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1 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS ENTRE AS MESORREGIÕES DO BRASIL: 1970 E 2000 Resumo: Este artigo analisa a distribuição espacial das atividades econômicas entre as mesorregiões do Brasil e o perfil da sua estrutura produtiva no período de 1970 a 2000. O método utilizado foi a análise regional a partir das medidas de localização e reestruturação da ocupação da mão-de-obra no tempo e no espaço. Os resultados demonstraram que a maioria das regiões brasileiras já possuíam duas características comuns no ano de 1970: diversificação produtiva, ligada principalmente aos setores da indústria e dos serviços, e a alta taxa de urbanização. No final do século as mesorregiões reforçaram suas diversificações e ampliaram sua urbanização, principalmente aquelas localizadas nas regiões Norte e Centro-Oeste. Palavras-Chave: Economia espacial; Economia Regional; Mesorregiões. INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é analisar a distribuição espacial das atividades econômicas entre as mesorregiões do Brasil bem como mostrar quais foram as mesorregiões que mais reestruturaram suas estruturas produtivas no período de 1970 a 2000. O período entre 1970 e 2000 marca grandes transformações na economia e na vida política brasileira. Na questão política o país sai de vinte anos de ditadura militar e inicia a transição para a democracia em 1985. Já na economia houve mudanças macroeconômicas e, regionalmente, no perfil da divisão social do trabalho e na distribuição espacial das atividades produtivas. Na questão do perfil da divisão social do trabalho, o país inicia sua transição de um estilo fordista de produção, caracterizado pela produção e consumo em massa, para novas atividades que se utiliza de um estilo de acumulação flexível. Esta nova forma flexível de produção baseava-se no surgimento de ramos de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY, 1994). Essas mudanças no estilo de acumulação de capital impactaram também na regionalização da divisão social do trabalho, da reprodução da força de trabalho e na concentração das atividades produtivas fortalecendo os centros urbanos. Já nas áreas rurais os impactos se sucederam na transição de um estilo de produção extensivo, baseado na incorporação de novas terras, para um estilo mais intensivo baseado na modernização,

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DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS ENTRE AS

MESORREGIÕES DO BRASIL: 1970 E 2000

Resumo: Este artigo analisa a distribuição espacial das atividades econômicas entre as

mesorregiões do Brasil e o perfil da sua estrutura produtiva no período de 1970 a 2000. O

método utilizado foi a análise regional a partir das medidas de localização e reestruturação da

ocupação da mão-de-obra no tempo e no espaço. Os resultados demonstraram que a maioria

das regiões brasileiras já possuíam duas características comuns no ano de 1970: diversificação

produtiva, ligada principalmente aos setores da indústria e dos serviços, e a alta taxa de

urbanização. No final do século as mesorregiões reforçaram suas diversificações e ampliaram

sua urbanização, principalmente aquelas localizadas nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Palavras-Chave: Economia espacial; Economia Regional; Mesorregiões.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é analisar a distribuição espacial das atividades econômicas

entre as mesorregiões do Brasil bem como mostrar quais foram as mesorregiões que mais

reestruturaram suas estruturas produtivas no período de 1970 a 2000.

O período entre 1970 e 2000 marca grandes transformações na economia e na vida

política brasileira. Na questão política o país sai de vinte anos de ditadura militar e inicia a

transição para a democracia em 1985. Já na economia houve mudanças macroeconômicas e,

regionalmente, no perfil da divisão social do trabalho e na distribuição espacial das atividades

produtivas.

Na questão do perfil da divisão social do trabalho, o país inicia sua transição de um

estilo fordista de produção, caracterizado pela produção e consumo em massa, para novas

atividades que se utiliza de um estilo de acumulação flexível. Esta nova forma flexível de

produção baseava-se no surgimento de ramos de produção inteiramente novos, novas

maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas

altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY,

1994).

Essas mudanças no estilo de acumulação de capital impactaram também na

regionalização da divisão social do trabalho, da reprodução da força de trabalho e na

concentração das atividades produtivas fortalecendo os centros urbanos. Já nas áreas rurais os

impactos se sucederam na transição de um estilo de produção extensivo, baseado na

incorporação de novas terras, para um estilo mais intensivo baseado na modernização,

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tecnificação e industrialização da agricultura, que afetaram a estrutura fundiária, as relações

de produção indústria - produtor, a pauta de produtos cultivados, os sistemas agrícolas, o

habitat e a paisagem rural e as densidades demográficas rurais (CORRÊA, 1986).

Assim, as reestruturações da base produtiva consolidada e a estruturação de bases

produtivas novas impactaram no desenvolvimento de outros segmentos econômicos,

determinando que os setores urbanos (secundário e terciário) ampliassem significativamente

sua participação na produção econômica regional (ALVES, 2008). O que refletiu no

movimento populacional (crescimento e concentração populacional) das grandes regiões

metropolitanas e na economia urbana e regional.

Neste contexto, mesorregiões que antes participavam minimamente da atividade

econômica nacional ganharam uma maior representatividade. Isso leva a alguns

questionamentos: Quais foram essas mesorregiões? Além disso, as atividades urbanas também

se espraiaram no território brasileiro? Quais foram essas atividades? Esta análise subsidiará

respostas para responder a esses questionamentos.

2 ELEMENTOS METODOLÓGICOS

A análise dos dados será realizada para as mesorregiões geográficas do Brasil para os

anos de 1970 e 2000. A escolha desse período se dá em função dos elementos comentados na

introdução e também da disponibilidade dos dados.

No caso das mesorregiões, os 5.592 municípios existentes no Brasil em 2000 são

agregados em 137 mesorregiões geográficas. Essa é uma subdivisão regional criada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no final dos anos 1960. O IBGE (1990)

caracteriza a mesorregião como uma área individualizada em uma Unidade de Federação que

apresenta formas de organização do espaço com as seguintes dimensões: o processo social,

quadro natural e a rede de comunicação e de lugares. Esses elementos se articulam no espaço

regional e caracterizam a identidade regional da mesorregião, construída ao longo da história

de colonização e exploração dos recursos naturais.

Será utilizada como variável de análise o número de empregados por ramos de

atividade. Em geral se pressupõe que os ramos de atividade mais dinâmicos empregam mais

mão-de-obra no decorrer do tempo. Assim, a ocupação assalariada da mão-de-obra tem

reflexo na renda regional, o que estimula a demanda efetiva e conseqüentemente a dinâmica

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das atividades produtivas voltadas ao mercado interno região. Os dados foram coletados dos

microdados dos Censos Demográficos disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE).

