Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do...

77
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Terminologia e Gestão da Informação de Especialidade, realizada sob a orientação científica de Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino

Transcript of Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do...

Page 1: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de

Mestre em Terminologia e Gestão da Informação de Especialidade, realizada sob a orientação

científica de

Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino

Page 2: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

À minha filha Maria Eduarda,

que sempre foi a minha maior fonte de

inspiração e também, por ter sido a minha

grande motivação para vencer mais este grande desafio

Page 3: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

AGRADECIMENTOS

O meu primeiro grande agradecimento vai para Deus, por ter sido o meu grande

conselheiro e ter iluminado todos os passos dados até chegar aqui.

Um especial e sincero agradecimento à minha orientadora, Professora Doutora Maria

Teresa Rijo da Fonseca Lino, mais do que uma orientadora, foi, para mim, uma mãe, pelos

conselhos dados, paciência, orientação e, sobretudo, dedicação.

Não podia deixar de agradecer a minha família, pelo apoio incondicional, em

particular o meu pai, Benjamim Gunza, que sempre foi, é e sempre será o meu porto seguro.

Gostaria também de deixar o meu agradecimento ao Instituto Nacional de Gestão de

Bolsa de Estudos (INAGBE) e ao Ministério da Educação, em especial à Doutora Paula

Henriques, pela bolsa concedida.

Não me podia esquecer dos meus colegas de batalha, a todos vocês um abraço

caloroso, especialmente para o Amadeu Barros e o Venâncio Chambumba.

Page 4: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

RESUMO

VOCABULÁRIO DE BASE NO ENSINO PRIMÁRIO EM ANGOLA

Domingas Adélia Figueira Gunza

O nosso trabalho tem como objectivo apresentar uma organização de um Vocabulário

de Base no Ensino Primário em Angola, numa perspectiva de ensino e aprendizagem do

Português, em contexto angolano, com vista à contribuição e melhoria das estratégias do

ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação

em materiais didácticos, como em dicionários de aprendizagem.

Apresentámos, de uma forma sucinta, a organização e o contexto de desenvolvimento

dos Sistema de Educação de Angola, com a finalidade de fazer um enquadramento dos planos

de estudo do Ensino Primário. Foram importantes as abordagens sobre os conceitos básicos de

Lexicologia, Lexicografia, léxico, cultura, vocabulário, Lexicultura.

Usámos o software Hyperbase como metodologia para o levantamento, selecção e

organização dos vocábulos nos manuais escolares. O software serviu para análise dos dados

dos textos, de modo a propor um dicionário de aprendizagem, conforme o modelo

apresentado no final do trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Vocabulário de Base, ensino e aprendizagem do vocabulário, léxico,

cultura e dicionário.

Page 5: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

ABSTRACT

BASE VOCABULARY IN PRIMARY EDUCATION IN ANGOLA

Domingas Adélia Figueira Gunza

Our paper aims to present an organization of the Teaching Base Vocabulary in

Primary Schools in Angola, with a view of teaching and learning Portuguese in the Angolan

context, in order to contribute to the improvement of the teaching and learning strategies not

only in classrooms, but as well as its usage in educational materials, such as learning

dictionaries.

We show in a succinct manner, the organization and the development context of the

Angolan education system, in order to establish the curricula framework in primary education.

The approaches to the basics of lexicology, lexicography, lexicon, culture, vocabulary and

lexiculture were important.

We used Hyperbase software as a methodology for the survey data collection, selection

and organization of words in textbooks. The software was used to analyse the text data in

order to propose its usage in a learning dictionary, as shown in the model at the end of the

paper.

KEY WORDS: Base vocabulary, vocabulary teaching and learning, lexicon, culture and

dictionary

Page 6: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

ÍNDICE

0. INTRODUÇÃO

0.1.Natureza e objectivos do estudo ---------------------------------------------------10

0.2. Enquadramento teórico -------------------------------------------------------------11

0.3. Organização --------------------------------------------------------------------------12

CAPÍTULO I - ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO ANGOLANO FACE AOS

DESAFIOS DO NOVO MODELO ESTRUTURAL PROPOSTO PELA SEGUNDA

REFORMA EDUCATIVA.

1.1. Estrutura orgânica e caracterização do Sistema de Educação de Angola --------15

1.1.1. A Reforma Educativa -----------------------------------------------------------------17

1.1.2. Historial sobre a Reforma Educativa -------------------------------------------19

1.1.3. Objectivos do estudo sobre a Reforma Educativa ----------------------------20

1.2. Contexto do desenvolvimento do Novo Sistema de Educação --------------------21

1.2.1. Comparação entre o Antigo e o Novo Sistemas de Educação -------------23

1.2.2. O Ensino Primário em Angola -------------------------------------------------24

CAPÍTULO II – O LÉXICO NO ENSINO E APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS

VARIANTE ANGOLANA.

2.1.Considerações sobre a Lexicologia ----------------------------------------------------28

2.1.1. Léxico, cultura e Lexicultura --------------------------------------------------------30

2.2. O vocabulário ----------------------------------------------------------------------------35

2.2.1. Léxico vs vocabulário ------------------------------------------------------------38

2.2.2. O que significa conhecer um vocabulário? ------------------------------------40

2.2.3. Quantas unidades lexicais constituem o vocabulário? -----------------------41

2.2.4. Ensino explícito e aprendizagem do vocabulário -----------------------------42

Page 7: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

CAPÍTULO III – CORPUS E TRATAMENTO DOS DADOS

3.1. Constituição do corpus de manuais escolares ---------------------------------52

3.2. Análise do corpus Manuais -----------------------------------------------------53

3.2.1. Frequência, Dicionário de frequência e Riqueza Lexical -------53

3.2.2. Concordâncias e Contextos -----------------------------------------56

CAPÍTULO IV – DICIONÁRIO DE APRENDIZAGEM PARA

O ENSINO PRIMÁRIO

4.1. Breve história da Lexicografia -------------------------------------------------61

4.2. O que é um Dicionário? ----------------------------------------------------------63

4.2.1. Características de um Dicionário ----------------------------------65

4.2.2. Tipologia Organização dos Dicionários ---------------------------65

4.3. Concepção de um Dicionário de aprendizagem para o Ensino Primário --67

CONCLUSÃO ----------------------------------------------------------------------------------72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------------74

Page 8: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

LISTA DE ABREVIATURAS

ASE – Antigo Sistema de Educação

CCP – Carga Cultural Partilhada

EP – Ensino Primário

ILTC – Instituto de Linguística Teórica e Computacional

INIDE – Instituto Nacional de Investigação para o Desenvolvimento da Educação em Angola

LBSE – Lei de Bases do Sistema de Educação

MED – Ministério da Educação de Angola

NSEA – Novo Sistema de Educação Angolano

NSE – Novo Sistema de Educação

PLM – Português Língua Materna

PLNM – Português Língua Não Materna

PVA – Português Variante Angolana

RE – Reforma Educativa

SEA – Sistema de Educação de Angola

Page 9: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

9

INTRODUÇÃO

Page 10: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

10

0. INTRODUÇÃO

0.1. Natureza e Objectivos do Estudo

O Sistema Educativo Angolano passou por um processo de restruturação e

reorganização dos Planos de Estudo do Ensino. No nosso trabalho, limitar-nos-emos à

avaliação da reorganização do modelo curricular, na perspectiva de organização do

Vocabulário de Base no Ensino Primário em Angola.

Segundo consta na Lei de Bases do Sistema de Educação de Angola, o Ensino

Primário comporta seis anos de ensino obrigatório, constituindo a base do Ensino Geral.

Deste modo, garante que o aluno, terminados os seis anos de escolarização, esteja

capacitado a aplicar os instrumentos que lhe foi posto à disposição, quer seja de

pesquisa, organização, raciocínio, comunicação e expressão, quer para o

reconhecimento do seu meio natural e social, com vista à continuidade dos estudos e à

afirmação social.

Considerado fundamental para o desenvolvimento das crianças, em função do

nível de escolaridade, foi apresentado para o Plano de estudo do Ensino Primário um

currículo de 10 disciplinas, nomeadamente, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências

da Natureza, História, Geografia, Educação Moral e Cívica, Educação Manual e

Plástica, Educação Musical e Educação Física (Cf. Currículo-Ensino Primário,

2011:11), sendo o Português língua de ensino formal em Angola.

O ensino de uma língua viva impõe metodologias que garantem a

progressividade na sua aprendizagem; por isso, achamos pertinente uma investigação

que tenha como objecto a selecção e a delimitação de um Vocabulário de Base que

servirá de apoio ao cumprimento do plano curricular do Ensino Primário, uma vez que o

conhecimento do vocabulário do Português é um factor fundamental para os alunos

compreenderem os conteúdos das referidas disciplinas.

Lino (1979:11) considerou existirem lacunas no estudo sistemático do léxico

aplicado ao ensino. Assim, com vista a preencher as possíveis lacunas que,

eventualmente, poderão existir no ensino do Português em Angola, o estudo que nos

propomos fazer será um contributo para uma nova pedagogia de ensino do vocabulário

Page 11: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

11

a alunos do Ensino Primário no país, uma vez que o Português não é, em muitos casos,

língua materna dos alunos, facto que cria dificuldades ao ensino e aprendizagem da

língua nos primeiros anos de escolaridade. Esta constatação leva-nos a reflectir sobre o

ensino do Português Língua Materna (PLM) e o ensino do Português Língua Não

Materna (PLNM). Assim, o nosso trabalho tem os seguintes objectivos:

Delimitar o vocabulário de base indispensável ao ensino e aprendizagem do

Português, variante angolana, referente ao Ensino Primário.

Apresentar uma estratégia de ensino explícito e aprendizagem do vocabulário

nos primeiros anos de escolaridade, tendo em conta a língua materna do aluno.

Sugerir a aplicação do vocabulário e do conhecimento sobre o qual se manifesta

em material escrito.

Contribuir para a preparação e/ou criação de meios pedagógicos de auxilio aos

professores para o ensino do Português.

0.2. Enquadramento teórico

Tendo em conta os objectivos do nosso trabalho, fizemos uma revisão à Lei de

Bases do Sistema de Educação de Angola, bem como aos relatórios sobre a

implementação e adaptação da Reforma Educativa de 2002, de modo a entendermos o

funcionamento, organização e evolução do Sistema de Educação de Angola.

Em relação aos domínios da Linguística, a revisão da bibliografia centrou-se nos

estudos feitos por Gaudin & Guespin (2000), Lino (1979, 2003, 2010), Genouvrier &

Paytard (1973), etc., uma vez que representam os trabalhos realizados sobre o domínio

de aplicação da Lexicologia e Lexicografia, enquanto ciências, cuja finalidade principal

é o estudo científico do léxico. Na mesma perspectiva, Lehmann & Martin-Berthet

(1998) apresentam investigação sobre a organização lexical.

Barbosa (2008) escreveu sobre o fenómeno ligado ao léxico e cultura, ao qual

Galisson (1970, 1971, 1987, 1988, 1991) designou Lexicultura, e chegou à conclusão

que as unidades lexicais com Carga Cultural Partilhada apresentam uma série de

características reconhecidas por um grupo social. Sobre o mesmo assunto também

Page 12: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

12

Guillén Díaz (2003) afirma que o conceito de Lexicultura se situa numa dupla

dimensão, nomeadamente, a dimensão linguística e a dimensão social e cultural.

No que diz respeito ao vocabulário, Biderman (1996) salienta a sua adequação e

importância, na comunicação linguística. Na mesma óptica, relativamente à

aprendizagem do vocabulário por parte dos alunos, Bogaards (1994:142) acrescenta

que:

“… il leur faut avant tout connaître le vocabulaire qui soit adapté aux besoins

spécifiques de leurs contacts avec l´autre langue… “

O autor apresenta, ainda, alguns aspectos essenciais e métodos de ensino e

aprendizagem do vocabulário, tendo em conta os objectivos didácticos. Na mesma

perspectiva, Paiva (2004) apresenta estratégias de ensino e aprendizagem ligadas a

níveis metacognitivos, cognitivos, sociais e de comunicação, que ajudem o aluno a

organizar e avaliar a sua competência lexical.

Assim, numa óptica de ensino e aprendizagem do vocabulário, orientamos a

nossa reflexão para os estudos feitos por Bonicel (2003), Galisson (1970), Faria (1996),

Biderman (1996), Araújo (2007), autores que que nos apresentam trabalhos sobre

Dicionários de aprendizagem, numa perspectiva de ensino e aprendizagem do

vocabulário que constitui o foco central dessa investigação.

0.3. Organização

O trabalho apresenta-se organizado em quatro capítulos. No Capítulo I-

Organização do Sistema Educativo angolano face aos desafios do novo modelo

estrutural proposto pela segunda Reforma Educativa, fazemos referência, de modo

geral, à estrutura organizacional do Sistema de Educação de Angola, aos objectivos da

segunda Reforma Educativa que decorre no país, com base nos contextos do seu

desenvolvimento, com vista ao enquadramento do Ensino Primário, alvo do nosso

estudo.

Capítulo II- O léxico no ensino e aprendizagem do vocabulário do

Português da Variante Angolana. Neste capítulo, abordamos as marcas da cultura na

Page 13: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

13

língua, uma vez que Angola é um país multilingue e, consequentemente, com uma

cultura ou culturas específicas. O objectivo da nossa investigação é propormos um a

delimitação do léxico que tem em conta a diversidade cultural angolana e o facto de

muitos alunos não terem o Português como a primeira língua de contacto.

No Capítulo III – Constituição do corpus de estudo e tratamento dos dados,

apresentamos a metodologia de tratamento do corpus, para o levantamento das unidades

lexicais. Para tal, procedemos à utilização de um hipertexto, o software HYPERBASE.

No Capítulo IV – Dicionário de aprendizagem para o Ensino Primário,

apresentamos uma proposta de organização do vocabulário de base, destinado ao Ensino

Primário; propomos um modelo de Dicionário de aprendizagem que deverá ter uma

função importante no percurso escolar.

Page 14: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

14

CAPÍTULO I

ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO

ANGOLANO FACE AOS DESAFIOS DO

NOVO MODELO ESTRUTURAL

PROPOSTO PELA

SEGUNDA REFORMA EDUCATIVA

Page 15: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

15

1.1. Estrutura orgânica e caracterização do Sistema da Educação de

Angola

Angola é um país plurilinguístico1, sendo o Português consagrado como Língua

Oficial, língua de comunicação entre os angolanos e de ensino formal (Constituição da

República de Angola (C.R.A) Art. 19º, nº 1 e Lei de Bases do Sistema de Educação

(LBSE) Art.9º, nº1). Antes de passarmos à análise geral da estrutura do Sistema de

Educação de Angola, achamos importante referir, de uma forma muito breve, à

organização do órgão que vela pela promoção e fiscalização das políticas educativas de

Angola2 com vista ao desenvolvimento político, económico e sociocultural do país.

