DISTRÚBIOS NUTRICIONAIS
Transcript of DISTRÚBIOS NUTRICIONAIS
DISTRÚBIOS NUTRICIONAIS
Mea0022 – Introdução à Bioarqueologia
Paleopatologia
Nasce no século XIX com o trabalho do médico alemão Rudolf Virchow
“Pai” da medicina social (epidemia de tifo em 1847–1848) e da patologia médica. Inspeção sanitária e vigilância sanitária alimentar.
Rudolf Ludwig Karl Virchow
Rickettsia prowazekii.
Pediculus humanus corporis
Paleopatologia
Patocenose: Características do processo saúde-doença são decorrentes do contexto sócio-históricodos grupos e a patocenose é o conjunto total e condições patológicas de um determinado grupo em um determinado ponto do tempo e do espaço
Mirko Grmek
Historiador da medicina
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
A necessidade varia individualmente segundo circunstâncias genéticas, ambientais e fisiológicas.
Em dietas idênticas a disponibilidade metabólica dos nutrientes pode variar individualmente.
A absorção ou não de determinados elementos é dependente da presença, ausência e quantidade de outros elementos.
A necessidade nutricional = menor quantidade suficiente para manutenção da massa corporal normal, balanço químico, morfologia e funções fisiológicas e evitar sinais clínicos ou doença decorrente de carência. Crescimento é critério adicional para crianças
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
1 Fonte de energia;
Água;
23 Compostos orgânicos essenciais:9 Amino-ácidos (proteína);1 Ácido graxo;13 Vitaminas.
15 Elementos inorgânicos.Cálcio, fósforo,iodo, ferro, magnésio, zinco, cobre, potássio, sódio, cloreto, cobalto, cromo, manganês, molibidênio, selênio
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Doença: altera as necessidades através de pelo menos 7 mecanismos diferentes
Aumento do uso do nutriente;
Absorção deficiente;
Incapacidade para ativar um nutriente;
Perdas elevadas de dado nutriente;
Ineficiência na excreção ou degradação;
Hiperabsorção;
Medicamento.
Condições que alteram as necessidades nutricionais
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Água: 1ml/kcal adultos e 150ml/Kg crianças, dependente dos solúveis consumidos ( proteína, sódio, cloreto, potássio), capacidade de filtragem dos rins, perda extra-renal.
Energia: input = output;
Proteína: Dependente da disponibilidade metabólica da fonte de proteína primária. Necessária para síntese de endoproteínae combustível metabólico.
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Nutriente Sintomas carenciais Sintomas excesso
Vitamina DRaquitismo e falência de crescimento na criança; osteomalácia no adulto
Hipercalcemia, nefrolitíase, comprometimento da função renal
Vitamina E Anemia
Vitamina K Tendencia a hemorragias Icterícia
Vitamina C
escorbuto, petéquias, equimoses, hemorragia perifolicular, hemorragia gengival Hiperoxalúria
Calcioraquitismo, osteomalácia, deficiência de crescimento, convulsões
Hipercalcemia, disfunção renal e mental
Fósforo Fraqueza, osteomalácia
Ferro Anemia, baixa resistência a infecções
Magnésiodeficiência de crescimento, falencia cardíaca Diarréia
Fluor Aumento na freqüencia de cáriesmanchas nos dentes, aumento da densidade óssea
RAQUITISMO
Raquitismo: Deficiência na deposição de cálcio e fósforo na matriz óssea e cartilaginosa na criança
Causas: Deficiência de vitamina D, cálcio ou fósforo.
Doenças intestinais crônicas, deficiência dietética, hiper-solicitação (disfunção paratiroideana).
Vitamina D: Ocorre naturalmente em produtos de origem animal, ou é bio-sintetizada (raios ultravioleta), colecalciferol (D3)
Calcio: Produtos de origem animal e vegetais folhosos
Fósforo: Produtos de origem animal (carne, peixe, laticínios)
RAQUITISMO
Comprometimento ósseo
Mecanismo: Formação da matriz óssea pelos ameloblastros não é afetada, apenas a mineralização. A matriz é resistente a reabsorção e persiste em quantidade elevada.
