Ditaura da beleza

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Texto 02 [EcoDebate] Há uma batalha que se trava entre a pressão exógena a favor de seus padrões estéticos e a beleza que cada indivíduo reconhece (ou não) em si. Essa relação de forças não ocorre somente em relação às características de nossos corpos, mas em como se idealiza nosso cinema, nossa música, nosso teatro. Para evitar considerações breves sobre áreas tão distintas neste espaço pequeno, redijo um texto sobre a nossa dificuldade de ser coerentes com nossa própria beleza, ainda que ela difira do que se chama padrão estético. Numa frase sucinta, poucos estamos satisfeitos com o que somos e com o que temos. Esse desafio de autoestima deve-se, em grande parte, a sugestões de que nossa massa corporal deve ser tanto, nossa altura outro tanto, nosso cabelo de um jeito e nosso sorriso de outro. O padrão de beleza no Brasil é meticulosamente calculado de acordo com aquele 1 de cada 1000 seres (como indicam fontes várias da Internet) que terá condições de satisfazê-lo. Os outros 999 restarão com suas frustrações, a menos que aprendam a trabalhar com sua psicologia.

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Texto 02

[EcoDebate] Há uma batalha que se trava entre a pressão exógena a favor de seus padrões estéticos e a beleza que cada indivíduo reconhece (ou não) em si. Essa relação de forças não ocorre somente em relação às características de nossos corpos, mas em como se idealiza nosso cinema, nossa música, nosso teatro.

Para evitar considerações breves sobre áreas tão distintas neste espaço pequeno, redijo um texto sobre a nossa dificuldade de ser coerentes com nossa própria beleza, ainda que ela difira do que se chama padrão estético. Numa frase sucinta, poucos estamos satisfeitos com o que somos e com o que temos.

Esse desafio de autoestima deve-se, em grande parte, a sugestões de que nossa massa corporal deve ser tanto, nossa altura outro tanto, nosso cabelo de um jeito e nosso sorriso de outro. O padrão de beleza no Brasil é meticulosamente calculado de acordo com aquele 1 de cada 1000 seres (como indicam fontes várias da Internet) que terá condições de satisfazê-lo. Os outros 999 restarão com suas frustrações, a menos que aprendam a trabalhar com sua psicologia.

Além de cifras como estas, há fatores culturais que pesam sobre a medida de sofrimento ou de realização daqueles que aceitam os padrões de beleza. Isto se deve a que estes mudam ao longo do tempo e em cada país ou grupo étnico. Estas variações ocorrem em qualquer cultura, mas, no Ocidente, posso mencionar momentos em que as mulheres se preocupavam com os contornos da cintura e, em seguida, com seios protuberantes (logo fizeram uso de silicone).

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Júlia Moioli, em sua reportagem Quais países têm os padrões de beleza mais estranhos? (Mundo Estranho, Edição 107) compara os padrões de beleza de alguns países. Ela indica que, por exemplo, o padrão do Irã valoriza a exibição de um nariz bonito, o de tribos de Mianmar enobrece pescoços longos, e o da Mauritânia valoriza mulheres obesas como pertencentes à elite.

Como é de se esperar nos países modernos ocidentais, os meios de comunicação (sobretudo em suas telenovelas) têm um papel influente na definição de que aparência e que corpo as pessoas devem ter. É nítido que, no Brasil, o modelo clássico greco-romano de beleza física é bastante presente; ainda assim, este modelo tem sofrido modificações no decorrer do tempo que favoreceram uma aparência alta, magra e loira para homens e mulheres.

Este olhar ocidentalizante sobre um corpo esbelto e descolorido não é fiel à mistureba étnica de que o Brasil é testemunha em suas entranhas. Por isso a televisão fez barulho quando uma mato-grossense de pele morena venceu o concurso Miss Brasil 2013, que é promovido pela Rede Bandeirantes. Houve um alarido porque finalmente uma “brasileira típica” havia sido eleita em disputa de beleza física. Não obstante, continuo acreditando que a mato-grossense seja 1 das 1000 que têm o porte estético autorizado, mas não por ser morena ou alva.

Na opinião do escritor Augusto Cury, autor do livro A ditadura da beleza e a revolução das mulheres (2005), para quem qualquer pessoa tem uma beleza particular e única que não justifica a busca de padrões de beleza exógenos, estranhos e impostos. Não precisamos ser como o ator da novela que malha tantas horas por dia ou como a apresentadora de televisão que ganha seu salário, em parte, porque tem o padrão estético que seu empregador deseja.

Valorizemo-nos naquilo que somos (por fora e por dentro) sem nos intimidar por padrões de beleza que ignoram aquilo que temos de mais precioso.

Não há padrão de beleza certo ou errado, bom ou ruim, melhor ou pior, mas aquele que serve à autoestima e à aceitação de nós mesmos.

Surpreendamo-nos com o resultado de uma simples mudança de atitude neste assunto. Nossas belezas assomarão como as flores na primavera.

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http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/vida/online/padroes-de-beleza-podem-influenciar-disturbios-alimentares-entre-adolescentes-1.1400106

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Há nas sociedades contemporâneas uma intensificação do culto ao corpo, onde os indivíduos experimentam uma crescente preocupação com a imagem e a estética.Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo coloca-se hoje como preocupação geral, que perpassa todas as classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso que ora lança mão da questão estética, ora da preocupação com a saúde.Segundo Pierre Bourdieu, sociólogo francês, a linguagem corporal é marcadora pela distinção social, que coloca o consumo alimentar, cultural e forma de apresentação – como o vestuário, higiene, cuidados com a beleza etc. – como os mais importantes modos de se distinguir dos demais indivíduos.Nas sociedades modernas há uma crescente preocupação com o corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Não por acaso que foi nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltados para o tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987).

Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando imagens de estilos de vida glamorosos para o mundo inteiro.Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula imagens de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas, peças publicitárias, novelas, filmes etc. Isso nos leva a pensar que a imagem da “eterna” juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as faixas etárias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida. Nesse sentido, as fábricas de imagens como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso.Os programas de televisão, revistas e jornais têm dedicado espaços em suas programações cada vez maiores para apresentar novidades em setores de cosméticos, de alimentação e vestuário. Propagandas veiculadas nessas mídias estão o tempo todo tentando vender o que não está disponível nas prateleiras: sucesso e felicidade.O consumismo desenfreado gerado pela mídia em geral foca principalmente adolescentes como alvos principais para as vendas, desenvolvendo modelos de roupas estereotipados, a indústria de cosméticos lançando a cada dia novos cremes e géis redutores para eliminar as “formas indesejáveis” do corpo e a indústria farmacêutica faturando alto com medicamentos que inibem o apetite.Preocupados com a busca desenfreada da “beleza perfeita” e pela vaidade excessiva, sob influência dos mais variados meios de comunicação, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apresenta uma estimativa de que cerca de 130 mil crianças e adolescentes submeteram-se no ano de 2009 a operações plásticas.

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Evidentemente que a existência de cuidados com o corpo não é exclusividade das sociedades contemporâneas e que devemos ter uma especial atenção para uma boa saúde. No entanto, os cuidados com o corpo não devem ser de forma tão intensa e ditatorial como se tem apresentado nas últimas décadas. Devemos sempre respeitar os limites do nosso corpo e a nós a mesmos.Orson CamargoColaborador Brasil EscolaGraduado em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo –FESPSPMestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-influencia-midia-sobre-os-padroes-beleza.htm

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https://www.youtube.com/watch?v=DcnLU0jgyuI

https://www.youtube.com/watch?v=ob0fdda3ujk