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MESTRADO ECONOMIA E GESTÃO DO AMBIENTE Divulgação de indicadores económicos nos relatórios de sustentabilidade de empresas multinacionais Francisco António Martins Chaves M 2018

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MESTRADO

ECONOMIA E GESTÃO DO AMBIENTE

Divulgação de indicadores económicos

nos relatórios de sustentabilidade de

empresas multinacionais

Francisco António Martins Chaves

M 2018

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Divulgação de indicadores económicos nos relatórios de sustentabilidade de em-presas multinacionais

Francisco António Martins Chaves

Dissertação

Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente

Orientado por Professor Doutor Manuel Emílio Castelo Branco

2018

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AGRADECIMENTOS

A conclusão deste Mestrado constitui-se num marco fundamental na minha vida

pessoal e profissional. Esta etapa da minha formação jamais teria sido conseguida sem o

auxílio e apoio de um conjunto de pessoas que, direta ou indiretamente permitiram que esta

investigação fosse concluída.

Agradeço a todo o corpo docente do Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente

da FEP, pela transmissão dos conhecimentos e partilha de saberes tão essenciais para o

exercício da nossa profissão.

Particularmente, um agradecimento especial ao meu orientador, Professor Doutor

Manuel Emílio Castelo Branco, pela ajuda, incentivo e considerações que foi tecendo ao

longo das nossas conversas, para que pudesse melhorar, cada vez mais este trabalho.

A todos os meus colegas de curso, pelos bons momentos que partilhamos e também

pelos momentos de desânimo e de desmotivação, que permitiram que nos apoiássemos

mutuamente até à reta final.

À minha família, que sem o seu apoio incondicional eu não teria aqui chegado.

A todos os outros meus familiares, amigos e colegas de trabalho, por me terem

acompanhado e dado apoio nesta etapa importante de vida.

A todos, o meu MUITO OBRIGADO!

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RESUMO

O presente estudo tem como principal objetivo analisar como as empresas multinacionais

comunicam os indicadores económicos nos seus relatórios de responsabilidade social

empresarial (RSE) e/ou sustentabilidade. A amostra do presente estudo é constituída por

120 empresas, públicas e privadas, cotadas e não cotadas, com impacto da sua atividade baixo

e médio/alto, pertencentes à Grécia, Itália, Espanha e Portugal, com relatórios de

sustentabilidade relativos ao ano de 2016, retirados da base de dados da Global Reporting

Initiative (GRI). Os principais resultados, não paramétricos, descritivos e correlacionais,

mostraram diferenças significativas na distribuição dos indicadores económicos em função

do impacto da atividade das multinacionais estudadas, bem como correlações entre a

comunicação dos indicadores económicos e as empresas com médio/alto impacto nos

stakeholders. Não foram encontradas distribuições estatisticamente significativas em função

do país, do tipo de empresa e do facto de serem ou não cotadas na Bolsa. Investigações

futuras devem ser conduzidas com amostras mais amplas, comparando os relatórios de vários

países, considerando outras variáveis e os indicadores sociais e ambientais.

Palavras-chave: indicadores económicos, responsabilidade social, sustentabilidade,

relatórios

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ABSTRACT

The present study has as its main objective to analyze how multinational companies

communicate the economic indicators in its reports of corporate social responsibility (CSR)

and sustainability. The sample of this study consists of 120 companies, public and private,

listed and non-listed companies, with low and medium/high impact activity, belonging to

Greece, Italy, Spain and Portugal, and with sustainability reports relating to 2016, retrieved

from the database of the Global Reporting Initiative (GRI). The main results, nonparametric,

descriptive and correlational, showed significant differences in the distribution of the

economic indicators in the impact of the multinationals’ activity, as well as correlations

between the communication of economic indicators and with medium/high impact on

stakeholders. We won’t find statistically significant distributions, depending on the country,

type of business and the fact that they are listed or not. Future investigations should be

conducted with broader samples, comparing the reports from various countries, whereas

other variables and social and environmental indicators should be considered.

Keywords: economic indicators, social responsibility, sustainability, reports

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................... 4

1.1. Em busca de uma definição .......................................................................................................... 4

1.2. Responsabilidade social empresarial: O papel no desenvolvimento local/ regional ........... 7

1.3. A ética: Pilar da responsabilidade social empresarial ................................................................ 9

1.4. Comunicação da responsabilidade social empresarial ........................................................... 13

1.5. Estudos e investigações sobre a responsabilidade social empresarial e sustentabilidade 16

CAPÍTULO II - METODOLOGIA .................................................................................... 21

2.1. Tipo de estudo ............................................................................................................... 21

2.2. Questões de investigação e objetivos do estudo ....................................................... 21

2.3. Variáveis .......................................................................................................................... 22

2.4. Amostra ........................................................................................................................... 26

2.5. Procedimento ................................................................................................................. 28

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................... 30

3.1. Apresentação dos resultados ........................................................................................ 30

3.2. Discussão dos resultados .............................................................................................. 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 38

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Gobal Reporting Initiative ............................................................................................ 15

Tabela 2. Variáveis do estudo ........................................................................................................ 22

Tabela 3. Percentagem de indicadores económicos em função do país .................................. 30

Tabela 4. Percentagem de indicadores económicos em função do tipo de empresa ............. 31

Tabela 5. Percentagem de indicadores económicos em função da cotação na Bolsa ............ 31

Tabela 6. Percentagem de indicadores económicos em função do impacto .......................... 32

Tabela 7. Correlações entre os indicadores e as variáveis caraterizadoras das empresas ...... 32

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Pilares da dimensão interna da RSE ............................................................................... 7

Figura 2. Pilares da dimensão externa da RSE .............................................................................. 8

Figura 3. Indicadores económicos ................................................................................................ 25

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LISTA DE ABREVIATURAS, ACRÓNIMOS E SIGLAS

% Frequência relativa

e.g. Por exemplo

EU European Union

GRI Global Reporting Initiative

IFAC International Federation of Accountants

n Frequência absoluta

OECD The Organisation for Economic Co-operation and Development

p Nível de significância

r Coeficiente de correlação de Pearson

RSE Responsabilidade Social Empresarial

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

x2 Qui-quadrado

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INTRODUÇÃO

Num cenário altamente competitivo, caraterizado pela crescente e galopante

globalização das economias, as empresas distinguem-se pela forma como levam a cabo a sua

atividade, pelo que o conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) surge como

fundamental neste contexto (Dilling, 2016). Hoje em dia, a RSE é tida como um indicador

de sucesso da organização, uma vez que ela integra preocupações de natureza diversa, com

o intuito de promover e melhorar as atividades que as empresas atuais preconizam (Lock &

Seele, 2017).

Enquanto ferramenta de gestão organizacional, a RSE concilia interesses de diversas

partes, numa abordagem claramente global e sincronizada ao nível da qualidade e do

desenvolvimento sustentável, pelo que as organizações que a levam a cabo contribuem

ativamente para a melhoria das normas relativas ao desenvolvimento social, proteção

ambiental e direitos fundamentais dos atores envolvidos (Baviera-Puig, Gomez-Navarro,

Garcia-Melon, & Garcia-Martinez, 2015; Ika, Dwiwinarno, & Widagdo, 2017).

Neste âmbito, a RSE emerge intimamente associada à comunicação da informação a

ela relativa, assumindo-se esta comunicação de natureza voluntária e imbricada com diversos

aspetos económicos, sociais e ambientais sobre os quais as atividades das empresas têm

impacto (Branco, 2007, 2010). Na verdade, a informação em matéria da RSE carateriza-se

por ser qualitativa e quantitativa, fornecida em termos financeiros ou não financeiros, e com

intuito de informar ou de influenciar o público-alvo, tal como constata Branco (2010).

É neste sentido que nasce o presente trabalho, que tem como principal objetivo

analisar como as empresas multinacionais comunicam os indicadores económicos nos seus

relatórios de RSE e/ou sustentabilidade. Este tema afigura-se relevante e pertinente por

diversas razões, de entre as quais elencamos três que se apresentam como principais. Em

primeiro lugar, consideramos pertinente conhecer quais os parâmetros económicos mais

valorizados por diferentes empresas multinacionais aquando da comunicação da RSE. Em

segundo, porque se afigura pertinente compreender se esses parâmetros variam em função

de algumas variáveis como os países onde operam, o tipo de empresa, estarem ou não cotadas

na Bolsa e o impacto da sua atividade nos stakeholders. Em terceiro e último lugar porque

consideramos que o conhecimento dos parâmetros económicos comunicados por estas

empresas poderão servir de ponto de partida para se construírem boas práticas (best practices)

em empresas portuguesas, em matéria da RSE.

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O presente trabalho encontra-se estruturado em três capítulos, sendo que o primeiro

constitui a Revisão de Literatura e os dois últimos, o Estudo Empírico realizado. Assim, no

Capítulo I, que se debruça sobre a RSE, procura-se uma definição do conceito; caraterizam-

se as duas dimensões da RSE associadas com o papel do desenvolvimento local/regional;

reflete-se sobre a ética na RSE; apresentam-se os aspetos associados à comunicação da RSE

e alguns estudos e investigações sobre a sustentabilidade e RSE.

O Capítulo II apresenta o percurso metodológico seguido, enfatizando-se o tipo de

estudo, as questões de investigação e os objetivos, a caraterização das variáveis e da amostra,

bem como as técnicas que foram utilizadas para a recolha de dados. O Capítulo III apresenta

e discute os principais resultados que foram encontrados. O presente trabalho termina com

a reflexão sobre algumas considerações pertinentes, procurando-se realizar um balanço entre

os pontos fortes e as principais limitações e constrangimentos sentidos, apontando para

possíveis linhas de investigação futuras no âmbito desta temática.

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CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA

1.1. Em busca de uma definição

A definição de RSE não é consensual nem unanimemente aceite. A revisão

bibliográfica sobre o conceito sublinha múltiplos componentes que levam à dificuldade de

um consenso no que toca à definição deste constructo (Dienes & Velte, 2016). A principal

dificuldade encontrada na identificação de uma definição única e consensual residiu no facto

de os diversos autores consultados apresentarem perspetivas diferentes relativamente ao

conceito, sublinhando a importância de determinados componentes em detrimento de

outros (Dienes & Velte, 2016; Mansoor, 2016).

