraram os depósitos

sejam baseadas na caracterização dos conjuntos de fácies que se associam em um

mesmo contexto, na geometria tridimensional dos depósitos e na hierarquia de suas

superfícies limitantes (Reading e Levell, 1986; Walker, 1992; Miall, 1985, 1996, 2000).

No presente trabalho, tais métodos foram aplicados a fim de descrever e

caracterizar a recém definida sucessão de topo do Grupo Guaritas da Bacia do

Camaquã, cuja seção tipo ocorre na região da Serra do Apertado, assim como detalhar a

porção superior da Formação Pedra Pintada, marcada por fácies eólicas e de interdunas,

na região das Minas do Camaquã, município de Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul.

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CONTEXTO GEOLÓGICO

O Grupo Guaritas é a unidade de topo do Supergrupo Camaquã, que ocorre na

região centro-sul do Rio Grande do Sul, no Alto Estrutural de Rio Grande (Milani e

Thomaz Filho, 2002). A unidade formou-se em uma bacia distensional do tipo rift

(Fragoso-Cesar, 1991; Fragoso-Cesar et al., 1999; Paim, Chemale Jr., Lopes, 2002;

Almeida, et al. 2009) durante o Eocambriano (Almeida, 2005). Sua área aflorante, que

detém, em parte, os contornos originais da bacia, é uma faixa de direção NNE-SSW,

largura em torno de 50 km e extensão superior a 150 km (suas extremidades são

encobertas por depósitos permianos da Bacia do Paraná), na qual o Grupo Guaritas

ocorre tectonicamente alojado entre os altos do embasamento da Serra das Encantadas e

de Caçapava do Sul, localmente recobrindo o último (Figura 1). Além dos flancos do

rift , o embasamento do Grupo Guaritas aflora a sul, sendo constituído por unidades

metamórficas e plutônicas das estruturas brasilianas da região, incluindo o flanco

ocidental do Cinturão Dom Feliciano e seu limite com o Terreno Rio Vacacaí, além do

extremo setentrional do Cráton do Rio de La Plata (Fragoso-Cesar, 1980, 1991). As

estruturas tectônicas desse embasamento foram reativadas diversas vezes, durante e

após a instalação do rift (Almeida, 2005).

Além de rochas metamórficas e plutônicas, o Grupo Guaritas sobrepõe mais de 10

km de sucessões não-metamórficas, ruptilmente deformadas, das unidades mais antigas

do Supergrupo Camaquã, dispostas em camadas com direções em torno de NNE-SSW e

mergulhos variáveis entre 20o e 50o, localmente sub-verticais. Tais sucessões,

depositadas na Bacia do Camaquã durante o Ediacarano, compõem quatro unidades, da

base para o topo: Grupo Maricá (siliciclástico), Grupo Bom Jardim (vulcano-

sedimentar), Formação Acampamento Velho (vulcânica) e Grupo Santa Bárbara

(siliciclástico). Simultaneamente à sedimentação do Grupo Santa Bárbara, a Bacia do

Camaquã foi compartimentada em três sub-bacias: Camaquã Ocidental, Camaquã

Central e Camaquã Oriental, sendo que a estruturação da Sub-Bacia Camaquã Central

coincide em linhas gerais com a do rift ao tempo da deposição do Grupo Guaritas.

O Grupo Guaritas é constituído por uma espessa sucessão, de mais de 1.500 m, de

arenitos conglomeráticos, conglomerados, ritmitos psamo-pelíticos e arcósios finos a

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médios com estratificação cruzada de grande porte. A composição das rochas com

granulação areia é essencialmente arcoseana, variando para litoarenitos de acordo com a

proveniência. Interpreta-se uma origem continental para todas as unidades do Grupo

Guaritas (e.g. Robertson, 1966; Ribeiro, 1970; Fragoso-Cesar, 1984; Lavina et al.,

1985; Paim, 1994; Paim, Chemale Jr., Lopes, 2002). O Grupo Guaritas é subdividido

em cinco unidades (Almeida, et al. 2009), sendo elas, da base para o topo: (i) Formação

Guarda Velha - unidade basal composta por arcósios conglomeráticos e conglomerados

de sistemas fluviais dominados por carga de fundo, (ii) Formação Varzinha - ritmitos de

arcósios e pelitos gretados e lentes de arcósios conglomeráticos formados em sistemas

fluviais distais, (iii) Formação Pedra Pintada - arcósios finos com estratificação cruzada

de grande porte depositados em campo de dunas eólicas, lateralmente equivalentes à

Formação Varzinha, (iv) Formação Pedra das Torrinhas - brechas e conglomerados de

leques aluviais lateralmente equivalentes às duas unidades anteriores e (v) Formação

Serra do Apertado - arcósios conglomeráticos e conglomerados de sistemas fluviais

dominados por carga de fundo que sobrepõe a Formação Pedra Pintada por discordância

erosiva (Almeida, 2005).

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Figura 1: A – Mapa geológico esquemático do Grupo Guaritas e áreas vizinhas. Modificado de Almeida

(2005); B – Mapa de localização dos afloramentos descritos dentro da área de estudo na Serra do

Apertado. Imagem de satélite extraída do Google Earth.

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EVOLUÇÃO DAS PROPOSTAS DE NOMENCLATURA ESTRATIGRÁFI CA

PARA O GRUPO GUARITAS

A proposta de subdivisão estratigráfica ora utilizada baseia-se em Almeida et al.

(2009) (Figura 2) e mantém os termos prioritários da literatura, porém revendo a

posição estratigráfica das unidades e incluindo uma nova formação, equivalente a

sucessões anteriormente consideradas dentro de uma das unidades tradicionais. Abaixo

é apresentada uma breve revisão da terminologia e definições das unidades que compõe

o Grupo Guaritas, com o objetivo de tornar claras a definição e o contexto da Formação

Serra do Apertado.

Figura 2: Carta estratigráfica do Grupo Guaritas, segundo Almeida et al. (2009). Extraído de Nóbrega

(2011).

Formação Guarda Velha

A Formação Guarda Velha reúne os arcósios conglomeráticos com estratificação

cruzada ou estratificação plano-paralela, além de conglomerados, das porções inferiores

do Grupo Guaritas, tendo por localidade referencial o Passo da Guarda Velha (Camadas

Guarda Velha sensu Ribeiro e Lichtenberg, 1978). Esta unidade assenta em

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discordância angular sobre o Grupo Santa Bárbara e em discordância litológica sobre

rochas metamórficas e plutônicas do embasamento da Bacia do Camaquã, sendo

sobreposta pela Formação Varzinha em contanto gradacional (Ribeiro, 1970). Apresenta

espessura mínima de 1.000 m e, com exceção de fácies de conglomerados de calhaus

em suas porções basais, é litologicamente homogênea, caracterizada por arcósios

conglomeráticos, com seixos arredondados de quartzo de veio, rochas granitóides,

vulcânicas e metamórficas.

Devido às características litológicas da unidade, suas áreas de exposição estão

associadas a formas de relevo distintivas, com morros escarpados de topo plano

separados por vales encaixados, como os encontrados na Serra das Guaritas. Os

afloramentos mais acessíveis da unidade são cortes da BR-392 e da estrada que liga a

BR-392 à BR-153 passando pelas Minas do Camaquã e Serra das Guaritas, além dos

grandes afloramentos naturais expostos nas proximidades dessas vias.

Paim (1994) interpretou as sucessões da unidade como depósitos de sistemas

aluviais efêmeros com base em análise de fácies sedimentares e geometria de camadas,

porém considerou-as como parte da Aloformação Varzinha, na porção superior do

Alogrupo Guaritas. Tal hipótese estratigráfica foi mantida por Paim (1995), Lopes et al.

(1999) e Paim, Chemale Jr. e Lopes (2002) entre outros autores.

A hipótese alternativa de posicionamento estratigráfico da Formação Guarda

Velha na base do Grupo Guaritas (e.g. Ribeiro e Lichtemberg, 1978; Almeida, et al.

2009) é evidenciada pelas abundantes exposições do contato basal da formação com

unidades sotopostas do Supergrupo Camaquã, como na região das Minas do Camaquã e

nas proximidades do entroncamento entre as BR-392 e BR-153, conhecidas desde

Ribeiro et al. (1966) e Ribeiro (1970). A justaposição de fácies semelhantes das

formações Guarda Velha e Serra do Apertado, esta a unidade de topo do Grupo Guaritas

descrita adiante, pela zona de falhas das Minas do Camaquã sensu Ribeiro et al. (1966),

também conhecida como Falha Tapera-Emiliano, pode ter contribuído para a hipótese

de posicionamento das sucessões da Formação Guarda Velha acima dos arenitos eólicos

da Formação Pedra Pintada. Entretanto, o mesmo lineamento que separa a Serra do

Apertado das exposições da Formação Guarda Velha a nordeste das Minas do Camaquã

apresenta, em estimativa conservadora, rejeito vertical superior a 800 m entre o Passo

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da Mina e o Passo do Marmeleiro, 5 km a sul, com abatimento do bloco leste

justapondo a Formação Pedra Pintada a sucessões do Grupo Santa Bárbara (Figura 1).

A espessura total da Formação Guarda Velha, calculada com base em seções

geológicas, é de aproximadamente 1.000 m (Almeida et al., 2009).

Formação Varzinha

O conjunto de arcósios laminados intercalados a siltitos gretados e arcósios

conglomeráticos expostos ao longo das BR-153 (a sul do rio Camaquã) e BR-392 foi

designado Camadas Varzinha por Ribeiro e Lichtenberg (1978) e incluído na

Aloformação Varzinha por Paim (1994). Na subdivisão estratigráfica de Ribeiro e

Lichtenberg (1978), a unidade corresponderia a toda a porção superior da então

denominada Formação Guaritas, sobreposta às Camadas Guarda Velha. Paim (1995) e

Fragoso-Cesar et al. (1999) consideraram a unidade como posterior à Aloformação ou

Formação Pedra Pintada, com base em seções geológicas na BR-392 e na estrada

Santana da Boa Vista-Minas do Camaquã que, entretanto, atravessam uma importante

falha de direção NNE não considerada pelos autores. Esta foi denominada Falha do

Rincão Brabo por Ribeiro et al. (1966) e apresenta componente vertical de abatimento

do bloco oeste (Figura 1). Perfis geológicos em diversas áreas da bacia revelam que a

posição estratigráfica da Formação Varzinha é inferior à da Formação Pedra Pintada

(Almeida, 2005).

O conceito empregado no presente trabalho para a Formação Varzinha inclui

sucessões de arcósios e pelitos, geralmente gretados, dispostos ritmicamente em

camadas tabulares de poucos centímetros a alguns metros de espessura, intercalados a

camadas métricas a decamétricas, lenticulares, de arcósios conglomeráticos com

estratificação cruzada acanalada e estratificação plano paralela. A espessura mínima da

unidade é de 200 m, sendo seu limite superior caracterizado por contato brusco com a

Formação Pedra Pintada e o limite inferior por contato gradacional com a Formação

Guarda Velha.

Paim (1994), após longa discussão sobre a hipótese de interpretação das

sucessões aqui identificadas com a Formação Varzinha como sistemas de leques

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terminais (sensu Kelly e Olsen, 1993), optou pela interpretação de um sistema deltaico

lacustre, sujeito a frequentes variações do nível de base, aprimorando a proposta de

Ribeiro et al. (1966), Ribeiro (1970), Fragoso-Cesar et al. (1984) e Lavina et al. (1985).

Formação Pedra das Torrinhas

Fácies conglomeráticas de leques aluviais ocorrem junto às bordas da Sub-Bacia

Camaquã Central, destacadamente na borda leste, nos níveis estratigráficos equivalentes

às formações Varzinha e Pedra Pintada. Tais depósitos conglomeráticos, que ocorrem a

distâncias menores que centenas de metros a poucos quilômetros da borda leste do

Grupo Guaritas, foram reunidos por Almeida (2005) e Almeida et al. (2009) na

Formação Pedra das Torrinhas, equivalente aos Ruditos Pedra das Torrinhas de

Fragoso-Cesar (1991).

Trabalhos anteriores incluíram tais fácies conglomeráticas como variações

laterais de uma das unidades descritas acima, sendo que Ribeiro e Lichtenberg (1978)

consideram esses “fanglomerados” como pertencentes às Camadas Guarda Velha.

Esta unidade é caracterizada por brechas de seixos a matacões nas fácies mais

proximais e intercalações de conglomerados estratificados com arcósios seixosos e

pelitos, geralmente gretados, compondo ciclos granodecrescentes métricos. No nível

estratigráfico equivalente à Formação Varzinha, a passagem lateral da Formação Pedra

das Torrinhas para esta é caracterizada pela diminuição gradual da granulação e da

frequência de seixos provenientes do embasamento a leste (quartzo-milonitos, granitos

miloníticos e filonitos do Alto da Serra das Encantadas). No nível estratigráfico da

formação Pedra Pintada, a passagem lateral dá-se por intercalação das fácies eólicas

com as fácies de leques aluviais, com tendência a expansão do campo de dunas sobre os

depósitos aluviais (Marconato et al., 2009).

Formação Pedra Pintada

Inicialmente essa unidade foi cartografada como Formação Santa Bárbara por

Ribeiro et al. (1966), sendo composta pelos arcósios com estratificação cruzada de

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grande porte que afloram no morro da Pedra Pintada e regiões a leste das Minas do

Camaquã. Esta unidade foi reconhecida como eólica pelos então professores do Curso

de Pós-Graduação do IG-UFRGS Dr. Renato Rodolfo Andreis e Dr. Gerardo Bossi em

1979. Sucessões análogas foram mapeadas e descritas por Becker e Fernandes (1982), e

posteriormente reconhecidas e estudadas em diversas outras exposições (e.g. Fragoso-

Cesar, 1984; Fragoso-Cesar et al., 1984, 1985; Lavina et al. 1985; Faccini, Paim,

Fragoso-Cesar, 1987). Independentemente da categoria estratigráfica adotada, a

designação Pedra Pintada (Arenitos Pedra Pintada de Fragoso-Cesar, 1991) foi

consagrada para referir-se a essa unidade (e.g. Paim, 1995; Fragoso-Cesar et al. 1999;

Paim, Chemale Jr., Lopes, 2002).

