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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA E GEOCIÊNCIAS MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO INHACUNDÁ, MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS/RS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Dionisio Saccol Sangoi Santa Maria, RS,Brasil 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS NATURAIS E EXATAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA E GEOCINCIAS

MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRFICA DO ARROIO INHACUND,

MUNICPIO DE SO FRANCISCO DE ASSIS/RS

DISSERTAO DE MESTRADO

Dionisio Saccol Sangoi

Santa Maria, RS,Brasil

2006

MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRFICA DO ARROIO INHACUND,

MUNICPIO DE SO FRANCISCO DE ASSIS/RS

por

Dionisio Saccol Sangoi

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa De Ps-Graduao em Geografia e Geocincias, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),como requisito parcial para

obteno de grau de Mestre em Geografia

CARLOS ALBERTO DA FONSECA PIRES

Santa Maria, RS, Brasil

2006

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Cincias Naturais e Exatas

Programa de Ps-Graduao em Geografia e Geocincias

A comisso Examinadora, abaixo assinada, Aprova a Dissertao de Mestrado

MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRFICA DO ARROIO INHACUND,

MUNICPIO DE SO FRANCISCO DE ASSIS/RS

elaborada por Dionisio Saccol Sangoi

Como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Geografia

COMISSO EXAMINADORA:

Carlos Alberto da Fonseca Pires, Dr. (presidente/Orientador)

Nelson Gasparetto, Dr., (UEM)

Andrea Valli Nummer, Dr, (UFSM)

Santa Maria,16 de Fevereiro de 2006

Aos meus pais

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal de Santa Maria, pela oportunidade de realizar este curso de Ps-Graduao.

Ao Professor Carlos Alberto da Fonseca Pires, pela orientao, confiana e pelos conhecimentos adquiridos durante estes anos de

convivncia.

A Professora Andrea Valli Nummer, pelas sugestes, ensinamentos e amizade conquistados durante os anos de trabalho em conjunto.

Ao Professores Edgardo Ramos Medeiros e Luis Eduardo Robaina, pelas oportunidades ofertadas, pela confiana investida, e pelos anos de trabalho que resultaram em conhecimentos fundamentais para vida

profissional.

Aos Colegas do Laboratrio de Geologia Ambiental, que sempre proporcionaram lies de sabedoria, mesmo que de forma no intencional,

durante todos esses anos de convivncia diria.

Aos Professores e Funcionrios do PPGGEO, pela dedicao no intuito de transmitir conhecimentos as geraes de novos ps-graduandos

Muito Obrigado

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Aos Meus pais, Ari Eloi Sangoi e Terezinha Saccol Sangoi, pelo amor, pelo esforo e exemplo de vida e por estar sempre ao meu

lado nos momentos mais difceis.

A minha irm Deise, pelas palavras de amor e carinho que sempre reconfortaram-me quando eu mais necessitava.

Aos meus GRANDES AMIGOS, em especial ao Anade Denlson, Lige, Lenise, Loureno, Marcelo, Medianeira, Nbia, Rafael, Renato, Rodrigo, Patussi, e Valdelirio, que durante os anos de graduao e ps-graduao, foram essenciais, pelo

companheirismo, pela ajuda em momentos difceis e pelas lies que

ensinaram.

Aos que por ganncia, arrogncia, orgulho, inveja, escolheram

no mais partilhar de sua amizade comigo, agora digo, com a

sabedoria que essa empreitada me proporcionou, que vocs no faro

falta nos anos que se seguiro.

Obrigado a todos.

Inhacund

Serpenteando Paciente, Tranqila,

Incansavelmente Atravessa a minha terra

Rio Amigo, Acolhedor.

Que assisense No te conhece?

Qual o que no te ama? Embora sejas pequeno, Talvez tmido, recalcado

Para mim s o maior! Por isso j decidi:

Igual a ti Outro no h,

Meu Querido Inhacund

Leopoldino Vieira Cidade

SUMRIO

LISTA DE FIGURAS I

LISTA DE TABELAS II

LISTA DE FORMULAS III

RESUMO IV

ABSTRACT V

1.INTRODUO 01

2.METODOLOGIA 04

3. REVISO BIBLIOGRFICA 15

3.1. Evoluo do Estudo da Geomofologia 15

3.2. Geomorfologia e a Anlise Ambiental 23

3.3. Tcnicas e Metodologias para mapeamentos dos fatos ambientias 25

3.4. Processos erosivos acelerados ligados a dinmica superficial 28

3.5. Geomorfologia e geologias regionais 31

3.6 antecedentes: a Evoluo da ocupao humana da rea de estudo 35

3.7. Antecedentes: Evoluo humana de So Francisco de Assis 36

3.8. Pedologia presente na rea de estudo 37

3.9 Climatologia regional 37

3.10. Vegetao Local 38

4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 40

4.1 Anlise dos Parmetros Morfomtricos 40

4.1.1 Mapa de Unidades do Terreno 48

4.2. Anlise da Geologia 51

4.3 Ocupao do Espao na Bacia do Arroio Inhacund 56

4.4. Mapa de Feies Superficiais 61

4.5. Mapa Geoambiental 65

4.CONCLUSES E RECOMENDAES 68

5.BIBLIOGRAFIA 71

LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 Localizao da rea de Estudo 02

FIGURA 02 Esquema-modelo da elaborao do mapeamento proposto 06

FIGURA 03 - Modelo Terico da Matriz resultante do agrupamento de

atributos para o Mapeamento Geoambiental 13

FIGURA 04- Mapa de Unidade de Terreno da Bacia do Arroio Inhacund 52

FIGURA 05 Croqui sobre provvel estratigrafia encontrada na Bacia Do

Arroio Inhacunda 56

FIGURA 06 Mapa Geolgico da Bacia Hidrografia do Arroio Inhacund 57

FIGURA 07 plantao de pinus e arenizao associada com

vossorocamento 60

FIGURA 08 Mapa de Ocupao do Espao na Bacia do Arroio Inhacund 62

FIGURA 09 - Areais em base de colinas 63

FIGURA 10- vossoroca esta atingindo a lateral da estrada. 64

FIGURA 11 - Afloramento de Rochas . 64

FIGURA 12 Afloramento de rochas em Cerros Isolados. 65

FIGURA 13 - Afloramento de Rochas na poro Superior da Bacia 66

FIGURA 14 Mapa de Unidades Geoambientais. 69

LISTA DE TABELAS TABELA 1: Rede hidrogrfica do Arroio Inhacund 43

TABELA 2 - Rede Hidrogrfica do Setor A do Arroio Inhacund 46

TABELA 3 Rede Hidrogrfica do Arroio Carai-passo 46

TABELA 4: Rede hidrogrfica do setor mais a jusante do Arroio Inhacund 47

TABELA 5: Classes do Comprimento de Rampa 49

LISTA DE FORMULAS TABELA 1: Rede hidrogrfica do Arroio Inhacund 43

TABELA 2 - Rede Hidrogrfica do Setor A do Arroio Inhacund 46

TABELA 3 Rede Hidrogrfica do Arroio Carai-passo 46

TABELA 4: Rede hidrogrfica do setor mais a jusante do Arroio Inhacund 47

TABELA 5: Classes do Comprimento de Rampa 49

RESUMO

DISSERTAO DE MESTRADO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA E GEOCIENCIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA

DO ARROIO INHACUND, SO FRANCISCO DE ASSIS/RS

Autor: Dionsio Saccol Sangoi

Orientador: Carlos Alberto da Fonseca Pires Co-Orientador: Luis Eduardo de Souza Robaina

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 16 de Fevereiro de 2006.

A rea da bacia hidrografia do arroio Inhacund, esta compreendida entre

as coordenadas 54 5932 e 552010 Oeste e 292000 e 293723 Sul. Com

rea de 36.333,74 hectares, esta bacia esta situada dentro dos limites municipais

da cidade de So Francisco de Assis, que esta localizada na regio da campanha

gacha, no sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul. O Objetivo deste trabalho

estabelecer e mapear as unidades de geoambientais que ocorrem na Bacia

Hidrogrfica do Arroio Inhacund. Os parmetros morfomtricos considerados

foram: Unidades de Terreno, Ocupao do Espao, Geolgica e Feies

Superficiais. A metodologia proposta consiste em realizar cruzamentos dos

mapas de Unidades de Terreno, Ocupao, Feies e Geologico, buscando

estabelecer unidades com caractersticas geoambientais homogneas. Os

Resultados encontrados mostraram que a Bacia apresenta sete unidades

diferenciadas, onde se destacam as unidades a jusante da bacia, com a

ocorrncia de areias e voorocas. A utilizao do mapeamento geoambiental,

mostrou-s e eficiente, pois permitiu realizar uma avaliao correta e estabelecer

algumas discusses sobre as potencialidades e restries em uma rea que

apresenta uma diversidade interessante, com pequenos e grandes proprietrios,

problemas ambientais, usos e ocupaes variadas.

Palavras-chave: Mapeamento, Arenizao, Geoambiental.

ABSTRACT

DISSERTAO DE MESTRADO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA E GEOCIENCIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

GEOENVIRONMETAL MAPPING OF

INHACUND RIVER BASIN, SO FRANSCISCO DE ASSIS MUNICIPALITY/RS

Author: Dionsio Saccol Sangoi

Orientate: Carlos Alberto da Fonseca Pires Co-Orientate: Luis Eduardo de Souza Robaina

Date and Place: Santa Maria, February 16 th, 2006

The Inhacund River Basin Area which comprended between the

coordinates 54 5932 e 552010 West and 292000 e 293723 South. with

area of the 36.333,74 hectares. This Basin is situated into the limits of municipality

of the So Francisco de Assis, located in Campanha Region; southwest of the Rio

Grande do Sul State. The objective of this work was mapping geoenvironmetal

units with helpened by: Morphometrical Parameters, Spatial Occupations;

Geological studies and. Surfaces Structures. The methodological approach

consisted in crossing four different maps: Geological, Land Units, Spatial

Occupations and Surfaces Structures. The Results funded showing that basin

presents Seven Geoenvironmetal Units. With special attention to Two units located

in lower Inhacund, which presents problems with gully erosion and sandification.

The Use of the Geoenvironmetal Mapping is correct because permitted realized a

correct evaluation of the area, proposed to discuss about potentialities of this

basin.