Ao lançarmos um primeiro olhar sobre as diversas definições disponíveis, observa-se

que estas parecem evoluir sob o prisma de duas grandes escolas: aquelas que defendem que

as organizações são obrigadas a gerar lucros dentro dos limites éticos e legais existentes e,

aquelas que defendem que as organizações possuem outras obrigações mais abrangentes

(Thomas, 2006). Neste contexto, grande parte do desenvolvimento conceptual no que toca

à RSE pode organizar-se em torno de quatro linhas principais de investigação: a

Responsabilidade Social da Organização (Corporate Social Responsibility), a Responsividade da

Organização (Corporate Social Responsiveness), Desempenho Social da Organização (Corporate

Social Performance) e Gestão dos Stakeholders (Stakeholders Management). Apesar da existência de

linhas conceptuais distintas, o conceito de RSE pode ser tido como a medida em que a

organização assume as responsabilidades económicas, legais, éticas e discricionárias (ou

filantrópicas) impostas pelos seus stakeholders (Ahmad, Rashid, & Gow, 2017; Gallen & de

Grado, 2016; Habek & Wolniak, 2016).

Assim, uma das elaborações teóricas com maior adesão na literatura norte-americana

sobre a RSE foi proposta por Carroll em 1979, que lhe conferiu uma natureza

multidimensional (Dienes & Velte, 2016). O autor propõe que a noção de RSE seja

conceptualizada em função de quatro tipos de responsabilidades sociais das organizações,

que são identificadas com base nas expectativas de uma sociedade relativamente ao

desempenho empresarial: económica, legal, ética e discricionária. Dentro deste contexto, a

responsabilidade económica está na base de todas as responsabilidades e refere-se à

responsabilidade de produzir bens e serviços desejados pela sociedade e vendê-los a fim de

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obter lucro, sendo esta categoria, portanto, a mais importante. No entanto, a organização

deve concretizar a sua missão económica de acordo com um conjunto de exigências legais

(leis e regulamentos), sendo fundamental a existência de uma responsabilidade legal. Embora

as categorias económicas e legais englobem alguns aspetos éticos, há outros que não estando

descritos na lei, a sociedade espera que sejam cumpridos pela organização, constituindo estes,

a responsabilidade ética da organização. Por último, para além destas responsabilidades, a

sociedade espera que a organização assuma igualmente responsabilidades discricionárias, que

correspondem a papéis sociais, puramente voluntários, que refletem o desejo da organização

participar em atividades que não são obrigatórias, nem exigidas por lei nem esperadas em

termos éticos (Dagilienè, 2015; Dienes & Velte, 2016; Dilling, 2016; Thomas, 2006).

Este modelo, que tendo sido aceite e popularizado no âmbito da RSE, não ficou

impune perante críticas e reformulações (Schwartz & Carroll, 2003; Turker, 2009), pelo que,

em 2003, Schwartz e Carroll propõem um novo modelo que integra três domínios, no qual

a categoria discricionária se encontra incluída nas responsabilidades ética e económica, uma

vez que é difícil distinguir estas três categorias de RSE. Neste contexto, há uma dificuldade

em definir o que é um comportamento socialmente responsável, uma vez que neste estão

integradas diversas componentes ou variáveis. Assim, um comportamento socialmente

responsável é um constructo subjetivo, que varia em função das perspetivas adotadas

conferindo uma maior ou menor objetividade aos critérios tidos em consideração (Fortanier,

Kolk, & Pinkse, 2011; Pineiro-Chousa, Vizcaino-Gonzalez, Lopez-Cabarcos, & Romero-

Castro, 2017; Wolniak & Habek, 2016).

No entanto, um comportamento socialmente responsável pode ser tido como aquele

que não compromete o meio ambiente local e a comunidade, enquanto há quem possa

argumentar que esse comportamento é aquele que compreende as expectativas das partes

interessadas (Bonson & Bednarova, 2015; Segui-Mas, Bollas-Araya, & Peiro, 2016; Tsang,

2009; Vukic, 2015). Assim, a RSE pode ser vista como o comprometimento da organização

em contribuir para o desenvolvimento económico sustentável, trabalhando com os

colaboradores, as suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar a

sua qualidade de vida (Rodriguez-Fernandez, 2016; Turker, 2009).

Neste contexto, a RSE assume-se numa obrigação da empresa perante a sociedade,

pelo que ser socialmente responsável significa a maximização dos efeitos positivos sobre os

stakeholders e a minimização dos efeitos negativos das suas ações na sociedade (Segui-Mas et

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al., 2016). Para que este objetivo seja alcançado a RSE pode ser dividida em quatro tipos de

responsabilidade: económica, legal, filantrópica e ética (Alcaraz-Quiles, Navarro-Galera, &

Ortiz-Rodriguez, 2017; Nagata et al., 2017). Assim, a responsabilidade económica da

organização refere-se à produção de bens e serviços que a sociedade necessita, a preços que

possam garantir, concomitantemente, as atividades da organização e a satisfação das suas

obrigações com os investidores. A responsabilidade legal diz respeito às leis que a

organização tem que cumprir. A responsabilidade filantrópica diz respeito aos

comportamentos e atividades desejados pela sociedade e que são ditados pelos valores

preconizados pela organização. A responsabilidade ética remete-nos para as atividades e

comportamentos que a sociedade espera das organizações e que não se encontram

contemplados em leis e regulamentos (Alcaraz-Quiles et al., 2017).

Atendendo a estes aspetos, a RSE deve ser perspetivada como uma estratégia de

mudança de comportamentos e atitudes, que pode (e deve) ser utilizada em qualquer

organização (pública ou privada), com ou sem fins lucrativos, desde que tenha uma meta

final de produção e de transformação dos impactos sociais (Moravcikova, Stefanikova, &

Rypakova, 2015).

Assim sendo, o conceito de RSE é um conceito aberto e em constante evolução,

podendo ser definido como um conceito mediante o qual “as empresas decidem, numa base

voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo”

(European Communities, 2001). Neste mesmo documento é ainda possível observar que ser

socialmente responsável não se “restringe ao cumprimento de todas as obrigações legais,

implica ir mais além através de um maior investimento em capital humano, no ambiente e

nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais (European Communities,

2001).

De acordo com o Livro Verde da Comissão Europeia (2001), a RSE deve ser abordada

e gerida de forma integrada, ou seja, as organizações devem começar por adotar uma

declaração de missão, um código de conduta, valores fundamentais e responsabilidades para

com as diversas partes interessadas (p. 17). Por conseguinte, as organizações devem adaptar

estes valores a toda a organização, pelo que a dimensão social e ambiental deve estar

presentes no planeamento estratégico, nos planos de atividades e nos orçamentos. Em

consequência, à noção de RSE associam-se outras designações afins, como por exemplo,

cidadania empresarial (traduzida no contributo que uma organização concede à sociedade

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através das suas principais atividades, do seu investimento social, dos programas filantrópicos

e do seu compromisso com as políticas públicas), espírito empresarial responsável (que se

traduz na adoção de estratégias empresariais voluntárias para a obtenção de um

desenvolvimento sustentável que deve estar em plena harmonia com a definição comunitária

de RSE das empresas) e desenvolvimento sustentável (que se traduz na satisfação das

necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação

das suas necessidades).

1.2. Responsabilidade social empresarial: O papel no desenvolvimento local/

regional

A RSE das organizações assenta em duas grandes dimensões, tal como sugere a

Comissão Europeia (2001): a dimensão interna e a externa. A interna diz respeito às práticas

socialmente responsáveis que implicam os colaboradores e as questões associadas ao

investimento no capital humano, na saúde, na segurança e na gestão da mudança, bem como

nas práticas ambientais responsáveis e relativas sobretudo à gestão dos recursos naturais

explorados no processo de produção (European Communities, 2001), tal como se apresenta

na Figura 1.

Figura 1. Pilares da dimensão interna da RSE

Fonte: Elaboração própria a partir da informação da Comissão Europeia (2001)

Dimensão Interna

Adaptação à Mudança

Gestão do Impacto

Ambiental e dos Recursos

Naturais

Gestão de Recursos Humanos

Saúde e Segurança

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Esta dimensão não é tão visível quanto a dimensão externa, já que ocorre dentro da

própria organização. Todavia ela espelha o desenvolvimento local/regional da RSE em

termos de mercado, pois sabe-se que um dos grandes desafios colocados às organizações é

selecionar trabalhadores qualificados para os seus quadros. Assim, as medidas de

aprendizagem ao longo da vida; a responsabilização dos colaboradores; uma melhor

informação dentro da organização; o equilíbrio entre a vida profissional, familiar e tempos

livres; uma maior diversidade de recursos humanos; a igualdade de oportunidades; a

instituição de regimes de participação nos lucros e no capital da empresa; assim como uma

preocupação relativamente à empregabilidade e à segurança dos postos de trabalho

assumem-se como indicadores fundamentais numa gestão de recursos humanos adequada e

responsável (Alcaraz-Quiles et al., 2017; Pineiro-Chousa et al., 2017; Rodriguez-Fernandez,

2016).

Por outro lado, a dimensão externa da RSE (Figura 2) abrange a comunidade local e

envolve, para além dos colaboradores e acionistas, outras partes interessadas, como os

parceiros comerciais e fornecedores, clientes, autoridades públicas, organizações não-

governamentais que exercem a sua atividade junto das comunidades locais ou no domínio

do ambiente (European Communities, 2001), pelo que se apresenta como mais visível do

que a dimensão interna.

Figura 2. Pilares da dimensão externa da RSE

Fonte: Elaboração própria a partir da informação da Comissão Europeia (2001)

Dimensão Externa

Direitos Humanos

Preocupações Ambientais

Globais

Comunidades Locais

Parceiros comerciais,

fornecedores e consumidores

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A contribuição das organizações para as comunidades locais/regionais pode ser

analisada através do emprego, das remunerações, dos benefícios e impostos, sendo estes

indicadores fundamentais para o seu desenvolvimento. A participação das organizações em

atividades locais potencia a melhoria da imagem institucional, uma melhor contratação e

fidelização dos colaboradores, assim como o estabelecimento de contactos com autoridades

locais e pessoas com influência na opinião pública (Alcaraz-Quiles et al., 2017; Pineiro-

Chousa et al., 2017; Rodriguez-Fernandez, 2016).