O Ministério da Educação de Angola (MED) é o Departamento Ministerial

Auxiliar do Presidente da República (titular do Poder Executivo), cujos objectivos são

assegurar a execução da política educativa, propor políticas que visam a melhoria da

qualidade de ensino, promover, coordenar e estimular a participação da sociedade civil

nas actividades do domínio da educação e ensino, bem como valorizar e representar a

República de Angola, no âmbito do cumprimento dos compromissos no domínio da

educação, relativamente ao Ensino Primário e Secundário e da identidade nacional

(Estatuto Orgânico do Ministério da Educação de Angola).

Assim sendo, em resposta à execução das políticas educativas é aprovada a Lei

nº 13/01 de 31 de Dezembro – Lei de Bases do Sistema de Educação (LBSE)3 com a

finalidade de cumprir com os objectivos da formação e os do desenvolvimento do país,

onde se espelha a estrutura e organização de um Novo Sistema da Educação4 (Lei Nº

13/01 de 31 de Dezembro).

1 Além do Português, existem outras línguas faladas no país, nomeadamente, Umbundu, Kimbundu,

Kikongo, Tchokwe, N´ganguela, etc. sendo que algumas foram implementadas no ensino, em fase

experimental. 2Falamos em políticas educativas de Angola no âmbito do ensino formal. Importa ainda referir que foram

tidas em conta as estruturas curriculares de outros países para a concepção do novo modelo curricular do

Ensino Primário e Secundário. 3 A LBSE surge da necessidade de se realizar a escolarização de todas as crianças em idade escolar, de

reduzir o analfabetismo de jovens e adultos e de aumentar a eficácia do sistema educativo, com vista a

responder às novas exigências da formação de recursos humanos, necessários ao progresso sócio-

económico da sociedade angolana (Lei nº 13/01 de 31 de Dezembro). 4 O Sistema de Educação é definido na LBSE como o conjunto de estruturas e modalidades, através do

qual se realiza a educação, tendentes à formação harmoniosa e integral do individuo, com vista a à

construção de uma sociedade livre, democrática, de paz e de progresso.

Page 16: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

16

Interessa-nos referir, de modo a explicitar o organigrama que será apresentado

mais adiante, que o Sistema de Educativo Angolano (SEA) possui três níveis de ensino,

nomeadamente: o Ensino Primário, o Ensino Secundário e o Ensino Superior, repartidos

em seis subsistemas de ensino, a saber: O subsistema de educação pré-escolar5, que

comporta a Creche e o Jardim Infantil, tendo como público-alvo crianças de um a cinco

anos de idade. (LBSE, Art.10º e Art.13º). O subsistema de ensino geral comporta o

Ensino Primário (EP), que constitui o ponto de partida para os estudos a nível

secundário, cujos objectivos são desenvolver, garantir, estimular, proporcionar

conhecimentos e aperfeiçoar o domínio da comunicação e da expressão tendentes à

socialização (Ibidem Art.17º e 18º) e o Ensino Secundário, que sucede ao EP e está

repartido em dois ciclos, o 1º e o 2º Ciclos do Ensino Secundário.

O SEA comporta, ainda, os subsistemas de ensino técnico-profissional6, que é a

base da formação técnica e profissional dos jovens que se apresentam ao mercado de

trabalho e apresenta dois momentos de formação, a saber: a formação profissional

básica e a formação média técnica. O subsistema de formação de professores7 que tem a

ver com a formação de docentes para a educação pré-escolar e para ensino geral. O

subsistema de educação de adultos8 visa a recuperação do atraso escolar, pois permite

que cada individuo aumente os seus conhecimentos e desenvolva as suas

potencialidades, assegurando o acesso da população adulta à educação. E, por último, o

subsistema de ensino superior9 que visa a garantia da formação de quadros a nível

superior nos diferentes domínios do conhecimento, assegurando-lhes uma preparação

5 Os objectivos do subsistema de educação pré-escolar são: promover o desenvolvimento intelectual,

físico, moral, estético e afectivo da criança, garantindo-lhe um estado sadio por forma a facilitar a sua

entrada no subsistema de ensino geral e permitir a sua melhor integração e participação através da

observação e compreensão do meio natural, social e cultural em que está inserida (Lei nº 13/01 de 31 de

Dezembro). 6A formação profissional básica realiza-se nos centros de formação profissional públicos e privados, após

a conclusão da 6ª classe. A formação média técnica realiza-se nas escolas técnicas, após a conclusão da 9ª

classe, com a duração de quatro anos (Idem). 7 O subsistema de formação de professores realiza-se em escolas normais após a conclusão da 9ª classe,

com a duração de quatro anos. Terminados os quatro anos, o aluno estará capacitado para inserção em

escolas e institutos superior de ciências da educação (Idem). 8 O subsistema de educação de adultos funciona mediante processos e métodos educativos intensivos e

não intensivos, estrutura-se em classes e realiza-se em escolas oficiais, particulares, de parceria, nas

escolas polivalentes, em unidades militares, em centros de trabalho e em cooperativas ou associações,

destinando-se à integração sócio-educativa e económica do individuo a partir dos 15 anos de idade

(Idem). 9O subsistema de ensino superior está estruturado em graduação, que comporta o bacharelato e a

licenciatura. E em pós-graduação que comporta a pós-graduação académica (mestrado e doutoramento) e

a pós-graduação profissional (compreende a especialização) (Ibidem).

Page 17: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

17

científica, técnica, cultural e humana. Esta estrutura organizacional do SEA pode ser

representado no quadro que se segue:

ORGANIGRAMA DO SISTEMA EDUCATIVO ANGOLANO

Idades mínimas de ingresso

1- 2- 3- 4- 5- 6- 7- 8- 9- 10-11 12- 13- 14 15- 16- 17- 18

EDUCAÇÃO PRÉ- ESCOLAR ENSINO PRIMÁRIO ENSINO SECUNDÁRIO

Creche Jardim infantil Ensino Geral;

Educação

Regular

Educação de Adultos;

Alfabetização/Pós-

Alfabetização

1º Ciclo 2º Ciclo

Formação profissional

básica

Formação média técnica

1- 2- 3 4- Iniciação 1ª- 2ª- 3ª- 4ª- 5ª- 6ª 7ª- 8ª- 9ª 10ª- 11ª- 12ª- 13ª

ENSINO OBRIGATÓRIO Ensino geral

Educação regular

Educação de adultos

Ensino geral

Educação regular

Educação de adultos

7ª- 8ª- 9ª 10ª- 11ª- 12ª

ENSINO SUPERIOR

Graduação Pós-Graduação

Licenciatura

Bacharelato

1º- 2º- 3º- 4º- 5º- 6º

Académica

Mestrado Doutoramento

1-2-3 - 1- 2- 3- 4-5

Profissional: Especialização (duração variada)

Quadro 1: Organigrama do Sistema Educativo Angolano

Fonte: Balanço da Implementação da Reforma Educativa nos Subsistemas de Ensino, Educação Pré-

Escolar, Ensino Geral, Formação de Professores e Ensino Técnico Profissional, 2012

1.1.1. A Reforma Educativa

Antes de passarmos à Reforma Educativa (RE), em contexto angolano, achamos

importante ver o que nos dizem alguns dicionários sobre o conceito de reforma. Nestes

termos, temos as seguintes definições:

Reforma: mudança introduzida em algo para fins de

aprimoramento e obtenção de melhores resultados (Fonte: Dicionário do

Português Actual Houaiss, 2011).

Page 18: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

18

Movimento social que visa a modificar as condições de vida, por

mudanças de política social e administrativa (Dicionário de Português

online Michaelis).

Nova organização ou modificação de uma organização existente

(Dicionário online Priberam).

Assim, segundo o Relatório sobre o Balanço da Implementação da RE nos

Subsistemas de Ensino, Educação Pré-Escolar, Ensino Geral, Formação de Professores

e Ensino Técnico Profissional, o conceito de Reforma Educativa em Angola deve ser

entendido como:

“Deve-se entender como um processo complexo que implica uma

mudança de vulto, desejável e válida do Sistema Educativo vigente

desde 1978 para o Novo Sistema Educativo aprovado através da

Lei de Base do Sistema de Educação, Lei nº 13/01 de 31 de

Dezembro, e implementado a partir de 2004, tendo como suporte o

plano de implementação progressivo do Novo Sistema de

Educação, aprovado pelo Decreto nº 2/05 de 14 de Janeiro” (2011:

7).

A RE, em Angola constitui um dos grandes objectivos da Estratégia Integrada

para a melhoria do Sistema de Educação num período de 14 anos, isto é, entre 2001 e

2015, cujas principais zonas de “ataque” resumem-se nas seguintes: erradicar o

analfabetismo e proporcionar a educação básica obrigatória à população

economicamente activa; elevar a qualidade de ensino em todo o território nacional

através de implementação de novas políticas educativas.

Assim sendo, a implementação do Novo Sistema Educativo Angolano (NSEA)

foi realizada em cinco fases, nomeadamente, a fase da preparação da RE, com início em

2002, cujos focos estavam virados para edição dos manuais, programas, planos de

estudo, guias metodológicos, formação de professores experimentadores e a selecção

das escolas de experimentação. A fase da experimentação da RE decorreu no período de

2004 a 2009, com aplicação nos subsistemas de Ensino Geral, Ensino Primário,

Secundário e Formação de Professores. Seguiram-se outras fases: a fase de avaliação e

correcção dos materiais pedagógicos entre 2004 e 2012; a fase da generalização dos

Page 19: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

19

novos materiais pedagógicos entre 2006 e 2011, em todos os subsistemas de ensino; por

último, a implementação do novo currículo de ensino em todo o território angolano e a

avaliação global da RE, em 2012.

Esta mudança de paradigma, nas políticas educativas do SEA, teve uma

abrangência no que respeita, por um lado, à Expansão da Rede Escolar, isto é, a

universalização da classe de iniciação e do EP de seis classes, a introdução e

generalização da Carta Escolar do EP e Ensino Secundário, a expansão e modernização

do Ensino Técnico-Profissional, a integração das crianças com necessidades educativas

especiais no sistema normal de ensino e a construção e reparação de novas escolas; por

outro lado, esta mudança teve consequências ao nível da melhoria da qualidade de

ensino, ou seja, da melhoria do enquadramento pedagógico dos alunos, da qualidade e

quantidade dos manuais, do trabalho metodológico dos professores, da relação entre a

escola e comunidade, bem como da redução do analfabetismo por meio da expansão do

programa de recuperação do atraso escolar (Cf. Relatório da fase de experimentação do

Ensino Primário e do 1º Ciclo do ensino Secundário, 2010: 5-7).

Por outro lado, abrangeu o reforço da eficácia do SEA, quer dizer, a melhoria do

sistema de informação para a gestão educativa, formação de gestores escolares, a

melhoria na circulação de informação dos dados do processo de ensino e aprendizagem,

a garantia da igualdade de oportunidades a todos os cidadãos através do EP de

qualidade, atingindo particularmente as classes mais desfavorecidas, dando lugar a

equidade do SEA (Cf. Relatório da fase de experimentação do Ensino Primário e do 1º

Ciclo do ensino Secundário, 2010: 6). De um modo geral, podemos concluir que a

reformulação do sistema de ensino em Angola implicou uma melhoria significativa das

condições necessárias ao processo de ensino e aprendizagem.

1.1.2. Historial sobre a Reforma Educativa

Dado o grande impacto que a RE teve no âmbito das políticas de reconstrução e

desenvolvimento da República de Angola, também é importante apresentarmos algumas

reflexões que nos permitem compreender o ponto de partida das mudanças que se

fizeram sentir no SEA, em termos de políticas públicas, decisões do Estado e

Page 20: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

20

investimento no sector de educação, com vista ao desenvolvimento social, cultural,

económico e político de Angola. Depois da conquista da independência, em 1975,

Angola encontra-se num processo de recuperação do país, pois defrontava-se com a

necessidade de melhorar o sistema de educação e de criar políticas de combate ao

elevado índice de analfabetismo que abrangia uma grande parte população.

Com a aprovação do Decreto nº 40/80 de 14 de Maio de 1980, foi adoptado um

outro Sistema de Educação, com vista à garantia de uma maior oportunidade de acesso à

educação, continuidade dos estudos, alargamento e aperfeiçoamento do quadro docente;

este Sistema foi considerado a primeira Reforma Educativa em Angola (Cf. Balanço da

Implementação da Reforma Educativa nos Subsistemas de Ensino, 2011: 7-21).

Após a realização de um diagnóstico ao SEA, foi possível constatar as

insuficiências, tanto ao nível qualitativo como quantitativo, no cumprimento dos

objectivos gerais da RE, dando lugar a implementação de um Novo Sistema de

Educação (NSE) com a criação da LBSE, Lei nº 13/01 de 31 de Dezembro, considerada

como a segunda RE. De um modo geral, a RE apresentou três etapas, nomeadamente a

etapa do diagnóstico do Antigo Sistema de Educação (no período de Março-Junho de

1986), a etapa da concepção do NSE (1986-2001) e a etapa de implementação do NSE

(2002-2012). (Cf. Relatório da fase de experimentação do Ensino Primário e do 1º Ciclo

do ensino Secundário, 2010: 4-5).

1.1.3. Objectivos do estudo sobre a Reforma Educativa

A elaboração de estudos sobre os resultados do programa da implementação da

reforma no SEA surge da necessidade de fazer um diagnóstico com vista a identificação

do sucesso na execução do programa, bem como os pontos que ainda necessitam de

mais actuação. Na expectativa de se identificarem os aspectos referidos, foram

estabelecidos objectivos devidamente delimitados, de modo a justificar a importância de

se estudar a implementação da RE, nomeadamente os seguintes:

Compreender o processo de implementação da RE no ponto de vista de

directores de escolas, professores e outros agentes educativos, bem como fazer

Page 21: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

21

uma reflexão sobre as suas opiniões, relativamente à implementação da RE no

âmbito do EP;

Analisar os progressos alcançados na melhoria da qualidade de ensino e

identificar os constrangimentos do programa.10

Analisados os objectivos gerais sobre o programa de implementação da RE, foi

possível observar a sua importância, visto que a actuação directa de todos os agentes

educativos garante a qualidade dos resultados do estudo. Foram realizados vários

relatórios, onde constam as informações sobre todo o processo de implementação da RE

no sector de educação de Angola, como o seu contexto de aplicação.

Assim, no Relatório de Balanço do trabalho realizado pelo Grupo de

Prognóstico do Ministério de Educação da República de Angola, constam os resultados

do trabalho realizado pelo grupo referente ao estudo teórico que regula e orienta a

actividade educacional, tendo em conta a organização e eficiência do sistema

educacional (Cf. Relatório de Balanço do trabalho realizado pelo Grupo de Prognóstico

do Ministério de Educação da República de Angola, 2013: 13).

O Relatório de Balanço de Implementação da Reforma Educativa nos

subsistemas de ensino, cuja informação consta no referido documento, apresenta, de

forma detalhada, os progressos da implementação do processo da RE nos subsistemas

de ensino.

