DIVERSIDADE GENÉTICA E PADRÕES CROMOSSÔMICOS … · Em memória ao Tio Santo, com o qual aprendi...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO DIVERSIDADE GENÉTICA E PADRÕES CROMOSSÔMICOS ASSOCIADOS A QUEBRAS DE BARREIRAS PÓS-ZIGÓTICAS EM PEIXES DO GÊNERO Chaetodon (PERCIFORMES) ________________________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, fevereiro de 2016 DAVI ZALDER MIGUEL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO

DIVERSIDADE GENÉTICA E PADRÕES CROMOSSÔMICOS

ASSOCIADOS A QUEBRAS DE BARREIRAS PÓS-ZIGÓTICAS

EM PEIXES DO GÊNERO Chaetodon (PERCIFORMES)

________________________________________________

Dissertação de Mestrado

Natal/RN, fevereiro de 2016

DAVI ZALDER MIGUEL

DAVI ZALDER MIGUEL DIVERSIDADE GENÉTICA E PADRÕES CROMOSSÔMICOS ASSOCIADOS

A QUEBRAS DE BARREIRAS PÓS-ZIGÓTICAS EM PEIXES DO GÊNERO

Chaetodon (PERCIFORMES)

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Mestre em Sistemática e Evolução.

Orientador: Prof. Dr. Wagner Franco Molina

NATAL-RN

2016

Miguel, Davi Zalder. Diversidade genética e padrões cromossômicos associados aquebras de barreira pós-zigóticas em peixes do gênero Chaetodon(Perciformes) / Davi Zalder Miguel. - Natal, 2016. 48 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação emSistemática e Evolução. Orientador: Prof. Dr. Wagner Franco Molina.

1. Citogenética de Peixes - Dissertação. 2. DistânciaGenética - Dissertação. 3. Peixes Recifais - Dissertação. I.Molina, Wagner Franco. II. Universidade Federal do Rio Grande doNorte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 597.3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB

DAVI ZALDER MIGUEL DIVERSIDADE GENÉTICA E PADRÕES CROMOSSÔMICOS ASSOCIADOS

A QUEBRAS DE BARREIRAS PÓS-ZIGÓTICAS EM PEIXES DO GÊNERO

Chaetodon (PERCIFORMES)

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Mestre em Sistemática e Evolução.

Aprovada em 26 de fevereiro de 2016.

Comissão Examinadora:

_____________________________________________ Prof. Dr. Paulo Augusto de Lima Filho – IFRN

_______________________________________________________ Prof. Dr. Gideão Wagner Werneck Félix da Costa – UFRN

_____________________________________________ Prof. Dr. Wagner Franco Molina – UFRN

(Orientador)

Em memória ao Tio Santo, com o qual aprendi a ter fascínio e

amor a natureza.

“The most beautiful thing we can experience is the mysterious. It is the source of all true art and science. He to whom the emotion is a stranger, who can no longer pause to wonder and stand wrapped in awe, is as good as dead —his eyes are closed.”

― Albert Einstein, Living Philosophies

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a minha “Namonoiva” Thamires, por estar junto

comigo em todos os momentos, tanto os de felicidade como de tristeza, e

compartilhar comigo esse pequeno instante perdido no universo. Não sei o que

faria sem você!

Agradeço aos colegas do LGRM por todo o apoio, aprendizado e

incentivo durante todos estes dois anos de mestrado. Agradeço ao Prof.

Wagner pela grande oportunidade a mim concedida, pela confiança depositada

em mim e por todo o apoio durante a execução deste trabalho.

Ao Prof. Artoni e todo o pessoal de Ponta Grossa pela estadia e pela

grande oportunidade de aprender coisas novas.

Agradeço a minha mãe e meus familiares por toda a ajuda e suporte

oferecido, mesmo distantes, sempre presentes em pensamento.

Aos meus “filhos” peludos e de quatro pernas, pelo amor incondicional e

por todos os pelos espalhados sobre minhas coisas.

A CAPES pelo apoio financeiro e a coordenação do PPGSE por todo o

suporte oferecido.

SUMÁRIO

Lista de Figuras ............................................................................................... 7

Resumo ............................................................................................................ 8

Abstract ............................................................................................................ 9

Introdução ...................................................................................................... 10

Origem, distribuição e evolução dos peixes-borboleta ..................................... 10

Hibridização e características citogenéticas ..................................................... 12

Objetivos ......................................................................................................... 15

Objetivo Geral .................................................................................................. 15

Objetivos Específicos ....................................................................................... 15

Material e Métodos ......................................................................................... 16

Coleta de material biológico ............................................................................. 16

Técnicas de estimulação mitótica ..................................................................... 16

Obtenção dos cromossomos mitóticos ............................................................. 17

Preparação das lâminas ................................................................................... 18

Hibridação fluorescente in situ (FISH) .............................................................. 18

Microfotografias cromossômicas ..................................................................... 19

Obtenção das sequências gênicas ................................................................... 19

Análise dos dados ............................................................................................ 19

Capítulo 1 - Divergências genéticas entre espécies de peixes-borboleta

capazes de formar híbridos naturais ................................................................ 21

Capítulo 2 - O gênero Chaetodon no Atlântico: Aspectos da diversificação

filética e estase cromossômica ......................................................................... 34

Conclusões ..................................................................................................... 44

Referências Bibliográficas ............................................................................ 45

Lista de Figuras

Tabela 1. Dados citogenéticos de espécies do gênero Chaetodon. 13

Figura 1. Espécies Atlânticas pertencentes ao gênero Chaetodon. Chaetodon

striatus do litoral do Rio Grande do Norte (Brasil) e Key Largo (EUA),

a e b, respectivamente. Chaetodon capistratus, c e C. sedentarius, d,

Barra=1cm. 17

Capítulo 1

Tabela 1. Sequências das 48 espécies de Chaetodon utilizadas nas análises 25

de distância genética, seguidas pelo respectivo número de acesso do

GenBank.

Tabela 2. Média das distâncias genéticas entre espécies do gênero Chaetodon,

formadoras de híbridos naturais e do conjunto total de espécies

analisadas 26

Tabela 3. Distâncias genéticas entre sequências multilocus de pares de

espécies do gênero Chaetodon capazes de formar híbridos naturais 27

Capítulo 2

Figura 1. Mapeamento cromossômico de sítios DNAr 18S (vermelho) e DNAr 39 5S (verde), através do FISH, em C. striatus (a), C. capistratus (b) e

em C. sedentarius (c), e coloração convencional do cariótipo em

Gimsa. Barra = 5 um.

Resumo

A hibridização interespecífica tem sido identificada em diversos grupos animais,

entre estes, de forma recorrente e destacadamente em peixes marinhos da

família Chaetodontidae. O gênero Chaetodon é o mais diverso da família com

cerca de 30 espécies capazes de produzir híbridos viáveis. Todas as

características pertinentes a este fenômeno vêm sendo analisadas, porém

ainda são necessários mais dados sobre a quebra de barreiras reprodutivas

neste gênero. No presente trabalho foram comparadas sequências dos genes

12S, 16S, RAG2 e NADH de espécies do gênero Chaetodon com híbridos

conhecidos, com o objetivo de aferir qual a distância genética entre elas, bem

como comparações citogenéticas por mapeamento cromossômico das regiões

de DNAr 18S e 5S das espécies C. striatus, C. capistratus e C. sedentarius, do

Atlântico Sul e Caribe. Os resultados indicam que as espécies parentais,

mesmo abrigando um alto nível de divergência genética, mantém o potencial

de intercruzamento e produz híbridos viáveis. Um extremo conservadorismo

cariotípico inter e intra-específico foi observado para as espécies. Apesar do

longo tempo decorrido de divergência entre algumas espécies, o potencial

reprodutivo interespecífico, além de fatores ambientais e biológicos, pode ter

sido favorecido pela extensa homogeneidade cariotípica presente na família.

Palavras chave: Citogenética de peixes, distância genética, peixes recifais,

conservadorismo cromossômico, DNAr.

Abstract

Interspecific hybridization has been identified in various animal groups, among

these, on a recurring basis in marine fish, notably in the Chaetodontidae family.

The Chaetodon is the most diverse gender in the family, with about 30 species

able to produce viable hybrids. All relevant features of this phenomenon have

been analyzed, but we still need more data about the break of reproductive

barriers in this genre. In the present study were compared sequences of the

12S gene, 16S, rag2 and NADH of Chaetodon genus with produce known

hybrids, in order to ascertain what the genetic distance between them and

cytogenetic comparisons by chromosomal mapping of regions of rDNA 18S and

5S of C. striatus, C. sedentarius and C. capistratus, from South Atlantic and

Caribbean. The results indicate that parental species, even having a high level

of genetic divergence, maintains the potential intercross and are capable to

produce viable hybrids. An extreme conservatism karyotype inter- and intra-

specific was observed for the species. Despite the long interval of separation

between some species, interspecific reproductive potential as well an

environmental and biological factors may have been favored by extensive

karyotype homogeneity present in the family.