Quanto à posição estratigráfica das sucessões de dunas eólicas, Paim (1995) e

Paim, Chemale Jr. e Lopes, (2002) relacionaram esta unidade, então denominada

Aloformação Pedra Pintada, à base do Alogrupo Guaritas, enquanto Fragoso-Cesar et

al., (1999) a consideraram, sob a designação de Formação Pedra Pintada, como

intermediária no Grupo Guaritas.

Paim (1994), em tese de doutoramento sobre todo o Supergrupo Camaquã,

detalhou as fácies e as interpretações dos processos sedimentares, com destaque para as

sucessões de dunas eólicas do Grupo Guaritas e para as sucessões com intercalações

pelíticas, interpretadas como deltaicas, dos grupos Santa Bárbara e Guaritas.

Paim (1994) descartou a interpretação de ambiente costeiro de Faccini, Paim e

Fragoso-Cesar (1987), considerando as mesmas fácies como de interdunas úmidas, e

aprimorou os modelos de deposição aluvial e eólica, além de propor uma subdivisão da

unidade com base na aloestratigrafia (Paim et al., 1992; Paim, 1994, 1995). Paim (1995)

procurou reconstituir a paleogeografia da unidade com base nos depósitos aluviais e

Paim (1996) abordou especificamente as fácies eólicas, enfatizando a presença de

interdunas úmidas. De Ros, Morad e Paim (1994) realizaram análise das condições de

diagênese e compactação de arenitos da denominada Sequência Guaritas, e deduziram

um ambiente semi-árido de deposição.

Trabalhos sobre arquitetura deposicional das sucessões de dunas eólicas da Pedra

Pintada seguiram-se à tese inédita de Paim (1994), destacando as interações eólico-

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fluviais (Paim, Chemale Jr., Lopes, 2002; Paim e Scherer, 2003, 2007; Scherer, Paim,

Melo, 2003; Teixeira et al. 2004; Almeida, 2005; Marconato et al., 2009).

Formação Serra do Apertado

A Formação Serra do Apertado foi inicialmente proposta por Almeida (2005) e

Almeida et al. (2009), reconhecida na serra homônima, situada a NE da vila das Minas

do Camaquã, e na região do Rincão do Inferno, situada a W da Serra das Guaritas.

Caracteriza-se por sucessões de arenitos conglomeráticos aluviais com aspecto similar

ao da Formação Guarda Velha, que situa-se na base do Grupo Guaritas, mas diferencia-

se dessa última principalmente por sobrepor as sucessões eólicas da Formação Pedra

Pintada por contato erosivo e por apresentar arquitetura deposicional distinta.

Não é possível reconhecer o limite superior da Formação Serra do Apertado,

uma vez que ela ocorre até o cume dos morros de maior altitude da região, sendo a

unidade de topo do Grupo Guaritas. Segundo Almeida (2005), que realizou o

mapeamento dessa unidade (Figura 1), sua espessura mínima é de 200 m.

No presente trabalho descrevemos onze afloramentos da Formação Serra do

Apertado (Figura 1), realizando levantamento de colunas estratigráficas para

caracterizar a sucessão vertical de fácies da unidade (Figura 3), assim como a transição

entre a porção superior da Formação Pedra Pintada e a base da Formação Serra do

Apertado (Figura 4). A seção tipo da Formação Serra do Apertado localiza-se nos

flancos da própria Serra do Apertado (Figuras 1 e 5), no cerro cuja localização é

definida pelas coordenadas UTM E0277398 e N6584061.

Em trabalhos anteriores, as rochas da Formação Serra do Apertado foram

agrupadas dentro de outras unidades com sucessões aluviais similares, como a

Aloformação Varzinha de Paim (1994) e as Camadas Guarda Velha de Ribeiro e

Lichtenberg (1978). Isso se deve principalmente ao fato de que ambas as unidades

apresentam uma grande semelhança em seus litotipos, e ao não reconhecimento de

falhas importantes que dificultam o estabelecimento de relações estratigráficas.

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Figura 3: Colunas estratigráficas da Formação Serra do Apertado em pontos distintos. Notar que no ponto 31 ocorrem mais comumente superfícies de 2a ordem (sensu Miall, 1996), marcadas pela transição entre fácies de arenito plano-paralelo e arenito com estratificação cruzada, do que no ponto 10, onde predominam arenitos com estratificação cruzada. Ao lado das colunas encontram-se os dados de paleocorrentes coletados para cada localidade: n – número total de medidas; VM – vetor médio.

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Figura 4: Coluna estratigráfica mostrando a Formação Pedra Pintada superior e seu contato com a Formação Serra do Apertado. Notar que a passagem da Formação Pedra Pintada para a Formação Serra do Apertado é marcada pelo aparecimento de uma fácies de arenito médio com estratificação cruzada acanalada com abundantes seixos arredondados. Ao lado da coluna encontram-se os dados de paleocorrentes referentes a cada unidade: n – número total de medidas; VM – vetor médio.

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Figura 5: Foto do cerro que abriga a seção tipo da Formação Serra do Apertado, cuja localização encontra-se

indicada no mapa da Figura 1. Notar superfícies sub-horizontais de continuidade lateral da ordem de dezenas

de metros, como indicado pelas setas, formadas principalmente por camadas da fácies Pl (pelito laminado).

Os litotipos mais abundantes nos afloramentos estudados da Formação Serra do

Apertado são arenitos arcósios conglomeráticos, cujos grânulos, seixos e calhaus

polimíticos são sustentados pela matriz arenosa (Figura 6).

Figura 6: Foto representativa dos arenitos arcósios conglomeráticos da Formação Serra do Apertado.

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FÁCIES SEDIMENTARES

Nas exposições das formações Pedra Pintada superior e Serra do Apertado na

serra homônima foram descritas ao todo dez fácies distintas, que ocorrem de maneira

predominante e são descritas a seguir.

Aa: Arenito médio com estratificação cruzada acanalada – é a fácies mais

frequente da Formação Serra do Apertado e ocorre com menor frequência na Formação

Pedra Pintada superior. É caracterizada por arenitos médios a grossos normalmente com

grânulos, seixos e calhaus polimíticos esparsos, estratificação cruzada acanalada, com

ângulo entre 15 a 25o, em sets que variam de alguns centímetros até cerca de 1 m

(Figura 7a). As séries apresentam contato erosivo em sua base, truncando as estruturas

sotopostas. Ocorrem clastos pelíticos tabulares com poucos centímetros de espessura,

orientados segundo a estratificação. Por vezes acumulam-se seixos na base das séries.

Essa fácies é interpretada como produto da migração de dunas subaquáticas com

crista sinuosa. Os fragmentos tabulares pelíticos foram interpretados como intraclastos

oriundos do retrabalhamento de gretas da fácies Pl, descrita adiante.

Afa: Arenito fino com estratificação cruzada acanalada – é caracterizado por

arenito fino de cor branca, bem selecionado, com estratificação cruzada acanalada

marcada por pin stripe em sets de aproximadamente 0,15 m de espessura e até 2 m de

continuidade lateral. Apresenta contato erosivo na base e ocorre intercalado com a

fácies Aa. É interpretado como resultado da preservação parcial de depósitos de dunas

eólicas (e.g. Tirsgaard e Øxnevad, 1998).

Al : Arenito com laminação plano-paralela – arenito fino a grosso com

laminação plano-paralela bem definida, por vezes apresentando grânulos e seixos

esparsos. Ocorre em séries tabulares com centímetros a decímetros de espessura,

frequentemente intercalado com a fácies Aa. Leitos planos podem ser formados tanto

em regimes de fluxo inferior – normalmente areia média a grossa – como superior –

normalmente areia fina (e.g. Nichols, 1999; Fielding, 2006). A presença de arenitos

médios com clastos maiores, como grânulos e seixos, além de arenitos finos que não

apresentam fração granulométrica mais grossa, indicam que o leito plano pode ter se

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formado hora em ambiente subaquático de regime de fluxo inferior, hora de fluxo

superior.

Alc: Arenito com laminação cruzada cavalgante – arenito médio podendo

apresentar grânulos, com laminação cruzada cavalgante sub-crítica a crítica. As séries

apresentam contato erosivo na base e forma lenticular, com espessura de 0,02 a 0,1 m

(Figura 7b). São interpretadas como produto da migração de formas de leito de pequeno

porte por correntes trativas em desaceleração (e.g. Boggs, 1995).

Ab: Arenito com estratificação cruzada de baixo ângulo – arenito médio com

estratificação cruzada acanalada de baixo ângulo em séries de 0,1 a 0,25 m e até 12o de

inclinação. Interpretou-se que o baixo ângulo dessas estratificações cruzadas deve-se ao

desmonte da escarpa dos estratos frontais de dunas subaquáticas devido à diminuição da

espessura da lâmina de água e consequente aumento da velocidade de fluxo (e.g.

Tirsgaard e Øxnevad, 1998).

Ap: Arenito com estratificação cruzada planar – arenito médio com

estratificação cruzada planar em séries tabulares de poucos decímetros de espessura. É

interpretado como produto da migração de dunas subaquáticas de crista retilínea,

formadas a uma velocidade de fluxo menor do que na fácies Aa (e.g. Nichols, 1999).

Pl: Pelito laminado – camadas tabulares ou lenticulares de argilito e siltito, com

cores que variam entre vermelho, castanho e roxo, de espessura entre 0,02 a 0,25 m e

continuidade lateral que varia desde poucos metros até mais de 10 m, com laminação

plano-paralela. A parte superior das camadas pode apresentar gretas de contração com

cerca de 0,02 m de espessura ou delicadas gretas enroladas no topo (Figura 7c). A fácies

Pl normalmente ocorre intercalada com as fácies Aa e Aag.

É interpretada como produto de decantação em corpos d´água estagnados,

formados em eventos de enchente, que eventualmente podem ficar sujeitos à exposição

subaérea (e.g. Bridge, 2006).

Apc: Arenitos e pelitos convolutos – arenitos e pelitos com deformações

plásticas na forma de dobras, podendo apresentar grânulos, com estratificação plano-

paralela ou cruzada acanalada. Essas deformações apresentam amplitude e comprimento

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45

de onda da ordem de decímetros e normalmente ocorrem de forma pontual no interior

das séries compostas por arenito (Figuras 7d e 8).

Foi observada a ocorrência de uma camada tabular de coloração esverdeada,

com cerca de 0,1 m de espessura, intercalada com as rochas avermelhadas da fácies Aa,

composta por arenito fino com laminação cruzada e muscovita, intercalado com

camadas milimétricas de pelito que localmente apresentam-se com uma laminação

convoluta, caracterizada por pequenas dobras da ordem de milímetros.

Essa fácies é interpretada como pós-deposicional, formada pelo escape vertical

da água pelos poros da areia inconsolidada (e.g. Selley, 1982).

Aag: Arenito com estratificação cruzada de grande porte – essa fácies é

exclusiva da Formação Pedra Pintada e é formada por arenito médio com estratificação

cruzada acanalada tangencial na base, caracterizada por pin stripe, em séries que variam

em espessura de decímetros até cerca de 3 m e apresentam grande continuidade lateral,

chegando a dezenas de metros (Figura 7e). Os contatos reconhecidos entre as séries e

conjunto de séries são de três tipos: (i) superfície de reativação, (ii) superfície de

superimposição e (iii) superfície de migração de interduna, conforme descrito por

Mountney (2006). Pelas características descritas acima, interpretou-se que a fácies Aag

representa depósitos de dunas eólicas barcanóides (Hunter, 1977).

Amg: Arenito maciço com concentração de grânulos – camadas tabulares com

menos de 0,1 m de espessura e dezenas de metros de extensão, formada por arenito

médio a grosso, maciço, com alta concentração de grânulos, podendo também

apresentar seixos pequenos a médios (Figura 7f). Possui contato abrupto e erosivo na

base e gradacional no topo, passando para a fácies Aag.

A fácies Amg, por apresentar grânulos e seixos, é interpretada como depósito

subaquático, enquanto que sua espessura pequena, a alta concentração da fração

granulométrica grossa e o contato gradacional com a fácies Aag, sugerem uma remoção

da fração mais fina através de processos eólicos (e.g. Mountney, 2006).

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Figura 7: Exemplos das fácies descritas - a) arenito médio com estratificação cruzada acanalada (Aa) e intraclastos de argila orientados segundo a estratificação; b) laminação cruzada em arenito com cavalgamento sub-crítico (Alc); c) gretas de contração em camada de pelito laminado (Pl); d) estrutura de escape de fluidos em arenito médio (Apc); e) arenito com estratificação cruzada acanalada de grande porte (Aag); f) camada com concentrado de grânulos e seixos (Amg) intercalada com séries da fácies Aag.

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47

ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS

As fácies sedimentares acima descritas encontram-se organizadas em corpos

sedimentares maiores com geometria definida, aqui classificados com base no conceito

de elementos arquitetônicos e hierarquia de superfícies limitantes (e.g. Miall, 1996). A

hierarquização das superfícies limitantes para os depósitos de origem eólica segue a

proposta de Mountney (2006). Um dos elementos arquitetônicos descritos neste

trabalho, denominado enchentes em lençol, é uma nova proposta dos autores deste

trabalho.

A seguir são descritos os elementos arquitetônicos encontrados em cada uma

das unidades estudadas:

Formação Serra do Apertado

EL – Enchentes em lençol: este elemento arquitetônico apresenta geometria

tabular, definida por contatos erosivos tanto em seu topo como base, grande

continuidade lateral, podendo se estender por dezenas de metros, e espessura que varia

aproximadamente de 1 a 3 m (Figuras 8, 9 e 10). A associação de fácies que o compõe é

dada pelas seguintes fácies: arenito médio com estratificação cruzada acanalada (Aa),

arenito fino com estratificação cruzada acanalada (Afa), arenito com laminação plano-

paralela (Al ), arenito com laminação cruzada cavalgante (Alc), arenito com

estratificação cruzada de baixo ângulo (Ab), arenito com estratificação cruzada planar

(Ap), pelito laminado (Pl) e arenitos e pelitos convolutos (Apc).

As fácies Aa e Al ocorrem de forma intercalada em séries limitadas por contatos

erosivos e representam superfícies de 2a ordem, que segundo Miall (1996), separam

fácies formadas por processos distintos. Essa associação é predominante no elemento

EL e a intercalação entre essas duas fácies é muito frequente (Figura 9), sugerindo um

ambiente com constantes variações de vazão e espessura da lâmina d´água. As fácies

Alc, Ap e Ab são menos frequentes e ocorrem intercaladas com a fácies Aa, indicando

também a alternância entre regimes de maior e menor vazão durante a deposição.