Devido a grande desagregação setorial apresentada pelos microdados do IBGE as

informações foram agrupadas nos seguintes setores: do setor primário: agricultura; pecuária;

e, extração vegetal, caça e pesca; do setor secundário: indústrias dinâmicas; indústrias não-

tradicionais; industrias tradicionais; extração mineral; construção civil; e, serviços industriais

de utilidade pública (SIUP); e do setor terciário: comércio, prestação de serviços; transporte;

administração pública; atividades sociais; e, outras atividades.

Neste contexto, foram utilizadas as medidas de localização e de especialização, mais

especificamente o Quociente Locacional e o Coeficiente de Reestruturação. Os resultados

dessas medidas fornecem elementos para identificar as mesorregiões mais especializadas em

cada uma das atividades analisadas e aquelas que mais reestruturam no período de análise.

O Quociente Locacional (QL) é um indicador de análise regional mais difundido no

meio acadêmico e demonstra o comportamento locacional dos ramos de atividades, assim

como aponta os setores de maior especialização em cada uma das mesorregiões que formam

o conjunto da economia nacional. Por isso, é uma medida de natureza descritiva que

caracteriza as várias atividades e as diferentes regiões em análise, do ponto de vista do seu

nível de especialização/diversificação das suas estruturas produtivas. Como o QL utiliza

valores relativos como parâmetro de distribuição da variável entre os ramos de atividade

econômicos, o indicador anula o efeito “tamanho” das regiões, permitindo a estimativa de

indicadores confiáveis. (PUMAIN e SAINT-JULIEN, 1997; DELGADO e GODINHO,

2002).

Assim, o QL possui uma natureza setorial, pois se preocupa com a localização da

variável base (número de empregados) entre as mesorregiões, procurando identificar padrões

de especialização ou diversificação num determinado período. A equação (1) expressa o

cálculo do QL.

QL = Empregados do setor i na mesorregião j / Empregados do setor i do Brasil (1)

Empregados total da mesorregião j / Empregados total do Brasil

Dessa forma, o QL compara a participação percentual do número de empregados de

uma mesorregião j com a participação percentual do Brasil. A importância da mesorregião j

no contexto regional, em relação a variável x estudada, é demonstrada quando o QL assume

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valores acima de 1. Nesse caso (quando o QL for maior ou igual a 1), indica a

representatividade da variável x em uma mesorregião j específica, ou seja, indica que esse

setor é especializado nessa região. O contrário ocorre quando o QL for menor que 1. A partir

da análise do QL poder-se-á visualizar a especialização em cada uma das mesorregiões no

período estudado e sua espacialização.

Já, o Coeficiente de Reestruturação (Cr) relaciona a estrutura do número de

empregados por mesorregião entre dois períodos, ano base 0 e ano 1, verificando o grau de

mudanças na especialização de cada mesorregião. Coeficientes iguais a zero (0) indicam que

não ocorreram modificações na estrutura setorial da mesorregião, e próximos a unidade (1)

demonstra uma reestruturação substancial (ISARD, 1972; HADDAD, 1989).

É expressa pela equação:

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01 IICT i

j

(2)

Em que:

CTj = Quociente de Reestruturação na mesorregião j

i = Somatório das atividades na mesorregião j

I0 = Distribuição percentual de emprego do setor i inicial na mesorregião j

I1 = Distribuição percentual de emprego do setor i final na mesorregião j.

Assim, a próxima seção apresenta os resultados do quociente locacional para as

mesorregiões brasileiras no período de 1970 a 2000.

3 A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS ENTRE AS

MESORREGIÕES DO BRASIL

Conforme apresenta a Figura 1, referente ao setor primário, em 1970 o QL da

agricultura já era significativo em grande parte das mesorregiões brasileiras. Dessas, ressalta-

se as que se localizavam principalmente no Nordeste, em parte do Centro-Oeste e no Sul. Já

em 2000, houve uma dispersão da agricultura em direção à Região Norte. Assim, essa

atividade passa a ter uma localização significativa também no Norte além do Nordeste e Sul.

Por outro lado, percebe-se que algumas mesorregiões do Centro-Oeste perderam

representatividade nesse setor no ano de 2000.

O perfil de localização da mão-de-obra ocupada na agropecuária demonstra algumas

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particularidades em relação as mesorregiões que ganharam ou perderam representatividade no

período de 1970 a 2000: algumas reforçaram as suas especializações, ou seja, eram

mesorregiões que já tinham um alto QL em 1970 e aumentaram o seu fator locacional em

2000, como por exemplo, o Sertão Alagoano que tinham um QL de 1,92 e passou para um QL

de 4,32 em 2000 (uma diferença de 2,40). Por outro lado têm-se aquelas mesorregiões que

não tinham um QL>1 em 1970 e passaram a ser representativas em 2000, como o Leste

Rondoniense com um QL de 2,29 em 2000 (uma diferença de 2,29 em relação a 1970); o Sul

Amazonense que aumentou seu QL em 2,21 e o Sudoeste Amazonense com um aumento de

2,17. Também há aquelas mesorregiões que eram especializadas em 1970, mas que perderam

importância em 2000, algumas delas são: Leste Goiano com uma diferença no QL de -1,07 do

ano 1970 para o ano de 2000; o Noroeste Goiano que perdeu -1,06 em seu QL entre 1970 e

2000; o Sudoeste Mato-Grossense com uma perda de -0,98; e o Leste de Mato Grosso do Sul,

o Norte Goiano e o Centro-Sul Mato-Grossense que apresentaram perdas em seus QLs de -

0,89, -0,87 e -0,81, respectivamente, fazendo com que deixassem de ser mesorregiões

especializadas.