Key-Word: Geonviroment, Mapping, Degradation

1. Introduo

A geomorfologia tem sido tratada como a parte da Cincia que estuda as formas, origem e evoluo do relevo terrestre. Lana mo de estudos de vrios

fenmenos comuns s Geocincias como intemperismo e tectnica de placas. Em

linhas gerais pode-se dizer que, ao longo do tempo geolgico, o relevo o

resultado da procura de equilbrio entre a ao resultante dos fenmenos internos

e externos. Entre os fenmenos internos pode-se destacar a tendncia de fluxo

da astenosfera, hot spot e movimento de placas tectnicas e todas as suas

conseqncias, tais como orognese, vulcanismo e terremotos. Por outro lado,

entre os fenmenos externos pode-se citar intemperismo, denudao, eroso,

sedimentao e, mais modernamente, a ao do homem. Essa ao antrpica,

incorporada modernamente pela Geomorfologia, tem sido uma grande aliada nos

estudos ambientais. Permite entender, modelar e prever fenmenos como

inundaes, movimento de massa, subsidncia de grandes reas, entre outros.

Atualmente, os estudos ambientais tm como foco principal a bacia

hidrogrfica, pois esta tem um funcionamento sistmico, que facilita analise

dinmica do conjunto de elementos e unidades que compe o sistema e tambm

permite indagar e averiguar as relaes entre este sistema e o se meio que este

esta inserido.(Cristofolleti,1981)

A rea da bacia hidrografia do arroio Inhacund, esta compreendida entre

as coordenadas 54 5932 e 552010 Oeste e 292000 e 293723 Sul. Com

rea de 36.333,74 hectares,esta bacia esta situada dentro dos limites municipais

da cidade de So Francisco de Assis, que esta localizada na regio da campanha

gacha, no sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul, conforme Figura 01

1

Figura 01 Localizao da rea de Estudo. Org. Sangoi.D.S. 2006

A caracterizao geolgica e geomorfolgica da rea tm sido objeto da

investigao de vrios pesquisadores. Entre trabalhos realizados na rea de

estudo pode-se destacar White (1909); Absaber (1964); Maciel Filho, Meneghotto

e Sartori (1971); Muller Filho et al. (1971),Scherer (1988); Suertegarary et al.

(1989) e Scherer et al. (2002).

O objetivo geral desse trabalho contribuir para as Cincias Geogrficas e

Geomorfolgica, visando acrescentar conhecimentos aos campos do estudo

geoambiental, proporcionando assim, contribuir para a melhoria dos

condicionantes de bem-estar da sociedade em geral.

Os objetivos especficos desse trabalho so os seguintes:

- estabelecer e caracterizar as unidades geoambientais na Bacia Hidrogrfica

do Arroio Inhacund, com auxlio do mapeamento, auxiliando a gesto em

reas;

- mapear as unidades geoambientais que ocorrem na Bacia Hidrogrfica do

Arroio Inhacund; fornecendo subsdios aos rgos pblicos para gesto

nessas reas;

2

- constituir e organizar um banco de dados, que permita o acompanhamento

do desenvolvimento das unidades geoambientais por pesquisadores e pelos

rgos pblicos interessados.

3

2. Metodologia

As teorias cientficas so sempre constitudas pela combinao de

raciocnio humano e observao. Para Vergas(1985) apud Marques dos

Anjos(2002) no campo da geocincias devemos desenvolver uma combinao

dos trs mtodos cientficos conhecidos: o dedutivo, o indutivo e o experimental.

O mtodo Indutivo utilizado para inferir informaes que no se conhecia antes

como, por exemplo, declividades em bacias. O mtodo dedutivo se desenvolve

principalmente na fase de coleta de dados prontos, e os processos baseiam-se na

experimentao, isto , em tentar validar os resultados formulados nas etapas

anteriores.

A metodologia deve representar a espinha dorsal de qualquer trabalho.

Para que isso ocorra devemos observar algumas etapas bsicas. A metodologia

de Libault(1971), segundo Ross (1995) uma das mais claras e de simples

aplicaes, sendo que para os trabalhos nas geocincias, principalmente nas

reas voltadas para os fenmenos fsicos, esta metodologia considerada

bastante atual e aceitvel.

Com base neste autor, a metodologia deste trabalho, seguiu as seguintes

etapas:

1) O Nvel Compilatrio: Corresponde fase inicial da pesquisa, onde se estabelecem os objetivos iniciais e coleta-se as informaes que se julgarem

teis.

Neste nvel realizou-se a reviso bibliogrfica direcionada para os

seguintes temas: Geomorfologia aplicada aos estudos ambientais; Cartografia e

anlise ambiental e Processos de Dinmica Superficial, alm de obteno de

material bibliogrfico sobre geologia, geomorfologia, clima, vegetao e ocupao

histrica e recente de So Francisco de Assis.

4

Ainda neste Nvel, foi constituda a base cartogrfica do trabalho, com o auxilio

do Software Spring. O mapa-base foi obtido atravs das seguintes cartas

topogrficas:

Folha de So Francisco de Assis SH.21-X-D-IV-2;

Folha de Manuel Viana SH 21 -X-D-IV-1;

Folha de Vila Kramer SH.21-X-D-I-4 e ,

Folha de Nova Esperana SH-X-D-I-2;

Todas as cartas esto em escala 1:50000, e foram elaboradas pela Diretoria

do Servio Geogrfico Brasileiro (DSG) do Ministrio do Exercito entre os anos de

1972 e 1979.

O Primeiro passo na construo do mapa base foi a delimitao da bacia

Hidrogrfica do Arroio Inhacund, pois segundo Botelho e Silva(2004) a bacia

hidrogrfica vem sendo utilizada como clula bsica para anlise ambiental desde

fins da dcada de 1960, por: Permitir reconhecer e avaliar seus diversos

componentes e os processos e interaes que a partir de estudos mais detalhados sobre a dinmica vegetal e da contribuio a ao humana sobre esta que se vai poder traar um melhor caminho para o uso e manejo da area de forma a impacta-la da menor forma possvel

Sob essa base cartogrfica, foram realizados os estudos morfomtricos da

bacia. A morfometria uma importante ferramenta de anlise em estudos

morfolgicos, pois definem as relaes que se estabelecem entre os atributos as

propriedades dinmicas das bacias (Cooke & Doornkamp 1974).

A Analise numrica de caractersticas em uma bacia hidrogrfica traz um

conhecimento da rea, de cada estagio de desenvolvimento das foras que atuam

neste, de suas formas (Doornkamp & King 1971).

Deste modo, temos os seguintes parmetros morfomtricos analisados

neste trabalho :

A) Magnitude da bacia: definida pela ordenao dos canais conforme

Strahler apud Christofoletti (1952) e Scheidegger (1967).

5

B) Padro da drenagem da bacia hidrogrfica: definido pelo mtodo de

Strahler, considerando a linha geral do escoamento dos cursos dgua em relao

inclinao da camada geolgica.

C) Densidade de drenagem da bacia hidrogrfica: segundo Horton apud

Christofoletti(1981) definida como a relao entre o comprimento total dos canais

de escoamento e a rea total. Essa relao pode ser representada pela

expresso:

Dd= L/A; (1)

Onde Dd a densidade da drenagem; L o comprimento total dos canais

e A a rea da bacia.

E) Forma da bacia: realizada com o uso de dois ndices principais: i) o

coeficiente de compacidade e ii) o fator forma. O coeficiente de compacidade a

razo entre a rea da Bacia Hidrogrfica e a rea de um crculo de mesmo

permetro. Pode ser calculado a partir da expresso:

Kc= 0,28. P/A, (2)

Onde P o permetro da bacia hidrogrfica em quilmetros; A a rea de

um crculo igual rea da bacia, em quilmetros quadrados. Se esse valor for

prximo do valor 1 mais circular a bacia.

E) Fator forma: um ndice que consiste na relao entre a largura mdia

e o comprimento axial da bacia hidrogrfica. A largura mdia da bacia obtida

pela diviso de rea desta pelo seu comprimento. O comprimento da bacia

corresponde extenso do canal principal. Desse modo, o fator forma

representado pela expresso:

Kf= A/L2, (3)

6

Onde A a rea da bacia, em quilmetros quadrados, e L o comprimento

do canal principal, tambm em quilmetros. Valores altos para o fator forma

indicam maior circularidade da bacia, enquanto valores baixos para fator forma

indicam menor possibilidade de ocorrncias de enchentes na bacia.

Alm da anlise morfomtrica, nesta etapa da pesquisa, foram elaborados

os seguintes produtos cartogrficos, tendo auxilio do software Spring 3.6..

a) Mapa de Declividade: Foram determinadas seguindo a metodologia

adaptada de IPT (1991). Na Tabela 01 esto representadas as diferentes classes

de declividade estabelecidas para este trabalho:

Tabela 01 Classes de declividades determinadas para a Bacia do Arroio Inhacund

Classes Declividades Descries

I < 2% reas muito planas, quando da ocorrncia junto aos rios formam reas de acumulao.

II 2 12% reas onde se registram ocorrncias de processos erosivos, limite mximo para uso de mecanizao na agricultura

III 12-15% reas com inclinaes elevadas, com uso restrito de maquinrio agrcola e em reas urbanas, necessidade de cortes ou aterros

IV > 15% reas com inclinaes elevadas, com uso restrito de maquinrio agrcola e necessidades de projetos especiais para ocupao.

Org: Sangoi,D.(2006)

b) O mapa hipsomtrico da bacia do arroio Inhacund, construido com

base nas seguintes classes de altimetria apresentadas na Tabela 02;

Tabela 02-Classes altimetricas, Bacia Hidrogrfica do Arroio Inhacund.

Classes Valores I Abaixo de 100 metros II Entre 100 e 200 metros

III 200 e 300 metros

IV Acima de 300 metros Org: Sangoi,D.(2006)

7

I) Comprimentos das vertentes da bacia: definido como a diferena

horizontal entre os pontos de maior e menor cota em uma determinada vertente.

A Tabela 02 informa as Classes de comprimento de vertente obtidas e os seus

respectivos valores.

Tabela 03 - Classes e Valores de comprimento de Vertente obtidos na Bacia do Arroio Inhacund

Classes Valores

I 3000 m

Org: Sangoi.D.,2006

C) Mapa de Unidade de Terreno: As unidades de terreno foram

estabelecidas com base nos seguintes parmetros : magnitude e classificao da

drenagem; clculo do ndice de forma, coeficiente de compacidade e densidade

de drenagem; anlise altimtrica; classes de declividade; e comprimento de

vertente.

A integrao desses dados possibilitou a construo do Mapa de Unidade

de Relevo. O conceito de unidades de relevo definido como o estabelecimento

de reas com parmetros morfomtricos homogneos, tais como a altitude,

amplitude, declividade e densidade de drenagem.

Conforme Lollo apud Rodrguez (1992) existem duas maneiras distintas de

serem realizadas as anlises para a definio das unidades de relevo: o enfoque

fisiogrfico e o enfoque paramtrico. Neste trabalho utilizaremos o enfoque

paramtrico que tem o objetivo de definir reas utilizando elementos

representativos, como a declividade, a amplitude, a extenso e parmetros da

rede de drenagem.

