Dissertação Gustavo de Oliveira Fulgêncio

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Gustavo de Oliveira Fulgêncio PREVALÊNCIA DE OFTALMOPATIAS EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS COM Leishmania (Leishmania) chagasi NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE – ESTUDO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO Dissertação apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária. Área: Clínica e Cirurgia Orientador: Prof. Fernando Antônio Bretas Viana Belo Horizonte Escola de Veterinária - UFMG 2006

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Gustavo de Oliveira Fulgêncio

PREVALÊNCIA DE OFTALMOPATIAS EM CÃESNATURALMENTE INFECTADOS COM Leishmania (Leishmania)

chagasi NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE – ESTUDOCLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO

Dissertação apresentada à Universidade Federal deMinas Gerais, Escola de Veterinária, como requisitoparcial para a obtenção do grau de Mestre emMedicina Veterinária.Área: Clínica e CirurgiaOrientador: Prof. Fernando Antônio Bretas Viana

Belo HorizonteEscola de Veterinária - UFMG

2006

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F963p Fulgêncio, Gustavo de Oliveira, 1976- Prevalência de oftalmopatias em cães naturalmente infectados com Leishmania (Leishmania) chagasi no município de Belo Horizonte-MG, Brasil – Estudo clínico e histopatológico (2005-2006) / Gustavo de Oliveira Fulgêncio. – 2006 48 p. : il.

Orientador: Fernando Antônio Bretas VianaDissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de

VeterináriaInclui bibliografia

1. Cão – Doenças – Teses. 2. leishmaniose visceral – Teses. 3. Oftalmologia veterinária – teses I. Viana, Fernando Antônio Bretãs. II. Universidade Federal de Minas Gerais. III. Título.

CDD – 636.089 77

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela oportunidade de viver e sonhar;

Agradeço especialmente ao meu pai, Leonardo Fulgêncio, pelo exemplo de caráter,organização, disciplina e apoio incondicional em todos os momentos da minha vida;

À minha mãe, Célia Maria de Oliveira Fulgêncio, pela perseverança, dedicação, obstinaçãoe superação. Foi ela quem me ensinou a olhar além das montanhas de Minas;

Aos meus irmãos Leonardo Fulgêncio Junior e Rodrigo de Oliveira Fulgêncio, pelapaciência, apoio e companheirismo;

Ao professor e orientador Fernando Antônio Bretas Viana, pelos anos de convivência eaprendizado, pela paciência, bom humor, ricos ensinamentos em oftalmologia e na arte deviver;

À Professora Marilene Suzan Marques Michalick, pelos valiosos ensinamentos emparasitologia, por acolher-me nos momentos difíceis e me guiar com experiência e destrezasobre o caminho das pedras;

Ao Professor Renato Lima dos Santos, pelos materiais cedidos e ensinamentos empatologia e histopatologia;

À Professora Maristela Silveira Palhares, pelo apoio e incentivo no início do projeto;

Aos Professores Paulo Sérgio de Moraes Barros e Maria Norma Melo por aceitaremparticipar da banca de defesa e pelas ricas contribuições na revisão da dissertação;

Às meninas da patologia (Fabiana, Patrícia, Aline, Jankerle e Sílvia) sempre atenciosas eprestativas;

À Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, meu berço, e aosqueridos Professores;

À Universidade Presidente Antônio Carlos, Campus Bom Despacho - MG, pelaoportunidade de trabalho e aprendizado contínuo;

Aos meus amigos e amigas, por estarem sempre próximos nos momentos felizes e difíceisda minha vida;

Aos proprietários dos cães que permitiram a participação de seus animais nesteexperimento;

Por fim, aos cães, que com o seu sofrimento contraíram a leishmaniose visceral econtribuíram para um maior aprendizado acerca da sintomatologia clínica e oftalmológicadesta doença.

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ESFORÇO E TALENTO

“Não há superioridade sem estas duasqualidades. Havendo ambas, asuperioridade supera a si mesma. Amediocridade com o esforço conseguemais do que os superiores que não ofazem. O trabalho dignifica e com ele seadquire reputação. Alguns são incapazesde se aplicar mesmo às tarefas maissimples. O esforço depende quase sempredo temperamento. É aceitável sermedíocre num trabalho sem importância,há desculpa de que fomos talhados paracoisas mais nobres. Porém, contentar-seem ser medíocre numa tarefa inferior,podendo ser excelente na mais elevada,não tem desculpa. Tanto a arte quanto anatureza são necessários e a aplicação osconsagra”.

Autor desconhecido

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SUMÁRIO

RESUMO 13ABSTRACT 13

1. INTRODUÇÃO 152. REVISÃO DE LITERATURA 152.1. Agente e hospedeiros 152.2. Transmissão 162.3. Aspectos imunológicos e clínicos 172.4. Alterações oculares 182.5. Diagnóstico laboratorial 222.5.1. Métodos parasitológicos 222.5.2. Métodos sorológicos 232.5.3. Biologia molecular 232.6. Epidemiologia da leishmaniose visceral canina no Brasil 242.7. Epidemiologia da leishmaniose visceral canina no município de

Belo Horizonte 243. OBJETIVOS 244. MATERIAL E MÉTODOS 244.1. Animais 244.2. Avaliação oftalmológica 254.3. Colheita e preparação de materiais 254.4. Definição da amostra e análise estatística 275. RESULTADOS 275.1. Avaliação clínica geral 275.2. Avaliação oftalmológica 285.3. Exames laboratoriais, histopatológicos e imuno-histoquímico 306. DISCUSSÃO 377. CONCLUSÕES 418. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Oftalmopatias diagnosticadas em 48 cães (96 olhos) soropositivos paraleishmaniose visceral em relação ao número de olhos (Belo Horizonte -MG).

29

Tabela 2 - Oftalmopatias diagnosticadas em 48 cães soropositivos paraleishmaniose visceral em relação ao número de animais (Belo Horizonte- MG). 29

Tabela 3 - Oftalmopatias diagnosticadas em 48 cães soropositivos paraleishmaniose visceral em relação à estrutura acometida (Belo Horizonte- MG). 30

Tabela 4 - Oftalmopatias diagnosticadas em 13 cães soropositivos paraleishmaniose visceral, cujo motivo da consulta foi alteração ocular(Belo Horizonte - MG). 30

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando blefarite difusa e intensa com envolvimento das glândulasde meibômio.

33

Figura 2 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando blefarite nodular com formações de diversos nódulos nasbordas pálpebras.

33

Figura 3 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando blefarite ulcerativa com erosões na região periocularmedial.

33

Figura 4 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando uveíte anterior, injeção ciliar, edema de córnea e íris,hifema e miose.

33

Figura 5 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando uveíte, hiperemia conjuntival e acentuado edema decórnea.

34

Figura 6 - Fotografia de olho esquerdo de cão com Leishmania chagasi,

apresentando conjuntivite, quemose acentuada e hiperemia conjuntivalmoderada.

34

Figura 7 - Fotografia de olho esquerdo de cão com Leishmania chagasi,

apresentando conjuntivite, hiperemia conjuntival e acúmulo de secreçãomucopurulenta.

34

Figura 8 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando ceratoconjuntivite seca intensa com acentuado acúmulo desecreção ocular mucosa na superfície ocular.

34

Figura 9 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando ceratoconjuntivite seca moderada com acúmulo desecreção mucosa.

35

Figura 10 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando alopecia periocular na porção medial e formaçõesnodulares corneoconjuntivais.

35

Figura 11 - Fotografia de olho esquerdo de cão com Leishmania chagasi,

apresentando panuveíte, injeção ciliar, edema e vascularizaçãocorneanos.

35

Figura 12 - Fotografia de olho direito de cão com Leishmania chagasi,

apresentando descolamento de retina total e hemorragia retiniana.35

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Figura 13 - Fotomicrografia da pálpebra de cão positivo, mostrando blefarite linfo-plasmocitária moderada e focal associada a hiperqueratoseortoqueratótica difusa (setas) e acantose moderada (estrela). HE. 25x.

36

Figura 14 - Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão positivo, mostrandodilatação focal dos ductos das glândulas lacrimais (setas). HE. 50x.

36

Figura 15 - Fotomicrografia da córnea de cão positivo, mostrando ceratite linfo-histiocitária multifocal moderada (setas) com proliferação de tecidoconjuntivo, angiogênese e discreto edema (estrelas). HE. 100x.

36

Figura 16 - Fotomicrografia da íris de cão positivo, mostrando irite linfo-plasmocitária multifocal intensa (setas) associada a espessamentoestromal da íris. HE. 50x.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Apud = citado por, em°C = grau centígradoCCS = ceratoconjuntivite secad = erro amostralELISA = “Enzime-linked immunosorbent assay”FIG = figuraRPM = rotações por minutoHE = hematoxilina-eosinaIgG = imunoglobulina GIHQ = imunohistoquímicaIR = índice de reatividadeKg = kilogramaKm2 = quilômetros quadradosLV = leishmaniose visceralLVC = leishmaniose visceral caninaM = molarmg = miligramaMG = Minas Geraisn = número de amostras para estimar a prevalência em uma população

infinitan° = número�P = micrômetronm = nanômetrop = prevalência esperadaPBS = tampão salina fosfatoPCR = reação em cadeia da polimerasepH = potencial hidrogeniônicoRIFI = reação de imunofluorência indiretaTAB = tabelaTLS = teste lacrimal de SchirmerUFMG = Universidade Federal de Minas GeraisWHO = “Word Heath Organization”x = vezes.2 = fator determinante do grau de confiança% = por cento

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RESUMO

Dentre as doenças parasitárias sistêmicas com manifestação oftalmológica destaca-se aleishmaniose visceral canina, que pode determinar desde discretas alterações nos anexosoculares a envolvimento completo do bulbo, provocando perda da função visual. Asoftalmopatias ocorrem concomitantemente com outros sinais sistêmicos da doença, maspodem constituir a primeira ou a única alteração aparente da mesma, representando aprincipal queixa dos proprietários. O presente estudo avaliou a prevalência de lesões noolho e em seus anexos de cães com leishmaniose visceral na cidade de Belo Horizonte,MG. Utilizou-se 100 animais de raças variadas, com diagnóstico parasitológico e/ousorológico positivos para a leishmaniose visceral. Alterações foram observadas em 48animais (96 olhos), sendo as mais prevalentes blefarite (23,9%), uveíte anterior (20,8%),conjuntivite (19,8%), ceratoconjuntivite seca (18,7%), alopecia periocular (12,5%),panuveíte (7,3%), descolamento de retina (7,3%) e ceratite (6,2%). Devido à amplavariedade e singularidade das enfermidades oculares associadas à leishmaniose canina, estazoonose deve ser considerada no diagnóstico diferencial de alterações oculares eperioculares nos cães residentes em áreas endêmicas ou em animais oriundos destasregiões.

