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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia Departamento de Geografia Física Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Geografia Flávio Augusto Pereira Mello Ordenamento da malha de trilhas como subsídio ao zoneamento ecoturístico e manejo da visitação no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu - RJ Rio de Janeiro 2008

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Autor: Flávio Augusto Pereira Mello (Zen)Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.Orientadora: Profª Drª Nadja Maria Castilho da CostaRio de Janeiro / 2008

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências

Instituto de Geografia Departamento de Geografia Física

Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Geografia

Flávio Augusto Pereira Mello

Ordenamento da malha de trilhas como subsídio ao zoneamento ecoturístico e manejo da visitação no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu - RJ

Rio de Janeiro

2008

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Flávio Augusto Pereira Mello

Ordenamento da malha de trilhas como subsídio ao zoneamento ecoturístico e manejo da visitação no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu - RJ

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Orientadora: Profª Drª Nadja Maria Castilho da Costa

Rio de Janeiro 2008

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FLÁVIO AUGUSTO PEREIRA MELLO

Ordenamento da malha de trilhas como subsídio ao zoneamento ecoturístico e manejo da visitação no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu - RJ

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Aprovada em ______________

Banca Examinadora: _________________________________________

Profª Drª Nadja Maria Castilho da Costa (Orientadora) Universidade do Estado do Rio de Janeiro

_________________________________________

Prof. Dr. Jorge Soares Marques

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

_________________________________________

Profª Drª Lilia dos Santos Seabra Universidade do Estado do Rio de Janeiro

_________________________________________

Prof Dr Marcelo Motta de Freitas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

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DEDICATÓRIA

Em um mundo desde sempre cheio de certezas tortas e escolhas duvidosas, dedico este trabalho a todos aqueles que incansavelmente acreditam que podem fazer a diferença!

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AGRADECIMENTOS

À Geografia, que ao desvendar e apontar os mistérios dos lugares e territórios, entre outras coisas, tornou esta vida muito mais interessante!!!

Às professoras Nadja e Vivian Castilho da Costa, amigas incansáveis, pelas

oportunidades e incentivos ao longo deste caminho. Ao professor Jorge Marques, pela dedicação e empenho no ensino e nos

esclarecimentos fundamentais na formação do “pensamento geográfico” para quem veio de outras plagas.

Ao professor Miguel Ângelo, por sua paciência e entusiasmo no ensino e

esclarecimentos sobre o Turismo e a Geografia. À professora Lilia dos Santos Seabra, pela atenção e observações para

conclusão deste trabalho. Ao professor Marcelo Motta de Freitas, pela gentileza de participar desta

banca. À professora Solange Guimarães, pelas dicas e incentivos em todas as horas. Ao Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, pelo apoio e inúmeras

oportunidades para testar e construir possibilidades. À Dona Lúcia Helena, minha mãe, pelo carinho permanente e apoio

incondicional ao longo da vida. Aos meus pais postiços “Seu” José Fonseca e Dona Heloisa Helena, pelo

cuidado e compreensão nestes tempos difíceis. À minha filha Luisa Helena, cuja existência me ensinou a olhar as coisas de

outra maneira. Aos amigos Wladimir e Emiliana, pelos cutucões nas horas certas e incertas. Ao amigo Cesar Lacerda pelo apoio nos momentos de sufoco. À Judithe, companheira felina que deixa saudades (in memorian) Às trilhas, que me ensinaram a ver o mundo além do limitado dia a dia

urbano.

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Enfim... Toda a trilha tem seu encanto e esta não foi diferente...

Ana Paula Pazini Blog Trilhas e Versos

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RESUMO

O Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (PNMNI) é um parque urbano, inserido

na APA do Gericinó-Mendanha, em cujo entorno vivem aproximadamente um milhão

de pessoas. Neste sentido, alguns impactos podem ser percebidos como o sobreuso

na zona de uso intensivo e que comprometem a qualidade da visitação. Para a

realização desta pesquisa, buscou-se ampliar o grau de envolvimento com a

administração, de modo que as estratégias de coleta e prospecção de dados

puderam ser testadas e mesmo implantadas no decorrer dos trabalhos.

Para tanto, após avaliação do zoneamento territorial e ambiental do Plano de

Manejo do PNMNI, foram aplicados questionários e investigações quanto ao perfil do

visitante e seu padrão de dispersão. Em seguida, através de conceitos de

conservação como a fragmentação florestal e efeito de borda, procurou-se ordenar e

selecionar trilhas cujos possíveis roteiros valorizem o potencial turístico das áreas

eleitas e, ao mesmo tempo, privilegiem as grandes massas florestais ainda

existentes, contribuindo também para a regeneração das áreas degradadas. Com

estas bases foi aplicado o método de zoneamento de oportunidades recreativas

(ROS) para se estabelecer subsídios para zoneamentos turísticos e de lazer para

aplicação imediata de gestão da visitação e subsidiar estudos futuros neste sentido.

Assim, foi possível concluir os objetivos previstos nesta dissertação, dentre as quais

a proposta de zoneamento de oportunidades recreativas, a avaliação atualizada do

perfil do visitante e o mapeamento e roteirização de um novo circuito de trilhas.

Destaca-se que face às dificuldades de várias unidades de conservação em

atualizar seus planos de manejo, adequando-os às realidades que se desenvolvem,

este trabalho considera, entre estes e outros aspectos, a possibilidade de

estabelecer como ferramenta de gestão, a utilização da malha de trilhas existentes e

análise do espectro de oportunidades recreativas como vetores de ações de

conservação das massas florestais ou ecossistemas e consequentemente, a

atualização do zoneamento territorial e ambiental.

Palavras-chave: Ordenamento de trilhas. Zoneamento ambiental. Recreação. Ecoturismo. Unidades de Conservação. Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu.

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ABSTRACT

The Municipal Park in Nova Iguaçu (PNMNI) is an urban park, inserted in the BB-

Gericinó Mendanha, living environment in which approximately one million people. In

this sense some impacts may be perceived as over-use in the zone of intensive use

and that compromise the quality of visitation. To achieve this study, we tried to

enlarge the degree of involvement with the administration, so that the strategies of

exploration and collection of data that could be tested and implemented during the

work.

Thus, after evaluation of the territorial and environmental zoning of the

Management Plan of PNMNI, questionnaires were applied and research on the

profile of visitors and their pattern of dispersal. Then, through the concepts of

conservation and forest fragmentation and edge effect, tried to sort and select tracks

whose possible guidelines emphasize the tourist potential of the areas elected and at

the same time, improve the masses forest still exist, but also for the regeneration of

degraded areas. On these bases has been applied the method of zoning for

recreational opportunities (ROS) to provide subsidies for zonings tourism and leisure

management for immediate implementation of visitation and support future studies in

this direction.

It was possible to complete the objectives set in this dissertation, among which the

proposed zoning of recreational opportunities, the assessment of the current profile

of visitor and mapping and roteirização of a new circuit of trails. It is that given the

difficulties of various units of conservation in updating their management plans,

adapting them to the realities that are developed, this study considers, among these

and other issues, the possibility of setting as a management tool, the use of existing

network of tracks and analyzes the spectrum of recreational opportunities as vectors

of actions for the conservation of mass or forest ecosystems and hence the update of

zoning and environmental area.

Keywords: Planning trails. Environmental zoning. Recreation. Ecotourism. Units of

Conservation. Natural Park Hall of Nova Iguaçu.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 01 Acessos ao Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu............. 22

Figura 02 Hipsometria do PNMNI............................................................... 30

Figura 03 Evolução de proposições para o modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu/RJ..................................................................... 32

Figura 04 Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI........................... 43

Figura 05 O Turismo Alternativo................................................................. 63

Figura 06 Formação de imagens da Paisagem......................................... 89

Figura 07 Bio-ritmo das destinações de lazer e turísticas......................... 96

Figura 08 Análise sistêmica de Visitação no PNMNI................................ 117

Figura 09 Zoneamento territorial-ambiental: “cunha” da zona de uso extensivo que se projeta na zona primitiva e áreas.................. 126

Figura 10 Oportunidades recreativas a partir da modificação do meio...... 131

Figura 11 Proposta para a Trilha da Varginha............................................ 153

Figura 12 Circuito de Trilhas proposto........................................................ 156

Figura 13 Proposta para Circular externa................................................... 158

Figura 14 Proposta para Circular interna.................................................... 160

Figura 15 Zoneamento de Oportunidades Recreativas no PNMNI............ 165

Mapas e Gráficos

Mapa 01 Localização geográfica do PNMNI e vias de acesso.............. 24

Gráfico 01 Visitantes por faixa etária – Temporada de Verão.................... 142

Gráfico 02 Visitantes por faixa etária – Temporada de Inverno................. 142

Gráfico 03 Motivação por faixa etária – Temporada de Verão................... 143

Gráfico 04 Motivação por faixa etária – Temporada de Inverno................. 144

Gráfico 05 Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI........... ...................................................................... 161

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Fotografias

Fotografia 01 Formações secundárias no Poço da sede................................ 36

Fotografia 02 Visitantes no Poço do Casarão (PNMNI).................................. 51

Fotografia 03 Rampa de Vôo Livre de Nova Iguaçu........................................ 51

Fotografia 04 Traçado do dique. Local: Poço do Escorrega............................ 55

Fotografia 05 Erosão em marmita. Local: Poço do Casarão............................ 55

Fotografia 06 Panorâmica da Varginha (a “cratera” do vulcão de Nova

Iguaçu-RJ)................................................................................. 125

Fotografia 07 Detalhe da bandeira................................................................... 129

Fotografia 08 Marcação da Trilha com visualização das bandeiras................. 129

Fotografia 09 Erosão e queimadas no Vale do Levi......................................... 138

Fotografia 10 Lixo na Trilha da Varginha.......................................................... 138

Fotografia 11 Voluntários instalando poleiro seco no vale do Levi................... 167

Fotografia 12 Voluntários transportando em corrente material para trilha a partir da pedreira São José. ................................. .................... 167

Fotografia 13 Alunas do curso Técnico em Meio Ambiente, do Colégio presidente Kennedy em Belfort Roxo, coletando dados na

Pedreira São José...................................................................... 168

Fotografia 14 Pesquisadores e alunos voluntários no projeto “Diversidade dos Morcegos do PNMNI” se preparando no Casarão para subir ao P4................................................................................. 168

Fotografia 15 Funcionário e voluntária abordando usuários............................ 169

Fotografia 16 Mutirão relâmpago de coleta de lixo no poço do Casarão......... 169

Fotografia 17 Visitantes na Pedreira São José durante a ATM-2008.............. 170

Fotografia 18 Carlos Papel, fotógrafo amador e fotos do PNMNI durante a ATM 2008................................................................................... 170

Fotografia 19 Flávio Zen e grupo no Circuito das Águas................................. 171

Fotografia 20 Grupo na Pedra na Pedra da Contenda..................................... 171

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Quadros

Quadro 01 Zoneamento territorial-ambiental do PNMNI.............................. 42

Quadro 02 Fatores que influenciam na participação dos visitantes em atividades recreativas................................................................. 58

Quadro 03 Tipos de benefícios gerados mediante a participação dos visitantes em atividades recreativas em áreas naturais............. 59

Quadro 04 Tipos de trilhas e Graus de dificuldade..................................... 102

Quadro 05 Categorias de valores econômicos atribuídos aos bens ambientais.................................................................................. 110

Quadro 06 Cálculo da base amostral para realização dos questionários de Dispersão de visitantes no PNMNI...................................... 123

Quadro 07 Classes de Oportunidades Recreativas segundo o ROS......... 132

Quadro 08 Produtos gerados na dissertação............................................... 133

Quadro 09 Quadro analítico de áreas abertas à visitação no Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI............................................... 134

Quadro 10 Programa de Uso Público do Parque -

Subprograma de Ecoturismo...................................................... 135

Quadro 11 Programa de Uso Público do Parque -

Subprograma de Interpretação e Informação Ambiental............ 135

Quadro 12 Programa de Uso Público do Parque -

Subprograma Recreação e Lazer.............................................. 136

Quadro 13 Visitantes, motivação, espaço e sazonalidade........................... 141

Quadro 14 Descrição das Zonas propostas segundo o método ROS........ 145

Quadro 15 Ambiências das Zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI.................................................. 148

Quadro 16 Principais atrativos e vias de acesso no PNMNI....................... 149

Quadro 17 Trilhas selecionadas e atrativos................................................. 152

Quadro 18 Roteiros sugeridos e vias de acesso......................................... 159

Quadro 19 Síntese das recomendações ao PNMNI, por área temática...... 172

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental

ATM Abertura de Temporada de Montanhismo

CEHAB Companhia Estadual de Habitação

DRM RJ Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro

EPI Equipamento de Proteção Individual

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

GPS Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global)

GTZ Cooperação Técnica Alemã (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit GmbH)

LAB LET Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. UFRJaneiro.

m. metro

MMA Ministério do Meio Ambiente

PM Plano de Manejo

PMNI Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu

PNMNI Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu PROARQ Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. ROS “Recreational Opportunity Spectrum “ (Espectro de Oport.Recreativas)

S “South” (Sul)

SEMUAM Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

TAC Termo de Ajuste de Conduta

TCC Trabalho de conclusão de curso

TOMM “Tourism Optimization Model” (Modelo de Gestão de Otimização do Turismo)

UC Unidade de Conservação

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura USDA “United States Department of Agriculture” (Depto de Agricultura dos

EUA)

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VAMP “Visitor Activity Management Process “ (Processo de Gerenciamento da Visitação)

VERP “Visitor Experience and Resource Protection “ (Proc.o de Gerenciamento da Visitação)

VIM “Visitor Impact Management “ (Gerenciamento de Impactos da Visitação)

W “West” (oeste)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 17

1.0 ÁREA DE ESTUDO: CARACTERIZAÇÃO GERAL............................. 21

1.1 Acessos e localização geográfica

1.1.1 Acessos................................................................................................. 22

1.1.2 Localização geográfica........................................................................ 23

1.2 Breve histórico de criação do

Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (PNMNI)......................... 25 1.3 Aspectos Abióticos e Bióticos

1.3.1 Clima...................................................................................................... 27

1.3.2 Geomorfologia....................................................................................... 28

1.3.3 Biodiversidade

1.3.3.1 Flora...................................................................................... 33

1.3.3.2 Fauna.................................................................................... 39

1.4 Zoneamento Territorial e Ambiental.................................................. 42

1.5 Lazer, Recreação e Ecoturismo no PNMNI

1.5.1 Panorama atual...................................................................................... 51

1.5.2 O Projeto “Caminhos Geológicos” no PNMNI........................................ 54

2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL

2.1 Lazer em Ambientes Naturais, Motivação para caminhar,

Ecoturismo e Geoturismo 2.1.1 Lazer em ambientes naturais................................................................. 57

2.1.2 A motivação para andar em trilhas........................................................ 60

2.1.3 Ecoturismo............................................................................................. 62

2.1.4 Geoturismo............................................................................................ 65

2.2 Planejamento turístico e das práticas de lazer na natureza

2.2.1 Sistemas, Modelos e Equilíbrio no contexto da gestão de unidades de Conservação e da implementação do ecoturismo................................. 68

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2.2.2 Planejamento da atividade turística e das práticas de lazer na natureza................................................................................................. 78

2.2.2.1 O espaço turístico e das práticas de lazer na natureza.......... 81

2.2.2.2 Planejamento do Espaço Turístico......................................... 84

2.2.2.3 Conceito de Paisagem no contexto do Ecoturismo................ 87

2.2.2.4 Fluxo e dispersão dos visitantes............................................. 90

2.2.2.5 Zoneamento ambiental e ecoturismo...................................... 94

2.3 Trilhas em Unidades de Conservação 97

2.3.1 Importância das trilhas em Unidades de Conservação......................... 98

2.3.2 Impactos Ambientais relacionados a trilhas........................................... 99

2.3.2.1 A fragmentação florestal induzida por trilhas.......................... 100

2.3.2.2 O efeito de borda como impacto das trilhas............................ 102

2.3.2.3 Impactos causados no leito da trilha....................................... 104

2.3.2.4 Impactos na paisagem promovidos pelas trilhas.................... 105

2.3.3 Conservação e recuperação de trilhas em ambientes de Mata Atlântica................................................................................................. 111

3.0 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Fonte de informações.......................................................................... 113

3.2 Revisão do conteúdo do Plano de Manejo referente ao Programa de Uso Público. ................................................................ 115

3.2.1 Avaliação do perfil do visitante e padrão de dispersão.......................... 116

3.2.1.1 Uso de questionários e perguntas dirigidas............................ 118

3.2.1.2 Definição da base amostral.................................................... 121

3.2.2 Coletas de dados informais.................................................................. 123

3.3 Ordenamento da malha de trilhas

3.3.1 Levantamento de traçado..................................................................... 124

3.3.2 Identificação de atrativos...................................................................... 130

3.3.3 Zoneamento Recreativo....................................................................... 130

4.0 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES 133

4.1 Caracterização e reavaliação das vias de visitação do PNMNI....... 134

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4.2 Caracterização do perfil do visitante e seu padrão de dispersão............................................................................................. 138

4.3 Zoneamento das oportunidades recreativas.................................... 144

4.3.1 Reordenamento das ambiências nas zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI............................... 146

4.3.2 Identificação dos principais atrativos do PNMNI.................................... 149

4.3.3 Ordenamento da malha de trilhas.......................................................... 150

4.3.3.1 A Trilha da Varginha............................................................... 153

4.3.3.2 Circuito de Trilhas do “Vulcão” de Nova Iguaçu...................... 154

4.3.3.3 Roteiros sugeridos.................................................................. 157

4.3.4 Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes............. 161

4.3.5 Zoneamento recreativo no PNMNI........................................................ 163

4.4 Ações de apoio à Gestão do PNMNI

4.4.1 Sitio na internet para divulgação Institucional do PNMNI...................... 166

4.4.2 Estímulo ao Voluntariado em Unidades de Conservação..................... 167

4.4.3 Temporadas de Verão e Montanhismo.................................................. 169

4.4.4 Programa “Amigo do Parque conhece o parque” ................................. 171

4.4.5 Síntese das recomendações ao PNMNI, por área temática................. 172

5.0 CONCLUSÕES............................................................................................ 176

6.0 Bibliografia............................................................................................. 179

7.0 Anexos

7.1 01: Site Amigos do Parque (PNMNI) .................................................... 187

7.2 02: Pesquisa “on line”: Fluxo e Dispersão de visitantes........................ 188

7.3 03: Pesquisa “on line”: Perfil e dispersão de operadoras de ecoturismo no PNMNI............................................................................ 190

7.4 04: Pesquisa de Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes................................................................................................ 192

7.5 05: Proposta de Voluntariado................................................................ 194

7.6 06: Agenda........................................................................................... 195

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INTRODUÇÃO

A Geografia vem enfatizando a necessidade de se avaliar os impactos das

atividades de lazer e turismo no espaço e suas conseqüências sociais e ambientais,

tanto em ambientes construídos (urbanos e rurais) quanto em áreas naturais,

principalmente as protegidas. Para Costa (2008) “a Geografia tem papel relevante,

na medida em que seu objeto de estudo está diretamente relacionado com a

organização espacial das atividades”. Sales & Assis (2006: 109) referem ainda que

“há uma intensa relação entre turismo e espaço, uma vez que o primeiro apropria-se

do segundo, fazendo uma série de transformações para atender às suas

exigências”.

Apontam igualmente que para a abordagem geográfica do turismo, é preciso

identificar os elementos que compõem o espaço, ou seja, os homens, as firmas, as

instituições, o chamado meio ecológico e as infra-estruturas e concluem afirmando:

“Portanto, cabe à Geografia pesquisar os aspectos relacionados ao uso que o

Turismo faz do espaço, quando ao se instalar, modifica a relação sociedade-

natureza e altera a dinâmica das paisagens, regiões, territórios e lugares”.

Sandeville Jr. (2002:157) comunga da mesma opinião, ressaltando que a natureza

nas áreas tropicais, possui duas características importantes onde a biodiversidade é

“cenário e objeto de consumo”.

A indústria do Turismo analisada pelos geógrafos tem recebido vários

enfoques incluindo as atividades que associam atividades de lazer nos espaços

naturais, visto que, mormente, o usuário local e o turista fazem uso das mesmas

paisagens e infra-estruturas. Cabe ressaltar também, que para Sonaglio (2006), o

segmento do ecoturismo é visto, tanto pelo governo como pelos estudiosos do tema,

como uma alternativa econômica sustentável e como meio para conservação dos

recursos naturais e culturais, além de gerador de benefícios às comunidades locais,

a exemplo do previsto na Constituição Federal de 1988, no capítulo “Meio ambiente”

(2005)1.

1 O qual registra, no artigo 225, que: [...] todos tem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum, do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

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Cruz (2003) lembra ainda que a apropriação de espaços naturais pelo turismo

implica em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e

hospedagem; e que “em se tratando de unidades de conservação, algumas das

transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito

à abertura de trilhas ou a utilização de pré-existentes, ao longo das quais podem ser

instalados instrumentos de educação ambiental (p. 19)”;

As trilhas, objeto desta dissertação, vão muito mais além, pois ao promover e

facilitar o acesso a atrativos cria e consolida lugares e territorialidades; tanto para

uso direto da visitação quanto para proteção do patrimônio natural. Razão pela qual

o planejamento e manejo adequado das trilhas e seus roteiros possibilitam a

orientação e monitoramento da dispersão de visitantes, se convertendo assim em

importante ferramenta de gestão, fundamental para que unidades de conservação

cumpram o seu papel de conservação e preservação do patrimônio natural, dentro

dos padrões de sustentabilidade, assim como propiciar a apreciação e qualidade da

visitação por seus diferentes usuários.

Deste modo, as atividades de lazer e ecoturismo associadas à ausência de

uma malha de trilhas adequada, são particularmente um problema para o Parque

Natural Municipal de Nova Iguaçu/RJ (PNMNI). Este, muito próximo de grandes

concentrações populacionais2, atende uma demanda crescente de visitantes e por

oferecer entrada franca é uma opção viável financeiramente, sobretudo para as

camadas menos privilegiadas, que possuem poucas ofertas de lazer, principalmente

as que envolvem a natureza.

Para ressaltar sua importância, sua localização permite estabelecer a relação

onde o PNMNI está para os municípios limítrofes, Nova Iguaçu e Mesquita, assim

como o Parque Nacional da Tijuca está para o Rio de Janeiro, guardando as devidas

proporções. Cabe destacar que municípios próximos como Belfort Roxo, Nilópolis e

São João de Meriti possuem 3,34%, 0,00% e 0,00%, respectivamente, de cobertura

vegetal de suas áreas totais, conforme levantamento da Fundação Cide em 2001.

2 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a população da Baixada Fluminense, em 2000 era estimada em aproximadamente três milhões de pessoas, destacando que Mesquita possui 182.495 habitantes e Nova Iguaçu 830.672; municípios onde o parque se localiza, totalizando em torno de um milhão de pessoas em seu entrono imediato.

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Em avaliação preliminar do Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova

Iguaçu vigente, ao se considerar o programa de Uso Público, nos subprogramas de

Recreação e Lazer e Ecoturismo percebe-se que o mesmo não possui análise mais

detalhada do potencial turístico e de lazer, tendo privilegiado os lugares já

consolidados para a visitação, como os poços e cachoeiras e caminhadas curtas em

sua principal via (a Estrada da Cachoeira).

Contudo, embora a administração do parque perceba o crescimento da

procura por lazer de natureza3 e do ecoturismo, principalmente por moradores da

Baixada Fluminense, esta não consegue interferir de maneira efetiva na gestão

deste aumento de demanda justamente por não possuir alternativas de atrativos

oficiais para receber este “novo” visitante. Ressalta-se que não foram concluídas as

infra-estruturas previstas no plano de manejo, como áreas para piquenique, Centro

de Visitantes e malha de trilhas com mais roteiros, as quais se estivessem

operacionais, teriam estimulado o acesso a atrativos e oportunidades de atividades

ao ar livre nas áreas hoje subutilizadas.

Desta forma, como hipótese norteadora da presente investigação, parte-se do

pressuposto de que, através do ordenamento da malha de trilhas existentes,

associado à identificação do espectro de oportunidades recreativas, será possível

estabelecer subsídios para o zoneamento recreativo e ecoturístico no Parque

Natural Municipal de Nova Iguaçu e desta maneira induzir, tanto a mudança no perfil

médio do usuário, quanto interferir na sazonalidade da visitação estabelecida. Neste

sentido, são estabelecidos os seguintes objetivos:

Gerais:

· Oferecer subsídios para os processos de planejamento, implantação e

manejo de trilhas em Unidades de Conservação

· Oferecer subsídios para caracterização e padrão de dispersão de

visitantes em Unidades de Conservação

3 Cuja divulgação é favorecida pela constante exposição na mídia que indiretamente tem induzido o aumento do fluxo de visitantes.

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20

Específicos:

· Mapeamento e seleção de caminhos e trilhas no interior do Parque,

que possam ser utilizados para atividades regulares de lazer na

natureza e ecoturismo, de modo a incorporar administrativamente as

áreas já consolidadas informalmente pelos visitantes.

· Sugerir roteiros de trilhas a ser sinalizado e implantado pela

administração do PNMNI nas zonas de uso intensivo, extensivo e de

relevante interesse4.

· Gerar subsídios para o zoneamento turístico do PNMNI, considerando

o atual zoneamento territorial e ambiental, através da análise

preliminar de acessibilidade e potencialidades turísticas nas áreas com

trilhas roteirizadas no presente trabalho.

4 Zona de relevante interesse para a gestão da UC: é uma área de aproximadamente 59,5 hectares que foi incorporada ao PNMNI no ato de sua criação. Nela estão localizadas a Guarita de entrada, represa Epaminondas Ramos e Pedreira desativada São José.

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1.0 ÁREA DE ESTUDO: CARACTERIZAÇÃO GERAL

A opção por escolher o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (PNMNI)

como objeto de pesquisa se deve à:

· Estar localizado na Apa do Gericinó-Mendanha, considerada Reserva

da Biosfera pela UNESCO desde 1996, abrigando remanescentes de

Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo.

· É uma das poucas unidades de conservação do estado e do país a ter

situação fundiária plenamente resolvida.

· É uma importante área de recreação e ecoturismo para moradores da

baixada fluminense, podendo contribuir direta e indiretamente para

criação e manutenção de unidades de conservação urbanas na

Baixada Fluminense e para o crescimento de atividades de lazer e

turismo em ambientes naturais.

· Embora tenha várias trilhas na zona de uso extensivo, utilizadas

oficiosamente por uma pequena fração dos visitantes, não possui

roteiros estabelecidos e a visitação é massiva e sazonal no verão, se

concentrando na área de uso intensivo.

· Desde 2004, vem recebendo subsídios da Diretoria de Recursos

Minerais do estado do Rio de Janeiro, através do projeto Caminhos

Geológicos, entre outros, para ser elevada a categoria de geoparque,

em função dos inúmeros atrativos geológicos existentes.

Assim, o PNMNI oferece uma oportunidade impar de pesquisa sobre o

ordenamento da malha de trilhas como uma ferramenta de gestão e de avaliação do

zoneamento territorial e ambiental estabelecido, no que tange a visitação e

desenvolvimento de atividades recreacionais e ecoturísticas em unidades de

conservação. Espera-se que este trabalho contribua para a promoção e/ou melhoria

dos serviços e atrativos oferecidos aos usuários, assim como contribuir para a

proteção da biodiversidade e paisagens locais, dentre outros.

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22

1.1 Acessos e localização geográfica:

1.1.1 Acessos:

Os principais acessos à estrada da Cachoeira, em cujo final se localiza a entrada do PNMNI são basicamente dois:

· Via Mesquita (melhor opção): Tomando como ponto de referencia a Estação Ferroviária de Juscelino (antiga Vila Nova) na Estrada Feliciano Sodré.

· Nova Iguaçu: Via Bairro Kaonze: Ponto de referência: Praça do Kaonze. Somente para pedestres. Usa uma extensão informal, não asfaltada, da Rua Juvenal Valadares. É mais utilizada por moradores deste bairro.

Na figura 01 são discriminadas as vias referidas.

Figura 01: Acessos ao Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu Fonte: http://maps.google.com – Modificado por Flávio A. P. Mello, 2008.

Para pedestres ou usuários de transportes coletivos as opções mais acessíveis são:

· De ônibus: A Viação Mirante dispõe da linha Nova Iguaçu - Mesquita.

· De trem: O ponto de referência é a Estação de Presidente Juscelino.

Existem, entretanto, inúmeros acessos informais. O mais conhecido e

utilizado principalmente por operadores de rapel na Pedra da Contenda e

caminhadas à rampa de Vôo Livre, é o Caminho do Tatu-gamela a partir de Nova

Há uma ligação não oficial e sem pavimentação até a Estrada da Cachoeira utilizada pela comunidade local.

Clube de Mesquita

Praça do Kaonze

Estação de Juscelino

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23

Iguaçu, conhecida também como Estrada da Rampa ou ainda Estrada do Itamar.

Esta via é de acesso à Rampa de Vôo Livre por seus praticantes.

Dentre outros vários caminhos e trilhas de uso consagrado pelos moradores

locais que acendem a área do parque se destacam: a trilha do Capitão, via Bairro

Kaonze; as trilhas do Mendanha que liga o PNMNI ao parque do Mendanha; Pau da

Letra que segue para Campo Grande e trilhas não identificadas que se dirigem a

Cabuçu, seguindo pelo alto da Serra de Madureira e as trilhas e suas variantes pelo

bairro da Coreia e bairro Fábrica de Pólvora que seguem pela encosta dos morros

localizados na área de Mesquita.

1.1.2 Localização geográfica

O Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, área de estudo da presente

dissertação, está localizada na Gleba Modesto Leal, entre as coordenadas

7485/7477 e 650/658, na Baixada Fluminense entre os municípios de Mesquita,

Nova Iguaçu e Rio de Janeiro; mais especificamente na vertente iguaçuana do

Maciço do Gericinó, conhecido também por Serra do Madureira. De acordo com a lei

de uso e ocupação do solo do município (Lei 2.882, de 30 de dezembro de 1997),

integra a Zona de Interesse Ambiental (AE-1). Integra com o Parque Natural

Municipal do Mendanha, pertencente à Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, as

duas únicas unidades de conservação integral do maciço. Faz parte ainda da Área

de Proteção Ambiental (APA) do Gericinó-Mendanha, sendo esta considerada

Reserva da Biosfera pela UNESCO, desde 1996. Ocupa uma área total de 1.100

hectares (incluindo as áreas localizadas nos municípios de Nova Iguaçu e Mesquita)

e sua altitude varia entre 150 metros na entrada da unidade e 956 metros no marco

sudoeste, próximo ao Pico do Gericinó.

No entorno do PNMNI há um cinturão de pequenas propriedades, como sítios

e chácaras mas sem expressão agrícola marcante que de certa forma protegem o

Parque da pressão da expansão imobiliária, entretanto, na partes altas do bairro K11

em Nova Iguaçu e Bairro da Coréia em Mesquita, a proximidade facilita a entrada

desautorizada, sendo um problema para a fiscalização.

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24

LEGENDA: Limites: Município de Nova Iguaçu Município de Mesquita

Mapa 01 Localização geográfica do PNMNI e vias de acesso Fonte: Modificado de D08 – Localização Geopolítica e Vias de Acesso, em Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, 2001. Adaptado por Flávio A. P. Mello, 2007.

NOVA IGUAÇU

MESQUITA

7477

658

N

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25

1.2 Breve histórico de criação do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu.

Segundo referências históricas contidas no Plano de Manejo do Parque

Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida , no item “Processo histórico de

ocupação”, a área onde se localiza o parque, fazia parte da Gleba Modesto Leal,

anteriormente formada pelas antigas Fazendas Dona Eugênia e Fazenda São

Felipe, que pertenceram a Maria Eugênia Travassos, viúva de Marinho Boom

Travassos; que por sua vez as comprou de Custódio Baptista Gonçalves, em 1885.

Em 12 de dezembro de 1916, essas terras foram vendidas a João Leopoldo

Modesto Leal (Conde Modesto Leal), razão da denominação anteriormente à criação

do parque. Em 21 de julho de 1941, através do Decreto Lei nº 3.365, artigo 15, os

remanescentes florestais de Mata Atlântica da Gleba Modesto Leal e áreas

contíguas do maciço do Gericinó-Mendanha, foram transformadas em Florestas

Protetoras da União, visando proteger os mananciais hídricos existentes.

De fato, o principal elemento catalisador da criação do PNMNI ocorreu em

julho de 1985, quando o Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da CEHAB,

comprou as terras da Gleba Modesto com o objetivo de ali assentar 44 mil pessoas,

no programa “Cada Família Um Lote”. Este evento provocou a reação imediata da

Prefeitura de Nova Iguaçu, que já havia declarado o imóvel como de Utilidade

Pública para fins de desapropriação, em 19 de março do mesmo ano, pelo Decreto

nº 2858. Este Decreto foi revogado pelo Decreto nº 2.934, de 14 de junho de 1985,

que, por sua vez, foi também revogado pelo Decreto nº 2.937, de 20 de junho de

1985.

Segundo depoimentos coletados junto a administração do PNMNI, a partir de

cadastro efetuado pela Prefeitura de Nova Iguaçu, no início de outubro de 1997,

foram identificadas e classificadas 32 ocupações no interior do Parque, resultado do

extinto programa “Cada Família um Lote”, implantado pelo Governo Estadual. Neste

mesmo ano a prefeitura negociou e conseguiu junto a CEHAB que fizesse cessão de

uso ao município de 20 anos renovável por igual período, com a finalidade de

implantação de um Parque. Assim, 27 (vinte sete) ocupantes foram removidos da

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26

UC, por sua caracterização como não residentes, identificadas através de cadastro

social realizado através da Secretaria de Ação Social do município.

Em 1997 o Parque foi contemplado com recursos do FECAM (Fundo Estadual

de Conservação ambiental) para elaboração de seu Plano de Manejo (PM) e

algumas ações emergenciais de proteção. O Parque Natural Municipal de Nova

Iguaçu (PNMNI) foi criado então através do Decreto Municipal nº 6.001 de 5 de

junho de 1998, visando a proteção da fauna e flora existentes e ainda tornar a

unidade opção de lazer da população local.

No ano de 2000 a Prefeitura captou recursos junto ao FNMA para a

implantação de algumas ações previstas no referido PM. Foram realizados com este

projeto: a construção da sede administrativa; a elaboração de um projeto

interpretativo para o centro de visitantes; elaboração materiais educativos (dois

filmes institucionais), folhetos e cartazes, e um projeto de educação ambiental com

previsão de um ano que se estendeu por três anos e a publicação resumida do PM.

Em 2007, as seis famílias restantes receberam indenização, e se retiraram

voluntariamente do Parque. Com isso, os problemas de ocupações irregulares foram

totalmente resolvidos, tornando o PNMNI uma das poucas unidades de conservação

do estado com sua situação fundiária plenamente resolvida.

Salienta-se que de modo geral, o PNMNI fica subordinado à Secretaria de

Meio Ambiente de Nova Iguaçu, contudo, a autonomia desta Secretaria muda de

acordo com o governo ou com as reformas administrativas internas. Assim, tomando

como exemplo o atual governo, inicialmente a Secretaria de Meio Ambiente era

adjunta (uma sub-secretaria) à Secretaria Municipal da Cidade – SEMCID e com o

último arranjo interno, a Secretaria de Meio Ambiente deixou de ser adjunta,

passando a ser plena. Atualmente, voltou a ser adjunta, e desta vez ligada a

SEMUG (Secretaria Municipal de Governo). Ressalta-se que a cada transição de

governo e orientações das políticas internas, provoca mudanças na estrutura

funcional e tais transições nem sempre são as mais adequadas.

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27

Sendo assim, o tamanho do quadro funcional também oscila de acordo com

as mudanças referidas anteriormente. Atualmente estão lotados no PNMNI o gestor,

que acumula a função de Gerente de Unidades de Conservação e 12 funcionários:

01 responsável pela segurança e fiscalização, 01 responsável pela manutenção, 02

para atender as visitas guiadas, 06 que atendem a portaria e 02 para manutenção

da sede, banheiros e guarita. Não são cargos oficiais, mas delegações oficiosas

internas administrativas.

1.3 Aspectos Abióticos e Bióticos

1.3.1 Clima

As referências sobre o clima da região onde se insere o PNMNI são oriundas

de fontes do Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu, editado pela

Secretaria de Meio Ambiente de Nova Iguaçu em 2001, daí ter um caráter um tanto

genérico. Registra-se que no Projeto de Implantação do Plano de Manejo do Parque

Municipal de Nova Iguaçu (Processo E-07/000.128/2008), encaminhado à Câmara

de Compensação Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente, neste presente ano,

foi solicitado, porém indeferido, a aquisição de duas estações meteorológicas para

sistema de monitoramento de risco de incêndio florestal, as quais contribuíram para

conferir mais especificidade aos estudos do micro-clima local; conforme depoimento

coletado junto à administração do parque.

O maciço do Gericinó-Madureira-Mendanha é condicionado pelo clima

tropical de altitude super-úmido, onde a temperatura é um pouco mais baixa e chove

mais, pela amenização climática imposta pela densa cobertura floresta e pela

exposição do maciço aos ventos úmidos vindos do mar, respectivamente; sendo o

clima da região é relativamente uniforme durante todo o ano. No verão em

decorrência do grande calor, não amenizado pelos ventos, e da elevada umidade

relativa, ocorrem fortes chuvas (dezembro a março); enquanto no inverno, os totais

pluviométricos são baixos.

Page 28: DissertacaoZen2 - completa

28

Já nas porções mais internas do Maciço do Gericinó-Mendanha, dois tipos

climáticos se conjugam: o clima tropical de altitude super-úmido (Cfa), de caráter

mesotérmico e que ocorre nas porções elevadas dos maciços litorâneos em altitudes

superiores a 500 metros, de influência apenas local; e o clima tropical semi-úmido

(Am), que possui uma estação seca no inverno durando um mês e está relacionado

aos totais anuais de pluviosidade entre 1.000 e 1.500 mm. Este, por sua vez, ocorre

nas áreas mais amenas, principalmente, em estreita faixa do litoral. De acordo com a

classificação de Köppen, baseada nos valores médios de temperatura e

precipitação, o clima da região em apreço classifica-se, genericamente, como Cw,

ou seja, clima temperado brando com verão quente e inverno seco.

Embora esse critério, por seu caráter sazonal, não caracterize completamente

as condições ambientais do local ele fornece indicações bastante aproximadas dos

aspectos climáticos e a influência de fatores locais nas encostas dos maciços, como

o avanço da ocupação urbana e o descontrolado processo de desmatamento, tem

ocasionado variações sensíveis nas condições climáticas ambientais (micro-clima da

região), como é percebido na vertente iguaçuana do maciço.

Os maiores índices pluviométricos acontecem no período de dezembro a

março, ao final do qual a intensidade de chuvas vai diminuindo gradativamente,

chegando a valores mínimos entre junho e setembro, De acordo com o estudo da

distribuição das chuvas na região, verifica-se que janeiro é o mês mais chuvoso,

com uma média que oscila ao redor de 196 mm; e agosto, o mês mais seco, tendo

uma precipitação média por volta de 35 mm.

1.3.2 Geomorfologia

O maciço do Gericinó-Madureira-Mendanha, onde se localiza a Gleba Conde

Modesto Leal, está inserido na unidade geomorfológica de Colinas e Maciços

Costeiros. É circundado pela unidade Planície Costeira, localizada na faixa de

dobramentos remobilizados que se estendem ao longo da costa do Estado do Rio de

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29

Janeiro Este maciço destaca-se na paisagem da planície litorânea e da Baixada

Fluminense por seu posicionamento topográfico privilegiado. Trata-se de uma região

de relevo bastante acidentado, formada por muitas escarpas e elevações, cujo ponto

máximo atinge 974 m (Costa, 1986).

O maciço do Gericinó-Madureira-Mendanha é uma serra isolada,

subdividindo-se em dois blocos, entalhados por drenagem de rios de pequeno porte.

As principais drenagens naturais são formadas pelos rios Guandu do Sapê,

localizado no flanco sul-sudeste do maciço, e D.Eugênia, localizado nos contrafortes

da porção nordeste do maciço, onde se localiza o PNMNI.

Os vales se apresentam em “V” com vertentes simétricas nas várias etapas

de seu percurso, como observado nos vales do Rio Dona Eugênia, Mata Fome e

Levi, sendo acomodados de modo geral em rochas subvulcânicas. Já o Vale da

Varginha é em forma de ferradura aberto ao norte, possuindo vertentes suaves, com

seu interior atulhado por sedimentos, constituindo uma pequena planície e cuja

forma sugeriu a possibilidade da existência de um cone vulcânico preservado,

originando a referência do “Vulcão de Nova Iguaçu” (Vieira e Klein, 2004 - inédito).

Este maciço está integrado nas bacias dos rios Sarapuí e Guandu-Mirim que

drenam para as macrobacias da Baía de Guanabara e da Baía de Sepetiba,

ocorrendo dois tipos de drenagem: retangular e pinada. O padrão retangular é

conseqüência da influência exercida por falhas, pelo sistema de juntas ou fraturas,

constituindo numa variedade de drenagem treliça, como os rios Cabuçu, Guandu do

Sapê e alguns afluentes da margem direita do rio Mesquita. O tipo pinada está

relacionado aos gnaisses do embasamento que contornam o maciço e às rochas

alcalinas, mostrando uma forma paralela como os afluentes do rio Guandu do Sena

(Costa op. cit.). A figura 02 apresenta as altitudes e unidades de relevo da região do

Parque.