O Relatório da Fase de Experimentação do Ensino Primário do 1º Ciclo do

Ensino Secundário relata as inovações na implementação do novo modelo do Sistema

de Educação.

1.2. Contexto do desenvolvimento do Novo Sistema de Educação

A evolução do SEA é caraterizado por diferentes princípios de actuação, para a

garantia do desenvolvimento da educação e ensino. Entretanto, O novo SEA apresenta-

se em vários contextos de desenvolvimento, nomeadamente, o contexto histórico e

politico, marcado pelos momentos da conquista pela independência do país e resumido

10 Cf. Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias

de Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes, 2010

Page 22: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

22

em dois momentos com filosofias de desenvolvimento distintas. O primeiro momento,

1978-1991, surge com a primeira Reforma do Sistema de Educação e Ensino, cujo

objectivo central estava virado para a gratuitidade alargada do ensino e o segundo

momento (2002), que surge com a promulgação da Lei de Bases do Sistema de

Educação.

Assim, podemos enquadrar o contexto histórico e político do sistema de

educação e ensino em Angola em três momentos importantes: Período da primeira

Reforma Educativa e Diagnóstico do Sistema de Educação, entre 1975 e 2001; período

da concepção do novo Sistema de Educação e aprovação da Lei 13/01 de 31 de

Dezembro e o período da segunda Reforma Educativa e implementação do novo

Sistema de Educação.

O contexto de desenvolvimento económico e social foi marcado pelos registos

das melhorias significativas do sector económico devido aos grandes resultados do

programa de reabilitação e construção do país. Assim, com o forte crescimento do

sector económico, foi possível expandir o sector público e estimular o investimento em

infra-estruturas e serviços básicos, com vista à diminuição do índice da pobreza,

enquadramento das crianças em idade escolar, analfabetismo e garantia do

desenvolvimento humano.

No contexto de desenvolvimento educativo, fez-se sentir uma grande evolução

com aprovação da Lei de Bases do Sistema de Educação, tendo sido posta em prática a

segunda RE, melhorando, deste modo, o acesso à educação, garantindo a melhoria da

aprendizagem dos alunos, a implementação de seis anos de Ensino Primário obrigatório

e gratuito, expansão da rede escolar com consequência do aumento das salas de aulas e

recrutamento de mais professores.

As mudanças também foram sentidas no contexto legislativo por meio das

aprovações da referida Lei Bases do Sistema de Educação (Lei nº 13/03 de 31 de

Dezembro) e do Plano de implementação progressiva do novo Sistema de educação (Cf.

Balanço da Implementação da Reforma Educativa nos Subsistemas de Ensino, 2011:

13).

Page 23: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

23

1.2.1. Comparação entre o antigo e o novo Sistema de Educação

Importa referirmos, que existe uma grande diferença entre o anterior e o actual

Sistema de Educação. De um modo geral, os pontos que consideramos relevantes na

passagem de um sistema para o outro são os seguintes:

- Sobre a terminologia aplicada: os termos 1º, 2º e 3º níveis, Ensino de Base,

Ensino Médio, entre tantos outros, eram utilizados no anterior Sistema de Educação,

tendo sido substituídos pelos termos Ensino Primário, Ensino Secundário, 1º e 2º Ciclos

do Ensino Secundário, etc. (Cf. Balanço da Implementação da Reforma Educativa nos

Subsistemas de Ensino, 2011: 16)

- Sobre a estrutura do Sistema de Educação: no Antigo Sistema de Educação

(ASE) a Educação Pré-Escolar compreendia a classe da iniciação equivalente ao último

ano do Jardim Infantil e, no Novo Sistema de Educação (NSE) a Educação Pré-Escolar

compreende a Creche e o Jardim Infantil, sendo a Classe da Iniciação o último ano do

Jardim Infantil. No ASE o Ensino Primário tinha quatro anos que compreendia na 1ª, 2ª,

3ª e 4ª Classes e no NSE o Ensino Primário abarca seis anos que compreende a 1ª, 2ª, 3ª,

4ª, 5ª e 6ª Classes. No ASE o 1º Ciclo do Ensino Secundário abarcava o Ensino de Base

e a Formação Profissional e o 2º Ciclo do abarcava o Ensino Pré-Universitário, Ensino

Médio Normal e Ensino Médio Técnico e no NSE o 1º Ciclo compreende ao Ensino

Geral e a Formação Profissional e no 2º Ciclo compreende ao Ensino Geral, Formação

Média Normal e a Formação Média Técnica. No ASE o Ensino Superior tinha cinco

anos divididos em dois níveis e no NSE o Ensino Superior está dividido em Graduação

e Pós-Graduação (Cf. Balanço da Implementação da Reforma Educativa nos

Subsistemas de Ensino, 2011: 19).

- Sobre a obrigatoriedade do ensino: no ASE a escolaridade obrigatória era de

quatro anos de instrução, correspondentes ao 1º nível do Ensino de Base e no NSE a

escolaridade obrigatória correspondente ao Ensino Primário e à Classe de Iniciação (Cf.

Balanço da Implementação da Reforma Educativa nos Subsistemas de Ensino, 2011:

19).

- Sobre a escolaridade antes do ingresso no Ensino Superior: no ASE o ingresso

ao Ensino Superior era possível após 11 e 12 anos de escolaridade, concluindo um curso

Pré-Universitário com três anos de duração e o Ensino Médio Normal e Técnico com

Page 24: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

24

quatro anos de duração na sequência dos oitos anos do Ensino de Base. No NSE o

ingresso ao Ensino Superior é possível após 12 anos de escolaridade, concluindo um

curso do Ensino Geral, no 2º Ciclo do Ensino Secundário e após 13 anos de

escolaridade, concluindo um curso da Formação Média Normal ou da Formação Média

Técnica (Cf. Balanço da Implementação da Reforma Educativa nos Subsistemas de

Ensino, 2011: 19-20).

- Sobre os subsistemas de ensino: no ASE existiam três subsistemas de ensino,

designadamente o subsistema de Ensino Geral, Ensino Técnico-profissional e Ensino

Superior e no NSE existem seis subsistemas de ensino, nomeadamente, o subsistema de

Educação Pré-Escolar, Ensino Geral, Educação de Adultos, Formação de Professores,

Ensino Técnico-profissional e o Ensino Superior (Cf. Balanço da Implementação da

Reforma Educativa nos Subsistemas de Ensino, 2011: 20).

1.2.2. O Ensino Primário em Angola

A escola e a educação são os pilares que garantem o desenvolvimento humano e

o contexto social e cultural. A partir da LBSE, foi elaborada a proposta de

reorganização dos planos de estudo do Ensino Primário, cujos principais objectivos

giravam em torno do seguinte:

- Adopção de um esquema básico de desenvolvimento curricular estruturado nas

componentes de formação geral;

- Orientação de toda a acção pedagógica na formação integral do aluno com base

no desenvolvimento de atitudes, consciencialização de valores, considerando a

multiplicidade de culturas e de variações etnolinguísticas presentes em Angola (Cf.

Currículo do Ensino Primário, INIDE-Angola, 2011: 7-8).

O Ensino Primário apresenta uma função social com vista a desenvolver as

capacidades e aptidões para que os alunos adquiram valores socioculturais para o

prosseguimento dos estudos, sendo os principais objectivos desenvolver e aperfeiçoar o

domínio da comunicação e da expressão; desenvolver hábitos e atitudes tendentes à

socialização; proporcionar conhecimentos e oportunidades para se desenvolver as

Page 25: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

25

capacidades mentais; estimular o espírito estético com vista ao desenvolvimento da

criação artística e garantir a prática sistemática de educação e de actividades

gimnodesportivas para o aperfeiçoamento das habilidades psicomotoras (Cf. Currículo

do Ensino Primário, INIDE-Angola, 2011: 8-19).

No Sistema de Educação de Angola as crianças frequentam o Ensino Primário a

partir dos seis anos de idade, pois, neste nível etário, as crianças conseguem lidar com

as informações do ambiente e têm a necessidade de desenvolverem-se socialmente

convivendo com outos companheiros. Deste modo, para o Ensino Primário foi definido

um conjunto de condições com vista ao agrupamento de diversas facetas da cultura, ao

desenvolvimento pessoal e social, permitindo que os alunos transitem sem traumas do

meio familiar para o meio escolar, que adquiram capacidade de aprender o que lhes é

proposto, que adquiram conhecimentos básicos que lhes permitam, quer a continuação

dos estudos, quer o uso de metodologias e estratégias que permitam o ensino

globalizador que os possibilite interpretar a realidade como é apresentada no plano de

estudo (Cf. Currículo do Ensino Primário, INIDE-Angola, 2011:10-11).

De um modo geral, podemos dizer que, cumpridos os objectivos propostos para

o Ensino Primário, os alunos devem apresentar o seguinte perfil:

Ao nível do saber: conhecem e aplicam instrumentos básicos de comunicação e

expressão oral e escrita, revelam ter adquirido conhecimentos e desenvolvido

capacidades de trabalho, pesquisa, organização, estudo, menorização e raciocínio

adequados às tarefas a que são submetidos, conhecem o meio natural e social que os

rodeia e conhecem o corpo nas suas funções e a importância da higiene da conservação

da saúde (Cf. Currículo do Ensino Primário, INIDE-Angola, 2011: 9-10).

Ao nível do saber fazer: aplicam técnicas de trabalho às novas situações e

manifestam o espirito estético com base nas novas destrezas, conhecimentos e

competências adquiridas (Cf. Currículo do Ensino Primário, INIDE-Angola, 2011: 9-

10).

Ao nível do saber ser: demonstram atitudes correctas de regras e normas de

conduta, revelam atitudes de apreço e respeito pela realidade cultural angolana e

revelam atitudes de respeito pelo meio ambiente, pela saúde e higiene (Cf. Currículo do

Ensino Primário, INIDE-Angola, 2011: 9-10). Assim, com objectivo de contribuir para

aperfeiçoamento dos materiais utilizados (no Ensino Primário) como métodos de ensino

Page 26: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

26

e aprendizagem do Português, bem como para garantia da qualidade do perfil do aluno,

terminado o 6º ano de escolarização, apresentamos este trabalho que servirá como uma

proposta metodológica de ensino e aprendizagem de vocabulário básico, sem descurar

dos princípios essenciais de um trabalho lexicográfico.

Page 27: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

27

CAPÍTULO II

O LÉXICO NO ENSINO E APRENDIZAGEM DO

PORTUGUÊS VARIANTE ANGOLANA

Page 28: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

28

2.1. Considerações sobre a Lexicologia

A abordagem à Lexicologia remete-nos para alguns dados teóricos da

Linguísta11, ciência que tem como objecto, segundo afirma Perrot (1953:9-11), o estudo

científico das línguas. O autor acrescenta que a Linguística abrange a linguagem

humana em toda a sua complexidade, apresentada como um instrumento de

comunicação entre os homens. É considerada, ainda, como a ciência que estuda o

sistema que representa as relações da estrutura da língua, classificadas (por Saussure)

por relações sintagmáticas e paradigmáticas e por combinação e selecção das unidades

(Cf. Gaudin & Guespin 2000:161). Lino (1979:12) constata que os estudos realizados

pela Linguística Estrutural rementem para uma nova abordagem aos trabalhos ligados

com o fenómeno da estruturação lexical, permitindo, deste modo, o desenvolvimento de

teorias relacionadas com organização do léxico de uma língua, dando lugar à

Lexicologia. Os estudos lexicológicos estavam associados a métodos de elaboração de

dicionários e de thesaurus:

There are two principal methods for describing words (now in our

sense of lexical items), though the two can also be combined in

various ways. One method is by writing a dictionary; the other is

by writing a thesaurus. (Halliday 2004:3).

Com a evolução dos métodos de análise da estrutura do léxico, surgem, de facto,

mudanças significativas na abordagem teórica e prática dos estudos lexicológicos,

surgindo, deste modo, uma nova ciência que vai permitir uma nova perspectiva dos

trabalhos sobre a estrutura do léxico, designada Lexicologia que é uma ciência com

autonomia, que se desenvolveu dentro da Linguística. Considerada como a ciência do

léxico, esta, por sua vez, procura fazer um levantamento, organização, exploração

exaustiva e a análise da estrutura interna do léxico, bem como das suas relações e inter-

relações. Vilela (Cit. por Silva, 2003:17) salienta que a Lexicologia estuda as palavras

de uma língua em todos os seus aspectos, incluindo a Etimologia, a Fonologia, a

11 A linguística estuda todas as manifestações da linguagem humana. A linguagem apresenta um carácter

individual e um carácter social, a língua funciona como produto social e está em primeiro lugar no estudo

da linguagem. A linguística estabelece uma relação de subsidiariedade com outras ciências, sendo assim

importante o seu estudo, uma vez que a linguagem funciona como meio mais importante de comunicação

e cultura entre as sociedades.

Page 29: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

29

Morfologia, a Sintaxe, o empréstimo de palavras, mantendo uma relação especial com a

Semântica e fornece os pressupostos teóricos que permitem analisar o léxico de uma

língua.

Genouvrier e Peytard (1973:351-352) afirmam que a Lexicologia tem um

método próprio do estudo científico do léxico; para estes autores, a ciência adopta duas

direcções fundamentais: a Lexicologia inserida no domínio da descrição – Lexicologia

Descritiva e a Lexicologia inserida no domínio da aplicação – Lexicologia Aplicada. A

primeira procura situar-se em relação à gramática e à Semântica e a segunda refere-se às

aplicações directas da Lexicologia à Lexicografia.

Parece-nos impensável fazer referência aos aspectos ligados à Lexicologia, sem

mencionar a Lexicografia, uma vez que ambas funcionam como “irmãs gémeas” face ao

estudo do léxico, todavia assumem papéis, métodos e/ou processos metodológicos

distintos. Deste modo, segundo Gaudin e Guespin a Lexicologia e a Lexicografia

Constituent deux disciplines soeurs, donc difficiles à destinguer. La

première designe l´étude du lexique d´une langue tandis que la seconde

renvoie à le confection de dictionnaires et, plus largement, d´ouvages

présentant un modèle de ce qu´est ce lexique (2000: 15).

Torna-se evidente que existe uma cumplicidade entre a Lexicologia e

Lexicografia.

Page 30: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

30

2.1.1. Léxico, Cultura e Lexicultura

A língua de um povo faz parte da sua cultura, pois ela é a

expressão. Mesmo sabendo que a fala é individual, o seu objectivo

é socializar-se para que haja comunicação, função principal da fala.

Celina Márcia de Souza Abbade (2011)

Uma vez que o léxico de uma língua reflecte aspectos socias e culturais,

consequentemente as unidades lexicais funcionam como fontes de partilha cultural e

representação da visão sobre o mundo, das comunidades linguísticas. Isquerdo

(1996:191) afirma que o léxico de uma língua conserva uma estreita relação com a

história cultural da comunidade, registando as grandes mudanças que ocorrem numa

sociedade. Assim, podemos dizer que o léxico pode ser visto como um património

natural e cultural12 de um grupo de falantes de uma língua, inseridos num contexto

social, linguístico e cultural.