Palavras-chave: Cão, leishmaniose visceral, alterações oftalmológicas

ABSTRACT

Visceral canine leishmaniasis is among the parasitic disease with important ocularmanifestations. They can vary from small alterations in the ophthalmic enclosures untilcomplete visual loss. The dogs with ocular leishmaniasis must commonly present for avariety of systemic signs. However, in some dogs, abnormalities involving the eyes werethe presenting complaint by the owners. The prevalence of ocular lesions in dogs withsystemic leishmaniasis has been reported to vary between 24,1% and 80,5%. The purposeof this study was to determine the prevalence of ocular lesions associated withleishmaniasis in dogs in Belo Horizonte city, Brazil. One hundred of canine leishmaniasiswith many breeds confirmed cytological, serologically or both were used. The ophthalmiclesions were present in 48 dogs (96 eyes) and the most common manifestation wereblepharitis (23,9%), anterior uveitis (20,8%), conjunctivitis (19,8%), keratoconjuntivitissicca (18,7%), periocular alopecia (12,5%), panuveitis (7,3%) retinal detachment (7,3%)and keratitis (6,2%). Cataract, nuclear sclerosis and nodule iris and eyelid were diagnosed,although no probable relationship can be established. Ophthalmic manifestations are amongthe most peculiar clinical lesions of canine leishmaniasis and this zoonotic disease shouldbe include in the differential diagnosis in animals coming from endemic areas.

Key-words: Dog, visceral leishmaniasis, ophthalmic lesions

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1. INTRODUÇÃO

A leishmaniose visceral canina (LVC) éuma importante zoonose que acometehumanos, canídeos e alguns animaissilvestres. Apresenta distribuição mundialsendo considerada emergente em algumasáreas. No Brasil, ocorre de formaendêmica e o cão é o principalreservatório doméstico. A transmissão sedá predominantemente pela picada dafêmea de flebotomíneos infectados(WHO, 2006).

Os cães parasitados apresentam umaampla e variada sintomatologia clínicaenvolvendo vários órgãos, inclusive osolhos e seus anexos (McCornell et al.,1970; Giles et al., 1975; Molleda et al.,1993; Ciaramella et al., 1997; Koutinas etal., 1999). As oftalmopatias ocorremconcomitantemente com outros sinaissistêmicos, mas podem constituir aprimeira ou a única alteração aparente dadoença (Roze, 1986a; Peña et al., 2000;Fulgêncio et al., 2004; Roze 2004;Fulgêncio et al., 2006). Neste contexto, asprincipais alterações nos olhos e seusanexos são blefarite, conjuntivite e uveíteanterior. A prevalência das lesõesoculares em cães com leishmaniose noVelho Mundo varia entre 24,1% a 80,5%(Slappendel, 1988; Molleda et al., 1993;Koutinas et al., 1999; Peña et al., 2000).

As lesões oculares podem constituir aprincipal queixa dos proprietários deanimais com LVC quando doatendimento médico-veterinário. Osaspectos clínicos destas lesões, em algunscasos, sugerem o envolvimento de umadoença sistêmica (Roze, 1986a; Peña etal., 2000; Fulgêncio et al., 2004). Odiagnóstico da leishmaniose visceral (LV)é complexo e sua confirmação precoce edefinitiva é fundamental para o controleda mesma (Ciaramella et al., 1997; Fisa etal., 2001), permitindo preservar a

integridade do bulbo ocular e seus anexose, conseqüentemente, a manutenção davisão (Koutinas et al., 1999; Peña et al.,2000; Fulgêncio et al., 2004).

Devido à escassez de estudos na literaturaenvolvendo as oftalmopatias associadas àLVC, principalmente no Novo Mundo,propôs-se com este trabalho identificar ecaracterizar as manifestações oculares eperioculares determinadas por estaenfermidade.

2. REVISÃO DE LITERATURA

As leishmanioses são um grupo dedoenças com potencial zoonótico eendêmico que ocorrem em 88 países dequatro continentes, sendo 66 nações noVelho Mundo e 22 do Novo Mundo(WHO, 2006). No Brasil a LVC estádisseminada pelas zonas rural, peri-urbana e urbana, apresentando evidenteprocesso de transição epidemiológica e deurbanização em cidades localizadas nasregiões nordeste e sudeste (Manual...,2003 e Alves e Bevilacqua, 2004).

2.1. Agente e hospedeiros

A LVC é causada por protozoáriosintracelulares obrigatórios do sistemamononuclear-fagocitário. Pertencem àordem Kinetoplastida, famíliaTrypanossomatidae e gênero Leishmania

(Ross, 1903). Nas Américas, a LVC oucalazar tem como agente etiológico aLeishmania (Leishmania) chagasi (Cunhae Chagas, 1937), espécie semelhante a L.

infantum (Nicollle, 1908) encontrada empaíses do Mediterrâneo e na Ásia, sendoambas agrupadas no complexo L. (L.)

donovani (Lainson e Shaw, 1987).Estudos utilizando técnicas bioquímicas emoleculares consideram a L. chagasi e L.

infantum como uma única espécie(Maurício et al., 2000).

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O vetor do parasito é um inseto da famíliaPsychodidae, subfamília Phlebotominae egêneros Phelebotomus, com váriasespécies no Velho Mundo, e Lutzomyia

nas Américas, com a principal espécieLutzomyia longipalpis (Santos et al., 1998e Killick-Kendrick, 1999). Estes insetospossuem distribuição cosmopolita comatividade predominantementecrepuscular, habitando lugares quentes eúmidos, como ambientesintradomiciliares, estábulos, galinheiros epomares, dentre outros (Dias et al., 2003).Ambos os sexos se alimentam deaçúcares oriundos de plantas, mas asfêmeas necessitam de sangue para amaturação e ovopostura (Killick-Kendrick, 1999).

No Brasil, a principal espécie causadorada LV é a L. chagasi, havendo relato deum único caso de L. amazonensis comoagente da doença (Barral et al., 1986).Morfologicamente, o parasito pode seapresentar sob as formas, amastigota,promastigota e paramastigota. A formaamastigota é parasita intracelular demacrófagos de mamíferos e, portanto,determina a doença. As formaspromastigota e paramastigota sãoflageladas e encontradas no tratodigestivo dos flebotomíneos (Marsella eGopegui, 1998).

Por se tratar de um parasito heteroxeno, aLeishmania necessita de dois hospedeirospara completar seu ciclo de vida. Osprincipais reservatórios da doença são oscães domésticos e outros canídeossilvestres, embora possa contaminaroutros mamíferos, como o gambá eroedores (Cabrera et a., 2003).Considerando-se a epidemia urbana dadoença e seu poder zoonótico, o cãodoméstico é tido como o reservatóriomais importante (Moreno e Alvar, 2002).Embora haja relatos do isolamento deLeishmania sp em carrapatos e pulgas, o

real papel destes hospedeiros naepidemiologia da doença continuaobscuro (Coutinho et al., 2005 e Dantas-Torres, 2006).

2.2. Transmissão

A transmissão entre os hospedeirosvertebrados é realizadapredominantemente pela picada dasfêmeas dos dípteros hematófagosinfectados. Ao fazerem seu repastosanguíneo, as fêmeas de flebotomíneosingerem as formas amastigotas que, emseu tubo digestivo, se transformam empromastigotas. Após modificaçõesmorfológicas e fisiológicas, algumasdestas formas se diferenciam empromastigotas infectantes ou metacíclicas,depois de aproximadamente 48 horas daingestão das formas amastigotas. Aspromastigotas infectantes se replicam nointestino do inseto e migram para oesôfago e faringe. Desta forma, elas sãoregurgitadas e internalizadas por célulaspresentes na derme do novo hospedeirovertebrado, completando assim o ciclobiológico do parasito (Marsella eGopegui, 1998).

A saliva dos vetores que vivem nasAméricas apresenta importânciafundamental no processo de infecção,pois contém um peptídeo, o maxadilan,com atividade vasodilatadora eantiplaquetária. Este peptídeo mantém ofluxo sanguíneo constante, dificultando acoagulação e, portanto, facilitando ainoculação dos parasitos nos hospedeirosvertebrados (Killick-Kendrid, 1999).

As formas promastigotas metacíclicas,após serem inoculadas nos hospedeirosvertebrados, permanecem no espaçoextracelular, promovendo ativação decomplemento e conseqüente leucotaxia.Durante este processo, algumas formaspromastigotas são destruídas pelos

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polimorfonucleares, enquanto outras sãointernalizadas pelos macrófagos eenvolvidas pela membrana fagossômica,resultando no vacúolo parasitófago ondese multiplicam (Handman e Bullen,2002).

Ainda existem dúvidas acerca datransmissão da Leishmania sp entre cãesatravés da picada de insetos nãoflebotomíneos (Linardi e Nagem, 1973;Coutinho et al., 2005; Dantas-Torres,2006). A transmissão na ausência dovetor foi relatada por Owens ecolaboradores (2001), que verificaram acontaminação pela transfusão sanguíneaentre cães, o que foi posteriormentecomprovado experimentalmente porFreitas e colaboradores (2006). A viatransplacentária foi recentementeconsiderada por Rosypal e colaboradores(2005) e não existem relatos datransmissão venérea.

O período de incubação da leishmaniosevisceral é bastante variado, podendo ir dealguns meses a vários anos, com umamédia de três a sete meses (Manual...,2003). Cunha e Chagas (1937),inoculando formas promastigotas emcães, encontraram um período deincubação variando entre três a setemeses. Por outro lado, Longstaff ecolaboradores (1983) relataram umperíodo de incubação de 33 meses. Emestudo envolvendo animaisexperimentalmente infectados, Genaro(1993) concluiu que este período é de 1,8a 12,5 meses em 95% dos cães estudados.

2.3. Aspectos imunológicos e clínicos

A resposta imunológica desencadeada porum agente infeccioso é dependente devários fatores, como sua antigenicidade,carga parasitária e sistema imunológicodo hospedeiro, sendo, portanto, aapresentação clínica da doença uma

conseqüência destas interações (Santos-Gomes et al., 2002).

Nas doenças parasitárias, fatoresespecíficos relacionados com ohospedeiro vertebrado e o parasitodeterminam o desenvolvimento dosmecanismos patogênicos, das lesões e,conseqüentemente, dos sinais clínicosencontrados no animal doente (Ezquerra,2001).