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30

Figura 02: Hipsometria do PNMNI

Fonte: Mapa de Hipsometria do Parque - Nº HAB-NIG-D06/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001. Modificado por Flávio A. P. Mello, 2008.

No PNMNI propriamente dito, o único rio de destaque é o rio Dona Eugênia,

que corre ao longo do vale do mesmo nome. Possui pequenas corredeiras e quedas

d’água, se destacando, contudo, a cachoeira Véu da Noiva, localizada próximo ao

Casarão, com aproximadamente 55 metros de queda. Este rio possui inúmeros

poços utilizados para lazer por usuários e abriga ainda a Represa Epaminondas

Ramos, localizada na altura da Guarita de entrada e a Lagoa São Felipe, mais

próximo de sua nascente a aproximadamente cinco quilômetros adentrando a

unidade.

Há ainda o córrego do Mata-fome, Tapinhoã, da Porteira, Dos Tucanos, do

Gambá e vários regatos temporários por toda a extensão do parque. No vale da

Varginha, há referencias orais da existência de uma pequena lagoa, hoje assoreada,

na qual se encontrava inclusive pequenos peixes.

N

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31

Cabe destacar que, a hipótese do Vulcão de Nova Iguaçu, tida como uma

referência por vários operadores informais de turismo, e também adotada por várias

atividades sociais e de educação ambiental realizadas por várias instituições, não

possuem sustentação em artigos científicos devidamente revisados, sendo

caracterizado mais como uma “lenda urbana”. As pesquisas geológicas

recentemente publicadas em periódicos científicos qualificados revelaram a

inexistência do cone vulcânico, cratera vulcânica, derrames de lava, fluxos

piroclásticos e bombas vulcânicas.

Segundo Motoki et Al (2007) nesta região havia vulcanismo, porém o vulcão

e os depósitos eruptivos já foram completamente eliminados por soerguimento

regional e intenso efeito de erosão sob o clima tropical. De fato, o vale interpretado

como cratera não é constituído por aglomerado piroclástico, mas por traquito maciço.

O depósito aluvionar presente no referido vale é composto de materiais regolíticos

de espessura de poucos metros. Não foi encontrado o tálus composto de grandes

blocos sugestivo de colapso da cratera. Não ocorre a saliência morfológica

correspondente ao cone vulcânico. Os afloramentos em torno da suposta cratera

não apresentam a estratificação vulcânica.

Desta forma, considera-se que esse vale não corresponde à cratera

vulcânica, mas a uma morfologia originada de erosão. O traquito mais abundante é

intrudido pelo álcali sienito e, portanto, não pode ser derrame de lava que cobre o

sienito. O traquito ocorre até o topo do maciço, 600 m acima da suposta cratera. A

disjunção colunar é originada de diques e a estrutura parecida à crosta-de-pão é

atribuída a intemperismo. As observações anteriores indicam que esse traquito não

é constituinte de derrames de lava, mas de corpos subvulcânicos. Os autores

concluem que as rochas vulcânicas em questão não são constituintes de edifício

vulcânico, mas de preenchimento de condutos e fissuras subvulcânicos. Assim

sendo, a geologia subvulcânica de Nova Iguaçu pode ser reconhecida corretamente

pelas sociedades regionais como um patrimônio geológico com valor científico

inigualável. (figura 03).

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32

Perfis geológicos do vale da suposta cratera: A) perfil norte-sul, Vieira e Klein (2004); B) norte-sul, Valente et al. (2005); C) norte-sul e D) leste-oeste, presente trabalho.

Nota-se que o perfil A não está de acordo com o mapa topográfico da região. Os diagramas B e C apresentam perfis ao longo da crista e do vale. A escala vertical em A é exagerada 2,5 vezes, conforme Vieira e Klein (2004) e, para comparação, os perfis B, C e D seguem o mesmo padrão.

A legenda do perfil B é válida para C e D.

Figura 03: Evolução de proposições para o modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu/RJ Fonte: Motoki, A., Soares, R., Netto, A.M., Sichel, S.E., Aires, J.R., Lobato, M. 2007. Reavaliação do modelo genético do Vulcão de Nova Iguaçu, RJ: origem eruptiva ou intrusão subvulcânica? Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 60-3.

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33

1.3.3 Biodiversidade

1.3.3.1 Flora

Conforme levantamento florístico preliminar, conduzido no Plano de Manejo

do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (2001), embora a região do maciço

Gericinó-Madureira-Mendanha tenha sofrido profundas modificações ao longo do

tempo, seu revestimento florestal ainda é bastante expressivo e, aproximadamente,

60% das florestas existentes ainda estão em excelente estado de conservação,

sendo o restante, constituídos por matas secundárias, em estágios iniciais de

regeneração. As áreas florestais mais preservadas localizam-se nos vales profundos

das cabeceiras do rio D. Eugênia e em locais de difícil acesso, principalmente nas

cotas altimétricas mais elevadas, onde podem ser encontradas matas em estado

clímax. Deste modo, esta área é de grande importância como matriz de proteção e

preservação da diversidade biológica e dos mananciais hídricos existentes.

O maciço de Gericinó-Madureira-Mendanha é revestido pela Floresta Pluvial

Atlântica e forma com a serra do Tinguá, a serra dos Órgãos e outros maciços

costeiros, um dos conjuntos de remanescentes florestais mais importantes do

Estado do Rio de Janeiro, integrando a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,

homologada pela UNESCO, em 1992. Entretanto este remanescente sofre grande

pressão antrópica o que deixa sua fisionomia semelhante a um mosaico, alternando

comunidades vegetais em diversos estágios de regeneração natural, com

pastagens, plantações e, em alguns casos, com locais em adiantados processos de

urbanização.

A cobertura vegetal do PNMNI, pode ser dividida em cinco grupos5: Os

campos antrópicos (pastagens), as formações pioneiras (estágio inicial de

regeneração), as formações secundárias iniciais (em franco processo de

regeneração) e secundárias tardias (em adiantado estado de regeneração) e Clímax

(florestas ombrófila densa em bom estado de conservação) conforme discriminação:

5 SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –2001 pag 32

Page 34: DissertacaoZen2 - completa

34

· Campos antrópicos (pastagens): Formações antrópicas compostas

por forrageiras da família das gramíneas que predominam nas cotas

inferiores do maciço, com predominância do capim gordura (Melinis

minutiflora) e nos trechos de campos antrópicos fora do parque e

nas cotas altimétricas inferiores há mais ocorrência do capim

colonião (Panicum maximum). Os quais são os grandes

responsáveis pela manutenção do ciclo do fogo tanto em áreas do

parque como em seu entorno (a ocorrência desta alteração na

paisagem é por conta de desmatamentos antigos e queimadas

provocadas por moradores locais e queda de balões, ainda

freqüente na região).

· Formações pioneiras (estágio inicial de regeneração): Presente,

sobretudo, nas áreas junto à estrada da Cachoeira, devido à

intervenção antrópica mais recente por conta dos sítios instalados

antes da formação do PNMNI. A estrutura geral é herbáceo-

arbustiva com a predominância de espécies ruderais e invasoras

como lantana (Lantana camara), mamona (Ricinus comunis), picão

(Bidens pilosa), oficial-de-sala (Asclepias curassavica), bunda de

nego (Thunbergia alata). Nas formações iniciais maiores, há a

dominância de representantes da família Compositae que tem como

principais espécies o alecrim (Baccahris dracunculifolia), os assa-

peixes e os cambarás (Vernonia spp e Eupatorium spp). Cabe

destacar, nas áreas mais altas, a presença marcante da candeia

(Gochnatia polymorpha) de mesma família botânica. As

representantes das melastomatáceas, nesta formação, são as

pixiricas (Miconia albicans e Leandra sp). Alguns exemplares de

porte arbóreo observados nestas formações são: Aegyphila

sellowiana, Croton floribundus, Croton urucurana, Schinus

terebinthifolius, Trema micrantha e Cecropia lyratiloba.

· Formações secundárias iniciais (em franco processo de

regeneração) e secundárias tardias (em adiantado processo de

regeneração): A diferença entre estes dois padrões de vegetação

no PNMNI é, essencialmente, em relação a estrutura da formação,

Page 35: DissertacaoZen2 - completa

35

pois a similaridade florística entre os dois tipos de mata é alta,

devido ao fato de que a floresta secundária inicial apresenta em sua

composição muitas das espécies da secundária tardia, embora

ainda jovens. Em ambas as composições há elevada freqüência de

algumas espécies como o jacatirão (Miconia cinnamomifolia) e o

angico (Pseudopiptadenia contorta). Entretanto a diversidade

florística e a estratificação nas formações secundárias tardias são

bem mais complexas do que na secundária inicial e o índice de

umidade torna-se mais expressivo em virtude do maior

sombreamento das copas.

Nos trechos de floresta secundária inicial, a altura das árvores não

ultrapassa 14 m de altura, alcançando o dossel em torno de 10

metros. A falta de bromélias e orquídeas é marcante,

provavelmente devido à coleta, e a presença de trepadeiras

agressivas como o arranha-gato (Acacia lacerans) ainda é comum.

As árvores que podem ser citadas que compõe o estrato superior

deste tipo de mata são: Sapium glandulatum, Croton floribundus,

Croton urucurana, Cybistax antisyphilitica, Erytroxylum pulchurum,

Alseis floribunda, Pyschotria sellowiana, Albizia polycephala,

Siparuna arianae. As árvores que se destacam deste estrato são:

Alchornea triplinervia, Sparattosperma leucanthum, Senna

multijuga, Miconia cinnamomifolia, Tibouchina mutabilis,

Pseudopiptadenia contorta e Piptadenia gonoacantha, entre outras.

As matas secundárias tardias apresentam, assim como as clímax, a

ocorrência de três estratos pouco definidos.

O estrato inferior apresenta uma altura de até 10 m, onde

predominam as palmeiras (Astrocaryum aculeatissimum, Geonoma

sp e indivíduos jovens de Euterpe edulis), em conjunto com

diversas espécies, a saber: Psychotria nuda, Posoqueria acutifolia,

Rheedia gardneriana, Piper rivinoides, Rollinia laurifolia, Annona

cacans, Erytroxylum pulchurum, Sorocea guilleminiana, Dahlstedtia

pinnata entre outras.

Page 36: DissertacaoZen2 - completa

36

Os estratos superiores a este são de difícil delimitação, com limite

superior do intermediário de cerca de dezoito metros, sendo

possível a observação das seguintes espécies florestais: Apuleia

leiocarpa, Astronium graveolens, Spondias lutea, Alchornea

triplinervia, Senna multijuga, Cassia ferruginea, Cordia trichotoma,

Pterocarpus rohrii, Schizolobium parhayba, Andira fraxinifolia,

Platycyamus regnellii, Myrocarpus frondosus, Cecropia hololeuca,

Chorisia speciosa, Gallesia integrifolia, Marlierea edulis, Inga

edulis, Piptadenia gonoacantha, Pouroma guianensis, Abarema

brachystachya, Jacaratia spinosa, Euterpe edulis entre outras

(fotografia 01).

Fotografia 01. Formações secundárias no Poço da Sede. Fotografia de Flávio A. P. Mello: 05/10/2008.

O superior, que se apresenta descontínuo, possuindo limite superior

a 25 metros, apresenta as seguintes árvores: Miconia

cinnamomifolia, Pseudopiptadenia contorta, Pseudopiptadenia

inaequalis, Pterocarpus rohrii, Chorisia speciosa, Cabralea

canjerana, Cedrela fissilis, Centrolobium robustum, Tachigali

paratyensis, Astronium graveolens, Moldenhawera polysperma,

Lecythis lanceolata, Geissospermum vellosii, Jacaratia spinosa,

Virola oleifera. São poucos os indivíduos que emergem deste

estrato, tais como Cabralea canjerana, Centrolobium robustum,

Page 37: DissertacaoZen2 - completa

37

Cariniana estrellensis, entre outras. É relevante a presença neste

tipo de formação de fetos arborescentes do gênero Dicksonia

(samambaiaçu), que em conjunto com as epífitas reflete o caráter

úmido das florestas tropicais de encosta.

· Formações clímax (em bom estado de conservação): Encontradas

no PNMNI nas áreas de difícil acesso, onde quase não há ação

antrópica. Nestes trechos a dinâmica florestal deve-se quase que

exclusivamente da queda e morte de indivíduos. As principais

características desta formação são: os altos diâmetros das árvores

do dossel e emergentes; o terceiro estrato ou superior que

apresenta alturas entre 20-25 metros, com emergentes superando a

marca de 30 metros; e uma variedade maior de espécies no dossel

com distribuição mais equilibrada, ou seja, não há nenhuma espécie

com alta freqüência a ponto de induzir uma interpretação que

configure dominância de qualquer espécie.

A riqueza de espécies nas matas secundárias tardias e clímax é

muito maior quando comparadas com as outras formações. É

encontradas maior densidade de palmito juçara (Euterpe edulis),

por exemplo, principalmente nas matas clímax, sendo um indicador

de adiantado estado de conservação da floresta. O dossel nas

matas mais maduras é constituído praticamente das mesmas

espécies arbóreas citadas para as matas secundárias tardias

evidenciando, porém, uma queda nas populações de espécies

como o jacatirão (Miconia cinnamomifolia), o angico

(Pseodopiptadenia contorta) e o pau-jacaré (Piptadenia

gonoacantha).

Além do porte, como citado anteriormente, e da maior densidade do

palmito juçara (Euterpe edulis), as matas mais preservadas

guardam a ocorrência de espécies mais raras, que por possuírem

grande potencial madeireiro não correm nas formações alteradas

ou, quando ocorrem, são indivíduos novos. Como exemplo destas

espécies pode ser citados: Dalbergia nigra, Mezilaurus navalium,

Hymenaea courbaril var. altssima, Virola gardneri, Virola oleifera,

Page 38: DissertacaoZen2 - completa

38

Copaifera trapezifolia, Copaifera lucens, Cariniana legalis e

Cariniana estrellensis, Geissospermum vellosii, Enterollobium

glaziovii, Cedrela fissilis, Peltogyne angustiflora, Pradosia kullmanii,

Pouteria cf. torta.

Destaca-se ainda que a flora do PNMNI compõe-se ainda de diversas

espécies exóticas introduzidas por sitiantes que lá residiam ou efetuaram plantios

em terrenos ao longo da estrada da Cachoeira. As espécies introduzidas vão desde

plantas como café (Coffea arabica), bananeira (Musa paradisiaca), limoeiros e

laranjas (Citrus spp) até árvores utilizadas na arborização urbana e em

reflorestamentos como é o caso do pau-rei (Pterigota brasiliensis), fedegoso (Cassia

grandis), sombreiro (Clitoria fairchildiana), flamboyant (Delorix regia), samã

(Pithecellobium samam), eucaliptos (Eucalyptus spp) e ciprestes, etc.

Há também muitas frutíferas, como jambo-rosa (Syzygium jambos), goiabeira

(Psidium guajava), jaqueiras (Artocarpus integrifolia), abacateiro (Persea gratissima),

mangueiras (Mangifera indica) e outras. Além de algumas plantas ornamentais,

principalmente nas proximidades do Casarão e ao redor das ruínas do antigo Clube

de Campo Dom Felipe. Nestes locais encontram-se trechos de antigas cercas vivas

(Hibiscus sp, Malvaviscus sp, etc.), bem como dracenas (Dracena rubra, D.

fragans, etc.) e algumas palmeiras exóticas6.

1.3.3.2 Fauna

A fauna da Região Sudeste do Brasil pertence à Província Florestal Atlântica.

Segundo o MMA Atualmente reduzida a 7% de sua extensão inicial (102 mil Km2)

encontra-se intensamente fragmentada e distribuída ao longo da costa brasileira, do

Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Abrange atualmente, total ou

6 SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida –2001 pag 36

Page 39: DissertacaoZen2 - completa

39

parcialmente, 3.409 municípios em 17 estados. No Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, Paraná e São Paulo, estende-se pelo interior, até os limites com a

Argentina e Paraguai. Nela, são gerados 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do

país, sendo estratégica para 120 milhões de brasileiros, regulando o clima,

assegurando a fertilidade do solo, protegendo escarpas de serras e encostas de

morros e preservando nascentes e fontes, regulando o fluxo dos mananciais que

abastecem estes municípios7. Considerada patrimônio nacional pela Constituição

Federal, a Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos do mundo em biodiversidade.

Contudo, segundo a lista da fauna silvestre brasileira ameaçada de extinção8,

publicada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2003; 185 vertebrados, 118 aves, 16

espécies de anfíbios, 38 mamíferos e 13 espécies de répteis pertenciam à Mata

Atlântica.

Sendo um importante remanescente da Mata Atlântica, o maciço do Gericinó-

Mendanha está inserido na Região Zoogeográfica Neotropical, mais precisamente

na Província Zoogeográfica Tupi. A floresta da região das serras de Madureira e

Mendanha abriga uma rica diversidade faunística, em especial em altitudes acima da

cota 200 metros e nos vales dos cursos d’água. Nesses locais, onde a

heterogeneidade de habitats e microhabitats é grande, abrigam-se animais de

preferências alimentares restritas (especialistas) que necessitam de áreas

preservadas para que suas populações mantenham-se em equilíbrio o que torna a

proteção destes remanescentes florestais imprescindível para a manutenção da

fauna local.

Originalmente, antes do processo de urbanização da Baixada Fluminense, as

matas nativas do maciço do Gericinó-Mendanha abrigavam espécies de grande

porte da fauna brasileira, tais como a onça parda ou suçuarana (Felis concolor) e o

mono carvoeiro (Brachyteles arachnoides), as quais foram registradas na região em

1922. Porém, com a pressão antrópica nas áreas ao redor do maciço, a fauna, em

busca de alimento e abrigo, migrou para áreas mais altas e menos acessíveis aos

7 “Conheça melhor a Mata Atlântica” Fonte: MMA/ASCOM e Wellton Máximo, Repórter da Agência Brasil. Capturado em 12/02/2007. http://www.ecolnews.com.br/lei_da_mata_atlantica.htm 8 Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Anexo aos padrões de certificação florestal (Ministério do Meio Ambiente - maio de 2003).

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40

moradores da região. Por outro lado, a alteração ambiental causou, também, o

desaparecimento de espécies da fauna local, que requeriam áreas com maior

capacidade de suporte. A onça parda é um exemplo dessa situação de

inadaptabilidade, já que, com os desmatamentos, seu espaço natural de

forrageamento ficou bastante reduzido.

A existência de caçadores e passarinheiros na região do Parque Municipal de

Nova Iguaçu é registrada pelas atividades de fiscalização e continua sendo um

problema para a administração. Embora esporádicas, as atividades de fiscalização

são feitas geralmente em ações coordenadas entre órgãos públicos estaduais ou

municipais, em atendimento a denúncias de moradores. Com a implantação do

Parque Municipal de Nova Iguaçu, essa pressão sobre a fauna diminuiu

principalmente nas áreas mais próximas dos pontos de maior visitação, mas é ainda

bastante evidente nas partes altas do parque.

Entretanto, salienta-se que há uma grande carência de estudos sobre a

composição faunística, incluindo levantamentos atualizados, visto que os dados

constantes no plano de manejo foi uma levantamento expedito, e as listas, em

grande parte, foram interpoladas de levantamentos em todo o maciço. Relacionam-

se 02 espécies de anfíbios, 09 de repteis, 157 de aves, 12 de mamíferos e em torno

de 30 espécies de invertebrados. Dentre os mais comuns de serem observados

estão: Paca (Agouti paca), Preguiça (Bradipus torquatus), Jacupemba (Penelope

superciliares), Tangará (Chiroxiphia caudata) e Araçari-banana (Baillonius bailloni)

entre outros.

Cabe salientar que projetos de pesquisa recente tendem a confirmar a

biodiversidade prevista, dentre os quais se pode citar Menezes Jr. (2008) que em

estudos no Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha (vertente oposta ao

PNMNI, podendo ser acessado através da trilha do Mendanha, na parte alta do

parque) foram encontradas 15 espécies de morcego, com destaque para os

frugívoros Artibeus lituratus, Carollia perspicillata e Platyrrhinus lineatus. Mesmo

assim, espécies ameaçadas de extinção como, Platyrrhinus recifinus e Chiroderma

doriae foram capturadas em número considerável, indicando que a região encontra-

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41

se em ótimo estado de preservação, podendo sustentar até mesmo grandes

populações de espécies ameaçadas.

Já o projeto “Diversidade dos Morcegos e Quiropterocoria no Parque

Municipal de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil”; conduzido pelo laboratório de

Mastozoologia do Instituto de Biologia Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

que pesquisa ecologia e ecomorfologia de quirópteros no PNMNI, já registraram 14

espécies de morcegos em apenas três coletas (Novaes, R.L.M. dados não

publicados); onde a espécie insetívora Myotis nigricans e os nectarívoros Anoura

caudifer e Anoura geoffroyi são as mais representativas da área. Destaque também

para o onívoro Tonatia bidens, que vem sendo tratado como bioindicador de

ambientes conservados. O considerável número de espécies de morcego em

relação à baixa amostragem do Parque pode indicar a grande diversidade que esta

área pode abrigar, dando indícios que esta seja uma importante região para ser

conservada. A presença do morcego hematófago Desmodus rotundus e de algumas

espécies frugívoras, aliadas aos já citados morcegos insetívoros, nectarívoros e

onívoros pode ser um indício da variedade de microhabitats da região, que pode

suprir as necessidades específicas das mais variadas guildas alimentares, o que é

mais um indicativo de que o Parque pode abrigar uma importante biodiversidade.

Em andamento o projeto de pesquisa de doutorado “A riqueza e diversidade

de anfíbios anuros da Serra do Mendanha, Rio de Janeiro, RJ: grau de conservação

da floresta, taxa de mudança altitudinal e uso de recursos hídricos”, cujos

levantamentos envolvem coletas em vários locais da Serra, apontam grande

biodiversidade. Nas coletas realizadas no Parques Natural Municipal do Mendanha,

próximo ao PNMNI, mas na vertente oposta, foram identificadas 13 espécies9,

pertencentes a 3 famílias, de anfíbios anuros em diferentes altitudes. Reporta-se que

no mesmo projeto, em atividade paralela, já foram identificadas 27 espécies de

serpentes, pertencentes a 04 famílias, que ocorrem nas áreas de coleta de anfíbios.

Os trabalhos de coleta no PNMNI já foram iniciados e se espera amostragem

semelhante.

9 Dados não publicados do autor Jorge Antônio Lourenço Pontes - [email protected]

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42

1.4 Zoneamento Territorial e Ambiental

O PNMNI possui 55% de sua área florestal em adiantado estado de

regeneração e/ou alto grau de preservação, onde se destacam vários exemplos da

flora e fauna da região.

O zoneamento territorial e ambiental sugerido no Plano de Manejo do Parque

natural Municipal de Nova Iguaçu (SEMUAM, 2001), definiu sete zonas (quadro 01).

DISCRIMINAÇÃO ÁREA (ha) % OBSERVAÇÕES GERAIS

Zona Intangível 182,8 17,7 Abrange matas preservadas das cotas altimétricas mais elevadas

Zona Primitiva 384,1 37,3 Engloba as matas em excelente estado

Zona Uso extensivo 380,3 38,3 Vide mapa do zoneamento (Figura 04)

Zona Uso Intensivo 41,9 4,0 Área do Casarão e arredores

Zona de Recuperação 21,2 2,0 Áreas degradadas ou com solos expostos

Zona de Uso especial 5,7 0,7 Faixa de entrada, após a represa

* Área de relevante interesse para o manejo da UC

59,5

5,4 Inclui a Represa Epaminondas Ramos, a pedreira e o portão principal da unidade

Quadro 01: Zoneamento territorial-ambiental do PNMNI

* Esta área de 0,595 km2 localiza-se na parte frontal do Parque Municipal, junto à entrada, e é estrategicamente muito importante para o gerenciamento da unidade. Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 57.

Deve-se observar com especial atenção as áreas das zonas de uso especial

e intensivo, que somam aproximadamente 4,7 % da área do PNMNI e recebem

atualmente quase a totalidade da visitação; ao passo que a zona de uso extensivo,

com área em torno de 38,3% extremamente sub-utilizada. Na figura 04, são

evidenciadas as zonas criadas e sua localização no PNMNI:

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Legenda Zona de Uso Especial Zona de Recuperação Zona de Uso intensivo Zona de Uso extensivo Zona primitiva Zona Intangível

Figura 04 Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI

Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008

MESQUITA

Page 44: DissertacaoZen2 - completa

44

O Zoneamento proposto obedeceu às seguintes definições e atribuições:

· Zona Intangível: “É aquela onde a primitividade da natureza

permanece intacta, não se tolerando quaisquer alterações

humanas, representando o mais alto grau de preservação. Funciona

como matriz de repovoamento de outras zonas onde já são

permitidas atividades humanas regulamentadas. Esta zona é

dedicada à proteção integral de ecossistemas, dos recursos

genéticos e ao monitoramento ambiental. O objetivo básico do

manejo é a preservação, garantindo a evolução natural.”

Descrição: Situa-se na porção oeste do Parque Municipal,

englobando, grosso modo, as terras acima da cota 600 metros.

Inclui as nascentes do rio D. Eugênia e trechos bem conservados

de remanescentes de Mata Atlântica em estágio avançado de

regeneração.

Finalidades específicas:

o Proteger as nascentes do rio D. Eugênia e dos principais

afluentes localizados no seu alto curso.

o Proteger o ambiente, os processos naturais e a evolução dos

ecossistemas sem interferências antrópicas

o Proteger vegetação remanescente de Mata Atlântica, bem

conservada, situada nas cotas mais elevadas do PNMNI.

· Zona Primitiva: “A Zona Primitiva é aquela onde ocorreu pequena

ou mínima intervenção humana, contendo espécies da flora e da

fauna ou fenômenos naturais de grande valor científico. Deve

possuir características de zona de transição entre a Zona Intangível

e a Zona de Uso Extensivo. O objetivo geral do manejo é a

preservação do ambiente natural e ao mesmo tempo facilitar as

atividades de pesquisa científica, educação ambiental e

proporcionar formas primitivas de recreação.

Descrição: Localiza-se na parte centro-oeste, envolvendo a Zona

Intangível, seguindo aproximadamente a cota 500 m de altitude e

incluindo as nascentes do córrego dos Tucanos e do córrego Mata

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45

Fome. No trecho oeste e sudoeste também contorna a Zona

Intangível, indo-se até o limite do Parque. No lado sul da UC

estende-se ao longo da margem direita do córrego Pau da Letra,

ficando, porém, dentro desta zona as suas nascentes.

Na porção leste inclui as nascentes dos córregos Tapinhoã e

Porteira. Ali, em linhas gerais, acompanha a cota 400 m, excluindo,

entretanto, as áreas de matas secundárias em fase inicial de

regeneração. Esta zona é recoberta em sua maior parte por

formações florestais densas, em excelente estado de conservação,

mas inclui também pequenos trechos de florestas secundárias

tardias, em avançado estágio de regeneração natural.

Finalidades específicas:

o Proteger as nascentes localizadas na parte sul e sudeste do

PNMNI.

o Proteger manchas de floresta densa e aberta em bom estado

de conservação.

o Propiciar o desenvolvimento de pesquisas científicas em

áreas remanescentes de Mata Atlântica.

o Servir como banco de germoplasma (sementes, propágulos e

mudas) para processos de sucessão secundária na Zona de

Recuperação.

o Oferecer oportunidade para a realização de formas simples

de recreação, em contato direto com ambientes naturais.

· Zona de Uso Extensivo: “É aquela constituída em sua maior parte

por áreas naturais, podendo apresentar algumas alterações

humanas. Caracteriza-se como uma área de influência entre a Zona

Primitiva e Zona de Uso Intensivo. O objetivo geral do manejo é a

manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano,

apesar de oferecer acesso e facilidade públicos para fins educativos

e recreativos”.

Descrição: Esta zona está distribuída por toda parte central, norte e

leste do Parque. Engloba grande parte do córrego Pau da Letra

(médio e baixo curso) e um trecho de cerca de 2 km do rio D.

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46

Eugênia. Abrange parcialmente as Trilhas do Gericinó, Mata-Fome

e de Campo Grande (em direção a Serra do Mendanha,

acompanhando o córrego do Pau da Letra). Entre os marcos

importantes incluídos nesta zona estão: as ruínas do Clube de

Campo Dom Felipe, datado de meados do século XX, freuqntado

pela elite igualuana da época , o local onde existiu um Quilombo, a

Pedra da Quilombo (Contenda) e Varginha (a suposta chaminé

vulcânica).

A cobertura vegetal da Zona de Uso Extensivo é constituída

majoritariamente por florestas densas e por formações florestais

secundárias tardias, cujas árvores apresentam menores diâmetros

e dossel mais aberto. Ocorrem ainda, matas secundárias em franco

processo de regeneração. As áreas degradadas de antigos sítios

localizados ao longo da Estrada da Cachoeira foram classificadas

como Zona de Recuperação.

Finalidades específicas:

o Assegurar maior proteção e integridade à Zona Primitiva.

o Dar aos visitantes a oportunidade de desenvolver atividades

de recreação e lazer em contato com ambientes naturais,

como caminhadas e ciclismo em trilhas rústicas,

contemplação de paisagens, observação de elementos de

flora e fauna.

o Propiciar aos visitantes oportunidades para conhecer e

entender aspectos naturais e histórico-culturais da região

onde se insere o Parque.

· Zona de Uso intensivo: “É aquela constituída por áreas naturais ou

alteradas pelo homem. O ambiente é mantido o mais próximo

possível do natural, devendo conter: Centro de Visitantes, museus,

outras facilidades e serviços. O objetivo geral é o de facilitar a

recreação intensiva e a educação ambiental em harmonia com o

meio.”

Descrição: Compreende a Estrada da Cachoeira e uma faixa de

cerca de 300 m junto às suas margens, ao longo de um percurso de

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47

cerca de 2,5 km — desde as proximidades da coluna de pedras no

início da Gleba Modesto Leal até a altura do mirante de onde se

avista o vale do rio Dona Eugênia. Esta zona inclui os principais

atrativos de uso público e áreas com potencial para o

desenvolvimento de atividades programadas tanto de recreação

como de educação ambiental: cachoeiras e piscinas naturais, o

Casarão, locais para implantação de áreas de piquenique,

equipamentos de ginástica e de um mini-horto, do Centro de

Visitantes, etc. A vegetação ali verificada é constituída basicamente

por matas secundárias em franco processo de regeneração,

formações vegetais pioneiras e áreas degradadas em diversos

níveis.

Finalidades específicas:

o Oferecer áreas e infra-estrutura próprias para recreação e

atividades de lazer, interpretação e educação ambiental,

capazes de comportar um significativo número de visitantes,

de modo a não causar danos aos ambientes e recursos

naturais do Parque Municipal de Nova Iguaçu.

o Abrigar instalações e equipamentos destinados à recepção,

atendimento e orientação aos visitantes.

· Zona de Uso Especial: “É aquela que contém as áreas necessárias

à administração, manutenção e serviços da UC, abrangendo

habitações, oficinas e outros. Estas áreas serão escolhidas e

controladas de forma a não conflitarem com seu caráter natural e

devem localizar-se, sempre que possível, na periferia do Parque. O

objetivo geral do manejo é minimizar o impacto da implantação das

estruturas ou os efeitos das obras no ambiente natural ou cultural

do Parque.”

Descrição: Esta zona se estende, ao longo da Estrada da

Cachoeira, do Portão de Entrada, junto à Represa Epaminondas

Ramos, até um ponto intermediário entre o marco inicial da Gleba

Modesto Leal (coluna de pedra) e a ponte da curva, entre Gleba

Modesto Leal (coluna de pedra) e a ponte da curva. Inclui a área da

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48

pedreira desativada, o Sítio Riacho da Serra e a própria represa

Epaminondas Ramos.

Finalidades Específicas:

Assegurar a realização das atividades administrativas e rotineiras

do Parque Municipal de Nova Iguaçu sem, contudo, causar danos

às áreas da Unidade de Conservação.

· Zona de Recuperação: “É aquela que contém áreas

consideravelmente alteradas pelo homem. Zona provisória, uma vez

restaurada, será incorporada novamente a uma das zonas

permanentes. As espécies exóticas introduzidas deverão ser

removidas e a restauração deverá ser natural ou naturalmente

acelerada. O objetivo geral do manejo é deter a degradação dos

recursos ou restaurar a área.”

Descrição: A Zona de Recuperação é formada por um conjunto de

pequenas áreas, que correspondem aos antigos sítios particulares,

e por quatro áreas de maiores dimensões, assinaladas no mapa do

zoneamento, quais sejam: uma no início da Gleba Modesto Leal,

outra junto às ruínas do Clube Dom Felipe, a terceira na parte norte

do Parque, nas proximidades da Trilha Mata-Fome, e a última na

parte central da UC, nas imediações da cachoeira Véu da Noiva e

da ponte das Pedras. Em conjunto são cerca de 22 hectares

descontínuos que necessitam estudos específicos de

enriquecimento florestal, tratamento paisagístico ou

reflorestamento.

Essas áreas, de um modo geral, são revestidas por pastagens

(campos antrópicos) ou por vegetação pioneira em estado inicial de

regeneração. Alguns desses locais apresentam, inclusive, solo

exposto, escavados, em certos casos, por grandes sulcos de

drenagem superficial. Todas as áreas do Parque que estão

atualmente ocupadas por particulares, em função das

características que apresentam, também integram a Zona de

Recuperação. À medida que sua situação legal seja equacionada e

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49

as áreas desocupadas, deverão ser adotadas ações necessárias à

sua restauração.

Finalidades Específicas:

o Restaurar áreas alteradas pela ação antrópica ocorrida ao

longo dos anos, devolvendo ao ambiente as condições

naturais.

o Proporcionar o monitoramento dos processos de

recuperação e das fases de sucessão ecológica.

· Área de relevante interesse para o manejo da UC. Compreende a

área que se estende ao longo do limite leste do Parque Municipal

de Nova Iguaçu, perfazendo um total de 59,5 ha. Esse trecho,

compreendido entre portão de entrada da UC e o marco da Gleba

Modesto Leal, limite do Parque Municipal, reúne locais de grande

interesse para o manejo da unidade.

Nessa área, estão incluídos a Represa Epaminondas Ramos, a

pedreira desativada São José, antes prevista como uma área de

estacionamento, se converteu de fato em um espaço multiuso,

abrigando atividades de recreação, eventos, e atividades e

escolares dentre outros, e outros espaços aprazíveis. Ressalta-se

que a faixa territorial em questão possui também uma trilha (trilha

da represa) que corre ao longo da margem mesquitense e trechos

recobertos por remanescentes de florestas, além da guarita

principal (Portão de Entrada) e sanitários públicos.

Em relação à zona de uso Intensivo, o maior volume de visitantes se

concentra na faixa compreendida entre a Sede até o Casarão, com

aproximadamente mil e duzentos metros, onde estão os principais poços para banho

(o poço das Cobras e o Poço do Casarão) caracterizando a vocação da área, em

conjunto com os outros poços e pequenas quedas d’água do Rio Dona Eugênia.

Esta vocação tem sido uma das principais causas do sobre-uso dos visitantes,

extrapolando sobremaneira a capacidade de carga prevista no plano de manejo,

sobretudo, no verão ou dias mais quentes; o que tem sido caracterizado por alguns

funcionários como um fenômeno já consolidado de turismo de massa.

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50

Na zona de uso intensivo, destaca-se ainda que embora as caminhadas

sejam uma porção expressiva das atividades desenvolvidas pelos usuários no

PNMNI, tanto visitantes quanto praticantes de caminhadas matutinas; os roteiros,

incluindo os utilizados pelos funcionários do PNMNI nos trabalhos de visitas guiadas,

tendem a se restringir aos roteiros que envolvem a Estrada da Cachoeira até o

Casarão, podendo se estender da entrada até o Mirante do Alto e mais raramente às

Ruínas do Clube Dom Felipe (zona de uso extensivo – onde se recomenda usar guia

do parque).

Salienta-se que no plano de manejo inicial houve a implantação da trilha do

Pau Pereira, com aproximadamente seiscentos metros de extensão, que descreve

um arco junto a Estrada da Cachoeira, tendo seu ponto de partida oficial e ponto

final aproximadamente cento e cinquenta metros da Ponte da Curva. Esta inversão

do roteiro foi uma adequação ao projeto visto que, embora a trilha tenha sido

concebida para receber o público de massa, dada a sua localização; a inadequação

do acesso, muito íngreme, fez com que a mesma fosse evitada tanto pelos usuários

menos preparados e com menor vigor físico quanto pelas visitas guiadas conduzidas

pelo pessoal do PNMNI, daí a “solução” de se começar pelo final, cujo traçado é

mais confortável.

A trilha prevista para ligar a Trilha do Pau Pereira à Pedra do Quilombo (da

Contenda) não foi projetada ou implantada, havendo apenas a referencia de

“planejada”. As referências às trilhas do Mendanha e outras que poderiam conduzir

ao Parque do Mendanha e Gericinó, assim como a outras localidades da APA do

Gericinó-Mendanha, são caminhos já existentes e não foram considerados nesta

dissertação em função de sua localização, próxima e mesmo dentro das zonas

primitiva e intangível; cujo estímulo ao fluxo de visitantes seria ilegal, conforme o

zoneamento territorial e ambiental vigente, e nocivo à proteção destas áreas nobres,

devendo ser mantidas como trilhas de trabalho (fiscalização e pesquisa).

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1.5 Lazer, Recreação e Ecoturismo no PNMNI

1.5.1 Panorama atual

Embora pouco conhecido pela população local, a exceção da área de entorno

imediato de Mesquita, a divulgação do parque pela mídia jornalística na onda do

consumo da natureza é cada vez mais intensa, destacado principalmente como

agradável possibilidade de lazer e recreação, sobretudo, através de banhos de

cachoeira (fotografia 02) em áreas naturais de fácil acesso e práticas de vôo livre

(fotografia 03) e rapel na Pedreira desativada São José e Pedra da Contenda.

Com a descoberta em 1979 de resquícios de atividade vulcânica pelos

geólogos Victor de Carvalho Klein e André Calixto Vieira, o PNMNI tornou-se uma

importante referência geológica no estado do Rio de Janeiro. Data desta época a

introdução da referência ao “Vulcão de Nova Iguaçu” e “Serra do Vulcão”, utilizados

amplamente pela mídia e prefeituras como “chamariz ecoturístico” por conta da

hipótese lançada por estes pesquisadores acerca da existência de sinais de um

edifício vulcânico conservado na área historicamente denominada de Varginha é

dada as suas características físicas (uma pequena planície fértil no fundo do vale),

que foi interpretada como a “cratera do vulcão” de Nova Iguaçu, hipótese refutada

por Valente, et al (2005).

Fotografia 02: Visitantes no Poço do Casarão Fotografia 03: Rampa de Vôo Livre de Nova Iguaçu Flávio A. P. Mello : fev./2008. Fonte: Guia 4 Ventos Brasil

Tal exposição, contudo, está se convertendo em um problema: os municípios

de Nova Iguaçu e Mesquita são os que possuem maior interface e facilidade de

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acesso, possuindo aproximadamente um milhão de habitantes10. Isso indica uma

forte condição de massificação do lazer e ecoturismo nesta unidade. De fato, esta

situação já é percebida pela administração, por conta do aumento da demanda de

visitação tanto no verão, nas atividades de lazer e recreação nos poços e pequenas

cachoeiras ao longo do rio Dona Eugênia, notadamente no intervalo do Poço da

paixão até o Casarão, onde se encontra a Cachoeira Véu da Noiva com 53 metros

de queda; quanto na Pedra do Quilombo (Contenda) e Pedreira São José, através

de prática de rapel por conta dos operadores locais, onde sinais de degradação das

trilhas, exposição de raízes denotam sinais evidentes de deterioração ambiental.

A maior parte da dispersão dos visitantes adeptos de caminhadas em trilhas,

ecoturistas e visitantes não autorizados, ocorre em trilhas não reconhecidas

oficialmente pelo plano de manejo e fiscalizadas pelo PNMNI, conforme destacado

anteriormente. De fato, a utilização de trilhas com maior potencial para atividades

ecoturísticas como as caminhadas nas trilhas da Varginha, Mata-fome e do

Quilombo (Contenda), onde ocorrem práticas de lazer e esportes na natureza como

rapel, bouldering 11 e escalada e ainda as práticas de Vôo Livre na Rampa, recebem

acompanhamento extremamente superficial, praticamente inócuo; sem controle de

entrada ou projeções de visitação.

A rampa de vôo livre de Nova Iguaçu, localizada em um dos extremos do

Parque (S 21º 31’ 63” W 041º 53’ 24”, na cota 780,00 m.), segundo o Guia 4 Ventos,

é considerada o segundo melhor ponto do país (e melhor no estado) para a prática

desse esporte, podendo ser praticado durante todo o ano. Seu principal acesso se

dá através da estrada do Tatu Gamela, não pavimentada e utilizada também como

um atrativo para os adeptos de caminhada, por conta do mirante da rampa.