O topo do elemento EL , quando preservado da erosão, é marcado pela fácies Pl

que se estende lateralmente por dezenas de metros, normalmente sobrepondo séries da

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fácies Al . No topo do elemento EL ocorre a transição das fácies Aa para Al e

finalmente Pl, respectivamente de baixo para cima no empilhamento estratigráfico,

indicando a passagem do regime de fluxo inferior para o superior, decorrente da

diminuição da espessura da lâmina d´água, até a estagnação total do fluxo e eventual

exposição subaérea (Figura 8). Acima da fácies Pl, as associações descritas

anteriormente se repetem, formando pacotes de 1 a 3 m de espessura, que representam

ciclos de aumento e diminuição de vazão (Figura 10). Segundo Miall (1996) as

superfícies que delimitam esses ciclos são de 3a ordem e indicam uma mudança de

estágio, mas não uma mudança significativa no estilo de sedimentação.

Características do elemento EL , tais como o caráter unidirecional de corrente,

formas de leito arenosas a conglomeráticas formando preenchimento de escavações

pequenas e rasas que se entrecortam, a geometria tabular e os ciclos de grande variação

de vazão, apontam para um modelo deposicional de canais efêmeros com fluxo

desconfinado (Miall, 1985; Tirsgaard e Øxnevad, 1998; Bridge, 2006).

A fácies Afa ocorre intercalada com a fácies Aa e apresenta contatos erosivos na

base e no topo, definindo superfícies que indicam períodos em que as barras do rio

ficavam emersas tempo suficiente para permitir o retrabalhamento por processos eólicos

(Figura 8).

A fácies Apc ocorre de forma pontual no interior das séries das fácies Aa e Al e

foi encontrada em diversos locais ao longo de toda a sucessão estudada na Formação

Serra do Apertado (Figuras 7d, 8 e 9).

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Figura 8: Fotomosaico do elemento arquitetônico EL em afloramento da Formação Serra do Apertado (coordenadas UTM E0277301 e N6585047), em sua seção tipo nos flancos da Serra do Apertado. Predominam séries de arenito com estratificação cruzada acanalada da fácies Aa. Observa-se que as superfícies de 3a ordem são sempre sobrepostas por camadas pelíticas da fácies Pl e sobrepõe laminações plano-paralelas da fácies Al . Pontualmente as estratificações cruzadas acanaladas da fácies Aa encontram-se convolutas, (centro esquerdo da foto) assim como pelitos da fácies Pl (canto direito superior da foto). Ordens das superfícies segundo Miall (1996).

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Figura 9: Fotomosaico do elemento arquitetônico EL da Formação Serra do Apertado (coordenadas UTM E0283453 e N6589070). Observa-se uma frequente intercalação entre as fácies Aa e Al . No contato entre essas duas fácies predominantes ocorrem superfícies de 2a ordem que indicam mudanças no processo de deposição, interpretadas como variações de vazão e espessura da lâmina d´água. Ordens das superfícies segundo Miall (1996).

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Figura 10: Fotomosaico do elemento arquitetônico EL em afloramento da Formação Serra do Apertado (coordenadas UTM E0277301 e N6585047). Observa-se que as superfícies de 3a ordem definem uma geometria tabular aos depósitos. Notar uma série de arenito fino acanalado da fácies Afa (canto superior esquerdo da foto), interpretada como retrabalhamento eólico de barras emersas. Intercalada com as séries da fácies Aa ocorrem laminações cruzadas cavalgantes da fácies Alc (canto inferior direito da foto). Ordens das superfícies segundo Miall (1996).

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Formação Pedra Pintada superior

DB – Dunas barcanóides: este elemento é caracterizado pelas fácies arenito com

estratificação cruzada de grande porte (Aag), arenito maciço com concentração de

grânulos (Amg) e pelito laminado (Pl), possui contatos superior e inferior definidos por

superfície erosiva de baixo ângulo, entre 2 a 6o de inclinação, e apresenta geometria

tabular, com espessura da ordem dezenas de metros e continuidade lateral chegando a

centenas de metros.

A fácies Aag é predominante no elemento DB e ocorre como uma sucessão de

séries com contatos erosivos na base, que se entrecortam. Os contatos erosivos que

delimitam as séries são superfícies de superimposição (sensu Mountney, 2006), que

refletem a erosão causada pelo processo de migração das mesmas (Figura 11). No

interior das séries também ocorrem superfícies erosivas, que separam estratificações

cruzadas adjacentes com ângulos de inclinação ligeiramente distintos. Esses contatos

erosivos interiores às séries são superfícies de reativação e são truncadas pelas

superfícies de superimposição (Figura 11).

O contato erosivo na base da fácies Amg trunca as superfícies de

superimposição da fácies Aag, de forma que as duas fácies ocorrem intercaladas. A

superfície erosiva gerada pela fácies Amg possui grande continuidade lateral, apresenta

baixo ângulo de mergulho e sentido de mergulho oposto ao sentido de migração das

dunas da fácies Aag, definindo assim uma superfície de migração de interdunas

(Figuras 11 e 12). Segundo Mountney (2006), uma superfície de migração de interduna

marcada por um nível de grânulos e seixos, como é o caso da fácies Amg, pode

representar um pavimento de deflação em interduna seca.

A fácies Pl ocorre na forma de lentes pouco espessas, com continuidade lateral

de poucos metros e apresenta gretas enroladas, em contato no topo com a base erosiva

das dunas da fácies Aag. Devido a essa associação no elemento DB, a fácies Pl

representa interdunas úmidas e isoladas, tendo em vista sua geometria, corroborando

para a hipótese de que as formas de leito da fácies Aag são dunas barcanóides. A

espessura centimétrica desses depósitos e sua ocorrência isolada em sucessões

dominadas pela fácies Aag não permitem sua individualização como um elemento

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arquitetônico. Quando fácies semelhantes apresentam maior espessura, são

individualizadas no elemento IF , descrito abaixo.

IF – Interdunas fluviais: O elemento IF apresenta geometria tabular, com

contato erosivo tanto na base como no topo, chegando a ter espessura de pelo menos 25

m (Figura 4) e continuidade lateral da ordem de centenas de metros. As fácies que o

compõe são: arenito médio com estratificação cruzada acanalada (Aa), arenito com

laminação plano-paralela (Al ), arenito com estratificação cruzada de baixo ângulo

(Ab), arenito com laminação cruzada cavalgante (Alc) e pelito laminado (Pl).

As fácies Aa e Al ocorrem intercaladas, com espessura entre 0,4 a 0,9 m, Ab,

Alc e Pl, com espessura de 0,1 a 0,4 m, em séries apresentando contatos erosivos. Essa

sucessão caracteriza um ambiente subaquático com intercalação entre formas de leito de

regime de fluxo inferior e superior, indicando constantes variações de vazão (Figura

12). A presença dos pelitos da fácies Pl indica estagnação do fluxo. Observou-se que

verticalmente o elemento IF está intercalado com o elemento DB, sendo que o contato

erosivo que os separa possui baixo ângulo e é paralelo às superfícies de migração de

interdunas do elemento DB (Figura 12). Não foi possível estabelecer a relação lateral

entre esses elementos, mas como IF e DB possuem geometria compatível, mesmo

ângulo de mergulho e estão intercalados, interpreta-se que o elemento IF corresponde a

um ambiente de interdunas com influência fluvial marcadas por grandes variações de

fluxo.

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Figura 11: Foto-mosaico do elemento arquitetônico DB em afloramento da Formação Pedra Pintada superior, a leste das Minas do Camaquã (coordenadas UTM E280212 e N6574898). Predominam séries de arenito com estratificações cruzadas de grande porte da fácies Aag. Observa-se uma superfície de migração de interduna que trunca as superfícies de superimposição, com ângulo baixo de mergulho e sentido de mergulho contrário ao das estratificações cruzadas. Ao longo de toda a superfície de migração de interduna ocorrem camadas com concentrados de grânulos. Ordens das superfícies segundo Miall (1996).

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Figura 12: Foto-mosaico dos elementos arquitetônicos DB, abaixo, e IF , acima, separados por uma superfície erosiva de 4a ordem, em afloramento da Formação Pedra Pintada superior (coordenadas UTM E280212 e N6574898). O elemento IF apresenta arenitos com laminação plano paralela da fácies Al e estratificação cruzada acanalada da fácies Aa, com seixos e grânulos abundantes. Observa-se que a superfície de 4a ordem que define o contato entre os elementos IF e DB é concordante com a superfície de migração de interduna do elemento DB. Ordens das superfícies segundo Miall (1996).

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56

SUPERFÍCIE LIMITANTE REGIONAL

O contato entre as formações Pedra Pintada e Serra do Apertado foi descrito

como uma superfície erosiva regional por Almeida (2005) e Almeida et al. (2009),

interpretada como o limite entre as fases de subsidência mecânica e térmica da bacia.

Nas seções estudadas, a superfície basal da formação Serra do Apertado de fato se

apresenta como uma discordância erosiva, ora sobre arenitos eólicos e ora sobre

sucessões de interdunas fluviais da Formação Pedra Pintada. No segundo caso, uma

marcante mudança na composição e forma dos seixos caracteriza o limite, sendo que

fácies conglomeráticas da Formação Pedra Pintada apresentam seixos

predominantemente angulosos a subangulosos de milonitos e rochas metamórficas de

baixo grau – litotipos semelhantes aos encontrados no embasamento imediatamente

adjacente a leste – enquanto os seixos na porção basal da Formação Serra do Apertado

são predominantemente arredondados e compostos por granitos, vulcânicas ácidas e

quartzo de veio. Desta forma, ficam caracterizadas fontes mais distantes para a

formação Serra do Apertado, corroborando a hipótese de subsidência das ombreiras do

rift nesta fase.

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57

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A análise de fácies e de elementos arquitetônicos realizadas nas Formações

Pedra Pintada superior e Serra do Apertado permitiram a caracterização dos seus

depósitos e a interpretação do paleoambiente no qual se formaram.

Na Formação Serra do Apertado foi reconhecido um único tipo de elemento

arquitetônico, chamado aqui de elemento EL , que apresenta geometria tabular, cerca de

3 m de espessura e dezenas de metros de continuidade lateral, interpretado como

produto de um ambiente fluvial efêmero, devido às associações de fácies que

demonstram a existência de ciclos de grande variação de vazão, que se repetem durante

a deposição dessa unidade. Tal interpretação corrobora o modelo de clima árido a semi-

árido proposto por De Ros, Morad e Paim (1994) para o Grupo Guaritas, pois

atualmente nesse tipo de clima são comuns eventos de enchentes esporádicas que geram

rios efêmeros caracterizados por uma grande variação de vazão (Tooth, 2000). Por outro

lado, considerando-se a ausência de vegetação em ambientes continentais anteriores ao

Siluriano, sistemas aluviais semelhantes poderiam desenvolver-se também em climas

mais úmidos (e.g. Schumm, 1968; Tirsgaard e Øxnevad, 1998; Long, 2006; Eriksson, et

al. 2006; Davies e Gibling, 2010).

Foram observados, no elemento EL , depósitos eólicos em associação com

depósitos fluviais, o que foi interpretado como um retrabalhamento eólico dos

sedimentos de barras fluviais emersas.

Nas exposições da Formação Pedra Pintada superior da região da Serra do

Apertado foram reconhecidos dois tipos de elementos arquitetônicos: (i) DB, que

apresenta geometria tabular, dezenas de metros de espessura e continuidade lateral de

centenas de metros, é interpretado como produto de um campo de dunas eólicas

barcanóides, devido à sua associação de fácies dominada por estratificações cruzadas

acanaladas de grande porte e a apresentar superfícies erosivas de superimposição,

reativação e migração de interdunas, e (ii) o elemento IF , também apresentando

geometria tabular, espessura de poucas dezenas de metros e continuidade lateral de

centenas de metros, cujo ambiente de formação foi interpretado como de interdunas

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fluviais pelo fato de apresentar associação de fácies dominada por formas de leito

subaquáticas, ocorrer intercalado com o elemento DB e apresentar geometria e ângulo

de mergulho compatíveis com esse último.

O detalhamento da descrição da Formação Serra do Apertado, unidade de topo

do Grupo Guaritas, baseou-se em estudos das fácies, elementos arquitetônicos e

levantamento de colunas estratigráficas, que permitiram caracterizar essa nova unidade

em sua área-tipo, localizada nos flancos da serra homônima. A caracterização da

aparente exclusividade do elemento EL na Formação Serra do Apertado contrasta com

descrições detalhadas da Formação Guarda Velha (Paim, 1994; Almeida, 2005; Santos,

2010), que relatam elementos de preenchimento de canais e abundância de lentes

conglomeráticas. Desta forma, a suposição original de Almeida (2005) e Almeida et al.

(2009) de semelhança de fácies e arquitetura deposicional entre as formações Guarda

Velha e Serra do Apertado não foi confirmada pelo presente estudo, permitindo o

estabelecimento de critérios descritivos de distinção entre as unidades. Tais diferenças

revelam maior retrabalhamento eólico na Formação Serra do Apertado e, possivelmente,

fluxo mais episódico, sugerindo, de forma preliminar, clima mais árido que aquele da

Formação Guarda Velha.

