Djalma Argollo Quando o Amor Veio a Terra

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    1 Edio

    Do 1 ao 5 milheiro

    Criao da capa: Objectiva Comunicao e MarketingEquipe de Reviso: Lcia Arajo e Sheldon Menezes

    Reviso Final: Maria Anglica de MattosEditor: Adenuer Novaes

    Copyright 1997Fundao Lar Harmonia

    Rua Dep. Paulo Jackson, 560 Piat

    41650-020 Salvador Bahia [email protected](71) 3375-1570 e 3286-7796

    Impresso no Brasil

    ISBN 978-85-86492-23-5

    Todo o produto da venda desta obra destinado s obrassociais da Fundao Lar Harmonia

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    Djalma Argollo

    CNPJ (MF) 00.405.171/0001-09Rua Dep. Paulo Jackson, 560 Piat

    41650-020 Salvador Bahia Brasil2007

    QUANDO O AMOR VEIO TERRA

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    Argollo, Djalma.Quando o amor veio terra. Salvador:

    Fundao Lar Harmonia, 2007

    224 p.

    1. Espiritismo. I. Argollo, Djalma,1940. II. Ttulo

    CDU 133.7CDD 133.9

    ndice para catlogo sistemtico:1. Espiritismo 139.9

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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    A Jesus, filho de Jos de Nazar,que me ensinou a viver um ideal: o meu amore o desejo de, um dia, ser to bom quanto ele.

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    Sumrio

    1. A Viso de Zacarias ............................................ 31

    2. A Anunciao ..................................................... 35

    3. Visitando Isabel .................................................. 41

    4. Momento Difcil ................................................. 49

    5. Nasceu-vos Hoje um Salvador ....................... 55

    6. A Circunciso ..................................................... 65

    7. Entre os Doutores ............................................... 69

    8. A Despedida ....................................................... 77

    9. Elias Retorna ...................................................... 81

    10. O Incio da Nova Era ......................................... 87

    11. Eu o Sou... ....................................................... 97

    12. O Dia Inesquecvel............................................. 107

    13. Fenmenos Notveis .......................................... 117

    14. Resgate Interrompido ......................................... 129

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    15. Histrias que Transformam................................ 139

    16. Alimentando Almas e Corpos ............................ 147

    17. Na Calada da Noite ............................................ 155

    18. Uma Sesso Esprita no Tabor ........................... 161

    19. Expulso dos Vendilhes do Templo ................. 169

    20. A ltima Semana ............................................... 175

    21. A Traio ............................................................ 181

    22. Trevas Densas .................................................... 191

    23. Madrugada de Luz ............................................. 209

    24. Os Felizes Galileus ............................................ 217

    25. Betnia: o ltimo Encontro ............................... 225

    Posfcio .................................................................... 231

    Sugestes Bibliogrficas .......................................... 233

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    Prefcio

    Jesus o maior fenmeno da Histria. Com menosde trs anos de atividade missionria, sua influncia foi,e continua sendo, decisiva no desenvolvimento social dahumanidade. Alguns espritas parecem desconhecer que por causa dele que a humanidade passou por radicalinflexo evolucionria em seu processo histrico.Historiadores imaginam que a hegemonia de Roma foidestruda pelas invases brbaras, mas se esquecem que,

    na sua maioria, os brbaros j haviam se convertido aoCristianismo por causa dos esforos missionrios dehereges, como os novacianos, arianos e outros.

    Mais ainda, foi Jesus quem desencadeou o nicomovimento de renovao social que tem direito ao ttulode revoluo em toda a histria da humanidade. Todos osmovimentos que os historiadores louvam em seus tratadosforam, at hoje, meras maquiagens sociais que mudaram

    apenas aspectos superficiais da sociedade sem atingir oponto fundamental o Homem. Por isso, ainda no seconseguiu uma sociedade justa em todos os sentidos. Queo homem deve ser o objeto principal de qualquermovimento transformador, uma derivao lgica daprpria definio durkheimiana da sociedade como sendoa sntese dos indivduos que a compem. Ora, observando-se os problemas da sociedade humana contempornea,

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    pode-se ver que a sntese denuncia a qualidade dos

    componentes. A prova dessa afirmao pode serconstatada em dois grandes movimentos sociais aRevoluo Francesa e a Revoluo Bolchevista.

    A primeira desfraldou as bandeiras de Liberdade,Igualdade e Fraternidade. Diziam seus lderes quecomeava uma nova ordem poltico-social na histriahumana. No haveria fome, discriminao social,privilgio ou despotismo. Todavia, mesmo em pleno

    processo revolucionrio, todo esse iderio se perdeu naorgia autofgica das diversas faces que dele faziamparte.

    Com a Revoluo Russa de 1818 foi diferente. Elaconseguiu criar um Estado Socialista, vencendo as reaescontra-revolucionrias, bem como as tentativasneutralizadoras das naes capitalistas. Dado o primeiropasso a conquista do poder pela classe proletria ,

    comeou a estruturao do processo poltico-econmicoque terminaria por construir, segundo pensavam os seusidelogos, o Estado Comunista. O estgio poltico bsico a ditadura do proletariado foi iniciado e nuncaterminou. Foi liquidado por um defeito congnito da teoriainspiradora o Materialismo. Produto artificial na culturahumana, o Materialismo uma filosofia desagregadora,por radicalizar o individualismo e estimular o egosmo.

    Certas pessoas, e at entre as mais cticas, se fazemapstolos da fraternidade e do progresso; mas afraternidade supe o desinteresse, a abnegao da per-sonalidade. Com a verdadeira fraternidade, o orgulho uma anomalia. Com que direito impondes um sacri-fcio quele a quem dizeis que quando morre tudoacabou para ele; que o amanh talvez no seja maisque uma velha mquina desconjuntada e jogada fora?

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    Que motivo tem ele para se impor qualquer privao?No mais natural que, durante os breves instantes

    que lhe concedeis, procure viver o melhor possvel?Da o desejo de possuir muito para melhor gozar. Dessedesejo nasce o cime dos que possuem mais que elee, desse cime, para a cobia do que eles tm umpasso. O que o retm? a lei? Mas a lei no abrangetodos os casos. Direis que a conscincia, o senti-mento do dever? Mas sobre o que baseais o sentimen-to do dever? Esse sentimento tem alguma razo de sercom a crena de que tudo acaba com a vida? Com

    essa crena s uma mxima racional: cada um porsi. As idias de fraternidade, de conscincia, de dever,de humanidade e mesmo de progresso no passam depalavras vs. Oh! Vs, que proclamais semelhantesdoutrinas, no sabeis todo o mal que fazeis socieda-de nem de quantos crimes assumis a responsabilida-de! Mas eu falei de responsabilidade? Para o ctico,no existe responsabilidade; ele s presta homenagem matria.1

    V-se, nesses raciocnios, uma anlise lgica dasconseqncias do Materialismo Histrico, que os fatosvieram testificar.

    O Marxismo, com seu brilhante humanismo,pretendendo a criao de uma sociedade justa e igualitria,no teve condies de sobreviver ao embate contra oegosmo das coletividades em que triunfou. A perspectiva

    materialista do sistema levou Marx concluso de que,no havendo alma que sobrevivesse aps a morte, aconscincia humana era apenas um epifenmenoproduzido pelas reaes fsico-qumicas do sistemanervoso. Ela refletiria, to somente, o movimento da

    1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. 2 ed. 1860. Traduo Djalma MottaArgollo. Salvador-Bahia: Fundao Lar Harmonia, 2007. p.421-2.

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    matria no seu entorno. Por sua vez, a ao consciente do

    ser humano sobre o meio provocaria modificaes, e omeio modificado voltaria a agir sobre o homem, levando-o a uma nova transformao, e assim sucessivamente. Asociedade, sendo regida pela infra-estrutura econmica,as relaes de produo a ela inerentes construiriam asuperestrutura ideolgica, a qual, refletida pela cons-cincia atravs dos procedimentos sociais, comandaria ocomportamento individual e coletivo. Para resolver o

    problema das desigualdades e injustias da sociedadeatual, seria bastante socializar os meios de produo paraque os indivduos mudassem por via de conseqncia.Acontece que a teoria tem um diagnstico, at certo ponto,correto do problema, mas a eliminao do Esprito,enquanto entidade preexistente e sobrevivente ao corpo,foi um erro fatal. Primeiramente, porque o Esprito,mesmo que no existisse, teria de ser levado em conta,

    dado o critrio lgico utilizado pela crtica marxista dasociedade a dialtica hegeliana. Essa dialtica preceituaque toda tese exige, necessariamente, uma anttese paraser construda uma sntese, tese de um novo binmio tese-anttese em nvel mais elevado. Nessa linha de pensa-mento, a matria requer, como premissa coligada eantagnica, a negao da matria, ou seja, o Esprito, paraque a equao do raciocnio se apresente harmnica, com

    todos os seus termos claramente posicionados. Aoconsiderar o espiritual uma irrealidade, portanto descart-vel, os corifeus do Materialismo Histrico serraram ogalho onde estavam sentados. Esqueceram-se da anttese,mergulhando unilateralmente no interior da tese paraconstrurem raciocnios e tirarem concluses. Comoresultado, suas premissas foram edificadas sobre falsossupostos, o que prejudicou a elaborao sistmica.

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    O Esprito imperativo categrico requerido pela

    anlise dialtica, no apenas por ser uma varivelnecessria, mas porque uma realidade da Natureza. Semele, seria impossvel a existncia da matria, por ser a

    fora que lhe d consistncia e objetividade. Sem qualquerdvida, como Marx e Engels concluram, o Esprito e amatria interagem dialeticamente, um modificando ooutro, em regime de aperfeioamento constante.Diferentemente da conscincia evanescente do Marxismo,

    o Esprito permanente, preexistindo e sobrevivendo aocorpo que o alberga temporariamente. Os resultados dainterao com o meio material ficam indelevelmenteimpressos nele.

    Sem dvida que, em curto prazo, o apelo humanistado Marxismo capaz de motivar alguns idealistas a gestosnobres de desprendimento e doao, mas, a longo prazo,mostrou-se incapaz de inspirar o mesmo sentimento s

    coletividades. Os regimes comunistas foram corrodospelos germes da dissoluo inerentes prpria base dosistema, terminando por implodirem fragorosamente,tragados pelo vrtice gentico auto-aniquilante. Isto , oegosmo findou por vencer a diminuta capa de altrusmo.