A susceptibilidade à doença estádiretamente relacionada à respostaimunológica envolvendo a atividade doslinfócitos T e macrófagos e ao perfil deprodução de quimiocinas por linfócitos Therper (Th) CD4+. Tal perfil caracteriza aresposta do tipo Th1 ou Th2. As célulasTh1 produzem interleucina-2, LQWHUIHURQ��e fator de necrose tumoral, resultando naativação de macrófagos e conferindoresistência à infecção. Em contraste, ascélulas do tipo Th2, que produzeminterleucinas 4, 5 e 10, estimulam umaresposta de linfócitos B que inibe aresposta celular protetora, tornando ohospedeiro susceptível à progressão dadoença (Barbiéri, 2006).

Cães infectados podem: (a) apresentaruma forma progressiva da doença,associada com elevados títulos deanticorpos e imunossupressão; (b)apresentar remissão da sintomatologia eaté a cura, com títulos de anticorposbaixos ou ausentes ou (c) nuncadesenvolver a enfermidade (Abranches etal., 1991; Cabral et al., 1992; Pinelli etal., 1994). O aumento na produção dasimunoglobulinas pode ser um fatorprejudicial, na medida em que facilita ainternalização das formas amastigotaspelos macrófagos, permitindo que oagente continue a se replicar dentro destascélulas sem ativar o sistema imunológico(Slappendel e Greene et al., 1990; Ferreret al., 1995). Não obstante, o principal

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efeito danoso da hiperglobulinemia é aformação dos imunocomplexoscirculantes que se depositam em váriosórgãos e tecidos. Assim, as alterações daLVC são atribuídas tanto à presençadireta do parasito quanto à deposiçãodestes imunocomplexos (Noli, 1999).

Vários sinais clássicos podem ser vistosem cães parasitados, observando-se desdeanimais de aparência hígida a pacientescom várias manifestações clínicas(Ciaramella et al., 1997). As alteraçõesmais freqüentes são alopecia,descamação, hiperpigmentação, eritrema,úlceras, pústulas, onicogrifose,piodermite, dermatite seborréica,linfoadenopatia localizada ougeneralizada, anorexia, emagrecimento,tosse, hipertermia, epistaxe,gastroenteropatias, nefropatias, poliúria,polidipsia, hematúria, hepatopatias,ascite, icterícia, claudicação, atrofiamuscular, artropatias, meningites eoftalmopatias (Slappendel, 1988;Ciaramella et al., 1997; Roze, 1986b;Koutinas et al., 1999; Peña et al., 2000;Ferrer, 2002; Amusategui et al., 2003;Costa Val, 2004; Solano-Gallego, 2004).

Mancianti e colaboradores (1988),examinando cães infectados com L.

infantum na Ilha de Elba (Itália), osclassificaram clinicamente em (a)assintomáticos, pela ausência de sinais esintomas sugestivos de infecção porLeishmania; (b) oligossintomáticos,apresentando adenopatia linfóide,pequena perda de peso e/ou pêlo opaco e(c) sintomáticos, com alguns ou todos ossinais patognomônicos da doença, comoalterações cutâneas (alopecia, eczemafurfuráceo, úlceras e hiperqueratose),onicogrifose, emagrecimento e paresiados membros posteriores.

2.4. Alterações oculares

As manifestações oculares e perioculares,embora ocorram concomitantemente comoutros sinais sistêmicos, podem constituira primeira alteração aparente da LVC(Roze, 1986a; Peña et al., 2000;Fulgêncio et al., 2004; Fulgêncio et al.,2006). Neste contexto, estas alteraçõesiniciais da doença foram responsáveispela ida do animal ao médico veterináriode 3,5% a 14,0% dos cães diagnosticadoscom leishmaniose (Koutinas et al., 1999 ePeña et al., 2000). A prevalência dasoftalmopatias associadas à doença emoutros países foi reportada variando entre24,1% e 80,5% dos animais infectados(Slapendel, 1988; Molleda et al., 1993;Koutinas et al., 1999; Peña et al., 2000).

Laveran (1913), citado por Nicolau ePerard (1936), descreveu ceratite em doiscães experimentalmente infectados comLeishmania sp. Lemaire e colaboradores(1913) foram os primeiros autores aestudar as características histológicasdesta alteração corneana supostamentedeterminada pela doença, encontrandouma ceratite intersticial associada aformas amastigotas intracitoplasmáticasno estroma. Lemaire e colaboradores(1913) e Nicolau e Perard (1936)observaram que as alterações corneanasdevido à leishmaniose são maisfreqüentes nos cães que em humanos. Emoutro trabalho, descreveu-se umaconjuntivite associada a ceratite (Jeaume,1932). Posteriormente, outros autoresdiagnosticaram ceratites (Donatien eLestoquard, 1935; Nattan-Larrier eGuimard, 1935; Leitão, 1946; Deane eDeane, 1955) e blefarites (Ho et al., 1947)no curso da LVC. Também se isolouparasitos na esclera de um cão comceratite ulcerativa superficial (Falchetti eFaure-Brack, 1932) e na lágrima de

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animais infectados (Faure-Brack, 1933 eNattan-Larrier e Guimard, 1935).

Slappendel (1988), em estudoretrospectivo na Holanda, avaliou 95 cãescom leishmaniose e encontrou 40 animais(42,1%) com oftalmopatias. Dentre estasalterações, destacaram-se a conjuntiviteem 26 (27,4%), ceratite em sete (7,4%),uveíte em um animal (1,0%) epanoftalnite em outro (1,0%).

Molleda et al. (1993) avaliaram 41 cãesnaturalmente infectados na Espanha ediagnosticaram 80,5% de animais comoftalmopatias, sendo a conjuntivite a maisprevalente (34,2%). As outras alteraçõesforam ceratoconjuntivite seca (CCS -26,8%), blefarite (24,4%), uveíte anterior(14,6%), blefaroconjuntivite ecoriorretinite (9,8%), ceratite e atrofia deretina (4,9%) e atrofia do nervo óptico(2,4%). Após avaliação histopatológicade 46 bulbos oculares, encontraram96,7% destes acometidos. Em relação aosachados microscópicos, infiltradoinflamatório linfo-histio-plasmocitário deintensidade e distribuição variadas foramobservados em várias estruturas, como aterceira pálpebra, córnea, limbo, corpociliar e íris.

Ciaramella et al. (1997), avaliando 150cães naturalmente infectados comleishmaniose no sul da Itália, observaram24 animais (16%) com oftalmopatias,sendo 13 casos de ceratoconjuntivite, trêsde CCS, seis de uveíte e dois depanoftalmite. Os autores nãoconsideraram a alopecia periocular (27animais - 18%) como uma alteraçãooftalmológica, mas sim dermatológica.

Koutinas e colaboradores (1999), emestudo clínico envolvendo 158 cães comLVC na Grécia, encontraram 38 animais(24,1%) com alterações no olho e em seusanexos. Todos os animais apresentavamconjuntivite, havendo 19 (12%) com

blefarite, 13 (8,2%) com uveíte e oito(5,1%) com CCS.

Peña et al. (2000), avaliando 430 cãescom leishmaniose na Espanha,encontraram 105 animais (24,4%) comoftalmopatias associadas à doença. Asalterações oculares encontradas foramuveíte anterior (42,8%), conjuntivite eceratoconjuntivite (31,4%), blefarite(29,5%), alopecia periocular (26,7%),uveíte posterior (3,8%), CCS (2,8%) ecelulite orbital (1,9%). Descreveramainda a ocorrência de glaucoma em umcão, provavelmente devido a uveítecrônica.

Fulgêncio e colaboradores (2004)descreveram as manifestações oculares eperioculares em 10 cães comleishmaniose assintomática, pois nãoapresentavam sinais sistêmicos dadoença, sendo a oftalmopatia a únicaqueixa do proprietário. As lesões ocularesapresentaram-se de forma bilateral emseis animais (60%) e em dois cães (trêsolhos) existiam mais de um sinal ocular.Conjuntivite ocorreu em cinco olhos(25%), uveíte anterior em quatro (20%),blefarite e alopecia periocular em três(15%) e ceratoconjuntivite e CCS em dois(10%).

Pesquisadores avaliaram 65 casos deoftalmopatias em cães com sorologiapositiva para Leishmania sp. em BeloHorizonte – MG. As alterações maisprevalentes foram blefarite (25,4%),uveíte (23,8%), conjuntivite (20,0%),ceratoconjuntivite seca (15,4%), alopeciaperiocular (13,9%), descolamento deretina (9,2%), ceratite (7,7%), (Fulgêncioet al., 2006).

As dermatopatias que ocorrem na LVC,ulcerativas ou não, se devem à ação diretado parasito (Ridley e Ridley, 1983; Ferreret al., 1988) associada a vasculitenecrosante causada pela deposição de

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imunocomplexos, formando desdepequenos nódulos a ulceraçõesimportantes (Pumarola et al, 1991).Segundo Fondevila e colaboradores(1997), fatores imunológicos envolvendoo parasito e hospedeiro caracterizam aslesões cutâneas, como as blefarites,freqüentemente causadas pelaleishmaniose. As lesões palpebrais podemmimetizar enfermidades cutâneasparasitárias, como demodiciose eescabiose (Gelatt, 1991; Mozos et al.,1999; Scott et al., 2001). Além destesácaros, outros protozoários, comoToxoplasma gondi e Neospora canis, têmsido associados a blefarites alopécicas,descamativas, eritrematosas e,ocasionalmente, ulcerativas epruriginosas em cães (Scott et al., 2001).O prurido é mais freqüente nas blefaritesparasitárias como acaríase sarcóptica,otoacaríase ou nas infecções bacterianassecundárias em relação àquelas suscitadaspela leishmaniose (Gelatt; 1991 e Scott etal., 2001). Por outro lado, a associação daLeishmania e Demodex canis envolvepredisposição genética e supressãoimunológica causada pelo protozoário,determinando as característicaspatogênicas das lesões e explicando, emparte, os escassos relatos envolvendo asduas enfermidades (Barriga et al., 1992 eMozos et al., 1999).

Em um cão portador de infecçãoexperimental, estudos histopatológicosdos bulbos oculares demonstraram lesõese parasitos em diversos tecidos oculares,excetuando o cristalino, retina e nervoóptico (Nicolau e Perard, 1936).

McConnell e colaboradores (1970)relataram o isolamento de L. donovani naconjuntiva palpebral, humor aquoso ehumor vítreo em um cão. As alteraçõesmicroscópicas incluíram proliferação detecido fibroso e vascular, com predomíniode infiltrado inflamatório composto

principalmente por histiócitos e linfócitos.Embora a maioria das estruturas intra-oculares estivesse envolvida, as lesõesforam mais pronunciadas na córnea,limbo e úvea anterior. As alteraçõespalpebrais observadas foramhiperqueratose e infiltradopredominantemente histiocitário, comformas amastigotas intracitoplasmáticasem algumas células. Notou-se exsudatoevidente nas câmaras anterior, posterior evítrea. Clinicamente, o animalapresentava blefarite e endoftalmitebilaterais.