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59

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Page 76: Dissertação_Versão corrigida

65

ANEXO 2

Análise de proveniência em arenitos conglomeráticos do Grupo Guaritas (RS) e suas

implicações para o paleoclima e a paleogeografia da sub-bacia Camaquã Central no

Eocambriano

Provenance analysis in conglomeratic arenites from the Guaritas Group (RS) and it´s

implications to the paleoclimate and paleogeography of Central Camaquã sub-basin in

the Eocambrian

Lucas Padoan de Sá Godinho1 ([email protected])

Renato Paes de Almeida2 ([email protected])

André Marconato1 ([email protected])

Mauricio Guerreiro Martinho dos Santos1 ([email protected])

Antonio Romalino Santos Fragoso-Cesar2 ([email protected])

1Programa de Geoquímica e Geotectônica – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo, Rua do Lago, no 562, CEP 05508-080, São Paulo, SP, Brasil

2Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo, Rua do Lago, no 562, CEP 05508-080, São Paulo, SP, Brasil

Número de palavas: 10.660 ; total de figuras e de tabelas: 11

Resumo

O Supergrupo Camaquã, localizado na região centro-sul do Rio Grande do Sul, Brasil, constitui uma bacia sedimentar pós-orogênica do tipo rift , cuja deposição ocorreu em ambiente continental entre o Ediacarano e o Eocambriano. O topo da sucessão do Supergrupo Camaquã é representado pelo Grupo Guaritas, uma unidade formada por depósitos fluviais, eólicos e de leques aluviais que abriga importantes registros da sedimentação logo após o final das orogêneses neoproterozóicas que deram origem ao supercontinente Gondwana. O objetivo do presente trabalho foi aplicar a análise de proveniência sedimentar em arenitos conglomeráticos e conglomerados do Grupo Guaritas, a fim de explorar a história da evolução tectônica e climática dessa unidade. Com base nos dados composicionais de seixos foram reconhecidas duas áreas fonte principais para os depósitos dessa unidade, uma mais distal e situada a norte, relacionada a um sistema de rio tronco paralelo ao eixo principal da bacia, e outra mais

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66

proximal e situada a leste, relacionada a sistemas fluviais transversais e de leques aluviais da borda da bacia. O confronto dos dados de proveniência com estudos anteriores de fácies e paleocorrentes sugere que durante toda a evolução da borda leste da bacia houve um mesmo sistema fluvial transversal, cuja área de captação sofreu reduções significativas devido à reativação da falha da borda leste durante a deposição das Formações Varzinha e Pedra Pintada. Na Formação Serra do Apertado, unidade de topo do Grupo Guaritas, foi verificada uma alta correlação entre a variação dos seixos de composição quartzosa e não quartzosa, cuja causa foi atribuída a variações entre climas mais úmidos e mais áridos.

Palavras-chave: Grupo Guaritas, análise de proveniência, seixos, paleogeografia, paleoclima.

Abstract

The Camaquã Supergroup, located in the central-south region of Rio Grande do Sul, Brazil, constitutes a rift-type post-orogenic sedimentary basin, which deposition occurred in a continental environment between the Ediacaran and the Eocambrian. The upper succession of the Camaquã Supergroup is represented by the Guaritas Group, a unit formed by fluvial, eolian and alluvial fan deposits that keeps important records of the sedimentation right after the end of the neoproterozoic orogenesis that gave rise to the Gondwana supercontinent. The objective of the present work was to apply sedimentary provenance analysis in conglomeratic arenites and conglomerates of the Guaritas Group, in order to explore the climatic and tectonic evolution history of this unit. Based on the pebble compositional data, two main source areas were recognized for the deposits of this unit, a more distal one located to the north, related with a trunk river system parallel to the basin main axis, and a more proximal one located to the east, related to transversal fluvial systems and alluvial fans at the basin border. The comparison of the provenance data with previous studies on facies and paleocurrent sugests that during the entire evolution of the basin east border there was a transversal fluvial system, whose catchment area suffered significative reductions due to the reactivation of the east border fault during the deposition of the Varzinha and Pedra Pintada Formations. The Serra do Apertado Formation, the Guaritas Group upper unit, shows a high correlation between the variation of quartzose and non quartzose pebbles composition, which cause was attributed to a variation between more humid and more arid climatic conditions.

Key-words: Guaritas Group, provenance analysis, pebbles, paleogeography, paleoclimate.

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67

INTRODUÇÃO

O Grupo Guaritas é uma unidade sedimentar formada em uma bacia do tipo rift

durante o Eocambriano, que ocorre sobre as rochas do embasamento do Rio Grande do

Sul (Fragoso-Cesar, 1991), sendo composta por depósitos continentais de ambientes de

rios dominados por carga de fundo, rios dominados por carga mista, campos de dunas

eólicas e leques aluviais (Paim, 1994; Almeida, 2005). Dessa forma, tais depósitos

abrigam um registro muito raro e fértil para estudos das relações entre sedimentação e

variações tectônicas e climáticas num período pré-vegetação terrestre (Tisgaard e

Øxnevad, 1998; Long 2006; Davies e Gibling 2010).

A análise de proveniência sedimentar é um método que vem sendo muito

utilizado no estudo do comportamento tectônico das áreas fonte, assim como das

variações climáticas e geomorfológicas que participam do contexto da sedimentação,

constituindo uma importante ferramenta na reconstituição de paleoambientes

deposicionais (e.g. Graham et al., 1986; Dürr, 1996; Jones, 2000). Até hoje foram

realizados poucos estudos sistemáticos sobre a composição dos depósitos do Grupo

Guaritas, em especial de sua unidade de topo recém descoberta, a Formação Serra do

Apertado (Almeida, 2005), de forma que mais investigações científicas nesse âmbito

podem contribuir para uma aproximação dos fenômenos tectônicos e climáticos que

participaram de sua evolução.

No presente estudo foi realizada a análise de proveniência nas cinco unidades

pertencentes ao Grupo Guaritas, sendo elas, da base para o topo, Formações Guarda

Velha, Varzinha, Pedra Pintada, Pedra das Torrinhas (correlata lateralmente às duas

últimas) e Serra do Apertado (sensu Almeida, 2005), tendo em vista dois objetivos

principais: (i) comparar as características composicionais das unidades acima citadas e

testar a eficácia do método utilizado para o estudo de variações tectônicas e climáticas e

(ii) detalhar os estudos de proveniência e paleocorrentes da recém descoberta Formação

Serra do Apertado.

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68

MÉTODOS

Análise de proveniência macroscópica

A análise de proveniência no estudo de rochas sedimentares é utilizada para

reconstituir a composição das rochas parentais que serviram como fonte para o

sedimento (Weltje e Eynatten, 2004). No presente estudo a análise de proveniência

macroscópica foi realizada através da contagem de seixos em arenitos conglomeráticos

e conglomerados, abundantes na área de estudo. A metodologia utilizada baseia-se nas

propostas de Dürr (1994) e Marconato (2010).

Para cada sítio de observação foram contados todos os clastos maiores que 0,5

cm, como seixos, calhaus e matacões, contidos em uma ou mais áreas retangulares,

totalizando aproximadamente 300 seixos por estação de medida. Trinta e cinco (35)

estações foram analisadas, com um total de 10.800 seixos contados. Apesar da proposta

original de Dürr (1994) sugerir que a contribuição de cada litotipo para o depósito seja

expressa em grandeza de volume, no presente estudo essa variável foi expressa em

grandeza de área, pois os afloramentos não permitem uma exposição tridimensional dos

seixos. Segundo Marconato (2010) a estimativa da contribuição dos litotipos em área,

similarmente a estimativa por volume, minimiza os possíveis erros advindos da simples

contagem de frequência, que por sua vez não considera a relação entre o tamanho do

clasto e o litotipo que representa. A estimativa por área pode ser feita atribuindo-se um

parâmetro de forma para o seixo e medindo-se seus eixos maior e menor (Marconato,

2010).

Análise estatística dos dados de proveniência

Os dados de composição de seixos foram tratados através da análise estatística

multivariada, pois essa permite facilitar a interpretação acerca dos dados quando há uma

grande quantidade de variáveis atribuídas a cada unidade de observação (Davis, 1986).

Os dados foram tratados como composicionais, ou seja, todas as variáveis de uma

mesma unidade de observação estão inter-relacionadas e a variação em uma delas

acarreta obrigatoriamente na variação das demais, sendo que a soma de todas elas

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69

chegam a uma dada constante, como por exemplo 100, se forem expressas em

porcentagem, ou 1, se forem expressas como partes por unidade (Pawlowsky-Glahn e

Egozcue, 2006).

Uma vez que os dados composicionais não podem ser diretamente tratados

através de métodos estatísticos convencionais, devido à suas propriedades intrínsecas,

utilizou-se a transformação logarítmica (Aitchson, 1986; Pawlowsky-Glahn e Egozcue,

2006) a fim de representá-los como dados independentes de vetores e que podem ser

aplicados à analise multivariada de dados. A técnica de transformação adotada foi a

razão logarítmica centrada (clr) por se aplicar melhor à análise multivariada de dados

(Pawlowsky-Glahn e Egozcue, 2006). Anteriormente ao procedimento de transformação

logarítmica acima mencionado, os valores iguais a zero, que representam litotipos que

possivelmente não ocorrem na unidade de observação ou não foram detectados pelo

método de amostragem utilizado, foram substituídos pelos valores do mínimo erro

amostral relacionado à sua ocorrência, segundo o método introduzido por Marconato

(2010).

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70

GEOLOGIA REGIONAL

O Grupo Guaritas é uma unidade sedimentar com mais de 1.500 m de espessura

(Almeida, 2005) que ocorre na região sul do estado do Rio Grande do Sul, com

depósitos siliciclásticos de ambiente continental que se formaram no Eocambriano, em

bacia do tipo rift (Fragoso-Cesar, et al. 2003; Paim e Scherer, 2007; Almeida, et al.

2009). Constitui a unidade de topo do Supergrupo Camaquã, que por sua vez apresenta

ao todo mais de 10.000 m de espessura e é subdividida em cinco unidades principais,

sendo elas, da base para o topo: Grupo Maricá (depósitos fluviais e de mar raso

continental), Grupo Bom Jardim (depósitos fluviais intercalados a rochas vulcânicas),

Formação Acampamento Velho (rochas vulcânicas e vulcanoclásticas ácidas e básicas),

Grupo Santa Bárbara (depósitos fluviais e de leques aluviais) e Grupo Guaritas

(depósitos fluviais, eólicos e de leques aluviais) (Ribeiro et al., 1966; Fragoso-Cesar et

al., 2000; Almeida, 2005; Janikian et al., 2008).

A área onde aflora o Grupo Guaritas possui formato alongado, com cerca de 50

km de largura e mais de 150 km de comprimento, e seu eixo longitudinal é orientado

segundo a direção NE-SW (Figura 1). Segundo estudos de mapeamento de detalhe

realizados por Almeida (2005), o Grupo Guaritas se subdivide em cinco unidades

(Figura 2). Da base para o topo, tais unidades são as formações Guarda Velha (ambiente

fluvial dominado por carga de fundo), Varzinha (ambiente fluvial dominado por carga

mista), Pedra Pintada (ambiente eólico com interdunas), Pedra das Torrinhas (ambiente

de leques aluviais, lateralmente correlato às Formações Varzinha e Pedra Pintada) e

Serra do Apertado (ambiente fluvial dominado por carga de fundo) (Almeida, 2005).

Dentro do Grupo Guaritas ocorrem também intrusões de magmas básicos a

intermediários, denominados Suíte Intrusiva Rodeio Velho (Almeida, 2005; Paim e

Scherer, 2007).

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71

Figura 1: Mapa geológico da Bacia do Camaquã e áreas adjacentes. Extraído de Almeida (2005).

Durante a história de deposição do Supergrupo Camaquã ocorreram eventos

tectônicos que culminaram no soerguimento de altos estruturais internos à bacia,

dividindo-o em três Sub-Bacias, denominadas Camaquã Ocidental, Camaquã Central e

Camaquã Oriental (Fragoso-Cesar et al., 2000; Almeida, 2005). A Sub-Bacia Camaquã

Central, onde encontra-se o Grupo Guaritas, é delimitada tanto a leste como a oeste por

zonas de falhas de alto ângulo e direção NNE-SSW. No contato a leste situa-se o alto da

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72

Serra das Encantadas, com rochas do Cinturão Dom Feliciano, e a oeste ocorre o Alto

de Caçapava do Sul, com rochas do Terreno Rio Vacacaí e intrusivas mais jovens

(Fragoso-Cesar, 1991). Ao norte a Sub-Bacia Camaquã Central apresenta contato com

rochas Paleozóicas da Bacia do Paraná, definido por uma discordância erosiva, e a sul o

contato é tectônico com rochas do Cinturão Dom Feliciano e Terreno Rio Vacacaí

(Almeida, 2005).

Figura 2: Carta estratigráfica do Grupo Guaritas, mostrando as relações laterais e verticais entre suas

unidades, segundo Almeida et al. (2009). Extraído de Nóbrega (2011).

A seguir será apresentado um breve panorama das unidades geológicas que

afloram adjacentes ao Supergrupo Camaquã, para que possa servir de embasamento

para as discussões posteriores a respeito dos resultados obtidos da proveniência

sedimentar.

O Cinturão Dom Feliciano

O Cinturão Dom Feliciano é uma faixa de dobramentos que data do Proterozóico

Médio a Superior e, dentro do Rio Grande do Sul, é subdividida em três unidades

principais: Faixa Tijucas, Batólito Pelotas e Batólito Encruzilhada do Sul (Fragoso-

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73

Cesar, 1991). A Faixa Tijucas é constituída por terrenos metamórficos alóctones, ou

nappes, possui formato alongado com eixo maior orientado segundo NE-SW. O Terreno

Serra das Encantadas é sua unidade mais proximal com relação ao Grupo Guaritas,

apresentando contato tectônico direto com o mesmo, e é formado predominantemente

pelos Granitos Miloníticos Porongos, que reúnem granitos miloníticos, quartzo-

milonitos e quartzo-mica-xistos, além de escamas tectônicas de gnaisses do

embasamento antigo e metassedimentos, como mármores, quartzitos e metapelitos. As

demais unidades são compostas essencialmente por xistos micáceos com protólitos

vulcânicos e sucessões rítmicas de metapelitos, essencialmente xistos (Fragoso-Cesar,

1991).

O Batólito Pelotas é uma unidade multi-intrusiva que data do Pré-Cambriano

Superior, representando uma área mais distal em relação ao Grupo Guaritas (Fragoso-

Cesar, 1991). Sua maior unidade, a Suíte Granítica Dom Feliciano, que se estende de

Santa Catarina ao Uruguai, é composta por diversos corpos intrusivos limitados por

falhas, tipicamente com sienogranitos e, em menor quantidade, monzogranitos, que

variam texturalmente entre granitos porfiríticos róseos-acinzentados e granitos

equigranulares grossos avermelhados-róseos. Na borda oeste do Batólito Pelotas, que

apresenta contato com a Faixa Tijucas, ocorre uma faixa estreita e alongada de

sienogranitos e monzogranitos de cor branca, denominados Leucogranitos Cordilheira.