Assim sendo, uma gestão adequada e responsável em matéria das comunidades

locais/regionais compreende, entre outros: preocupações relativamente ao ruido, luz,

poluição das águas, emissões aéreas, contaminação do solo, problemas ambientais inerentes

ao transporte e à eliminação de resíduos; oferta à comunidade de espaços adicionais de

formação; apoio de ações de promoção ambiental; recrutamento de pessoas vítimas de

exclusão social; disponibilização de estruturas de cuidados à infância para os filhos dos

colaboradores; patrocínio de eventos culturais e desportivos; donativos para ações de

caridade; respeito pelas tradições locais e investimento pelas instituições financeiras a

projetos de construção de habitações de baixo custo (Alcaraz-Quiles et al., 2017; Pineiro-

Chousa et al., 2017; Rodriguez-Fernandez, 2016).

1.3. A ética: Pilar da responsabilidade social empresarial

Atendendo à ética como um conjunto de regras, princípios ou formas de pensar que

orientam as ações de um determinado grupo em particular, neste âmbito concreto da RSE,

refere-se aos princípios, regras ou formas de pensar que orientam as atuações das

organizações (Pina e Cunha, Rego, Cabral-Cardoso, Campos e Cunha, & Neves, 2016).

Vários autores se têm debruçado sobre a ética organizacional, marcando posições

diferenciadas e, por vezes, antagónicas, pelo que Pina e Cunha et al. (2016) resumem as

diversas posições existentes relativamente à ética organizacional da seguinte forma:

Defende-se, em alguns setores de atividade, a ideia de que o meio empresarial não

se coaduna com as lógicas da ética e da virtude, embora a ideia mais comum é a de

que para existir um funcionamento correto e adequado da economia e das

organizações é necessário que determinados princípios éticos sejam determinados

e realcem os custos que resultam do incumprimento desses princípios e da

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desconfiança que daí resulta – custos com processos judiciais, gestão desumanizada,

má reputação da organização junto dos clientes, da comunidade, entre outros.

Há também quem defenda que os gestores devem ter em atenção os interesses dos

proprietários ou acionistas das organizações, colocando para segundo plano as

restantes partes interessadas (stakeholders), nomeadamente os clientes, fornecedores,

colaboradores, sindicatos, associações ambientais e autoridades.

Outros assinalam que esta visão (i.e., que os acionistas ganham se a organização

respeitar o interesse das outras partes interessadas) é muito redutora, já que para os

defensores desta perspetiva, a gestão deve ser baseada nos princípios de equilíbrio

e de direitos das várias partes interessadas.

As posições diferenciadas e antagónicas que caraterizam a ética organizacional nascem

do facto de serem utilizados conceitos de RSE diferentes e não existir uma unanimidade

conceptual (Moravcikova et al., 2015). De acordo com Ponchiriolli (2007) a ética

organizacional diz respeito ao estudo da aplicação das normas morais às atividades e

objetivos organizacionais, não se referindo a um padrão moral distinto, mas ao estudo de

como o ambiente empresarial cria os seus próprios problemas e exclusivos à pessoa moral

que gere esse sistema, recaindo sobre os hábitos e as escolhas e decisões que determinados

gestores realizam nas suas atividades e na restante organização. Neste sentido, a ética

organizacional encontra-se intrinsecamente associada à RSE.

O Instituto Ethos (cit. por Rego, Cunha, Guimarães, Gonçalves, & Cabral-Cardoso,

2006) assinala que a ética organizacional é a “base da RSE, expressa nos princípios e valores

adotados pela organização”, pelo que não existe uma RSE sem ética nos negócios. O referido

instituto refere ainda que:

“Não adianta uma empresa pagar mal aos seus funcionários, corromper a

área de compras dos seus clientes, pagar luvas a fiscais do governo e, ao

mesmo tempo, desenvolver programas voltados para entidades sociais da

comunidade. Esta postura não condiz com uma empresa que quer trilhar

um caminho de responsabilidade social. É importante haver uma

coerência entre ação e discurso” (p. 25).

Por conseguinte, a ética organizacional não se deve afastar dos princípios que

fundamentam a dimensão pública e privada da ética, que podem ser transcritos na forma de

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não roubar, não enganar, não receber nem propor subornos, entre outros (Gomes, 2009),

sendo que estes princípios se aplicam a qualquer indivíduo, cidadão, colaboradores,

empregadores e comunidade em geral. Nesta linha de pensamento, o compromisso ético

depende, essencialmente, do sistema de crenças e de valores de cada gestão organizacional.

A responsabilidade ética visa superar as limitações decorrentes da conceção de gestão

egocêntrica, que estabelece a finalidade lucrativa como fim que justifica todos os meios, sem

se atender aos impactos colaterais da atividade da organização e à interdependência profunda

que carateriza a relação da empresa com o resto do mundo (Almeida, 2007).

De acordo com Neves (2008) são as pessoas que determinam a ética nas organizações,

sendo que estas também determinam a atitude dos seus profissionais, num processo cíclico

de retroalimentação. Assim sendo, para este autor, os instrumentos exteriores à organização

(e.g., ambiente, circunstâncias, exemplos e incentivos) são os únicos sobre os quais a

administração da organização pode atuar para promoção da ética empresarial.

Assim, é importante compreender que a ética nas organizações embora dependa do

comportamento dos colaboradores, é da responsabilidade dos gestores a quem é confiada a

missão de promover e manter um código de valores que deve ser do conhecimento de todos.

Numa empresa onde haja confiança, empenhamento e solidariedade entre todos, os

problemas graves são enfrentados com maior coragem. Pelo contrário, nas empresas onde

reside um ambiente de suspeição, de rancor e de desagrado, até um sucesso poderá gerar

uma crise devastadora (Gomes, 2009).

Sendo a ética organizacional o espelho de fatores internos e externos à organização é

importante que a organização adote um comportamento ético nas suas atividades, por

diversas razões. Ter uma conduta ética é vantajoso para aquelas organizações que pretendem

aumentar o seu património, já que abrem portas para melhores colaboradores, fornecedores,

melhores fontes de financiamento, entre outros. Da mesma forma, os clientes exigentes e

informados dificilmente escolherão um produto de qualidade inferior ou um serviço pouco

eficiente (Gomes, 2009).

Nesta mesma linha, Pina e Cunha et al. (2016) sublinham que a ética organizacional é

fundamental a longo prazo, mesmo que seja adotada numa perspetiva instrumental, pois não

existe uma sustentabilidade com uma visão baseada exclusivamente no lucro, porque sem

um comportamento ético, as empresas acabarão por deixar de o obter. Assim, uma

organização que procura apenas resultados ou vantagem imediatas é uma organização

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suicida, pois a responsabilidade a longo prazo configura-se como uma necessidade de

sobrevivência, sendo que a ética é um fator importante para os ganhos, apesar de não se

constituir, por si só, uma condição para um bom negócio. Estudos têm mostrado que a ética

empresarial, aqui considerada como um pilar fundamental da RSE, sofre uma grande

influência da cultura (e.g., Magalhães, 2009), já que esta determina diferentes formas de ver

e de estar no mundo que acabam por influenciar a ética individual (McDonald, 2000).

Destarte, os códigos de ética influenciam grandemente a adoção de práticas éticas, tal

como assinalam Pina e Cunha et al. (2016), já que estimulam os membros da organização

para atuar eticamente, tornam claro o pensamento da gestão da organização sobre o que é o

comportamento ético e contribuem para a compreensão mútua e cooperação no interior da

empresa. Para Moreira (2008) a importância da criação de um código de ética assenta,

globalmente, em duas premissas: (a) por um lado, pela necessidade que a organização tem,

enquanto instituição, de participar no desenvolvimento profissional dos seus colaboradores.

Na verdade, se os gestores e empresários descurarem este aspeto, acabam por falhar na

questão do autoaperfeiçoamento dos membros da organização; (b) por outro, qualquer

organização que pretenda ter bons profissionais não pode abdicar do desenvolvimento ético

dos mesmos. Um profissional pode, tecnicamente ser bastante competente, e ser deficitário

ao nível ético, por desconhecimento, por má-fé e por outros aspetos pessoais ou relacionais

específicos.

Já Neves (2008) considera que os códigos de ética devem transmitir os valores estáveis

da organização e, a partir deles, ser uma fonte de orientação, evitando ações que possam ser

prejudiciais para a imagem de todos os intervenientes. Porém, apesar dos aspetos positivos

que são imputados aos códigos de ética, persistem algumas dificuldades, que se prendem

com a dificuldade de incluir nestes códigos a multiplicidade de problemas que possam surgir,

sendo que a sua extrema especificação poderá resultar numa grande rigidez; com a ausência

de um consenso relativamente àquilo que deve ser destacado como aspeto positivo (o que deve

ser feito) e negativo (o que é proibido) nesses códigos e o facto de a existência de código ético

organizacional não ser, por si só, garante de uma atuação ética por parte da organização.

Esta posição é partilhada Moreira (2008) que advoga que a imposição per si de um

código de ética organizacional não assegura que as organizações possuam um

comportamento ético. No entanto, Pina e Cunha et al. (2016) contrapõem esta ideia referindo

que os códigos éticos devem ser vistos como o princípio de um programa organizado com

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finalidade de introduzir a ética nas ações quotidianas, i.e., o processo de produção e de

implementação de um código merece mais atenção do que o próprio código em si, já que é

apenas quando os princípios que constam no código são integrados nas ações correntes da

organização e cultura desta é que se pode aferir da verdadeira eficácia desse mesmo código.

1.4. Comunicação da responsabilidade social empresarial

Ao se reconhecer a importância da RSE e as medidas que as organizações devem

empreender em benefício de todos, tendo em linha de conta o desenvolvimento sustentável,

afigura-se fundamental divulgar a informação para que esta chegue às partes interessadas. A

comunicação da RSE desempenha um papel crucial ao satisfazer as necessidades crescentes

de informação dos stakeholders da organização, em matéria da RSE, ainda que decorra de

forma voluntária. Por conseguinte, essa divulgação enquadra-se um processo de prestação

de contas ou de relato financeiro, ou seja, assume-se como componente do relatório de

gestão, que acompanha as demonstrações financeiras, ou objeto de relatório autónomo, com

designação própria inerente a cada empresa (Martinov-Bennie & Hecimovic, 2010).