Uma palavra é uma unidade que se caracteriza pelo seu significante, o seu

significado e categoria gramatical e o conjunto de palavras constitui o seu léxico:

l´ensemble des mots d´une langue constitue son lexique (Lehmann &

Martin-Berthet 1998:3).

Leiria (2006: 28) constata que, nos últimos anos, grande parte das teorias têm

atribuído ao léxico um papel cada vez mais fundamental na construção da gramática

interna do falante de qualquer língua natural.

Numa perspectiva de ensino do Português Língua Não Materna, são importantes

os aspectos de cultura existentes na língua, uma vez que o Português Variante Angolana

(PVA) reflecte uma característica multicultural13, devido ao contacto que este tem com

as várias línguas de origem Bantu faladas em Angola.

12 O património natural e cultural é um recurso material e espiritual, proporcionando uma narrativa de

desenvolvimento histórico (Carta Internacional do Turismo Cultural, 1999). 13 O termo multicultural apresenta as diferentes culturas existentes numa região ou país; Angola é um país

onde existem povos com várias línguas e, consequentemente, várias culturas diferentes, constituindo,

deste modo, uma grande riqueza para o país.

Page 31: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

31

Lino (1979:13) afirma que no léxico de uma língua existem particularidades

culturais; os empréstimos às línguas Bantu existentes no Português Variante Angolana

são de uma grande importância sociolinguística e cultural; apresentam uma forte carga

cultural, contribuindo para a especificidade da Língua Portuguesa em Angola.

A relação entre língua e cultura é apresentada por Whorf (cit. por Mateus,

2001:4) do seguinte modo:

“Cada língua é um vasto sistema diferente dos outros no qual são

ordenadas culturalmente as formas e as categorias pelas quais as pessoas

não só comunicam como também analisam a natureza e os tipos de

relações e de fenómenos, ordenam o seu raciocínio e constroem a sua

consciência”.

O léxico não é apenas uma simples lista de unidades que se pode ordenar por

ordem alfabética; organiza-se em dois planos, nomeadamente: o plano do sentido, que

abarca a semântica do léxico, isto é, a análise do sentido das unidades lexicais, bem

como das relações de forma existentes entre elas. E o plano da forma que abarca a

morfologia que tem a ver com a análise da estrutura das unidades lexicais e as relações

que existem entre elas (cf. Lehmann & Martin-Berthet 1998:5).

Os aspectos ligados à cultura apresentados, no nosso trabalho, não se referem às

questões ligadas à sociedade, literatura, música, arte, etc. mas à carga cultural que o

Português em Angola apresenta. As diferenças culturais manifestam-se nas línguas e

estas, por sua vez, representam os diferentes olhares sobre o mundo de cada povo. Uma

mesma língua tem várias culturas diferentes, podemos apresentar como exemplo

concreto, o Português que é falado por diferentes povos com culturas diferentes, em

vários continentes. Vejamos os exemplos que se seguem:

Por um lado, no Português Variante Portuguesa (Português europeu), a unidade

lexical farinha remete-nos para farinha de trigo, farinha de milho, etc. Mas, no

Português Variante Angolana, a mesma unidade lexical farinha remete-nos igualmente

para farinha de trigo, mas também, para farinha musseque, porém, ao invés de farinha

de milho, é mais usada a unidade lexical fuba (de milho, de bombó, de massango, etc.).

Guillén Diaz (cf. 2003: 394-395) apresentam três maneiras de entender o

conceito de cultura no contexto didático: a cultura geral que inclui o saber sócio-

Page 32: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

32

cultural, que tem a ver com o conhecimento dos costumes e comportamentos da

comunidade; a cultura do tipo comportamental, que tem a ver com as aptidões práticas e

capacidade para interagir na vida quotidiana e a cultura definida pelo conjunto de

disposições individuais, crenças e valores que permitem que os aprendentes adoptem

comportamentos e atitudes face a outras culturas.

Parece-nos importante esta perspectiva na medida em que o léxico do Português

Variante Angolana possui uma grande riqueza, devido ao contacto com as várias línguas

e culturas de origem Bantu e não-Bantu.

Da articulação entre léxico e cultura surgiu um novo conceito e um novo termo,

a Lexicultura que representa a (s) relação (s) estabelecida (s) entre cultura e léxico,

conforme nos escreve Guillén Díaz (2003:42):

“Lexique et culture évoquent deux connotations que Robert

Galisson va faire entrer dans son discours didactique: Lexique

nous renvoie à mot… Cela se manifestera par une pratique

lexicaliste de l´interculturel, conçue comme la mise en contact des

cultures à travers les mots dans les deux langues. Culture nous

renvoie à l´ensemble des manifestations à travers lesquells on

exprime le vie d´un peuple… Cela se réalisera dans le type de

«culture-action», culture courante, de la vie quotidienne,

expérientielle, comportementale, partagée par la plupart de la

communauté”.

Segundo a autora, o termo de Lexicultura remete-nos para os semas culturais

implícitos nas unidades lexicais, correspondendo a dimensões pragmáticas dessas

mesmas unidades lexicais.

Lexicultura foi um neologismo terminológico criado por Robert Galisson, nos

finais da década de oitenta, para designar os elementos de cultura existentes no léxico,

quer no subsistema da língua corrente, quer nos subsistemas das línguas de

especialidade (Lino et al. 2010:188).

O valor cultural de uma unidade lexical é conhecido e partilhado pelos membros

de uma comunidade; segundo Barbosa, (2008: 20) esta unidade lexical foi designada

por Galisson como “unidade lexical com carga cultural partilhada”. A autora propõe-

Page 33: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

33

nos um conjunto de características necessárias para o reconhecimento de unidades

lexicais com carga cultural partilhada (CCP) (cf. 2008:35-36):

- É partilhada por uma grande parte da comunidade;

- Resulta de uma associação entre a unidade lexical e a sua carga cultural

partilhada;

- Procede da subjectividade dos locutores colectivos que têm uma visão

do mundo que lhes é própria.

Assim, a língua e a cultura não devem ser descritas isoladamente. A abordagem

à carga cultural partilhada torna-se muito importante no contexto do ensino e

aprendizagem do vocabulário, muito em especial na realidade angolana, uma vez que o

país de norte a sul apresenta uma grande diversidade cultural que se reflecte na Língua

Portuguesa e em cada uma das Línguas existentes no país. Tomemos como exemplo o

seguinte:

Em Angola existe uma grande riqueza e variedade lexical14 de região para

região. Nas regiões do sul e centro de Angola, são frequente as unidades lexicais fuba

de milho, fuba de palapala, fuba de massango que servem para fazer o pirão, ao passo

que nas regiões do norte e leste do país é mais frequente o uso da unidade fuba de

bombó, produto usado para confeccionar o funje. Tanto o pirão como o funje podem ser

consideradas como sinónimos e referem-se à gastronomia angolana, mas apresentam

essa variação lexical em função da região.

Esses aspectos da diversidade cultural reflectidos na língua devem ser tidos em

conta tanto no contexto de ensino e aprendizagem do Português, como na elaboração

dos materiais didácticos, sobretudo no que respeita ao léxico, de modo a facilitar a

aprendizagem dos alunos, bem como o seu enquadramento sociocultural, tendo em

conta a sua língua materna.

Barbosa (2008:36) leva-nos a reflectir o facto de as canções serem fontes de

conhecimentos e cumplicidades culturais vivenciados pela comunidade de locutores

nativos. As canções têm um forte impacto no dia-a-dia da sociedade e podem, segundo a

autora, servir de elementos reveladores de aspectos linguísticos e culturais de um país,

14 Muitas destas questões estão associadas aos factores ligados à agricultura, pesca, artesanato, etc.

Page 34: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

34

uma vez que elas circulam livremente em todos os extractos sociais, são transportadoras

de palavras e expressões com cargas culturais partilhadas entre a comunidade. No

contexto angolano, as canções também desempenham o papel de agentes

transportadores de unidades lexicais com carga cultural partilhada. Servimo-nos de um

trecho da música do cantor e compositor angolano Matias Damásio para exemplificar a

nossa constatação:

``No tempo do kwanza burro´´

``Maria não conhecia dólar´´…

A unidade lexical kwanza refere-se à unidade monetária de Angola. Mas

associada à unidade lexical burro, cujo significado pode ser entendido por qualquer

falante do Português Variante Angolana, não é necessária uma pesquisa no dicionário

para ajudar à compreensão do seu significado: o seu contexto na canção manifesta a

carga cultural partilhada que ela contém. Por um lado, a expressão kwanza burro

remete-nos para a desvalorização da própria moeda, uma vez que era possível, nos

tempos passados, comprar-se mais com pouco dinheiro. Por outro lado, a expressão

remete-nos, ainda, para a perda de valores culturais e sociais, a perda do respeito pelos

costumes e desvalorização dos sentimentos, etc.

A partir desse exemplo é-nos possível constatar que o uso das unidades lexicais

com carga cultural partilhada é fundamental no contexto de ensino e aprendizagem de

uma língua, pois é importante que se façam a abordagem à cultura na língua; os semas

culturais das unidades lexicais ajudam a compreender os costumes, a tradição, os

comportamentos, etc.

Barbosa (cf. 2008:36) acrescenta, ainda, que o estudo da lexicultura não tem

apenas como foco o significado da unidade lexical em si, mas sim o elemento cultural

colectivo, representado pelo signo, sendo que este revela as escolhas feitas pela

colectividade. Podemos analisar um fenómeno que existe no contexto angolano, que

tem a ver com facto de algumas marcas de produtos terem tido tanta repercussão no

país, ou seja, uma forte aceitação e consumo pela comunidade que, até aos dias de hoje,

a verdadeira designação dos produtos foram substituídos pelas suas marcas. Assim,

estes casos de metonímia, em Angola, têm como exemplos: o uso de Pepsodente em vez

de pasta de dentes; o uso de OMO em vez de detergente para roupa; Gillete em vez de

lâmina de barbear.

Page 35: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

35

Deste modo, em nosso entender, é fundamental que se introduzam as unidades

lexicais com cargas culturais partilhadas no contexto de ensino e aprendizagem do

Português em Angola, uma vez que, conforme vimos, manifestam os costumes,

comportamentos e tradições; deste modo podem ensinar-se mais facilmente conteúdos e

temas, onde se encontram tais manifestações reflectidas pelas unidades lexicais. Assim,

é de grande importância a selecção do vocabulário de base que deve ser ensinado às

crianças, principalmente nos primeiros anos de escolarização; este vocabulário de base,

por sua vez, deve representar a realidade cultural em que as crianças se encontram

inseridas, bem como a interacção e o contacto com outras culturas.

No caso particular de Angola, deve ter-se em conta um modelo sistemático de

ensino do vocabulário do Português, não se distanciando do facto de muitos alunos não

terem o Português como língua materna (PLM), de modo que se garanta a aprendizagem

de um vocabulário mínimo, considerado como básico de situações de comunicação na

vida quotidiana, bem como na compreensão do mundo. Podemos, então, concluir que o

léxico e cultura são indissociáveis na medida em que representam a realidade

sociocultural de uma determinada comunidade linguística e influenciam a prática

pedagógica de ensino e aprendizagem do vocabulário.

2.2. O Vocabulário

…les mots-concepts (vocabulaire) sont des facteurs essentiels de la

communication

Robert Galisson (1971)

Quando comunicamos, transmitimos ideias, emoções, pontos de vista; daí surge

a importância de conhecermos as unidades lexicais de determinada língua, bem como o

seu uso quotidiano. Segundo Ferreira e Vieira (2013:10), o estudo do vocabulário não

deve ser feito de forma isolada da compreensão do texto, tal como aparece espelhado

em algumas gramáticas. As autoras remetem-nos para a perspectiva de Binon e Verlinde

(2000):

Page 36: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

36

“É necessário sempre situar o vocabulário dentro de uma

perspectiva comunicativa, levando em consideração as seguintes

perguntas: porquê o ensino do vocabulário? Qual é o público-alvo?

Quais são os objectivos, levando em conta as restrições e recursos

de que se dispõem? O vocabulário deve servir para realizar qual

intenção de comunicação (exprimir uma opinião, argumentar,

escutar, ler, falar, etc.)? Em que contexto, em que tipo de discurso

deve ser integrado?”

Daí, parece-nos, que o estudo do vocabulário de uma língua merece uma atenção

especial. O conhecimento do vocabulário pressupõe um bom desenvolvimento da leitura

e escrita, por este motivo, a escolha das unidades lexicais, os vários tipos de texto, o

assunto (nele desenvolvido), desempenham um importante papel no ensino e

aprendizagem do vocabulário.

Um dos objectivos, do nosso trabalho, é apresentar uma proposta de delimitação

de um vocabulário de base mínimo, essencial à comunicação com vista a fornecer os

dados necessários relativos às significações lexicais adequados ao ensino e

aprendizagem do Português, sem se descurar o facto de muitas crianças terem o

Português como língua não materna.

Deste modo, achamos pertinente fazer uma análise sobre os estudos feitos em

Portugal, em 1984, para obtenção do Português Fundamental, realizado pelo Centro de

Linguística da Universidade de Lisboa, cujo objectivo era a constituição de um

instrumento pedagógico-didáctico que servisse de auxílio aos professores de Português

como língua segunda e estrangeira, com a finalidade de assegurar as necessidades dos

alunos na primeira fase de aprendizagem.

A concepção do Português Fundamental esteve inserida no modelo

metodológico de concepção do Francês Fundamental e do Espanhol Fundamental, entre

outros, que se constituiu por meio de dois tipos de amostragens15, nomeadamente, o

Corpus de Frequência, que compreendeu o levantamento do vocabulário através de

inquéritos orais e escritos. Os dados que constituíram o Corpus de Frequência

15 O Corpus de Frequência e o Corpus de Disponibilidade constituíram os modelos de amostragem

material que serviu de base ao estabelecimento da lista de vocabulário designado por Português

Fundamental.

Cf. Português fundamental, 1984: 16-17.

Page 37: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

37

resultaram da recolha de 1800 gravações, constituídos, por meio destas, 1400 textos de

500 palavras gráficas, correspondentes a 1400 inqueridos (cada um), formando um total

de 700.000 ocorrências. Em relação ao Corpus de Disponibilidade, que se refere aos

inquéritos escritos, realizados com temas ligados a várias áreas, eram postos à

disposição dos inqueridos 27 temas16, dos quais lhes era pedido que indicassem, nos 26

primeiros, 15 substantivos, 10 adjectivos e 10 verbos e eram pedidos 20 verbos, para o

último caso. Foram obtidos 800 testemunhos, selecionados 500, formando-se, por sua

vez, um corpus de 465.000 palavras (Cf. Português Fundamental, 1984:19-31).

Tendo em conta os resultados do estudo em torno do Português Fundamental, é

importante que se reconheça, não só o grande trabalho realizado na perspectiva de

ensino e aprendizagem do vocabulário do Português língua estrangeira, como também

reconhecer que a metodologia utilizada serviu de guião prático para trabalhos seguintes.