Keywords: Fish cytogenetics, genetic distance, reef fishes, chromosome

conservatism, rDNA.

10

Introdução

Os peixes constituem um vasto grupo parafilético que habita quase

todos os ambientes aquáticos, apresentando grande diversidade morfológica e

comportamental (Nelson, 2006). O grupo dos Perciformes constitui a maior

ordem de vertebrados existentes, com cerca de 40% de todas as espécies de

peixes viventes atualmente e abrange mais de 160 famílias e cerca de 10.000

espécies já descritas (Nelson, 2006). Como parte destas famílias,

Chaetodontidae cujas espécies são conhecidas popularmente como peixes-

borboleta, se destaca como um dos grupos de peixes marinhos com

características peculiares, com cerca de 130 espécies, que habitam

principalmente recifes de corais, apresenta uma ampla diversidade morfológica

e comportamental (Pitss, 1991; Fessler & Westneat, 2007). Devido a suas

características biológicas, Chaetodontidae cuja origem evolutiva é intimamente

ligada a formações de corais é considerado como um dos grupos mais

especializados e adaptados a estes ambientes (Reese, 1975; Gosline 1985;

Hourigan et al., 1988). Dentre os gêneros, Chaetodon é o mais diverso,

possuindo por volta de 90 espécies, com cerca de dois terços destas

relacionadas obrigatoriamente ou de forma facultativa, aos recifes de corais

(Cole & Pratchett, 2008).

Origem, distribuição e evolução dos peixes-borboleta

A origem e evolução da família Chaetodontidae está intimamente ligada

a diversificação e estabelecimento das principais formações recifais modernas.

Os recifes modernos surgiram ao final da grande extinção em massa ocorrida

no final do período Cretáceo, aproximadamente 65 milhões de anos atrás,

cujas características sofreram grandes alterações desde então (Woods, 1998).

Os corais escleractíneos modernos se tornaram a forma dominante no início do

período Cenozoico e estabeleceram seu domínio nos últimos 65 milhões de

anos. Durante esse período Chaetodontidae, vem se adaptando em conjunto,

estabelecendo relações ecológicas importantes com os recifes de corais

(Kauffman & Johnson, 1988; Bellwood & Wainwright, 2002).

11

O registro fóssil mais antigo dos peixes recifais data de cerca de 50

milhões de anos (m.a.), localizado no Monte Bolca, na Itália (Bellwood, 1996).

Diversas espécies da época apresentam características hoje compartilhadas

pelos Chaetodontidae, apesar de revisões e estudos posteriores concluírem

que a origem da família, já com todas as suas características modernas e

atuais ser bem mais recente (Banikov, 2004). De fato, técnicas modernas de

inferência filogenética molecular e evolutiva, sugerem que a origem dos

Chaetodontidae modernos pode ser datada do início do Eoceno, por volta de

40 a 60 m.a., quando o ramo principal deste grupo se diferenciou dos

ancestrais dos Pomacentridae atuais (Cowman & Bellwood, 2011).

O primeiro material a ser considerado como pertencente ao gênero

Chaetodon é Chaetodon penniger, datado do Rupeliano, no Oligoceno, por

volta de 29-35 m.a., encontrado ao sul das montanhas do Cáucaso

(Sytchevskaya et al., 2005). Outra espécie, Chaetodon fisheuri, datado do

Mioceno, encontrada na Algéria, compartilham muitas características com os

peixes-borboleta modernos (Carnevalle, 2006).

Grande parte das filogenias propostas para a família, coloca o gênero

Chaetodon como o mais numeroso em relação a gêneros menores dentro do

grupo. Isso é suportado tanto por filogenias mais antigas (Blum, 1989) como

por estudos mais recentes (Smith et al., 2003; Fessler & Westneat, 2007;

Bellwood et al., 2010). Tais filogenias classificam dois grupos distintos na

família Chaetodontidae, os peixes-borboleta, abrangendo primariamente o

gênero Chaetodon, e os peixes-bandeira, que inclui como principal gênero,

Heniochus, cuja divisão filética se deu por volta de 26 milhões de anos (Fessler

& Westneat, 2007).

O gênero Chaetodon tem sido dividido em quatro principais clados,

agrupados de acordo com ancestralidade comum, local de abrangência e tipo

de alimentação (Fessler & Westneat, 2007). O clado 1 é o menor, contendo

apenas três espécies e todas restritas a regiões de recifes de corais da costa

ocidental da África. O clado 2 agrupa espécies particularmente onívoras, com

abrangência no oceano pacífico e regiões tropicais, contendo diversas

linhagens distintas, com espécies coralívoras e algumas de grandes

profundidades. Há indícios que essa linhagem tenha se originado nos últimos 2

m.a., através de migrações do Oceano índico por meio do Cabo da Boa

12

Esperança (Bellwood et al., 2005). O clado 3, restrito às regiões do Indo-

Pacífico, é composto quase totalmente por indivíduos obrigatoriamente

coralívoros, extremamente dependentes de espécies de corais existentes na

região (Cole et al., 2008). Devido à dependência de determinadas espécies

endêmicas, alguns indivíduos podem ser extremamente sensíveis a mudanças

ambientais e efeitos antrópicos que possam afetar a incidência e frequência

dessas formações de corais (Hixton & Webster, 2002; Jones & McCormick,

2004; Wilson et al., 2006). As espécies pertencentes ao clado 4 constituem-se

grande parte de espécies do Pacífico, com grande incidência de espécies

coralívoras. Porém, diferentemente do clado 3, esse grupo ainda possui

espécies que não necessitam obrigatoriamente de recifes de corais, o que

suporta a hipótese de que peixes de clima temperado estão menos associadas

com ambientes coralinos, onde as espécies do gênero Chaetodon, do Atlântico

temperado tendem a ser mais generalistas do que especializadas (Bellwood &

Wainwright, 2002).

Hibridização e características citogenéticas

Todos os cariótipos descritos das espécies de Chaetodon apresenta a

característica basal comum a grande maioria dos Perciformes, um extremo

conservadorismo cariotípico, com predominância de 48 cromossomos

acrocêntricos em seu complemento cromossômico (Arai, 2011; Motta-Neto et

al., 2011; 2012; Calado et al., 2012), com exceção de C. plebeius e C.

strigangulus que possuem cromossomos metacêntricos e submetacêntricos

(Tabela 1). Tem sido aventado que similaridades cariotípicas poderiam

contribuir para o alto índice de indivíduos híbridos em peixes, sobretudo na

família Chaetodontidae (Molina et al., 2013), cuja incidência de hibridização é

alta, mesmo quando comparado com outras espécies recifais que também

possuem uma grande quantidade de pares interespecíficos (Pyle & Randall,

1994; Domeier et al., 1997; Molina & Galetti, 2002; Yaakub et al., 2006).

As maiores concentrações de híbridos interespecíficos no gênero

Chaetodon estão presentes nas regiões do Índico e Pacífico, locais onde há

grande diversidade de espécies, bem como sobreposição de habitat entre as

espécies (Blum, 1989; Righton et al., 1996; Bellwood & Wainwright, 2002).

13

Os indivíduos híbridos surgem principalmente onde ocorrem

sobreposição da área geográfica de abrangência das espécies, ou quando as

espécies se encontram no limite da abrangência de uma espécie (Brown,

1987). Isso pode ocorrer principalmente devido à baixa densidade que as

espécies de uma dada população apresentam quando estas estão no seu limite

geográfico, o que pode influenciar na formação e estabelecimento de híbridos

(Rhymer & Simberloff, 1996; Rose & Polis, 2000). De fato, diversos fatores

podem ocasionar a ocorrência de pares interespecíficos, pois algumas

espécies de Chaetodon são normalmente monogâmicas (Yabuta, 1997),

facilitando a observação em campo de pares de espécies diferentes e

consequentemente, identificando a ocorrência de espécimes híbridos.

Tabela 1. Dados citogenéticos de espécies do gênero Chaetodon.

