Dízimo

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DÍZIMO DÍZIMO DA IGREJA DA IGREJA ======================= ======================= OU DA TRIBO DE LEVI? OU DA TRIBO DE LEVI?

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DÍZIMODÍZIMO

DA IGREJADA IGREJA

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OU DA TRIBO DE LEVI?OU DA TRIBO DE LEVI?

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DÍZIMO

DA IGREJA

OU DA TRIBO DE LEVI?

Por Valdomiro Filho

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ÍNDICEPRÓLOGO....................................................................................................................4APRESENTAÇÃO........................................................................................................5IDENTIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO.............................................................................5AS OCORRÊNCIAS ANTERIORES A LEI................................................................6FALSOS CONCEITOS E EQUÍVOCOS.....................................................................8O VERDADEIRO CONCEITO..................................................................................10TRANSPOSIÇÃO DO DÍZIMO.................................................................................11DÍZIMO DOS POBRES.............................................................................................12DE QUEM É O DÍZIMO DO SENHOR?..................................................................14NEM TODOS TINHAM DIREITO...........................................................................15NENHUMA OUTRA FINALIDADE ........................................................................15QUEM GANHAVA MAIS, QUEM GANHAVA MENOS..........................................16ONDE É A CASA DO TESOURO?............................................................................16O DÍZIMO E O SÁBADO...........................................................................................18O DÍZIMO E A UNANIMIDADE..............................................................................18“TRAZEI TODOS OS DÍZIMOS”..............................................................................20MALAQUIAS MAL APLICADO...............................................................................21O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO.....................................................................23UMA HERANÇA COBIÇADA PELA IGREJA DE HOJE......................................25CITAÇÃO OU CONFIRMAÇÃO...............................................................................27O QUE DIZER DE I CORÍNTIOS 9.13,14................................................................27“A LEI NADA APERFEIÇOOU”...............................................................................28O QUE DIZER DOS TESTEMUNHOS....................................................................29O MODELO DE CONTRIBUIÇÃO APROVADO NO NOVO TESTAMENTO......30“NÃO ATARÁS A BOCA AO BOI QUE DEBULHA”...............................................32O DÍZIMO E A FÉ.....................................................................................................33ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO.........................................................................34SERVINDO A DOIS SENHORES............................................................................34“O DÍZIMO, UMA DOUTRINA BÍBLICA”...............................................................35O TESTEMUNHO DA HISTÓRIA...........................................................................37OS JUDEUS DE HOJE E O DÍZIMO......................................................................38É POSSÍVEL O DÍZIMO HOJE?..............................................................................39CONCLUSÃO.............................................................................................................40

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O DÍZIMO !DA IGREJA OU DA TRIBO DE LEVI?

CONTRIBUA, MAS, SEJA CONSCIENTE

PRÓLOGO

Depois de anos estudando e aprendendo a palavra de Deus, em um processo contínuo, sempre buscando o aprimoramento do conhecimento, tomando como base a imparcialidade, sem a qual não somente eu, mas, qualquer pessoa que leia a Bíblia, jamais poderá ouvir a voz do Senhor corretamente, naquilo que quer transmitir aos seus filhos, resolvi escrever essa pequena apostila, pois quando ouvia falar do dízimo no princípio da minha fé, recém converso nas Assembléias de Deus, satisfazia-me ao ouvir as citações bíblicas de Malaquias 3.10, considerando-as suficiente para qualquer cristão ser obrigado pela Bíblia a dar o dízimo na igreja.

Desde o começo, e, visando me defender das seitas que preenchem o universo religioso, busquei inteirar-me do que ensinavam e qual a argumentação bíblica mais adequada para tentar trazer alguns membros desses segmentos, caso a mim se dirigissem, para a religião que abracei.

Foi assim, num campo de oração e investigação, que comecei a estudar os Adventistas do Sétimo Dia, que embora tenham uns ensinamentos bastante estranhos, não sei se os deveríamos chamar de seita, pois são comuns em pensamento em diversos pontos com os ensinamentos das demais igrejas. Para lhes considerar seita, simplesmente, penso que deveríamos refletir melhor sobre nós mesmos, pois quem pode definir o que é uma seita e qual o parâmetro:

1 - A quantidade de heresias que ensina (quem poderia dizer seguramente que determinado ensinamento é uma heresia), ou

2 - Ao invés da quantidade, o grau da heresia (a importância de certo ensinamento e sua influência no povo cristão).

O fato é que quando se refere a opiniões, os grupos se dividem. Por exemplo: o sol sempre nasce no leste, certo...?! Alguém poderia dizer: depende...! Pois se convencionou chamar o nascente de leste, no entanto o norte da agulha da bússola aponta para o sul, e o sul para o norte, portanto se admitiria dizer que o sol nasce ao oeste, de um certo ponto de vista, assim quem adotar essa idéia talvez não se sinta obrigado a aceitar definição diferente; no entanto um terceiro entendimento pode desprezar os conceitos e as convenções e simplesmente apontar para onde o sol nasce, esse estará isento de erro, pois indicou o fato sem se preocupar com os conceitos, é assim que devemos proceder.

Estudando esse segmento da religião, aprendi que os preceitos da Lei, todos eles, passaram por um processo do qual Cristo foi o executor, de modo que nenhum preceito da Lei é válido como mandamento, ordenança, orientação ou qualquer outro título que possamos dar, se não for ratificado, de alguma forma, no Novo Testamento, foi a partir desse pondo que Malaquias 3.10, deixou de ser suficiente para que eu recebesse uma orientação passiva para entregar o dízimo na Igreja, pois se tem um conceito convencionado de Ml. 3.10 que diz que devemos dar hoje o dízimo e tem que ser na igreja. Quero deixar claro que não sou contra a contribuição, apenas acho que a Igreja primitiva, instituída por Cristo, tem um excelente exemplo a nos dar, é esse comportamento e sentimento cristão que precisamos fazer os irmãos perceberem, se alegrarem nele, e assim, contribuírem.

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APRESENTAÇÃO

Este estudo não tem como objetivo a negação de contribuição para que os ministros (servos) cristãos se mantenham. Embora Jesus tenha dito de graça recebeste, de graça dai, certamente esta afirmação se refere àquilo que espiritualmente se dá aos compartilhadores da benção divina. Fato é que se alguém se dispõe a desempenhar atividades puramente cristãs, e, professadamente não se trata de um embusteiro, independentemente da função que ocupe na igreja, deverá, dignamente receber seu sustento dos outros irmãos que por força de opção, ou vocação, estão em atividades seculares. No entanto o sustento não pode ser, jamais, diferenciado. A idéia de igualdade quanto aos direitos humanos é uma tônica que permeia os ensinos por todo o Novo Testamento. A forma como se cobra as contribuições hoje, dista diametralmente dos princípios régios concebidos pela igreja primitiva. A inserção de cobranças inerentes a Lei e ao sacerdócio levítico, tem se configurado um claro desvio dos preceitos da Nova Aliança, e a própria forma com que é tratada as arrecadações dessa contribuição, bem como a administração desses recursos tem se configurado um desvirtuamento do que estava prescrito para uso deles, previstos na Lei revelada no antigo testamento.

Os comentários desse estudo visam traçar uma abordagem bíblica sobre uma dessas cobranças; hoje, extremamente propagandeada: O DÍZIMO por serviço religioso. De logo reforçamos que não é objetivo dessa pesquisa a indução a não contribuição, não há a afirmação “não dêem o dízimo”, mas certamente se perceberá a ênfase “não cobrem o dízimo”, o leitor descobrirá o porquê examinando os fundamentos bíblicos, históricos e espirituais, que procurei expressar de forma clara nas linhas que se seguem.

Os textos bíblicos foram citados livremente da Almeida Revista e Corrigida e Almeida Revista e Atualizada, salvo quando indicado diferentemente.

Espero que o leitor após concluir vistas a este conteúdo, encontre a paz, e passe a contribuir com aquilo que propor em seu coração.

IDENTIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO

Existiam diversos tipos de ofertas com finalidades específicas: os holocaustos eram as ofertas queimadas Lv. 6.8-13, 8.18-21, 16.24: compostas de bodes, carneiros, bois , pombinhos, totalmente queimados; oblação, Lv. 2.6-14,23, composta por grãos, flor de farinha, azeite de oliveira, incenso, bolo assado, sal, sem fermento nem mel, etc, oferta pela paz: que poderia ser qualquer animal sem defeito tomado do rebanho, ou variedades de bolos, oferta pelo Pecado, Lv. 4.1-5,13; 6.4-30; 8.14-17; 16.3-22: para o sumo-sacerdote e a congregação: um bezerro; para os líderes: um bode; para qualquer pessoa do povo: uma cabra ou um cordeiro; para os pobres: duas pombas ou duas rolas; se muito pobre: a décima parte de uma efa de flor de farinha e, o sacrifício pela restituição, Lv. 5.14-6.7; 7.1-6: um cordeiro. Algumas delas os sacerdotes podiam consumir em outros casos não, como por exemplo, a oferta pela consagração não podia ser consumida Lv. 6.23 “...Assim, toda a oferta do sacerdote totalmente será queimada; não se comerá.”

O dízimo distingue-se de todas elas, pois além de ser “a décima parte” de determinada coisa como define o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, assemelhando-se ao sentido da palavra hebraica que tem também conotação

ofertiva, usada em Gn. 14.20, como da palavra grega αποδεκατοω usada em Mt. 23.23, que no contexto bíblico, não tinha caráter sacrificial, a ponto de não se poder evocar qualquer implicitude de dízimo em nenhum sacrifício instituído na lei, ou mesmo anterior a ela, como por exemplo os sacrifícios de Caim e Abel. Quem, imparcialmente veria qualquer vestígio de dízimo nas ofertas desses dois homens? As naturezas e os objetivos são completamente diferentes.

O dízimo difere até mesmo, na própria essência, das primícias. Com relação a

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esta segunda existia, inclusive, uma festividade específica, Ex. 23.16 e 34.22, as primícias eram o que havia de melhor dos primeiros produtos, ao passo que o dízimo só se identificava no instante em que se concluía o trabalho de apuração, quando se contabilizava a extração dos últimos produtos, nesse momento, seguramente se podia quantificar o que representava os dez por cento de tudo. As primícias são de cunho qualitativo, ao passo que os dízimos são quantitativo.

É possível ainda identificar três aspectos do dízimo na Bíblia, quais sejam: O espontâneo ou voluntário, o votivo e o obrigatório. O primeiro foi executado por Abraão, dando ao sacerdote-rei Melquisedeque, Gn. 14.20, único nos relatos bíblicos; o segundo executado por Jacó, também único na história bíblica, sem registro bíblico de seu efetivo cumprimento, Gn. 28.20-22; e, o terceiro surge na instituição da Lei de Deus, escrita por Moisés e apresenta-se em quatro tipos ou usos: O primeiro encontra-se em Lv. 27.30-33, combinado com Nm. 18.20-24, era o dízimo para o sacerdote e o levita; o segundo encontra-se em Dt. 14.22-27, esse dízimo parece não ser distinto do primeiro, pois se fala no amparo ao levita, no entanto deveria ser consumido também pelo ofertante diante do Senhor no local onde Ele fizesse habitar o seu Nome, esta passagem é interessante porque mostra a especificidade do dízimo: mantimento, não era reservas financeiras, e não podia se angariar ou multiplicar, por meio de negociata, mas, ser consumido; o terceiro, encontra-se em Dt. 14.28-29, era o dízimo do pobre, completamente esquecido pelas igrejas que cobram dízimo, desse também o levita participava; o quarto tipo surgiu quando a monarquia foi instaurada em Israel I Sm. 8.15.

AS OCORRÊNCIAS ANTERIORES A LEI

As ocorrências anteriores a Lei, são freqüentemente utilizadas, visando buscar apoio enfático ao ato de dar o dízimo, suscitando a idéia de que abolindo-se a Lei, o dízimo não pode ser abolido pois é anterior a ela. Ocorre que seguindo essa premissa teríamos então outros preceitos da Lei, com a mesma propriedade, por exemplo, ninguém entende que a circuncisão esteja em vigor pelo fato de ter sido ordenado por Deus a Abraão antes da doação da Lei, da mesma forma não considera válida, hoje em dia, o ato sacrificial com animais, e, ainda, o próprio sábado por terem sido ordenados antes da promulgação da Lei. Qual destes mandamentos deve ser guardado pela Igreja: apenas o dízimo? Por quê?...Os argumentos levantados não conseguem convencer, veja:

São duas, as ocorrências anteriores a Lei, a primeira em Gn 14.20 e a segunda em Gn. 28.22:

1) Gn. 14.20 “... e bendito seja o Deus altíssimo que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abraão o Dízimo.”

O conceito hoje convencionado faz com que os cobradores do dízimo, nos tempos atuais, vejam nesta ocorrência, uma obrigação anterior a doação da Lei. No entanto, uma análise contextual nos permite tirar outras conclusões. Nesse episódio temos um encontro entre Abraão e o Rei de Sodoma, onde Melquisedeque comparece trazendo pão e vinho. Daquele encontro surgiu, após a benção que o sacerdote pronunciou, a dádiva do dízimo praticada por Abraão, posto que não há nenhum registro anterior da prática do dízimo podemos concluir que Abraão não estava sob ordenança quando assim procedeu. A própria Bíblia diz que Melquisedeque além de sacerdote era rei e, como rei tinha suas possessões, daí poder ter trazido pão e vinho, conclui-se então que o ato de Abraão não destinava-se ao sustento do Sacerdote-Rei, finalidade primordial do dízimo, logo era diferente do dízimo de Ml. 3.10, mas, configura-se uma oferta voluntária, um presente mesmo, cuja estipulação quantitativa foi da décima parte.

A expressão “e de tudo lhe deu Abrão o dízimo.” é significativa, pois “deu” dá a idéia pontual, ou seja, o Patriarca não “lhe dava o dízimo”, mas, apenas “lhe deu”, isso foi um fato, não uma prática.

Quando se lê: “... de tudo lhe deu Abrão o dízimo.” a expressão “de tudo” leva-

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nos a refletir: - Em uma guerra como essa que Abraão participou, há mortes, incêndios, danos ao patrimônio de todos os envolvidos, e com certeza do que se trouxe dos despojos da guerra, não se poderia ter tudo em melhor estado de conservação. Ficaria estranho o patriarca trazer a Melquisedeque utensílios quebrados, animais feridos ou doentes, frutas estragadas e outras coisas depreciadas. Logo se conclui que ao dizer “TUDO” em Gn. 14.20 o escritor sagrado usou de hipérbole (exagero da idéia) para ressaltar o fato. Esse estilo literário não era estranho aos escritores bíblicos. Encontra-se inúmeras passagens, tanto no Novo como no Velho Testamento, com essa forma de escrita. Uma delas está registrada no mesmo livro quando houve aquela grande escassez de víveres no Egito e se diz que houve fome sobre toda a terra Gn. 41.56,57.

A prova cabal de que nem de tudo recebeu os dízimos, o Sacerdote-Rei está em Hebreus 7.4 “Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo, tirado dos melhores despojos .” (destaquei), se compreende por essa passagem que Abraão tirou tudo dos melhores despojos, não TUDO no sentido amplo; claro está que não há contradição entre os dois textos; o Velho e o Novo Testamento, um completando e esclarecendo o outro, naquilo que está sendo chamado por alguns de revelação progressiva.

Ainda outra observação é oportuna, pois não devemos perder de vista que o dízimo de Abraão foi fruto de Guerra, nesse caso, da derrota de seus adversários tirou o patriarca o dízimo, logo a origem dessa dádiva não nos serve como exemplo, assim como a oferta de Jafté, que deu sua filha em sacrifício, não nos serve como exemplo, embora possamos tirar desses fatos outras lições, como por exemplo o fato de Deus aceitar nossas oferta, mesmo que esta não seja a forma ideal e aprazível a Ele. Podemos observar que quando o dízimo foi instituído legalmente não se vê prescrição acerca do dízimo dos despojos e trazer despojos nem sempre era a melhor coisa a se fazer, tanto, que Saul perdeu o seu reinado, ao não dar o fim ordenado por Deus aos despojos da guerra, I Sm. 15.21-23.

Se precisarmos de provas de que despojo, não é, via de regra, algo que por obrigação deva ser submetido à partilha por dízimo, a encontraremos em Números, capítulo 31, onde se relata a vitória de Israel sobre os midianitas e a partilha dos despojos de guerra entre o povo, inclusive entre os sacerdotes e levitas.

O Senhor ordenou a Moisés que dividisse os despojos em duas partes, a saber: uma para ser distribuída aos soldados que foram à guerra e outra para o restante da congregação, v. 27; o sacerdote ficou com o direito de receber a proporção de um para cada quinhentos, dos despojos que cabiam aos guerreiros israelitas, ou seja 0,2% (zero vírgula dois por cento), muitíssimo inferior ao dízimo; no entanto, foi ordenado por Deus: “Dividirás, pois, os despojos pela metade, entre os combatentes que foram à guerra e o conjunto da comunidade. Como tributo para IAHWEH cobrarás, sobre a parte dos combatentes que fizeram a guerra, um para cada quinhentos, tanto de pessoas, como de bois, de jumentos e de ovelhas. Tomarás isso da metade que lhes pertence, e darás a Eleazar, o sacerdote, como tributo a IAHWEH.” v. 27 a 29 na versão da Bíblia de Jerusalém.

Aos levitas couberam dos despojos, parte do que cabia a congregação de Israel, conforme Nm. 31.30 “Da metade que pertence aos filhos de Israel tomarás um de cada cinqüenta, tanto de pessoas, como de bois, de jumentos, de ovelhas, de todos os animais, e os darás aos levitas que têm o encargo da Habitação do Senhor.” (A Bíblia de Jerusalém).

Para os levitas, então, couberam 2,0% (dois por cento), logo, menos que o dízimo.

Se prova, portanto que Abraão deu 10% dos despojos por voluntariedade e, não porque Deus o tenha exigido. Provado está em Nm. 31 que a partilha de despojo ordenada por Deus é diferente da praticada por Abraão; e por sinal não se vê o Patriarca dando dízimos de seus próprios bens, e isto não constituía crime algum, não havia ordenança em sua época.

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Como se percebe por análise, Gn. 14.20 jamais apoiou ou apoiará a idéia moderna de que somos obrigados a dar o dízimo porque Abraão deu o dízimo. Ele foi voluntário.

2) Gn. 28.20-22 “...fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar ... certamente eu te darei o dízimo.”