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Figura 1 – Quociente Locacional para o setor primário das mesorregiões do Brasil –

1970/2000. Agricultura

1970 2000

Pecuária

1970 2000

Ext. veg., caça, pesca

1970 2000

Fonte: Resultados da Pesquisa

Referente à pecuária, a Figura 1 mostra que, em 1970, as mesorregiões mais

especializadas situavam-se principalmente no Centro-Oeste, tomando também parte do Sul,

Sudeste e Nordeste. No ano de 2000, essa atividade continuou predominando nas mesmas

regiões, porém houve uma dispersão para o Norte, Nordeste e o Sul. O Noroeste Goiano era a

mesorregião que mais se destacava, tanto em 1970 quanto em 2000, sendo o portador do

maior Quociente Locacional de 3,66 e 7,86 respectivamente. Porém, outras mesorregiões não

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se destacavam em 1970, mas apresentaram um grande aumento do seu QL em 2000, como por

exemplo: Leste Rondoniense teve um crescimento no QL de 2,60 de 1970 para 2000;

Noroeste Paranaense que nesse período aumentou 2,22 em seu QL; e Sudoeste Paranaense

que teve um aumento de 2,11 no QL do ano 2000 em relação ao ano de 1970. E, dentre as

mesorregiões que deixaram de ser especializadas pode-se citar o Norte de Roraima, o Vale do

Paraíba Paulista, o Sul Espírito-Santense e o Sul Fluminense que, entre os anos 1970 e 2000,

tiveram perdas em seus QLs de -2,94, -1,62, -1,01 e -0,88, respectivamente.

Na atividade de extração vegetal, caça e pesca para o ano de 1970 visualizou-se que

essa atividade era predominantemente concentrada na Região Norte, com uma pequena

participação do Sul e do Nordeste. Porém, essa especialização se dispersou em 2000. O

Centro-Oeste e o Sudeste ganharam importância. A mesorregião que mais se especializou

nesse período foi o Norte do Amapá que teve um crescimento enorme de 6,02 em seu QL no

período de tempo analisado, sendo que esta já era especializada desde 1970. Mas, outras

mesorregiões merecem destaque, pois passaram a serem especializadas, algumas delas são:

Sudeste Piauiense, Leste Rondoniense, Vale São-Franciscano da Bahia, Sertões Cearenses, e

Oeste Potiguar, com aumentos de 1,65, 1,38, 1,27, 1,23 e 1,07, respectivamente. E algumas

regiões que mais perderam em especialização foram: Grande Florianópolis com uma perda de

- 1,20 em seu QL no período; Sul Fluminense com uma diferença de - 0,46 em relação ao QL

de 1970 e 2000; e Norte Catarinense que perdeu - 0,07 no seu QL nesse período de tempo.

Assim, a Figura 2 mostra quais eram as mesorregiões mais especializadas para as

indústrias dinâmicas, as tradicionais e as não-tradicionais.

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Figura 2 – Quociente Locacional para o setor secundário das mesorregiões do Brasil –

1970/2000 Ind. Dinâmicas

1970 2000

Ind. Não-Tradicionais

1970 2000

Ind. Tradicionais

1970 2000

Fonte: Resultados da Pesquisa

Segundo a Figura 2, a distribuição espacial das indústrias dinâmicas em 1970 era

totalmente concentrada no Sul e Sudeste, principalmente na faixa litorânea. Essa distribuição

não sofreu muitas alterações em 2000, porém algumas mesorregiões ganharam destaque nesse

tipo de especialização, como o Centro Amazonense, o Sul Catarinense e o Sul Espírito-

Santense, que de 1970 a 2000 aumentaram seus QLs em 1,05, 1,16, e 0,83, respectivamente.

Vale salientar que as indústrias dinâmicas agrupam as produções de bens intermediários da

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etapa mais avançada da industrialização e os ramos produtores de bens de capital.

Conforme destaca Piffer (2009) as indústrias não-tradicionais são um “meio-termo”,

pois se trata de empresas de uso mais intensivo de capital que a indústria tradicional e que

tiverem a sua origem mais recente no processo de industrialização. Exemplos de indústrias

não-tradicionais são: a indústria de fumo, a indústria sucroalcooleira, a indústria editorial e a

indústria gráfica. Neste sentido, a Figura 2 mostra que em 1970, as mesorregiões

especializadas localizavam-se concentradas, assim como as indústrias dinâmicas, no Sul e

Sudeste, com alguns pontos também no Nordeste. Já em 2000, a atividade continuou

concentrada, porém algumas mesorregiões passaram a se destacar nessa atividade: Centro-Sul

Mato-Grossense, Itapetininga, Mata Paraibana, Assis e Triângulo Mineiro/Alto Parnaíba

foram mesorregiões que se tornaram especializadas em 2000.

Quando se analisam as indústrias tradicionais deve-se levar em consideração que nesse

tipo de indústria são classificados os ramos de atividades inerentes ao início do processo de

industrialização e da primeira fase de substituição por importações brasileira. Nesse caso,

trata-se dos bens de consumo não duráveis, caracterizados pelo uso intensivo de mão-de-obra

na sua produção. Neste sentido, nas regiões Sul e Sudeste, novamente na faixa litorânea, eram

onde se localizava a maioria das mesorregiões especializadas no setor das indústrias

tradicionais em 1970. Nota-se uma similaridade em relação a localização das atividades

industriais no ano de 1970: nesse ano o eixo sul-sudeste concentrava as mesorregiões mais

especializadas. Isso se deve ao processo histórico de desenvolvimento, ou seja, o processo de

industrialização brasileiro iniciou-se e se intensificou nessas mesorregiões durante um longo

período de tempo. A partir de 1970 quando o oeste do Brasil passa a ser explorado

economicamente de forma mais intensa e se urbaniza é que os setores industriais começam a

se dispersar para o interior do Brasil. As fases diferenciadas de ocupação do espaço, nesse

caso, ajudam a explicar a diferenciação na maturação do capital industrial nas áreas ocupadas.

A dispersão dos demais setores industriais ratifica as informações supracitadas,

conforme mostra a Figura 3.

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Figura 3 – Quociente Locacional para o setor secundário das mesorregiões do Brasil –

1970/2000. Extração Mineral

1970 2000

Construção Civil

1970 2000

SIUP

1970 2000

Fonte: Resultados da Pesquisa

Com exceção do setor da extração mineral que se localiza próximo à sua fonte de

matéria-prima, os demais setores industriais apresentaram uma expressiva dispersão no

período de 1970 a 2000. Essa dispersão está diretamente relacionada com o crescimento das

populações urbanas no Brasil que ocorreu nesse intervalo de tempo. Ou seja, a população se

dispersa mais e mais em direção ao interior do país fortalecendo as novas fronteiras agrícolas,

tanto na ocupação da mão-de-obra como em mercados potenciais para a localização das

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atividades urbano-industriais.