Todavia, convém que tomemos nota do seguinte: o Vocabulário Fundamental

apresentou algumas insuficiências; podemos dizer que o trabalho realizado não foi

suficiente para resolver todos os problemas impostos pelo vocabulário de base.

Os trabalhos realizados sobre o Português Fundamental, Francês Fundamental,

Espanhol Fundamental, etc. resultaram na constituição de lista de palavras, organizadas

por ordem alfabética. Daí que falemos em insuficiências, uma vez que a referida

listagem de palavras não apresentava os seus contextos de uso associados às várias

situações de comunicação.

Podemos, deste modo, concluir que os Vocabulários Fundamentais são

embriões dos Vocabulários de Base realizados mais tarde para as diferentes línguas.

16 A escolha dos temas estava relacionada com os objectos e situações da vida corrente, como: 1.corpo

humano, 2.vestuário, 3.estabelecimentos de ensino, 4.saúde e doença, 5.higiene pessoal, 6.desportos,

7.refeições, alimentos e bebidas, 8.cozinha e objectos que vão à mesa, 9.meios de transporte, 10.viagens,

11.a cidade, 12.aldeia e trabalhos do campo, 13.a casa, 14.a família, 15.a vida sentimental, 16.o correio,

17.meios de informação, 18.casas comerciais 19.profissões e ofícios, 20.a arte, 21.o tempo (condições

atmosféricas), 22.a religião, 23.o café, 24.animais, 25.plantas, árvores e flores, 26.divertimentos e

passatempos e, por último, 27.verbos referentes à vida mental.

Page 38: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

38

2.2.1. Léxico vs Vocabulário

O conhecimento de qualquer língua seja ela materna, não materna ou

estrangeira, implica o conhecimento de um grande número de unidades lexicais.

Consideramos importante, no nosso trabalho, clarificar os conceitos de léxico e

vocabulário; deste modo, Gaudin e Guespin dizem-nos:

“On opposera ici le terme de lexique à celui de vocabulaire.

Lexique renvoie à l´ensemble des unités de la langue et le

vocabularaire à celles du discours (2000:15)”.

Como podemos ver, embora sejam objectos da mesma disciplina, o léxico e o

vocabulário encontram-se em planos de análise diferentes; o léxico, de um modo geral,

refere-se ao conjunto de unidade lexicais de uma língua, as quais lhes são atribuídas a

designação de lexemas, e o vocabulário ao conjunto de lexemas actualizados no

discurso, sendo designados de vocábulos, conforme nos escreve Mortureux (2013:10):

“le premier, unité du lexique, est le lexème et on appelle le second

un vocable, élément du vocabulaire d´un discours. Le lexème est

l´unité dénominative construite en langue et le vocable l´unité

dénominative observée en discours”.

Na mesma perspectiva, Lino (1979:13) apresenta uma comparação da oposição

léxico/vocabulário paralela às oposições langue/parole de F. Saussure e langue/discours

de G.Guillaume:

“O léxico é constituído por um conjunto de unidades: os lexemas.

Os lexemas, quando actualizados no discurso, designam-se por

vocábulos. O conjunto dos vocábulos, as unidades do discurso,

constitui o vocabulário”.

O léxico é o conjunto de todas as unidades lexicais que estão à disposição do

locutor, constituindo o seu Léxico Individual. Deste léxico ficam excluídas todas as

unidades lexicais que o locutor ainda não encontrou no uso quotidiano da sua língua e

Page 39: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

39

que constituem o Léxico Geral. O vocabulário é o conjunto das unidades lexicais

efectivamente utilizadas pelo locutor, num acto de fala preciso (cf. Genouvrier e

Peytard,1973:279-280). Assim, é possível fazer uma relação entre os termos

apresentados pelos autores, que nos permite concluir que, por um lado, o léxico

individual e o vocabulário fazem parte do léxico geral, por outro lado, o vocabulário é a

actualização de um número determinado de unidades do léxico individual do locutor,

conforme passamos a presentar na figura seguinte:

Figura 1: Subdivisão do léxico

Os autores acrescentam que o vocabulário é uma parte do léxico individual, que

faz parte do léxico geral. O aluno nunca utiliza a totalidade do léxico, num acto da fala,

mas é necessário que se forneça ao aluno uma quantidade e qualidade de vocábulos de

modo a garantir o enriquecimento do seu léxico17 (cf. Ibidem:280-281).

Dada a importância do estudo do léxico na aquisição de uma língua, o ensino

explícito do vocabulário torna-se ainda mais importante, por isso os agentes que

intervêm directamente no ensino, como a escola, os professores, etc. devem criar

estratégias que garantam o desenvolvimento da competência lexical dos alunos face aos

desafios que lhes são propostos.

17 O enriquecimento do léxico está associado a meios sócio-culturais como a família e a escola. É no

ambiente familiar que a aprendizagem da língua se produz; a família fornece à criança recursos de língua

fundamentais, quer para a pragmática quer para o léxico. Isto significa que, ao entrar para a escola, o

aluno é capaz de compreender e de construir um grande número de frases, através das quais lhe é possível

interagir com as novas relações sociais (Cf. Genouvrier e Peytard 1973: 281-282) .

LÉXICO GERAL

VOCABULÁRIOLÉXICO

INDIVIDUAL

Page 40: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

40

2.2.2. O que significa conhecer um vocabulário?

O ensino de uma língua impõe não só o estudo cuidadoso do seu léxico geral,

como também uma selecção extensiva de um léxico individual, este, por sua vez,

constitui o vocabulário, uma vez actualizado no discurso, garantindo, assim, uma maior

progressão na sua aprendizagem conforme as exigências do ensino. O vocabulário da

criança vai evoluindo por volta dos três anos de idade consoante os contextos

situacionais (cf. Genouvrier e Peytard 1973: 282). Podemos concluir que o meio18 em

que a criança se encontra inserida influencia a sua aprendizagem linguística.

Uma vez que o falante necessita da língua para comunicar, conforme referimos,

torna-se importante esclarecer o significado de uma unidade lexical. Paiva (2004:83)

remete-nos para o facto de muitos professores e alunos associarem o ensino e

aprendizagem do vocabulário à memorização de listas de unidades lexicais e os seus

significados na língua materna. Mas a aprendizagem do vocabulário implica o

conhecimento das unidades lexicais no seu todo, isto é, toda a informação sobre o

vocábulo a estudar deve ser tido em conta. Assim, Zilles (2001:18) propõe-nos o

seguinte:

“Reconhecer uma palavra implica: identificá-la em sua forma

escrita e/ou oral; conhecer a sua categoria gramatical; identificar as

suas possíveis colocações com outras palavras; identificar se a

palavra é mais comum ou mais rara e quais os contextos

pragmáticos em que pode ser encontrada; saber o seu significado e

conseguir associá-la ao seu campo semântico”.

Segundo Zilles, conhecer uma unidade lexical significa conhecer as suas

polissemias e ser capaz de a utilizar em contexto (s), bem como as relações com outras

unidades lexicais, noutros contextos de uso.

18 Referimo-nos aqui ao meio familiar, uma vez que o nível cultural existente num ambiente

familiar influencia, de forma positiva (ou não) o enriquecimento do léxico da criança, por via do

diálogo, orientação, acompanhamento, etc.

Page 41: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

41

2.2.3. Quantas palavras constituem o vocabulário?

O conhecimento de uma língua implica o conhecimento de um grande número

de unidades lexicais. Achamos importante reflectir sobre a questão seguinte: quantas

unidades lexicais um aluno deverá conhecer, de modo a enriquecer o seu vocabulário?

Por um lado, é necessário que se tenha em conta o número de unidade lexicais que

constituem o léxico de uma língua, por outro lado, determinar o número de unidades

lexicais que um aluno deve conhecer vai depender dos objectivos da aprendizagem,

tendo conta, no caso especifico do contexto angolano, dos perfis de saída após

terminado o Ensino Primário. O vocabulário evolui consoante a evolução da própria

vida, deste modo encontramos o vocabulário ligado à vida quotidiana e a diferentes

domínios específicos.

O Instituto de Linguística Teórica e Computacional19 (ILTC) apresenta-nos a

seguinte classificação:

“Palavras muito frequentes20: constitui o vocabulário de frequência

elevada, designado como Português Fundamental, com uma

extensão de cerca de 2.000 palavras. Palavras ligadas a domínios

específicos21: o vocabulário de domínios específicos pode ter um

alcance mais ou menos alargado, consoante a área de actuação (a

escola, a empresa, o vocabulário técnico das disciplinas, a

ocupação dos tempos livres, etc.) e este, por sua vez, complementa

o vocabulário fundamental. Palavras de frequência reduzida: Para

além do vocabulário fundamental e do vocabulário de domínios

específicos de actividades, existe o vocabulário de frequência

reduzida, como os textos de jornais e de revistas” (cf. ILTEC,

www.iltec.pt).

19 Cf. Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa, (cf. ILTEC, www.iltec.pt) 20 O conhecimento de grande parte das palavras que constituem o português fundamental adquire-se na

fase inicial de aprendizagem, quando este acontece no contexto de educação formal (a escola). O papel da

escola, da aprendizagem formal, podem para o seu esforço e alargamento, para a consciencialização do

seu uso adequado e para a sua correcção quanto a aspectos morfológicos, sintácticos e semânticos

(Ibidem). 21 O vocabulário dos domínios específicos preenche as necessidades que o falante possui, no respeita às

actividades de outras áreas de domínio especifico, uma vez que cada uma tem o seu vocabulário técnico.

Page 42: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

42

Na mesma perspectiva, Zilles (2001:21) em relação aos objectivos e tipo de

vocabulário necessários apresenta-nos o seguinte:

“Palavras de alta frequência: cerca de 2.000 palavras ocorrem

frequentemente em todos os tipos de texto e correspondem a cerca

87% das palavras em texto qualquer. Vocabulário académico: cerca

de 800 palavras ocorrem frequentemente na maioria dos textos

académicos e representam 8% das palavras nesses textos.

Vocabulário técnico: cerca de 1.000 a 2.000 palavras por área,

representam cerca de 3% das palavras em textos especializados.

Palavras de baixa frequência: cerca de 123.000 palavras não

ocorrem frequentemente, cerca de 2% das palavras em um texto

qualquer”.

Importa referir que o objectivo da proposta a apresentar, no nosso trabalho, tem

como alvo o ensino explícito do vocabulário; deste modo, para que tal seja possível é

necessário um grande trabalho de ensino do vocabulário de elevada frequência, bem

como a certeza de que este foi bem aprendido. Assim, é importante que haja uma forte

estratégia de ensino e aprendizagem do vocabulário e, sobre a (s) qual (s), passaremos a

abordar em seguida.

2.2.4. Ensino explícito e aprendizagem do vocabulário

Conforme referimos, para o desenvolvimento do vocabulário, nos vários

domínios apresentados, é primordial que se criem metodologias de ensino adequadas

aos processos de aprendizagem dos alunos, tanto para os que têm o Português como

língua materna, como para os que têm como língua segunda.

Embora Galisson (1971:7) tivesse considerado que “l´enseignement du

vocabulaire est demeuré longtemps insensible à cette évolution“, nos últimos anos tem-

se notado uma grande evolução dos fundamentos linguísticos sobre as metodologias de

ensino do vocabulário. O autor apresentou como justificação da sua constatação o

seguinte:

Page 43: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

43

“Parce que le lexique semble rebelle à la structuration. Sa nature

et ses dimensions ne le prédisposent pas, comme la phonétique et la

grammaire, aux mises en forme systématiques.

Parce qu´il a été victime d´une option théorique partiellement

fausse. De nombreux auteurs de methods s´accordent à penser que

la langue est une grille grammaticale dans laquelle il n´y a qu´à

placer des mots”. (Ibidem).

Ainda na mesma perspectiva, Biderman (1996:27) considerou que os linguistas

não têm dado muita atenção a problemas de grande relevância relativos ao léxico, sendo

que o vocabulário, segundo autora, exerce um papel crucial na veiculação do

significado, que é objecto de comunicação linguística.

O ensino do vocabulário implica não somente o estudo das unidades lexicais,

como também a verificação das suas relações em contexto de uso, conforme temos

estado a referir.

Harmer (cit. por Paiva 2004: 85-86) apresenta três secções para o ensino e

prática do vocabulário; em primeiro lugar a apresentação, que consiste no uso de

objectos; gravuras; mímica, acções e gestos, antónimos, conjunto de unidades lexicais

de uma mesma categoria e explicação; a autora acrescenta, ainda, os sinónimos e os

contextos em que ocorrem as palavras. Em segundo, as técnicas de descoberta, que se

refere ao uso de combinação de palavras com gravuras; elaboração de mapas

semânticos; inferência do significado pelo contexto; uso de sufixos e prefixos e

produção de textos orais e escritos com vocabulários específicos. E, por último, a

prática, que consiste no trabalho através de exercícios de uso de vocábulos

frequentemente confundidos e exercícios de ordenação (por preferência, importância,

etc.).

Na mesma perspectiva, Paiva apresenta-nos algumas estratégias para

aprendizagem do vocabulário, fazendo um agrupamento em quatro níveis específicos,

nomeadamente, metacognitivos, cognitivos, socias e de comunicação. Para as

estratégias metacognitivas, que são aquelas que o aprendiz utiliza para organizar e

avaliar a sua aprendizagem, a autora propõe o seguinte:

Page 44: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

44

“Estratégias metacognitivas consistem na análise das necessidades

individuais de aprendizagem de vocabulário; selecção do

vocabulário a ser aprendido; planeamento da aprendizagem,

seleccionando estratégias e materiais; potencialização dos recursos

de aprendizagem: procurar fontes diversas para aprendizagem

dentro e fora da aula; organização do vocabulário em registos

diversos: organizar cadernos de vocabulário, listagens, etc. e auto-

avaliação periódica de aprendizagem do vocabulário”. (2004:88).

A autora considera, ainda, que o aprendiz deve utilizar estratégias que

impliquem processos mentais de aprendizagem do vocabulário, as quais denomina:

“Estratégias cognitivas que têm a ver com a contextualização:

colocar palavras em contextos significativos (frases e histórias);

cópia: copiar palavras para praticar a ortografia; uso de imagens:

relacionar novos conceitos a imagens mentais, desenhos,

diagramas, fotografias, etc.; inferência: usar informação de

contexto verbal ou não para adivinhar o significado da palavra;

memorização: usar técnicas diversas para memorizar novas

palavras; registos: fazer registos quando encontrar novas palavras;

revisão: revisar o novo vocabulário registado em caderno de

vocabulário ou outras formas de organização; consultar o

dicionário”. (idem: 90).

