Do Mato Ao Prato [Artigo]

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ISSN 16780701 Número 49, Ano XIII . SetembroNovembro/2014. Números anteriores ... Início Cadastrese! Procurar Submeter artigo Contato Apresentação Normas de Publicação Artigos Dinâmicas Entrevistas O que fazer para melhorar o meio ambiente Sugestões bibliográficas Educação Você sabia que... Trabalhos Enviados Breves Comunicações Práticas de Educação Ambiental Sementes Sementes 05/09/2014 DO MATO AO PRATO Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1881 Ensaio elaborado a convite de Berenice Gehlen Adams para inaugurar a seção Sementes, na 49ª Edição da Revista Educação Ambiental em Ação. O estudo se propõe a ampliar a reflexão sobre a prática da agricultura urbana com ênfase nas plantas alimentícias não convencionais e propor a formulação de políticas voltadas a: (i) diversificar o repertório alimentar no Brasil; (ii) ampliar o acesso aos nutrientes fundamentais à dieta humana e (iii) impulsionar arranjos produtivos em novos mercados que contribuem para melhoria das condições socioambientais em cidades. DO MATO AO PRATO José André Verneck Monteiro Pedagogo, especialista em Educação Ambiental, mestrando em Práticas em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: [email protected] Resumo Ensaio elaborado a convite de Berenice Gehlen Adams para inaugurar a seção Sementes, na 49ª Edição da Revista Educação Ambiental em Ação. O estudo se propõe a ampliar a reflexão sobre a prática da agricultura urbana com ênfase nas plantas alimentícias não convencionais e propor a formulação de políticas voltadas a: (i) diversificar o repertório alimentar no Brasil; (ii) ampliar o acesso aos nutrientes fundamentais à dieta humana e (iii) impulsionar arranjos produtivos em novos mercados que contribuem para melhoria das condições socioambientais em cidades. Introdução O combate à desnutrição vem sendo priorizado em diferentes níveis por diversos governos, nações e empresas. Acabar com a fome é um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos em 2000 pela Organização das Nações Unidas, cujos resultados serão avaliados até 2015, ano em que serão lançadas, também pela ONU, das Metas de Desenvolvimento Sustentável [1] . Sem desconsiderar os resultados imediatos concedidos aos 50 milhões de brasileiros

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O estudo se propõe a ampliar a reflexão sobre a prática da agriculturaurbana com ênfase nas plantas alimentícias não convencionais e propor a formulação de políticas voltadas a: (i)diversificar o repertório alimentar no Brasil; (ii) ampliar o acesso aos nutrientes fundamentais à dieta humana e (iii)impulsionar arranjos produtivos em novos mercados que contribuem para melhoria das condiçõessocioambientais em cidades.

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ISSN 1678­0701Número 49, Ano XIII.Setembro­Novembro/2014.

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Sementes

05/09/2014

DO MATO AO PRATO Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1881Ensaio elaborado a convite de Berenice Gehlen Adams para inaugurar a seção Sementes, na 49ª Edição daRevista Educação Ambiental em Ação. O estudo se propõe a ampliar a reflexão sobre a prática da agriculturaurbana com ênfase nas plantas alimentícias não convencionais e propor a formulação de políticas voltadas a: (i)diversificar o repertório alimentar no Brasil; (ii) ampliar o acesso aos nutrientes fundamentais à dieta humana e (iii)impulsionar arranjos produtivos em novos mercados que contribuem para melhoria das condiçõessocioambientais em cidades.

DO MATO AO PRATO

José André Verneck Monteiro

Pedagogo, especialista em Educação Ambiental, mestrando em Práticas em DesenvolvimentoSustentável pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Email: [email protected]

Resumo

Ensaio elaborado a convite de Berenice Gehlen Adams para inaugurar a seção Sementes, na 49ªEdição da Revista Educação Ambiental em Ação. O estudo se propõe a ampliar a reflexão sobrea prática da agricultura urbana com ênfase nas plantas alimentícias não convencionais e propor aformulação de políticas voltadas a: (i) diversificar o repertório alimentar no Brasil; (ii) ampliar oacesso aos nutrientes fundamentais à dieta humana e (iii) impulsionar arranjos produtivos emnovos mercados que contribuem para melhoria das condições socioambientais em cidades.

