Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de...

68
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa PRPGP Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura da comunidade macrobentônica intertidal em praias invadidas pelo bivalve Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) (Mollusca: Pteriidae) no Nordeste brasileiro Romilda Narciza Mendonça de Queiroz Orientadora: Profa. Thelma Lúcia Pereira Dias Campina Grande, PB Fevereiro de 2015

Transcript of Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de...

Page 1: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa – PRPGP

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC

Dissertação de Mestrado

Estrutura da comunidade macrobentônica intertidal em praias invadidas pelo

bivalve Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) (Mollusca: Pteriidae) no

Nordeste brasileiro

Romilda Narciza Mendonça de Queiroz

Orientadora: Profa. Thelma Lúcia Pereira Dias

Campina Grande, PB

Fevereiro de 2015

Page 2: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

ROMILDA NARCIZA MENDONÇA DE QUEIROZ

Estrutura da comunidade macrobentônica intertidal em praias invadidas pelo

bivalve Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) (Mollusca: Pteriidae) no

Nordeste brasileiro

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ecologia e Conservação como parte

dos requisitos necessários para obtenção do título de

Mestre em Ecologia e Conservação.

Orientadora: Profa. Dra. Thelma Lúcia Pereira

Dias.

Campina Grande, PB

Fevereiro de 2015

Page 3: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura
Page 4: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

ROMILDA NARCIZA MENDONÇA DE QUEIROZ

Estrutura da comunidade macrobentônica intertidal em praias invadidas pelo

bivalve Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) (Mollusca: Pteriidae) no

Nordeste brasileiro

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ecologia e Conservação como parte

dos requisitos necessários para obtenção do título de

Mestre em Ecologia e Conservação.

Aprovado em 27/02/2015

Page 5: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

DEDICATÓRIA

A Deus, que é minha esperança e minha força.

Aos meus pais, Maria Célia e Romildo, meus

exemplos de vida e minha fortaleza.

À minha avó, Narciza (in memoriam), meu

exemplo de fé e generosidade.

Page 6: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

AGRADECIMENTOS

A Deus, que tem me abençoado com tantas oportunidades e me dado força para concluir

este trabalho e prosseguir nos caminhos da pesquisa.

Aos meus pais, Maria Célia e Romildo, pela dedicação e apoio incondicional. Ao meu

irmão Érico, pelo apoio e torcida.

A Thelma, que tem sido mais que uma orientadora, sempre procurando fazer o melhor

por todos que ela orienta.

A meus colegas e parceiros de pesquisa, Graci, Camile, Linaldo, Thiago, Katiane, Jéssika

e Júlia, pelo auxílio nas coletas, triagens e identificações. A Mayanne também.

A Luis Carlos (Pop), pelo auxílio nas coletas e confecção do experimento.

Ao meu amigo de todas as horas, Bruno Halluan, que me auxiliou em algumas coletas

também.

Aos amigos do laboratório de peixes, Tony, Renato e Marcel, e a minha prima Lívia;

pelo auxílio nas coletas.

À Erika Santana, pelo auxílio na identificação dos cnidários. A Paula Spotorno por

identificar os moluscos vermetídeos. À Carlo Magenta, por estar sempre disponível a ajudar nas

identificações.

Aos professores André Pessanha e José Roberto Botelho de Souza pelas contribuições

ideológicas para este trabalho. André Pessanha, sempre um grande professor e amigo.

As colegas do LbMar, Rafaela, Ellori, Lamara, Priscila, Jéssica e Bel .

Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da UEPB (PPGEC/UEPB),

pelo apoio logístico e por todo aprendizado proporcionado.

Aos meus colegas e amigos de Mestrado, especialmente Climélia e Paulo Sérgio.

A todos os amigos e pessoas que contribuíram e me apoiaram de alguma forma.

Page 7: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1. Indivíduos de Isognomon bicolor aderidos às rochas no mesolitoral da Praia de

Jacarapé, João Pessoa, Paraíba......................................................................................................07

CAPÍTULO I

Figura 1. (a) Localização do Estado da Paraíba na costa brasileira. (b) Localização do

município do Conde, litoral sul do estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. (c) Localização das

praias de Jacumã e Carapibus, com destaque para os recifes de arenito.....................................23

Figura 2. Fotos mostrando os recifes de arenito nas praias de Carapibus (a) e Jacumã (b), no

litoral sul do estado da Paraíba, Nordeste do Brasil...................................................................24

Figura 3. Desenho amostral indicando as amostras obtidas nas faixas longitudinais delimitadas e

os níveis de mesolitoral determinadas nas duas áreas de estudo............................................... 26

Figura 4. Análise nMDS mostrando a distribuição das amostras entre as praias e entre as zonas

do mesolitoral nas praias de Carapibus e Jacumã, Conde, estado da Paraíba. MS=mesolitoral

superior; MI=mesolitoral inferior.................................................................................................30

Figura 5. Análise nMDS mostrando a distribuição dos dados nas estações (a) seca e chuvosa da

praia de Jacumã;e (b) nas zonas do mesolitoral superior e inferior da praia de Carapibus..........33

Figura 6. Correlações positivas entre Isognomon bicolor e os táxons bentônicos nativos mais

abundantes: (a) Brachidontes exustus, (b) Lottia subrugosa, (c) Tetraclita stalactifera, (d)

Chthamalus sp. e (e) Fissurelídeos................................................................................................36

Page 8: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I

Tabela 1. Dados de abundância (N) e densidade de Isognomon bicolor e das espécies nativas,

total de espécies nativas e média de indivíduos de I. bicolor em relação às espécies nativas nas

praias de Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil.............................................29

Tabela 2. Número de indivíduos (N) e a densidade (ind/m2)do invasor Isognomon bicolor e dos

organismos bentônicos nativos nas zonas do mesolitoral (meso-superior e meso-infeior), nas

praias de Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil............................................29

Tabela 3. Resultados da análise de Percentagem de Similaridade (SIMPER), mostrando o

percentual de contribuição e abundância das principais espécies nas praias de Carapibus e

Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil...............................................................................31

Tabela 4. Resultados da análise de Percentagem de Similaridade (SIMPER), mostrando o

percentual de contribuição e abundância das principais espécies nas zonas meso-inferior e meso-

superior das paias de Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil........................32

Tabela 5. Percentual de cobertura das espécies registradas na praia de Carapibus, com destaque

(negrito) para os valores das principais espécies em cada zona do mesolitoral (meso-superior e

meso-infeior) e estações do ano (seca e chuvosa).......................................................................34

Tabela 6. Percentual de cobertura das espécies registradas na praia de Jacumã, com destaque

(negrito) para os valores das principais espécies em cada zona do mesolitoral (meso-superior e

meso-infeior) e estações do ano (seca e chuvosa).......................................................................35

Tabela 7. Abundância, densidade (ind/m²) e média (± desvio-padrão) das espécies mais

representativas na zona mesolitoral superior das praias de Carapibus e Jacumã, com destaque

para os valores das espécies dominantes.....................................................................................37

Tabela 8. Abundância, densidade (ind/m²) e média (±desvio-padrão) das espécies mais

representativas na zona Mesolitoral inferior das praias de Carapibus e Jacumã, com destaque

(negrito) para os valores das espécies dominantes...................................................................37

Page 9: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

Tabela 9. Análise da densidade de Isognomon bicolor em relação ao tipo de substrato

encontrado nas duas zonas do mesolitoral das praias de Carapibus e Jacumã, baseado no

percentual de cobertura de alga, rocha e areia............................................................................39

Tabela 10. Análise da densidade de Isognomon bicolor em relação ao percentual de cobertura,

peso e volume de macroalgas nas zonas do mesolitoral das praias de Carapibus e Jacumã, no

município do Conde, Paraíba, Brasil..........................................................................................39

Page 10: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL ...................................................................................... 04

1.1. Invasões biológicas ................................................................................. 04

1.2. Fatores que determinam as bioinvasões ................................................. 05

1.3. Bioinvasões por Isognomon bicolor ....................................................... 07

2. PERGUNTAS ...................................................................................................... 10

3. HIPÓTESES .......................................................................................................... 10

4. OBJETIVOS .......................................................................................................... 11

4.1. Objetivo geral ......................................................................................... 11

4.2. Objetivos específicos .............................................................................. 11

5. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................ 16

RESUMO .................................................................................................................. 17

ABSTRACT .......................................................................................................... 18

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 19

MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................... 22

- Área de estudo ............................................................................................... 22

- Desenho amostral .......................................................................................... 25

- Análise dos dados .......................................................................................... 27

RESULTADOS ......................................................................................................... 28

- Distribuição e relações com a comunidade bentônica nativa ................................. 28

- Isognomon bicolor e a cobertura bentônica ............................................................ 38

DISCUSSÃO ............................................................................................................. 40

CONCLUSÕES.........................................................................................................46

AGRADECIMENTOS .............................................................................................. 47

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 48

ANEXO I ................................................................................................................... 56

ANEXO II.................................................................................................................60

Page 11: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

RESUMO GERAL

A invasão por espécies exóticas tem causado um grande impacto sobre os ecossistemas, além de

prejuízos econômicos, sociais e à saúde humana. Espécie exótica invasora é aquela que foi

introduzida a partir de outro ambiente, se estabeleceu, e constitui uma ameaça a biodiversidade

nativa, aos recursos naturais ou a saúde humana. O bivalve Isognomon bicolor é uma espécie

originária do Caribe e desde seu primeiro registro em 1994, esta espécie tem se expandido e hoje

está entre as principais espécies marinhas invasoras que tem causado impactos nas comunidades

entremarés na costa brasileira. Mudanças no padrão de distribuição, na disponibilidade de

alimento e no tamanho ou estrutura dos substratos e refúgios tem sido ocasionadas pelo I.

bicolor. Provavelmente I. bicolor foi introduzido de maneira involuntária na costa do Rio de

Janeiro (Sudeste do Brasil) via incrustações em plataformas de petróleo ou nos cascos de navios,

e atualmente ele tem sido registrado do litoral do Nordeste até o Sul do país. Para que uma

invasão seja bem sucedida, o invasor deve possuir estratégias eficientes para a ocupação do

ambiente e tolerância aos fatores abióticos. No caso do I. bicolor, sabe-se que a influência da

hidrodinâmica local, temperatura, estrutura do substrato e associação com espécies nativas

podem favorecer o estabelecimento deste invasor. Apesar disso, o conhecimento sobre a

ecologia e distribuição espaço-temporal do I. bicolor ainda é escasso, principalmente para a

região Nordeste do país, que possui características e condições ambientais diferentes dos locais

onde ele tem sido estudado. Há muitos questionamentos que ainda precisam ser esclarecidos

acerca dos impactos causados por esta espécie e dos fatores que permitem sua expansão

relativamente rápida pelos ambientes costeiros no Brasil. Neste contexto, este estudo tem como

objetivo principal caracterizar a estrutura da comunidade macrobentônica em praias com a

presença do bivalve invasor Isognomon bicolor e avaliar se sua presença pode estar

influenciando ou sendo influenciada pela distribuição e densidade das espécies nativas. Os dados

fornecidos poderão nortear a elaboração de medidas de controle desta espécie invasora.

Palavras-chave: Espécies invasoras, zonação no entremarés, distribuição macrobentônica,

influência de espécies nativas.

Page 12: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

4

1. INTRODUÇÃO GERAL

1.1. Invasões biológicas

As bioinvasões tem se destacado cada vez mais como um problema global e tem se

tornado uma preocupação por parte de organizações e governos, como ameaça à conservação e a

economia. Essas bioinvasões tem gerado grande impacto sobre os ecossistemas, sendo

considerada a segunda maior causa de perda de biodiversidade no planeta (GISP, 2005).

Espécie exótica invasora é definida como aquela que, uma vez introduzida a partir de

outro ambiente, estabelece-se em um ecossistema fora de sua distribuição natural e provoca

modificações que ameaçam a biodiversidade nativa, os recursos naturais ou a saúde humana

(IUCN, 2000; MMA, 2009).

Algumas vezes, os impactos são rápidos e dramáticos, porém, frequentemente as

respostas às bioinvasões são indiretas e sutis, e podem passar despercebidas por muito tempo

(IUCN, 2000). Considerando-se todas as alterações do ambiente natural, a invasão de um habitat

é uma das situações mais difíceis de controlar e restaurar, pois geralmente leva a ocupação e

domínio por parte da espécie invasora (Santos, 2004).

Entre os impactos causados pelas espécies invasoras estão a perda da biodiversidade

nativa associada à diminuição de habitats disponíveis para as espécies nativas, a competição e

predação das espécies da comunidade receptora e a presença de parasitas e doenças na espécie

invasora (IUCN, 2009). Além disso, a disseminação de espécies invasoras leva à

homogeneização dos ambientes com a destruição de características peculiares que a

biodiversidade local proporciona, podendo provocar mudanças nas funções dos ecossistemas e

nos ciclos de nutrientes, bem como prejuízos econômicos e à saúde humana (IUCN, 2009).

As invasões biológicas além de provocarem prejuízos econômicos, também acarretam

problemas sociais, pois podem provocar redução de recursos pesqueiros ou agrícolas, gerando

Page 13: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

5

desemprego e afetando diretamente as pessoas que dependem desses recursos (Bax et al., 2003).

Apesar disso, as invasões biológicas em ecossistemas marinhos estão entre os aspectos menos

conhecidos relacionados às mudanças globais (Occhipinti-Ambrogi e Savini, 2003).

O papel ecológico que uma espécie introduzida assume na comunidade receptora é um

importante direcionador, podendo levar a coexistência ou a grandes alterações nesta comunidade

(Ignacio, 2008). Nesse contexto, percebe-se a importância de compreender quais as possíveis

características que favorecem o estabelecimento das espécies invasoras e também monitorar o

impacto causado por elas.