A leitura atenta desses versos confirma a ausência de uma ordenança bíblica acerca do dízimo naquela época, além de comprovar a inexistência de uma prática sistemática.

Veja por exemplo que embora não houvesse ordenança a edificação de altares ao Senhor era uma prática: Gn. 8.20 “Levantou Noé um altar ao Senhor.”

Gn. 12.7 “... ali edificou Abrão um altar ao Senhor...”Gn. 26.25 Isaque “... levantou ali um altar e tendo invocado o nome do Senhor,

armou a sua tenda...” e, o próprio Jacó em Gn. 33.20 edificou uma altar ao Senhor; não foi assim com o dízimo.

Está claro que Jacó, que era neto de Abraão, fez um voto de dar o dízimo. Ora se ele já desse antes, não teria sentido votar, pois não se vota em fazer aquilo que já se faz, o fato é que Jacó não praticava o dízimo, nem estaria pecando por isso, Deus não havia ordenado ainda, daí poder ter feito ele um voto, mas uma vez aí se vê que o dízimo foi uma oferta fixa cujo referencial foi a décima parte, Jacó era livre para ofertar outra coisa, se assim preferisse, como o foram Caim, Abel e outros.

Outro ponto importante a se ressaltar é: a que título Jacó teria dado o dízimo a Deus? Não existiam templos, nem sacerdotes levitas, o que nos leva a conclusão que o dízimo de Jacó não foi repassado a nenhum homem, caso ache estranho, leia em Dt. 14.23, o dízimo consumido pelo próprio ofertante, isso se de fato ele cumpriu o voto, pois a Bíblia não atesta a fidelidade dele nesse por menor.

Esses dízimos pré-mosáicos são claramente identificados como ofertas voluntárias, ocorridas em um certo momento histórico da vida dos dois homens de Deus, especificamente, Abrão ofertando a Melquisedeque, e Jacó em uma possível promessa feita diretamente a Deus.

FALSOS CONCEITOS E EQUÍVOCOS

Em busca da defesa do dízimo na nova aliança, os doutrinadores têm buscado os mais estranhos conceitos, a ponto de ficarem praticamente ilhados naquilo que acreditam, por exemplo: há quem defenda que para o dízimo haver sido abolido necessitaria que a Bíblia tivesse alguma expressão clara do tipo: “disse Jesus: os dízimos a partir da minha morte serão abolidos”, mas, se devesse ser assim teríamos que ter obrigatoriamente uma lista ditada por Jesus de todas as “abolições” dos mandamentos do velho testamento, o que tornaria o Novo Testamento diferente daquilo que conhecemos hoje, quem sabe, com um livro a mais, talvez intitulado “As Abolições do Senhor”, veremos neste estudo que não precisou o Senhor lavrar um livro do volume do Antigo Testamento para fazer cessar as prática desse antigo escrito Bíblico.

O livro Dizimista Eu?, na página 16, 1ª Edição CPAD, cita Caio Fábio alegando que o dízimo “...é, antes de tudo, uma oferta de Deus a nós, pois antes de tudo quem oferta a Deus oferta a si mesmo...” Sabendo que estamos todos debaixo da graça de Deus, fica difícil aceitar a definição do reverendo, se for usada apenas esse trecho de suas palavras, na significação que quis dar o autor do livro da CPAD, pois se é como quer esse autor, então a Bíblia teria errado o conceito de oferta e dízimo. Sem dúvidas pode-se ver nessa idéia que há uma definição invertida ao que a Bíblia ensina, e levou a outra conclusão mais estranha ainda “... contribuir, antes de ser a consagração de alguma coisa a Deus é, ao contrário uma desconsagração de tudo que pertence a Deus.” É oportuno ressaltar que o autor desse dito não faz citações bíblicas em apoio ao que ensina, elas simplesmente não existem, são conceitos filosóficos, nem mesmo quando diz na mesma página que “o dízimo, segundo o Novo Testamento é uma

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quantia de referência mínima para estabelecer o piso de nossas contribuições...” qual passagem do Livro Sagrado dá apoio a essa idéia? Nenhuma passagem do Novo Testamento nem mesmo nas que há citações do dízimo vê-se qualquer pretensão do escritor sagrado em estipular, ou mesmo dá a entender que tal contribuição devesse ser concebida dessa forma. Para não cometermos injustiça com o reverendo Caio Fábio, vale a pena registrar que o livro Dizimista Eu, o cita fora do contexto e parece não o ter entendido, pois a tônica do livro Uma Graça que Poucos Desejam, de sua autoria não é o dízimo, ao contrário, faz transparecer justamente o desapego ao dízimo para dar lugar a algo muito maior: A graça que Deus nos concede de termos para dar e dar com alegria, por isso, Caio Fábio registra em seu livro à página 81, falando da contribuição praticada no Novo Testamento “Não é o dízimo, mas dízima periódica da graça que gera graça, deixando a medida do dízimo pequena demais.”

Os falsos conceitos e equívocos são encontrados freqüentemente em toda literatura que procura trazer como obrigação o dízimo para nossos dias, podemos identificar um desses equívocos no Informativo Voz da Assembléia de Deus, nº 3 - Novembro – 1999 (Pernambuco), onde se comenta na página 6, acerca dos “Vários tipos de dízimos entre o povo de Israel no Antigo Testamento”, especificamente no item 2 se registra com essas palavras: “O dízimo (10%) mais um quinto (1/5). Isto ocorria quando o dízimo era frutos do campo que por não poderem trazer, era convertido em dinheiro, (Lv. 27.30-33).” Desejo transcrever os versículos referenciados para que possamos juntos verificar se realmente é assim que a Bíblia nos ensina: “Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do tudo das árvores são do Senhor; santa são ao Senhor. Porém, se alguém das dizimas resgatar alguma coisa, acrescentará o seu quinto sobre ela. No tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. Não esquadrinhará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se em alguma maneira trocar o tal e o trocado serão santos; não serão resgatados.” Pergunto onde está dito, nessa passagem, que o motivo da quitação do valor do dízimo, em dinheiro, a ser entregue, acrescido de 1/5, se deve por dificuldade de transporte? Não há nem sombra dessa idéia. Nem poderia haver, seria equivocado reconhecer dificuldades apenas com os produtos e frutos da terra. O dinheiro daquela época não era papel moeda, que facilmente se transporta, mesmo que os produtos fossem convertidos em dinheiro, um grande produtor agrícola, talvez tivesse dificuldades em carregar centenas de talentos de prata (medida de peso da época) para entregar aos sacerdotes. Os versos de Levítico acima citados falam de “resgate” ou “remiss ã o ” que significa a possibilidade do ofertante não se desfazer de todo ou parte dos produtos da terra que deveria entregar a título de dízimo. O meio era dar ao sacerdote condições de poder adquirir aquele mesmo tipo de produto de outra pessoa, no “comércio”, o que certamente custaria mais caro, por isso se determinou dar o valor acrescido de um quinto. O mesmo não ocorreu com o gado, não pelo fato de eles poderem fazer uso das quatro patas para se locomoverem, facilitando o “trabalho” do ofertante, mas porque eram animais que os sacerdotes poderiam sacrificar quando necessário. Constituíam-se em sacrifícios em potencial. Daí a proibição de resgate, ou seja, por mais que o dono, criador, quisesse, com dificuldade de locomoção ou sem ela, não poderia entregar esse dízimo em dinheiro ao sacerdote, nem mesmo em acordo com os encarregados do serviço do Templo. Era terminantemente proibido.

Conversão dos dízimos, que nos tempos bíblicos sempre foram produtos do campo, em dinheiro era uma exceção não incentivada, e, não acontecia com freqüência, pois onerava o ofertante em 20% sobre o montante do dízimo, e só era possível o resgate com os vegetais, jamais com o gado.

É provável que o comentarista tenha confundido essa passagem de Levítico 27, com a passagem de Dt. 14.22-27 a qual pediria ao leitor que não se privasse de ler, deste modo poderá verificar que não há relação direta entre elas, ao mesmo tempo em que poderá notar que o dízimo do Senhor poderia perfeitamente ser usado pelo próprio ofertante desde que não faltasse para o levita. Talvez você jamais tenha ouvido falar que

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algum ofertante poderia usar, consumindo, seu próprio dízimo, em toda a sua vida cristã, embora a Bíblia já venha dizendo isso a uns 3 ou 4 mil anos.

São informações bíblicas ofuscadas pelos equívocos e falsos conceitos.Outro conceito equivocado é a evocação de Mc. 12.17 “... dai a César o que é

de César e a Deus o que é de Deus.” com o intuito de indicar que esse “dar a Deus” seja o dízimo ou dinheiro. O estudo do contexto não nos leva a essa idéia. A passagem fala do pagamento do tributo devido a César, que Jesus reafirmou realmente ser devido, mostrando que na moeda da época havia impresso a efígie de César. O homem foi feito a imagem de Deus, a exemplo da moeda que volta a pessoa cuja imagem está impressa, devemos nos voltar a Deus “... dai a Deus o que é de Deus.” Longe está esse contexto do evangelista Marcos de associar o dito de Jesus a bens materiais, antes nós leva ao entendimento que a alma humana deve ser entregue a Deus, o sentido é conclusivamente espiritual. O defensor ferrenho do ato do dizimar poderia ainda citar o Salmo 24.1 “... do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que neles habitam.” na tentativa de sustentar que o dízimo é um dever do homem. A imparcialidade é um virtude que deve ser buscada com todo afinco. O livro de Salmos é poético e mostra muito propriamente nessa passagem o âmbito do poderio de Deus, no entanto seria difícil aceitar este versículo genericamente, visto que Satanás e suas Hostes povoam e habitam os ares, a terra e o abismo, e, mesmo assim, não são de Deus. Portanto não basta dizer simplesmente que tudo é de Deus, precisa-se verificar os contextos escriturísticos, e, desta forma, podemos concluir que o Salmo não fala de contribuição a Deus e sim do seu poder.

O VERDADEIRO CONCEITO

Deus em Gn. 13.15 promete a Abraão que sua descendência herdaria a terra da promissão, posteriormente identificada como Canaã. Quando Israel, nação descendente de Abraão estava cativa no Egito, Deus fala com Moisés e promete livrar o seu povo e fazê-los habitar na terra que mana leite e mel, onde habitavam os Cananeus, Heteus, Amorreus, Ferezeus, Heveus e os Jebuseus Ex. 3.8. Em Ex. 23.30, Deus informa que a terra que prometera era uma HERANÇA. Em Números os filhos de Israel foram recenseados, com exceção da tribo de Levi, posto que a ordem de Deus era que eles não fossem contados entre os filhos de Israel, Nm. 1.47; 2.33. No entanto os Levitas não deixaram de ser computados Nm. 3.1, 15, apenas não se contava com as demais tribos, pois o Senhor os tomou para serem seus Nm. 3.12, incubindo-os do serviço sacerdotal. Mais tarde o Senhor manda fazer um censo entre os filhos de Israel Nm. 26 e nos versos 52 a 56 determina a Lei da divisão da terra, era a partilha da herança prometida a Abraão, Isaque e Jacó; os levitas, porém, estavam de fora desta partilha conforme a determinação divina. Em Nm. 34.16-29 vemos o Senhor determinando os homens que deveriam repartir a herança e no capítulo 35, o Senhor ordena que sejam concedidas aos levitas, não uma herança, mas cidades de habitação, ou seja o uso da herança das demais tribos. Qual, pois, era a herança dessa tribo aparentemente deserdada? O Senhor era sua herança e os Dízimos eram sua herança. Já havia sido reservada para eles quando o Senhor os separou para o serviço sacerdotal e o cuidado com o tabernáculo, e as coisas sagradas, Nm. 18.20,21 e 24: “Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles nenhuma porção terás: Eu sou a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel. Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação ... porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.”

Logo, além de ser sustento dos sacerdotes e levitas, o dízimo é antes de tudo HERANÇA, de tal modo que dar dízimos a não sacerdotes ou levitas, evocando a Lei para isso, é tão estranho como se mandássemos o povo hoje circuncidar. Receber dízimo sem

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ser um levita legítimo, genuinamente israelita é uma impropriedade, é receber a herança de outra pessoa, antes da Lei era possível porque não era uma ordenança, não existia a obrigação, davam-se ofertas de dez por cento. Se alguém hoje der dízimos não pode ser com fundamento no dízimo ordenado a Israel, conclui-se assim que não se pode fazer uso de Ml. 3.10.

TRANSPOSIÇÃO DO DÍZIMO

Ora, se Ml. 3.10, deve ser entendido como mandamento à Igreja, deveremos forçosamente entender que o preceito Pentatêutico do dízimo está em vigor, caso contrário não faria sentido em se falar “Malaquias 3.10”, mas, para uma economia cuja base de sustentação é diferente daquela dos tempos do antigo Israel, a ordem da dádiva do dízimo precisou sofrer adaptações, impostas pelos lideres eclesiásticos modernos: O dízimo em produtos passou a ser cobrado em dinheiro, os levitas e sacerdotes foram substituídos pelo alto clero e pastores, o local da entrega que era o templo de Jerusalém, onde disse Deus que faria habitar o seu nome, foi substituído por qualquer templo cristão, em qualquer lugar do mundo, os contribuintes deixaram de ser as onze tribos de Israel, herdeiras da terra de Canaã, para ser qualquer cristão, tenha ele herança de terra ou não, seja rico ou pobre, trabalhe ou não. O fato é que nenhuma dessas mudanças encontra apoio bíblico, sequer um único indicativo plausível. Talvez os líderes religiosos, promotores dessas mudanças sintam-se investidos de um “poder” que se via somente no Vaticano, para impor modificações nos textos bíblicos, devendo ser aceito pelos crentes, sem questionamento, sob pena de ser taxado de “está se levantando contra a obra de Deus”, todos aqueles que ousem por a prova, mesmo que pela Bíblia essas modificações que são arranjos humanos. Nesse aspecto os líderes parecem inconscientemente cumprir, em uma nova plataforma, a profecia de Daniel que falando da apostasia disse: “cuidará em mudar os tempos e a Lei” Dn. 7.25, pois quanto ao dízimo não abriram mão da lei, mas a modificaram completamente, mesmo que Jesus a tenha cravado na cruz.

Podemos perceber, por análise, que as adaptações elaboradas pela maioria dos ministros cristãos, ficaram do tamanho de suas conveniências, pois, não ensinam, mas precisamos admitir que ao invés de 10% (dez por cento), se devêssemos dar, então deveríamos dar 12% (doze por cento), haja vista que essa é a prescrição bíblica para o dízimo em dinheiro, considerando que em dinheiro o efeito era remissivo, ou seja, Deus instituiu a dádiva do dízimo em bens de consumo, não em dinheiro, mas se o proprietário desejasse ficar com aquele bem deveria então dar ao sacerdote o valor do bem acrescido de 20% (vinte por cento), isto assegurava ao sacerdote o poder de compra, podendo encontrar e adquirir bem semelhante, mesmo que mais caro, Lv. 27.3, nesse caso já não era dízimo, mas, resgate ou remissão do dízimo. Se fôssemos transpor a contribuição dizimal para hoje, precisaríamos, pelos menos verificar, quais as funções que conforme a Bíblia, desempenhando um homem em substituição aos levitas, teria direito a percepção dessa dádiva:

As seguintes referências poderão ser encontradas nos índices temáticos da Bíblia Vida Nova, acerca dos levitas,.

Servir ao Senhor, Dt. 10.8Servir ao Sacerdote, Nm. 3.67, 18.2Servir ao Povo, 2 Cr. 35.3Vigiar o Santuário, Nm. 18.3, 1 Cr. 23.3Guardar os Instrumentos e Vasos Sagrados Nm. 3.8, 1 Cr. 9.28,29Cuidar dos Dízimos e Ofertas, etc. 2 Cr. 31.11-19, Ne. 12.44Fazer o Serviço do Tabernáculo, Nm. 8.19-22Desarmar, Amarar e Carregar o Tabernáculo, Nm. 1.50,51; 4.5-33Preparar os Pães da Proposição, 1 cor. 9.31,32; 23.29Purificar as Coisas Santas, 1 Cr. 23.28

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Regular Pesos e Medidas, 1 Cr. 23.29Ensinar ao Povo, 2 Cr. 17.8,9; 30.22; 35.3; Ne. 8.7Abençoar o Povo, Dt. 10.8Guardar os Portões do Templo, 1 Cr. 9.17-26; 25.5, 2 Cr. 35.15; Ne. 12.35Dirigir a Música Sagrada, 1 Cr. 23.5-30, 2 Cr. 12,13; Ne. 12.24-27,43Entoar Louvores Perante o Exército, 2 Cr. 20.21,22Julgar e Decidir Controvérsias, Dt. 17.9, 2 Cr. 23.4; 19.8Guardar o Rei e sua Casa em ocasião de Perigo, 2 Rs. 11.5-9, 2 Cr. 23.5-7.Por analogia temos os seguintes “cargos” da Igreja, cujos ocupantes teriam

direito ao dízimo: O Pastor, “correspondente” do Sacerdote; o evangelista e o presbítero por ensinarem ao povo; ai apareceriam, também os professores da Escola Dominical com direito ao dízimo; o vigia da Igreja, não simplesmente o salário, mas a partilha do dinheiro arrecadado com o dízimo; o pessoal de conservação do patrimônio de igual modo; o tesoureiro; os diáconos e auxiliares que dão suporte para a realização do culto: cuidado com o som, iluminação, arrumação dos bancos, etc.; os maestros juntamente com os membros do coral, etc. Mas isso fracionaria demais o valor arrecadado, por isso concentrou-se o direito a uns poucos privilegiados, embora que o dízimo em si mesmo, não seja nenhum privilégio, mas se alguém restringe o direito dos demais, põe os que recebem em privilégio. Existiam ainda os pobres que pela Lei tem direito a partilha dos dízimos e o Rei de Israel, I Sm. 8.15, cuja transposição acarretaria a maior confusão entre presidencialistas e monarquistas, pois a quem deveria ser entregue o dízimo do Rei, ao presidente por estar no poder, ou a desconhecida família Imperial deposta a mais de uma centena de anos. Por tudo se vê hoje um dízimo moldado ao interesse de seus cobradores, jamais o dízimo bíblico instituído por Deus para Israel em um contexto histórico. Uma outra observação é oportuna e acarretará maior confusão ainda para os transpositores do dízimo. Vimos a transposição por comparação, mas a Bíblia nos informa textualmente quem são os sacerdotes no N.T., lemos no Livro Sagrado em I Pe. 2.9 “Vos, porém, sois raça eleita, sacerd ó cio real , nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.” (grifei). Será que você identificaria essa descrição com um pequeno grupo entre os cristãos fiéis, e, afirmaria serem apenas eles parte legítima numa transposição, beneficiando somente a esses poucos, ou afirmaria seguramente, e sem medo de errar que Pedro está se referindo a todos os fiéis em Cristo? Perceba que as qualidades de um sacerdócio e reino que Melquisedeque tinha, a nação eleita também tem, Ap. 1.6 traz: “E nos constituiu reino, sacerdotes para Deus seu Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém.” O fato é que para uma correta transposição do dízimo dever-se-ia considerar cada crente individualmente rei e sacerdote e portanto digno de dízimo. Ap. 20.6, isto se o dízimo continuasse em vigor.