Autores defendem a necessidade de divulgação de informação relativamente à RSE e

aos princípios éticos tidos em consideração nessa responsabilidade. Assim, a RSE de uma

organização não se limita à realização das ações ou atividades, mas também à divulgação

destas e aos seus princípios éticos orientadores (Barros, 2008).

Por conseguinte, nos últimos anos tem-se verificado uma crescente preocupação com

a divulgação das atividades de RSE preconizadas pelas organizações, observando-se que a

maior parte das empresas focaliza essa divulgação em matéria da informação ambiental, já

que esta pode aportar nefastas consequências para o meio local e mundial (Barros, 2008).

Porém, a informação ambiental é apenas uma das componentes da RSE, pelo que as

organizações devem preocupar-se em divulgar, igualmente, a informação relativa aos

colaboradores, de natureza ética e das relações com os consumidores e com a comunidade

em geral, espelhando, desta forma, as interações preconizadas pela organização com a

sociedade (Martinov-Bennie & Hecimovic, 2010).

A comunicação das atividades preconizadas pelas organizações em matéria da RSE

afigura-se fundamental, embora voluntária, pois ela espelha os aspetos económicos, sociais e

ambientais que caraterizam o desenvolvimento das atividades organizacionais. Assim, são

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inúmeras as agências internacionais (e.g., OECD - The Organisation for Economic Co-operation

and Development; IFAC - International Federation of Accountants; EU - European Union) que

recomendam que os governos adotem práticas de RSE e informem os cidadãos e stakeholders

da sustentabilidade das suas ações em termos sociais, económicos e ambientais (Alcaraz-

Quiles et al., 2017).

De facto, um dos pilares da RSE é a manutenção do diálogo com os stakeholders

(Bonson & Bednarova, 2015). Por isso, para que RSE faça parte da missão da empresa, esta

tem como dever comunicar a sua estratégia de desenvolvimento da RSE aos stakeholders.

Normalmente esta comunicação realiza-se através do Triple Bottom Line, que integra os

aspetos sociais, económicos e ambientais. Esta tripla comunicação constitui a chave para a

comunicação da RSE nas organizações (Golob & Bartlett, 2007).

Kim, Hur e Yeo (2015) mostraram que os relatórios escritos, impressos ou online são

os meios de comunicação por excelência da RSE aos stakeholders, não podendo, no entanto,

ser tidos como ferramentas promocionais da organização. Neste âmbito, surgem dois grupos

de críticas relativamente aos relatórios de RSE. Assim, há quem refira que os relatórios de

sustentabilidade são mais uma ferramenta de publicidade e de promoção da empresa do que

necessariamente uma evidência, per si, da existência de RSE (Fassin, 2008). Outros referem

que a comunicação sobre RSE e sustentabilidade nem sempre é eficaz (Ziek, 2009), pois

embora sirvam dois propósitos - ajudam a disseminar informação para o público em geral e

para os stakeholders em particular, e permitam que a empresa comunique as atividades

desenvolvidas em matéria da RSE - nem sempre existem e são consistentes (Bonson &

Bednarova, 2015; Kim et al., 2015).

Neste contexto, o interesse crescente pelos relatórios de RSE e de sustentabilidade

levou à publicação de várias orientações para comunicar as práticas preconizadas pelas

empresas, sendo que as orientações da Gobal Reporting Initiative (GRI) são as mais

referenciadas e mais utilizadas, integrando indicadores económicos, sociais e ambientais

(Martinov-Bennie & Hecimovic, 2010).

De acordo com a GRI (2013) existem dois grupos de princípios fundamentais que

devem garantir a transparência do processo de relato (Tabela 1): princípios para a definição

do conteúdo do relatório e princípios para assegurar a qualidade do relatório. Os primeiros

orientam decisões para identificar o conteúdo que o relatório deve abordar em função das

atividades da organização, seus impactos, expectativas e interesses dos stakeholders. Os

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segundos oferecem orientações para assegurar a qualidade das informações relatadas,

inclusivamente da sua apresentação.

Tabela 1. Gobal Reporting Initiative

Princípios para a definição do conteúdo do relatório

Princípios para assegurar a qualidade do relatório

Deve incluir os stakeholders

Deve descrever o contexto da sustentabilidade

Materialidade – deve refletir os impactos económicos, ambientais e sociais significativos

Completude – deve integrar variados aspetos contextuais e temporais

Equilíbrio entre os aspetos positivos e negativos do desempenho organizacional

Comparabilidade no desempenho da organização ao longo do tempo e em variados aspetos

Exatidão e detalhe das informações fornecidas

Tempestividade que se associa à publicação atempada do relatório para suportar as decisões dos stakeholders

Clareza e disponibilidade da informação

Confiabilidade da informação disponibilizada

Fonte: Elaboração própria

Segundo Moravcikova et al. (2015) a qualidade dos relatórios de RSE devem seguir

quatro aspetos essenciais:

Credibilidade - que pode ser suportada pelo comprometimento da gestão de topo,

descrição da política corporativa e introdução das responsabilidades pessoais,

método de colheita de dados e objetivos. A credibilidade é igualmente influenciada

pelo nível de envolvimento das partes interessadas e é potenciada com a verificação

independente de terceiros.

Completude - baseado no facto de os relatórios de RSE incluírem todas as

operações do negócio e das filiais no país, bem como informar sobre as principais

áreas de impacto das ações da organização na sociedade e no ambiente;

Significância - a empresa deve maximizar o uso de indicadores quantitativos e

qualitativos para avaliar a responsabilidade social;

Formulário adequado - o formato do relatório tem um papel importante na sua

clareza e no seu comprimento.

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Em suma, a comunicação da RSE é fundamental pois ela deve integrar determinados

aspetos que se consideram mais relevantes em função de determinados critérios, em

detrimento de outros (Branco, 2010). Sabe-se, no entanto, que grande parte da comunicação

em RSE é realizada através do relato de sustentabilidade, refletindo diversos aspetos sociais

das atividades que as empresas realizam, associadas aos colaboradores, à comunidade, ao

meio ambiente, a questões éticas, entre outros (Branco, 2010; Litfin, Meeh-Bunse, Luer, &

Teckert, 2017; Michelon, Pilonato, & Ricceri, 2015).

1.5. Estudos e investigações sobre a responsabilidade social empresarial e

sustentabilidade

São diversos os estudos e investigações sobre a RSE e sustentabilidade das empresas,

um pouco por todo o mundo, sendo que estes diferenciam-se pelo facto de se focalizarem

mais em determinados aspetos em detrimento de outros.

Assim, por exemplo, Ahmad et al. (2017) ao procurarem analisar as boas práticas de

comunicação da RSE de 450 empresas não financeiras da Malásia entre 2008 e 2013,

verificaram que, independentemente dos setores de atividade, os relatórios anuais são o

veículo mais utilizado pelas empresas para comunicarem as suas atividades de RSE ao público

em geral, incluindo informação social e ambiental. Constataram, ainda, que eram as grandes

empresas que comunicavam mais atividades de RSE, pois eram mais visíveis pelo público e

tendiam a ser objeto de maior pressão política e regulatória externa de grupos de interesse.

De facto, são diversos os elementos tidos como influenciadores da comunicação da

RSE. Ao que parece, há uma tendência para uma maior comunicação da RSE quanto maior

for o Conselho de Administração de uma empresa (Aktaruddin, Hossain, & Yao, 2009);

quando existem mais diretores independentes (independent directors) (Majeed, Aziz, & Saleem,

2015); quando existem mais mulheres no Conselho de Administração (Donnelly & Mulcany,

2008) e quando existe uma maior concentração de propriedade (Said, Yuserrie, & Hasnah,

2009).

Outros estudos têm mostrado que o tamanho da empresa é igualmente influenciador

da comunicação sobre RSE, pelo que as grandes empresas tendem a desenvolver mais

atividades e com maior impacto na sociedade/comunidade do que as pequenas empresas

(Gallen & de Grado, 2016; Majeed et al., 2015; Michelon et al., 2015). Também a

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rentabilidade é estudada como fator influenciador da comunicação em RSE das organizações.

Assim, estudos têm mostrado uma associação entre a rentabilidade e os níveis de

comunicação em RSE (Ehsan & Kaleem, 2012; Said et al., 2009).

Um estudo conduzido por Branco, Delgado, Sá e Sousa (2014) que procurou analisar

o uso da internet por multinacionais suecas e espanholas na comunicação da sua RSE,

mostrou haver uma grande similaridade nas práticas de comunicação destes dois países,

sendo que as empresas espanholas colocam a informação da sua RSE em seções mais

proeminentes e dedicam mais espaço a essa informação quando comparadas com as suecas.

Estas, por sua vez, divulgam mais os seus códigos de conduta/ética associados à RSE e os

seus artigos publicados.

A KPMG (2013) conduziu um estudo designado por Survey of Corporate Responsibility

Reporting, que integrou 4100 empresas de 41 países, tendo constatado que mais de metade

(51%) reportava a sua RSE no relatório financeiro anual. Analisando a comunicação por

regiões, o estudo mostrou que a maioria das empresas que o fazia era da América (76%),

seguida da Europa (73%), Ásia (71%) e Médio Oriente e África (54%). Apesar de se verificar

que há um aumento da comunicação sobre RSE na maior parte dos países, há ainda aqueles

(e.g., Finlândia, Espanha) em que se observa um decréscimo. As empresas eslovacas

apresentam tantos relatórios de RSE como as da Rússia e da Alemanha. Apesar de, em 2011,

63% das empresas eslovacas terem comunicado a sua RSE, em 2013, apenas 57% o fizeram

(KPMG, 2013).

Também em 2014, Moravcikova et al. (2015), conduziram um inquérito designado

Corporate Social Responsibility in terms of customers, que envolveu 397 respondentes com o intuito

de analisar se estes sabiam ou já tinham ouvido falar do conceito de RSE. Os resultados

mostraram que os respondentes da Eslováquia não conheciam o conceito, sendo que 41%

disse que nunca tinha ouvido falar dele. Somente 19% sabia exatamente o significado de RSE

e 32%, apesar de já terem ouvido falar do conceito, sabia aproximadamente o seu significado.