1.2. Fatores que determinam as bioinvasões

Para que uma invasão biológica seja bem sucedida, o organismo exótico deve possuir

estratégias eficientes para a ocupação do ambiente e tolerância aos fatores abióticos. Além disso,

algumas características abióticas e bióticas da comunidade receptora podem estar relacionadas

com o sucesso da invasão biológica (Teixeira et al., 2010).

Em habitats intertidais marinhos, essas relações entre a espécie invasora e as nativas se

refletem ou são resultado da ocupação e distribuição dos organismos no ambiente. Dentre os

diversos organismos que habitam a região entremarés, os invertebrados sésseis se destacam

porque dominam diferentes níveis, gerando o padrão de zonação característico destes ambientes

(López, 2008). Características físicas do ambiente ou as variáveis biológicas tais como os

processos pós-assentamento (competição e predação), explicam geralmente essas diferenças

espaciais e mudanças temporais na distribuição e abundância dos organismos adultos nas faixas

dos recifes e costões, que são dominadas por diferentes espécies (Domingues, 2004; Coutinho,

2002). Na região entremarés, alguns dos principais fatores físicos que influenciam os organismos

são as mudanças de temperatura, exposição às ondas e ao ar (López, 2008).

Page 14: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

6

A diversidade de espécies no ambiente também tem sido apontada como um fator que

influencia a invasão, em que ambientes com menor diversidade de espécies estariam mais

propensos a serem receptores de espécies invasoras comparado àqueles com alta diversidade

(Ferreira et al., 2004, Stachowicz e Byrnes, 2006). Experimentos indicam que, em ambientes com

alta diversidade de espécies, os recursos estariam sendo mais prontamente utilizados,

comparativamente aos ambientes com menor diversidade, onde aconteceria o contrário, ou seja,

os recursos não estariam no seu limite máximo (Stachowicz et al., 1999). Além disso, a

composição de espécies nas comunidades também parece desempenhar um papel importante na

determinação do sucesso da invasão (Lindsay et al., 2006).

Entretanto, alguns estudos também relataram que a maior riqueza de espécies invasoras

ocorreu em habitats com alta riqueza de espécies nativas, indicando que os mesmos fatores que

influenciam a distribuição das espécies nativas também direcionaram os invasores e que os

fatores ambientais teriam importância maior (Zaiko et al., 2006). Também há estudos que

demonstram que a espécie exótica não necessariamente traz prejuízos à comunidade nativa,

podendo até agir como facilitador ou oferecer benefícios às espécies nativas, como por exemplo,

aumentando a complexidade do habitat ou reduzindo a predação sobre espécies nativas e

diminuindo também os competidores dominantes (Rodriguez, 2006). Estes aspectos também

influenciam ou resultam na distribuição e partilha do espaço pelas espécies que habitam a zona

entremarés, sendo assim, a distribuição espacial um importante indicador dos processos

ecológicos e da “saúde” do ambiente.

Há evidências também de que ambientes estressados pela ação humana são mais

suscetíveis às invasões biológicas, sendo colonizados mais facilmente por espécies exóticas

(Occhipinti-Ambrogi e Savini, 2003). Isso pode ocorrer porque espécies invasoras tendem a ser

mais tolerantes às variações dos fatores ambientais e a condições estressantes do que espécies

nativas (Lenz et al., 2011, Verbrugge et al., 2012), o que favoreceria seu sucesso populacional,

acarretando a bioinvasão.

Page 15: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

7

1.3. Bioinvasões pelo bivalve Isognomon bicolor

O bivalve Isognomon bicolor (conhecido por bicolor purse-oyster) (Fig. 1) é uma espécie

originária do Caribe e teve seu primeiro registro para a costa brasileira realizado em 1994

(Domaneschi e Martins, 2002), ocasião em que os autores coletaram exemplares do litoral das

regiões Sul, Sudeste e Nordeste, sendo que para esta última, somente três estados foram

amostrados (Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia). Entretanto, os autores relatam que a

introdução dele no Brasil provavelmente ocorreu na década de 1980.

Figura 1. Indivíduos de Isognomon bicolor aderidos às rochas no mesolitoral da Praia de Jacarapé, João

Pessoa, Paraíba. Foto: Thelma Dias © 2012.

Desde então, esta espécie tem se expandido e atualmente está entre as principais espécies

marinhas invasoras que tem causado impactos na costa brasileira (Ferreira et al., 2009).

Mudanças no padrão de distribuição de comunidades intertidais têm sido registradas como

consequências da invasão do bivalve I. bicolor (López, 2008). Em estudos realizados nas regiões

Sudeste e Sul do Brasil, por exemplo, foi possível detectar reduções significativas na abundância

e distribuição de espécies sésseis nativas como consequência direta ou indireta da entrada de I.

bicolor (López, 2003; Martinez, 2012).

Page 16: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

8

Alterações no padrão de zonação ocorreram pela definição de novas faixas dominadas

pelo invasor Isognomon bicolor. A alta densidade de I. bicolor provocou mudanças na

disponibilidade de alimentos e no tamanho ou estrutura dos substratos e refúgios em praias da

Ilha do Arvoredo, Santa Catarina (Martinez, 2012). Em alguns locais do Brasil, já há indícios de

que o aumento da densidade de I. bicolor está causando a redução de populações do mexilhão

comestível Perna perna, tanto em costões rochosos, quanto em áreas de cultivo. Além disso, esta

espécie tem causado prejuízos às atividades marítimas devido à bioincrustação em embarcações e

construções portuárias (MMA, 2009).

Isognomon bicolor passou a ganhar destaque no meio científico e junto aos órgãos

governamentais após apresentar um aumento súbito de densidade em vários pontos da costa

brasileira, a partir da metade da década de 1990. A inexistência de inventários e trabalhos

ecológicos publicados para várias regiões da costa brasileira contribuiu para que, durante muito

tempo, a expansão dessa espécie tenha passado despercebida (MMA, 2009).

Provavelmente, Isognomon bicolor foi introduzido de maneira involuntária na região de

Cabo Frio (Rio de Janeiro) via incrustações em plataformas de petróleo ou nos cascos de navios

que chegam aos Portos da cidade de Arraial do Cabo (Ferreira et al., 2004). Estas incrustações

em cascos e estruturas flutuantes têm causado grandes prejuízos econômicos, que estão

associados à redução da velocidade e capacidade de manobra de embarcações e ao aumento do

consumo de combustível e sobrecarga dos motores (Ferreira et al., 2004). Atualmente, I. bicolor

é encontrado desde o estado do Piauí até Santa Catarina (Domaneschi e Martins, 2002; MMA,

2009; Loebmann et al., 2010; Dias et al., 2013), mas pouco se sabe sobre seus padrões de

distribuição e os processos que eles influenciam.

Dos poucos estudos realizados no Brasil sobre Isognomon bicolor, a maioria está restrita

às regiões Sudeste e Sul do país, havendo apenas uma publicação recente para o Nordeste, que se

trata do registro desta espécie para os estados da Paraíba e Alagoas, além de novos dados de

distribuição para o Rio Grande do Norte e Pernambuco (Dias et al., 2013). Das pesquisas

Page 17: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

9

realizadas, pode-se destacar investigações sobre as relações com os predadores nativos (López et

al., 2010), e avaliação da influência da complexidade do substrato na densidade de I. bicolor

(Zamprogno et al., 2010). Além disso, há estudos sobre relações positivas com espécies nativas

(López e Coutinho, 2010) e experimentos de sucessão, que demonstraram sucessão tardia de I.

bicolor facilitada por espécies nativas (Rocha, 2002). Algumas pesquisas têm sido realizadas

para observar o grau de ocupação em substratos artificiais, como pilares em terminais portuários,

locais onde esta espécie apresenta-se em altas densidades (Bezerra, 2010).

Outros estudos têm sido desenvolvidos visando observar a influência de Isognomon

bicolor sobre as espécies nativas e também a relação entre a chamada “resistência biótica” das

comunidades nativas e a diminuição do sucesso e expansão da espécie exótica (Lopez, 2008).

Zamprogno et al. (2010) encontraram uma correlação positiva entre o número de fendas e

depressões nos costões rochosos e a densidade do Isognomon bicolor, o que demonstra que o

estabelecimento de indivíduos é mais fácil nas fendas e que a população residente influencia a

colonização dele também nas áreas lisas adjacentes. Nas fendas, os organismos foram

significativamente maiores e mais pesados do que os coletados em superfícies lisas. Rocha

(2002) observou que o recrutamento de I. bicolor é facilitado por espécies bentônicas nativas,

que proporcionam um substrato mais propício ao seu estabelecimento.

Dentre os fatores que podem determinar a invasão por Isognomon bicolor destaca-se a

influência da hidrodinâmica do lugar, da temperatura e presença de material particulado na água

para o desenvolvimento das larvas (López, 2008), estrutura do substrato (Martinez, 2012),

associação com espécies nativas que favorecem o estabelecimento (López e Coutinho, 2010) e

predação (López et al., 2010).

Como a maioria dos estudos sobre I. bicolor foi realizada nas regiões Sul e Sudeste do

país, em alguns casos os pesquisadores apontam as características estruturais das praias e costões

rochosos como um fator importante no estabelecimento dele. Entretanto, as praias e zonas

costeiras do Nordeste apresentam fisionomia e muitas outras características diferentes das praias

Page 18: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

10

estudadas até então no Sul e Sudeste, sendo importante avaliar as condições às quais este bivalve

está exposto nessa região.

Nesse sentido, há muitas perguntas relacionadas à bioinvasões que precisam ser

investigadas a respeito do bivalve Isognomon bicolor. Entre estas, pode-se destacar a

compreensão dos fatores e características que podem favorecer o estabelecimento e expansão

deste bivalve invasor, questão fundamental para planejamentos estratégicos de controle de

espécies invasoras e conservação de ecossistemas.

2. PERGUNTAS

O presente estudo foi norteado pelas seguintes perguntas:

A densidade e distribuição do bivalve invasor Isognomon bicolor são influenciadas pela

distribuição e densidade das espécies nativas em duas praias no Nordeste do Brasil?

A densidade e distribuição do Isognomon bicolor são influenciadas pela cobertura

macrobentônica nas zonas superior e inferior do mesolitoral?

3. HIPÓTESES

Em praias cuja comunidade nativa bentônica é mais densa e que ocupa maior cobertura, a

densidade de Isognomon bicolor é menor e sua distribuição no ambiente de mesolitoral é

mais restrita.

A maior presença de macroalgas, ocupando maior espaço no substrato influencia

negativamente a densidade e distribuição de I. bicolor.

4. OBJETIVOS

Page 19: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

11

4.1. Objetivo Geral

Caracterizar a estrutura da comunidade macrobentônica em praias com a presença do

bivalve invasor Isognomon bicolor e avaliar se sua presença pode estar influenciando ou sendo

influenciada pela distribuição e densidade das espécies nativas.

4.2. Objetivos Específicos

Verificar se a distribuição e densidade de I. bicolor variou nas zonas superior e inferior do

mesolitoral em relação à densidade das principais espécies sésseis que ocupam espaços

semelhantes ao bivalve invasor;

Analisar se a distribuição de I. bicolor variou ou foi influenciada pela cobertura

macrobentônica do substrato nas duas áreas estudadas;

Avaliar se a densidade e distribuição de I. bicolor está relacionada positivamente ou

negativamente com outras espécies bentônicas.

5. REFERÊNCIAS

BAX, N., WILLIAMSON, A., AGUERO, M., GONZALEZ, E., GEEVES, W. 2003. Marine

invasive alien species: a threat to global biodiversity. Marine Policy, 27: 313–323.

BEZERRA, D. F. 2010. Distribuição da malacofauna em pilares dos terminais portuários do

Ceará – Brasil, com ênfase no bivalve invasor Isognomon bicolor. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar, Fortaleza, CE.

75p.

Page 20: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

12

COUTINHO, R. 2002. Bentos de costões rochosos. p. 146-157. In: PEREIRA, C.P, SOARES-

GOMES, A. Biologia Marinha. Editora Interciência: Rio de Janeiro.

DIAS, T. L. P; MOTA, E. L. S.; GONDIM, A. I.; OLIVEIRA, J. M.; RABELO, E. F.;

ALMEIDA, S. M.; CHRISTOFFERSEN, M. L. 2013. Isognomon bicolor (C. B. Adams,

1845) (Mollusca: Bivalvia): First record of this invasive species for the States of Paraíba

and Alagoas and new records for other localities of Northeastern Brazil. Check List 9(1):

157-161.

DOMANESCHI, O.; MARTINS, C.M. 2002. Isognomon bicolor (C.B.Adams) (Bivalvia,

Isognomonidae): primeiro registro para o Brasil, redescrição da espécie e considerações

sobre a ocorrência e distribuição de Isognomon na costa brasileira. Revista Brasileira de

Zoologia, 19(2): 611-627.

DOMINGUES, C. S. P. 2004. Assentamento, mortalidade e crescimento de larvas e juvenis de

Chthamalus montagui na costa noroeste de Portugal. Dissertação de Mestrado.

Universidade de Aveiro, 77p.

FERREIRA, C. E.; GONÇALVES, J. E. A.; COUTINHO, R. 2004. Cascos de navios e

plataformas como vetores na introdução de espécies exóticas. p. 143-155. In: SILVA, J. S.

V., SOUZA, R. C. C. L. Água de lastro e bioinvasão. Editora Interciência: Rio de Janeiro.

FERREIRA, C. E. L., JUNQUEIRA, A. O. R., VILLAC, M. C., LOPES, R. M. 2009. Marine

Bioinvasions in the Brazilian Coast: Brief Report on History of Events, Vectors, Ecology,

Impacts and Management of Non-indigenous Species. p. 459-477. In: Rilov, G. & Crooks,

J. A. (eds.). Biological Invasions in Marine Ecosystems. Series Ecological Studies,

Volume 204, Springer Berlin Heidelberg.