De forma geral, a atividade de extração mineral manteve sua localização no período

analisado, no qual as mesorregiões especializadas nessa atividade se localizavam

principalmente no Norte, no Centro-Oeste, no Nordeste e no Sudeste, ou seja, eram bem

dispersas no território brasileiro. Em 2000, a atividade continua dispersa, mas o Norte passa a

ser mais especializado e, em contrapartida, o Nordeste perde parte de sua representatividade.

O fortalecimento da Região Norte na ocupação da mão-de-obra tira representatividade do

Nordeste. Em geral, as duas regiões usam fundos setoriais específicos, o que significa que

competem também pelos capitais oriundos dos programas setoriais.

Referente à construção civil, a Figura 3 aponta que, em 1970, a localização das

mesorregiões especializadas nessa atividade era levemente concentrada no Sul, Sudeste e

Centro-Oeste. Em 2000, a atividade se concentrava ainda mais no Sudeste e Centro-Oeste

surgindo novas mesorregiões especializadas, algumas delas foram: Oriental do Tocantins,

Leste Goiano, Sudeste Mato-Grossense, Assis, Norte Central Paranaense, Norte Goiano,

Presidente Prudente, Vale do Rio Doce, Marília, Noroeste Fluminense, Norte Fluminense,

dentre outras. Ou seja, são mesorregiões localizadas fora do pólo constituído pelas regiões

metropolitanas do Sudeste e do Sul do Brasil.

Quanto a atividade nos Serviços Industriais de Utilidade Pública verificou-se que as

mesorregiões que tinham especialização nesta atividade em 1970 situavam-se concentradas no

Sul e Sudeste, principalmente na faixa litorânea, em função da forte metropolização e

adensamento de população dessas áreas que exige mais serviços de saneamento básico,

comunicações e energia elétrica. Já em 2000, houve uma dispersão dessa atividade por grande

parte do território brasileiro mudando totalmente o cenário da localização do SIUP. Desta vez,

percebe-se pontos de concentração das mesorregiões especializadas no Norte, Nordeste e

Centro-Oeste. Como essa atividade cresceu muito, há várias mesorregiões que passaram de

não especializadas à forte especialização, como por exemplo: Sul de Roraima, Oriental do

Tocantins, Norte Amazonense, Noroeste Goiano, Norte Goiano, Borborema, Norte do

Amapá, Leste Goiano, Sudoeste Amazonense, Norte de Roraima, Vale do Juruá, Sertão

Sergipano, Sertão Paraibano, dentre várias outras. Ou seja, o SIUP acompanha a dispersão da

população que demanda mais serviços sociais básicos e exige a interiorização dos

investimentos em geração de energia, telecomunicações e urbanização.

Neste contexto, a Figura 4 apresenta a distribuição espacial das atividades terciárias.

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Figura 4 – Quociente Locacional para o setor terciário das mesorregiões do Brasil –

1970/2000. Comércio Prestação de Serviços

1970 2000 1970 2000

Transporte Adm. Pública

1970 2000 1970 2000

Atividades Sociais Outras atividades

1970 2000 1970 2000

Fonte: Resultados da Pesquisa

Os resultados da pesquisa demonstram que para todas as atividades terciárias notou-se

uma dispersão das mesorregiões mais especializadas pelo interior do Brasil. Além disso, fica

nítido como as mesorregiões com especialização média (0,50<QL<1,00) também se

difundiram. Isso mostra que o setor terciário está ganhando cada vez mais importância na

ocupação da mão-de-obra em todo o território nacional.

Com relação ao setor do comércio, em 1970, eram poucas as mesorregiões que

possuíam especialização nessa atividade sendo que elas se localizavam principalmente em

parte do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No ano de 2000, essa atividade se expandiu, surgindo

novos pontos de especialização também no Norte e Nordeste, dentre as quais algumas das

mesorregiões que passaram a ser especializadas durante esse período de tempo: Oeste

Paranaense, Sudeste Mato-Grossense, Centro Ocidental Paranaense, Centro-Sul Mato-

Grossense, Agreste Sergipano, Mata Pernambucana, Norte de Roraima, Central Mineira,

Leste Alagoano e Sul Cearense. A atividade do comércio cresceu na maioria das

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mesorregiões, sendo que apenas três mesorregiões (das 177 existentes) deixaram de ser

especializadas nessa atividade, são elas: Araçatuba, Vale do Paraíba Paulista e Araraquara.

Na atividade de prestação de serviços, visualiza-se que as principais mesorregiões

especializadas nesse setor localizavam-se basicamente concentradas na região Sudeste em

1970. Em 2000, houve uma leve dispersão em direção ao Centro-Oeste, mas a atividade

continuou concentrada. Nesse período de tempo entre 1970 e 2000, várias mesorregiões se

tornaram especializadas nessa atividade, algumas delas são: Leste Goiano, Sudeste Mato-

Grossense, Baixadas, Madeira-Guaporé, Litoral Sul Paulista, Centro-Sul Mato Grossense, Sul

Goiano e Assis. Por outro lado, algumas mesorregiões perderam suas especializações nesse

setor, são elas: Ribeirão Preto, Araraquara, Sul/Sudoeste de Minas, Oeste de Minas, Zona da

Mata, Campo das Vertentes e Centro Ocidental Rio-Grandense.

A atividade dos transportes, para o ano de 1970, era concentrada basicamente no Sul,

Sudeste e Centro-Oeste. No ano de 2000, a maioria das mesorregiões especializadas nessa

atividade continuava concentrada nas mesmas regiões de 1970, porém em um número menor.

Apenas três mesorregiões se tornaram especializadas nesse setor do ano de 1970 para o ano de

2000, são elas: Oeste Paranaense, que passou de um QL de 0,45 em 1970 para um QL de 1,14

em 2000; Centro-Sul Mato-Grossense que aumentou seu 0,25 em seu QL do ano 2000 em

relação ao do ano 1970 e Sul do Amapá que teve um crescimento de 0,16 no seu QL nesse

período de tempo.

Com relação à administração pública, a Figura 4 revela que, em 1970, as mesorregiões

especializadas nessa atividade eram poucas e localizavam-se dispersas no território brasileiro.

Já no ano de 2000, essa atividade se difundiu e as mesorregiões especializadas passaram a se

concentrar principalmente no Norte e Centro-Oeste. A explicação para a grande dispersão

dessa atividade no território nacional se encontra, principalmente, no grande número de

municípios que foram emancipados nesse período. Assim, em grande parte dos municípios,

principalmente os que possuem um contingente populacional menor o setor da administração

pública é um dos setores que mais ocupa mão-de-obra.