Ao serem questionados sobre a forma como tomaram conhecimento da RSE, verificou-se

que para 49% foi através da televisão, rádio e jornal. Também 34% referiu que tomaram

conhecimento através de campanhas de empresas e 22% aprendeu o que eram atividades

sociais de RSE com uma empresa em particular.

No estudo conduzido por Alcaraz-Quiles et al. (2017) procurou-se analisar as práticas

de disseminação da informação em matéria da sustentabilidade e o tipo de informação

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comunicada pelas empresas públicas espanholas, já que não existe qualquer obrigatoriedade

formal para a publicação dos relatórios de RSE e sustentabilidade. A partir das orientações

propostas pela GRI neste âmbito, os autores constataram que a maioria das informações

comunicadas se inserem na vertente social (82,3%), sendo que as informações mais gerais

(como por exemplo a estratégia de RSE e sustentabilidade, o perfil organizacional,

parâmetros da informação e participação dos stakeholders) é a menos comunicada (55,5%). A

informação ambiental encontra-se muito dispersa em função das regiões onde as empresas

se encontram e os aspetos económicos apresentam uma disseminação mediana (62,2%).

Verificaram, ainda, que cerca de 40% destas empresas divulga a comunicação no seu sítio,

sendo que mais de 20% não inclui todos os aspetos da RSE e sustentabilidade nessas

comunicações, pelo que apenas 9 dos 25 itens da informação global, 4 dos 16 itens da

informação económica, 5 dos 7 itens da informação social e 2 dos 13 itens da informação

ambiental, são comunicados.

Estudos em setores específicos de ação, como é o caso do setor alimentar, procuraram

analisar que critérios permitem a qualidade de avaliação dos relatórios de sustentabilidade

como ferramenta de comunicação; identificar quais os critérios de comunicação que são mais

valorizados pelos stakeholders e obter uma avaliação dos relatórios por parte dos stakeholders,

enquanto ferramenta que permite às organizações comunicarem a sua RSE (Baviera-Puig et

al., 2015). Os autores consideram que os resultados encontrados permitiram compreender

que a qualidade da informação comunicada depende do ponto de vista do stakeholder, pelo

que é necessário implementar um template que permita a comunicação de diversas áreas da

empresa, abrangendo as várias expectativas que caraterizam os stakeholders. Estes, por sua

vez, valorizam fortemente os relatórios de RSE e sustentabilidade, procurando neles não a

quantidade de indicadores apresentados, mas sim a sua consistência, confiança, qualidade e

rigor.

Também Bonsón e Bednárová (2015) conduziram um estudo com o objetivo de

analisar a resposta de empresas europeias perante o desafio da comunicação em matéria da

RSE. Os autores constataram que as empresas analisadas reportam mais intensamente

indicadores de governação corporativa, moderados indicadores ambientais e muito poucos

indicadores sociais.

Outros estudos procuraram compreender a ligação entre o desempenho financeiro e

os relatos de RSE. Na verdade, há fortes evidências que sugerem que os relatos de RSE são

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fundamentais (Al-Tuwaijri, Christensen, & Hughes, 2004; Graham, Harvey, & Rajgopal,

2005), havendo uma associação entre a transparência desses relatos e o desempenho

financeiro da organização (Al-Tuwaijri, Christensen, & Hughes, 2004; Graham, Harvey, &

Rajgopal, 2005).

A literatura tem reconhecido que a comunicação não é apenas uma responsabilidade

ética mas uma ferramenta de gestão, que pode aportar benefícios, incrementar o desempenho

financeiro e as relações com os stakeholders e uma gestão de risco mais aprimorada devido a

uma maior compreensão dos riscos não-financeiros (Majeed et al., 2015; Michelon et al.,

2015; Ntim, 2013; Szczanowicz & Saniuk, 2016). Uma investigação com 40 empresas

britânicas e alemãs mostrou que a comunidade é o stakeholder mais mencionado nos sítios

dessas empresas, muito embora a definição de comunidade não se encontre totalmente

associada à distribuição geográfica ou sociodemográfica (Tsang, 2009). De acordo com os

autores, os estudos de caso qualitativos sobre como as empresas se envolvem no

desenvolvimento da comunidade são comumente encontrados nos relatórios de

sustentabilidade, embora sejam raros os estudos que avaliam o impacto das iniciativas de

RSE de uma dada empresa na comunidade. As dificuldades associadas à comunicação dos

aspetos sociais é uma das razões apontadas para o facto de os relatórios de RSE se

debruçarem mais sobre os aspetos ambientais do que sociais (Majeed et al., 2015).

Apesar de em Portugal, a tendência ser para se verificar um aumento da divulgação da

informação sobre RSE, a preocupação com a divulgação nem sempre existe. Assim, um

estudo empírico de Roque e Cortez (2006), onde compararam o desempenho financeiro no

mercado de capitais e a divulgação de informação social de 35 empresas cotadas em Portugal,

concluiu que quanto maior o desempenho financeiro de uma empresa, menor é a

preocupação em divulgar informação social.

No entanto, Branco e Rodrigues (2008), num estudo com uma amostra de empresas

que integraram a Euronext Lisboa, mostraram que estas elegeram o Relatórios e Contas para

divulgar a sua informação social, sobretudo a referente aos recursos humanos. No entanto,

o meio de divulgação preferido para colocarem à disposição as informações sociais referentes

ao envolvimento com a comunidade foi a Internet. Os autores concluíram ainda que, quanto

maior a visibilidade que a empresa apresenta, maior a preocupação em divulgar a informação

social, qualquer que seja o suporte escolhido.

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O estudo conduzido por Tsang et al. (2009) teve como principal objetivo analisar as

abordagens que são utilizadas para relatar investimentos comunitários. Os autores analisaram

72 relatórios de sustentabilidade e constataram que nenhum desses relatórios apresentou uma

secção separada para divulgar aspetos sobre a comunidade. Normalmente, estes aspetos

encontraram-se diluídos na informação social apresentada. Verificaram, ainda, que apesar da

GRI apresentar indicadores como: (i) metas e desempenho (goals and performance); (ii) política

(policy); (iii) responsabilidade organizacional (organizational responsibility); (iv) treino e

consciencialização (training and awareness) e (v) monitorização e follow-up (monitoring and follow-

up), nem sempre os mesmos foram seguidos pelas empresas nos seus relatórios.

Os autores verificaram grandes diferenças na forma como as empresas reportam à

comunidade, a sua RSE. Os tópicos mais focados são a educação e formação (education and

training) e os aspetos filantrópicos e de caridade (philanthropy and charitable), que ocupam cerca

e 63% da informação dos relatórios. Em seguida, comunicam aspetos associados aos serviços

da comunidade (community services) e voluntariado (employee volunteering). As informações sobre

os temas ambientais, como o impacto ambiental comunitário decorrente da operação da

empresa e as campanhas ambientais comunitárias/solução de problemas, apareceram em

35% e 32% dos relatórios, respetivamente.

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CAPÍTULO II - METODOLOGIA

2.1. Tipo de estudo

Este estudo tem uma natureza quantitativa, uma vez que tem como intuito explicar,

predizer e controlar os fenómenos procurando regularidades e leis, através da objetividade

dos procedimentos e da quantificação das medidas. Tem como principais objetivos,

descrever a distinção das entidades pelos diversos valores das variáveis e/ou descrever ou

examinar relações entre variáveis (Almeida & Freire, 2010).

2.2. Questões de investigação e objetivos do estudo

Tendo em linha de conta a fundamentação teórica apresentada foram formuladas as

seguintes questões de investigação que espelham a problemática do presente estudo:

Como comunicam as empresas multinacionais os impactos económicos da sua responsabilidade social?

Quais os indicadores económicos mais valorizados nessa comunicação?

A partir destas questões, foi definido o objetivo principal do estudo que consiste em

analisar como as empresas multinacionais comunicam os indicadores económicos nos seus

relatórios de RSE/Sustentabilidade. A partir daqui, definimos objetivos mais específicos,

designadamente:

1. Averiguar se a comunicação dos indicadores económicos das empresas

multinacionais varia em função dos países.

2. Analisar se a comunicação dos indicadores económicos das empresas

multinacionais varia em função o tipo de empresa.

3. Identificar se a comunicação dos indicadores económicos das empresas

multinacionais varia em função de as mesmas estarem ou não cotadas na Bolsa.

4. Analisar se a comunicação dos indicadores económicos das empresas

multinacionais varia em função do impacto da atividade das empresas nos

stakeholders.

5. Relacionar o total dos indicadores económicos com as variáveis caraterizadoras das

multinacionais do estudo.

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2.3. Variáveis

Na realização de um trabalho científico é necessário proceder à identificação e à

operacionalização das variáveis, assim como importa estabelecer as relações entre as mesmas.

As variáveis são qualidades, propriedades ou caraterísticas de objetos, pessoas ou de situações

que são estudadas numa investigação (Almeida & Freire, 2010).

Neste sentido, uma variável pode ser definida como “qualquer caraterística da realidade

que pode tomar dois ou mais valores mutuamente exclusivos”, ainda que possa ser

classificada de diversas formas, dependendo do tipo de investigação (Freixo, 2011, p. 35).

As variáveis podem ser definidas de várias formas, sendo a mais comum aquela que as

divide em qualitativas (ou categóricas) e quantitativas. As variáveis qualitativas podem ser

nominais (quando as categorias apresentadas não possuem uma determinada ordenação

ascendente ou descendente) ou ordinais (quando as categorias possuem uma ordenação

ascendente ou descendente). As quantitativas podem ser contínuas, quando as pontuações

adquirem valores inteiros ou fracionados numa escala de valores e, discretas, quando essas

pontuações assumem um determinado número finito ou infinito de valores inteiros (Freixo,

2011). No presente estudo, a Tabela 2 apresenta as variáveis utilizadas, sua operacionalização

e classificação.