GISP - Programa Global de Espécies Invasoras. 2005. América do Sul invadida. A crescente

ameaça das espécies exóticas invasoras. 80p.

Page 21: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

13

IGNACIO, B. L. 2008. Ecologia de comunidades de substratos consolidados da Baía de Ilha

Grande com ênfase no papel de espécies introduzidas e criptogênicas. Tese de Doutorado,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 198p.

IUCN. 2009. Marine Menace: alien invasive species in the marine environment. IUCN’s

Invasive Species Specialist Group, Switzerland. 30p.

LENZ, M.; GAMA, B. A. P.; GERNER, N. V.; GOBIN, J.; GRÖNER, F.; HARRY, A.;

JENKINS, S. R.; KRAUFVELIN, P.; MUMMELTHEI, C.; SAREYKA, J.; XAVIER, E.

A.; WAHL, M. 2011. Non-native marine invertebrates are more tolerant towards

environmental stress than taxonomically related native species: Results from a globally

replicated study. Environmental Research, 111: 943-952.

LINDSAY, H., TODD, C., FERNANDES, T., HUXHAM, M. 2006. Recruitment in epifaunal

communities: an experimental test of the effects of species composition and age. Marine

Ecology Progress Series, 307: 49-57.

LOEBMANN, D., MAI, A.C.G. & LEE, J.T. 2010. The invasion of five alien species in the Delta

do Parnaíba Environmental Protection Area, Northeastern Brazil. Revista de Biología

Tropical, 58 (3): 909-923.

LÓPEZ, M. S. 2008. O bivalve invasor Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) e seu papel nas

comunidades de entremarés rochoso na região de ressurgência do Cabo Frio, RJ. Tese de

doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. 225p.

LÓPEZ, M.S.; COUTINHO, R. 2010. Positive interaction between the native macroalgae

Sargassum sp. and the exotic bivalve Isognomon bicolor? Brazilian Journal of

Oceanography, 58: 69-72.

MARTINEZ, A. S. 2012. Spatial distribution of the invasive bivalve Isognomon bicolor on rocky

shores of Arvoredo Island (Santa Catarina, Brazil). Journal of the Marine Biological

Association of the United Kingdom, 92(3): 495-503.

Page 22: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

14

MMA - Ministério do Meio Ambiente. 2009. Informe sobre as espécies exóticas invasoras

marinhas no Brasil. Brasília: MMA/SBF, 440 p.

OCCHIPINTI-AMBROGI, A.; SAVINI, D. 2003. Biological invasions as a component of global

change in stressed marine ecosystems. Marine Pollution Bulletin, 46: 542-551.

ROCHA, F. M. 2002. Recrutamento e sucessão de uma comunidade bentônica de mesolitoral

dominada pela espécie invasora Isognomon bicolor (Bivalvia: Isognomidae) C.B. Adams,

1748 em dois costões rochosos submetidos a diferentes condições de batimento de ondas.

Dissertação MSc. PPGE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.

RODRIGUEZ, L. F. 2006. Can invasive species facilitate native species? Evidence of how,

when, and why these impacts occur. Biological Invasions, 8: 927-939.

SANTOS, C. P. 2004. Avaliação da densidade e crescimento populacional do mexilhão dourado

Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) em suas diferentes fases da vida no lago Guaíba,

município de Porto Alegre, RS, como subsídio ao controle do bivalve invasor. Dissertação

de mestrado, Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre, RS. 106p.

STACHOWICZ, J. J.; WHITLATCH, R. B.; OSMAN, R. W. 1999. Species Diversity and

Invasion Resistance in a Marine Ecosystem. Science, 286 (19): 1577-1579.

STACHOWICZ, J.J., BYRNES, J. E. 2006. Species diversity, invasion success, and ecosystem

functioning: disentangling the influence of resource competition, facilitation, and extrinsic

factors. Marine Ecology Progress Series, 311: 251-262.

TEIXEIRA, R. M., BARBOSA, J. S. P., LÓPEZ, M. S., FERREIRA-SILVA, M. A. G.,

COUTINHO, R., VILLAÇA, R. C. 2010. Bioinvasão marinha: os bivalves exóticos de

substrato consolidado e suas interações com a comunidade receptora. Oecologia Australis,

14(2): 381- 402.

Page 23: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

15

VERBRUGGE, L. N. H., SCHIPPER, A. M., HUIJBREGTS, M. A. J., VELDE, G. V.,

LEUVEN, R. S. E. W. 2012. Sensitivity of native and non-native mollusc species to

changing river water temperature and salinity. Biological Invasions, 14:1187-1199.

ZAMPROGNO, G. C., FERNANDES, L. L., FERNANDES, F. C. 2010. Spatial Variability In

the population of Isognomon Bicolor (C.B. Adams, 1845) (Mollusca, Bivalvia) on rocky

shores in Espírito Santo, Brazil. Brazilian Journal of Oceanography, 58(1): 23-29.

ZAIKO, A., OLENIN, S., DAUNYS, D., NALEPA, T. 2007. Vulnerability of benthic habitats to

the aquatic invasive species. Biological Invasions, 9(6): 703-714.

Page 24: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

16

Capítulo 1

Manuscrito a ser submetido ao periódico Journal of the Marine Biological Association of the

United Kingdom (JMBA)

Estrutura da comunidade macrobentônica intertidal em praias invadidas pelo

bivalve Isognomon bicolor (Mollusca: Pteriidae) no Nordeste brasileiro

Romilda Narciza Mendonça de Queiroz1* & Thelma Lúcia Pereira Dias

1,2

1Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde,

Universidade Estadual da Paraíba, Rua Baraúnas, 351, Bairro Universitário, CEP 58429-500, Campina

Grande, PB, Brasil

2Universidade Estadual da Paraíba, Laboratório de Biologia Marinha, Departamento de Biologia, Campus

I, Rua Baraúnas, 351, Bairro Universitário, CEP 58429-500, Campina Grande, PB, Brasil

*Autor para correspondência: [email protected]

Page 25: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

17

RESUMO

O bivalve invasor Isognomon bicolor é uma espécie originária do Caribe que atualmente está

entre as principais espécies marinhas invasoras em habitats costeiros do litoral brasileiro. Diante

desta problemática, este estudo visa caracterizar a estrutura da comunidade macrobentônica em

praias com a presença do bivalve invasor Isognomon bicolor e avaliar se sua presença pode estar

influenciando ou sendo influenciada pela distribuição e densidade das espécies nativas. O estudo

foi realizado nas praias rochosas de Carapibus e Jacumã, estado da Paraíba (Nordeste do Brasil).

Na praia de Carapibus foram registradas as maiores densidades do invasor I. bicolor (300 ind/m2)

e das espécies bentônicas nativas (11.372,22 ind/m²). Isognomon bicolor teve maior densidade no

mesolitoral inferior (347.68 ind/m²) e na estação chuvosa (158,56 ind/m²). Entretanto, não houve

diferença nas comunidades bentônicas dessas praias entre os períodos seco e chuvoso (p= 0.054),

apenas entre as praias (p= 0.001) e entre as zonas do mesolitoral (p= 0.005). Ao caracterizar a

distribuição e zoneamento da comunidade bentônica, pode-se observar que na zona mesolitoral

superior nessas duas praias, as espécies dominantes em densidade foram os moluscos

Brachidontes exustus e Echinolittorina lineolata, e o cirripédio Chthamalus sp. No mesolitoral

inferior, pode-se destacar além do B. exustus e Chthamalus sp., o invasor I. bicolor que constituiu

um dos principais fatores de diferenciação da zonação observada. Também foi observada

correlação positiva entre a densidade de Isognomon bicolor e algumas espécies nativas. Com os

resultados obtidos, pode-se concluir que a densidade e distribuição do Isognomon bicolor estão

sendo influenciadas por determinados macroinvertebrados bentônicos, pelo tipo de cobertura e

características estruturais e da cobertura bentônica das praias estudadas.

Palavras-chave: Espécies invasoras, zonação no entremarés, distribuição da comunidade nativa,

influência da cobertura bentônica.

Page 26: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

18

ABSTRACT

The invasive bivalve Isognomon bicolor is native to the Caribbean Sea and today is among the

key invasive marine species in coastal habitats of the Brazilian coast. Before this problem, this

study aims to characterize the structure of the macrobenthic community on beaches in the

presence Isognomon bicolor and assess whether their presence may be influencing or being

influenced by the distribution and density of native species. The study was conducted in the

rocky beaches of Carapibus and Jacumã, Paraíba state (NE Brazil). On Carapibus beach were

recorded the highest densities of the invasive I. bicolor (300 ind/m2) and native benthic species

(11,372.22 ind/m²). Density of I. bicolor was highest in the mesolittoral zone (347.68 ind/m²) in

the rainy season (158.56 ind/m²). However, there was no difference in benthic communities of

these beaches between the dry and rainy periods (p = 0.054), but beaches (p = 0.001) and

mesolittoral zones (p = 0.005) were significantly different. In characterizing the distribution and

zoning of the benthic community, it was observed that in the upper mesolittoral zone these two

beaches, the dominant species was the bivalve Brachidontes exustus and the microgastropod

Echinolittorina lineolata, and the barnacle Chthamalus sp. In the lower mesolitoral zone, B.

exustus, Chthamalus sp., and I. bicolor were the main differentiating factors of the observed

zonation. It was also a positive correlation between the density of I. bicolor and some native

species. With the results obtained, it can be concluded that certain benthic macroinvetebrates,

structural characteristics and benthic cover of the studied beaches are influencing the density and

distribution of I. bicolor.

Keywords: Invasive species, intertidal zonation, distribution of native communities, influence of

benthic cover.

Page 27: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

19

INTRODUÇÃO

A invasão por espécies exóticas tem causado um grande impacto sobre os ecossistemas,

além de prejuízos econômicos, sociais e à saúde humana (IUCN, 2009). Mas para que uma

invasão seja bem sucedida, o invasor deve possuir estratégias eficientes para a ocupação do

ambiente e tolerância aos fatores abióticos (Teixeira et al., 2010). Por isso é importante analisar

os fatores que contribuem para o estabelecimento de um invasor e a influência que ele está

exercendo sobre a comunidade nativa.

Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) é um bivalve originário do Caribe e teve seu

primeiro registro para a costa brasileira publicado em 1994 (Domaneschi & Martins, 2002).

Desde então, esta espécie tem se expandido e hoje está entre as principais espécies marinhas

invasoras que tem causado impactos nas comunidades entremarés da costa brasileira (Ferreira et

al., 2009). Provavelmente, I. bicolor foi introduzida de maneira involuntária na região de Cabo

Frio (Rio de Janeiro) via incrustações em plataformas de petróleo ou nos cascos de navios que

chegam aos Portos da cidade de Arraial do Cabo (Ferreira et al., 2004). Atualmente, I. bicolor é

encontrado desde o estado do Piauí (Nordeste do Brasil) até Santa Catarina (região Sul)

(Domaneschi & Martins, 2002; MMA, 2009; Loebmann et al., 2010; Dias et al., 2013). Porém,

recentemente foi registrada na costa do Uruguai aderida ao lixo e material descartado na praia,

demonstrando outra forma de dispersão desta espécie (Breves et al., 2014).

Mudanças na distribuição de comunidades sésseis nativas têm sido causadas direta ou

indiretamente pela entrada de Isognomon bicolor, que ocasionou diminuição da abundância de

espécies nativas (Martinez, 2012; López et al., 2014). Isto ocorre porque as relações entre uma

espécie invasora e as nativas em ambientes intertidais marinhos se refletem ou resultam da

ocupação e distribuição dos organismos no ambiente. Os invertebrados sésseis que habitam a

região entremarés dominam diferentes níveis e geram o padrão de zonação, que ocorre em

Page 28: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

20

resposta as características físicas do ambiente e a relações de competição (por espaço

principalmente) e predação (Domingues, 2004; Coutinho, 2002).

Além de modificar a distribuição de espécies nativas, Isognomon bicolor tem influenciado

na disponibilidade de alimento e na estrutura dos substratos e refúgios em praias do litoral de

Santa Catarina, sul do Brasil (Martinez, 2012). Em alguns locais do Brasil, há indícios de que o

aumento da densidade de I. bicolor está contribuindo para a redução de populações do mexilhão

comestível Perna perna, tanto em costões rochosos, quanto em áreas de cultivo (Henriques &

Casarini, 2009). Além disso, esta espécie vem causando prejuízos às atividades marítimas devido

à bioincrustação em embarcações e construções portuárias (MMA, 2009).

Isognomon bicolor passou a chamar atenção do meio científico e dos órgãos

governamentais após apresentar um aumento súbito de densidade em vários pontos da costa

brasileira, a partir da metade da década de 1990. A inexistência de inventários e trabalhos

ecológicos publicados para várias regiões da costa brasileira contribuiu para que, durante muito

tempo, a expansão dessa espécie tenha passado despercebida (MMA, 2009).

Desde o primeiro registro formal de sua ocorrência no Brasil realizado (ver Domaneschi

& Martins, 2002), os estudos envolvendo esta espécie vem se intensificando, porém, de maneira

mais lenta do que sua expansão ao longo da costa brasileira. A maioria das pesquisas existentes

com dados populacionais está restrita às regiões Sudeste e Sul do país (e.g. Bezerra, 2010; López

et al., 2010; Zamprogno et al., 2010; Martinez, 2012; López et al., 2014;) havendo apenas

informações de registro para o Nordeste (Dias et al., 2013).

Dentre as pesquisas realizadas, pode-se destacar investigações sobre as relações com os

predadores nativos (López et al., 2010), avaliação da influência da complexidade do substrato

sobre a densidade do invasor (Zamprogno et al., 2010) e estudos sobre relações positivas com

espécies nativas (López & Coutinho, 2010), além de experimentos de sucessão (Rocha, 2002).