8

2) Nvel Correlativo: a etapa onde se estabelecem as correlaes entre os dados j adquiridos e tambm onde se obtm novos dados. Nesta etapa

tambm se inicia a preparao das interpretaes e a anlise dos dados.

Neste nvel, foram realizados trabalhos de campo na rea de estudo,

objetivando estabelecer e\ou reconhecer os diferentes parmetros da bacia. Os

principais parmetros analisados em campo foram: unidades de terreno, unidades

litolgicas, ocupao do espao e feies superficiais (Vossorocas, areias e

rochas). Para a execuo dos trabalhos de campo foram utilizadas, as Cartas

Topogrficas, Bssolas e GPS

Para a execuo dos trabalhos de campo, foram executados os

seguintes.passos:

A) Lito-pedolgico:

O mapa Lito-pedolgico, pode ser descrito como um mapa geolgico

adaptado, cuja principal caracterstica o de apresentar os principais tipos de

rocha, relacionando-as com sua gnese e o ambiente deposicional. O Mapa Lito-

pedolgico informa tambm a ocorrncia de estruturas significativas com

intruses, diques e falhas.

Neste trabalho, a confeco do mapa Lito-pedolgico foi obtido atravs de

um processo composto pelas seguintes fases:

1 Fase: obteno de bibliografia especializada da rea em estudo: estabelecimento do conhecimento preliminar da rea.

2 Fase: obteno de documentos cartogrficos: reconhecimento dos principais tipos de compartimentos Lito-pedolgicos, atravs da aquisio de

cartas topogrficas, mapas geolgicos locais e regionais e imagens de satlite.

Como Ferramenta Suporte foram utilizados os seguintes materiais:

Mapa Geolgico, em Escala de 1:100000, da rea do municpio de So

Francisco, elaborado pelos Gelogos Maciel Filho, Meneghotto e Sartori,

da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 1971.

Mapa Geolgico denominado Domo do Itu, em escala de 1:250000

elaborado por Greshman et all, do Departamento de geologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Ano de 1985

9

Imagens do Satlite Landsat de 23/11/00, nas orbitas-ponto 224/80 e

223/80, nos canais RGB 342.

3 Fase: Trabalho de campo: estabelecimento in loco, de reas de cada compartimento Lito-pedolgico, detalhamento das caractersticas geolgicas de

cada compartimento, como direo e comprimento de pequenas falhas e diques.

4 Fase: Trabalho de Gabinete Posterior: agrupar as informaes adquiridas e registro das mesmas, elaborando o mapa lito-pedolgico

B) Mapa de ocupao do espao.

O Mapa de ocupao do espao o documento cartogrfico que informa o

tipo de utilizao que esta sendo realizada em determinado local. A bibliografia

mostra diversos tipos de mapas que retratam a utilizao do espao em

determinada rea. Os nomes podem variar: Uso do Solo, Uso do Terreno,

Ocupao do Solo, Classificao do Terreno, etc... porem todas remetem ao

mesmo tipo de tarefa.

Adota-se nesse trabalho o termo Ocupao do Espao, baseando-se no

pressuposto de que a ocupao das reas se d, no apenas ao nvel do solo, ou

do terreno. Sendo bem mais complexa com todo um conjunto de movimentos

dinmicos que no pode ser contida na expresso uso do solo, pois at mesmo

a expresso do solo passvel de controvrsias.

O solo definido das mais diversas maneiras por diferentes ramos das

cincias. Para os agrnomos solo a camada superficial de terra arvel

possuidora de vida microbiana, j para os engenheiros material escavvel, que

perde sua resistncia quando em contato com a gua; os gelogos consideram o

solo como produto do intemperismo fsico e qumico das rochas.

Devido a essa indefinio, decidiu-se abandonar o conceito de uso do

solo.

Por motivos idnticos a terminologia uso do terreno tambm foi

descartada. O conceito de ocupao tambm pesou na deciso, pois

demonstrava ser esta uma expresso do verdadeiro fenmeno que ocorre nas

reas estudadas. A tomada de um espao por um agente estranho (uma cultura

que avana sobre uma floresta, ou a tomada de espaos antes silvestres por

novas reas de uma cidade em rpida expanso).

10

O mapa de Ocupao espao, foi elaborado com base em trs fases

distintas:

Fase de Pesquisa em Gabinete: mediante consulta em bibliografias, foram estabelecidos os principais elementos de ocupao do espao (produtos

agrcolas cultivados, produtos silvcolas plantados e os obtidos mediante

extrao, tipos de criao de gado predominante etc...);

Fase de Pesquisa de Campo: Por meio de trabalhos de campo, observaram-se as reas de ocorrncia dos vrios tipos de ocupaes. Foram

realizadas entrevistas com proprietrios rurais objetivando estabelecer quais as

culturas que eram utilizadas atualmente, o tempo de rotao das culturas e se

haveria a existncia do binmio gado-culturas. Tambm se estabeleceu pontos de

controle (traves com coordenadas retiradas com GPS) com o intuito de

estabelecer parmetros para a classificao de imagens de satlite, para uma

maior acuracia, na classificao da imagem.

Fase de Gabinete: de posse dos dados levantados em campo, foi elaborado o mapa final de ocupao do espao, primeiramente utilizado imagem

de satlite da rea. Foram estabelecidos os principais elementos que deveriam

ser levados em considerao como agente de ocupao do espao. Foi iniciado o

processo de classificao digital da imagem, que utilizou os pontos coletados em

campo, para proporcionar uma maior preciso na resposta. Infelizmente, a

classificao digital no apresentou grande veracidade, confundindo elementos, e

estabelecendo ocupaes errneas. Essa tcnica foi abandonada, por absoluta

falta de preciso no resultado final.

Sendo assim, foi adotada a classificao manual da imagem, que consistiu

na impresso das imagens de satlite e com base nos relatrios de campo foi

elaborada uma chave de interpretao, que estabeleceu as diferentes formas de

ocupao do espao

3) Nvel Semntico. o nvel onde predomina a interpretao dos dados e das chaves criadas nos nveis anteriores. Nesta fase se obtm as concluses

mais esclarecedoras. Sendo assim, no nvel semntico foi possvel a elaborao

das unidades de terreno, bem como a sintetizao das diferentes feies

superficiais e as mltiplas ocupaes espaciais presentes na bacia. Ainda foi

11

possvel estabelecer neste nvel as primeiras interpretaes que levaram a

definio das unidades geoambientais.

A) Mapa de Feies Superficiais.

O mapa de feies superficiais foi elaborado com a finalidade de

estabelecer uma forma de cartografizar os processos de dinmica superficial

principalmente a arenizao e o vossorocamento. Esses dois processos so

fundamentais para o estabelecimento de um Mapa Geoambiental, pois onde eles

ocorrem, deve-se ter um cuidado especial com o manejo da terra, pois somente o

aparecimento destes processos j indica o quo fragilizado o local.

O mapa de Feies Superficiais ainda traz assinaladas reas com

presena de mataces e lineamentos de rochas expostas, o que evidencia

presena de forte eroso laminar e de reas com problemas de gerao de solos,

que assim como as reas de arenizao e vossorocamento, devem ter

manuteno mais cuidadosa.

O processo de Gerao do mapa de Feies Superficiais constitui-se das

seguintes fases:

Primeira fase: estabelecimento dos processos dinmicos superficiais mais significativos na rea. Elaborao da anlise das principais feies decorrentes

destes processos e se estas poderiam ocorrer na rea estudada.

Segunda Fase: realizao de trabalho de campo na rea, identificando e localizando atravs de GPS as feies superficiais encontradas.

Terceira Fase: realizao de trabalho de gabinete para elaborao do mapa de feies superficiais, utilizando imagem de satlite e coordenadas

coletadas pelo GPS com a identificao de feies superficiais, que no foram

observadas em campo, devido a restries de acesso.

Como ferramenta suporte para a elaborao dos mapas de Ocupao do

Espao e Feies Superficiais, foi utilizado como suporte a imagem do satlite

CBERS-2, do dia 22/08/02, na orbita/ponto 161/133 nos canais RGB 123.

4) Nvel Normativo: Neste Nvel se busca a representao sinttica dos resultados, seja atravs de grficos, Tabelas, cartogramas ou outros instrumentos

12

que possibilitem a normatizao das informaes adquiridas das etapas

anteriores.

Neste Nvel foram elaborados os mapas finais de Unidades de Terreno, Feies

Superficiais, e Lito-pedolgico. Dando origem ao Mapa de Unidades

Geoambientais contendo a caracterizao de cada unidade.

Os mapas geoambientais, so descritos como sendo uma entidade

especializada (...) constituindo um conjunto de problemtica homognea, cuja

variabilidade mnima, de acordo com a escala cartogrfica (Rich et al.,1989).

Para Zuquette e Gandolfi (2004), quando existe um grande nmero de

elementos e atributos, a anlise pode ser feita por meio de matrizes. Na

elaborao dessas matrizes deve-se analisar que tipo de medidas esto sendo

consideradas, se existem relaes entre elas, e se outras condies de contorno

esto sendo avaliadas. Os autores citam a obra de Berry (1964), segundo o qual

pode-se montar matrizes com os mais diversos atributos, sendo que os mapas

representam as matrizes graficamente e de uma maneira especial, em que cada

unidade do mapa indica uma clula. Sendo assim, o Mapa Geoambiental aqui

proposto, apresenta-se matematicamente como uma matriz onde as colunas so

os atributos e as linhas so os ismeros pontos.

importante destacar que, aps a definio desta matriz inicial,

considerando que algumas unidades estabelecidas, eram idnticas em quase

todos os atributos, decidiu-se pela unio dessas unidades. Esse procedimento

possibilitou uma leitura mais fcil e objetiva. Evitou-se, desse modo, uma poluio

visual desnecessria e que poderia acarretar uma interpretao errnea.

A elaborao da chave de interpretao final para o Mapa de Unidades

Geoambientais foi estabelecida neste nvel, visto que para se obter o resultado

final no estabelecimento dessas unidades, necessria a utilizao da adio

de mapas, atravs de uma matriz como exemplificado por Barry (1964) e Zuquette

& Gandolfi (2004), a Figura 02 ilustra o procedimento de adio de mapas

realizado neste trabalho.

13

Figura 02 Modelo proposto para a elaborao do mapeamento geoambiental

Org.: Sangoi,D. (2004)

14

3. FUNDAMENTAO TERICA

A fundamentao terica, apresentada neste trabalho visa apresentao

das diversas opinies dos autores sobre os seguintes temas: Evoluo do Estudo

da Geomorfologia, Geomorfologia A Anlise Ambiental, Tcnicas e Metodologias

para Mapeamentos dos Fatos Ambientais, Processos erosivos acelerados ligados dinmica superficial,

3.1 Evoluo do Estudo da Geomorfologia

A relao entre sociedade e natureza, um dos objetos de estudo da

geografia. Estas relaes so realizadas em diferentes nveis e em diferentes

escalas, em geral o desenvolvimento dessa sociedade esta associado

intensidade de explorao dos recursos contidos na natureza.