Tabela 2. Variáveis do estudo

Variáveis Operacionalização Classificação

País

1. Grécia 2. Itália 3. Espanha 4. Portugal

Categórica nominal

Tipo de empresa 1. Privada 2. Pública

Categórica nominal

Cotação na Bolsa 0. Não cotada 1. Cotada

Categórica nominal

Impacto da atividade da empresa

0. Baixo impacto 1. Médio e alto impacto

Categórica nominal

EC1 à EC9 0. Ausente/inespecífico 1. Presente

Categórica nominal

Desempenho Económico Somatório do ECI ao EC4 Quantitativa contínua

Presença no mercado Somatório do EC5 e EC6 Quantitativa contínua

Impactos económicos indiretos

Somatório do EC7 e EC8 Quantitativa contínua

Práticas de compra EC9 Categórica nominal

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Importa tecer algumas considerações relativamente às variáveis que foram escolhidas

no presente trabalho. Assim, consideramos importante a criação da variável impacto do

atividade da empresa nos stakeholders, tendo-se organizado em função de dois grupos, tal

como proposto por Young e Marais (2012): baixo impacto e médio/alto impacto. Nesse

sentido, considerou-se como setor de médio/alto impacto, os seguintes: agricultura; indústria

automóvel; aviação; indústrias químicas; de construção; de materiais de construção; bens de

consumo duráveis; energia; equipamentos; produtos alimentares e bebidas; produtos da

floresta e papel; produtos de metais; extração mineira; autoestradas; retalhistas; indústria de

tabaco e gestão de resíduos. E, os setores de baixo impacto incluem: serviços comerciais;

computadores; serviços financeiros; produtos de bem-estar; serviços de bem-estar; produtos

de uso domésticos e pessoais; logística; media; imóveis; tecnologia hardware;

telecomunicações; têxtil e vestuário, e turismo/lazer.

Para além destas variáveis foram ainda consideradas as variáveis económicas

integrantes na GRI (2013) da EC1 à EC9, como a seguir se descreve. Neste sentido, o

Desempenho Económico resulta do somatório de quatro indicadores:

EC1 – Valor económico direto, gerado e distribuído com base no regime de

competência de exercícios, incluindo os componentes básicos das operações

globais da organização através do valor económico direto gerado pelas receitas e o

valor económico distribuído nos custos operacionais, salários e benefícios de

empregados, pagamentos a provedores de capital, pagamentos ao governo (por

país) e investimentos comunitários; valor económico retido (calculado como “valor

económico direto gerado” menos “valor económico distribuído”);

EC2 – Implicações financeiras e outros riscos e oportunidades para as atividades

da organização decorrentes das mudanças climáticas com potencial de gerar

mudanças substanciais em operações, receitas ou despesas, indicando uma

descrição do risco ou oportunidade e sua classificação como física, regulatória ou

de outra natureza; uma descrição do impacto associado ao risco ou oportunidade;

as implicações financeiras do risco ou oportunidade antes de serem tomadas

medidas; os métodos utilizados para gerir o risco ou oportunidade; os custos de

medidas tomadas para gerir o risco ou oportunidade;

EC3 – Cobertura das obrigações previstas no plano de pensão definido da

organização; valor estimado das obrigações quando essas são diretamente cobertas

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pelos recursos gerais da organização; estimativa do fundo específico para o

pagamento das obrigações do plano de pensões; percentagem do salário

contribuído pelo empregado ou empregador; nível de participação em planos de

reforma (e.g., participação em esquemas obrigatórios ou voluntários, esquemas

regionais ou nacionais ou aqueles com impactos financeiros);

EC4 – A assistência financeira recebida do governo através do valor monetário

total da ajuda financeira recebida, tais como benefícios e créditos fiscais; subsídios;

subvenções para investimentos, pesquisa e desenvolvimento e outros tipos

relevantes de concessões; prémios; assistência financeira de agências de crédito à

exportação; incentivos financeiros; outros benefícios financeiros recebidos ou

recebíveis, de qualquer governo, para qualquer operação.

A Presença no Mercado resulta do somatório de dois indicadores:

EC5 – Variação da proporção do salário mais baixo, discriminado por género,

comparado ao salário mínimo local em unidades operacionais importantes;

EC6 – Proporção de membros da alta direção contratados na comunidade local em

unidades operacionais importantes, referindo a percentagem de membros da alta

direção de unidades operacionais importantes contratados na comunidade local; a

definição de “membros da alta direção” usada; a definição geográfica de “local”

adotada pela organização e a definição usada para “unidades operacionais

importantes”.

Os Impactos Económicos Indiretos resulta do somatório de dois indicadores:

EC7 - Desenvolvimento e impacto de investimentos em infraestrutura e serviços

oferecidos, associado ao nível de desenvolvimento de investimento significativos

em infraestrutura e serviços apoiados; aos impactos atuais ou esperados sobre

comunidades e economias locais; e investimentos e serviços comerciais, em espécie

ou gratuitos.

EC8 - Impactos económicos indiretos significativos, tanto positivos como

negativos, tais como: mudanças na produtividade de organizações, setores ou da

economia como um todo; desenvolvimento econômico em áreas com alto índice

de pobreza; impacto económico da melhoria ou deterioração das condições sociais

ou ambientais; disponibilidade de produtos e serviços para pessoas de baixa renda;

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25

fortalecimento das habilidades e conhecimentos de uma comunidade profissional

ou em uma região geográfica; empregos indiretos na cadeia de fornecedores ou

distribuição; estímulo, viabilização ou restrição a investimentos externos diretos;

impacto econômico de mudanças no local de operações ou atividades; impacto

económico do uso de produtos e serviços; bem como o grau de importância dos

impactos no contexto de referências externas e prioridades para stakeholders, como

normas, protocolos e agendas de políticas nacionais e internacionais.

Por último, as Práticas de Compra integram apenas um indicador o EC9 que assinala

a proporção de gastos com fornecedores locais em unidades operacionais importantes

através da percentagem do orçamento de compras e contratos de unidades operacionais

importantes com fornecedores locais; incluindo a definição geográfica de “local” adotada

pela organização; e a definição usada para “unidades operacionais importantes”.

Em suma, a Figura 3 apresenta os indicadores económicos que são tidos em

consideração no presente estudo, bem como os seus principais índices de análise:

Figura 3. Indicadores económicos

Fonte: GRI (2013, p. 22)

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2.4. Amostra

A amostra do presente estudo é constituída por empresas com relato de

sustentabilidade relativo ao ano de 2016. Pela análise da amostra total da base de dados GRI,

verificou-se a existência de 6.645 registos de empresas com relato de sustentabilidade. No

sentido de constituir uma amostra de tamanho exequível para o presente estudo e refiná-la,

sob o ponto de vista das suas caraterísticas, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão:

Tipo de organização – privada e pública

País – Grécia, Itália, Espanha e Portugal

Conformidade com GRI G4

Tamanho da empresa: grande (multinacional)

Com relatório de sustentabilidade em PDF

A partir destes critérios foram observados 143 registos, que correspondem a 64,7% da

amostra. Ao serem verificadas as informações disponibilizadas na base de dados,

constatamos que 2 (dois) relatórios não apresentaram um link possível de ser encontrado,

tendo-se realizado pesquisas mais pormenorizadas, mas sem resultados positivos; 5 (cinco)

relatórios encontravam-se escritos em Grego, não tendo sido possível encontrar a sua versão

em inglês, o que invalidou a sua compreensão, pelo que foram retirados das análises

posteriores. Verificou-se, igualmente, que 8 (oito) relatórios da Itália, 7 (sete) da Espanha e

1 (um) de Portugal não apresentaram os resultados relativos ao GRI-G4, tendo sido

excluídos da amostra.

Por conseguinte, subsistiram 120 registos elegíveis, conforme espelha o Gráfico 1.

Gráfico 1. Distribuição dos relatórios em função dos países

20

33

18

49

Grécia Itália Portugal Espanha

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No Gráfico 2 é possível observar-se a distribuição das empresas em função do seu

tipo: privada ou pública, mostrando que a maioria se insere no regime privado.

Gráfico 2. Distribuição dos relatórios em função do tipo de empresa

Verificou-se, ainda, que a maioria das empresas (n=70) se encontra cotada na Bolsa,

tal como assinala o Gráfico 3.

Gráfico 3. Distribuição dos relatórios em função da cotação na Bolsa

Considerando o impacto do setor de atividade nos stakeholders, o Gráfico 4 mostra que

há uma distribuição equitativa das empresas.

105

15

PRIVADA PÚBLICA

70

50

Cotadas Não cotadas

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Gráfico 4. Distribuição dos relatórios em função do impacto do setor

2.5. Procedimento

No primeiro momento, foi escolhido o tema sobre o qual nos iriamos debruçar e foi

iniciada uma revisão bibliográfica, não muito exaustiva, sobre a temática. Nessa revisão

procurou-se apenas incluir artigos científicos da base de dados Web of Sciences e atuais, ou seja,

num horizonte temporal de 10 anos (desde 2007). Muito embora este critério tenha sido o

mais utilizado, houve situações em que tivemos que recorrer a referências mais antigas (como

é o caso do Livro Verde da Comissão Europeia, de 2001), dada a pertinência das mesmas

para o presente trabalho.

O passo seguinte foi solicitar a base de dados da GRI no sentido de analisar os dados

disponibilizados para se poder determinar os indicadores mais importantes que poderiam ser

integrados no presente trabalho. Após a análise e a identificação dos indicadores

disponibilizados na base de dados, foram definidos critérios de inclusão que permitissem

constituir uma amostra exequível, uma vez que foram apresentados 6.645 registos de

empresas com relato de sustentabilidade. Foi ainda realizada uma análise exaustiva dos

relatórios elegíveis (n=120) no sentido de se encontrarem indicadores que pudessem ser

pertinentes para o objetivo deste trabalho. Nesse sentido, consideramos todos os indicadores

económicos, que já foram caraterizados anteriormente, desde o EC1 ao EC9.

Os dados iniciais foram tratados em Excel e após a sua validação foram transferidos

para o programa Statistical Package for the Social Sciences® (IBM® SPSS), versão 25.0 para

Windows de onde foram extraídos os principais resultados descritivos e inferenciais.

60 60

Baixo Médio/alto

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Atendendo à tipologia dos dados que foram recolhidos, tivemos que optar por

estatísticas adequadas aos mesmos, tendo-se optado pela estatística descritiva (com recurso

a frequências absolutas e relativas), que permitiu fazer a caraterização dos participantes do

presente estudo, bem como analisar a percentagem de indicadores utilizados pelas empresas

nos seus relatórios.