Espécie 2n Cariótipo NF Referência

C. auriga 48 48a 48 Arai & Inoue, 1975

C. auripes 48 48a 48 Ojima & Yamamoto, 1990

C. collare 48 48a 48 Nagpure et al., 2006

C. lunula 48 48a 48 Arai & Inoue, 1975

C. plebeius 48 2m+46a 50 Arai & Inoue, 1975

C. sedentarius 48 48a 48 Galetti et al., 2006

C. striatus 48 48a 48 Affonso et al., 2001

C. strigangulus 48 2sm+46a 50 Arai & Inoue, 1975

C. trifasciatus 48 48a 48 Arai & Inoue, 1975

C. vagabundus 48 48a 48 Arai & Inoue, 1975

C. ocellatus 48 48a 48 Molina et al., 2013

Apesar da existência de informações sobre a ocorrência de indivíduos

híbridos, há uma enorme lacuna na compreensão de todos os fenômenos que

podem ocasionar tal fenômeno em ambientes naturais. A raridade com que

esses híbridos são vistos na natureza também contribui para a dificuldade que

se tem a respeito de aspectos morfológicos e comportamentais que esses

animais podem apresentar. Geralmente híbridos apresentam um padrão de

coloração intermediário entre as espécies parentais, o que pode ajudar na

14

localização e identificação de quais indivíduos são realmente híbridos e inferir

indiretamente quais são as duas espécies parentais (Montanari et al., 2012).

Amplos dados estão disponíveis sobre os aspectos reprodutivos e

comportamentais (Fricke, 1986; Driscoll & Driscoll, 1988), biogeográficos

(Blum, 1989; Righton et al., 1996; Bellwood & Wainwright, 2002), filogenéticos

e morfológicos (Blum, 1988; Fessler & Wastneat, 2007) da família

Chaetodontidae. Contudo, os aspectos citogenômicos e estruturais dos

cromossomos e do cariótipo deste grupo de peixes ainda permanecem pouco

estudados. Dados citogenéticos mais resolutivos do cariótipo dos

Chaetodontidae tem surgido recentemente (Molina et al., 2013), contudo,

grande parte do cariótipo e suas características cromossômicas permanece

pouco conhecido para a maioria das espécies.

Diante da possibilidade que um elevado nível de conservadorismo

numérico e estrutural presente nos cromossomos dessas espécies possa

influenciar no fenômeno de hibridização na família Chaetodontidae, faz-se

necessário ampliar as informações citogenéticas de suas espécies.

Adicionalmente o acréscimo de dados citogenéticos propiciará uma maior

compreensão da evolução cromossômica e processos especiativos na família.

15

Objetivos

Objetivo geral

Analisar aspectos da divergência molecular e citogenética, por técnicas

resolutivas, espécies do gênero Chaetodon, visando uma melhor compreensão

dos mecanismos que propiciem a persistência dos processos recorrentes de

hibridização interespecífica em ambientes naturais.

Objetivos específicos

- Utilizar as sequências gênicas disponíveis online de diversas espécies

de peixes pertencentes ao gênero Chaetodon para aferir a distância

genética entre as mesmas.

- Verificar se a distância genética entre as espécies, pode influenciar na

formação e no estabelecimento de híbridos e pares heteroespecíficos.

- Mapear a distribuição de sequências de DNAr 18S e 5S nos

cromossomos de 3 espécies de Chaetodon, C. striatus, C. sedentarius e

C. capistratus, provenientes de diferentes áreas Atlânticas, comparando

ainda aspectos citopopulacionais de C. striatus, entre o Caribe e a

Atlântico Sul.

16

Material e Métodos Coleta de material biológico

Para as análises citogenéticas foram analisados exemplares de 3

espécies do gênero Chaetodon provenientes de duas regiões do Atlântico

(Figura 1). Chaetodon sedentarius (n=1), C. capistratus (n=1) e C. striatus (n=2)

(Figura 2) foram coletados em Key Largo, Flórida, EUA (25°6′23″ N, 80°25′47″

W), C. ocellatus (n=3) e C. striatus (n=5) foram coletados no litoral do Rio

Grande do Norte, nordeste do Brasil. A ilha de Key Largo está localizada ao sul

da Flórida, com cerca de 55 km de extensão, constituindo a ilha mais ao norte

de todas as ilhas da Florida Key. Os espécimes foram coletados utilizando rede

de arrasto e puçás.

Técnicas de Estimulação Mitótica

Após a coleta os espécimes foram submetidos a estimulação por meio

de técnicas de estimulação mitótica, seguindo a metodologia proposta por

Molina et al. 2010, descrita a seguir. Os indivíduos capturados foram

estimulados utilizando medicamentos cujo princípio ativo são lisados de

bactérias e fungos, cujo objetivo visa aumentar a taxa de divisão celular nos

órgãos hematopoiéticos desses animais, para serem posteriormente extraídos.

Foram utilizados 10 mg de lisado de bactérias para 10 ml de água destilada. A

solução foi injetada com o uso de seringas na região dorso-lateral do animal na

proporção de 1 ml para cada 100g de peso. Os indivíduos foram deixados vivos

em seus reservatórios por um período de 24 horas para que a estimulação

ocorra.

17

Figura 1. Espécies Atlânticas pertencentes ao gênero Chaetodon. Chaetodon striatus do litoral do Rio Grande do Norte (Brasil) e Key Largo (EUA), a e b, respectivamente. Chaetodon capistratus, c e C. sedentarius, d, Barra=1cm.

Obtenção de cromossomos mitóticos

Os cromossomos mitóticos foram obtidos mediante a técnica usada e

descrita por Gold et al. (1990), a seguir descritas. Após os indivíduos serem

sacrificados foram removidos fragmentos do rim anterior. Os fragmentos foram

dissociado em 9 ml de meio de cultura RPMI 1640, com o auxílio de pinças e

seringas de vidro desprovidas de agulha, e acrescido de 125µl de colchicina

18

(0,025%). O material foi homogeneizado com o uso de pipetas de Pasteur e

mantido neste meio de cultura por 30 minutos a temperatura ambiente. Ao

término desse tempo, a amostra foi centrifugada por 10 minutos a 900 rpm. O

sobrenadante foi removido e foram acrescentados 9 ml de solução hipotônica

de KCl (0,075M), na qual a suspensão de células, após homogeneização, foi

mantida por 25 minutos à temperatura ambiente. Após esse passo, foram

acrescentados 150µl de fixador (3 metanol; 1 ácido acético) recém preparado e

a solução homogeneizada novamente. O material foi centrifugado por 10

minutos a 900 rpm, descartando o sobrenadante. Um total de 6 ml de fixador foi

adicionado a suspensão, que foi novamente ressuspendida, com o uso de

pipetas de Pasteur. O processo de fixação foi repetido por mais duas vezes, e

após a última centrifugação e eliminação do sobrenadante, foram adicionadas

1,5 ml de fixador. As amostras foram mantidas sobre refrigeração à -20oC em

microtubos de 1,5 ml, para posteriores análises.

Preparação de lâminas

Sobre lâminas cuidadosamente lavadas e recobertas com um filme de

água destilada, aquecido à 60°C, foram gotejados 120µl da suspensão celular.

Após secas, as lâminas foram coradas com corante Giemsa à 5%, por 10

minutos, para análises da morfologia dos cromossomos e do estabelecimento

do valor diploide. As lâminas foram analisadas em microscópio ótico sob

aumento de 1.200X. As melhores metáfases foram utilizadas na montagem dos

cariótipos.

Hibridação fluorescente in situ (FISH)

A hibridação fluorescente in situ (FISH) foi realizada de acordo com a

metodologia descrita por Pinkel et al. 1986, com algumas modificações.

Sequências de DNA in tandem amplificada do DNA genômico de cada espécie

específica foi utilizada para sonda de DNAr 18S e 5S. A sonda 18S foi marcada

por nick translation com digoxigenina-11-dUTP (Roche) e a sonda rDNA 5S por

nick translation com biotina-14-dATP (Roche), de acordo com as instruções do

fabricante. Os cromossomos foram tratados com RNAse livre de DNAse

19

(20mg/mL em 2×SSC) à 37°C por 1 hora, com pepsina (0,005% em HCl 10mM)

à 37°C por 10 minutos e fixados com formaldeído a 1% por 10 minutos, em

seguida desidratados em uma série alcoólica. Os cromossomos foram, então,

desnaturados em 70% formamida/2×SSC à 72°C por 5 minutos. A solução de

hibridização composta por 50% de formamida, 2×SSC, 10% de sulfato de

dextran e a sonda desnaturada (5 ng/µl). Após hibridação overnight à 37°C, as

lâminas foram lavadas em 15% formamida/0.2×SSC à 42°C, por 20 minutos,

0,1×SSC à 60°C, por 15 minutos e Tween20 0,5%/4×SSC, à temperatura

ambiente. O sinal de hibridização da sonda foi detectado usando um conjugado

streptavidina-FITC (Vector) para a sonda DNAr 5S e conjugado anti-

digoxigenina-rodamina (Roche) para a sonda DNAr 18S. Os cromossomos

foram contracorados com Vectashield/DAPI (1,5 µg/ml)(Vector).