A paisagem entendida como sendo a sntese dos diversos componentes

que a produzem, ou seja, a paisagem, alm de ser um dado perceptvel e

revelador do espao, formada por elementos geogrficos que se articulam uns

com relao aos outros. Alguns elementos pertencem ao domnio natural,

abitico, como o substrato geolgico, o clima, as guas. Outros elementos

constituem o domnio vivo, a biosfera, formada pelo conjunto das comunidades de

vegetais e animais que nascem, desenvolvem-se e se dissolvem. Esta interao

e/ou sntese exposta ao do homem ao longo do tempo, que alcana, cada

vez mais, as condies tcnicas para modelar grande parte das paisagens

terrestres de acordo com os seus interesses e necessidades, reforando assim, o

fato das paisagens terrestres constiturem conjuntos desigualmente frgeis e

mutveis (DOLLFUS, 1973).

Segundo Guerra (1978) O ramo da cincia geogrfica encarregado de

estudar a formao e evoluo das estruturas que compem a paisagem,

denomina-se de Geomorfologia, palavra quem em sua etimologia, significa estudo

(logus), das formas (morpho) da terrra ( geo)

15

Segundo Ross (1992) no Brasil as primeiras contribuies

geomorfolgicas, datam do sculo XIX, quando pesquisadores naturalistas

buscavam maneira de compreender o meio ambiente. Em escala mundial essa

discusso apareceu ao longo do sculo XV. Leonardo da Vinci, nessa poca, j

observava que cada vale fora escavado pelo rio, e a relao entre os vales a

mesma que entre os rios, alm de fazer observaes sobre questes

relacionadas deposio sedimentar. Durante o sculo XVI, o conhecimento

sobre a dinmica dos terrenos pouco evolui. Apenas a obra de Bernard Palissy

(1510-1590) procura compreender o antagonismo entre as aes internas, que

criam o relevo, e as aes externas, que tentam destru-lo; o antagonismo entre o

escoamento e a vegetao, expressando claramente a idia de plantar rvores a

fim de amenizar a eroso; a importncia dos fenmenos externos no fornecimento

dos materiais constituintes das rochas, e a relao existente entre os fenmenos

geomorfolgicos e a pedologia.

Para Ross (op.cit) em meados do sculo XVIII o gelogo ingls James

Hutton (1726-1797), reconhecido como o 1 grande fluvialista, observou que as

aes na superfcie da Terra reduziriam o relevo e permitiriam arrasamento das

montanhas, chamando a teoria de "Actualismo" segundo a qual "o presente a

chave do passado". Entretanto, registrou suas idias num perfil mais cientfico do

que didtico, fazendo com que suas idias passassem complemente

despercebidas. Algumas lacunas da proposta de Hutton foram esclarecidas pelo

seu amigo John Playfair em sua obra de 1802. Entre as observaes pode-se

destacar aquela segunda a qual "cada rio consiste em um tronco principal,

alimentado por certo nmero de tributrios, sendo que cada um deles corre em

um vale proporcional ao seu tamanho, e o conjunto forma um sistema de vales

comunicantes com declividades to perfeitamente ajustadas que nenhum deles se

une ao vale principal em um nvel demasiado superior ou inferior; tal circunstncia

seria infinitamente improvvel se cada vale no fosse obra do rio que o ocupa".

Essa observao considerada como lei de Playfair, ou lei das

confluncias concordantes. John Playfair foi o primeiro e permaneceu por muito

tempo como o nico a t-la formulado e compreendido.

O gelogo alemo Abraham Gottlob Werner no sculo XIX postulou a

existncia de um oceano universal que teria contido em soluo todos os

princpios minerais de formao da crosta terrestre e todos os tipos de rochas,

16

inclusive as vulcnicas. Essa teoria foi chamada de Netunismo (oriunda do

nome do deus grego dos oceanos Netuno). A popularizao dessa corrente fez

esquecer a teoria do atualismo. Quase ao mesmo tempo de Werner, Charles Lyell

(1797-1875) publicou os Principes of Geology. Entendia a importncia das idias

de Hutton e foi seu grande divulgador, popularizando o princpio do atualismo,

realizando ataque inclemente s correntes catastrficas e fornecendo detalhes

dos processos erosivos e denudacionais. Graas as suas contribuies, a

corrente fluvialista comeou a se impor de modo definitivo.

O frances Alexandre Surrel, durante O Simpsio Geolgico de 1841,

realizado em Paris, publica um trabalho com importantes princpios

geomorfolgicos entre os quais o Princpio da Tenso Regressiva e o Princpio do

Perfil de Equilbrio. O primeiro conceito afirma que as todas as bacias

hidrogrficas apresentam algumas caractersticas comuns, isto , as pores

mais altas so reas de recepo e as pores mais baixas reas de deposio.

O princpio do perfil de equilbrio estabelece o conceito de nvel de base, ponto

onde todos os processos erosivos remontantes iniciavam. Ainda nesta mesma

poca encontram-se as contribuies importantes de Peschel (1869), Von

Richthoffen (1886) e de Margerie (1888). Podendo ser considerados como os

pioneiros na tentativa de entender os princpios de desenvolvimento das formas

de relevo a partir de um modo sistemtico (Ross,1992).

Grove Karl Gilbert (1843-1918) em 1877 definiu trs leis importantes: a Lei

dos Divisores, a Lei das Declividades e a Lei da Estrutura. A Lei dos Divisores

estabelece que as maiores declividades sejam encontradas prximo aos topos. A

lei das declividades prope uma associao entre a velocidade do fluxo de gua

inclinao a vertente e diretamente proporcional a capacidade de erosiva. A lei

da estrutura estabelece que diferentes constituintes litolgicos (rochas mais ou

menos resistentes) promovem diferentes arranjos esculturais nas formas de

relevo. Atravs de suas idias, Gilbert conseguiu isolar a Geomorfologia do

mbito Geolgico, no qual sempre estivera integrada, e lanar as bases para uma

disciplina prpria. (Gregory,1992)

Gregory (1992) informa ainda que o primeiro Modelo de desenvolvimento

integrado foi o ciclo da eroso desenvolvido por William Morris Davis entre 1884

e 1889, este ciclo foi fortemente inspirado nas teorias evolucionistas de Charles

Darwin, e baseava-se na transposio das diferentes fases da vida de um ser

17

vivo para a paisagem. Durante a juventude o relevo forte, vigoroso, os rios

entalham seus canais profundamente originando assim, vales em forma de v;

durante a fase da maturidade, os rios perdem um pouco de sua fora e h um

aplainamento do relevo regional e por fim durante a velhice o relevo esta plano e

os rios j no tm qualquer poder de eroso.

Essa teoria, nos dias de hoje, vista como ultrapassada e simplista, pois

no demonstra as variaes provocadas por eventos tcnicos recentes

(terremotos) e por crer que as diferentes fases eram compartimentadas. No

haveria concatenamento das diferentes fases. Na poca esta viso davisiana,

ganhou seguidores, como os franceses Emmanoel de Martonne (1873-1955) e

Henri Baulig (1877-1962). Produziram ensaios sobre a evoluo do relevo local

baseados nas consideraes davisianas e so considerados os principais

divulgadores desta escola na lngua francesa. A viso davisiana perdurou at

meados do sculo XX, embora autores como Alfred Hettner tenha exposto as

vrias das deficincias das pressuposies davisianas, a propsito de uma maior

influncia climtica sobre as paisagens.

So pioneiros os trabalhos pioneiros de Hutton, Lyell e Playfair, no sculo

XIX. Porem com W. M. Davis que a Geomorfologia assume o papel de cincia

independente. O emprego de mtodos quantitativos na Geomorfologia data dos

fins do sculo XIX, com uma finalidade de identificao de superfcies

homogneas. (Cristofoletti, 1981).

Em 1945 um artigo de Horton sobre escoamento e drenagem superficial,

revolucionou a Geomorfologia, pois demonstrava que os processos erosionais

podiam sofrer reativao aps os estgios descritos por Davis (c.1930) e por

tornar possvel a utilizao de parmetros morfomtricos na mensurao desses

fenmenos (Sheidegger, 1961).

Mais recentemente, o desenvolvimento das teorias relacionadas

quantificao, associadas aos estudos morfomtricos, est ligado escola anglo-

americana, onde Horton (1945), Schumm (1956), Stralher (1960), Scheiddeger

(1961), foram os principais expoentes do estudo e do desenvolvimento das teorias

e modelos de evoluo dos canais fluviais, sendo que as teorias de hierarquia

fluvial e magnitude de canais demonstram, de forma quantitativa, alguns

elementos essenciais para a compreenso do processo endgenos dentro das

bacias hidrogrficas.

18

A partir da Segunda Guerra Mundial, surgiram importantes contribuies

Geomorfologia Fluvial, destacando-se os trabalhos de Robert Horton,

relacionadas com bacias hidrogrficas, e Adrian Scheidegger no campo da

matemtica aplicada a Geomorfologia. (Cristofolotti, 1974).

Stralher(1974) trabalhou com o desenvolvimento de padres

morfomtricos, e ordenao de drenagens, afirmando que esses estavam

intrinsecamente relacionados entre si e com o desenvolvimento dos processos

nas Bacias Hidrogrficas.

A vertente exemplificada pelos trabalhos elaborados pr Pierre

Birot(1964)e Jean Tricart(1978), explorara uma perspectiva mais estrutural da

geomorfologia, muito mais ligada compresso dos processos dinmicos, a partir

da compreenso do funcionamento das estruturas geolgico-pedolgicas-

pedolgicas. Esta viso teve uma srie de seguidores como os pesquisadores

americanos Thornbury, Cookmann e Dorrnkamp.

O contnuo desenvolvimento de processos de mensurao levara ao

estabelecimento da morfometria como elemento fundamental na comparao e

compreenso de bacias hidrogrficas. Outra vertente que cresceu independente,

foi iniciada por Scheidegger em seu Theoretical Geomorphology de 1961, atravs

de uma abordagem teortica, assentara o entendimento da geomorfologia fluvial

exclusivamente na Matemtica.

Os estudos das vertentes tambm ofereciam novos paradigmas que

instigavam os Gegrafos, como Schumm (1956) quem foi o percussor do estudo

morfolgico das vertentes associados s tcnicas desenvolvidas por Horton.