Para o setor das atividades sociais a maioria das mesorregiões que possuíam

especialização forte em 1970 localizava-se concentradas no Sudeste e no Sul. Já no ano de

2000, a localização das mesorregiões especializadas nessas atividades se dispersou por todo o

território brasileiro. O setor de “outras atividades”, no ano de 1970, possuía poucas

mesorregiões que eram especializadas e estas se localizavam principalmente no Sudeste. Em

2000, essas atividades ampliaram sua distribuição espacial, localizando-se principalmente

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concentradas na faixa litorânea que se estende do Sul ao Sudeste, também no Norte e Centro-

Oeste.

4 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DAS MESORREGIÕES BRASILEIRAS

Como apresentado na seção anterior houve uma dispersão de diversas atividades

econômicas no espaço brasileiro, fortalecendo a especialização de algumas mesorregiões entre

1970 a 2000. Por isso, muitas mesorregiões ampliaram o número de atividades na qual eram

especializadas nesse período. Dessa forma, para melhor demonstrar quais foram essas

mesorregiões que mais sofreram reestruturação produtiva durante esse período de tempo a

Figura 5 mostra os resultados do Coeficiente de Reestruturação.

Figura 5 – Coeficiente de Reestruturação, por mesorregiões do Brasil – 1970/2000. Coef. Reest. 1970/2000

Fonte: Resultados da Pesquisa

Conforme mostra a Figura 5, as mesorregiões que mais se reestruturaram no período

de 1970 a 2000 estavam localizadas no triângulo locacional formado pelo oeste e norte do

Paraná, com o oeste da região Nordeste e o Acre. Isso demonstra que as mesorregiões que

mais se reestruturaram eram aquelas localizadas nas regiões onde o processo de ocupação

econômica do território era recente ou ainda estava nas suas etapas finais. Por outro lado, as

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mesorregiões que menos se reestruturaram eram aquelas que já concentravam a maioria das

especializações no ano de 1970, principalmente o eixo Sul e Sudeste.

A Tabela 1 apresenta quais foram as vinte mesorregiões que mais se reestruturam e as

vinte mesorregiões que menos se reestruturam nesse período.

Tabela 1 – As 20 mesorregiões brasileiras com maiores e menores coeficientes de

reestruturação – 1970/2000 20 Mesorregiões com Maiores CReest. CReest. 20 Mesorregiões com Menores CReest. CReest.

Sudoeste Mato-grossense 0,6483 Campo das Vertentes 0,2513

Leste Goiano 0,6248 Campinas 0,2459

Oeste Paranaense 0,6070 Sudeste Rio-Grandense 0,2453

Oriental do Tocantins 0,5923 Araraquara 0,2418

Sudeste Mato-grossense 0,5899 Noroeste Espírito-santense 0,2334

Norte Goiano 0,5721 Sudeste Paranaense 0,2319

Noroeste Goiano 0,5571 Metropolitana do Rio de Janeiro 0,2307

Centro Ocidental Paranaense 0,5513 São Francisco Pernambucano 0,2228

Noroeste Paranaense 0,5354 Central Espírito-santense 0,2188

Extremo Oeste Baiano 0,5045 Sertão Alagoano 0,2182

Ocidental do Tocantins 0,5030 Metropolitana de Curitiba 0,2149

Leste Rondoniense 0,5000 Distrito Federal 0,2121

Sudoeste de Mato Grosso do Sul 0,4986 Metropolitana de Salvador 0,2108

Noroeste de Minas 0,4974 Metropolitana de São Paulo 0,2079

Norte Central Paranaense 0,4949 Sudoeste Rio-Grandense 0,1959

Sudeste Paraense 0,4901 Metropolitana de Belém 0,1877

Norte Mato-grossense 0,4815 Metropolitana de Porto Alegre 0,1866

Sudoeste Paranaense 0,4814 Metropolitana de Belo Horizonte 0,1776

Centro-Sul Mato-grossense 0,4804 Metropolitana de Fortaleza 0,1686

Vale do Juruá 0,4777 Metropolitana de Recife 0,1684

Fonte: Resultados da Pesquisa.

Como mostra a Tabela 1 das vinte mesorregiões que menos se reestruturaram a metade

era alguma região metropolitana e as demais eram importantes regiões urbanas dos seus

respectivos Estados. Ao contrário, a maioria das mesorregiões que mais se reestruturaram

estavam localizadas nos Estados da Região Centro-Oeste do Brasil ou no Paraná. Seis

mesorregiões eram paranaenses e oito dos Estados ou do Mato Grosso, ou do Mato Grosso do

Sul ou de Goiás.

Mas quais foram essas mudanças? Com o objetivo de ajudar a esclarecer essa questão

o Quadro apresenta detalhes sobre quais foram as principais mudanças na estrutura produtiva

dessas mesorregiões.

16

Quadro 1 – Principais Especializações (QLs) das Mesorregiões que mais se reestruturaram

Mesorregiões 1970 2000

QLs>1 Urbanização QLs>1 Urbanização

Sudoeste Mato-Grossense Agricultura e Pecuária. 8,99% Pecuária, Extração Vegetal, Extração

Mineral e Indústrias Tradicionais. 70,33%

Leste Goiano Agricultura, Pecuária e

Extração Mineral. 24,40%

Pecuária, Extração Mineral, Construção

Civil, SIUP, Administração Pública e

Serviços.

86,23%

Oeste Paranaense Agricultura e Pecuária. 19,68%

Agricultura, Pecuária, Indústrias

Tradicionais, SIUP, Comércio e

Transportes.

81,60%

Oriental do Tocantins Agricultura e Pecuária. 18,93%

Agricultura, Pecuária, Extração

Mineral, Construção Civil, SIUP e

Administração Pública.

73,94%

Sudeste Mato-Grossense Agricultura, Pecuária e

Extração Mineral. 33,18%

Pecuária, Extração Mineral, Construção

Civil, Comércio e Serviços. 85,12%

Norte Goiano Agricultura, Pecuária e

Extração Mineral. 22,98%

Pecuária, Extração Mineral, Construção

Civil, SIUP e Administração Pública. 74,24%

Noroeste Goiano Agricultura, Pecuária e

Extração Mineral. 30,59%

Pecuária, Extração Mineral, SIUP e

Administração Pública. 74,00%

Centro Ocidental Paranaense Agricultura. 19,03%

Agricultura, Pecuária, Indústrias

Tradicionais, Comércio e

Administração Pública.