Microfotografias cromossômicas

As preparações de FISH e de fluorocromos base específicos foram

analisadas em fotomicroscópio de epifluorescência Olympus BX50, equipado

com sistema digital de captura de imagens Olympus DP73 utilizando o software

cellSens (Olympus Optical Co. Ltd.). Os cromossomos foram classificados de

acordo com a posição do centrômero, em metacêntricos (m), submetacêntricos

(sm), subtelocêntricos (st) e acrocêntricos (a). (Levan et al., 1964).

Obtenção das sequências gênicas

Sequências dos genes NADH, rag2, 12S e 16S de 52 espécies do

gênero Chaetodon, representando 24 pares interespecíficos, foram obtidas do

GenBank. Os genes foram escolhidos pelo seu sólido uso filogenético e por

representar um amplo conjunto de dados disponíveis para os pares

heteroespecíficos neste gênero, formadores de híbridos naturais.

Análise dos dados

Os eletroferogramas obtidos a partir das sequências encontradas no

GenBank foram conferidos com o auxílio do software BioEdit (Hall, 1999). As

20

sequências de cada gene foram separadamente alinhadas através do MUSCLE

(Edgar, 2004), gaps ou áreas não resolvidas, foram removidas por meio do

software MEGA6 (Tamura et al., 2013).

A saturação de transições e transversões nas sequências foram

analisadas com o software DAMBE (Xia & Xie, 2001). O software jModelTest

2.1.4 (Darriba et al., 2012), foi utilizado para selecionar o melhor modelo de

substituição nucleotídica a ser utilizado. As divergências genéticas, baseadas

nas distâncias-P, com 1000 replicações de bootstrap, foram estimadas pelo

software MEGA v6 (Tamura et al., 2013).

21

Capítulo 1

Divergências genéticas entre espécies de peixes-borboleta capazes de

formar híbridos naturais

Miguel, D. Z., Souza, A. S., Molina W. F.

Resumo

O fenômeno da hibridização ocorre nos mais diversos grupos de animais,

porém tem sido identificado de forma acentuada em peixes recifais. O peixes-

borboleta do gênero Chaetodon possuem mais de 30 espécies que se

intercruzam e são capazes de produzir híbridos viáveis. Os aspectos deste

fenômeno vem sendo intensamente estudados, mas ainda não são

inteiramente claros. No presente trabalho foram comparadas sequências dos

genes 12S, 16S, rag2 e NADH de um significativo conjunto de espécies do

gênero Chaetodon que produzem híbridos interespecíficos, com o objetivo de

aferir níveis de distância genética capazes de estabelecer limites à formação

de híbridos. Os resultados indicam que as espécies parentais, mesmo

abrigando um alto nível de divergência genética, relativo a significativos

períodos de tempo desde a divergência evolutiva, ainda podem se intercruzar e

gerar híbridos viáveis.

Palavras-chave: Chaetodon, hibridização, peixes recifais, divergência

genética.

22

Abstract The hybridization phenomenon occurs in all diverse groups of animals, but they

have been identified sharply in reef fish. The butterflyfishes of genus Chaetodon

have more than 30 species that are able to produce viable hybrids. Aspects of

this phenomenon have been thoroughly studied, but are not yet entirely clear. In

the present study were compared sequences of the 12S gene, 16S, rag2 and

NADH of several Chaetodon species that have known hybrids, in order to

ascertain what the genetic distance between these species and ascertain to

what extent this distance can influence the formation of hybrids between the

interspecific pairs. The results indicate that parental strains, even harboring a

high level of genetic diversity also can be crossed and produce viable hybrids

with phylogenetically distant species.

Keywords: Chaetodon, hybridization, reef fish, genetic divergence.

Introdução

A hibridização é um fenômeno amplamente documentado em grande

número de grupos animais e vegetais (Schwenk, 1993; Bierne et al., 2003).

Cerca de 10% de todas as espécies animais possuem a capacidade de

intercruzar e gerar descendentes híbridos, que podem exibir diferentes níveis

de fertilidade e viabilidade (Mallet, 2007). Híbridos naturais se formam em

áreas conhecidas como “zonas de hibridização”, onde espécies distintas,

habitam em simpatria (Barton & Hewitt, 1989). Algumas destas zonas surgem

quando duas espécies já separadas por eventos de vicariância voltam a se

encontrar, e barreiras pré- e pós-zigóticas, ainda não se estabeleceram de

forma completa mesmo decorridos longos períodos de tempo após a

separação (Mayr, 1963).

Os processos de hibridização constituem uma força evolutiva importante

na condução dos processos evolutivos de diversas espécies, ocasionando

tanto a extinção, como o surgimento de novas linhagens e grupos (Hobbs et al,

2013). Do ponto de vista adaptativo, os cruzamentos interespecíficos podem

aumentar o número de genótipos e a diversidade genética de uma população,

permitindo uma maior capacidade de sobrevivência desses indivíduos,

possibilitando que híbridos explorem novos nichos e recursos disponíveis no

23

ambiente que outrora não estavam disponíveis para as espécies parentais

(Seehausen, 2004; Man et al., 2012). De outra forma, a hibridização também

pode levar a processos de especiação reversa (Rhymer & Simberloff, 1996) em

função da diminuição da riqueza do ambiente, causando perda de diversidade

genética e a extinção local ou total das espécies (Seehausen, 2006).

Apesar da ampla documentação da incidência de híbridos, Em geral, tais

indivíduos em ambiente natural são difíceis de serem reconhecidos e

identificados, requerendo analise e observação minuciosa, e pouco se

compreende a respeito das barreiras de fluxo gênico que podem levar a

formação de híbridos em ambiente marinho. Porém, os peixes pertencentes a

família Chaetodontidae, possuem um elevado número de híbridos e

cruzamentos interespecíficos quando em comparação com outras famílias de

peixes marinhos e recifais (Yaakub, 2006). Esses híbridos geralmente ocorrem

em áreas onde as espécies se sobrepõem espacialmente, geralmente na

região entre o oceano Pacífico e Índico (Hobbs et al., 2009). A maioria dos

híbridos é identificável através de seu padrão de coloração, aparentando

mescla entre os padrões das espécies parentais, exibindo características

compartilhadas e comuns a ambos (Montanari et al., 2012).

Dentro da família Chaetodontidae, o gênero Chaetodon possui a maior

parte das espécies de peixe-borboleta descritas, compreendendo mais de 90

espécies conhecidas e identificadas. Cerca de dois terços das espécies do

gênero se encontra nas porções ocidentais do Pacífico e Índico, porém também

são encontradas, em menor número, no Caribe e no Atlântico Sul (Findlay &

Findlay, 2001). Aliado ao nível de especialização de algumas de suas espécies,

que apresentam dependência de recifes de corais (Pitts, 1991), suas

características morfológicas atrativas, as tornam alvos de coleta e

comercialização tornando-as particularmente vulneráveis (Cox, 1994; Pratchett

et al., 2006).

Em geral a viabilidade e a aptidão dos híbridos em peixes diminuem,

conforme as divergências genéticas entre as espécies parentais se acentuam

(Russel, 2003). Neste sentido, as características cromossômicas das espécies

parentais podem influenciar a ocorrência e manutenção de indivíduos híbridos.

De fato, tem sido apontado que cariótipos filogeneticamente mais conservados

em relação ao número de cromossomos ou padrões estruturais, exercem

24

menor restrição pós-zigótica, originando frequentemente híbridos com maior

viabilidade e aptidão (Molina et al., 2013).

Visando determinar as divergências existentes entre pares

heteroespecíficos do gênero Chaetodon, capazes de produzir híbridos viáveis

naturais, foram comparadas as sequências de seus genes mitocondriais (12S e

16S) e nucleares (NADH, rag2), e discutidas as consequências da divergência

genética na manutenção do alto índice de hibridização na família

Chaetodontidae.

Material e Métodos

Obtenção das sequências gênicas

Sequências dos genes NADH, rag2, 12S e 16S de 52 espécies do

gênero Chaetodon, representando 24 pares interespecíficos foram obtidas do

GenBank. Os genes foram escolhidos pelo seu sólido uso filogenético e por

representar um amplo conjunto de dados disponíveis para os pares

heteroespecíficos neste gênero, formadores de híbridos naturais. As

sequencias, bem como os respectivos números de registro do GenBank estão

localizados na Tabela 1.