J em meados da dcada de 60 e inicio da dcada de 70, as tcnicas

numricas esto solidamente edificadas na geomorfologia. Chorley (1972)

apresenta aplicao de mtodos estatstico em geomorfologia, introduzindo a

mensurao como base para um conhecimento estatstico. Porm ressalta o autor

que esta base deveria ser utilizada apenas como carter preparatrio para uma

aproximao estatstica mais complexa, no devendo, portanto, ser uma

substituta da observao em campo.

A partir da dcada de 70 e evoluindo at nossos dias, observa-se que a

geomorfologia cada vez mais se integra a outras reas, sempre se apoiando no

desenvolvimento cada vez maior de tcnicas quantitativas, em um nvel

epistemolgico.

19

Segundo Ross (1990), observamos um crescimento da contribuio alem

e sovitica (escola Russa) na geomorfologia; a escola alem com uma

abordagem que denota um entendimento de modo mais integrado, resultando em

um desenvolvimento de produtos cartogrficos cada vez mais elaborados, criando

e desenvolvendo os conceitos de Morfoescultura e Morfoestrutura, alem de

proporem a classificao taxonmica do relevo e de cartas Geoambientais e de

Geodinmica. A escola sovitica, que valoriza a elaborao de cartas em escalas

media e pequena, desenvolveu conceitos relacionados a esculturas e estruturas

dos mesmos.

Chorley e Hagget (1972) apresentam atravs da sua clssica obra de 1974,

Modelos e Teorias em Geografia, as implicaes estatsticas nas mensuraes

morfomtricas e suas correlaes com os diferentes processos de esculturao

do relevo. O autor ressalta porem estudo tem apenas um carter preparatrio,

no sendo definitivo para elaborao de anlises e que as aes estatsticas

deveriam ser aglutinadas aos trabalhos de campo e pesquisas adjacentes, para

que se obtivesse uma viso completa das atividades geomorfolgicas das bacias

hidrogrficas.

Entre as tendncias surgidas nas dcadas de 60, 70 e 80, dentro da

geomorfologia, destaca-se que a escola sovitica. A escola sovitica, fortemente

influenciada pelos conceitos penkianos (cartografia de relevo) utiliza os

conceitos de morfoescultura e morfoestrutura, para cartografizar as diferentes

formas de relevo, sem perder algumas informaes essenciais. Entre seus

principais autores encontram-se Gerasimov e Mercejakov que durante dcadas

desenvolveram suas pesquisas atrs da chamada Cortina de Ferro.

A Geomorfologia brasileira conheceu novos cenrios a partir dos anos 60 e

incio os anos 70, incorporando conceitos a Teoria Geral de sistemas e aplicando

idias relativas ao equilbrio dinmico. Hoje diferentes grupos de pesquisas,

alguns trabalhando com os eventos geomorfolgicos do Quaternrio; outros mais

voltados a pesquisas de mtodos de cartografizao, outros voltados busca de

modelos baseados em novos paradigmas sistmicos.

Atualmente h uma tendncia para a associao de geomorfologia com

outros ramos das cincias como, por exemplo, a cincia do solo. Como resultante

desta associao temos a criao de uma nova rea de estudo chamada de

microgeomorfologia que busca a compreenso do modelado do relevo atravs do

20

estudo dos processos na escala das microformas de relevo (menores que 1 m)

estudados em nosso pais por pesquisadores como Selma Simes de Castro, da

UFG(Universidade Federal de Gois).

Outra vertente de pesquisa encontra-se na unio da geomorfologia, com a

rea da fsica aplicada, principalmente com os elementos fractais, numa tentativa

de buscar a compreenso dos processos dinmicos atravs de modelos

eminentemente matemticos, representada principalmente pelo Pesquisador

ligado a Universidade de So Paulo Anderson Chistofoletti

No Brasil, alguns naturalistas, como Saint-Hilaire (1770), Ave-Lallemant

(1800), e outros, em seus relatos de viagem descrevendo algumas paisagens

brasileiras, mas apenas com carter fisionomista.

As primeiras contribuies eminentemente geomorfolgicas foram

realizadas por Azevedo em 1950. Ele foi considerado um dos fundadores da

geomorfologia brasileira e foi um dos maiores propagadores dos conceitos

davisianos.

Aziz Absaber em 1960, sob influencia da geomorfolgia alem, estabelece

uma relao entre os diferentes climas brasileiros e as formas de relevo, dividindo

o pais assim em seis domnios morfoclimticos. Dedicou-se mais tarde aos

eventos eminentemente quaternrios, na qual seu campo de observao busca

apenas estabelecer o entendimento das relaes morfogenticas (Ross,1992).

Jurandir Luciano Sanches Ross, foi fortemente influenciado pelos conceitos

dos russos Gerasimov e Mercejakov. Enquanto coordenador chefe da rea de

geomorfologia do projeto Radanbrasil, estabelece uma nova classificao para o

relevo brasileiro, baseado nos conceitos de morfoescultruras, morfoestrutura e

taxonomia de relevo.

Atualmente, com o emprego cada vez maior das tcnicas matemticas,a

morfometria adquire cada vez mais importncia nos estudos geomorfolgicos,

principalmente em bacias hidrogrficas, pois possibilita a utilizao de todo o

potencial das teorias sistmicas, que so a bases epistemolgicas atuais na

cincia geomorfolgica.

A importncia da anlise morfomtrica consiste na possibilidade de

analisarmos uma rea qualquer pr um vis quantitativo, ou seja, atribuindo a

partir de uma serie de parmetros e seus respectivos conjuntos de valores, as

caractersticas principais de cada rea, deixando de lado a simples constatao

21

visual, sem base matemtica, que durante anos perdurou na cincia

geomorfolgica.

Por meio da analise dos dados morfomtricos, tais como, declividade,

comprimento de vertente, amplitude, altimetria, densidade de drenagem,

magnitude dos canais de drenagem, posssivel estabelecer unidades de relevo

homogneas.

Bigarella (1980) exps em sua obra, que o entendimento dos paleoclimas

que existiram no Brasil a chave para o entendimento das condies atuais de

disposio do relevo brasileiro.

Alem dos Pesquisadores j citados, o quadro epistemolgico da

geomorfologia nos pais aponta para alguns outros caminhos bastante

interessantes. Dentro da linha de cartografizao dos fatos geomorfolgicos,

temos Jurandir Luciano Sanches Ross como o seu principal expoente. Na linha de

Geo-ecologia, as contribuies de Ana Luiza Coelho Neto e do seu grupo de

pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Outra linha importante a de estudo de encostas e dinmica de

escorregamentos, que desenvolvida com vigor pelo grupo do Instituto de

Pesquisa Tecnolgica (IPT). E por fim ao grupo que trabalha com o entendimento

dos processos erosivos sejam eles em bacias hidrogrficas, micro morfologia e

outros eventos de dinmica da superfcie, onde se destacam Antnio Jose

Teixeira Guerra, Sandra Cunha, Selma Simes de Castro e Antnio Carlos Vitte.

3.2. Geomorfologia e a Anlise Ambiental

A questo da taxonomia e da representao cartograficado relevo tem

revelado grande dificuldade de soluo pelo fato das formas de relevo serem

tridimensionais, apresentarem diferentes tamanhos, gneses e idades. Diante

disso, tm-se inmeras propostas de representao do relevo, que geralmente

valorizam alguns aspectos, em detrimento de outros.

Werlang (2004) define relevo como conjunto heterogneo das formas que

compes a terra. O relevo se concretiza atravs da geometria das formas que

suas formas apresentam e seu modelado ocorre pela diferenciao local e

regional

22

Para ROSS (1994), o conhecimento das potencialidades dos recursos

naturais passa pelo levantamento dos solos, relevo, rochas e minerais, das

guas, do clima, da flora e da fauna, enfim de todas as componentes do estrato

geogrfico que do suporte a vida. Esses estudos devem originar produtos

cartogrficos temticos de geomorfologia, geologia, pedologia, climatologia e uso

da terra e da vegetao.

Ross (2003, p. 26-27) ressalta que os conceitos que melhor fazem

compreender o modelado terrestre so os de morfoestrutura e morfoescultura, os

quais foram propostos por Mescherikov e Gerasimov, na Rssia (entre as

dcadas de 1940 e 1970).

O primeiro conceito diz respeito estrutura mrfica e geolgica do terreno,

geralmente referenciando-se a embasamentos estruturais (cristalinos e/ou

sedimentares). Ademais, segundo a mesma referncia, as plataformas (regies

cratnicas), as cadeias orogenticas (sejam os macios antigos ou modernos) e

as bacias sedimentares (ou seja, reas de diferentes idades e composies

litoestratigrficas) so classificadas como exemplos bem prticos de tais domnios

geolgicos. Ou seja, impossvel se analisar o relevo sem que haja uma inter-

relao entre os fatos geomorfolgicos e as aes geolgicas e climticas nele

atuantes.

Ross (2001, p. 33-35) considera, ainda, este elemento analtico e seus

respectivos domnios pela denominao de macroformas estruturais, que condiz

com a sua classificao, suas formas e disposies, o que entra em consonncia

com as propostas de Absaber (2001), ao retratar a necessidade de se conceber

estudos integrados de megageomorfologia, ou seja, reconhecer integralmente os

caracteres intrnsecos do modelado terrestre em determinadas pores

territoriais, sejam elas de pequenas, mdias ou grandes extenses territoriais

Pontuando sobre unidades de relevos Rodriguez e Pejon (1998) afirmam

que o mapeamento das unidades de relevo tem por objetivo definir reas com

parmetros morfomtricos homogneos, tais como densidade de drenagem,

altitude, declividade e amplitude.

Robaina, Cassol e Medeiros (2002) afirmam que as tcnicas de unidades

de relevo, possibilitam a avaliao de processos naturais e definem parmetros

para a susceptibilidade das reas, sendo que possibilitam uma viso integradora

dos diferentes elementos do meio ambiente.

23

Christofoletti (1981) comenta que as contribuies inseridas no contexto da

analise das formas do relevo e dos processos que lhe so inerentes, procurando

compreender a dinmica do modelado terrestre. Consideram-se essa perspectiva

como a mais til, pois permite diagnosticar o funcionamento das formas de relevo

e predizer as conseqncias que podero acontecer caso sejam rompidas

determinadas circunstancias ambientais. Por essa razo, embora tratadas como

fenmeno da natureza, as implicaes humanas so evidentes, tanto sociais,

como as econmicas.

Cristofoletti (1978) expe que o estudo das vertentes representa um dos

mais importantes setores da pesquisa geomorfolgica, englobando a analise de

processos e formas. As vertentes em seu sentido mais amplo significam

superfcies inclinadas no horizontais.