    Um dado importante para anlise que, quando oManifesto Comunista foi lanado em fevereiro de 1848,com ele, o Materialismo Histrico passava a ser a

    ideologia da proposta poltica da Revoluo Proletriapara implantar uma sociedade de absoluta justia eigualdade social. interessante notar que assim comeao Manifesto: Um espectro ronda a Europa o espectrodo comunismo2. Acontece que, no ms seguinte,

    2 MARX,Karl; ENGELS, Friedrick. Manifesto do partido comunista. So Paulo:Ed. e Liv. Anita, 1989. p.29.

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    justamente no dia 31 de maro, numa casa da pequena

    vila de Hydesville, no Condado de Wayne, no Estado deNova York, nos EUA, um espectro no apenas rondou,mas literalmente assombrou o mundo o espectro deCarlos Rosma, o infelizpedlar, ali assassinado por causade um punhado de dlares. Ora, enquanto o Manifestobaseava-se numa ideologia que propugnava o mundomaterial como nica e absoluta realidade, o Esprito docaixeiro viajante demonstrava a continuidade do

    psiquismo e todas as suas funes, alm do fenmeno damorte numa realidade dimensional que envolve e permeiao citado mundo, ou seja, o mundo espiritual. Assim, oMaterialismo Histrico foi contestado pelos fatos logonos primrdios de sua existncia, desmoralizado em seuniilismo esdrxulo e socialmente nefasto, como demons-trado linhas atrs.

    Que o egosmo o maior obstculo elevao moral

    da Humanidade, reconhecido pelos ensinos espirituais:

    Qual vcio podemos considerar radical?J dissemos muitas vezes que o egosmo, pois delederiva todo o mal. Estudai todos os vcios e vereisque na sua base est o egosmo. Podereis combat-los, mas no conseguireis extirp-los enquanto noatacardes o mal pela raiz, no tiverdes destrudo acausa. Que todos os vossos esforos, portanto, sejam

    nesse sentido, pois no egosmo se encontra a verda-deira chaga da sociedade. Quem quiser aproximar-se, desde esta vida, da perfeio moral, deve extirpardo seu corao todo o sentimento de egosmo, poisele incompatvel com a justia, o amor e a carida-de. Ele neutraliza todas as qualidades.3

    3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. 2 ed. 1860. Traduo Djalma MottaArgollo. Salvador-Bahia: Fundao Lar Harmonia, 2007. p. 366. (Questo 913).

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    No que tange falncia do sistema socialista, podem

    ser alegados vrios outros fatores na v tentativa de seencontrar uma explicao diferente, como, por exemplo,a presso econmica sistemtica das naes capitalistas,lideradas pelos Estados Unidos da Amrica do Norte.

    verdade que isso aconteceu. Todavia, se os povosque viviam a experincia marxista houvessem adquiridonoo efetiva de dedicao ao bem coletivo, crendofirmemente nos valores que os regiam, teriam suplantado

    qualquer obstculo, mesmo custa de imensos sacrifcios.Existe um exemplo formidvel a esse respeito, que nosfoi dado pelos cristos dos primeiros sculos. Mesmoperseguidos de forma cruel pelo Imprio Romano,colocados fora da lei em regime absoluto, sendo-lhesnegada a mnima proteo legal, dever impostergvel dequalquer Estado Civilizado, mantiveram-se fiis aospostulados abraados, embora lhes custassem a tortura

    pessoal e dos entes queridos, bem como a morte. Foramtrs sculos, que no so trs dias, de luta ciclpica, emque a arma dos oprimidos era a perseverana, o perdo ea caridade para com os algozes, ou seja, a anti-revoluo.

    Um outro elemento que tem prejudicado astentativas de transformao social por via revolucionria o emprego da violncia para implantao dos princpiosidealizados. Jesus foi taxativo: Todos que tomam a

    espada, pela espada perecero 4.O problema com a forma da luta revolucionria

    justamente o mtodo empregado para assumir o poder.Na Revoluo Francesa e na Revoluo Russa, a sanhaassassina dos revolucionrios vitoriosos foi um tristeespetculo de crueldade. Acontece que s o corpo morto,

    4 Mt 26, 52.mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

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    mas o Esprito permanece guardando toda sua condio

    emocional, ou seja, odiando e antagonizando seus algozes,aos quais acompanha ininterruptamente, procurando portodos os meios e modos a desforra, considerada justa.Alm do mais, a Lei de Causa e Efeito estabelece queestamos ligados, impreterivelmente, s conseqncias denossas aes, boas ou ms, num sistema de responsa-bilidade impostergvel pelo resultado das atitudes eescolhas tomadas. Por isso, as vtimas de uma revoluo

    terminam por voltar vida fsica atravs da reencarnaono crculo familiar ou social dos seus verdugos diretos eindiretos, os quais lhes restituem automaticamente o podertirado, o que o mesmo que anular os ideais que susten-tavam o movimento, a mdio e longo prazos.

    A violncia desnecessria, cometida quando daimplantao do Socialismo, levou a maioria dos executa-dos ao obsessiva sobre seus algozes, bem como a um

    permanente trabalho de solapa do sistema, pela inspiraode planos e decises que, ao longo do tempo, redundariamem fracasso, lanando ao descrdito a instituiosocioeconmica.

    Trabalhando o egosmo dos indivduos e dascorporaes, os exilados da espiritualidade findaram porconseguir fazer da ditadura do proletariado uma tiraniabrutal. A abnegao revolucionria foi substituda pela

    opresso estatal. No lugar do despotismo czarista,entronizou-se o despotismo ideolgico do partido nicono poder. Pela centralizao de todos os meios de produ-o nas mos do Estado, todos viraram funcionriospblicos, instituindo-se um governo paralelo, corporati-vista, mais poderoso do que o Institucional a ditadurada burocracia. Os burocratas passaram a se conceder todasas mordomias e benesses possveis enquanto o povo era

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    instado aos maiores e mais difceis sacrifcios, comoacontecia no regime anterior e acontece nos pases doterceiro mundo, como o Brasil. A falta de exemplos dealtrusmo por parte dos quadros dirigentes privou acoletividade de uma fonte natural de estmulos ao despren-dimento e abnegao. O materialismo entronizado comoviso de mundo, e permanentemente difundido pelapropaganda estatal, levou ao apodrecimento das institui-es por incentivar a falta de carter e a inescrupulosidadeem todos os escales do governo, gerando a revolta e oantagonismo na populao, a qual terminou por impor aqueda do sistema, o que aconteceu em apenas trs anos.

    De acordo com o exposto, s existir uma sociedaderealmente justa quando se conseguir implantar em cadaindivduo a certeza de que ele um Esprito imortal. Veja-se bem que dissemos certeza, e no uma mera crenaimposta de cima para baixo, como aconteceu na Europa,sia Menor e Norte da frica quando da transformaodo Cristianismo em religio de Estado. As religiestradicionais diferem do Espiritismo nessa condio bsica.Enquanto aquelas informam, baseadas no critrio daautoridade, sobre a imortalidade da alma, esse leva certeza, por comprovar o fato experimentalmente.Enquanto as religies apelam para o credo quiamabsurdum5, a Doutrina Esprita estatui que F inabalvels aquela que pode encarar a razo face a face, em todasas pocas da humanidade 6.

    Conscientizado o homem da sua condio deEsprito, a etapa seguinte faz-lo viver as conseqncias

    5 Creio, porque um absurdo. mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm6 KARDEC, Allan. Lvangile selon le spiritisme. 3 ed. Paris:Les Editeursdu

    Livredes Esprits, 1866. Pgina de rosto. Traduo Djalma Motta Argollo.(Il nya de foi inbranlablequecelle qui peut regarder la raison face face, a tous lsages de lhumanit)

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    dessa conscientizao, pela reforma de hbitos e atitudes,

    de acordo com a tica crist, instando-o para viver oaltrusmo e o amor, destruindo o impulso centralizadorda personalidade o egosmo.

    Mas ser que existe um processo para a eliminaodo cncer infeliz e virulento do egosmo? Sim, existe.

    Encontra-se no Livro dos Espritos a frmulafundamental para eliminao desse fator negativo, causareal das misrias morais do Homem.

    Qual o meio de destruir o egosmo?De todas as imperfeies humanas, a mais difcil deerradicar o egosmo, porque se prende influnciada matria da qual o homem, ainda muito prximoda sua origem, no pde se livrar e essa influnciaconcorre para mant-lo: suas leis, sua organizaosocial, sua educao. O egosmo diminuir com a pre-dominncia da vida moral sobre a vida material e,sobretudo, com a compreenso que o espiritismo vos

    d do vosso real estado futuro, no desnaturado pelasfices alegricas. O espiritismo bem compreendido,quando estiver identificado com os costumes e as cren-as, transformar os hbitos, os usos e as relaes so-ciais. O egosmo tem por base a importncia da per-sonalidade; ora, o espiritismo bem compreendido, re-pito, faz ver as coisas de to alto que, de certa manei-ra, o sentimento da personalidade desaparece dianteda imensido. Destruindo essa importncia ou, pelomenos, em fazendo v-la tal como , combate neces-sariamente o egosmo.Ofendido pelo egosmo dos outros, o homem torna-seegosta, porque sente necessidade de se colocar nadefensiva. Ao ver que os outros pensam em si prpriose no nele, levado a ocupar-se mais de si que dosoutros. Que o princpio da caridade e da fraternidadeesteja na base das instituies sociais, das relaeslegais entre os povos e entre os homens, e o homem

    pensar menos em si prprio quando vir que os ou-

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    tros pensam nele. Sofrer a influncia moralizadorado exemplo e do contato. Em face dessa recrudescn-

    cia do egosmo, preciso uma verdadeira virtude parafazer o homem abnegar da sua personalidade em pro-veito dos outros que, em geral, no so reconhecidos; sobretudo aos que possuem essa virtude que o rei-no dos cus est aberto; a eles est reservada a felici-dade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, nodia do juzo, quem s tiver pensado em si prprio serapartado, e sofrer do seu abandono (785). 7

    A base das conquistas citadas est nos ensinos deJesus, que o Espiritismo, como Consolador Prometido8,recorda e aprofunda.