Para as estratégias sociais e de comunicação, que estão relacionadas com o

aprender com o outro e com as tácticas que o aprendiz emprega para resolver os

problemas ligados à comunicação, a autora propõe-nos:

“Auxílio de outra pessoa: pedir ajuda a outrem para entender uma

palavra nova ou expressar um conceito que não sabe nomear; usar

palavras de sentido aproximado para compensar o

desconhecimento do vocabulário adequado; descrever um objecto

ou conceito para qual falta a palavra ou dizer para que serve”.

(idem: 90-91).

Como podemos ver, no ensino do vocabulário todas as atenções devem estar

viradas para os vocábulos, todavia, não se deve desligar dos vários textos relacionados

Page 45: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

45

com os vários domínios da vida quotidiana, devido à compreensão dos seus contextos

de uso. Existem muitos exercícios de ensino explícito e aprendizagem do vocabulário

como o trabalho com vários tipos de textos em sala de aula, o uso de dicionários, a

exploração e estudo sobre a estrutura das palavras, tais como o uso de sufixos e

prefixos, a produção oral, a exploração dos sinónimos, antónimos, homónimos, etc.,

bem como a introdução dos regionalismos e de variantes regionais (mais uma vez

chamamos atenção, aqui, ao facto de Angola ser um país com uma diversidade cultural

muito acentuada).

Por isso, consideramos pertinente a introdução dos vários tipos de textos (com

variação vocabular) a partir dos primeiros anos de escolaridade, embora as crianças não

tenham total consciência sobre os vários tipos de textos (poesia, contos, narrativas,

textos publicitários, textos jornalísticos, textos científicos vulgarizados, textos

desportivos, etc.).

Bogaards salienta a importância de se levantar algumas questões fundamentais

ao ensino e aprendizagem do vocabulário:

Quelle quantité de vocabulaire faut-il introduire? Combien de fois

faut-il le répeter? Quelles sont les meilleures tactiques pour

consigner en mémoire de nouveaux mots? Quand peut-on dire que

de nouveaux vocabulaires son appris? (1994:162).

A razão pela qual se torna evidente este tipo de questionamento, proposto pelo

autor, tem a ver com os objectivos, etapas e possíveis métodos de ensino e

aprendizagem do vocabulário. Neste contexto, o mesmo autor apresenta-nos, ainda, três

objectivos fundamentais para o ensino e aprendizagem do vocabulário, propostos por

Graves (1987), cit. por Bogaards (1994:162-163):

“1. Apprendre les mots: l´apprentissage de nouvelles significations

de mots déjà connus; l´apprentissage de nouveaux mots pour des

concepts déjà connus; l´apprentissage de nouveaux mots pour des

concepts nouveaux (la tâche la plus difficile); le transfert des mots

de l´usage réceptif à l´emploi productif”.

2. Apprendre à apprendre les mots: l´utilisation de diverses

sources d´informations: contexte, parties analysables de mots,

Page 46: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

46

ouvrages de référence; mise au point de techniques pour traiter les

mots inconnus.

3. Apprende des faits sur les mots: de ce que connaître un mot veut

dire; du fait que les sens variant et comment ils variant; des

mécanismes qui permettent de reconnaître et de manipuler; les

relacions sémantiques entre les mots; des mécanismes qui

président à l´emploi figuratif des mots”.

Podemos concluir que o ensino e aprendizagem do vocabulário não pode estar

exclusivamente associado à memorização de um conjunto de vocábulos e dos seus

significados correspondentes, conforme pudemos ver nos manuais de Língua

Portuguesa utilizados no ensino e aprendizagem do Português em contexto angolano.

Apresentamos alguns exemplos retirados dos referidos manuais:

Tabela 0: Exemplo retirado do manual de Língua Portuguesa da 6ª classe

É interessante, ainda, tomar nota que o ensino do vocabulário por meio de

materiais didácticos é muito importante para os alunos, uma vez que estes funcionam

como as suas “armas” de aprendizagem; por isso, sublinhamos a importância dos

contextos em textos didácticos e a utilização de dicionários.

Page 47: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

47

Assim, como consta dos objectivos do nosso trabalho, apresentamos algumas

estratégias de ensino explícito e de aprendizagem do vocabulário para os alunos da 4ª

classe.

Estratégia 1: O professor, na sala de aulas, poderá apresentar um conjunto de

unidades lexicais aos alunos, pedindo-lhes que apresentem sinónimos, antónimos e uma

construção de frases com os sinónimos e antónimos obtidos, de modo a facilitar a

compreensão do significado das unidades lexicais. É importante que o professor sugira

aos alunos que apresentem os equivalentes nas suas línguas maternas, em caso de não

ser o Português (não sendo obrigatória a utilização dos equivalentes).

Unidade

lexical

Sinónimo Antónimo Equivalente na

(sua) língua

materna

Exemplos/

construções de frases

Homem Mamífero Mulher Diala (do Kimbundu) A mulher deve ser íntegra.

Saudável Sadio Doente Uhindukilo (do

kokwe)

O rapaz está doente.

Fabuloso Grandioso Desastroso Aluvunu (do

Kikongo)

2012 foi um ano grandioso.

Triste Penoso Alegre Kwa nkenda (do

Kikongo)

O rapaz está muito alegre.

Quadro 2: Unidades lexicais com relações semânticas

Estratégia 2: O professor poderá propor aos alunos exercícios de associação de

unidades lexicais às imagens; os alunos deverão ter em conta o conceito representado

pela imagem e associar a unidade lexical correspondente.

Page 48: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

48

1. 2. 3.

Imagens 1, 2 e 3: Livro, Selo e Dicionário

Fonte: Manual de Lingua Portuguesa da 6ª Classe (2011:11-22)

Estratégia 3: Outro recurso ao qual o professor poderá recorrer, tem a ver com a

formação de unidades lexicais, propondo aos alunos que construam unidades lexicais a

partir das primitivas22, associando-lhes prefixos e sufixos.

Verbo Substantivo Adjectivo Adverbio

Medir Medida Desmedido Desmedidamente

Despeitar Despeito Despeitoso Despeitadamente

Salutar Saúde Saudável Saudavelmente

Necessitar Necessidade Necessitado Necessariamente

Quadro 3: Formação de unidades lexicais

Estratégia 4: O professor poderá, ainda, propor aos alunos que façam uma

combinação entre unidades lexicais com as suas respectivas definições. Serão postos à

disposição dos alunos pequenos textos com as unidades lexicais sublinhadas em que o

mesmo deverá localizá-las, fazendo uma associação às definições correspondentes.

Textos Definições

“A criação dos serviços dos correios

data já do século XVI, mas o selo

apareceu há pouco mais de cem anos.

Antes da sua utilização, o

transporte da correspondência era

pago por quem a recebia”.

1. Pequeno papel impresso, destinado

a pagar o envio de correspondência pelo

correio.

2. Período de cem anos.

3. Serviço do transporte e

distribuição da correspondência,

impressos, etc.

4. Conjunto de cartas, postais,

22 Termo usado em Angola, mas designado, na Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e

Secundário (TLEBS), por forma de base.

Page 49: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

49

telegramas, etc. que se recebem

ou se enviam.

“Os primeiros selos eram,

naturalmente, poucos vistosos.

No entanto, o homem, com a sua

tendência para coleccionar, foi

guardando alguns exemplares

que hoje constituem raridades

altamente valiosas”.

1. Pessoa adulta do sexo masculino.

2. Que chama a atenção.

3. Objectos raros ou pouco vulgares.

4. Que tem grande valor, precioso.

“… procurados pelos filatelistas dos

outros países, são o melhor símbolo

que, por todo o Mundo, irá dar a

conhercer as maravilhas, as grandes

obras de arte e as grandes figuras do

país que os emitiu”.

1. Pessoas que coleccionam selos de

correio.

2. Imagem ou objeto material que

representa uma realidade visível.

3. Coisa, pessoa ou acto que provoca

admiração.

4. Estátua ou representação de pessoa

ou animal.

Quadro 4: Combinação de unidades lexicais

Fonte dos textos: Manual de Lingua Portuguesa da 6ª Classe (2011:22).

Definições tiradas do dicionário Porto Editora online (acedido no dia 28-01-2015).

Estratégia 5: Nesta estratégia, propomos que o professor sugira aos alunos que

façam uma organização semântica das unidades lexicais, do mais geral para o mais

particular, com vista à aprendizagem de novas unidades lexicais.

Corpo Humano

Necessidades

Alimentação

Higiene Afecto

Bucal Corporal Cabelo Amizade Amor Solidariedade

Bebida Comida

Figura 2: Organização semântica

Page 50: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

50

Estratégia 6: O professor poderá fazer exercícios de memorização por meio de

gestos e mímicas, propondo aos alunos que tentem dizer as unidades lexicais que lhes

serão apresentadas, através de processos lúdicos (gestos e mímicas), de modo a praticar

o vocabulário ensinado.

Que gesto ou mímica usarias para dizer as seguintes palavras?

Coração Irmandade Estudar

Amor Tristeza Caminhar

Paz Alegria Ler

Dança Festa Cantar

Quadro 5: Memorização por meio de processos lúdicos (gestos e mímicas)

Em suma, o ensino do vocabulário é fundamental, na medida em que é a partir

do léxico que muitas vezes os alunos aprendem também estruturas sintácticas.

É importante que os professores utilizem estratégias eficientes na sala de aula, de

modo a enriquecer a competência lexical dos alunos em fase inicial de escolarização.

O professor deverá, ainda, estimular os alunos à continuidade dos exercícios

fora da sala de aula; assim, garantir-se-à a expansão e enrequecimento duradouro do

léxico individual dos alunos e, consequentemente, evolução do seu vocabulário.

Page 51: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

51

CAPÍTULO III

CORPUS E TRAMENTO DOS DADOS

Page 52: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

52

3.1. Constituição do corpus de manuais escolares

Os estudos no âmbito da Lexicologia e Lexicografia implicam, também, uma

análise aos corpora textuais, os quais nos servirão de base de extracção dos vocábulos a

analisar no nosso trabalho. Decidimos privilegiar o estudo do vocabulário com vista a

contribuir para a criação de materiais didácticos no âmbito dos novos aspectos impostos

pela RE em Angola, que visam o preenchimento das lacunas do PVA, tendo em conta o

multilinguismo angolano.

Segundo Lino (1996:68), a constituição de corpora textuais implica um certo

número de hipóteses sobre característica de discurso, sobre situações de enunciação,

sobre relações entre textos e termos que se pretendem analisar. Assim, o tipo de

amostragem, que constituiu o nosso trabalho, compreende um corpus constituído pelos

manuais de apoio ao ensino formal da 6ª classe (Ciências da Natureza, Educação

Manual e Plástica, História e Língua Portuguesa), ao qual atribuímos o nome, no

software Hyperbase, de CORPUS MANUAIS.

Tabela 1: Apresentação do Hyperbase – CORPUS MANUAIS

Page 53: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

53

3.2.Análise do CORPUS MANUAIS

3.2.1.Frequências, Dicionário de frequências e Riqueza Lexical

Com a ajuda do software Hyperbase, efectuámos o cálculo de frequências que

caracterizam o Corpus Manuais; assim verificámos que apresenta um total de 117.091

ocorrências e 12.243 formas, distribuídas da seguinte maneira:

Corpus Ocorrências Formas

C. da Natureza 25904 3755

E. M. e Plástica 18296 2783

História 19403 3576

L. Portuguesa 54488 7444

Quadro 6: Dados quantitativos das ocorrências

Tabela 2: Apresentação dos dados quantitativos das ocorrências

Page 54: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

54

De um modo geral, podemos observar os dados quantitativos do corpus em

análise. Assim, é-nos possível verificar o número de ocorrências, relativamente a cada

manual existente dentro do corpus, e, também, estabelecer uma comparação entre os

mesmos, no que respeita ao número de ocorrências, total das formas e do vocabulário.

Com a ajuda do software, procedemos à elaboração do Dicionário de frequência das

formas, demonstrado nas tabelas abaixo:

Tabela 3: Dicionário de frequência das formas 1

Tabela 4: Dicionário de frequência das formas 2

Page 55: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

55

Tabela 5: Dicionário de frequência das formas 3

O software permite, ainda, que se faça uma comparação ao nível da Riqueza

lexical. Deste modo, foi-nos possível, a partir do software, fazer o levantamento dos

dados sobre a riqueza lexical dos manuais e estabelecer uma relação de comparação

entre eles, representados nas tabelas que se seguem:

Tabela 6: Riqueza lexical 1

Page 56: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

56

Tabela 7: Riqueza lexical 2

Como se pode notar, existe uma grande diferença entre os manuais em análise:

existe pouca variedade de vocabulário nos três primeiros manuais, relativos às três

primeiras colunas; as colunas estão sempre abaixo no nível limiar, indicando que o

vocabulário é repetitivo e pouco variado. O manual de Língua Portuguesa (quarta

coluna) é mais rico, em termos de vocabulário, por isso, a coluna do histograma está em

cima da linha limiar.

3.2.3.Concordâncias e Contextos

O software permite-nos efectuar análises das unidades lexicais com vista a

observação dos seus contextos de aplicação e das possíveis polissemias culturais.

Assim, seleccionamos algumas unidades lexicais e extraímos concordâncias (conjunto

de contextos automáticos em torno de uma forma-pólo) e contextos automáticos de

pontuação forte a pontuação forte, nos quadros apresentados na página seguinte:

Page 57: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

57

Tabela 8: Concordância 1 : “água”

Tabela 9: Concordância 2 : “vida”

Page 58: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

58

Tabela 10: Contextos 1 : “natureza”

Tabela 11: Contextos 2 : “vida”

Page 59: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

59

O software Hyperbase ajuda-nos na metodologia adequada ao levantamento,

organização de um Vocabulário de Base para o Ensino Primário em Angola, a partir dos

manuais de ensino e de aprendizagem, que, posteriormente, será inserido num

dicionário de aprendizagem.

Constatámos que a elaboração de um Vocabulário de Base requer critérios de

selecção das unidades lexicais que constituirão a nomenclatura do referido Vocabulário.

Conforme pudemos verificar, os manuais utilizados para a recolha dos vocábulos não

são representativos, em termos de riqueza e variação vocabular, não só pela repetição

dos textos neles contidos, mas também por não representarem a diversidade linguístico-

cultural existente em Angola. Daí a necessidade de apresentarmos uma metodologia a

utilizar nos trabalhos futuros.

Page 60: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

60

CAPÍTULO IV

DICIONÁRIO DE APRENDIZAGEM

PARA O

ENSINO PRIMÁRIO

Page 61: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

61

4.1. Breve história da Lexicografia

Sem pretendermos fazer uma abordagem aprofundada sobre a origem da

Lexicografia, gostaríamos de fazer apenas algumas reflexões sobre a evolução da

referida ciência. A Lexicografia estava associada à elaboração de glossários, cuja

finalidade era ajudar a compreensão dos textos literários da Antiguidade, conforme nos

escreve Biderman (1984:1):

“A Antiguidade não produziu obras lexicográficas no sentido que

hoje damos a esse termo. Os únicos trabalhos de cunho vagamente

lexicográficos daquelas épocas eram os glossários, sobretudo os

produzidos pela escola grega de Alexandria e, entre os latinos, o

Appendix Probi.”