Para Guerra (1980), vertentes so planos de declividade por onde ocorrem

guas pluviais, apresentam formas variadas, agrupando-se em trs tipos distintos:

cncavas, convexas e retilneas. As vertentes cncavas apresentam a linha de

perfil com curvas de nvel mais afastadas na base aproximando-se medida que

chegam ao topo. A o contrario so as vertentes de perfil convexo, que

apresentam um perfil com curvas de nvel mais afastadas no topo e mais

prximas na base, e as vertentes de perfil retilneo constituem-se, por um perfil

onde as curvas apresentam um valor eqidistante entre si.

Sobre a origem dos diferentes tipos de vertentes, Birrot (1964) afirma que

elas variam conforme diferentes aspectos, como por exemplo, clima, natureza da

rocha e sua estrutura, aspectos pedolgicos.

Para Mercejakov (1968) os processos de morfogenticos so responsveis

pela esculturao das formas de relevo, representando a ao dinmica externa

sobre as vertentes. Esses processos no atuariam separadamente, mas em

conjunto no qual a composio qualitativa e a intensidade dos fatores respectivos

diferente. Esse conjunto de fatores responsveis pela elaborao tem

desenvolvimento diferente e a sua eficcia igualmente variada, conforme o meio

que age.

Oposto a este raciocnio, Cristofoletti (1974) considera esses processos de

forma isolada e vai alm, pois consegue distingui-los isoladamente. O autor

resume as seguintes categorias mais importantes da morfognese do estudo do

24

modelado das vertentes: meteorizao, movimento de massa, processos

morfogenticos fluviais e a ao biolgicas.

Penteado (1983), afirma que as vertentes apresentam-se geralmente com

a forma cncava e convexa com ou sem seguimentos retilneos intercalados. A

mesma autora, afirma ainda que muito difcil descrever geometricamente uma

vertente, pois os declives so irregulares e por isso mesmo raramente podem ser

descritos por equaes matemticas

3.3. Tcnicas e Metodologias para Mapeamentos dos Fatos Ambientais

Por muito tempo a Cartografia esteve preocupada na representao de

como o mundo , mas novas necessidades passaram a ser exigidas, voltando-

se para a representao de como o mundo funciona. Isso no significa que os

princpios da Cartografia mudaram, mas, que seus produtos necessitam novas

formas de representao, incluindo simbologias que tornem legveis a

geoinformao apresentada aos usurios.

Para o IBGE (2002) as cartas e mapas so representaes grficas no

plano, normalmente em escalas reduzidas, dos aspectos naturais, culturais e

artificiais de qualquer superfcie terrestre.

Para Salom e Van Dorsser (1982) o propsito dos mapas geomorfolgicos

o de apresentar uma representao grfica das formas de relevo em uma rea

e indicar seu raio de influencia.

Para Ross (1992) a cartografao geomorfolgica ressente-se da

dificuldade de encontrar um modelo de representao, que valorize todos os

elementos envolvidos nos processos geomorfolgicos.

Para Demek (1967) extensas analises descritivas das formas, idades e

gneses do relevo tornam-se muito mais ricas e lgicas quando acompanhadas

por documentos cartogrficos nos quais estes estejam espacializadas.

Balatka & Sladek (1967) apud Cunha et al (2003) consideram o

mapeamento geomorfolgico tanto resolve uma srie de problemas

geomorfolgicos prticos como evita a ocorrncia destes, principalmente atravs

25

da identificao de reas favorveis ou desfavorveis ao desenvolvimento das

atividades humanas.

Tricart (1967) elaborou uma metodologia de mapeamento na qual todo

importncia esta centrada nas formaes superficiais, indicando tanto o grau de

resistncia erosiva, como a litologia que a sustenta. O autor ainda sustenta que,

no universo das cartas geomorfolgicas de detalhe devem fornecer uma anlise

de todos os elementos do relevo, constituindo se em um documento complexo

que gera difceis problemas cartogrficos, no que tange a sobreposio dos

smbolos e cores.

Verstappen e Zuidan (1975) centram, em seu clssico trabalho, todo peso

do mapeamento geomorfolgico na identificao das formas e nas caractersticas

litolgicas, deixando em segundo plano, todas as demais informaes. Para estes

autores h trs tipos bsicos de mapas geomorfolgicos: os mapas preliminares,

cuja elaborao ocorre antes do trabalho de campo, com base somente na

interpretao de fotografias areas; os mapas com fins gerais, que so resultado

das investigaes geomorfolgicas puras, sem fins especficos; e os mapas com

fins especiais, que visam orientar ou resolver problemas especficos.

Para Ross (1992) a cartografao geomorfolgica deve mapear

concretamente o que se v e o no o que se deduz da anlise, portanto os mapas

geomorfolgicos devem representar os deferentes tamanhos das formas de

relevo e em seguida as representaes morfomtricas. Devem-se aplicar a

cartografia geomorfolgica, os mesmos princpios da cartografia de solos ou da

cartografia geolgica.

A concepo da paisagem tem sido de grande aplicabilidade nos estudos

de Ecologia da Paisagem, particularmente nos trabalhos de cartografia das

unidades de paisagem (Fedorowick, 1993; Rocha, 1995; Schreider, 1990), com

vistas ao manejo dos recursos naturais.

De maneira geral, os estudos de ecologia da paisagem envolvem

diretamente a cartografia de unidades de paisagem e procuram subsidiar as

aes de Planejamento da Paisagem em uma perspectiva ecolgica (Hendrix et

al., Odum, 1988). Nesses estudos, a paisagem dividida em unidades funcionais.

Cada unidade hierarquizada em funo de valores relativos que possui para a

comunidade e tambm, frente s necessidades de produo e proteo dos

recursos naturais, do uso do solo e da proteo ambiental.

26

Inumeros autores desenvolveram tecnicas ou metodologas para anlise

ambiental. Entre eles podemos citar Rich et al. (1989) que trabalha com o

conceito de unidades geoambientais definido-as como sendo uma entidade

espacializada, na qual o substrato (material de origem do solo), a vegetao

natural, o modelado e a natureza e distribuio dos solos, em funo da

topografia, constituem um conjunto de problemtica homognea, cuja

variabilidade mnima, de acordo com a escala cartogrfica.

Pio Fiori (2004) afirma que as tcnicas para elaborao dos mapeamentos

geoambientais variam bastante, mas que de um modo geral consistem na

sobreposio de mapas temticos, entre os quais se destaca o geolgico, o

geomorfolgico pedolgico, litolgico, uso e ocupao. Cada qual caracterizando

comportamentos homogneos.

Para Zuquette e Pejon (1996) o mapeamento baseado no conceito de

Unidades de Terreno permite que se estabelea uma srie de anlise com maior

segurana, tais como: as covariaes dos atributos, a validade das extrapolaes

a impossibilidade quanto a interpolaes e o controle espacial dos atributos.

Segundo Lollo e Rodrigues (1998) h duas maneiras de distintas de

estabelecer as unidades de terreno: o enfoque fisiogrfico e o enfoque

paramtrico. O enfoque fisiogrfico tem seu mote na delimitao das unidades

com base na visualizao dos processos de formao do relevo. O enfoque

paramtrico tem o objetivo de delimitar reas diferenciadas utilizando parmetros

representativos tais com declividades, amplitudes, extenso e parmetros

diversos de rede de drenagem.

Monteiro (2004) considera que os sistemas ambientais (geossistemas) so

integrados por variados elementos que mantm relaes mtuas entre si e so

continuamente submetidos aos fluxos de matria e energia e que resulta numa

unidade de organizao do ambiente natural. Em cada sistema verifica-se,

comumente, um relacionamento harmnico entre seus componentes e eles so

dotados de potencialidades e limitaes especficas sob o ponto de vista dos

recursos ambientais.

O diagnstico geoambiental utiliza-se de anlises setoriais que servem de

meio para a integrao dos componentes. Adotaram-se procedimentos que

conduzem delimitao dos sistemas ambientais, em consonncia com

27

pressupostos metodolgicos integrativos capazes de apresentar e compreender

as relaes de interdependncia entre os componentes fsico-biticos

3.4. Processos erosivos acelerados ligados dinmica superficial

Os processos de dinmica superficial so responsveis pela modelagem

da superfcie terrestre. Os resultados desses processos so os objetos de estudo

da geomorfolgia. Para Embleton & Thornes (1979) apud Infanti jr. & Fornasari

Filho, (2002) esses processos so aes dinmicas ou eventos que envolvem a

aplicao de foras sob certos gradientes. E so provocados por agentes como

gua, chuva, vento, rios, etc...

O processo erosivo causado pela gua das chuvas tem abrangncia em

toda superfcie terrestre , em especial nas reas com clima tropical onde ndice

pluvial bastante alto.

Segundo Guerra (1999) regies ou reas onde as chuvas se concentram

em determinados pocas do ano , agravam ainda mais a eroso> os processos

tendem a se acelerar onde as terras so desmatadas para explorao de madeira

ou uso agrcola pois os solos ficam desprotegidos da cobertura vegetal.

Para Oliveira (1999) a identificao dos mecanismos que determinam os

processos erosivos fundamental para a elaborao de projetos de controle da

eroso e deve ser cuidadosamente definidas durante a etapa de cadastramento

de processos erosivos no campo.

Para o cadastramento dos possessos erosivo em campo preciso que se

tenha muito claro a terminologia a ser utilizada. Neste item sero apresentados os

conceitos de ravinas, Vossorocas e arenizao segundo diferentes autores.

Segundo Guerra (1993) entende-se por vossoroca o resultado obtido pela

escavao do solo ou de rocha decomposta pelo lenol de escoamento

superficial.

Para Bigarella (2004) a eroso em sulcos, valas ou ravinas se

desenvolvem rapidamente deixando traos acentuados de sua ao. Os sulcos

so abertos pelos pequenos filetes que se encaixam na superfcie pela remoo

de detritos ao longo de seu fluxo. O escoamento deixa de ser laminar e passa se

concentrar em um nico local. Com a retirada desses detritos, a velocidade da

28

gua torna-as maior, gerando uma catalisao do processo, e por conseguinte

uma eroso regressiva a montante. Cabe destacar ainda que o autor considera

que esses filetes, so em sua maioria originrios pelas trilhas de gado, a ao de

arados ou mesmo como retratado por LAZARROTO (2003) pelo trabalho, das

formigas, tatus e outros animais.

Para Maciel Filho (1994) diferencia as ravinas das Vossorocas, para o

autor ravina o sulco provocado por um agente erosivo que a gua da chuva e

o vossorocamento o processo originado no s pela gua da chuva, mas

tambm pela ao da gua subterrnea.

J para Infanti jr. E Fornasari Filho (2002) o processo de vooramento

mais complexo, pois se desenvolve de duas maneiras diferentes e concomitantes,

a primeira em um nvel superficial (eroso laminar) e subsuperficalmente, atravs

do efeito piping.