Há poucos estudos populacionais (e.g. Breves-Ramos et al., 2010; Martinez, 2012) ou para

Page 29: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

21

observar o grau de ocupação de Isognomon bicolor em substratos artificiais, que são locais com

altas densidades desta espécie (Bezerra, 2010).

Considerando-se que os estudos mais consistentes foram realizados no Sul e Sudeste do

Brasil, onde a fisionomia das praias é bastante diferente daquela observada no Nordeste

brasileiro, percebe-se que as informações disponíveis podem diferir entre as regiões. Em costões

rochosos, as pesquisas apontam características estruturais das praias como um fator importante

no estabelecimento do invasor (Martinez, 2012; Zamprogno et al., 2010). No Nordeste brasileiro,

o cenário pode ser diferente não apenas na fisionomia das praias, mas também na composição e

zonação da fauna e flora nativas. Byers (2009) destaca a importância da constante ampliação do

conhecimento acerca das espécies invasoras em diferentes lugares e regiões no mundo, pois a

maioria dos estudos realizados está concentrada em regiões temperadas do Hemisfério Norte.

Diversos fatores podem determinar a invasão, que no caso de Isognomon bicolor, já foi

identificada a influência do hidrodinamismo local, da temperatura e presença de material

particulado na água para o desenvolvimento das larvas (López, 2008). Martinez (2012) aponta a

estrutura do substrato como um fator favorável à bioinvasão, enquanto López & Coutinho (2010)

indicam a associação com espécies nativas como facilitador para o estabelecimento. Mas ainda

há muitos questionamentos que precisam ser esclarecidos acerca dos impactos causados por esta

espécie e dos fatores que facilitam sua rápida expansão nos ambientes costeiros do litoral

brasileiro.

Mudanças na estrutura de comunidade ou na ocupação da zona entremarés podem ocorrer

devido a presença de Isognomon bicolor, mas ainda é preciso explicar quais condições são mais

favoráveis. A riqueza e composição da macrofauna nativa influenciam no sucesso de populações

do I. bicolor? A diversidade de espécies no ambiente também tem sido apontada como um fator

que influencia a invasão, supondo-se que ambientes com menor diversidade estariam mais

propensos a serem receptores de espécies invasoras comparado àqueles com alta diversidade

(Ferreira et al., 2004, Stachowicz & Byrnes, 2006). A composição de espécies nas comunidades

Page 30: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

22

também parece ser importante na determinação do sucesso da invasão (Lindsay et al., 2006), pois

as espécies nativas podem facilitar ou dificultar a ocupação pela invasora, dependendo do

potencial competitivo delas e do invasor. Já há registros de interações competitivas que limitaram

o crescimento do I. bicolor, como é o caso do zoantídeo Palythoa caribaeorum (Duchassaing &

Michelotti 1860), que cresceu sobre aglomerados deste invasor e acabou os matando (Mendonça-

Neto & Gama, 2009).

Diante desta problemática, este estudo visa caracterizar a estrutura da comunidade

macrobentônica em praias do Nordeste brasileiro, com a presença do bivalve invasor Isognomon

bicolor e avaliar se sua presença pode estar influenciando ou sendo influenciada pela distribuição

e densidade das espécies nativas. Para isso, foram testadas as seguintes hipóteses: (1) Em praias

cuja comunidade nativa bentônica é mais densa e que ocupa maior cobertura, a densidade de

Isognomon bicolor é menor e sua distribuição no ambiente de mesolitoral é mais restrita; (2) A

maior presença de macroalgas, ocupando maior espaço no substrato influencia negativamente a

densidade e distribuição de I. bicolor.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado em duas praias com recifes de arenito (beach rocks) no estado da

Paraíba (Nordeste do Brasil) (Figura 1), com características estruturais visualmente semelhantes:

a Praia de Carapibus (7°17’58,62”S, 34°47’56,50”O), na qual o bivalve invasor Isognomon

bicolor aparentemente é abundante no mesolitoral, e a Praia de Jacumã (7°17’38,36”S,

34°48’3,21”O), onde a população deste bivalve é visualmente pouco abundante. Estas são praias

vizinhas, distantes cerca de 600 m uma da outra, onde o regime de marés é semelhante e a zona

entremarés rochosa é rasa.

Page 31: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

23

Ambas as praias estão localizadas no município do Conde, litoral sul do estado da

Paraíba, e apresentam falésias adjacentes, lagunas e manguezais situados na desembocadura do

Rio Tabatinga. Essas praias estão entre os principais destinos turísticos do litoral do Estado e

encontram-se em processo acelerado de urbanização (Kiyotani, 2011). Carapibus e Jacumã

situam-se em uma região que possui clima AS’ (quente e úmido), segundo classificação de

Köppen, apresentando verões secos com período de estiagem de 5 a 6 meses e invernos

chuvosos. A temperatura média anual varia de 23°C a 26°C, apresentando mínimas médias

mensais de 19°C e máximas médias mensais de 32°C. A umidade relativa do ar é alta, sendo

aproximadamente 80% (PDDM, 2001).

Fig. 1. (a) Localização do Estado da Paraíba na costa brasileira. (b) Localização do município do Conde,

litoral sul do estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. (c) Localização das praias de Jacumã e Carapibus,

com destaque para os recifes de arenito (*). Mapa: Romilda Queiroz.

Page 32: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

24

A faixa recifal arenítica na praia de Jacumã é de menor extensão com relação à praia de

Carapibus (Figura 2). No mesolitoral inferior da praia de Jacumã predominam rochas de pequeno

porte (até cerca de 30 cm de altura), substrato arenoso e macroalgas em abundância, enquanto

que o mesolitoral superior é composto principalmente por rochas maiores (entre 50 cm e 1 m).

Na praia de Carapibus, o mesolitoral inferior é composto principalmente por rochas

grandes (entre 50 cm e 1,5 m de altura) e bastante aglomeradas, seguido de um infralitoral batido.

O mesolitoral superior contém predominantemente rochas menores, formando grandes poças de

maré. Devido a maior altura das rochas, nesta praia, a faixa rochosa passa mais tempo exposta ao

sol, sendo mais lentamente coberta pela maré enchente.

Page 33: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

25

Fig. 2. Foto mostrando os recifes de arenito nas praias de Carapibus (a) e Jacumã (b), no litoral sul do

estado da Paraíba, Nordeste do Brasil.

Durante as coletas foram registradas salinidade e temperatura da água em cada ponto

amostrado, para verificar as condições ambientais toleradas pelos organismos no local. Na praia

de Carapibus foram registradas na estação seca as maiores médias de temperatura (33,55±3,06) e

salinidade da água (38,18±3,39), enquanto que na estação chuvosa as médias foram de 28,16

(±3,24) e 29,5 (±11,87), respectivamente. Em Jacumã, na estação seca as médias de temperatura

e salinidade foram 30,46 (±2,48) e 36,02 (±1,85) respectivamente, e na chuvosa as médias foram

de 27,98 (±2,48) e 35,48 (±1,85).

Desenho amostral

Foram realizadas seis campanhas de campo em cada praia durante a maré baixa, sendo

três amostragens no período chuvoso (julho a setembro de 2013) e três no período seco

(dezembro de 2013 a fevereiro de 2014).

Em cada praia, foram estabelecidos dois níveis da região entremarés através da divisão

em duas partes iguais dessa zona intertidal: (1) mesolitoral superior, tipicamente a região que

passa mais tempo exposta durante a maré baixa e que fica em contato com a faixa arenosa da

praia; e (2) mesolitoral inferior, região que fica mais próxima ao infralitoral. Em cada nível

delimitado do mesolitoral foram retiradas nove amostras aleatórias da cobertura bentônica,

definidas por quadrados de 20x20 cm, sendo 400 cm² por quadrado, totalizando 8,64 m² de área

amostrada e 216 amostras ao final das seis amostragens.

Essas amostras foram coletadas em três faixas diferentes em cada praia (Figura 2), sendo

três amostras em cada faixa de cada nível do mesolitoral, para garantir uma amostragem melhor

distribuída da área. As amostras contidas dentro de cada quadrado foram raspadas com espátula

ou quebradas com marreta e talhadeira, acondicionadas em sacos plásticos e fixadas em formol a

4%. Toda a comunidade bentônica dentro de cada quadrado amostral foi removida.

Page 34: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

26

Fig. 3. Desenho amostral indicando as amostras obtidas nas faixas longitudinais delimitadas e os níveis de

mesolitoral determinadas nas duas áreas de estudo.

Em laboratório, as amostras foram lavadas e triadas em água corrente, com o auxílio de

uma peneira (tamanho da malha 500µm) e bandejas. Os organismos que estavam incrustados ou

dentro de fendas, foram retirados usando talhadeira e marreta. Após esse procedimento, os

invertebrados foram conservados em álcool 70% e as macroalgas em formol a 10%.

Cada quadrado amostrado foi fotografado para posterior análise do percentual de

cobertura do substrato através do programa Coral Point Count with Excel extensions (CPCe)

(Kohler & Gill, 2006). Os indivíduos de I. bicolor foram analisados quanto à densidade e

abundância, e os outros organismos também quantificados e identificados com auxílio de

especialistas e de literatura especializada (e.g. Littler et al., 1989; Hartmann, 2006; Farrapeira,

2008; Mariano-Soriano, 2008; Mikkelsen & Bieler, 2008; Rios, 2009; Tunnell et al., 2010;

Thomé et al., 2010; Pedrini, 2011; Nassar, 2012; Pedrini, 2013). A densidade média de I. bicolor

e de outros organismos bentônicos no substrato foi calculada em ind/m2.

As macroalgas encontradas nas amostras foram identificadas até o menor nível

taxonômico possível e, após a triagem do material e retirada do excesso de água intersticial com

Page 35: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

27

papel absorvente, o peso úmido e volume fresco foram obtidos. Para isso, as macroalgas foram

pesadas em balança de precisão (0,001g) e depois imersas em proveta com água e o volume

obtido em mililitros.

Análise de dados

Os dados das amostras de cada faixa longitudinal foram somados, para que nas análises

fossem consideradas apenas três amostras por zona em cada coleta e 72 amostras no total. Para

quantificar a presença das macroalgas e organismos coloniais, foi usado o percentual de

cobertura. E quanto aos outros organismos bentônicos, as análises se basearam principalmente na

densidade relativa e abundância, embora alguns destes tenham sido registrados também na

análise de percentual de cobertura. As comparações com o percentual de cobertura das espécies

nativas e tipo de substrato foram feitas utilizando a densidade e abundância de Isognomon

bicolor, pois o percentual de cobertura por ele é muito baixo devido ao fato dele ficar sempre em

fendas nas rochas, o que dificulta o registro e análise por foto. Na análise das fotografias para

determinar o percentual de cobertura, aqueles pontos que continham uma “mistura” de algas ou

que não foi possível definir que algas eram, foi usado o termo genérico “macroalgas”.

As similaridades e dissimilaridades dos dados de densidade de Isognomon bicolor e das

espécies nativas foram verificadas através da análise de dissimilaridade de Bray-Curtis, após

transformação dos dados com raiz quadrada. Os padrões e distribuições dos dados apresentados

nas duas praias e entre as zonas do mesolitoral, e entre os períodos de seca e chuva foram

avaliados através da análise de Escalonamento Multidimensional não-métrico (nMDS), sendo

que as diferenças foram testadas através da análise PERMANOVA, com 999 permutações e nível

de significância de 0,05. A determinação da contribuição de quais espécies foram responsáveis

pelas similaridades e dissimilaridades observadas dentro dos grupos, foi obtida pela análise de

percentagem de similaridade (SIMPER). Nessas análises foram verificados os fatores praias

Page 36: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

28

(níveis Carapibus e Jacumã), zonas do mesolitoral (Meso-superior e Meso-inferior) e estação do

ano (período Seco e Chuvoso).

A relação com o tipo de substrato também foi analisada, baseada no percentual de

cobertura das zonas em cada praia, observando a densidade do invasor Isognomon bicolor e

testando as diferenças com a análise PERMANOVA.

Além disso, também foi empregada a correlação de Spearman entre a densidade de I.

bicolor e a diversidade de Shannon-Wiener (H’)(log2), riqueza de Margalef (d), número de

espécies e a densidade das espécies bentônicas mais abundantes ou potenciais competidores por

espaço. As análises multivariadas foram realizadas usando o pacote estatístico Primer 6 &

Permanova+ e a análise de correlação foi feita no programa Biostat 5.0.

RESULTADOS

Distribuição e relações com a comunidade bentônica nativa

Nas 216 amostras obtidas durante as seis coletas, foram encontrados 2.176 exemplares do

bivalve invasor Isognomon bicolor e 49.903 de outros organismos bentônicos nativos (Tabela 1).

A lista completa das espécies registradas encontra-se no Anexo I. Nas amostras obtidas na praia

de Carapibus, havia 1.296 indivíduos de I. bicolor, enquanto que em Jacumã havia 880

indivíduos. A densidade de I. bicolor e dos outros organismos bentônicos também foi maior em

Carapibus (300 ind/m² e 11.372,22 ind/m², respectivamente).

A praia de Jacumã mostrou maior número de espécies nativas, diversidade (H'=3,241) e

riqueza (d=9,137) que Carapibus (H'=1,398, d=5,184), entretanto, não houve nenhuma correlação

entre a densidade I. bicolor e a diversidade, riqueza e número de espécies nas duas praias.

Tabela 1. Dados de abundância (N) e densidade de Isognomon bicolor e das espécies nativas, total de

espécies nativas e média de indivíduos de I. bicolor em relação às espécies nativas nas praias de

Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil.

