Divulgação científica em revistas, jornais e novas mídias digitais Prof. Dr. Francisco Rolfsen...
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Divulgação científica em revistas, jornais e novas mídias digitais
Prof. Dr. Francisco Rolfsen BeldaTribuna Impressa e Araraquara.com
Jornalismo, UNIARA, Araraquara PPGTV e LECOTEC da Unesp, Bauru
IEA da USP, São Carlos
Roteiro
• Estratégias de popularização do conhecimento• Difusão, disseminação, divulgação e jornalismo• Modelos midiáticos de comunicação científica• Tipos de público, especialização e segmentação• Critérios de atribuição de interesse • Formatos, gêneros e linguagem• Uso de novas mídias digitais interativas• Estudos de caso: alimentos transgênicos
Como vejo o mundo...
Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA OCDE
Brasil, entre 57 nações
53ª em matemática• 73% têm nível = ou < 1
• (em escala de 0 a 6).
52ª em ciências• 61% têm nível = ou < 1
48ª em leitura• 56% têm nível = ou < 1
Alfabetização científica
Informação é poder “Se a população não compreende ciência, será pouco
capaz de participar dos debates relativos às decisões que lhes dizem respeito. “
“Se a divulgação científica der às pessoas conhecimentos para que elas possam ponderar sobre
as decisões, ou pelo menos saber em que especialistas confiar, essa divulgação é uma transmissão de poder”
Gerard Fourez“A construção das ciências:
introdução à Filosofia e à Ética das ciências” Ed. Unesp, 1995. p.221-2
Charge de Sidney HarrisTradução livre: “Não sinta-se mal por falsificar a solução. Eu falsifiquei o problema.”
“Science (is) a marketing of ideas. (…) Scientists could
make good use of basic marketing principles to
develop effective strategies for promoting their
theories.”Paul Peter & Jerry C. Olson
“Is Science Marketing?”, 1983
Ciência é marketing?
Comunicação da ciência
Disseminação científica Difusão científica Divulgação científica Jornalismo científico
Mediação crítica dos discursos sobre saberes e acontecimentos que atualizam a realidade
Criticidade jornalística “O jornalismo científico está hoje próximo demais da pesquisa acientífica que se recusa a refletir sobre o seu próprio lugar no mundo, como se pairasse acima dele e fosse praticada por seres angélicos, sem interesses, vaidades e disputas. O jornalismo atrasou-se diante de sua própria missão, que sempre foi e será de caráter iluminista: permanecer cético e crítico, mesmo diante de uma atividade tão entusiasmante quanto a pesquisa científica”
Marcelo Leite - SBPC, 2005“O Atraso e a Necessidade: Jornalismo científico no Brasil”
Interessar, olhar, entender..
"Esse negócio de entender de uma coisa, tem que amar. Quando você ama, isso cria uma capacidade. Você se interessa pela coisa, você começa a olhar"
Tom Jobim
“A Casa do Tom”, DVD
Mediação crítica da ciência
Funções de selecionar, informar, interpretar, analisar, contrapor, avaliar, opinar.
Interesse público Interesse do público Interesse do publicador Interesse do governo Interesse de pesquisa Interesse de empresa Interesse de ONG
Interesse do público
No Brasil, as pessoas dizem ter muito interesse por (MCT, 2006):• Esportes, 47%• Ciência, 41%• Moda, 28%• Política, 20%
Em SP, 35% das pessoas dizem não compreender textos científicos (RICT, 2007)
Atribuição de interesse
Circulação de revistas no Brasil
Título Editora TiragemSemanais
Veja Abril 1 milhãoÉpoca Globo 420 milIstoé Três 340 milCaras Caras 280 mil
MensaisNova Escola FVC 413 milCláudia Abril 403 milSeleções Reader´s Digest 397 milSuperinteressante Abril 343 mil(ANER, 2008)
Programa Pontos Participação
Divulgação científica (sábado de manhã)
Globo Educação 3 32%
Globo Ciência 5 38%
Globo Ecologia 5,5 38%
Globo Universidade 7 38%
Líderes de audiência no diaCaldeirão do Huck 19 41%
Jornal Nacional 31 52%
Duas Caras 40 63%
Zorra Total 28 47%
Audiência de televisão no Brasil
(Ibope, 2008)
Revistas de divulgação científica
Título Ano Tiragem Distribuição