Na doença grave e ativa por época da morte: matriz pode não se preservar, metáfises aumentadas.
Doença parcialmente curada: matriz moderadamente mineralizada e alteração da arquitetura óssea.
Em ambos os casos: Ossos leves e quebradiços
Ocorrência de nanismo em casos severos e prolongado
RAQUITISMO
Cranio
Quase sempre afetado;
Afinamento, espessamento ou ambos combinados;
Craniotabes (afinamento): Durante o crescimento encefálico acelerado, usualmente desaparece aos 9 meses, dificilmente simetricamente distribuído;
Espessamento: Principalmente entre 2 e 3 anos de idade. Mais proeminente nas bossas parietais e frontais, osso neoformadodepositado quase esclusivamente na tabua externa. Cabeça quadrada. Durante cicatrização parte é reabsorvida mas a maior parte permanece como cicatriz.
RAQUITISMO
Ossos Longos
Aspecto ósseo varia com a quantidade de reabsorção da matriz e desmineralização do osso;
Desmineralização acentuada (para manutenção dos níveis séricos) resulta em afinamento da cortical e abertura da espongiosa;
Quando não ocorre desmineralização: metáfises expandidas devido a quantidade excesiva de matriz e cartilagem,aposiçãoóssea subperiosteal, espessamento da cortical e diminuição da cavidade medular
Fraturas frequentes nas diáfises, raramente há desalinhamento, encurvamento das diáfises, membro superior em geral menos afetado que inferior. Coxa vara.
RAQUITISMO
Costelas, Coluna e Pelve
Hipertrofia da cartilagem hialina nas junções costocondrais (rosário raquítico) Frequentemente mais pronunciado na face interna das
costelas. Sulco de Harrinson’s – costelas falsas.
Escoliose, compressão de corpos vertebrais e cifose,
Estreitamento do canal pélvico (compressão pelo tronco e pressão dos fêmures).
Dentição
Retardo e alteração na seqüência da erupção da dentição decídua,
Defeitos hipoplásico em ambas as dentições
RAQUITISMO
Caso clínico
Aspecto metafisário relacionado à osteosíntese excessiva
RAQUITISMO
♀ 7 meses (1904)
♀ 6-8 MESES
± 2 anos (1889)
RAQUITISMO
♀ 7 meses (1874) ♀ 1 ano (1881)
RAQUITISMO
± 2 ANOS
Fraturas de estresse em todos os ossos
Adulto, aspecto do femur direito mostrando sequelas decorrentes de raquitismo
RAQUITISMO
Osteomalácia: Deficiência de calcio, vitamina D e fósforo adulto, levando a mineralização deficiente da matriz óssea.
Causas: Deficiência de vitamina D, cálcio ou fósforo.
Doenças intestinais crônicas, deficiência dietética, hiper-solicitação (disfunção paratiroideana).
Risco; Mulheres com gestações sucessivas e lactação prolongadas. 131 casos da literatura – 86 grávidas ou em puerpério, 35 não grávidas e 11 homens (1861, Litzman)
Diferenças entre raquitismo e osteomalácia: Resultado da resposta diferente do organismo a deficiência nutricional em questão
OSTEOMALÁCIA
Deformidades são mais severas na coluna, pelve, costelas, esterno e fêmur. Crânio é apenas raramente afetado.
Coluna: Cifose, em particular na porção inferior da região lombar, e escoliose.
Pelve; Similar a do raquitismo;
Ossos longos: Marcadamente afetados apenas em casos grave. Alargamento das metáfises está ausente. Encurvamento ossos longos e colapso costal pode ocorrer. Espessamento de cortical e arquitetura trabecular compacta presente no lado concavo, atrofia por falta de uso do lado convexo. Fraturas comuns com formação excessiva de calo óssea. Osteoartrite traumática.
Com a progressão dos casos graves pode ocorrer osteoporose (osteopenia) por desuso.