DÍZIMO DOS POBRES

É veemente a cobrança do dízimo aos pobres no meio da maioria das igrejas evangélicas, a ponto de se coagir direta ou indiretamente de púlpito, aos desafortunados. Devem ser lembrados tais pregadores que os bens dizimados na Lei eram de caráter estritamente de sustentação, não só aos levitas como herança, mas, também aos pobres, como manutenção da vida, inclusive com uma instrução bíblica acerca disto, Dt. 14:28,29 “Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua novidade no mesmo ano, e os recolherás nas tuas portas. Então virá o levita (pois nem parte, nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda obra das tuas mãos, que fizeres.” Observe-se que os pobres: o estrangeiro (peregrino), o órfão e a viúva, estão alistados juntamente com os levitas, só que nunca ouvi ser solicitado uma contribuição de dízimo para ser entregue a qualquer necessitado que seja, para eles se pede uma oferta

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chamada de “segunda oferta”, geralmente anunciada depois de haverem sido recolhidos os chamados “dízimos e ofertas”, este primeiro, em geral, o necessitado não participa dele, cabendo-lhe o que houver sobrado nos bolsos dos ofertantes que de bom grado se dispuserem a dar uma segunda oferta.

Ora! Se existia um ponto da Lei que visava prover os pobres; mesmo que o dízimo estivesse em vigor hoje, ainda assim, tal cobrança ou coação a eles seria indevida.

Quanto mais tempo se passa para que as pessoas tomem o conhecimento da verdade, mais prejuízos espirituais e materiais terão. O periculum in mora termo jurídico que significa o PERIGO DA DEMORA, caberia bem aqui, pois quanto mais se demora vir a tona toda a verdade acerca do dízimo, falo da verdade bíblica, espiritual, investigada e discutida, mais se coloca em privação os irmãos, cuja condição de vida já é precária, fruto de um sistema social e político que Satanás tem completo empenho em construir, pois aos pobres mais necessitados, aos quais é cobrado dízimo, há um perigo presente na demora em se conhecer a verdade, visto que pensando em não faltar com o Senhor, ele faltará com os de casa, pondo sua família em desespero de fome e necessidade e, ao pensar assim, o necessitado está destruindo aquilo que pensa construir. E há quem ensine que deva ser assim. Isto se vê na página 54 da lição da E.B.D 3º Trimestre de 1999, das Edições CPAD, o comentarista é taxativo “...há crentes que, ao invés de obedecer à palavra de Deus, .... querem ajudar os parentes necessitados”, além de achar que obedecer a Palavra é obedecer seu próprio conceito das coisas, considera dízimo algo em que o necessitado não pode tocar, e parece desconhecer Dt. 14.28,29, contrariando o preceituado em Dt. 26.12,13 que diz: “Quando acabardes de dizimar todos os dízimos da tua novidade no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem. E dirás perante o Senhor teu Deus: Tirei o que é consagrado de minha casa, e dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, conforme a todos os teus mandamentos que me tens ordenado; nada traspassei dos teus mandamentos nem deles me esqueci.” Agora pergunto: Quem era o responsável por ir entregar dízimos aos levitas senão o próprio ofertante? E, quem era o responsável por entregar dízimos TAMBÉM aos pobres necessitados, senão o próprio ofertante? Como pode, então, o comentarista dessa revista “estufar o peito” e dizer imperativamente na pg. 54 “entende de uma vez por todas: O teu dízimo tem de ser entregue à casa do tesouro.”? Este chavão: “Casa do Tesouro”, usado por muitos líderes e também pelo comentarista é fruto do mal entendimento de Ml. 3.10, que, via de regra, não poderia ir em choque com um preceito da Torá (Pentatêuco), a PARTE do dízimo devida aos levitas e sacerdotes deveriam ser levados, cada um por seu turno: o povo aos levitas e os levitas aos sacerdotes, integralmente e de todos os dízimo prescritos em Lv. 27.30-33, não há contradição, se dá ao levita e se dá ao pobre, em Malaquias reclamou-se a parte dos levitas e sacerdotes. Podemos afirmar tranqüilamente que existe mais referências no Novo Testamento em apoio a ajuda aos necessitados que de dízimos para sustento do templo cristãos, pois, de fato, não há nenhum, nem templos cristãos existiam, mas há fortes determinações para ajudar principalmente aos parentes, aos quais o comentarista quer que neguemos, I Tm. 5.8 “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que um infiel.” Em grego infiel é o mesmo que incrédulo. O responsável pela Lição da EBD, fez uma opção: ressuscitou uma prescrição pentatêutica que de alguma forma pode lhe beneficiar, negou a fé no Novo Pacto, desconsiderando não só as demais palavras do Pentatêuco, já citadas, como as palavras constantes do Novo Testamento ditas por Paulo, como estas endereçadas a Timóteo. Ora a Bíblia dá exemplo que a necessidade, quando afeta a vida natural, embora como exceção, pode ser suprida mesmo na desobediência de um preceito. Em Mt. 12.3-6, Jesus defendeu os discípulos de uma possível transgressão do sábado usando dois exemplos, dos quais desejo fazer uso do primeiro deles: quando Davi e seus companheiros comeram do pão da proposição, que somente o sacerdote poderia comer. Ressalte-se que se o preceito deve ser entendido com legalismo, e, essa era a linha adotada pelos fariseus, então, de fato, os discípulos e o

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próprio Davi são transgressores da Lei, mas, se atentarmos para o espírito da Lei e essa era a linha adotada por Cristo, então, não houve transgressão, pois, de fato, os pães da proposição eram para mantimento dos sacerdotes, e isso era para eles porque não tinham posses, no entanto seguindo o mesmo princípio da não falta de mantimento e manutenção da vida, a aqueles que não tenham onde conseguirem, é possível, na hora da necessidade, com fez Davi ao usar os pães da proposição, usarem tudo que possui para estarem bem. Os pobres que não tenham meios de satisfazer as necessidades básicas, certamente não estão obrigados a dar o dízimo, podendo, inclusive usá-los, além de pela Lei deverem receber, como se prega que o dízimo é para manutenção da obra de Deus. Então, manter vivo e feliz um pobre faz parte da obra Deus. Se tal pobre não recebe a manutenção afim de que seja propiciado seu bem estar por parte da organização religiosa ao qual está vinculado, esta organização não está fazendo a obra de Deus, logo é debalde entregar alguma coisa a ela, pois certamente os recursos não estão sendo empregados corretamente. E quando algum membro reconhece essa falha na administração eclesiástica e se resguarda em ofertar no templo, surge a frase mais demagógica que ouvi na minha vida, colocando até mesmo os políticos seculares “no bolso”, pois usa a fé na divindade, não no homem quando argumentam: “Entrega o teu dízimo na igreja e o resto é com Deus, não se preocupe o que a Igreja vai fazer com ele, Deus se responsabiliza.” Quem já estudou, ou ao menos leu as práticas da Igreja Católica na idade média, principalmente nas épocas “áureas” da inquisição não terá dificuldade em identificar esse argumento com inúmeros argumentos católicos análogos, que punham os fiéis contra a parede usando o nome de Deus para isso, quando o próprio testemunho da história mostra que eles usavam de pura demagogia e coagiam milhares de fiéis a fazerem coisas, que pensavam eles serem a coisa cristã certa, ao passo que os ordenadores estavam, simplesmente, preocupados ou mesmo havidos por eliminarem o empecilho a fim de alcançarem seus objetivos. Os cobradores desses pobres é que deveriam contribuir com eles e não cobrá-los. Sobre essa prática de cobrança injustificada, brilha a verdade divina que de tão abrangente não se põe de fora desse contexto quando diz em Mt. 12.7 “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes.”

DE QUEM É O DÍZIMO DO SENHOR?

A Bíblia diz “ ” - DEUS É ESPIRITO - portanto quereria Deus alguma coisa material para si próprio?

Sendo Deus Espírito, o que quer que venha a requerer do homem, materialmente falando, sem dúvidas não será para seu próprio uso, assim quando o Senhor determinou as tribos de Israel que lhe apresentassem o dízimo, certamente intentou destiná-lo a alguém, e esse alguém foi a tribo de Levi, essa destinação foi uma providência divina, uma provisão aos filhos de Arão, filho de Levi, separados para o serviço do Santuário Dt. 18.1-2, Nm 18.20,21, o v.21 diz “e eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos de Israel por herança...” em passagens como esta e outras podemos entender que:

1- O dízimo do Senhor era dado aos levitas como sustento por herança, v. 24 “porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: no meio dos filhos de Israel nenhuma herança herdarão.”

2- Do que os levitas recebiam separavam o dízimo dos dízimos, oferecidos ao Senhor, dados porém a Arão. Nm 18.26-28, Ne. 10.37,38.

3- Nenhum deles tinham qualquer possessão, apenas concessão de habitação.4- Só para quem exercesse serviço exclusivo do altar.5- Só o resgate ou pagamento de inscrição de recenseamento, era em dinheiro

dado ao sacerdócio.

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6- Ou a remissão do dízimo, quem também era em dinheiro.

NEM TODOS TINHAM DIREITO

Já identificamos que os dízimos de Abraão e Jacó foram completamente espontâneos. Eles não estavam sob mandamento quando praticaram esse tipo de dádiva, fora esse, só vemos um tipo de dízimo “eclesiástico”, o instituído na Lei de Deus, dada por Moisés, e este era a herança dos levitas, por isso; dízimo por serviço religioso, só existiu uma tribo no mundo e em todos os tempos a quem Deus destinou; jamais se vê o Pai Eterno destinando esse benefício a quem quer que seja, por lhe haver prestado serviço eclesiástico. Nos tempos bíblicos não era simplesmente o fato de se fazer a obra de Deus para ser digno do dízimo, tinha que ser necessariamente descendência de Levi, você em sua leitura diária da Bíblia encontrará dezenas de homens de Deus que fizeram sua obra e no entanto não recebiam dízimos. Por exemplo: profetas e juízes. Isso deixa claro que o dízimo objetivava o sustento de uma tribo específica de Israel, privada de angariar posses e sem herança na terra prometida, que para alimentar-se dependia dos dízimos ofertados das outras onze tribos. Se buscarmos na Bíblia de Gênesis a Apocalipse uma única autorização de Deus que permita a outras pessoas, povos ou mesmo outra tribo de Israel receber dízimo, por serviços a Ele prestado não a encontraremos. Nenhuma igreja cristã de bom senso irá reivindicar que o povo judeu deixe sua terra para passar a habitá-la, por ser considerado pela Bíblia de “Israel Espiritual”, o solo de Israel pertence aos judeus, é a herança deles, é justo que ninguém a queira, por que, então, praticamente todos os segmentos cristãos querem a herança dos levitas e sacerdotes? Nm. 18.21. Quem os incentivou a esse fim, uma vez que não encontramos indicativos bíblicos?

NENHUMA OUTRA FINALIDADE

Hoje se arruma todo tipo de pretexto para cobrarem o dízimo, objetivando se fazer inúmeras coisas, com a denominação de “obra de Deus”, no entanto não se vê dízimo para obra alguma na Bíblia, mas para mantimento Ml. 3.10 e, esse mantimento refere-se a tudo que a tribo encarregada do serviço do templo precisava para viver.

Se perguntarmos quais os exemplos de aplicação do dízimo na Bíblia, não encontraríamos resposta para temas, dentre outros, como:

a) Construção de templos - Não se encontra na Bíblia dízimo como esse fim, todas as ocorrências de construção de um local de cerimônias indicam para as ofertas voluntárias, Ex. 25.2; 35.5 e 29, esse último versículo gostaria de transcrever: “Os filhos de Israel trouxeram oferta voluntária ao Senhor; a saber todo homem e mulher, cujo coração os dispôs para trazerem uma oferta para toda obra que o Senhor tinha ordenado se fizesse por intermédio de Moisés.”(os destaques são meus), agora responda: Com que tipo de oferta se faz a obra do Senhor? Se precisarmos de mais exemplos poderemos encontrá-lo em I Cr. 29. É interessante que só se pedia o necessário, alcançado o objetivo o povo poderia até ser proibido de dar mais, Ex. 36.3-5.

Para os mais resistentes as verdades bíblicas e mais apegados as tradições denominacionais, temos a confirmação de que construção de templo ou a reforma deles não se fazia com dízimos, Esdras 2.68,69 “Alguns dos cabeças de famílias, vindo a Casa do Senhor, a qual está em Jerusalém, deram voluntárias ofertas para a Casa de Deus, para restaurarem no seu lugar, segundo o seu recurso deram para o tesouro da obra, em ouro sessenta e um mil dáricos, e em prata cinco mil arráteis, e cem vestes sacerdotais.”

Até os Adventistas do Sétimo Dia, que cuidam guardar a Lei e são cobradores de dízimos, reconhecem em um de seus trabalhos disponíveis na Rede Mundial de

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Computadores (Internet) que “O dízimo não era usado para manutenção do templo, o templo sempre foi mantido por ofertas.” Assinam o trabalho os Pastores Adventistas Hélio Coutinho e Moisés Matos.

b) Envio de missionários - encontramos um missionário no Velho Testamento, o conhecido profeta Jonas, que tem um livro com o mesmo nome, sua história é famosa pois ao receber uma ordem divina para proclamar a palavra de Deus contra a grande cidade de Nínive, resolve fugir para Társis, numa embarcação, acaba sendo jogado no mar, engolido por um animal marinho e vomitado na terra. A pergunta é: com que dinheiro Jonas pagou a passagem da viagem para Társis? Jn. 1.3, lembre-se que ele era um missionário do Antigo Testamento e não sendo levita não tinha direito a dízimos. E as viagens de Paulo, qual indício teríamos em favor de uma despesa efetuada pelo apóstolo paga com “dízimos” arrecadados? Certamente: nenhuma!

O que diríamos das festas de líderes, confraternizações, aniversários dos mais diversos órgãos da igreja, despesas com manutenção de templos, quando deveriam ser feitos com as ofertas voluntárias. Quem quer que busque respaldo bíblico para fazer face a essa despesas utilizando o dízimo não o encontrará, o dízimo eclesiástico, só tinha uma finalidade; sustento dos levitas, sacerdotes e necessitados, nenhuma “obra” se devia fazer com ele. Para coisas diversas se tinha a oferta voluntária.

Quem investiu os novos líderes religiosos de poderes para mudar o uso e a finalidade dos dízimos?

Informe-me, pela Bíblia, por favor!!! E, cuidado para não responder como a Igreja Católica dizia na Idade Média, e, ainda diz: “temos autoridade de Deus para isso.”

QUEM GANHAVA MAIS, QUEM GANHAVA MENOS

Quem acha que o dízimo era um salário, engana-se; primeiro porque a própria Bíblia diz que era herança, segundo porque não era dado em dinheiro, terceiro porque com salário se faz o que quer, inclusive arrumar um jeito dos bens crescerem, não era assim com o dízimo que deveria ser consumido pela tribo de Levi, onde ninguém ganhava mais pela sua posição ou cargo, a idéia era de sustento não de estoque, embora pudesse haver, no entanto a vida folgada não era um dos objetivos das contribuições, o dízimo significava sobrevivência, não regalias.

ONDE É A CASA DO TESOURO?

O estudante atento da Bíblia, poderá perceber que o dízimo, a exemplo de diversos ensinos bíblicos, firmou-se através de uma revelação progressiva, primeiro em Abraão, com um dízimo voluntário, entregue, possivelmente num lugar chamado de Savé, a Melquisedeque, Gn. 14.17; mais tarde Jacó através do voto, sem especificar onde depositaria o dízimo, e, se de fato, cumpriu; posteriormente foi instituído pela Lei quando Deus o deu por herança aos sacerdotes e levitas, em seguida vemos Deus dizendo que os dízimos deveriam ser entregues num lugar específico; onde Deus faria habitar o seu nome, na Casa do Tesouro, mais tarde esse lugar é identificado como o Templo (compartimento exterior) construído em Jerusalém.

Quantas CASAS DO TESOURO existem? Quantas devem ou deverão existir? Se olharmos somente para a Bíblia contemplaremos um único lugar de depósito do sagrado que é a mesma e única Casa do Tesouro e o único local onde os levitas deveriam entregar os produtos dos dízimos, quem poderá determinar diferente? Os Assembleianos com uma “Casa do Tesouro”, ou os Batistas com outra “Casa do Tesouro”, ou seria a

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“Casa do Tesouro” Presbiteriana a legítima? Talvez uma das milhares de “Casas do Tesouro” espalhadas pelo mundo, fruto dos diversos ramos protestantes, ou quem sabe a Sede dos Católicos em Roma, visto que eles estão voltando a cobrar o dízimo, ou será todas elas são “Casa do Tesouro”? Certamente apenas uma é a Casa do Tesouro bíblica.