Superinteressante 1987 343 mil Venda / AssinaturaCiência Hoje Crianças 2000 200 mil Venda / InstitucionalGalileu 1993 165 mil Venda / AssinaturaNational Geographic Brasil 2003 68 mil Venda / AssinaturaScientific American 2002 60 mil Venda / AssinaturaMundo Estranho 2001 50 mil Venda / AssinaturaPesquisa Fapesp 1999 44 mil Venda / Assin / Instit. Ciência e Cultura 1949 25 mil Venda / Institucional Ciência Hoje 1982 15 mil Venda / Institucional
(ANER, 2008)
Título Tiragem diária
Folha de S.Paulo 307,9 mil
O Globo 274,9 mil
O Estado de S.Paulo 230,9 mil
Extra 271,8 mil
Zero Hora 178,2 mil
Lance! 116,4 mil
Agora SP 80,6 mil
Diário de S.Paulo 72,8 mil
Gazeta Mercantil 74,4 mil
Jornal do Brasil 68,2 mil
Jornal da Tarde 58,0 mil
Circulação total nacional 3,443 milhões
Circulação de jornais no Brasil
(Fonte: IVC, 2005)
Grade de ciência na TV Cultura• Tecendo o Saber (edu)• Novo Telecurso – fund (edu)• Novo Telecurso – médio (edu)• Telecurso TEC (edu)• Nossa Língua (edu)• Roda Viva (jor)• Invenção do Contemp. (edu)• Campus (edu)• Café Filosófico (edu)• Repórter Eco (jor) • Especiais Cultura (doc)
• Document. Indígena (doc)• DOC TV (doc)• Provocações (jor)• Profissão Professor (edu)• Tudo Sobre Animais (doc)• Profissão Professor (edu)• Tudo Sobre Animais (doc)• Cinco sobre cinco (doc)• Planeta Terra (doc)• Alô, Escola (edu)• Saúde Brasil (edu)
Público Interssado•Estudantes e curiosos•Profissionais da educação•Profissionais de nível superior
Público Atento•Estudantes de pós-graduação•Professores e pesquisadores•Gestores de ciência e educação•Profissionais especializados
Público Alvo•Segmento do Público Atento conhecido, visado e tomado por referência
Público Efetivo• Grupo de leitores, espectadores e ‘usuários’ que freqüentam a publicação
Público Cativo• Segmento do Público Efetivo que colabora, comenta, critica, sugere e participa da publicação
PesquisaEventosCorrespondênciaPromoçõesServiços
(Adaptado: MILLER, John, 1986)
Dinâmica de público no JC
DIFUSÃOEmissão de newsletter,
alimentadorde RSS,
contato com multiplicador
es
PAUTAPlanejamento
editorial eseleção
de assuntos eabordagens
REPORTAGEMPesquisa,apuração
registro de informações
e depoimentos
EDIÇÃOEditoração eletrônica, mixagem,
animação, simulação
VALIDAÇÃOControle dequalidade:revisão,
correção,aprovação
PUBLICAÇÃOCategorização,
formataçãode layout,preview,
publicação final
Conselho científicoConselho editorial
Jornalistas (repórter)Educadores
Editores multimídiaWeb Designer
Conselho científicoConselho editorial
Jornalistas (editores)Webmaster
Clipping de consulta por RSS
reader
Equipamentos de gravaçãoe captação
Softwares de edição audiovisual
e HTML
CMS: administração de fluxo de conteúdo
CMS: atualização das páginas do
portal
Listagem: temas, enfoques e fontes de informação sugeridos
Arquivos bruto: texto, foto, audio, vídeo, ilustração, gráficos etc.
Arquivos editados: conteúdo multimídia adaptado ao público
Arquivos aprovados e identificação de correções
FEED BACKRecursos de interação e avaliação da recepção:
fórum, enquete, uploads do leitor, chats, relatórios de acesso
Fluxo de produção de conteúdo
Ainda, alguns tabus...– Mediação crítica no jornalismo científico– Concepções de progresso e precaução– Maniqueísmo e generalização – Conflito de interesse: financiar, pesquisar e
divulgar – Debate público sobre propriedade tecnológica– Apropriação do conhecimento científico– Direito à informação e sigilo “estratégico”– Divulgação seletiva de resultados – Instrumentalização da imprensa– Pluralidade de saberes e abordagens
...e problemas– Compromisso com as fontes – Divulgação centrada em resultados, e não
processos– Limitação a públicos “iniciados” em ciência– Imagem de sisudez associada à ciência – Preferência por argumentos de autoridade– Exploração de estereótipos contraproducentes– Descontextualização social, econômica,
cultural– Fragmentação da cobertura jornalística– Alto custo da produção audiovisual
Inovar pela linguagemAlguns elementos criativos...• Humor • Ironia• Irreverência
Outros elementos criativos...• Literariedade• Humanismo• Informalidade
Inovar pela linguagem
Inovar pelo formatoNovos modelos de conteúdo...