OSTEOMALÁCIA
OSTEOMALÁCIA
♀ adulta, óbito após 7 gestações.
Deformidade severa da pelve e caixa torácica. Deformidade das costelas decorrente do peso dos braços.
OSTEOMALÁCIA
Fêmur direito, fratura por estresse
OSTEOMALÁCIA
Osteomalácia com hipertrofia óssea dos ossos longos (possivelmente complicação de estado paralítico)
OSTEOMALÁCIA
Mesmo caso.
Vista posterior dos fêmures
RAQUITISMO/OSTEOMALÁCIA
Diagnóstico Diferencial:
Osteopenia endócrina – Osteoporose senil e pós-menopausa (Idade, estrogênio e androgênio);
Osteopenia por estresse – Atrofia por desuso;
Osteopenia Congênita: Osteogênese imperfeita.
OSTEOPOROSE
♂ adulto maduro. Egito, 12 dinastia
Atrofia bi-parietal. Radiografia em vista anteroposterior.
OSTEOPOROSE
♀ 28 anos, falta exercício e má-nutrição, indivíduo com tuberculose e caquexia. Autopsia, ano 1884.
OSTEOPOROSE
Corpo vertebral em secção sagital
A: Osteoporose severa; B: Normal.
A
B
Osteogênese Imperfeita
Saxão, 650 – 850 AD;
16 – 17 anos, sexo indeterminado,
Múltiplas fraturas na área de angulação, metáfises aumentadas, afinamento do córtex, diminuição da densidade da espongiosa, diáfise delgada.
Sem evidencias de raquitismo em centenas de esqueletos saxões investigados para o período
Ossos muito frágeis, conservação difícil, dois casos relatados (21 dinastia, Egito e caso ao lado)
EDD E
?
♂A
DU
LT
O
♂A
DO
LE
SC
EN
TE
FLUOROSE
Fluorose: Alterações em ossos e dentes decorrentes do excesso de flúor que se deposita nos cristais de apatita (no lugar do radical hidroxil).
Causas: Ingestão aumentada de flúor, comumente através de água.
Sintoma inicial: fluorose dentária. Pontos de esmalte hipomineralizado, principalmente na dentição permanente.
Fluorose óssea: Casos graves e duradouros.. Produção de osso subperiosteal e endosteal estimulada, qualidades microscópicas e mecânicas alteradas (menos resistente mecanicamente) pode ocorrer fratura. Ossificação exagerada de inserções e ligamentos
FLUOROSE
FLUOROSE
♂ Adulto, Indiano
Hiperostose periosteal generalizada em fíbula, femur, talus, vértebras lombares e primeiro metatarso.
Fratura cicatrizada no
fêmur
FLUOROSE
♂ Adulto, Indiano
Ossificação da membrana interóssea
Seção transversal do fêmur:
Neoformação óssea subperiosteal
Reab
sorç
ão int
raco
rtic
al
Indicadores Inespecíficos de Estresse
Descontinuidades fisiológicas
Linhas de Harris Hipoplasias de esmalte dentário
Sinais patológicos – comprometimento sistêmico
Hiperostose porótica Periostites
HIPEROSTÓSE PORÓTICA E ANEMIA FERROPRIVA
2 anos, Pueblo, Novo México, Pré-colombiano.
Lesões labirínticas (ativas), expansão da diploe. Ossos longos com região da medula hematopoiética expandida.
Índio Botocudo, Santa Catarina, Acervo Museu
Nacional – RJ, Hiperostose porótica
parietal
HIPEROSTÓSE PORÓTICA E ANEMIA FERROPRIVA
Fonte:Ortner, D.J. & Putchard, W.G. (1981). Identification of pathological conditions in human skeletal
remains. Washington: Smithsonian Institution press.
Criança, apx.12 anos, Pachacamac, Peru
Criança, 1 – 2 anos, Sítio Pueblo Bonito, Novo México
HIPEROSTÓSE PORÓTICA E ANEMIA FERROPRIVA
HIPEROSTÓSE PORÓTICA E ANEMIA FERROPRIVA
9 meses, neoformação óssea, espessura máxima superior a 1 cm. Pós-cranio sem achado
Infantil, Peruano pré-histórico. Achados compatíveis com anemia ferropriva
Diagnóstico diferencial: Talassemia
Talassemia maior
8 anos, tailandês.