Possuindo como infra-estrutura de decolagem uma rampa de madeira e duas

rampas naturais com boa inclinação, possibilidade de decolagens simultâneas. O

pouso, de modo geral, se dá na Fazenda Cabuçu. Para o parapente há várias

alternativas de pouso junto à estrada de Madureira. Como pontos positivos

10 Contagem da População 2007, Resultados preliminares: Nova Iguaçu: 844.583 habitantes. Mesquita: 185.552 habitantes. Fonte: IBGE - Censo Demográfico 11 Bouldering ou escalada em bloco de pedra ou falésias. Atinge os mais altos graus de dificuldade técnica entre todas as formas de escalada, geralmente realizado em rochas de até cinco metros de altura e sem o uso de cordas. Fonte: http://ibahia.globo.com/irado/corpo_materia.asp?modulo=33&codigo=19892&tit=esporte

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destacam-se as térmicas fortes, vôo seguro, ótima alternativa para condições de

vento Norte e como pontos negativos a proximidade do aeroporto Internacional do

Rio de Janeiro e do aeroclube de Nova Iguaçu. Estrada de acesso precário e infra-

estrutura hoteleira fraca.

As propostas de uso público para a zona de uso intensivo e especial

apontadas no plano de manejo do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, foram

alvo de um estudo12 sobre a qualidade dos espaços de lazer do Parque Municipal de

Nova Iguaçu, solicitada pelo DRM RJ - Departamento de Recursos Minerais do

Estado do Rio de Janeiro, em 2004, intitulado Diagnóstico Geral do Geoparque

Municipal de Nova Iguaçu, por ocasião do lançamento das placas do projeto

Caminhos Geológicos, onde se referiu a urgência de se melhorar as condições da

estrada de acesso ao parque (limpeza da rua e seu asfaltamento) e a colocação de

uma legislação edilícia que impeça construções ilegais e fora das normas

(fiscalização constante), assim como a colocação de sinalizações direcionais desde

o centro urbano até a entrada do parque.

Dentre os pontos considerados e tratados com bastante ênfase, se destacou

a sinalização, com distancias entre as ambiências; área para calçada ao longo da

estrada da cachoeira com leito mais regular; o acesso aos poços, cuja precariedade

de acesso em relação ao declive muito acentuado, denota perigo para idosos e

crianças em uma zona de uso intensivo. Neste mesmo estudo, face as constatação

do estado geral das infra-estruturas de apoio ao visitante, onde é sugerido a

cobrança de uma pequena entrada, de um real por adulto e de cinqüenta centavos

por criança até 12 anos e para os idosos a partir de 60 anos. Recursos estes, que

embora pequenos, poderiam atender algumas urgências da unidade, principalmente

as relacionadas à segurança, principalmente as relacionadas a pontes, guarda-

corpos e acessibilidade de idosos e crianças.

Refere-se, entretanto, que apesar do quadro desfavorável, são percebidas

atividades embrionárias de turismo conduzidas, mormente, por “guias locais” não

12 “Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu”. Elaborado pela equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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qualificados de modo geral; os quais têm se estabelecido com mais vigor na zona de

uso extensivo, notadamente na Pedreira Desativada São José e na região

conhecida como Pedra do Quilombo (ou da Contenda), operando quase que

exclusivamente atividades de rapel, sendo que nesta última não há participação

efetiva do PNMNI na gestão deste espaço.

De fato, ao se avaliar a realidade vivida pelo PNMNI, percebe-se que as

características da dinâmica de lazer no Parque, motivo de preocupação da

administração, é particularmente clara quando se analisa o perfil do usuário atual.

Embora exista grande dificuldade, por motivos operacionais internos, em se

estabelecer uma coleta de dados eficaz junto a entrada, para um diagnóstico mais

apurado do perfil do visitante, a qual poderia facilitaria tomada de decisões mais

precisas e estabelecimento de prioridades na gestão da visitação pela

administração; dados informais de portaria e questionários conduzidos a campo e

pela internet para esta dissertação, confirmam esta tendência da visitação e

apontam que o oferecimento de outras alternativas de lazer poderia interferir no

manejo dos visitantes e em seu perfil.

1.5.2 O Projeto “Caminhos Geológicos” no PNMNI

O Projeto Caminhos Geológicos, coordenado pelo Departamento de Recursos

Minerais - DRM-RJ, foi implantado a partir do ano de 2001 (MANSUR & ERTHAL,

2003), com o propósito de trazer a cultura da Geologia para o Estado do Rio de

Janeiro, paralelamente, visa também reconhecer e preservar os monumentos

geológicos fluminenses, divulgar o conhecimento geológico nas comunidades,

incentivar o desenvolvimento econômico relacionado com a geologia e também

fortalecer o potencial turístico das regiões. O projeto consiste na colocação de

painéis explicativos sobre a evolução geológica do Estado, para que o cidadão tenha

acesso à informação e perceba a complexidade e o tempo que a natureza leva para

construir a paisagem.

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Dentro deste projeto em parceria com a Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu

e universidades presentes no estado do Rio de Janeiro, o DRM-RJ iniciou, em 2004,

a implantação do primeiro Geoparque do Estado na área do Parque Municipal de

Nova Iguaçu. O patrimônio geológico a ser preservado são as rochas e estruturas

relacionadas ao Vulcão de Nova Iguaçu (fotografias 04 e 05), descrito por Klein e

Vieira (1980), incluindo parte remanescente da suposta cratera. Foram instalados

inicialmente 6 painéis, sendo um geral com 120X90 cm junto à sede do parque e os

demais, com 60x60 cm, em afloramentos onde pudessem ser reconhecidas feições

simples, de modo geral desconhecidas e que podem despertar interesse do público.

Fotografia 04: Traçado do dique. Local: Poço do Escorrega.

Fotografia 05: Erosão em marmita. Local: Poço do Casarão.

Fonte: www.drm.rj.gov.br/item.asp?chave=105 Fonte: www.drm.rj.gov.br/item.asp?chave=107

No painel maior, intitulado “Geoparque do Vulcão de Nova Iguaçu”, são

apresentadas informações gerais sobre geologia, estrutura da terra, tectônica de

placas, magmatismo, vulcanismo e rochas magmáticas e são introduzidos termos

relacionadas às rochas, estruturas e demais feições geológicas encontradas na área

do Parque. Também é descrito o contexto geológico em que se desenvolveu o

vulcanismo documentado pelas rochas da região e como se deu a descrição do

vulcão à comunidade científica.

O objetivo deste painel é familiarizar o público, principalmente de alunos de

ensino fundamental e médio e moradores dos arredores do parque, com a temática

geral do geoparque, utilizando para isso linguagem simplificada e informação

sucinta, com ilustrações e fotografias que facilitem o entendimento dos conceitos

apresentados, de modo a atrair a atenção dos leitores. Em conjunto com os demais

painéis implantados no Parque, apresenta o vulcão e suas rochas aos visitantes

permitindo o reconhecimento das feições apresentadas, conscientizando da

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importância de se preservar não só a fauna, a flora e o patrimônio cultural do local,

mas também o patrimônio geológico.

Há a previsão de extensão da sinalização geológica para outras trilhas e

afloramentos do Parque de modo a transformá-lo num Geoparque13. Salienta-se

que se encontra em fase final de conclusão, o TAC (Termo de Ajustamento de

Conduta), assinado entre o Ministério Público Estadual, a Pedreira Vigné, o governo

do Estado e a Prefeitura de Nova Iguaçu. Dentre os itens destaca-se a sinalização

geológica e reforma da Trilha da Varginha, cujas referências foram, em parte,

obtidas na fase de elaboração desta dissertação.

13 Segundo a classificação da UNESCO (2005): “Geoparque é uma unidade de conservação, em que há preservação e gestão científica do patrimônio geológico integrado à conservação da fauna e da flora”. Fonte: Projeto Geoparques - Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2004)

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2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL

Os conceitos aqui apresentados e discutidos subsidiaram as análises que

foram desenvolvidas. Relacionam temas como lazer em ambientes naturais,

ecoturismo, Geoturismo, planejamento e zoneamento turístico, trilhas e impactos

relacionados em unidades de conservação.

2.1 Lazer em ambientes naturais, motivação para caminhar, Ecoturismo e

Geoturismo.

2.1.1 Lazer em ambientes naturais

Uma das mais importantes interfaces das unidades de conservação com a

população são as áreas destinadas ao lazer. As possibilidades de recreação

cumprem a função legal previstas em determinadas categorias de UCs previstas no

SNUC e ainda determinam mais diretamente o sentido de “utilidade” e valor nas

comunidades do entorno e usuários.

Para Dumazedier (1979:171), "o espaço de lazer será cada vez mais

necessário para o equilíbrio humano de cidades cada vez maiores, constituídas por

uma população cada vez mais rica, cada vez mais instruída, e que trabalha cada vez

menos". Boullón (2004) considera o lazer, além de direito do cidadão, tanto um meio

para este encontrar a liberdade e a criatividade, quanto um recurso para a formação

permanente da pessoa e ainda um veículo para estimular o desenvolvimento social e

cultural. Malta (2008:67) entende por sua vez que o conceito de lazer transcende o

de tempo disponível, porque agrega o elemento atividade a ser exercida, ou seja, o

lazer utiliza a fração de tempo livre destinada a descansar o corpo e o espírito de

modo ativo.

Assim, frente aos excessos da vida moderna, várias estratégias de lazer são

engendradas, dentre as quais se destaca o “Nadismo” cujo objetivo é o de

proporcionar a experiência de parar e dedicar-se totalmente ao ócio. O movimento

foi criado pelo designer Marboh (Marcelo Bohrer) em Londres, em 2005, visando

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criar um evento no qual as pessoas permitissem-se parar com a justificativa de estar

participando de uma "atividade" oficial e reconhecida, como forma de frear o ritmo

estressante que as pessoas vivem na cidade.

Malta (op.cit) ressalta que os períodos de tempo disponível para o lazer,

podem ser divididos em duas formas distintas: recreação e turismo. BOULLÓN

(2004:98) coloca o turismo como uma forma de recreação: “qualquer tipo de uso que

o homem faça de seu tempo livre, sempre que este uso realize-se de forma

prazerosa [...] sendo o turismo, portanto, uma forma particular de recreação”. Trigo

(1998:18) concorda com a ampliação deste conceito frisando que turismo interliga-se

com a imensa variedade de opções destinadas ao tempo livre e aos aspectos

culturais, educacionais, da mídia e dos esportes. Salienta-se que a motivação para a

participação em atividades recreativas é dependente de variados fatores (quadro 02)

e se traduz com diferentes graus de envolvimento:

Disponibilidade financeira

A participação em atividades recreativas é diretamente proporcional ao rendimento. Mudanças nos valores sociais e melhoria financeira possibilitam que famílias de poder aquisitivo menor investam em atividades recreativas;

Tempo disponível Atividades de lazer estão diretamente relacionadas à mobilidade e à disponibilidade de tempo;

Fontes de informação

Própria, adquirida com outras pessoas, pela mídia ou fortuita. De forma geral, a mídia é quem mais influencia na participação em atividades recreativas;

Quantidade e acessibilidade das áreas recreativas

Disponibilidade de áreas verdes adequadas para a recreação e acessibilidade (condições das estradas e distância das áreas recreativas), interferem acentuadamente na participação da população;

PO

PU

LAÇ

ÃO

: Número de pessoas

O tamanho da população é um dos principais fatores que influi na utilização recreativa. À medida que ocorre o crescimento da população, o nível de satisfação dos usuários pode diminuir, fazendo com que as pessoas procurem outras atividades que ofereçam melhores retornos para seus investimentos em termos de tempo, dinheiro e energia;

Local de residência

O modo de viver das pessoas afeta a escolha das atividades recreativas. As pessoas que sempre viveram no meio urbano acabam por valorizar mais o ambiente natural do que aqueles em que foram criados;

Idade Define a forma de recreação na qual o indivíduo participará. Espera-se que os jovens participem mais de esportes de aventura, enquanto acampar, observar a natureza, caminhar e fazer piquenique são as principais atividades entre os adultos. A terceira idade, entretanto, tem muito tempo livre e não dispõe de local nem atividades apropriadas;

Escolaridade A recreação é influenciada pelo nível cultural de cada visitante.

Quadro 02: Fatores que influenciam na participação dos visitantes em atividades recreativas Fonte: Malta, R. (2008:72). Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

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A participação de visitantes em atividades recreativas em áreas naturais oferece também diversos benefícios sociais e ambientais (quadro 03):

Benefícios psicológicos

Compreendem a melhoria do bem-estar mental percebido pelos visitantes, resultante da participação em atividades recreativas. Podem ser identificados por meio da percepção de tranqüilidade, da aproximação com a natureza e apreciação da beleza cênica, da autoconfiança, do relaxamento físico e mental, da convivência com amigos e qualquer outra experiência satisfatória que use um dos sentidos;

Benefícios na mudança comportamental

Consistem na melhoria do comportamento ou aumento do desempenho, devido à participação em atividades recreativas. A recreação promove maior habilidade para dominar o estresse, maior produtividade no trabalho, maior interesse na conservação e conseqüente proteção dos recursos naturais;

Benefícios de preservação

São percebidos pelos usuários que ficam satisfeitos em saber que os recursos naturais estão sendo preservados e que existem oportunidades de recreação. Estes benefícios se relacionam basicamente com a conservação da diversidade e da qualidade ambiental, a proteção de características cênicas, a conservação de áreas naturais e preservação de áreas para pesquisas científicas;

Benefícios sociais

A participação em atividades recreativas promove um relaxamento físico e mental, tornando as pessoas menos agressivas, mais saudáveis e produtivas. Se um visitante é mais descontraído e produtivo, ele terá um relacionamento familiar mais solidário, mais disposição para se dedicar às causas de interesse comum e, provavelmente, será favorável ao uso racional dos recursos naturais e culturais. Como conseqüência, estes benefícios se refletem no comportamento das pessoas, estendendo-se para a sociedade como um todo.

Quadro 03: Tipos de benefícios gerados mediante a participação dos visitantes em atividades recreativas em áreas naturais. Fonte: Malta, R. (2008:73). Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Cabe destacar que, tanto as atividades de lazer em áreas naturais, quanto as

ecoturísticas, em um sentido mais amplo, compartilham do mesmo lócus e

consequentemente podem compartilhar de muitas dinâmicas sociais e ambientais.

Bezerra et al (2005:59), ressaltam o papel que desempenha o ecoturismo na

gestão dessas áreas: “As UCs urbanas, mesmo não concentrando uma grande

diversidade biológica, pelo seu alto grau de fragmentação possuem relevante papel,

especialmente no que diz respeito às atividades de lazer, educação e turismo”.

Costa et al. (2008) destacam ainda que as atividades ecoturísticas em unidades de

conservação urbanas têm sido reconhecidas como grandes contribuintes para a

qualidade de vida daqueles que vivem nas grandes cidades, além da representação

do valor estético, paisagístico e patrimonial natural para aquelas áreas:

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Ultimamente uma nova e mais ampla visão vem sendo construída, que vai além do valor ambiental intrínseco que as áreas protegidas possuem, ou seja, além da beleza estética (contemplação). Elas estão sendo encaradas também como fonte de oportunidades de renda e trabalho para as comunidades que vivem em seu interior e/ou entorno; como fonte de desenvolvimento social para jovens, fonte de saúde pública e também como um poderoso agente gerador de capital social (Costa et al. 2008:115).

2.1.2 A motivação para andar em trilhas

O deslocamento de visitantes em unidades de conservação em direção a

atrativos, de modo geral se dá por caminhadas, onde o próprio ato de andar já faz

parte do lazer. Sem esgotar o tema, para Hilman (1993:55 apud Mendonça,

2003:95) em um espaço urbano, o ato de

caminhar é apenas uma maneira lenta e ineficiente de nos aproximar daquilo que os olhos já viram. O pé é escravo do olho, o que faz com que o caminhar torne-se chato, uma mera questão de cobrir distâncias. Quando podemos manter a tensão entre o pé e olho, embarcamos numa abordagem circular e indireta. O pé leva o olho, o olho instrui o pé, alternadamente. O caminhar assume o movimento da alma, por que, como disse o grande filósofo Plotino, o movimento da alma não é direto.

Mendonça (2003:96, op. cit.) destaca ainda que na monotonia do espaço

urbano, nosso olhar é para baixo, tanto para ambientes externos quanto internos

como, por exemplo, para o transito e equipamentos que nos cercam, papeis e outros

respectivamente. Já no “espaço natural”, continua a autora, para caminhar:

“nossa maneira de ser, de estar, de posicionar nossos corpos é convidada a se modificar. O espaço natural não supõe anterioridade nem dos olhos nem dos pés. Ele é como é. Se a trilha foi planejada, é porque se tornou adequada às curvas de nível, à declividade natural do terreno, e contornou rochas e raízes das arvores maiores. Nossos corpos devem se integrar as curvas do caminho e nosso olhar deve redobrar esforços para localizar obstáculos e apreciar a beleza, tanto pequena, dos pequenos seres, das pequenas gotas, como as amplas, das paisagens abertas. Mas, sobretudo, deve esforçar-se para olhar para cima, para a copa das arvores, para o cume das montanhas, para as nuvens”.

Andrade (2005) em Costa (2006) refere que as trilhas “oferecem oportunidade

do contato efetivo com a natureza...” e a prática de caminhar como uma

manifestação de ócio ou recreação possui motivação muito próxima destas

referências, embora possam ser subliminares os motivos para tanto. Beck (1989:10)

coloca que a facilidade de acesso a trilhas urbanas ou próximas a centros urbanos

possibilita a uma diversidade extraordinária de pessoas a visitá-las, com iguais

expectativas, pois segundo o autor: “há os que buscam as montanhas pela beleza

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do cenário, pela pura contemplação do dia e da paisagem, pelo prazer do exercício,

da mudança de ares, da companhia dos amigos, das fotos que trarão para mostrar.

O autor prossegue afirmando que qualquer trilha fácil, cênica e que traga

satisfação ao visitante além de se prestar ao lazer, indica que caminhar por trilhas é

uma aventura essencial para o ser humano, pois oferece “a incerteza do desfecho, a

excitação de novas descobertas e a magia de revelar em si novas habilidades e

forças de cuja existência ele não suspeitava” e autor destaca ainda que psicólogos

apontam que esta busca por aventura – distante da aventura inconseqüente e sem

sentido – está ligada a um nível de risco calculado, consciente, que permite uma

resposta cerebral de satisfação e ampliação da percepção.

Assim, os territórios e lugares proporcionados pelas trilhas, de fato, podem se

traduzir em uma gama de experiências e oportunidades de ócio e recreação,

incluindo práticas pedagógicas, como por exemplo, as atividades de Educação

ambiental, a exemplo do que coloca Guimarães (2007:123), citando Albero e

Benayas del Alamo (1994: 79-80), onde a utilização da paisagem como fio condutor

em programas de Educação Ambiental tem como marcos os seguintes aspectos:

· Motivação: cenários e elementos componentes que incitam e animam à

exploração e o desfrutar;

· Estimulação dos sentidos: despertar de capacidades contemplativas e

de interiorização das vivências ambientais;

· Interdisciplinaridade: a paisagem se converte em lugar de encontro de

disciplinas distintas de modo multi e interdisciplinar;

· Decifração de mensagens: infinidade de estímulos que escondem

informações múltiplas obre o entorno que podem ser decifrados pelo

conhecimento e treinamento;

· Globalização: permite uma análise sistemática e global do médio;

· Realista e concreto: vantagens dos estudos das unidades paisagísticas

graças a sua visibilidade;

· Desencadeamento de juízos e valores: estéticos, éticos e adaptativos

direcionados à conservação ambiental;

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· Implicações na ação e intervenção: relacionadas aos impactos

ambientais.

A principio então, podemos antever que a motivação para caminhar em áreas

naturais e sobretudo em trilhas, atende não só as demandas de lazer e recreação

mas também interfere na psique do caminhante e em sua saúde, o que acaba por se

traduzir em mais uma motivação, pois os benefícios físicos de caminhar são vários,

conforme divulga o Instituto de Ortopedia e Saúde, onde a caminhada é um

excelente relacionando desde a integração social quanto benefícios diretos como

aumento do vigor físico.

2.1.3 Ecoturismo

O turismo tem sido abordado por vários autores sob diferentes aspectos,

incluindo deste as questões sociais e econômicas quanto as ambientais. Para Garcia

(2007: 113):

“O turismo é fenômeno multifacetado e surge como opção de lazer, no qual o indivíduo usufrui seu tempo livre durante o deslocamento e permanência temporária em localidade diferente da sua origem, desfruta da paisagem ou de elementos intangíveis como banho de mar, visita à parques, assistir à peças de teatro, dançar”.

Silveira (2003:84) refere que há basicamente dois grandes grupos genéricos

de turismo: o turismo convencional ou de massa (caracterizado pelo alto custo

financeiro, pela presença de mega-empreendimentos e por não considerar os

impactos ambientais e sociais decorrentes de seu exercício, sendo compreendido

como um espaço antropocêntrico) e o turismo alternativo (figura 05), também

interpretado como ecoturismo por alguns autores. O turismo alternativo é mostrado

como um modelo opositor ao turismo massificado, caracterizando-se pela adaptação

do turista ao lugar, e não o contrário, como ocorre no turismo de massa. No primeiro

caso, há a preocupação com os anfitriões, a distribuição das poucas pessoas

visitantes pelos locais disponíveis e pela consciência ecológica por parte do visitante

e dos anfitriões.

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Neste viés, o ecoturismo é apontado por Troncoso (2002) como a modalidade

de turismo em ambientes naturais da mais especializada, cuja diferenciação de

outras atividades similares encontra-se na política de planejamento e no manejo dos

recursos naturais, educação ambiental, conhecimento e aprendizagem da natureza,

entre outras.

Figura 05: O Turismo Alternativo Fonte: Mieczkowsi apud Wearing e Neil, 2001, p. 5. In SILVEIRA (2003)

Pires (2002), por sua vez, considera que o turismo na natureza pode ser

dividido em dois grandes grupos, sendo um deles composto pelo ecoturismo e o

outro composto pelo turismo de aventura. Fennell (2002:46), entretanto, refere à

ambigüidade de separar o turismo na natureza (a viagem para apreciar as áreas

naturais não desenvolvidas ou a vida selvagem) das outras formas de turismo, visto

que todos dependem e utilizam os recursos naturais, e nem todos são compatíveis

com o meio ambiente:

“o turismo na natureza não é ecologicamente correto em princípio, pois concentra-se mais na motivação e no comportamento do turista individual, o que muitas vezes está desconectado com o ambiente natural, pela ânsia de viver experiências, sem atentar para o comportamento perturbador do entorno natural, como barulho, depredação e deposição de resíduos” (Ziffer apud Fennell 2002).

Assim o turismo na natureza envolve todas as formas de turismo - turismo de

massa, turismo de aventura, turismo de baixo impacto, ecoturismo, e que os

mesmos utilizam os recursos naturais de uma forma selvagem ou não desenvolvida

– inclusive espécies, habitats, paisagens, atrações aquáticas de água doce e

salgada. Zachi (2004) alerta para o modismo atual de se rotular, como ecoturismo,

qualquer grupo que viaje sobre a motivação ligada ao natural e/ou cultural. Nestes

grupos, de modo geral, não se percebe a adoção da harmonização entre turismo,

conservação e cultura e papel do turismo ligado a natureza, torna-se mais amplo e

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pode descaracterizar o desejo de se estar em ambiente preservado. Laarman e

Durst (apud Fennell 2002:45) definem ainda o turismo na natureza como aquele que

“focaliza principalmente os recursos naturais relativamente intocados, como parques

e áreas naturais, pantanais, reservas selvagens, e outras áreas de flora, fauna e

habitantes protegidos”.

Para Selva e Coutinho (2000), o turismo ecológico é considerado o segmento

no qual turistas e promotores de viagens procuram o contato direto com os mais

diferentes ambientes naturais, entretanto sem a preocupação com o equilíbrio

ecológico, ou mesmo com a compreensão dos fluxos e dinâmica que são

estabelecidos no ambiente. De fato, a expressão mais comumente aceita, tanto por

órgãos ambientais quanto de turismo principalmente na esfera federal, é que turismo

ecológico é definido como sendo “desenvolvido em áreas naturais, onde os seus

consumidores procuram usufruir ao máximo a natureza, minimizando os impactos

que possam causar, além de desenvolver uma consciência ou compreensão

ecológica” (Faria & Carneiro, 2001: 74).

Percebe-se então, que a diversidade de atividades de lazer que podem ser

desenvolvidas em ambientes naturais permite inferir em uma grande variedade de

“tipos de ecoturismo”. Oliveira (2000) coloca o Ecoturismo como um grande nicho de

mercado e aponta as múltiplas vertentes: como o científico, envolvendo estudos e

pesquisas em diversas áreas do conhecimento (botânica, zoologia,

paleontologia, geologia, arqueologia e ecologia...); o educativo, abrangendo a

interpretação e observação da natureza, da vida selvagem, dos espaços

geográficos e astrais; o lúdico e recreativo, como caminhadas, acampamentos,

contemplação de paisagem, banhos e mergulhos, jogos e brincadeiras, passeios

montados; o étnico, onde há contatos e integração cultural do ecoturista com

populações autóctones (primitivas/nativas), que vivem em localidades remotas,

em estreita relação com a natureza; o naturista, formado pelos adeptos do ‘nudismo’

ao ar livre e junto à natureza, o esportivo, contanto com exercícios como escalada,

canoagem, bóia cross, surf, vôo livre, balonismo, e o de aventura, inclui

trekking14, montanhismo, expedições, contatos com culturas remotas.

14 Trekking têm sido um termo genérico, utilizado principalmente pelas operadoras de turismo de aventura e ecoturismo para designar os deslocamentos em trilhas, as quais são o atrativo ou parte da atividade principal.

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Desta forma, Oliveira (op.cit) salienta que, apesar das diferentes

classificações estabelecidas, é difícil encontrar um só tipo específico de turismo na

natureza, havendo, de modo geral, uma integração entre estes diferentes tipos de

atividades turísticas, tanto no momento de seu planejamento, quanto de sua

realização, através da integração da atividade educativa com o lúdico-recreativo, ou

da esportiva com a de aventura, possibilitando alternativas e experiências

diferenciadas em maior ou menor grau, de acordo com o perfil de seus operadores e

políticas locais para estas atividades.

2.1.4 Geoturismo

Para Costa (2008, op. cit.), o Geoturismo é mais um evento associado ao

turismo na natureza, com destaque para os atributos do meio físico, particularmente

da Geologia e da Geomorfologia; pois o conhecimento detalhado das principais

feições de relevo existentes em determinada área e de processos geomorfológicos

atuantes criam também oportunidades importantes para os estudos ambientais,

como as práticas ecoturísticas que envolvem atividades de lazer, recreação e

educação ambiental.

Nesta linha de pensamento, destacam-se os estudos de Guerra et al. (2006),

que demonstram que o turismo, como um todo, está fortemente relacionado com o

meio físico, em especial com aquela modalidade que explora as belezas naturais de

uma região, ou seja, o ecoturismo. Costa (op. cit.) destaca atributos como vales com

encostas escarpadas e paredões rochosos que permite rapel e escalada; área com

rupturas de declives acentuados onde trechos encachoeirados dos rios permitam a

prática de canoagem (rafting); lagoas e áreas represadas, que favorecem o banho e

contemplação da natureza; pontões/picos, que servem como mirantes entre outros,

a exemplo do que ocorre no maciço da Pedra Branca.

Segundo Nascimento (2007), o Geoturismo compreende um novo segmento

do turismo de natureza, no Brasil, que surge com a intenção de divulgar o patrimônio

Existem trekkings curtos e longos. O termo hiking, comumente utilizados na América, refere-se a caminhadas longas. Contudo, o termo trekker se generalizou como sinônimo de quem utiliza trilhas por lazer ou esporte.

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geológico, bem como possibilitar sua conservação. Tal atividade utiliza feições

geológicas como atrativo turístico, divulgando a geodiversidade da região turística,

sendo útil, portanto, para promover a associação com as atividades de

ecoturismo, unindo, assim, a bio e a geodiversidade.

O autor relata que há pouca literatura a respeito destacando, contudo, dois

trabalhos que tratam do assunto diretamente: o livro “Geoturismo: scoprire le

bellezze della Terra viaggiando” de Matteo Garofano, editado em 2003, onde são

apresentados os principais pontos geoturísticos da Itália, a geologia italiana e

fornece sugestões de como organizar uma viagem geoturística. Em 2006, Ross

Dowling e David Newsome, dois autores australianos, lançaram o livro “Geotourism:

sustainability, impacts and management”, onde buscam esclarecer os conceitos

básicos sobre este segmento do turismo e tece comentários sobre a prática do

geoturismo em diversos países do Mundo. Apresenta uma relação de geoparques

no mundo, mostrando sua importância para o uso sustentável do geoturismo.

Neste sentido, o Geoturismo se configura como uma possibilidade imediata a

ser explorada, em complemento as bases lançadas pelo DRM através Projeto

Caminhos Geológicos, onde em 2004, o Departamento de Recursos Minerais -

DRM-RJ em parceria com a Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu e universidades

iniciou a implantação do primeiro Geoparque do Estado na área do Parque Municipal

de Nova Iguaçu, em função do grande patrimônio geológico local. Segundo o

Serviço Geológico do Brasil (2004), para a UNESCO o geoparque atende as

seguintes características:

a) Em princípio, representa um território e paisagem que é

suficientemente grande para gerar atividade econômica - notadamente

através do turismo. Pequeno afloramento, mesmo tendo importância

científica, geralmente não tem esse potencial;

b) Deve ter normalmente tamanho suficiente para abarcar um número de

pequenos sítios (geositios) que, tomados em conjunto, mostram

feições geológicas importantes, raridade de beleza, não precisando ter

unicamente significado geológico-paleontológico. Aspectos

arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais podem também

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representar e devem ser vistos como importantes componentes de um

Geoparque;

c) Terrenos que são de interesse geológico-paleontológico (e

arqueológico e biológico), mas que não tem público permanente, ou

localizam-se em locais muito remotos para gerar atividade econômica,

não deveriam servir normalmente como Geoparques. O conceito de

Geoparque é elaborado para relacionar as pessoas com o ambiente

geológico-paleontolológico e geomorfológico; essa caracterização pode

mudar com a evolução sócio-econômica da região no tempo;

d) Tem de prover pela educação ambiental, treinamento e

desenvolvimento de pesquisa científica nas várias disciplinas das

Ciências da Terra, e dar destaque ao ambiente natural e às políticas de

desenvolvimento sustentável;

e) Deve ser proposto por autoridades públicas, comunidades locais e

interesses privados agindo em conjunto;

f) Deve ser parte de uma rede global (International Network of Geoparks),

que deve demonstrar e compartilhar as melhores práticas com respeito

à conservação do patrimônio da Terra e a sua integração em

estratégias de desenvolvimento sustentável.

Assim, um Geoparque deve preservar o patrimônio geológico para futuras

gerações (conservação); educar e ensinar o grande público sobre temas relativos a

paisagens geológicas e matérias ambientais (educação) e prover meios de

pesquisas para as geociências e assegurar desenvolvimento sustentável (turismo).

O Projeto Caminhos Geológicos conduzido pelo DRM do Estado do Rio de

Janeiro, em parceria com a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e

Paleobiológicos-SIGEP, tem buscado a classificação do Parque Natural Municipal de

Nova Iguaçu como geoparque.

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68

2.2 Planejamento turístico e das práticas de lazer na natureza

A complexidade da avaliação do fenômeno do lazer em áreas naturais,

principalmente as unidades de conservação incluindo o ecoturismo como uma de

suas expressões, demandam abordagens intelectuais e técnicas que proporcionem

uma compreensão mínima dos eventos, suas interações e possíveis conseqüências

ou resultados face aos objetivos propostos. O que se busca é um modelo ambiental

onde seja possível administrar os diferentes conteúdos de lugares e territórios de

acordo com a demanda sócio-ambiental requerida.

2.2.1 Sistemas, Modelos e Equilíbrio no contexto da gestão de Unidades de

Conservação e da implementação do ecoturismo

A modelagem ambiental é um exercício de abstração mental, onde se procura

reconhecer sistemas ante a multiplicidade de fenômenos reconhecidos no meio em

questão, procurando estabelecer os elementos componentes e as relações

existentes. Por ser um ato subjetivo, o estabelecimento do modelo a servir de

referência depende intrinsecamente da qualidade da abordagem frente aos

objetivos. Assim, desde posicionamentos filosófico-religiosos, formação técnico-

científica e recursos humanos e materiais, irão interferir no produto final.

Alguns conceitos se fazem necessários para a compreensão da modelagem

ambiental. Campbell (1958, apud Christofoletti) propõe algumas normas, não

obrigatorias, devem ser consideradas nesta interpretação, como a proximidade

espacial de suas unidades, a similaridade de suas unidades, objetivos comuns de

suas unidades e padronagem distinta ou reconhecível de suas unidades. O

entrosamento destes critérios devem caracterizar organização e funcionalidades,

sendo que nos sistemas ambientais o critério funcional e de composição integrativa

são os mais relevantes. Cabe destacar que em termos gerais, a composição dos

sistemas basicamente ocorre em função da natureza de suas entradas, saídas e

reguladores envolvidos nos processos que envolvem os fluxos de massa e energia.

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69

Marques (1984) relaciona as ações destes reguladores dos níveis de massa e

energia, distribuição de massa e/ou energia para os componentes do sistema,

incluindo os armazenadores e determinação do modo e quantidade de saída de

massa e energia do sistema como características do padrão de funcionamento de

sistemas (aberto ou fechado, simples ou complexo; organizado ou não). Neste

sentido, considerando-se o sistema “Unidade de Conservação”, os reguladores são

as diferentes ações e condições que interferem na distribuição de massa e energia

no sistema, assim, a dificuldade de acesso externo é um regulador do fluxo de

energia “usuários”. Este mesmo fluxo pode ter um regulador interno como, por

exemplo, as limitações administrativas de acesso a determinadas áreas previstas em

um plano de manejo por exemplo.

Cabe destacar que, de modo geral, os sistemas não isolados são mais

comuns e mantém relações com os demais sistemas do universo no qual funcionam,

podendo ser classificados em abertos quando há constante troca de energia e

matéria (recebendo e perdendo) ou fechados quando há permuta de energia

(recebem e perdem), mas não de matéria, a qual tende a se manter constante.

Com esta abordagem, é possível interpretar uma unidade de conservação

(UC) como um sistema aberto, visto que recebem energia de fora, considerando-se,

por exemplo, o volume de visitantes. Esta mesma UC também pode ser definida

como um sistema complexo, ao se avaliar as múltiplas inter-relações que se

estabelecem entre os diferentes subsistemas que o compõem, ao se diagnosticar

fatores bióticos, abióticos, culturais e sociais entre outros. Deste modo, a

interpretação do que é massa e o que é energia para a compreensão dos aspectos

dinâmicos do sistema decorre, a grosso modo, de sua própria natureza, ou seja:

eleito um determinado fator, ele é energia quando empresta movimento a seu objeto

de atuação, se caracterizando como massa quando identifica a realidade física local.

Nestes parâmetros, se destaca a possibilidade de se prever a evolução dos

sistemas e o tempo necessário para seu término. Esta perspectiva favorece a

abordagem dos fenômenos através do tratamento histórico e evolutivo, ao se poder

predizer a sucessão de etapas. No que tange às dinâmicas da visitação por

exemplo, a coleta regular e discriminada de dados como perfil do visitante, hábitos e

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70

padrão de dispersão, são essenciais para se projetar quadros futuros de fluxos

dentro da unidade.

Salienta-se que nos sistemas isolados, é possível conhecer as condições

iniciais e finais com mais eficiência, visto não trocarem energia ou matéria com o

ambiente que o circunda. Contudo, funcionalmente, é possível tratar sistemas

abertos e não isolados com alguma previsibilidade conforme indicadores

selecionados, como a análise de determinada malha de trilhas, dada as relações

com os diferentes componentes encontrados em uma UC, onde a flora e a fauna

podem representar o sistema biótico e os visitantes e usuários regulares o sistema

que representa a energia e matéria originados de outros sistemas, como urbanos

locais e de outras origens.

Estes sistemas interagem com as áreas do parque acessadas por trilhas e

cujas alterações acabam por se refletir no universo local como um todo ao se

considerar os sistemas relacionados individualmente ou em seu conjunto (a unidade

de conservação). Já para critérios conforme a complexidade da composição

integrativa, Christofoletti (op. cit.) relaciona quatro sistemas de interesse para a

modelagem ambiental, dentro das onze referidas na classificação estrutural de

Chorley e Kennedy (1971):

1. Sistemas morfológicos: onde a associações das propriedades físicas,

isto é, as formas, dos sistemas e seus elementos se destacam como,

por exemplo: comprimento, altura, declividade, densidade e

granulometria de solos, entre outros.

2. Sistemas em seqüência ou encadeantes: quando são identificadas

cadeias de subsistemas que pela contigüidade, possuem como

grandeza de referencia a localização espacial, isto determina a

relevância da análise ao se qualificar os elementos reguladores e os

padrões de entrada e saída de energia e matéria.

Christofoletti (op. cit.) refere três possibilidades de análise dos

processos de entrada e saída por Chorley e Kennedy (1971),

identificadas como “Caixa-branca” onde os subsistemas são

substancialmente identificados, assim como seus processos. “Caixa-

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71

cinza” onde se conhece parcialmente os subsistemas envolvidos ou a

ação se concentra em um número limitado de subsistemas e seus

processos. O sistema denominado “Caixa–preta” por sua vez, dada à

impossibilidade de se conhecer seus constituintes e processos, faz que

o sistema seja considerado como um todo, sem considerar sua

organização e dinâmica interna. A atenção se dirige especificamente

para as entradas e saídas identificadas.

3. Sistemas de processos e respostas: derivam-se da combinação entre

sistemas morfológicos, que indicam a forma e sistemas em seqüência

que determinam o processo. A ênfase maior esta em identificar as

relações entre o processo e as formas resultantes, que determinam o

sistema como um todo.

4. Sistemas controlados: São aqueles onde o homem atua sobre os

sistemas de processos-respostas determinando variáveis chaves que

podem influenciar a distribuição de matéria e energia nos sistemas em

seqüência e assim nas formas como se relacionam.

Christofoletti (op. cit.) destaca ainda outra tipologia de sistemas, atribuída a

Weaver (1958) e introduzida nos estudos ambientais por Wilson (1981), onde são

classificados três tipos de sistema de acordo com seu grau de organização: Simples,

Complexos desorganizados e Complexos organizados.

Estes conceitos são importantes para a compreensão das trilhas não só como

um fenômeno geográfico (uma alteração morfológica na paisagem, indutora de

territorializações e lugares), mas, principalmente, como um fenômeno dinâmico, que

pode ser identificado como um subsistema dentro de um sistema maior (UC) e sobre

o qual é necessário avaliar suas relações com os demais subsistemas, como por

exemplo o subsistema formado pelos usuários e o subsistema formado pela flora e

fauna local, assim como seus efeitos internos sobre os demais e consequentemente

ao sistema do parque como um todo.

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72

Compreendido a UC como um sistema dinâmico, a condição operacional

ótima pode ser entendida como um estado de equilíbrio, aquele que reflete uma

condição de equidade entre os processos e morfologias15.

O lazer em áreas naturais, incluindo o ecoturismo, é um fenômeno dinâmico,

isto é implica em entradas e saídas de matéria e energia. Assim, mesmo que se

estabeleçam medidas de controle, atividades de recuperação de atributos ou mesmo

que a própria resiliência local tenda a manter o estado original, existem outros

processos que interferem nos diferentes subsistemas e no próprio sistema como um

todo. Por exemplo, podemos citar os eventos erosivos nas encostas, as alterações

provocadas pelo fogo na estação seca, etc. De fato não nos é possível congelar o

“universo” do parque e manter suas características sem alterações; mesmo por que

também não somos capazes de identificar todos os sistemas, subsistemas e

processos existentes. Cabe então referir alguns conceitos associados ao equilíbrio.

Marques (1984) destaca:

a) Auto-regulagem (Correlação entre as variáveis e autocontrole): é a

capacidade dos sistemas de se manterem em equilíbrio, isto é, de se

manterem os processos e formas que o caracterizam como tal. Pode-

se considerar, por exemplo, uma situação hipotética onde uma trilha

possui uma ou mais áreas críticas que podem comprometer a

viabilidade ou qualidade da visitação. Se providenciarmos alternativas

de traçado que evitem estas áreas críticas, estamos na prática

propiciando uma alternativa de autoregulação do fluxo de visitantes

sem comprometer o equilíbrio de sua função.

Ao se estabelecer uma correlação entre os visitantes e um circuito de

trilhas podemos ter como exemplo de “feed-back” positivo as ações da

administração na facilitação de acesso, possibilitando em um primeiro

momento maior número de visitantes, dada às facilidades oferecidas,

ou seja, quanto mais fácil for à utilização das trilhas, maior visitação

terá. Contudo, ao se atingir um determinado nível de uso, as trilhas

15 O equilíbrio é uma relação (um processo) que se estabelece entre os componentes de um sistema, dentro de uma escala percebida ou determinada (Aurélio, Dicionário Eletrônico Século XXI).

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começam a se degradar e podem ultrapassar a capacidade de

administração do parque em manter o estado de “equilíbrio” inicial.