• Multimídia• Serviços• Convergência • Imersão
•Reportagem com hipertexto•Audio-slideshow•Reality shows e desafios•Documentários interativos•Infográficos dinâmicos•Making-of interativo•Animação tridimensional•Indicadores dinâmicos•Notícias sob demanda•Webcast (áudio e vídeo)•Newsletter sms e mms•Experimentos virtuais
Roteiro de mídia não-linear
Modelagem e animaçãoProjeto de usabilidade
Gestão da interaçãoEdição de sincronismo
Ciclo de vida da informação
Reportagem multimídia e interativa
Reportagem multimídia e interativa
Reportagem multimídia e interativa
Inovar pela interaçãoDiálogo, relacionamento e convivência
• Seleção • Participação• Colaboração• Socialização
•Mensagens RT•Voz sobre IP•Tele-conferência•Email•Comentários •Chat
•Comunidades•Perfis pessoais•Up-loads do usuário•Fóruns de discussão•Blogs•Enquetes
•Workshops•Produção conjunta•Dia de campo•Debates•Desafios•Cultural games
TV Digital e EducaçãoContexto acadêmico• Demanda por audiovisual interativo para
educação• Uso do software público brasileiro Ginga-NCL• Criação da Universidade Virtual do Estado de São
Paulo
Interesses em pesquisa• Modelagem do processo de produção de conteúdo
– Uso de notação UML e criação de protótipo• Aplicações para aprendizagem colaborativa em
TVD– Tele-fórum, repositório de vídeos interativos
Ambiente virtual televisivo para aprendizagem de Engenharia de Produção
Protótipo TVD
•Modelagem 3D•Animação•Navegação•Imersão•Integração web
Aplicações futuras:•Hospital virtual•Sistema solar
Vídeo-aula interativa• Conteúdos extra sincronizados
– Glossário– Imagens– Animação– Dicas– Depoimentos– Entrevistas– Demonstrações– Enquetes– Outros
(Layout apenas ilustrativo, UFSC)
Próximo projeto• Middleware para integração
de LMS entre internet, televisão e telefonia celular
– Adaptação automática de interfaces de recepção
– Compatibilidade de metadados. Padrão SCORM
– Submissão de conteúdo multimídia em tempo real
Alimentos transgênicos
Folha de S. Paulo, Mais!, 08/08/1999
Pesquisa aplicada Instituição
• ECA USP, São Paulo, Jornalismo• Programa de Mestrado, 2000-2003
Método• Mensuração estatística • Análise de discurso
Semântica e Retórica
Amostra
JornaisFolha de S. PauloO Estado de S. Paulo
Período04/1999 a 09/2000
Corpus718 textos
Mensuração estatística
Parâmetros de aferição
• Ocorrência de matérias e termo-pivô• Distribuição cronológica e editorial• Número de fontes de informação• Especialidade das fontes citadas• Abrangência temática do noticiário• Enfoques temáticos preferenciais
SBPC. Reunião Anual
Análise do discurso
• Reformulação terminológica– Substituição vocabular– Definições e paráfrases
• Transposição narrativa
– Caracterização de processos – Referência da informação
• Retórica de argumentação – Concepções de valor– Posicionamento opinativo
Recursos de reformulação terminológica
• Dupla denominação: substituição de termos científicos por expressões popularizadas, com denominação correlata na linguagem comum (de sinônimos a metáforas).
Recursos de reformulação terminológica
• Co-referência: emprego de uma expressão equivalente ao termo-pivô para evitar repetições
Recursos de reformulação terminológica
• Paráfrase: explicação do termo-pivô por meio do emprego imediato de uma sentença que lhe seja semanticamente equivalente ou similar
Recursos de reformulação terminológica
• Definição: expressão do significado do termo-pivô
Signo versus significado
• Reformulação terminológica pressupõe concepção sobre o significado do termo-pivô– Dupla-denominação e co-referência: no máximo,
relação de similitude semântica– Definições e paráfrases: similaridade ou até
equivalência, em determinados contextos
• Sua aplicação não garante a transposição do obstáculo lingüístico da divulgação científica– Contraste entre referência científica e enunciado
jornalístico para avaliar o rigor conceitual
O que é um transgênico?• Fontes consultadas:
– Dicionários científicos– Legislação brasileira– Pesquisadores especialistas
• Propriedade necessária: ter em seu genoma um fragmento de DNA manipulado por técnicas de recombinação
• Pressuposto: Todo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é, necessariamente, transgênico (hiperônimos)
Confusão?
Contradição?