Em outro estudo histopatológico,utilizando material de uma cadela comlinfoadenopatia generalizada eendoftalmite bilateral, evidenciou-se oparasito na pálpebra, esclera, córnea, íris,corpo ciliar e coróide, além de outrosórgãos do corpo. Infiltrado inflamatóriomononuclear também foi observado emvárias estruturas, como pálpebra, úvea,íris, corpo ciliar e coróide (Giles et al.,1975).

Naranjo e colaboradores (2005)estudaram as glândulas envolvidas naprodução lacrimal e a possível patogeniada CCS em cães com leishmaniose.Observaram infiltrado inflamatório histio-linfocitário nas glândulas da terceirapálpebra e de meibômio e neutrófilos emfocos isolados. O infiltrado mononuclearobservado ao redor dos ductos eglândulas lacrimais provocava dilatação eacúmulo de secreção nestas estruturas.Segundo estes autores, esta seria aprincipal causa de CCS em cães comleishmaniose visceral.

Investigando a CCS em cães com LV,Fulgêncio e colaboradores (2005)monitoraram três animais portadoresdestas alterações, sendo doisassintomáticos e um sintomático.Observaram, nestes cães, que a redução

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da produção de lágrimas ocorreu de formaaguda, sem determinar envolvimentocorneano.

Roze (1986a) citou três possíveis teoriasenvolvendo a patogenia CCS em cãescom leishmaniose. A primeira refere-se àdestruição direta da glândula peloparasito, associada com intensainflamação; a segunda devido à obstruçãodos ductos das glândulas pelo processoinflamatório adjacente e, finalmente, adiminuição do reflexo de secreçãolacrimal por hipoestesia corneana devidaa lesões nesta estrutura. Além disso,concluiu que o envolvimento corneanoisolado é raramente observado na LVC,geralmente ocorrendo em associação comoutras oftalmopatias.

A conjuntiva é uma estrutura rica emtecido linfóide com função imunológicaessencial para a higidez ocular (Hendrix,1999). Acredita-se que, por estascaracterísticas, ela seja freqüentementeenvolvida na LVC, sendo a estruturaocular mais acometida pela doença emvários trabalhos na Europa e no Brasil(Roze, 1986b; Slappendel, 1988; Molledaet al, 1993; Koutinas et al, 1999; Brito,2004; Fulgêncio et al., 2004).

Ao contrário da elevada freqüência deenvolvimento conjuntival, a córnea éraramente acometida de forma isolada,sendo ceratites primárias raramentereportadas em cães com leishmaniose(Naranjo et al., 2005). Processosedematosos que determinam pigmentaçãocorneana podem diminuir a sensibilidadeda mesma, reduzindo a produção delágrimas (Xu et al., 1996). Entretanto,uma outra possibilidade é a redução daprodução de lacrimal causada pela CCS,comprometendo a fisiologia da córneacausando edema, vascularização e, emcasos crônicos, pigmentação (Moore,1999).

Abboud e colaboradores (1970)afirmaram que a conjuntivite e a ceratitenão teria significado importante nodiagnóstico clínico da LVC, poispoderiam ter outras etiologias.

Dois cães com leishmanioseapresentavam vasculite sistêmicanecrosante afetando vários órgãos,inclusive os olhos. Os animais mostravamgraus distintos de hemorragia nas câmarasanterior e posterior (Pumarola et al.,1991). Em outro trabalho, observou-seceratoconjuntivite intensa associado aopacificação da córnea e secreçãopurulenta em 25% dos cães estudados(Genaro, 1993).

Roze (2002) concluiu que a inflamaçãodo trato uveal constitui uma dasalterações oculares mais comuns da LVCem áreas endêmicas, podendo serresponsável por até 70% dasoftalmopatias. Como conseqüência destainflamação pode ocorrer hifema,glaucoma e outros sinais menos comuns,como degeneração corneana, exoftalmia eestrabismo. Outras alterações, comodescolamento e atrofia de retina, foramcitadas. Em relação ao descolamento deretina, a hipertensão secundária à falênciarenal constitui a causa mais provável,podendo ocorrer em até 80% dos casos(Dimski e Hawkins, 1988).

Em um trabalho realizado em BeloHorizonte - MG isolou-se L. (L.) chagasi

a partir de amostras do humor aquoso evítreo. Também foram avaliadas 24amostras dos bulbos oculares, onde seencontrou infiltrado inflamatório compredomínio de células mononucleares eformas amastigotas na esclera e íris. Estemesmo infiltrado também foi observadona córnea, mas sem a presença doparasito; na retina havia célulasinflamatórias associadas a formasamastigotas intracitoplasmáticas. Em

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relação à concentração deimunoglobulinas, concluiu-se queanticorpos dos meios intra-oculares decães com parasitismo ocularapresentavam-se em níveis superiores aosde cães sem o mesmo e não existiucorrelação entre as concentrações deproteínas no plasma e nestes meios (Dias,1998).

Em um estudo realizado no Estado doPernambuco em cães naturalmenteinfectados com L. (L.) chagasi, além doinfiltrado inflamatório linfo-plasmocitário, foi observadoespessamento estromal, congestão edilatação vascular na úvea anterior eposterior. O envolvimento do aparatolacrimal também foi reportado, havendodilatação dos ductos lacrimais comretenção de suas secreções. À avaliaçãomacroscópica, a conjuntiva mostrou-seacometida em 40% dos casos (Brito,2004).

Garcia-Alonso e colaboradores (1996)estudaram a imunopatogenia da uveíte emcães com leishmaniose na Espanha. Àavaliação microscópica de quatroamostras do bulbo ocular, observaramprocessos inflamatórios intensos,notadamente histio-linfocitários, naesclera, limbo, úvea anterior e no aparatolacrimal. Nesta última estrutura, esteinfiltrado era acompanhado de necrose doepitélio glandular. Além destes achados,observaram intensa vasculite e dilataçãovascular na esclera, limbo e úvea anterior.Edema intersticial, infiltrado de célulasmononucleares em graus variados eformas amastigotas no interior dehistiócitos foi igualmente relatado. Aindasegundo estes pesquisadores a inflamaçãointra-ocular em cães com leishmaniosevisceral podem ter duas origens possíveis.A primeira hipótese da uveíte anteriorpode estar relacionada com a intensamigração leucocitária provocada pela

presença de formas amastigotas, comoacontece na pele, conforme tambémdescrito por Brenner e colaboradores(1984) e Ginel e colaboradores (1993).Por outro lado, a inflamação pode serconseqüente de hipersensibilidadeimunomediada tipo III, suscitada porantígenos do parasito e deposição deimunoglobulinas não específicas, comoocorre na barreira de filtração glomerular(Sartori et al., 1987 e Nieto et al., 1992).

Coriorretinite multifocal associada a áreasfocais de hiporefletividade também foiobservada na LVC, apesar da baixapredileção do parasito pelo segmentoposterior do olho (Roze, 1986a).

2.5. Diagnóstico laboratorial

Devido à ampla e inespecíficasintomatologia clínica dos animaisparasitados, principalmente em áreasendêmicas, o diagnóstico clínico da LVCtende a ser inconclusivo, havendo semprea necessidade de exames laboratoriaispara o diagnóstico definitivo da doença(Ferrer et al., 1995; Ciaramella et al.,1997; Koutinas et al., 1999).

2.5.1. Métodos parasitológicos

O exame parasitológico se baseia nademonstração do parasito em amostrasobtidas por punção de linfonodos, medulaóssea, baço ou fígado, além da biópsia ouescarificação da pele. É um método muitoespecífico, pois a presença de um únicoparasito determina a certeza da doença(Ferrer, 1995 e Koutinas et al., 1999). Avisibilização das formas amastigotas éfácil nas amostras com intensoparasitismo, mas quando a cargaparasitária é pequena pode haverdificuldade (Ferrer, 1995). Além disso,pode ocorrer retração do material causadapela fixação, comprometendo a

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identificação do cinetoplasto presente naforma amastigota, sem o qual não se tema confirmação diagnóstica (Pirmez,1986).

As técnicas de imuno-histoquímica (IHQ)confirmam a identificação microscópicado parasito, pois anticorpos específicosmarcados detectam com grandesensibilidade as formas amastigotas nasamostras de tecido (Ferrer, 1995).Segundo Xavier (2002), há maiorsensibilidade pela IHQ em relação àcoloração com hematoxilina-eosina, poisa primeira técnica propiciou aidentificação de parasitos em cortes detecidos considerados duvidosos ounegativos pela segunda metodologia.Frente à importância da IHQ nadeterminação de formas amastigotas,alguns pesquisadores utilizaram apenasesta técnica para determinação daintensidade do parasitismo (Solano-Gallego et al., 2004).

2.5.2. Métodos sorológicos

Os métodos sorológicos detectamanticorpos anti-leishmania, constituindo aprincipal metodologia em campanhas deinquérito epidemiológico. A reação defixação de complemento foi utilizadaamplamente no Brasil para diagnósticosorológico da LVC (Alencar, 1959; Costaet al., 1991; Michalick et al., 1992), sendoposteriormente substituída pelaimunofluorescência indireta (RIFI)(Genaro, 1993).

Atualmente, a RIFI é largamenteutilizada, apresentando grandesensibilidade, embora a especificidadepossa ser comprometida em áreasassociadas com a presença deleishmaniose tegumentar ou doença deChagas, onde podem ocorrer reaçõescruzadas (Costa et al., 1991). Gradoni(2002) considera a RIFI como padrão-

ouro para diagnóstico sorológico da LVC,além de ser considerada a metodologia deeleição na Europa.

O ELISA se destaca para a confirmaçãoda leishmaniose, representando a segundatécnica mais utilizada pelos pesquisadoreseuropeus (Carrera et al., 1996 e Gradoni,2002). Nos dias atuais, é indicado paratriagem e posterior determinação dadoença em inquéritos epidemiológicos noBrasil (Manual..., 2003). As reaçõesimunológicas consideradas fracamentepositivas através da RIFI, ocasionadasinclusive por diagnósticos falso-positivos,podem ser, em grande parte, confirmadaspelo ELISA (Carrera et al., 1996;Gradoni, 2002; Scaloni et al., 2002).

2.5.3. Biologia molecular

Muitas vezes a sensibilidade das técnicasde visibilização dos parasitos e avaliaçõessorológicas falha em confirmar aleishmaniose (Fisa et al., 2001). A reaçãoem cadeia da polimerase (PCR) tem semostrado muito útil para a confirmaçãoda LVC em amostras de animais combaixo nível de anticorpos, por sua maiorsensibilidade e, principalmente, pelaelevada especificidade (Ferrer, 1995 eFisa et al., 2001).