Outras unidades importantes do Batólito Pelotas são o Complexo Granítico-Gnáissico

Pinheiro Machado, Gabros Passo da Fabiana, pequenos Plútons Alcalinos e Rochas

Hipoabissais e Efusivas, dentre as quais se destacam os Diques Riolíticos Asperezas -

enxames de diques com espessura de centímetros a dezenas de metros e extensão de até

alguns quilômetros (Fragoso-Cesar, 1991).

O Batólito Encruzilhada do Sul localiza-se a NE do Grupo Guaritas, podendo ser

considerado também uma área mais distal com relação ao último, apresenta contato a

leste com o Batólito Pelotas, a oeste com a Faixa Tijucas, a norte com a Bacia do Paraná

e, a noroeste, com o a Sub-Bacia Camaquã Oriental. O Batólito Encruzilhada do Sul é

subdividido nas seguintes unidades: Gnaisses Chanã, Anortosito Capivari,

Monzogranito Pitangueiras, Suíte Granítica Encruzilhada do Sul, Sienito Piquiri e

stocks graníticos tardios (Fragoso-Cesar, 1991). Sua unidade granítica mais abundante,

a Suíte Granítica Encruzilhada do Sul, é composta por sienogranitos e monzogranitos

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74

com textura grossa e porfirítica, que localmente passa de forma gradacional para fácies

equigranulares rosadas, similares às rochas graníticas da Suíte Dom Feliciano (Fragoso-

Cesar, 1991).

O Cinturão Ribeira no Rio Grande do Sul

O Cinturão Ribeira é um orógeno com idade Meso-Proterozóica a Eo-

Paleozóica, que se estende desde o estado da Bahia até o Uruguai (Hasui, Carneiro,

Coimbra, 1975; Almeida e Hasui, 1984), sendo subdividido em sua porção meridional,

no Rio Grande do Sul, nas unidades Terreno Rio Vacacaí, Orógeno Bom Jardim e

Plataforma Carbonática Pedreiras (Fragoso-Cesar, 1991). A Plataforma Carbonática

Pedreiras aflora em uma pequena área a leste do Alto de Caçapava do Sul, estando

diretamente em contato com a borda oeste da Sub-Bacia Camaquã Central. É

constituída essencialmente por mármores dolomíticos, com intercalações de quartzitos,

meta-margas e rochas básicas (Fragoso-Cesar, 1991).

O Terreno Rio Vacacaí reúne ofiolitos, escamas tectônicas dos Gnaisses Cambaí

e rochas supracrustais. As Supracrustais Vacacaí, caracterizadas por rochas

metavulcano-sedimentares, metagrauvacas, xistos e filitos, e o Granito Caçapava do Sul,

unidade heterogênea predominantemente composta por granodioritos e monzogranitos

com foliação metamórfica, ocorrem na região do Alto de Caçapava do Sul, portanto

localizadas em uma área proximal em relação ao Grupo Guaritas (Fragoso-Cesar, 1991;

Almeida, 2005). Nas áreas a oeste da Sub- Bacia Camaquã Ocidental ocorrem rochas

vulcânicas ácidas a intermediárias da Formação Acampamento Velho e Grupo Bom

Jardim, rochas siliciclásticas do Grupo Maricá e granitóides dos stocks Lavras do Sul,

Jaguari e Santo Afonso, que podem ser diferenciados do Granito Caçapava do Sul por

apresentarem granulação mais grossa, estrutura maciça e localmente textura rapakivi

(Almeida, 2005).

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75

TRABALHOS ANTERIORES SOBRE A PROVENIÊNCIA SEDIMENTA R DO

GRUPO GUARITAS

Robertson (1966) foi um dos pioneiros na pesquisa da Bacia do Camaquã e

definiu a Formação Guaritas, descrevendo-a como rochas de estrutura acamadada

predominantemente horizontal, constituídas por brechas de talus, fanglomerados e

arcósios de granulação grossa. Desde então já descreve que as brechas de talus basais da

unidade são compostas por seixos e blocos de xistos e granitos, com contribuições

locais de clastos provenientes do Membro Andesito Martins. Também descreve que as

camadas superiores apresentam seixos com composição representativa de toda a região

no entorno e que apresentam maior grau de seleção, com seixos mais bem

arredondados, o que interpreta como retrabalhamento de sedimentos da Formação Santa

Bárbara.

Posteriormente Ribeiro et al. (1966) descrevem que na Formação Guaritas as

áreas fonte tiveram controle secundário na composição dos seixos, que é dominada por

quartzo, quartzito ou rochas resistentes e que são geralmente bem arredondados, exceto

em regiões muito próximas a área fonte. Segundo o mesmo autor, os sedimentos das

porções superiores da Formação Guaritas possuem contribuição de rochas

metamórficas.

O primeiro trabalho sistemático que trata da proveniência das fácies fluviais,

eólicas e de leques aluviais do Grupo Guaritas é o de De Ros, Morad e Paim (1994).

Esses autores classificaram os depósitos do Grupo Guaritas como molássicos,

majoritariamente constituídos por arcósios líticos e litoarenitos, com fragmentos líticos

de rochas vulcânicas ácidas (principalmente riolitos), rochas metamórficas (metapelitos

e mármores) e rochas plutônicas (granitos e gnaisses). Também atestaram que processos

diagenéticos, como dissolução de feldspatos, podem influenciar na interpretação de

ambientes de proveniência por alterar a composição original dos sedimentos e

interpretaram, com base em minerais diagenéticos precoces, clima árido a semi-árido

durante a deposição do Grupo Guaritas.

Page 87: Dissertação_Versão corrigida

76

Borba et al. (2003) realizam análises isotópicas pelos métodos Rb-Sr e Sm-Nd

em depósitos pelíticos fluviais, lateralmente correlatos às fácies de arenitos eólicos, na

borda leste do Grupo Guaritas. Valores elevados da razão isotópica 87Rb/ 86Sr indicam

áreas fonte muito ricas em potássio. Comparando seus resultados com demais dados

isotópicos das áreas adjacentes, reconhecem similaridade com rochas do Cinturão Dom

Feliciano situadas a leste, principalmente os metagranitos Quitéria, Arroio

Francisquinho e Cordilheira, e subordinadamente rochas vulcânicas da Formação

Acampamento Velho e das suítes graníticas Pinheiro Machado e Encruzilhada do Sul.

Não reconhecem similaridade com as rochas metamórficas do Complexo Porongos e

com o Gnaisse Encantadas, interpretando que tais unidades poderiam estar soterradas ou

impedidas de sofrer erosão.

Almeida (2005) descreve em linhas gerais a composição de seixos em sucessões

aluviais do Grupo Guaritas e compara algumas diferenças apresentadas entre suas

unidades, levando em conta seus elementos arquitetônicos. O autor descreve que ambas

as Formações Guarda Velha e Serra do Apertado apresentam sentido de paleocorrentes

para SW e geralmente seixos arredondados, dominados por rochas vulcânicas ácidas,

granitos e quartzo de veio, o que interpreta como indicativo de fontes mais distais

situadas ao norte da bacia. Diferentemente, na Formação Pedra das Torrinhas e porções

proximais da Formação Varzinha, predominam clastos angulosos de quartzo milonitos e

filonitos, cuja área fonte reside a leste, na Serra das Encantadas. Na Formação Pedra das

Torrinhas a proveniência dos seixos também pode ser controlada pelos tipos de

ambientes deposicionais, como os elementos arquitetônicos LD (lobos de fluxo de

detritos), com predomínio de filitos, e CE (canais de rios efêmeros), com granitos e

vulcânicas ácidas (Almeida, 2005).

Em seguida, Hartmann, Santos e McNaughton (2008) aplicam o método de

datação U-Pb em cristais de zircão de um arenito pertencente ao Grupo Guaritas,

encontrando duas populações principais de zircões, a mais abundante com idade entre

2260 e 2004 Ma, que relacionam ao ciclo Transamazônico, e outra com idade entre 844

e 535 Ma, que relacionam ao ciclo Brasiliano, além de uma quantidade menor de

cristais com idades Arqueana (2525-2766 Ma), Paleoproterozóica (1995-1634 Ma) e

Mesoproterozóica (1352-1369 Ma). Com base nesse estudo interpretam que a principal

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77

fonte para os sedimentos do Grupo Guaritas foram rochas do ciclo Transamazônico,

com idades entre 2260 e 2004 Ma.

Nóbrega, Sawakushi e Almeida (2008) fazem um estudo de proveniência através

de minerais pesados, definindo alguns critérios comparativos entre as unidades do

Grupo Guaritas. A Formação Serra do Apertado se diferencia das Formações Pedra

Pintada e Varzinha por possuir maior grau de retrabalhamento sedimentar, acusado por

valores de índice ZTR mais elevados, e maior contribuição direta de fontes ígneas,

devido à maior abundância de cristais euédricos de zircão. Segundo Nóbrega,

Sawakushi e Almeida (2008), rochas graníticas teriam atuado como principal área fonte

para o Grupo Guaritas, devido ao predomínio da associação mineralógica zircão-apatita-

turmalina-granada encontrada.

Posteriormente, Marconato et al. (2009) apresentam estudos de proveniência em

depósitos de leques aluviais, referentes à Formação Pedra das Torrinhas, e fluviais

entrelaçados, pertencentes à Formação Serra do Apertado, próximos da borda leste do

Grupo Guaritas. Identificam que apesar das paleocorrentes similares em ambos

ambientes de sedimentação, com sentido do vetor resultante para NW, na Formação

Pedra das Torrinhas predominam seixos compostos por quartzo milonito e granito

milonítico, com menor contribuição de clorita xistos, enquanto na Formação Serra do

Apertado a proveniência é mais diversificada, com seixos e calhaus de granitos, granitos

miloníticos, riolitos e quartzo milonitos. A partir desses dados, interpretam que a área

fonte dos leques aluviais situava-se próxima à borda da bacia, onde afloram os Granitos

Miloníticos Porongos (sensu Fragoso-Cesar, 1991), enquanto os rios entrelaçados

apresentavam maior área de captação, devido à diversidade de litotipos encontrada.

Almeida et al. (2009) realizam contagens de seixos em cada uma das unidades

do Grupo Guaritas, utilizando tais dados como um dos suportes na interpretação da

evolução da bacia do “rift Guaritas” e de sua paleogeografia. Segundo seus estudos, as

fases de iniciação e clímax primário do rift , representadas pela Formação Guarda Velha,

são marcadas por um sistema fluvial axial, com transporte para SW, e seixos compostos

predominantemente por granitos e rochas vulcânicas arredondadas, indicando

proveniência de fontes distais situadas a norte. As fases de clímax médio a tardio do rift ,

representadas pelas Formações Varzinha, Pedra das Torrinhas e Pedra Pintada,

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78

apresentam sistemas de leques aluviais e de rios efêmeros com transporte para W, com

abundância de seixos de granitos miloníticos e quartzo milonitos, indicando fontes

situadas a leste. Em algumas porções da Formação Varzinha e nas fácies de interdunas

do sistema eólico da Formação Pedra Pintada, ocorrem seixos de granitos e rochas

vulcânicas, similares à proveniência do sistema fluvial axial. Por fim, no estágio pós-

rift , representado pela Formação Serra do Apertado, tornariam a ocorrer seixos

arredondados dominados por rochas graníticas e vulcânicas, com transporte para SW,

indicando novamente o domínio de um sistema fluvial axial.

Page 90: Dissertação_Versão corrigida

79

ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA

Foram coletados dados de proveniência em 35 sítios de amostragem distintos,

nas Formações Guarda Velha, Varzinha, Pedra Pintada, Pedra das Torrinhas e Serra do

Apertado (sensu Almeida, 2005; Almeida et al., 2009). A distribuição espacial dos

sítios de amostragem na área de estudo, assim como as unidades estratigráficas às quais

pertencem, estão representadas no mapa da Figura 3.

Os seixos, calhaus e matacões descritos em arenitos conglomeráticos e

conglomerados foram agrupados em treze classes de litotipos distintas, sendo elas:

andesito, aplito, arenito, metassedimentos – que inclui filitos, xistos, filonitos,

metaconglomerados e metarenitos, granitos – que inclui granitos, sienogranitos,

monzogranitos e monzodioritos, podendo apresentar biotita ou anfibólio, granitos

miloníticos – granitos, monzogranitos, sienogranitos e quartzo monzonitos

milonitizados, leucogranito, pegmatito, quartzito – que inclui quartzitos maciços e

orientados, quartzo de veio, quartzo milonito, riolito – que inclui riolitos e vulcânicas

ácidas, e sienito.

Os dados composicionais obtidos a partir da contagem de seixos serão

representados a seguir através da estatística descritiva, como gráficos de porcentagem

das classes de seixos observadas (Tabelas 1 e 2), e da análise estatística multivariada,

que permite uma melhor visualização dos diferentes grupos de dados quando se tem

uma grande quantidade de variáveis que interagem entre si, que representam as diversas

classes de seixos descritas no caso deste estudo. A técnica multivariada que melhor se

adequou para representar o conjunto de dados do presente estudo foi a análise por

principais componentes, que é utilizada para mostrar a importância relativa de cada

variável de um sistema, segundo a equação (1) (Davis, 1986). Essa técnica consiste em

reduzir o número de variáveis, a fim de facilitar a comparação entre os conjuntos de

dados, sem que ocorra uma perda de parte significativa da variância total.

Y1 = α1X1 + α2X2 + ... + αnXn (1)

Y2 = β1X1 + β2X2 + ... + βnXn

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80

Onde Y corresponde às principais componentes, sendo que Y1 contém uma

maior porcentagem de variância que Y2 e assim sucessivamente até Yn, α e β

correspondem a fatores de pesos proporcionais aos autovalores (eigenvalues) da matriz

de variância-covariância, que somados resultam na variância total, e X corresponde às

variáveis originais.

Formação Guarda Velha

Os depósitos da Formação Guarda Velha são interpretados como de ambiente

fluvial dominado por carga de fundo (Almeida, 2005; Paim e Scherer, 2007) e nela

foram realizadas contagens de seixos em dezesseis sítios de amostragem distintos com

ampla distribuição lateral (Figura 2). Os seixos desta unidade são dominados pelas

classes granito e riolito, que variam de 10,45 a 50,41% e 9,19 a 61,79% da composição

total, respectivamente. Também ocorrem de forma expressiva as classes quartzo de

veio, quartzo milonito, metassedimentos e granitos miloníticos e, em menor proporção,

arenito, sienito, aplito, andesito, leucogranito e quartzito (Figura 4).