Análise dos dados

Os eletroferogramas obtidos a partir das sequências encontradas no

GenBank foram conferidos com o auxílio do software BioEdit (Hall, 1999). As

sequências de cada gene foram separadamente alinhadas através do MUSCLE

(Edgar, 2004), gaps ou áreas não resolvidas, foram removidas por meio do

software MEGA6 (Tamura et al., 2013).

A saturação de transições e transversões nas sequências foram

analisadas com o software DAMBE (Xia & Xie, 2001). O software jModelTest

2.1.4 (Darriba et al., 2012), foi utilizado para selecionar o melhor modelo de

substituição nucleotídica a ser utilizado. As divergências genéticas, baseadas

nas distâncias-P, com 1000 replicações de bootstrap, foram estimadas pelo

software MEGA v6 (Tamura et al., 2013).

25

Tabela 1. Sequências das 48 espécies de Chaetodon utilizadas nas análises de distância genética, seguidas pelo respectivo número de asserção do GenBank.

Espécies rag2 16S NADH 12S

C. mertensis EF617123.1 EF616958.1 EF617040.1 EF616875.1

C. baronesa EF617122.1 EF616957.1 EF617039.1 EF616874.1

C. xanthurus EF617121.1 EF616956.1 EF617038.1 EF616873.1

C. unimaculatus EF617120.1 EF616955.1 EF617037.1 EF616872.1

C. ornatissimus EF617118.1 EF616953.1 EF617035.1 EF616870.1

C. octofasciatus EF617117.1 EF616952.1 EF617034.1 EF616869.1

C. guentheri EF617116.1 EF616951.1 EF617033.1 EF616868.1

C. citrinelus EF617115.1 EF616950.1 EF617032.1 EF616867.1

C. vagabundus EF617114.1 EF616949.1 EF617031.1 EF616866.1

C. selene EF617113.1 EF616948.1 EF617030.1 EF616865.1

C. rafflesii EF617112.1 EF616947.1 EF617029.1 EF616864.1

C. ocellicaudus EF617111.1 EF616946.1 EF617028.1 EF616863.1

C. melannotus EF617110.1 EF616945.1 EF617027.1 EF616862.1

C. lunula EF617109.1 HQ993112. EF617026.1 EF616861.1

C. auriga EF617108.1 EF616943.1 EF617025.1 EF616860.1

C. adiergastos EF617107.1 EF616942.1 EF617024.1 EF616859.1

C. fasciatus EF617105.1 EF616940.1 EF617022.1 EF616857.1

C. lineolatus EF617104.1 EF616939.1 EF617021.1 EF616856.1

C. paucifasciatus EF617102.1 EF616937.1 EF617020.1 EF616854.1

C. meyreri EF617101.1 EF616936.1 EF617019.1 EF616853.1

C. rainford EF617100.1 EF616935.1 EF617018.1 EF616852.1

C. burgessi EF617099.1 EF616934.1 EF617017.1 EF616851.1

C. ocellatus EF617098.1 EF616933.1 EF617016.1 EF616850.1

C. pelewensis EF617097.1 EF616932.1 EF617015.1 EF616849.1

C. punctatofasciatus EF617096.1 EF616931.1 EF617014.1 EF616848.1

C. larvatus EF617095.1 EF616930.1 EF617013.1 EF616847.1

C. oxycephalus EF617093.1 EF616929.1 EF617011.1 EF616845.1

C. ulietensis EF617092.1 EF616928.1 EF617010.1 EF616844.1

C. trifascialis EF617091.1 EF616927.1 EF617009.1 EF616843.1

C. ephippium EF617090.1 EF616926.1 EF617008.1 EF616842.1

C. flembii EF617089.1 EF616925.1 EF617007.1 EF616841.1

C. collare EF617088.1 EF616924.1 EF617006.1 EF616840.1

C. quadrimaculatus EF617087.1 EF616923.1 EF617005.1 EF616839.1

C. multicinctus EF617086.1 EF616922.1 EF617004.1 EF616838.1

C. robustus EF617085.1 EF616921.1 EF617003.1 EF616837.1

C. semilarvatus EF617084.1 EF095591.1 EF617002.1 EF616836.1

C. falcula EF617083.1 EF616919.1 EF617001.1 EF616835.1

C. miliaris EF617082.1 EF616918.1 EF617000.1 EF616834.1

C. speculum EF617081.1 EF616917.1 EF616999.1 EF616833.1

C. reticulatus EF617080.1 EF616916.1 EF616998.1 EF616832.1

C. striatus EF617079.1 EF616915.1 EF616997.1 EF616831.1

C. capistratus EF617078.1 EF616914.1 EF616996.1 EF616830.1

C. semeion EF617077.1 EF616913.1 EF616995.1 EF616829.1

C. sedentarius EF617076.1 EF616912.1 EF616994.1 EF616828.1

C. bennetti EF617075.1 EF616911.1 EF616993.1 EF616827.1

C. austriacus EF617074.1 EF616910.1 EF616992.1 EF616826.1

C. kleinii EF617073.1 EF616909.1 EF616991.1 EF616825.1

C. hoefleri EF617072.1 EF616908.1 EF616990.1 EF616824.1

26

Resultados

O modelo de substituição GTR foi escolhido para análise das

sequências 12S, 16S, rag2 e NADH, utilizando o Akaike information

criterion (AIC). As divergências genéticas entre os pares interespecíficos e no

gênero foi considerável. Contudo, a maioria das sequências analisadas (12S,

rag2 e NADH), demonstraram menor divergência entre as espécies que

formam híbridos, em relação às demais espécies do gênero (Tabela 1).

Tabela 2. Média das distâncias genéticas entre espécies do gênero

Chaetodon, formadoras de híbridos naturais e do conjunto total de espécies

analisadas.

Comparações interespecíficas Distância Genética

16S 12S rag2 NADH

Médias dos pares interespecíficos 7,82 0,09 0,60 2,11

Médias dentro do gênero 6,00 7,00 2,00 19,00

As distâncias genéticas entre os pares interespecíficos podem ser

observadas na Tabela 2, bem como as respectivas referências sobre a

existência de híbridos. As sequências apresentaram diferentes taxas de

evolução entre si, das quais as mitocondriais 16S e 12S apresentaram

respectivamente as taxas mais elevadas. Os pares mais divergentes quanto as

sequências 16S e NADH foram C. guenteri x C. oxycephalus (18,77% e 6,81%,

respectivamente), enquanto C. pelewensis x C. punctatofaciatus e C.

reticulatus x C. meyeri, não apresentam qualquer divergência entre todas as

sequências das espécies parentais analisadas. As comparações das

sequências rag2 evidenciaram ainda grande divergência entre C. ephipphium x

C. auriga. Em outros pares heteroespecíficos não foram observadas diferenças

entre as espécies, tais como entre C. ulietensis x C. falcula, C. mertensis x C.

xanthurus, C meyeri x C. ornatissimus, e C. multicinctus x C. pelwensis.

A comparação das sequências mitocondriais 16S, que assim como rag2

e NADH, apresentou uma variação na diferença genética relativamente menor

do que a encontrada em 12S. As maiores diferenças observadas foram 7,57%

27

entre C. ocellatus x C. striatus. Os pares C. punctatofasciatus e C. pelewensis,

C. reticulatus x C. meyeri, C. mertensis x C. xanthurus, C. ulietensis x C.

falcula, não apresentaram divergências interespecíficas de sequências.

Tabela 3. Distâncias genéticas entre sequências multilocus de pares de espécies do

gênero Chaetodon capazes de formar híbridos naturais.