Categorias de definições encontradas
1. Expressões que enfatizam o método de modificação genética, ainda que tal método não seja satisfatoriamente definido
Categorias de definições encontradas
2. Expressões referentes aos resultados ou efeitos visados pelo processo de modificação genética. Propriedades suficientes, mas não necessárias para definir transgênicos
Categorias de definições encontradas
3. Expressões que enfatizam a possibilidade de intercâmbio genético entre espécies distintas por meio de transgênese. Propriedades suficientes, mas não necessárias para definir transgênicos
Categorias de definições encontradas
4. Expressões que enfatizam a natureza dos produtos – o fato de serem geneticamente modificados – e não o método ou os efeitos específicos da modificação. Propriedade insuficiente para definir transgênicos
Resultado da análise semântica
Produto derivado de transgênico, mas isento de gene modificado. Exemplo: óleo, margarina ou frutose produzidos a partir de milho transgênico.
Alimento formulado com ingrediente transgênico. Exemplo: salsicha de soja transgênica. (Ver percentual do ingrediente na composição).
Organismo vivo ou morto geneticamente modificado ou que contenha derivado de transgênico em escala de até 100%. Exemplo: grãos, farinha, fubá ou pipoca de milho transgênico.
Organismo vivo transgênico. Exemplo: batata transgênica crua, semente de milho ou soja transgênicos
Fonte: Palestra de CARVALHO, L.E. (UFRJ) durante a 49a Jornada Farmacêutica da Unesp em Araraquara
Alimento o quê?
Transposição narrativa
Elementos narrativos
Referenciar processos, resultados e desdobramentos da atividade científica
Caracterização de contexto, personagens, tempo, espaço e ações (clímax e desfecho)
Menos formalismo e abstração (distanciamento); mais concretude e observação (aproximação)
Condicionamento pelo estilo de edição, perfil do público-alvo e habilidade editorial
Pirâmide invertida
Estrutura textual em ordem decrescente de importância das informações
• Resultado ou clímax• Referência ou fonte • Detalhes e circunstâncias• Críticas e implicações
Uso de estereótipos
Apelo ou atração sensacional que cria, de modo mais ou menos arbitrário, uma imagem simbólica caricata de elementos associados à atividade científica ou aos seus resultados
Tradução livre: “Espero que não tenha nada geneticamente modificado nisso”
Uso de infográficos
Uso de analogias Superposição de processos científicos com fatos comuns
Dramatização
Confiabilidade e referenciação
• Confiabilidade de enunciados científicos não é dada a priori por seu status ou autoridade
• Considerar as condições e circunstâncias específicas de aquisição de informações científicas.
• Explicitar os processos de pesquisa vinculados aos resultados divulgados
• Explicitar as variáveis sociológicas e metodológicas que fundamentam esse conhecimento
Carl Sagan, “O mundo assombrado pelos demônios”, p.37
Argumentos de autoridade
• Recurso de personalização desloca a referência para a credibilidade individual do sujeito, restando em plano secundário as variáveis metodológicas especificamente ligadas ao experimento ou tema em questão
Resultado da análise narrativa
Retórica de argumentação
Concepções valorativas
• Progresso Aumento de
produtividade das lavouras
Enriquecimento nutricional dos alimentos
Redução no uso de agrotóxicos
Avanço tecnológico Combate à fome
• Precaução Concentração e domínio
empresarial Possibilidade de
aplicações indesejáveis Inconclusividade dos
testes de biossegurança Perda de biodiversidade Riscos desconhecidos ao
meio ambiente e à saúde
Hugh Lacey. “Valores e atividade científica”, p.13, 14.
A racionalidade de cada um...
Síntese dos resultados Contradições na caracterização
dos transgênicos, com formas conflitantes de definir esses produtos a partir de suas propriedades características.
Falta de referência narrativas sobre os aspectos sociais e metodológicos que condicionam a confiabilidade do conhecimento
Permanência do desafio de mediação crítica em relação às estratégias de comunicação tecnocrática e militante ideológica
O que houve, afinal?
• Na informação: transgênicos são freqüentemente caracterizados de forma genérica, sem as especificidades de cada variedade ou dos interesses associados a suas aplicações
Na opinião: tendência a privilegiar embates especulativos dos agentes interessados no tema, em detrimento de exame crítico e interpretativo de suas questões mais complexas
Imprensa refletiu uma polêmica que tende a levar a opinião pública a adotar posições absolutas – contra ou a favor.
Tais posições apreciam a tecnologia em si mesma e não os propósitos e riscos de cada programa de emprego da tecnologia
Informações científicas e contextuais devem ser associadas para que o leitor entenda o que são transgênicos e possa avaliar suas implicações
E ainda...