De acordo com os trabalhos de Paim (1995), Almeida (2005) e Santos (2010), a

Formação Guarda Velha apresenta diferentes ambientes deposicionais que coexistiram

lateralmente. Na região oeste e noroeste da unidade o ambiente deposicional é

caracterizado por um sistema de rio tronco que corria paralelo à direção do eixo maior

da bacia, como indicado pelas paleocorrentes com sentido de transporte para SW (Paim,

1995; Almeida, 2005). Nos depósitos situados a leste, na região da Serra das Guaritas, o

ambiente deposicional é marcado por um sistema de rios transversais distributários,

marcados por altas variações de vazão e paleocorrentes com sentido de transporte para

NW (Paim, 1995; Santos, 2010). Os depósitos da base da Formação Guarda Velha são

caracterizados por espessas camadas de conglomerados intercalados com arenitos

conglomeráticos, que são interpretados por Almeida (2005) e Santos (2010) como

depósitos da fase de iniciação do rift .

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81

Figura 3: Mapa de localização dos pontos de amostragem dos dados para análise de proveniência

macroscópica. Os pontos, na região central do mapa, localizam-se dentro do Grupo Guaritas, na Sub-

Bacia Camaquã Central, que é delimitado a leste e a oeste respectivamente pelos altos da Serra das

Encantadas e da Serra de Caçapava do Sul, que são visíveis no mapa como duas faixas de maior elevação,

alongadas segundo a direção NNE-SSW. A legenda mostra as unidades estratigráficas às quais os pontos

de amostragem pertencem. Imagem SRTM extraída de:

http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/index.htm

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82

Tabela 1: Tabela de porcentagem das classes de seixos presentes em cada ponto de amostragem.

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83

Figura 4: Tabela de porcentagem das classes de seixos destacando as proporções relativas entre cada ponto de amostragem. A ordem dos pontos encontra-se aproximadamente de acordo com a estratigrafia do Grupo Guaritas, sendo que os depósitos mais antigos encontram-se na base e os mais recentes no topo. a – depósitos da fase de iniciação do rift ; b – depósitos do sistema de rios transversais distributários; c – depósitos do sistema de rio tronco; d – depósitos da borda leste da unidade; e – depósitos da região central da unidade; f – depósitos da porção estratigraficamente intermediária da unidade; g – depósitos do topo da unidade; h – depósitos da borda leste da unidade; i – depósitos da borda oeste da unidade.

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84

A análise por principais componentes foi realizada para comparar a composição

de seixos entre os diferentes sítios de amostragem e avaliar se ocorrem agrupamentos

composicionais internos a essa unidade. As principal componente 1 (PC1) e a principal

componente 2 (PC2), que correspondem respectivamente a 32,3% e 18,2% da variância

total do conjunto de dados, podem ser descritas pelas seguintes equações:

PC1 = 0,354and – 0,324apl – 0,265arn – 0,416mts + 0,337grn mil + 0,082grn – 0,124leuc + 0,316peg + 0,293qtzt – 0,202qtz veio + 0,217qtz mil – 0,025rio + 0,340sie

PC2 = 0,017and + 0,068apl – 0,336arn – 0,210mts + 0,235grn mil + 0,255grn + 0,484leuc + 0,031peg – 0,351qtzt + 0,326qtz veio + 0,352qtz mil + 0,239rio – 0,271sie

Onde and = andesito; apl = aplito; arn = arenito; mts = metassedimentos; grn mil

= granito milonítico; grn = granito; leuc = leucogranito; peg = pegmatito; qtzt =

quartzito; qtz veio = quartzo de veio; qtz mil = quartzo milonito; rio = riolito; sie =

sienito.

O gráfico da Figura 5 mostra o resultado obtido através dessa análise

multivariada.

Com base na Figura 5 é possível observar que dois agrupamentos principais

foram gerados pela composição de seixos: um que apresenta valores exclusivamente

positivos da primeira componente, variando entre valores positivos e negativos da

segunda componente, e outro com valores exclusivamente negativos da primeira

componente, que varia entre valores negativos e positivos da segunda. O gráfico da

Figura 3 também mostra que há uma forte correlação entre os agrupamentos e os

ambientes deposicionais de sistema de rio tronco, sistema de rios transversais e fase de

iniciação de rift descritos na literatura.

Page 96: Dissertação_Versão corrigida

85

Figura 5: Gráficos de espalhamento (scater plot) (A) e de pesos (loading plot) (B) da análise por

principais componentes a partir dos dados composicionais de seixos da Formação Guarda Velha. No

gráfico é possível observar dois agrupamentos principais, um com valores positivos da primeira

componente e outro com valores negativos da mesma, que se correlacionam com os diferentes tipos de

ambientes deposicionais.

A oeste e noroeste os depósitos apresentam proporções mais baixas de granitos

miloníticos e quartzo milonitos, variando de 0,44 a 12,43% e 0,00 a 22,32%

respectivamente, enquanto na região da Serra das Guaritas as proporções dessas classes

de seixos são mais elevadas, variando de 7,45 a 22,68% e 11,84 a 39,59%

respectivamente, como pode ser observado no gráfico de pesos (loading plot) da Figura

5 (B) e na (Figura 4). Os depósitos das regiões oeste e noroeste também são mais

polimíticos em relação aos depósitos situados a leste, ocorrendo comumente classes de

seixos como metassedimentos, arenitos e, em menor proporção, aplitos. Já os depósitos

situados na base da Formação Guarda Velha apresentam baixas proporções de classes

de rochas miloníticas, variando de 7,4 a 10,44% e 1,93 a 6,89% para quartzo milonito e

granitos miloníticos respectivamente, e são tão polimíticos como os depósitos do

sistema de rio tronco, apresentando classes de seixos como aplito, andesito, arenito e

leucogranito, mas se diferenciam desse último sistema por apresentarem proporções

Page 97: Dissertação_Versão corrigida

86

mais elevadas de aplito e leucogranito, como pode ser observado no gráfico de pesos

(loading plot) da Figura 5 (B) e na (Figura 4).

Dessa forma, as altas proporções de granitos miloníticos e quartzo milonitos

observadas nos depósitos da Serra das Guaritas são interpretadas como contribuições de

fontes situadas a leste, como os Granitos Miloníticos Porongos (sensu Fragoso-Cesar,

1991), correspondendo positivamente às interpretações de Santos (2010) sobre a

presença de um sistema fluvial distributário transversal. A maior diversidade de

litotipos nos depósitos das regiões oeste e noroeste indicam um sistema fluvial com

maior área de captação e corrobora a interpretação de estudos anteriores da presença de

um rio tronco nessa região (Paim, 1995; Almeida, 2005), com áreas fonte situadas a

norte.

Nos depósitos da fase de iniciação do rift foi observado que a proveniência

apresenta uma certa dicotomia, pois como pode ser observado no gráfico da Figura 5 os

pontos 25 e 26, localizados no Passo da Guarda Velha, se assemelham mais aos

depósitos de sistema de rio tronco, enquanto que o ponto 01, localizada no Passo do

Cação, se assemelha aos depósitos do sistema de rios transversais distributários. Os

estudos de Santos (2010) mostram que na região do Passo do Cação o elemento

arquitetônico dominante é caracterizado por barras conglomeráticas espessas, com

algumas intercalações com sets de arenitos conglomeráticos com estratificação cruzada

acanalada, enquanto que na região do Passo da Guarda Velha a sucessão sedimentar se

inicia com depósitos conglomeráticos espessos, mas seção acima grada para elementos

mais ricos em fácies arenosas, caracterizando uma fase de transição para elementos

arquitetônicos dominados por uma granulometria mais fina. Além de ter sido observada

uma diferença de composição nos depósitos da fase de iniciação do rift Guaritas, os

estudos de Santos (2010) mostram que ocorre uma diferenciação por tipos de fácies e

granulometria dominantes.

Dessa forma, consideramos a hipótese de que a fase de iniciação do rift Guaritas

apresenta diferentes áreas fonte que contribuíram para a formação de seus depósitos,

com área fonte situadas a leste para depósitos dominados por fácies conglomeráticas,

com presença de matacões, característicos de fontes mais proximais e com composição

de seixos que se assemelha aos depósitos dos sistemas de rios transversais distributários,

Page 98: Dissertação_Versão corrigida

87

e fontes situadas a norte para os depósitos com maior ocorrência de fácies areno-

conglomeráticas, características de uma maior maturidade do sedimento transportado e

com composição que se assemelha mais ao sistema de rio tronco.

Formação Varzinha

Os depósitos da Formação Varzinha são interpretados como de ambiente fluvial

dominados por carga mista (Almeida, 2005; Paim e Scherer, 2007) e nela foram

realizadas contagens de seixos em quatro sítios de amostragem, sendo três localizados

na borda leste da unidade, próximos ao alto da Serra das Encantadas, e um na porção

central da unidade. Nos depósitos da borda leste, correspondentes aos pontos de

amostragem 17, 16 e 18 (Figura 3), a classe de seixos dominante é o quartzo milonito,

que varia entre 26,51 e 48,54% da composição total, ocorrendo também em

significativas proporções seixos das classes granitos miloníticos, granitos, riolitos e

metassedimentos, e em menor proporção as classes aplitos, andesitos, arenitos,

leucogranitos e sienitos (Tabela 2). Os depósitos da porção central, representados pelo

ponto de amostragem 24 (Figura 2), são dominados por seixos de quartzo de veio,

representando 72,42% da composição total, ocorrendo também quartzo milonitos,

granitos, granitos miloníticos, aplitos, metassedimentos e sienitos (Figura 4).

A elevada proporção de quartzo de veio observada nos depósitos da porção

central da Formação Varzinha possivelmente indica fontes mais distais e maior

retrabalhamento. Como o quartzo de veio representa uma porcentagem muito pequena

da rocha fonte, deve haver grandes distâncias de transporte para que se acumule em

grandes quantidades no depósito, e possivelmente policiclicidade. Os depósitos situados

a leste apresentam proporções mais elevadas de rochas miloníticas e metassedimentos,

sugerindo que suas áreas fontes situam-se a leste, na Serra das Encantadas.

Segundo Almeida (2005) a Formação Varzinha apresenta paleocorrentes com

sentido de transporte para sudoeste na região central da unidade, enquanto na borda

leste da mesma o sentido de transporte é para noroeste. Dessa forma, as diferenças

observadas entre as composições de seixos para as regiões central e leste da Formação

Varzinha corroboram os dados de paleocorrentes de Almeida (2005), indicando

Page 99: Dissertação_Versão corrigida

88

diferentes áreas fonte para a unidade. Os clastos depositados na região central

provavelmente sofreram maior transporte e foram trazidos para a bacia por um rio com

área de captação mais distal, provavelmente situadas a norte, enquanto os sedimentos

depositados na região leste sofreram transporte mais curto e preservam bem a

assembléia de litotipos de sua área fonte a leste, na Serra das Encantadas.

Formação Pedra Pintada

Os depósitos da Formação Pedra Pintada são interpretados como de ambiente de

campos de dunas eólicas (Fragoso-Cesar, 1991; Paim, 1994; Almeida, 2005) com

interdunas fluviais (Almeida, 2005; Paim e Scherer, 2007) e nela foram realizadas

contagens de seixos apenas nas fácies subaquáticas em três sítios de amostragem, dois

pertencentes ao topo da unidade, em contato com a Formação Serra do Apertado

sotoposta, que correspondem aos pontos 29 e 30, e um situado em uma porção

estratigraficamente intermediária da unidade, correspondente ao ponto 27 (Figura 3). Os

depósitos de topo apresentam franco predomínio de seixos de quartzo milonito, que

variam de 48,9 a 71,93% da composição total, ocorrendo em menores proporções

clastos de granitos, granitos miloníticos, quartzo de veio, riolitos e metassedimentos

(Figura 4). Os depósitos da porção intermediária da unidade apresentam significativa

contribuição de metassedimentos e quartzo milonitos, que representam respectivamente

39,2 e 48,9% da composição total, ocorrendo também riolitos, granitos, granitos

miloníticos e quartzo de veio (Figura 4).

Segundo dados de Almeida (2005), os depósitos de interdunas fluviais da

Formação Pedra Pintada apresentam paleocorrentes com sentido de transporte principal

para noroeste. A grande quantidade de quartzo milonito encontrada nos depósitos dessa

unidade, assim como a presença em menor quantidade de rochas metamórficas de baixo

grau, granitos e riolitos, indicam área fonte situada a leste, na Serra das Encantadas.

Como as rochas pertencentes à classe metassedimentos são pouco resistentes ao

transporte, sua maior presença em depósitos da porção intermediária da Formação Pedra

Pintada pode indicar fontes mais proximais, ou climas mais áridos, enquanto que a

diminuição em porcentagem da classe metassedimentos e aumento na de quartzo

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89

milonito, quartzo de veio, granitos e riolitos para o topo da unidade pode representar

fontes mais distais, ou climas mais úmidos.

Formação Pedra das Torrinhas

Os depósitos da Formação Pedra das Torrinhas são interpretados como de

ambiente de leques aluviais e ocorrem predominantemente na borda leste da bacia do

Grupo Guaritas, com ocorrências mais escassas na borda oeste (Almeida, 2005). Foram

feitas contagens de seixos em dois sítios de amostragem, um situado na borda leste do

Grupo Guaritas e outro situado na borda oeste. A leste, próximo ao Alto da Serra das

Encantadas, predominam seixos de quartzo milonitos, que compõe 91,93% do total,

ocorrendo também clastos de granitos miloníticos e metassedimentos (Figura 4). A

oeste, próximo ao Alto de Caçapava do Sul, predominam seixos de metassedimentos,

compondo 81,41% do total, ocorrendo também as classes granitos, riolitos, quartzo

milonitos, granitos miloníticos e arenitos (Figura 4).

Os resultados indicam que os depósitos da Formação Pedra das Torrinhas

provavelmente sofreram pouco transporte, como é mostrado pela alta angulosidade dos

clastos e pela predominância de seixos das unidades localizadas nas bordas da bacia,

como quartzo milonito a leste, no Alto da Serra das Encantadas, e metassedimentos a

oeste, no Alto de Caçapava do Sul.