72,56%

Noroeste Paranaense Agricultura. 26,27% Agricultura, Pecuária, Indústrias

Tradicionais e Administração Pública. 77,27%

Extremo Oeste Baiano Agricultura. 18,82% Agricultura, Pecuária e SIUP. 53,23%

Ocidental do Tocantins Agricultura, Pecuária e Outras

atividades. 27,86%

Pecuária, SIUP e Administração

Pública. 74,52%

Leste Rondoniense --- --- Agricultura, Pecuária e Extração

Vegetal. 57,75%

Sudoeste de Mato Grosso do Sul Agricultura e Pecuária. 31,48% Agricultura, Pecuária e Administração

Pública. 76,97%

Noroeste de Minas

Agricultura, Pecuária,

Extração Vegetal e Extração

Mineral.

25,10% Agricultura, Pecuária, Extração

Vegetal. Extração Mineral e SIUP. 74,66%

Norte Central Paranaense Agricultura e Comércio. 39,95% Pecuária, Indústrias Tradicionais,

Construção Civil e Comércio. 88,44%

Sudeste Paraense

Agricultura, Pecuária,

Extração Vegetal e Extração

Mineral.

30,95%

Agricultura, Pecuária, Extração

Vegetal, Extração Mineral, Indústrias

Tradicionais e Outras atividades.

63,72%

Norte Mato-Grossense

Agricultura, Pecuária,

Extração Vegetal e Extração

Mineral.

22,32%

Agricultura, Pecuária, Extração

Vegetal, Extração Mineral, Indústrias

Tradicionais e Outras atividades.

69,83%

Sudoeste Paranaense Agricultura. 18,01% Agricultura, Pecuária, Indústrias

Tradicionais e Outras atividades. 59,89%

Centro-Sul Mato-Grossense

Agricultura, Pecuária,

Extração Mineral, Construção

Civil, Administração Pública e

Atividades Sociais.

45,80%

Pecuária, Extração Mineral, Indústrias

Não Tradicionais, Construção Civil,

SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades

Sociais, Serviços e Outras atividades.

90,49%

Vale do Juruá Extração Vegetal. 18,86%

Agricultura, Pecuária, Extração

Vegetal, Indústrias Tradicionais, SIUP,

Administração Pública, Atividades

Sociais e Outras atividades.

48,14%

Fonte: Resultados da Pesquisa.

Conforme mostra o Quadro 1 existem duas características principais em relação as

mesorregiões que mais se reestruturaram:

Primeiro: o aumento no grau de urbanização nessas mesorregiões. Isso foi acarretado

pelos efeitos do processo de mecanização e tecnificação da agricultura ocorrida no final do

século XX, bem como a transferência de contingentes populacionais para as novas áreas de

ocupação e o fortalecimento das cidades médias no interior do país. Assim, um grande

contingente populacional rural se deslocou para os centros urbanos em busca de novas

17

oportunidades de emprego e renda. Desse modo, a proporção da população urbana sobre a

população total aumentou significativamente. O melhor exemplo foi da mesorregião Sudoeste

Mato-Grossense que passou de uma taxa de urbanização de 8,99% no ano de 1970 para

70,33% no ano de 2000. Isso se refletiu nos setores que mais concentravam as pessoas

ocupadas: em 1970 os setores da Agricultura, Pecuária e das Indústrias Tradicionais

concentravam juntos 85,87% (76,03%, 6,58%, 3,26% respectivamente); já em 2000 os setores

que mais concentravam nessa mesorregião eram a pecuária com 17,70%, a prestação de

serviços com 16,86% e o comércio com 13,48% (48,05%). Desse mesmo modo, todas as

mesorregiões que mais se reestruturaram apresentaram um grande aumento em suas taxas de

urbanização e nas suas especializações.

Segundo: a grande diversificação produtiva dessas mesorregiões. No ano de 1970 as

principais especializações produtivas estavam relacionadas ao setor primário da economia,

principalmente a agricultura e a pecuária. Já, no ano de 2000, percebe-se um avanço para as

atividades secundárias e terciárias. Assim, o conjunto dessas mesorregiões passou de um

continuum urbano-rural para um continuum urbano-industrial durante 1970 a 2000. Parte da

explicação reside no próprio aumento populacional, principalmente a urbana.

Com isso, essa reestruturação produtiva se refletiu na própria dinâmica da divisão

social do trabalho e populacional de todas as regiões do Brasil. A Tabela 2 mostra que das

cinco grandes regiões do Brasil duas apresentaram grande destaque no crescimento

populacional total entre 1970 e 2000, quais sejam: o Centro-Oeste que apresentou um

crescimento de 155,67% e a região Norte com 212,76% para o período. As demais regiões

também apresentam crescimento mas com uma proporção menor. Além disso, a despeito o

grande crescimento do Centro-Oeste e do Norte a concentração população se manteve no

Sudeste e no Nordeste.

Tabela 2 - População residente total, urbana e rural, por regiões - 1970 e 2000

Região População residente - TOTAL População residente - URBANA População residente - RURAL

Grau de Urbanização

%

1970 2000 ∆% 1970 2000 ∆% 1970 2000 ∆% 1970 2000 ∆%

Centro-oeste 4.551.391 11.636.728 155,67 2.309.365 10.092.976 337,05 2.242.026 1.543.752 -31,14 50,74 86,73 35,99

Norte 4.124.818 12.900.704 212,76 1.755.862 9.014.365 413,39 2.368.956 3.886.339 64,05 42,57 69,87 27,31

Nordeste 28.111.551 47.741.711 69,83 11.756.451 32.975.425 180,49 16.355.100 14.766.286 -9,71 41,82 69,07 27,25

Sul 16.496.322 25.107.616 52,20 7.305.650 20.321.999 178,17 9.190.672 4.785.617 -47,93 44,29 80,94 36,65

Sudeste 39.850.764 72.412.411 81,71 28.969.932 65.549.194 126,27 10.880.832 6.863.217 -36,92 72,70 90,52 17,83

Fonte: IPEADATA, 2010.

Com relação à população urbana o destaque no crescimento percentual também fica

18

com o Centro-Oeste e o Norte. Na região Centro-Oeste se localizavam a maioria das

mesorregiões que mais se reestruturam no período de 1970 a 2000. Também foi essa região

do Brasil que apresentou o maior crescimento da sua população urbana nesse período, bem

como a segunda que aumentou mais o seu grau de urbanização.