Introdução

O combate à desnutrição vem sendo priorizado em diferentes níveis por diversosgovernos, nações e empresas. Acabar com a fome é um dos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio estabelecidos em 2000 pela Organização das Nações Unidas, cujos resultados serãoavaliados até 2015, ano em que serão lançadas, também pela ONU, das Metas de

Desenvolvimento Sustentável [1]

.Sem desconsiderar os resultados imediatos concedidos aos 50 milhões de brasileiros

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beneficiados pela redistribuição direta de renda, através do Programa Bolsa Família, desde suaimplementação em 2003, convém salientar preliminarmente, que no Brasil o enfrentamento àfome ainda carece de complementação de ações estratégicas que assegurem capacitação para ainclusão na cadeia produtiva, das famílias em situação de vulnerabilidade social e insegurançaalimentar e nutricional, em especial das famílias que tem na agricultura sua fonte principal desustento.

Não obstante à ação emergencial de salvar vidas em risco pela fome através do acesso aorecurso financeiro para aquisição de alimentos, cabe destacar que políticas públicascontemporâneas de combate à desnutrição deveriam consubstaciar diversificação da matrizagrícola, estímulo à agrobiodiversidade, juntamente com a redistribuição dos pontos focais deprodução de alimentos, privilegiando dessa forma as iniciativas produtivas aliadas àsustentabilidade ambiental.

Opostamente, o atual modelo nacional de desenvolvimento do agronegócio é pautado porlatifúndios monoculturais, manejados com expressiva utilização de agrotóxicos e combustíveisfósseis, o que permite asseverar que a agricultura empresarial no país é em grande parcela,injusta e insutentável sob a ótica socioambiental, pois resulta em exclusão campesina,degradação ambiental e notável perda da biodiversidade, pelo desmatamento associado e pelapela erosão da agrobiodiversidade.

Note­se que vultosa fração desta produção agrícola é destinada à exportação e à produçãode ração animal ­ cuja carne e leite produzidos também são parcialmente dirigidos aos mercadosexternos. Deduz­se então que os recursos naturais espoliados do país de certo modo subsidiam aprática corporativista transnacional, principalmente das indústrias de venenos, petroquímicas ede sementes geneticamente modificadas.

Para ampliar o acesso à alimentação saudável com menor custo ambiental, éimprescindível maior estímulo à adoção de práticas que aperfeiçoem o uso das áreas urbanascom potencial para produção sustentável de alimentos frescos e diversos.

O ato de plantar

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Arte e fotografia do autor

A agricultura teve início há aproximadamente dez mil anos. É uma das práticas que

colaborou para que os agrupamentos humanos deixassem de ser essencialmente nômades eassumissem hábitos de tratar de forma diferenciada os recursos ambientais, produzindo, e nãosomente extraindo do campo parte dos alimentos de que necessitavam para sua sobrevivência.

A partir do desenvolvimento das cidades a cultura agrícola foi sendo cada vez menospraticada no meio urbano e mais concentrada no campo, de onde os alimentos têm de serransportados até o ponto de maior comercialização e consumo.

Desde a segunda metade do século XX houve nas capitais brasileiras intensatransformação do modo de habitar e as residências térreas vêm sendo substituídas por edifíciosde múltiplos pavimentos, nos quais o quintal passa a ter outros usos comuns comoestacionamento, áreas de circulação e lazer coletivo, com ajardinamento restrito pela falta deespaço físico e propositadamente para reduzir parte das tarefas braçais requeridas pelamanutenção de áreas verdes. A impermeabilização das áreas externas das casas tambémacarretou em redução da prática horticultural caseira, comum até então.

Nesse ínterim as cidades maiores também passam a receber intenso fluxo de pessoas dointerior e de outros estados, atraídos por ofertas de trabalho em construção civil. Já se observacom mais notabilidade a formação de conglomerados habitacionais em zonas periféricasdestituídas de planejamento urbanístico e acesso aos serviços públicos essenciais de seneamento,seja em zonas de inundação, de relevo acidentado, à margem de rodovias, em prédios

abandonados e na maior parcela em residências improvisadas, referidas como favelas[2]

, às

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quais hoje por eufemismo, questões éticas e preciosismo linguístico chamam­se

comunidades[3]

.Cada vez mais populosas, as megalópoles em formação têm sua capacidade de

entropismo reduzida e demandam uma crescente quantidade de insumos e hortifrutigranjeiros,cultivados principalmente nas lavouras situadas nas periferias das cidades ou mesmo em outrasregiões.