As medidas do Templo de Salomão, conforme nos esclarece o Manual Bíblico de H. H. Halley, 9ª Edição, 1989, Vida Nova, página 201, eram de 30 m de comprimento, 10 m de largura e 15 m de altura, isto considerando o côvado de 50 cm, cuja possível variação era de 45 cm a 52 cm, pois as medidas estão registradas na Bíblia em côva-dos. Existiam três andares de câmaras externas anexas ao Templo. Cada andar de câmaras possuía tamanhos diferentes, o primeiro era de 2,5 m de largura e 2,5m de altura, o segundo era 3,0 m de largura pela mesma altura e o terceiro 3,5 m , com igual altura, essas pequenas câmaras não serviam apenas para o estoque do dízimo, existiam as câmaras dos Cantores, a da Guarda Real, e, a própria câmara do Tesouro não era usada simplesmente para a guarda do dízimo, as riquezas, (pratarias, ouro, etc.), também se depositavam lá. Considerando que na época da construção do templo já se contava 38.000 levitas da idade de 30 anos para cima, fora as crianças, as mulheres e os homens menores de 30 anos, I Cr. 23.3, imagine se a parte devida ao levita precisasse ser estocado nessas câmaras, sem dúvidas ficaria um amontoados de coisas empilhadas na parte externa do Templo, por não mais caberem nos Celeiros anexo ao Prédio Santo. Por isso quando se diz que o dízimo deveria ser entregue na Casa do Tesouro não estava se referindo ao dízimo dos levitas, mas ao dízimo dos sacerdotes, Ne. 10.38 “E o sacerdote, filho de Arão, deve estar com os levitas quando estes receberem os dízimos; e os levitas devem trazer o dízimo dos dízimos à casa do nosso Deus, para as câmaras, dentro da tesouraria.”(destaquei)

Existiam muitas sinagogas na época de Cristo. As sinagogas eram lugares de reunião dirigidas por chefes ou anciões, chamados de principais, Lc. 13.14, Mc. 5.22. Serviam também como escola, tribunal, etc., e a direção de determinada reunião poderia ser entregue a qualquer judeu designado pelo chefe, Lc. 4.16 ss., At. 13.15.

O Templo porém, diferia da sinagoga, pois tinha toda uma arquitetura determinada por Deus: Pátio, o lugar santo e o lugar chamado de santo dos santos, segundo o modelo do Tabernáculo, nele somente sacerdotes e levitas podiam ministrar. Não existiram dois ao mesmo tempo, embora a historiologia bíblica nos apresente três: O primeiro chamado de templo de Salomão, pois foi construído no seu Reinado; com a destruição deste por Nabuzaradã general de Nabucodonosor, em 587 a.C. (II Rs. 25.8,9). O segundo, foi construído, depois do cativeiro babilônico de Israel, sob o comando de Zorobabel, Ed. 5.2. Na época de Cristo outro templo havia substituído o de Zorobabel, foi o chamado Templo de Herodes, era o maior entre os três, nesse lugar, ou seja no Templo que ficava em Jerusalém, foi o lugar determinado por Deus para que fossem depositado os dízimos ordenados a Israel, e não há a mínima pista na Bíblia que permita-nos concluir que o dízimo poderia ser entregue em outro local, nem mesmo numa Sinagoga, Dt. 12.5,6.

O fato é que a expressão “ Casa do Tesouro” não surgiu ao mesmo tempo da construção do Templo e, de fato não refere-se ao Santuário em si. Quando Salomão o construiu nos informa a Bíblia em I Rs. 6.5 que “ contra a parede da casa, tanto do santuário como dos santos dos santos, edificou andares e ao redor fez câmaras laterais ao redor”, observe-se “ao redor” não no interior. A essas câmaras ou celeiros Neemias que viveu muitos anos depois da Edificação do Templo de Salomão chamou de Casa do Tesouro. Nesses celeiros eram depositados não os dízimos de toda a casa de Levi, mas apenas os dízimos dos dízimos devidos aos sacerdotes, Ne. 10.38 “... os levitas trariam o dízimo dos dízimos à Casa do nosso Deus, às câmaras da Casa do tesouro.”

É comum ao crente de hoje achar que “Casa do Tesouro” seja o lugar onde se deve entregar dinheiro, no entanto o contexto bíblico nos permite, seguramente, afirmar que o que ali se depositava não eram munerários, mas produtos alimentícios, Ne. 10.37 a 39, tanto que a Bíblia Viva traduz assim Ml. 3.10 “Tragam todos os dízimos aos

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depósitos do templo, para haver mantimento em minha casa.” (destaquei), a essa altura alguém deve está se perguntando acerca do dinheiro que a viúva depositou. Gostaria de lembrar: a) Não era dízimo. b) Não foi na casa do tesouro (câmara do templo). c) Foi depositado numa urna de arrecadação de oferta chamada Gazofilácio, logo refere-se a oferta voluntária.

A Casa do Tesouro contrasta de tal forma com a Igreja a ponto de não se identificar com um templo cristão, a prova disso é a sua inexistência no princípio do cristianismo, pois todos pregam que o dízimo deve ser entregue no templo, inclusive o pastor Paul Yong Cho, hoje David Cho, no livro Soluções Para Os Problemas da Vida, Editora Vida, 1985, pág. 39 “... o dinheiro do dízimo deve ser dado ao Senhor por meio da igreja local onde a pessoa assiste.” O pastor Cho, parece desconhecer que no princípio do cristianismo não existiam igrejas com a organização que conhecemos hoje. Conforme o Manual Bíblico de H. H. Halley o primeiro templo cristão foi construído no reinando de Alexandre Severo em 222 e 235, antes os cultos eram realizados nas casas dos crentes, como bem testifica o livro de Atos, logo, mesmo que fôssemos obrigados a dizimar, dizer que o dízimo deve ser entregue na igreja local não tem respaldo bíblico.

O DÍZIMO E O SÁBADO

Aos cobradores do dízimo falta-lhes uniformidade no trato com os mandamentos da lei; coerência nas suas interpretações da Bíblia, pois todos afirmam “ a Lei foi abolida por Cristo na cruz.” no entanto negam a eficácia do sacrifício de Cristo ao cobrarem o dízimo, ora o dízimo era um mandamento da Lei, se perguntarmos porque não se guarda o sábado todos responderão: porque foi abolido. Será que esse entendimento de abolição não se aplica ao dízimo, em Mt. 5.17, lemos que Jesus cumpriu a Lei , de modo que da mesma forma que o sábado não é mais como era antes, também as ofertas pentatêuticas não o são.

O DÍZIMO E A UNANIMIDADE

A polêmica gerada pela fusão pretendida de Ml. 3.10 com Mt. 23.23 e o cristianismo tem dividido o povo de Deus. Quando era praticado na época própria, por um povo próprio e dado a quem de direito, todo o Israel vivia unânime, mesmo que tenha sido achado em falta algumas vezes. Não obstante aquela nação sabia o que fazer e como fazer, quando se trouxe essa prática para o meio cristão, mergulhou o povo em confusão, provinda da falta de um estudo exaustivo sobre o assunto, estudo esse que talvez nunca ocorra pois, ao se estudar a prática do dízimo se chegará, fatalmente, a uma única conclusão biblicamente possível: os cristãos dos primeiros séculos, embora fossem fartos, no sentimento de ofertar, não o faziam por meio de dízimos. Hoje se perguntarmos o que devemos dizimar, ouviremos em resposta: TUDO. Mas tudo o que? E, como? As pessoas geralmente dão dízimo do salário, e por sua vez uns dão do bruto, outros do líquido, considerando os descontos de imposto de renda e seguridade social. Ainda há os que quitam suas dívidas e do que restar tiram o dízimo, não estou aqui para julgar este ou aquele procedimento, mas o fato é que os tais, não têm absoluta certeza do que estão fazendo, cada um desconhecendo o entendimento do outro sobre a matéria, acha-se certo. No entanto, se os pusermos em diálogo sobre o assunto certamente haverá insinuações e acusações e nesse momento descobre-se a falta de unanimidade. E o que dizer do dízimo de algum presente recebido; por exemplo: alguém recebe dez camisas de presente, deve ele dar uma (a décima parte)? E se for apenas uma a camisa presenteada, um carro ou um apartamento, o que fazer...? Dificilmente se ouvirá uma orientação oficial da Igreja de púlpito acerca disto e até se levantaria inúmeras outras questões

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polêmicas. Geralmente os bens que um cristão passa a ter hoje em dia não entram em questão, apenas o dinheiro que ele recebe é que está em evidência, embora saibamos que isoladamente, aqui e ali, alguém se preocupe com esse detalhe.

A falta de unanimidade atinge até mesmo os líderes, pois ao passo que a revista da Escola Dominical das Edições CPAD, para Jovens e Adultos, 3º trimestre de 1999, informa que está em plena voga Ml. 3.10, ressaltando que aquele que não dá o dízimo rouba o Senhor, página 53; a revista de apologética Defesa da Fé, embora defenda a prática do dízimo, é mais amena e coerente em seu comentário ao dizer no exemplar de nº 08, período de setembro a outubro/98, página 21 que “Obviamente, jamais deveremos admitir ou apoiar os que procuram obrigar o povo de Deus a contribuir (II Co. 9.7)”. Este segundo comentário, ao assim registrar revela estar mais sensível ao espírito neotestamentário, em oposição ao primeiro, que ao confundir, ou mesmo fundir judeus com cristãos, condena ao inferno àqueles que não derem o dízimo, caracterizando o ato de dar numa obrigação: um requisito para a salvação, pois se quem não dá “ROUBA” o Senhor esse tal não poderá entrar nos céus, I Co. 6.10. Seguramente o Novo Testamento nos diz diferente; os apologistas da Revista Defesa da Fé tiveram a sinceridade de informar aos leitores a passagem II Co. 9.7. “Cada um contribua segundo propôs no seu coração...”

O comentarista da revista da CPAD classifica a abstinência da prática do dízimo home, como roubo ao Senhor, pois baseia o seu discurso na coação e não na conscientização do ofertante. Quem quererá ser taxado de “ladrão dos bens do Senhor”? No entanto como comentarista de uma revista da Escola Dominical, deveria ele informar que a tradução do texto de Malaquias cap. 3, nos versos em que a tradução de Almeida usa o verbo roubar, diversas outras traduções trazem outros verbos, o verso 8, por exemplo:

“Pode um homem enganar a Deus? Pois vós me enganais! - E dizeis: em que te enganamos? Em relação ao dízimo e a contribuição” Bíblia de Jerusalém

“Pode acaso um homem enganar a Deus? No entanto, vós me enganais! Dizeis: ‘Em que te enganamos?’ - No pagamento do dízimo e dos tributos” T.E.B.

“‘Pode um homem enganar a Deus?’ Pois vocês me enganaram! vocês perguntam: ‘em que te enganamos?’ No dízimo e na contribuição” Ed. Pastoral

“Deve um homem ultrajar o seu Deus como vós me tendes ultrajado? E dissestes: em que te temos ultrajado nós? Nos dízimos e nas primícias.” Matos Soares

“Pode um homem enganar o seu Deus? Por que procurais enganar-me? E ainda perguntais: Em que vos temos enganado? No pagamento dos dízimos e nas ofertas”Bíblia Ave-Maria

“Um homem deveria defraudar a Deus? Ora vós me defraudais e dizeis: ‘Em que nos te frustramos?’ ë a respeito do dízimo e do imposto.” Bíblia Mensagem de Deus

“Pode um homem enganar a Deus, como vós procurais enganar-me? Objetais: Em que te enganamos? - Nos dízimos e tributos” Bíblia do Peregrino

Sem querer apoiar essa ou aquela tradução listei essas sete versões onde não se usou o verbo roubar, dando-se preferência na maioria delas ao verbo enganar, e há fortes indícios que seja este o melhor termo, visto que a famosa Bíblia de Jerusalém o preferiu, bem como a Tradução Ecumênica da Bíblia - TEB, também famosa. Percebe-se que o Senhor usa o nome Jacó, no v.6, e este nome significa: Enganador, suplantador, ao invés de Judá ou Israel, como nos versos anteriores; isto é bastante sugestivo, indicando a correlação entre o “ENGANADOR” com seus filhos “ENGANADORES”. Em 1.14, temos o registro que os filhos de Israel intentaram enganar a Deus: “Mas seja maldito o enganador que, tendo animal macho no seu rebanho, o vota, e sacrifica ao Senhor o que tem mácula; porque eu sou grande Rei, diz o Senhor dos exércitos, e o meu nome é temível entre as nações.” (destaquei), isto prova que os judeus estavam trazendo oferta e dízimos ao Senhor, mas não como deveriam, por isso em 3.10, se diz “todos os dízimos” ou como preferem algumas traduções: “o dízimo integral”, de fato eles estavam querendo enganar, trazendo produtos impróprios, ou apenas uma parte desses. Esse

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sentimento de sonegação embora nada tivesse haver com dízimo surgiu no coração de Ananias e Safira, com fim trágico. Não quero tornar inculpes os antigos israelitas, mas alertar aos que adoram refrões acusadores e acuadores, que nesse caso além do erro de direcionar esse tipo de refrão sobre dízimo aos cristãos, estão incorrendo em outro erro ao acusar alguém de uma coisa que talvez não seja exatamente o que a Bíblia nos quis transmitir. Não há unanimidade inclusive nisso.

Somente a aceitação ao verdadeiro entendimento acerca do dízimo poderá unir a todos em um mesmo pensamento. Eu receio que os interesses de natureza humana atrapalhem esse avanço espiritual.

“TRAZEI TODOS OS DÍZIMOS”

A generalização do dízimo nos dias atuais, tem mergulhado as Igrejas no completo desvio do real conceito dessa antiga prescrição bíblica.

Já pudemos mostrar, comparando Gn. 14.20 com Hb. 7.4, que embora em Gênesis encontremos a palavra “tudo”, se referindo a entrega do dízimo a Melquisedeque, a epístola aos Hebreus prova que essa palavra não pode ser entendida com sentido amplo e restringe o “tudo”, aos melhores despojos, o que reduz, na conceituação moderna, o quantum recebido pelo Sacerdote-Rei.

Os próprios versículos que nos apresentam o dízimo mostram que ele era tributado sobre bens específicos ligados diretamente a área de manutenção da vida, Lv. 27.30 “Também todos os dízimos da terra, quer dos cereais, quer do fruto das árvores, pertencem ao Senhor; santos são ao Senhor.” Perceba-se que esse “todos” se refere apenas aos cereais e frutos das árvores. Lv. 27.32 “Quanto a todo dízimo do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara, esse dízimo será santo ao Senhor.”, mais uma vez esse “tudo”, refere-se aos animais, temos, assim, as duas classe sobre os quais os dízimos incidiam: VEGETAIS e os ANIMAIS. Para confirmar isso basta ler as passagens referentes aos dízimos:

Dt. 14.22 “Certamente darás os dízimos de todo o produto da tua semente que cada ano se recolher do campo.”

Dt. 14.23 “... comerás o dízimo do teu grão, do teu mosto e do teu azeite...”Dt. 14.28 “...levarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano...”Ne. 10.37 “... os levitas, recebem os dízimos em todas as cidades por onde

temos lavoura.”Ne. 13.5 “... os dízimos dos cereais, do mosto e do azeite, que eram dados por

ordenança aos levitas...”Ne. 13.12 “Então todo o Judá trouxe para os celeiros os dízimos dos cereais, do

mosto e do azeite.”Sem dúvidas essas referências não nos permitirá outra conclusão senão a de

que “tudo” em Ml. 3.10 não poderia ser de coisa diferente ao prescrito na Lei, ou seja, tudo do produto da terra: Cereais e frutos das árvores; e, tudo do produto do campo: Gado (graúdo e miúdo). O próprio leitor é agora testemunha por si só que a Bíblia não ordena dízimo de outra coisa; não se ordena dízimo de vestimenta, calçados, madeira, tijolos, etc... Nada que não fosse alimento, inclusive dinheiro não era algo de que se devesse dar dízimo, só há um momento em que era permitido, ainda assim, como exceção, jamais como regra, Lv. 27.30-32, nesse caso o valor não era 10% e, sim 12%.

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É provável que a quantidade do dízimo entregue ao Tesouro do Templo não seja o quantum global dado aos Levitas, observe-se que o indivíduo entregava o dízimo diretamente aos levitas Dt. 26.12,13 e não ao Tesouro do Templo, ao passo que os levitas entregavam o dízimo dos dízimos, este sim conforme Ne. 10.38, era levado ao Templo. Isto está repleto de lógica pois os depósitos do Templo visava o sustento dos sacerdotes, não de toda Casa de Levi. Caso fosse depositado diretamente no Templo, o dízimo preciso para sustentar a tribo de Levi, que era em torno de 37.000 homens fora mulheres e crianças, incluindo os sacerdotes, na época do primeiro Templo, teríamos um espaço extremamente pequeno para comportar tão grande volume de produtos agrícolas e/ou agrários. Além disto, as câmaras não eram exclusivas para estocagem dos dízimos, existia por exemplo: a Câmara dos Cantores, Ez. 40.44 e a Câmara da Guarda Real, I Rs. 14.22, entre outras. Isto analisando apenas o número dos que deveriam se beneficiar com o dízimo. Se formos considerar o número de pessoas, que no entendimento dos doutrinadores cristãos atuais deveriam dar o dízimo, isto é: todas as pessoas religiosamente comprometidas com Deus, então, a casa do tesouro estaria com uma arquitetura completamente fora dos padrões necessários a comportar o que ali se depositaria, lembre-se que só havia uma casa do tesouro: O Templo; pois conforme I Cr. 21.5, só de guerreiros na época do Rei Davi enumerou-se 1.570.000 (Um milhão, quinhentos e setenta mil), fora as mulheres e os não aptos à guerra, para se ter uma idéia, isto significa no mínimo 11 (onze) vezes o estádio de futebol do Maracanã lotado, e conseqüentemente um volume de dízimo que cobriria por completo o Templo de Salomão, tornando-o em uma montanha de produtos agrícola. Assim a tradição cristão recente, ao impor o dízimo aos fiéis, ignorando completamente o contexto histórico e bíblico em que esse tipo de oferta estava inserido usando principalmente Ml. 3.10, ou seja (todo mundo trazendo todos os dízimo para a casa do tesouro), torna a prática bíblica do dízimo mentirosa ou impossível, o que sem sobra de dúvidas é um grande engano.

A idéia de que “TUDO” em Ml. 3.10, refira-se a “absolutamente tudo” não encontra apoio bíblico e é resultado do desvio do ensino bíblico original e da capitalização do mundo em que vivemos, que afetou diretamente a Igreja, enquanto entidade organizada.

Até o próprio Cristo ao falar de dízimo o faz referindo-se a alimentos. Portanto essa história de que dízimo é para a manutenção da obra de Deus e por isso se pede dizimo de tudo, é equivocada e parece-nos não estar de acordo com o que a Bíblia diz acerca desse tipo de contribuição. Dízimo é herança dos Levitas e Sacerdotes, esmola dos pobres, alegria dos Ofertantes e tributo dos Reis. Somente sobre vegetais e animais (gado de corte). Para a obra de Deus peça-se a oferta voluntária, a essa a Bíblia dá todo apoio e, sem dúvidas, se pedirem a fiéis, certamente será muito maior que o dízimo.

MALAQUIAS MAL APLICADO

Poderia não comentar o profeta Malaquias, mas penso que uma pequena análise do Livro poderá ser um reforço auxiliar ao estudo acerca do dízimo, além de podermos dimensionar quão mal aplicadas são suas palavras nos nossos dias.