Desta forma, o maior afluxo de visitantes determina maior dificuldade

em se utilizar a trilha, afastando cada vez mais os possíveis visitantes,

diminuindo assim o número de visitas.

b) Estabilidade estatística: diz respeito à avaliação probabilística das

oscilações de comportamento, considerando as escalas de tempo e/ou

espaço; de sistemas, subsistemas ou variáveis em relação a um valor

central; sem que isso caracterize uma anormalidade (perda do “estado”

de equilíbrio). Quando determina-se a capacidade de suporte de uma

trilha ou atrativo, podemos definir uma carga limite de visitantes sobre a

qual estabelecemos os indicadores de monitoramento. A manutenção

destes indicadores dentro de níveis aceitáveis é uma estabilidade

estatística, como, por exemplo, considerar aceitável o alargamento do

corredor das trilhas em torno de 10% de sua extensão total.

c) Eficiência ótima: Considerando um sistema, subsistema ou processo,

representa a mobilização de energia e/ou massa capaz de estabelecer

a melhor relação custo-benefício frente a um objetivo ou evento

analisado. A definição desta referência, eficiência ótima, serve para se

verificar o grau de entropia que o objeto e/ou processo se encontra, isto

é desde seu grau de organização até o de eficiência da conversão de

massa/energia nos processos envolvidos. Tendo definido um objetivo,

como por exemplo, os novos roteiros estabelecidos devem absorver

pelo menos 100 visitantes dos 400 mensais que se distribuem nas

áreas mais visitadas, diminuindo assim a pressão sobre estes atrativos.

O atendimento desta meta vai demonstrar a eficiência deste

investimento e os níveis de visitação vão qualificar a eficiência das

políticas implantadas e assertiva da proposta.

d) Limiar ou Limite crítico para os Sistemas: o limiar significa um limite que

uma vez ultrapassado estabelece um novo padrão. Nos sistemas

ambientais os limiares são avaliados normalmente em escalas de

tempo e espaço. A permanência de um limiar se relaciona diretamente

com a eficiência e comportamento dos controladores internos, incluindo

as situações onde se ultrapassa o limiar e estes reconduz o sistema à

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74

condição anterior. As ações de detecção de desequilíbrios ambientais

como estabelecidos, dependem da identificação dos limiares (as

referências últimas de “normalidade”, equilíbrio; do sistema) e das

causas ou dos movimentos de energia/massa que os ultrapassaram.

As evidências destes movimentos podem ser interpretados a partir de

formas e processos identificados como ativos ou inativos. Reencontrar

em um ambiente as formas e processos que podem indicar

historicamente que estes limiares já forma ultrapassados

anteriormente, podem indicar que o sistema pode estar caminhando

para um novo padrão ou estado de equilíbrio. É comum, ao se abrir

novas trilhas ou recuperar traçados, se encontrar vestígios de antigos

caminhos como faixas de solos compactados, acidentes erosivos,

espécies vegetais pioneiras e sinais de sub-bosque recente. Se

estabelecermos que o limiar de referência seja as características do

solo e vegetação no traçado proposto, temos assim os sinais de

limiares antigos ultrapassados (as marcas de sobreuso do solo e

alterações na vegetação).

e) Lapso de Reação: É o espaço de tempo entre a execução de uma ação

e o início da resposta obtida. Diz respeito à escala e resistência dos

componentes do sistema em ajustar às novas condições impostas. O

lapso de reação relaciona-se com ao grau de resiliência do sistema e

suas formas derivadas servem como referencias para se deduzir

situações anteriores. Para os gestores de trilhas, conhecer ou prever o

tempo de resposta às atividades de manutenção das trilhas e

resiliência da cobertura vegetal, por exemplo (que caracterizam a

capacidade da gestão em ajustar as novas condições de uso

impostas), é fundamental para se estabelecer um plano de manejo

capaz de manter o limiar previsto dentro de padrões de qualidade da

visitação e preservação dos recursos naturais aceitáveis.

A identificação do tipo de equilíbrio é fundamental para se estabelecer os

parâmetros de funcionalidade dos sistemas e subsistemas, assim como seus

limiares e desta forma melhor compreendê-los e avaliar suas tendências e

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75

movimentos, subsidiado o monitoramento e a tomada de decisão. Podemos

qualificar os principais tipos de equilíbrio em:

a) Estático: De acordo com a escala utilizada é o equilíbrio onde

observador não percebe alterações de massa e energia. O processo

parece inerte e não afeta o sistema. As forças podem existir atuando

dentro de uma oposição de tendências de modo a manter o estado de

equilíbrio percebido, ou serem incapazes de o moverem.

Quando o monitoramento da qualidade das trilhas se restringe apenas

às condições de transito dos visitantes, para o gestor a trilha pode

estar em equilíbrio, visto que sua escala não contempla os impactos

ambientais por exemplo. Deste modo, apesar de estar ciente das

forças que lá atuam, ignora os processos que estão ocorrendo e

conduzindo a trilha para outro patamar de qualidade da visitação.

b) Estável: É o estado de equilíbrio onde apesar das perturbações e

oscilações de massa e/ou energia, se regula dentro da escala

estabelecida. Quando estamos em um mirante, podemos perceber

grande afluxo de visitantes se destacando na paisagem. Cessada a

visitação, a paisagem que caracteriza o patrimônio natural da unidade,

volta à normalidade com a ausência da interferência da presença do

excesso de visitantes.

c) Instável: Nesta situação o efeito do fluxo de massa/energia se torna

cumulativo ou insuficiente a ponto de conduzir o sistema para outro

padrão estático no mesmo processo.

Nas ações de recuperação e manutenção de trilhas, muitas vezes as

facilidades e infra-estruturas de apoio oferecidas (leia aporte de

matéria/energia), acabam por determinar outra qualificação. Como, por

exemplo, uma trilha que antes recebia “x” pessoas com maior vigor

físico, agora recebe “x +y” pessoas de diferentes graus de resistência

física. Por extensão, podemos deduzir que com o passar do tempo, a

deterioração das instalações poderão acabar por selecionar novamente

o perfil do visitante de maior vigor físico.

d) Meta-Instável: Nesta situação, o fluxo de matéria/energia altera a

relação processo-forma, ultrapassando o limiar que caracteriza o

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sistema. Processos erosivos de grau acentuado podem determinar a

perda de função de uma trilha fazendo que seja abandonada ou

fechado o acesso para visitação e em seu lugar se estabeleça uma

área de recuperação ambiental, por exemplo, caracterizando um novo

padrão no sistema local.

e) Estado contínuo: Conforme a escala estabelecida, o processo se

comporta em torno de uma média sem alterar o sistema. Suas

propriedades são mantidas em torno de uma média estatística, sem,

contudo, descaracterizá-las. As diferentes ferramentas de

monitoramento de impactos ambientais do ecoturismo visam este

“equilíbrio em estado contínuo”, ou seja, se admite oscilações na

qualidade da visitação, dos impactos e efeitos das medidas

mitigatórias, mas os mesmos devem manter as características do

sistema.

Ao se considerar as trilhas como sistemas ou sub-sistemas, e os visitantes

como energia e/ou massa, a compreensão do fenômeno é melhor avaliada ao se

considerar tipos de equilíbrio que se apóiam na teoria geral da termodinâmica16,

onde em sistemas fechados toda a energia disponível17 se transforma em energia

latente, a qual gera entropia máxima para o sistema, conduzindo a um estado de

homeostase.

Assim, em uma unidade de conservação, por exemplo, as plantas, por meio

da fotossíntese, consomem minerais, gases e materiais brutos do solo e do ar e

usam a energia do sol para converter esses materiais em energia orgânica, base da

cadeia alimentar da biosfera, onde animais e plantas convivem interativamente.

Deste modo, a quantidade total de energia não é criada nem destruída, mas apenas

transformada de um estado para outro. Por conseguinte, pouca ou nenhuma energia

é dissipada e o sistema tende ao equilíbrio homeostático, gerando pouca ou

16 A termodinâmica é o paradigma da teoria fenomenológica que não se atém somente em descrever fenômenos de calor, mas propriedades mais gerais que servem de base para a compreensão do comportamento sistêmico do meio ambiente. Mota (2006) refere que a Primeira Lei da Termodinâmica, ou lei da conservação, compreende a relação entre calor e trabalho, afirmando que a matéria e energia não podem ser criadas ou destruídas, mas somente transformadas. Toda forma de energia precisa de trabalho para a sua transformação. 17 A energia disponível ou livre de um sistema é aquela que pode ser transformada em trabalho. A energia latente de um sistema é a que é tornada inútil para realizar trabalho.

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nenhuma entropia. Entretanto, ao se introduzir energia e/ou massa externa a estes

sistemas, aplica-se a Segunda Lei da Termodinâmica, ou lei da entropia, é a medida

quantitativa da irreversibilidade. A entropia é representada pela quantidade de

energia que não é mais capaz de realizar trabalho e também é a medida do grau de

desordem na natureza18.

Nos processos naturais a energia livre é transformada em energia latente,

dissipada no meio ambiente, portanto não mais disponível para gerar vida nova. Um

sistema somente poderá permanecer vivo, distante da entropia máxima ou da morte

é “retirando continuamente entropia negativa do seu ambiente” Mota (2006). O

estratagema que o organismo usa para se manter estacionário em um nível bastante

alto de ordenação (um nível bastante baixo de entropia) na verdade consiste em

continuamente sugar ordenação do seu ambiente. Mota (op.cit) destaca ainda que:

Em qualquer processamento ou transformação de energia, alguma energia é dissipada (essa propriedade ocorre também nos processos de troca de energia entre os entes de um mesmo ecossistema; entre esses elementos gera-se energia de baixa entropia, ao contrário das atividades econômicas, que geram energia degradadora do meio ambiente) e em nenhum processamento de energia é possível que o único resultado seja a conversão de uma determinada quantidade de calor – energia térmica – em igual quantidade de trabalho útil (todos os processamentos de energia geram entropia de baixa ou alta intensidades).

As definições relacionadas aos diferentes tipos de equilíbrio (Dinâmico, meta-

dinâmico, dinâmico meta-instável) servem para caracterizar os diferentes

comportamentos de fluxo de energia e massa ao se estabelecer sistemas para

análise das dinâmicas locais. Estes conceitos são fundamentais, por exemplo, para

se definir estudos de capacidade de suporte ecoturístico, principalmente quando

aplicados a trilhas atrativos. Segundo Stigliano (op.cit p. 02) as definições acerca de

capacidade de carga aplicadas a atividades de lazer de modo geral incorporam dois

aspectos centrais: “primeiro, o componente biofísico, referindo-se à integridade dos

recursos, que implica certo grau de tolerância, ou limite, após o qual a exploração e

o uso continuados podem causar extenuação do ecossistema natural; segundo, o

aspecto comportamental, refletindo a qualidade da experiência de lazer”.

18 Entropia também pode ser interpretada como a medida de utilização de massa e energia em um sistema, onde a entropia mínima caracteriza energia/massa disponível e máxima onde toda a energia/massa esta comprometida.

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Assim, para a discussão de sustentabilidade das atividades de turismo e lazer

em áreas naturais e os conceitos de capacidade de carga, de fato, o que se

pergunta é qual o sistema ou subsistemas envolvidos e que tipo de equilíbrio se

procura estabelecer ou atingir. Conforme visto anteriormente, o conceito de equilíbrio

varia de acordo com as referências e escalas consideradas, que é à base do

conceito moderno de capacidade de carga, cujo foco é os sistemas de

monitoramento, baseados na idéia de mudanças aceitáveis ou desejáveis, isto é, na

busca de faixas de equilíbrio entre o uso e conservação.

2.2.2 Planejamento da atividade turística e das práticas de lazer na natureza

Conforme referido anteriormente, mesmo com motivações diferentes, o

Ecoturismo e as práticas de lazer em ambientes naturais muitas vezes compartilham

o mesmo espaço físico e apresentam intensa similaridade nas dinâmicas de impacto

sobre o patrimônio construído e natural das unidades de conservação. Divididas

entre preservar e consumir, o desenvolvimento e gestão destas atividades

pressionam as áreas naturais com uma multidão de consumidores cada vez mais

aparelhados e numerosos. Destas atividades, aquelas que utilizam as trilhas para

promoção, venda de serviços e acesso aos atrativos, são as mais sensíveis às

variações de eficiência desta infra-estrutura. Sendo a trilha a infra-estrutura mais

próxima do usuário, seu estado e qualificação refletem variáveis que interferem

diretamente na oferta de serviços e qualidade dos produtos atuais e futuros.

Assim, com o crescimento das ofertas de produtos ecoturísticos e a

popularização desta atividade, o grau de exigência e a percepção ambiental para o

grau de deterioração e manutenção das trilhas e seus atrativos são percebidos cada

vez mais intensamente; mesmo para visitantes menos atentos e para as

administrações de unidades de conservação deficitárias em recursos humanos e

financeiros. Desta forma, para o lazer na natureza tão dependente da riqueza de

experiências que paisagens, lugares e biodiversidade podem proporcionar; o

crescimento da demanda e da oferta de serviços, representam um sério risco para

sua própria integridade e sobrevivência, principalmente quando não é desenvolvido

sobre um planejamento consistente e acompanhado por atento monitoramento.

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O planejamento e o manejo das trilhas são essenciais para a manutenção das

funções das unidades de conservação tanto públicas quanto privadas. Assim a

compreensão geográfica do que significa a malha de trilhas para a apropriação de

espaços e as interações sociais e ainda o impacto de sua implantação e

manutenção junto ao somatório natural, resgata a devida importância da questão do

manejo de trilhas e conseqüentemente da gestão dos lugares turísticos e

conservação de áreas naturais.

Na prática, considerando o conceito de ciclo de vida de destinações turísticas

referido por Butler (apud Ruschmann 1997), de modo geral não se aplica diretamente

à dinâmica de uso das potencialidades turísticas das unidades de conservação,

sobretudo por conta da falta de diagnósticos e planejamentos consistentes; pois as

considerações de interdependência de paisagens, lugares e biodiversidade e a

qualidade das experiências e produtos que podem ser proporcionados, devem ser

considerados diretamente com os parâmetros de sustentabilidade. Este enfoque foi

amplamente destacado na Declaração de Quebec em 2002, elaborada na

Conferência Mundial do Ecoturismo, onde se relaciona quatro aspectos indicadores

de sustentabilidade para a atividade ecoturística:

· Contribui ativamente para a conservação do patrimônio natural e

cultural;

· Inclui as comunidades locais e indígenas em seu planejamento,

desenvolvimento e exploração e contribui para seu bem-estar;

· Interpreta o patrimônio natural e cultural do destino para os visitantes;

· Serve melhor aos viajantes independentes, bem como aos circuitos

organizados para grupos de tamanho reduzido.

Deste modo, por definição, o Ecoturismo deve se caracterizar como uma

modalidade de turismo das mais sustentáveis e responsáveis. Apesar de que tanto o

turismo em geral quanto o ecoturismo em particular, assim como muitas atividades

na natureza, tenham sido caracterizados como uma indústria limpa, sem geração de

degradação ambiental; na prática, da mesma forma que as atividades industriais e

de mineração, os impactos dessa atividade podem ser tão ou mais nocivos como

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qualquer outra; principalmente em função da preferência por lugares diferenciados

para seu exercício onde, mormente, os ecossistemas são frágeis e suscetíveis de

alterações negativas a qualquer contato humano menos cuidadoso. Assim, o turismo

sustentável (decorrente do princípio do desenvolvimento sustentável) deve ser

buscado em todas as modalidades, inclusive no de massa, conforme salienta Dias

(2003, p. 69):

“Importante assinalar que a concepção de desenvolvimento turístico sustentável não considera o turismo de massas como uma realidade irreconciliável com o turismo sustentável. Os princípios de sustentabilidade devem constituir o objetivo principal de qualquer espaço ou produto turístico, em qualquer de seus estágios evolutivos, e não circunscrever-se exclusivamente às manifestações supostamente alternativas, como o ecoturismo e o turismo rural. Na realidade, eles são mais necessários exatamente em espaços turísticos consolidados, com maiores níveis de pressão ambiental, onde a estabilidade socioeconômica em grande medida dependerá da evolução positiva e equilibrada (sustentável, portanto) da atividade turística”.

Entretanto, o turismo massificado é o mais impactante das modalidades de

turismo, gerando inúmeros problemas, conforme muito bem salientado por Dias (op.

cit.):

“O excesso de turistas conduz ao super-dimensionamento dos equipamentos destinados ao alojamento, alimentação, transporte e entretenimento, que impreterivelmente ocupam grandes espaços – agredindo paisagens e destruindo ecossistemas. Além disso, a falta de cultura turística dos visitantes faz com que se comportem de forma alienada em relação ao meio que visitam – acreditam que não têm nenhuma responsabilidade na preservação da natureza e na originalidade das destinações. Entendem que seu tempo livre é sagrado, que têm direito ao uso daquilo pelo qual pagaram e que, além disso, permanecem pouco tempo – tempo insuficiente, no seu entender, para agredir o meio natural”. (p. 15).

Para Villaverde (2001:110) quando o contato com o meio natural é mediado

por vivências de lazer e esportes na natureza: “está em jogo muito mais uma relação

de contrato, de negociação com os elementos da natureza, do que uma relação de

domínio e controle”. É a necessidade de relação dialógica, de sintonia com os

elementos naturais, imposta pela prática de esportes na natureza que potencializa a

difusão de um sistema de valores necessários à mudança de postura e consciência

ambiental, pois a imprevisibilidade característica desses esportes induz seus

praticantes a sincronizar suas ações a diversos outros elementos, tendo como

conseqüência, o redimensionamento do paradigma moderno que concebe homem e

natureza como pólos distintos. Para que as ações dos esportes na natureza sejam

bem sucedidas é preciso que homem e natureza sejam encarados em conjunto.

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Contudo, esta realidade, na prática quando diz respeito aos impactos

causados ou construídos para amparar estas atividades e o sobreuso dos recursos,

descaracterizam a paisagem e comprometem a qualidade dos serviços oferecidos,

assim como ocorre no ecoturismo. Cumpre ressaltar que uma das principais

características do visitante adepto do ecoturismo e dos esportes de na natureza é a

sua constante movimentação sempre atrás de novas paisagens e experiências,

razão esta claramente percebida nesta territorialização fugaz e meio sem controle,

conforme destacado por Fratucci (2007) referindo o geógrafo francês Remy Knafou.

Para Costa et al (2008) o turismo e suas vertentes, compreendem uma gama

de escolhas ou estilos de recreação, expressa por viagens ou por uma mudança

temporária, de seu local de residência. É uma modalidade de lazer e/ou recreação.

O mercado e as mudanças rápidas de tecnologias e nos sistemas social, político e

econômico, permitiram às pessoas, procurarem novas e diferentes formas de

recreação, aumentando a importância do turismo, concordando com Mathleson e

Wall (1982), onde o turismo possui um desenvolvimento evolutivo ao fazer uso do

lazer e, portanto, representa a ampliação da oportunidade para o exercício da

escolha dos tipos de atividades recreativas. Por conseguinte, a leitura dos

parâmetros de uso do espaço natural, podem ser interpretados também para as

atividades de lazer em áreas naturais que não o turismo, tendendo para a mesma

dinâmica de ocupação dos lugares e territórios.

2.2.2.1 O espaço turístico e das práticas de lazer na natureza

Para Garcia (2007:125), o uso do espaço para o lazer e turismo estabelece

uma lógica na configuração territorial e alia-se ao homem que desempenhará novas

relações naquele ambiente específico, vinculado ao seu objetivo de deleite e prazer.

Desta forma, continua a autora, há cada vez há mais a especialização de lugares

onde o lazer se identifica com esta tendência ao configurar e dar funcionalidade ao

território para atender à população local e ao turista. Assim lugares são criados com

esta única finalidade ou são transformados para atender esse mercado em

expansão; concordando com SANTOS (1999: 214) onde:

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82

Numa situação em que às virtualidades de cada localização estão sempre mudando, instala-se o que bem se pode denominar de guerra dos lugares. Estes não apenas devem utilizar suas presentes vantagens comparativas, como criar novas, para atrair atividades promissoras de emprego e de riqueza. Na batalha para permanecer atrativos, os lugares se utilizam de recursos materiais (como as estruturas e equipamentos), imateriais (como os serviços). E cada lugar busca realçar suas virtudes por meio dos seus símbolos herdados ou recentemente elaborados, de modo a utilizar a imagem do lugar como imã.

Garcia (op. cit. 2007:123) reforça ainda que a especialização de lugares para

experienciar atividades distintas, tais como: se desligar e perder os vínculos

com a rotina através do deslocamento, adquirir novo ânimo para atividades

cotidianas, desfrutar de ambiente diferenciado em contanto com o meio natural, ou

mesmo divertir-se junto a familiares e amigos; enfim, são motivações que irão

reivindicar áreas e equipamentos específicos atrelados aos hábitos cotidianos

incorporados pela sociedade. Portanto o planejamento do espaço turístico19 é

condição para a territorialização das atividades previstas.

Para Boullón (2002: 79) o espaço turístico é conseqüência da presença e

distribuição territorial dos atrativos turísticos que por sua vez são a matéria-prima do

turismo. Os atrativos turísticos em conjunto com o empreendimento e a infra-

estrutura turística, definem o espaço turístico de qualquer país. Contudo o espaço

turístico é entrecortado, isto é, se distribui em função das configurações particulares

que o identificam como tal, quer de forma paisagística, cultural ou histórica. Assim

não se pode recorrer a técnicas de regionalização sem critérios específicos para

proceder à delimitação, dada à possibilidade de se abranger toda a superfície do

país ou da região em estudo ao se utilizar parâmetros muito genéricos. Desta forma

grandes superfícies que não são turísticas poderiam ser entendidas como turísticas,

apenas existentes, talvez por serem contíguas umas das outras.

Ruschmann (1997) avalia que planejar e desenvolver os espaços e as

atividades que tenham anseios das populações locais e dos turistas constitui a meta

dos poderes públicos que, para implantá-los, vêem-se diante de dois objetivos

conflitantes: o primeiro destaca como primordial prover oportunidades e acesso às

experiências recreacionais ao maior número de pessoas possível. O segundo afirma,

no entanto, que o desenvolvimento ecoturístico deve ser proteger e evitar a

19 Podemos ampliar como espaço de lazer, visto que o turismo e suas vertentes podem ser interpretadas como uma manifestação de lazer. Nota do autor

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descaracterização dos locais privilegiados pela natureza e do patrimônio cultural das

comunidades. Para o ecoturismo e demais atividades de lazer que utilizam o meio

natural, a proteção ao Meio Ambiente necessita de cuidados especiais, visto que sua

manutenção significa preservação das características locais, base para toda a

cadeia produtiva turística relacionada, afinal as imagens naturais de fundo, as

paisagens são agregadas aos produtos e bens de consumo oferecidos aos

visitantes.

Conti e Cruz (apud Costa 2006 p. 19) concordam que o turismo participa em

suas múltiplas manifestações da produção do espaço geográfico introduzindo

objetos definidos e/ou aproveitando os recursos pré-existentes, viabilizando práticas

e implicando na reorganização espacial em função de uma nova demanda.

Destacam ainda que a diferenciação das condições geográficas de um determinado

local pode se constituir em um forte atrativo, tendo a geomorfologia um papel

importante na geração de fluxos ecoturísticos.

Lembram ainda que a apropriação de espaços naturais pelo turismo implica

em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e

hospedagem e que “em se tratando de unidades de conservação algumas das

transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito

à abertura de trilhas ou a utilização de trilhas pré-existentes, ao longo das quais

podem ser instalados instrumentos de educação ambiental”.

Costa (op. cit: 35) complementa que no ecoturismo, os atrativos que oferecem

ao visitante maior experiência e vivência da natureza são as trilhas, mas que exigem

uma infra-estrutura de manejo apropriada à demanda de seus usuários,

principalmente quando em áreas de elevado potencial. Guardando as devidas

proporções, no ecoturismo as atividades e espaços configuram a imagem como um

valor fundamental, seja através da vivência da paisagem que transporta satisfações

e sentimentos, seja através da documentação fotográfica.

Neste aspecto, cabe referir que a fotografia, por exemplo, cria referências e

significados nem sempre condizentes com a realidade que de fato existe e sob a

qual a vida se manifesta muito além da percepção do turista e de seu operador.

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Idelber Avelar em artigo sobre Baudrillard refere à obra Simulacro e Simulação

escrita em 1981, onde o autor ressalta que a imagem passa por quatro fases, nas

quais ela sucessivamente: Reflete uma realidade básica. mascara e perverte uma

realidade básica; mascara a ausência de uma realidade básica e não mantém

qualquer relação com qualquer realidade: sendo o seu próprio simulacro.

Sem nos aprofundarmos nesta temática, mas considerando que o real é

substituído por imagens e que o momento vivido desaparece; percebe-se que na

atividade turística e de lazer na natureza, pode-se se criar espaços e significados

mascarados por um suposto compromisso com preservação e conservação, sem

considerar os impactos e alterações ambientais sob a alegação de prover aos

turistas e visitantes infra-estruturas e facilidades que propiciem um maior contato

com a natureza.

Assim, o planejamento necessariamente deve refletir a idéia de que não

apenas otimiza roteiros, mas contribui ativamente para a conservação e preservação

das paisagens e biodiversidade; possibilitando assim oportunidades de acesso à

realidade, além das simulações e simulacros de interação com o meio natural tão ao

gosto dos fabricantes de paisagens e de usuários incapazes de perceber a vida que

se ausenta com os excessos das práticas turísticas e de lazer nos ambientes

naturais.

2.2.2.2 Planejamento do Espaço Turístico

No planejamento do espaço turístico, Laube (2006) destaca que o mesmo se

apóia na teoria geral de sistemas, englobando processo, eficiência, prazos e metas,

prevendo de forma integrada o comportamento de todas as unidades independentes

implicadas no processo, daí a necessidade de uma abordagem coordenada e

sistêmica, considerando ainda que revisões contínuas façam parte do processo,

visto que a realidade (o ambiente) encontra-se em permanente mutação. Sendo da

mesma opinião que Boiteux & Werner (2003):

“Planejar um destino turístico significa estruturá-lo para que a atividade possa gerar empregos, renda, consumo e, conseqüentemente, aumentar a qualidade de vida do

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município. A cidade é boa para o turismo quando é boa para quem nela vive. O planejamento turístico prevê o controle e organização dos impactos positivos gerados pela indústria turística. O conceito de sustentabilidade deverá nortear o planejamento de um núcleo receptor, pois integra e valoriza e preserva seu patrimônio histórico, natural, cultural e social. Dividindo-se em oito etapas: Inventário; Análises tendenciais; Definição de objetivos; Criação de estratégias; Seleção de vocação; Estratégias para atingir os objetivos vocacionais; Implementação do plano estratégico e Avaliação” (BOITEUX; WERNER, 2003:20)

Ruschmann (1997:9-10) acredita que o planejamento turístico tem como

importância: “a ordenação das ações do homem sobre o território e ocupar-se em

direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada, evitando

dessa forma, os efeitos negativos nos recursos, que os destroem ou reduzem sua

atratividade”. Entretanto, todos os espaços com beleza considerável vêm sendo

literalmente “invadidos” nas temporadas de férias por turistas ávidos para usufruir o

seu tempo livre da forma mais gratificante possível, sem considerar os riscos que

sua presença (em massa) e seu comportamento individualista trazem não só aos

recursos naturais, mas também para as populações autóctones e para o patrimônio

histórico-cultural, prejuízos irreparáveis. Por isso, a autora acredita que: “o

planejamento é fundamental e indispensável para o desenvolvimento turístico

equilibrado e em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais das regiões

receptoras, evitando assim, que o turismo destrua as bases que o fazem existir”.

Guimarães (2007) considera que no planejamento e gestão do espaço

turístico e de lazer, a paisagem como objeto de identificação e territorialização, deve

propiciar a utilização do patrimônio natural e cultural, conforme suas funções de uso,

proteção, recreação, de modo a conseguir um equilíbrio entre o potencial da

paisagem como um recurso ambiental, levando-se em conta suas efetivas restrições

e limitações de natureza quanti-qualitativa, as diferenças locais e regionais das

unidades paisagísticas e as necessidades e demandas da sociedade. Para tanto

refere Seibert (1978), para o qual os aspectos relativos ao planejamento paisagístico

têm como finalidade encontrar um equilíbrio entre o potencial natural da paisagem,

limitado quantitativa e qualitativamente, e a sociedade:

O planejamento paisagístico, atrelado ou não a programas e projetos de maiores dimensões (regionais, por exemplo), deve considerar os inventários e os diagnósticos da paisagem a partir de sua valoração como recurso paisagístico natural ou construído, em função de suas estruturas físicas, ecológicas, sócio-econômicas, culturais, diagnosticando o plano-base, sob a visão da conservação necessária para a avaliação das possibilidades de seus usos futuros como um bem, um recurso ambiental. (SEIBERT, 1978:125).

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Neste sentido, Boullón (2002:225) alerta que “a preservação das

características do ambiente natural que lhe servem de base é o fator a que deveria

estar subordinado qualquer plano de exploração de suas possibilidades turísticas”.

Resguardando as devidas limitações da aplicação estrita do conceito e do contra-

senso que seria a missão de planejadores e paisagistas de intervir na natureza e

criar paisagens. Neste sentido, no turismo as metas paisagísticas são muito simples:

“conservar o meio natural de tal modo que as obras turísticas o afetem o mínimo

possível”; por conseguinte, a paisagem pode ser aproveitada em sua totalidade

devido a condição de que o planejamento turístico do espaço natural é uma decisão

anterior à definição dos usos e atividades, pois:

onde o procedimento correto não é impor a cada atrativo natural o uso que se considera mais conveniente de acordo com critérios desenvolvimentistas; deve-se antes (uma vez estabelecidas as necessidades de crescimento do setor em relação à incorporação de novos atrativos naturais ou à expansão do empreendimento turístico dos que estão sendo explorados) identificar quais se prestam melhor a cada tipo de uso. Outra possibilidade é partir de cada atrativo e determinar o tipo de desenvolvimento que admite. Boullón (2002:226)

Entretanto, Lobo & Moretti (2008) salientam que as diversas territorialidades

do turismo na natureza se asseguram em função da riqueza do conjunto de

paisagens que simbolizam uma forma de retorno à vida primitiva do ser humano de

modo que a atividade se torna melhor à medida que aumenta a noção de

wilderness. Neste sentido, a natureza intocada, ao mesmo tempo em que é almejada

pelos turistas, precisa ser transformada para se tornar acessível às suas

necessidades de consumo e segurança. Moretti (2001) lembra que isto elimina a

“aventura”, uma característica intrínseca ao ideário de wilderness20 e que consiste

em uma territorialidade turística à parte, face à artificialização e ao domínio da

técnica.

Salienta-se que duas concepções se apresentam: a Conservação dos

Recursos Naturais e o Preservacionismo. Gifford Pinchot (apud Diegues,1998),

propõe seu uso racional pela geração presente, prevenindo desperdícios e

beneficiando a maioria dos cidadãos. Esses princípios foram precursores do

conceito de Desenvolvimento Sustentável. Em contrapartida ao Preservacionismo21,

20 Wilderness: natureza selvagem 21 Segundo Diegues (1988), a preservação é o ato de preservar a natureza, sem a presença do homem, de forma a manter um espaço natural, separado do espaço ocupado pelo homem.

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o conceito de conservação se manifesta em se preservar o ambiente da maneira

mais sustentável possível, permitindo uma troca entre homem e natureza,

considerando que o primeiro faça parte do segundo. Desta forma, se a essência da

‘conservação de recursos’ é o uso adequado e criterioso dos recursos naturais, a

essência da corrente oposta, a preservacionista, é mais restritiva e pode ser descrita

como a reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida

selvagem (wilderness), mantendo suas características, protegendo a natureza contra

o desenvolvimento moderno, industrial e urbano.

Lobo & Moretti (op.cit) destacam que para o ecoturista habitual – aquele que

viaja para as mais diferentes áreas naturais buscando uma experiência mais direta

no contato com a natureza – a artificialização pode ser um problema, dado que as

facilidades desestimulam este tipo de turista a fazer suas viagens, mas para os

ecoturistas eventuais, facilidades são necessárias como suporte à vivência de

experiências, mesmo tênues junto à natureza, onde a sensação plena de segurança

e o conforto estão em primeiro plano.

De fato, citando (Spink et al., 2005), estes “ecoturistas” buscam o simulacro

de se parecer com verdadeiros aventureiros mas sem se sujeitar às mesmas

condições que estes vivenciam em suas aventuras. Desta forma, dentro do

planejamento do espaço turístico, a intervenção na paisagem pode ser considerada,

a princípio, entre o viés conservacionista ou preservacionista, mas, sua intensidade

deve prever múltiplos aspectos, tanto ambientais quanto sociais e culturais.

2.2.2.3 Conceito de Paisagem no contexto do Ecoturismo

Embora o aprofundamento na conceituação de Paisagem não seja objeto

central desta dissertação, algumas considerações se fazem necessárias para o

entendimento da relação espaço – lugar – paisagem no contexto do Ecoturismo.

Para TUAN (1983, p.151), “o espaço transforma-se em lugar à medida que adquire

definição e significado”.

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Pinheiro (2004) entende “lugar” como local ocupado, pontual e parte de um

todo de maior amplitude chamado "espaço", algo aberto, geral, indefinido; em que

para se entender como um espaço pode se tornar lugar deve-se considerar aspectos

das relações homem-ambiente, conforme definição que propõe onde “Paisagem é o

conjunto de elementos geográficos (habitat, culturais e naturais), num espaço

perceptível, que inter-relacionados e sob influências recíprocas (relações de

interdependência), resultam numa imagem limitada aos sentidos do observador.”

Para tanto cita Rodrigues (2001, p.32):

“O lugar, como categoria filosófica, não trata de uma construção objetiva, mas algo que só existe do ponto de vista do sujeito que o experiencia”...... “Assim, o lugar é o referencial da experiência vivida, pleno de significado; enquanto o espaço global é algo distante, de que se tem notícia, correspondendo a uma abstração”.

Boullon (2002:156) considera que o conhecimento da paisagem fica

empobrecido se é limitado à unidade visual que se pode perceber de um

determinado ponto. Constata que a paisagem é enriquecida quando sujeita a tempos

de observação sucessivos e expectativas, pois os diferentes fragmentos da

realidade compõem um quadro mais complexo, referido pelo autor como “visão em

série”; muito mais eficiente em se fixar na memória como experiência com

sentimentos e significados (figura 06).

Deste modo, paisagens não são sinônimos de meio ambiente, conforme

destaca Guimarães (2007:22), pois menos inclusivas, é mais percebida em

particularidades principalmente como espaço vivido, identificadas como lugares,

definidas através do campo visual e interpretadas subjetivamente. Nesta

perspectiva, as paisagens são envolvidas pelo meio-ambiente e são parte da

dimensão ambiental, devendo ser analisadas segundo as condições atuais e futuras

dos recursos ambientais existentes nas unidades paisagísticas. Devem, portanto, ser

considerados os diagnósticos referentes ao estado dos patrimônios paisagísticos,

assim como suas projeções de riscos e impactos ambientais adversos, incluindo

seus efeitos sinérgicos.

De fato, o recurso paisagístico é único em sua história evolutiva, mesmo

quando são resguardadas as semelhanças aparentes; distinguindo-se das outras

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unidades e matrizes de paisagem natural em função de suas complexidades e

peculiaridades visíveis e não-visíveis.

Figura 06: Formação de imagens da Paisagem Fonte: Boullon (2002:156) Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Assim, a vocação da área que comporta um ou mais recursos paisagísticos

deve ser cuidadosamente avaliada e valorada em razão dos critérios utilizados para

zoneamentos de recursos paisagísticos locais e regionais. Em Rodrigues (Op. cit.

2001:48) observa-se a estreita relação entre a paisagem e o turismo:

“A observação da paisagem assim considerada é de grande importância nos estudos de Geografia do Turismo, uma vez que a paisagem em si é um notável recurso turístico. Tendo em vista que o turista busca na viagem a mudança de ambiente, o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de fantasias, a aventura e o inusitado, quanto mais exótica for a paisagem mais atrativa será para o turista. É baseado nesse princípio que se desenvolvem os estudos sobre imagem turística, em que os folhetos publicitários oferecem um rico e interessante material de pesquisa”.

Opinião compartilhada por Pinheiro (op. cit. 2004) que refere o Turismo como

uma das atividades a se beneficiar de paisagens (seu maior produto) que são

percebidas e os sonhos construídos antes mesmo da viagem. Assim sendo, quando

a oferta turística como conjunto de atrativos, bens e serviços disponibilizados ao

visitante existe para atender necessidades em suas viagens, torna-se clara então a

importância na compreensão sobre as imagens do que se estará ofertando. Nogué

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(apud Pinheiro, 2004) ao se referir à paisagem como um componente da oferta

turística destaca:

“Conservar a autenticidade de uma paisagem regional, não significa mantê-la intacta, fossilizada. A paisagem é algo dinâmico, o resultado de uma tensão entre elementos abióticos, bióticos e antrópicos. Trata-se de tentar conservar a especificidade e originalidade dos elementos que a constituem (...). Somente assim poderá ser preservado o caráter do lugar, sem convertê-lo em um museu sem vida. Somente assim pode-se falar da paisagem como um verdadeiro recurso turístico. Somente assim pode-se consolidar para o futuro uma determinada oferta turística”

Deste modo, a atividade turística antes de ser praticada nos ambientes é

precedida de um processo virtual na construção de paisagens que ainda serão

usufruídas. Elas têm suas dinâmicas das interações temporais por meio dos

espaços nos quais o homem estará construindo seu lugar, ainda que

momentaneamente ao se utilizar mecanismos cognitivos e perceptivos.

Concluindo, para Guimarães (2005), o planejamento, a gestão e a proteção

dos recursos paisagísticos naturais e construídos envolvem essencialmente a inter-

relação entre os seres humanos e suas paisagens. Fundamentam-se em aspectos

relativos às experiências e vivências ambientais, às atitudes, condutas e valorações

objetivas e subjetivas, tangíveis ou não, porém, intrínsecas à dinâmica de vida das

diferentes populações e de suas respectivas culturas. Soma-se ainda às formas de

cognição, percepção, interpretação e representação do meio ambiente, de

construção do sentido de lugar, do sentimento de enraizar-se, bem como ao do

significado de pertinência em relação a uma paisagem e suas relações identitárias.

2.2.2.4 Fluxo e dispersão dos visitantes

Um dos aspectos cruciais da visitação em unidades de conservação é o fluxo

e seu padrão de dispersão dos visitantes em relação aos atrativos, equipamentos e

instalações turísticas. Não basta saber quantos entram na unidade e qual o seu

perfil. Estas informações somente terão relevância estratégica se conjugadas com a

determinação do padrão de dispersão, que pode abordar questões como:

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· Para onde vão os visitantes quando entram em uma unidade de

conservação?

· Quais os pontos de concentração?

· Que vias utilizam para chegar a estes pontos?

· Que atividades desenvolvem dentro dessas áreas e os prováveis

impactos que ocorrem em decorrência da visitação.

Nos planos de manejo, usualmente ao se definir o zoneamento ambiental e as

vias de acesso, o fluxo e a dispersão dos visitantes são previstos, planejados e

condicionados dentro de padrões de qualidade e de acordo com os interesses

maiores da unidade de conservação. Entretanto, é comum se perceber impactos

ambientais nos atrativos e perda da qualidade da visitação nos zoneamentos

estabelecidos. Isto se deve basicamente por que a visitação é um fenômeno

dinâmico, fracionado de acordo com os diferentes perfis de usuários e ainda sujeito

a oscilações de fluxo de visitação conforme os padrões de sazonalidade, apelos da

mídia e desenvolvimento de atividades afins. Assim sendo não é possível se prever

com exatidão o comportamento e nem a dispersão dos visitantes. Para tanto devem

necessariamente ser modulados e monitorados por diferentes estratégias de gestão.

Desta forma, a real percepção destes fenômenos é uma condição para o

estabelecimento de estratégias adequadas de gestão, que incluem a normatização

das orientações de visitação; diferentes formas de sinalização para orientação,

localização e diretrizes de comportamento; adequação dos equipamentos e

instalações através da previsão do fluxo de visitação e sistematização da

capacidade de suporte dos atrativos.

Embora o estabelecimento de parâmetros de capacidade de “carga ou de

suporte”22 para zonas e atrativos através do monitoramento dos impactos possam

ser eficientes, na medida em que modulam a movimentação dos visitantes, com

ferramentas como a Determinação da capacidade de carga turística em áreas

protegidas, o LAC – Limites Aceitáveis de Mudança e o VIM – Gerenciamento de

22 Existem várias interpretações de capacidade de carga ou de suporte, mas todos remetem o conceito de referência de limiar para determinado parâmetro onde ultrapassado se pervertem as características originais ou desejáveis.

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Impactos da Visitação; estas de fato não consideram as dinâmicas e sistemas de

motivação e gestão dos visitantes de maneira tão mais eficiente como aquelas

focadas primariamente na gestão da visitação, embora as contribuições do

monitoramento de impacto sejam complementares e necessárias.