Os mesmos autores destacam ainda, que as Vossorocas so palco ainda

de uma srie de fenmenos: eroso interna, solapamentos, desabamentos e

escorregamentos.

Para Bigarella (2004) as Vossorocas so processos cclicos, constituindo

de quatro fases: a primeira a eroso do canal e o encaixamento, num segundo

momento ocorre o retrocesso da cabeceira e o rpido alargamento do nvel de

base, aps a recomposio e em seguida sua estabilizao, porm o autor

salienta que esse processo retroalimentavel, pois uma nova mudana no nvel

de base propiciaria uma nova reativao do processo.

Suertegaray (1995) afirma que a ampliao das Vossorocas, cuja evoluo

remontante, possibilita o alargamento do canal de escoamento. Esse

desencadeia a formao de sub-canais que no conjunto transformaram reas de

retrabalhamento recente.

Bigarella (2004) informa ainda que h ainda seis tipos bsicos de

Vossorocamento: a Vossoroca de forma linear; a bulbiforme; a dendrtica, mais

comum a Vossoroca em trelia; a pararela e a composta.

Segundo Guerra & Cunha (2002) o desenvolvimento das Vossorocas

depende de uma srie de condicionantes que devem agir simultaneamente. A

eroso das cabeceiras atravs do processo da eroso denominado splash , a

eroso laminar (runoff) que fragiliza as camadas mais superficiais do solo, o efeito

29

piping (Eroso Tubular) que permite o estabelecimento de canais subsuperficiais,

e por conseqncia a perda de coesividade do solo.

Bigarella (2005, pg 938) afirma que Embora a eroso tubular opere atravs de

vrios mecanismos, no abrange as formas de

dissoluo responsveis pelas cavernas e pelas

feies da topografia crstica (...). A eroso tubular

afeta materiais desde argila at cascalho nos

aluvies , bem como loess, cinzas vulcnicas, solos,

alm de rochas argilosas, siltitos entre outras

Esta explicao abrange as feies que o autor relaciona com o efeito da

eroso tubular extremamente intensa, na qual os canais subterrneos carream

todos os materiais finos, formando vazios e condutos que a posteriori ocasionara

um solapamento to teto destes canais, levando a abertura de Vossorocas.

Suertegaray (1995) identifica uma relao muito prxima entre os

processos de Vossorocamento e arenizao, pois ambos agem em espaos

fragilizados em que o substrato facilmente desagregvel. Os processos de

arenizao segundo Suertegary(1988) entendido como o retrabalhamento de

depsitos arenticos pouco ou nada consolidados e que promovem nessas reas

, uma dificuldade de fixao da vegetao devido a constante mobilidade dos

sedimentos.

Para Souto (1984) os processos de arenizao tm se intensificado com o

passar dos anos, em reas em que o substrato arenoso e apresenta-se frivel,

com cobertura vegetal escassa. tornando-se assim extremamente frgil. Nessas

formaes, a porosidade e permeabilidade so elevadas e o nvel fretico tende a

aprofundar-se dificultando a vegetao. Cabe destacar ainda que, segundo

Suertegaray e Verdum (2005), os processos de arenizao vm se tornando cada

vez mais preocupantes, pois o manejo equivocado desses ambientes,

naturalmente frgeis, acarreta uma expanso muito rpida das reas de

arenizao.

Na discusso sobre a origem dessas manchas de areia e das Vossorocas,

os diversos autores salientam que a ao antrpica e os processos naturais agem

de maneira combinada na deteriorao da natureza, sendo que esse tempo de

30

eroso natural, mas o homem com sua forma de ocupao e apropriao do

meio acabam acelerando esse processo (Auzani, 2003).

3.5. Geomorfologia e Geologias Regionais

Para Absaber (1964) a rea em estudo compreende aos domnios dos

chapades e das escarpas estruturais, O mesmo autor em 2003 assim descreve

assim a geomorfologia da depresso perifrica: Ao Sul (...) sucede-se depresso central

do Rio Grande do Sul, onde se desenvolveu a larga e frtil plancie aluvial (...). Enquanto essa faixa rebaixada dominada por uma topografia de coxilhas, constituindo-se num dos setores mais tpicas da campanha gacha.

A rea de Estudo esta localizada na transio entre duas provncias

gemorofolgicas: a Depresso Perifrica e o Planalto sul-rio-grandense. (Muller

Filho, 1970). Segundo esse autor A depresso Perifrica o domnio das amplas

plancies aluviais dos Rios Jaci, Santa Maria e Ibicu, com a presena de

inmeros morros testemunhos originrios da exposio e eroso diferencial

provocada pela acentuada silicificao do Arenito Botucatu.

O Planalto Sul-brasileiro, que abrange a regio norte da rea em estudo,

apresenta, na regio, segundo Mulher Filho (1970), um relevo suavemente

ondulado, formado por coxilhas de pequena extenso, dotado de uma litologia

basltica.

Segundo Medeiros, Veiga e Muller Filho (S/D) as caractersticas

geomorfolgicas esto relacionadas as rede de drenagem do Rio Ibicu e de seus

tributrios e com as estruturas geolgicas encontradas na regio, sendo muito

importante na regio atividade tectnica. Com base nestas informaes os

autores elaboraram a seguinte classificao:

Conjunto de colinas de sedimentao pleistocnica; Colinas de sedimentao pleistocnica superposto; Colinas de depsitos cenozicos; E um conjunto de cerros tabulares Plancie aluvial de formao recente

31

E o conjunto mais significativo, composto por colinas capeadas por sedimentos quaternrios, algumas vezes holocnicos e

quaternrios.

Conforme Suertegaray (1989), a Bacia Hidrogrfica do Arroio Inhacund

possui geomorfologia constituda de quatro compartimento assim identificados:

encosta do planalto, com basalto da Formao Serra Geral e com presena de

Arenitos Silficados; morros testemunhos capeados de Basalto, com a presena

arenitos nas camadas inferiores; reas de coxilhas suaves, originrios de

depsitos arenitos da Formao Botucatu e da Formao Rosrio do Sul,

recobertos por reas de sedimentos de origem Pleistocnica e holocnica e

depsitos aluviais. Segundo Suertegaray, et al (1989), na cuesta de So Francisco de Assis,

O trabalho de entalhamento do Arroio Inhacund, originou vales festonados e

uma escarpa com front no sentido SE-NW

Os mesmos autores ainda afirmam que o trabalho de eroso diferencial

nas vertentes, motivados pela silicificao dos arenitos, provocou um processo

erosivo em forma de degraus.

E por fim, um ltimo compartimento a plancie aluvial, corresponde a

feies de fundo chato, na qual a importantes plantaes de arroz. (Suertegary et

al, 1989)

Os primeiros trabalhos sobre a geologia de So Francisco de Assis,

recorrem a Maciel Filho, Meneghotto e Sartori, de 1971. Esse trabalho registrou a

presena na rea do municpio de So Francisco de Assis, das formaes Santa

Maria do Trissico; a Formao Botucatu, de origem Juro-cretceo, e Serra Geral

de Origem Vulcnica e datado do Jurssico/Cretceo.

Recentemente, Lavina e Scherer (2002). Descreveram uma sucesso de

fcies constituda por interdigitao de sedimentos de origem lacustre, fluviais e

elicos, caractersticos da Formao Botucatu e da Formao Guar, sendo

importante ressaltar o sistema de Falhas com direo NE-SW provocando assim

grande movimentao tectnica.

Importante Contribuio geologia estrutural foi ao trabalho de Carraro,

Eick e Gammermann de 1985, no qual os autores, com base em fotos areas,

32

localizaram as falhas existentes na regio, constatado que esses lineamentos

possuem direo NW-SE, em sua direo principal, com fraturas combinadas e

intercaladas em direo NE-SW, acarretando ainda uma srie de blocos

rebaixados.

Recentemente Scherer, et al, em artigo Intitulado Arcabouo Estratigrfico

do Mesozico da Bacia do Paran, elaboram uma nova Seqncia para a

deposio durante o perodo Mesozico,utilizando-se de modernas tcnicas de

estudos estratigrficos propondo uma seqncia Neo-jurassica, formada em

ambiente de deposio Fluvio-elico, a Formao Guar.

A Formao Guar, segundo a descrio de Scherer et al. (2002),

constituda por uma sucesso de arenitos finos a conglomerticos de colorao

que vai do avermelhado ao esbranquiado, com comportamento estrutural

cruzado e/ou plano-paralelo. Na regio de So Francisco de Assis, a formao

constituda de arenitos grossos a conglomerticos com estratificaes

acanaladas, de espessura mdia de 100 metros.

A Formao Botucatu, foi descrita pela primeira vez por Segundo DNPM

(1971) por Gonzaga Campos em 1889. De idade Jurssico-cretacea e compe se

de arenitos elicos avermelhados, sedimentos inicialmente de caractersticas

fluviais, sobrepostos por arenitos eminentemente elicos, de granulometria mdia

a fina, com estratificao cruzada, caractersticas de ambiente deposicional

elico. A espessura desta formao e varivel, chegando atingir 100 metros.

A sedimentao do Botucatu no Rio Grande do Sul foi estudada por

Scherer (1988) apud Scherer et al. (2002). Os autores propem que a Formao

Botucatu representa uma interao entre arenito-lava das formaes vulcnicas

subseqentes, devido s observaes entre os contatos lava-dunas. Esse contato

acabou por formar uma camada silicificada superior que serve como feio

mantenedora, tornando possvel a ocorrncia de eroso diferencial. A maior

resistncia dessa rocha torna comum o aparecimento na regio, de morros com

topos planos, semelhantes s mesas das regies de clima mais seco.

A Formao Serra Geral, descrita inicialmente por White (1909) apud

Scherer et al. (2002), constituda por os derrames baslticos que ocorrem no sul

do Brasil, bem como as intrusivas associadas (sills, diques, etc.) de idade

Jurssica/Cretcea (Maciel Filho, Meneghotto e Sartori,1971). Ainda segundo

33

esses os autores, as rochas principais da formao encontradas na regio so os

basaltos que se apresenta em vrios derrames, formando patamares, sendo

comum o fenmeno da esfoliao. Ressalta-se ainda a ocorrncia de grandes

reas onde os basaltos se encontram em avanado estado de alterao. Verifica-

se entre os derrames a presena significativa de arenitos intertrpicos, de

pequena espessura ( 1 a 5 metros).

3.6 Antecedentes: Evoluo da ocupao humana da rea de estudo

A regio onde hoje se situa o municpio de So Francisco de Assis(

emancipado em janeiro de 1884), tem como primeiros ocupantes conhecidos os

ndios Tapes, cujos registros mais antigos so anteriores ao sculo XV.