    O rabi Galileu nunca assumiu uma postura deFilsofo das massas; muito pelo contrrio. Os ensina-mentos que ministrou sempre foram dirigidos, de formaparticular, para cada um dos seus ouvintes, e continuam ater um carter individual. Seu postulado sociolgico a

    teoria do fermento: O Reino dos Cus semelhante aofermento que uma mulher tomou e ps em trs medidasde farinha, at que tudo ficasse fermentado 9.

    O significado bvio; a transformao social deveacontecer de dentro para fora. Ser necessrio que osindivduos se transformem individualmente, em primeirolugar, antes de exigirem a modificao dos outros. A partirda, ajam como fermento, levedando a massa lentamente,

    mas com segurana. O Mestre sabia que uma sociedade sempre a sntese dos elementos que a compem. Atravsdo exemplo particular, cada um que realize sua reforma

    7 KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. 2 ed. 1860. Traduo Djalma MottaArgollo. Salvador-Bahia: Fundao Lar Harmonia, 2007. p.367 (Questo 917).

    8 Negar esse carter da Doutrina Esprita, sob o argumento de que muitapretenso, de um simplismo to grande que no merece maior ateno.

    9 Mt 13, 33.

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    ntima atua positivamente, modificando outros seres

    humanos. uma aplicao da Lei de Imitao definidapor Gabriel Tarde, considerado o Pai do PsicologismoSocial, no sculo XIX. Essa Lei explica como se d oprocesso de socializao dos seres humanos, cujo apren-dizado se faz por imitao dos atos sociais em vigor nasociedade, como a fala, a cultura, os usos e costumes etc..Note-se que, na citao de Fnelon, seu Esprito diz amesma coisa quando fala na importncia do exemplo para

    aprimoramento das relaes sociais, pela difuso denormas ticas de conduta.Na medida em que se expande a vivncia dos

    princpios ticos do Evangelho do Cristo pela vivnciaindividual, a imitao faz com que as atitudes moraiselevadas se propaguem pelos indivduos, promovendo amudana das unidades sociais numa progresso constanteatravs dos sculos, culminando por transformar comple-

    tamente a sociedade. Por isso, o Mestre insta com seusseguidores, de todas as pocas, para que exemplifiquemSeus ensinamentos:

    Vs sois o sal da terra: porm se o sal se tornar insulso,com o que ser salgado? Para nada mais serve, a noser para se jogar fora e ser pisoteado pelos homens.Vs sois a luz do mundo, no pode uma cidade situa-da sobre um monte ser escondida. Nem se acende umalamparina e se a pe sob uma vasilha, mas no cande-labro, e brilha para todos que esto na casa. Assim,deixai brilhar vossa luz ante os homens, para que pos-sam enxergar vossas realizaes nobres e louvem vos-so Pai, que est nos cus.10

    Allan Kardec, inspirado pelos Espritos Codifi-cadores, endossou tal proposta de forma decisiva: A

    10 Mt 5, 13-16.

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    humanidade progride pelos indivduos que se aperfeioam

    e se esclarecem pouco a pouco. Ento, quando eles setornam a maioria, lideram e arrastam os outros 11.Essa revoluo, sem qualquer dvida, a nica com

    capacidade para promover a reformulao social absoluta,realizando as utopias sonhadas por grandes pensadores,desde Plato at Karl Marx, sem retrocessos destrutivos.

    Mas, Lei de Imitao, ser necessrio ajuntar oprincpio natural da reencarnao, explicada e aprofun-

    dada pela Doutrina Esprita. Os indivduos que lutam pelaprpria transformao moral no o conseguem numa sexistncia, de um modo geral, e ao retornarem, depois dadesencarnao, vida fsica, tero sempre maior facilidadeem aderir ao processo, progredindo gradualmente no seuobjetivo. Alm disso, sua influncia sobre os outros ho-mens se propaga no tempo atravs das vidas sucessivas,aumentando o poder de atuao da citada Lei. O nmero

    crescente de Espritos em processo de renovao j se fazsentir no momento presente, quando surgem e se expan-dem, como nunca, os movimentos em prol da modificaopositiva do comportamento humano, tanto individualcomo coletivo. Est nascendo uma conscincia de valorescomportamentais ticos em todos os nveis da atividadesocial. Movimentos pela valorizao da vida, pelo desapa-recimento dos mtodos cruis da tortura, pelo respeito

    liberdade de pensamento, pela preservao da Natureza,pela paz entre as naes, pela melhoria das condies deexistncia dos pobres, pelo apoio aos deficientes fsicos,pela abolio da fome etc.. Esses so indicadores positivosde que as proposies de Jesus esto agindo como um

    11 KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. 2 ed. 1860. Traduo Djalma MottaArgollo. Salvador-Bahia: Fundao Lar Harmonia, 2007. p.324 (Comentrio Questo 789).

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    levedo na estrutura social, construindo lenta, mas segura-

    mente, o Reino de Deus na face da Terra.Profundamente vinculada aos ensinos de Jesus, aDoutrina Esprita no pode ser dissociada deles, sob penade perder sua finalidade o aprimoramento moral eespiritual do ser humano. por isso que todas as tentativasde estabelecer um Espiritismo inteiramente cientfico, isto, podado de sua feio religiosa, tende ao mais absolutofracasso. O assunto j foi abordado em outra obra.

    Aqui se pe a discusso do problema do Espiritismolaico.Segundo os defensores desta idia, o Espiritismo deve-ria cortar os laos com qualquer tipo de religiosidade,principalmente a crist, para, sobrepairando as diferen-as e radicalismos religiosos, universalizar-se, cumprin-do o objetivo de fazer progredir a humanidade.Argumentam que a cristianizao da Doutrina Espri-ta pe barreiras sua aceitao por parte da maioria

    no-crist da Humanidade, o que possvel pelos seusprincpios fundamentais que, de resto, j so aceitospor grande parcela dos povos, desde a mais remotaantiguidade, independentemente do nvel de civiliza-o que possuam. Allan Kardec concorda com estaparte, escrevendo que o mrito da Doutrina est emprovar o que os outros sempre afirmaram, apoiadosapenas no critrio da autoridade ou da tradio.12

    Analisando o problema, escreve o Codificador:Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por baseas verdades fundamentais de todas as religies: Deus,a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas fu-turas, sendo, porm, independente de qualquer cultoem particular. Seu objetivo provar queles que ne-

    12 ARGOLLO, Djalma Motta. O novo testamento: um enfoque esprita. 2 ed. SoPaulo: Mnmio Tlio, 1994. p.45-9.

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    gam ou duvidam, que a alma existe, que ela sobreviveao corpo e que sofre, aps a morte, as conseqncias

    do bem ou do mal que praticar durante a vida corprea:o objetivo de todas as religies. Quanto crena nosespritos, tambm se encontra em todas as religies,assim como em todos os povos, porquanto, em todaparte em que h homens, h almas ou espritos. Suasmanifestaes pertencem a todas as pocas, e, em to-das as religies, sem exceo, h narrativas a este res-peito. Catlicos - gregos ou romanos -, protestantes,

    judeus ou muulmanos podem crer nas manifestaes

    dos Espritos e ser, por conseguinte, Espritas. A pro-va est em que o Espiritismo tem adeptos em todas asseitas. Como moral essencialmente cristo, porquea doutrina que ensina nada mais que o desenvolvi-mento e a prtica daquela do Cristo, a mais pura den-tre todas, cuja superioridade ningum contesta, pro-va evidente de que a expresso da lei de Deus. Ora,a moral est ao alcance de todos. O Espiritismo, in-dependente de qualquer forma de culto, no aconse-lhando nenhum e no se preocupando com dogmas

    particulares, no constitui uma religio especial, poisno possui nem sacerdotes, nem templos. Aos que lhe

    perguntam se fazem bem em seguir tal ou tal prtica,apenas responde: Se sua conscincia aprova o quevoc faz, faa-o. Numa palavra, o Espiritismo nadaimpe a ningum. No se destina aos que tm f, e aquem esta f suficiente, mas numerosa classe dosinseguros e dos incrdulos. No os afasta da Igreja,

    porquanto j esto dela moralmente afastados, de

    modo total ou parcial, mas os leva a fazer trs quar-tos do caminho para nela entrarem; cabe Igreja fa-zer o resto.13

    O pensamento de Kardec pleno de lgica ecoerncia argumentativa; contudo, a psicologia humana,

    13 KARDEC, Allan. O espiritismo em sua mais simples expresso. In: __.Iniciaoesprita. Traduo Joaquim da Silva Sampaio Lobo e Cairbar Schutel. 12 ed.Sobradinho-DF: Edicel, 1990. p.27-8.

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    egocentrista, raciocina geralmente de acordo com padres

    maniquestas, em que as proposies so mutuamenteexcludentes.O Espiritismo como ponto axiologicamente neutro,

    em que as religies pudessem se encontrar acima dequaisquer sentimentos antagnicos, no vingou. A oposi-o hostil da Igreja Catlica e das Igrejas Reformadasps seus crentes que aceitavam o pensamento Espritadiante de um impasse ou abjuravam o conhecimento e

    os ensinos que os fatos demonstravam verdadeiros, retor-nando crena nos dogmas vetustos, senis e irracionais,ou seriam implacavelmente excomungados como herti-cos. Paralelamente a isso, deslancharam perseguiosistemtica contra os espritas, que atingiu paroxismosde intolerncia e perversidade. Kardec assim descreveesses lamentveis episdios inquisitoriais:

    Em certas localidades, no foram indicados (os esp-

    ritas) censura de seus concidados, at serem perse-guidos e injuriados nas ruas? No se ordenou aos fiisfaz-los fugir como enfestados, no se dissuadiram osempregados de entrar para o seu servio? No se soli-citou s mulheres separarem-se de seus maridos e aosmaridos de suas esposas, por causa do Espiritismo?No se fizeram despachar empregados, retirar a ope-rrios o seu po de cada dia e a necessitados o po dacaridade por serem espritas? At cegos no foram

    expulsos de certos hospitais, porque tinham recusadoabjurar suas crenas? 14

    E, finalmente, conclui o sbio lions:

    Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente osespritas que voltavam a ela, forou-os a se refugia-

    14 KARDEC, Allan. O que o espiritismo. 12 ed. Sobradinho-DF: Edicel, 1990.p.99.

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    rem na meditao. Pela violncia de seus ataques, alar-gou a discusso e a levou para um novo terreno. O

    Espiritismo no era mais que simples doutrina filos-fica; foi a prpria Igreja que o desenvolveu, apresen-tando-o como um temvel inimigo. Foi ela, enfim,quem o proclamou como nova religio. Era uma de-monstrao de inpcia, mas a paixo no raciocina.15

    Atingido o status de religio, que o Codificadorprocurara evitar, a situao se tornou altamente compli-cada. Acabou-se a neutralidade axiolgica. Desde ento,

    todo aquele que se torna esprita abandona sua religiotradicional numa tpica atitude de converso.