Espécies parentais Distâncias Genéticas (%)

16S NADH rag2 12S % Total Referências

C. adiergastos C. collare 8,04 1,76 0,41 2,33 12,54 Hobbs et al., 2013 C. auriga C. ephippium 11,80 3,05 1,65 4,78 21,29 Randall et al., 1977 C. auriga C. vagabundus 6,97 1,41 0,54 3,85 12,56 Hobbs et al., 2013 C. auriga C. ulientensis 10,19 1,29 0,82 3,84 16,14 Hobbs et al., 2013

C. auriga C. fasciatus 10,72 1,29 0,68 5,73 18,42 Randall & Firdman 1981 C. auriga C. lunula 10,72 1,53 0,68 5,41 18,34 Kuiter, 2002 C. auriga C. trifasciatus 17,43 5,05 1,51 6,31 30,03 Schroeder, 2006

C. auriga C. rafflesi 8,58 1,29 0,82 3,24 13,93 Hobbs et al., 2013 C. ephippium C. semeion 5,63 2.93 1,37 2,33 12,26 Randall et al 1977 C. ulietensis C. falcula 0,27 0.35 0,00 0,00 00,62 Hobbs et al., 2013

C. guentheri C. oxycephalus 18,77 6,81 1,65 5,67 32,90 Kuiter, 2002 C. kleinii C. unimaculatus 9,12 0,94 1,10 3,51 14,67 Randall et al., 1977 C. lineolatus C. oxycephalus 2,95 0,94 0,41 1,15 04,45 Hobbs et al., 2013

C. mertensis C. xanthurus 0,27 0,12 0,00 0,00 00,39 Froese & Pauly, 2009 C. meyeri C. ornatissimus 7,24 2,11 0,00 2,94 12,29 Alen et al., 1998 C. miliaris C. multicinctus 7,77 3,64 0,41 4,77 16,59 Hoobs et al., 2013

C. multicinctus C. quadrimaculatus 12,60 4,23 0,54 4,16 21,53 McMillan et al., 1999 C. multicinctus C. pelewensis 0,54 0,47 0,00 0,29 01,30 McMillan et al., 1999 C. ocellatus C. striatus 12,87 5,75 1,10 7,57 27,29 Clavijo, 1987

C. punctatofasciatus C. pelewensis 0,00 0,00 0,00 0,00 00,00 McMillan et al., 1999 C. rafflesi C. vagabundus 10,19 1,53 0,27 2,93 14,92 Kuiter, 2002 C. reticulatus C. ornatissimus 7,24 2,11 0,00 2,04 11,39 Senou et al., 2007

C. reticulatus C. meyeri 0,00 0,00 0,00 0,00 00,00 Senou et al., 2007

Discussão

A origem evolutiva do gênero Chaetodon ocorreu ao final do Oligoceno,

há pouco mais de 20 milhões de anos (Bellwood, 2010). Algumas espécies

como C. guenteri e C. oxychepalus, que divergiram no início do Mioceno,

pouco depois deste período (<20 m.a) surpreendentemente formam híbridos

naturais (Hobbs et al., 2013). Esse par heteroespecífico representa o maior

grau de divergência entre todas as espécies que formam híbridos. Outros pares

como C. auriga x C. trifasciatus também exibem elevada divergência evolutiva,

estabelecida no início do Oligoceno (Fessler & Westneat, 2007).

Em contrapartida, C, meyeri x C. reticulatus e C. pelewensis x C.

punctatofaciatus representam pares heteroespecíficos de espécies

filogeneticamente muito próximas. Portanto, embora a distância genética seja

maior entre espécies filogeneticamente mais distantes, isso não implica

28

necessariamente na ausência de híbridos entre essas espécies. De fato,

apesar da grande maioria dos híbridos ocorrer entre espécies-irmãs, eles

também se mostram viáveis em espécies com uma elevada taxa de

divergência genética

Os resultados mostram que algumas espécies de Chaetodon podem

manter uma alta distância genética entre seus indivíduos e mesmo assim as

barreiras de fluxo gênico permitem que esses animais se intercruzem e formem

pares interespecíficos na natureza. Um exemplo disto ocorre em Chaetodon

striatus e C. ocellatus duas espécies Atlânticas que mantêm um elevado nível

de sobreposição geográfica. Elas ocorrem quase totalmente em simpatria por

todo o litoral sul americano e da América central, abrangendo desde regiões da

Flórida e Caribe, até Santa Catarina e sul do Brasil. Entre elas, existe relato de

hibridização em Porto Rico, no Caribe (Clavijo, 1985), apesar de terem

divergido a cerca de 8,6 m.a (Fessler & Westneat, 2007). Estas espécies

exibem elevado grau de divergência genética em relação a outros pares de

espécies desta família, como demonstrado pela análise de suas sequências.

De fato, essas divergências genéticas são reflexo do elevado período desde a

divisão de suas linhagens (Fessler & Westneat, 2007).

Embora períodos de dezenas a centenas de anos possam ser

suficientes para algumas espécies de peixes alcançarem algum grau

incompatibilidade genética (Behrmann-Godel & Gerlach, 2008), outras podem

não as alcançar mesmo decorridos vários milhões de anos de isolamento

(Russell, 2003).

Do ponto de vista citogenético essas espécies apresentam considerável

grau de similaridade cromossômica (Molina et al., 2013). Essa é uma

característica presente em grande parte dos peixes-borboleta que

compartilham um complemento cromossômico com 2n=48 cromossomos

acrocêntricos (Arai, 2011; Molina et al., 2013). Esse conservadorismo

cromossômico se mostra difundido nas espécies de Chaetodon (Nagpure et al.,

2006; Arai, 2011) sendo também comum para muitos grupos de Perciformes

(Galetti et al., 2000). A ausência de variação numérica e estruturais grosseiras

nos cromossomos, como sinalizam a presença de regiões sintênicas

envolvendo os genes 18S e 5S em C. striatus e C. ocellatus, poderiam reduzir

o papel das barreiras pós-zigóticas entre estas espécies, a partir do qual

29

sugere-se que grande parte do isolamento reprodutivo dessas espécies seriam

mantidas por mecanismos pré-zigóticos (Molina et al., 2013).

Alguns estudos filogenéticos mais recentes caracterizam os peixes-

borboletas do gênero Chaetodon em quatro grandes clados (Fessler &

Westneat, 2007; Bellwood et al., 2010; Cowman & Bellwood, 2011). O clado 4

agrupa a maioria dos indivíduos que formam pares interespecíficos e é

composto principalmente por indivíduos que não são obrigatoriamente

coralívoros. O número de espécies que formam híbridos conhecidos nos

demais clados é relativamente menor, fato que pode ser explicado devido ao

territorialismo que peixes coralívoros em geral possuem, sendo menos

receptivos para a formação de pares interespecíficos (Fricke & Fricke, 1977).

Outro fator igualmente limitante é que esses indivíduos obrigatoriamente

habitam áreas próximas às barreiras de recifes de corais, limitando sua

dispersão e impedindo que o fluxo gênico entre populações isoladas e

distantes se mantenham (Cowman & Bellwood, 2011).

Fenômenos de hibridização entre duas espécies distintas tendem a

ocorrer com relativa frequência em espécies com evolução divergente recente,

ou especiação incipiente. A hibridização nesses casos pode ocorrer devido ao

contato secundário que essas espécies podem manter após algum evento de

vicariância que não perdurou suficientemente para alcançar o isolamento

reprodutivo entre duas espécies (Mayr, 1979; Avise, 2004; Mallet, 2005).

Curiosamente, porém entre os peixes borboletas, espécies mais distantes

filogeneticamente ainda podem manter pares interespecíficos, como no caso

do C. auriga, que é capaz de intercruzar com diversos outras espécies do

gênero, até mesmo com espécies pertencentes a clados diferentes,

filogeneticamente mais distantes (Hobbs et al., 2013). Porém dados mais

específicos sobre como são os hábitos comportamentais, e características

intrínsecas dos híbridos como a capacidade de reprodução e aptidão ao

ambiente são desconhecidas, visto que a maior parte da existência de híbridos

em Chaetodons somente foi relatada através de observação em ambiente

natural.

Grande parte da incidência de pares interespecíficos e indivíduos

híbridos ocorre no Indo-Pacífico onde há o maior hostspot de espécies da

família (Kuriiwa et al., 2007; Hobbs et al., 2009). Os eventos de hibridização

30

ocorrem predominantemente próximo a bordas de barreiras geográficas

conhecidas (Bellwood & Wainwright, 2002).

Provavelmente, a formação de híbridos ocorre quando ambas as

espécies estão em no limite de sua extensão territorial, ou quando uma das

espécies possui baixa frequência em relação a outra (Rhymer & Simberloff,

1996; Rose & Polis, 2000). Dessa forma, uma das espécies parentais é mais

frequente no ambiente do que a outra, levando indivíduos de populações

reduzidas ou com baixa frequência, a se reproduzirem com peixes de outra

espécie (Hobbs et al, 2013). Outro fator que pode contribuir para tal fenômeno

é a ação antrópica, através de reduções populacionais decorrentes da

diminuição gradativa do habitat desses animais, tornando seus indivíduos a

serem mais susceptíveis a cruzamentos com espécies diferentes (Bell et al.,

1984; Dumas et al., 2007).