Para melhor exposição, Stigliano (2005) detalha algumas destas

metodologias como o ROS – Espectro de Oportunidades Recreativas, o VERP –

Processo de Gerenciamento da Visitação, o TOMM – Modelo de Otimização do

Gerenciamento Turístico e VAMP – Processo de Gerenciamento da Visitação:

· ROS - Recreation Opportunity Spectrum (Espectro de Oportunidades

Recreativas). O método fundamenta-se em práticas de inventariar,

planejar e gerenciar a experiência de lazer e o ambiente no qual ela

ocorre. O processo estabelece classes de oportunidades as quais

subsidiam o entendimento de relações administrativas, físicas,

biológicas e sociais, estabelecendo, por conseguinte, parâmetros e

diretrizes para a administração de oportunidades de lazer. As classes

de oportunidade são ordenadas de acordo com suas características

físicas e de uso: primitiva, semi-primitiva não motorizada, semi-primitiva

motorizada, natural com vias de transporte, rural e urbana. Uma classe

de oportunidade definida através dos tipos de condições sociais e

recursos que são aceitáveis para aquela classe e o tipo de ação

administrativa apropriada. São descrições hipotéticas das condições

que os administradores consideram possíveis de serem mantidas ou

restauradas na área.

O ROS, metodologia aqui empregada, propõe o estabelecimento de

capacidade de uso e para o gerenciamento de impactos da atividade

recreativa. É amplamente baseado em julgamentos e valores

subjetivos, porém, estabelece padrões explícitos com relação a

condições apropriadas para cada categoria de oportunidade. Além

disso, oferece uma estrutura sistemática de verificação da distribuição

das oportunidades e indicações de procedimentos para o

estabelecimento de possíveis ações gerenciais.

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É um processo prático cujos princípios levam os administradores a

racionalizar a administração a partir de três perspectivas: 1) proteção

do recurso; 2) oportunidades para uso público; 3) habilidade (da

organização) em lidar com as condições existentes. Abrangendo

demanda e oferta e podendo ser facilmente integrado a outros

métodos, assegurando que uma gama de oportunidades de lazer seja

oferecida ao público. Salienta-se que o ROS é empregada nesta

dissertação para auxiliar o zoneamento ecoturístico e de lazer do

PNMNI.

· VERP - Visitor Experience and Resource Protection (Proteção à

Experiência do Visitante e aos Recursos). Nesta metodologia o

objetivo é qualificação dos recursos e da experiência turística,

subsidiando a tomada de decisões quanto a capacidade de uso, sendo

uma adaptação do LAC, este processo é expandido para abordar uma

ampla variedade de ambientes com diferentes tipos de recursos e

experiências em áreas mais e menos antropisadas, visto que o número

excessivo de visitantes é considerado apenas mais um dos elementos

que influi na qualidade da experiência turística.

· TOMM - Tourism Optimisation Management Model (Modelo de

Otimização do Gerenciamento Turístico). Este método privilegia a

abordagem política, isto é, procurando se ater as redes sociais

estabelecidas (o desempenho de vários fatores – econômicos,

ambientais, sócio-culturais e oportunidades de mercado) buscando

monitorar e gerenciar o turismo de forma a proporcionar um

desempenho otimizado na busca pela sustentabilidade. É considerado

um modelo de gestão de médio e longo prazo por ter que estabelecer

um sistema de gerenciamento e monitoramento sustentáveis junto à

comunidade local.

· VAMP - Visitor Activity Management Process (Processo de

Gerenciamento da Visitação). O VAMP enfatiza a interpretação e os

serviços prestados ao visitante a partir de um modelo hierarquico de

tomada de decisões em um programa de gerenciamento. As decisões

administrativas referem-se à seleção e à criação de oportunidades para

visitantes usufruírem a unidade de conservação através de atividades

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educativas e recreativas, as quais são apresentadas em um plano de

serviços.

Seabra (2005) destaca ainda a metodologia MPTD – Monitoramento

Participativo do Turismo Desejável, onde :

“a metodologia MPTD coloca o foco de suas atenções nas comunidades receptoras e no turismo por elas desejável. Parte do princípio que as comunidades são dirigentes de seu destino, sendo partícipes no planejamento e no monitoramento da atividade. Neste sentido, empondera a comunidade, criando condições materiais para o exercício da gestão sustentável de seu legado cultural. Assim, angariar percepções, desejos e anseios das comunidades, frente ao fato turístico, é etapa importante na metodologia; bem como, criar instrumentos efetivos para o monitoramento das variáveis de interesse.”

Pode-se salientar que o envolvimento dos usuários, comunitários ou não, são

essenciais para os diagnósticos e monitoramento das ações de gestão da visitação

em unidades de conservação e áreas de lazer e que podem induzir a novos

zoneamentos de acordo com as tendências e singularidades diagnosticadas.

2.2.2.5 Zoneamento ambiental e ecoturismo

Segundo Silva & Santos (2004), zonas ou unidades de zoneamento são

espaços identificados em um território e determinadas por agrupamentos de

componentes, fatores e atributos que apresentam alto grau de associação e

significativa diferenciação entre os grupos. Possuem similaridades internas de

acordo com variáveis ambientais e podem ser delimitados no eixo horizontal do

espaço e em escala definida.

De fato, é necessário reconhecer as similaridades dos componentes de um

grupo e, simultaneamente, as diferenças evidentes entre os grupos vizinhos. Os

componentes ambientais podem ser as temáticas do meio biofísico e

socioeconômico e os fatores referem-se aos temas utilizados em cada temática; tais

como geologia, solo, uso da terra, dentre outros. Já os atributos são dados e

informações obtidas de cada fator ambiental. A delimitação dessas zonas leva em

consideração o conceito de organização hierárquica da natureza e a inter-relação

entre os fatores ambientais.

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A identificação e a delimitação de zonas podem estar diretamente ligadas às

concepções sobre a paisagem ou espaço geográfico, discutidas em disciplinas como

a Geografia, a Ecologia e com mais propriedade na Ecologia da Paisagem. Para

Metzger (2001), a abordagem geográfica foca o estudo das paisagens modificadas

pelo homem e o planejamento da ocupação territorial, em função do conhecimento

dos limites (fragilidades) e das potencialidades (vocações) de cada “unidade de

paisagem” – um espaço de terreno com características comuns. Para o autor, essa

abordagem aplica-se mais a macroescalas.

Com a abordagem ecológica, a aplicação se dá em uma ampla gama de

escalas e enfatiza as unidades da paisagem como cada unidade componente da

paisagem, como se fossem cada qual um ecossistema.

Em planejamento ambiental, é comum adotar a estratégia de avaliar um

território por meio de seu zoneamento – método apontado como integrador de

informações ambientais. Para Silva & Santos (op.cit. 2004):

“Zoneamento” é a identificação e a delimitação de unidades ambientais em um determinado espaço físico, segundo suas vocações e fragilidades, acertos e conflitos, determinadas a partir dos elementos que compõem o meio planejado. Seu resultado é a apresentação de um conjunto de unidades, cada qual sujeita a normas específicas para o desenvolvimento de atividades e para a conservação do meio.

Na prática, o zoneamento, sendo um trabalho interdisciplinar passível da

análise quantitativa e parte do enfoque analítico e sistêmico, visa a orientar a revisão

e/ou formulação de políticas de pesquisa e conservação e manejo integrado de

recursos naturais. Considera-se que a abordagem analítica relaciona-se com a

regionalização, inventários e diagnósticos temáticos dos atributos mais importantes;

já a abordagem sistêmica remete à estruturação e integração de diagnósticos,

prognósticos e síntese para cada conjunto de informações. Portanto, a eficiência do

zoneamento ecoturístico e de lazer demanda em se caracterizar a vocação das

áreas passíveis de uso público, potencialidades, fragilidades e ainda contextualizá-

las dentro dos escopos ambientais, sociais e legais.

Contudo, o zoneamento somente é testado quando confrontado com a

realidade dinâmica do ciclo de vida das destinações turísticas, conforme

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96

representado na Figura 07, onde o ciclo 01 é o previsto e o ciclo 02, o ocorrido. Este,

por sua vez, é aquele em que as oportunidades são percebidas com pouco ou

nenhum diagnóstico, cuja exploração é iniciada sem os cuidados necessários para a

devida consolidação, situação que recorre em muitas unidades de conservação,

onde não se percebe o planejamento estratégico da gestão da visitação e recursos

paisagísticos.

Figura 07: Bio-ritmo das destinações de lazer e turísticas. Fonte. Butler,1980. Modificado por Mello, Flávio A. P. 2008 inédito

Assim, o estabelecimento do Ciclo 02,“ocorrido”, significa o uso pouco

criterioso dos recursos locais, ou não previstos no planejamento; caracterizando-se

pelo sub-desenvolvimento das atividades potenciais, mas com impactos já presentes

nas áreas de sobre-uso, que podem conduzir a um estado prematuro de estagnação

e declínio ou em um nível aquém do nível de consolidação (na figura 07 no chamado

de “Ciclo” 01, previsto ou planejado), por conta das alterações e degradações

identificadas como parte do ciclo 02. Para melhor entendimento, considera-se:

· Fase da exploração, a localidade apresenta algumas facilidades para os

primeiros visitantes, que são ampliadas rapidamente pela população

local na fase do desenvolvimento, com o objetivo de conseguir lucros na

criação de um mercado forte e fiel.

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· Fase do desenvolvimento, a participação e o controle dos

equipamentos pela população local caem rapidamente e dão lugar às

facilidades criadas por organizações externas, que estimulam o

crescimento do número de visitantes.

· Fase da consolidação se caracteriza pelo domínio de empresas e

serviços multinacionais, cuja participação ajuda a controlar os custos e

a manter a competitividade do local diante de outras destinações. O

aumento quantitativo da demanda é alcançado e, a partir daí, a destinação

começa a decair na preferência dos turistas. Na luta pela sobrevivência,

por meio da quantidade de turistas que precisam lotar os equipamentos

para viabilizá-los economicamente, os preços baixam e passam a atrair

uma demanda de menor poder aquisitivo.

· Fase de declínio ou rejuvenescimento. A localidade passa por um

desgaste econômico, social e ambiental. Os equipamentos físicos

começam a se degradar e as atrações criadas para o atendimento dos

turistas nas fases de desenvolvimento e de consolidação envelhecem,

saem de moda e perdem a atratividade. O ambiente natural, que antes

era o ponto de maior atração, deteriora-se pelo mau uso da paisagem na

construção de hotéis e de outros equipamentos, e o número de visitantes

excede os limites da capacidade de carga.

O rejuvenescimento por sua vez, caracteriza-se por um retorno aos

ciclos anteriores, seja através da exploração de novas potencialidades,

ou de requalificações paisagísticas, tanto naturais (como por exemplo,

reflorestamento, recuperação de áreas degradadas...), quanto

construídas (novos equipamentos e infra-estruturas de apoio)...

2.3 Trilhas em Unidades de Conservação

A adequada gestão da visitação é fundamental para que as unidades de

conservação cumpram o seu papel de conservação e preservação do patrimônio

natural, dentro dos padrões de sustentabilidade, assim como propiciar a adequada

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98

apreciação e qualidade da visitação por seus diferentes tipos de usuários. O

monitoramento regular da dispersão de visitantes se converte, então, em uma

ferramenta de gestão, visto que o deslocamento dos visitantes em áreas naturais

normalmente ocorre através do uso das trilhas.

Cruz (2003) lembra que a apropriação de espaços naturais pelo turismo

implica em transformações espaciais relacionadas aos fatores de acessibilidade e

hospedagem; e que:

“... em se tratando de unidades de conservação, algumas das transformações espaciais decorrentes do uso turístico de seus territórios diz respeito à abertura de trilhas ou a utilização de trilhas pré-existentes, ao longo das quais podem ser instalados instrumentos de educação ambiental” (p. 19).

2.3.1 Importância das trilhas em Unidades de Conservação

Costa (2006:4) refere que “as trilhas são os únicos meios de acesso às

Unidades de Conservação e que elas oferecem oportunidade do contato efetivo com

a natureza ...” Cole, et al. (apud Passold, 2002) refere que em áreas naturais

protegidas, as trilhas promovem o acesso e oportunidades recreacionistas e ainda

protegem os recursos e atrativos ao definir as áreas de acesso e uso. Contudo, em

todas estas atividades a ação antrópica altera o espaço natural modificando. Sendo

a atividade turística valorizada como consumidora de espaços, a lógica de produzir e

consumir representa um problema a ser administrado, principalmente quando se

trata de atividades ecoturísticas que por definição, pretendem a sustentabilidade

para a manutenção dos lugares como fonte de trabalho e recursos.

Costa (op. cit., p. 46), indica que uma trilha pode ter várias funções sendo

principal a de deslocamento. Coloca ainda que bem planejadas, possibilitam

mudanças de valores, principal alicerce da educação ambiental. Destaca também

que as trilhas podem ser de diferentes tipos, podendo ser classificadas quanto à

função, forma, grau de dificuldade e declividade do terreno. Ressalta também que

muitas trilhas e caminhos hoje utilizados para o ecoturismo; foram tradicionalmente

utilizadas por determinadas comunidades, para se locomoverem. Atualmente as

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99

trilhas são o veículo para estabelecimento e operação de várias atividades em

ambientes naturais, tanto o ecoturismo quanto turismo na natureza, turismo rural e

ainda atividades esportivas e de lazer.

Contudo, como em toda infra-estrutura, os impactos decorrentes de seu uso

são rapidamente percebidos ao longo do tempo e um dos aspectos mais relevantes

é a descaracterização de sua paisagem ou até perda dos atrativos para onde

conduzem (Costa & Mello, 2005). Podemos destacar ainda impactos na flora e

fauna induzidas pela fragmentação das massas florestais assim como os causados

pelo acesso de visitantes em áreas cuja biodiversidade possui baixa resiliência às

modificações introduzidas com a territorialização turística.

Nestes aspectos, as trilhas são, portanto, indicadores das condições de uso,

intensidade da visitação, qualidade e segurança de serviços oferecidos e alterações

no patrimônio natural (biodiversidade e paisagens). Com a percepção destas

alterações foram desenvolvidas várias ferramentas metodológicas para o

gerenciamento da visitação e controle dos impactos em áreas naturais, conforme

destacado no item 2.2.2.4 Fluxo e dispersão dos visitantes (pag. 70).

2.3.2 Impactos Ambientais relacionados a trilhas

Para Guerra & Guerra (1997:350) impacto ambiental é:

“a expressão utilizada para caracterizar uma série de modificações causadas ao meio ambiente, influenciando na estabilidade dos ecossistemas. Os impactos ambientais podem ser negativos ou positivos, mas, nos dias de hoje, quando a expressão é empregada, já está mais ou menos implícito que os impactos são negativos. Os impactos podem comprometer a flora, fauna, rios, lagos, solos e a qualidade de vida do ser humano”.

No caso das trilhas, Lechner (2004) ressalta que muitos impactos podem ser

reduzidos e alguns eliminados com o conhecimento dos processos que atuam na

área de implantação e manejo. De fato, alguns impactos sempre vão existir, desde a

implantação que se caracteriza como tal, até as alterações mais sutis, decorrentes

do uso das trilhas e da reacomodação da biota e do solo como resposta à alteração

introduzida. Embora não seja objeto deste trabalho o aprofundamento nas múltiplas

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100

categorias de impactos ambientais causados implantação e manutenção de trilhas

em áreas naturais, podemos qualificar zonas de influência e espacializar as

ocorrências através dos seguintes parâmetros de causalidade: Fragmentação

florestal, efeito de borda, impactos no leito e efeitos na paisagem, conforme descrito

a seguir:

2.3.2.1 A fragmentação florestal induzida por trilhas.

Com foco na utilização turística, para melhor compreensão da dinâmica das

trilhas, é possível definir para fins de análise, uma unidade de conservação ou área

natural privada, a ser reconhecida como uma dada região (o espaço que possui

propriedades e escalas conhecidas que lhe confiram uma determinada identidade).

Nesta região, através de diagnósticos orientados ou resgate de informações locais, é

identificado o patrimônio turístico, determinado, segundo Boullon (2002:66) como a

integração de quatro componentes:

· Atrativos Turísticos (a matéria prima)

· Empreendimento turístico (aparato produtivo)

· Infra-estrutura (recursos de apoio ao aparato produtivo)

· Superestrutura turística (subsistema organizacional e recursos

humanos disponíveis para operar o sistema).

Destes componentes destaca-se o primeiro, pressupondo um espaço natural

virgem, isto é, sem intervenções humanas. A identificação da distribuição e

qualidade dos atrativos turísticos serve de base e justificativa para o estabelecimento

dos empreendimentos em um processo semelhante à criação de corredores

turísticos de translado e de estada, previsto por Boullon (Op. cit., p. 97) como vias de

conexão entre zonas, complexos, centros, conjuntos e atrativos turísticos.

Guardando as devidas proporções, é possível fazer um paralelo destes

corredores com as trilhas, categorizando-as também em dois grupos, onde o

“corredor turístico de translado” serve de parâmetro para a trilha cujo potencial é

subutilizado, sendo operada basicamente para acessar o atrativo, e o conceito de

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101

“corredor turístico de estada” pode ser adaptado para a trilha que se constitui de um

atrativo em si, proporcionando a oferta de diferentes serviços e produtos em sua

extensão.

Assim ao identificarmos os atrativos como pontos em uma área determinada,

podemos visualizar que o estabelecimento de circuitos de trilhas para acessar e

interligar os atrativos tem como conseqüência a divisão de áreas contínuas em

unidades menores, individualizadas pela interrupção física no tecido florestal pelo

corredor da trilha; embora ainda estejam identificadas como uma mesma região.

Este processo é conhecido como fragmentação florestal que constitui “ilhas” do

ecossistema original, inseridas em uma matriz com diferentes ecossistemas,

segundo Saunders et al (1991, in Fleury, 2003).

Pode-se inferir. portanto, que a fragmentação pode ser evidente e prejudicial

conforme o ecossistema onde se encontra, de acordo com suas dimensões, pois as

conseqüências da formação destas “ilhas” ou da descontinuidade dos ambientes

podem interferir significativamente na flora e na fauna, alterando assim a paisagem

original e as oportunidades potenciais da região. Deste modo as dimensões das

trilhas podem agravar o fenômeno da fragmentação.

Cabe destacar que o dimensionamento destas medidas deve ser adequado à

localização dentro do zoneamento da unidade, do perfil do visitante e das atividades

a que servem; visto que variam de acordo com a utilização conforme diretrizes

gerais referidas por Costa (2006, apud USDA, 2002 e Lechner, 2003). Outro aspecto

a se considerar é que a apropriação destes espaços por parte dos visitantes, assim

como as alterações promovidas para o estabelecimento de equipamentos e

instalações de apoio, acaba por afastar a biota mais refratária a esta nova

convivência.

No quadro 04, relacionam-se dimensões genéricas de acordo com o perfil do

usuário de trilhas:

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Quadro 04: Tipos de trilhas e Graus de dificuldade Fonte: Willamette National Forest Hiking Trail, Oregon. U.S. Department of Agriculture Forest Service (USDA), 2002 (http://www.fs.fed.us/r6/willamette/recreation/trails/) e LECHNER, 2003. Traduzido e adaptado por Costa, V. C. da (2006, in: anotações de apresentação de palestra). Modificado por Flávio A. P. Mello, 2008.

2.3.2.2 O efeito de borda como impacto das trilhas

Grande parte dos sistemas fragmentados não sustenta a mesma diversidade

de espécies encontradas em ecossistemas originais por influência do “efeito de

borda” (Fleury, 2003). De acordo com Paciência & Prado (2004), as bordas podem

ser entendidas como áreas de transição entre unidades da paisagem de hábitat e

não-hábitat, regidas pelas “forças de interação” entre as mesmas. Alguns estudos

apontam que as bordas por serem mais expostas às perturbações externas,

possuem maior diversidade de espécies vegetais decorrente da sobreposição de

espécies do interior e da matriz e maior cobertura, densidade de indivíduos e

produtividade primária proporcionado pelo aumento da taxa fotossintética total

nestes ambientes.

Funcionalmente as bordas são áreas onde a intensidade dos fluxos biológicos

entre as unidades de paisagem se modifica de forma abrupta, devido à mudança

abiótica repentina das matrizes para os fragmentos e vice-versa. Vista do interior da

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103

mata, tal mudança pode ser evidenciada por um aumento da penetração da luz solar

e maior incidência de ventos.

Paciência & Prado (Op. cit) referem não haver padrões claros quanto à

penetração das alterações micro-climáticas das bordas que podem ser percebidas

no interior dos fragmentos, citando diversos estudos que demonstram a distância de

penetração destas alterações que podem chegar de 10 a 40m. Estes efeitos são

percebidos de maneiras diferentes pelos vários extratos, observando-se próximo à

borda, um incremento da mortalidade das espécies arbóreas florestais de grande

porte, ao mesmo tempo, verifica-se que há um aumento das espécies pioneiras e

tolerantes às condições climáticas do ambiente alterado.

Fleury (2003) destaca que estas mudanças microclimáticas (como aumento

da temperatura e ressecamento próximo à borda acarretando em alterando a

composição de espécies e na estrutura da vegetação) podem afetar drasticamente

os processos ecológicos como polinização, predação, comportamento territorial e

hábitos alimentares das espécies, causando perda da diversidade de plantas e

animais, e em casos extremos, levando à total perda das espécies da fauna local.

Estas alterações promovidas pela fragmentação florestal e pelo conseqüente

efeito de borda irão interferir diretamente na qualificação dos atrativos e como um

efeito cascata em toda a cadeia produtiva, podendo requer mais investimentos e

mesmo inviabilizar negócios, forçando readequações estratégicas ou busca por

novas vocações e produtos turísticos. Portanto, o impacto causado pelo transito de

visitantes pelas trilhas podem ser somados às alterações verificadas no efeito de

borda, através de eventos como o pisoteio da flora marginal, alterações de

drenagem decorrentes das alterações no leito das trilhas pela compactação induzida

pela visitação, alterações no comportamento da fauna pela presença física e barulho

de visitantes, entre outros.

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104

2.3.2.3 Impactos causados no leito da trilha

Embora a abertura de uma trilha já represente um impacto considerável, em

trilhas existentes o impacto mais diretamente relacionado com o uso das trilhas é

causado pelo pisoteio, responsável pela compactação do solo e aceleração dos

processos erosivos, também possui grande importância na relação com a flora.

A revisão de Magro & Talora (2006) confirmaram que as áreas sujeitas ao uso

recreacional eventualmente mostram sinais de deterioração dos seus recursos e

implicam ainda a redução da biomassa das plantas e a cobertura do solo; a

diminuição na densidade de ervas, arbustos e plântulas e a substituição de espécies

menos tolerantes por aquelas mais tolerantes ao impacto do pisoteio; e mudanças

associadas ao solo que são freqüentemente menos óbvias, mas não menos

importantes, uma vez que ao longo do tempo eles podem conduzir a um declínio no

vigor das plantas e a uma redução na biomassa da fauna do solo.

Estas mudanças estariam relacionadas à compactação do solo, redução no

conteúdo da matéria orgânica, diminuição na taxa de infiltração de água e aumento

no escoamento superficial. Lechner (Op. cit. p.79) apresenta uma relação de

impactos que podem ser observados na trilha:

· Impactos biofísicos potenciais nas trilhas:

§ Erosão e transporte de solo;

§ Contaminação e sedimentação em rios e outros corpos de água;

§ Perda de vegetação ao longo do corredor da trilha;

§ Introdução de espécies invasoras ao longo do corredor da trilha;

§ Aumento do acesso à área por espécies predadoras ou

indesejáveis (mudança da composição de espécies) e

perturbações / deslocamento da vida selvagem;

· Impactos sociais potenciais nas trilhas:

§ Conflitos de visitantes e conflito entre a comunidade e visitantes;

§ Lixo;

§ Insatisfação;

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105

§ Uso das trilhas para atividades ilegais / indesejáveis (caça,

extração ilegal, etc.);

§ Alargamento da trilha por usuários para evitar lamaçais, ou por

andarem lado a lado ou por obstáculos como árvores caídas e

pedras soltas;

§ Vandalismo (pichações em rochas e árvores e danos à infra-

estrutura como placas de sinalização, bancos, etc.);

§ Possíveis áreas de risco de acidentes aos visitantes.

· Impactos ambientais potenciais ou de uso sobre as condições das

trilhas:

§ Alargamento e inundação do corredor e do piso da trilha;

§ Usos múltiplos / sobreposição de usos;

§ Perda da borda crítica da trilha (e da drenagem);

§ Ruptura no talude;

§ Aprofundamento do leito da trilha (com perda de drenagem);

§ Entupimento por sedimentos em drenos, perda ou danos a

barragens de água, drenagens e bueiros;

§ Resíduos ou entulhos na trilha;

§ Deterioração de fundações de pontes, decks e paredes de

contenção levadas por inundações, além das condições de

segurança de sua superfície e de seus corrimãos;

§ Falta, perda ou deterioração de sinalização de orientação,

degraus e paredes de pedra.

2.3.2.4 Impactos na paisagem promovidos pelas trilhas

Como conseqüência das alterações promovidas ou induzidas pelas trilhas,

tem-se a descaracterização da paisagem, conforme destaca Magro & Talora (op.

cit.) onde a trilha representa também uma cicatriz na paisagem, sendo uma zona

sacrificada, desprovida de vegetação, um “corte raso” linear que pode representar

cerca de 0,45 ha ou mais em cada trecho de 1,6 Km e, apesar do impacto, refere

que as trilhas são vistas como uma construção aceitável em áreas naturais, onde se

aceita a área de solo nu quase como parte natural das áreas protegidas.

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106

A importância da paisagem está para o lazer como o cenário para suas

atividades como para o turismo que a transforma em produto de consumo

representando uma novidade estética. Para ambos a paisagem serve como

ferramenta para a ampliação do conhecimento e agente sensibilizador de

conservação ambiental. Contudo sendo interpretado também como um

“equipamento”, os impactos decorrentes de seu uso são rapidamente percebidos ao

longo do tempo e um dos aspectos mais relevantes é a descaracterização de sua

paisagem através de instalações de apoio ao visitante, como por exemplo, mirantes,

circuitos de trilhas, áreas para lazer entre outros.

Neste concepção, o conceito da paisagem como um “recurso” a ser

administrado deve ser considerado como mais cuidado e prioridade nos programas

de gestão das unidades de conservação e lugares turísticos; pois a perda da

paisagem, isto é, do patrimônio cênico, não só pode desqualificar o lugar, como

também selecionar os visitantes já que o “produto” pode ser alterado.

Cabe então salientar os conceitos de valoração da paisagem e de seus

componentes bióticos e abióticos, visto que não raro, os impactos na flora e fauna

induzidas pela fragmentação das massas florestais assim como os causados pelo

acesso de visitantes em áreas cuja biodiversidade possui baixa resiliência às

modificações introduzidas com a territorialização turística são passadas

despercebidas, dada a compreensão geral de paisagem como um “grande cenário”

apenas. Esta condição decorre do fato da paisagem de modo geral ser percebida

como um todo.

Contudo, Guimarães (2007:83) concorda com estudos de Gonzalez

Bernáldez, que interpreta a paisagem através de processos onde se decifra

camadas de informação, tanto aparentes quanto ocultas. A autora relaciona duas

vertentes:

“(1) uma forma de interpretação fundamentada na percepção global e integrada da paisagem, a partir do que o observador desenvolve suas conclusões de “visu” mediante sua experiência, intuição ou “olho clínico”, sem que seja necessário um processo reflexivo; (2) uma descrição analítica, mediante o isolamento de diversos componentes paisagísticos. Para o autor, ambos os procedimentos metodológicos têm suas possibilidades, de acordo com a aplicação que estamos dando à interpretação da paisagem.

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107

Assim, o planejador, o gestor; devem considerar os impactos tanto no micro-

ambiente das trilhas, considerando a experiências mais próximas do usuário; como

também deve considerar o comprometimento da paisagem, enquanto recurso

patrimonial, por exemplo, nas alterações que a comprometem quando as trilhas são

percebidas na paisagem como uma solução de continuidade.

Deve-se, contudo, na avaliação e utilização da paisagem como um “recurso”,

considerar as repercussões históricas, sociais e ambientais, Motta (1998) cita que o

processo de apropriação do capital natural (e social23) sem a preocupação com os

possíveis usuários excluídos (presentes ou futuros); rotineiramente são ignorados e

podem passar despercebidos ou subestimados; visto que o uso de recursos

ambientais não possui preço reconhecido no mercado, embora seu valor econômico

exista, pois seu uso altera o nível de produção e de consumo dos bens de serviço

atrelados a eles.

Na valoração econômica ambiental, o valor econômico de um recurso

ambiental, é estimado a partir do valor monetário de um bem ou serviço disponível

na economia. Com a utilização desta referência monetária a descaracterização de

paisagens (e conseqüentemente comprometimento da biodiversidade, perda da

qualidade da visitação, entre outros), passa também a se correlacionar com outros

aspectos da gestão sob a mesma ótica, de maneira que a priorização orçamentária e

as previsões de valor patrimonial adquirem maior relevância nas chaves de decisão

influindo desde a gestão local até as políticas públicas mais gerais.

Assim, as estratégias de gestão e uso da paisagem estão diretamente

relacionadas à amplitude de valoração econômica do patrimônio local e de serviços

disponíveis ou possíveis. Motta (op. cit.) relaciona o critério econômico no

gerenciamento dos recursos naturais, restringindo-o, basicamente, a três

abordagens básicas:

· Análise Custo-Benefício (ACB). É a técnica econômica rotineiramente

utilizada para a determinação de prioridades na avaliação de políticas e

23 Parênteses do autor

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108

de mais fácil compreensão, embora possa adquirir um caráter

superficial em função da prévia qualificação diagnóstica. A ACB

compara custos e benefícios derivados de estratégias e políticas

implementadas em termos de valores monetários. Os benefícios são

bens e serviços ecológicos, cuja conservação acarretará na

recuperação ou manutenção destes para a sociedade, impactando

positivamente o bem-estar das pessoas e do patrimônio natural. Os

custos representam o bem-estar que se deixou de ter, fluxo de bens e

serviços não-ecológicos, em função do desvio dos recursos da

economia para políticas ambientais em detrimento de outras atividades

econômicas e ainda das perdas em biodiversidade que geravam

serviços e produtos.

· Análise Custo-Utilidade (e viabilidade institucional) – ACU. Os

indicadores, embora não sejam compreendidos como a única variável

monetária de um determinado benefício, são calculados para valores

econômicos e também para o critério ecológico, como

insubstitutibilidade, vulnerabilidade, grau de ameaça,

representatividade e criticabilidade. A percepção destes critérios

ecológicos, entretanto dependem de não só de conhecimentos

técnicos, mas, sobretudo éticos, visto que na prática, a quantificação

financeira reduz a importância da natureza às necessidades e

horizontes humanos.

· Análise Custo-Eficiência (ACE). A ACE compara as opções disponíveis

para orientar a política definida, relacionando os custos em atingir os

objetivos estabelecidos, identificando a opção mais eficiente para

obtenção da melhor relação custo-benefício. A ACE não prioriza

opções, mas orienta para a definição de ações, principalmente em

situações de decisão nas quais os custos institucionais da avaliação do

projeto excedem aos ganhos de eficiência com uso de ACB ou ACU.

O valor econômico dos recursos ambientais (VERA), por sua vez, pode ser

interpretado como valor de uso (VU) e valor de não-uso (VNU). Os Valores de uso

podem ser desagregados em:

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109

· Valor de Uso Direto (VUD) - quando o indivíduo se utiliza atualmente

de um recurso, por exemplo, na forma de extração, visitação ou outra

atividade de produção ou consumo direto;

· Valor de Uso Indireto (VUI) - quando o benefício atual do recurso

deriva-se das funções ecossistêmicas, como, por exemplo, a proteção

do solo e a estabilidade climática decorrente da preservação das

florestas;

· Valor de Opção (VO) - quando o indivíduo atribui valor em usos direto e

indireto que poderão ser optados em futuro próximo e cuja preservação

pode ser ameaçada. Por exemplo, o benefício advindo de fármacos

desenvolvidos com base em propriedades medicinais ainda não

descobertas de plantas em florestas tropicais.

O valor de não-uso (ou valor passivo) representa o valor de existência (VE)

que está dissociado do uso (embora represente consumo ambiental) e deriva-se de

uma posição moral, cultural, ética ou altruística em relação aos direitos de existência

de espécies não-humanas ou preservação de outras riquezas naturais, mesmo que

estas não representem uso atual ou futuro para o indivíduo, como, a grande atração

da opinião pública para salvamento de baleias ou sua preservação em regiões

remotas do planeta, onde a maioria das pessoas nunca visitará ou terão qualquer

benefício de uso. Assim, uma expressão para VERA é:

VERA = (VUD + VUI + VO) + VE.

Desta forma, a paisagem enquanto construção subjetiva e por isso, menos

tangível, deve ser encarada não somente como um valor de uso direto, mas também

na categoria de valor delegado e de existência, enquanto elemento passível de

apropriação. Afinal, paisagem, além de seu valor intrínseco por ser o somatório de

condições físicas e ecológicas, é também memória e identidade entre outros

aspectos sociais e culturais. Assim, deve ser protegida tanto pelo poder público

quanto privado.

Embora a utilização de termos como recursos riquezas e patrimônio possa a

princípio induzir à percepção de um reducionismo utilitarista da natureza, a intenção

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110

deste conceito visa criar um denominador comum, facilmente compreendido por

indivíduos, instituições e governos, onde cujas possibilidades de lucros com serviços

ou prejuízos por perdas de “patrimônio” tendem a ser mais quantificáveis e

palatáveis quando se discute variável que podem requerer uma compreensão maior

da paisagem que o olho pode não ver, mas que existe.

No quadro 05 é demonstrado às diversas qualificações de valores e o seu

grau de tangibilidade.

Quadro 05 Categorias de valores econômicos atribuídos aos bens ambientais Fonte Munasinghe,1992 (in MOTTA, R. S. da. Manual Para Valoração Econômica de Recursos Ambientais – Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Para o gestor, para o planejador e sobretudo para o usuário, tornar palpável

uma construção mental como a paisagem significa sobretudo a possibilidade real de

se gerir uma realidade com parâmetros próximos ao dia a dia das tomadas de

decisão, seja como investimento, seja como a conduta consciente de visitação.

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111

2.3.3 Conservação e recuperação de trilhas em ambientes de Mata Atlântica

Diversos pontos da Mata Atlântica são considerados hotspots24 de

biodiversidade e somado ao grande endemismo, são considerados prioridade para a

conservação e preservação. Com o ritmo acelerado de comprometimento e

destruição de seus remanescentes, agora associado a incremento das atividades de

lazer, esportivas e de turismo em ambientes naturais, notadamente nas unidades de

conservação; os circuitos de trilhas devem ser interpretados como os veículos da

apropriação de territórios pela visitação e agentes de alterações ecológicas

importantes conforme demonstrado anteriormente. Percebendo a trilha fisicamente

como um corredor que funciona como eixo de ligação a atrativos ou se manifesta

como tal, suas restrições espaciais podem ser:

· Restrita ao leito

· Incluindo o efeito de borda (corredor e áreas mais profundas conforme

referido por Paciência & Prado (op.cit.)25

· Incluindo o leito, o efeito de borda e a fragmentação induzida pelos

recortes promovidos pela implantação dos circuitos de trilhas;

interferindo assim na dinâmica regional como um todo.

Com esta espacialização, as ações de conservação e recuperação de trilhas

na prática ultrapassam as atividades de controle de erosão, compactação de solos,

drenagem e conflitos entre visitantes, restritas de modo geral ao leito; mas passam

incluir a região ou zona onde se encontram as trilhas. Por conseguinte o foco de

preservação e conservação deve considerar além da biodiversidade intrínseca, o

patrimônio paisagístico e a importância dos fragmentos florestais como bancos

genéticos para todo o trabalho de restauração e preservação do que resta de Mata

Atlântica. 24 O conceito Hotspot foi criado em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers para resolver um dos maiores dilemas dos conservacionistas: quais as áreas mais importantes para preservar a biodiversidade na Terra? Ao observar que a biodiversidade não está igualmente distribuída no planeta, Myers procurou identificar quais as regiões que concentravam os mais altos níveis de biodiversidade e onde as ações de conservação seriam mais urgentes. Ele chamou essas regiões de Hotspots. Hotspot é, portanto, toda área prioritária para conservação, isto é, de rica biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. É considerada Hotspot uma área com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original. In: www.conservation.org.br/como/index.php?id=8 . Capturado em 18/02/2007 25 Referindo Kapos (1989) que mostrou que à distância de penetração destas alterações chega a 40 m, a partir do limite físico do fragmento com a matriz, como 15-25 m (Williams-Linera 1990), 7-12 m (MacDougall & Kellman 1992), 10-20 m (Esseen & Renhorn 1998)

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112

O estado de conservação ambiental da região em questão onde esta

instalada a malha de trilhas ou irá ser instalada, definirá seu papel, podendo ter seu

planejamento e manejo direcionado tanto para a preservação, isto é, protegendo

áreas chaves; quanto para a restauração; podendo utilizar a malha de trilhas como

acesso a áreas a ser reflorestadas ou restauradas por funcionários locais e

voluntários, servindo de veículo para atividades de educação ambiental.

Desta maneira as estratégias de conservação que envolvam as interações

flora e fauna são as mais eficientes e segundo Kageyama & Gandara (2006) nas

florestas tropicais estas interações são bastante intensas e determinantes para a

estruturação do ecossistema, envolvendo relações fundamentais como polinização,

dispersão de sementes e herbivoria/ predação. Destacam ainda que as espécies

vegetais das florestas tropicais são em sua maioria alógamas (necessitam trocar

pólen para que haja sua polinização, sendo feita fundamentalmente por animais,

principalmente insetos, morcegos e aves).

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113

3.0 MATERIAL E MÉTODOS

São, a seguir, descritos os principais materiais e métodos adotados visando

atender os objetivos propostos. Em termos gerais buscou-se como prática

metodológica a “pesquisação” ou “pesquisa-ação26”, isto é, para se atingir os

objetivos propostos, foram estabelecidas estratégias para coleta e verificação de

dados, a partir do envolvimento dos usuários e da administração da unidade, em

maior ou menor grau, quer através do estímulo ao voluntariado ambiental, quer por

meio de questionários e pesquisas de campo.

3.1 Fonte de informações

Para elaboração da base dados primários sobre o PNMNI, foram realizadas

entrevistas formais e informais com a administração do PNMNI (inicialmente com

direção e posteriormente com funcionários da manutenção e vigilância) acerca de

aspectos da visitação, malha de trilhas e caminhos existentes. Embora destacassem

a existência de várias trilhas, somente a trilha do Pau Pereira é, de fato, considerada

para fins de gestão, assim como a Estrada da Cachoeira, como acesso a atrativos

mais consolidados. Encaminhou-se então, ofícios às Secretarias de Meio Ambiente

das Prefeituras de Nova Iguaçu e de Mesquita, solicitando bases cartográficas

digitais, incluindo ortofotos e imagens de satélite; além de informações sobre

programas ou sub-programas em andamento que pudessem ser úteis para a

presente pesquisa.

A solicitação documental sobre o Parque Municipal de Nova Iguaçu foi

requerida junto aos municípios de Nova Iguaçu e Mesquita, onde neste último se

localiza aproximadamente 38% da área do Parque. Fato oriundo da emancipação

deste município no ano de 2000, data posterior à criação do parque (1998). Salienta-

se que esta situação é motivo de discussões acerca de uma possível gestão

compartilhada, cujas primeiras referências apontam um suposto acordo informal

26 SN: Modalidade de pesquisa qualitativa que se caracteriza por partir da ação sem nenhuma assunção teórica, pela participação do investigador na situação e o uso da metodologia etnográfica como método de recoleção de dados. A expressão foi acunhada por K. Lewin (1890-1947), que assinala três traços típicos: participação, impulso democrático e contribuição à mudança social. Fonte: Tesauro na Filosofia da Educação

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114

estabelecido a época da emancipação, entre as secretarias de Meio Ambiente de

Nova Iguaçu e Mesquita para o revezamento bi-anual na direção da unidade.

Contudo, devido ao fato da área do parque ser uma concessão estadual à

Nova Iguaçu e como até a presente data, não se estabeleceu oficialmente a

contrapartida em recursos humanos e materiais do município de Mesquita, o

revezamento ficou restrito à direção do conselho consultivo a cada dois anos, por

razões de boa vizinhança. Atualmente a gestão deste conselho está a cargo de

Nova Iguaçu, devendo se estender até 2010. Entretanto, o conselho gestor não tem

se reunido com regularidade, caracterizando de fato uma violação do plano de

manejo que prevê gestão participativa.

Embora a anuência e colaboração da Secretaria de Meio Ambiente tenha sido

fundamental para a realização deste trabalho, através da cessão da íntegra do plano

de manejo original, algumas bases digitais e diversas informações de caráter geral,

constatou-se em diversas situações, várias inconsistências em diversas demandas

de informações importantes para a presente pesquisa; como, por exemplo, a relação

dos trabalhos acadêmicos produzidos sobre o Parque e a tabulação regular dos

dados gerados na entrada principal.

Cabe destacar que embora haja projetos acadêmicos e de pesquisa

concluídos e em andamento no PNMNI, a Prefeitura e o Parque não dispõem deste

acervo bibliográfico completo e organizado. De fato o PNMNI, a exemplo de tantas

outras unidades de conservação, sofre com a falta de investimentos em recursos

humanos e materiais, mantendo, portanto, a característica presente em cada

administração que é a de não estabelecer ou proporcionar continuidade a um banco

de dados sólido e confiável sobre o histórico ambiental e administrativo da unidade.