    Se o problema to grave entre pessoas da mesmatradio crist, imagine-se com as de tradies absoluta-mente diversas, ou at antagnicas, como a dos islamitas.Nesse caso particular, a situao tem um agravante a afir-mao supramencionada de ser, como o , a moral espritaabsolutamente crist, que Kardec afirma ser superior a todas

    as outras, ponto fatal de rejeio ao Espiritismo.Pretender-se retornar ao status quo ante pela simples

    excluso do Evangelho segundo o Espiritismo, de formaarbitrria, do elenco da Codificao de uma ingenuidadegritante. Seria preciso fazer uma recodificao, eliminandodela toda e qualquer afirmativa de cristianidade, o que,alm de absurdo, totalmente impossvel.

    A Doutrina Esprita surgiu como o Consolador

    prometido pelo Cristo, como afirmamos linhas atrs. Suamoral a estabelecida nos Evangelhos, como escreveuKardec, e ratificou a publicao do Evangelho segundo oEspiritismo.

    No Brasil, onde o Espiritismo encontrou sua ptriareal e se desenvolveu de forma extraordinria, ele total-

    15 KARDEC, Allan. O que o espiritismo. 12ed. Sobradinho DF: Edicel, 1990, p. 100.

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    mente evanglico, e com essa caracterstica est retornando

    ao bero de origem, a Frana, e se expandindo pelo mundo,propagado pelos nossos mdiuns e expositores. Assim, oEspiritismo laico no passa de um sonho impossvel, emcompleta discordncia com a realidade histrica.

    A essas ilaes, pode-se acrescentar que os princ-pios nos quais se estriba o Espiritismo so, por si mesmos,universais, porque so Leis da Natureza. Todos os seresvivos, pelo menos, possuem um campo organizador da

    forma, o qual preexiste e sobrevive morte do organismo.Esse campo, enquanto desligado do corpo, permanece comtodos os seus atributos mentais e emocionais ativos, numadimenso prpria que envolve e penetra a nossa.

    Por guardar suas funes de racionalidade e senti-mentos, continua a interagir com os demais campos, tantono sentido horizontal do hbitat onde vive quanto novertical, com os que ainda se encontram vinculados

    matria, influenciando-os e sendo por eles influenciados.Graas faculdade medinica, podem provocarfenmenos diversos, atravs dos quais atestam suaexistncia e continuidade. Ora, o Esprito comodenominamos geralmente o campo organizador da forma , portanto, um fato independente de crena, posiosocial, condio econmica, tica ou cultural. Assim,budistas, maometanos, protestantes, catlicos, ateus,

    xintostas e outros podem promover os meios e modos deintercambiarem com os seres espirituais, criando seusprprios sistemas filosficos em torno do que consegui-rem, o que no proibido nem pode s-lo, a no ser pelosdogmas e preconceitos alienantes que cultivam. No afeio crist da Doutrina Esprita que os impede. So elesque se impedem de ter acesso ao manancial de ensinos econsolaes que o intercmbio medinico enseja.

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    Os Evangelhos, bem como o Novo Testamento, so

    livros fundamentais para a Doutrina Esprita, que osesclarece e aprofunda da mesma forma como Jesus o fezcom o Mosaismo.

    O Movimento Esprita necessita se preocupar sem-pre, mais e mais, com o seu papel de veiculador dosprincpios evanglicos. No se pode esquecer que o Espiri-tismo est no mundo para influenciar decisivamente noprogresso da Humanidade, justamente por ser uma revi-

    vescncia do Cristianismo.De que forma o espiritismo pode contribuir para oprogresso?

    Destruindo o materialismo, que uma das chagas dasociedade, ele faz compreender em que se encontra overdadeiro interesse dos homens. A vida futura noestando mais sob o vu da dvida, o homem compre-ender melhor que pode assegurar o seu futuro pelo

    presente. Destruindo os preconceitos de seitas, cas-tas e cor, ele ensinar a grande solidariedade que deveunir os homens como irmos 16

    E para conseguir esse desiderato, apresenta-nos umpadro, que deve ser seguido de maneira absoluta: Qualo tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem paralhe servir de guia e modelo? Vede Jesus17. Ao que oMestre de Lyon, com sua intuio privilegiada, acrescenta:

    Jesus para o homem o tipo de perfeio moral a quepode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo ofe-rece como o mais perfeito modelo, e a doutrina queele ensinou a mais pura expresso de Sua lei, por-

    16 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. 2 ed. 1860. Traduo Djalma MottaArgollo. Salvador-Bahia: Fundao Lar Harmonia, 2007. p.328. (Questo 799).

    17 Ibid., p.273 (Questo 625).

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    que ele estava animado do Esprito divino e foi o sermais puro que j apareceu na Terra.18

    Este livro tem como finalidade chamar ateno parao estudo e a meditao sobre Jesus e seus ensinamentos.No uma Vida de Jesus, no sentido tradicional do termo;so histrias em torno da pessoa do Mestre, enquantoviveu entre ns.

    O Encontro com Jesus nasceu sob a inspirao doEsprito Mnmio Tlio, responsvel pelo contedo das

    histrias, mas absolutamente inocente dos erros histricosou de outro gnero nelas existentes, que devem serdebitados incompetncia do co-autor encarnado. Issoporque elas aconteceram por via da mediunidade deinspirao, a qual, segundo Allan Kardec, no permiteque seja feita uma separao objetiva entre o pensamentoda entidade comunicante e o do mdium. Nesse caso, porque o mdium no assume definitivamente a completa

    autoria do livro? Pelo simples fato de perceber, quando ofenmeno inspirativo se dava, que a idia nascia fora dasua mente e, nessas condies, ao assumir sua total autoria,seria uma apropriao indbita, incompatvel com o culto honestidade que o Espiritismo ensina.

    Um esclarecimento. Alguns leitores questionaramo fato de ser apresentado o nascimento de Jesus como ofaz a tradio, ou seja, que Maria era virgem quando da

    concepo. O problema que este livro no se prope aser uma obra crtica dos Evangelhos e da vida de Jesusconforme apresentada pela ortodoxia, mas uma releiturade episdios constantes dos Evangelhos, emoldurada em

    18 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. 2ed. 1860. Traduo Djalma MottaArgollo. Salvador-Bahia: Fundao Lar Harmonia, 2007, p. 273 (Comentrio Questo 625).

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    narrativas para ilustrar o ncleo original. Assim, o

    nascimento virginal, mesmo que seja um mito, enseja umasrie de questes emocionais, transformando-se num ricomanancial de circunstncias que a imaginao pode, edeve, explorar em todas as dimenses da arte. Alis, issotem acontecido, e os museus e as bibliotecas do mundointeiro guardam o resultado das projees do inconscientede inmeros artistas e escritores que foram arrebatadospela fora e dinamismo do arqutipo do nascimento

    virginal. Preferi deixar falar a grandiosidade do arqutipo,incomensurvel e transcendente, constelando toda anuminosidade do mito da natividade e, confesso, senti aalma invadida por sensaes indescritveis que, em muitasoportunidades, continuam a repercutir no meu psiquismo,gerando estados alterados de conscincia bastanteprazerosos. Para os que quiserem, porm, saber o quepenso realmente sobre o assunto, aconselho ler o livro O

    Novo Testamento: um enfoque esprita.

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    A Viso de Zacarias

    Zacarias19

    , de p no Hekal20

    , em frente aoDebir21, diante do Altar dos Perfumes, coberto de lminasde ouro batido, aprontara-se para derramar a taa de ourocom o perfume que a famlia Abtinai, possuidora domonoplio de produo e fornecimento, preparava comcatorze substncias aromticas escolhidas e manipuladasde acordo com mtodos tradicionais. Ele estava sozinho.Os demais sacerdotes j se haviam retirado para o

    vestbulo, tomando posio diante do Altar dos Sacrifcios,rezando a Deus pela vinda do Messias, junto com o povoque se aglomerava nos ptios e adros do Templo deJerusalm, cuja construo fora iniciada por Herodes, oGrande, em 19 a.C., e que s terminaria em 66 d.C., svsperas do levante contra o domnio romano e de suaconseqente destruio.

    Durante o reinado de Davi, os sacerdotes foram

    divididos em vinte e quatro classes, dentre os que eramdescendentes de dois filhos de Aaro, Eleazar e Itamar, j

    1{

    19 Zekaryah, nome hebraico que significaIahweh se lembra.20 Lugar Santo, a primeira das duas divises do Santurio, onde se encontrava o

    Menor, candelabro de sete braos, o Altar dos Perfumes e a mesa para ospes da proposio.

    21 O Santo dos Santos, local onde antes do Cativeiro da Babilnia era guardada aArca da Aliana. Estava separado do Santo, no Templo de Herodes, por umacortina o Vu do Templo.

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    que os outros dois, Nadab e Abi, desencarnaram sem

    deixar filhos. Dezesseis classes ficaram com os chefes defamlia que descendiam de Eleazar e oito, com os quedescendiam de Itamar. Da primeira classe, a de Joiarib,derivavam os Asmoneus, que governaram a Palestina de140 a 63 a.C.22. Essas classes eram responsveis pelosservios religiosos dirios do Templo, revezando-se emturnos semanais, sendo os oficiadores do dia escolhidospor sorteio para desempenharem as funes que iam da

    limpeza e preparao dos objetos e locais sagrados at aoferta dos sacrifcios. Por esse tempo, no mais existiamas classes originais. Somente quatro a segunda, deJedeias; a terceira, de Harim; a quinta, de Melquias e asexta, de Maim haviam retornado do cativeiro daBabilnia. Para voltar estrutura original, elas foramredivididas em grupos de seis, que mantinham os nomesprimitivos sem, todavia, descenderem diretamente dos

    seus fundadores.Zacarias fora sorteado para realizar a queima dosperfumes no perodo da orao da tarde, durante o turno desua classe a de Abias. Segundo os estudiosos, o eventoaconteceu no primeiro dia da semana, tendo o sacerdoteexercido suas diversas obrigaes no decorrer desse tempo.