O custo financeiro de aquisição de alimentos é impactado diretamente pelas distânciaspercorridas desde a produção até o local de consumo de tais alimentos. Controversamente aprática da agricultura urbana apresenta declínio. Sujar as mãos de terra, talvez tenha adquiridosentido demeritoso a ponto de ser classificado como coisa de “caipira”, sendo mais cômodo e“chique”, concretar o piso e se produzir vestualmente para ir fazer compras no supermercado.

No supermercado, diferentemente do secos e molhados de outrora, a experiência decomprar é livre e quase não depende de atendente que pesava a granel, alcançava com escada asprateleiras do empório e recebia ou anotava a compra para o pagamento posterior – ato que hojese frealiza com digitação de senhas eletrônicas e faturamentos bancários.

Outro aspecto relevante para redução da prática horticultural caseira reside no fato de quecada vez mais mulheres passam a trabalhar fora de casa, o que lhes subtrai o tempo outroradedicado à horta.

Até as feiras livres tiveram seu perfil alterado: poucos feirantes continuam a produzir evender ­ város passam a adquirir os produtos para sua banca nas Centrais de Abastecimento. A modalidade urbana de agricultura

Em face da percepção do valor socioambiental representado pela produção caseira, de

parte dos alimentos utilizados cotidianamente, diversas pessoas e organizações têm empreendidoprojetos de agricultura urbana, com expressivos resultados no âmbito educativo e nasedimentação de ciclos virtuosos de capacitação de pessoas, tomada de consciência,proatividade, mudanças comportamentais e formação de redes cooperativistas em prol doalimento produzido na urbe, de modo justo, solidário e sustentável.

A agricultura urbana pode transformar a relação das pessoas com o cultivo de alimentos,com o ambiente e a sociedade.

Nesse panorama a fome pode ser saciada com ação e criatividade. O ócio e a lamentaçãocedem lugar ao tempo/espaço produtivo. O desperdício dá vez ao reaproveitamento de materiais.

O valor do interesse coletivo é celebrado na troca de saberes, sementes e nas colheitasabundantes.

É notável a íntima relação entre a agricultura urbana com os princípios enraizados pelaPermacultura: cuidar do ambiente; cuidar das pessoas e compartilhar os excedentes.

Nas plantações urbanas todo espaço horizontal, vertical ou inclinado pode ser adaptado eaproveitado, desde que haja simples condições mínimas: interesse pela transformação; pessoa(s)disposta(s) a dedicar instantes aprendendo e ensinando a plantar e cuidar; ferramentas simples;local com insolação média de 5h/dia; disponibilidade de água para irrigação (preferencialmente

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de origem pluvial, corretamente armazenada); local para compostagem orgânica e preparo decaldas.

Não há receita pronta que se adeque a todos os casos, sendo a criatividade,experimentação e diversificação os principais propulsores para o êxito. Também não há medidasmínimas ou máximas.

Há uma única regra: se não der certo de um jeito, tente de outro, mas não desista!Pode­se plantar uma infinidade de espécies vegetais, com diferentes usos: alimentares,

condimentares, terapêuticas, aromáticas, corantes, repelentes e ritualísticas.O cultivo pode ser feito em canteiros ao nível do piso, canteiros elevados, recipientes

pendurados em muros, vasos, latas, baldes, embalagens reaproveitadas, banheiras, tinas, garrafase onde mais se providenciar drenagem, substrato, arejamento, irrigação e insolação adequados.

Nos casos em que seja requerido o uso de tutores para orientar o crescimento das plantas(ou auxiliar a sustentar o peso de seus frutos e densas ramagens) pode­se recorrer ao usoimprovisado de cercas, arames, estacas de bambú, estruturas metálicas reaproveitadas, grades,telas, redes de pesca danificadas, citando­se somente alguns exemplos que podem estaracessíveis facilmente.

A obtenção de mudas e sementes tende a ser ampliada quando a prática se irradia aoutras famílias da localidade e entre regiões distintas.

Em cada lugar há alguma (s) planta com potencial para ser cultivada como alimento oufonte de matéria prima. Para conhecê­las será útil recorrer aos do campo, sacerdotes, sitiantes,feiras de trocas, hortos, jardins botânicos, lojas agrícolas e no campo natural.

Em síntese algébrica a proposta pode ser expressa criação de oportunidades para: plantar+ cuidar + colher + compartilhar a fartura = opulência nutricional em vários níveis e escalas. Plantas alimentícias não convencionais (PANC)

A expressão e sua sigla Plantas alimentícias não Convencionais (PANC) vêm sendo

difundidas por diversos pesquisadores, notadamente o Dr. Valdely Ferreira Kinupp[4]

, quesegundo relato pessoal lançará em breve, um livro sobre o assunto.