Page 37: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

29

Praia Total

indivíduos

N de I.

bicolor

N de

nativos

Dens. I. bicolor

(ind/m²)

Dens. nativos

(ind/m²)

N de espécies

nativas

Média(±SD) I.

bicolor

Média(±SD

) nativos

Carapibus 50.424 1.296 49.128 300 11.372,22 57 36(±48,90) 1.328,66

(±2.088,94)

Jacumã 2.739 880 1.859 203,70 430,32 74 24,44(±44,56) 57,52 (±

38,34)

Total 50.987 2.176 49.903 251,85 6.026,66 85

Tabela 2. Número de indivíduos (N) e a densidade (ind/m2)do invasor Isognomon bicolor e dos

organismos bentônicos nativos nas zonas do mesolitoral (meso-superior e meso-infeior), nas praias de

Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil.

Praia Zona N de I.

bicolor

N de

nativos

Dens. I. bicolor

(ind/m²)

Dens. nativos

(ind/m²)

Carapibus Meso-superior 191 31.449 88,42 14.559,72

Meso-inferior 1.105 16.383 511,57 7.584,72

Jacumã Meso-superior 483 982 223,61 454,62

Meso-inferior 397 1.089 183,79 504,16

Total

2.176 49.903

Quanto às zonas do mesolitoral, Isognomon bicolor foi mais abundante no mesolitoral

inferior (N=1.502 indivíduos, 69,02% do total de I. bicolor), especialmente na praia de Carapibus

onde a abundância no meso-inferior foi 1.105 (Tabela 2). Por outro lado, na zona inferior do

mesolitoral ocorreu a maior densidade de Isognomon bicolor, e na zona superior apresentou

maior densidade populacional das espécies bentônicas nativas. Na estação chuvosa foi registrada

maior abundância de I. bicolor (N=1.370, 62,96%), enquanto no período seco foram registradas

as maiores abundâncias das espécies nativas bentônicas (N= 23.961, 57,76 % ).

Pode-se observar que a densidade de Isognomon bicolor em relação a das outras espécies

bentônicas entre as duas praias e entre as zonas do mesolitoral diferiram significativamente

(Pseudo-F1.71 =31.081, p=0,001, Pseudo-F1.71=2.542, p=0,005). Entretanto, não houve diferença

Page 38: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

30

nessas comunidades entre os períodos seco e chuvoso (Pseudo-F 1.71 = 1.7934; p= 0,054). Através

do nMDS pode ser observada a diferenciação na distribuição das amostras entre praias,

entretanto, considerando as zonas do mesolitoral não se observa diferenciação nítida (Fig. 4).

Fig. 4. Análise nMDS mostrando a distribuição das amostras entre as praias e entre as zonas do

mesolitoral nas praias de Carapibus e Jacumã, Conde, estado da Paraíba. MS=mesolitoral superior;

MI=mesolitoral inferior.

Ao analisar a dissimilaridade entre as praias através dos resultados da análise SIMPER,

observa-se que Isognomon bicolor teve contribuição de 8,25%, estando entre as principais

espécies que influenciaram essa dissimilaridade, juntamente com as nativas Brachidontes exustus

(25,80%), Echinolittorina lineolata (14,39%) e Chthamalus sp. (9,57%). Na praia de Carapibus,

I. bicolor foi mais abundante e está entre as espécies de maior contribuição, juntamente com o B.

exustus, E. lineolata, Chthamalus sp. e Lottia subrugosa (Tabela 3). Entretanto, na praia de

Jacumã, I. bicolor teve uma contribuição um pouco maior, apesar da menor abundância em

relação a Carapibus. Nesta praia também houve dominância de micromoluscos como Eulithidium

affine, L. subrugosa, Parvanachis obesa e da macroalga Hypnea sp., esta, tendo favorecido

provavelmente a grande abundância destes micromoluscos. Na tabela 3, pode-se observar que I.

Page 39: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

31

bicolor e os outros invertebrados bentônicos foram mais representativos em Carapibus, enquanto

a macroalga Hypnea sp. foi mais bem representada na praia de Jacumã. No Anexo II há fotos

dos organismos bentônicos que tiveram maior contribuição e importância nas comunidades das

duas praias.

Tabela 3. Resultados da análise de Percentagem de Similaridade (SIMPER), mostrando o percentual de

contribuição e abundância das principais espécies nas praias de Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba,

Nordeste do Brasil.

Espécie Carapibus Jacumã

Contribuição (%) Abundância Contribuição (%) Abundância

Isognomon bicolor 10,74 1.296 10,86 880

Brachidontes exustus 42,34 34.813 - -

Echinolittorina lineolata 24,98 7.159 2,00 72

Chthamalus sp. 10,22 4.999 - -

Eulithidium affine - - 27,71 745

Lottia subrugosa 3,80 148 16,13 381

Parvanachis obesa - - 14,21 270

Hypnea sp. - - 7,93 54

Na dissimilaridade entre as zonas do mesolitoral, houve maior contribuição de

Brachidontes exustus (23,14 %), Echinolittorina lineolata (13,08 %), Isognomon bicolor (9,79

%) e Chthamalus sp. (8,78 %). I. bicolor teve maior densidade e abundância no meso-inferior,

juntamente com B.s exustus, Eulithidium affine e Lottia subrugosa. No meso-superior, I. bicolor

foi menos abundante, sendo inferior a B. exustus, E. lineolata e E. affine (Tabela 4). I. bicolor e

E. lineolata foram as espécies que tiverem maiores diferenças na densidade e abundância entre as

duas zonas, havendo dominância de E. lineolata no meso-superior e maior abundância de I.

bicolor no meso-inferior.

Page 40: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

32

Tabela 4. Resultados da análise de Percentagem de Similaridade (SIMPER), mostrando o percentual de

contribuição e abundância das principais espécies nas zonas meso-inferior e meso-superior das paias de

Carapibus e Jacumã, Conde, Paraíba, Nordeste do Brasil.

Espécie Meso-inferior Meso-superior

Contribuição (%) Abundância Contribuição (%) Abundância

Isognomon bicolor 18,57 1.502 10,73 674

Brachidontes exustus 17,04 12.265 24,32 22.702

Eulithidium affine 14,40 423 13,32 378

Lottia subrugosa 12,95 252 10,70 277

Echinolittorina lineolata 8,87 1.623 17,03 5.608

Quando se analisou as praias separadamente, observou-se que na praia de Jacumã a

densidade de Isognomon bicolor foi um pouco maior no meso-superior (12,30% para 8,86% no

meso-inferior), mas não houve diferença significativa na comunidade entre as zonas (Pseudo-F

1.35 = 1.464, p= 0,129) nessa praia, apenas entre as estações seca e chuvosa (Pseudo-F1.35 =

2.2704, p= 0,012) (Fig. 4A). Por outro lado, em Carapibus, houve diferença na comunidade entre

as zonas do mesolitoral (Pseudo-F 1.35 = 3.5625, p= 0,005), onde ocorreu maior abundância de I.

bicolor no meso-inferior, e das espécies nativas no meso-superior, mas sem diferença entre as

estações (Pseudo-F 1.35 = 1.2528, p= 0,246) (Fig. 4B). Entretanto, não foi possível observar

nitidamente estes agrupamentos na distribuição dos dados das duas praias.

A SIMPER mostrou que no período chuvoso na praia de Jacumã, Isognomon bicolor foi

mais representativo (11,93%), juntamente com os microgastrópodes Eulithidium affine (28,03%),

Lottia subrugosa (15,42%) e Parvanachis obesa (13,36%). Estas mesmas espécies, também

tiveram as maiores contribuições no período seco (9,13 %, 26,81%, 16,17% e 14,30%,

respectivamente). No meso-superior de Carapibus as espécies de maior densidade foram

Brachidontes exustus (41,84%), Echinolittorina lineolata (36,10%) e Chthamalus sp. (11,52%).

I. bicolor não foi representativo nesta zona em Carapibus. No meso-inferior, houve predomínio

Page 41: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

33

dos bivalves B. exustus (38,85%), I. bicolor (22,95%) e do microgastrópode E. lineolata (14,48

%).

Fig. 5. Análise nMDS mostrando a distribuição dos dados nas estações (a) seca e chuvosa da praia de

Jacumã; e (b) nas zonas do mesolitoral superior e inferior da praia de Carapibus.

Também pode-se observar que entre os grupos e espécies bentônicas mais abundantes e

de maior densidade, os que apresentaram correlação positiva com a densidade do Isognomon

bicolor foram o bivalve Brachidontes exustus (rs = 0,4260, p<0,0002), o gastrópode Lottia

subrugosa (rs = 0,3929, p=0,0008), os cirripédios Tetraclita stalactifera (rs = 0,3347, p<0,004) e

Page 42: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

34

Chthamalus sp. (rs = 0,2664, p=0,025), e os gastrópodes Fissurelídeos (rs= 0,2743, p=0,019) (Fig.

5).Essa relação também foi testada com organismos coloniais como os zoantídeos e poríferos,

além da ostra Crassostrea praia, que tipicamente ocupam e competiriam pelo mesmo espaço que

I. bicolor, no entanto, a relação não foi significativa.

Os resultados mostraram que houve diferenças significativas no percentual de cobertura

entre as praias (Pseudo-F1.69 = 17.522, p= 0,001) e entre as zonas do mesolitoral (Pseudo-F1.69 =

2.4163, p= 0,009), mas não entre as estações seca e chuvosa (Pseudo-F1.69 = 1.5334, p= 0,116).

Baseando-se nos percentuais de cobertura das espécies, foi possível observar as diferenças

e espécies dominantes nas zonas do mesolitoral, e a provável relação entre a densidade de

Isognomon bicolor e as espécies nativas.

Na zona superior do mesolitoral da praia de Carapibus, predominaram o cirripédio

Chthamalus sp. e o bivalve Brachidontes exustus (Tabela 5). Neste nível da praia, o invasor I.

bicolor apresentou densidade de 88,42 ind/m², sendo bem menor do que no meso-inferior (511,57

ind/m²). Na zona meso-inferior, na qual I. bicolor foi mais abundante, pode-se destacar o

domínio das macroalgas, especialmente as da Ordem Ectocarpales, da craca Chthamalus sp. e do

zoantídeo Zoanthus sociatus.

Na praia de Jacumã, a densidade do Isognomon bicolor teve variação menor entre as duas

zonas do mesolitoral, pois no meso-superior a densidade foi de 223,61 ind/m², sendo um pouco

maior do que no meso-inferior (183,79 ind/m²). Também não houve diferença notável quanto ao

percentual de cobertura pelas espécies nativas, pois no meso-superior houve predomínio de

macroalgas e as algas Ectocarpales (Tabela 6). No meso-inferior predominaram as macroalgas,

especialmente Hypnea sp., Ulva lactuca e Bryothamnion sp., e o cirripédio Chthamalus sp.

Tabela 5. Percentual de cobertura das espécies registradas na praia de Carapibus, com destaque (negrito)

para os valores das principais espécies em cada zona do mesolitoral (meso-superior e meso-infeior) e

estações do ano (seca e chuvosa).

Táxon % Cobertura

Meso-superior Meso-inferior

Page 43: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

35

Seca Chuvosa Seca Chuvosa

Macroalgas 0,41 1,41 7,37 16,55

Chthamalus sp. 11,43 9,08 10,20 16,22

Ectocarpales 0,05 2,39 8,20 7,22

Zoanthus sociatus 0,77 1,02 3,75 2,89

Hypnea sp. 0,00 0,00 2,44 0,00

Brachidontes exustus 1,22 1,46 0,09 0,00

Tabela 6. Percentual de cobertura das espécies registradas na praia de Jacumã, com destaque (negrito)

para os valores das principais espécies em cada zona do mesolitoral (meso-superior e meso-infeior) e

estações do ano (seca e chuvosa).

Táxon

% Cobertura

Meso-superior Meso-inferior

Seca Chuvosa Seca Chuvosa

Ectocarpales 19,30 10,57 9,38 5,32

Macroalgas 16,01 19,22 14,96 36,99

Hypnea sp. 3,20 1,09 9,10 2,35

Ulva lactuca 3,99 0,08 7,72 0,70

Acanthophora sp. 0,00 0,00 0,00 5,81

Bryothamnion sp. 0,20 0,00 4,27 2,23

Chthamalus sp. 0,00 1,58 0,08 2,48

Page 44: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

36

Fig. 6. Correlações positivas entre Isognomon bicolor e os táxons bentônicos nativos mais abundantes: (a)

Brachidontes exustus, (b) Lottia subrugosa, (c) Tetraclita stalactifera, (d) Chthamalus sp. e (e)

Fissurelídeos.

Page 45: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

37

Através dos dados de densidade das espécies também foi possível caracterizar a

distribuição e zoneamento da comunidade nativa. De um modo geral, pode-se observar que na

zona meso-superior nessas duas praias, as espécies dominantes em densidade foram Brachidontes

exustus, Echinolittorina lineolata e Chthamalus sp. (Tabela 7).

Tabela 7. Abundância, densidade (ind/m²) e média (± desvio-padrão) das espécies mais representativas na

zona mesolitoral superior das praias de Carapibus e Jacumã, com destaque para os valores das espécies

dominantes.

Táxon Meso-superior

Abundância Densidade (ind/m²) Média (±SD)

Brachidontes exustus 22.702 5.255,09 630,61 (±1.388,97)

Echinolittorina lineolata 5.608 1.298,15 155,78 (±294,67)

Chthamalus sp. 2.843 658,10 78,97 (± 205,95)

Isognomon bicolor 674 156,02 18,72 (±39,41)

Lottia subrugosa 277 64,12 7,69(±12,85)

Eulithidium affine 378 87,5 10,5 (±19,69)

Tabela 8. Abundância, densidade (ind/m²) e média (±desvio-padrão) das espécies mais representativas na

zona Mesolitoral inferior das praias de Carapibus e Jacumã, com destaque (negrito) para os valores das

espécies dominantes.