    A solenidade do momento fez seu corao pulsar deemoo. Fora escolhido por sorteio, durante a madrugada,

    para o sacrifcio do incenso, honra longamente esperada eque chegava quando ele alcanava uma velhice honrada,depois de uma existncia consagrada ao servio de Deus.

    Sob o impacto emocional da solenidade do instante,o velho sacerdote recordou a mgoa que trazia sufocada

    22 Os Asmoneus chefiaram o levante contra o jugo Selucida, conhecido pelo nomede Revolta Macabaica de Macabeu, que pode ser traduzido por cabea demartelo, apelido de Judas, um dos filhos de Matatias, o desencadeador da rebelio.

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    no peito: no tinha filhos. Sobre ele e sua amada esposaElisheba (Isabel)23 pesava o duro castigo da esterilidade.

    No podia compreender a razo dessa puniodivina. Sempre fora fiel servidor do Senhor e intransigenteseguidor dos seus mandamentos, como seu pai e o pai deseu pai. Sua mulher, tambm descendente de Aaro, erade linhagem sacerdotal e inteiramente submissa Leidesde a mais tenra infncia. Com lgrimas a escorrer pelaveneranda barba grisalha, orou contrito enquanto sepreparava para realizar a sagrada oblao:

    Tu s justo, Iahweh, e tuas normas so retas, por issoeu e Isabel nos curvamos resignados diante delas.Embora no encontrando em nossas conscinciasmotivo algum de reproche, sabemos que no punes oinocente. Acredito que, semelhana de J, colocas prova nossa f em Ti. Sabes, contudo, que nada nosdesviar dos Teus Caminhos. Compadece-Te de ns,e retira dos nossos ombros o peso do oprbrio, paraque sejamos felizes o resto de nossos dias sobre a Ter-

    ra. Glria a Ti Senhor, Deus nico e Verdadeiro, sus-tentculo de nossas vidas, esperana de Israel.24

    No momento em que, soluando emocionado, oServo de Deus ia espargir o perfume sobre o braseiro, oSanto se iluminou e, direita do altar, materializou-seum Esprito, cuja elevao se traduzia pela luz violetasuave que emanava do seu corpo. O sacerdote se assustoucom a apario, enchendo-se de temor. A nobre entidadefalou, ento, buscando acalm-lo:

    No temas, Zacarias, porque a tua splica foi ouvi-da, e Isabel, tua mulher, vai te dar um filho, ao qualpors o nome de Joo25. Ters alegria e regozijo, emuitos se alegraro com o seu nascimento, pois ele

    23 Deus plenitude.24 Salmos 119, 137.25 Em hebraico Yohanan ou Yehohanan:Iahweh propcio

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    ser grande diante do Senhor; no beber vinho, nembebida embriagante; ficar pleno do Esprito Santo

    ainda no seio de sua me e converter muitos dos fi-lhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Ele caminhar sua frente, com o esprito e o poder de Elias, a fim deconverter os coraes dos pais aos filhos, e os rebel-des prudncia dos justos, para preparar ao Senhorum povo bem disposto26.

    Zacarias no podia acreditar no que estava ouvindo;por isso, aproveitando o staccato na comunicao, inqui-

    riu, mostrando na voz a dvida que o assaltava: Deque modo saberei disso? Pois sou velho e minha esposa de idade avanada 27.

    Em pouco tempo o ancio passara da f ardente,extravasada na prece contrita que fizera, ao nvel estreitoda racionalidade humana, apegada s demonstraeslgicas e comprovveis. O mensageiro, ento, respondeu:

    Eu sou Gabriel 28; assisto diante de Deus e fui envi-ado para anunciar-te essa boa nova. Eis que ficarsmudo e sem poder falar at o dia em que isso aconte-cer, porquanto no creste em minhas palavras, que secumpriro no tempo oportuno.O povo esperava por Zacarias, admirado com sua de-mora no Santurio. Quando ele saiu, no lhes podiafalar; compreenderam que tivera alguma viso no San-turio. Falava-lhes com sinais e permanecia mudo.Completados os dias do seu ministrio, voltou para

    casa. Algum tempo depois, Isabel, sua esposa, conce-beu e se manteve oculta por cinco meses, dizendo: Isto fez por mim o Senhor, quando se dignou retiraro meu oprbrio perante os homens!29

    26 Lc 1, 13-17.27 Lc 1, 18.28 Homem de Deus ouDeus mostrou-se forte.29 Lc 1, 19-25.

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    A Anunciao30

    Nazar, pequena e graciosa vila, erguia-se sobreum alto do complexo de colinas a sudeste do Lago deGenesar. Simples e pobre, sua histria, anterior a Jesus,no foi marcada por eventos importantes que lhe outorgassemo mrito de constar das pginas do Antigo Testamento.

    Seus habitantes, rsticos camponeses e criadoresde ovelhas, eram pobres e incultos, alm de no possuremboa reputao nas cercanias. Quando Filipe, recm-

    conquistado pelo Mestre, comunica a Natanael, que erada vizinha Cana, Encontramos aquele de quemescreveram Moiss, na Lei, e os profetas: Jesus, o filhode Jos, de Nazar 31, este retrucou: De Nazar podesair algo de bom? 32. E at hoje, na Palestina, corre oditado: A quem Deus quer castigar, com uma nazarena ofaz casar 33.

    Sobre Nazar, escreveu o protestante racionalista

    Ernesto Renan:

    2{

    30 O tema deste captulo e dos dois seguintes se refere ao pretendido nascimentovirginal de Jesus e segue a tradio, pois o livro pretende dar uma viso davida do Mestre tal como est nos Evangelhos, dando-lhe apenas uma formaliterria de contos, no significando a aceitao, por parte do autor, da tesecitada.

    31 Jo 1, 45.32 Jo 1, 46.33 URBEL, J. Perez.A vida de Cristo. So Paulo: Quadrante, 1967. p. 33.

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    O horizonte da cidade estreito, mas quem subir umpouco, at chegar planura bafejada por uma brisa

    contnua que domina as habitaes mais altas, achauma majestosa perspectiva.34.

    Do local em que se demora, pode-se vislumbrar, aonorte, os limites de Dan, onde o Hermon projeta seuscimos nevados com o caracterstico tom azulado, e asmontanhas de Safed lanando-se em direo ao mar poronde se recorta o Golfo de Haifa. A nordeste, distinguem-

    se as alturas da Gaulontida, em plena Decpolis, comsuas cidades em estilo grego, embelezadas pelo sensoesttico dos descendentes dos helenos. Ao sul, numaabrangncia de sudeste a sudoeste, por entre espaos dorelevo montanhoso, aparecem flagrantes do Carmelo, emcuja extremidade norte situava-se a antiga fortaleza cana-nia de Megido, rebatizada pelos romanos como Legio,vigilante sentinela do vale de Jezreel; do Gilbo, local da

    morte de Saul e Jnatas em combate contra os Filisteus; edo Garizim, onde fora construdo o templo rival do deJerusalm, que Joo Hircano destruiu em 128 a.C. duranteo interregno de liberdade proporcionado pela revoltaMacabaica. Por ali, tambm se podem ver a colina deEndor, onde Samuel foi evocado pelo primeiro rei de Israelgraas mediunidade de uma mulher, e o Tabor, palco deoutra sesso medinica, presidida pelo prprio Jesus e

    sem as sinistras implicaes daquela. Mais adiante, namesma direo, abrem-se o vale do rio Jordo e asaltiplanuras da Peria.

    Sua flora apresentava uma grande variedade, ondese podiam encontrar ciprestes escuros, oliveiras de folhas

    34 Histria das origens do cristianismo. Porto: Lelo, s.d., p. 25. Vida de Jesus,Livro 1.

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    prateadas, vinhedos, trigo, verbena, lrios, tamargueiras,

    tamarindeiros, sicmoros e outros, espalhados por entrerelva olente e macia, pintalgada de pequeninas flores dematiz variado.

    Naquele dia, a Natureza se apresentava festiva,vestindo seus mais alegres tons e derramando, generosa,pelas mos delicadas e geis das brisas, ondas de perfumessuaves produzidos pela mistura bem dosada e proporcionaldas essncias elaboradas pelas flores silvestres.

    O Sol fazia destacar toda a beleza da paisagem,saturando-a de luz amena estruturada em claridadeinusitada.

    Tocada pela magia reinante na atmosfera, toda afauna buscava emprestar seus encantos particulares paraaumentar a pulcritude ambiente e, assim, seus chilreios,pipilos, zurros, balidos e zumbidos formavam a onomato-pia ambiente, compondo rsticas sinfonias, que encanta-

    vam os ouvidos e pacificavam os coraes.Os habitantes da cidadezinha, empolgados com oencanto daquele dia incomum, deixavam-se tomar pelosmais puros e nobres sentimentos, esquecendo momenta-neamente suas querelas mesquinhas e banais, entregando-se prazerosamente s atividades prosaicas do cotidiano,nelas descobrindo encantos e motivaes insuspeitados.

    Maria35, havendo chegado da fonte, que ainda lhe

    guarda o nome Ain Sitti Mariam 36, posou o cntaro entrada da casinha singela, pondo-se a apreciar o creps-culo que se avizinhava clere. O cu se assemelhava auma imensa tela azul, onde o agigantado disco solar,

    35 Miryam, em hebraico. de etimologia incerta, no havendo acordo entre osespecialistas quanto ao seu significado. Era o nome da irm de Moiss, porisso muitos acham que deve ser de origem egpcia.

    36 A fonte de Maria.

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    matizado de carmim, pintava uma paisagem surrealista

    em tons de ouro eterizado, entremeado de prpura lumi-nescente. Seu corao, puro e generoso, estuava de alegriaenquanto um imenso sentimento de felicidade lhe povoavaos centros emotivos, estimulando anseios de sublimeespiritualidade. Lgrimas de ventura rolavam por sua face,delicada como uma ptala de rosa, fazendo brilhar seusolhos castanho-claros, em que pairavam lmpidos reflexosde inocncia. A brisa vespertina, encantada com sua beleza

    cndida e sem mcula, veio grrula e lpida brincar comos cachos castanho-dourados de sua cabeleira vasta echeia, agradavelmente perfumada com essncia de nardo.