Para verificar a relação de independência entre as variáveis categóricas utilizou-se o

teste de independência do Qui-quadrado (x2) e à análise dos resíduos ajustados das tabelas

de Crosstabs. O teste x2 permitiu ainda avaliar a relação de independência entre as variáveis

categóricas. Nesse sentido, o teste do x2 informa sobre a relação entre as variáveis, mas não

informa sobre o grau de associação existente. Quando o resultado do teste é significativo

para p≤0,05 assume-se que existe uma associação estatística significativa entre as variáveis.

Se p≥0,05 considera-se que as diferenças entre os valores observados e os valores esperados

não são significativamente diferentes e, portanto, as variáveis não são dependentes (Marôco,

2011).

Procedeu-se igualmente às estatísticas inferenciais (correlacionais), tendo-se calculado

o coeficiente de correlação ponto-bisserial através do coeficiente de correlação de Pearson

(r), que é uma medida que varia de –1 a +1 (Roque, 2017). De acordo com Roque (2017) O

coeficiente fornece informação do tipo de associação das variáveis através do sinal. Assim,

se r for positivo, existe uma relação direta entre as variáveis (valores altos de uma variável

correspondem a valores altos de outra variável e o inverso). Se r for negativo, existe uma

relação inversa entre as variáveis (valores altos de uma variável correspondem a valores

baixos de outra variável e o inverso). Se r for nulo ou aproximadamente nulo, significa que

não existe correlação linear (Almeida & Freire, 2010).

Os resultados significativos dos testes utilizados correspondem a um intervalo de

confiança de 95% e de 99%, o que corresponde a um nível de significância de p≤0,05 e

p≤0,01, respetivamente: no primeiro caso está-se perante uma correlação significativa,

enquanto no segundo diante de uma correlação altamente significativa (Marôco, 2011).

Estabelecidos os fundamentos metodológicos que constituíram a base do estudo, em

termos de objetivos, variáveis, participantes, instrumentos de recolha de dados,

procedimento e análise e tratamento dos dados, em seguida apresentam-se os principais

resultados encontrados.

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CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1. Apresentação dos resultados

Os principais resultados inferenciais, em que se utilizou a medida do x2 permitiram o

cruzamento das variáveis independentes caraterizadoras das empresas com os indicadores

económicos separadamente. Nesse sentido, a Tabela 3 apresenta as percentagens de

ausência/presença desses indicadores, em função dos países considerados.

Tabela 3. Percentagem de indicadores económicos em função do país

GRI

Grécia (n=20)

Itália (n=33)

Espanha (n=49)

Portugal (n=18) x2 p

Ausente Presente Ausente Presente Ausente Presente Ausente Presente

EC1 10,0% 90,0% 3,0% 97,0% 12,2% 87,8% 11,1% 88,9% 2,148 0,54

EC2 45,0% 55,0% 51,5% 48,5% 26,5% 73,5% 27,8% 72,2% 6,511 0,08

EC3 50,0% 50,0% 45,5% 54,5% 32,7% 67,3% 27,8% 72,2% 3,377 0,33

EC4 60,0% 40,0% 45,5% 54,5% 36,7% 63,3% 38,9% 61,1% 3,337 0,34

EC5 50,0% 50,0% 66,7% 33,3% 49,0% 51,0% 55,6% 44,4% 2,737 0,43

EC6 55,0% 45,0% 57,6% 42,4% 40,8% 59,2% 61,1% 38,9% 3,467 0,32

EC7 55,0% 45,0% 36,4% 63,6% 40,8% 59,2% 38,9% 61,1% 1,916 0,59

EC8 50,0% 50,0% 39,4% 60,6% 42,9% 57,1% 38,9% 61,1% 0,689 0,87

EC9 35,0% 65,0% 30,3% 69,7% 30,6% 69,4% 33,3% 66,7% 0,179 0,98

Pela análise da referida tabela verifica-se que relativamente à Grécia, há uma maior

percentagem de relatórios que apresentam os indicadores EC1 (90%) seguido do EC9 (65%),

havendo um equilíbrio entre a presença/ausência dos indicadores EC3, EC5 e EC8 (todos

de 50%) e uma ausência dos indicadores EC4 (60%), EC6 e EC7 (com 55% cada).

Curiosamente, a Espanha apresenta, numa maior percentagem, todos os indicadores

em estudo nos seus relatórios. Também a Itália, apresenta, na sua maioria, todos os

indicadores, com exceção do EC2 (51,5%), EC5 (66,7%) e EC6 (57,6%).

As percentagens máximas de identificação dos indicadores nos relatórios portugueses

encontram-se igualmente em todos eles, excetuando os indicadores EC5 (55,6%) e EC6

(61,1%).

Considerando a distribuição dos indicadores em função do tipo de empresa, a Tabela

4 mostra que, quer nas empresas públicas, quer nas privadas, são referenciados todos os

indicadores em maior percentagem nos relatórios de sustentabilidade apresentados, com a

exceção do EC5 (54,3%) que aparece menos reportado nas multinacionais privadas e, nas

empresas públicas o indicador EC5 (60%) e o EC6 (66,7%).

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31

Tabela 4. Percentagem de indicadores económicos em função do tipo de empresa

Indicadores Económicos GRI

Privada (n=105)

Pública (n=15) x2 p

Ausente Presente Ausente Presente

EC1 10,5% 89,5% 0,0% 100,0% 1,730 0,35

EC2 38,1% 61,9% 26,7% 73,3% 0,738 0,56

EC3 40,0% 60,0% 26,7% 73,3% 0,987 0,40

EC4 45,7% 54,3% 26,7% 73,3% 1,939 0,26

EC5 54,3% 45,7% 60,0% 40,0% 0,173 0,78

EC6 48,6% 51,4% 66,7% 33,3% 1,720 0,27

EC7 43,8% 56,2% 26,7% 73,3% 1,587 0,26

EC8 42,9% 57,1% 40,0% 60,0% 0,044 1,00

EC9 30,5% 69,5% 40,0% 60,0% 0,550 0,55

Ao se procurar analisar a percentagem dos indicadores económicos em função das

empresas se encontrarem ou não cotadas na Bolsa, a Tabela 5 mostra que as empresas

cotadas apresentam, na sua maioria, todos os indicadores, com a exceção do EC6 (54%),

encontrando-se a mesma percentagem de relatórios com e sem referência ao indicador EC5

(50%). Nas empresas não cotadas o cenário é idêntico, sendo que todos os indicadores

económicos são referenciados em maioria, excetuando-se o indicador EC5 (58,6%).

Tabela 5. Percentagem de indicadores económicos em função da cotação na Bolsa

Indicadores Económicos GRI

Cotada (n=50)

Não cotada (n=50) x2 p

Ausente Presente Ausente Presente

EC1 10,0% 90,0% 8,6% 91,4% 0,071 1,00

EC2 44,0% 56,0% 31,4% 68,6% 1,985 0,18

EC3 38,0% 62,0% 38,6% 61,4% 0,004 1,00

EC4 48,0% 52,0% 40,0% 60,0% 0,760 0,45

EC5 50,0% 50,0% 58,6% 41,4% 0,866 0,36

EC6 54,0% 46,0% 48,6% 51,4% 0,344 0,58

EC7 40,0% 60,0% 42,9% 57,1% 0,098 0,85

EC8 42,0% 58,0% 42,9% 57,1% 0,009 1,00

EC9 30,0% 70,0% 32,9% 67,1% 0,110 0,84

Ao se considerar a percentagem dos indicadores económicos em função do impacto

da atividade da empresa nos stakeholders, a Tabela 6 mostra que as empresas com baixo

impacto apresentam uma percentagem maior de indicadores em quase todos eles, com

exceção do EC4 (53,3%), EC5 (58,3%) e EC6 (61,7%). Já relativamente àquelas que possuem

um médio/alto impacto nos stakeholders, apresentam mais proporcionalmente todos os

indicadores, com exceção do EC5 (51,7%), observando-se que há diferenças estatisticamente

significativas na distribuição relativamente ao indicador EC2 (p≤0,05), EC4 (p≤0,05) e EC6

(p≤0,05), entre as que possuem baixo impacto e as que possuem médio/alto impacto, a favor

destas últimas.

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Tabela 6. Percentagem de indicadores económicos em função do impacto

Indicadores Económicos GRI

Baixo impacto (n=60)

Médio/alto impacto (n=60) x2 p

Ausente Presente Ausente Presente

EC1 13,3% 86,7% 5,0% 95,0% 2,502 0,20

EC2 46,7% 53,3% 26,7% 73,3% 5,167 0,03*

EC3 46,7% 53,3% 30,0% 70,0% 3,525 0,09

EC4 53,3% 46,7% 33,3% 66,7% 4,887 0,04*

EC5 58,3% 41,7% 51,7% 48,3% 0,539 0,58

EC6 61,7% 38,3% 40,0% 60,0% 5,635 0,02*

EC7 48,3% 51,7% 35,0% 65,0% 2,194 0,19

EC8 43,3% 56,7% 41,7% 58,3% 0,034 1,00

EC9 40,0% 60,0% 23,3% 76,7% 3,851 0,07

*p≤0,05

Ao procurarmos correlacionar as variáveis consideradas com os totais dos indicadores

(somatório do EC1 a EC9), a Tabela 7 mostra que as empresas que possuem um impacto

médio/alto nos seus stakeholders são aquelas que apresentam mais indicadores económicos,

nos seus relatórios de sustentabilidade e/ou RSE.