Na pesquisa por bases digitais sobre o PNMNI que constam no Plano de

Manejo, constatou-se também que a Prefeitura, não possui estes dados na íntegra.

A documentação disponível relaciona as cartas em arquivos no formato PDF (não

possuem e disponibilizam bases georreferenciadas em Sistema de Informação

Geográfica – SIG). A empresa Habtec, contratada pela prefeitura de Nova Iguaçu

para elaboração do referido plano, foi contatada no sentido de se obter cópias das

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115

bases cartográficas importantes, tais como: cartas topográficas, mapas de uso de

solo, vegetação, pedologia e geologia, mas declararam impossibilidade de

atendimento, devido a pendências com a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu.

Quanto à topografia e uso de solo, as bases cedidas pela Prefeitura de Nova

Iguaçu foram conseguidas junto à Secretaria Municipal da Cidade – SEMCID, setor

de Geoprocessamento, porém não contemplam a área do Parque pertencente ao

município de Mesquita. Esta situação deixou caracterizada que se a direção for

desenvolver algum trabalho onde sejam necessárias as bases digitais do Parque

como um todo, poderá contar somente com documentação da área de Nova Iguaçu,

aproximadamente 60 % da área total, visto que aparentemente, a Prefeitura

Municipal de Mesquita também não dispõe tal acervo.

Posto as condições sobre a construção da base de dados obtida junto ao

PNMNI, os materiais e métodos utilizados na construção desta dissertação

prosseguiram com o seguinte ordenamento:

3.2 Revisão do conteúdo do Plano de Manejo referente ao Programa de Uso

Público.

Tomando como base o Plano de manejo do PNMNI e as atividades de campo,

foi possível caracterizar e reavaliar as zonas destinadas à visitação no interior da

área protegida, como atualmente ela é utilizada. Neste sentido, foi considerada a

seguinte ordem metodológica:

· Avaliação do perfil do visitante e padrão de dispersão.

· Levantamento das trilhas e identificação de atrativos

· Zoneamento ecoturístico e aplicação da metodologia ROS

· Conclusão e elaboração de sugestões ao PNMNI

Pretende-se, deste modo, confirmar sugestões previstas no plano de manejo

e oferecer subsídios para adequações e aprimoramentos da gestão da visitação,

Page 116: DissertacaoZen2 - completa

116

consonantes com o momento atual, oferecendo assim bases para atualizações

subseqüentes do plano de manejo.

3.2.1 Avaliação do perfil do visitante e padrão de dispersão

Após a devida contextualização sobre o uso das zonas abertas à visitação,

procurou-se identificar o perfil do visitante, assim como seu padrão de dispersão

dentro da unidade como condição para se estabelecer a eficiência do zoneamento

territorial-ambiental vigente, paralelamente, por extrapolação, formar uma “imagem”

de como, de fato, os visitantes estão se organizando no interior da unidade e a

gestão dos mesmos. Dada a existência de uma grande malha de trilhas e caminhos

informais, o raciocínio lógico foi que a identificação de atrativos e atividades

(consolidadas e previstas) deve nortear o ordenamento de roteiros e, conseqüente, a

seleção de trilhas e acessos para tanto. Deste modo, será possível, a partir da

identificação dos atrativos e acessos, confirmar vocações e elaborar proposta para

zoneamento turístico e de lazer.

Inicialmente, a importância sobre o conhecimento do perfil do usuário e seus

padrões de fluxo e dispersão foi destacada através da elaboração de um sistema

onde foram categorizados os visitantes em autorizados27 e não autorizados,

identificados e não identificados e com acessos à áreas livres e restritas a visitação,

visto que o controle de entrada do PNMNI não é eficiente (figura 08). A abordagem

sistêmica teve como objetivo visualizar em linhas mais gerais, como poderia estar

ocorrendo à visitação dentro da unidade. Foi elaborado então um modelo de

Sistema Sequencial ou Encadeante onde foram considerados três parâmetros:

Visitantes: autorizados e não autorizados; Visitantes: Identificados e não

identificados e Acesso a zonas permitidas e não permitidas, segundo o Plano de

Manejo.

Este sistema é particularmente importante por que relaciona as situações

administrativas de dispersão de visitantes e aponta para a criação de políticas

27 Este controle têm por base a administração, podendo ser via funcionários da guarita, por exemplo.

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117

diferenciadas a ser utilizadas como reguladores. Marques, J. S (1984) relaciona três

tipos de ação dos reguladores: Regulação dos níveis de massa e energia,

Distribuindo massa e/ou energia para os componentes do sistema, incluindo os

armazenadores e Determinando o modo e quantidade de saída de massa e energia

do sistema.

Legenda: I Input: Entrada de visitantes O Output: Saída de visitantes

Regulador a: Guarita de entrada / Sinalização Regulador b: Entradas sem fiscalização e informais Regulador c: Fiscalização / Sinalização

1 Visitantes e não visitantes com autorização. Armazenamento 2 Invasores, visitantes e não visitantes sem autorização. Armazenamento 3 Invasores, visitantes e não visitantes sem autorização não identificados. 4 Invasores, visitantes e não visitantes sem autorização identificados.

Z¹ Zonas permitidas à visitação: de uso especial, intensiva e extensiva. Z² Zonas não permitidas à visitação: primitiva, intangível.

Figura 08: Análise sistêmica de Visitação no PNMNI Fonte: MELLO, Flávio A P. 2007

De fato, a criação destes reguladores repercute na qualidade do

monitoramento do fluxo de visitantes e, consequentemente na gestão das alterações

fisicas e funcionais que possam ocorrer no Parque, tais como erosão das trilhas, lixo,

depredação do patrimônio natural e construido, entre outros. Deste modo, para a

a

b

c

!

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118

eficiência das ações da administração, estas alterações podem ser fortemente

influenciadas pela relação entre os visitantes autorizados e não autorizados e seu

padrão de distribuição na área do Parque, pois demandam de abordagens

diferenciadas.

Evidentemente, o monitoramento mais eficiente pode dimensionar com mais

precisão a relação entre os diferentes grupos de visitantes referidos, entretanto,

como ferramenta de análise geral, é possivel se estabelecer elementos para

subsidiar a gestão da visitação. Hipotéticamente, se a administração começa a

receber denúncias o constata o aumento de visitantes não autorizados em áreas

restritas, esta pode pressupor que sua “caixa cinza” de invasores e visitantes não

autorizados (item 02 na figura 08) pode ser maior do que se supõe, assim como

seus impactos referentes. Desta forma, medidas diferenciadas devem ser tomadas,

como estabelecimento de eco-limites, aumento da fiscalização, fechamanto de

trilhas e atalhos não autorizados, entre outros.

Assim as ações envolvendo preservação do patrimonio natural ante a pressão

da visitação e qualidade dos atrativos e atividades oferecidas, deve ser capaz de

desenvolver políticas personalizadas para cada sub-sistema28, principalmente se

considerando que o Parque não possui um controle eficiente de entrada e saída de

visitantes. A existência de atividades ilegais de caçadores e passarinheiros e ainda

atividades de ecoturismo e de lazer sem o conhecimento da administração da área

protegida, principalmente na Pedra da Contenda e Rampa de Vôo Livre, denotam a

necessidade de se incorporar as categorias de visitantes nas politicas de gestão da

Unidade.

3.2.1.1 Uso de questionários e perguntas dirigidas

Para a identificação do perfil e da dispersão de usuários, optou-se pela

elaboração de questionários, onde a opção foi o modelo fechado, isto é, o

28 Sub-Sistemas: (A) Visitantes e não visitantes autorizados. (B) Visitantes e não visitantes não autorizados e invasores. (C) Visitantes identificados. (D) Visitantes identificados em áreas permitidas. (E) Visitantes identificados e não identificados em áreas proibidas.

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119

entrevistado opina sobre dados pré-determinados, conforme preconizado por

Günther (2003), que estabelece o seguinte critério:

· Perguntas abertas: Para pesquisa inicial, exploratória, onde não se

conhece a abrangência ou variabilidade das possíveis respostas.

· Perguntas fechadas: Quando se conhece os tópicos geralmente

mencionados pelos entrevistados acerca de uma dada temática,

principalmente quando o universo amostral é grande e/ou o tempo de

coleta é pequeno.

Segundo o autor o uso de perguntas fechadas “mostra freqüentemente mais

respeito à opinião das pessoas, deixando-as classificar suas respostas como

positivas, negativas ou neutras, em vez do pesquisador fazer isso por elas”.

As pesquisas desenvolvidas através de questionários foram inicialmente:

· Pesquisa de perfil e dispersão de visitantes (internet e coleta de dados

em campo): Onde se buscou identificar o perfil geral do visitante

(gênero, faixa etária, ocupação profissional, motivação da visita,

destino no parque). Através da metodologia de Amostragem Casual ou

Aleatória Simples. Neste sentido, não houve critérios para a seleção

dos entrevistados, sendo aleatória, assim como nas coletas realizadas

durante a semana (duas vezes). Entretanto foram realizadas coletas

regulares aos sábados e domingos durante os períodos estipulados

das temporadas de verão e inverno. Quanto aos horários, buscou-se

coletar dados entre 10:00 horas e 13:00 horas, quando há maior afluxo

de visitantes.

· Pesquisa de perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na

natureza – PNMNI (somente internet): Procurou identificar se o

operador era formal (autônomo com credenciamento ou empresa

legalmente constituída), sua formação, roteiros operados, se

desenvolvia atividade voluntária no PNMNI e opinião aberta sobre o

PNMNI.

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120

Como complemento a estas duas pesquisas e após haver sido

selecionadas as trilhas a ser avaliadas, procedeu-se às seguintes avaliações:

· Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no

PNMNI (internet e coleta de dados em campo). Buscou-se identificar a

origem do visitante, tempo e meio de acesso, freqüência anual da

visita, tempo médio de permanência; aspectos ligados à percepção

ambiental e cognição ambiental e predisposição a se pagar pelos

serviços de condução de visitantes na Unidade.

A aplicação do questionário pretendeu auxiliar na oferta de novos

produtos para lazer quanto a avaliar o potencial de se instalar serviços

de condução de visitantes formais, como uma atividade econômica

consolidada. A sua montagem foi baseada nos questionários de

valoração de uso recreativo e ecoturístico desenvolvidos por MALTA,

(2008).

Para otimizar a coleta de dados e propiciar um canal adicional de

comunicação com o usuário do parque, foi encaminhado à direção do parque um

ofício para a elaboração voluntária de um site denominado “Amigos do Parque”

(anexo 01). Cabe destacar que este site se consolidou como o site oficial da

unidade, onde foi estabelecida, além de informações gerais da unidade, uma seção

exclusiva para a administração. Neste site foram disponibilizadas as três pesquisas

referidas: Pesquisa de fluxo e dispersão de visitantes (anexo 02); Pesquisa de perfil

e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza (anexo 03) e

Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI (anexo 04).

O conteúdo destas pesquisas foi o mesmo a ser utilizado nos levantamentos

de campo pelo autor. Foram realizadas ainda chamadas no site de relacionamentos

ORKUT em comunidades afins ao PNMNI. Para identificação destas comunidades

procedeu-se a pesquisa utilizando a ferramenta de busca interna para Comunidades

do próprio site, utilizando as chaves: Parque Municipal + Nova Iguaçu, Serra do

Vulcão e Vulcão + Nova Iguaçu; visto serem as mais percebidas na mídia.

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121

Com exceção das comunidades de vôo livre, foram enviadas mensagens para

as seis comunidades que possuem atividades de visitas ao PNMNI, notadamente a

região da rampa de vôo livre e Pedra da Contenda. Com chamada em 07/09/2007,

decorridos 120 dias, houve poucas manifestações. Credita-se a esta situação o fato

de que as comunidades encontradas no site de relacionamentos “Orkut”, embora

possam ter listados numerosos membros, muitos fazem parte de várias

comunidades similares e pela datação e volume das mensagens trocadas,

percebeu-se que provavelmente o acesso a estas comunidades parecem não ser

constante. Deste modo, confirma-se a pouca eficiência deste veículo para

mobilização em causas não tão importantes e relevantes para todos.

Como complemento às pesquisas de identificação do perfil do visitante, do

operador e o padrão de dispersão relacionado, foi criada a “Pesquisa de valoraçăo

econômica dos serviços de conduçăo de visitantes no PNMNI”. Este questionário,

um pouco mais completo, visou captar informações para uma possível valoração

contingente de serviços de condução em trilhas e perfil socioeconômico, de modo a

antever as possibilidades de sustentação da atividade profissional de guias de

ecoturismo (Anexo 4). Nesta pesquisa, além de se avaliar o custo de deslocamento,

predisposição para gastos com serviços de guias, foram introduzidas perguntas

quanto à oferta de alimentação e souvenirs no parque.

3.2.1.2 Definição da base amostral

Os padrões de dispersão dos visitantes são fortemente influenciados pelo seu

perfil (faixa etária, nível social, motivação, disponibilidade financeira, sazonalidade,

clima, acessibilidade, entre outros). No PNMNI, há controle de entrada de visitantes,

porém restrito à entrada principal. Anteriormente, até inicio de 200629, havia um

apontamento, irregular, de dados referentes ao gênero, idade e município de origem

dos visitantes; porém devido a constantes dificuldades com recursos humanos e

remanejamento de funcionários, o acompanhamento da visitação se restringe

atualmente à contagem pouco criteriosa através de uma roleta instalada na guarita.

29 Conforme informação de funcionários da portaria.

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122

Nesta contagem, por exemplo, não são computados os praticantes de

caminhadas matinais, que constituem um grupo regular e expressivo de usuários do

Parque e muitos estendem suas atividades físicas até o Casarão. Neste sentido, o

ato de passar na roleta tem sido utilizado pelos agentes de portaria, mais para

orientação e fiscalização dos visitantes do que para controle de lotação. A ausência

de dados exatos para o estabelecimento da base amostral limitou as projeções e

análises estatísticas.

De fato, para o adequado conhecimento do perfil de visitantes e de seu

padrão de dispersão (como os visitantes ocupam os diferentes atrativos, que vias

utilizam para tal, que atividades desenvolvem...), se faria necessário, a princípio, um

controle mais eficaz de entradas e saídas. Assim, mesmo metodologias mais

acessíveis, como Amostragem Casual ou Aleatória Simples e aquelas um pouco

mais elaboradas, como a Amostragem Proporcional Estratificada - onde é possível

identificar não só a composição média dos usuários e, sobretudo, coletar dados

aptos para a criação de estratos, de modo a se poder aferir características próprias

de cada subgrupo, conforme preconizada por Tiboni (2002:22-23) - seriam mais

factíveis.

Dada a inconsistência dos dados, optou-se por definir duas faixas no

calendário, que pudessem colaborar no esforço do Parque em combater a

sazonalidade e estimular outras atividades. Sugeriu-se à administração que se

colocasse no calendário duas temporadas com atividades predefinidas no calendário

de eventos: Uma de verão, que se estende de dezembro a fevereiro do ano

subseqüente e outra de inverno (maio a junho, temporada de montanhismo no

calendário nacional).

Segundo dados coletados junto à portaria, o volume anual de visitantes gira

em torno de 30.000 usuários, principalmente se considerando que em dias de muito

calor é possível registrar cifras em torno de 1.200 usuários/dia aos fins de semana.

Face a estas condições, optou-se por admitir algo em torno de 1% do universo

amostral, como indicativo de “tendência”.

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123

A amostra ficou estipulada em 184 questionários, de um universo presumível

de 18.393 usuários, incluindo a totalidade dos dados das temporadas conforme

mostra o quadro 06:

Temporada de referência

Visitantes registrados na guarita do PNMNI

Tamanho da amostra (1%)

Questionários realizados 01 02 03

Temporada de verão Dez /2007 a Fev/2008

12.563 126 125 (49) 0 0

Temporada de inverno Mai - Jul/2008

05.830 058 058 (17) 0 100 (33)

Total: 18.393 184 183 (86) 0 100

Legenda 01: Questionário Perfil e dispersão de visitantes 02: Questionário Perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza

03: Questionário Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI

(n): Nº de questionários respondidos diretamente no site www.pmni.infotrilhas.com Quadro 06 Cálculo da base amostral para realização dos questionários de Dispersão de visitantes no PNMNI Fonte: Mello, Flávio A. P. (2008)

Deve-se salientar que o fato de não haver dados referentes ao “Questionário

Perfil e dispersão de operadores de ecoturismo e lazer na natureza” se deve à

postura pouco colaborativa dos operadores com os quais houve contato. A

percepção constatada é de que o questionário foi interpretado como uma tentativa

de identificação, e, conseqüentemente controle, temor este justificado pelo fato de

que a maioria contada não dispunha de licenciamento ou capacitação técnica

evidente para o exercício da atividade. Esta situação deve ser considerada pela

administração do Parque a partir do momento em que ordenar o uso público de para

ecoturismo e práticas de lazer de aventura.

3.2.2 Coletas de dados informais.

Como estratégia complementar para a identificação do perfil do visitante, mas

em caráter geral, foram realizadas observações pessoais, entrevistas informais com

usuários durante visitas ao Parque ou nos passeios conduzidos através do Projeto

“Amigo do parque conhece o Parque”, funcionários do parque na guarita de entrada

e depoimentos da direção da Unidade.

Page 124: DissertacaoZen2 - completa

124

A escolha por este método complementar ocorreu ao se perceber que havia

um grande banco de dados informais no coletivo relacionado ao Parque e que

poderia ser abordado com mais liberdade e de maneira mais informal, oferecendo

informações valiosas sobre aspectos gerais do Parque.

3.3 Ordenamento da malha de trilhas

Para o ordenamento da malha de trilhas, isto é, para estabelecer uma seleção

de trilhas existentes, atalhos, picadas e demais vias que pudessem ser incorporadas

em um conjunto de caminhos que pudessem contribuir para a orientação do fluxo de

visitantes dentro do PNMNI, procedeu-se com as seguintes etapas:

3.3.1 Levantamento de traçado

Concomitantemente aos levantamentos preliminares do perfil dos visitantes e

padrões de dispersão, foi conduzido o levantamento de atrativos, trilhas e caminhos

que pudessem ser utilizados na confecção de roteiros que deverão orientar o PNMNI

a reconhecer atrativos já consolidados pelo uso informal e suas vias de acesso, e

conseqüentemente, lançar as bases para proposta de zoneamento turístico e de

lazer. O PNMNI não dispõe das bases digitais da malha de trilhas existentes. Seus

registros incluem Estrada da Cachoeira e referências da Trilha do Pau Pereira e

Trilha do Mendanha que faz ligação com o Parque Natural Municipal do Mendanha.

A administração conhece as trilhas do Mata-Fome, da Contenda e do Gericinó

e do Mendanha, sendo que estas duas últimas e a Trilha do Pau da Letra estão

próximas à Zona Intangível e Primitiva e por este motivo, não foram consideradas

neste levantamento diagnóstico. A presente dissertação procurou evitar a “cunha”30

que a Estrada da Cachoeira faz na Zona primitiva.

30 Coloca-se a expressão “cunha” por que a Estrada da Cachoeira ao atingir as Ruínas do Clube Dom Felipe, quase que literalmente divide a Zona primitiva em duas, evidenciado o fenômeno de Fragmentação florestal já comentado neste trabalho.

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125

Destaca-se que o Plano de Manejo do PNMNI já prevê que as visitas após o

Poço da Natureza, ponto mais extremo da área de uso intensivo, devem ser

acompanhadas por guias autorizados pela unidade. Assim, buscou-se orientar o

levantamento de traçado para as áreas da zona de Uso extensivo, cuja vegetação

apresentasse menor vulnerabilidade ao aumento da visitação.

Observou-se ainda que nesta fase de desenvolvimento do PNMNI, os

atrativos tendem a se concentrar a noroeste e nordeste do eixo Guarita - Casarão,

mais especificamente na borda atendida pela estrada do Tatu-Gamela e a Pedra da

Contenda - Varginha - Vale do Levi. Estas por sua vez, coincidem com as áreas cuja

vegetação se compunha basicamente de pastagens degradadas e possuíam maior

potencial para caminhadas com grandes mirantes e em espaços abertos conforme

fotografia 06:

Fotografia 06: Panorâmica da Varginha (a “cratera” do vulcão de Nova Iguaçu-RJ) Foto de Flávio A. P. Mello. 02/06/2008

Cabe destacar que o Vale do Mata-fome, com a trilha do mesmo nome, é

uma importante ligação da Estrada da Cachoeira com a Estrada do Tatu-Gamela.

Esta trilhas esta localizada a aproximadamente 100 metros do Mirante do Alto, mas

é um tanto ignorada pela administração, tanto para as visitas guiadas, quanto para

ações de fiscalização. Na figura 09, é demonstrado às áreas supracitadas e a

fragmentação induzida pela Estrada da Cachoeira.

Pedra da Contenda

Varginha ( a “cratera” do Vulcão de Nova Iguaçu)

Maciço do Tinguá (ao fundo)

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126

Legenda

Zona preferencial para “Trekkers”

01 Complexo do Vulcão: Pedra da Contenda - Varginha - Vale do Levi

02 Acesso è Rampa de Vôo Livre: Estrada do Tatu-Gamela

03 Vale do Mata-Fome

“Cunha” da Estrada da Cachoeira

Legenda do Mapa base Zona de Uso Especial Zona de Uso intensivo Zona de Recuperação Zona de Uso extensivo Zona primitiva Zona Intangível

Figura 09: Zoneamento territorial-ambiental destacando a fragmentação induzida pela zona de uso extensivo (como uma “Cunha”) que se projeta na zona primitiva e áreas com potencial para uso de trekkers Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

01

03

02

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127

Assim sendo, foi iniciado o reconhecimento em campo das trilhas mais

utilizadas e a identificação de outras entradas e pontos de interesse, utilizando

aparelhos de GPS (Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global)

de navegação manual das marcas Garmin (modelos 12 XL e GPSmap 76S). Devido

à geografia local e a cobertura vegetal ser menos densa na maior parte das trilhas

encontradas nas áreas de uso especial, intensivo e extensivo, não foram observadas

limitações como perda de sinal provocada por obstáculos naturais (afloramento

rochoso, copas das árvores na área de floresta), principalmente por terem sido

escolhidos dias com poucas nuvens e não existirem edificações, torres de

eletricidade, por exemplo, que poderiam comprometer a recepção dos sinais de

modo mais significativo.

De modo geral, a degradação considerável do sinal provocado pelo EPE (erro

de efeméride) oscilou entre 3 m a 10 m de erro, o que de certa forma não dificultou o

mapeamento mais detalhado, na carta topográfica (1:10.000). Para otimizar a

eficiência da ferramenta de GPS com a cartografia digital a ser trabalhada em

Sistema de Informação Geográfica, foi realizada a superposição da base gerada

com imagens do Google Earth. Para a seleção da melhor opção de traçado,

considerou-se o estado de conservação dos caminhos quanto a erosão e

declividade, incluindo a possibilidade de se chegar à Pedreira Vigné, da qual se

avista a cidade de Nova Iguaçu, oferecendo um belo contraste entre três aspectos

da ocupação: a unidade de conservação representada pelo PNMNI, a Pedreira

Vigné, denotando a exploração econômica do recurso natural e as transformações

na paisagem pela ocupação urbana. No Vale do Levi, entretanto, a porção da Trilha

da Varginha, que se estende da Pedreira desativada São José até a Praça do Boi,

início da Varginha propriamente dita, dois aspectos condicionantes interferiam na

definição traçado:

· O seu terço final, praticamente se localiza as margens de um riacho

temporário e muitas vezes segue por seu curso. Próximo a seu final

cruza uma nascente, com pouco volume de água. Assim, considerando

a legislação ambiental vigente acerca dos cursos d’água e nascentes,

optou-se por deslocar o traçado para as encostas, mantendo-se o

caminho original como uma trilha de serviço.

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128

· Para a elaboração do novo traçado, a seleção do caminho mais

adequado deveria ser observada entre uma rede de caminhos que

cruzam a encosta. Para tanto se observou como critério de seleção, a

constatação de eventos erosivos e a declividade de percurso,(sendo

considerados aceitáveis o gradiente entre 0° e 15°.

A multiplicidade de caminhos encontrados são acessos construídos pelo

pisoteio de bovinos em seu deslocamento a procura de pastagens, sendo que

alguns são utilizados rotineiramente por usuários do Parque. Cabe frisar que embora

o PNMNI tenha sua situação fundiária resolvida, o mesmo não possui fiscalização

mais intensiva para coibir o transito destes animais e também não possui eco-limites

implantados (como cercas) o que facilita a invasão de animais de propriedades

próximas e queimadas, embora muitas sejam causadas por balões. Entretanto, na

ocasião do levantamento das trilhas, houve um grande incêndio nas áreas de Vale

do Levi e da Varginha, que expôs os caminhos acima mencionados, facilitando de

certa forma a visualização dos traçados que deveriam ser selecionados.

Para a seleção do caminho mais adequado ao uso como trilha turística, foram

estabelecidos alguns critérios para a seleção do mesmo e depois ser procedido o

registro com o uso do GPS. Na avaliação visual, foi identificado que muitas das

“trilhas” dos bois coalescem em trilhas mais regulares, que por sua vez tendem a

manter por grandes extensões, gradientes em torno de 5 a 15% (positivas e

negativas). Na prática, os bois, diferentemente de muitos usuários de unidades de

conservação, não gostam de atalhos e tendem a obedecer as curvas de nível em

seu deslocamento. Muitos caminhos, de fato, se entrecruzam e muitas vezes

terminam abruptamente. Assim, optou-se então pela seleção prévia de pontos de

referencia chaves e em seguida a avaliação das melhores opções de caminhos,

buscando identificar os segmentos que fossem mais regulares, mantivessem em sua

extensão declividades não superior a 15% e ainda, que fosse possível interligá-los

sem grandes obras de construção ou manutenção.

Com estes parâmetros, no levantamento de campo foram selecionados dois

caminhos, que facilmente se confundiam nas vertentes analisadas e dificultava a

aproximação ao ponto de referência estabelecido no mirante localizado próximo a

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129

quatro mangueiras antigas e dispostas em linha, ao lado de afloramento rochoso

sobre o qual se localizava a casa do antigo morador de nome Levi, do qual se

estabeleceu a toponímia para este vale sem identificação no plano de manejo ou em

consultas com alguns moradores antigos. Para facilitar a visualização dos traçados

escolhidos, foram confeccionadas bandeirolas, presas a varas de bambu (1,5 m),

feitas de saco de ração canina com aproximadamente 0,40 cm de comprimento e

colocadas na trilha para análise visual desde o ponto de início ao ponto final (com

eqüidistância média de 50 a 75 metros), conforme pode ser observada nas

fotografias 07 e 08:

Fotografia 07: Detalhe da bandeira Fotografia 08: Marcação da Trilha com visualização das bandeiras

Localização e seleção de trilhas com sinalização alternativa Flávio A. P. Mello (2007). Local: Vale do Levi / PNMNI.

Havia sido cogitado a possibilidade de antecipar o registro definitivo com o

GPS, identificando o melhor traçado a partir das curvas de nível; entretanto se

observou que as duas “trilhas” percorriam uma encosta com inclinação média de 35

a 50° e o EPE (erro de efeméride) oscilou entre 3 m a 10 m de erro, conforme

referido; margem de erro suficiente para comprometer o traçado feito em gabinete,

daí a aplicação do método de sinalização alternativa em campo. Como avaliação

complementar, observou-se a sinalização a partir da vertente oposta, assim foi

possível identificar o melhor traçado visualmente a partir da sinalização estabelecida.

Salienta-se que além dos critérios de uso histórico, acessibilidade e presença

de atrativos já consolidados ou potenciais; o levantamento dos traçados para a

seleção das trilhas foi dirigido de modo a possibilitar a criação de pelo menos uma

trilha de grande percurso, face o público a ser beneficiado, a se denominar Circular

Externa, conforme proposta estabelecida no Parque Nacional da Tijuca durante a

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130

gestão de Pedro da Cunha e Menezes, Diretor-Executivo do Parque Nacional da

Tijuca (1999 – 2000). Para a estruturação da “Grande Trilha Circular do Parque

Nacional da Tijuca” foram utilizadas trilhas e picadas existentes, com as quais se

compôs duas trilhas circulares concêntricas: a externa, “Major Archer” (com cerca de

35 km) e a interna, “Castro Maya” (com cerca de 15 km); esta última a uma altitude

inferior à primeira e desenhada de modo a incorporar em seu traçado grutas, prédios

históricos, ruínas e restaurantes.

3.3.2 Identificação de atrativos

Para o presente trabalho, a identificação dos atrativos se baseou no registro

de atrativos já consolidados, a exceção de proposições de mirantes que foram

sugeridos a partir de observações de campo durante o levantamento da malha de

trilhas. Destaca-se que principalmente no eixo do Rio Dona Eugênia, a exceção do

Poço do Escorrega, das Cobras e do Casarão, as toponímias atualmente existentes

para os poços foram criadas por funcionários de administrações anteriores ou

alteraram nomes existentes, como é o caso do Poço da Morte que passou a se

chamar de Poço da natureza e aproximadamente quatro anos para cá.

3.3.3 Zoneamento Recreativo.

Identificadas e selecionadas as principais trilhas a ser trabalhadas, procurou-

se estabelecer regiões geográficas, nas quais fossem diagnosticadas atividades

instaladas ou potenciais. Em termos de gestão, o tratamento diferenciado para

regiões com aptidões diferenciadas pode definir o sucesso da gestão, dos

investimentos e conservação do patrimônio natural e construído. Lugares com

identidades bem definidas tendem a atrair perfis específicos de visitantes.

Deve-se salientar que dentre as observações da administração, o sobreuso

de alguns atrativos (notadamente os poços e cachoeiras até o Casarão) por grande

parte dos usuários deve-se a pouca oferta de locais e atividades diferenciadas.

Considerou-se para tanto, o Zoneamento Territorial e ambiental do PNMNI como

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131

base para o estabelecimento de zoneamento turístico, de modo a procurar atender

as demandas da Unidade. Para fins operacionais, procurou-se identificar estas

zonas como subsistemas, de acordo com os parâmetros de Campbell (1958),

referidos por Christofoletti (1979): como a proximidade espacial, a similaridade,

objetivos comuns e padronagem distinta ou reconhecível de suas unidades. Neste

sentido, para avaliar cada zona como um subsistema, foram utilizadas as feições

geomorfológicas dos vales como unidades de identificação e caracterizadas através

da metodologia ROS, cujos objetivos são:

· Identificar, delinear e classificar as áreas em classes de oportunidade

de recreação, de acordo com seu estado de natureza, grau de

isolamento e experiência de visitação esperada;

· Prover informações sobre as oportunidades de recreação existentes

para administradores, de modo a auxiliá-los nas tomadas de decisão

referentes ao uso da terra, desenvolvimento dos recursos e ações de

manejo.

O ROS caracteriza as oportunidades de recreação como a combinação de

ambientes e experiências prováveis, categorizando-as em seis classes, definidas por

critérios como grau de modificação do meio, acessibilidade, oportunidades de

interação social e controles administrativos. Salienta-se que esta classificação é

hipotética, amplamente subjetiva, mas que estabelece padrões explícitos para cada

uma delas. Estas categorias são classificadas em Área primitiva, Semi-primitiva não

motorizada, Semi-primitiva motorizada, Natural com vias de transporte, Rural e

Urbana. Esquematicamente pode-se caracterizar como a figura 10:

Figura 10 Oportunidades recreativas a partir da modificação do meio. Fonte: Mello, 2007. In Palestra: Capacidade de carga aplicada ao Ecoturismo. I Ciclo de Palestras sobre ecoturismo e Conservação da Natureza. Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Abr/ 2007).

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132

O Quadro 07 a seguir descreve as características de cada classe recreativa,

de acordo com a metodologia ROS:

Quadro 07: ROS – Classes de Oportunidades Recreativas segundo o ROS Fonte. Graefe et al. apud Hauff, 2000. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

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133

4.0 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES

Visando atender os objetivos definidos, vários resultados foram obtidos,

sendo que alguns foram imediatamente absorvidos pela administração da Unidade.

De fato, considerando trabalhos acadêmicos realizados que foram relacionados

como projetos de pesquisas, dissertações, artigos técnicos e outros, o ineditismo

desta abordagem, focado em uma necessidade real e imediata da gestão, somado

ao estreitamento dos contatos com a administração e funcionários, possibilitou a

criação de várias oportunidades para se testar hipóteses e consolidar estratégias de

gestão, muitas previstas mas não operadas. Desta forma, foram gerados 4 grupos

de produtos, alguns já aplicados, conforme referido anteriormente, e outros que

poderão ser utilizados pela administração do PNMNI futuramente, que estão

resumidos no quadro 08:

Área Descrição Aplicação

Operação Imediata Subsídio

Visitantes Perfil do visitante Padrão de dispersão

Ordenamento da malha de trilhas

Trilhas e atrativos selecionados Roteiros sugeridos Valoração econômica dos serviços de condução

Zoneamento Alteração do zoneamento territorial ambiental Zoneamento de oportunidades de lazer Ordenamento das ambiências da Zona de uso

intensivo (até o Casarão)

Apoio à Gestão

Site Voluntariado Projetos Mutirões Temporada de Verão Temporada de Inverno (de montanhismo) Pesquisa permanente de perfil e dispersão

Observações: A coluna Aplicação diz respeito ao grau de interação com a administração do parque, onde “em operação” relaciona os produtos e sugestões já em andamento; “imediata”, item disponível para aplicação e “subsídio” refere informação que pode auxiliar na compreensão do assunto em questão. O subitem “Gestão” relaciona duas condições: “imediata” onde a UC pode aplicar já ao tomar conhecimento mais detalhado. A condição “subsídio” alerta que a informação deve ser utilizada para estudos complementares ou aprofundamentos da temática. Quadro 08: Produtos gerados na dissertação Flávio A P Mello 2008

A seguir são descritas os produtos e as principais proposições desta

dissertação

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134

4.1 Caracterização e reavaliação das vias de visitação do PNMNI

Entende-se que o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu é uma unidade

eminentemente urbana, com 45% de sua área (aproximadamente 462,9 hectares)

aberta à visitação. Destaca-se que aproximadamente 47,6 hectares (4,7%) é

dedicada à visitação intensiva e 394,1 ha (38,3% de sua área total) aberta à

visitação extensiva, conforme discriminado no quadro 09:

Discriminação Área (ha) % Observações gerais

Zona de relevante interesse para manejo da UC

59,5 - Faixa de entrada do Parque, envolve a Represa Epaminondas Ramos, Pedreira São José e área ao longo do Córrego da represa até a cota 530 m. Complementa a área de uso intensivo, embora não faça da área oficial do Parque total: 59,5 -

Zona de Uso Especial 05,7 0,7 Faixa ao longo do Rio Dona Eugênia, a partir da Represa Epaminondas Ramos até a Sede.

Zona de Uso Intensivo 41,9 4,0 Compreende áreas ao longo do Rio Dona Eugênia, a partir da Sede até arredores do Casarão.

sub-total: 47,6 4,7

Zona de Uso Extensivo 394,1 38,3 Envolve as áreas mais antropisadas, principalmente com capoeiras e pastagens degradadas. Estende-se do Casarão ao Clube Dom Felipe e ocupa os vales do Levi e Varginha.

Zona de Recuperação 21,2 2,0 Áreas degradadas com solos expostos localizadas nas zonas de uso Intensivo e Extensivo. Oriundas de antigos sítios antes da formação do PNMNI

Total de área aberta à

visitação*: 522,4 48,0

Inclui área de relevante interesse para manejo da unidade

Zona Primitiva 384,1 37,3 Área com alto grau de conservação, envolve a Zona

Intangível. A área de uso extensivo se projeta fortemente fragmentando esta massa florestal em duas partes.

Zona Intangível 182,8 17,7 Matas preservadas de cotas mais elevadas. É um núcleo envolvido pela Zona primitiva

Total de área de visitação controlada

566,9 52,0

Área total da unidade: 1.089,3 ha

Quadro 09: Quadro analítico de áreas abertas à visitação no Zoneamento territorial e ambiental do PNMNI Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001:77. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Dado o pouco desenvolvimento da Zona de Uso Extensivo, principalmente no

que tange as atividades de caminhadas e ecoturismo - apesar do potencial

paisagístico ser bastante expressivo – foi possível constatar que o PNMNI possui

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135

uma área extremamente significativa para o desenvolvimento destas atividades, pois

são 522,4 hectares disponíveis para visitação em áreas de relevo acidentado, com

vários riachos, matacões e inúmeras possibilidades de lugares e mirantes.

Cabe observar que embora o plano de manejo conte com o zoneamento

territorial-ambiental, foi constatado, através de entrevistas e depoimentos coletados

junto à administração da UC, que a maioria dos programas de manejo para a

implantação e operação do PNMNI ainda se encontram em fase muito preliminar e

alguns não foram sequer iniciados. Dentre eles, destaca-se o “Programa de Uso

Público do Parque” que afeta diretamente a gestão da visitação, através dos

subprogramas de Ecoturismo, Interpretação e Informação Ambiental e de Recreação

e Lazer. Nos quadros 10, 11, 12 são relacionadas as principais atividades previstas

para cada subprograma referido e comentários atualizados durante o levantamento

de dados para este trabalho:

Atividades previstas Comentários

· Mapeamento de atrativos ao longo da estrada da cachoeira até as Ruínas do Clube de Campo Dom Felipe

· Estabelecer de caminhadas

guiadas até as Ruínas do Clube de Campo Dom Felipe

Não há conhecimento de levantamento formal dos atrativos. O estudo mais próximo ficou restrito da Guarita ao Casarão (Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Elaborado pela Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. P 07 - Setembro /outubro de 2004).

Quadro 10: Programa de Uso Público do Parque - Subprograma Ecoturismo Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001:74. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Atividades previstas Comentários

Implantação do Centro de Visitantes com várias atividades previstas como:

· Exposições permanentes e temporárias,

· Serviços de visitas guiadas, · Projetos interpretativos, · Construção de quiosques para

atendimento complementar ao visitante.

Em fase de Licitação. Implantação prevista para 2009. Verba oriunda de projeto encaminhado ao Fundo Estadual do Meio Ambiente

Quadro 11: Programa de Uso Público do Parque - Subprograma Interpretação e Informação Ambiental Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001: 72-74. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

.

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136

Atividades previstas Comentários

Implantação de sistema de cobrança Não implantado

Implantação e controle do nº de visitantes em três áreas de piquenique

Implantada apenas a área perto da Ponte da Curva que se encontra desativada.

Padronizar pontos de venda para lanches e produtos essenciais na zona de uso intensivo

Não implantados. Atualmente funciona informalmente um pequeno quiosque não padronizado nos dias de maior afluxo de visitantes.

Pedreira Desativada São José · Estabelecer 04 vias de rapel · Palco para shows e eventos

A Pedreira havia sido concebida também como possível área de estacionamento, contudo as administrações optaram por não sacrificar o local e consolidá-lo como espaço multiuso, dado a facilidade de acesso e deficiência de espaços amplos para eventos no Parque. Foi construído um pequeno palco e a capoeira que se estabeleceu marginalmente aos pés dos paredões da Pedreira compuseram uma paisagem que vêm sendo utilizada para práticas de Educação Ambiental, Observação de Aves, área de lazer, área de eventos oficiais da Unidade. Foram abertas informalmente duas vias de rapel, mas a principal foi fechada por problemas erosivos.

Trilhas interpretativas · Identificação e implantação

de duas trilhas autoguiadas na zona de uso intensivo

O DRM, através do Projeto Caminhos Geológicos implantou uma trilha interpretativa sinalizando 6 pontos com atrativos geológicos. Algumas placas foram retiradas e os guias, tanto do parque, quanto informais, não utilizam os atrativos e informações da sinalização

Trilhas para passeios guiados (Identificação e implantação de duas trilhas guiadas e interpretadas na zona de uso intensivo) Indicações:

· Trilha da Pedra da Contenda · Trilha do Pau da Letra

Foi implantada a trilha do Pau Pereira, para visitas guiadas e autoguiadas, mas não possuem detalhamento interpretativo. A trilha da Pedra da Contenda, como concebida, não foi implantada. A trilha da Contenda contemplada neste trabalho refere-se à trilha já consolidada historicamente pela comunidade local (trilha do Quilombo). A trilha do Pau da Letra, pela distância e localização (próximo a zona primitiva) não tem sido usada pela administração que desconhece formalmente sua situação.

Proibição do acesso à trilha do Gericinó (acessa o campo de treinamento do Ministério do Exército)

Possui a mesma situação da trilha do Pau da Letra, porém deve ser reavaliada devido à criação da APA de Mesquita e Parque Natural Municipal de Nilópolis, cuja prefeitura conseguiu uma concessão do Ministério do Exército.

Construção do Mirante para o Vale do Rio Dona Eugênia e Cachoeira Véu da Noiva

Foram construídos 03 mirantes, um na Estr. da Cachoeira pouco antes do Poço da Natureza (estrutura de apoio em madeira foi retirada), um na trilha do Pau Pereira (estrutura de apoio em madeira/bambu foi retirada) e outro, pequeno, em uma ramificação com vista para a cachoeira Véu da Noiva, ainda operacional.