    Com um suspiro profundo de pura emoo, a jovemrecm-comprometida com Jos, o carpinteiro, entrou emcasa dirigindo-se para o quarto de dormir, depois de colocara vasilha com gua na cozinha rstica, localizada empequena gruta que fora incorporada residncia quando

    da sua construo. Ali, assentando-se sobre a cama singela,ps-se a meditar sobre as sensaes diferentes que sentia.Sempre cultivara sentimentos puros, e toda sua vida

    transcorrera numa atmosfera de harmonia e tranqilidade,em que o culto a Deus era uma atividade constante de suaalma. Nunca sentira atrao por futilidades e inconseqn-cias na infncia, como soe acontecer, mostrando-seresponsvel e criteriosa desde a mais tenra idade. Ao

    chegar puberdade, no fora arrebatada pelos sonhos eimpulsos juvenis nem se entregara s vaidades comunsdo narcisismo instintivo da menina que desabrocha parauma nova etapa de vida.

    O casamento lhe chegara como uma coisa normal,sem impactos emocionais nem grandes surpresas, um fatonatural como qualquer outro da existncia. Esperava aconsumao do contrato esponsalcio sem maiores

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    anseios. Seu futuro marido era um homem digno, traba-lhador, sem vcios nem costumes degradantes. Afvel,simples, franco e jovial, fora por ela recebido como umamigo e companheiro, com o qual partilharia os momentosbons e maus da vida. Tambm ele era profundamentereligioso, uma alma empolgada pelo senso do divino, semas preocupaes legalistas dos partidrios das diversasfaces poltico-religiosas da Judia. Alis, pouco ecoa-vam, nos altos onde moravam, as questinculas escols-ticas que fermentavam em Jerusalm, quase cento e dozequilmetros de distncia.

    Repentinamente, em meio a suas cogitaes, a RosaMstica de Nazar sentiu uma presena invisvel noambiente, o que a fez abandonar a atitude cismarenta sem,contudo, sentir qualquer receio. Uma luz suave e incomumiluminou o recinto, tendo como fonte um ser de belezaangelical que, fitando-a amorosamente, lhe falou em tomcarinhoso: Alegra-te, cheia de graa, o Senhor estcontigo. Ela ficou intrigada com essas palavras e ps-se apensar qual seria o significado da saudao 37. A entidadeangelical, todavia, prosseguiu:

    No temas, Maria! Encontraste graa junto de Deus.Eis que concebers no teu seio e dars luz um filho,e tu o chamars com o nome de Jesus. Ele ser gran-de, ser chamado Filho do Altssimo, e o Senhor Deuslhe dar o trono de Davi, seu pai; ele reinar na casa

    de Jac para sempre, e o seu reinado no ter fim.38

    Maria, surpresa com aquela revelao, externou suaperplexidade: Como que vai ser isso, se eu noconheo homem algum? 39

    37 Lc 1, 28.38 Lc 1, 30-33.39 Lc 1, 34.

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    Ao que o elevado ser espiritual retrucou: O

    Esprito Puro vir sobre ti e o poder do Altssimo vai tecobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer serchamado Filho de Deus 40.

    Em seguida, para corroborar seu anncio, o EspritoSuperior lhe fez uma revelao comprobatria, comoacontece nas comunicaes medinicas quando precisovencer as resistncias da dvida, justificvel em situaesque tais:

    Tambm Isabel, tua parenta, concebeu um filho navelhice, e este o sexto ms para aquela que chama-vam de estril. Para Deus, com efeito, nada impos-svel.Disse, ento, Maria: Eu sou a serva do Senhor; faa-se em mim segundoa tua palavra 41.

    Nesse ponto, o Mensageiro do Alto desapareceu,deixando o ambiente impregnado de perfume desco-nhecido e suave.

    40 Lc 1, 35.41 Lc 1, 36-38.

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    Visitando Isabel

    Maria estava perplexa com o que acabara deacontecer. Fora tudo to repentino e extraordinrio. Sentia,bem no imo dalma, que era absolutamente real o quevira e ouvira. Todavia, a razo lhe colocava algumasquestes ponderosas: ela, apesar do compromisso comJos, no havia convivido maritalmente com ele, o ques aconteceria dentro de dois meses; uma gravidez trans-cendente? Seria tal coisa possvel? No mesmo instante,

    como se uma voz lhe falasse diretamente no ntimo,recordou-se da histria de Sara, a mulher de Abrao, opatriarca maior do seu povo. Ela era muito idosa e j haviaperdido o costume das mulheres. Mensageiros do Senhordisseram a Abrao que ela lhe daria um filho, e o fato secumpriu dando origem ao povo Hebreu. Alis, como povoescolhido por Deus, Ele nunca deixara de participar desua histria com prmios e castigos. Sofriam ento o

    castigo da dominao romana, como outrora a de outrospovos.

    Mas contraps-se consigo mesma. Sara tinhamarido, e ela no. O Mensageiro de Deus lhe revelaraque Isabel estava grvida, e que isto serviria de sinalcomprobatrio do que dissera. Como saber se era real?No havia um meio de, com ela, comunicar-se, pois viviaem Aim Karim, nas bordas do Deserto da Judia. S lhe

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    restava uma coisa a fazer: ir visit-la e, dessa forma,

    constatar a realidade da viso.Resolvida essa parte, havia uma segunda: em sendoverdade, como haveria Jos de receber a notcia? Afinalde contas, ela fora avisada; ele, entretanto, no. Comoreagiria? Ser que a teria como adltera? A palavraadltera lhe despertou um temor inesperado. No haviaainda cogitado nisto. Ficando grvida de um filho queno era de seu noivo, todos, inclusive Jos, s poderiam

    pensar que ela tivesse adulterado. Seria uma situaodifcil. Segundo a Lei, a pena aplicvel a tal crime era amorte por lapidao. Sabia-se inocente, mas os outrosacreditariam? Comeou a ficar aflita ante os pensamentosque lhe ocorriam quanto aos problemas que enfrentaria.Mas, reagindo, disse em voz alta: Senhor! coloco-me,como disse ao Teu Mensageiro, em Tuas mos comoescrava submissa. O que deliberares a meu respeito,

    aceitarei com resignao.No mesmo instante, sentiu uma Paz indescritvel.Era a resposta do cu orao. As preocupaes e anseiosa abandonaram completamente, dando lugar a uma alegriaimensa, que lhe invadiu todo o ser.

    Comunicou, aos parentes que a tutelavam desde amorte dos pais, a resoluo de visitar Isabel e Zacarias.Apesar de surpresos, concordaram prontamente, pois lhe

    tinham muito afeto. Jos tambm no ops obstculos, eprovidenciou tudo, pois naquele mesmo dia ficara sabendoque seu irmo Cleofas partiria com uma caravana para aregio de Belm, onde realizaria negcios comerciais.Contatado, concordou em levar Maria at Aim Karim e,trs meses depois, apanh-la de volta, o que era conve-niente, pois seria o tempo justo para a realizao das bodasdefinitivas.

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    Cinco dias depois, Maria entrava em Aim Karim, o

    pequeno povoado que ficava a sete quilmetros deJerusalm, na direo sudoeste. Ao chegar casa deZacarias, sentia-se envolvida por vibraes espirituaisintensas. Foi recebida por uma serva, acomodando-se napequena sala de entrada enquanto a dona da casa erainformada de sua chegada.

    O seu encontro com Isabel, cuja gravidez estava nosexto ms, foi cheio de alegria, pois no se viam h muito

    tempo. Em meio s efuses de carinho, as duas foramarrebatadas por transcendentes presenas espirituais,entrando em estado alterado de conscincia.

    Isabel, mediunizada, exclamou:

    Bendita s tu entre as mulheres e bendito o fruto deteu ventre! Donde me vem que a me do meu Senhorme visite? Pois quando a tua saudao chegou aosmeus ouvidos, a criana estremeceu de alegria no meu

    ventre. Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi ditoda parte do Senhor ser cumprido! 42

    Maria ficou admirada, mas ao mesmo tempo alegre,pois via a confirmao do que lhe dissera o enviadoespiritual. Isabel estava grvida e, sem que lhe dissessequalquer coisa, falara sobre sua gravidez. Era tudo, pois,a expresso da verdade. Desde aquele momento, qualquer

    vacilao a abandonou por completo. Num estado deprofunda felicidade e jbilo, sentiu-se a falar, impelidapor foras transcendentes:

    Minhalma engrandece o Senhor,e meu esprito exulta em Deus meu Salvador,porque olhou para a humilhao de Sua serva.

    42 Lc 1, 42-45.

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    Sim! Doravante todas as geraes me chamaro debem-aventurada, pois o Todo-Poderoso fez grandes

    coisas em meu favor.Santo o Seu nome,e Sua misericrdiaperdura de gerao em gerao,para aqueles que O temem.Agiu com a fora de Seu brao,dispersou os homens de corao orgulhosos.Deps poderosos de seus tronos,e a humildes exaltou.Cumulou de bens a famintos,

    e despediu ricos de mos vazias.Socorreu Israel, Seu servo,lembrado de Sua misericrdia conforme prometera a nossos pais em favor de Abrao e de sua descendncia,para sempre! 43

    Asserenados os nimos, passaram a conversar sobreas novidades comuns de suas vidas simples, trocando

    confidncias familiares, dando-se notcias mtuas sobreparentes que no viam h muito. Pouco depois, Zacariaschegou de seus afazeres normais, expressando-se porsinais por causa da mudez que lhe havia sido impostacomo sinal do que lhe dissera o mensageiro espiritual noTemplo. O velho sacerdote chorava de emoo ao lhe sernarrado o que acabara de suceder. O corao pareciaexplodir no peito, sob a presso emocional. Sua famlia

    estava sendo cumulada de bnos pelo Senhor Deus e, omais importante, chegara o tempo em que as profeciasteriam cumprimento. O Messias estava vindo, sentia ele,e a parenta de sua mulher teria a glria de carreg-lo noventre, provendo-lhe o corpo fsico indispensvel parasua gloriosa misso.

    43 Lc 1, 46-55.

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    Foram quase trs meses de grande enlevo espiritual.