2.6. Epidemiologia da leishmaniosevisceral canina no Brasil

Durante muito tempo a ocorrência daleishmaniose visceral humana se limitou aáreas rurais, mas atualmente regiões deurbanização recente e subúrbios degrandes cidades apresentam casosemergentes. Neste contexto, destacam-secidades como São Luis, Santarém,Teresina, Fortaleza, João Pessoa, Recife,Aracaju, Rio de Janeiro, Corumbá e BeloHorizonte (Genaro et al., 1990; Vieira e

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Coelho, 1998; Oliveira e Assunção,2001).

Dados recentes mostram que a LVCocorre em 19 das 27 unidades daFederação, envolvendo mais de 1.600municípios com casos de transmissãoautóctone (Manual..., 2003). Atualmente,a LVC apresenta nítido processo detransição epidemiológica, com incidênciacrescente nos estados do nordeste, sudestee centro-oeste (Manual..., 2003 e Alves eBevilacqua, 2004).

2.7. Epidemiologia da leishmaniosevisceral canina no município de BeloHorizonte

De acordo com o censo do ano de 2000,existem em Belo Horizonte 2.091.380habitantes, 636.515 domicílios e 268.272cães em uma área de aproximadamente335,5 km2, havendo assim uma relação deum cão para cada oito habitantes (Censo,2000).

O município é dividido em nove regionaisadministrativas autônomas, possuindo emcada uma um distrito sanitário. Cadaregional possui um Serviço de Vigilânciae Controle de Zoonoses e um deVigilância Epidemiológica, sendo oprimeiro responsável pelo controle dadoença no cão e o segundo pelainvestigação dos casos humanos(Prefeitura de Belo Horizonte, 2006).

Em 1989 detectou-se um caso deleishmaniose humana no município deSabará, localizado a poucos quilômetrosde Belo Horizonte, sendo a seguirdescobertos três cães infectados na região(Genaro et al., 1990). Em Belo Horizonte,os primeiros animais infectados foramnotificados em 1992. Após inquéritoepidemiológico nas regiões vizinhas ondeviviam estes cães, outros animais

portadores foram identificados (Michalicket al., 1992).

Os primeiros cães diagnosticados com LVpertenciam a duas regionaisadministrativas vizinhas à cidade deSabará. Em 1993 foram coletadas 2.288amostras de cães de forma aleatória eencontrou-se 133 animais positivos(5,8%). Em 2005 foram avaliadas149.470 amostras, com 11.901 animaispositivos, havendo uma prevalência deaproximadamente 7%. No ano seguintehouve um aumento paraaproximadamente 9,7%, com 6.727animais infectados em total de 69.347cães avaliados até o dia 15 de setembro de2006 (Prefeitura de Belo Horizonte,2006).

3. OBJETIVOS

Tendo em vista a escassez de relatosenvolvendo a freqüência ou a prevalênciadas oftalmopatias associadas àleishmaniose nas Américas, os objetivosdeste trabalho foram:

a. Avaliar a prevalência dasmanifestações oculares e periocularesem cães portadores de leishmaniosevisceral em Belo Horizonte;

b. Relatar as característicasoftalmológicas destas alterações e asprincipais estruturas envolvidas;

c. Descrever os principais achadoshistológicos de algumas oftalmopatiase sua possível associação com apresença do parasito.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Animais

Os cães utilizados neste estudo foramoriundos de 23 clínicas veterináriasparticulares (sendo pelo menos duas emcada Regional Municipal), do Hospital

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Veterinário da Escola de Veterinária daUFMG e de experimentos doDepartamento de Parasitologia doInstituto de Ciências Biológicas daUFMG.

Foram selecionados 100 animais de formaaleatória em relação ao sexo, idade, pesoe raça, positivos para LVC pelos testes deRIFI e ELISA, de acordo com parâmetrosestabelecidos pela Fundação Nacional deSaúde (Ministério da Saúde, 2001), cujosexames foram realizados no Instituto deCiências Biológicas da UFMG. Vinte seiscães pertencentes aos experimentos equinze animais de proprietários possuíamdiagnóstico parasitológico positivobaseado na identificação de formasamastigotas à microscopia óptica de luz.

Os animais foram submetidos à avaliaçãoclínica e oftalmológica e posteriormenteclassificados em sintomáticos,oligossintomáticos e assintomáticos, emconformidade com o sugerido porMancianti et al. (1988). Também foramindividualizados quanto à presença ounão de enfermidades oculares. Emseguida, os animais que apresentavammanifestações oculares e periocularesforam classificados de acordo com otecido acometido e o tipo de patologia.Após serem numerados, foi preenchidauma ficha de avaliação clínica eoftalmológica descrevendo as alteraçõesdiagnosticadas.

4.2. Avaliação oftalmológica

Após o exame clínico com avaliação dosprincipais parâmetros vitais, realizou-sesemiotécnica oftalmológica, incluindoinspeção das pálpebras, sistema lacrimal ebulbo ocular. Esta avaliação foi realizadacom o auxílio de fonte de luz apropriada1,

1 Lanterna Maglite - Mag Instruments - California- EUA

tiras para teste lacrimal de Schirmer2,tonometria de aplanação3, oftalmoscopiadireta4 e oftalmoscopia indireta5. Oacompanhamento por documentaçãofotográfica foi realizado em todos osbulbos oculares e anexos examinados,com auxílio de câmera digital6.

4.3. Colheita e preparação de material

Amostras de sangue de cada animalforam colhidas por venopunção ecolocadas em frascos sem anticoagulante.Posteriormente, o soro sanguíneo foiobtido por centrifugação a 1500 G por 10minutos e congelado a -20ºC até omomento da realização dos testes.

Todos os animais foram positivos aostestes de RIFI e ELISA. Na primeirametodologia, os cães que apresentaramtítulos de IgG iguais ou superiores a 1:40foram considerados positivos. Osresultados foram expressos em títulos deanticorpos, obtidos pelo fator dois dediluição, até a diluição máxima final.Todas as amostras negativas foramconfirmadas por meio de repetição. Para asegunda metodologia, a leitura foiefetuada em leitor de ELISA7 a 490 nm.O ponto de corte correspondeu à média deabsorbância de oito amostras de soro decães negativos para L. (L.) chagasi, maistrês desvios-padrão testados em cadaplaca. A média da duplicata de cada sorotestado foi dividida pelo valor de corte daplaca com o objetivo de determinar o

2 Schirmer Tear Test - Schering-Plough AnimalHealth - New Jersey - EUA3 TonoPen XL - Mentor O & O - Massachussets -EUA.4 Oftalmoscópio Heine K180 - Heine Optotecnik –Herrsching - Alemanha5 Oftalmoscópio indireto binocular - OptoEletrônica Ltda. - São Paulo - SP6 Mavica CD500 - Sony Co. Tókio - Japão7 Bio-Rad 2550 Model 550, Microplate ReaderBio-Rad Laboratories – Califórnia - USA

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índice de reatividade (IR), segundo Antase colaboradores (2000). Soros comvalores de IR igual ou maior que umforam considerados positivos.

Oito animais foram eutanasiados etiveram seus tecidos utilizados paraestudos histopatológicos, de acordo comnormas do Comitê de Ética emExperimentação Animal (CETEA /UFMG) sob o protocolo n° 123/05. Aeutanásia foi realizada com base naresolução nº 714 de 20 de junho de 2002do Conselho Federal de MedicinaVeterinária, que dispõe sobre osprocedimentos e métodos de sacrifício emanimais. Utilizou-se de tiopental sódico8

endovenoso, na dose de 200 mg/kg,suficiente para obtenção de paradacardíaca e respiratória.

Coletaram-se fragmentos das pálpebras eglândulas lacrimais. Os bulbos ocularesforam removidos após cantotomia laterale dissecados por incisão no fórniceconjuntival, permanecendo a conjuntivaparcialmente aderida. Os músculos extra-oculares e a periórbita foram dissecadosposteriormente em direção ao nervoóptico, que foi seccionado e o bulboremovido. A glândula lacrimal orbitária ea da terceira pálpebra também foramdissecadas e removidas. A bordapalpebral foi dissecada em formaretangular e, quando possível, obtidasáreas acometidas e hígidas no mesmofragmento.

A secção do bulbo ocular foi realizada nosentido do plano antero-posterior,formando um meridiano do nervo ópticoaté a córnea. Em seguida, fatias do bulboocular, glândulas acessórias e pálpebrasforam fixadas em solução de formoltamponado (pH 7,2) a 10%, desidratadas,diafanizadas, embebidas e incluídas em 8 Thionembutal - Laboratório Cristália S.A. - SãoPaulo – SP, Brasil

parafina e cortadas com espessura de 4-5�P� HP� PLFUótomo, com posteriormontagem em lâminas histológicas. Aslâminas foram coradas pela coloração HEe posteriormente analisadas aomicroscópio óptico de luz9, de acordocom as recomendações de Luna (1968).

Os achados histológicos foram relatadosde forma descritiva, de acordo com asalterações encontradas e estruturaacometida.

Para a técnica de imuno-histoquímica,seguindo-se as recomendações de Tafuriet al. (2004), secções desparafinadasforam submetidas à coloração pelaestreptavidina-peroxidase, usandoanticorpo monoclonal anti-leishmaniacomercial10, anticorpo policlonal e sorocanino hiperimune como anticorposprimários. O anticorpo monoclonal foiutilizado na diluição 1:100 em PBS0,01M.

Cortes histológicos de 5 �P�� IL[DGRV� HPlâminas de vidro, foram inicialmentehidratados em soluções de álcooisdecrescentes e a seguir submetidos abanhos em PBS (0.01M e pH 7.2). Obloqueio da peroxidase endógena foirealizado adicionando-se ao banho dePBS peróxido de hidrogênio a 4% (30minutos à temperatura ambiente). Obloqueio de reações inespecíficas foiobtido com leite em pó a 5% incubadocom anticorpo primário (diluição 1:100)em quantidade suficiente para recobrir osfragmentos, durante 18 a 24 horas emcâmara úmida a 4ºC. Após lavagem emPBS, as lâminas foram incubadas comanticorpo secundário biotinilado emcâmara úmida por 30 minutos, lavada emPBS e novamente e incubada comstreptavidina-peroxidase11 por 30 minutos

9 Carl Zeiss - Alemanha10 CEDARLANE - Laboratories - Canadá11 LSAB+ Kit - Dako Corp. - St. Louis - USA

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em câmara úmida, sempre à temperaturaambiente. A revelação foi realizada comsolução 0,0024% de diaminobenzidina12 e0,016% de peróxido de hidrogênio portrês minutos à temperatura ambiente. Aslâminas foram contra-coradas comhematoxilina de Harris por três segundos,lavadas, desidratadas, diafanizadas emxilol e montadas com bálsamo do Canadá.