Seu estudo originou vários outros trabalhos de pesquisa entre acadêmicos, chefes decozinha, nutricionistas e demais profissionais interessados nas tendências modernas da culinária.

Em 2010 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou o Manual de

Hortaliças Não­Convencionais[5]

.Para avançar na discussão sobre alimentos de origem vegetal é preciso antes de tudo,

compreender que algum ancestral humano, em algum dia, se prestou a experimentar as plantasque hoje compõe a alimentação humana.

Por questões de paladar, produtividade, resistência à intempérie e até por razões estéticas,umas foram selecionadas e/ou geneticamente modificadas – em processos naturais ou humanos.

Algumas destas plantas continuam sendo apreciadas em maior escala e são tratadas atéhoje de modo especial pelo mercado e pelos consumidores, que lhes atribuem valor financeiro esimbólico. São produzidas, comercializadas e distribuídas por todo o Brasil.

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Observe que se alguém menciona a palavra alface, imediatamente a ideia­força nos induzà criação de uma imagem mental (ás vezes, até impregnada pela lembrança do sabor, do cheiro,da forma de preparar e servir), pois a alface já é nossa conhecida, há décadas.

Possivelmente o mesmo fenômeno seja notável com outros itens do repertório alimentarcomum no Brasil: batata, tomate, banana, cenoura, arroz, repolho, laranja, mandioca, pepino,feijão, berinjela, pimentão, maçã, salsa, couve, abóbora, limão, jiló, couve, quiabo, gengibre,cravo, etc. Estas são, portanto, plantas alimentícias convencionais que juntamente talvez maisuns 30 vegetais que estão presentes no imaginário e no senso comum do paladar de pessoas dedieta diversificada.

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) ­ atualmente ­ não usufruem de talprestígio popular, mas outrora foram amplamente utilizadas na alimentação básica de nossosancestrais. Era comum entre os antigos comer algumas plantas que vicejavam espontaneamenteno quintal e nas ruas. Quando não se sabia o nome, se lhes atribuiam os apelidos de “mato”,

“inço”, “erva” ou “chicória” [6]

.Possivelmente haja relativamente poucas pessoas que admitam a ideia de comer “mato”,

negligenciando por preconceito ou ignorância, que tais plantas verdadeiramente representariamsaborosos e valiosos alimentos se estivessem à mesa complementando suas refeições diárias.

Também há de se ressaltar a relação entre convenções alimentares consolidadas noséculo atual e a atual capacidade de influência que a mídia e os grupos econômicos exercemsobre as massas que consomem seus produtos: muito mais campanhas publicitárias incitam acomprar carros e tingir os cabelos do que motivam as pessoas a comer saladas.

Inversamente todo investimento da industria colabora para menter expoentes entre osmaiores do mundo os índices brasileiros de ingestão de refrigerantes, biscoitos e outrasguloseimas.

Outra razão que amplia este hiato de saberes entre as diferentes gerações é o fato de quemuitas das PANC são tidas como “ervas daninhas” ou “infestantes” ­ por interferirem naprodução hortícola, e vêm sendo historicamente combatidas por agricultores e jardineiros, sejapelo arrancamento ou pelo uso indiscriminado de herbicidas (capina química).

Felizmente a rusticidade é uma de suas virtudes e mesmo apesar de toda a campanhaempreendida em seu desfavor, as PANC continuam sua trajetória de vida, nos permitindoconhecê­las e saboreá­las.

A propósito, conhecer as PANC é fator fundamental para sua ingestão segura. Como sãobatizadas popularmente por vários nomes diferentes em cada região, deve­se ter certeza de qualespécie se trata e da parte mais adequada ao consumo humano (folha, flor, raíz, caule, semente,fruto, etc.).

Para fins de exemplificação didática são apresentadas no quadro a seguir apenas dezenasdas espécies com potencial agoalimentar alimentar, cujas informações já são disponíveis nainternet.

Pode­se obter mais dados sobre cada planta inserindo seu nome científico no campo debusca da página http://tropicos.org

Utilizando a expressão “composição nutricional + nome científico” em páginas de busca

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pode­se também rastrear os estudos sobre as PANC no campo da dietética.Ao se associar “receita + nome popular” obtém­se sugestões de preparo e ingestão.