Táxon Meso-inferior

Abundância Densidade (ind/m²) Média (±SD)

Isognomon bicolor 1.502 347,68 41,72 (±51,19)

Brachidontes exustus 12.265 2.839,12 340,69 ( ±1.419,59)

Chthamalus sp. 2.190 506,94 60,83 (±240,23)

Echinolittorina lineolata 1.623 375,69 45,08 (±159,32)

Lottia subrugosa 252 58,33 7(±9,88)

Eulithidium affine 423 97,92 11,75

Parvanachis obesa 190 43,98 5,28 (±11,18)

Page 46: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

38

No meso-inferior, pode-se destacar além de Brachidontes exustus e Chthamalus sp., o

invasor Isognomon bicolor (Tabela 8). I. bicolor além de ter densidade representativa, sua

ocupação pode influenciar no espaço da zona entremarés.

Dessa forma, baseado no percentual de cobertura e nos dados de densidade, foi possível

distinguir a zona mesolitoral superior como sendo dominada pelo cirripédio Chthamalus sp., pelo

bivalve Brachidontes exustus e por macroalgas (principalmente as Ectocarpales). Já no

mesolitoral inferior, predominaram Chthamalus sp., macroalgas, B. exustus, Isognomon bicolor e

Echinolittorina lineolata. A abundância de I. bicolor no mesolitoral inferior representou a

principal diferença entre esta zona e o meso-superior.

Isognomon bicolor e a cobertura bentônica

Após analisar a cobertura bentônica nas duas praias e nas duas zonas do mesolitoral,

pode-se observar que a praia de Carapibus teve maior densidade de Isognomon bicolor e também

apresentou maior percentual de cobertura rochosa e menor cobertura de algas em relação a praia

de Jacumã (Tab. 9). Em Carapibus, I. bicolor apresentou maior densidade na zona meso-inferior,

enquanto que em Jacumã a maior densidade ocorreu no mesolitoral superior. Em Jacumã, no

meso-superior houve menor percentual de cobertura de macroalgas e maior cobertura rochosa

que no meso-inferior. Pode-se constatar essa diferença significativa acerca da cobertura por

rocha, alga, areia e a densidade de Isognomon bicolor entre as praias (Pseudo-F1.71 = 10.581, p=

0,001) e entre as zonas (Pseudo-F1.71 = 6.0391, p= 0,004).

A presença e cobertura por macroalgas foi uma diferença marcante entre as duas praias e

entre as zonas do mesolitoral. De um modo geral, as macroalgas foram mais representativas no

mesolitoral inferior. Em Carapibus os valores de percentual de cobertura, peso e volume de

macroalgas foram maiores no meso-inferior, porém menores que na praia de Jacumã. A

densidade de Isognomon bicolor em Carapibus foi maior no mesolitoral inferior (Tab. 10).

Page 47: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

39

Tabela 9. Análise da densidade de Isognomon bicolor em relação ao tipo de substrato encontrado nas

duas zonas do mesolitoral das praias de Carapibus e Jacumã, baseado no percentual de cobertura de alga,

rocha e areia.

Praia Zona Percentual de

Alga

Percentual de

Rocha

Percentual

de Areia

Dens. Isognomon

bicolor (ind/m²)

Carapibus Meso-superior 1,90 64,74 19,15 88,42

Meso-inferior 12,08 39,99 29,92 511,57

Jacumã Meso-superior 37,09 38,67 19,87 223,61

Meso-inferior 54,22 28,46 14,81 183,79

Em Jacumã ocorreram os maiores valores referentes às algas, principalmente no

mesolitoral inferior. Entretanto, nessa praia a densidade de Isognomon bicolor não teve grande

variação entre as zonas.

Tabela 10. Análise da densidade de Isognomon bicolor em relação ao percentual de cobertura, peso e

volume de macroalgas nas zonas do mesolitoral das praias de Carapibus e Jacumã, no município do

Conde, Paraíba, Brasil.

Praia Zona Peso Volume Percentual Dens. Isognomon

bicolor (ind/m²)

Carapibus Meso-superior 83,05 98,00 1,90 88,43

Meso-inferior 3,94 9,00 12,08 511,57

Jacumã Meso-superior 292,79 361 37,09 223,61

Meso-inferior 679,56 706 54,22 183,79

As macroalgas mais representativas em peso e volume foram Hypnea sp. (510,92g e 717

ml, respectivamente), Gracilaria sp. (83,36g e 140ml), Acanthophora spicifera (78,07g e 203

ml), Bryothamnion seafortii (83,76g e 116 ml), e da Ordem Ectocarpales (54,58g e 117 ml). As

Ectocarpales se destacaram por formarem “tapetes” na superfície de algumas rochas amostradas,

especialmente na zona mesolitoral inferior.

Page 48: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

40

DISCUSSÃO

As duas praias diferem em muitos aspectos biológicos, como a diversidade e número de

espécies, composição de espécies, abundância e densidade do bivalve invasor Isognomon bicolor,

além de possuírem diferenças no padrão de zonação e espécies dominantes. A diversidade de

espécies tem sido apontada como um dos fatores que influenciam a invasão, podendo ambientes

com menor diversidade de espécies serem mais propensos a receberem espécies invasoras

(Ferreira et al., 2004; Stachowicz & Byrnes, 2006), ou habitats com maior diversidade

facilitarem o estabelecimento do invasor (Zaiko et al., 2006).

Entretanto, a maior diversidade e presença de micromoluscos registrados na praia de

Jacumã, provavelmente está associada a maior presença das macroalgas nessa praia e não a

presença do invasor Isognomon bicolor, pois viu-se que a densidade dele não teve correlação

com a diversidade de espécies nas duas praias. A densidade de I. bicolor foi maior na praia de

Carapibus, entretanto essa densidade é menor do que a registrada em outros lugares do Brasil,

como em áreas costeiras do litoral do Rio de Janeiro, onde ele atingiu densidades em torno de

1.000 ind/m2 (Breves-Ramos et al., 2010; López, 2008). É provável que estas diferenças na

densidade dele entre os lugares invadidos reflitam diferentes estágios de invasão, em que as

praias estudadas neste estudo estariam em fases iniciais e as praias do Rio de Janeiro estariam em

estágios mais avançados da invasão.

O padrão de espécies e de zonação nas duas praias parece ter sido definido

primordialmente por diferenças estruturais, como o tamanho e heterogeneidade das rochas e pela

presença de macroalgas. A maior abundância e densidade de Isognomon bicolor no mesolitoral

inferior indica maior afinidade que ele tem com essa zona do mesolitoral, principalmente da praia

de Carapibus, a qual era composta principalmente por rochas maiores e com maior

heterogeneidade.

Page 49: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

41

As diferenças entre as zonas, constatadas na análise geral, resultaram predominantemente

da comunidade e distribuição dos dados da praia de Carapibus, sugerindo assim, que as

características do substrato rochoso foram mais importantes e determinantes para as espécies

encontradas. Em Jacumã não ocorreram diferenças significativas entre as zonas, mas entre as

estações do ano. Este fato pode estar provavelmente relacionado a maior presença de algas, pois

muitas espécies de macroalgas possuem um caráter bastante sazonal, em que determinadas

espécies predominam em períodos específicos do ano (Valentin, 2002; Széchy & Sá, 2008).

Observando os resultados de cada praia separadamente, viu-se que a zonas dos

macroinvertebrados bentônicos foi mais distinta na praia de Carapibus, onde houve predomínio

dos moluscos Echinolittorina lineolata, Brachidontes exustus e do cirripédio Chthamalus sp. no

mesolitoral superior. Entretanto, o espaço ocupado por E. lineolata no substrato é menor,

havendo maior importância e influência na definição dessa zona pela ocupação de Chthamalus

sp. e B. exustus. No mesolitoral inferior de Carapibus, houve predomínio de B. exustus, de

Isognomon bicolor e de E. lineolata, mostrando que I. bicolor constituiu um dos principais

elementos que definiram a zonação no entremarés dessa praia.

Quanto aos macroinvertebrados bentônicos, a correlação com o invasor Isognomon

bicolor pode ser explicada no caso do bivalve Brachidontes exustus, dos gastrópodes da família

Fissurellidae e de Lottia subrugosa, principalmente pela preferência destes pelo mesmo tipo de

substrato rochoso. É possível que esteja havendo algum tipo relação de facilitação com os jovens

de B. exustus, pois em muitas amostras foi encontrada grande quantidade de jovens de B. exustus

aderidos a I. bicolor. Alguns estudos já demonstraram que o invasor pode ser facilitador ou

oferecer benefícios a espécies nativas, como por exemplo, aumentando a heterogeneidade do

habitat ou diminuindo os competidores dominantes (Rodriguez, 2006). Entretanto, não é possível

definir se a possível relação entre I. bicolor e B. exustus seria de facilitação. Na maioria das

vezes, B. exustus encontrava-se aderido a fissuras e superfície das rochas, mas sempre ocorrendo

no mesmo espaço amostral que o invasor I. bicolor.

Page 50: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

42

Quanto a correlação com as cracas Tetraclita stalactifera e Chthamalus sp., é provável

que elas favoreçam o estabelecimento do I. bicolor e de outros bivalves, bem como de pequenos

gastrópodes. Os cirripédios costumam ser dominantes em relação às macroalgas e facilitam a

fixação das larvas de alguns bivalves (Dayton, 1971). No caso de I. bicolor, um estudo sobre o

recrutamento e sucessão no entremarés no Sudeste do Brasil já mostrou que naquele ambiente

esta espécie invasora não recruta em substrato vazio, ocorrendo posteriormente ao

estabelecimento do cirripedio Tetraclita stalactifera, que parece estar facilitando o assentamento

dele (Rocha, 2002).

Por outro lado, Lopez et al. (2014) encontraram uma correlação negativa entre T.

stalactifera e I. bicolor após 11 anos de invasão em praias do Sudeste do Brasil, onde

provavelmente a alta densidade do invasor estaria interferindo no recrutamento desta craca, que

anteriormente era dominante na praia. Isso reforça a idéia de que há diferentes estágios do

estabelecimento e invasão, e nas praias estudadas no presente estudo estaria ocorrendo as fases

iniciais da invasão, onde Isognomon bicolor estaria ainda colonizando e se estabelecendo com a

ajuda destes cirripédios nativos, mas ainda sem exercer grande impacto sobre as espécies nativas.

A escolha do substrato ideal pelas larvas é determinada por diversos fatores e entre os

mais relevantes está o formato do substrato, que gera diferentes fluxos de água escoando e

banhando este substrato, podendo modificar o assentamento (Abelson & Denny, 1997). Em

muitas amostras do presente estudo, Isognomon bicolor foi observado aderido a ostras e

cirripédios, ocupando cavidades deixadas pelo bivalve Lithophaga bisulcata ou localizados na

região central da rocha amostrada. I. bicolor ocupa espaços que são de difícil acesso para muitos

outros organismos, conferindo proteção e recursos disponíveis para ele. A estrutura da superfície

onde ele se fixa parece ser um fator determinante, pois não costuma se fixar em superfícies

rochosas muito lisas (López, 2008).

A presença de outros organismos sésseis como os cirripédios, ostras e até mesmo outros

bivalves pode oferecer um ambiente mais propício para o seu desenvolvimento populacional,

Page 51: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

43

possivelmente devido à heterogeneidade que estes outros organismos conferem ao habitat

rochoso. Organismos que já estão presentes no substrato podem influenciar o estabelecimento de

outras espécies, interferindo também na escolha do substrato pela larva (López & Coutinho,

2008).

De acordo com Cangussu et al. (2010), o tipo e a composição do substrato podem

determinar o sucesso e estabelecimento para muitas espécies invasoras nos ambientes aquáticos.

Zamprogno et al. (2010) encontraram correlação positiva entre o número de fendas e depressões

nos costões rochosos e a densidade de Isognomon bicolor, o que demonstra que o

estabelecimento de indivíduos é mais fácil nas fendas e que a população residente influencia a

colonização dele também nas áreas lisas adjacentes. No presente estudo, pode-se observar que

nas fendas de rochas maiores, os organismos eram maiores do que os coletados em superfícies

lisas, e nas pedras menores era mais frequente encontrar jovens de I. bicolor, padrão parecido ao

observado por López (2008).

A ocorrência de macroalgas constituiu umas das principais diferenças entre as duas praias,

pois na praia de Jacumã há maior cobertura algal e menor abundância de Isognomon bicolor. A

partir dessa observação, procurou-se analisar se existe alguma relação entre a ocorrência das

macroalgas e desta espécie invasora. Observou-se que as macroalgas podem estar influenciando

na densidade de I. bicolor nas áreas estudadas, pois onde elas foram mais representativas, a

densidade deste bivalve foi menor. Isto pode estar relacionado à disponibilidade de espaço, uma

vez que ambos precisam de substrato duro para colonização.

A maior presença de algas provavelmente resulta em menor disponibilidade de espaço

para a fixação de Isognomon bicolor. Estudos mostram interferência negativa de macroalgas

sobre macroinvertebrados bentônicos, como poliquetas e bivalves (Lopes et al., 2000), sobre o

crescimento de corais (Jompa & McCook, 2003), entre outros. A presença de macroalgas pode

influenciar na densidade de bivalves também por interferir na alimentação, que é basicamente

Page 52: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

44

através de partículas presentes na água (Raffaelli et al., 1998) e na disponibilidade de espaço para

assentamento de larvas.

Por outro lado, Jacobucci et al. (2006) registraram a presença de Isognomon bicolor sobre

macroalgas do gênero do Sargassum, e López & Coutinho (2010) observaram, em estudo

experimental, uma relação de facilitação da presença de I. bicolor proporcionada por macroalgas

desse mesmo gênero. Isso pode ser explicado por uma provável associação positiva de I. bicolor

especificamente com as macroalgas deste gênero, algas estas que foram pouco expressivas nas

praias estudadas na Paraíba no presente estudo.