Na população rural encontra-se uma característica interessante para a Região Norte:

enquanto as demais regiões apresentaram redução na população rural que ficaram na ordem

de -9,71% e -47,93% essa região apresentou crescimento de 64,05%. Da mesma forma é

possível visualizar que todas as regiões ampliaram o grau de urbanização com aumento na

ordem de 17,81% para a Região Sudeste até 36,65% para a Região Sul.

O Destaque da Região Centro-Oeste também aparece quando se analisa o Produto

Interno Bruto, conforme mostra a Tabela 3.

Tabela 3 – Produto Interno Bruto (PIB) total e setorial, por regiões - 1970 e 2000

Região

PIB Total

(em milhões de R$)

PIB Agropecuária

(em milhões de R$)

PIB Indústria

(em milhões de R$)

PIB Serviços

(em milhões de R$)

1970 2000 ∆% 1970 2000 ∆% 1970 2000 ∆% 1970 2000 ∆%

Centro-oeste 11.049 76.542 592,8 2.652 9.943 275,0 774 13.747 1.676,4 7.623 49.628 551,0

Norte 6.171 50.650 720,7 1.454 5.904 306,1 932 18.463 1.881,4 3.786 22.752 501,0

Nordeste 33.406 144.135 331,5 7.467 12.575 68,4 6.127 47.367 673,1 19.812 73.292 269,9

Sul 47.688 193.534 305,8 11.958 23.290 94,8 10.447 76.998 637,0 25.284 79.858 215,8

Sudeste 187.058 636.394 240,2 12.247 24.838 102,8 69.122 254.625 268,4 105.689 308.207 191,6

Fonte: IPEADATA, 2010.

Conforme apresenta a Tabela 3, o Produto Interno Bruto (PIB), também apresentou

crescimento significativo em todas as regiões, sendo que em todos os setores e no total as

regiões Centro-Oeste e Norte foram as que mais se destacaram. O grande número de

mesorregiões que apresentaram grande reestruturação produtiva nessas regiões e que

passaram de um continuum urbano-rural para um continuum urbano-industrial podem ter

corroborado nesse grande dinamismo do PIB setorial e total. Mesmo assim, quando se

avaliam os valores absolutos os principais destaques se mantêm nas regiões Sudeste e Sul.

A concentração econômica nas regiões Sudeste e Sul se reduziu nos anos 1980, mas

voltou a se fortalecer nos anos 1990. Isso se refletiu no fato de que as mesorregiões mais

diversificadas estavam localizadas nessas duas grandes regiões do Brasil. O Quadro 2 mostra

maiores detalhes sobre quais foram as mudanças nas especializações e no grau de urbanização

das mesorregiões que apresentaram os menores índices de reestruturação no período de 1970

a 2000.

19

Quadro 2 – Principais Especializações (QLs) das Mesorregiões que menos se reestruturaram

Mesorregiões 1970 2000

QLs>1 Urbanização QLs>1 Urbanização

Campo das Vertentes

Pecuária, Extração Mineral, Indústrias

Tradicionais, Construção Civil, SIUP,

Transportes, Atividades Sociais e Serviços.

59,55%

Agricultura, Pecuária, Extração Mineral,

Construção Civil, Administração Pública e

Atividades Sociais.

81,11%

Campinas

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Indústrias Tradicionais, Construção

Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais e

Serviços.

72,38%

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Indústrias Tradicionais,

Construção Civil, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

93,73%

Sudeste Rio-Grandense

Pecuária, Extração Vegetal, Extração Mineral,

Indústrias Tradicionais, SIUP, Comércio,

Transportes, Administração Pública e Atividades

Sociais.

54,55% Agricultura, Pecuária, Extração Vegetal,

Comércio e Transportes. 80,58%

Araraquara

Pecuária, Indústrias Dinâmicas, Indústrias

Tradicionais, Construção Civil, SIUP, Comércio,

Transportes, Atividades Sociais e Serviços.

71,88%

Indústrias Dinâmicas, Indústrias

Tradicionais, Construção Civil, Comércio,

Atividades Sociais e Serviços.

92,59%

Noroeste Espírito-Santense Agricultura e Pecuária. 31,72% Agricultura, Extração Mineral, Indústrias

Tradicionais e SIUP. 62,13%

Sudeste Paranaense Agricultura, Extração Vegetal e Indústrias

Tradicionais. 28,01%

Agricultura, Extração Vegetal e Indústrias

Tradicionais. 53,56%

Metropolitana do Rio de Janeiro

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Indústrias Tradicionais, Construção

Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

95,26%

Indústrias Não Tradicionais, Construção

Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

98,43%

São Francisco Pernambucano Agricultura, Administração Pública e Outras

atividades. 38,25% Agricultura e SIUP. 60,99%

Central Espírito-Santense

Extração Mineral, Construção Civil, SIUP,

Comércio, Transportes, Administração Pública,

Atividades Sociais e Serviços.

62,43%

Extração Mineral, Construção Civil,

Comércio, Transportes, Administração

Pública, Atividades Sociais e Serviços.

88,54%

Sertão Alagoano Agricultura. 23,99% Agricultura, SIUP e Administração

Pública. 42,49%

Metropolitana de Curitiba

Extração Mineral, Indústrias Dinâmicas,

Indústrias Não Tradicionais, Indústrias

Tradicionais, Construção Civil, SIUP, Comércio,

Transportes, Administração Pública, Atividades

Sociais, Serviços e Outras atividades.

72,87%

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Construção Civil, Comércio,

Transportes, Atividades Sociais, Serviços e

Outras atividades.

90,55%

Distrito Federal

Indústrias Não Tradicionais, Construção Civil,

SIUP, Comércio, Transportes, Administração

Pública, Atividades Sociais, Serviços e Outras

atividades.

96,00%

Indústrias Não Tradicionais, SIUP,

Comércio, Transportes, Administração

Pública, Atividades Sociais e Serviços.

95,63%

Metropolitana de Salvador

Extração Mineral, Indústrias Não Tradicionais,

Construção Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

78,93%

Extração Vegetal, Extração Mineral,

Indústrias Não Tradicionais, Construção

Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

92,49%

Metropolitana de São Paulo

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Indústrias Tradicionais, Construção

Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

96,65%

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Comércio, Transportes,

Atividades Sociais, Serviços e Outras

atividades.