A incapacidade de observar totalmente os híbridos em ambiente natural

pode contribuir para uma menor estimativa da incidência de híbridos, onde

muitos cruzamentos interespecíficos poderiam passar despercebidos. Como as

espécies de Chaetodon possuem uma coloração bem característica e seus

híbridos apresentam uma variação mesclando as espécies parentais (McMillan

et al., 1999), a observação de híbridos dentro do grupo é mais facilmente

relatada do que em outras famílias. A ausência de estudos aprofundados a

respeito de barreiras de fluxo gênico em ambientes marinhos pode dificultar a

compreensão de como elas podem influenciar na existência e manutenção de

híbridos. Outras famílias como Labridae (Yaakub et al., 2006) e Pomacentridae

(Pyle & Randall, 1994) também possuem uma incidência grande híbridos entre

seus representantes, porém em peixes borboleta essa incidência é

relativamente maior. Outros estudos envolvendo análises citogenéticas mais

detalhadas nessas espécie, poderiam contribuir para o entendimento do papel

dos cromossomos no processo de hibridização em Chaetodontidae.

Referências

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Allen, G.R., Steene, R. Allen, M. (1998). A guide to angelfishes and butterflyfishes,

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Lake Constance. Frontiers in Zoology, 5:3.

Bell, J. D., & Galzin, R. (1984). Influence of live coral cover on coral-reef fish

communities. Marine Ecology Progress Series, 15(3), 265-274.

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34

Capítulo 2

O gênero Chaetodon no Atlântico: Aspectos da diversificação filética e

estase cromossômica

Miguel, D. Z., Costa G. W. W. F., Soares, R.X., Borges, A. T., Motta-Netto, C.

C., Molina, W.F.

Resumo

Dentre os variados habitantes de recifes de corais, os peixes-borboleta

do gênero Chaetodon se destacam pelo grau de especialização de algumas

espécies e distribuição geográfica, sendo encontrados em praticamente todos

os oceanos do mundo. O gênero possui linhagens inteiras que são

dependentes de recifes de corais, mostrando-se, portanto, susceptíveis a

alterações nestes ambientes. Apesar do vasto conhecimento acumulado sobre

diversos aspectos biológicos, ainda persistem lacunas sobre seus padrões

citogenéticos. O presente estudo analisou aspectos citogenéticos por meio do

mapeamento cromossômico do DNAr 18S e 5S nas espécies Atlânticas C.

striatus, C. capistratus e C. sedentarius. Comparações citopopulacionais foram

realizadas entre indivíduos de C. striatus do Atlântico Sul e litoral do EUA. Os

dados indicam conservadorismo cariotípico entre essas espécies, quanto ao

cariótipo e frequência e distribuição dos sítios ribossomais. Sítios DNAr 18S

estavam localizados exclusivamente em posição pericentromérica no par 10,

enquanto que os sítios DNAr 5S estavam presentes na região pericentromérica

do par 21 para as três espécies analisadas. Um padrão de distribuição similar

dos sítios ribossomais em C. striatus estava presente entre as duas regiões

geográficas analisadas, indicando um cariótipo homogêneo mesmo entre

indivíduos distribuídos uma área geográfica extensa e permeada pela barreira

do rio Amazonas. Os dados citogenéticos significativamente similares nessas

espécies poderiam favorecer a frequente ocorrência de quebras de barreiras

reprodutivas pós-zigoticas no gênero.

Palavras-chave: Peixe-borboleta, citogenética de peixes, conservadorismo

cromossômico, hibridização in situ, Perciformes.

35

Abstract Among the various inhabitants of coral reefs, Chaetodon species stand out for

having a very characteristic and striking coloration, being found in virtually all

the world's oceans. The group has entire groups that are dependent on coral

reefs, and is therefore closely linked to the same ecological, being susceptible

to changes caused by man in the environment. Much is known about various

aspects of belonging to family, such as eating habits, choice of sexual partners,

biogeography and coverage area and staining patterns. But there is a gap in

knowledge of cytogenetic data in most specimens described as belonging to the

family. The present study aimed to map the chromosomally 18S and 5S rDNA

regions of three species of the genus Chaetodon, C. striatus, C. sedentarius

and C. capistratus. The results indicate an extreme conservatism karyotype in

these animals, as both marks were located on the par 21 (18S) and 10 (5S) for

the three species analyzed. Previous cytogenetic studies in C. striatus indicate

that more distant populations remain a homogeneous karyotype even when

they exist in a very large geographical area. The similar karyotype these

species can help in understanding how occur the breaks barriers post-zygotic

gene flow commonly found in these animals.

Keywords: Butterflyfishes, chromosomal conservatism, in situ hybridization,

Perciformes.

Introdução

Peixes da família Chaetodontidae, conhecidos como peixes-borboletas,

são indivíduos importantes na manutenção de recifes e formações recifais de

todo o mundo (Pitss, 1991; Cole & Pratchett, 2008). Possuem uma coloração

bem variada e padrões morfológicos característicos do grupo (McMillan et al.,

1999). Abrangendo cerca de 130 espécies, o gênero Chaetodon é o mais

abundante da família, visto que estão distribuídas em todos os oceanos ao

redor do mundo, com maior concentração de espécies nas regiões próximas ao

oeste do Pacífico, na divisa com o oceano Índico (Blum, 1989; Bellwood &

Wainwright, 2002; Hobs et al., 2009).

Diversas espécies do gênero possuem relações ecológicas íntimas com

corais, de modo que sua capacidade de sobrevivência acaba por ser, em

muitos casos, extremamente dependente da existência desses corais (Reese,

1975; Gosline, 1985; Hourigan et al., 1988). Algumas espécies são ainda mais

36

especialistas, e podem facilmente sofrer influências de alterações ambientais

e/ou atividades antrópicas ser ameaçadas se algum fator antrópico ou

ambiental devido a vulnerabilidade desta relação, já que interferências

negativas podem impactar de forma negativa o crescimento e estabelecimento

dos recifes de corais (Pratchett et al., 2004) e consequentemente a

sobrevivência dos peixes borboleta a eles ligados.

Apesar de dois terços de todas as espécies descritas serem

classificadas como obrigatoriamente coralívoras. Sendo que alguns grupos são

coralívoros facultativos, ou seja, podem se alimentar mesmo os recifes de

corais estando ausentes (Wylie & Paul, 1989). Outros, no entanto, não são

coralívoros, sendo geralmente raspadores de fundo, ou podendo se alimentar

de crustáceos e outros pequenos animais marinhos (Pratchett, 2007; Reavis &

Corpus, 2011). As formas de alimentação desses animais geralmente têm uma

origem evolutiva em comum, sendo o gênero Chaetodon dividido em quatro

grandes táxons cujo habitat e hábitos alimentares são compartilhados pela

maioria dos membros (Fessler & Weastneat, 2007).

Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos na área comportamental,

morfológica e biogeográfica desses animais (Fricke, 1986; Cox, 1984; Righton

et al., 1996; Sazima & Sazima, 2001), porém poucos estudos exploram suas

características cromossômicas e seu cariótipo. As poucas espécies

cariotipadas compreendem uma parcela extremamente pequena do grupo,

sendo que esses estudos não se aprofundaram na compreensão de como seu

cariótipo se apresenta e como são suas características cromossômicas (Arai,

2011; Molina et al., 2013). Tais pesquisas realizadas apresentam similaridades

cromossômicas muito evidentes, revelando um extremo conservadorismo

cariotípico que esses indivíduos apresentam. As espécies descritas, em sua

maioria, apresentam 48 cromossomos acrocêntricos em seu cariótipo,

característica essa que é comum a outros grupos de Perciformes. Esse

conservadorismo pode contribuir para que fenômenos como a alta taxa de

hibridização e formação de pares interespecíficos presentes nesse gênero

ocorram.

No presente estudo foram analisadas três espécies diferentes de

Chaetodon: C. striatus, C. capistratus, C. sedentarius. Foram realizados

mapeamentos cromossômicos das regiões DNAr 18S e 5S em indivíduos

37

Chaetodon striatus, cujas características cromossômicas já foram descritas

para populações existentes na região da costa brasileira. Os espécimes

utilizados neste trabalho foram coletados na Flórida, a fim de comparar

biogeograficamente se suas regiões mapeadas apresentam sintenia ou

divergência devido a separação espacial entre essas populações, que são

consideradas distintas.

As duas outras espécies, C. sedentarius e C. capistratus, coletadas

também no mesmo local, foram mapeadas em suas regiões 18S e 5S, que até

o presente momento nunca foram antes analisadas. Este trabalho também

objetivou ajudar na caracterização cariotípica de tais espécies marinhas afim

de ajudar na compreensão de como a evolução e processos de isolamento

reprodutivo podem levar ao surgimento de novas espécies.