As espécies de macroalgas mais representativas encontradas neste estudo têm estrutura

mais fina e maleável, talo pouco rígido e fino. A interferência competitiva das macroalgas

depende de propriedades como estrutura e forma física, componentes químicos e biológicos de

cada espécie de alga (Jompa & McCook, 2003), o que pode determinar a associação ou a

repulsão desta espécie invasora pelas macroalgas. As algas da Ordem Ectocarpales foram

bastante frequentes e formavam “tapetes” finos recobrindo as rochas, e sobre elas eram

observados principalmente pequenos gastrópodes, mas os bivalves eram escassos.

Provavelmente, a presença destas algas também dificultou o estabelecimento de I. bicolor.

López (2008) relatou um episódio de diminuição abrupta da cobertura de I. bicolor em

uma praia do Rio de Janeiro com subsequente aumento da cobertura de macroalgas de 50%, o

que poderia reforçar a ideia de que existe uma relação negativa entre algas e esta espécie

invasora, provavelmente motivada por competição por espaço.

No mesolitoral superior das duas praias, essas diferenças não foram tão marcantes,

mostrando que a distribuição de I. bicolor e das macroalgas pode estar mais relacionada ao tipo

de substrato de fixação, e a presença das macroalgas estaria representando mais um fator que

dificultaria a fixação deste bivalve e até estaria limitando espaço no substrato.

No que diz respeito aos fatores que interferem na distribuição dos organismos no

entremarés, a exposição ao sol é uma característica importante a ser analisada. Na praia de

Page 53: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

45

Carapibus, particularmente, a faixa rochosa fica exposta dessecação por um período maior, sendo

provável que esta característica influencie a comunidade entremarés, determinando que as

espécies mais tolerantes a dessecação e a altos valores de temperatura e salinidade da água sejam

mais abundantes nesta praia. De acordo com Coutinho (2002), isso é particularmente importante

para esses invertebrados que estão continuamente sendo expostos na zona entremarés, sendo mais

afetados pelas variações dos fatores ambientais nas poças formadas nessa região. Foi possível

verificar que nesta praia ocorreram as maiores médias de temperatura e salinidade da água, em

relação à praia de Jacumã.

Entre os fatores físicos e ambientais que influenciam a zonação em áreas rochosas, a ação

das ondas e a dessecação tem se destacado entre os mais importantes (Griffiths & Branch, 1991;

Bustamante et al., 1997). Isto ajuda a explicar a maior abundância e densidade de Isognomon

bicolor no mesolitoral inferior nas áreas estudadas, visto que esta zona passa mais tempo

submersa, oferecendo mais proteção e ajudando a evitar a dessecação. Além disso, na praia de

Carapibus nessa zona havia rochas maiores e mais complexas, que oferecem mais abrigo. Isto

pode estar relacionado também a preferência por microhabitats sombreados nas regiões rochosas,

onde Isognomon bicolor foi encontrado sempre em buracos ou frestas de grandes rochas ou

embaixo de pequenas rochas (principalmente os indivíduos jovens). A presença de

sombreamento pode interferir no recrutamento e estabelecimento de alguns invertebrados sésseis,

podendo haver um recrutamento maior em áreas sombreadas (Williams, 1994).

No ambiente marinho, foi comprovado que espécies de bivalves invasores são mais

tolerantes às variações ambientais e a condições estressantes do que espécies nativas (e.g. Lenz et

al., 2011; Verbrugge et al., 2012), o que favoreceria o sucesso populacional delas, acarretando

um cenário de bioinvasão. Mas o fato da praia de Jacumã sofrer maior ação das ondas e ter uma

menor faixa rochosa mostra mais uma vez que o substrato rochoso teve uma importância maior.

A questão se as interações bióticas são mais importantes para definir os padrões de

zonação parece ter diferentes respostas, em diferentes regiões do planeta, havendo diferenças nos

Page 54: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

46

gradientes de ocupação pelos organismos (Bustamante et al., 1997). Estes mesmos autores

discutem que em diferentes regiões ou mesmo em locais próximos, as comunidades foram

reguladas primordialmente por fatores como temperatura e ação das ondas, e em outros locais as

relações de competição e predação tiveram uma importância maior.

Entretanto, no presente estudo pode-se sugerir que a presença do invasor Isognomon

bicolor está sendo influenciada por diversos fatores, entre eles estão a presença de outros

macroinvertebrados bentônicos e macroalgas e provavelmente o tipo de substrato. Dados

pretéritos de abundância e distribuição desse invasor para comparar com estes resultados seriam

essenciais, visando avaliar a evolução da invasão por I. bicolor. No entanto, este é o primeiro

estudo neste local e um dos primeiros que estão sendo realizados na costa Nordeste do Brasil,

então essa comparação não foi possível.

Espera-se que estes dados forneçam um perfil da situação populacional de Isognomon

bicolor nessas áreas costeiras e também sirvam de parâmetro para acompanhamentos futuros. É

fundamental que sejam realizados outros estudos nessas áreas e em outros locais, para fins de

monitoramento e aprofundamento das informações acerca das bioinvasões por I. bicolor,

conhecimento este que pode ajudar a prever possíveis locais de estabelecimento e o

desenvolvimento populacional dessa espécie invasora.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no presente estudo permitem concluir que:

- As praias estudadas ainda estão em estágios iniciais de invasão pelo I. bicolor, pois a

densidade dele registrada nessas praias é considerada baixa em relação a outras áreas estudadas

na costa brasileira;

Page 55: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

47

- A distribuição e densidade de I. bicolor também parece estar relacionada com

características estruturais e do substrato das praias estudadas, como a cobertura por macroalgas e

estrutura rochosa;

- Houve maior densidade de Isognomon bicolor na zona inferior do mesolitoral e no

período chuvoso, enquanto que a densidade das espécies bentônicas nativas foi maior na zona

mesolitoral superior e no período seco;

- A abundância de Isognomon bicolor no mesolitoral inferior representou a principal

diferença entre esta zona inferior e a superior do mesolitoral, visto que nas duas zonas

predominaram também os macroinvertebrados Chthamalus sp. e Brachidontes exustus, e as

macroalgas;

- A densidade e distribuição do Isognomon bicolor está sendo influenciada de maneira

positiva por macroinvertebrados bentônicos, como os cirripédios Tetraclita stalactifera e

Chthamalus sp. e os moluscos Brachidontes exustus, Lottia subrugosa e gastrópodes da família

Fissurellidae.

AGRADECIMENTOS

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo apoio

financeiro concedido em forma de bolsa de demanda social. Agradecemos à Luís Carlos

Damasceno pelo suporte e grande contribuição nos trabalhos de campo. Aos colegas de

laboratório Graciele Barros, Camile Avelino, Thiago Felipe, Katiane Albuquerque, Jessika

Gama, Linaldo Oliveira, pelo apoio nos trabalhos de campo e em laboratório. À Erika Santana,

pelo auxílio na identificação dos cnidários. A Paula Spotorno por identificar os moluscos

vermetídeos. Aos professores André Pessanha e José Roberto Botelho de Souza pelas

contribuições ideológicas para este trabalho. Este estudo foi possível graças ao apoio do

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Estadual da Paraíba.

Page 56: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

48

REFERÊNCIAS

Abelson A, Denny M (1997) Settlement of Marine Organisms in Flow. Annual Review of

Ecology, Evolution and Systematics 28:317-39.

Bezerra DF (2010) Distribuição da malacofauna em pilares dos terminais portuários do Ceará –

Brasil, com ênfase no bivalve invasor Isognomon bicolor. Dissertation, Universidade Federal do

Ceará

Breves A, Scarabino F, Carranza, A, Leoni, V (2014) First records of the non-native bivalve

Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845) rafting to the Uruguayan coast. Check List 10(3): 684–

686.

Breves-Ramos A, Junqueira AOR, Lavrado HP, Silva SHG, Ferreira-Silva MAG (2010)

Population structure of the invasive bivalve Isognomon bicolor on rocky shores of Rio de Janeiro

State (Brazil). Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom (3), 453–459.

Byers JE (2009) Competition in marine invasions. In: Rilov G, Crooks JA (ed) Biological

Invasions in Marine Ecosystems, Springer pp 245-260

Bustamante RH, Branch GM, Eekhout S (1997) The influences of physical factors on the

distribution and zonation patterns of south african rocky-shore communities. African Journal of

Marine Science 18: 119-136.

Page 57: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

49

Cangussu LC, Altvater L, Haddad MA, Cabral AC, Heyse HL, Rocha RM (2010) Substrate

type as a selective tool against colonization by non-native sessile invertebrates. Brazilian Journal

of Oceanography 58(3):219-231.

Coutinho R (2002) Bentos de costões rochosos. In: Pereira CP, Soares-Gomes A (ed) Biologia

Marinha, 1ª ed. Editora Interciência, Rio de Janeiro, pp 146- 157

Dayton PK (1971) Competition, Disturbance, and Community Organization: The Provision and

Subsequent Utilization of Space in a Rocky Intertidal Community. Ecological Monograph

41:351–389.

Dias TLP, Mota ELS, Gondim AI, Oliveira JM, Rabelo EF, Almeida SM, Christoffersen

ML (2013) Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845) (Mollusca: Bivalvia): First record of this

invasive species for the States of Paraíba and Alagoas and new records for other localities of

Northeastern Brazil. Check List 9(1): 157–161.

Domaneschi O, Martins CM (2002) Isognomon bicolor (C.B.Adams) (Bivalvia,

Isognomonidae): primeiro registro para o Brasil, redescrição da espécie e considerações sobre a

ocorrência e distribuição de Isognomon na costa brasileira. Revista Brasileira de Zoologia 19(2),

p.611-627.

Farrapeira CMR (2008) Cirripedia Balanomorpha of Paripe River estuary (Itamaracá Island,

Pernambuco, Brazil). Biota Neotropica 8(3): 31-39.

Ferreira CEL, Junqueira AOR, Villac MC, Lopes RM (2009) Marine Bioinvasions in the

Brazilian Coast: Brief Report on History of Events, Vectors, Ecology, Impacts and Management

Page 58: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

50

of Non-indigenous Species. In: G. Rilov, J.A. Crooks (eds.) Biological Invasions in Marine

Ecosystems, Ecological Studies 204, pp. 459-477.

Ferreira CE, Gonçalves JEA, Coutinho R (2004) Cascos de navios e plataformas como vetores

na introdução de espécies exóticas. In: Silva JSV, Souza RCCL (eds.) Água de lastro e

bioinvasão, 1ª ed. Editora Interciência, Rio de Janeiro, pp. 143-155.

Fernandes FC, Rapagnã LC, Bueno GBD (2004) Estudo da população do bivalve exótico

Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845) (Bivalvia, Isonomonidae) na Ponta da Fortaleza em

Arraial do Cabo- RJ. In: Silva JSV, Souza RCCL (ed) Água de lastro e bioinvasão, 1ª ed. Editora

Interciência, Rio de Janeiro, pp. 133- 141.

GISP- Programa Global de Espécies Invasoras (2005) América do Sul invadida: A crescente

ameaça das espécies exóticas invasoras.

Griffiths CL, Branch, GM (1991) The macrofauna of rocky shore in False Bay. Transactions of

the Royal Society of South Africa 47(4-5):575-594.

Henriques MB, Casarini LM (2009) Avaliação do crescimento do mexilhão Perna perna e da

espécie invasora Isognomon bicolor em banco natural da Ilha das Palmas, Baía de Santos, estado

de São Paulo, Brasil. Boletim do Instituto de Pesca 35(4): 577–586

Hartmann T (2006). Bivalve Seashells of Florida: an identification guide to the common species

of Florida and the Southeast, Anadara Press, Tampa

Huber M (2014) Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845).World Register of Marine Species at

http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=420737 Accessed 22 july 2014

Page 59: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

51

IUCN. 2009. Marine Menace: alien invasive species in the marine environment. IUCN’s

Invasive Species Specialist Group, Switzerland.

Ignacio BL (2008) Ecologia de comunidades de substratos consolidados da Baía de Ilha Grande

com ênfase no papel de espécies introduzidas e criptogênicas. Thesis, Universidade Federal do

Rio de Janeiro

Jacobucci GB, Guth AZ, Turra A, Magalhães CA, Denadai MR, Chaves AMR, Souza, ECF

(2006) Levantamento de Mollusca, Crustacea e Echinodermata associados a Sargassum spp. na

Ilha da Queimada Pequena, Estação Ecológica dos Tupiniquins, litoral sul do Estado de São

Paulo, Brasil. Biota Neotropica 6 (2): 1-8.

Jompa J, Mccook LJ. (2003) Coral–algal competition: macroalgae with different properties

have different effects on corals. Marine Ecology Progress Series 258: 87–95.

Kiyotani IB (2011) Turismo de segundas residências: a degradação ambiental e paisagística das

praias de Jacumã, Carapibus e Tabatinga - Conde/PB. Dissertation, Universidade Federal da

Paraíba

Lenz M, Gama BAP, Gerner NV, Gobin J, Gröner F, Harry A, Jenkins SR, Kraufvelin P,

Mummelthei C, Sareyka J, Xavier EA, Wahl M (2011) Non-native marine invertebrates are

more tolerant towards environmental stress than taxonomically related native species: Results

from a globally replicated study. Environmental Research 111: 943–952.

Littler DS, Littler MM, Bucher KE, Norris JN (1989) Marine Plants of the Caribbean: A field

guide from Florida to Brazil. Smithsonian Institution Press, Washington D. C.