96,02%

Sudoeste Rio-Grandense

Pecuária, Construção Civil, SIUP, Comércio,

Transportes, Administração Pública, Atividades

Sociais e Serviços.

65,81% Pecuária, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública e Serviços. 86,50%

Metropolitana de Belém

Extração Vegetal, Indústrias Não Tradicionais,

Indústrias Tradicionais, Construção Civil, SIUP,

Comércio, Transportes, Administração Pública,

Atividades Sociais e Serviços.

83,63%

Extração Vegetal, Indústrias Não

Tradicionais, SIUP, Comércio,

Transportes, Administração Pública e

Serviços.

93,82%

Metropolitana de Porto Alegre

Extração Mineral, Indústrias Dinâmicas,

Indústrias Não Tradicionais, Indústrias

Tradicionais, Construção Civil, SIUP, Comércio,

Transportes, Administração Pública, Atividades

Sociais e Serviços.

76,42%

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Indústrias Tradicionais,

Construção Civil, Comércio, Transportes,

Atividades Sociais, Serviços e Outras

atividades.

92,02%

Metropolitana de Belo Horizonte

Extração Mineral, Indústrias Dinâmicas,

Indústrias Não Tradicionais, Construção Civil,

SIUP, Comércio, Transportes, Administração

Pública, Atividades Sociais, Serviços e Outras

atividades.

78,88%

Extração Mineral, Indústrias Dinâmicas,

Construção Civil, SIUP, Comércio,

Transportes, Atividades Sociais, Serviços e

Outras atividades.

93,96%

Metropolitana de Fortaleza

Extração Mineral, Indústrias Não Tradicionais,

Indústrias Tradicionais, Construção Civil, SIUP,

Comércio, Transportes, Administração Pública,

Atividades Sociais, Serviços e Outras atividades.

82,64%

Indústrias Não Tradicionais, Indústrias

Tradicionais, Construção Civil, SIUP,

Comércio, Transportes, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

97,25%

Metropolitana de Recife

Indústrias Dinâmicas, Indústrias Não

Tradicionais, Indústrias Tradicionais, Construção

Civil, SIUP, Comércio, Transportes,

Administração Pública, Atividades Sociais,

Serviços e Outras atividades.

90,84%

Indústrias Não Tradicionais, SIUP,

Comércio, Transportes, Administração

Pública, Atividades Sociais, Serviços e

Outras atividades.

96,92%

Fonte: Resultados da Pesquisa.

20

Conforme mostra o Quadro 2 a maioria das mesorregiões apresentadas já possuíam

duas características comuns no ano de 1970: diversificação produtiva ligadas principalmente

aos setores da indústria e dos serviços, e alta taxa de urbanização. Ou seja, essas mesorregiões

reforçaram suas diversificações e ampliaram sua urbanização. Como, no geral, eram regiões

pólo de grande concentração populacional em seus respectivos Estados, essas mesorregiões

apenas ampliaram suas posições de pólos regionais. As exceções eram as mesorregiões

Noroeste Espírito-Santense, Sudeste Paranaense e Sertão Alagoano que tinham baixo grau de

urbanização e especializações ligadas ao setor primário da economia. O que ocorreu para elas

terem apresentado baixo grau de reestruturação foi que elas reforçaram suas especializações

do setor primário e apresentaram um pequeno aumento no grau de urbanização. Logo, as

mudanças foram bem inferiores se comparadas às mesorregiões que mais se reestruturaram.

CONCLUSÃO

O objetivo deste artigo foi analisar a distribuição espacial das atividades econômicas

entre as mesorregiões do Brasil bem como mostrar quais foram as mesorregiões que mais

reestruturaram suas estruturas produtivas no período de 1970 a 2000.

Como método de análise regional foram utilizadas as medidas de localização e de

especialização, mais especificamente o Quociente Locacional e o Coeficiente de

Reestruturação. Os resultados dessas medidas fornecem elementos para identificar as

mesorregiões mais especializadas em cada uma das atividades analisadas e aquelas que mais

reestruturam no período de análise. A variável de análise foi o número de empregados por

ramos de atividade.

No caso da pecuária e da agricultura de um lado os resultados demonstram a

coexistência das atividades na ocupação da mão-de-obra, principalmente no Rio Grande do

Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, etc... Essa coexistência se dá de um

lado pela integração com os Complexos Agroindustriais (caso da região Centro-Sul) de carnes

(aves, suínos, bovinos). Porém, esse perfil muda no Centro Oeste e no Nordeste. No Nordeste,

as atividades de ocupação entre as áreas agrícolas e pecuárias concorrem com a ocupação da

agricultura familiar e se complementam. Já no Centro-Oeste, a substituição das florestas e das

savanas por pastagens e lavouras se intercala ao longo do tempo conforme as áreas vão sendo

ocupadas. Enquanto no Sul e Nordeste as atividades coexistem em conjunto e se

21

complementam, no Centro-Oeste representam em algumas áreas apenas fases de ocupação das

terras e do uso do solo. Outra particularidade do indicador é que o avanço da agropecuária

reduz as áreas usadas na ocupação da mão-de-obra com extrativismo vegetal, caça e pesca.

Ou seja, a ocupação do espaço pela agricultura e pecuária, que na fronteira amazônica

significa desmatamento, modifica internamente a divisão social do trabalho no setor primário.

Os resultados da pesquisa sobre a reestruturação espacial da divisão social do trabalho

demonstraram que a mesma ocorreu de forma mais intensiva ao longo da fronteira agrícola

priorizando as regiões de ocupação recente ou em fase final de ocupação. Além disso, a

reestruturação intermediária ocorreu nas mesorregiões que tradicionalmente são fornecedoras

de contingentes populacionais para as novas frentes de ocupação.

REFERÊNCIAS

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mesorregiões selecionadas do Sul do Brasil: 1970-2000. Dissertação (Mestrado),

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CORRÊA, R. L. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1986.

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especialização regional. In: COSTA, J. S. (Coord.). Compêndio de Economia Regional.

Lisboa: APDR, p. 723-742, 2002.

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IPEADATA. Dados macroeconômicos e regionais. Disponível em:

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1972.

PIFFER, M. A teoria da base econômica e o desenvolvimento regional do Estado do

Paraná no final do século XX. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Regional) –

Universidade de Santa Cruz do Sul, 2009.

PUMAIN, D.; SAINT-JULIEN, T., L’analyse spatiale. Vol. 1 : Localisation dans l’espace,

Paris, Éditions Armand Colin, 1997.