Material e Métodos

Indivíduos das espécies de Chaetodon striatus, C. sedentarius e C.

capistratus foram coletados no Oceano Atlântico na região de Key Largo

(25°6′23″N, 80°25′47″O), Flórida, EUA. Amostras de Chaetodon striatus

também foram obtidas no litoral do Rio Grande do Norte. Após a coleta os

espécimes foram submetidos a técnicas de estimulação mitótica (Molina et al.,

2010). Brevemente, nos indivíduos receberam uma injeção intramuscular de

solução de lisados de bactérias e fungos (10 mg do complexo de antígenos /10

ml de água destilada). A solução foi injetada na região dorso-lateral do animal

na proporção de 1 ml para cada 100g de peso. Os indivíduos foram deixados

vivos em seus reservatórios por um período de 24 horas.

Preparação de cromossomos mitóticos

Os indivíduos foram sacrificados com o uso de superdosagem de

Eugenol até que os movimentos branquiais cessassem. Os cromossomos

mitóticos foram obtidos mediante a técnica usada e descrita por Gold et al.

(1990). Um volume de aproximadamente 125µl da suspensão celular foi

gotejado sobre lâmina recoberta com um filme de água destilada aquecido à

60°C. As lâminas após secagem foram coradas com Giemsa 5%, pH 6,8, por

10 minutos e utilizadas nas análises citogenéticas e montagem do cariótipo

38

Hibridação fluorescente in situ (FISH)

A hibridização in situ fluorescente (FISH) foi realizada de acordo com a

metodologia descrita por Pinkel et al. (1986), com algumas modificações. A

sequência de DNA in tandem isolada do DNA genomico de cada espécie

específica foi utilizada para sonda de DNAr 18S e 5S. A sonda 18S foi marcada

por nick translation digoxigenina-11-dUTP (Roche) e a sonda rDNA 5S por nick

translation biotina-14-dATP (Roche) de acordo com as instruções do fabricante.

Os cromossomos foram tratados com RNAse livre de DNAse (20mg / mL em

2×SSC) à 37°C por 1 hora, com pepsina (0,005 % em HCl 10mM) à 37°C por

10 minutos e fixados com formaldeído a 1% por 10 minutos, em seguida

desidratados em uma série alcoólica. Os cromossomos foram, então,

desnaturados em 70% formamida/2×SSC à 72°C por 5 minutos. A solução de

hibridização consistida em 50% de formamida, 2×SSC, 10% de sulfato de

dextran e a sonda desnaturada (5 ng/µl). Após hibridação, overnight à 37°C, as

lâminas foram lavadas em 15% formamida/0.2×SSC à 42°C por 20 minutos,

0,1×SSC à 60°C por 15 minutos e Tween20 0,5%/4×SSC à temperatura

ambiente. O sinal de hibridização da sonda foi detectado usando streptavidina-

FITC conjugadas (Vector) para a sonda DNAr 5S e anti-digoxigenina rodamina

conjugada (Roche) para a sonda DNAr 18S. Os cromossomos foram

contracorados com Vectashield/DAPI (1,5 µg/ml).

As análises em fluorescência foram realizadas em fotomicroscópio de

epifluorescência Olympus BX50, equipado com sistema digital de captura de

imagens Olympus DP73 utilizando o software cellSens (Olympus Optical Co.

Ltd.). Os cromossomos foram classificados de acordo com a posição do

centrômero (Levan et al., 1964).

Resultados

As três espécies analisadas evidenciaram um cariótipo conservado e

idêntico, composto por 2n=48 cromossomos acrocêntricos. Os resultados do

mapeamento dos genes DNAr 18S e 5S nos cromossomos das espécies C.

striatus, C. capistratus e C. sedentarius estão apresentados junto ao cariótipo

na Figura 1.

39

Os sítios se mostraram homeólogos entre as espécies e entre as duas

populações de C. striatus. As sondas DNAr 18S apresentaram marcações em

posição pericentromérica no par 21, enquanto sítios de DNAr 5S, estavam

localizados em posição pericentromérica no par 10.

Figura 1. Cariótipos das espécies C. striatus (a), C. capistratus (b) e C.

sedentarius (c). Mapeamento cromossômico de sítios DNAr 18S (vermelho) e

DNAr 5S (verde), através do FISH, em C. striatus (a), C. capistratus (b) e em C.

sedentarius (c), e coloração convencional do cariótipo em Gimsa. Barra = 5 um.

Discussão

A ausência de variação citogenética entre C. striatus da costa brasileira

e do litoral da Flórida, sugere que o fluxo gênico entre as populações pode

a

b

c

40

ocorrer de forma livre mesmo nas grandes distâncias envolvidas. De fato, esse

resultado pode sugerir um papel menos restritivo do fluxo gênico da barreira

ocasionada pela descarga dos rios Amazonas e Orinoco nesta espécie.

Análises populacionais utilizando marcadores moleculares em C. striatus

apoiam uma baixa estruturação populacional na costa brasileira (Affonso et al.,

2011). Tal condição tem sido encontrada em outras espécies de Chaetodon,

oriundas do Hawaii, que apesar de habitarem uma área geográfica extensa,

não demonstraram diferenciações genéticas evidentes (Craig et al., 2010). A

dispersão larval e hábitos generalistas poderiam atuar para que o fluxo gênico

se mantenha entre essas populações.

Cariótipos com 2n=48 cromossomos acrocêntricos, com sítios

ribossomais localizados em regiões intersticiais dos cromossomos tem sido

considerados caracters basais comuns a um largo número de espécies de

Perciformes (Galetti et al., 2000; Negapture et al., 2006, Arai 2011). Essa

condição ancestral está presente em Pomacanthidae (Affonso et al., 2002),

grupo-irmão dos Chaetodontidae, cuja divergência data do início do Oligoceno,

há proximadamente 30 m.a. (Fessler & Westneat, 2011).

A origem do gênero Chaetodon, na família Chaetodontidae, é um evento

relativamente recente, com uma irradiação a poucos milhões de anos atrás

(Fessler & Westneat, 2011; Hsu et al., 2007). Este curto tempo de divergência

poderia ser um dos fatores a explicar o conservadorismo cariotípico encontrado

no gênero. O pequeno tempo de divergência poderia não ter sido suficiente

para que alterações cromossômicas maiores, tivessem ocorrido de forma mais

intensa no cariótipo.

As altas taxas de hibridização e formação de pares interespecíficos

dentro do gênero Chaetodon (Randall & Fridman, 1981, Randall et al., 1977)

são grandes, mesmo quando comparadas com outros grupos de peixes recifais

que também hibridizam (Montanari & Herwerden, 2012).

As similaridades citogenéticas, demonstrada pelo conservadorismo

estruturais e dos genes ribossomais nas espécies dão suporte sobre o papel

pouco restritivo do cariótipo como efetiva barreira pós-zigótica nas espécies

deste gênero. Dados citogenéticos mais resolutivos envolvendo um maior

número de espécies e decorrente do mapeamento de genes sintênicos são

41

desejáveis para se estabelecer o nível de conservação homeóloga nos

cromossomos das espécies deste gênero.

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44

Conclusões

Diante das análises realizadas foi possível realizar algumas inferências:

- As distâncias genéticas dos genes nucleares e mitocondriais entre as

espécies, indicam que mesmo longos períodos de divergência evolutiva não

são suficientes para efetivo bloqueio pós-zigótico no gênero Chaetodon.

- As espécies C. striatus, C. capistratus e C. sedentarius apresentam

padrão conservativo quanto aos aspectos macroestruturais dos cromossomos

e organização dos genes DNAr 18S e 5S.

- O conservadorismo cromossômico em Chaetodon também é manifesto

no nível populacional. A despeito da vasta extensão oceânica, populações de

C. striatus, do sul do Atlântico Ocidental não apresentam diferenciações

citogenéticas em relação àqueles do litoral sul dos EUA.

- As similaridades cariotípicas interespecíficas encontradas no gênero

Chaetodon não podem ser descartadas como fator importante nos processos

de hibridação em espécies simpátricas de peixes borboleta.

- A despeito de alguns dados disponíveis, a ausência de dados

citogenômicos e taxonômicos mais extensos no gênero Chaetodon, ainda

dificulta a compreensão plena do papel dos cromossomos no processo de

hibridização dos peixes-borboleta. Dessa forma, a compreensão deste

frequente fenômeno, que desafia os padrões de coesão genética de outros

grupos de peixes, deve ser ampliada diante da grande relevância para a

compreensão dos aspectos evolutivos deste carismático grupo de peixes

recifais.

45

5. Referências Bibliográficas

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