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A Bíblia de Estudo Pentecostal, no breve comentário acerca desse Livro profético informa que “Malaquias profetizou cerca de cem anos após os primeiros exilados terem voltado de Babilônia”, então o relato é pós-exílio, posterior a Ezequiel e Daniel que profetizaram durante, enquanto todos os demais são anteriores, exceto Ageu e Zacarias que também são pós-exílio.

Já no cap. 1 e verso 1, encontramos: “Peso da palavra do Senhor contra Israel, pelo ministério de Malaquias.” (destaquei) Ora se era contra Israel, Ml. 3.10, não pode referir-se a Igreja, se alguém intitula-se Israel espiritual, então o dízimo não pode ser material.

O contexto do Livro nos fornece o estado espiritual da nação que embora no primeiro momento do pós-exílio estivesse avivada e devotada Ed. 6.13-22 com a reconstrução do templo e a celebração das liturgias estabelecidas na Lei, naquele momento, já não estava tão disposta a seguir os preceitos do Senhor e desvirtuaram todo o cerimonial prescrito por Deus para aquela Nação Ml. 1.7, 8. Todo o Israel fazia o que achava bem aos seus olhos. Os sacerdotes estavam corrompidos, cap. 2, e os filhos de Israel não contribuíam, nem ofertavam corretamente ao Senhor Ml. 1.14; 3.7-10.

A cobrança do dízimo no livro do profeta Malaquias é contundente, mas digno de observação. Percebe-se que enquanto não havia templo (época do exílio) e, não havia o exercício das atividades sacerdotais não havia cobrança de dízimos, mostrando a relação direta e inseparável desse trinômio: dízimo, sacerdócio, templo. Com o restabelecimento decorrente da repatriação tornou-se imperativo o restabelecimento da herança dos levitas: os dízimos; para que pudesse haver o desempenho das atividades sacerdotais, sem as quais seria impossível a realização do culto coletivo a Deus, naquela época, posto que somente os sacerdotes e levitas estavam autorizados por Deus para ministrarem o Sagrado e, terminantemente, proibidos de outra atividades, como as seculares, por isso os dízimos como herança.

Malaquias 3.11, nos traz palavras de terror quando ditas hoje; sendo usada pelos pregadores contra os cristãos não dizimistas, mesmo sendo o livro de Malaquias estritamente dirigido a Israel. Diz assim o verso: “E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.” Os pobres irmãos, chamados a liberdade em Cristo, estão hoje, escravizados pela consciência, artificialmente plantada pelos doutrinadores modernos, que impõe com todas as técnicas de PNL (programação neurolingüística), o temor do “devorador” que irá consumir tudo que os irmão em Cristo tenham caso não contribua com esse tipo de oferta. Resta, porém saber, se há coerência em achar que o “devorador” possa alcançar um cristão, pois se colocarmos a prova essa “maldição”, considerando a existência do Novo Pacto e a morte de Cristo, ela não tem a mínima validade. Cristo nos isenta da Lei e suas Maldições Gl. 3.10 e o v. 13 diz “Cristo nos resgatou da maldição da Lei...” além do mais, jamais podemos perder de vista que Malaquias profetizou contra Israel em um dado momento histórico. Não é sensato afirmar que essa maldição determinada em Ml. 3.11, tenha desbravado as barreiras do tempo e tenha poder de alcance sobre os judeus ou cristãos posteriores, por uma razão óbvia: O Pentatêuco (cinco primeiros livros da Bíblia) foram escritos segundo nos informa a Bíblia de Estudo Pentecostal, Ed. 1995, CPAD, entre 1445 a 1405 a.C., e o Livro do profeta Malaquias, entre 430 e 420, o que nos dá uma diferença aproximada de 1000 (mil) anos. Em todas as ocorrências da palavra “dízimo” no Antigo Testamento que são em número de 31, apenas em Malaquias se fala do “devorador” associado a sonegação dessa oferta, entendido por muitos como a punição para os não dizimistas atuais, no entanto é bom perceber que se essa punição é eterna, ou seja vigora ainda hoje, então todos os transgressores anteriores ao profeta Malaquias, foram beneficiados por Deus com a impunidade, pois não há maldição expressa contra eles: Não se falou do “devorador” dos “não dizimistas”, antes desse profeta. Para quem não sabe, Devorador, era o nome dado as pragas que assolavam as lavouras, em especial o gafanhoto. Se aceitarmos o contexto em que foi escrito o Livro, aceitaremos também que esse dito de

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Ml. 3.11 foi dirigido ao povo de Israel que vivia aquele momento, nem para os anteriores, nem para os posteriores.

Se o devorador alcançasse e consumisse os bens de um cristão em cumprimento a Ml. 3.9 “Com maldição sois amaldiçoados, por que me roubais a mim, vós, toda a nação”, então, de nada teria valido a morte de Cristo e as palavras de Paulo em Gl. 3.13 “Cristo nos resgatou da maldição da Lei...” A grande verdade é que o Livro do profeta Malaquias é extremamente mal aplicado, para satisfazer os interesses dos neodizimistas, porém sempre esbarrarão nas incongruências e contradições de sua pretensa “doutrina”. A Bíblia não deixa margem para o tipo de interpretação que querem dar ao texto do profeta, a maioria dos doutrinadores seguem essa linha porque o dinheiro ainda fala mais alto, inclusive no meio das lideranças cristãs.

Se perguntarem como faremos a obra? Poder-se-á responder: “Da maneira bíblica!”: Com a oferta voluntária dos reais convertidos a Cristo, simples e eficaz é essa oferta; nos ensina o Livro de Atos dos Apóstolos.

O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO

Quantas vezes é ordenado à igreja? A resposta a esta pergunta é a mesma se referirmo-nos ao sábado: nenhuma.

As ocorrências neotestamentárias são escassas e não há mandamento à igreja.Mt. 23.23 “Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da

hortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei, a justiça a misericórdia e a fé; devíeis, porém fazer estas cousas sem omitir aquelas”. Esse seria um excelente versículo para defesa da obrigação neotestamentária do dízimo, mas, somente se a Bíblia devesse ser apenas lida, nunca estudada, pois ao estudarmos melhor o texto, perceberemos que Jesus não ordena nada à igreja nessa passagem. Observe que o diálogo dele é com os fariseus, e Jesus como judeu que era não poderia dar recomendação diferente senão a observância correta da Lei e é isso que o Senhor determinou àqueles homens.

O fato de uma passagem como essa estar no Novo Testamento não é suficiente para se dizer que o crente deve dar o dízimo como uma obrigação, pois em inúmeras outras passagens se vê o Senhor Jesus obedecendo aos vários preceitos da Antiga Aliança.

Ora, no princípio do capítulo 23, de Mateus podemos ver Jesus falando à multidão e aos discípulos com respeito aos escribas e fariseus “fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem”. É plausível dizer que os fariseus com hipocrisia ou sem ela, guardavam toda Lei e assim ensinavam ao povo, logo se Mt. 23.23 fosse ordenança à igreja pelo fato de Jesus ter mandado os fariseus “darem” o dízimo, então, teríamos hoje um misto de cristianismo e judaísmo por força do que está determinado no v.3, pois ele mandou obedecer os escribas e fariseus. Não há dúvidas que eles ensinavam tudo da Lei de Moisés ao povo, não obstante Mt. 23.3 fosse uma ordem de Jesus não pode ser aplicada hoje, pois essa ordem específica não tem sentido de ser obedecida após a crucificação.

Jesus sempre ensinou o zelo da Lei e zelar por ela era uma das missões de Cristo, tanto que ao curar o leproso o Senhor disse em Mt. 8.4 “... vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou; para servir de testemunha.” Deveríamos presumir que qualquer leproso, ou enfermo, ao ser curado hoje devesse procurar um sacerdote israelita, caso ainda existisse, para apresentar a oferta ordenada por Moisés? Veja que é uma determinação do Senhor Jesus e está no Novo Testamento. A resposta certamente será negativa, pois é ponto pacífico a qualquer cristão que a Lei Pentatêutica encerrou-se na cruz, Ef. 2.15, por quê então os pregadores só querem por em validade as palavras de Mt. 23.23?

Em Hb. capítulo 7, como é do conhecimento de todos fala-se da semelhança de

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Melquisedeque e Cristo, e como nos versos desta epístola há referências ao dízimo e sendo ela um escrito do Novo Testamento tem sido bastante usada pelos neodizimistas como reforço a sua tese de obrigação do dízimo hoje. No entanto, nem uma leitura corrida do texto dá a idéia de ordenança à igreja, o que se vê é um paralelo entre a NATUREZA do sacerdócio, pois Melquisedeque embora não fosse parente de Abraão era sacerdote, ao passo que os descendentes posteriores de Abraão, mais especificamente a casa de Arão, é que foram nomeados por Deus para o sacerdócio. Assim Cristo é sacerdote segunda a ordem de Melquisedeque v.17, pois o Senhor não descendeu de Levi, mas de Judá V.14.

Antes de prosseguir nesse comentário quero me reportar a Hb. 7.9, pois na versão de João Ferreira de Almeida e outras se diz que Levi “... pagou dízimos.” Pagar subtende retribuição, obrigação, situação na qual Abraão não se encontrava. Ele não foi obrigado a dar, não há o menor indício no relato de Gênesis 14 que apoie essa idéia, ou seja, de que tenha havido um pagamento, o próprio texto original de Hebreus não traz a palavra “pagou”. Ela foi posta em substituição a uma tradução literal do grego , Perfeito do Indicativo Passivo do verbo DIZIMAR, e não tem equivalente em Português podendo ser traduzida por DIZIMOU, ou entregou o dízimo.

Outras versões traduzem Hb. 7.9 mais coerentemente:“... entregou-os por meio de Abraão”. Nova Versão Internacional“... entregou a sua décima parte na pessoa de Abraão” Edição Pastoral (Ed.

Paulinas)“... Na pessoa de Abraão submeteu ao dízimo até mesmo Levi ...” A Bíblia de

Jerusalém. Observe que de uma forma ou de outra essas versões tentaram resgatar a idéia de passividade em respeito a forma grega.

O dízimo neste capítulo de Hebreus de fato, pouco tem haver com sustento, embora seja esta sua finalidade instituída na Lei de Moisés. O fato é que esta passagem nada tem haver com ordenança no Novo Testamento, o dízimo aqui, é um elemento de comparação que apresenta o rei de Salém superior a Abraão, e permite mostrar superioridade do sacerdócio de Cristo em ralação ao que tempos depois seria instituído.

O receio de não ter uma fonte certa de bens, faz com que os cobradores modernos veja nestes versos ordenanças para se dar o dízimo, adotando a seguinte premissa: “Se Cristo é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, e a Melquisedeque foi dado o dízimo, devemos por conseguinte dar o dízimo a Cristo.” Esse silogismo parece bom mas há uma falha grave nele, testificada pela vida de Jesus aqui na terra. O campo de atuação sacerdotal de Cristo não se reveste da mesma liturgia ou necessidade que envolvia os antigos sacerdotes de Israel. Para eles existiam uma legislação pentatêutica própria. A vida de Jesus, registrada nos Evangelhos, prova que Ele JAMAIS recebeu uma semente de coentro sequer de quem quer que seja como oferta de dízimo, ora Cristo veio para cumprir a Lei, e esse cumprir tem sentido amplo; a Lei determinava que os dízimos deveriam ser dados aos levitas, dar o dízimo a Cristo seria descumprir a Lei, Abraão não descumpriu nem cumpriu, porque simplesmente a Lei ainda não existia quando ele deu o dízimo a Melquisedeque. Assim, essa premissa nos leva a uma conclusão falsa pelo simples fato de não se poder associar Cristo a dízimos, muito menos a forma como se cobra hoje.

O próprio texto de Hb. 7, no verso 12 ao dizer “Porque mudando-se o sacerdócio necessariamente se faz mudança de lei” prova que a cobrança do dízimo hoje está fundamentada apenas na vontade de seus cobradores que usam para isso passagens bíblicas arrancadas de seus contextos, como Ml. 3.10, Mt. 23.23 etc, por ventura seria possível alguém concluir que todas as leis concernentes ao sacerdócio foram mudadas, ou extintas, menos a Lei do sustento que estipulava dez por cento da renda alheia?

Sendo o dízimo uma Lei inerente ao sacerdócio levítico, e o texto diz que Cristo assumiu o sacerdócio eterno e diferente daquele, fez-se necessário assim a mudança da lei, que não seria uma nova edição da Lei de Moisés, claro! mas, como o próprio escritor

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aos Hebreus diz em 7.16 “... segundo a virtude da vida incorruptível.” e, considerando que esse novo sacerdócio não exige dízimos para si pois não precisa de mantimentos; “vive para sempre”, Hb. 7.24, podemos afirmar seguramente que não há qualquer fundamentação bíblica para se cobrar dízimos após a morte de Cristo, momento em que o antigo pacto com seu sacerdócio e todo o complexo legislativo que o envolvia, passou.

Utilizar Hb. 7 para com base nele cobrar dízimo é tão errado quanto utilizar o os versos do capítulo 4 da mesma epístola, para ordenar o Sábado, esta Segunda é utilizado pelos Adventistas do 7º Dia.

Vale a pena ressaltar que o dízimo no Novo Testamento não sofreu alteração de conceito, ele foi abolido mesmo, ou seja se deve ser dado que seja aos levitas e que seja pelos demais israelitas. A epístola aos Hebreus foi escrita talvez antes da destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 d.C, e diz em 8.4 “...Ora, se ele [Jesus] estivesse na terra, nem tão pouco sacerdote seria, havendo ainda sacerdotes que oferecem dons segundo a Lei ” (grifei). Logo se vê claramente que a pratica sacerdotal foi continuada pelos judeus e, naquela época, ainda existia o serviço dos levitas, embora, segundo plano de Deus, fosse completamente desnecessário, isso é mais uma prova contra a cobrança de dízimos à Igreja; o cap. 7 e verso 5 revela a intrínseca relação: Levi, sacerdócio, dízimo, tribos de Israel: “ E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerd ó cio tem ordem, segundo a Lei, de tomar o d í zimo do povo, isto é , de seus irm ã os... ” (os grifos são meus). Perguntamos quem, na época da epístola aos Hebreus, recebiam dízimos? Está claro que eram os levitas que recebiam do POVO, não de todos os povos, pois isso seria desobedecer a Lei sob a qual estavam, eles recebiam de seus irmãos, ou seja das tribos que herdaram a terra de Canaã, está muito claro nesta passagem que “irmãos” não se refere a irmãos espirituais que nos tornamos ao aceitar a Cristo, logo dispensa maiores comentários. O fato é que não se pode desassociar, a exemplo do sábado, o dízimo bíblico de Israel, por conseguinte os homens que tomam dízimos, não são outros senão os próprios Levitas, do mesmo modo que o povo que deve este tipo de contribuição não é outro senão as demais tribos de Israel, o v. 9 prova isso.

UMA HERANÇA COBIÇADA PELA IGREJA DE HOJE

Herança conforme define Dicionário de Aurélio B. de Holanda é o “Bem, direito ou obrigação transmitidos por via de sucessão ou por disposição testamentária.” É de conhecimento comum que toda herança se passa a outra pessoa, ou grupo de pessoas, por alguém que dantes possuía determinada coisa: material ou moral, e biologicamente podemos falar até em herança genética, o fato é que, aquilo que é adquirido por dinheiro, esforço próprio, achado etc, não constitui herança daquele os adquiriu por esses meios. A herança está bem caracterizada quando alguém possui um bem material ou imaterial e o transmite por direito, quer oral quer escrito aos seus o seus sucessores, podendo ter grau de parentesco ou não com aquele que o fez sucessor .

O Senhor Deus prometera a Abraão, Isaque e Jacó que daria a terra de Canaã, aos seus descendentes como herança, Ex. 32.13 “... multiplicarei a vossa descendência, como as estrelas dos céus e, toda esta terra de que tenho falado, dá-la-ei a vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente.” A palavra de Deus tornou-se uma disposição testamentária, assegurando aos judeus um direito eterno: o de possuir a terra prometida. O livro do profeta Ezequiel informa com detalhes as fronteiras e delimitações dessa terra, Ez. 47.13 a 48.22, dois dos versos gostaria de lembrar, os . 13,14 do cap. 47: “Assim diz o Senhor Deus: este será o termo pelo qual repartireis a terra em herança, segundo as doze tribos de Israel. José terá duas partes. Vós a repartireis em heranças iguais, tanto para um como para outro; pois jurei, levantando a mão, dá-las a vossos pais; assim que esta mesma terra vos cairá a vós outros em herança.” Estes versos apresentam a forma com que a terra da promissão lhes foi passada: UMA HERANÇA.

Não foi fácil para Israel manter-se na sua herança. A promessa de Deus vinculara as bênçãos à obediência e o povo eleito falhou, o que levou as nações

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cobiçadoras daquela extensão de solo, a por em prática o plano de tomada da nação, intencionando subjugar Israel. Por anos, décadas, centenas de anos, os descendentes de Jacó lutaram para manterem-se onde Deus os havia colocado, porém a terra dos judeus jamais deixou de ser cobiçada e também jamais deixou de ser deles por direito. Hoje se trava uma batalha, não só no campo diplomático, como no campo de guerra, que são as próprias áreas territoriais israelenses, reivindicadas pelos palestinos islâmicos, que consideram Israel intrusos naquela terra.

O fato é que se Israel não houvesse sido invadida pelo general Tito, no ano 70 d.C, sitiada e destruída; caso não houvesse ocorrido a diáspora (dispersão dos judeus pelo mundo inteiro), por causa da perseguição, os muçulmanos não poderiam reivindicar qualquer território lá como sendo seus, pois o lugar estaria sempre ocupado por judeus, sem interrupção na história, pelo menos do período de Cristo até nossos dias, infelizmente isso não aconteceu.

Os palestinos antes politeístas, tornaram-se através de Maomé, monoteístas (século VI depois de Cristo) e declaram que a terra santa lhes pertencia, de acordo com a vontade de Alá (Deus).

Israel só pôde ter sua terra de volta em 1948, quando a ONU reconheceu o estado judeu e aí judeus espalhados por todo mundo voltaram para lá, só que a contragosto, dividem a herança que é somente sua com um povo para o qual a Bíblia não prometeu aquela terra.