Cursos para capacitação de Guias locais e reciclagens regulares

Não implantados. Visitas guiadas do parque são exercidas por 02 funcionários e por guias informais.

Casarão: Implantar Centro de Visitantes

O Casarão será reformado como centro de visitantes a partir de 2009 graças à verba do Fundo Estadual de Meio Ambiente. Estão previstos além da reforma do Casarão, reforma da sede, melhorias na Estrada da Cachoeira no trecho Guarita – Casarão, incluindo reformas nas pontes da Curva e Casarão e áreas de apoio ao usuário próximo ao complexo Poço das Cobras-Casarão.

Quadro 12: Programa de Uso Público do Parque - Subprograma Recreação e Lazer Fonte: Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Versão Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001: 70-72. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

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137

Na avaliação dos quadros 10, 11 e 12, observa-se que o planejamento da

visitação foi concentrado na Estrada da Cachoeira, devido à acessibilidade e

concentração dos atrativos mais importantes, atendendo ao perfil de visitação

intensiva, cuja motivação principal é o lazer nos poços do rio Dona Eugênia e

caminhadas curtas ao longo da Estrada da Cachoeira até o Casarão, sendo que

algumas são atividades matinais de caminhada e corrida pela população de bairros

próximos de Mesquita e Nova Iguaçu, ocorrência que já era percebido já na época

de sua criação. É importante destacar que desde a criação do Parque (ano 1998), a

referência ao “Vulcão de Nova Iguaçu” já era reconhecida pela mídia e população

local como um importante atrativo. Tendo sido usado regularmente tanto por guias

informais, quanto pelo próprio poder público como um chamariz para atividades

“turísticas”.

Não se observou registro, ou mesmo uma estruturação preliminar no plano de

manejo vigente, para o desenvolvimento de atividades que envolvam caminhadas

mais longas e o aproveitamento de aspectos cênicos mais relevantes. Estes

atrativos estão mais concentrados na região da Varginha (área da suposta cratera

do “vulcão” de Nova Iguaçu), Pedra da Contenda e as paisagens do Vale do Levi,

assim como a Rampa de Vôo Livre, que embora tenha seu acesso principal através

da estrada do Tatu-Gamela, fora dos PNMNI, está localizada na unidade, tendo sido

consolidada como atrativo para trekkers, além de sua importância como rampa de

vôo livre. Destaca-se que a administração não possui controle mais efetivo do uso

da Rampa quanto ao seu uso e acesso.

De fato, as trilhas privilegiadas no referido plano de manejo se concentram no

interior do Parque, a uma distância de aproximadamente 4,5 km da guarita, próximo

das áreas mais preservadas do Maciço do Gericinó-Mendanha. Uma das

justificativas para esta atenção se deve as trilhas do Gericinó e Mendanha, que

poderiam sugerir travessias para o Campo de Treinamento do Gericinó e para o

Parque Natural Municipal do Mendanha, respectivamente. Como exceção, foi

construída a trilha do Pau Pereira, localizada na Zona de Uso Intensivo, com

aproximadamente 600 metros e que descreve um arco entre o Casarão e uma

entrada logo após a Ponte da Curva. Contudo, mesmo com a ausência de

estruturação da Zona de Uso Extensivo, a popularização do ecoturismo e das

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138

atividades ao ar livre e a constante exposição do PNMNI na mídia, estimularam o

crescimento da demanda e apropriação informal de lugares pelos novos visitantes,

em áreas sem planejamento previsto no plano de manejo vigente, um tanto à revelia

da administração da UC.

Sem a devida incorporação administrativa destes novos territórios por parte

do PNMNI, a sub-utilização gerou alguns impactos, conforme pode ser constatado

nos levantamentos de campo, como por exemplo, o comprometimento de flora, a

erosão de encostas por prática de rapel na Pedra do Quilombo (da Contenda) e na

Pedreira desativada e a deterioração de trilhas, como as trilhas da Pedreira e Mata-

fome, Levi e Varginha (fotografias 09 e 10). Salienta-se ainda a existência da caça

de pássaros na área da Varginha e partes altas do PNMNI e a presença de gado

(Varginha e Vale do Levi), oriundos de algumas poucas e pequenas propriedades do

entorno, os quais contribuem para a manutenção de um ciclo de queimadas para

renovação de pastagens dentro da unidade.

Fotografia 09: Erosão e queimadas no Vale do Levi Fotografia 10: Lixo na Trilha da Varginha Flávio A. P. Mello. 09/2007 Flávio A. P. Mello.09/2007

4.2 Caracterização do perfil do visitante e seu padrão de dispersão.

É de senso comum, entre os funcionários da administração do PNMNI, que a

grande maioria dos visitantes e usuários utiliza a unidade basicamente para lazer

através de banhos nos poços do Rio Dona Eugênia, cuja sazonalidade encontra seu

pico no verão e em feriados de dias quentes. Sabe-se que as atividades de

caminhadas propriamente ditas, tendem a se concentrar na Estrada da Cachoeira,

entre a Guarita e o Casarão, havendo também uma menor movimentação até o

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139

atalho que dá acesso à cachoeira Véu da Noiva em sua porção superior (a “Janela

do Céu’) e poço da Natureza, a aproximadamente 800 metros após Casarão.

Já a utilização das trilhas para caminhadas e ecoturismo é inexpressiva,

conforme relatos e observações realizadas durante a coleta de dados nesta unidade

de conservação. Embora haja guias informais - os quais de modo geral não são

habilitados legalmente, estes tendem a ter como atividades de maior atenção o rapel

desenvolvido na Pedra do Quilombo (ou Contenda) e Pedreira desativada São José

como “proposta de turismo de aventura”. Outras características locais que de fato

podem abrir mais possibilidades de mercado, tanto em termos de produtos quanto

de consumidores, não são exploradas.

Desta maneira, o conhecimento do perfil médio do visitante e seu padrão de

dispersão é uma condição essencial para a gestão de unidades de conservação

abertas ao público, pois permite antever através do padrão comportamental frente ao

uso dos recursos naturais, apontar tendências de territorializações. A discriminação

de classes de usuários com maior detalhamento, contudo, permite ajustes com mais

eficiência e em algumas situações pode ser prevista a formação de lugares,

conforme aumenta o fluxo de visitantes.

Entretanto, é comum, na ausência de recursos humanos e materiais, que o

gestor opte por concentrar o maior volume de visitantes em áreas já consolidadas e

de fácil acesso por uma questão operacional. Neste sentido, a UC estimula a

massificação de parte de seu patrimônio de lazer e ecoturístico, por conseqüência e

não por opção; mesmo ciente de que o excesso de visitantes, em áreas restritas,

diminui a qualidade da experiência do visitante, pressiona o patrimônio natural (e

construído) e faz com que se altere o perfil sócio-econômico do usuário menos

exigente, condição esta que acaba por desqualificar a unidade em algumas

situações.

No caso do PNMNI, sendo uma unidade relativamente nova e por não ter

concluído diversos aspectos do plano de manejo, a massificação do eixo dos poços

da Estrada da Cachoeira entre a Represa e o Casarão, acabou sendo estimulada

indiretamente pela falta de investimentos, visto que ao se analisar o entorno, o

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140

PNMNI se configura como uma das poucas opções de lazer gratuito de

comunidades locais, principalmente as carentes, cuja motivação foi fixada pela

proximidade e ausência de ofertas alternativas.

O objeto de estudo deste trabalho são as trilhas e como elas podem colaborar

para o estabelecimento de um novo zoneamento de lazer e turístico, de modo a

interferir em diversos aspectos da visitação, como sazonalidade, motivação e

alteração do perfil médio do visitante. Neste sentido as observações de campo

caracterizaram, em um primeiro momento, os subgrupos atuantes no PNMNI nos

aspectos referidos. Contudo, através da realização de questionários, se buscou

confirmar estas observações e informações complementares.

Segundo dados cedidos pelo PNMNI, nas duas temporadas (de Verão –

dezembro de 2007 a fevereiro de 2008 e de Inverno – maio a julho de 2008) o

Parque recebeu aproximadamente 18.393 visitantes, com 12.563 no verão e 5.830

no inverno aproximadamente. Deste volume, foi definida uma massa amostral de

1%. Deste trabalho, embora nem todas as suas correlações tenham sido exploradas,

pode-se destacar os resultados onde foram caracterizados 05 grupos distintos de

visitantes quanto à ocupação do espaço e sazonalidade.

Salienta-se que o público identificado nas trilhas consiste basicamente de

jovens, universitários e adultos, principalmente de Nova Iguaçu, os quais foram mais

comumente encontrados nos trabalhos de levantamento a campo desta dissertação.

Esta configuração deve orientar a unidade a identificar outras estratégias para a

divulgação das trilhas, visando à adesão de novos usuários e também aqueles

regulares, mas que por falta de motivação ou curiosidade, se mantém com as

mesmas atividades e roteiros. Cabe então, não só por parte da administração, mas

também de potenciais operadores de ecoturismo e lazer, assim como guias formais

e informais, a divulgação e implementação de produtos diferenciados, como por

exemplo, observação de aves e safáris fotográficos, entre outros.

No quadro 13 são discriminados os grupos de Visitantes, motivação, espaço e

sazonalidade, encontrados:

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141

Grupo Motivação Local de concentração Pr/Ver (T° >)

Out/Inv (T° <)

Jovens, universitários e adultos, principalmente de Nova Iguaçu

Lazer e ecoturismo: cons. de paisagens dos mirantes e práticas desportivas: rapel e escalada

“Vulcão” de Nova Iguaçu, e Pedra da Contenda. Caminhadas à rampa de Vôo Livre

Famílias e adolescentes do entorno, moradores de Mesquita e Nova Iguaçu

Lazer: banhistas e caminhada/passeio

Vários poços, pequenas cachoeiras e represamentos do rio Dona Eugênia

Principalmente adultos do Rio de Janeiro

Prática desportiva: Vôo Livre

Rampa de Vôo Livre, cujo acesso se dá pela estrada do Tatu-Gamela.

Instituições de Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu (Educadores dos 3 níveis)

Diferentes atividades de complementação pedagógica (interpretação e EA).

Eixo da Estrada da Cachoeira até o Casarão. Algumas atividades até o Clube Dom Felipe

UERJ, UFRRJ, UFRuRJ, ESTÁCIO, UNIG...

Pesquisadores e acadêmicos com produção de trabalhos escolares, monografias, dissertações, etc.

Represa Epaminondas Ramos, Eixo da Estrada da Cachoeira até o Casarão, e algumas atividades até o Clube Dom Felipe

Pr./Ver. (T° >): Primavera / Verão (Temperaturas maiores) Out./Inv. (T° <): Outubro /Inverno (Temperaturas menores) Quadro 13: Visitantes, motivação, espaço e sazonalidade Fonte. Mello, Flávio A. P. 2007

Foram procedidas ainda as análises dos dados obtidos a partir da aplicação

dos questionários de Pesquisa de Fluxo e Padrão de Dispersão de Visitantes e de

Pesquisa de Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes:

a) Composição por faixa etária nas duas temporadas:

Na análise do Gráfico 01 (Visitantes por faixa etária – Temporada de

Verão), pode ser observado que as faixas 01 e 02 (Menores de 14

anos e de 15 a 24 anos), representam 51% da amostragem,

significando visitantes com mais energia para se deslocar, expor-se ao

perigo e pressionar a fiscalização. Quando somados a faixa seguinte

(25-34), têm-se 70% de ocupação com público eminentemente jovem.

No outro extremo, as faixas 05 e 06, referentes a maiores de 45 anos

totalizam 14% do total. Isto pode significar, entre outros, que o PNMNI

possui poucos atrativos para estas faixas de idade e que a qualidade

do acesso ao parque pode estar interferindo de fato, visto que a

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142

maioria que visita a unidade caminha aproximadamente três

quilômetros do início da Estrada da Cachoeira até a Guarita.

Gráfico 01: Visitantes por faixa etária – Temporada de Verão * N/%: Entrevistados / percentagem na amostra

Já na temporada de inverno (gráfico 02) constata-se que todas as

faixas diminuem sua participação em aproximadamente 25%, contudo

a faixa 03 (usuários de 25-34 anos) - embora tenha sua participação

ainda menor que a faixa precedente 02 (15-24 anos), possui um

aumento específico de aproximadamente 30% na temporada de verão.

Uma das possibilidades é que esta faixa de visitante efetue

caminhadas como prática saudável, mais propícia de ser realizada nas

estações mais frias. Inclui-se também o desfrute da paisagem. É

possível considerar ainda as férias escolares neste contexto.

Gráfico 02: Visitantes por faixa etária – Temporada de Inverno * N/%: Entrevistados / percentagem na amostra

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143

O público jovem, percentualmente, registra também um pequeno

aumento, cabendo destacar, entretanto, que o perfil do jovem da

temporada de verão, por observações de campo, são na sua maioria

jovens moradores do entorno, de camadas sociais mais carentes.

Muitos dos jovens identificados na temporada de inverno são em sua

maioria universitários, atraídos pelo uso de trilhas e práticas de rapel.

b) Motivação, por faixa etária, nas duas temporadas:

Nos gráficos 03 e 04, buscou-se identificar as principais motivações de

visita ao PNMNI, de acordo com a faixa etária. Cabe salientar que nas

avaliações, a motivação por banho se destacam como principal opção

das classes mais jovens, mas aparecem com maior visibilidade as

caminhadas e os batismos de igrejas evangélicas que utilizam

principalmente o Poço do Escorrega, próximo à sede, devido ao maior

volume de água e espaço mais amplo para as atividades. Ressalta-se

que no Parque não são permitidas oferendas.

0 2 4 6 8 10 12

01 (<14)

02 (15-24)

03 (25-34)

04 (35-44)

05 (45-60)

6 (> 60)Prat. Acadêmicas

Cer. Religiosas

Trilhas

Caminhada

Banho

Gráfico 03: Motivação por faixa etária – Temporada de Verão

Na temporada de inverno, embora o banho de cachoeira continue

como o principal atrativo, observa-se um expressivo crescimento do

volume de caminhadas na Estrada da Cachoeira e uso das trilhas. As

visitas de diferentes instituições de ensino para práticas acadêmicas

(aulas práticas, visitas de campo...) e são mais evidentes, devido à

menor incidência de chuvas.

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144

0 2 4 6 8 10 12

01 (<14)

02 (15-24)

03 (25-34)

04 (35-44)

05 (45-60)

6 (> 60)Prat. Acadêmicas

Cer. Religiosas

Trilhas

Caminhada

Banho

Gráfico 04: Motivação por faixa etária – Temporada de Inverno

Portanto o perfil médio atual do usuário do PNMNI é composto por indivíduos

jovens, usuários de modo geral dos poços para lazer (banhos principalmente).

Destacam-se, entretanto, dois grupos complementares: as famílias com motivação

aos jovens e adultos que utilizam o Parque como extensão das caminhadas

matutinas.

4.3 Zoneamento das oportunidades recreativas

O método ROS oferece uma estrutura sistemática de verificação da

distribuição das oportunidades e indicações de procedimentos para possíveis ações

gerenciais das condições que os administradores consideram possíveis de serem

mantidas ou restauradas na área; atuando a partir de três perspectivas: a proteção

do recurso; oportunidades para uso público e a habilidade (da organização) em lidar

com as condições existentes.

Baseado nestes referências, foram identificadas seis áreas a ser classificadas

nas zonas de Uso Intensivo, Extensivo e de Relevante Interesse do PNMNI,

conforme previsto no Plano de Manejo do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu.

Observa-se, contudo, que esta análise do espectro de oportunidades recreativas é

uma referência estabelecida face as condições atuais de visitação e infra-estruturas

disponíveis, devendo ser regularmente estabelecida de modo a representar com

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145

mais exatidão a realidade vivida. No quadro 14 é discriminado o zoneamento

elaborado:

Zona / Localização

Via de referência

Principais atrativos Principais aptidões

ROS (Classe)

(a) Central: Vale do Rio Dona Eugênia

Estrada da Cachoeira: da Guarita de Entrada até o Casarão

Represa Epaminondas Ramos; Pedreira São José;Poços do Rio Dona Eugênia, Casarão, Cachoeira Véu da Noiva e Trilha do Pau Pereira

Caminhadas leves, banhos de Rio e cachoeira, pic-nics, rapel e eventos na Pedreira, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna

05

(b) Complexo do Vulcão: Vale do Levi e Varginha

Trilha da Varginha e Trilha da Contenda

Mirante do Levi, Praça do Boi, Mirante da Varginha (próximo a Pedreira Vigné). Pedra da Contenda e mirantes

Caminhadas moderadas, rapel e boulder na Pedra da Contenda, atividades educativas e acadêmicas, obs.de fauna e paisagem

03

(c) Rampa: Estrada do Tatu-Gamela

Estrada do Tatu-Gamela

Rampa de Vôo Livre, Visão Panorâmica de Nova Iguaçu

Caminhadas moderadas a pesada, observação de paisagem e práticas de Vôo Livre. Passeios de Gaiolas.

05

(d) Mata- Fome Vale do Rio Dona Eugênia - Vale do Mata-Fome

Estrada da Cachoeira: do Casarão até o Poço da Natureza e Trilha do Mata-Fome

Mirante do Alto (Estrada da Cachoeira); Janela do Céu do PNMNI (alto da Cachoeira Véu da Noiva); Trilha do Mata-Fome

Caminhadas leve a moderadas, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna e paisagem

04

(e) P4: Vale do Rio Dona Eugênia

Estrada da Cachoeira: do Poço da Natureza até as Ruínas do Clube Dom Felipe.

Ruínas do Clube Dom Felipe. Posto Quatro (P4): Casa de morador que deve ser reformada como Casa do Pesquisador.

Sob Autorização: Caminhadas moderada, porém longa, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna e paisagem

02

(f) Pau da Letra: Vale do Rio Dona Eugênia

Trilhas do Gericinó, Mendanha e Pau da Letra

Não computados. Próximos a Zona Primitiva e Intangível.

Sob Autorização: Caminhadas moderada, atividades educativas e acadêmicas, observação de fauna e paisagem

01

OBS: Para fins de gestão, as zonas recreativas sugeridas foram nomeadas de acordo com as referências comumente utilizadas pela Administração e funcionários.

R O S

01 Baixa interação social e mínima evidência de usuários.

02 Baixa interação social, mas com evidência de usuários.

03 Baixa interação social, freqüentes evidências de usuários.

04 Baixa e moderada interação social. Alterações dos recursos e práticas de utilização evidentes.

05 Vistas e sons humanos evidentes e alta interação com usuários. Práticas para salientar atividades de recreação

Quadro 14: Descrição das Zonas propostas segundo o método ROS. Flávio A P Mello 2008:

Page 146: DissertacaoZen2 - completa

146

Cabe ressaltar, que embora tenha potencial para estabelecer algumas

diretrizes de gestão, sua eficiência exatidão é melhor aproveitada quando

combinada com outras metodologias complementares de monitoramento de

impactos e gestão participativa.

4.3.1 Reordenamento das ambiências nas zonas de Uso Especial, Intensivo e área

de relevante interesse do PNMNI

As zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI,

localizadas ao longo da estrada da Cachoeira no eixo entre a Represa Epaminondas

Ramos e o Casarão, concentra a quase totalidade da visitação, devido a seu fácil

acesso e por nele se localizar a principal área para banhos. Embora sejam muitos e

variados os atrativos, não se percebeu por parte da administração um tratamento

diferenciado e dirigido na gestão destes espaços.

Para tanto, foi sugerido para este espaço de lazer, o nome de “Circuito das

águas”, como subsídio ao manejo diferenciado deste, e ainda, futuras propostas e

iniciativas de turistificação. Extrapolando o diagnóstico31 das ambiências do Parque

conduzidos pela Equipe do Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos da UFRJ,

buscou-se agrupar nove conjuntos de ambiências, agrupando as mais próximas

entre si, como unidades de gestão, visando orientar a administração a tratar de

maneira diferenciada lugares com identidades complementares e próximas. Desta

forma, estes agrupamentos de ambiências visam caracterizar lugares e

territorialidades que possam receber tratamento e atenção diagnóstica diferenciada,

como por exemplo, estudos individualizados de perfil de visitantes, estudos de

capacidade de suporte local, estruturação de infra-estruturas de apoio

personalizadas, etc.

Salienta-se entretanto que:

31 Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. p 07 - Setembro /outubro de 2004.

Page 147: DissertacaoZen2 - completa

147

· A Entrada do Parque sofreu recente intervenção (08/2008), onde se

estendeu um “jardim” protegido por cerca de cordas por

aproximadamente 6 metros, em ambos os lados; descaracterizando a

entrada, retirando a área de manobra de veículos e ainda obrigando

usuários de bicicletas a estacionarem longe da visão da guarita.

· A Pedreira desativada São José, consolidada como espaço multi-uso

pelas administrações, dada a inexistência de espaço mais amplo para

eventos e mesmo área de recreação, não possui banheiros. Como

alternativa para estacionamento, deve ser avaliado a possibilidade de

se criar vagas ao longo da Estrada da Cachoeira, nos moldes, por

exemplo, do Parque Nacional da Tijuca.

· A trilha para o “Vulcão” a partir da Pedreira São José teve seu nome

resgatado junto a antigos moradores como Trilha da Varginha.

· O poço da sede não é aberto à visitação, assim como a Represa

Epaminondas Ramos.

· As áreas de piquenique não estão sendo utilizadas para tal devido à

falta de manutenção dos equipamentos e acessos.

· Os Mirantes do Véu da Noiva e do vale do Dona Eugênia, localizados

na trilha do Pau-Pereira, assim como o Mirante do Alto, localizado na

Estrada da Cachoeira, estão desativados e necessitando de reformas.

· O roteiro até as ruínas do Clube Dom Felipe, distante e com os

atrativos pouco caracterizados, embora tenha sua visitação

recomendada pelos guias do Parque, deve ter sua utilização revista.

· Placas de informação e orientação foram recentemente instaladas

havendo, contudo, restrições quanto às informações prestadas, visto

que algumas não fazem sentido (por exemplo: “Zona de uso

intensivo”).

Outro aspecto a ser considerar com esta proposta de zoneamento, é a

facilitação das ações de fiscalização, assim como a orientação à dispersão dos

visitantes, consolidando ao longo do tempo mais opções de uso em áreas

atualmente pouco consideradas, tanto pelos usuários quanto pela administração.

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148

No quadro 15 são ilustrados os diferentes grupamentos de ambiências. Bem

como a relação dos atrativos que as compõem:

Quadro 15: Ambiências das Zonas de Uso Especial, Intensivo e área de relevante interesse do PNMNI Fonte: Diagnóstico Geral do Geoparque Municipal de Nova Iguaçu. Equipe do LAB LET – Laboratório de Lazer e Espaços Turísticos. PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro. p 07 - Setembro /outubro de 2004. Adaptação de Flávio A. P. Mello, 2008.

Entrada Pedreira

Antes da sede

Sede

Pic-nic 01

Poço das Cobras

Casarão

Pau Pereira

Mirante do Alto Rio Dona Eugênia

Estrada da Cachoeira Trilhas

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149

4.3.2 Identificação dos principais atrativos do PNMNI

A identificação preliminar de atrativos é particularmente relevante devido a

sua importância na construção ou manutenção de lugares que serão acessados por

trilhas e, portanto, onde se inicia o reconhecimento dos possíveis fluxos de visitantes

que podem se estabelecer de acordo com a qualidade e características destes

atrativos.

A princípio pode-se considerar que as qualidades e limitações dos atrativos

podem selecionar o perfil do visitante. Em parte esta premissa é verdadeira, mas

deve-se considerar que no estabelecimento da infra-estrutura de apoio, desde a

caracterização das trilhas às facilidades de acesso (degraus, corrimão, guarda-

corpos...) e adaptação estrutural dos atrativos, este perfil pode ser mudado ao se

alterar as ambiências aos perfis de visitantes desejados. No quadro 16 relacionam-

se os principais atrativos percorridos através de trilhas e vias avaliadas.

Via Atrativo Observação

Estrada da Cachoeira

Represa Epaminondas Ramos

Não é permitido banho, mas é um atrativo cênico e há práticas de rapel em sua parede externa.

Pedreira desativada São José

Além de sua função multiuso, possui uma pequena trilha que leva a um mirante na parte superior da Pedreira.

Poço do Escorrega Além de área de lazer, é utilizado também para batismos de comunidades evangélicas

Caminho Geológico do PNMNI

São seis placas explicativas de feições geológicas distribuídas entre a Pedreira São José e o Casarão. Atualmente desativadas.

Poço das Cobras Segundo ponto de maior afluxo de banhistas. Há um quiosque informal atendendo visitantes em dias de maior fluxo.

Casarão Em processo de captação de verbas para reforma como Centro de Visitantes

Poço do Casarão Primeiro ponto de maior afluxo de banhistas. É um dos acessos a Cachoeira Véu da Noiva

Cachoeira Véu da Noiva

Queda d’água com 55 metros, é utilizada também para práticas de cascading (técnica de rapel em cachoeiras).

Mirante do Alto A estrutura de madeira foi retirada; mas o local permanece com a função

Janela do Céu do PNMNI

*Atalho que desce a cabeceira da Cachoeira: muito erodido, é recomendável que seja fechado

Ruínas do Clube de Campo Dom Felipe

Distantes 4,5 km da guarita, é utilizado em visitas guiadas pelo PNMNI, porém o roteiro é pobre.

Trilha do Pau Pereira

Mirante do Pau Pereira

Pequeno mirante para até três pessoas. Avista-se a Cachoeira Véu da Noiva.

Quadro 16: Principais atrativos e vias de acesso no PNMNI Fonte. Mello, Flávio A. P., 2008.

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150

.Quadro 16 (Continuação): Vias de acesso e principais Atrativos do PNMNI

Trilha da Varginha

Espelho de falha Elemento indicativo de existência de uma falha geológica (uma quebra nas rochas através da qual se verifica que houve movimentos relativos, ou seja terremotos. Na área do PNMNI há falhamentos mapeados, e esse local é uma expressão de um deles. É um ponto de grande importância científica e didática, principalmente por estar aparente. Próximo a entrada da Trilha, ao lado da Pedreira desativada.

Mirante do Levi *Localizado na derivação proposta neste trabalho, avista-se o vale do Levi e o vale do Rio Dona Eugênia

Praça do Boi *No divisor de águas entre o vale do Levi e Varginha, é inicio da Trilha da Contenda

Mirante da Vigné *Localizado em afloramento rochoso, na extremidade oposta a Praça do Boi. Avista-se a Pedreira e Nova Iguaçu.

Trilha da Pedra do Quilombo (Contenda)

Mirante da Varginha

*Pequeno Mirante na Trilha da Contenda, próximo à elevação do mesmo nome. Visualiza-se a varginha como um todo.

Mirante da Contenda

Panorâmica da Serra de Madureira e Vale do Mata-Fome. Possui vias de rapel e boulder

Mirante da Preguiça

*Na continuação da Trilha do Quilombo até a estr. do Tatu gamela, possui visão privilegiada da base do rapel.

Estrada do Tatu-gamela

Rampa de Vôo Livre

2° melhor ponto de Vôo Livre do país, a estrada também é utilizada para caminhadas devido à ampla paisagem panorâmica da Baixada com visão para Nova Iguaçu, maciço de Tinguá e Serra dos Órgãos

Fonte. Mello, Flávio A. P., 2008. Quadro 16: Principais atrativos e vias de acesso no PNMNI

4.3.3 Ordenamento da malha de trilhas

As trilhas, de modo geral, surgem para possibilitar o acesso a lugares de

interesse e, mormente, são traçadas em função da distância a ser percorrida e

acessibilidade. Em se tratando de unidades de conservação, outros cuidados e

interesses devem ser considerados, de acordo com o plano de manejo e à legislação

vigente, se este apresentar alguma inconsistência. Neste sentido, o ordenamento

das trilhas em uma malha lógica que atenda as necessidades de deslocamento e

proteja o patrimônio natural e construído da Unidade, se reveste de particular

relevância quando se considera que as trilhas, ao se estabelecerem, se comportam

como uma entidade dinâmica, geradora de mudanças, tanto ambientais quanto

sociais.

Assim, quando se ordena a malha de trilhas, fechando atalhos,

recategorizando as trilhas existentes, interligando trilhas separadas, entre outros, se

procura induzir indiretamente territorializações e consolidação de lugares de

Page 151: DissertacaoZen2 - completa

151

interesse da gestão da UC. No caso específico do PNMNI, a necessidade de se

ordenar a malha de trilhas existentes nas áreas abertas à visitação, se deve

principalmente ao fato de com o desenvolvimento das atividades recreativas,

algumas estão se processando um tanto quanto à revelia da administração, de modo

a ser possível perceber a formação de dois núcleos de atividades diferenciadas:

1. Núcleo Central: Que se concentra na Área de Uso Intensivo, composto

por usuários que utilizam os poços do Rio Dona Eugênia até o

Casarão, para lazer e também aqueles que se dedicam a caminhadas

e contemplação da natureza e cuja principal porta de entrada é a

guarita da Estrada da Cachoeira

2. Núcleo da Varginha, que se desenvolve um tanto a revelia da

administração, se concentrando na área da Pedra do Quilombo

(Contenda) e rampa de Vôo livre, com atividades de caminhada mais

longas e rapel; cujo acesso se dá pela estrada do Tatu-Gamela e

trilhas a partir do Morro do Cruzeiro e Bairro Kaonze.

Neste sentido, a presença mais superficial na administração da área do vale

da Varginha, compromete tanto as possibilidades de desenvolvimento sustentável

das atividades potenciais, como já sofrem os efeitos do uso pouco criterioso de seus

acessos e atrativos, com evidentes sinais de degradação. Com estas referências

percebidas, buscou-se então, unir estes dois núcleos e concentrar a entrada a partir

da entrada oficial do parque; promovendo assim maior controle e interface com os

visitantes, possibilitando diagnósticos e orientação de uso da unidade.

Nesta condição, se fez necessário então promover o acesso à Pedra da

Contenda a partir da Trilha da Varginha, que se origina na Pedreira desativada São

José e cruza com a trilha da Contenda em seu terço médio, na altura da Praça do

Boi. A trilha da Varginha não tem sido utilizada: devido a seu traçado, a falta de

sinalização e as condições de manutenção, que a deixam fechada por capim

colonião muitos meses ao ano. Estas características da trilha da Varginha são

consideradas também como alternativa ao roteiro de visitas às ruínas do Clube de

Campo Dom Felipe, que de acordo com o zoneamento proposto, passa a se

localizar em zona de recuperação especial, a qual possui limitação de visitação.

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152

Destaca-se que nos trabalhos de seleção, foram considerados os vales por onde

passam as trilhas, como unidades geomorfológicas de referência. Foram

identificadas e selecionadas então as seguintes vias (trilhas, estradas e atalhos) de

interesse conforme exposto no quadro 17:

Localização Via Característica Atrativos Principais

Vale do Rio Dona Eugênia

Estrada da Cachoeira

Estrada de acesso, não pavimentada, possui 4,6 km de extensão. Dá acesso as trilha do Gericinó, Mendanha e Pau da Letra

Circuito das águas, Casarão, Janela do Céu, Mirante do salto, Clube Dom Felipe

Trilha do Pedreira

Pequena trilha linear, reaberta na Pedreira São José, com aproximadamente 200 metros, leva a um mirante em sua porção superior, com vista para o Vale do Rio Dona Eugênia

Mirante da Pedreira, vias de rapel e mata ciliar na base da Pedreira em sua face interna com grande afluxo de avifauna

Trilha do Pau-pereira

Trilha em atalho com 0,6 km. Liga o Casarão a ponte da Curva, na estrada da Cachoeira

Mirante do Pau Pereira, poço Escondido

Vale do Córrego do Mata-fome

Trilha do Mata-fome

Trilha Linear, com aproximadamente 1,3 km de extensão. Liga a Estrada da Cachoeira, aproximadamente 100 metros antes do Mirante do Alto, à Estrada do Tatu-gamela, mais ou menos 500 metros acima da Pedra da Contenda

É uma trilha de ligação. Em seu terço médio inicial é muito agradável e com boas possibilidades de obs. De aves

Estrada do Tatu-gamela

Vertente iguaçuana do Maciço do Gericinó

Liga as Estrada de Madureira (Av., Abilio Augusto Távora) à rampa de Vôo Livre. Da entrada da Trilha da Contenda até a rampa, são aproximadamente 2 km de acordo com o caminho. Há 02 variantes que são usadas de acordo com as condições da estrada.

Visão Panorâmica para Nova Iguaçu, maciço do Tinguá e Serra dos Órgãos, Rampa de Vôo Livre

Vale da Varginha

Trilha da Contenda

Trilha Linear, liga a Estrada do Tatu-gamela à Praça do Boi. Possui atalho para a subida a Pedra do mesmo nome.

Visão Panorâmica do vale do Mata-fome, Varginha e Estrada do Tatu-gamela

Trilha da Varginha 2º Segmento

Em seu interior e encostas há inúmeras variantes, foi selecionado um traçado linear da Praça do Boi ao cento da Varginha onde segue como uma pequena circular em direção à Parada da Jaqueira, a noroeste, Mirante da Vigné e Parada do Curralzinho, retornando ao centro. Possui aproximadamente 1,4 Km

Praça do Boi,Mirante da Varginha, Mirante da Vigné, Pedra da Contenda. Dá acesso as trilhas do capitão e Cruzeiro, que se dirigem ao Cruzeiro de Nova Iguaçu e Bairro Kaonze.

Vale do Levi

Trilha da Varginha 1º Segmento

Trilha Linear da Pedreira desativada São José até a Praça do Boi. Em sua porção final cruza uma nascente e é de acesso que exige cuidados. Possui aproximadamente 1 km de extensão. Para a área de nascente, optou-se por sugerir uma variante que desloca a trilha para uma cota acima, promovendo inclusive maior aporte paisagístico.

Mirantes do Levi e da Mangueira, ambos sugeridos na alteração de traçado que a amplia para 1,8 Km

Quadro 17: Trilhas selecionadas e atrativos Flávio a P Mello 2008

Page 153: DissertacaoZen2 - completa

153

4.3.3.1 A Trilha da Varginha

Posto a importância da Trilha da Varginha como elo de ligação entre as os

dois núcleos de atividades do PNMNI, foi elaborada uma proposta de traçado

dividindo a trilha em dois segmentos: o primeiro, a ser desenvolvido na área do vale

do Levi, ligando a Pedreira desativada São José à Praça do Boi (no divisor de águas

entre os dois vales) e o segundo na Varginha propriamente dita, conforme

destacado na figura 11:

Figura 11: Proposta para a Trilha da Varginha Fonte: Google Earth – Realizado por: Flávio A. P. Mello 2008

Ressalta-se que no primeiro segmento, a trilha atual corre ao longo do

córrego do Levi, adentrando em seu leito em vários pontos. No seu terço médio

cruza um trecho bastante próximo à sua nascente. A partir deste ponto, por uma

extensão de aproximadamente 200 metros, continua em aclive com pontos de

acesso mais complicado, passando por blocos rochosos e erosões. A vegetação é

basicamente composta por pastos sujos, principalmente capim colonião (Pannicum

sp.), grande responsável pela manutenção do ciclo de fogo que se instala nos

períodos de inverno.

2º segmento Vale da Varginha

1º segmento Vale do Levi

Alteração de traçado com destaque ao Mirante do Levi

Tr. de serviço

N

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154

O traçado original existe por ser mais curto e historicamente, era utilizado pela

população local como rota de acesso à Varginha e áreas limítrofes. Sugere-se que o

trecho seja mantido como “trilha de serviço”, isto é, mantida operacional para

funcionários e fiscalização como via de rápido acesso às trilhas da Contenda e

segundo segmento da Trilha da Varginha. Deve haver sinalização restritiva para

orientação dos visitantes. Cabe destacar que neste trecho, inicio da micro-bacia

onde se localiza a nascente do córrego do Levi, se recomenda a implantação de

projeto de reflorestamento tanto para proteger e recuperar os pontos de erosão

como revitalizar a nascente aí localizada.

Outros propósitos estabelecidos deverão ser atendidos com o novo traçado

além da proteção à nascente, dentre eles se destaca a requalificação turística da

trilha, que de trilha imersa na mata ciliar, ao ser deslocada para cota superior,

aproximadamente 50 metros, recebe mirantes com visão panorâmica do vale do Levi

e vale do rio Dona Eugênia, valorizando a trilha em seus aspectos cênicos. Salienta-

se que a área do Levi, se reveste de especial importância por conta de sua

proximidade e acesso e oferecimento de mirantes, que podem ser desfrutados sem

grandes deslocamentos, embora a trilha mereça recuperação e adequação em

diversos pontos.

4.3.3.2 Circuito de Trilhas do “Vulcão” de Nova Iguaçu

No processo de ordenamento das trilhas, buscou-se concentrar a proposta

para o circuito de trilhas nas áreas com maior apelo da mídia e que

coincidentemente se localiza nas áreas mais degradadas. Esta área se concentra na

região da Varginha, tida como a “cratera” do “Vulcão” de Nova Iguaçu. Para se

estabelecer a conexão com a área de banhos, foi selecionada a trilha da Varginha e

a Trilha do Mata-fome, possibilitando duas vias de acesso. Este traçado atende

portanto a preocupação de integração entre os principais núcleos de visitação.

Cabe destacar que na Pedreira desativada São José foi reaberta uma trilha

antiga, resgatando um mirante de fácil acesso (300 metros da entrada do Parque) e

maior capacidade de visitantes, na zona de visitação intensiva, servindo como

Page 155: DissertacaoZen2 - completa

155

contraponto ao mirante da trilha do Pau Pereira que dá vista apenas para a

Cachoeira Véu da Noiva, recebendo no máximo três pessoas por vez ou ainda, o

Mirante do Alto, localizado a 2,5 quilômetros da entrada do Parque e que se

encontra com as instalações desmontadas.

A trilha do Pau Pereira, embora tenha sido pensada para receber um público

médio, inclusive crianças e idosos, deve ter seu traçado corrigido, principalmente m

sua porção próxima a ponte da Curva, cujo aclive supera os 35%, limitando, por

conseguinte o perfil do visitante.

Para o segmento da Estrada da Cachoeira, após o poço da Natureza, propõe-

se obrigatoriedade da presença de guias, porém credenciados pela administração,

devido a nova condição de Zona de Recuperação Especial. As atividades ai

desenvolvidas deverão ter como foco o ecoturismo especializado como, por

exemplo, a observação de fauna e turismo científico.

Já a seção da estrada do Tatu-gamela, da Pedra da Contenda à rampa de

Vôo Livre, embora se localize no limite do Parque, pode ser incorporada como opção

de roteiros. De fato, a estrada do Tatu-gamela não faz parte do PNMNI sendo, no

entanto, um de seus limites. É via de acesso à rampa de Vôo Livre que é utilizada

por visitantes que optam como alternativa para chegar à Pedra da Contenda

ignorando a guarita do parque, localizada em extremo oposto. Esse fato se constitui

em um problema para a administração, cujo controle de visitantes é comprometido.

Na figura 12 são apresentadas as trilhas selecionadas e alguns pontos

atrativos extremos do Parque (Guarita de entrada, Mirante da Pedreira Vigné,

Rampa de vôo Livre e Ruínas do Clube de campo Dom Felipe).

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Figura 12: Circuito de Trilhas proposto Fonte: Google Earth – Realizado por: Flávio A. P. Mello 2008

Trilha da Varginha

Estr. da Cachoeira Seção de visitação controlada

Estrada do Tatu-gamela Acesso à rampa de Vôo Livre

Estrada do Tatu-gamela

Acesso à sede

Estr. da Cachoeira Seção de visitação intensiva

Trilha do Pau Pereira

Trilha da Contenda

Trilha da Pedreira

MIRANTE DA PEDREIRA VIGNÉ

RAMPA DE VÔO LIVRE

CLUBE DOM FELIPE

GUARITA DE ENTRADA

N

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157

4.3.3.3 Roteiros sugeridos

Elaborar o traçado de uma trilha é apenas parte de seu planejamento.

Embora seja lógico considerar as oportunidades paisagísticas, pontos notáveis,

acessibilidade e adequação sócio-ambiental, é preciso dar uma identidade ao

conjunto de segmentos de trilhas, de modo a criar referências que possam ter maior

poder de atratividade junto aos visitantes, e aos gestores e operadores de turismo e

lazer na natureza. Neste sentido, busca-se aguçar a curiosidade do visitante ou

chamar a atenção para um “valor” de interesse.

No caso do PNMNI, observou-se que embora houvesse grandes cenários na

zona de uso extensivo, as trilhas eram curtas, tendendo a ter em média 2,0 km as

mais extensas. Estas distâncias, de certa maneira, são curtas para a prática de

caminhadas quando se visualizam produtos que se adeqüem às categorias 02 a 04

previstas no ROS sugerido ao PNMNI (quadro 07), pois rapidamente se chega ao

atrativo, impedindo a possibilidade de inserção no cenário e desfrute da paisagem.

Considera-se que as trilhas que possibilitam acesso rápido a seus atrativos

principais, tendem a receber visitação massiva e ser explorada em aspectos

pontuais, a exemplo do que ocorre com os operadores de rapel, cuja preocupação

em valorizar o produto, induz à utilização superficial do cenário e consequentemente

a geração de impactos em zonas específicas, comprometendo uma série de

atributos que valorizam as trilhas para o desfrute da paisagem e introspecção.