Formação Serra do Apertado

Os depósitos da Formação Serra do Apertado são interpretados como de

ambiente fluvial dominado por carga de fundo (Almeida, 2005) e nela foram realizadas

contagens de seixos em dez sítios de amostragem, sendo que oito estão localizados na

região da Serra do Apertado, onde ocorre a seção tipo dessa unidade, e outros dois mais

a sul, próximos ao Passo do Moinho, correspondentes aos pontos 28 e 29 (Figura 3). A

composição dos seixos é tipicamente dominada pelas classes riolito e granito, que

variam de 6,01 a 44,23% e 19,4 a 57,54% respectivamente, ocorrendo também quartzo

de veio, quartzo milonito, granitos miloníticos, metassedimentos e, em menores

proporções, leucogranito, pegmatito, quartzito, aplito e andesito (Figura 4).

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90

Foi realizada a análise multivariada por principais componentes nesta unidade a

fim de avaliar a possível ocorrência de agrupamentos composicionais por classes de

seixos. As PC1 e PC2 correspondem respectivamente a 60,2% e 15,7% da variância

total dos dados e são descritas pelas seguintes equações:

PC1 = – 0,213and – 0,178apl + 0,336arn + 0,262mts + 0,215grn mil + 0,318grn –

0,025leuc – 0,335peg – 0,320qtzt + 0,315qtz veio + 0,341qtz mil + 0,224rio + 0,336sie

PC2 = 0,178and – 0,459apl + 0,009arn – 0,029mts – 0,415grn mil + 0,121grn +

0,681leuc – 0,151peg – 0,206qtzt – 0,186qtz veio – 0,058qtz mil – 0,056rio + 0,009sie

Onde and = andesito; apl = aplito; arn = arenito; mts = metassedimentos; grn mil

= granito milonítico; grn = granito; leuc = leucogranito; peg = pegmatito; qtzt =

quartzito; qtz veio = quartzo de veio; qtz mil = quartzo milonito; rio = riolito; sie =

sienito.

O gráfico da Figura 4 mostra o resultado obtido através dessa análise estatística

multivariada.

Com base no gráfico da Figura 6 é possível observar que ocorrem dois

agrupamentos principais internos à Formação Serra do Apertado. O agrupamento que

reúne a maior quantidade de pontos de amostragem apresenta valores positivos da

primeira componente e possui uma grande variação ao longo do eixo da segunda

componente, que se deve a uma variação nas proporções das classes de seixos que

ocorrem entre os leucogranitos e os granitos miloníticos, como pode ser observado no

gráfico de pesos (loading plot) da Figua 6 (B). O outro agrupamento, que reúne apenas

dois pontos de amostragem, correspondentes aos pontos 10 e 12 (Figura 6 (A)),

apresenta valores negativos da primeira componente devido à presença de classes de

seixos raras como andesitos, aplitos e quartzitos que o torna mais polimítico que o outro

agrupamento, como pode ser observado no gráfico de pesos (loading plot) da Figura 6

(B) e na Tabela 2, e varia entre valores positivos e negativos da segunda componente.

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91

Figura 6: Gráficos de espalhamento (scater plot) (A) e de pesos (loading plot) (B) da análise por principais componentes a partir dos dados composicionais de seixos da Formação Serra do Apertado. Ocorrem dois agrupamentos, um com valores positivos da primeira componente, que abrange a maior quantidade de pontos, e outro com valores negativos da primeira componente.

A análise de paleocorrentes nos depósitos da Formação Serra do Apertado,

realizada neste trabalho, reuniu ao todo 139 medições distribuídas por seis estações de

medidas. As paleocorrentes medidas a partir de estratificações cruzadas acanaladas

apresentam uma grande dispersão, mas o vetor médio indica sentido de transporte

predominante para noroeste, como pode ser observado no mapa de distribuição das

paleocorrentes da Figura 7. A presença de seixos das classes quartzo milonito, granito

milonítico e metassedimentos em praticamente todos os sítios onde foram feitas

contagens de seixos remetem a uma área fonte situada a leste, corroborando assim os

dados de paleocorrente obtidos.

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92

Figura 7: Mapa da distribuição das paleocorrentes da Formação Serra do Apertado na região da serra homônima. As paleocorrentes foram medidas a partir de estratificações cruzadas acanaladas e laminações cruzadas cavalgantes. Os diagramas em roseta mostram que em todos os afloramentos analisados o sentido principal do transporte é para NW ou NNW. n – número de medições.

Seis dos sítios de amostragem na região da Serra do Apertado encontram-se

alinhados perpendicularmente à direção do acamamento local (N27E/8NW), na seção

geológica A- A´ (Figuras 8 e 9), e compreendem depósitos desde a base da Formação

Serra do Apertado, que apresenta contato com a Formação Pedra Pintada sotoposta, até

uma porção intermediária da unidade que neste local apresenta espessura mínima de 695

m (Figura 9).

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93

Figura 8: Mapa de pontos da seção geológica A – A´. Na porção W da imagem situa-se a Serra do Apertado, alinhada segundo a direção NE – SW, e é possível observar que os pontos de amostragem encontram-se alinhados perpendicularmente à direção principal da mesma. Imagem de satélite extraída de: http://maps.google.com.br

A Figura 9 mostra que ao longo da seção geológica A – A´, indicada no mapa de

pontos da Figura 8, a proporção entre seixos de composição quartzosa e não quartzosa

apresentam uma variação vertical significativa. Do ponto SA-30 que está situado na

base da Formação Serra do Apertado até o ponto SA-31, que representa a região

estratigraficamente intermediária da seção geológica, a proporção de seixos da classe

quartzo de veio passa gradativamente de 25,54 para apenas 5,61%, enquanto a classe

quartzo milonito sofre um aumento do ponto SA-30 ao SA-35, variando de 9,56 para

21,37%, mas no ponto SA-31 diminui abruptamente para 8,83%. As proporções das

classes quartzo de veio e quartzo milonito começam a aumentar gradativamente a partir

do ponto SA-31 indo sentido ao ponto SA-33, que representa a porção mais recente dos

depósitos na seção, variando de 5,61 e 8,83% para 35,12 e 24,48%, respectivamente.

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94

Figura 9: Seção geológica A – A´ e gráfico de porcentagem de seixos por sítios de amostragem. Na seção geológica é possível observar que os sítios de amostragem estão alinhados segundo o rumo de mergulho do acamamento local, de forma que os depósitos tornam-se progressivamente mais recentes para NW. O gráfico de porcentagem em barras mostra a variação na composição dos seixos ao longo da estratigrafia da Formação Serra do Apertado neste local.

Ainda na Figura 9 é possível observar que do ponto SA-30 ao SA-31 a

proporção da classe granitos aumenta gradativamente, passando de 27,37 para 57,54%,

enquanto a classe riolito sofre uma diminuição do ponto SA-30 ao SA-35, variando de

34,2 a 14,14%, mas aumenta abruptamente para 21,82% no ponto SA-31. No ponto SA-

31 ocorre o aparecimento de mais uma classe de seixos não quartzosos, os

leucogranitos, com expressão de 4,98%. A partir do ponto SA-31 em sentido ao ponto

SA-33 ambas as proporções das classes granitos e riolito sofrem uma diminuição

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95

gradual, passando de 57,54 e 21,82% para 23,61 e 6,01% respectivamente, e a classe

leucogranitos desaparece.

A variação descrita acima mostra que do ponto SA-30 para o ponto SA-31 a

proporção de seixos não quartzosos, como granitos e riolito, sofre um aumento

significativo enquanto a proporção dos seixos quartzosos, como quartzo de veio e

quartzo milonito, sofrem uma diminuição. Essa tendência se inverte do ponto SA-31

para o SA-33, onde a proporção de seixos não quartzosos diminui gradativamente e a de

seixos quartzosos aumenta.

Comparação da proveniência entre as unidades do Grupo Guaritas

Através da análise estatística multivariada por principais componentes foi

possível realizar uma comparação entre todas as variáveis de classes de seixos das

unidades estratigráficas do Grupo Guaritas, a fim de testar a hipótese preliminar de que

as informações providas pela análise de proveniência sedimentar poderiam apontar

critérios de descrição das unidades estratigráficas com base na composição dos seixos,

podendo assim ser utilizadas para auxiliar no reconhecimento e distinção no campo de

cada unidade estratigráfica do Grupo Guaritas. As PC1 e PC2 correspondem

respectivamente a 25,6% e 17,2% da variância total do conjunto de dados e são

expressas pelas seguintes equações:

PC1 = 0,176and – 0,106apl + 0,075arn + 0,133mts + 0,437grn mil – 0,452grn –

0,157leuc +0,216peg + 0,074qtzt – 0,384qtz veio + 0,344 qtz mil – 0,380rio + 0,227sie

PC2 = 0,450and – 0,408apl – 0,088arn – 0,490mts + 0,057grn mil + 0,116grn –

0,156leuc + 0,189peg + 0,515qtzt + 0,069qtz veio – 0,102qtz mil + 0,158rio – 0,020sie

Onde and = andesito; apl = aplito; arn = arenito; mts = metassedimentos; grn mil

= granito milonítico; grn = granito; leuc = leucogranito; peg = pegmatito; qtzt =

quartzito; qtz veio = quartzo de veio; qtz mil = quartzo milonito; rio = riolito; sie =

sienito.

Page 107: Dissertação_Versão corrigida

96

O gráfico da Figura 10 mostra o resultado obtido para o teste estatístico

supracitado.

Figura 10: Gráfico de espalhamento (scater plot) e de pesos (loading plot) da análise estatística por principais componentes dos dados composicionais de seixos de todo o Grupo Guaritas. A legenda mostra os agrupamentos de cada unidade. A grande dispersão dos dados, mesmo dentro de uma mesma unidade, deve-se provavelmente à diversidade de sistemas deposicionais e/ ou áreas fonte.

Com base no gráfico da Figura 10 é possível observar que a Formação Guarda

Velha é a que apresenta maior variação composicional, com valores predominantemente

negativos da primeira componente, que se deve às grandes quantidades de seixos das

classes granitos e riolito nessa unidade, com a exceção dos pontos 03, 05, 06 e 07,

pertencentes à região leste da unidade, na Serra das Guaritas, que possuem valores

positivos devido a presença das classes andesito, quartzo milonito e granitos miloníticos

na sua composição (Figura 10 (B)). A Formação Guarda Velha apresenta grande

variação ao longo do eixo da segunda componente, com valores negativos e positivos,

que se deve principalmente pelas variações entre as classes quartzito e metassedimentos

(Figura 10 (B)). Essa grande dispersão apresentada pela Formação Guarda Velha pode

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97

refletir seus diferentes ambientes deposicionais, que acarretam em diferentes áreas fonte

e processos de transporte, no entanto, outra explicação para a disperção de dados

observada seria a maior amostragem realizada nessa unidade, assim como sua maior

espessura e área aflorante com relação às demais formações.

A maioria dos pontos de amostragem da Formação Varzinha encontram-se em

um agrupamento com valores negativos da primeira componente, devido à presença de

classes de seixos como granitos, riolito e quartzo milonito em sua composição, e

negativos da segunda componente, principalmente devido à presença das classes aplito e

leucogranito (Figura 10 (B)). Apenas o ponto de amostragem 16 apresenta valores

positivos da primeira componente e não está inserido no mesmo agrupamento que os

demais pontos, pois apresenta proporções mais elevadas de quartzo milonito, granitos

miloníticos e metassedimentos, demonstrando uma forte contribuição das áreas

proximais situadas a leste, no alto da Serra das Encantadas. Nota-se que o ponto de

amostragem 24, pertencente à Formação Varzinha, se assemelha ao ponto 23,

pertencente à Formação Guarda Velha, devido à presença da classe de seixos aplito na

composição de ambos, como pode ser observado no gráfico de pesos da Figura 10 (B) e

na Figura 4.

Todos os pontos de amostragem da Formação Pedra Pintada apresentam-se em

um mesmo agrupamento, com valores positivos da primeira componente e negativos da

segunda componente, o que reflete a grande influência da classe quartzo milonito, que é

predominante, na composição dos seixos dessa unidade (Figura 10 (B) e Figura 4). Tal

assinatura composicional indica uma área fonte muito proximal à leste no alto da Serra

das Encantadas.

Na Formação Pedra das Torrinhas, os pontos de amostragem apresentam valores

positivos da primeira componente, com uma grande variação ao longo desse eixo, e

valores negativos da segunda componente. A grande variação ao longo do eixo da

primeira componente é reflexo da presença das classes metassedimentos ou quartzo

milonito como tipo de seixo predominante no depósito (Figura 10 (B) e Figura 4),

indicando que a unidade possui áreas fonte distintas, situadas nas bordas oeste e leste da

bacia do Grupo Guaritas, respectivamente. Vale notar que o ponto 19, pertencente à

Formação Pedra das Torrinhas, se assemelha ao ponto 27, pertencente à Formação

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98

Pedra Pintada, que se deve à expressiva proporção de seixos da classe metassedimentos

em ambos os pontos de amostragem, como pode ser observado no gráfico de pesos da

Figura 10 (B) e na Figura 4.

A maioria dos pontos de amostragem da Formação Serra do Apertado formam

um agrupamento principal que apresenta valores negativos da primeira componente,

devido à expressiva quantidade das classes granitos, riolito e quartzo de veio na

unidade, e valores negativos ou próximos à origem da segunda componente, por conta

de pequenas contribuições das classes aplito e leucogranito (Figura 10 (B) e Figura 4).

Os pontos de amostragem 10 e 12 destoam dos demais, apresentando valores positivos

da segunda componente, o que se deve principalmente pela presença da classe

quartzitos em sua composição. Vale ressaltar que os pontos 10 e 12 assemelham-se

muito aos pontos 02 e 03 pertencentes à Formação Guarda Velha, respectivamente, por

também apresentarem seixos da classe quartzito em sua composição além de uma forte

influência das classes granitos, riolito e quartzo de veio, como pode ser observado no

gráfico de pesos da Figura 10 (B) e na Figura 4.