A leitura inicial, que fizemos, no livro do profeta Ezequiel nos relembra que os levitas não tomaram parte na herança, como as demais tribos, por isso se diz: “... José terá duas partes”. Ex. 47.13b, ou seja, a parte que cabia a tribo de Levi, foi dada a um dos filhos de José.

Já identificamos no capítulo O Verdadeiro Conceito, que a herança da tribo de Levi, compunha-se de dois quinhões, um Espiritual e outro Material: O próprio Deus se diz herança da tribo, e, lhes dá todos os dízimos que Israel enquanto nação usufruinte da terra de Canaã dava ao Senhor, determinando-os também como herança aos levitas.

Por acreditarmos na Bíblia não podemos considerar legítimo o fato dos palestinos reivindicarem para si qualquer dos termos de Israel, aliás nenhuma nação, povo, ou agremiação religiosa tem direito àquela terra, senão os judeus. Penso que a idéia de ser “Israel espiritual”, não permita a qualquer cristão de bom censo pensar em ter direito as terras da Cidade Santa. De igual modo, penso, que assim com a saída de Israel do seu território na diáspora não dá o direito a ninguém de possuir a terra das onze tribos de Israel, posto que é sua herança material, também dispersão do sacerdócio não dá o direito a ninguém de possuir a herança material de Levi (os dízimos). A Igreja não pode agir como “muçulmanos para com os levitas”.

Assim como a igreja não tem parte na herança judaica que é o território daquela nação, não pode ter parte na herança dos levitas, que é o dízimo, uma e outra coisa seriam impropriedades que a Bíblia se quer dá a entender ser possível. Não há permissão para repassar essa Santa Herança a outra pessoa ou povos, mesmo que por referência indireta.

Pode alguém dizer: “mas não é possível identificar os levitas hoje, e o nosso sacerdote é Cristo”. Isso não nos dá o direito de reivindicarmos a herança dos levitas porque o Testamento escrito a mando de Deus por Moisés não apresenta sucessor beneficiário da herança dessa Tribo, a nossa herança é outra muito superior. Quanto ao sacerdócio de Cristo leia o título anterior.

A herança que cabe a igreja, não é de cunho material, Pe. 1.3,4 “Bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma heran ç a incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para nós outros.” (destaquei).

Ao classificar de incorruptível a nossa herança futura o escritor sagrado mostra que não é nada de origem material e reforça dizendo que está reservada nos céus.

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Assim não é cristão ser “corretor” da propriedade dos outros. O dízimo tem dono: OS LEVITAS. Não é para uso da Igreja, nunca foi, o Novo Testamento prova isso.

CITAÇÃO OU CONFIRMAÇÃO

Muitos acham que o fato de Jesus haver falado em dízimo em 23.23 de Mateus, seja o suficiente para se entender que ele ordenou a prática. Mais uma vez precisamos salientar que ele não veio para descumprir a Lei, Mt. 5.17, outro fato relevante é a evocação que o Senhor faz da palavra Lei no v. 23, reconhecendo esse tipo de preceito como um mandamento contido nela. É digno de nota o trecho do versículo onde Jesus parece esta dando ordem; mas versões diferentes usam tempos verbais diferentes, por exemplo: João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida na Grafia Simplificada, traz: “ ... deveis, porém, fazer estas coisas e não omitir aquelas.”, já na Edição Revista e Atualizada no Brasil do mesmo tradutor encontramos: “... devíeis, porém, fazer estas cousas sem omitir aquelas.”. Qual o tempo verbal correto: “DEVEIS” ou “DEVÍEIS”? Se há dúvidas nas versões em nossa língua, talvez a língua original em que foi escrito o Novo Testamento nos ajude a entender melhor as palavras de Jesus: “ ... edei poihsai kakeina mh afienai .” THE GREEK NEW TESTAMENT, UBS 3ª Edição. edei é o imperfeito do verbo impessoal dei e significa: É NECESSÁRIO, como nos informa W. C. Taylor em Introdução ao Estudo do Novo Testamento Grego “ O verbo indica obrigação abstrata ou inerente.” Desta forma a versão atualizada tentou alcançar aquilo que propõe, isto é, a melhoria do texto em português da Bíblia, ao usar o tempo verbal imperfeito do verbo “dever”, de modo a se descartar a idéia requerida por alguns doutrinadores de que Jesus tenha dito isso imperativamente, quando, de fato, não foi, a abstração do verbo traz a idéia da obrigação moral, assim o sentido do verbo DEVER é consequentemente o de SER NECESSÁRIO, e isso está explícito no contexto do versículo. Se Jesus quisesse afirmar que era uma obrigação puramente do cumprimento da letra da Lei, o ato de dizimar, ele teria usado o verbo que significa: dever, estar em débito, e tem sentido de ESTAR OBRIGADO, só que, nesse caso, o indivíduo estaria também obrigado a ser justo, ter misericórdia e fé, mas, tais coisas não se podem ter por obrigação, a fé por exemplo, diz a Bíblia, é um dom de Deus, observe-se que aqueles fariseus já eram dizimistas, logo não era sobre dízimo a observação de Cristo e sim sobre aquilo que lhes faltava, aqueles fariseus eram fiéis no dízimo, mas sua contribuição era mecânica, fria e legalista.

O curioso é que as citações do dízimo no Novo Testamento estão ligados a fatos de repreensão de seus praticantes, por se acharem justificados pelo fato de cumprirem esse preceito, exceto a da epístola aos Hebreus que é de comparação.

Logo, se conclui que Jesus fez uma citação do dízimo, evidenciando qual a forma necessária para a obediência do preceito contido na Lei de Moisés pelos fariseus. Não existe a mínima evidência nessa passagem indicando uma extensão desse mandamento à igreja. Lembre-se: Jesus não havia morrido ainda, a Lei estava em vigor.

Imagine se formos entender como confirmação para os nosso dias as citações que Jesus fez das coisas contidas na Lei, como por exemplo: Oferta, perante um sacerdote levita no Templo de Jerusalém, que por sinal não existe hoje, por alguma cura de doença listada no Pentatêuco, Mt. 8.4; ou reconhecer que um homem deve casar com a mulher de seu irmão, caso este venha a falecer.

O QUE DIZER DE I CORÍNTIOS 9.13,14

Em qualquer artigo em favor da contribuição do dízimo nos dias atuais, sejam, livros, revistas ou comentários, se encontra essa passagem de I Coríntios:

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“Não sabeis vós que os que ministram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o Evangelho que vivam do Evangelho.”

Mas se o leitor ver o que está escrito em Nm. 18.8,9 “Isto terás das coisas santíssimas, do fogo: todas as suas ofertas, com todas as suas ofertas de manjares, e com todas as suas expiações do pecado, e com todas as suas expiações da culpa, que me restituírem, serão coisa santíssima para ti e para teus filhos. No lugar santíssimo o comerás; todo o varão o comerá; santidade será para ti”, concluirá facilmente que a referência feita pelo apóstolo Paulo não se trata de dízimo, mas daquilo que era sacrificado e que os sacerdotes tinham direito de comer. Conforme Deuteronômio 18.1 o Levita se alimentava de duas fontes “... ofertas queimadas do Senhor e da sua herança [dízimos] ...” No entanto é de conhecimento pacífico que o dízimo não era ministrado pelos sacerdotes e levitas, pois não era objeto de ministração sacerdotal, mas, apenas as ofertas, os holocaustos e sacrifícios. Logo, Paulo não poderia está se referindo a dízimos. Portanto, quando o Apóstolo recomenda aos que anunciam o Evangelho que vivam do Evangelho não estava em sua mente que os Ministros Cristãos devessem cobrar ou receber dízimos, mas, apenas, prover-se das ofertas voluntárias que eram praticadas pelos crentes, pois se esses versículos devessem ser entendidos como abono à cobrança do dízimo, então dever-se-ia apoiar também a participação de todas as outras ofertas sacrificadas nos moldes do Velho Testamento. Orienta-se viver do Evangelho e não do sustendo dos sacerdotes, nem do que é do templo, que na época de Paulo só existia o templo judaico. Podemos concluir seguramente que a citação de Paulo é referencial, não normativa, pois no v. 5 ele cita algo que somente no costume da época encontra respaldo, ou seja levar uma irmã nas viagens para servir de apoio. Aos casados poderia ser a esposa, mas e aos solteiros?

“A LEI NADA APERFEIÇOOU”

Quando a Bíblia diz que a Lei nada aperfeiçoou, ela não se enganou, nem isentou o dízimo, enquanto preceito da lei, de ser considerado como um preceito fraco e em vias de ser acabado por Cristo em seu tempo. Hb. 8.13 “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro, ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar.”

Os que defendem ainda hoje o dízimo, acham-no uma forma de contribuição justa, porque é uma proporção: 10% (dez por cento), ou seja, quem ganha mais dá mais e proporcionalmente igual ao que ganha menos, pois os 10% deste será menor. É justamente esse um dos pontos fracos e de imperfeição do dízimo, é essa execução da pura letra, enquanto ordenança, 2 Co. 3,6, que fez com que o sacrifício de Cristo o substituísse pelas ofertas voluntárias.

Considere uma família composta por um homem, sua esposa e um filho, cuja renda familiar seja de um salário mínimo, e agora imaginemos outra família que ao invés de um tenha quatro filhos, como poder-se-ia considerar perfeito e justo um sistema de tributação eclesiástica, como o dízimo, nesta situação? Um salário igual para sustentar três pessoas em uma família e seis na outra, quem terá contribuído mais? a frieza da matemática imposta pela letra da Lei nos diz que 10% é 10% em qualquer situação, no entanto o espírito que vivifica, mostra que os 90% que restaram a primeira família corresponde a 30% para cada pessoa, ao passo que para a segunda família resta apenas, para cada pessoa 15%. Caso a família seja maior ainda, pode-se ter um percentual individual tão pequeno a ponto de não ser suficiente para satisfazer as necessidades básicas de um ser humano, mais a isso o Novo Testamento responde: 2 Co. 8.13,14,15 “Mas não digo isso para que os outros tenham alívio, e vos, opressão; mas para que haja igualdade; nesse tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade, como está escrito: O que muito colheu não teve de mais; e o que pouco, não teve de menos.” Esse é o

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espírito do Novo Testamento Nenhuma contribuição à Igreja, pode fazer um crente passar necessidade, ao contrário a Igreja tem obrigação de suprir a necessidade deste, caso sua renda seja insuficiente para manter-se: “... principalmente os domésticos na fé.” Gl. 6.10.

A Igreja enquanto organismo não pode pensar em obrigações individuais e coletivas, como sendo coisas distintas. Para um corpo místico e uno como é o de Cristo, a ação de todos é a de cada um e a de cada um a de todos, e, mais uma vez diz a Escritura “Comunicai com os santos nas suas necessidade.” Rm. 12.13.

Assim o dízimo, como Lei imposta, jamais poderia tratar de forma justa irmãos cuja renda é precária, por isso se diz que a Lei nada aperfeiçoou. Os sacrifícios pentatêuticos não eram perfeitos, por isso Jesus veio; o sacerdócio não era perfeito, por isso Jesus veio, a Lei do sustento sacerdotal (os dízimos), não era perfeita, também, por isso Jesus veio e a encerrou de uma vez para sempre.

O QUE DIZER DOS TESTEMUNHOS

“Não tinha nada, mas dei o dízimo e o Senhor me abençoou”, “Quando mais dou o dízimo mais sou abençoado”, expressões como esta é possível de serem encontradas nos meios onde esse tipo de contribuição é cobrada, as perguntas oportunas emergentes desses acontecimentos são: a) Foi realmente o fato de se haver contribuído com 10%, que fez com que o indivíduo fosse abençoado ou a disposição sincera de ofertar ao Senhor? b) Foi o valor da oferta que Deus honrou ou a fé do ofertante? Lembremo-nos da Viúva Pobre. Ao passo que se conhece pessoas que deram o dízimo e foram abençoadas, também se conhece pessoas que não são dizimistas, mas são ofertantes, e são abençoadas da mesma forma, as vezes, até mais. Aquele que crer que somente sendo dizimista será abençoado, dá o dízimo, porque consciente ou inconsciente acha-se incapaz de ser alcançado pela graça de Deus sem uma prática retribuitiva. O fato é que a graça só é graça se independer de contrapartida, ou seja Deus nos dá sem que mereçamos.

Para muitos cristãos as dádivas de Deus se conseguem dando-lhe bens materiais, e para os tais o dízimo é um excelente pretexto, vem logo às suas mentes a promessa de Deus em Ml. 3.10, por sinal, feita aos israelitas. Nesse aspecto o dízimo não difere de um amuleto contra a má sorte financeira.

Será que Jacó precisaria fazer o entrançado de varas para olhar o rebanho de seu sogro por entre elas afim de que o gado nascesse malhado, ou aquilo serviu apenas como um motivador de sua fé? Se Jacó fosse capaz de crer que não precisava das varas para o gado nascer malhado, certamente Deus também teria honrado sua fé e o resultado seria o mesmo. Deus tem agido nesses milhares de anos de vida do homem aqui na terra de acordo com a qualidade de fé que o homem deposita nele. Jesus curou de várias formas quando viveu fisicamente aqui; na grande maioria das vezes testou a fé dos que iriam ser curados, mas ao centurião de Cafarnaum que lhe havia dito que não precisava ir a sua casa para curar o servo doente, elogiou-o dizendo “Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” Lc.7.9. O que nos faz concluir que os benefícios do Senhor, não nos vem porque fizemos alguma coisa para ele, mas porque é misericordioso.

Certamente se ouvirá esses testemunhos: “Dei o dízimo e fui abençoado.” mas dificilmente se ouvirá, embora também exista: “Não dei o dízimo, mas ofertei, e fui abençoado.” e “Não tinha nada a ofertar e Deus me abençoou.” Só que dizer que “não deu ou não dá o dízimo” como testemunho fará que o tal seja mal visto por todos os que fazem esse tipo de cobrança hoje, e a pessoa ficará “marcada” diante dos demais irmãos. Talvez haja mais irmãos que não dizimam e são abençoados, e estão em oculto, do que os dizimistas “abençoados” que estão em evidência.

Além destes argumentos, a própria palavra de Deus nos dá suficiente base para entendermos que os dizimistas abençoados somam-se aos não dizimistas, também

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abençoados, para comporem o rol dos agraciados pela infinita misericórdia do Senhor. Rm. 9.15,16 “Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.” Mt. 5.45 “Para que sejais filhos do Pai que está nos céus: porque faz que o sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.” Ora, se Deus beneficia aos mal e injusto, na atual dispensarão, por que puniria com escassez e maldição aos seus filhos que não podem contribuir com 10% ( dez por cento ) de sua renda?

O fator psicológico é forte nos dizimistas por entenderem que foram abençoados porque deram o dízimo, acham que se alguma vez não derem serão punidos por Deus, e muitos tem medo de confiar puramente em Deus e na sua longanimidade e misericórdia, preferem dar o dízimo de qualquer coisa, esperando a retribuição do Senhor, inconscientemente aplicam o dito popular “TOMA LÁ, DÁ CÁ”.

Os testemunhos, cujo registro são extra bíblicos, é um terreno de areias fofas, pois pode ser visto com olhos impróprios e mal entendidos, podendo ao invés de edificar, destruir, por exemplo: Certa Testemunha de Jeová disse-me um dia que um dos membros de sua religião morreu após receber sucessivas transfusões de sangue e ela testemunha isso como cumprimento ao que está escrito em At. 15, sobre a abstenção do sangue, quem a poderá convencê-la , facilmente, do contrário? Em um dos programas do missionário R. R. Soares, uma das fiéis testemunhou que estava com pouco dinheiro, e não sabia se comprava o comer das crianças ou pagava a taxa de associada do ministério, ao decidir por pagar a taxa, caminhando na rua achou certa quantidade de dinheiro que supriu a necessidade naquele mês. Onde fica, nessa história o pobre coitado que perdeu o dinheiro. O fato é que em todo meio religioso, sempre acontece algo que “fortalece” individualmente a fé de alguém naquilo que crer. Poderia citar inúmeros outros casos, todos com uma aparente confirmação da doutrina e crença particular de determinada religião, mas que por vezes não seria aceita por outra, por isso penso que seria muito melhor nos atermos puramente na Bíblia e ao que ela ensina, pondo a prova por ela os testemunhos desses pretensos milagres, aceitando o ensinamento do Livro Sagrado, mesmo que seja diferente do que aprendemos outrora. Pois assim foi o ministério de Jesus, quebrar, com o seu testemunho puro e verdadeiro, centenas de anos de farisaísmo, apresentando boas novas como o mesmo texto sagrado que aqueles religiosos usavam para escravizar as mentes de seus seguidores.

O MODELO DE CONTRIBUIÇÃO APROVADO NO NOVO TESTAMENTO

No prólogo desse estudo disse que não era contra a contribuição, nem o poderia ser, pois a contribuição para suprimento daqueles que trabalham na obra de Deus não é uma instituição apenas do Velho Testamento, o que difere é a forma, e qualquer que se ponha a trabalhar na obra de Deus sem reservas, precisará de ser sustentado, e certamente não poderia primariamente ser por fontes externas à igreja, já nos dias de Cristo, existia uma bolsa onde os discípulos e apóstolos depositavam algum dinheiro para suprir as necessidades básicas do grupo, o único problema é que ficava na mão de Judas.

É interessante notar que essa bolsa de contribuição apareceu de forma natural na narrativa bíblica, quem sabe era um costume da época para aqueles que seguindo um ideal, viviam em grupos. Também é importante perceber o não registro de qualquer ordem ou coação para que os discípulos depusessem algum valor ali, só se sabe da existência dessa bolsa por referência indireta quando a mulher usa um vaso de bálsamo para ungir aos pés de Jesus, Jo. 12.5, e, Judas interfere dizendo “Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?” e o relato continua esclarecendo: “Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava.” (destaquei).

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Como já estudamos, o dízimo não era uma obrigação da Igreja, assim, apenas um sentimento prevaleceu nos corações, quanto a contribuição, após a morte de Cristo, o de dar sem qualquer coação ou estipulação percentual, baseado no amor e na consciência.

Cristo quando ainda na terra já havia mostrado que a quantidade é suplantada pela qualidade do sentimento com que se oferta, exemplificando isso com a dádiva da viúva pobre.