    Todos os dias, o sacerdote reunia os moradores da casa evizinhos para cultuar o Senhor. Cantavam hinos, liamsalmos e passagens de Isaas, apontados por ele, que oscircunstantes interpretavam profundamente inspirados,pois refletiam o pensamento dos Espritos Iluminados queos mantinham sob guarda constante. Quase semprealgum da assemblia comeava a profetizar, isto ,transmitia mensagens medinicas, atravs da psicofonia,

    arrancando lgrimas dos presentes.Foi, portanto, com grande tristeza que Maria sedespediu de Zacarias e Isabel para voltar sua terra quandoCleofas a foi buscar. Sentiria falta daquelas reunies, emque a Misericrdia Divina se fazia presente, infundindopaz e alegria, num gape inefvel de espiritualidade. Sentia-se forte para enfrentar todos os obstculos que viriam;todavia, no podia deixar de sentir um aperto no corao

    ante a perspectiva da revelao de sua gravidez, tanto aonoivo quanto parentela de Nazar. Deus, porm, haverde prover tudo, pensava ela, enquanto a caravana seguiapreguiosamente rumo ao norte pelo Caminho do Mar.

    Cerca de cinco meses depois da partida de Maria,Isabel teve a criana. A casa de Zacarias era s alegria.Amigos e parentes se regozijavam com aquela manifes-tao da Misericrdia Divina. O velho sacerdote, contudo,

    permanecia sem conseguir falar, o que era complicadopela surdez que o acompanhava h algum tempo. Mas,no oitavo dia, foram circuncisar o menino. Queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias, mas a me, tomando apalavra, disse:

    No, ele vai se chamar Joo. Replicaram-lhe: Em tuaparentela no h ningum que tenha esse nome! Pormeio de sinais, perguntavam ao pai como queria que

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    se chamasse. Pedindo uma tabuinha, ele escreveu: Seunome Joo; e todos ficaram admirados 44.

    Nesse momento, para espanto e alegria de todos,voltou-lhe a voz. Seus louvores a Deus ecoavam pela casa.De repente, sua expresso se transformou. Parecia queuma luz transcendente o envolvera, iluminando-lhe osemblante. Um Esprito de alta hierarquia, dominando-lhe o centro da fala, transmitiu uma mensagem psicofnicaque at hoje nos emociona pelo seu contedo de profundaespiritualidade:

    Bendito seja o Senhor Deus de Israel,porque visitou e redimiu o seu povo,e suscitou-nos uma fora de salvaona casa de Davi, seu servo,como prometera, desde tempos remotos,pela boca de seus santos profetas,salvao que nos liberta dos nossos inimigos

    e da mo de todos os que nos odeiam;para fazer misericrdia com nossos pais,lembrado de sua aliana sagrada,do juramento que fez ao nosso pai Abrao,de nos conceder que - sem temor,libertos da mo dos nossos inimigos, -ns o sirvamos com santidade e justia,em sua presena, todos os dias.E tu, menino, sers chamado profeta do Altssimo;

    pois irs frente do Senhor,para preparar-lhe os caminhos,para transmitir ao seu povo oconhecimento da libertao,pela remisso de seus erros.Louvores ao misericordioso corao do nosso Deus,pelo qual nos visita o Astro das alturas,para iluminar os que jazem nas trevas

    44 Lc 1, 59-63.

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    e na sombra da morte,para guiar nossos passos

    no caminho da paz 45.

    Um poema medinico dos mais belos da literaturacrist, guardado com carinho pela memria dos que oouviram e que chegou at o Evangelista Lucas, que oregistrou para toda a posteridade. Nele encontramos umresumo notvel dos acontecimentos que marcaram oadvento da Nova Era, em que so postas de forma clara,

    em rpidas sentenas, as misses de Jesus e daquele queseria conhecido mais tarde como o Batista. Repare-se queJesus no apresentado como Filho de Deus, ou o prprioDeus, mas como um Astro que desce das alturas parailuminar as trevas de nossa inferioridade. E, sem dvida,sua luz o credencia a tal analogia, pois irradia-se at hojesobre ns, guiando-nos em direo aos pramos dainefvel perfeio.

    Joo, por sua parte, citado como um preparadorde caminhos, um profeta a reviver a tradio de mdiunsinspirados e lutadores que, h mais de quatrocentos anos,haviam desaparecido das terras da Palestina. Esprito fielaos desgnios superiores, soube viver essa misso grandio-sa, ele que j era tarimbado missionrio, como o demons-trara no passado, quando, reencarnado sob o nome deElias, dera exemplos suficientes de perseverana e f.

    45 Lc 1, 67-79.

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    Momento Difcil 46

    Maria chegou a Nazar uma semana antes dodia marcado para a consolidao dos laos esponsalcioscom Jos. Todos a receberam com as naturais efuses de

    jbilo, aps o perodo de ausncia. Jos, dentre todos, erao mais alegre, pois o seu afeto pelaRosa Mstica era reale profundo.

    Naquela noite, a pedido de Maria, os dois saram aconversar, sentando-se em algumas pedras que ficavam

    margem do monte em que a cidade se situava, faceandouma queda abrupta, de onde, um dia, os nazarenosbuscariam despencar Jesus por lhes ter revelado ser oMessias, de acordo com os textos do profeta Isaas47.

    O corao da jovem batia um tanto descompassado,apesar de, nas circunstncias, manter uma tranqilidadeinusitada. Desde a volta de Aim Karim, vivera pensandonaquele momento. No podia imaginar como seria a

    reao do noivo ao tomar conhecimento da sua gravidez;no obstante, seria impossvel retardar o assunto, pois oventre comeava a dilatar. Em Israel, esse era um assuntoprofundamente grave, e a lei previa pena de morte porapedrejamento para a mulher infiel. Ela, contudo, trazia aconscincia em paz pela realidade de sua inocncia. A

    4{

    46 Sobre o contedo deste captulo, ver nota 31.47 Ver Lc 4, 14-30.

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    criana que se desenvolvia no seu ventre fora gerada pela

    vontade de Deus, conforme lhe dissera o Enviado Celeste. Maria, querida de minhalma, desde que voltasteda casa de Isabel e Zacarias tens estado pensativa epreocupada. Aconteceu alguma coisa enquanto estavascom eles? Penso que a notcia da gravidez dela, que sofriaa marca da esterilidade, deveria ser motivo de jbilo...

    Jos, meu amado, no aconteceu nada em casa deIsabel. Pelo menos nada de mau. Foram dias maravilhosos

    como lhe contei. As bnos de Deus se multiplicaramfartas. Todas as noites, a palavra do Senhor se fazia ouvirpor diversas bocas, anunciando os dias das promessasrealizadas.

    Contudo, tenho verificado que ests diferente...preocupada...

    De fato, guardo uma certa inquietao desde quealguns fatos aconteceram...

    Que fatos foram esses, capazes de abalar tuanatural tranqilidade? Partilha-os comigo, para que juntospossamos entend-los e, se for o caso, resolv-los.

    Na verdade, eles dependem muito de ti. Ests me deixando preocupado e ansioso. Abre o

    teu corao logo. Bem, tudo comeou no dia em que foste casa de

    Efrm, em Can, para consertar o eirado de sua casa...

    E Maria contou ao noivo, detalhadamente, tudo oque lhe ocorrera. Enquanto ela o fazia, uma entidadeespiritual, de indescritvel luminosidade, envolvia o casal.Sob sua influncia, Jos escutava o relato, cheio deassombro, mas sem qualquer arroubo de amor-prprioferido.

    Quando Maria terminou, Jos permaneceu silencio-so. O assunto era por demais grave. Sentia, no entanto,

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    que a noiva falava a verdade. Seus olhos castanhos,

    lmpidos, refletiam-lhe a pureza de sentimentos. No podiadeixar de acreditar em sua palavra, mas um sem nmerode consideraes percorriam sua mente.

    Maria, ansiosa, indagou: O que me dizes? Estou muito perplexo para poder emitir qualquer

    juzo no momento. Contudo, tenho profunda confianana tua honestidade. Sei que s incapaz de mentir em

    qualquer circunstncia, mas preciso pensar. Concede-meat amanh para que te possa expressar minha posiodiante dos fatos.

    Maria respeitou a atitude do seu amado, e os doisvoltaram. Tenso, Jos se despediu entrada da casa deMaria, rumando cismarento para a sua.

    O carpinteiro ainda deambulou, sem destino certo,pela estrada que descia em direo ao lago, imerso em

    cogitaes difceis. Como entender a ocorrncia? A noiva,que sabia honesta e pura, comunicava-lhe uma gravidezde origem transcendente. Acreditava que para Deus tudoera possvel; entretanto, nunca se ouvira tal coisa nahistria de Israel: um filho gerado sem a intervenomasculina! Se essa histria se divulgasse, ele seria alvoda chacota geral. Maria, por sua vez, ficaria exposta scalnias, bem como vulnervel a um processo legal,

    culminando em pena de morte por apedrejamento. Ele,entretanto, no podia assumir a paternidade de um filhoque no gerara, mas repudiar Maria era conden-la execrao pblica. Quem sabe, o melhor talvez fosseabandon-la sem qualquer explicao. Poderia fugir parabem longe. Tinha uns parentes no Egito, iria para l semcomunicar a ningum. Deixaria com ela uma carta derepdio sem qualquer explicao. Naturalmente, iria ser

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    malquisto pela opinio geral e nunca mais poderia voltar

    Galilia. No importava. Estava diante de uma situaodifcil. Cria na sinceridade de Maria, mas no receberaqualquer aviso de Deus nesse sentido; logo, deveria estarexcludo dos planos do Senhor. O melhor mesmo era seafastar para no interferir de forma negativa nas delibera-es de Iahweh.

    Tranqilizado pela resoluo, foi para casa, poissentia uma imensa necessidade de dormir. Mal se deitou,

    adormeceu. Era, no entanto, um sono diferente. Sim, spodia ser sonho. Via-se de p junto ao leito, onde umasua cpia estava deitada. Aproximou-se e verificou ser oseu corpo. O carpinteiro no podia saber que estavavivendo um fenmeno que os parapsiclogos chamam deOBE (Out of Body Experiency48) e que o Espiritismodenomina de desdobramento. Repentinamente, percebeuque no estava sozinho. Ao seu lado, uma entidade

    espiritual de beleza singular, irradiando luz de matizazulado com cintilaes safirinas, sorria-lhe, envolvendo-o numa onda de imensa simpatia.