A autora acrescenta que a Lexicografia, tal como é entendida hoje, surge, de

facto, na era moderna, com a elaboração de Dicionários, fazendo menção às primeiras

obras lexicográficas do Espanhol, Francês e Português (1984: 2-4):

“Os primeiros dicionários espanhóis foram: o Universal

Vocabulario de Alonso de Palencia (1490) e os vocabulários Latino

Español (1492) e Español Latino (1495) de Antônio de Nebrija.

Quanto à Lexicografia francesa contemporânea, convém assinalar

os vários dicionários Larousse, Robert, etc. A série dos Larousse

vai desde obras elementares como Mon premier Larousse,

Larousse des débutants (1977), Dictionnaire du vocabulaire

essentiel (1963) até ao Grande Larousse Encyclopédique de 10

volumes.”

“O melhor dentre os mais antigos dicionários do português é o

bilingue de Rafael Bluteau- Vocabulário Portuguez e Latino em 8

volumes, Coimbra 1712-1721”.

Ainda sobre os Dicionários portugueses, Sabio Pinilla (1996:159) salienta que a

Lexicografia portuguesa teve origem com o Dictionarium Latinolusitanicum e vice-

versa (1569-70) de Jerónimo Cardoso, e daí surgem tantos outros como Dictionarium

Page 62: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

62

Lusitanicolatinum (1961) de Agostinho Barbosa, Prosódia (1634), Tesouro (1647) e

Adágios (1655) de Bento Pereira, Dicionário da Língua Portuguesa (1789) de António

de Morais e Silva, e tantos outros. Como se pode notar, a Lexicografia é a ciência mais

antiga dentre as ciências do Léxico, ela surge antes da Lexicologia, conforme afirmam

Gaudin e Guespin:

“La lexicographie est apparue avant la lexicologie: bien avant de

disposer d´études théoriques sur le mot, on s´est attaché à fixer le

sens de certains signes, à decrire les objects qu´ils servaient à

désigner, à enrégistrer les sources de difficultés”. (2000:16).

Embora a Lexicografia ou as práticas lexicográficas tenha (m) nascido primeiro,

no entanto, foi depois da instituição da Lexicologia, como disciplina, que a Lexicografia

teve um grande desenvolvimento.

Recordemos, conforme foi referido no capítulo anterior, que existe uma relação

estreita entre Lexicologia e Lexicografia; de facto, os Dicionários necessitam de um

estudo teórico do sistema linguístico; daí a grande contribuição das duas ciências,

embora tenham pressupostos e metodologias distintas23, segundo nos confirmam

Genouvrier & Peytard.

“O Lexicógrafo não pode tratar do léxico, fazer listas do mesmo e

definir-lhe os termos sem ter, mesmo de maneira pouco consciente,

uma concepção teórica do conjunto lexical sobre o qual trabalha,

em compensação, o lexicólogo não pode passar sem os

instrumentos de documentação (verdadeiros mostruários)

constituídos pelos dicionários”. (1973:342).

23 Por um lado, a metodologia adoptada nos trabalhos de pesquisa lexicográfica é de carácter

semasiológico, ou seja, parte-se da designação para se chegar à definição. Por outro lado, no que respeita

a Lexicologia, podemos dizer que usa a onomasiologia, como metodologia de pesquisas e organização

das estruturas lexicais.

Page 63: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

63

4.2. O que é um Dicionário?

Com implementação da Reforma Educativa, o Ministério da Educação de

Angola (MED) incluiu nas suas políticas educativas o programa de distribuição gratuita

dos manuais escolares para os alunos das escolas públicas que frequentem os primeiros

anos de escolarização.

No âmbito das políticas do MED, direccionamos a pesquisa para o

desenvolvimento da Lexicografia, uma vez que esta ajuda no desenvolvimento da

competência da escrita e leitura de uma língua.

Ao iniciarmos esta abordagem ao Dicionário, pretendemos trazer à discussão o

papel dos Dicionários durante o percurso escolar, sobretudo nos primeiros anos de

escolarização e fazer a apresentação de uma tipologia de dicionários que se adequem ao

ensino e aprendizagem, numa óptica de lexicografia de aprendizagem. O Dicionário é

um dos métodos sistematizados de ensino e aprendizagem do vocabulário, e constitui,

também, um acervo de informações importantes para o desenvolvimento das actividades

do quotidiano de determinada sociedade. Thorndike (1991) afirma que:

Le dictionnaire est l´un des intruments les plus importants de

l´enseignement. Il offre un fonds énorme de connaissances

systématiques. (Cit. por Bogaards 1994:217).

Uma vez que estamos a tratar do Dicionário, achamos importante fazer uma

pequena pesquisa em alguns dicionários, na perspectiva de ver como é definida a

unidade lexical nos Dicionários.

Compilação completa ou parcial das unidades léxicas de uma

língua (palavras, locuções, afixos etc.) ou de certas categorias

específicas dessa língua, organizadas numa ordem convencionada,

geralmente alfabética, e que pode fornecer, além das definições,

Page 64: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

64

informações sobre sinónimos, antónimos, ortografia, pronuncia,

classe gramatical, etimologia, etc. (Dicionário do Português Actual

Houaiss, 2011).

Obra de referência onde se encontram, ordenadas alfabeticamente,

palavras e expressões de uma língua, ou termos próprios de uma

ciência ou arte, com a respectiva definição ou tradução, classe

gramatical, pronúncia, etc. (Dicionário da Língua Portuguesa:

Dicionários Académicos Porto Editora, 2013).

Colecção organizada, geralmente de forma alfabética, de palavras

ou outras unidades lexicais de uma língua ou de qualquer ramo do

saber humano, seguidas da sua significação, da sua tradução ou de

outras informações sobre a unidade lexical (Dicionário Priberam

Online).

A book that gives a list of the words of a language in alphabetical

order and explains what they mean, or gives a word for them in a

foreign language (Oxford Advanced Learner´s Dictionary, 2005).

Notemos que em todas as definições, o Dicionário é tido como uma obra que

apresenta as unidades lexicais de uma língua, organizadas por ordem alfabética. No

dicionário podemos encontrar de maneira organizada, sistemática e com a facilidade de

consulta, toda a informação relativa a uma terminada unidade lexical. Faria & Correia

(1996:15) afirmam que um Dicionário é uma espécie de catálogo onde se encontra

registado um elevado número de informações relativas a cada uma das unidades do

vocabulário nele contido. Deste modo, o Dicionário funciona como subsidiário do

falante no estudo do léxico em todos os seus aspectos, não só para a compreensão do

significado das palavras e como elas funcionam, mas também para confrontar com

outros contextos de uso de modo a organizar o discurso.

Page 65: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

65

4.2.1. Características de um Dicionário

Uma vez que o Dicionário tem grande importância para o ensino e aprendizagem

do vocabulário, deve apresentar características que facilitem o seu utilizador na procura

da informação que ele contém. Uma questão importante é o tipo de informação descrita

no artigo lexicográfico sobre grafia e fonética, categoria gramatical, polissemias,

contextos, etc.

No entanto, a elaboração de um Dicionário exige uma selecção rigorosa e

exaustiva dos conteúdos a introduzir, Faria & Correia (1996: 16-17) apresentam dois

níveis de selecção:

“Por um lado, é preciso seleccionar, de entre as unidades que fazem

parte do léxico da língua, aquelas que irão ser descritas, isto é,

estabelecer a nomenclatura do dicionário; por outro lado, é preciso

seleccionar de entre toda a informação associada a uma unidade

lexical, qual a que é pertinente para o público ao qual se destina o

dicionário a fazer; por outras palavras, trata-se de informação

relativa não só à micro-estrutura ou artigo do dicionário, mas

também à sua macro-estrutura”.

O dicionário deve apresentar uma boa estrutura em função do seu público-alvo,

número de entradas, tipo de informação; deve apresentar uma boa introdução e

instrução de uso; as autoras apresentam uma variedade de características que os bons

dicionários devem apresentar:

“… Dicionários baseados em corpora, com exemplos concretos de

utilização oral e escrita, dicionários de aprendizagem com

exemplos de língua corrente; dicionários diversificados em termos

de macro e micro-estrutura, bem como em termos de quantidade e

qualidade da informação, adequados a tipos de público com

necessidades distintas; dicionários com artigos bem estruturados,

com separação perceptível de acepções distintas, em que seja

possível distinguir com clareza o que é uma definição relativa a

Page 66: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

66

uma acepção específica de uma informação sinonímica; dicionários

com informação gramatical adequada” (1996: 21).

De um modo geral, os Dicionários devem facilitar a comunicação e a

informação, que, por seu lado deve servir de instrumentos de educação e

desenvolvimento da língua e cultura de um determinado povo.

4.2.2. Tipologia e organização dos Dicionários

Até agora temos vindo a referir que o dicionário é um instrumento que descreve

o léxico de uma língua por meio de uma organização sistemática do vocabulário. Em

virtude de fazermos um agrupamento da tipologia dos Dicionários de uma forma

simples e resumida, apresentamos a proposta apresentada por Biderman (cf.1996: 57-

61) que apresenta alguns tipos de Dicionários, nomeadamente, Dicionário-padrão, não

especializado, para o público em geral, dicionário escolar, Dicionário infantil,

Dicionários técnico-científico e Dicionários bilingues.

Deste modo, para cada Dicionário deve estabelecer - se critérios de selecção das

informações específicas direccionadas para o ensino de uma língua. No caso especifico

da nossa pesquisa, centramos a nossa atenção nos Dicionários escolar e infantil, tendo

em conta aos nossos objectivos relativos ao ensino e aprendizagem do vocabulário.

Partindo dos pressupostos de Robert Galisson, que criou o conceito de

Lexicultura, estabelecendo a interdependência entre língua e cultura, é importante que

os alunos tenham acesso às informações referentes ao léxico da língua que estudam (no

caso do Português em contexto angolano), sendo que através da língua os alunos

conhecem os factos históricos e culturais que esta representa e reflecte.

Os Dicionários apresentam, de um modo geral, uma estrutura comum ao nível

organizacional, contendo uma Entrada (Vedeta) por ordem alfabética, transcrição

fonética, informação gramatical, definições e exemplos, empregos particulares e

variantes, fraseologias e locuções, sinónimos, derivados e compostos, etc., apresentando

Page 67: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

67

as diferenças consoante a sua tipologia, referente ao número de entradas, das

características dos dicionários, das informações nele contidas, do público-alvo, etc.

4.3. Concepção de um Dicionário de aprendizagem para o Ensino

Primário.

Após feitas as abordagens relativas ao Vocabulário de Base, bem como

discussões em torno das metodologias adequadas ao seu ensino e aprendizagem e, dado

ao facto de que existe uma variedade linguística-cultural, sobre a qual temos estado a

reflectir, achamos importante um Vocabulário de Base que represente um conjunto

delimitado de unidades lexicais essencial ao ensino e aprendizagem do Português em

contexto angolano, numa perspectiva de ensino de língua materna, não materna ou

segunda. Deste modo, pensamos que este (Vocabulário) deve constituir a nomenclatura

de um Dicionário de aprendizagem, destinado a crianças que frequentem os primeiros

anos de escolarização em Angola.

Uma vez que o Dicionário tem ocupado, cada vez mais, um lugar de revelo no

processo de ensino e aprendizagem, achamos que no seu uso, em contexto escolar,

permite que o professor realize actividades diversificadas sobre o vocabulário, dando a

conhecer aos alunos as vantagens do seu uso e, por sua vez, o aluno adquire uma maior

competência lexical, uma vez que este tem acesso a muitas informações sobre a unidade

lexical, disponíveis no dicionário.

Biderman (1996:58-59) apresenta-nos uma estrutura de Dicionário infantil, que a

autora considera apresentar as características indispensáveis à descrição do léxico de

uma língua. Assim temos:

“Dicionário Infantil (faixa etária: 7 a 10 anos) - Características deste tipo

de dicionário:

Nomenclatura: 10. 000 palavras aproximadamente, rigorosamente

escolhidas com base em pesquisa lexicoestatística fidedigna;

Micro-estrutura: definições simples em linguagem simples e directa;

Significados e usos bem explicitados por exemplos;

Page 68: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

68

Muitas ilustrações a cores que sejam informativas e não decorativas;

De natureza enciclopédica: iniciação ao conhecimento do universo;

Ideal que seja eletrónico em multimídia com animação e som”.

Tendo em conta aos requisitos acima apresentados pela autora, pensamos que o

Dicionário Petit Robert des enfants representa um ponto de partida para a concepção do

modelo de Dicionário, privilegiado, a adaptar para realidade angolana. Não só pelos

referidos requisitos, mas também por ser um dicionário de aprendizagem do francês,

como língua materna, dando lugar, também, aos conhecimentos ligados à cultura

representados na língua através de provérbios, expressões familiares com imagens com

Carga Cultural Partilhada, fazendo um enquadramento do contexto em que a criança se

encontra inserida.

O Petit Robert des enfants, Dicionário Robert destinado às crianças entre os 7-11

anos de idade, publicado em 1988, é um Dicionário de aprendizagem em que os alunos

podem aprender as palavras por meio da leitura feita no próprio dicionário (Cf. Bonicel

2003:316).

O Dicionário foi concebido com o objectivo de contribuir para a educação das

crianças, para a qualidade da escrita e da leitura, permitindo que as crianças façam uma

descrição do mundo a partir das unidades lexicais, dos textos, dos exemplos que

representam o mundo infantil dentro do Dicionário. Pensamos que Dicionário serve

como uma base, isto é, um ponto de partida para cumprir com os objectivos a que nos

propusemos; embora seja antigo, consideramos que o seu modelo ainda se mantém

actualizado e adequa-se ao contexto de ensino e aprendizagem do Português Variante

Angolana.

Assim sendo, um Dicionário apresenta um conjunto de elementos importantes,

que constituem a sua estrutura. Porém, no nosso trabalho, limitamo-nos a apresentar de

forma sucinta, alguns pontos, relacionados com as Micro e Macro-estruturas, que

consideramos fundamentais na estrutura organizacional de um Dicionário de

aprendizagem para crianças dos 7 aos 11 anos de idade. Assim, temos:

Ponto 1- O Dicionário deverá ter uma apresentação completa sobre o seu

conteúdo; sobre o tipo de informação, como usá-lo, definição do seu público-alvo (7 aos

Page 69: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

69

11 anos), orientações teóricas e metodológicas utilizadas para sua concepção,

devidamente mencionados numa INTRODUÇÃO, uma vez que consideramos a

introdução como um requisito relevante para a garantia da sua qualidade.

Ponto 2- O Dicionário deverá apresentar uma estrutura com informações

completas sobre as unidades lexicais, apresentadas de maneira clara e precisa,

adequadas às necessidades dos alunos: A ENTRADA, mais ou menos uma

nomenclatura de 20.000 entradas, deverá sempre ser destacada (apresentada em negrito

ou numa outra cor), seguida de toda a informação gramatical possível, de uma definição

e de exemplos que retratem a realidade angolana adequados ao nível de escolarização e

à idade dos alunos para quem se destina. Deste modo, o aluno conhecerá as várias

polissemias da unidade lexical (entrada), bem como dos seus contextos de aplicação nas

várias situações de uso.