A oferta da viúva pobre, por sinal, nos traz o conceito da qualidade do ato de ofertar, não a sistemática a ser adotada, imagine se a viúva, a cada centavo angariado depositasse no tesouro do Templo, um único pensamento nos vem a cabeça: ela se alimentaria? Se um indivíduo receber seu salário a cada 30 dias, por exemplo, e, no dia do recebimento entregar todo ele a uma igreja, qual seria seu sustento nos 30, 60, 90 dias seguintes, concluímos tranqüilamente que a oferta da viúva deve ser vista pelo ângulo do coração, não pela regra da prática, certamente, ela, pobre como era, recebia a partilha do dízimo, conforme prescrita na Lei, e os leptos que ainda restavam-lhe, com pureza de pensamento depositou no tesouro do Templo.

Os cobradores costumam, enfatizar que os doadores mesmo tendo pouco ou quase nada, deve contribuir com ofertas e dízimos, alegando a intervenção de Deus no suprimento destes. Pena que a fé exigida dos ofertantes não é praticada pelos recebedores. Por que não crêem que mesmo não recebendo dos desafortunados, Deus os poderia suprir também. A incredulidade deles, devora a fé, e ai preferem não arriscar na providência divina, “deixa que a providência atue nos que nada tem”, e aí cai bem o ditado popular que diz: “farinha pouca, meu pirão primeiro.” É esse o pensamento da grande maioria dos lideres hoje em dia, talvez não com essas exatas palavras, mas exatamente com esse coração.

O Senhor já não está fisicamente entre nós, como estava com os discípulos, quando verbalmente e abertamente tirava todas as dúvidas, no entanto deixou as escrituras, com suficiente informações para seguramente concluirmos acerca do comportamento dos primeiros cristãos, com relação as contribuições. Já em Atos dos Apóstolos capítulo 4.32-35, revela-se o sentimento e disposição em vender tudo que possuíam e depositar aos pés dos apóstolos. Evidentemente essa atitude não é uma obrigação, mas é extremamente nobre. O fato é que eles foram movidos pelo Espírito para assim procederem, pois a perseguição começou bem cedo na vida da Igreja, At. 5.17, com a perseguição e sem posses, o coração dos irmãos estavam livres para se dispersarem e ao mesmo tempo atenderem o “ Ide” de Jesus, pregando o Evangelho aonde quer que fossem.

Em testemunho dessa prática do dar da igreja primitiva quero citar o verso 35 cap. 4 do mesmo livro: “e depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.” A última expressão deste verso é contundente para o nosso estudo, pois revela que a arrecadação não visava a fartura ou encher de posses quem quer que seja, mas se lhes dava à medida da necessidade. Dessa forma de ação estavam submetidos também os apóstolos, “...então se distribu í a a qualquer um...” (grifei).

A contribuição no Novo Testamento está fundamenta no trinômio: Amor, Liberalidade e Prosperidade, um forte indicativo disto está em Rm. 12.8 onde lemos “... o que exorta, faça-o com dedicação, o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia com alegria.” (grifei) Certamente contribuir com liberalidade significa livremente, sem obrigação formal, prova inconteste de que não havia estipulação quantitativa ou de percentual, subjugando os cristão dos tempos apostólicos. Ainda em II Co. 9.7 “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” o verso 13 diz: “...glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao Evangelho de Cristo, e pela vossa liberalidade com que contribuis para eles e para todos.”. Fica extremamente difícil entender, por quê a maioria dos ministérios eclesiásticos usam

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parâmetros diferentes dos ensinados pelos apóstolos, eles ensinaram a Igreja, por isso aqueles que se dizem Igreja precisam seguir fielmente as orientações divinas dadas pelos apóstolos. Em todas as referências bíblicas do Novo Testamento que se fazem às contribuições a serem executadas pelos fiéis, nenhuma delas fala de dízimos, todas no entanto são como as citadas acima. Disto concluímos que o primeiro sentimento que o amor cristão nos fará invadir é o de alívio, pois aquilo que se dá com liberalidade é o que se dá por amor e está livre de interesse, não existindo o peso nas costas de uma obrigação, não exigida pelo Novo Testemento.

Outro fator a ser levado em consideração se depreende das leituras de versos como At. 11.29: “Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na judéia.”, onde se verifica quão inexistente era o dízimo no Novo Testamento Ora na Lei havia uma instituição dizimal para os necessitados, por quê não se cobrou dizimo com esse fim? No verso não se fala que seriam recolhidos dízimos para os necessitados da Judéia, atingidos pela fome predita pelo profeta Ágabo, At. 11.28, as contribuições surgiam à medida da necessidade, e o quanto se dava para suprir essa necessidade dependia de quanta posse dispunha o ofertante, isso se confirma em I Co. 16.2 “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme sua prosperidade...”.

Para mim os versículos que mais claramente ensinam o princípio com que devemos contribuir estão em II Co. 8.12,13 “Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade”, a contribuição só é cristã se visar a igualdade, se em qualquer circunstância alguém faz uso das contribuições, nessa se inclui os dízimos cobrados hoje em dia, para ter uma vida farta, enquanto outros irmãos vivem miseravelmente, não há como tirar outra conclusão, se não, que tal pessoa não está fundamentada no verdadeiro Evangelho, como já comentamos os sacerdotes do antigo Israel, precisavam suprir-se; para isso Deus instituiu o dízimo e as ofertas sacrificiais das quais também podiam se alimentar. No entanto, se alguém necessitasse, não deveria ficar privado desses benefícios, mesmo que não fosse sacerdote. Davi é um exemplo disso, Mt. 12.4, pois quando precisou comeu dos pães da proposição, quando somente o sumo-sacerdote poderia comer. Naquele momento houve a igualdade ensinada por Paulo: não faltou pão nem para um nem para outro. Quando se cobra qualquer contribuição, falo também de dízimos, de um assalariado, cuja renda é precária e insuficiente, ou se cobra de um “biscaitero”, por exemplo, está lhes impondo desigualdade, pois se alguém usufrui das ofertas a ponto de ter regalias que aquele jamais terá, pela sua condição de pobre contribuinte, esse alguém está pisando nos ensinamentos paulinos, que disse ele; cuidava ter o Espírito de Deus. Paulo disse que preferia trabalhar, ao mesmo tempo em que reconhecia o direito dos demais apóstolos; certamente não queria dizer que o direito dos apóstolos, nesse por menor, fosse superior ao dos demais irmãos. A fome é igual para todos os seres humanos. Segundo este verso escrito aos Coríntios, se há “mantimento” na “Casa de Deus”, mas falta na mesa dos irmãos, significa que tem alguma coisa de muito errada está acontecendo.

“NÃO ATARÁS A BOCA AO BOI QUE DEBULHA”

O apóstolo Paulo ao invés de citar Malaquias 3.10, coisa que sendo conhecedor da Lei jamais faria, cita outras passagens do Antigo Testamento para nos ensinar qual a forma neotestamentária de sustento dos ministros cristãos. A primeira é em I Co. 9.9 “Porque na Lei de Moisés está escrito: não atarás a boca ao boi que trilha o grão...” A segunda nesse mesmo livro e capítulo no v. 13: “Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar participam do altar?”. Este segundo verso já foi abordado em outro momento

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desse estudo, mas percebemos nessas duas citações de Paulo que ele não tem a mínima intenção em estipular pisos de contribuição, ao contrário, ao falar do “boi que trilha o grão” quer nos ensinar que os dedicados a obra podem fazer uso das arrecadações para o seu sustento. É importante a colocação do apóstolo ao falar desse ponto da lei, pois estava encarregado da arrecadação para benefício dos pobres de Jerusalém 2 Co. capítulos 8 e 9, assim quis informar que tinha de igual modo direito de participar dos benefícios na arrecadação. Mas uma vez em I Tm. 5.18 repete “Porque diz a escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: digno é o obreiro do seu salário.” Quão bom seria se os doutrinadores percebessem que Paulo ao falar de sustento dos ministros cristãos nunca fala de dízimos. Porventura seria possível a Paulo que disse: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo”, conhecer menos as palavras de Ml. 3.10, a ponto de nem as citar. Palavras estas que os modernos pregadores adoram fazer referência, exigindo contribuição dos irmãos. Se eles seguissem o conselho do apóstolo, certamente não fariam mal uso da palavra de Deus, nem lhes faltaria sustento.

Acaso teriam todos os apóstolos e discípulos esquecido de nos informar que o dízimo é a forma que o Novo Testamento determina de contribuição a ser praticada pela igreja? Certamente que não. O boi ao debulhar o grão não levava em conta a quantidade que debulhava, mas comia apenas o que precisava para manter-se. Assim deve ser o homem de Deus.

O DÍZIMO E A FÉ

Os membros dos diversos segmentos cristãos são instados a dar o dízimo, sob a alegação de que sejam fiéis ao Senhor e Deus os abençoará com bênçãos sem medida e cita-se, mais uma vez, Ml. 3.10. Diante do já amplamente abordado aspecto de contribuição, e considerando a contextualização de oferta no Novo Testamento, deparamos com a questão: FÉ.

A forma com se ensina hoje leva o contribuinte a acreditar que somente através do ato de dar, Deus o honrará e o retribuirá, dando-lhe mais bens materiais, assim no aspecto do dízimo a graça já não é graça, pois estaríamos recebendo de Deus na medida em que contribuíssemos, de modo que para dar o dízimo não se exige a fé genuinamente neotestamentária, mas a fé “mecânica”, ou seja, o ofertante entende que Deus é obrigado a dar por que ele, antes, deu o dízimo. Alguns querendo apresentar uma conotação de fé pura dizem: “não damos o dízimo para termos mais, mas, por que temos, damos”, ora se há tanta consciência assim, então não se precisa cobrar dízimo, tais ofertantes vão contribuir independente de qualquer estipulação, mas é justamente nesse ponto que outra questão de fé vem a tona: Os líderes não crêem que os membros de suas igrejas possam tomar o exemplo do Novo Testamento e dar, até mesmo, mais do que se espera. Uma única observação parece encaixar perfeitamente: eles não crêem no poder transformador da palavra que pregam; para eles se o cristão não contribuir espontaneamente com dízimos, então contribua por medo de estar “roubando ao Senhor”, ou por medo do “devorador”, predito pelo profeta Malaquias, usado sempre fora do contexto histórico por tais pregadores, contanto que contribuam. Somente um exame pessoal, consciente, imparcial, sincero e objetivo, revelará quem, de fato contribui por amor e não para evitar sentir-se em falta com Ele.

Observemos o caso de Ananias e Safira, At. 5.1-10, terá morrido Ananias e sua mulher pelo fato de não terem ofertado? De certo que não, o v.2 diz: “... de acordo com sua mulher reteve parte do preço (dos bens), e, levando o restante depositou-o aos pés dos apóstolos”, perceba que Ananias deu 50%, pelo menos, da renda obtida com a venda de sua propriedade, muito mais do que um simples dízimo - 10% - , ainda assim morreu. Ele não era obrigado a dar nada v.4, mas para mostrar-se um cristão como os demais, que vendiam e entregavam tudo aos apóstolos, resolveu agir com hipocrisia, tentando enganar ao Espírito Santo. A lição que tiramos disto é: O que quer que ofertemos, não

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devemos pensar matematicamente, se não for por amor e fé, nada se deve fazer.

ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO

Dos tempos apostólicos para cá, muita coisa mudou, não me refiro aos costumes, próprios de cada povo, mas ao próprio conceito de Igreja. Como corpo místico de Cristo a igreja deve ser identificada como um organismo, onde cada indivíduo interage em favor dos outros, nesse sentido todos são importantes e bem cuidados, I Co. 12.25, como organismo é viva e dinâmica, os “cargos” são apenas disposições do corpo que não pode ser todo PÉ ou todo MÃO ou todo CABEÇA, assim há variedade de membros, I Co. 12.14; mas, isso só se podia ser visto, claramente, na época dos apóstolos. Hoje, se vê um “dedo” aqui, uma “mão” ali, a “perna” acolá, o organismo dilacerado pela organização, o cunho filantrópico próprio das agremiações religiosas que está circunscrito apenas na formalidade da letra da Lei de nosso país, pois de fato enquanto entidade não lucra nada, mas isso não impede de diversos líderes, individualmente lucrarem. No geral bastaria ver uma declaração de renda ( I.R. ) de um ministro principiante e de um com a carreira já avançada. Como presidente que deseja ver sua empresa cada dia maior, os líderes e seus ministros, quais funcionários executivos que pretendem um dia também chegar lá (na condição de Diretor), orientam aos operários (membros), que tragam os dízimos para o crescimento da obra, ao passo que os operários passam privações, os empresários da fé vivem tranqüilamente “administrando a Igreja de Deus”. A organização não permite o organismo viver, e como remanescente, este último, resiste e clama pela volta de Cristo.

Diferencia-se uma organização de um organismo quando a entidade passa a dar mais valor aos pretextos que a qualidade de vida do cristão individualmente, bem como dos serviços que deveriam ser realizados e o efeito deste sobre as pessoas, por exemplo, a alguns anos atrás uma igreja enviou missionários a um país onde já havia missão evangélica, inclusive do mesmo tronco denominacional, mas de origens patrícias diferentes. Com o pretexto de ser necessária “uma missão brasileira” naquele país foram enviados os missionários para lá. Para não ser excessivamente crítico não quero entrar no grau de parentesco do missionário com o ministério do local de origem, mas o fato que se ressalta é justamente o uso que a organização faz do dinheiro arrecadado como o dízimo. É no âmago obra de Deus, ou interesses denominacionais e até pessoais que motivam obras deste tipo? Sem falar nos longos anos que o ministério fundado lá precisou ser sustentado por dinheiro oriundo do Brasil, enquanto igrejas de bairros daqui permanecem décadas erigidas em tábuas, sem forro, cobertas com telhas de amianto. Como demorou a crescer a “obra de Deus” naquele lugar? Ao invés de unir-se ao ministério já existente lá e, como um organismo, trabalhar para que o todo prosperasse, o sentimento sectário imperou e fez surgir uma nova Igreja (denominação) naquele país. Onde está o corpo? Por isso se cobra cada vez mais o dízimo para sustentar procedimento como estes, onde se dá muito valor as decisões tomada nos gabinetes, e pouco valor às necessidades das pessoas enquanto seres humanos. O fato é que somente um crente atento consegue ver o que, de fato, está acontecendo.

SERVINDO A DOIS SENHORES

Se de fato os dízimos cobrados hoje servissem puramente ao bem que dizem destinar-se, ou seja a chamada manutenção da obra de Deus, então não deveríamos ver melhoras financeiras significativas na vida dos administradores desses recursos. Não que seja contra a melhoria de vida de quem quer que seja, mas se isso ocorre com o dinheiro alheio, acredito que a Bíblia, enquanto código universal de ética, não o permite.

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O fato comum e compreendido em qualquer meio onde se cobram dízimos, com raras exceções, é que os administradores dos recursos têm um modus vivendi acima da média dos demais irmãos, não por trabalho secular que executem, contra os quais, desde que seja honesto, não há o que se falar, mas justamente o fato de não exercerem esse trabalho, viverem folgados e não abrirem mão de cobrar dízimos de seus fiéis, é que se permite evocar Mt. 6.24 “...não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mamom significa riquezas ( dinheiro, bens terrenos), pois abdicando desse tipo de cobrança, poderá ocorrer duas coisas: a) Se a igreja pastoreada é de fato Igreja de Deus, a contribuição será na medida da necessidade. b) Se a igreja pastoreada, contribui por imposição, haverá uma queda brusca na arrecadação, podendo inclusive quebrar a organização religiosa chamada igreja. No primeiro caso as lideranças consequentemente viverão uma vida mais modesta, pois usufruirá das arrecadações, o necessário para manter-se, e se não serve a Mamom, ficarão felizes com isso, pois serão irmãos dentre os irmãos. No segundo caso, por confiar numa contribuição por coação que com a liberação não ocorreria os líderes se desesperarão. Primeiro porque verão sua “qualidade vida” diminuírem, segundo porque pode haver tantos compromissos assumidos de gabinete que faliria a organização cristã a que seja vinculado.

Sem dúvidas é bastante sedutor para qualquer cristão, ou grupo de cristãos, a facilidade de administrar uma multidão de recursos financeiros conforme bem lhes aprouver, o que não seria tão fácil se pedissem apenas o necessário para certa obra, discutida e definida.

“O DÍZIMO, UMA DOUTRINA BÍBLICA”

Este é o tema de um estudo ministrado nos dias 17 e 31.08.99, no Templo Central das Assembléias de Deus do Estado de Pernambuco, convenção Recife, e que me chamou a atenção. De fato é uma doutrina bíblica e o estudo seria belíssimo se estivesse empenhado em mostrar isso, mas ao contrário deixar transpirar em suas folhas, a intenção de direcionar o dízimo como obrigação para os crentes atuais, e nesse propósito cometeu inúmeros equívocos.

O estudo está divido em 10 tópicos, sobre alguns dos quais desejo fazer breves comentários, pois julgo necessário esclarecer as “linhas cruzadas” que recheiam as 04 folhas escritas com o intuído de “ensinar” o povo de Deus.

Na página 2, especificamente no tópico III, o comentarista reconhece o direito dos levitas ao dízimo e o motivo desse direito no item 1, mas tropeça no item 2 ao dizer que o dízimo acrescido de 1/5 ocorria quando “...era frutos do campo que por não poderem trazer era convertido em dinheiro, Lv. 27.30-33.” Curiosamente o capítulo 27 de Levítico já havia sido citado no comentário à página 1, ao falar sobre Os diversos tipos de Oferta na Bíblia, no item “b” registando “O objeto prometido no voto poderia ser resgatado, casos especiais, sempre com um acréscimo de 1/5, Lv. 27.” Ao assim falar reconhece a excepcionalidade do resgate, embora a Bíblia não fale em voto nessa passagem e nos deixa dúvidas quanto aos motivos que o levou a confundir o dízimo, citado no mesmo capítulo 27 de Levítico, vendo-os por dois ângulos. Não sei se mal entendido do escritor ou se foi atingido por suas próprias palavras no tópico II, item 1 “por ignorância doutrinária e espiritual.”

Outro tropeço no item 3, do tópico III, ao falar de dízimo de mais de 10%, no princípio do estudo quando esclareceu o significado da palavra dízimo, recorreu a etimologia e definiu como “a décima parte” . Logo, dízimo não pode ser diferente disso, mas simplesmente a décima parte. Os próprios versículos referenciados pelo escritor da apostila, onde consta o estudo, não nos permite concluir que haja dízimo de mais de 10%, leia a citação, feita pelo comentarista, de I Sm. 8.15,17 “E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus eunucos, e aos seus criados ... dizimará o vosso rebanho e vós lhe servireis de criados.” Esse dízimo é distinto do dízimo levítico, o qual

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era herança, esse, porém constituía-se um tributo a ser pago ao rei, líder que Israel até então não tinha, e exigiram, ao que Deus consentiu com ressalvas. É oportuno ao estudante da Bíblia ler, a essa altura, todo o capítulo 8 de I Samuel. Esse dízimo é outro mas não diferente de 10%. Será que o item comentado é a repetição do tópico II, item 1, já citado?