O Tratado de Tordesilhas, em 1482, fixou as ento terras dos ndios Tapes

como pertencentes coroa espanhola. Esses, mais preocupados com a busca

por ouro, pratas e outros metais preciosos, negligenciaram as terras planas da

campanha por pelo menos dois sculos.

A situao comea a modificar em meados do sculo XVII com as

bandeiras paulistas que aprisionavam ndios para posterior revenda como

escravos para as plantaes da ento colnia portuguesa. Como contrapartida

essas empresas ajudavam a expandir os domnios lusitanos no sul do continente

atravs da fixao de populao criolla nessas terras sem dono.

Em 1628 ocorre a da destruio das 18 redues de jesuticas de Guair,

com disperso de milhares de indgenas pelas terras compreendidas entre os rios

Paran e Uruguai. Essa destruio das redues jesuticas ocorreu com uma

destruio de suas estncias, deixando centenas de milhares de cabeas de gado

que acabaram se tornando selvagens.

O tratado de Madrid, de 1750 estabeleceu um novo limite entre as duas

coroas, na qual a casa espanhola ficaria com a Colnia de Sacramento, na

Regio do Prata enquanto que Portugal ficaria com a regio conhecida como Sete

Povos Missionrios. O rei portugus, temendo uma insurreio indgena, ordena a

expulso dos jesutas das redues e o desmantelamento total dos Sete Povos.

Tem incio a guerra guarantica que culminar com a destruio completa desses

povos e a expulso dos jesutas.

34

Pelo Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, a regio oeste do Rio Grande

do Sul passa para fazer parte novamente do imprio espanhol sendo que a linha

divisria seria deveria ser demarcada por uma comisso mista binacional.

Em 1801 as escaramuas luso-espanholas esto mais violentas que

nunca, um estancieiro, Vitor Nogueira da Silva, embosca e dizima um batalho

espanhol com mais de 200 homens, sendo esta a primeira vitria portuguesa nas

terras missioneiras contra os espanhis. Nogueira da Silva recebe como prmio,

uma sesmaria na Regio do Rio Itajur, sendo condicionada esta, a construo

de um forte as margens do rio Inhacund.

Em 1812 registra-se a elevao da povoao a condio de capela, a

capela de So Francisco de Assis. Fazia parte do ento municpio de Rio Pardo,

cuja rea cobria uma extenso de aproximadamente 2/3 do atual estado do Rio

Grande do Sul. Quarenta anos depois, em 1857, a capela passa a condio de

parquia, com jurisdio submetida ao municpio de So Borja. Em 4 de janeiro

de 1884 So Francisco de Assis elevada a condio de vila e em 1938 a

condio de municpio pelo decreto n 7199.

3.7 Antecedentes: Evoluo humana de So Francisco de Assis

A rea onde se encontra o atual municpio de so Francisco de Assis teve

seus primeiros habitantes os ndios Tapes, do grande grupo dos Gs com forte

influencia dos tupis-guaranis. Devidos s disputas fronteirias, espanhis e

portugueses expulsaram os indgenas da regio e localizaram ali, suas guardas

de fronteiras, fortificaes militares, que ora eram espanholas, ora eram

portugueses. Devido a essas constantes trocas, muitos soldados, reformados ou

desertores, estabeleceram-se na regio.

A busca pelo gado criado selvagem e disperso depois da destruio das

misses jesuticas, fez com que um nmero considervel de pessoas ocupasse

os rinces assisenses. Em conversas com moradores locais, informaes

referentes aos assentamentos primitivos do conta de que grande nmero de

aglomerados locais da regio, como a Vila Kraemer e Vila Santa Rosa, surgiram

35

como entrepostos ou paradouros para os antigos tropeiros descansarem, na

prtica de levar essas tropas de gado para centros mais desenvolvidos.

Outro aspecto das estncias a utilizao de mo de obra escrava por

parte dos proprietrios. O que possibilitou no aparecimento do elemento afro-

brasileiro na regio.

Durante o boom da imigrao italiana, em meados do sculo XIX, a

regio de So Francisco de Assis, foi um ponto de fluxo de italianos,

estabelecidos na regio mais declivosa e de difcil acesso (relegada pelos

grandes estancieiros). Os colonos italianos estabeleceram pequenos minifndios,

onde a produo de vinho e aguardente, para comercializao na prpria cidade e

arredores, foi substancialmente importante para o seu estabelecimento na cidade.

Outros grupos de imigrantes convergiram para a cidade, destes os mais

destacados foram os de origem alem, cuja data inicial de chegada cidade e de

1926.

Atualmente, So Francisco de Assis possui uma populao de 26.000

habitantes (IBGE, 2005), com cerca de 80% da populao estabelecida na zona

urbana. Um dado interessante mostra a fuga dos jovens da cidade, seja para irem

estudar em cidades maiores (Alegrete, Santa Maria, Santana do Livramento) ou

para buscarem emprego em centros maiores.

3.8 Solos

A Pedologia local e bastante variada. Segundo relatrio EMATER (2001),

h oito unidades diferentes que so no municpio. Os solos de origem arentica

so abundantes , principalmente os Latossolos e os Argilosolos, e em menor

nmero os Alissolos. Esses solos so bastante frgeis , extremamente

susceptveis a eroso e com manchas de neossolos intercaladas. Nas regies

mais declivosas os solos so raros. Quando presente, esto associados s

rochas aflorantes. Na vrzea dos rios Inhacund e Ibicui, encontram-se os solos

de origem hidromrfica, associadas aos solos argilosos.

36

3.9 Clima

O clima da rea, de acordo com a classificao de Koppen (Nimer,1979)

recebe a denominao de CFAh, ou seja subtropical mesotrmico,

constantemente mido.Esse clima caracterizado por meses de frio, com geadas

de maio a agosto, e calor intenso, principalmente nos meses de janeiro e

fevereiro, sendo que a temperatura mdia nos meses mais quentes superior a

20 C. A continentalidade importante fator para as amplitudes trmicas

acentuadas. As precipitaes so bem distribudas durante todo o ano, e sua

gnese esta ligada aos sistemas de fretes frias que dominam periodicamente o

clima do estado (Barros Sartori, 1978), e seus ndice variam entre 1250 e

1500mm/ano, devido a regularidade das frentes frias , os ventos predominantes

so os dos quadrantes Sul (chamado popularmente de Minuano) e Sudoeste

(Pampeano).

3.10.Vegetao

A distribuio da vegetao est associada ao solo, s condies

climticas e a disponibilidade de gua. As variedades de vegetao no municpio

so bastante limitadas devido ao tipo de solo ser de origem arentica em sua

maioria, medianamente frtil, parcialmente coberto por florestas. A vegetao

representada por campos limpos com pastagens nativas e exticas, bons para

criao de gado. As espcies nativas mais comuns so Angico, Cedro, Cabriva,

Ip e Guajuvira. A espcie extica mais comum e o Eucalipto.

Na rea em Estudo, pode-se observar trs tipos de conjuntos floristicos: os

campos, os capes de mata nativa e as matas galerias ao longo dos rios.

Marchiori estudou longamente esses biomas e desenvolveu diversos

trabalhos, Em suas obra de 2004, o autor debrua-se sobre a vegetao dos

campos sulinos, tecendo diversas comparaes com outros tipos de campos

nativos espalhados pelo globo. Marchiori afirma que estes campos so relquias

de climas pretritos mais secos, fato que explica a ocorrncia de espcies de

caractersticas cactceas como o butiazeiro-ano, em climas midos como o sul

do Brasil. Bigarella (2003) tambm considera essa hiptese. Esse autor considera

37

que a atual distribuio da vegetao resultado de inmeras alternncias entre

climas secos e midos no sul do Brasil.

As Matas galerias limitam-se s vrzeas dos rios, e so constitudas por

arbustos de pequeno porte. As principais espcies so o Sarandi e a Amarilha,

alem de pequenas plantas como unha de gato, viuvinha e Espinillho que so

encontradas nos limites entre as matas-ciliares e as outros biomas.

Os capes so localizados geralmente entre as coxilhas e em outros locais

com gua em abundancia oferecendo uma rica diversidade de espcies, os

capes da regio de So Francisco tm como espcie mais comum os Icamaqu,

o Pau-ferro, a Tinbauva e o Espinilho. Cabe ressaltar ainda a presena de uma

rvore que um smbolo da regio: O butiazeiro- ano. Sua Primeira descrio

foi feita pelo viajante naturalista Ave-llalemant em 1858 e a planta caracterstica

dos chamados campos de areia. A planta apresenta caractersticas xeromrficas

(sem folhas caule robusto, pequeno porte), evidenciando um clima anterior muito

mais seco. Essa planta estende-se da regio da campanha gacha e adentra aos

territrios argentino, uruguaio e paraguaio.

Por fim, cabe uma meno a introduo de espcies exticas na regio.

Dentre todas as espcies exticas que se encontra na regio, as mais

significativas so o Pinus Elliot e o Eucalipto. Essas espcies se adaptam

excepcionalmente bem as condies climticas locais e so cultivados em larga

escala. Acarretam problemas ambientais como rebaixamento do nvel fretico,

pois essas duas espcies necessitam de um grande referencial hdrico para sua

sobrevivncia

Atualmente, com o emprego cada vez maior das tcnicas matemticas, a

morfometria adquire cada vez mais importncia nos estudos geomorfolgicos,

principalmente em bacias hidrogrficas, pois possibilita a utilizao de todo o

potencial das teorias sistmicas, que so a bases epistemolgicas atuais na

cincia geomorfolgica.

A importncia da anlise morfomtrica, consiste na possibilidade de

analisarmos uma rea qualquer pr um vis quantitativo, ou seja, atribuindo a

partir de uma serie de parmetros e seus respectivos conjuntos de valores, as

caractersticas principais de cada rea, deixando de lado a simples constatao

visual, sem base matemtica, que durante anos perdurou na cincia

geomorfolgica.

38

4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS

A indicao para a continuidade dos trabalhos de anlise morfomtrica na

Bacia do Arroio Inhacund aponta para a necessidade de desenvolvimento de um

modelo interpretativo para elucidar a compartimentao geomorfolgica e, a partir

da, elaborar sugestes de unidades homogneas nas reas de estudo. Esse

modelo um processo identificado como caracterizao

geolgica/geomorfolgica da rea. Essas informaes so integradas para

produzir Mapas Unidades de Terreno que so elementos importantes nessa

caracterizao.

4.1. Anlise dos Parmetros Morfomtricos

A bacia do Arroio Inhacund apresenta uma hierarquia fluvial de 5 ordem

que se estabelece a partir da confluncia do Arroio Inhacund e o Arroio Carai-

passos.

De uma maneira geral, considerando-se a linha de escoamento dos cursos

de gua em relao com a inclinao das camadas geolgicas, o Arroio

Inh