Ponto 3- Cada entrada deve conter INFORMAÇÕES relativas à morfologia e à

derivação da unidade lexical, relativa à conjugação, à analogia, à pronúncia, aos

antónimos, aos domínios (“água” alimentação, ambiente, medicina, energia, etc.), aos

contextos, às dificuldades ortográficas, à vida quotidiana, etc.

Ponto 4- De modo a permitir que os alunos compreendam melhor o significado

das unidades lexicais e os seus contextos de uso (contextos tirados nos textos

narrativos, jornais, publicidades, etc.), o Dicionário deverá apresentar EXEMPLOS em

que se criam personagens que representam o dia-a-dia na sociedade em contexto

angolano. Uma vez que os exemplos facilitam a compreensão das diversas polissemias

implicadas na unidade lexical.

Ponto 5- No Dicionário deverá constar, também elementos ligados à

LEXICULTURA (unidades lexicais com semas culturais e lexiculturais), sendo que

esta é constituída por unidades lexicais com CARGA CULTURAL PARTILHADA,

que são, geralmente utilizadas no dia-a-dia e conotadas por uma determinada

comunidade. Estas, por sua vez, podem ser representadas através de provérbios, ditados

Page 70: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

70

populares, máximas, que traduzam uma realidade cultural partilhada, na língua do país

(no caso Angola) a quem é se destino o dicionário.

Ponto 6- Outro ponto importante, que deve sempre ser focado no acto de

elaboração de um Dicionário de aprendizagem infantil, tem a ver com a utilização de

IMAGENS ilustrativas que representam uma realidade cultural (imagens da fauna,

flora, actividades agrícolas, pesca, etc.) que se refletem na realidade do pais, relevando,

deste modo, a Lexicultura. Vejamos os exemplos de algumas imagens que representam

a realidade do trabalho de muitas mulheres angolanas:

Imagens 4: Camponesas angolanas a confecionarem a fuba de milho

Fonte: garfadasonline.blogspot.pt – acesso: 16/04/2015

Page 71: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

71

Imagens 5: Camponesas angolanas a confecionarem a fuba de bombó

Fonte: huambodigital.com – acesso: 16/04/2015

Imagens 6: Zungueiras angolanas

Fonte: circuloangolano.com – acesso: 16/04/2015

Page 72: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

72

CONCLUSÃO

Uma vez terminada a investigação, apresentamos as conclusões tiradas no

decorrer da pesquisa. O propósito que nos levou a fazer este trabalho foi de analisar o

modelo curricular proposto para o Ensino Primário em Angola no que respeita ao

Vocabulário de Base, com a finalidade de apresentar uma delimitação de um

Vocabulário de Base, bem como propor uma estratégia de ensino e aprendizagem do

mesmo, sugerindo, ainda, que este seja documentado num material didáctico,

nomeadamente, num Dicionário de aprendizagem, que sirva como meio pedagógico de

apoio tanto aos professores, como aos alunos.

No capítulo I, vimos a maneira como se encontra estruturado e organizado o

Sistema Educativo Angolano, conforme é apresentado na Lei de Bases do Sistema da

Educação, bem como nos relatórios e balanços sobre a segunda Reforma Educativa em

Angola. Deste modo, verificámos que a reforma no Sistema de Educação de Angola

trouxe melhorias significativas para o ensino, no que concerne os planos de estudo do

Ensino Primário, alvo do nosso estudo.

Após os resultados apresentados no capítulo II, acreditamos que o ensino e

aprendizagem do Português, em contexto angolano, apresentará uma mudança

significativa. É importante que os professores orientem as actividades em contexto

escolar sem descurar de o facto de os alunos terem ou não o Português como língua

materna. Pensamos, deste modo, que este trabalho poderá, eventualmente, contribuir

para o aperfeiçoamento das estratégias do ensino e aprendizagem do vocabulário do

Português Variante Angolana, mediante a introdução dos elementos de cultura sobre a

língua, isto é, da Lexicultura.

Em relação à metodologia para a recolha dos vocábulos, no capítulo III

apresentamos os passos a seguir no software Hyperbase. É importante que se diga que a

metodologia apresentada é uma demonstração do que se desenvolverá em trabalhos

futuros, uma vez que, concluímos que é necessário uma pesquisa aprofundada para que

possamos obter os resultados desejados, a fim de cumprir com o objectivo apresentado

no capítulo IV, de elaboração de um Dicionário de aprendizagem.

Page 73: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

73

Devemos reconhecer que não nos foi possível cumprir com todos os

objectivos traçados neste trabalho, uma vez que, após termos chegado ao fim,

concluímos que este é um ponto de partida para realização de uma pesquisa mais

exaustiva, no respeita a selecção, organização e proposta de um vocabulário de

base, com todas as perspectivas assinaladas. Abrimos, com este trabalho, uma

porta para uma pesquisa mais exaustiva e completa à volta do Vocabulário de

Base no Ensino Primário em Angola; o Vocabulário de Base deverá ser constituído

por 20. 000 unidades lexicais que constituirão a nomenclatura do Dicionário de

aprendizagem.

As entradas extraídas do CORPUS MANUAIS não são suficientes para a

constituição do Vocabulário de Base propriamente dito; uma vez que o corpus será

enriquecido por um outro corpus constituído por inquéritos realizados juntos de

professores e de crianças em várias regiões do pais.

Trabalharemos também com produções espontâneas das crianças,

nomeadamente, produção de pequenos textos, com vista à recolha das unidades

lexicais referentes às sua áreas de interesse (jogos, brincadeiras, tecnologia, etc.) e

das variantes lexicais diatópicas. Ainda assim, pensamos ter trago algumas

contribuições, ainda que de modo geral, não só para os professores, mas também

para os alunos, a quem se destina o Dicionário de aprendizagem. Deixando, desde

já, a abertura para sugestões.

Page 74: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

74

REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

AIRES, A. (2007). Educação Musical 6ª Classe. Luanda, Texto Editores.

ARAÚJO, E.M.V.M. (2007). Dissertação de Mestrado em Linguística Aplicada:

O dicionário para aprendizes em sala de aula - uma ferramenta de ensino e

aprendizagem. Fortaleza, Centro de Humanidades-Universidade Estadual do

Ceará.

BARBOSA, L.M.A. (2008/2009). O Conceito de lexicultura e as suas

implicações para o ensino-aprendizagem de português língua estrangeira. In:

Filologia e Linguística Portuguesa. Universidade de São Paulo.

BIDERMAN, M.T.C. (1984a) A Ciência da Lexicografia. In:Alfa. São Paulo.

BIDERMAN, M.T.C. (1984b) Léxico e Vocabulário Fundamental. In:Alfa. São

Paulo.

BIDERMAN, M.T.C (1996). Os dicionários que deveríamos ter. In: Actas do

XI encontro nacional da associação portuguesa de linguística (Vol.II). Lisboa,

Colibri- Artes Gráfica.

BOGAARDS, P (1994). Le vocabulaire dans l´apprentissage des langues

étrangéres. Hatier, Didier.

BONICEL, Laetitia (2003). Lexiculture et dicionnaires pour enfants. In: Mots et

lexiculture: hommage à Robert Galisson. Paris, Honoré Champion.

CARLOS, B. Et. (n. d.) Al. Educação Manual e Plástica 6ª Classe. Luanda,

Plural Editores.

CLÁUDIO, A.N. (2011). Currículo de Educação Pré-Escolar. Luanda, INIDE.

CUQ, J.P. (2003). Dictionnaire de didactique du français: Langue Étrangére et

Seconde. Paris, asdifle/CLE internatinal.

Departamento do Ensino Geral (2012). Programa do Ensino Primário da 6ª

Classe. Luanda, Editora Moderna.

Dicionário de Língua Portuguesa (2013). Porto Editora.

Dicionário de Português Online Michaelis. Acesso: 15/11/2014, disponível em:

Michaelis.uol.com.br> português.

Dicionário do Português Actual Houaiss (2011).

Page 75: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

75

Dicionário Online InFormal. Acesso: 15/11/2014, disponível em:

www.dicionarioinformal.com.br.

Dicionário Porto Editora Online. Acesso: 15/11/2014, disponível em:

www.portoeditora.pt> Dicionários-online.

Dicionário Priberam Online. Acesso: 15/11/2014, disponível em:

www.priberam.pt.

FARIA, I.H. & CORREIA, M. (1996). Os dicionários que temos e os que

deveríamos ter. In: Actas do XI encontro nacional da associação portuguesa de

linguística (Vol.II). Lisboa, Colibri- Artes Gráfica.

FERREIRA, H.M & VIEIRA, M.S.P. (2013). O trabalho com o léxico em sala

de aula: desafios para o ensino de língua não materna. In: Revista Letras Raras

Vol. 2, Nº 2.

FREITAS, M. M. & AGOSTINHO, P.S. Ciências da natureza 6ª Classe.

Luanda, Plural Editores.

GALISSON, R. (1970). L´apprentissage systématique du vocabulaire. Paris,

HACHETTE/ LAROUSSE.

GALISSON, R. (1971). Inventaire thématique et syntagmatique du français

fondamental. Paris, HACHETTE/ LAROUSSE.

GALISSON, R. (1987). De la lexicographie de dépannage à la lexicographie

d´apprentissage: Cahiers de lexicologie, nº 51-2. Paris, Didier Erudition.

GALISSON, R. (1988). Culture et lexiculture partagées:les mots comme lieux

d´observation des faits cultureles. Études de Linguistique Appliqué. nº 69, Paris,

Didier Erudition.

GALISSON, R. (1991). De la langue à la culture par les mots. Paris, Clé

International.

GAUDIN, F. & GUESPIN, L. (2000). Initiotion à la lexicologie française: De la

nélogie aux dictionnaires. 1ª Edição. Duculot, Bruxelles.

GENOUVRIER, E. & PEYTARD, J. (1973). Linguística e ensino do Português.

Coimbra, Livraria Almedina.

Grupo de Prognóstico do Ministério da Educação da República de Angola

(2013). Relatório de Balanço do Trabalho Realizado pelo Grupo de Prognóstico

do Ministério da Educação da República de Angola. Luanda, MED/Editora das

Letras, S.A.

Page 76: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

76

GUILLÉN DÍAZ, C. (2003) La lexiculture: d´un concept instrumental à un

Outil d´intervention en didactique des langues-cultures. In: Mots et lexiculture:

hommage à Robert Galisson. Paris, Honoré Champion.

ILTEC-Instituto de Linguística Teórica e Computacional (2013). Ensino do

Português como Língua Não Materna: Estratégias, Materiais e Formação.

Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

Instituto Nacional de Investigação Científica (1984). Português Fundamental.

Lisboa, Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação (2012).

Programa de Língua Portuguesa-7ª, 8ª e 9ª classes. Luanda.

ISQUERDO, A.N. (1996). Léxico regional e conservadorismo linguístico. In:

Actas do XI encontro nacional da associação portuguesa de linguística (Vol.II).

Lisboa, Colibri- Artes Gráfica.

LEHMANN, A. & MARTIN-BERTHET, F. (1998). Introduction à la

lexicologie. Nathan, Dunod.

Lei nº 13/01 de 31 de Dezembro (2001). Lei de Bases do Sistema de Educação.

LEIRIA, I. (2006). Léxico, aquisição e ensino do Português Europeu língua não

materna. Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a

Tecnologia.

LINO, M.T.R.F. (1979). Importância de uma Lexicologia contrastiva, In: Letras

Soltas. Lisboa, LS.

LINO, M.T.R.F. (1996). Da constituição de corpora à Lexicografia

informatizada de especialidade. In: Actas do XI encontro nacional da associação

portuguesa de linguística (Vol.II). Lisboa, Colibri- Artes Gráfica.

LINO, M.T.R.F. et PRUVOST, J. (coord.) (2003). Mots et lexiculture: hommage

à Robert Galisson. Paris, Honoré Champion.

LINO, M.T.R.F, CHICUNA, A.V, PITA GRÔZ, A & MEDINA, D. (2010).

Neologia terminologia e lexicultura a língua portuguesa em situação de

contacto de línguas. In: Filologia e Linguística portuguesa. Universidade de São

Paulo.

MADEIRA, C.M. Educação Moral e Cívica 6ª Classe. Luanda, Plural Editores.

MATEUS, M.H. (2001). Se a língua é um factor de identificação cultural, como

se compreenda que uma língua viva em diferentes culturas?. Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa, Rio de Janeiro.

Page 77: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ... · ensino e aprendizagem do vocabulário, não só em sala de aula, como também a sua aplicação em materiais didácticos,

77

MESQUITA, H. & GAMA, M. (2011). Língua Portuguesa 6ª Classe. Luanda,

Árvore do Saber, S.A.

Ministério da Educação de Angola (2012). Balanço da Implementação da

Reforma Educativa nos Subsistemas de Ensino: Educação Pré-Escolar, Ensino

Geral, Formação de Professores e Ensino Técnico Profissional. Luanda,

CAARE.

Moderno Dicionário das 800 palavras. 2ª Edição. Livraria Sá da Costa Editora.

MORTUREUX, M.F (2013). La lexicologie entre langue et discours. 2ª édition.

Paris, Armand Colin.

NASCIMENTO, I.F. & JOÃO, W. M. (2010). Matemática 6ª Classe. Luanda,

Árvore do Saber, S.A.

NSIANGENGO, P. Et. Al. Manual de História - 6ª Classe (Reforma Educativa).

Luanda, Livraria Mensagem Editora.

Oxford Advanced Learner´s Dictionary (2005).

PAIVA. V. L. M O. (2004). Ensino de Vocabulário. In: A Gramática e o

Vocabulário no Ensino de Inglês: Novas Perspectivas. Belo Horizonte, FALE –

UFMG.

PERROT.J, (1953). Introdução à linguística. Lisboa, Editorial Notícias.

PINTO, C.M.L.F. (2012). Tese de Doutoramento em Linguística-Lexicologia,

Lexicografia e Terminologia: Sinonímia, Polissemia, Homonímia em Manuais,

Gramáticas e Dicionários Escolares- para o Desenvolvimento da Competência

Lexical. Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas-Universidade Nova

de Lisboa.

QUIVUNA, M. (2014). Lexicologia aplicada ao ensino do léxico em Português

língua não materna. Lisboa, Edições Colibri.

SABIO PINILLA, J.A. (19969. A etimologia nos dicionários portugueses. In:

Actas do XI encontro nacional da associação portuguesa de linguística (Vol.II).

Lisboa, Colibri- Artes Gráfica.

SARDINHA, M.G.G.A. Os caminhos do Ensino e da Aprendizagem do

Vocabulário: Intercultura, Corpus Textual e Lexicultura. Universidade da Beira

Interior.