Espécie Nome popular Parte comestível Sugestão de consumo

Amaranthus viridis Caruru Folhas Cruas ou cozidas

Basella alba Bertalha Folhas e ramos Crus ou cozidos

Bidens pilosa Picão Folhas Cruas ou cozidas

Chenopodium album Mastruz Folhas e flores Cruas ou cozidas

Clitoria ternatea Clitoria Flores Corante azul

Cucumis anguria Maxixe Frutos Cozidos ou emconserva

Curcuma longa Açafrão­da­terra Rizomas (raízes) Corante amarelo

Dioscorea bulbifera Cará­moela Raízes aéreas Cozidas

Eryngium foetidum Coentro­bravo Folhas Condimento

Galinsogaquadriradiata Galinçoga Folhas Cruas ou cozidas

Hibiscus acetosella Vinagreira Folhas e flores Cozidas

Hibiscus rosa­sinensis Hibisco Flores Cruas

Lactuca canadensis Almeirão Folhas Cruas ou cozidas

Melothria cucumis Pepininho­do­mato Frutos Em conserva

Pachira aquatic Monguba Sementes Cozidas ou assadas

Pereskia aculeate Ora­pro­nobis Folhas flores e frutos Crus ou cozidos

Pereskia bleo Ora­pro­nobis Folhas flores e frutos Crus ou cozidos

Pereskia grandiflora Ora­pro­nobis Folhas, flores e frutos Crus ou cozidos

Physalis pubescens Camapu Frutos maduros Crus ou em geléias

Porophyllum ruderale Couvinha Folhas Cruas ou cozidas

Salvia officinalis Salvia Folhas Condimento

Schinus terebinthifolia Aroeira, pimenta­rosa Sementes moídas Condimento

Solanum lycopersicum Tomate­selvagem Frutos maduros Crus ou cozidos

Sonchus oleraceus Serralha Folhas e flores Cruas ou cozidas

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Stachys bizensis Peixinho­da­horta Folhas Fritas empanadas

Tagetes minuta Cravinho­do­mato Folhas Condimento

Talinum fruticosum Bredo, caruru Folhas Cruas ou cozidas

Talinum paniculatum Maria­gorda Folhas Cruas ou cozidas

Taraxacum officinale Dente­de­ leão Folhas e flores Cruas ou cozidas

Thymus vulgaris Tomilho Folhas e ramos Condimento

Tropaeolum majus Capuchinha Folhas e flores Cruas ou cozidas

Typha domingensis Taboa Interior do caule Cru ou cozido

Typha domingensis Taboa Pólen Cru

Urera caracasana Urtiga Folhas Cruas ou cozidas

Vernonia polyanthes Assa peixe Folhas Fritas empanadas

Xanthosoma taioba Taioba Folhas sem asnervuras Bem cozidas

Como dito, traa­se de uma lista bem tímida, sabendo­se que hoje há registros de pelo

menos 500 espécies vegetais nativas e exóticas em estudo, por enquanto tratadas como PlantasAlimentícias Não Convencionais.

A PANC que se tem notícia de mais ampla utilização, especialmente em Minas Gerais, éo ora pro nobis. Em razão do elevado teor nutricional, as espécies citadas de Pereskia podem sereficazes instrumentos de combate à desnutrição, pois são cactos que produzem frequentescolheitas mesmo em solos pouco férteis, podendo inclusive compor cercas­vivas intransponíveis

de até 2 m3.Certamente, em razão da megabiodiversidade brasileira e do contínuo avanço das

pesquisas na área, essa lista estará em constante evolução e crescimento, inclusive em relação àsformas de utilização das PANC, que aqui são exemplificadas de modo suscinto.

Espera­se que em breve tais recursos estejam disponíveis facilmente, favorecendo adiversificação do cardápio brasileiro. Observação empírica permite inferir, grosso modo, sobre o “repetitório” alimentíciopredominante no cardápio adotado pelos brasileiros que têm acesso diário ao almoço: arroz,feijão, macarrão, um tipo de carne, salada simples (às vezes alface e/ou tomate), unscondimentos usuais (alho, cebola e pimenta).

Regionalmente, por questões de identidade cultural e limitações financeiras, obviamentehá variações, mesmo assim é notável a precária a ingestão de vegetais variados nas refeiçõesdiárias.