Os controles negativos foram obtidos pelasubstituição dos anticorpos primários comsoro de cão normal na diluição de 1:100e/ou PBS em substituição dos anticorposprimários, em uma lâmina de cadabateria. Os controles positivos foramfeitos utilizando-se uma lâmina com cortehistológico de baço ou fígado de um cãonaturalmente infectado e sabidamentecom alto parasitismo, quando observadoao microscópio óptico de luz na coloraçãopela HE.

4.4. Definição da amostra e análiseestatística

Como se trata da descrição dasoftalmopatias de cães infectados com LVe sua associação com manifestaçõessistêmicas da doença, optou-se emtrabalhar com percentagem. Os achadoshistológicos dos fragmentos do bulboocular, pálpebras e glândulas lacrimaisforam detalhados de forma descritiva.

Para a estimativa da prevalência deoftalmopatias em cães com LC, obteve-seuma amostragem que refletiu da formamais fiel possível a população caninatotal. Como as oftalmopatias em cãesparasitados, na Europa, variam de 24,1%a 80,5% (Slappendel, 1988; Molleda etal., 1993; Koutinas et al., 1999; Peña etal., 2000), perfazendo media aproximadade 50% e adotando-se 95% como grau deconfiança, em concordância com a

12 DAB - Sigma - St. Louis - USA

metodologia recomendada na PublicaçãoTécnica n°18 do Centro Panamericano deZoonoses (Procedimentos..., 1979) paraestudo da prevalência por amostragem,aplicou-se à fórmula:

Q� �S�����S��.2 / (d.p/100)2 onde:n = número de amostras para

estimar a prevalência em uma populaçãoinfinita;

p = prevalência esperada (50%);.2 = fator determinante do grau de

confiança (4);d = erro amostral (20%).

n = 50(100-50)4 / (20x50/100)2 = 100cães

As vantagens de um estudo amostral sãoas reduções de tempo e custo deexecução, a possibilidade de inferir osresultados obtidos para todo o universo epermitir a obtenção de resultados maisprecisos. A principal desvantagemconsiste na diferença em relação aouniverso devido à variabilidade dosindivíduos. Isso corresponde ao erroamostral que pode ser medido e no estudoem questão representou 20% (Torres,2003).

5. RESULTADOS

5.1. Avaliação clínica geral

Dos 100 animais examinados, 50% erammachos com idade variando entre trêsmeses e 10 anos (média de quatro anos esete meses). A amostragem era bastantedistinta em relação ao porte e raça. Emrelação ao peso, encontraram-se animaisentre dois e 48 kg, com média de 17 kg.Pertenciam a 24 raças diferentes, sendo osmestiços (37 cães), Poodles (oito cães),Pastores Alemães, Retrievers do Labradore Rottweilers (seis cães) os maisfreqüentes.

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Baseado na classificação de Mancianti etal. (1988), encontraram-se 40 cães semsinais clínicos sistêmicos, 21oligosintomáticos e 39 sintomáticos.Excetuando as oftalmopatias, os sintomasclínicos mais freqüentes nos cãesoligosintomáticos e sintomáticos (60animais) foram linfoadenopatias em 46(76,7%), dermatites em 37 (61,7%),emagrecimento em 23 (38,3%) eonicogrifose em 20 (33,3%). Dentre osachados dermatológicos se destacaram adermatite e alopecia periocular; adermatite foi observada em 30 cães(81,1%) e alopecia em 24 (64,9%). Trêscães (8,1%) apresentaram demodicioseconfirmada por raspados de pele.

5.2. Avaliação oftalmológica

Quarenta e oito cães eram portadores depelo menos uma das 14 oftalmopatiasdiagnosticadas. Neste grupo, 16 (33,3%)eram assintomáticos, oito (16,7%)oligosintomáticos e 24 (50%)sintomáticos. Os machos representaram23 animais (48%) e as fêmeas 25 (52%),com idade variando de três meses a oitoanos (média 4,2 anos) e peso entre três e35 kg (média de 17,2 kg). As raças maisprevalentes foram 21 mestiços (43,8%),cinco Poodles (10,4%), quatroRottweilers (8,3%) e três Retrievers do

Labrador (6,3%). Em relação ao númerototal de 96 olhos e anexos nos 48 animaishouve maior prevalência de blefarite (23olhos – 23,9%) (FIG. 1, 2 e 3), uveíteanterior (20 – 20,8%) (FIG. 4 e 5),conjuntivite (19 – 19,8%) (FIG. 6 e07),ceratoconjuntivite seca (18 – 18,7%)(FIG. 8 e 9) e alopecia periocular (12 –12,5%) (FIG. 10). Outras alteraçõesoculares menos freqüentes incluírampanuveíte (FIG. 11), descolamento deretina (FIG. 12) e ceratite, dentre outras(TAB. 1).

Em relação ao número de animaisenvolvidos, observou-se comooftalmopatia mais prevalente a uveíteanterior, que foi diagnosticada em 13animais, seguida por blefarite (12),conjuntivite (10) ceratoconjuntivite seca(10) e alopecia periocular (6) (TAB. 2).

Quando consideradas as diversasestruturas oculares, as pálpebras foramacometidas em 37,5%, úvea em 29,2%,esclera em 19,8%, sistema lacrimal em18,6%, córnea em 9,4%, retina em 8,3% ecristalino em 5,2% (TAB. 3). Ambos ossegmentos oculares foram envolvidos,sendo o anterior mais notadamenteacometido (82,6%) em relação aoposterior (11,4%) e, em 6,1% dos casos,havia alterações em todo o bulbo.

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Tabela 1 - Oftalmopatias diagnosticadas em 48 cães (96 olhos) soropositivos paraleishmaniose visceral em relação ao número de olhos (Belo Horizonte - MG).

Oftalmopatias Olhos acometidos Prevalência (%)Blefarite 23 23,9Uveíte anterior 20 20,8Conjuntivite 19 19,8Ceratoconjuntivite seca 18 18,7Alopecia periocular 12 12,5Panuveíte 7 7,3Descolamento de retina 7 7,3Ceratite 6 6,2Degeneração corneana 3 3,1Catarata 3 3,1Esclerose nuclear 2 2,0Glaucoma 1 1,0Nódulo iridiano 1 1,0Nódulo palpebral 1 1,0

Tabela 2 - Oftalmopatias diagnosticadas em 48 cães soropositivos para leishmaniosevisceral em relação ao número de animais (Belo Horizonte - MG).

Oftalmopatias Animais acometidos Prevalência (%)Uveíte anterior 13 27,1Blefarite 12 25,0Conjuntivite 10 20,8Conjuntivite seca 10 20,8Alopecia periocular 6 12,5Panuveíte 4 8,3Descolamento de retina 4 8,3Ceratite 4 8,3Degeneração corneana 2 4,2Catarata 2 4,2Esclerose nuclear 1 2,1Glaucoma 1 2,1Nódulo iridiano 1 2,1Nódulo palpebral 1 2,1

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Tabela 3 - Oftalmopatias diagnosticadas em 48 cães soropositivos para leishmaniosevisceral em relação à estrutura acometida (Belo Horizonte - MG).

Tecido acometido Olhos envolvidos Prevalência (%)Pálpebras 36 37,5Úvea 28 29,2Esclerótica 19 19,8Sistema lacrimal 18 18,8Córnea 9 9,4Retina e disco óptico 8 8,3Cristalino 5 5,2

Do total de 100 animais (200 olhos), 76olhos (38%) apresentaram pelo menosuma alteração ocular. Considerandoapenas os cães com oftalmopatias (48),estas lesões ocorreram de forma bilateralem 38 casos (79,2%) e diagnosticou-seuma única alteração ocular, podendo seruni ou bilateral, em 31 (64,6%) dosanimais.

Em treze animais (17,6%) dos 74 quepossuíam proprietário, as manifestações

oculares e perioculares constituíram aprincipal queixa e motivo da consultaoftalmológica especializada. Estasalterações ocorreram de forma bilateralem 10 animais, sendo quatro com uveíte(seis olhos - 23,1%), três comconjuntivite (seis olhos – 19,2%), doiscom descolamento de retina (quatro olhos- 15,4%) e um com catarata (dois olhos -7,7%) (TAB. 4).

Tabela 4 - Oftalmopatias diagnosticadas em 13 cães soropositivos leishmaniose visceral,cujo motivo da consulta foi alteração ocular (Belo Horizonte - MG).

Oftalmopatia Animais Olhos acometidos Prevalência (% olhos)Uveíte 4 6 23,1Conjuntivite 3 6 23,1Blefarite 3 5 19,2Descolamento de retina 2 4 15,4Catarata 1 2 7,7

5.3. Exames laboratoriais,histopatológicos e imuno-histoquímicos

Todos os animais foram positivos aostestes de RIFI e ELISA. A diluição finalobservada na RIFI variou entre 1:160 a1:20.480. Os vinte e seis cãesnaturalmente infectados apresentaramformas amastigotas à microscopia emamostras teciduais oriundas do fígado,

baço ou medula óssea, conformeprotocolo de diagnóstico. Após exameexaustivo, não se encontraram formasamastigotas nos bulbos oculares e emseus anexos através da histopatologia nacoloração HE ou da IHQ, embora doiscães portadores de oftalmopatiasapresentassem formas amastigotas emmaterial de raspado conjuntival.

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As pálpebras apresentaram alteraçõessignificativas em seis amostras, compresença de infiltrado inflamatório mistofocal a difuso e leve a acentuado, comenvolvimento das camadas da epiderme ederme em todos os casos. Em trêsamostras havia degeneração balonosafocal ou multifocal das células epiteliais eem duas, acantose moderada ehiperqueratose ortoqueratócica difusa deintensidade leve a moderada (FIG. 13).Notaram-se áreas focais ou multifocais deulceração do epitélio palpebral e,adjacente a estas regiões, proliferação detecido conjuntivo fibroso associado ainfiltrado inflamatório perilesional mistofocal e discreto a moderado. Na derme dedois animais evidenciou-se infiltradoinflamatório perivascular linfo-histio-plasmocitário multifocal de grau discretoa leve. Na derme profunda, próxima àcamada muscular, observou-se uminfiltrado inflamatório difuso e acentuadohistio-plasmocitário entremeando asglândulas anexas em duas amostras.