A: Vista ectocraniana
B: Vista endocraniana
C: Secção mostrando aumento dos espaços da diploe, neoformação óssea subperiosteal em colmeia substituindo as tabuas interna e externa
A
BC
Causa: Deficiência prolongada de vitamina C (ácido ascórbico).
Ácido ascórbico é essencial na formação do polipeptídeo precursor da fibra de colágeno
Principal manifestação óssea: Diminuição ou ausência de formação de matriz óssea.
Ácido ascórbico também age na formação do cemento das células endoteliais vasculares – quadro hemorragico.
Manifestações ósseas: Mais comuns em crianças que em adultos
Vitamina C é destruída em temperatura á temperatura de fervura de água
ESCORBUTO
Infantil:
Trans placentária: não existe deficiência ao nascer;
Vários meses antes das manifestações aparecerem, raramente observado antes dos 4 meses, ocorr~encia máxima entre 8 e 10 meses
Comprometimento esquelético maior em áreas de crescimento rápido: costocondral, metáfise distal do fêmur, rádio e ulna, metáfise proximal do úmero
Diretamente causadas pela deficiência e secundárias a traumas:
Primária: decorrente do desbalanço entre a atividade osteoblástica e osteo e condro clástica;
ESCORBUTO
ESCORBUTO
Fo
nte
:Ort
ner
, D
.J.
& P
utc
har
d,
W.G
. (1
98
1).
Id
enti
fica
tio
n o
f p
ath
olo
gic
al
con
dit
ion
s in
hu
man
sk
elet
al r
emai
ns.
Was
hin
gto
n:
Sm
ith
son
ian
In
stit
uti
on
pre
ss.
Criança, 11 meses (6 meses de curso)
Hematoma subperiosteal
Fraturas metafisárias tranversais.
ESCORBUTO
Escorbuto severo
Caso clínico
Hematoma subperiosteal
Cortical óssea incomumente fina
ESCORBUTO
Maia, Guatemala (500-1000AD)
Hematomas sub-periosteaisossificados
B
A: Vista mesial ,tíbia direira , ♂ adulto maduro.
B: Vista mesial, tíbia direita, ♂ adulto .
C
Procedência não referida
C: Vista lateral, ♂ adulto maduro. Sinais de hemorragia massiva.
ESCORBUTO
Hematomas subperiosteal ossificado
Maia, 300 BC -200 AD
Adulto, sexo não referido.
Em imagem radiológica:Osso neo-formado,
afinamento da cortical óssea
Dificuldades e limitações: Idiossincrasias de séries funerárias de origem arqueológica
Séries funerárias de origem arqueológica não atendem aos padrões amostrais usuais da estatística e da epidemiologia.
Os riscos de morrer são desiguais segundo sexo, idade, status, atividade.
Doenças e crises de curso rápido podem não marcar o esqueleto
Nutrição X Subsistência;
Indicadores relacionados ao estado nutricional;
Indicadores relacionados à dieta e à subsistência.
Dificuldades e limitações: Idiossincrasias de séries funerárias de origem arqueológica
Totalidade de mortos do grupo
Indivíduos enterrados no sítio
Evidência material sobrevivente
Evidência material recuperada
Evidência material que podeser analisada
Diagnóstico possível
Adaptado de: Waldron, T (1994). Counting the dead: The epidemiology of Skeletal
Populations. Wiley & sons.
Evidência material descoberta
Dificuldades e limitações: Multiplicidade de fatores inter-relacionados
Estado nutricional
Estratégia de subsistência
Organização social do grupo
Densidade demográfica
Dieta efetivamente
consumida
Solicitação de nutrientes
Técnicas de armazenagem
Técnicas de preparo
Associações e tabus alimentares
“Estratégia reprodutiva”