Tabela 7. Correlações entre os indicadores e as variáveis caraterizadoras das empresas

Total dos indicadores

(somatório de EC1 a EC9)

Tipo de empresa (privada e pública) 0,05

Bolsa (não cotada e cotada) 0,02

Impacto (baixo e médio/alto) 0,23*

*p≤0,05

3.2. Discussão dos resultados

Os resultados agora encontrados permitem tecer algumas considerações. Para termos

uma linha condutora, iremos discutir os resultados seguindo-se a linha dos objetivos que

foram definidos. Nesse sentido e atendendo ao esperado no objetivo 1, que pretendeu

averiguar se a comunicação dos indicadores económicos das empresas multinacionais variava

em função dos países, os principais resultados mostraram que, em todos os países, se verifica

a comunicação do indicador EC1 (valor económico direto, gerado e distribuído com base no regime de

competência de exercícios), por uma grande percentagem de empresas. O indicador seguinte já

depende do país. Assim, por exemplo, enquanto na Grécia e na Itália, o segundo indicador

mais comunicado é o EC9 (proporção de gastos com fornecedores locais em unidades operacionais

importantes), em Espanha e Portugal é o EC2 (implicações financeiras e outros riscos e oportunidades

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para as atividades da organização decorrentes das alterações climáticas), sendo que em Portugal ainda

se encontra na mesma proporção o indicador EC3 (cobertura das obrigações previstas no plano de

pensão definido da organização).

Verifica-se que o indicador menos comunicado também varia em função do país,

sendo que na Grécia, é o indicador EC4 (assistência financeira recebida do governo), em Itália e

Espanha é o indicador EC5 (variação da proporção do salário mais baixo, discriminado por género,

comparado ao salário mínimo local em unidades operacionais importantes) e, em Portugal, é o indicador

EC6 (proporção de membros da alta direção contratados na comunidade local em unidades operacionais

importantes).

Na verdade, estes resultados acabam por ser congruentes com alguns estudos que

foram realizados e que mostram que os países apresentam indicadores diferenciados nos seus

relatórios de sustentabilidade e/ou RSE (e.g., Branco et al., 2014; KPMG, 2013; Tsang,

2009). O indicador EC1 aparece mais referenciado nos relatórios talvez porque se trata de

um indicador fundamental que deve ser comunicado por qualquer empresa relativamente ao

seu desempenho económico, tratando-se, portanto, de um elemento essencial no Relatório

de Contas (Bonson & Bednarova, 2015; Kim et al., 2015; Martinov-Bennie & Hecimovic,

2010; Ziek, 2009).

Relativamente aos menos referenciados, pode-se pensar que o indicador EC4 na

Grécia poderá explicar-se pelo facto de este país ter sido sujeito a vários programas de

ajustamento, podendo ter havido uma grande redução ao nível dos apoios

estatais/governamentais. No que diz respeito à Itália e a Espanha, o indicador EC5 menos

reportado poderá espelhar desinteresse destas empresas em revelar a variação entre os

salários praticados e os salários mínimos nacionais ou, eventualmente, devido à política de

proteção de dados empresariais que não permite a divulgação desse indicador.

Já no que concerne a Portugal, o indicador EC6 menos referenciado poderá dever-se

ao facto de a amostra ser constituída por um número de empresas públicas elevado

(relativamente aos outros países), pelo que a alta direção de empresas poderá, muitas das

vezes, ser feita por nomeação, podendo não contratar membros da comunidade local, mas

de outras esferas políticas, sociais e culturais.

Relativamente ao objetivo 2, pretendeu-se analisar se a comunicação dos indicadores

económicos das empresas multinacionais variava em função do tipo de empresa. Os

principais resultados encontrados, embora sem relevância estatisticamente significativa,

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34

mostraram que são as empresas públicas, na sua totalidade, que apresentam em maior

proporção os indicadores EC1, EC2, EC3, EC4 e EC7, por comparação às empresas

privadas, cujos indicadores mais apresentados nos seus relatórios são o EC1 e o EC9. O

menos apresentado nas empresas privadas é o EC5 e nas empresas públicas o EC6.

Estes dados são congruentes com alguns estudos (e.g., Alcaraz-Quiles et al., 2017; Al-

Tuwaijri et al., 2004; Graham et al., 2005; Moravcikova et al, 2015), pois revelam que os

indicadores mais comunicados (EC1 a EC4) no setor público poderá dever-se às

obrigatoriedades e condicionalismos legais a que as empresas públicas se encontram sujeitas,

devido a questões de transparência, idoneidade e igualdade de oportunidades. Já no que diz

respeito ao indicador EC7, podermos pensar que a sua maior referência surge pelo facto de

as empresas públicas serem os principais responsáveis pela criação de infraestruturas de

apoio às comunidades.

No que tange ao setor privado, os indicadores mais comunicados poderão dever-se ao

facto de estes fazerem parte do Relatório de Contas das empresas (EC1) e pela possível

pressão sofrida por parte dos stakeholders para práticas de compras locais/regionais (Alcaraz-

Quiles et al., 2017; Bonson & Bednarova, 2015).

O objetivo 3 pretendeu identificar se a comunicação dos indicadores económicos das

empresas multinacionais variava em função de as mesmas estarem ou não cotadas na Bolsa,

tendo os resultados sugerido que apesar de não haver uma distribuição estatisticamente

significativa, denota-se que para as empresas cotadas surgem os indicadores EC1 e o EC9 e

nas não cotadas EC1 e EC2. Os indicadores menos referenciados são o EC6 nas empresas

cotadas e o EC5 nas não cotadas.

Estes dados são congruentes com os diversos estudos que mostram diferenças na

comunicação dos indicadores em função das empresas se encontrarem ou não cotadas em

Bolsa (Ahmad et al., 2017; Al-Tuwaijri et al., 2004; Graham et al., 2005; Roque & Cortez,

2006). Na verdade as empresas que se encontram cotadas possuem uma maior

responsabilidade ao nível da comunicação do seu desempenho aos stakeholders, bem como

existe uma maior expectativa relativamente a elas por parte do mercado (Alcaraz-Quiles et

al., 2017; Bonson & Bednarova, 2015).

Ao se observar o objetivo 4, que pretendeu analisar se a comunicação dos indicadores

económicos das empresas multinacionais variava em função do impacto da sua atividade nos

stakeholders, os principais resultados mostraram a existência de diferenças estatisticamente

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35

significativas nos indicadores EC2, EC4 e EC6 a favor das empresas com médio/alto

impacto. De facto, estes dados corroboram a ideia de que são estas empresas que possuem

um maior impacto nos stakeholders, preocupando-se em gerir estrategicamente as necessidades

de adaptação sentidas perante as alterações climáticas, por forma a contrabalançar os

potenciais riscos e oportunidades. Por conseguinte, estas empresas com maior impacto nos

stakeholders terão maior preocupação na clareza e disponibilidade da informação concedida,

nomeadamente a que diz respeito aos apoios governamentais (Alcaraz-Quiles et al., 2017;

Bonson & Bednarova, 2015).

Relativamente ao objetivo 5 que procurou relacionar o total dos indicadores

económicos com as variáveis caraterizadoras das multinacionais em estudo, apresentou

resultados que mostram que a variável impacto está correlacionada positiva e

significativamente com o total dos indicadores económicos, sugerindo que quanto maior o

impacto das atividades das multinacionais nos stakeholders, maior também a necessidade de

aquelas comunicarem os indicadores económicos nos seus relatórios de RSE (Branco &

Rodrigues, 2008; Gallen & de Grado, 2016; Majeed et al., 2015; Michelon et al., 2015). Estes

dados reforçam o que anteriormente foi referenciado, nomeadamente no que diz respeito ao

objetivo 4.

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36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal objetivo da presente investigação consistiu em analisar como as empresas

multinacionais comunicam os indicadores económicos nos seus relatórios de RSE e/ou

sustentabilidade. Os principais resultados obtidos a partir da análise de 120 relatórios de

quatro países europeus: Grécia, Itália, Espanha e Portugal, podem ser resumidos da seguinte

forma:

A comunicação dos indicadores económicos varia em função dos países;

A comunicação dos indicadores económicos varia em função do tipo de empresa;

Foram encontradas variações na comunicação dos indicadores económicos em

função das multinacionais estarem ou não cotadas na Bolsa;

A comunicação dos indicadores económicos varia em função do impacto da

atividade das empresas nos stakeholders;

Há uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre a comunicação dos

indicadores económicos e as empresas com médio/alto impacto da sua atividade

nos stakeholders.

Estes resultados são importantes porque evidenciam que a comunicação dos diferentes

indicadores económicos se encontra condicionada por variáveis intrínsecas às multinacionais,

bem como extrínsecas aos ambientes onde estas operam. Os dados agora obtidos mostram

que existem indicadores económicos que são encontrados transversamente nos relatórios

analisados (e.g., EC1), já que se associam à obrigatoriedade de darem a conhecer a forma

como as empresas operam no mercado.

Por outro lado, consideramos que deverá haver alguma parcimónia na análise dos

dados agora obtidos, uma vez que apesar de termos encontrado distribuições percentuais na

presença/ausência dos indicadores estudados, nem sempre essas distribuições se

apresentaram como estatisticamente significativas.

De facto, apesar de o presente estudo assinalar um conjunto de pontos positivos

atinentes aos relatórios de RSE das multinacionais analisadas, não deixa de espelhar alguns

dos constrangimentos e dificuldades que se foram sentindo.

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Consideramos que o tamanho da amostra do presente estudo (n=120) condicionou as

conclusões a que chegamos, fragilizando a possibilidade de as considerarmos como

suficientemente robustas, tendo limitado as opções metodológicas e estatísticas existentes.

Por outro lado, consideramos igualmente que as variáveis estudadas (e.g., países, tipo

de empresa, cotação na bolsa e impacto) podem ser insuficientes para se compreender a

complexidade subjacente à comunicação dos indicadores nos relatórios de RSE e/ou

sustentabilidade. De facto, no presente estudo optou-se apenas considerar os indicadores

económicos, não se tendo contemplado os indicadores sociais e ambientais.

Nesta linha de pensamento, consideramos que investigações futuras devem olhar para

o presente estudo como um ponto de partida e não de chegada, procurando utilizar amostras

mais amplas; comparar diferentes países utilizando diferentes variáveis mediadoras, que

possibilitem uma interpretação de resultados mais acurada e considerar uma amplitude

temporal maior (uma vez que neste estudo só consideramos os relatórios de 2016), para que

fosse possível identificar os aspetos essenciais que possibilitassem a configuração de best

practices para as empresas portuguesas, incentivando-as na comunicação dos seus resultados

aos stakeholders, em particular e, à comunidade em geral.

Perante os resultados obtidos e atendendo ao facto de a realização deste trabalho ter

proporcionado um crescimento pessoal e profissional, não poderia deixar de referenciar que

“Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada um

resume-se ao tamanho do seu saber” (A. Einstein).

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