Cinco animais apresentaram alteraçõesmicroscópicas relevantes na terceirapálpebra. Em três deles havia erosão focaldo epitélio, variando de discreta aextensa, associada com infiltradoinflamatório moderado a acentuado compredomínio de macrófagos, plasmócitos eneutrófilos, acompanhando graus diversosde hemorragia. Discreta degeneração doepitélio desta estrutura foi observada emduas das três lâminas citadasanteriormente. Houve extensão doinfiltrado entremeando as glândulaslacrimais de forma difusa e moderada aacentuada. Apenas infiltrado inflamatóriolinfo-histiocitário multifocal moderadofoi visibilizado em uma lâmina edegeneração discreta e erosão focal doepitélio da terceira pálpebra em outra.Nesta última amostra, observou-sedisposição periglandular do infiltrado

com dilatação dos ductos das glândulaslacrimais (FIG. 14).

A conjuntiva bulbar foi a estrutura maisacometida à avaliação histopatológica,ocorrendo alterações em nove das 16amostras, que apresentavam infiltradoinflamatório diversificado entre focal adifuso e discreto a acentuado, compredomínio de macrófagos, linfócitos eplasmócitos. Em dois animais o infiltradoapresentou disposição notadamenteperiglandular e em outro haviadegeneração multifocal discreta doepitélio.

Três tipos de uveíte ocorreram nesteestudo, caracterizadas como (a) umaforma subclínica, com discreto edema decórnea, pequena diminuição da pressãointra-ocular e moderada miose; (b) umaforma clássica, com edema de córneaimportante que impossibilitou a avaliaçãodos meios intra-oculares, associado comhiperemia conjuntival e blefaroespasmo e(c) panuveíte ou envolvimento de todo obulbo ocular, com sinais evidentes decronicidade. Observaram-se as formassubclínica e clássica nas manifestaçõesagudas da doença, sendo mais freqüentesde forma unilateral em cãesassintomáticos ou oligosintomáticos. Já aforma crônica, com presença depanuveíte, foi diagnosticada em cãessintomáticos e de forma bilateral.

Seis animais apresentavam alterações naíris sendo cinco com irite e um comformação nodular. Linfócitos eplasmócitos predominaram de formamarcante no estroma da estrutura. Esteinfiltrado estava disposto de forma focal adifusa e intensidade leve a acentuada(FIG. 15). Na amostra com espessamentonodular havia proliferação difusa demelanócitos. Entremeando estas célulasnotaram-se focos de infiltrado

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inflamatório discretos, compostos pormacrófagos e neutrófilos.

O corpo ciliar estava alterado em cincodas 16 amostras examinadas. Todasapresentavam ciclite caracterizada porinfiltrado inflamatório linfo-plasmocitáriofocal a difuso e discreto a acentuado.

O limbo estava envolvido em quatroamostras, onde se observou infiltradoinflamatório moderado e multifocal comgrande variedade em relação ao tipocelular. A córnea foi acometida comoextensão deste infiltrado em uma amostra.

Dois animais dentre os 16 apresentaramalterações microscópicas na córnea, sendoum deles como extensão da inflamaçãodo limbo e o outro com perda difusa eacentuada do epitélio anterior, necrosedas células epiteliais e formação de uma

monocamada celular sobre o estroma.Observaram-se ainda angiogênesediscreta e infiltrado inflamatóriomoderado e multifocal coalescente,constituído principalmente de linfócitos ehistiócitos (FIG.16).

A coróide estava espessada em duas das16 amostras examinadas. Notaram-sevasos dilatados associados com infiltradoinflamatório predominantemente linfo-plasmocitário multifocal discreto amoderado. Adjacente à gorduraperiorbital observou-se áreashemorrágicas multifocais em duasamostras.

Não se evidenciaram alteraçõesmicroscópicas no cristalino, disco ópticoou nervo óptico nas 16 amostras colhidas.

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Figura 1 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar blefaritedifusa e intensa com envolvimento dasglândulas de meibômio.

Figura 2 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar blefaritenodular com formações de diversosnódulos nas bordas pálpebrais.

Figura 3 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar blefariteulcerativa com erosões na região periocularmedial.

Figura 4 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar uveíteanterior, injeção ciliar, edema de córnea eíris, hifema e miose.

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Figura 5 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar uveíte,hiperemia conjuntival e edema de córneaintenso.

Figura 6 - Fotografia de olho esquerdo decão com Leishmania chagasi. Notarpanuveíte, injeção ciliar, edema evascularização corneana.

Figura 7 - Fotografia de olho esquerdo decão com Leishmania chagasi. Notarconjuntivite, quemose acentuada ehiperemia conjuntival moderada.

Figura 8 - Fotografia de olho esquerdo decão com Leishmania chagasi. Notarconjuntivite, hiperemia conjuntival eacúmulo de secreção mucopurulenta.

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Figura 9 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar CCS comintenso acúmulo de secreção ocular mucosana superfície ocular.

Figura 10 - Fotografia de olho direito decão com Leishmania chagasi. Notar CCScom moderado acúmulo de secreçãomucosa.

Figura 11 - Fotografia de olho direito de cãocom Leishmania chagasi. Notar alopeciaperiocular na porção medial e formaçõesnodulares corneoconjuntivais.

Figura 12 - Fotografia de olho direito decão com Leishmania chagasi. Notardescolamento de retina total e hemorragiaretiniana.

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Figura 13. Fotomicrografia da pálpebra de cão positivo, mostrando blefarite linfo-plasmocitária discreta e focal (seta) associada a hiperceratose ortoqueratótica difusa (estrelabranca) e acantose moderada (estrela preta). HE. 25x.Figura 14. Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão positivo, mostrando a dilataçãofocal dos ductos das glândulas lacrimais (estrela). HE. 50x.Figura 15. Fotomicrografia da córnea de cão positivo, mostrando ceratite linfo-histiocitáriamultifocal moderada (seta) e discreto edema (estrela). HE. 100x.Figura 16. Fotomicrografia da íris de cão positivo, mostrando irite linfo-plasmocitáriamultifocal intensa (seta) associada a espessamento estromal. HE. 50x.

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6. DISCUSSÃO

Os sinais clínicos observados em cãescom leishmaniose visceral neste trabalhosugerem diversas enfermidades, como asinfecciosas, metabólicas, imunomediadase parasitárias, dentre outras. Estasalterações incluíram dermatopatias,linfoadenopatias, emagrecimento eonicogrifose. Os principais sinais clínicosobservados nestes cães foram tambémencontrados nos animais da Europa(Ciaramella et al., 1997 e Koutinas et al.,1999). No que concerne às oftalmopatiasdiagnosticadas em animais com LVC emBelo Horizonte, Brasil, encontrou-sesimilaridade em relação aos relatoscientíficos do Velho Mundo (Roze,1986a; Molleda et al., 1993; Koutinas etal., 1999; Peña et al., 2000). Entretanto,as alterações microscópicas do bulboocular e seus anexos foram poucofreqüentes neste trabalho frente aosachados de Molleda e colaboradores(1993), embora estes autores nãodetalhassem qual a origem destes cãesnem tão pouco se amostra estudada foiincluída no projeto de forma aleatória ouproposital.

Em relação à freqüência de lesõesoculares em cães assintomáticos comoúnica alteração da doença, valoresencontrados no Velho Mundo sãoinferiores àqueles do Brasil. Não foipossível identificar os fatoresresponsáveis por esta diferença, pois ostrabalhos consultados não especificaramquais eram estas alterações ocularesdiagnosticadas de forma precoce eanteriormente ao desenvolvimento deoutras lesões sistêmicas.

As oculopatias mais prevalentes nos cãescom leishmaniose assintomáticosencontradas neste trabalho estão deacordo com Fulgêncio e colaboradores(2004). As características clínicas destas

lesões oculares muitas vezes sugerem oenvolvimento de uma doença sistêmica(Peña et al., 2000 e Fulgêncio et al., 2004;Fulgêncio et a., 2006). Entretanto, formassingulares de certas desordensoftalmológicas, como blefarite, uveíte,conjuntivite e ceratoconjuntivite secadespertam a suspeita do envolvimento dedoença sistêmica.

Observou-se uma grande disparidade emrelação à prevalência de oftalmopatiasnos países europeus, possivelmente,resultante de diferentes metodologias etécnicas semiológicas utilizadas, comonos estudos de Slappendel (1988),Molleda e colaboradores (1993) eKoutinas e colaboradores (1999). Poroutro lado, Ciaramella e colaboradores(1997) encontraram uma menorfreqüência de portadores de oftalmopatiasdentre os animais parasitados, o que podeser explicado pelo fato destespesquisadores não considerarem aalopecia periocular como umaenfermidade oftálmica, mas simdermatológica.

A maior freqüência de envolvimentoocular bilateral em relação ao unilateralfoi relatada por outros autores. Embora aleishmaniose inicialmente acometaapenas um olho, normalmente durante ocurso da doença ocorre o envolvimentobilateral associado à progressão de outrasenfermidades sistêmicas (Molleda et al.,1993; Koutinas et al., 1999; Peña et al.,2000; Roze, 2004; Fulgêncio et a., 2006).

Considerando a ocorrência de alteraçõesnos diversos tecidos oculares, aspálpebras, a úvea, a conjuntiva e osistema lacrimal foram mais acometidosem ordem decrescente. Estes resultadosdiferem de Molleda e colaboradores(1993), que identificaram uma maiorprevalência de lesões na conjuntiva ecórnea.

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A blefarite foi a oftalmopatia maisfreqüentemente observada, sendodiagnosticadas três formas clínicasdistintas, em concordância com aliteratura (Molleda et al., 1993; Peña etal., 2000; Fulgêncio et al., 2006). Ablefarite difusa apresentou característicasclínicas similares e também constituiu adesordem palpebral mais freqüente nosestudos de Peña e colaboradores (2000) eFulgêncio e colaboradores (2006).

O diagnóstico da inflamação daspálpebras foi baseado na apresentaçãoclínica, verificando-se a presença deedema e eritema palpebrais, hiperemiaconjuntival, epífora e crostificaçãoperiocular, que podem estar isolados ouassociados e variando em intensidade deacordo com o tipo de blefarite presente.

Dentre as etiologias de blefariteparasitária, destacaram-se a demodiciosee escabiose (Scott et al., 2001).Entretanto, não se diagnosticou ácarosnas regiões palpebrais acometidas atravésde raspados de pele. Os dois cães queapresentaram Demodex canis na pele nãoapresentavam oftalmopatias.

Metade dos animais que portavamalopecia periocular também apresentavaCCS bilateral. Os sinais clínicos destaalteração, descrita por Peña ecolaboradores (2000), assemelharam-seaos deste estudo. Quatro dos seis animaiscom alopecia periocular tambémpossuíam outras de área de alopeciadisseminadas pelo corpo. Não seidentificaram ácaros ou fungos nasamostras oriundas de raspados da peleperiocular, embora três dos 24 cãesportadores de dermatopatias alopécicasapresentassem Demodex canis. Como jácitado, estes cães portadores de ácaros napele não apresentavam oftalmopatias.