Contradições parecem marcar esse estudo da liderança da A.D. em Pernambuco acerca do dízimo, pois ao comentar sobre a vigência da obrigação de dar esse tipo de oferta, registra no tópico IV, item 03: “Jesus Cristo é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque o qual recebeu o dízimo, e não segundo a ordem levítica, Hb. 7.1-17” Se é como entende o comentarista, então não há qualquer sentido nas citações que faz de Ml. 3.8,9,10, como fez no tópico V, em um de seus itens, tópico VI, item 1.4, VI, item 3; VIII, itens 2 e 3; IX, item 2, etc, pois esses tratam do dízimo dos levitas, ao qual o palestrante faz questão de distinguir do dízimo de Melquisedeque, registrando na mesma página 3, um fato que nem a história bíblica, nem a história eclesiástica sustentam que é o pagamento do dízimo a dois sacerdócios distintos: “Pelas palavras do livro de Hebreus, escrito 60 anos depois da palavra de Cristo vemos o dízimo pertencendo ao sacerdócio levítico e ao sacerdócio de Melquisedeque, Hb. 7.21...” Sinceramente... se isso aconteceu, então foi descoberto em agosto de 1999, data do estudo; acho, porém, que é mais um engano, pois até de LIVRO a Epístola aos Hebreus foi chamada. Quanto a questão do sacerdócio de Cristo o leitor encontrará uma abordagem detalhada no comentário que fiz sob o tema O Dízimo no Novo Testamento.

Outro ponto marcante do estudo são as citações do Novo Testamento correlacionando-as com o dízimo, sem que, de fato, essas correlações existam, por exemplo na alínea “c” do item 4 do tópico IV se diz: “O apóstolo S. Paulo fez alusão de forma indireta, II Co. 9.6”. Lendo a citação temos: “E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará.” Se percebe claramente total ausência de referência ao dízimo nesse versículo, na verdade o apóstolo estava tratando das ofertas ao pobres da judéia, assunto abordado no contexto dos capítulos 8 e 9 da Epístola.

No tópico V, entitulado “Qual a Finalidade Específica do Dízimo?” O comentarista foi vago no item 1 ao dizer apenas “Manter a casa de Deus, Ml. 3.10” Pois Ml. 3.10 não fala de manutenção, mas de mantimento, e desse mantimento usufruíam os sacerdotes de acordo com a Lei Mosaica. Já o item 2, o comentarista rompe com a própria lógica bíblica ao fazer uso das passagens de Lc. 10.2-7; Fl. 1.5-7; Lc. 8.3; Tt. 3.13, afirmando que o dízimo serve para “manter os obreiros do Senhor.” Mas uma vez, acho oportuno transcrever algumas das citações que fez, Lc. 10.2-7, fala da missão dos setenta discípulos, enviados de dois em dois, no verso 4 temos: “Não leveis bolsa, nem alforje...” logo não houve coleta prévia para mantê-los, e o v. 7 diz: “E ficai na mesma casa comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa.” Seria esse salário provindo do dízimo dos dono da casa, como quis dar a entender o comentarista? Certamente que não, é completamente descartável a idéia de que Jesus tenha orientado os discípulos a participarem do direito dos levitas (os dízimos), e mais improvável ainda que os judeus se prontificassem a entregar o dízimo sem conhecerem quem eram aqueles homens.

Jesus não os induziria a descumprir a Lei. Enquanto na terra era cumpridor da Lei Mt. 5.17, então o que os discípulos comeram não foram os dízimos, pois se assim fossem estariam descumprindo a Lei que Jesus veio cumprir.

O v.7 diz que os discípulos comiam e bebiam “do que eles (os dono da casa) tiverem...” Logo era o mantimento comum dos proprietários da casa onde estavam. Outra prova está no mesmo verso quando se diz: “Não andeis de casa em casa.” Então as outras casas da região onde estivessem estariam isentas, logo conclui-se que nem uma nem outra ou qualquer casa estaria obrigada a pagar o dízimo aos discípulos, observe-se que a orientação de comer foi dada aos discípulos, não aos dono da casa de cederem os alimentos, o ato de dar era voluntário. A mesma premissa serve para a citação que fez de

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Lc. 8.3. Achar que a mulher do procurador de Herodes dava dízimo, é um pouco demais. Não tem qualquer sentido, até porque conforme o Antigo Testamento, sob o qual estavam até a morte de Cristo, o responsável pela entrega do dízimo, cobrado dos latifundiários, era feita pelos homens, não pelas mulheres. As outras citações também estão descontextualizadas, apenas uma simples leitura é o suficiente para identificar isso.

Outro tópico que salta aos olhos é o VII, intitulado “Como se Deve Proceder com o Dízimo.” Nos três itens cita-se versículos do Novo Testamento que nada têm a ver com o dízimo. No Item 1, citou-se II Co. 9.7 e duas vezes I Co. 16.2, nos itens 2 e 3, lendo o contexto o estudante da Bíblia perceberá que falam da coleta aos pobres de Jerusalém, nada do que pretende o ministrante do estudo. Nesse mesmo tópico se diz que “Ninguém deve dar o dízimo por imposição ou constrangimento mas de forma voluntária de expontânea vontade.” Mas desbanca essa verdade neotestamentária no tópico seguinte pois diz que aquele que não dá o dízimo está fadado a: 1) Constantes dificuldades financeiras. 2. Ausências das bênçãos materiais e espirituais. 3. São considerados ladrões do que é do Senhor. 4. Não ama a Cristo. 5. Sofrerá as penas de condenação, e no item 6, parece ter havido um erro de digitação pois Dt. 28.1-5, citado pelo autor do estudo, fala de bênçãos, no entanto ele pretendeu falar de maldição e esta encontra-se em Dt. 28.15. Diante disso não tem sentido de se falar em espontaneidade, dita no tópico VII, mas já é como diz o dito popular “É por livre e expontânea PRESSÃO.”

O comentarista também não cita em seu apostilado que existia o dízimo dos pobres, Dt. 14.28,29, pois quer fazer acreditar que para os pobres só existiam as ofertas voluntárias. Fica difícil acreditar que ao preparar o seu estudo o instrutor não tenha deparado com essa passagem bíblica, pois ela é uma das 31 referência diretas que o Antigo Testamento faz do dízimo. Para a maioria dos ministros cristãos de hoje quando se fala de dízimo, está se falando da manutenção de sua qualidade de vida, a qual eles não pretendem dividir como os pobres, a obra de Deus é ao que parece, pretexto.

A única conclusão que tiro desse estudo elaborado pelas A.D. de Pernambuco, é que ele é completamente inconsistente, contraditório, coasivo, onde abundam as citações fora de contexto e, usos e associações impróprias de versículos com o dízimo.

Habituado a estudar diversos segmentos religiosos como Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo dia, Mórmons, Congregação Cristã do Brasil, e inúmeras outras religiões, posso testemunhar que nunca vi tanta inconsistência argumentativa juntas em tão pouco espaço, apenas quatro páginas. Se a intenção foi orientar o povo de Deus, temo que tenha ocorrido exatamente o contrário e acredito que estudos dessa qualidade sirvam para distanciar o povo do Evangelho genuíno para uma prática judaizante e escravista.

O TESTEMUNHO DA HISTÓRIA

Se pudéssemos nos transportar aos primeiros anos da morte de Cristo para acompanhar os apóstolos e discípulos do Senhor, certamente poderíamos verificar que eles não contribuíam com o dízimo. Já sabemos que não havia templos cristãos e que eles freqüentavam as sinagogas e o Templo judeu, At. 13.5 ; At. 3.1, não haveria lógica em entregar o dízimo no Templo em obediência a Ml. 3.10, pois se assim fosse estariam alimentando o sacerdócio levítico, que embora houvesse sido extinto por Cristo, como já vimos, ainda estava em atividade, até porque, ao que parece, os primeiros cristão não eram agro-produtores, elementos sobre os quais o dízimo era tributado. Jesus havia sinalizado, quando ainda na terra, que os filhos do reino não tinham obrigação com as cobranças instituídas na Lei; por exemplo Mt. 17.24-27, reporta-se a uma cobrança fixada em Ex. 30.12,13. Com o fim da Lei, na forma que conheciam, certamente passou a existir mais um motivo para os discípulos não entregarem o dízimo, caso estivessem subjugados. O livro de Atos dos Apóstolos, as epístolas e o próprio Apocalipse não falam de uma única contribuição a título de dízimo praticado pela Igreja, considerando a

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origem e o significado do dízimo ensinado no Velho Testamento, não haveria sentido.A própria história testifica a ausência desse tipo de contribuição. Os escritores

cristãos da atualidade que fazem matéria sobre o dízimo possivelmente conhecem os fatos mas acham por bem não citá-los, pois o dízimo é um fonte de renda com uma boa margem de segurança. E muitos preferem consciente ou inconscientemente ignorar o fim da Lei nesse por menor, ignorar a história, coagir, baseado no medo e cobrar a décima parte da renda dos membros de sua congregação. As seguintes informações dos chamados “ Pais da Igreja”, quanto às práticas antigas de contribuição cristã, podem ser encontradas no livro A Pastoral do Dízimo, Edições Paulinas, as quais destaque em negrito.

A DIDAQUÉ é um documento datado entre 80 e 120 d.C., faz diversas citações a livros do Novo Testamento e é usado, inclusive, pelos críticos textuais do Novo Testamento Pela data que foi escrita é contemporânea do Evangelho de João e do Apocalipse, nesse documento encontramos a seguinte declaração: “Todo verdadeiro profeta que quer estabelecer-se entre vós, é digno de seu alimento ... Por isso tomarás primícias de todos os produtos da vindima e da eira dos bois e das ovelhas e darás aos profetas, pois estes são os vosso grandes sacerdotes. Se porém, não tiverdes profetas dai-o aos pobres...”. Há pontos interessantes nesse relato dignos de nota: Os profetas são considerados os sacerdotes, e somente as primícias, com uma possível conotação figurativa, sendo um tipo de oferta diferente do dízimo é que poderia ser entregue, dízimo cristão nem se fala.

JUSTINO, o Mártir, viveu entre 100 e 167 d.C., este que sofreu martírio por fidelidade ao Evangelho, registra a forma de participação dos bens dos crentes na igreja primitiva, sem deixar margem de dúvidas de que houvesse outra forma de contribuição vigente àquela época: “Os ricos e os de boa vontade contribuem conforme seu livre arbítrio; esta coleta é entregue ao que preside e com ela atende a órfãos, viúvas, prisioneiros, estrangeiros e todos quantos estão em necessidade.” (este relato está registrado no Manual Bíblico de H. H. Halley, 9ª Ed. Pg. 676, Edições Vida Nova)

S. IRINEU, aproximadamente 202 d.C., confirma a Didaqué ao considerar o dízimo abolido e a prática de ajudar aos pobres uma orientação neotestamentária.

TERTULIANO, aproximadamente 220 d.C., certifica que as contribuições entre os cristãos eram completamente espontâneas.

A DIDASCÁLIA, entre 250 e 300 d.C., é um conjunto de Normas Cristãs que orientavam os fiéis, registra: “O Senhor nos libertou ... para não estardes mais presos aos sacrifícios, às oferendas ... e também aos dízimos, às primícias, às oblações, às dádivas e aos presentes; outrora era absolutamente necessário dar essas coisas. Mas já não estais obrigados por tais determinações, por isto, na medida em que o puderes, terás o cuidado de dar.” (La Didascalie, Ed. Nau, 1902, pp 48, 57s).

Somente a partir de 380 d.C., quando o declínio espiritual e a apostasia já havia invadido a igreja, e ganhava cada vez mais terreno, a ponto de no século seguinte ser instituído o culto a Maria, é que se vê uma cobrança escrita, São Jerônimo, talvez influenciado pelo contexto político religioso, comenta o profeta Malaquias nos seguintes termos “O que dissemos a respeito dos dízimos e das primícias que outrora o povo dava aos sacerdotes e levitas, sabei que isso vale também para os fiéis na igreja; a estes foi prescrito não somente dar dízimos e primícias, mas também vender tudo que possuem.”

Portanto tudo mostra a completa ausência de dízimo na Igreja primitiva, dízimo hoje é um conceito alheio aos primeiros cristãos e denota um afastamento do Evangelho genuíno, por detrimento deste, visando o bem estar de outrem.

OS JUDEUS DE HOJE E O DÍZIMO

Imaginemos uma situação hipotética em que não existisse cristianismo no

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mundo hoje em dia. Agora voltemos a nossa atenção para o povo praticante do judaísmo, nome da religião que tem o Velho Testamento, principalmente a Torá (cinco primeiros livros da Bíblia), como base de sua fé, para eles o mundo que hipotetisamos é uma realidade. Eles não crêem na inspiração divina de uma linha se quer do novo testamento, posto isso reflitamos: se os adeptos de judaísmo utilizam a Bíblia apenas de Gênesis a Malaquias, portanto não crêem na abolição, reformulação, adaptação do V.T., por que será que no meio judaico não se ouve falar em dízimo? Você já parou para pensar nisso...? Eles diferentemente de muitos cristãos tem uma visão extremamente séria e sistemática dos preceitos contidos no V.T., fazer adaptações sem apoio bíblico, pelo menos na porção dela que crêem, não é algo que queiram se apegar, para eles a idéia do dízimo é muito clara: somente a sacerdotes levitas (primeiro dízimo), para consumo próprio (segundo dízimo) e necessitados (terceiro dízimo), o local do dízimo: no templo de Jerusalém. O fato é que com a invasão de Jerusalém no ano 70 d.C. o general romano Tito destruiu completamente a cidade, os sacrifícios e o ofício levítico foram interrompidos, e estão até hoje, por isso, embora os judeus tenham a sua religião, que poderia ser chamada de proto-cristianismo, com os seus líderes - rabinos - os seus lugares de culto - sinagoga (não se considera este local um templo) - espalhadas em quase todos os lugares do mundo, não fazem uso do dízimo, eles estão cientes da impropriedade que seria desconsiderar os preceitos delineados por Deus para esse tipo de oferta ao cobrar, caso cobrassem, mesmo entre eles próprios, para dar aos oficiantes da reunião. De fato, se considerariam desviados de plano de Deus. Os cristãos de um modo geral fizeram isso sem nenhum pudor, além de não se considerarem errados ao assim proceder, e, ainda cobrem de temor com pragejos ou ameaças diretas ou indiretas dizendo que Deus vai tomar as contas àqueles que não pagarem.

É POSSÍVEL O DÍZIMO HOJE?

Diante de todas as argumentações levantadas contra a cobrança do dízimo nos dias de hoje, jamais se poderá pensar em um tipo de contribuição nos moldes veterotestamentários, no entanto, não se pode pretender proibir os cristãos de darem 10% de sua renda se assim preferirem, desde que completamente espontâneos. Qualquer que seja a quantia que se proponha a dar com alegria será aceita diante de Deus, se desejar dar dízimo que o seja, se “bízimo” ou “trízimo” melhor ainda, cada um conforme sua prosperidade. Os fiéis são livres. Da mesma forma que Paulo não proibiu a quem quer que seja de observar o SÁBADO, ao dizer em Rm. 14.5 “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente.” Também não se pode negar o direito de quem queira contribuir dessa forma.

A dificuldade maior está na facilidade de corrupção do gênero humano, da qual a Igreja, enquanto ajuntamento de pessoas, não está livre ou imune. O dízimo poderia ser um excelente referencial para manutenção das atividades cristãs, desde que os crentes fossem instados a dar livremente. Se houvesse possibilidade de nunca ser corrompida essa idéia, poderia se falar em todas as passagem acerca do dízimo como ilustração de uma antiga prática obrigatória, que os servos de Deus de hoje, poderiam exercer sem estarem obrigados. A experiência ocorrida em algumas igrejas prova que isso tende a não ocorrer, pois se implanta de púlpito, o dízimo voluntário, - inspirado em Abraão e Jacó -, e anos mais tarde já se diz que esse mesmo dízimo é obrigatório, - inspirado na Lei e em Ml. 3.10. Se as lideranças não conseguem manter-se incorruptas quanto a firmeza do propósito de se instaurar um dízimo voluntário, seria melhor, então, evitar referências correlacionadoras desse tipo de contribuição, sem que fosse impedida. No entanto, sua citação, esperando-se que não ocorra um desvirtuamento do tipo de sentimento que invadiu a igreja primitiva, para que possamos praticar o ofertório da mesma forma que os primeiros crentes faziam.

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DA IGREJA OU DA TRIBO DE LEVI? 40

Acredito que não seria tão difícil migrar o sentimento de medo e obrigação encrostado hoje na mente dos fiéis para um sentimento de conscientização e disposição para contribuição espontânea, pois não estamos falando de uma tarefa político-eclesial a ser desenvolvida pelos ministros ou mesmo de um trabalho de mídia, mas, da busca da unidade de um organismo vivo: A IGREJA DE DEUS, que tem como ajudador e convencedor o Espírito Santo. Não se trata em diminuir a arrecadação da igreja, pois isso, na verdade, poderia aumentá-la; mas, se trata da coisa certa a se fazer. Se um doutrinador conseguir, através do Espírito, despertar o desejo da espontaneidade em todos que compõem o Corpo, muito melhor será, pois a Bíblia mostra em Atos dos Apóstolos, quão eficaz, em todos os sentidos, é uma igreja que assim se comporta. Isso porém só é possível se aquele que prega crer que sua pregação é ungida por Deus, ou mesmo, se realmente, ele próprio, a exemplo de cada cristão, é um ungido.

CONCLUSÃO

Espero, sinceramente, que após a leitura das linhas acima você possa estar consciente que não há nada na Bíblia que obrigue a Igreja a dar o dízimo, nem nenhuma maldição cairá sobre aquele que não contribui de forma dizimal, não significando isso que não devamos estar comprometidos com o sustento de quem faz a obra. Paulo assim como Cristo nos deu o exemplo de como fazer para provermo-nos enquanto (igreja), do sustento necessário à sobrevivência, no entanto nenhum deles nos deram exemplos de regalias, vida simples para todos, tanto ricos quanto pobres, segundo a Bíblia devem ter o Pão Nosso de Cada Dia.