Page 60: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

52

Loebmann D, Mai ACG, Lee JT (2010) The invasion of five alien species in the Delta do

Parnaíba Environmental Protection Area, Northeastern Brazil. Revista de Biologia Tropical 58

(3): 909-923.

Lopes RJ, Pardal MA, Marques JC (2000) Impact of macroalgal blooms and wader predation

on intertidal macroinvertebrates: experimental evidence from the Mondego estuary (Portugal).

Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 249 :165–179.

López MS (2008) O bivalve invasor Isognomon bicolor (C.B. Adams, 1845) e seu papel nas

comunidades de entremarés rochoso na região de ressurgência do Cabo Frio, RJ. Thesis,

Universidade Federal do Rio de Janeiro

López MS, Coutinho R (2010) Positive interaction between the native macroalgae Sargassum

sp. and the exotic bivalve Isognomon bicolor? Brazilian Journal of Oceanography 58:69-72.

López MS, Coutinho R, Ferreira CEL, Rilov G (2010) Predator–prey interactions in a

bioinvasion scenario: differential predation by native predators on two exotic rocky intertidal

bivalves. Marine Ecology Progress Series 403: 101–112.

Martinez AS (2012) Spatial distribution of the invasive bivalve Isognomon bicolor on rocky

shores of Arvoredo Island (Santa Catarina, Brazil). Journal of the Marine Biological Association

of the United Kingdom 92(3), 495–503.

Mariano-Soriano E, Carneiro MAA, Soriano JP (2008) Manual de identificação das

macroalgas do litoral do Rio Grande do Norte. EDUFRN- Editora da UFRN, Natal

Page 61: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

53

MMA- Ministério do Meio Ambiente (2009). Informe sobre as espécies exóticas invasoras

marinhas no Brasil. MMA/SBF, Brasília

Mikkelsen PM, Bieler R (2008) Seashells of Southern Florida - Living marine mollusks of the

Florida Keys and adjacent regions: Bivalves. Princeton University Press, Princeton

Nassar C (2012) Macroalgas Marinhas do Brasil: Guia de Campo das Principais Espécies. Technical

Books, Rio de Janeiro

PDDM (2001) Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal do Conde. IDEME Paraíba, João

Pessoa

Pedrini AG (2011) Macroalgas (Chlorophyta) e gramas (Magnoliophyta) marinhas do Brasil.

Technical Books, Rio de Janeiro

Pedrini AG (2013) Macroalgas (ocrófitas multicelulares) marinhas do Brasil. Technical Books,

Rio de Janeiro

Raffaelli DG, Raven JA, Poole LJ (1998) Ecological impact of green macroalgal blooms.

Oceanogr. Mar. Biol. Ann. Rev 36, 97–125.

Rios EC (2009) Compendium of Brazilian Sea Shells. FURG, Rio Grande

Rocha FM (2002) Recrutamento e sucessão de uma comunidade bentônica de mesolitoral

dominada pela espécie invasora Isognomon bicolor (Bivalvia: Isognomidae) C.B. Adams, 1748

Page 62: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

54

em dois costões rochosos submetidos a diferentes condições de batimento de ondas. Dissertation,

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rodriguez LF (2006) Can invasive species facilitate native species? Evidence of how, when, and

why these impacts occur. Biological Invasions 8: 927–939.

Santos CP (2004) Avaliação da densidade e crescimento populacional do mexilhão dourado

Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) em suas diferentes fases da vida no lago Guaíba, município

de Porto Alegre, RS, como subsídio ao controle do bivalve invasor. Dissertation, Instituto de

Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Siung AM (1980). Studies on the Biology of Isognomon Alatus Gmelin (Bivalvia:

Isognomonidae) with notes on its potential as a Commercial Species. Bulletin of Marine Science

30(1): 90-101.

Stachowicz JJ, Whitlatch RB, Osman RW (1999) Species Diversity and Invasion Resistance in

a Marine Ecosystem. Science 286 (19), 1577- 1579

Stachowicz JJ, Byrnes JE (2006) Species diversity, invasion success, and ecosystem

functioning: disentangling the influence of resource competition, facilitation, and extrinsic

factors. Marine Ecology Progress Series 311:251–262.

Teixeira RM, Barbosa JSP, López MS, Ferreira-Silva MAG, Coutinho R, Villaça RC (2010)

Bioinvasão marinha: os bivalves exóticos de substrato consolidado e suas interações com a

comunidade receptora. Oecologia Australis 14(2):381- 402.

Page 63: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

55

Thomé JW, Bergonci PEA,Gil, GM (2010) As conchas das nossas praias. USEB, Pelotas

Tunnell Junior JW, Andrews J, Barrera NC, Moretzsohn F (2010) Encyclopedia of Texas

Seashells: Identification, Ecology, Distribution, and History. Texas A&M University Press,

Texas

Verbrugge LNH, Schipper AM, Huijbregts MAJ, Velde GV, Leuven RSEW (2012)

Sensitivity of native and non-native mollusc species to changing river water temperature and

salinity. Biological Invasions 14:1187–1199.

Williams GA (1994) The relationship between shade and molluscan grazing in structuring

communities on a moderately-exposed tropical rocky shore. Journal of Experimental Marine

Biology and Ecology 178, 79-95.

Zamprogno GC, Fernandes LL, Fernandes FC (2010) Spatial Variability In the population of

Isognomon Bicolor (C.B. Adams, 1845) (Mollusca, Bivalvia) on rocky shores in Espírito Santo,

Brazil. Brazilian Journal of Oceanography 58(1):23-29.

Zaiko A, Olenin S, Daunys D, Nalepa T (2007) Vulnerability of benthic habitats to the aquatic

invasive species. Biological Invasions 9(6): 703-714.

Page 64: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

56

ANEXO I. Número de indivíduos, densidade e abundância relativa (%) dos táxons encontrados nas

amostras coletadas nas praias de Carapibus e Jacumã, município do Conde, estado da Paraíba, Nordeste

do Brasil.

TÁXONS

Carapibus Jacumã

N Dens. (%) N Dens. (%)

FILO MOLLUSCA

CLASSE BIVALVIA

Pteriidae Isognomon bicolor 1296 300,00 2,64 880 203,70 29,82

Mytilidae Brachidontes exustus 34813 8058,56 70,86 154 35,65 5,22

Lithophaga bisulcata 9 2,08 0,02 0 0,00 0,00

Noetiidae Arcopsis adamsi 18 4,17 0,04 3 0,69 0,10

Noetia bisulcata 2 0,46 0,00 0 0,00 0,00

Lyonsiidae Entodesma beana 1 0,23 0,00 0 0,00 0,00

Ostreidae Crassostrea praia 273 63,19 0,56 1 0,23 0,03

Arcidae Arca imbricata 0 0,00 0,00 2 0,46 0,07

Tellinidae Merisca sp. 1 0,23 0,00 0,00 0,00

CLASSE GASTROPODA

Littorinidae Echinolittorina

lineolata 7159 1657,18 14,57 72 16,67 2,44

Phasianellidae Eulithidium affine 56 12,96 0,11 745 172,45 25,25

Eulithidium bellum 5 1,16 0,01 10 2,31 0,34

Neritidae Neritina virginea 2 0,46 0,00 0,00 0,00

Cerithiidae Cerithium atratum 55 12,73 0,11 6 1,39 0,20

Hipponicidae Hipponix leptus 35 8,10 0,07 22 5,09 0,75

Hipponix incurvus 7 1,62 0,01 0 0,00 0,00

Muricidae

Trachypollia didyma 1 0,23 0,00 0 0,00 0,00

Trachypollia

nodulosa 6 1,39 0,01 3 0,69 0,10

Stramonita rustica 4 0,93 0,01 8 1,85 0,27

Stramonita

haemastoma 1 0,23 0,00 3 0,69 0,10

Trochidae Tegula viridula 6 1,39 0,01 38 8,80 1,29

Tegula fasciata 0 0,00 0,00 7 1,62 0,24

Columbellidae

Parvanachis obesa 29 6,71 0,06 270 62,50 9,15

Columbella

mercatoria 1 0,23 0,00 7 1,62 0,24

Page 65: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

57

Mitrella dichroa 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Mitrella argus 0 0,00 0,00 3 0,69 0,10

Onchidiidae Onchidella indolens 2 0,46 0,00 1 0,23 0,03

Vermetidae

Dendropoma

irregulare 32 7,41 0,07 0 0,00 0,00

Petaloconchus

varians 20 4,63 0,04 4 0,93 0,14

Addisoniidae Addisonia enodis 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Buccinidae Gemophos tinctus 0 0,00 0,00 3 0,69 0,10

Engina turbinella 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Fasciolariidae Leucozonia ocellata 1 0,23 0,00 1 0,23 0,03

Calyptraeidae Calyptraea centralis 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Lottiidae Lottia subrugosa 148 34,26 0,30 381 88,19 12,91

Lottia marcusi

0,00 2 0,46 0,07

Fissurellidae

Cranopsis sp. 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Diodora sp. 0 0,00 0,00 2 0,46 0,07

Diodora cayenensis 4 0,93 0,01 4 0,93 0,14

Diodora dysoni 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Diodora minuta 1 0,23 0,00 1 0,23 0,03

Lucapinella limatula 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Fissurella rosea 58 13,43 0,12 58 13,43 1,97

Fissurella nimbosa 2 0,46 0,00 0 0,00 0,00

Phenacolepadidae Phenacolepas

hamillei 5 1,16 0,01 1 0,23 0,03

FILO ARTHROPODA

CLASSE MAXILLOPODA

Chthamalidae Chthamalus sp. 4999 1157,18 10,18 34 7,87 1,15

Tetraclita stalactifera 16 3,70 0,03 12 2,78 0,41

FILO CHORDATA

CLASSE ASCIDIACEA

Didemnidae Didemnum sp. 2 1 0,23 0,00 4 0,93 0,14

Didemnum sp. 1 0 0,00 0,00 4 0,93 0,14

FILO PORIFERA

CLASSE DEMOSPONGIAE

Chalinidae Haliclona sp. 1 4 0,93 0,01 5 1,16 0,17

Haliclona sp. 2 1 0,23 0,00 3 0,69 0,10

Tetillidae Cinachyrella

alloclada 1 0,23 0,00 1 0,23 0,03

Page 66: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

58

FILO CNIDARIA

CLASSE ANTHOZOA

Sphenopidae Protopalythoa

variabilis 4 0,93 0,01 3 0,69 0,10

Zoanthidae Zoanthus sociatus 5 1,16 0,01 0 0,00 0,00

FILO RHODOPHYTA

CLASSE FLORIDEOPHYCEAE

Cystocloniaceae Hypnea sp. 5 1,16 0,01 54 12,50 1,83

Rhodomelaceae

Acanthophora

spicifera 2 0,46 0,00 12 2,78 0,41

Bryothamnion

seaforth 0 0,00 0,00 4 0,93 0,14

Bryothamnion

triquetrum 0 0,00 0,00 5 1,16 0,17

Vidalia obtusiloba 1 0,23 0,00 4 0,93 0,14

Bostrychia tenella 2 0,46 0,00 0 0,00 0,00

Chondrophycus

papillosus 4 0,93 0,01 4 0,93 0,14

Pterocladiaceae

Pterocladiella

bartlettii 1 0,23 0,00 3 0,69 0,10

Pterocladiella

capillacea 6 1,39 0,01 3 0,69 0,10

Gracilariaceae

Gracilaria cuneata 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Gracilaria sp. 2 0,46 0,00 11 2,55 0,37

Gracilaria caudata 0 0,00 0,00 8 1,85 0,27

Gracilaria

domingensis 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Gracilaria intermedia 1 0,23 0,00 1 0,23 0,03

Gracilaria

cervicornis 0 0,00 0,00 2 0,46 0,07

Halymeniaceae Cryptonemia

crenulata 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Rhizophyllidaceae Ochtodes

secundiramea 0 0,00 0,00 9 2,08 0,30

Corallinacea Jania subrulata 3 0,69 0,01 5 1,16 0,17

Solieriaceae Meristotheca sp. 0 0,00 0,00 2 0,46 0,07

FILO CHLOROPHYTA

CLASSE ULVOPHYCEAE

Anadyomenaceae Anadyomene stellata 0 0,00 0,00 3 0,69 0,10

Ulvaceae Ulva lactuca 1 0,23 0,00 23 5,32 0,78

Caulerpaceae Caulerpa racemosa 0 0,00 0,00 4 0,93 0,14

Page 67: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

59

Caulerpaceae Caulerpa mexicana 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Boodleaceae Cladophoropsis sp. 0 0,00 0,00 3 0,69 0,10

FILO OCHROPHYTA

CLASSE PHEOPHYCEAE

Sargassaceae Sargassum vulgare 1 0,23 0,00 1 0,23 0,03

Dictyotaceae

Padina gymnospora 2 0,46 0,00 0 0,00 0,00

Lobophora variegata 1 0,23 0,00 5 1,16 0,17

Dictyopteris sp. 0 0,00 0,00 2 0,46 0,07

Dictyopteris justii 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Dictyopteris jolyana 0 0,00 0,00 1 0,23 0,03

Ordem Ectocarpales 9 2,08 0,02 11 2,55 0,37

TOTAL 84 táxons 49128 11372,2 100 2951 683,1 100

Page 68: Dissertação de Mestradotede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/2267/5/PDF...Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC Dissertação de Mestrado Estrutura

60

ANEXO II. Os táxons bentônicos mais abundantes e representativos encontrados nas praias de Carapibus

e Jacumã, município do Conde, estado da Paraíba, Nordeste do Brasil: os macroinvertebrados (a) Isognomon

bicolor, (b) Brachidontes exustus, (c) Chthamalus sp., (d) Tetraclita stalctifera, (e) Lottia subrugosa, (f)

Echinolittorina lineolata, (g) Fissurelídeos, e a macroalga (h) Hypnea sp.