    A paz que lhe invadia o ntimo evitou que sentissemedo. Indagava-se quem seria o ser que ali estava. Antesque pudesse formular a pergunta de modo explcito,escutou, no pelos ouvidos, pois a entidade espiritual nomexeu os lbios. A voz lhe chegava diretamente ao crebro:

    Jos, filho de Davi, no receies receber Maria, tuaesposa, porque o que nela foi gerado do EspritoSanto (Comunidade de Espritos Puros, responsvelpela Terra). Ela dar luz um filho, no qual pors onome de Jesus, pois ele haver de salvar teu povo dosvossos erros (indicar como evoluir espiritualmente).49

    48 Experincia fora do corpo.49 Mt 1, 20-21.

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    Era a elucidao de que necessitava. Compreendia,

    agora, que Deus estava agindo para realizar as esperanasdo seu povo, conforme promessas antigas. E ele, Jos,fora eleito para ser o guardio do Enviado em sua trajetriainicial pela existncia.

    Lgrimas de alegria lhe aljofravam a face, escorren-do pela barba em que pontilhavam alguns fios de prata50.O Esprito Superior lhe falou ainda por algum tempo, massua mente consciente s pde reter a primeira parte da

    conversao.O carpinteiro acordou, ento, com o corao pulsan-do de imensa alegria. O Senhor no o abandonara, e ofizera saber da sua vontade. Os fatos contados por Mariatinham sido plenamente confirmados. A criana que estavase desenvolvendo no ventre de sua esposa teria umamisso superior a desenvolver. Quem sabe no seria umprofeta? Um novo Elias, verberando contra as autoridades

    dissolutas e recolocando o Povo de Deus no caminho davirtude e do temor a Deus?Aguardou ansioso o nascer do sol, que o encontrou

    de p no mesmo local onde conversara com Maria na noiteanterior. Seus olhos se enchiam de lgrimas medida queo crepsculo da manh prenunciava a aurora.

    Quando os primeiros raios do sol nascente desenha-ram seus arabescos de ouro nas nuvens que estacionavam

    no firmamento, encaminhou-se em direo casa deMaria. Ela estava porta, cntaro no ombro, bela comonunca. Viu com ansiedade o noivo se aproximar. Que reso-luo tomara? O rosto sorridente do amado, entretanto,transmitiu-lhe um alvio imediato, e seu corao pulsou

    50 O corpo espiritual, ou perisprito, uma cpia fiel do corpo fsico, conservando-lhe os detalhes especficos.

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    Nasceu-vosHoje um Salvador52

    Lucas entrou na cidade de Belm por volta daterceira hora.

    Seu corao batia um tanto descompassado porcausa da emoo que dele se assenhoreara desde omomento em que, distncia, avistara o casario da cidade.

    Ali nascera Jesus, o Mestre que lhe polarizava os ideais.Mas no era apenas uma viagem de turismo sentimental.Era parte essencial do seu projeto de escrever duas obras:uma, sobre a vida e os ensinos de Jesus, e outra, sobre omovimento cristo.

    A palavra cristo lhe lembrou o fato de que ela fraempregada por ele, pela primeira vez, para denominar oseguidor de Jesus. Fra em Antioquia da Selucida,

    recordava-se claramente; estavam reunidos aps o culto,conversando sobre o Mestre, quando um dos irmosdissera: Ns, os seguidores do Nome..., e ele, imediata-mente, num arroubo de inspirao, propusera: Irmos! Nsque amamos e seguimos a Jesus, deveramos nos fazerconhecidos por uma denominao especfica. Ante o olhar

    5{

    52 Lc 2, 11.

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    indagador dos demais, continuara: Seguidores do Nome uma forma muito vaga de sermos conhecidos. Existem,no mundo, seguidores de nomes variados, tambm denomes que caracterizam a perverso, o crime, o dio, oroubo etc.. Jesus nos disse que deveramos ser como umacidade sobre um monte, que no pode ser escondida53, eque deixssemos brilhar nossa Luz diante dos homenspara que nossas boas obras pudessem ser vistas e,conseqentemente, Deus fosse louvado pelos que nos

    virem

    54

    . Penso que o Senhor queria dizer com isso quedeveramos nos expor aos olhos de todos, e nunca ficarmosescondidos por qualquer forma. O prprio Jesus, desde omomento em que comeou a viver como um Rabi, nuncadeixou o foco da ateno geral; foi, porque queria ser,visto e ouvido nas ruas e praas, nas cidades e nos campos,por poucos e por multides. Para que sejamos identifi-cados plenamente como seguidores daBoa Nova, sugiro

    que usemos, como um galardo, o apelativo de Kristians,que deriva do grego Krists, termo que, quase todos aquisabem, em hebraicoMaschia, cujo significado Ungido,pois que Jesus foi, por Deus, ungido para trazer a salvaopara todos os povos. Salvao dos enganos em que vivemmergulhados; salvao da iniqidade e do erro. Todoshaviam ficado entusiasmados e, desde aquele momento,passaram a se tratar pelo nome de cristos. Em pouco

    tempo, a Comunidade dos discpulos de Jesus, emAntioquia, era conhecida como Comunidade Crist portodos na cidade e, gradativamente, o novo nome fra seespalhando, ganhando foros de universalidade.

    Como estava alcanando a praa central da cidade, omdico procurou se informar sobre a residncia de seu

    53 Mt 5, 14.54 Mt 5, 16.

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    colega de profisso e velho amigo Herclides de Tebas, da

    qual logo lhe deram a direo. Em alguns minutos, estavafrente a frente com o mdico grego, que o recebeu comimensa alegria, convidando-o para o interior da casa, que,apesar de no ser suntuosa, era ampla e muito bem cuidada.

    Depois de um banho refrescante e de uma boaalimentao servida por dois escravos nbios, puseram-se a conversar no trio, colocando em dia alguns anos deseparao:

    Lucannus, amigo, Chronos55

    parece gostar de ti,pois tens conservado uma perptua juventude. Continuas a mesma alma alegre e generosa,

    sempre pronta a encontrar a frase certa, capaz de levantaro nimo e despertar o jbilo nos coraes. Mas a verdade que o tempo est cumprindo pacientemente a sua tarefa,como posso ver na superfcie polida dos espelhos de prata.

    Apesar de tudo, mantns uma forma invejvel.

    Eu, todavia, no posso dizer o mesmo de mim. Desde amorte da querida Artemsia, parece-me ter envelhecidolargos anos.

    Uma nuvem de tristeza pareceu se abater sobre aface do anfitrio.

    Soube da sua morte em Trade e te escrevi umacarta para que soubesses que tens um amigo com quemcontar, sempre.

    Recebi tua missiva, que me foi de muito alento. Aamizade um dom inefvel dos deuses... Ora, eu aquifalando em deuses, e tu, que s crente na existncia deum s deus, deves estar escandalizado.

    De forma nenhuma. Respeito tua crena, comoquero ver a minha respeitada.

    55 Deus do tempo, na mitologia grega.

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    Sempre apreciei o teu liberalismo. Felizmente no

    s intransigente e fantico como os outros judeus. que, alm de judeu, sou cristo, e os cristosaprendem a respeitar os pontos de vista alheios, muitoembora sem concordar com eles, muitas vezes.

    Ser interessante conversarmos sobre esseconceito. Mas, diz-me, o que vem a ser cristo?

    Cristo, caro amigo, quem segue Jesus deNazar, que o Messias, ou Cristo.

    Ah! Entendo. Segues, ento, os ensinos daquelegalileu que Pilatos mandou crucificar, s instncias dossacerdotes e do povo, em Jerusalm...

    Isso mesmo, amigo. No estava em Jerusalm quando aconteceu, mas

    sei que Pilatos passou maus momentos com a populaaamotinada, e a condenao saiu sob presso do povo,insuflado pelos lderes do Sindrio.

    E, diga-se de passagem, condenado injustamente,pois no se conseguiu encontrar nenhum crime de quefosse culpado.

    Muito ouvi a respeito dele e sinto uma grandecuriosidade em saber melhor sobre seus ensinos e prticas.Dizem que curava todo tipo de doena; verdade,Lucannus?

    Sem qualquer dvida.

    Confesso que me difcil, como mdico, acreditar.Mas como sei que s um mdico criterioso, pois acompa-nhei teus estudos, quando sempre foste o melhor, comoigualmente conheo teu racionalismo, no me posicionareidecididamente contra, mas manterei um discretocepticismo.

    Tens toda a razo de reagires dessa forma. Eutambm o faria se no tivesse presenciado, com meus

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    prprios olhos, curas extraordinrias realizadas pelos

    discpulos do Rabi. Ora, se os seus seguidores so capazesde curar aleijados, cegos, surdos-mudos, de nascena,alm de outras enfermidades, logo, tudo o que se contasobre o Mestre s pode ser verdade. Alm do mais, tiveoportunidade de entrevistar vrios que foram por elecurados, conferindo suas histrias com vizinhos e paren-tes, os quais as confirmaram completamente.

    Meu caro Lucannus. Sei que s incapaz de uma

    mentira, e tais fatos so deveras extraordinrios. Eu,todavia, estou muito velho e descrente para me preocuparcom as coisas religiosas. Diz-me: alm de ver um velhoamigo, o que mais te trouxe por essas bandas?

    que estou escrevendo um livro e venho coletan-do informaes.

    Sabia que eras pintor, mas escritor no. Isso mealegra muito, pois se escreveres to bem como pintas, a

    nossa cultura se embelezar. Ests escrevendo sobre oqu? Sobre Jesus de Nazar e o movimento cristo,

    que est vicejando em todo o mundo. Ah! uma apologia sobre esse Nazareno? No. um tratado em dois livros. O primeiro,

    contendo os ensinamentos e feitos de Jesus at sua mortee ressurreio. E o segundo, sobre tudo o que vem

    acontecendo desde que ele se despediu dos seus discpulos,mais de quarenta dias aps ter morrido na cruz, dando-lhes a tarefa de levar sua mensagem a todos os povos daTerra.

    Ressurreio! No me digas que, mdico comos, acreditas que um defunto possa retornar vida.

    Sabes, muito bem, que existem casos de pessoasmortas durante algum tempo que voltaram a viver.

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    Sem dvida. Mas sabe-se que isto devido a um

    ataque que paralisa os msculos, provocando a aparnciade morte. Todavia, a respirao, apesar de quase imper-ceptvel, continua a operar, e as batidas do corao sofremum grande espaamento; mas o sangue, apesar de lenta-mente, continua a correr pelas veias. Se foi esse o caso doteu Jesus, tudo bem. Mas ele no foi crucificado?

    Justamente, e os soldados se certificaram de queestava bem morto, antes de liberar o seu