Como cada vegetal tem propriedades alimentícias diferentes em função de sua

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composição e concentração de vitaminas, sais minerais, gorduras, açúcares, fitoquímicos enutracêuticos, é plausível asseverar que quanto mais diversificada for a dieta, mais eficiente seráo balanço nutricional ingerido nas refeições diárias.

De acordo com o Dr. Sergio Sartori[7]

, “devemos comer diariamente, no míninmo 500gramas de frutas, legumes e vegetais crus, de cinco cores e cinco variedades diferentes”. Tal diversidade pode ser alcançada por meio da adoção de um cardápio equilibrado esubstancial, que contemple ricas saladas, sucos, pães caseiros enriquecidos, geléias de frutas econdimentos variados. Via de regra, quanto mais sortida for a alimentação, mais nutrientes esaúde. A partir da incorporação das PANC ao hábito alimentar pode­se ampliar sobremaneira aaquisição nutricional a um custo relativamente baixo. Inclusive a merenda escolar pode vir a ser gloriosamente enriquecida a partir dapesquisa, extensão acadêmica e difusão das Plantas Alimentícias não Convencionais. Resiliência urbana

Desde que tais plantas sejam cultivadas respeitando­se aos princípios da agroecologia[8]

,potencializa­se a oferta de alimentos saudáveis, com fartura. Em geral as PANC são menossucetíveis a pragas e doenças e requerem menos tratos culturais que as hortaliças convencionais.E quanto mais espécies no habitat maior a tendência de se atingir o equilíbrio natural. Portanto, retomar a prática da agricultura nas cidades é uma questão que envolve nãosomente os aspectos relacionados à nutrição humana, pois abrange também resgate cultural,cidadania, economia, educação e sustentabilidade ambiental. Pressupondo­se que o cultivodoméstico de alimentos pode estimular às práticas e a adoção de tecnologias de impacto

ambiental positivo, tais como a compostagem[9]

, o uso de defensivos naturais e

biofertilizantes[10]

, o reaproveitamento de materiais, captação e uso de água pluvial além deampliar as áreas verde no espaço urbano. Nesse contexto os benefícios socioambientais tornam­se evidentes: combate àdesnutrição e à miséria com alimentos saudáveis livres de agrotóxicos, inserção de pessoas nacadeia produtiva de alimentos, utilização racional dos recursos naturais, redução de áreasimpermeabilizadas, ampliação da biodiversidade em cada unidade domiciliar, movimentaçãocultural em torno das trocas de sementes e intercâmbio de experiências e conhecimentos.

Também merecem destaque o impulso à atividade econômica (já que os excedentespodem ser comercializados nas feiras) e a oportunidade de negócios que podem ser gerados apartir da assimilação das PANC pelo setor gastronômico, o que demandará produção e ofertaregular nas várias regiões de consumo, capazes de atender em diversidade e frescor aosestabelecimentos e aos paladares mais exigentes. Destarte, assume relevância o valor do legado que herdamos de nossos antepassados edos cientistas atuais quanto ao conhecimento das plantas, do modo de cuidar e utilizá­las, paraque tenhamos a oportunidade de compartilhar este saber com outras pessoas, principalmente as

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que são acometidas de insegurança alimentar e vulnerabilidade social.

[1] UN Sustainable development goals .

[2] Alusão ao nome popular da planta comum nos morros à época, cuja denominação científica atual é

Cnidoscolus phyllacanthus (Euphorbiaceae). [3]

Vide trabalho de Licia Valladares “A gênese da favela carioca. A produção anterior às ciênciassociais”. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n44/4145>. [4] Vide Tese de Doutorado: “Plantas Alimentícias Não Convencionais da Região Metropolitana de

Porto Alegre”, disponível em <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/12870>. [5] Disponível em <http://bit.ly/1eeC1U9>.

[6]

Nota do autor: possivelmente uma corruptela linguística de escória, resíduo sem valia.[7]

Médico, coautor do Livro Frutas Brasileiras e Exóticas Cultivadas (de consumo in natura),publicado em 2006 pelo Instituto Plantarum de Estudos da Flora. [8]

Vide: Produção Agroecológica Integrada e Sustentável. Disponível em<http://www.revivendoeldorado.com/images/stories/programa%20mandala/cartilha_sistema_pais.pdf>. [9]

Vide: Guia Prático de Compostagem Doméstica. Disponível em<http://www.geota.pt/xFiles/scContentDeployer_pt/docs/articleFile140.pdf> [10]

Vide: Preparo e Uso de Biofertilizantes Líquidos. Disponível em<http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/153383/1/COT130.pdf>

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