Page 110: Dissertação_Versão corrigida

99

PALEOGEOGRAFIA E PALEOCLIMA

Com base nos estudos de proveniência e análise de paleocorrentes realizados no

presente trabalho, somados às descrições e análises de paleocorrentes disponíveis na

literatura, percebe-se que os depósitos fluviais da região leste das Formações Guarda

Velha, Varzinha e Serra do Apertado, assim como os depósitos de interdunas fluviais da

Formação Pedra Pintada e os depósitos de leques aluviais da borda leste da Formação

Pedra das Torrinhas, possuem sentido de transporte principal para noroeste e áreas

fontes situadas a leste, nas regiões da Serra das Encantadas e/ ou do Batólito Pelotas.

Dessa forma, nos parece plausível supor que desde o início ao fim da deposição do

Grupo Guaritas houve a contribuição de sedimentos de um mesmo sistema fluvial com

área de captação situada nos altos orográficos a leste, com sentido de transporte para

noroeste e direção perpendicular ao eixo principal da bacia.

Desde os depósitos da base da Formação Guarda Velha ocorrem seixos de

quartzo milonitos, metassedimentos e granitos miloníticos, sendo todas essas litologias

típicas das rochas que atualmente afloram adjacentes à bacia, no alto da Serra das

Encantadas. Somado aos padrões de paleocorrentes da borda leste da unidade, que

apontam sentido de transporte predominante para noroeste (Paim, 1995; Almeida, 2005;

Santos, 2010), é possível inferir que o alto da Serra das Encantadas já estava instalado

na borda leste da bacia desde o princípio da deposição da Formação Guarda Velha. No

entanto, foram observadas variações entre as proporções de seixos característicos de

fontes proximais e distais ao longo da estratigrafia do Grupo Guaritas, que podem ser

reflexos de mudanças tectônicas e climáticas na borda leste da bacia.

Comparando os dados de proveniência da porção leste da Formação Guarda

Velha com os da porção leste da Formação Varzinha, observa-se que a primeira possui

proporções menores das classes de seixos que representam áreas fonte mais proximais,

como quartzo milonito e metassedimentos, e maior de outras classes que representam

áreas mais distais, como granitos, quartzo de veio e riolitos. Sendo assim, a

proveniência de seixos aponta para uma aparente mudança de área fonte mais distal na

Formação Guarda Velha para uma área fonte mais proximal na Formação Varzinha

(Figura 11 I).

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100

Após a deposição da Formação Varzinha a proveniência de seixos continua

tornando-se cada vez mais proximal, de forma que a Formação Pedra Pintada é muito

mais rica em classes de seixos como quartzo milonitos e metassedimentos, e mais pobre

em classes de seixos que representam áreas mais distais, como granitos, leucogranitos e

riolitos. Dessa forma observa-se que da Formação Guarda Velha para a Formação Pedra

Pintada o sistema fluvial apresenta um aumento gradativo na proporção de seixos

provenientes de áreas proximais, o que não seria o esperado em um processo de

evolução de relevo normal com erosão remontante e, consequentemente, contribuições

de fontes cada vez mais distais. Uma hipótese que explicaria esse comportamento

inverso de evolução da área fonte seria a reativação da falha da borda leste do rift

durante a deposição das Formações Varzinha e Pedra Pintada, uma vez que coincidem

com a fase de clímax da subsidência mecânica (Almeida, 2005), marcada pelos leques

aluviais de borda da Formação Pedra das Torrinhas, soerguendo as áreas mais proximais

à bacia e obrigando o sistema fluvial a retrabalhá-las (Figuras 11 II e III).

Os depósitos da Formação Pedra Pintada apresentam maior quantidade de seixos

característicos de fontes proximais como quartzo milonitos, metassedimentos e granitos

miloníticos (Figura 4), que ocorrem principalmente na Serra das Encantadas, em

comparação com os depósitos da Formação Serra do Apertado, que apresentam mais

seixos característicos de fontes distais como granitos, provenientes do Batólito Pelotas,

e quartzo de veio, que indicam maior transporte. Dessa forma, da Formação Pedra

Pintada, mais antiga, para a Formação Serra do Apertado, mais nova, é possível

observar que as áreas fonte tornam-se mais distais, sugerindo que a área de captação do

sistema fluvial aumenta sentido a montante (Figura 11 IV).

Page 112: Dissertação_Versão corrigida

101

Figura 11: Modelo de evolução paleogeográfica da borda leste da bacia do Grupo Guaritas. As áreas circundadas em cinza representam as principais áreas de captação dos sistemas fluviais transversais. A, B e C representam mudanças relativas na altura do bloco soerguido pela falha normal. Todas as dimensões são relativas e não possuem escala. Com base na figura observa-se que da Formação Guarda Velha (I) para as Formações Varzinha (II) e Pedra Pintada (III) ocorre um aumento gradual da declividade da escarpa e consecutiva diminuição da área de captação dos sistemas fluviais, devido à reativação da falha de borda da bacia. Entre as Formações Pedra Pintada (III) e Serra do Apertado (IV) a reativação da falha é interrompida e o sistema fluvial torna a avançar sentido a montante, aumentando novamente sua área de captação.

Os depósitos das regiões oeste e noroeste das Formações Guarda Velha e

Varzinha apresentam registros de paleocorrentes com sentido de transporte para

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102

sudoeste e são interpretados como um sistema de rio tronco com direção paralela ao

eixo principal da bacia do Grupo Guaritas (Paim, 1995; Almeida, 2005; Santos, 2010).

Nos depósitos fluviais da Formação Serra do Apertado, na região da serra homônima,

não foram encontradas evidências que apontassem para a existência desse sistema

fluvial durante o fim da deposição do Grupo Guaritas. No entanto, ainda não foram

realizadas pesquisas de análises de fácies, de elementos arquitetônicos e de

paleocorrentes nos depósitos da região oeste da Formação Serra do Apertado, conhecida

como Rincão do Inferno, sendo que mais estudos são necessários para averiguar se o

sistema de rio tronco identificado nas unidades sotopostas teria ou não coexistido com a

deposição de sistemas fluviais transversais na Formação Serra do Apertado.

A variação composicional dos seixos observada ao longo da estratigrafia da

Formação Serra do Apertado na região da seção A – A´, como demonstrado pela Figura

9 não pode ser explicada satisfatoriamente através de mudanças na área de captação do

sistema fluvial, como ocorreria num processo de erosão remontante ou reativação de

uma falha de borda da bacia, que acarretariam no aumento ou diminuição geral dos

clastos provenientes de fontes distais, respectivamente, pois a partir da Figura 9

observa-se que enquanto a proporção de uma classe de seixos de área fonte distal

aumenta, como a dos granitos, por exemplo, a proporção de outra classe de seixos

distal, como quartzo de veio, diminui. O mesmo padrão ocorre no caso de classes de

seixos proximais, como riolito e quartzo milonito (Figura 9).

Dessa forma, considerando a menor susceptibilidade dos seixos quartzosos a

sofrer alterações intempéricas durante o processo de transporte sedimentar em relação

aos não quartzosos, interpretamos que as variações composicionais observadas são

provavelmente reflexos de mudanças climáticas. Na região da seção geológica A – A´

(Figura 9) a maior quantidade de seixos de composição granítica e riolítica é

interpretada como resultado de clima mais árido, uma vez que tais litotipos são mais

facilmente alteráveis em climas mais úmidos, enquanto a maior quantidade de seixos de

composição quartzosa é interpretada como clima mais úmido. Os estudos de análise de

elementos arquitetônicos realizados nos depósitos da Formação Serra do Apertado

mostram que na porção intermediária da seção geológica A – A´, que corresponde à

menor proporção de seixos quartzosos em toda a seção, os depósitos fluviais apresentam

variações de vazão mais frequentes (Figura 9 do Anexo 1) do que os demais depósitos

Page 114: Dissertação_Versão corrigida

103

da região da Serra do Apertado (Figuras 8 e 10 do Anexo 1), corroborando a

interpretação da presença de um clima mais árido onde há ocorrência maior de seixos

quartzosos.

Vale destacar que as mudanças tectônicas e climáticas acima interpretadas

ocorrem em escalas diferentes de tempo. A reativação da falha da borda leste da bacia

foi interpretada com base em dados de composição de clastos ao longo de todas as

formações do Grupo Guaritas, que juntas formam um pacote sedimentar de cerca de

2.000 m de espessura. Já as variações entre climas mais úmidos e mais áridos na

Formação Serra do Apertado encontram-se preservadas em apenas algumas centenas de

metros de espessura dessa unidade. Desse modo, observa-se que os estudos de

proveniência numa escala mais abrangente, neste caso considerando todo o Grupo

Guaritas, refletem ciclos temporais mais duradouros, como eventos tectônicos

expressivos, enquanto os estudos de detalhe, que neste caso abrangem apenas a

Formação Serra do Apertado, evidenciam ciclos temporais relativamente menos

duradouros, como variações climáticas.

O diagrama em roseta que mostra o total de paleocorrentes medidas na

Formação Serra do Apertado (Figura 7) mostra que o padrão de sentido de transporte se

assemelha com um leque, sugerindo que ao sair da região dos altos do embasamento e

adentrar na bacia sedimentar, os canais do rio se dispersavam lateralmente, mantendo

um sentido principal de transporte para noroeste, como já descrito por Paim (1994).

Page 115: Dissertação_Versão corrigida

104

CONCLUSÕES

O estudo da análise de proveniência de seixos nas unidades do Grupo Guaritas

permitiu uma descrição detalhada da composição de seus depósitos, assim como o

estabelecimento das relações entre diferentes áreas fonte e ambientes deposicionais

distintos.

Na Formação Guarda Velha foi verificado que a ampla distribuição dos dados de

composição de seixos é fruto da coexistência de ambientes deposicionais e tectônicos

distintos (Paim, 1995; Almeida, 2005), sendo eles: (i) sistema de rio tronco, com áreas

fonte distais localizadas a norte, (ii) sistema de rios transversais distributários, com área

fonte mais proximal situada no alto da Serra das Encantadas a leste, e (iii) fase de

iniciação do rift , com proveniência mista, tanto de áreas fonte a norte como a leste.

Na Formação Varzinha também notaram-se diferenças na composição dos seixos

de acordo com áreas fonte distintas. Os depósitos da porção central da unidade, que

apresentam paleocorrentes com sentido de transporte para SW (Almeida, 2005),

possuem classes de litotipos características de fontes mais distais, atribuídas a presença

de um sistema de rio tronco com áreas fonte situadas a norte. Já os depósitos da borda

leste, que por sua vez apresentam paleocorrentes com sentido para NW, apresentam

composição que indica área fonte situada a leste, no alto da Serra das Encantadas,

relacionado a um sistema de rios transversais.

Nos depósitos de interdunas fluviais da Formação Pedra Pintada, com sentido de

transporte das paleocorrentes para NW (Almeida, 2005), a assinatura da proveniência

torna-se muito proximal e característica de áreas fonte a leste. Para a Formação Pedra

das Torrinhas, restrita às bordas leste e oeste da Sub-Bacia Camaquã Central,

verificaram-se áreas fonte extremamente proximais localizadas nas adjacências das

bordas da bacia.

Os estudos de paleocorrentes realizados no presente trabalho para a Formação

Serra do Apertado, juntamente com a análise de proveniência de seixos, mostram que o

sentido de transporte predominante nessa unidade se dá para NW, com áreas fonte

situadas a leste nas regiões do alto da Serra das Encantadas e do Batólito Pelotas. As

Page 116: Dissertação_Versão corrigida

105

contagens de seixos realizadas ao longo de uma seção geológica transversal a Serra do

Apertado mostraram variação nas proporções de seixos quartzosos e não-quartzosos.

Essa variação foi atribuída a mudanças climáticas, sendo que a maior presença de seixos

não-quartzosos indica regime de clima mais árido e a maior presença de seixos

quartzosos indica clima mais úmido. A seção geológica levantada também confere uma

nova espessura mínima de 695 m para a Formação Serra do Apertado, que

anteriormente era considerada de 200 m (Almeida, 2005).

O estudo das áreas fonte dos depósitos da borda leste do Grupo Guaritas,

realizado através das contagens de clastos, como seixos, calhaus e matacões no presente

trabalho, e da compilação dos dados de paleocorrentes de estudos anteriores (Paim,

1995; Almeida, 2005; Santos, 2010), mostraram que todas as unidades do Grupo

Guaritas apresentam um sistema fluvial transversal, com área fonte situada a leste e

sentido de transporte para noroeste, nos levando a interpretação de que tratam-se do

mesmo sistema fluvial que teria existido ao longo de toda a história deposicional

preservada da bacia.

A descrição detalhada da composição dos seixos na borda leste do Grupo

Guaritas permitiu um estudo de suas variações ao longo da estratigrafia, desde a base

até o topo da unidade, permitindo detectar eventos tectônicos que influenciaram na

evolução paleogeográfica da região. Durante a deposição das Formações Varzinha e

Pedra Pintada, que coincidem com o estágio de clímax do rift Guaritas (Almeida, 2005),

ocorre um aumento gradativo de seixos provenientes de áreas proximais, o que não seria

esperado em um processo normal de erosão remontante, no qual deveria ocorrer um

aumento gradativo de seixos provenientes de áreas cada vez mais distais. O

comportamento inverso observado foi interpretado como decorrência da reativação da

falha da borda leste da bacia, corroborando as interpretações de Almeida (2005) acerca

dos estágios de evolução do rift .

Foi observado que o estudo de proveniência realizado em uma escala mais

abrangente, comparando todas as unidades do Grupo Guaritas, detectou ciclos de maior

duração, como eventos de reativação de falha, enquanto os estudos de detalhe, ao longo

de um perfil na Formação Serra do Apertado, evidenciaram ciclos de menor duração,

como variações climáticas.

Page 117: Dissertação_Versão corrigida

106

Durante o presente estudo foi dada maior ênfase na coleta de dados das

Formações Guarda Velha e Serra do Apertado, a fim de testar a hipótese de que tais

unidades poderiam ser distinguidas com base na composição dos seixos. Foi verificado

pelo método estatístico da análise por principais componentes que a maior semelhança

entre essas unidades são as altas proporções das classes de seixos granitos, riolito e

quartzo de veio, que são dominantemente características de fontes distais. No entanto,

não foi verificado que ambas as unidades compartilham o mesmo agrupamento, sendo

que a hipótese inicial da distinção entre as Formações Guarda Velha e Serra do

Apertado pela composição dos seixos foi confirmada.

Page 118: Dissertação_Versão corrigida

107

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