Para atender a esta expectativa, o levantamento dos traçados para a seleção

das trilhas visou a criação de uma trilha de grande percurso (para os padrões do

PNMNI), com o nome sugerido de “Circular Externa”, conforme proposta

estabelecida para o Parque Nacional da Tijuca durante a gestão inovadora de Pedro

da Cunha e Menezes. Para o PNMNI a proposta de uma Grande Circular externa

unirá segmentos da Estrada da Cachoeira, Trilha da Varginha, Estrada do Tatu-

gamela e a totalidade das trilhas da Contenda e Mata-fome (figura 13). Com este

traçado se obterá uma trilha com aproximadamente 8 km de extensão.

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158

Legenda

Atrativo de referência

Circular interna

Trilha da Varginha

Estrada da Cachoeira

Trilha do Pau Pereira

Trilha da Contenda

Circular Externa

Figura 13: Proposta para Circular externa (pontilhado): Somatório de segmentos Estrada da Cachoeira + Trilha do Mata-fome + Trilha da Contenda + Trilha da Varginha Fonte: Google Earth – Realizado por: Flávio A. P. Mello 2008

Foram elaborados então sugestões de roteiros conforme quadro 18:

N

Trilha da Varginha. Segmento Vale do Levi

Trilha da Contenda

Estrada da Cachoeira Seção de visitação intensiva

Trilha do Mata-fome

Trecho da Estrada do Tatu -gamela

Complexo do “Vulcão”

Casarão Mirante do Alto

Pedreira São José

Pedra da Contenda

Praça do Boi

Mirante do Levi

Varginha (“a cratera”)

Mirante da Pedreira Vigné

Guarita de entrada

SEDE

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159

Como proposta complementar, soma-se a proposta da criação da Circular

Interna conforme figura 14 baixo:

Roteiro Via Público beneficiário Atividades recomendadas Mirante da Pedreira

Pedreira São José, acesso pela trilha do mesmo nome

Público com condicionamento físico.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Na Pedreira: espaço para lazer, práticas de Tai Chi Chuan, escalada, observação de aves. No Mirante: Ocio, observação de paisagem de aves.

Parque Expresso

Estrada da Cachoeira, Roteiro inclui a Represa, Mirante da Pedreira e subida até o Casarão

Público com condicionamento físico.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas. No Mirante: Observação de paisagem, observação de aves.

Circuito das Águas

Estrada da Cachoeira. Poços entre o Poço da Paixão e a Cachoeira Véu da Noiva

Púbico em geral.

Lazer e ócio nos poços e cachoeiras. Observação da natureza. Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Safáris fotográficos.

Trilha do Pau Pereira

Trilha do Pau Pereira Segmentos muito íngremes. Público com condicionamento físico.

Caminhada de lazer, observação da natureza.

Trilha do Levi

Primeiro segmento da Trilha da Varginha, conduz até o Mirante do Levi

Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com condicionamento físico..

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas. No Mirante: Observação de paisagem, observação de aves.

Trilha do Vulcão

Trilha da Varginha em seus dois segmentos (Vale do Levi e Varginha

Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com condicionamento físico.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas e opção para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos.

Pedra da Contenda

Trilha da Contenda Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com condicionamento físico.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas e opção para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos.;

Paisagens da Baixada

Circular Externa Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com bom condicionamento físico.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas e opção para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos.

Caminhada da Rampa

Estrada da Cachoeira - Trilha do Mata-fome - Estrada do Tatu-gamela - Rampa de Vôo Livre

Segmentos íngremes, e locais com grande exposição ao sol. Público com bom condicionamento físico.

Caminhadas e acesso a rampa de Vôo Livre. Safáris fotográficos.

Dom Felipe Estrada da Cachoeira, da Guarita até as Ruínas do Clube de campo Dom Felipe

Segmentos íngremes, local de difícil acesso motorizado. Recomenda-se público condicionamento físico.

Práticas de Educação ambiental e espaço acadêmico. Caminhadas para grupos especializados: observação de fauna, safáris fotográficos. Turismo científico...

Quadro 18: Roteiros sugeridos e vias de acesso Flávio a P Mello 2008

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160

Legenda

Atrativo de referência

Circular interna

Trilha da Varginha

Estrada da Cachoeira

Trilha do Pau Pereira

Trilha da Contenda

Circular Interna

Figura 14: Proposta para Circular interna Fonte: Google Earth – Modificado por Flávio A P Mello 2008

OBS: Para a Circular interna é necessário a construção de uma variante da trilha do Pau Pereira à Trilha da Contenda. Em consultas informais com antigos moradores soube-se da existência de vestígios de um antigo traçado.

Com esta variante cria-se um roteiro com aproximadamente quatro quilômetros (unindo o primeiro segmento da Trilha da Varginha no vale do Levi, a parte inicial da Estrada da Cachoeira e parte d trilha do Pau Pereira

Estrada da Cachoeira

Trilha da Varginha.

Casarão

Pedreira São José

Pedra da Contenda

Praça do Boi

Trilha do Pau Pereira

Possível traçado de trilha de ligação

Sede

N

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161

4.3.4 Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI

Em apoio às sugestões de criação de diferentes roteiros para as trilhas

selecionadas, foi conduzida uma primeira avaliação quanto ao potencial econômico

deste ordenamento, através da pesquisa “Valoração econômica dos serviços de

condução de visitantes no PNMNI”. Foram aplicados cem questionários, salientando-

se que 67 foram aplicados em fins de semana e de terça a sexta feira, no período de

maio a julho de 2008, e trinta e três foram obtidos via internet, através do site

Amigos do Parque no link http://www.pmni.infotrilhas.com/zen_pesq.html.

No Gráfico 05, buscou-se relacionar a origem e disponibilidade do visitante

pagar por serviços de condução com guias credenciados e lembranças do parque

(postais, camisas, etc.).

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Origem Conhece astrilhas para o

Vulcão

Pagaria porpasseios de 2

horas

Pagaria porpasseios de 4

horas

Pagaria porpasseios de 6

horas

Pagaria porlembranças do

PNMNI

Nova Iguaçu Mesquita Nilópolis Belfort Roxo Rio de Janeiro Outros Estados

Origem dos visitantes

Origem Conhece as trilhas para o Vulcão

Pagaria por passeios de 2 horas

Pagaria por passeios de 4 horas

Pagaria por passeios de 6 horas

Pagaria por lembranças do PNMNI

Nova Iguaçu 26 06 (23%) 00 12 (46%) 18 (69%) 14 (54%) Mesquita 38 08 (21%) 00 10 (26%) 13(34%) 02 (05%) Nilópolis 12 03 (26%) 02 (17%) 08 (67%) 09 (75%) 03 (25%) Belfort Roxo 5 01 (20%) 00 02 (40%) 02 (40%) 01 (20%) Rio de Janeiro 25 03 (12%) 04 (16%) 19 (75%) 20 (80%) 08 (32%) Outros 8 00 01 (12,5%) 05 (62,5%) 06 (75%) 02 (25%) Gráfico 05: Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes no PNMNI

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162

Para criar uma referência quanto às respostas, foi inserida uma pergunta

quanto ao conhecimento das trilhas do parque, usando como referência a região do

“vulcão”, mais conhecida e onde se localizam a maioria das trilhas selecionadas

neste estudo. Das perguntas relacionadas nos questionários, dentre outras

informações coletadas, ressalta-se as seguintes:

a) Para o período de inverno, as maiores participações são de visitantes

de Mesquita, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro, salientando que há uma

maior aproximação entre o nº de visitantes do Rio de Janeiro e Nova

Iguaçu. Isto demonstra que o fato dos cariocas possuírem mais

referências de caminhadas, esteja fazendo com que sua presença seja

quase tão evidente quanto à dos iguaçuanos, ainda pouco afeitos às

caminhadas em parques. O maior volume de visitantes de Mesquita se

deve a busca pela utilização das cachoeiras, mesmo no inverno, onde

há dias não tão frios e mesmo de calor.

b) Destaca-se ainda que a média de usuários que conhecem as trilhas do

Parque, principalmente na área do “vulcão”, gira em torno de 22,5%, o

que demonstra o grande potencial para guias e mesmo para o PNMNI

trabalhar. Observa-se ainda que os visitantes do Rio de Janeiro

totalizaram 12,5%, o que denota que nos dias pesquisados, vieram

para conhecer as trilhas da região.

c) Quanto à predisposição para pagar por serviços de condução de

visitantes com guias credenciados, de modo geral não há tal tendência

para passeios de quatro horas, os quais se concentram nas áreas de

uso intensivo. Isso provavelmente se justifica pela segurança que a

localidade dá e facilidade de acesso. Contudo, dada a riqueza de

atrativos, não devem ser desconsiderados os produtos temáticos.

Nesta avaliação, pontuaram Nilópolis com 17%, Rio de Janeiro com

16% e outros estados com 12,5%. Mesmo com tais percentagens,

pode-se considerar como justificativa o nível sócio-econômico para tal

disposição.

d) Nas avaliações para passeios com duração de quatro a seis horas -

que incluem a zona de uso intensivo e derivações para demais áreas

do parque (Complexo do Vulcão, Rampa de Vôo Livre, Vale do Mata

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163

Fome e Ruínas do Clube Dom Felipe) - a disposição para pagar salta

para médias de 45 a 75%, a exceção de Mesquita, que mantém níveis

de 26 e 34% para passeios de quatro a seis horas respectivamente. É

possível que o hábito por lazer na cachoeira interfira neste julgamento.

Entretanto, para passeios com as durações e roteiros supra

mencionados, Nova Iguaçu, Nilópolis, Rio de Janeiro e “outros

estados”, os visitantes apresentam disposição para pagar por serviços

de guias em torno de 75% em média, o que aponta um grande

mercado não explorado e uma possibilidade de realmente poder mudar

o perfil médio do usuário e interferir na sazonalidade vigente.

4.3.5 Zoneamento recreativo no PNMNI

No zoneamento proposto na presente dissertação, houve grande

preocupação em se garantir a proteção das áreas mais preservadas, dado o

potencial intrínseco de comprometimento do patrimônio natural que a visitação pode

representar, principalmente para a flora e para a fauna, cujos estudos e diagnósticos

da biodiversidade local são incipientes.

Salienta-se como agravante, que foi publicado no Diário Oficial da Cidade do

Rio de Janeiro no dia 18/08/08 a Lei Municipal 4.899/08, projeto aprovado pelos

vereadores cariocas de autoria do vereador Jorge Felippe (PMDB-RJ) e sancionada

pelo Prefeito César Maia, que extingue o Parque Natural Municipal da Serra do

Mendanha, para transformá-lo em uma Área Especial de Interesse Social. Esta

categoria se destina a dar títulos de propriedades e para implantar programas

sociais, tais como: conjuntos habitacionais, favela bairro, entre outros. Ressalta-se

que esta UC era uma das raras com a situação fundiária resolvida, coberta com a

Floresta Ombrófila Densa mais bem conservada da Cidade do Rio de Janeiro e de

toda a Região Metropolitana do Estado do RJ. Pouco estudada, mas com enorme

potencial, tendo sido noticiado recentemente à descoberta de uma nova espécie de

anfíbio. Em relação ao PNMNI, o Parque do Mendanha se liga através da trilha do

mesmo nome, próximo a zona primitiva, daí sua importância estratégica para as

áreas de proteção integral de todo o maciço.

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164

Retornando ao zoneamento proposto, o PNMNI foi divido em duas grandes

áreas e para fins de gestão, as zonas recreativas sugeridas foram nomeadas de

acordo com as referências comumente utilizadas pela Administração e funcionários

(figura 15):

· Área (01) Visitação livre: envolvendo as zonas de uso especial, de uso

intensivo e extensivo (a exceção da área a partir do Poço da Natureza

até o Clube Dom Felipe).

· Área (02) Visitação controlada: Composta pela área da zona de uso

extensivo a partir do Poço da Natureza até o Clube Dom Felipe, zona

primitiva e zona intangível.

Deve-se observar que na área (2), as zonas delimitadas pela linha tracejada

em verde, diz respeito à proposta de mudança de classe deste segmento da Zona

de Uso Extensivo para Zona em Recuperação Especial, com fins de se proteger a

Zona primitiva. Esta mudança de classe visa minorar os efeitos de fragmentação

induzida pela “cunha” que a Estrada da Cachoeira representa para o tecido florestal,

que são ampliados com a visitação mantida nos moldes de uma zona de uso

extensivo.

Neste sentido, a visitação nestas áreas devem ter caráter mais restrito, sendo

utilizadas principalmente para fins de pesquisa e de turismo especializado cujo viés

principal seja a observação e conservação, como observação de fauna e turismo

científico, principalmente neste momento, em que os diagnósticos ambientais são

insuficientes e os recursos humanos e materiais não permitem um adequado

controle da visitação.

Desta forma, o maior volume fica concentrado na Área 01, nas zonas mais

alteradas, mas com grandes cenários devido as encostas recobertas por vegetação

rala e pastagens degradadas, as quais são grande promotores do consumo de

paisagem através de caminhadas.

Page 165: DissertacaoZen2 - completa

165

Legenda: Zoneamento proposto aplicando o ROS: Área (1) visitação aberta Zona (a) Central. Zona (b) Complexo do Vulcão Zona (c) Rampa. Zona (d) Mata fome.

Área (2) Controlada Zona de Recuperação Especial Zona (e) P4 (Posto Avançado). Zona (f) Pau da Letra.

Mapa base:

Zona de Uso Especial Zona de Uso intensivo Zona de Recuperação Zona de Uso extensivo Zona primitiva Zona Intangível

Figura 15 Zoneamento de Oportunidades Recreativas para o PNMNI, segundo metodologia ROS Fonte: Zoneamento Territorial e Ambiental do Parque – Mapa Nº HAB-NIG-D10/98. Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu – Vs Resumida – SEMUAM, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 2001 p. 67. Modificado por Flávio A P Mello 2008

(a)

(c) (d)

(e)

(f)

(b)

1 2

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166

4.4 Ações de apoio à Gestão do PNMNI

No decorrer dos trabalhos para a realização desta dissertação, a aproximação

com o corpo administrativo do PNMNI possibilitou a criação de vários produtos de

apoio à gestão, a partir de diagnósticos de demandas e análise das características

objeto de estudo. A receptividade da administração tanto possibilitou a antecipação

de algumas sugestões desta dissertação quanto testaram possibilidades aventadas

em seu desenvolvimento e conclusão . A seguir são resumidamente descritos as de

maior significância:

4.4.1 Sitio na internet para divulgação Institucional do PNMNI

Em 06/2006, início da presente pesquisa, foi oferecido à Administração

serviços voluntários de redator e designer, através da criação do site Amigos do

Parque (anexo 01) para a promoção do ecoturismo responsável e divulgação do

PNMNI. O nome “Amigos do Parque” foi escolhido por ser uma iniciativa informal, de

pessoa física, mas com fins de promoção da UC, a exemplo de iniciativas correlatas

existentes. O site hospedado em http://www.pmni.infotrilhas.com, possui atualização

regular e dispõe de seção especifica para a administração, a qual oferece também

um serviço de atendimento ao usuário, através de formulário on line. Entre as

seções existentes salientam-se:

· Lazer e Turismo: Lista dos principais atrativos em links individualizados

e com textos explicativos,

· Biblioteca digital: Dada a dificuldade de se relacionar o material técnico

e acadêmico produzido sobre a unidade, o link divulga a produção

catalogada até o momento, oferecendo links para download.

· Agenda: Divulga os eventos que ocorrem no parque.

· Voluntariado: Descrição dos serviços voluntários desenvolvidos no

parque e agenda.

· Fotorama: Hospedado em http://picasaweb.google.com.br/infotrilhas,

São álbuns fotográficos das atividades voluntárias e eventos

Page 167: DissertacaoZen2 - completa

167

desenvolvidos com a Participação de Voluntariado Ambiental Programa

Amigos do Parque no PNMNI.

4.4.2 Estímulo ao Voluntariado em Unidades de Conservação

Com a evolução dos levantamentos desta dissertação, os dados coletados

justificaram um primeiro desdobramento da criação do sitio na internet, através de

uma proposta mais elaborada de voluntariado, protocolada pelo autor em

31/07/2007 junto a direção da unidade, tendo como objetivo desenvolver a cidadania

ambiental dos usuários do Parque através de ações envolvendo o manejo de trilhas

como eixo de educação e sensibilização ambiental. Esta proposta foi denominada

Programa Amigos do Parque de Voluntariado Ambiental (anexo 05).

Operacionalmente, foi estabelecido um calendário mensal onde, a cada mês, se

alternavam mutirões de manejo de trilhas e/ou reflorestamento (fotografias 11 e 12),

conservação do viveiro de mudas florestais com passeios gratuitos guiados, com um

custo de um kg de alimento não perecível, doado a entidades do entorno.

Apoio ao voluntariado ambiental

Fotografia 11: Voluntários instalando poleiro seco32 no vale do Levi

Fotografia 12: Voluntários transportando em corrente material para mutirão na trilha do Levi

Flávio A. P. Mello: 2007 Flávio A. P. Mello: 2007.

As datas são divulgadas no link “Agenda” (anexo 06) com inscrições também

via internet. No ano de 2008, foram realizados 5 mutirões de manejo de trilhas, 4

mutirões de manutenção do Viveiro de mudas florestais e 6 passeios guiados,

32 Poleiros secos são uma estratégia de conservação onde se introduz pontos de descanso e observação para aves, principalmente em zonas descampadas, de modo induzir a dispersão de sementes veiculadas por aves em pontos dirigidos.

Page 168: DissertacaoZen2 - completa

168

destacando-se que o 6º passeio foi um safári fotográfico para 20 participantes.

Ressalta-se que os voluntários recebem certificado de participação que podem ser

contados como estágio por algumas instituições de ensino. Em agosto/2008 o

Projeto Amigos do Parque entrou em uma nova fase de açőes para conservação e

educação ambiental através do direcionamento do voluntariado para a produçăo

acadêmica através de 02 linhas mestras:

· Apoio e orientaçăo para produção acadêmica, onde se buscou orientar

ou co-orientar estudantes para elaboração de artigos para revistas,

congressos e trabalhos de conclusão de curso. Atualmente estão

sendo orientados dois grupos: um grupo da turma do curso Técnico em

Meio Ambiente, do Colégio presidente Kennedy em Belfort Roxo, que

desenvolve um pequeno projeto de recuperação ambiental de um platô

na Pedreira São José (fotografia 13) e um grupo de alunos do curso de

Biologia da Universidade Souza Marques, que atua no Viveiro de

Mudas Florestais elaborando um projeto de gestão do viveiro.

· Criação de núcleos de apoio voluntário a pesquisadores. Os núcleos

são coletivos de alunos de diversas áreas, que auxiliam projetos do

Amigos do Parque ou de pesquisadores que se articulam com este,

propiciando estágio e oportunidades de produção acadêmica. O

conceito surgiu a partir da parceria entre Projeto Amigos do Parque de

Voluntariado Ambiental e o Projeto Pró-Morcegos (fotografia 14):

Apoio e orientação à pesquisa acadêmica

Fotografia 13: Alunas do curso Técnico em Meio Ambiente, do Colégio Pres. Kennedy em Belfort Roxo, coleta de dados na Pedreira São José

Fotografia 14: Pesquisadores e alunos voluntários no projeto “Diversidade dos Morcegos do PNMNI”. Preparativos para a subida ao P4

Foto de Flávio A. P. Mello : 2008. Foto de Flávio A. P. Mello : 2008.

Page 169: DissertacaoZen2 - completa

169

4.4.3 Temporadas de Verão e Montanhismo

O calendário de eventos do PNMNI, até a presente data (novembro de 2008)

tem-se focado, de modo geral, nas comemorações do calendário ecológico,

notadamente com a semana do meio ambiente e dia da arvore, além de eventos

isolados de iniciativas de particulares, como caminhadas “ecológicas” e

comemorações variadas. Contudo, embora tenha como proposta o lazer e o

ecoturismo, a direção não possuía nada mais elaborado neste sentido e para tanto

foi sugerido a criação de duas temporadas de atividades, não só para concentrar

ações similares em uma mesma época, como também criar uma demanda no

período de menor visitação durante a estação de inverno. Desta forma, foram

criadas as temporadas de Verão, cuja segunda edição ocorrerá de 07/12/2008 à

28/02/2009 e de Montanhismo, com sua primeira edição ocorrida em 25/05/2008 a

17/08/2008.

Estas temporadas foram incorporadas no calendário do PNMNI, tendo sido

realizadas eventos de abertura com grande adesão dos usuários. Cabe salientar que

na Temporada de Verão é realizada a “Operação de Verão” que têm como objetivo

principal educar o usuário, através de abordagens educativas e realização de

mutirões relâmpagos de coleta de lixo nos poços e acessos, realizados por

voluntários e funcionários do parque (fotografias 15 e 16).

Temporada de Verão no PNMNI

Fotografia 15: Funcionário e voluntária abordando usuários

Fotografia 16: Mutirão relâmpago de coleta de lixo no poço do Casarão

Foto de Flávio A. P. Mello : 2008. Foto: Flávio a p Mello: 2008

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170

A temporada de Montanhismo de 2008 foi a primeira iniciativa com fins

específicos de se estimular o ecoturismo e lazer em trilhas no PNMNI. As datas da

temporada são escolhidas em consonância com as demais temporadas de

montanhismo que ocorrem em todo pais. No caso do Rio de Janeiro, o estado como

um todo, é tido como região de grande expressão para atividades de montanha, que

incluem além de escaladas, as atividades em trilhas: como trekking, corridas de

orientação e outros.

Assim, apesar do PNMNI não ter muitas possibilidades de escalada, possui o

geoparque e trilhas que podem ser utilizadas para tal. Destaca-se que o maciço do

Gericinó-Mendanha possui inúmeras trilhas, algumas históricas, que podem vir a

estimular a criação de nova unidades de proteção integral, tendo como viés a

preservação do patrimônio natural como área de lazer, a exemplo da criação do

Parque Natural Municipal de Nilópolis em área do Gericinó. Esta temporada é

marcada pelo evento Abertura de Temporada de Montanhismo do PNMNI, que dá

início oficial e oferece espaço para divulgação do Parque, parceiros e iniciativas

afins (fotografias 17 e 18). Espera-se que com os anos, o evento venha a consolidar

o PNMNI como uma referência em caminhadas em trilhas na região da Baixada,

tornando-se um irradiador de melhores práticas em visitação em áreas naturais para

a região.

Abertura de Temporada de Montanhismo do PNMNI

Fotografia 17: Visitantes na Pedreira São José durante a ATM-2008

Fotografia 18: Carlos Papel, fotógrafo amador expondo fotos do PNMNI durante a ATM 2008

Foto de Flávio A. P. Mello: 2008. Foto de Flávio A. P. Mello: 2008.

Page 171: DissertacaoZen2 - completa

171

4.4.4 Programa “Amigo do Parque conhece o Parque”

O Programa “Amigo do Parque Conhece o parque” foi desenvolvido através

de uma programação bimestral, com inscrição pelo site Amigos do Parque a um

custo de um kg de alimento não perecível que foi doado aos funcionários do parque

e instituições de caridade do entorno. As inscrições eram abertas até um mês antes

do passeio, para 12 vagas, tendo sido realizados 8 passeios guiados até novembro

de 2008, atendendo 54 usuários que se inscreveram através do site “Amigos do

Parque”.

Este “programa” foi uma estratégia de pesquisa, onde se buscou um contato

com os possíveis usuários de trilhas, visando conhecer seu perfil de uma maneira

menos formal (sem questionários e informando que eram objetos de pesquisas).

Utilizando a formação de guia de ecoturismo do pesquisador, foram procedidos os

serviços de condução de visitantes de maneira profissional e dentro dos moldes do

ecoturismo responsável (grupo pequeno, indução ao consumo de paisagens,

informação dirigida para valores conservacionistas visando à valoração ambiental

local e traçando paralelos com a vida urbana...), conforme figuras 19 e 20.

Programa “Amigo do Parque conhece o parque”

Fotografia 19: Flávio Zen e grupo no Circuito das Águas Março de 2008

Fotografia 20: Grupo na Pedra da Contenda Julho de 2008

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172

4.4.5 Síntese das recomendações ao PNMNI, por área temática

A seguir são descritas as recomendações e sugestões de uso público

geradas nesta dissertação (quadro 19). As recomendações foram agrupadas por

áreas de atuação:

01 Gestão Participativa

Fortalecer o Conselho consultivo, estimulando a formação de câmaras técnicas setoriais Consolidar no calendário anual do PNMNI as temporadas de Verão e Montanhismo como forma de se organizar eventos, e ações de gestão específicas e estimular parcerias, dentro de parâmetros mais definidos Estimular o voluntariado ambiental, dando ênfase à produção acadêmica e projetos de manejo de trilhas, recuperação de áreas degradadas, diagnósticos ambientais e turísticos.

02 Zoneamento Elaborar plano de gestão diferenciado para o Circuito das Águas, observando entre outros: capacidade de suporte, qualidade da experiência do visitante e balneabilidade dos poços. Confirmar a área da pedreira desativada São José como espaço multi-uso, mantendo a vegetação ciliar no sopé da lavra como espaço para Educação Ambiental, Observação de Aves e patrimônio paisagístico. Continuar o mapeamento das trilhas do parque, visando identificar as trilhas adicionais para o zoneamento recreativo e de conservação. Consolidar a área de uso extensivo nas áreas de maior alteração antrópica e de maior grau de degradação (zonas a, b, c e d), referidas Zoneamento de Oportunidades Recreativas no PNMNI Criar vagas para estacionamento ao longo da Estrada da Cachoeira, preservando o espaço da Pedreira São José, mas atendendo uma demanda mínima (realizar estudos complementares)

03 Conservação Requalificar as zonas ”e” e “f” referidas Zoneamento de Oportunidades Recreativas no PNMNI, como zona de recuperação especial. Priorizar a ativação da Casa do Pesquisador, Prevista para o Posto de Fiscalização nº 4, como forma de ocupar a parte alta da Unidade e inibir a ação de pessoas desautorizadas e caçadores. Estimular programas de Educação Ambiental que valorizem a fauna, em especial os pássaros, alvos de apreensão por parte de moradores. Assim como apoiar iniciativas de turismo especializado como Observação de aves. As práticas de rapel devem ser avaliadas face os flagrantes sinais de degradação observados. Na possibilidade de operação de vias de escalada, na pedreira desativada, devem ser contemplado um projeto especifico visando a segurança e a conservação da mata ciliar conforme referido

04 Visitação Manter o site Amigos do Parque como interface com o usuário e instrumento de divulgação da unidade ou estabelecer junto à secretaria municipal de meio ambiente de Nova Iguaçu, sitio com função e agilidade semelhante.

Monitorar o fluxo e dispersão de visitantes através do maior controle da roleta e amostragens sistemáticas do perfil do usuário.

Consolidar os roteiros sugeridos, dando ênfase ao Circuito das Águas e Trilha Circular Externa como referências para as temporadas de Verão e Montanhismo respectivamente Iniciar cadastro de operadores de turismo e lazer formais e informais que agem na unidade Estabelecer normas de uso para a Pedra da Contenda, visando a proteção do patrimônio ambiental e segurança dos visitantes

Quadro 19: Recomendações e sugestões ao PNMNI

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173

Em termos mais específicos, algumas observações também são pertinentes:

Para o PNMNI, é recomendado que a roleta localizada na guarita de acesso à

área seja utilizada com mais regularidade e critério, para que de fato possa

identificar qual a quantidade de pessoas que se movimentam na Unidade a partir

desta entrada e como se distribuem ao longo do ano. Foi percebido que, de acordo

com situações específicas, às vezes os visitantes não eram contabilizados ou os

dados na roleta não eram atualizados diariamente. Com estes dados mais exatos e

regulares, será possível comparar diversas leituras como, por exemplo, os

quantitativos mensais e de temporadas, as flutuações em função do clima, e ainda,

cruzar os dados de total de visitantes com as capacidades de carga previstas para

determinados atrativos e principalmente, constituir uma referência mais aproximada

da base amostral para os estudos estatísticos.

Para as interpretações mais qualificadas, é recomendável a utilização de

ferramentas estatísticas mais elaboradas como Amostragem Proporcional

Estratificada, onde é possível identificar não só a composição média dos usuários,

como também coletar dados aptos para a criação de estratos, de modo a se poder

aferir as características próprias de cada subgrupo, conforme preconizada por Tiboni

(2002:22-23).

Neste sentido, o controle de portaria com a correta utilização da roleta,

conforme referido, torna estas abordagens mais factíveis. A princípio, contudo, pode-

se estabelecer uma base aleatória onde para cada 20 visitantes fossem requeridas

perguntas rápidas como: origem, se é a primeira vez que vem ou se é usuário

regular (quantas vezes ao ano) e para onde pretende ir dentro do Parque

(mapeamento da dispersão). Os dados referentes a gênero e faixa etária poderiam

ser incluídos mediante observação do apontador.

Cabe observar que se faz necessário um amplo cadastro de operadores

informais, que devem incluir os agentes que atuam com passeios de lazer,

ecoturismo, rapel e os grupos institucionais como: igrejas, escolas e associações.

Estes, são grandes agentes de descontrole da visitação quando não orientados,

principalmente quanto à responsabilidade ambiental e das relações de consumo.

Embora pouco confortável para alguns visitantes, o cadastro permite a UC monitorar

Page 174: DissertacaoZen2 - completa

174

e passar a sensação de algum controle junto a estes operadores e ainda ter

parceiros para atividades específicas, como a divulgação das normas de visitação e

outras informações de interesse. As instituições que desenvolvem atividades no

parque ou em seu entorno, ou que poderão contribuir para tal.

Destaca-se ainda que uma aproximação operacional com a Prefeitura de

Mesquita poderia otimizar os trabalhos de diagnose e educação ambiental, visto que

a grande maioria dos usuários são oriundos deste município. Neste sentido, a

Secretaria de Meio Ambiente (via Sala Verde de Mesquita) têm desenvolvido várias

atividades sócio-ambientais no PNMNI, mas não há o adequado compartilhamento

de dados ou de iniciativas que possam redundar em benefício da unidade mútuo.

Ressalta-se, portanto, a necessidade de tornar o Conselho Consultivo, de fato, uma

ferramenta de gestão e de participação comunitária, inclusive com o fomento de

câmaras técnicas, que podem orientar a produção acadêmica sobre o PNMNI assim

como muitas decisões de gestão.

Os contatos com as secretarias de educação de ambos os municípios

chegaram a ser cogitados no decorrer da elaboração desta dissertação, entretanto,

foi constatado que estas secretarias, no tocante a programação de atividades que

envolviam o PNMNI, já possuíam uma programação de visitas ao Parque através de

duas formas: via programas específicos da Secretaria de Meio ambiente de visitas

guiadas e de treinamento de educadores (escolas públicas e privadas), notadamente

da prefeitura de Mesquita, via Sala Verde (Tapinhoã); ou através de visitas

independentes ao Parque, através de agendamento direto (principalmente Nova

Iguaçu).

Salienta-se ainda, a importância do fomento ao voluntariado em unidades de

conservação que é uma tradição em inúmeros países do mundo. Nos Estados

Unidos, o Serviço de Parques Nacionais conta com um programa de voluntários nos

parques que gera benefícios mútuos para os parques e para os voluntários. No

Brasil o trabalho voluntário foi regularizado pela lei 9608/98. Segundo esta lei, o

serviço voluntário é uma atividade não remunerada, prestada por pessoa física a

entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada sem fins lucrativos

que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de

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175

assistência social inclusive a mutualidade. Ressalta-se que o serviço voluntário não

gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou

afim.

No PNMNI, o desenvolvimento desta dissertação propiciou uma mobilização

conhecida como Projeto Amigos do Parque, o qual têm como objetivo desenvolver a

cidadania ambiental junto a seus usuários, através de ações de voluntariado

envolvendo uma agenda regular de mutirões de plantio de mudas e manejo de

trilhas como eixo de educação e sensibilização ambiental, assim como a promoção

do ecoturismo responsável e divulgação do PNMNI.

Apesar da mobilização de voluntários, as dificuldades de gestão do Parque

permanecem, pois o serviço voluntário, por suas características peculiares não visa

à substituição do pessoal efetivo e ainda seu espectro de atuação é limitado, de

acordo com a disponibilidade de voluntários. Contudo, foi demonstrado à direção da

Unidade, que é possível minorar ou mesmo suprir determinadas deficiências

administrativas, e ao mesmo tempo, propiciar experiência e oportunidades de

cidadania ao voluntário, desde que haja um mínimo de planejamento das atividades

e pessoal técnico responsável; conforme o saldo de atividades até a presente data

aonde desde sua implantação, o programa conduziu 14 mutirões de manejo de

trilhas, plantio de mudas nas áreas da Pedreira e vale do Levi e revitalização do

viveiro de mudas florestais; mobilizou voluntários para as atividades de abertura das

temporadas Montanhismo e de Verão 2008, na qual foram realizados mutirões

relâmpagos de limpeza dos poços e acessos.

Embora um tanto despercebido pela administração, a divulgação antecipada

de um calendário de atividades previstas, também auxilia sobremaneira na gestão

da visitação da unidade e o planejamento a médio prazo das atividades mais

representativas, que devem ter maior atenção face as repercussões na mídia e para

as políticas públicas de promoção da unidade e interação com seu público usuário.

Um outro aspecto a se destacar é a urgência de contratação de pessoal técnico

qualificado para que possa auxiliar na gestão, expandindo as funções do parque

além da manutenção da Estrada da Cachoeira até o Casarão e o controle de

portaria, conforme salientado nas várias iniciativas conduzidas através do

voluntariado Amigos do Parque.

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176

5.0 CONCLUSÕES

As análises realizadas, bem como os principais resultados obtidos, permitiram

concluir que os objetivos propostos foram plenamente atingidos no que tange ao

mapeamento e ordenamento de circuito de trilhas, criação de roteiros e geração de

subsídios para o zoneamento turístico do PNMNI. A abertura de trilhas em áreas

preservadas, por si só, é uma agressão ao meio ambiente e seu estudo é de suma

importância, na medida em que é possível avaliar a relação custo-benefício das

interferências que repercutem no patrimônio natural da unidade de conservação,

tanto em termos de biodiversidade quanto em valores menos tangíveis, como nos

cenários. De fato, embora utópico, o ideal seria poder comparar o custo das

interferências e os benefícios advindos da aplicação sistemática de valoração

ambiental. Entretanto, tal condição deve ocorrer com base em diagnósticos mais

precisos, suposições e expectativas, visto que muitos de seus valores partem de

condições subjetivas. É justo, portanto, pressupor que a manutenção de áreas com

elevados índices de preservação e mesmo de conservação, deve ser considerada

com maior relevância principalmente em tempos de mudanças climáticas e extinção

massiva de espécies por alterações antrópicas de ecossistemas protegidos ou não.

Por extensão, ao se examinar o ordenamento da malha de trilhas existentes

em unidades de conservação, é patente que este se reveste de capital importância,

ao se traduzir em potencial instrumento de proteção ambiental. O ordenamento é

uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo em que interfere nos lugares e

territórios, também sofre sua repercussão e conseqüência. Deste modo,

considerando o viés da conservação, a seleção de trilhas através da elaboração de

roteiros com fins definidos e específicos, constitui por si mesmo, um dos vetores de

zoneamento territorial e ambiental, pois ao se modular a acessibilidade da visitação,

maneja direta e indiretamente os impactos, dentro de limites aceitáveis, em cada

zona estabelecida.

É fato reconhecido que a gestão ótima de recursos ambientais pressupõe

uma visão multidisciplinar e transversal, cujo julgamento, entretanto, tende a

minimizar ou ignorar elementos componentes que possam comprometer o objetivo

final, de acordo com a percepção e interesse do operador. Para a realidade do

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177

PNMNI, mesmo aquelas com prerrogativas de uso para a visitação estabelecida

conforme a categorização do SNUC, a ausência de informações inconclusivas

quanto à fauna, a flora e demais recursos, devem ser consideradas com mais

acuidade quando se trata de unidades de conservação de proteção integral.

Por suposto que esta condição, de proteção integral, não deve ser impeditiva

para o estabelecimento da visitação, pois esta também cumpre sua função social e

cultural, contudo, a atenção, quanto aos impactos presentes e futuros, deve ser

considerada, não só nas trilhas, espaços de lazer e de contemplação, mas também

em seus efeitos deletérios por contigüidade, como é o caso dos eventos percebidos

na fragmentação florestal induzidas pela abertura ou manutenção destas vias e

espaços.

Ante a complexidade, demanda técnica e financeira de se estabelecer a

valoração ambiental de recursos naturais da Unidade, essencial para se ter um

parâmetro mais palpável para as relações custo-benefício de elementos tangíveis e

intangíveis, deve-se optar pelo “principio da precaução” e estabelecer com mais

prioridade as ferramentas de monitoramento de impactos, assim como aquelas que

induzem a participação dos diversos atores; como preconizado pela metodologia de

Monitoramento Participativo do Turismo Desejável (MPTD) sugerido por Seabra

(2005, op.cit) e outras como o TOMM, VERP e VAMP. Salienta-se que estas

ferramentas metodológicas são muito eficientes para a mobilização de conselhos

consultivos, que no PNMNI embora instituído, possui participação e

representatividade muito aquém do desejado. De fato, os conselhos consultivos

podem ser muito eficientes para criar condições políticas a favor da gestão das

unidades, a exemplo de experiências vitoriosas como a estabelecida no Parque

Nacional da Serra dos Órgãos através de suas diferentes câmaras técnicas e fóruns

de participação com as comunidades de usuários.

No tocante à ampliação do perfil dos usuários, conforme demonstrado nesta

dissertação, o conhecimento regular de seus hábitos e expectativas sobre o Parque

é uma informação estratégica e de relevância, principalmente em unidades com

carência de recursos humanos e materiais, como é o caso do PNMNI. Estas

informações permitem que se otimizem recursos e se tracem estratégias para a

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adequada proteção dos recursos naturais e construídos, dentre os limites

operacionais disponíveis. De fato, a massa de dados gerada irá consubstanciar as

demandas da administração a quem de direito, assim como municiar pesquisas

acadêmicas e técnicas.

Finalmente, pode-se dizer que nos trabalhos para desenvolvimento desta

dissertação, a proposição de se subsidiar o zoneamento de lazer e ecoturismo

utilizando a seleção de trilhas e estabelecimento de roteiros predefinidos, pode ser

atingida e lançada as bases para se testar ao longo do tempo, a hipótese de se

induzir a mudança no perfil do usuário do parque desejada pela administração; isto

é, que o usuário médio do Parque também fosse capaz de utilizar as trilhas e outros

espaços e atividades, além do uso sazonal de verão e localizado nos poços e

cachoeiras do rio Dona Eugênia. Ressalta-se que em seu bojo o ordenamento da

malha de trilhas selecionadas, assim como, o zoneamento recreativo proposto, irá

facilitar os serviços de fiscalização da visitação e preservação dos recursos naturais

e paisagísticos locais, os quais somente foram possíveis graças às múltiplas

abordagens e vivências estabelecidas através de diferentes estratégias de

percepção e aquisição de dados.

De fato, poder-se-ia abster destas derivações, como por exemplo, a criação

do voluntariado e dos passeios guiados gratuitos, e concentrar-se apenas no objeto

do mapeamento das trilhas, avaliação de territórios e lugares e propor um

zoneamento conforme as diferentes proposições metodológicas existentes. Contudo,

optou-se pelo trabalho interativo, pesquisa e ação. Desta forma, a riqueza conceitual

para o ordenamento da malha de trilhas e o zoneamento conseqüente, tangencia

diversos aspectos teóricos e práticos, de organização de sistemas e fluxos de

energia, valoração ambiental, à conservação e turismo, dentre outros, reafirmando a

necessidade da abordagem multidisciplinar e transversal do manejo de trilhas como

ferramenta de conservação efetiva, representadas por diferentes contribuições.

Concluindo, como consideração final, pode-se estabelecer que a utilização

das trilhas como vetores de zoneamento turístico e de lazer, possui grande potencial

para, através de seu ordenamento, subsidiar o zoneamento territorial e ambiental de

unidades de conservação.

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179

6.0 BIBLIOGRAFIA

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7.0 Anexos 7.1 Anexo 01: Site AMIGOS DO PARQUE

· www.pmni.rg3.net (redirecionado) utilizado para divulgação · www.pmni.infotrilhas.com (hospedado)

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7.2 Anexo 02 “Pesquisa de Fluxo e Padrão de Dispersão de Visitantes” Exemplificação da seção “Amigos do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, com explicações de como o usuário pode participar “on line” da “Pesquisa de Fluxo e Padrão de Dispersão de Visitantes”

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7.3 Anexo 03: Pesquisa de Perfil e Dispersão de Operadoras de Ecoturismo e de Lazer na Natureza

- Exemplificação da seção “Amigos do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, com explicações de como as operadoras de ecoturismo e de lazer podem participar “on line” da “Pesquisa de Perfil e Dispersão de Operadoras de Ecoturismo e de Lazer na Natureza”

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7.4 Anexo 04: Pesquisa de Valoração econômica dos serviços de condução de visitantes

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7.5 Anexo 05: Proposta de Voluntariado Exemplificação da seção de “Voluntariado”, com explicações sobre como participar do programa

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7.6 Anexo 06: Agenda