As principais alterações microscópicasobservadas nas pálpebras corroboram

com aquelas citadas por McConnel ecolaboradores (1970) e Giles ecolaboradores (1975). Conforme citadopor Naranjo e colaboradores (2005),também se observou infiltrado dispostode forma periglandular no tecido anexo àspálpebras. Embora estas estruturas sejamfreqüentemente envolvidas pela doença,sua avaliação microscópica não foirealizada rotineiramente pela maioria dosautores citados.

Diagnosticou-se CCS nos animais semsinais de conjuntivite primária e queapresentaram ao TLS valores iguais ouinferiores a nove milímetros e acúmulo desecreção mucosa. Não existe consenso emrelação à freqüência de CCS em cães comleishmaniose. Alguns estudosencontraram baixa prevalência, variandoentre 2,0% a 5,1% (Ciaramella et al.,1997; Koutinas et al., 1999; Peña et al.,2000). Não há, nestes estudos,informações sobre a mensuração daprodução lacrimal de forma qualitativa ouquantitativa em todos os animais. Alémdisso, não foram citados os parâmetrosnosológicos da CCS.

Molleda e colaboradores (1993) relataram26,8% dos animais da Espanha eFulgêncio e colaboradores (2006) 15,4%cães no Brasil com LVC e baixa produçãolacrimal, valores próximos dos 18,7%encontrados neste estudo. A elevadaincidência de CCS na leishmaniose podeser relacionada com a acentuadainflamação das glândulas lacrimaisprovocando a obstrução de seus ductossecretores (Roze, 1986a). A inflamaçãono aparato lacrimal com disposiçãoperiglandular do infiltrado confirmou osachados de Garcia-Alonso ecolaboradores (1996) e Naranjo ecolaboradores (2005). Ainda foivisibilizada a dilatação dos ductoslacrimais com retenção de secreções(Brito, 2004 e Naranjo et al., 2005).

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A obstrução dos ductos das glândulaslacrimais provocada pelo processoinflamatório adjacente foi a prováveletiologia da CCS. Ainda não se sabe qualé a real contribuição da perda dasensibilidade da córnea na manutençãolacrimal e qual seria a intensidade destainjúria para reduzir significativamente aprodução de lágrimas. Esta observaçãocorrobora com a teoria postulada porRoze (1986a) e também proposto porNaranjo e colaboradores (2005).

A conjuntivite foi a alteração ocular maisfreqüente entre os animais assintomáticose com apresentação bilateral em 90% doscasos, concordando com os achados deFulgêncio e colaboradores (2004), queencontraram esta alteração em 60% doscães deste grupo. A quemose observadaem dois animais também foi descrita porRoze (1986b), Moleda e colaboradores(1993), Peña e colaboradores (2000) eFulgêncio e colaboradores (2006).

A maior freqüência de alteraçõesconjuntivais microscópicas encontradaneste trabalho não confirma os achadosde Molleda e colaboradores (1993), quenão descreveram detalhes acerca desteenvolvimento, embora a estrutura tenhasido a mais acometida ao examemacroscópico, como em outros trabalhos(Koutinas et al., 1999 e Brito, 2004).

Nódulos ou granulomascorneoconjuntivais formados porinfiltrado linfo-histio-plasmocitário foramdescritos por Molleda e colaboradores(1993) e Peña e colaboradores (2000).Dois cães deste estudo apresentaram taisnódulos, o primeiro sintomático comblefarite nodular bilateral e o segundooligosintomático e de forma unilateral.Como estes nódulos são notadamentericos em formas amastigotas, raspadosconjuntivais podem evidenciar o parasitoem casos duvidosos. Neste estudo, os

raspados conjuntivais mostraram o agenteem dois dos 16 animais comoftalmopatias sem sinais sistêmicos dadoença, em conformidade com adescrição de Peña et al. (2000). Em doiscães com conjuntivite bilateral o raspadoconjuntival logrou sucesso em evidenciaro parasito. Esta metodologia poucainvasiva e de fácil realização podeconstituir uma opção prática e barata dediagnóstico em cães com leishmaniosevisceral.

Apesar da importância da conjuntiva nasreações imunológicas, a conjuntivite podeestar diretamente relacionada à presençado parasito, pois este é ocasionalmenteencontrado em estudos histopatológicos e,eventualmente, em raspados conjuntivais.Fazem-se necessários novos estudos como objetivo de determinar qual aimportância da presença do parasito etambém dos mecanismos imunomediadosna etiopatogenia da conjuntivite, bemcomo nas formações nodulares naconjuntiva e limbo de cães comleishmaniose visceral.

O envolvimento da córnea ocorreuprincipalmente por extensão de processosinflamatórios da íris, corpo ciliar oulimbo, principalmente CCS e uveíteanterior. Não foi notada alteraçãocorneana de forma isolada, emconcordância com o relatado por Roze(1986b). As principais alteraçõesvisibilizadas nesta estrutura seassemelham ao descrito na literaturaconsultada (McConnel et al., 1970; Gileset al., 1975; Molleda et al., 1993),discordando de Dias (1998), que nãoencontrou lesões significativas. Osachados microscópicos no limbo estão deacordo com outros pesquisadores(McConnel et al., 1970; Garcia-Alonso etal., 1996).

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Ainda não está elucidado se a ceratite estáenvolvida na patogenia da CCS. Apesarde sugeridos outros fatores, acredita-seque a redução da produção lacrimalcausada pela CCS ocorra anteriormente àinflamação da córnea, comprometendo afisiologia e transparência desta estrutura,como já relatado por Fulgêncio ecolaboradores (2005).

É relevante especular acerca dodesenvolvimento de degeneraçãocorneana em dois cães com leishmaniosevisceral, pois doenças renais associadascom uremia ocorrem freqüentementenestes animais e constituem uma dascausas desta alteração. Roze (2002)também aventou a possibilidade decorrelação entre degeneração corneana e aleishmaniose.

Em concordância com outros estudos(Slapendel, 1988; Molleda et al., 1993;Ciaramella et al., 1997; Koutinas et al.,1999; Fulgêncio et al., 2006), a uveíte nãofoi a alteração ocular mais prevalente,quando considerados o número de olhosacometidos. Entretanto, quando seconsidera o número de animais, háconcordância com os achados de Peña ecolaboradores (2000), pois a alteraçãopassa a ser a manifestação ocular maiscomum.

Em relação ao tipo de infiltradoinflamatório no trato uveal, houvesimilaridade deste estudo com outrostrabalhos (McConnel et al., 1970; Giles etal., 1975; Molleda et al.,1993; Garcia-Alonso et al., 1996; Dias, 1998; Brito,2004). Entretanto, a dilatação vascular naúvea reportada neste trabalho foiobservada apenas por Garcia-Alonso ecolaboradores (1996) e Brito (2004). Nãofoi encontrada correlação entre aleishmaniose e o espessamento nodularcom proliferação difusa de melanócitos

no estroma da íris observada em umaamostra.

As características microscópicas sugeremque a úvea posterior ou a coróide foraminfiltradas por células inflamatóriasoriundas da úvea anterior. Esta forma dedistribuição do infiltrado inflamatório foirelatada por McConnel e colaboradores(1970) e Giles e colaboradores (1975). Asalterações observadas na coróideconfirmam aquelas sugeridas por Brito(2004).

O segmento posterior do olhoprovavelmente foi acometido comoextensão de processos inflamatórios daúvea anterior, pois todos os animais comuveíte posterior também apresentavamuma inflamação importante na íris e/oucorpo ciliar, caracterizando a panuveíte.Nos animais onde foi possível avaliar osmeios intra-oculares notou coriorretiniteem dois olhos. Outras alterações dosegmento posterior observadas por Roze(1986a) e Peña e colaboradores (2000),apesar da possibilidade de estarempresentes, não foram diagnosticadas nesteestudo, pois a diminuição datransparência dos meios intra-oculares e aresistência pupilar à ação dos midriáticosdificultaram a avaliação fundoscópica dobulbo ocular.

Dos quatro animais com descolamento deretina, três a apresentavam de formabilateral. Estes cães portavam nefropatiagrave, diagnosticada pela urinálise edeterminação da uréia e creatininaplasmáticas. Suspeita-se que estesanimais eram hipertensossecundariamente à insuficiência renal,sendo esta a causa do descolamento deretina e, conseqüentemente, da perda defunção visual, em concordância comoutros relatos (Dimski e Hawkins, 1988;Roze, 2002; Roze, 2004; Fulgêncio et al.,2006).

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O glaucoma é raramente observado naLVC e ocorre como conseqüência dauveíte (Molleda et al., 1993; Peña et al.,2000; Roze, 2002; Roze, 2004). Taisinflamações determinam aumento dacelularidade do humor aquoso e/ouhifema e hipópio, apresentam realpossibilidade de desenvolvimento deglaucoma. O achado de um único casocorrobora as observações destes autores.

Os animais diagnosticados com catarataneste trabalho eram das raças Poodle eCocker Spaniel Inglês. Embora nenhumacorrelação esteja estabelecida entre aformação da catarata e a leishmaniose, éprudente assumir que desordens no humoraquoso possam envolver a lente,opacificando-a. Entretanto, como estasraças citadas apresentam predisposiçãohereditária à formação de opacidades nalente ou em sua cápsula, podem serfreqüentemente acometidos pela cataratasem quaisquer correlações com a LVC,como sugerem estes achados.

Um cão oligosintomático, após aavaliação oftalmológica, apresentavaesclerose nuclear bilateral e formaçãonodular na íris do olho esquerdo. Naliteratura consultada não há descrição daassociação de esclerose lenticular em cãescom LV e acredita-se, como na catarata,que a esclerose e a formação nodular naíris foram achados ocasionais.

7. CONCLUSÕES

Dentro das condições em que foirealizado o presente trabalho, pode-seconcluir que:

9 A prevalência de manifestaçõesoculares e perioculares em cães comleishmaniose visceral em BeloHorizonte - MG é de 48%;

9 Blefarite, uveíte, conjuntivite eceratoconjuntivite seca foram asoftalmopatias mais prevalentes;9 Algumas enfermidades oculares,

como esclerose nuclear, catarata enódulos na íris e pálpebra não têmcorrelação provável com aleishmaniose;9 As oftalmopatias nos cães com

leishmaniose visceral podem ser aprimeira ou a única alteração dadoença, constituindo o motivo daconsulta veterinária;9 Os achados histopatológicos mais

freqüentes incluem infiltradoinflamatório linfo-histio-plasmocitáriona pálpebra, terceira pálpebra,conjuntiva e trato uveal;9 Não se identificaram formas

amastigotas à avaliaçãohistopatológica pela coloração HE oupela técnica de imuno-histoquímica,nos tecidos do bulbo ocular ou seusanexos.

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